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MÓDULO I – Direito Previdenciário

Noções Gerais
(Autor: Professor Paulo Celso Sanvito)

PROTEÇÃO (SEGURIDADE) SOCIAL

Introdução
O Estado Contemporâneo possui, entre suas funções, a proteção social dos indivíduos em relação
a eventos que lhes possam causar dificuldade ou impossibilidade de subsistência por conta
própria. Tal proteção encontra-se consolidada nas políticas de Seguridade Social.

Definição
Proteção social é o conjunto de medidas, de caráter social, destinadas a atender certas
necessidades individuais que, não atendidas, repercutem sobre os demais indivíduos e a
sociedade --- visa assegurar os direitos fundamentais à saúde, assistência e previdência social, de
iniciativa do Poder Público e de toda a sociedade --- não basta dar a cada um o que é seu: é
dando a cada um o que não é seu que se engrandece a condição humana e que se redime a
injustiça dos abismos sociais (Mozart Victor Russomano).

Segurança Social
A noção atual de Segurança Social, no Brasil, abarca não só a Previdência Social, como também
as ações nos campos da Assistência Social e da Saúde.
A Previdência Social pode ser definida como o ramo da atuação estatal que visa à proteção de
todo indivíduo, ocupado numa atividade laborativa remunerada, para proteção dos riscos
decorrentes da perda ou redução, permanente ou temporária, das condições de obter seu próprio
sustento.
Ficam excluídos deste sistema aqueles que não têm atividade (desempregados, inválidos que
nunca trabalharam, idosos sem direito à aposentação e menores carentes) --- a estes, cumpre ao
Estado prestar outra forma de proteção: a Assistência Social e a Saúde --- nesses campos de
atuação, não se exige dos beneficiários qualquer contribuição.

Composição
Coexistem dois subsistemas, em relação ao custeio, de acordo com a fonte de arrecadação: a)
não contributivo e b) contributivo.
O sistema não contributivo (ou assistencial) é aquele custeado pelos tributos em geral e
disponíveis a todas as pessoas que necessitem, inexistindo exigência de pagamento de
contribuições para seu gozo (Saúde Pública e Assistência Social).
O sistema contributivo é aquele no qual a arrecadação dos recursos financeiros para suas
prestações dar-se-á por meio de aportes diferenciados dos tributos em geral --- as pessoas
especificadas na legislação própria (segurados ou não), além do ente Estatal, ficam obrigadas a
contribuir para o regime, através das contribuições sociais (Previdência Social).
No Brasil, o exemplo desse sistema é a Previdência Social. No texto constitucional também se
verifica a previsão de que as entidades Estatais podem instituir contribuições sociais para custeio
dos regimes --- no sistema contributivo, os recursos orçamentários do Estado também concorrem
para este --- cumpre ao Estado garantir a sustentação do regime previdenciário: eventuais
insuficiências financeiras deverão ser cobertas pelo Poder Público (art. 16, §ú, Lei nº 8.212/91).
Competência Legislativa
Previdência Social - Apenas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto quanto ao
regime de previdência dos servidores públicos efetivos dos Estados, Distrito Federal e
Municípios, que poderão editar normas para instituí-los e discipliná-los.
Saúde e Assistência Social - A competência é concorrente, cabendo a União editar normas gerais
a serem complementadas pelos demais entes políticos, conforme as suas peculiaridades regionais
e locais.

Princípios Gerais da Seguridade Social


Universalidade da cobertura e do atendimento
A seguridade deverá atender a todos os necessitados, especialmente através da assistência social
e da saúde pública, que são gratuitas. Já a previdência tem sua universalidade limitada, no
atendimento, pela necessária contributividade (gozo das prestações apenas pelos segurados e
dependentes) e na cobertura, pela quantidade de benefícios do seguro.
Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais
Corolário do Princípio da Isonomia, objetiva o tratamento isonômico entre povos urbanos e
rurais, seja na prestação dos serviços (obrigações de fazer), seja na concessão das prestações dos
benefícios (obrigações de pagar quantia certa) da seguridade social.
Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços
A seletividade lastreia a escolha feita pelo legislador dos benefícios e serviços integrantes da
seguridade social, e dos requisitos para a concessão, conforme as necessidades sociais e a
disponibilidade de recursos orçamentários. A distributividade coloca a seguridade social como
sistema realizador da justiça social ou instrumento distributivo de riquezas, agraciando,
especialmente, os mais necessitados.
Irredutibilidade do valor dos benefícios
É vedado o retrocesso securitário, impossibilitando-se a redução do valor nominal de benefício
ou serviço da seguridade social.
Gestão quadripartite
A gestão da seguridade social será quadripartite, de índole democrática e descentralizada,
envolvendo trabalhadores, empregadores, aposentados e o Poder Público (art. 194, parágrafo
único, VII CF).
Solidariedade
A seguridade social é solidária (art. 3º, I CF) - visa agasalhar as pessoas em momentos de
necessidade, pela concessão de benefício ao segurado (previdência), disponibilização de
medicamento a pessoa enferma (saúde) ou doação de alimentos a pessoa em estado famélico
(assistência) --- decorrem desse princípio a garantia de saúde pública gratuita a todos e de
medidas assistenciais a quem delas necessitar e a criação de fundo único de previdência social,
socializando-se os riscos, com contribuições compulsórias.
Precedência da Fonte de Custeio
Segundo o art. 195, §5º CF, nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado,
majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total --- objetiva uma gestão
responsável da seguridade social --- inclusive, deverá o ato que, majorar/estender os já
existentes, indicar expressamente a fonte de custeio respectiva, através da indicação da dotação
orçamentária.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Definição
A Assistência Social vem disciplinada na CF/88 e, em termos infraconstitucionais, na Lei
8.742/93 (LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social), podendo ser definida como o conjunto
de medidas (públicas ou privadas) a serem prestadas a quem delas precisar, para o atendimento
das necessidades humanas essenciais, de índole não contributiva direta --- traços característicos:
caráter não contributivo e função de suprir as necessidades básicas das pessoas.

Objetivos
São objetivos da assistência social brasileira: a proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração
ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover
à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Benefício do amparo assistencial ao idoso e deficiente carente


Como objetivo da assistência social, a CF prevê a garantia de um salário mínimo mensal à
pessoa portadora de deficiência física e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família --- regulamentado pelos arts. 20 e 21 da
Lei 8.742/93, art. 34 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e pelo Decreto 6.214/2007.
Para fazer jus ao benefício, o idoso ou deficiente deverão comprovar o estado de miserabilidade:
o critério objetivo para a aferição do estado de carência é a renda mensal, per capita, inferior a ¼
de salário mínimo. Esse benefício não poderá ser acumulado com nenhum outro previsto no
âmbito da seguridade social ou outro regime, salvo o da assistência médica ou pensão especial
indenizatória (art. 5º, Dec 6.214/07) --- é personalíssimo, devendo ser revisto, no mínimo, a cada
dois anos, não gerando gratificação natalina nem pensão por morte --- apesar de assistencial, é
gerido pelo INSS, competindo à União arcar com o seu pagamento (art. 29, §ú, Lei 8.742/93).
Nota: conforme a Lei 12.435/2011, a família é composta pelo requerente, cônjuge ou
companheiro, pais (na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto), irmãos solteiros, filhos e
enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

SAÚDE
Definição e Natureza Jurídica
Tratada, principalmente, pelos artigos 196 a 200 da CF e regulamentada pela Lei 8.080/90, é
dever do Poder Público prestá-la a todos os brasileiros, estrangeiros residentes ou não residentes,
havendo solidariedade entre todos os entes políticos --- conforme a CF, as instituições privadas
poderão participar, de forma complementar, do sistema único de saúde, sob suas diretrizes e
mediante contrato de direito público ou convênio.
A saúde pública consiste no direito fundamental às medidas preventivas ou curativas de
enfermidades, sendo dever estatal prestá-la adequadamente a todos, tendo a natureza jurídica de
serviço público gratuito --- é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos, além do acesso
universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
O Sistema Único de Saúde - SUS
Para na efetivação das ações da saúde pública, foi instituído um Sistema Único de Saúde – SUS
(art. 198 CF), com atendimento integral, regionalizado, descentralizado e hierarquizado (nas três
esferas de governo), que deve priorizar a prevenção de doenças e garantir a participação da
comunidade --- sua competência é prevista no art. 200 da CF/88.
PREVIDÊNCIA SOCIAL

Breve Evolução
Antigamente (antes do surgimento das primeiras leis de proteção social), a defesa do trabalhador,
aos riscos no trabalho e perda da condição de subsistência, se dava pela assistência caritativa
individual ou pela reunião de pessoas --- somente com o desenvolvimento da sociedade
industrial surge o reconhecimento de que a sociedade toda deve ser solidária com seus
incapacitados.
Os Países Europeus estabeleceram, de maneira gradativa, um seguro (contributivo) que consistia
no direito a uma renda, em caso de perda de capacidade de trabalho, por velhice, doença ou
invalidez, e a pensão por morte, devida aos dependentes --- nova política social, não meramente
assistencialista: pedra fundamental da Previdência Social.
Ocorrência da superação do liberalismo e acentuação do intervencionismo Estatal: o Estado, sem
deixar de ser democrático, pode e deve intervir, não apenas na organização, mas igualmente, na
direção do processo econômico-social --- o surgimento do Estado Contemporâneo é produto de
uma situação em que os detentores do poder modificam a ação do Estado para interferir
diretamente em determinadas relações privadas, inicialmente na proteção social de indivíduos
alijados do mercado de trabalho.
Passa-se a entender que a proteção social é dever da sociedade como um todo, caráter de
solidariedade até hoje presente: todos contribuem para que os necessitados de amparo possam tê-
lo --- a noção de seguro social tem o caráter de proteção de todos por todos, mediante a cotização
geral dos indivíduos.

Fases da Previdência Social


A doutrina indica quatro fases evolutivas da proteção social ao trabalhador: a) experimental; b)
de consolidação; c) de expansão; e d) de redefinição, em curso até os dias atuais.
Na fase experimental, encontra-se a política social de Otto Von Bismarck, que fez viger (entre de
1883 a 1889) um conjunto de normas que asseguravam aos trabalhadores o seguro-doença, a
aposentadoria e a proteção a vítimas de acidentes de trabalho --- outros países da Europa
Ocidental adotaram, na mesma época, conduta semelhante.
Na fase de consolidação, destaca-se a constitucionalização dos direitos sociais e políticos, com
destaque para a Constituição Mexicana de 1917, seguida pela Constituição de Weimar de 1919,
o surgimento da OIT com o Tratado de Versailles, em 1917 e da Associação Internacional de
Seguridade Social, com sede em Bruxelas, Bélgica, em 1927 --- Os direitos sociais são alçados
ao mesmo plano dos direitos civis, passando as constituições a ser, não apenas políticas, mas
sociais.
Na fase de expansão (pós Segunda Guerra) ocorre a disseminação das ideias de crescimento
econômico, num contexto de intervenção estatal para melhor distribuir (redistribuir) a renda
nacional --- os sistemas previdenciários foram alterados pela adoção de uma sistema universal,
com a participação compulsória de toda a população, contribuindo para o desenvolvimento
harmônico dos economicamente débeis: ideal de solidariedade (Plano Beveridge) --- se
materializa a universalização dos direitos sociais, reconhecidos como integrantes do rol de
direitos fundamentais.
Na fase de redefinição, também chamada por alguns de "fase de crise", ocorre uma retração das
políticas sociais, do ponto de vista protetivo ou promocional, seja pelo fim do ciclo de
prosperidade econômica, pelo crescimento acentuado dos gastos públicos ou pelos fatores de
diminuição dos postos de trabalho (automação) e demográficos --- essa retração gera problemas
de outra ordem: a redução de gastos públicos com políticas sociais, significa não atingir o
prometido Bem Estar Social.
Noções gerais
Apenas terão cobertura previdenciária as pessoas que vertam contribuições ao regime que se
filiaram, de maneira efetiva ou nas hipóteses presumidas por lei: pressuposto para a concessão de
benefícios e serviços --- a previdência social abarca todos os regimes previdenciários existentes
no Brasil (básicos, complementares, públicos e privados).
No Brasil, prevalece doutrinariamente que a previdência social nasceu com a Lei Eloy Chaves,
em 24 de janeiro de 1923 (Decreto-lei 4.682), que determinou a criação das caixas de
aposentadorias e pensões para os ferroviários, (mantidas pelas empresas e não pelo Poder
Público) --- o dia 24 de janeiro é considerado, oficialmente, como o dia da previdência social.

Definição
Em sentido amplo e objetivo, previdência social pode ser definida como um seguro, com regime
jurídico especial, necessariamente contributivo, que disponibiliza benefícios e serviços aos
segurados e seus dependentes, que variarão a depender do plano de cobertura.

Fundamentos da Previdência Social


O Seguro Social e a Dignidade da Pessoa Humana
Direitos sociais são direitos fundamentais do homem: verdadeiras liberdades positivas, de
observância obrigatória em um Estado Social de Direito, com o objetivo da melhoria das
condições de vida dos hipossuficientes (igualdade social) --- construção de um mínimo de
condições existenciais do ser humano -- é função do poder estatal assegurar o bem comum da
sociedade a que serve.
Solidariedade Social
A solidariedade social é o verdadeiro princípio fundamental do Direito Previdenciário,
caracterizando-se pela cotização coletiva em prol daqueles que, num futuro incerto, necessitem
de prestações retiradas de um fundo comum --- a noção do termo “previdência social” só se
observa quando toda a sociedade presta solidariedade a cada um dos indivíduos que dela
necessitem.
Compulsoriedade da Filiação
A compulsoriedade da filiação é pilar da previdência social. Não se concebe um sistema
previdenciário se cada trabalhador puder escolher se vai ou não contribuir para o fundo --- da
compulsoriedade decorre o status de filiado (segurado), ou seja, a vinculação jurídica, pela
filiação, é compulsória e automática e imediata, com o exercício de trabalho remunerado.
Redistribuição de Renda
Não existe igualdade entre os indivíduos no plano material, somente no jurídico legal (“todos
são iguais perante a lei”), incumbindo à Previdência Social a redução das desigualdades sociais
e econômicas, mediante uma política de redistribuição de renda, retirando maiores contribuições
das camadas mais favorecidas e concedendo benefícios a populações de mais baixa renda.

Planos previdenciários brasileiros


No Brasil, os planos de previdência se dividem em básicos (compulsórios para os que exerçam
atividade laboral remunerada) e complementares (visam ofertar prestações complementares para
manutenção do padrão de vida do segurado e seus dependentes).
Regra Geral: a adesão aos planos básicos independe da vontade: ostenta natureza jurídica de
seguro obrigatório legal, não incidindo as regras do CDC; já o ingresso em um plano
complementar será sempre facultativo: plena autonomia da vontade na filiação --- seguro
contratual sui generis, incidindo o regramento do CDC (Súmula 321 STJ).
Planos básicos
A) Regime Geral de Previdência Social – RGPS
Regime obrigatório para os trabalhadores em geral (aqueles que desenvolvem atividade
remunerada), exceto para os titulares de cargos públicos efetivos e militares filiados a Regime
Próprio --- as pessoas que não trabalham podem se filiar como segurados facultativos (Princípio
da Universalidade de Cobertura e do Atendimento).
A administração do plano de benefícios e serviços competirá ao Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS ---- atualmente, o INSS não detém a Dívida Ativa das contribuições
previdenciárias, que é da União, através da Secretaria de Receita Federal do Brasil (Lei
11.457/2007).
Suas regras gerais encontram-se no art. 201 CF, tendo o seu Plano de Custeio aprovado pela Lei
8.212/91 e o Plano de Benefícios e Serviços pela Lei 8.213/91, atualmente regulamentados pelo
Decreto 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social – RPS).
Importante: O RGPS não visa manter o status social dos beneficiários, mas sim conceder a
cobertura necessária para a manutenção de uma vida digna --- há um teto para o pagamento dos
benefícios, atualmente no valor de R$ 5.645,80 (atualizado para 2018).

B) Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS’s


Seu regramento geral está no art. 40 CF, e nas Leis 9.717/98 e 10.887/04, são obrigatórios para
os servidores públicos efetivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios e os militares,
desde que instituídos --- a União, os Estados e o Distrito Federal possuem os seus RPPS’s
instituídos, mas a esmagadora maioria dos Municípios ainda não e seus servidores estão
automaticamente vinculados ao RGPS, na condição de empregados (art. 12 Lei 8.213/91).
Os servidores sem vínculo efetivo (apenas titulares de cargo em comissão, temporários,
empregados públicos e titulares de mandato eletivo) serão segurados obrigatórios do RGPS (art.
40, §13 CF --- os militares, não poderão ser regidos pelo mesmo regime dos servidores públicos,
devendo ter regras próprias.

C) Regime dos Militares das Forças Armadas


A CF (art. 142, X) remete à lei ordinária o tratamento da matéria relativa às condições de
transferência do militar para a inatividade, apenas exigido que sejam respeitados os §s 7º e 8º do
art. 40 --- a Lei nº 6.880/80 (Estatuto dos Militares), considerados assim os membros das Forças
Armadas, foi recepcionada pela CF/88 e prevê: sua transferência para a reserva remunerada (arts.
96 a 103), e sua reforma (arts. 104 a 114).

Planos complementares
A) Regime Público Complementar: Previsto nos §s 14, 15 e 16 do art. 40 da CF/88, de índole
facultativo e de contribuição definida, deve ser implementado pelas entidades políticas da
Federação --- não se tem notícia que alguma entidade política o tenha instituído.
B) Regime Privado Complementar Aberto: Regulamentado pelo art. 202 da CF e pelas Leis
Complementares 108 e 109/2001 e explorado por sociedades anônimas com autorização estatal,
de índole facultativa, tem por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter
previdenciário, acessíveis a quaisquer pessoas físicas.
C) Regime Privado Complementar Fechado, mantido por entidades fechadas de Previdência
Complementar (associações ou fundações), facultativo, que oferecem planos de benefícios a
todos o empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores.
Princípios Informadores da Previdência Social
Serão analisados os princípios específicos da previdência social, aplicáveis RGPS e, no que
couber, aos RPPS e aos planos privados --- parte deles se encontra positivada no art. 2º, da Lei
8.213/91, enquanto outros tem berço constitucional.
Contributividade
A previdência social apenas concederá benefícios e serviços aos segurados (e dependentes) que
se filiarem previamente, exigindo-se o pagamento de contribuições previdenciárias (art. 201 CF)
--- a contributividade poderá ser real ou presumida, em prol de determinados segurados, quando
a responsabilidade tributária for transferida às empresas.
Obrigatoriedade da Filiação
O RGPS é de caráter compulsório, para os trabalhadores em geral --- exceção: segurados
facultativos do RGPS: apenas se filiarão se manifestarem a sua vontade e recolherem as
contribuições respectivas.
Equidade na forma de participação no custeio
Corolário do Princípio da Capacidade Contributiva, prevê que os que dispuserem de mais
recursos financeiros e os que mais provocarem a cobertura da previdência social, tem o dever de
contribuir de maneira mais acentuada para o sistema --- empresas que desenvolvam atividade de
risco contribuirão mais (maior probabilidade de concessão de benefícios acidentários), enquanto
que as pequenas e micro empresas terão uma contribuição simplificada e de menor vulto.
Diversidade da base de financiamento
Seu financiamento deverá ter múltiplas fontes: garantir a solvibilidade do sistema ---
participação de toda a sociedade, de forma direta e indireta --- Além dos recursos Estatais, há a
previsão das seguintes fontes de custeio (art. 195 CF): A) do empregador, empresa e entidade
equiparada; B) do trabalhador e demais segurados da previdência social; C) apostadores
(concursos de prognósticos); D) importador de bens ou serviços do exterior, ou equiparados --- é
permitida a criação de novas fontes de custeio: exigência constitucional expressa de que seja
feita por lei complementar (art. 195, §4º).
Equilíbrio Financeiro e Atuarial
Previsto no art. 201 CF, visa assegurar a incolumidade das contas previdenciárias para as
presentes e futuras gerações --- a arrecadação deverá cobrir, ao menos, o pagamento dos
benefícios previdenciários atuais (Equilíbrio Financeiro); também deverá ter perspectivas de
estar equilibrada financeiramente no futuro, traçando cenários para a manutenção ou alcance do
equilíbrio financeiro (Equilíbrio Atuarial).
Universalidade de Participação nos Planos Previdenciários
Previsto no art. 2º, I Lei 8.213/91, determina que o RGPS deve buscar sempre sua expansão e
filiar cada vez mais segurados, facultando a adesão das pessoas que não exercem atividade
laboral remunerada (segurados facultativos) --- os §s 12 e 13 do art. 201 CF determinam que a
lei disponha sobre um sistema especial de inclusão previdenciária, de trabalhadores de baixa
renda e domésticos, com alíquotas e carências inferiores (LC 123/2006).
Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais
O princípio constitucional da Seguridade Social foi repetido pelo art. 2º, II da Lei 8.213/91 ---
objetivou a vedação da discriminação negativa aos povos rurais --- é possível o tratamento
privilegiado, desde que devidamente lastreado e justificado no princípio da isonomia (ex. art.
201, §7º, II da CF, que prevê a possibilidade dos trabalhadores rurais, em regime de economia
familiar de subsistência, terem redução para a aposentadoria por idade, em razão do desgaste
físico da atividade campesina).
Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios
A seletividade obriga o legislador a escolher os riscos sociais a serem cobertos pelo RGPS,
respeitado o mínimo constitucional (art. 201) --- a distributividade torna a previdência social
relevante instrumento de repartição de riquezas.
Irredutibilidade do valor dos benefícios
É vedado o retrocesso previdenciário --- impossibilidade de redução do valor nominal de
benefício, na forma do art. 2º, V da Lei 8.213/91 --- é garantido o reajustamento, para manter o
seu valor real (art. 201, §4º CF/88) --- também chamada de irredutibilidade material, atualmente
regulamentada pelo art. 41-A, da Lei 8.213/91, através da incidência de correção monetária.
Correção Monetária dos Salários de Contribuição
O cálculo dos benefícios previdenciários deverá considerar os salários de contribuição
corrigidos monetariamente pelo índice legal (art. 201, §3º CF e art. 2º, IV da Lei 8.213/91) ---
OBS: o salário de contribuição trata-se de instituto exclusivo do Direito Previdenciário, cujo
valor é utilizado para o cálculo de quase todos os benefícios, formado, normalmente, por
parcelas remuneratórias decorrentes do labor, observado o piso e o teto.
Garantia do Benefício não Inferior ao Salário Mínimo
Nenhum benefício do RGPS, que substitua o rendimento do trabalho, pode ter valor inferior a
um salário mínimo --- apenas os que não venham substituir a remuneração do trabalhador
podem ser inferiores, como ocorre com o auxílio-acidente e o salário-família.
Previdência Complementar Facultativa
Nos planos complementares (ao contrário dos básicos), a adesão será sempre facultativa (art. 202
CF e art. 2º, VII Lei 8.213/91) --- natureza contratual civil.
Gestão Quadripartite
A gestão da previdência social deverá ser democrática e descentralizada, com a participação de
representantes do Poder Público, empregadores, trabalhadores e aposentados nos órgãos
colegiados.
Tempus Regit Actum (a lei do tempo rege o ato)
Princípio geral do Direito aplicável ao Direito Previdenciário: os atos jurídicos devem ser
regulados pela lei vigente, no momento da sua realização, e não pelos novos regramentos
posteriores, salvo previsão contrária expressa --- proibição do prejuízo ao direito adquirido, ato
jurídico perfeito e coisa julgada (art. 5º, XXXVI CF) --- conforme decisão do STF: “os
benefícios previdenciários devem regular-se pela lei vigente ao tempo em que preenchidos os
requisitos necessários à sua concessão" (AI 625.446 AgR, de 12.08.2008) --- importante:
inexiste direito adquirido a novo regime jurídico, ou seja, antes do preenchimento de todos os
requisitos legais, há mera expectativa de direito.

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