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Noções Gerais
(Autor: Professor Paulo Celso Sanvito)
Introdução
O Estado Contemporâneo possui, entre suas funções, a proteção social dos indivíduos em relação
a eventos que lhes possam causar dificuldade ou impossibilidade de subsistência por conta
própria. Tal proteção encontra-se consolidada nas políticas de Seguridade Social.
Definição
Proteção social é o conjunto de medidas, de caráter social, destinadas a atender certas
necessidades individuais que, não atendidas, repercutem sobre os demais indivíduos e a
sociedade --- visa assegurar os direitos fundamentais à saúde, assistência e previdência social, de
iniciativa do Poder Público e de toda a sociedade --- não basta dar a cada um o que é seu: é
dando a cada um o que não é seu que se engrandece a condição humana e que se redime a
injustiça dos abismos sociais (Mozart Victor Russomano).
Segurança Social
A noção atual de Segurança Social, no Brasil, abarca não só a Previdência Social, como também
as ações nos campos da Assistência Social e da Saúde.
A Previdência Social pode ser definida como o ramo da atuação estatal que visa à proteção de
todo indivíduo, ocupado numa atividade laborativa remunerada, para proteção dos riscos
decorrentes da perda ou redução, permanente ou temporária, das condições de obter seu próprio
sustento.
Ficam excluídos deste sistema aqueles que não têm atividade (desempregados, inválidos que
nunca trabalharam, idosos sem direito à aposentação e menores carentes) --- a estes, cumpre ao
Estado prestar outra forma de proteção: a Assistência Social e a Saúde --- nesses campos de
atuação, não se exige dos beneficiários qualquer contribuição.
Composição
Coexistem dois subsistemas, em relação ao custeio, de acordo com a fonte de arrecadação: a)
não contributivo e b) contributivo.
O sistema não contributivo (ou assistencial) é aquele custeado pelos tributos em geral e
disponíveis a todas as pessoas que necessitem, inexistindo exigência de pagamento de
contribuições para seu gozo (Saúde Pública e Assistência Social).
O sistema contributivo é aquele no qual a arrecadação dos recursos financeiros para suas
prestações dar-se-á por meio de aportes diferenciados dos tributos em geral --- as pessoas
especificadas na legislação própria (segurados ou não), além do ente Estatal, ficam obrigadas a
contribuir para o regime, através das contribuições sociais (Previdência Social).
No Brasil, o exemplo desse sistema é a Previdência Social. No texto constitucional também se
verifica a previsão de que as entidades Estatais podem instituir contribuições sociais para custeio
dos regimes --- no sistema contributivo, os recursos orçamentários do Estado também concorrem
para este --- cumpre ao Estado garantir a sustentação do regime previdenciário: eventuais
insuficiências financeiras deverão ser cobertas pelo Poder Público (art. 16, §ú, Lei nº 8.212/91).
Competência Legislativa
Previdência Social - Apenas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto quanto ao
regime de previdência dos servidores públicos efetivos dos Estados, Distrito Federal e
Municípios, que poderão editar normas para instituí-los e discipliná-los.
Saúde e Assistência Social - A competência é concorrente, cabendo a União editar normas gerais
a serem complementadas pelos demais entes políticos, conforme as suas peculiaridades regionais
e locais.
Objetivos
São objetivos da assistência social brasileira: a proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração
ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover
à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
SAÚDE
Definição e Natureza Jurídica
Tratada, principalmente, pelos artigos 196 a 200 da CF e regulamentada pela Lei 8.080/90, é
dever do Poder Público prestá-la a todos os brasileiros, estrangeiros residentes ou não residentes,
havendo solidariedade entre todos os entes políticos --- conforme a CF, as instituições privadas
poderão participar, de forma complementar, do sistema único de saúde, sob suas diretrizes e
mediante contrato de direito público ou convênio.
A saúde pública consiste no direito fundamental às medidas preventivas ou curativas de
enfermidades, sendo dever estatal prestá-la adequadamente a todos, tendo a natureza jurídica de
serviço público gratuito --- é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos, além do acesso
universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
O Sistema Único de Saúde - SUS
Para na efetivação das ações da saúde pública, foi instituído um Sistema Único de Saúde – SUS
(art. 198 CF), com atendimento integral, regionalizado, descentralizado e hierarquizado (nas três
esferas de governo), que deve priorizar a prevenção de doenças e garantir a participação da
comunidade --- sua competência é prevista no art. 200 da CF/88.
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Breve Evolução
Antigamente (antes do surgimento das primeiras leis de proteção social), a defesa do trabalhador,
aos riscos no trabalho e perda da condição de subsistência, se dava pela assistência caritativa
individual ou pela reunião de pessoas --- somente com o desenvolvimento da sociedade
industrial surge o reconhecimento de que a sociedade toda deve ser solidária com seus
incapacitados.
Os Países Europeus estabeleceram, de maneira gradativa, um seguro (contributivo) que consistia
no direito a uma renda, em caso de perda de capacidade de trabalho, por velhice, doença ou
invalidez, e a pensão por morte, devida aos dependentes --- nova política social, não meramente
assistencialista: pedra fundamental da Previdência Social.
Ocorrência da superação do liberalismo e acentuação do intervencionismo Estatal: o Estado, sem
deixar de ser democrático, pode e deve intervir, não apenas na organização, mas igualmente, na
direção do processo econômico-social --- o surgimento do Estado Contemporâneo é produto de
uma situação em que os detentores do poder modificam a ação do Estado para interferir
diretamente em determinadas relações privadas, inicialmente na proteção social de indivíduos
alijados do mercado de trabalho.
Passa-se a entender que a proteção social é dever da sociedade como um todo, caráter de
solidariedade até hoje presente: todos contribuem para que os necessitados de amparo possam tê-
lo --- a noção de seguro social tem o caráter de proteção de todos por todos, mediante a cotização
geral dos indivíduos.
Definição
Em sentido amplo e objetivo, previdência social pode ser definida como um seguro, com regime
jurídico especial, necessariamente contributivo, que disponibiliza benefícios e serviços aos
segurados e seus dependentes, que variarão a depender do plano de cobertura.
Planos complementares
A) Regime Público Complementar: Previsto nos §s 14, 15 e 16 do art. 40 da CF/88, de índole
facultativo e de contribuição definida, deve ser implementado pelas entidades políticas da
Federação --- não se tem notícia que alguma entidade política o tenha instituído.
B) Regime Privado Complementar Aberto: Regulamentado pelo art. 202 da CF e pelas Leis
Complementares 108 e 109/2001 e explorado por sociedades anônimas com autorização estatal,
de índole facultativa, tem por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter
previdenciário, acessíveis a quaisquer pessoas físicas.
C) Regime Privado Complementar Fechado, mantido por entidades fechadas de Previdência
Complementar (associações ou fundações), facultativo, que oferecem planos de benefícios a
todos o empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores.
Princípios Informadores da Previdência Social
Serão analisados os princípios específicos da previdência social, aplicáveis RGPS e, no que
couber, aos RPPS e aos planos privados --- parte deles se encontra positivada no art. 2º, da Lei
8.213/91, enquanto outros tem berço constitucional.
Contributividade
A previdência social apenas concederá benefícios e serviços aos segurados (e dependentes) que
se filiarem previamente, exigindo-se o pagamento de contribuições previdenciárias (art. 201 CF)
--- a contributividade poderá ser real ou presumida, em prol de determinados segurados, quando
a responsabilidade tributária for transferida às empresas.
Obrigatoriedade da Filiação
O RGPS é de caráter compulsório, para os trabalhadores em geral --- exceção: segurados
facultativos do RGPS: apenas se filiarão se manifestarem a sua vontade e recolherem as
contribuições respectivas.
Equidade na forma de participação no custeio
Corolário do Princípio da Capacidade Contributiva, prevê que os que dispuserem de mais
recursos financeiros e os que mais provocarem a cobertura da previdência social, tem o dever de
contribuir de maneira mais acentuada para o sistema --- empresas que desenvolvam atividade de
risco contribuirão mais (maior probabilidade de concessão de benefícios acidentários), enquanto
que as pequenas e micro empresas terão uma contribuição simplificada e de menor vulto.
Diversidade da base de financiamento
Seu financiamento deverá ter múltiplas fontes: garantir a solvibilidade do sistema ---
participação de toda a sociedade, de forma direta e indireta --- Além dos recursos Estatais, há a
previsão das seguintes fontes de custeio (art. 195 CF): A) do empregador, empresa e entidade
equiparada; B) do trabalhador e demais segurados da previdência social; C) apostadores
(concursos de prognósticos); D) importador de bens ou serviços do exterior, ou equiparados --- é
permitida a criação de novas fontes de custeio: exigência constitucional expressa de que seja
feita por lei complementar (art. 195, §4º).
Equilíbrio Financeiro e Atuarial
Previsto no art. 201 CF, visa assegurar a incolumidade das contas previdenciárias para as
presentes e futuras gerações --- a arrecadação deverá cobrir, ao menos, o pagamento dos
benefícios previdenciários atuais (Equilíbrio Financeiro); também deverá ter perspectivas de
estar equilibrada financeiramente no futuro, traçando cenários para a manutenção ou alcance do
equilíbrio financeiro (Equilíbrio Atuarial).
Universalidade de Participação nos Planos Previdenciários
Previsto no art. 2º, I Lei 8.213/91, determina que o RGPS deve buscar sempre sua expansão e
filiar cada vez mais segurados, facultando a adesão das pessoas que não exercem atividade
laboral remunerada (segurados facultativos) --- os §s 12 e 13 do art. 201 CF determinam que a
lei disponha sobre um sistema especial de inclusão previdenciária, de trabalhadores de baixa
renda e domésticos, com alíquotas e carências inferiores (LC 123/2006).
Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais
O princípio constitucional da Seguridade Social foi repetido pelo art. 2º, II da Lei 8.213/91 ---
objetivou a vedação da discriminação negativa aos povos rurais --- é possível o tratamento
privilegiado, desde que devidamente lastreado e justificado no princípio da isonomia (ex. art.
201, §7º, II da CF, que prevê a possibilidade dos trabalhadores rurais, em regime de economia
familiar de subsistência, terem redução para a aposentadoria por idade, em razão do desgaste
físico da atividade campesina).
Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios
A seletividade obriga o legislador a escolher os riscos sociais a serem cobertos pelo RGPS,
respeitado o mínimo constitucional (art. 201) --- a distributividade torna a previdência social
relevante instrumento de repartição de riquezas.
Irredutibilidade do valor dos benefícios
É vedado o retrocesso previdenciário --- impossibilidade de redução do valor nominal de
benefício, na forma do art. 2º, V da Lei 8.213/91 --- é garantido o reajustamento, para manter o
seu valor real (art. 201, §4º CF/88) --- também chamada de irredutibilidade material, atualmente
regulamentada pelo art. 41-A, da Lei 8.213/91, através da incidência de correção monetária.
Correção Monetária dos Salários de Contribuição
O cálculo dos benefícios previdenciários deverá considerar os salários de contribuição
corrigidos monetariamente pelo índice legal (art. 201, §3º CF e art. 2º, IV da Lei 8.213/91) ---
OBS: o salário de contribuição trata-se de instituto exclusivo do Direito Previdenciário, cujo
valor é utilizado para o cálculo de quase todos os benefícios, formado, normalmente, por
parcelas remuneratórias decorrentes do labor, observado o piso e o teto.
Garantia do Benefício não Inferior ao Salário Mínimo
Nenhum benefício do RGPS, que substitua o rendimento do trabalho, pode ter valor inferior a
um salário mínimo --- apenas os que não venham substituir a remuneração do trabalhador
podem ser inferiores, como ocorre com o auxílio-acidente e o salário-família.
Previdência Complementar Facultativa
Nos planos complementares (ao contrário dos básicos), a adesão será sempre facultativa (art. 202
CF e art. 2º, VII Lei 8.213/91) --- natureza contratual civil.
Gestão Quadripartite
A gestão da previdência social deverá ser democrática e descentralizada, com a participação de
representantes do Poder Público, empregadores, trabalhadores e aposentados nos órgãos
colegiados.
Tempus Regit Actum (a lei do tempo rege o ato)
Princípio geral do Direito aplicável ao Direito Previdenciário: os atos jurídicos devem ser
regulados pela lei vigente, no momento da sua realização, e não pelos novos regramentos
posteriores, salvo previsão contrária expressa --- proibição do prejuízo ao direito adquirido, ato
jurídico perfeito e coisa julgada (art. 5º, XXXVI CF) --- conforme decisão do STF: “os
benefícios previdenciários devem regular-se pela lei vigente ao tempo em que preenchidos os
requisitos necessários à sua concessão" (AI 625.446 AgR, de 12.08.2008) --- importante:
inexiste direito adquirido a novo regime jurídico, ou seja, antes do preenchimento de todos os
requisitos legais, há mera expectativa de direito.