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INDICE

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................1
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS..................................................................................................................2
2.1. CONTRATO COMERCIAL INTERNACIONAL...................................................................................2
2.2. ARBITRAGEM TRANSNACIONAL...................................................................................................2
3. DETERMINAÇÃO DO DIREITO APLICÁVEL AO MÉRITO DA CAUSA.......................................................3
3.1. Direito Transnacional de Arbitragem cariz...................................................................................3
4. ARBITRAGEM TRANSNACIONAL NO QUE TANGE AO RECONHECIMENTO DAS DECISÕES ARBITRAIS
ESTRANGEIRAS............................................................................................................................................4
 Reconhecimento..........................................................................................................................5
 Execução......................................................................................................................................5
5. A CONVENÇÃO DE NOVA YORK SOBRE O RECONHECIMENTO DAS DECISÕES ARBITRAIS
ESTRANGEIRAS DE 1958..............................................................................................................................6
6. A CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE E AS LEIS NACIONAIS.....................................................................8
7. O PANORAMA EM MOÇAMBIQUE.......................................................................................................8
8. CONCLUSÃO......................................................................................................................................10
9. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................................12

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho atribuído na cadeira de Direito do Comercio
Internacional, visa debruçar-se sobre um dos temas de grande relevância no
âmbito do Comercio Internacional. O estudo é referente aos Modos de
Resolução das Controvérsias Emergentes dos Contratos Internacionais, no
que tange ao reconhecimento das decisões arbitrais estrangeiras no
âmbito das arbitragens transnacionais.

Desde os tempos remotos que a arbitragem é o meio mais utilizado para fins
de resolução de conflitos entre estados, empresas e particulares, por
revestir-se de um caracter processual mais célere, não permanente e
desprovido de profissionalidade se comparado com o sistema judicial.

Uma das complexidades relativamente aos modos de resolução das


controvérsias emergentes dos contratos internacionais abrange o
reconhecimento das decisões arbitrais estrangeiras por parte dos tribunais
estaduais. É, olhando por esse prisma, que a composição do presente
trabalho restringir-se-á precisamente na analise no reconhecimento das
sentenças arbitrais estrangeiras por um outro Estado através dos tribunais
judiciais nacionais, e para tal, sem prejuízo da legislação complementar
lançaremos um olhar sobre o principal instrumento legal que cuida desta
matéria, designadamente a Convenção de Nova York sobre o
reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras de 10 de
Junho de 1958 daqui em diante designada de somente de CNY, assim como
para a resolução nº 22/98 de 2 de Junho referente a adesão da República de
Moçambique a Convenção sobre o reconhecimento e a execução de
sentenças arbitrais estrangeiras, que antecedeu a aprovação da Lei Nº
11/99, de 8 de julho que institui a lei da Arbitragem, Conciliação e Mediação.

Para a concretização do trabalho que nos propomos a estudar foi feita uma
pesquisa bibliográfica desde bibliotecas virtuais (internet) e Manuais físicos,
e para pontapé de saída iremos definir alguns conceitos como, contratos
internacionais, a arbitragem transnacional, um pequeno passeio sobre o
Direito Aplicável ao mérito da causa.

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2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
2.1. CONTRATO COMERCIAL INTERNACIONAL

O comércio internacional se fortificou, em especial, após o término da II


Guerra
Mundial, ocasião na qual se iniciou uma nova fase das relações econômicas
comerciais. Consequentemente, com a evolução do comércio internacional e
intensificação das relações comerciais globais, verificou-se o aumento
significativo do papel dos contratos internacionais.

De fato, o comércio não poderia deixar de exercer influência sobre o direito,


tendo em vista a exigência de técnicas próprias que efetivem as operações
concernentes ao mercado internacional.

Nesse sentido, os contratos internacionais são o instrumento por meio do


qual essas relações são concretizadas e podem ser distinguidos entre
contratos para a circulação de bens, nos quais se encaixa a figura da compra
e venda, contratos para a realização ou promoção de negócios, tais quais os
contratos de representação comercial e os de distribuição, os contratos de
transporte de mercadoria, os contratos financeiros e os instrumentos de
pagamento; os contratos de seguro, os contratos de circulação de
tecnologia, os associativos entre empresas, instrumentos de garantia e os
contratos de investimento.

O diferencial entre o contrato internacional e o contrato nacional é o


elemento da internacionalidade e diversos foram os critérios propostos para
que se pudesse localizar, dentro do instrumento contratual, referida
característica, o que demonstra a dificuldade de
sua conceituação. Não obstante haver varias acepções de conceituação do
contrato internacional, o critério inequívoco entre vários autores é o
elemento da internacionalidade, por essa razão parece-nos oportuno trazer a
definição de KUHN que define os contratos internacionais como aqueles que
“vinculam as partes jurisdicionadas por sistemas jurídicos diferentes e que,
por tal razão, não estão por completo sujeitos a nenhum sistema jurídico
perfeitamente identificado, pois, pela peculiaridade da nacionalidade ou do
domicílio, não poderão ser alcançados coercitivamente por suporte
legislativo ao qual não estejam vinculados, por imperatividade
legal ou por convenção

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2.2. ARBITRAGEM TRANSNACIONAL

Actualmente, grande parte dos contratos internacionais prevê que os litígios


decorrentes ou relacionadas com eles devem ser resolvidos por arbitragem
em detrimento de uma solução judicial. Alem da maior rapidez, tendo em
vista a complexa burocracia e a sobrecarga do poder judiciário, a arbitragem
oferece uma serie de vantagens decisivas sobre o litígio quando se trata de
transações internacionais.

Podemos definir a arbitragem como sendo uma modalidade extrajudicial de


resolução de conflitos, em que um árbitro, um terceiro escolhido pelas
partes, decide uma controvérsia.

Entretanto não obstante essa conceituação, vários são os autores que


trazem diversas concepções sobre a Arbitragem como por exemplo de
acordo com Strenger a arbitragem é a instância jurisdicional praticada em
função de regime contratualmente estabelecido, para diminuir controvérsias
entre pessoas de direito privado e/ou publico, com procedimentos próprios e
força executória perante tribunais estatais.

A arbitragem transnacional em sentido amplo contrapõe-se à arbitragem


interna. A arbitragem interna insere-se exclusivamente no interior da ordem
jurídica portuguesa e, por isso, o estatuto da arbitragem interna é definido
directamente pela ordem jurídica portuguesa. A arbitragem interna não
coloca um problema de determinação do estatuto da arbitragem. Já a
arbitragem transnacional está em contacto com uma pluralidade de ordens
jurídicas e os tribunais da arbitragem transnacional não têm uma lex fori, um
Direito estadual que se apresente a priori como exclusivamente competente
para definir o seu estatuto. A arbitragem transnacional coloca por isso,
necessariamente, problemas de determinação do estatuto da arbitragem. 

3. DETERMINAÇÃO DO DIREITO APLICÁVEL AO MÉRITO DA CAUSA


3.1. Direito Transnacional de Arbitragem cariz

Com vista a determinação do reconhecimento e execução das decisões


arbitrais, resultantes das controvérsias emergentes dos contratos
internacionais, antes julgamos prudente debruçar-se de forma sucinta sobre
a determinação do direito aplicável ao mérito da causa.

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Os tribunais da arbitragem transnacional não estão exclusivamente
submetidos a um particular sistema nacional. Os árbitros não estão
vinculados a aplicar exclusivamente o Direito de Conflitos de um
determinado Estado e, perante os principais sistemas jurídicos, gozam de
uma ampla autonomia na determinação do Direito aplicável ao mérito da
causa. O que permite que a determinação do Direito aplicável ao mérito da
causa se reja principalmente por regras e princípios próprios do Direito
Transnacional da Arbitragem.

As soluções do Direito Transnacional da Arbitragem resultam principalmente


da prática dos tribunais arbitrais e dos regulamentos de centros
institucionalizados de arbitragem, que empregam critérios de determinação
do Direito aplicável diferentes dos geralmente seguidos pelos tribunais
estaduais e consagrados nos sistemas nacionais de Direito de Conflitos. 

Assim, o princípio da autonomia privada é entendido, no quadro deste


Direito Transnacional, como permitindo que as partes remetam para
qualquer Direito estadual, para o Direito Internacional Público, para a lex
mercatoria, para “princípios gerais” ou para a equidade.  Na prática dos
tribunais arbitrais é relativamente frequente o recurso a princípios gerais de
Direito, a “princípios comuns” aos sistemas nacionais, e a usos do comércio
internacional.  ~

4. ARBITRAGEM TRANSNACIONAL NO QUE TANGE AO


RECONHECIMENTO DAS DECISÕES ARBITRAIS ESTRANGEIRAS.

A Arbitragem é um processo consensual, ela pode ocorrer apenas se as


partes acordarem em submeter a sua disputa para arbitragem. O referido
acordo que é a cerne das disputas para arbitragem é denominado de
convenção de arbitragem e tem um efeito legal positivo e negativo.

a) Efeito Legal Positivo - A convenção de arbitragem obriga as partes a


submeter as disputas para arbitragem e confere jurisdição ao tribunal
arbitral para solucionar as disputas abrangidas pela convenção de
arbitragem. Se surge uma disputa que está abrangida pelo escopo da
convenção de arbitragem, qualquer parte pode submeter esta disputa
para um tribunal arbitral.
b) Efeito Legal Negativo - A convenção de arbitragem impede que as
partes busquem a solução de suas disputas no judiciário. Ao firmarem
uma convenção de arbitragem, as partes renunciam ao seu direito à

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solução judicial. As partes que aderiram a uma convenção de
arbitragem não podem ignorar o acordado e buscar o judiciário.

A CNY sobre o reconhecimento das decisões arbitrais estrangeiras de 1958


obriga os Estados contratantes a reconhecer e executar estes efeitos.

Vimos acima que a arbitragem transnacional (frequentemente designada por


“arbitragem comercial internacional”) constitui o modo normal de resolução
de diferendos no comércio internacional, ante o qual o recurso aos tribunais
estaduais se apresenta como um meio secundário e subsidiário. Por isso, o
problema da determinação do Direito aplicável a relações do comércio
internacional e, em particular, a contratos internacionais, assume especial
importância prática no contexto da arbitragem. 

A Convenção de Genebra e, mais tarde, a Convenção de Nova Iorque foram


celebradas para facilitar o reconhecimento e execução de sentenças
arbitrais estrangeiras, falando-se mesmo de um princípio de favor
arbitrandum. A Convenção de Nova Iorque consegue grande aceitação e
êxito, sendo adoptada em numeroso países inclusive Moçambique, levando
os Estados a favorecerem o reconhecimento das sentenças arbitrais, porque
a arbitragem foi crescendo consideravelmente como meio alternativo e
principal de resolução de litígios do comércio internacional.

As sentenças arbitrais proferidas num determinado Estado, para serem


executadas
noutro Estado, carecem de ser reconhecidas (são as chamadas
arbitragens “estrangeiras”), enquanto que as decisões domésticas, na
maior parte dos ordenamentos jurídicos, não carecem de qualquer acto
prévio para serem executadas; todavia, em certos ordenamentos, as
decisões arbitrais internas também carecem de uma declaração de
executoriedade.

Sempre e quando a parte perdedora não cumprir voluntariamente a decisão


arbitral, a parte vencedora terá que recorrer aos tribunais estaduais do sítio
onde se encontram os bens da outra parte para os penhorar e vender. A
parte vencedora deverá fazer um exercício de investigação de forma a
localizar os bens - sejam contas bancárias, bens imóveis ou outros - da outra
parte, que podem estar localizados em qualquer País, situados, com maior
probabilidade, no país do seu domicílio ou sede. Entretanto, os actos
materiais de penhora e venda de bens não podem ser levados a cabo por um
tribunal arbitral, que não tem legitimidade para executar as suas
próprias decisões, ou seja a sua aplicação está limitada a própria ordem

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publica nacional, porque esta afasta a possibilidade de arbitragem executar
os laudos arbitrais, pese embora os laudos arbitrais tenham aplicabilidade
num espaço imaterial ou transnacional, isso não afasta das leis nacionais,
uma vez que um eventual laudo ou decisão arbitral fundada na lex
mercatória vai ter que ser executada num espaço geográfico de um
determinado espaço. Por essa razão cabe-nos antes de prolongar, fazer uma
distinção entre reconhecimento e execução.

 Reconhecimento
Com o Reconhecimento pretende-se pedir ao tribunal estadual que
reconheça a sentença como válida e vinculativa perante as partes e que
produza efeitos no seu ordenamento, sobretudo como res judicata, ou seja,
O reconhecimento da sentença arbitral é um processo que torna a
sentença arbitral parte do sistema legal nacional. O reconhecimento é em
geral buscado no contexto de um outro procedimento. Por exemplo, a parte
que requer o reconhecimento de uma sentença arbitral com o objetivo de
arguir a defesa de res judicata e, portanto, barrar a re-litigância nos tribunais
de questões que já foram resolvidas por uma arbitragem estrangeira, ou
uma parte busca a compensação de créditos em um procedimento judicial
com base em uma sentença arbitral estrangeira. Por ser um mecanismo de
defesa, o reconhecimento é frequentemente descrito como um escudo.

 Execução
Com a execução o tribunal não só reconhece, como utiliza os seus meios de
coerção material contra a parte perdedora, dito de outra forma a execução é
a espada. A parte que obteve êxito na arbitragem buscará obter o que os
árbitros a concederam. É verdade que a maioria das sentenças arbitrais são
cumpridas voluntariamente. Contudo, quando a parte perdedora não quer
cumprir, a parte vencedora pode requerer auxílio do judiciário para forçar o
cumprimento. A Convenção de Nova Iorque autoriza as partes requererem
tal auxílio.

Em outras palavras, reconhecimento e execução podem conceder efeitos a


uma sentença arbitral em outro Estado além daquele no qual a sentença foi
realizada, Quando um tribunal declara a sentença arbitral exequível no foro
do Estado, a parte vencedora pode valer-se de todos os meios disponíveis
para executá-la de acordo com as leis locais

Existem, pois, diferentes mecanismos para conseguir o reconhecimento e


execução da sentença arbitral, que variam consoante os instrumentos

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normativos que estejam em vigor no ordenamento jurídico ao qual se pede
reconhecimento. É uma realidade mais complexa do que o reconhecimento
de sentenças judiciais estrangeiras, para o presente trabalho nos limitar-nos-
emos a Convenção de Nova Iorque na qual Moçambique é parte contratante
do mesmo desde 1998.

Esta convenção é um dos instrumentos mais importantes para efeitos de


reconhecimento e execução de uma sentença arbitral.

5. A CONVENÇÃO DE NOVA YORK SOBRE O


RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE SENTENÇAS
ARBITRAIS ESTRANGEIRAS DE 10 DE JUNHO DE 1958

A Convenção de Nova Iorque é um tratado internacional. Como tal, faz parte


do Direito Internacional Público. Consequentemente, os órgãos judiciais
solicitados a aplicar a Convenção devem interpretá-la de acordo com as
normas de interpretação do direito internacional, que estão codificadas nos
Artigos 31 e 32 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. Ela Visa
facilitar o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras
e a execução de convenções de arbitragem.
A Convenção somente lida com o reconhecimento e execução de sentenças
arbitrais estrangeiras e não-domésticas. Não se aplica ao reconhecimento e
execução de sentenças domésticas. A Convenção não contém disposição
similar no que diz respeito a convenções de arbitragem. No entanto, é
pacífico que a Convenção somente se aplica a convenções de arbitragem
internacionais ou “estrangeiras.

Porém a CNY é aplicada pelo tribunal do Estado parte contratante que tenha
que reconhecer e executar sentenças arbitrais proferidas noutros Estados
(sentenças arbitrais estrangeiras) ou que, por qualquer razão, não
considere como nacionais, segundo dispõe o Artº 1 da CNY.

O número 3 do Artº 1, numa primeira parte permite aos Estados, com base
na reciprocidade, aplicar unicamente a Convenção às sentenças proferidas
no território de outro Estado contratante.

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Decisões proferidas no território de um Estado, lugar da
comunicação da decisão das partes e decisão no lugar da
arbitragem.

Uma questão prévia essencial é saber o que se deve entender por decisões
proferidas no território de um Estado. Podemos tomar por referência o lugar
onde a decisão é elaborada – considerando que a sentença fica completa
com a assinatura dos árbitros, releva o lugar onde esta aconteceu.

Por outro lado, podemos ter em conta o lugar onde a decisão é comunicada
às partes. Por último, podemos considerar que uma decisão é proferida no
lugar da sede da arbitragem. Esta última posição faria coincidir o âmbito de
aplicação da Convenção com o critério seguido pela maioria dos Estados
para delimitar o âmbito espacial das respectivas leis de arbitragem.

Qual então a posição que consideramos adequada?

A aplicação da Convenção de Nova Iorque não pode ficar vinculada a


vicissitudes do processo arbitral, pelo que deve entender-se que a
decisão é proferida no lugar fixado pelas partes ou, na sua omissão,
pelos árbitros. A elaboração da decisão noutro lugar não será
relevante.

As regras processuais de reconhecimento são as estipuladas pelo direito


interno, tendo de respeitar as regras previstas nos arts. III e IV e ss. Da
Convenção. Não podem, porém, ser aplicadas condições sensivelmente mais
rigorosas do que as aplicadas para o reconhecimento ou execução das
sentenças arbitrais nacionais nos termos do Art. III segunda parte.

Estamos, pois, perante um princípio de não discriminação. Como


demonstram os trabalhos preparatórios da Convenção, o que se pretende é
“garantir que o processo de reconhecimento das sentenças estrangeiras não
é sensivelmente mais oneroso que o estabelecido para as sentenças
nacionais”. O Art. III da CNY refere somente regras processuais (tais como
prazos, requerimentos, entrega de documentos...) e não regras substantivas
de reconhecimento.

A Convenção de Nova Iorque consagra uma obrigação de reconhecimento,


sendo que o Tribunal só pode não reconhecer quando a parte que se queira
opor ao reconhecimento prove que se violou algum dos fundamentos
previstos no Artº Vº da CNY. Mesmo que algum ocorra, o Tribunal pode
reconhecer a sentença arbitral, o que demonstra que a Convenção de Nova
Iorque pretende facilitar o reconhecimento das sentenças arbitrais. As

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próprias partes podem, conforme defende alguma doutrina, na convenção de
arbitragem, abdicar do direito de se opor ao reconhecimento e execução da
sentença com base em todos ou em alguns fundamentos, mas obviamente
existem limites à autonomia das partes, como no caso dos fundamentos de
ordem pública internacional e da arbitrabilidade.

Devemos, ainda, atender ao estabelecido no Artº VII da CNY, que consagra o


princípio do tratamento mais favorável, ou seja, a Convenção deixa de ser
aplicável se através de outros instrumentos se pode reconhecer e executar a
sentença.

6. A CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE E AS LEIS NACIONAIS

No que diz respeito à relação entre a Convenção de Nova Iorque e a lei


nacional do Estado no qual se busca a execução, três situações devem ser
distinguidas: – Ambas a Convenção de Nova Iorque e a lei nacional têm
regras sobre as mesmas questões. Neste caso, a Convenção suplanta a lei
nacional, a não ser que a lei nacional seja mais favorável. Em alguns casos, o
tribunal deverá referir-se à legislação promulgatória da Convenção – A
Convenção de Nova Iorque não contém regras sobre determinada questão.
Neste caso, os tribunais deverão aplicar a lei nacional para suplementar a
Convenção de Nova Iorque. A Convenção de Nova Iorque refere-se
expressamente à lei nacional Neste caso, os tribunais devem aplicar a lei
nacional na medida permitida pela Convenção.

A Convenção de Nova Iorque não estabelece um regime procedimental


compreensivo para o reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras.
No que diz respeito ao procedimento, a Convenção somente prevê regras
sobre o ônus da prova e os documentos que devem ser apresentados pela
parte requerente. É silente em outros aspectos procedimentais.

O Artigo III prevê que os Estados Contratantes deverão reconhecer e


executar sentenças arbitrais em conformidade com as regras de
procedimento do Estado onde a sentença é invocada. Logo, o procedimento
para reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras é regulado pela
lei nacional, exceto sobre questões de ônus da prova e os documentos que
devem ser apresentados.

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7. O PANORAMA EM MOÇAMBIQUE

Moçambique aderiu à CNY em 11 de Junho de 1998, A Lei de Arbitragem,


Conciliação e Mediação de Moçambique (Lei n.º 11/99, de 8 de Julho,
«LACM»), apesar de ter influência de várias jurisdições arbitrais –
nomeadamente, a brasileira, a argentina e também, naturalmente, a
portuguesa –, inspira-se na Lei-Modelo UNCITRAL (Comissão das Nações
Unidas para o Direito do Comércio Internacional), tendo, contudo, a
particularidade de a LACM tratar também de outros métodos alternativos de
resolução de litígios (como a mediação e a conciliação). Além disso, cumpre
ainda realçar que a LACM tem uma ideia alargada de arbitrabilidade e define
oito princípios pelos quais os meios alternativos de resolução de conflitos se
devem pautar: liberdade, flexibilidade, privacidade, idoneidade, celeridade,
igualdade, audiência e contraditório.

Sem prejuízo do exposto, a verdade é que a LACM não dispõe de nenhuma


regra específica sobre o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais
estrangeiras. Assim, o regime a seguir seria, em princípio, o do Código de
Processo Civil moçambicano, o qual, no entanto, admite que, por convenção
ou tratado internacional, se disponha de modo diferente. E foi o que
sucedeu, tendo vindo a ser entendido que, considerando que Moçambique,
aderiu à CNY em 1998, também com a referida reserva de reciprocidade
prevista no nº 3 do Artº I da CNY ou seja Moçambique apenas aplicará a CNY
caso as sentenças arbitrais estrangeiras em causa — i.e., que se pretendem
que sejam reconhecidas e executadas — tenham sido proferidas no território
de Estados igualmente vinculados à CNY, o regime de reconhecimento e
execução de sentenças arbitrais estrangeiras naquele país é o definido na
CNY.

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8. CONCLUSÃO

No âmbito de direito internacional do comércio, ou do comércio internacional


área esta onde a arbitragem tem o seu maior âmbito são várias as formas de
resolução das controvérsias emergentes dos contratos internacionais, o
presente trabalho concentrou as suas atenções numa delas concretamente
na arbitragem transnacional sobre o reconhecimento das decisões arbitrais
estrangeiras.

Não obstante ter-se enfrentado alguma dificuldade na recolha do material


bibliográfico para a produção do trabalho, acreditamos termos conseguido
alcançado o objectivo que se pretendia com o mesmo que é de trazer a
debate o reconhecimento das decisões arbitrais estrangeiras no circuito
internacional e no panorama moçambicano.

O modo de resolução das controvérsias decorrentes dos contratos


internacionais centrada na arbitragem transnacional permite uma dinâmica
processual se comparada com o sistema judicial de um Estado, alias um dos
conceitos de arbitragem transnacional trazidos para debate no presente
trabalho define o arbitragem transnacional como sendo um mecanismo ou
técnica de solução de controvérsias instaladas pelas próprias partes,
mediante a intervenção de terceiro ou
terceiros, expressamente autorizado ou autorizados pelos litigantes.
Entretanto coloca-se a questão do reconhecimento das decisões arbitrais
estrangeiras proferidas pelos árbitros num outro estado, pois quando uma
parte vencedora requer o reconhecimento de uma decisão arbitral tem como
objectivo a execução da mesma, na medida em que as sentenças arbitrais

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proferidas num determinado Estado, para serem executadas noutro Estado,
carecem de ser reconhecidas (são as chamadas arbitragens “estrangeiras”).

Portanto com o reconhecimento de uma decisão arbitral estrangeira,


pretende-se pedir ao tribunal estadual que reconheça a sentença como
válida e vinculativa perante as partes e que produza efeitos no seu
ordenamento sobretudo como res judicata, enquanto que com a execução o
tribunal não só reconhece, como utiliza os seus meios de coerção material
contra a parte perdedora.

Entretanto para o reconhecimento das decisões arbitrais estrangeiras


moçambique adoptou os mecanismos previstos na Convenção de Nova York
sobre o reconhecimento e execução de decisões arbitrais estrangeiras de
1958, a 11 de Julho de 1998, entretanto diferente de Portugal Moçambique
que promulgou a Convenção de Nova York a Lei de Arbitragem, Conciliação e
Mediação de Moçambique (Lei n.º 11/99, de 8 de Julho (LACM), inspirada em
grande parte na UNCITRAL, não dispõe de nenhuma regra específica sobre o
reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras, Assim, o
regime a seguir seria, em princípio, o do Código de Processo Civil
moçambicano, o qual, no entanto, admite que, por convenção ou tratado
internacional, se disponha de modo diferente. Dando a entender desse modo
a adoção da reserva da reciprocidade.

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9. BIBLIOGRAFIA

STRENGER, Irineu. Direito do Comércio Internacional…, p. 70.


OLIVEIRA, Camila, os contratos internacionais e a lex mercatoria, Ed Coimbra
CUTRALE, Daniela, a autonomia da vontade das partes e a escolha da lei
aplicável aos contratos internacionais: uma análise da lex mercatoria na
arbitragem transnacional, Ed Coimbra, Jul 2017
KUHN, João Lace. A autonomia da vontade nos contratos do Mercosul, Direito
Internacional Privado, Luiz Fernando Franceschini e Marcos Wachowicz
(coords.), Curitiba: Juruá, 2001.

SITES VISITADOS
Luís Lima Pinheiro sobre Direito aplicável ao mérito da causa na arbitragem
internacional - Ordem Dos Advogados
Luís Lima Pinheiro Sobre Convenção de Arbitragem (Aspectos internos e
Transnacionais) - - Ordem Dos Advogados

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