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AS MINORIAS PSICOLÓGICAS
DEMOGRAFIA E PSICOLOGIA
Desde o início de seus trabalhos sobre a psicologia das minorias, Kurt Lewin
procura clarear e dissipar o que o termo minoria comporta de ambiguidades e de
equívocos no plano da semântica.
A demografia utiliza os termos minoria e maioria em sentidos diferentes da
psicologia. Em demografia um grupo constitui uma maioria desde que a
porcentagem de seus membros ultrapasse de um a metade da população em que
está inserido. Por outro lado todo grupo constituído de menos de 50% da população
dada é considerado como uma minoria.
Em Psicologia minoria e maioria adquirem sentidos mais diversificados. Um
grupo é considerado fundamentalmente como maioria psicológica quando dispõe de
estruturas, de um estatuto e de direitos que lhe permitam autodeterminar-se no
plano do seu destino coletivo, independentemente do número ou da porcentagem
de seus membros. Assim, minorias demográficas podem constituir maiorias
psicológicas. É considerado como maior pelo psicólogo social todo grupo humano
que se percebe na posse de plenos direitos que dele fazem um grupo autônomo.
Por outro lado, um grupo deve ser classificado como uma minoria psicológica desde
que seu destino coletivo dependa da boa vontade de um outro grupo. Este grupo,
mais ou menos conscientemente, percebe-se como menor, isto é, como não
possuindo direitos totais ou um estatuto completo que lhe permitam optar ou
orientar-se nos sentidos mais favoráveis a seu futuro. Desde que se trate da sorte
de seu grupo, os membros que pertencem a uma minoria psicológica se sentem, se
percebem e se conhecem em estado de tutela. E isto independentemente da
porcentagem de seus membros em relação à população total onde vivem. Assim
maiorias demográficas podem ter, por estas razões, uma psicologia de minorias.
Mas não param aqui as distinções da psicologia social. Como numerosos
sociólogos e psicólogos sociais, antes e depois dele, Kurt Lewin utiliza ainda os
termos: minoria discriminada e minoria privilegiada. Vejamos em que sentido. Toda
minoria psicológica, tal qual foi definida acima, é sempre considerada como uma
minoria discriminada ou susceptível de sê-lo pelo fato de sua sorte e seu destino
estarem na dependência do grupo majoritário. Por outro lado, toda maioria
psicológica tende a tornar-se, mais ou menos rapidamente, um grupo privilegiado.
Frequentemente as maiorias psicológicas, com o tempo, estratificam-se. No interior
destes grupos uma minoria de membros pode constituir-se em oligarquia e
atribuir-se ou reservar-se privilégios exclusivos. A minoria privilegiada é portanto
uma minoria demográfica no seio de uma maioria psicológica que ela controla e
manipula a seu favor.
AS MINORIAS JUDIAS
Kurt Lewin publicou quatro estudos sobre a psicologia dos judeus. O primeiro
aparece em 1935 e tem por título: “Psychosociological problem of a minority group”.
O segundo é publicado em 1939 e traz o título: “When facing danger”. O terceiro e o
quarto aparecem sucessivamente em 1940 e 1941. Os títulos que Lewin lhes dá são
os seguintes: “Bringing up the jewish child” e “Self-hatred among jews”.
Estes quatro estudos são de caráter fenotípico ou sintomático. Kurt Lewin
aplica-se neste estágio em nos apresentar uma caracterologia étnica de seu povo e
um psicodiagnóstico. À margem de sua reflexão, ele se permite generalizar e
destacar constantes que retomará mais tarde, ao elaborar sua psicologia das
minorias.
Não nos ocuparemos aqui senão da análise apresentada nos três últimos
estudos mencionados acima, sendo que o primeiro estudo nada mais é que um
esboço das teorias que os três outros retomarão de modo mais explícito e mais
articulado.
MINORIAS E MINORITÁRIOS
Segundo Lewin, o futuro das minorias, assim como sua origem e existência, é
antes de tudo social.
O futuro das minorias não se coloca nos mesmos termos de superação em
que se coloca o futuro de um grupo normal que não sofre nenhuma pressão, nem
encontra nenhum obstáculo no processo de seu desenvolvimento. O futuro das
minorias não pode se definir senão em termos de sobrevivência. A este respeito,
três opções são possíveis, segundo Lewin. Há, Inicialmente, o caso das minorias
que perdem a crença em sua sobrevivência e estão prontas a tudo que possa
apressar ou favorecer sua assimilação à maioria. Quanto às minorias que optam por
sua sobrevivência, duas atitudes são possíveis. Elas têm em comum o seguinte:
ambas concebem sua sobrevivência como uma emancipação do jugo arbitrário da
maioria. Eis o que as distingue: certas minorias querem assegurar sua
sobrevivência através da integração com a maioria, pela igualdade dos direitos e
dos privilégios. Para conseguir seu intento estes grupos minoritários têm tendência
de sublinhar e de destacar, em suas relações intergrupais com a maioria, muito
mais o que os aparenta ou os une à maioria do que aquilo que os distingue ou os
opõe a ela. Enfim, existem minorias que não acreditam poder assegurar sua
sobrevivência, senão separando-se ou emancipando-se totalmente da maioria. Elas
aspiram à independência total e definitiva em relação à maioria. Estão convencidas
de que só assim poderão conservar a integridade de sua cultura, prosseguir na
conquista de sua plena identidade e realização do seu destino coletivo. Lewin
conclui que só estas últimas minorias têm alguma possibilidade de assegurarem sua
sobrevivência. Enganam-se aquelas que acreditam poder integrar-se à maioria e
nela conservar sua identidade étnica. Cedo ou tarde elas serão assimiladas.
Kurt Lewin termina este ensaio teórico sobre a psicologia das minorias,
tentando caracterizar entre os minoritários as diferenças de atitudes coletivas que
implicam estas três opções a respeito do futuro de suas relações inter-raciais com a
maioria que as oprime e as discrimina.
Lewin afirma que.as minorias que renunciam à sua sobrevivência e aquelas
que optam pela integração em um contexto de relações cordiais e um pouco servis
em relação à maioria têm tendência, ambas, a adotarem as mesmas atitudes
coletivas. Ele considera, com efeito, que no plano inter-racial as atitudes coletivas
destas minorias são tipicamente adolescentes. Suas estratégias têm em comum o
seguinte: elas se baseiam na hipótese de que a situação presente de discriminação
desaparecerá quando sua participação na minoria for desconhecida, ignorada ou
anulada. Assim como o adolescente espera ser aceito pelo mundo dos adultos
quando conseguir convencer os adultos de que não é mais uma criança. Também
como os adolescentes, o comportamento social destes dois tipos de minorias
caracteriza-se pela intra-agressão, pela auto-acusação, pelo exagero em suas
ambições, pelas recusas, pelos protestos e pelo mimetismo. Sua identificação com
a maioria é equivalente e nos dois casos apoia-se no temor. Há ambivalência a
respeito de seu próprio grupo tanto quanto a respeito do grupo majoritário.
Quanto às minorias que tentam assegurar sua sobrevivência pela
independência em relação à maioria, suas atitudes coletivas são de um nível mais
adulto. Elas ganharão em maturidade se para a identificação positiva com o grupo
na qual inspiram-se seus comportamentos, vierem acrescentar-se, ao mesmo
tempo, a capacidade de proceder periodicamente a autocríticas e a vontade de
conseguir eventualmente sua independência pela interdependência com os outros
grupos étnicos.