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quadro comum da imitação histérica; consiste na feitura inconsciente de uma inferência, como um

exemplo deixará claro. Suponhamos que um médico esteja tratando de uma paciente sujeita a um
tipo específico de espasmo numa enfermaria hospitalar, em meio a muitos outros pacientes. Ele
não mostrará nenhuma surpresa se constatar, numa manhã, que essa forma específica de ataque
histérico encontrou imitadores. Dirá apenas: “Os outros pacientes viram isso e o copiaram; é um
caso de contágio psíquico.” Isso é verdade; mas o contágio psíquico ocorreu mais ou menos nos
seguintes moldes: em geral, os pacientes sabem mais a respeito uns dos outros do que o médico
sobre qualquer um deles; e uma vez terminada a visita do médico, eles voltam sua atenção para os
companheiros. Imaginemos que essa paciente tenha tido seu ataque num determinado dia; ora, os
outros descobrirão rapidamente que ele foi causado por uma carta recebida de casa, pelo
reflorescimento de um romance infeliz, ou coisa semelhante. Sua solidariedade é despertada e
eles fazem a seguinte inferência, embora ela não consiga penetrar na consciência: “Se uma causa
como esta pode produzir um ataque assim, posso ter o mesmo tipo de ataque, já que tenho as
mesmas razões para isso.” Se essa inferência fosse capaz de penetrar na consciência, é possível
que desse margem a um medo de ter a mesma espécie de ataque. Mas, de fato, a inferência se
processa numa região psíquica diferente e conseqüentemente resulta na concretização real do
temido sintoma. Assim, a identificação não constitui uma simples imitação, mas uma assimilação
baseada numa alegação etiológica semelhante; ela expressa uma semelhança e decorre de um
elemento comum que permanece no inconsciente.
A identificação é empregada com mais freqüência na histeria para expressar um
elemento sexual comum. Uma mulher histérica se identifica mais rapidamente - embora não
exclusivamente - em seus sintomas com as pessoas com quem tenha tido relações sexuais, ou
com as pessoas que tenham tido relações sexuais com as mesmas pessoas que ela. O uso da
língua leva isso em conta, pois fala-se em duas pessoas apaixonadas como sendo “uma só”. Nas
fantasias histéricas, tal como nos sonhos, é suficiente, para fins de identificação, que o sujeito
tenha pensamentos sobre relações sexuais, sem que estas tenham necessariamente ocorrido na
realidade. Assim, a paciente cujo sonho venho discutindo estava simplesmente seguindo as
normas dos processos histéricos de pensamento ao expressar ciúme da amiga (que, aliás, ela
própria sabia ser injustificado), ocupar seu lugar no sonho e identificar-se como ela por meio da
criação de um sintoma - o desejo renunciado. O processo poderia expressar-se verbalmente da
seguinte maneira: minha paciente colocou-se no lugar da amiga, no sonho, porque esta estava
ocupando o lugar de minha paciente junto ao marido e porque ela (minha paciente) queria tomar o
lugar da amiga no alto conceito em que o marido a tinha.
Uma contradição a minha teoria dos sonhos, produzida por outra de minhas pacientes (a
mais sagaz de todas as que relatam seus sonhos), resolveu-se de maneira mais simples, porém
com base no mesmo padrão, a saber, que a não-realização de um desejo significava a realização
de outro. Certo dia, eu lhe estivera explicando que os sonhos são realizações de desejos. No dia
seguinte, ela me trouxe um sonho em que estava viajando com a sogra até o lugar no campo onde

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