Você está na página 1de 2615

A Filha da Empregada

by Naomi Belmont

Índice

1. Seja bem-vinda... Ou não

2. Irmãos Hunter

3. Aquele loiro só pode estar


brincando

4. O Passeio

5. Estranho e bom
6. Que porra foi essa?

7. Não sei como explicar

8. Almoço com os Hunter

9. Escola JK

10. Surpresas

11. Hunter que eu amo x Hunter


que eu odeio

12. Agora deu merda

13. Por que era tudo tão


complicado?
14. Talvez as coisas estejam
melhorando

15. Um ótimo dia

16. Festa do Bruno

17. Autocontrole de uns...

18. O resto de um dia ruim

19. Eu não iria aguentar viver


sem você

20. Ele me ama. Isso que importa.

21. Pistas
22. Unidos pelo ódio

23. Nenhum Hunter é igual ao


outro

24. Jantar, revelações e Joshua

25. Primeira vez

26. Amor, amor, amor

27. O Acampamento

28. Plano cruel

29. A pior coisa que poderia


acontecer
30. Notícia ruim se espalha rápido

31. Tentei não sentir pena

32. Cada irmão com seu problema

33. A verdade, no fim, sempre


aparece

34. A segunda vez é ainda melhor

35. O novo e o inesperado

36. Festa que deu errado

37. Depois

38. Os motivos do Michael - Parte


I

39. Os motivos do Michael - Parte


II

40. Eu não sabia o que pensar

41. Eu senti sua falta

42. Ninguém esperava por essa

43. Anna

44. Notícias

45. Eu os amava

46. E todos nós o amávamos de


volta

47. Eu esperaria

1. Seja bem-vinda... Ou não

– Oi mãe, tudo bem? – Eu


cumprimentei assim que entrei em
casa, jogando as sacolas de
compras no

sofá.

– Oi filha! – Ela sorriu e eu corri


para abraçá-la. – Tenho que te
contar uma coisa.

Saí do abraço devagar e fui para o


sofá onde tinha jogado as sacolas,
sentei e esperei ela começar a falar.

– Diga ai.

Ela ficou em pé a minha frente, com


um sorriso quase maior que a cara
dela. Não pude deixar de

sorrir também, mesmo sem saber do


que se tratava.

– Então... Eu consegui um emprego!

Me levantei no mesmo segundo e


dei vários pulinhos de felicidade.
Eu sabia o quanto ela estava
procurando por isso, desde que os
Barbosas tinham demitido ela.

– E não é só isso; – ela continuou,


sorrindo ainda mais – eu conversei
com a mãe da família e ela me
garantiu que tem quartos o
suficiente para mim e para você
dormirmos lá e que fazia questão de
que

você estudasse na mesma escola


que dois dos filhos dela.

Eu quase caí de felicidade. Eu não


aguentava mais aquela escola
publica onde eu estudei ano
passado. E o melhor: Nós iríamos
sair daquele ovinho que chamamos
de casa. Comecei a pular ainda

mais e ela me acompanhou, rindo


de alegria.

– Quando você vai começar? – Eu


já estava ansiosa.

– Estamos no dia 5 de janeiro


ainda, então eu combinei com a
Dona Nicole que daqui a uma
semana

no máximo já estaria lá com você e


ai a gente faz a sua matricula no
colégio.

Sorri com o coração batendo forte.


Uma semana para minha vida
mudar.

[...]

O táxi parou em frente à mansão


dos Hunter. Senti meu corpo tremer
de excitação enquanto eu e

minha mãe saíamos do carro com


nossas malas.

Respirei fundo e olhei para mansão;


dois andares enormes, uma quadra
de futebol ao lado, um jardim
tão longo que eu me senti até um
pouco perdida pela dimensão de
todo aquele lugar, que dava para

ser enxergado quase todo por causa


do muro baixo – a mansão estava
dentro de um condomínio

fechado que continha apenas cinco


casas, todas pertenciam à família
Hunter.

Minha mãe, com os olhos tão


arregalados quanto os meus, tocou a
campainha.

– Quem é? – Perguntou a voz doce


de uma mulher pelo interfone.

– Sou eu, Melissa.

– Um segundo.

A porta eletrônica se abriu e eu vi


uma mulher elegante, com a pele
muito branca e os cabelos negros e
lisos que iam até o ombro, mais ou
menos no meio do grande jardim.
Ela abriu um sorriso perfeito

ao nos ver.

– Olá Melissa! – A mulher disse e


agora que tinha se aproximado de
nós eu pude notar algumas
ruguinhas quase invisíveis no canto
de seus olhos verdes-mar. – Eu sou
Nicole, muito prazer.

Ela abraçou minha mãe e depois


veio a até mim, parando um
pouquinho para olhar no fundo dos
meus

olhos.

– Você deve ser a Susan; me lembra


da filha mulher que eu sempre quis
ter – falou enquanto me

abraçava, ainda sorrindo. Tentei


não me sentir constrangida com
tanto contato.

– MÃE, PARE DE ME
ENVERGONHAR!

Levantei os olhos e vi que do outro


lado do jardim, na varanda que
dava entrada a casa, estava um

garoto mais velho que possuía um


par de olhos azuis tão intensos que
dava para ser visto dessa

distância.

– Ah filho, venha cá conhecer elas!


– Dona Nicole gritou de volta para
o garoto, que simplesmente
balançou a cabeça em negativa e se
virou de volta a porta da casa.

– Aliás, eu estou com fome – ele


disse mais alto do que o necessário
e desapareceu de vista.

– Me desculpem pelo
comportamento do Joshua...

– Não tem problema; deixe-me só


colocar as malas no quarto que eu
faço uma comida para ele –

minha mãe respondeu com aquele


tom de simpatia que fazia qualquer
um gostar dela.
Passei pelo longo jardim enquanto
minha mãe conversava com a
senhora Nicole. Na porta da casa, a

dona Nicole parou e eu e minha


mãe paramos em seguida, por
educação.

– Como já havia dito para você


Melissa, existem muitos quartos
sobrando nessa casa, mas... – ela

desviou o olhar, envergonhada. –


Meus filhos Michael e Joshua
insistiram que vocês ficassem uma
no
sótão e a outra no porão... Claro
que eu posso conversar mais com
eles, é claro, se isso for ofensivo
ou algo assim... – se apressou em
completar.

– Tudo bem – falei antes de minha


mãe responder. Era até melhor que
eu não queria ter que passar

pelo quarto daquele tal de Joshua


antes de ir dormir.

A mulher sorriu aliviada.

– E não precisam se preocupar, eu


faço questão de arrumar os quartos
de vocês para que fiquem os

melhores possíveis – prometeu


rapidamente.

Ela passou pela porta e fez sinal


para entrarmos.

Senti meus olhos se arregalando ao


perceber o tamanho da sala –
praticamente o mesmo de toda a

minha antiga casa e um milhão de


vezes mais bonito. Tentei não
demonstrar minha surpresa e

continuei andando, olhando todos


os detalhes.
– Bem, eu já arrumei um pouco os
quartos que vocês irão usar e...

– Então essa é a nova empregada e


a filha dela?

Olhei ao redor e vi um menino se


levantando do sofá e vindo a nossa
direção; seu cabelo era tão

preto quanto a noite, contrastando


com olhos verde-mar, exatamente
iguais ao da Dona Nicole. Ele

deveria ter minha idade, no


máximo.

– Prazer, meu nome é Melissa –


minha mãe estendeu a mão para ele
e ofereceu um sorriso. Ele

ignorou ambas as coisas e eu


comecei a fuzilá-lo com o olhar por
ter feito isso.

– Eu sou Michael – disse olhando


fixamente para mim. Como eu não
respondi, ele simplesmente

voltou para o sofá em frente à


televisão gigante.

Troquei olhares com a minha mãe e


ela me lançou um “deixe isso pra
lá” sem palavras. Suspirei,
ainda incomodada.

– Vamos, creio que você – a dona


da casa olhou para mim, ignorando
completamente a cena anterior

– vá preferir ficar no sótão, lá tem


uma vista incrível para as estrelas.

– Se minha mãe concordar...

Ela balançou a cabeça em


aprovação e Dona Nicole deu um
sorriso.

– Ótimo! Venha comigo Susan, eu


vou te mostrar onde é. Enquanto
isso, Mel, gostaria que você
esperasse aqui, quando eu voltar te
mostro a casa e o seu quarto –
mamãe concordou com a cabeça e

a Dona Nicole me puxou pela mão,


animada em um nível que eu
conseguiria entender, mas que

gostava de sentir.

Ela passou por uma cozinha tão


grande quanto a sala e apertou o
botão do elevador ao lado de um

corredor.

– O sótão fica no terceiro andar e o


elevador dá direto para a porta do
seu quarto – ela informou

enquanto entrava e apertava no


botão.

– Certo.

– Você não de falar muito, é?

– É que eu não costumo falar tanto


quando ainda não conheço alguém...
– Olhei para o chão, meio

envergonhada.

– Ah, mas não precisa ser assim


comigo, pode me considerar uma
segunda mãe, ok? – Ela me
estendeu a mão.

– Ok.

Segurei a mão dela e sorri.

– Oi!

Me virei assustada e vi que a porta


do elevador tinha se aberto e um
menino alto com os olhos muito

azuis sorria para mim, como se


tivesse aguardando para me ver em
frente à porta do sótão todo esse

tempo
– Oi... – disse tímida enquanto ele
me abraçava e sorria, mostrando
duas covinhas fofas.

– Muito prazer em te conhecer!


Meu nome é Nicolas, eu sou o
irmão do meio – apresentou- se ele,
se

afastando de mim e olhando para a


mãe, que ria baixinho.

– Meu nome é Susan – respondi e


ele balançou a cabeça, depois se
virou e abriu a porta do sótão.

Minha boca se abriu quando eu vi o


que tinha dentro. Era duas vezes
maior que o quarto que eu

dividia com a minha mãe; de um


lado tinha uma estante de livros e
um guarda roupa, do outro lado a

cama – que ficava em frente à TV –,


mas minha parte preferida era sem
dúvida a janela enorme e a

pequena varanda que dava para ver


as estrelas.

– Eu sei que ainda não está muito


organizado, mas... – ouvi a Dona
Nicole dizer enquanto
entravamos.

Eu ri. Aquilo era mais organizado


que a minha vida toda.

– É lindo, obrigada Dona Nicole.

Ela e o Nicolas sorriram e me


deixaram a sós com... O meu
quarto. Meu Deus, aquilo só podia
ser

um sonho.

Abri meu guarda-roupa e comecei a


tirar as coisas da minha mala,
arrumando lá dentro.
CRIC

Girei meu corpo rapidamente e vi o


garoto chamado Joshua trancando a
porta e olhando para mim,

com aqueles olhos azuis repletos de


malicia. Agora que estava perto eu
conseguia ver melhor os

cabelos loiros dele.

– Oi, acho que não formos


devidamente apresentados; meu
nome é Joshua – ele sorriu e uma
covinha

apareceu no lado esquerdo da sua


bochecha, bem de leve.

– Meu nome é Susan... Hã, por que


você trancou a porta? – Eu olhei
para ele, que apenas andou na

minha direção, ainda sorrindo.

– Eu te achei muito bonita Susan –


sussurrou quando estava a dois
passos de mim.

– Obrigada... – Eu não sabia o que


dizer.

– É, você vai ser obrigada a fazer


muitas coisas.
E então as coisas aconteceram.

O Joshua me empurrou contra o


guarda-roupa com força e levantou
meu queixo com os dedos, para

que eu olhasse para ele.

– Agora eu não vou fazer nada com


você, tenho compromissos, mas... –
ele sorriu de um jeito ainda

mais pervertido e me soltou, saindo


de perto de mim. Só quando já
estava na porta, se virou

novamente. – Está avisada, agora


vá arrumar essas suas tralhas, eu
volto depois.

Ele destrancou a porta e saiu,


batendo ela com força depois.

O que foi isso?

2. Irmãos Hunter

Eu balancei a cabeça, sem entender


o que tinha acontecido... O que o
Joshua queria comigo? Fala

sério, ele é lindo o suficiente –


talvez até mais do que o suficiente
– para conseguir qualquer menina
do mundo e vem logo pra mim?
Pelo amor de Deus, espero que ele
caia na real.

Voltei a arrumar as roupas no


guarda-roupa, então meu estomago
começou a roncar. Faz sentindo, eu

não como desde que cheguei nesse


lugar. Deixei algumas roupas ainda
para guardar e sai do quarto.

Apertei o botão do elevador –


porra, eles TEM um elevador – e
pensei um pouquinho sobre as

pessoas que eu tinha conhecido até


agora, de longe a Dona Nicole era a
mais legal... O Nicolas
também, mas algo me diz que ele é
legal demais. Um desperdício.

Desci direto para o térreo e virei à


esquerda, direto para a cozinha. Um
homem alto e loiro, usando

terno risca giz cinza, estava fritando


alguma coisa no fogão, tentei não
fazer barulho enquanto entrava e
abria devagar a geladeira, mas
como a vida é difícil todas as
garrafas de vidros tremeram e
fizeram um barulho muito alto.

Eu me virei na mesma hora pro


homem que também tinha se virado,
ele possuía os olhos e o cabelo

do Joshua, só que uns 20 anos mais


velho, o que só deixava-o mais
charmoso.

- Ah, você deve ser a filha da


empregada. – Ele falou com um tom
de tédio que me deixou um pouco

sem graça.

- Sou... Meu nome é Susan. – Eu


sorri gentil, mas o homem deu de
ombros, quase como um foda-se

sem palavras.
- Meu nome é Fernando. – Ele disse
já se virando de volta para o fogão.

Peguei qualquer uma barra de


chocolate na geladeira e sai
rapidamente.

Como eu ia dizendo: Apenas


Nicole e Nicolas prestam.

Voltei para o elevador e fui para o


2, apenas para conhecer a casa.
Assim que a porta se abriu eu vi o
Michael se olhando no espelho, me
virei para dá meia volta, mas ele se
virou mais rápido.
- Entre. – Ele disse olhando
intensamente para mim com aqueles
olhos irritantemente verdes.

Eu fiz o que ele disse e eu apertei o


botão, olhando pra ele.

- Oi... – Eu disse observando o seu


cabelo desarrumado, lindo e preto.

Ele só balançou a cabeça e eu abri


a barra de chocolate e comecei a
comer, notei ele olhando para

mim e eu devo ter ficado corada.


Por sorte, a porta se abriu no 2º
andar antes de eu enfiar minha
cabeça num buraco.

Ele também saiu do elevador que


dava para um corredor longo e
cheio de portas de diferentes cores.

Eu vi uma que me chamou atenção


no fim do corredor e me virei para
ir até lá.

- Acho que eu vou querer essa


barra. – Eu me assustei quando ouvi
a voz sensual dele no meio

ouvido, ele estava tão perto de mim


que eu conseguia sentir sua
respiração.
- Tem um monte lá na cozinha...

- Não empregadinha, eu quero essa


ai. – Ele falou de um jeito tão doce
que eu quase não notei ele me
chamando de empregadinha. Quase.

- Empregadinha uma porra, seu


merda. – Eu falei pra ele enquanto
me afastava, mas ele correu e

segurou meu braço, me virando


para ele.

- Que boca suja você tem... – Ele


disse colando o corpo dele com o
meu, não me mexi, o perfume
dele era tão bom que eu quase
fiquei tonta. – Sabia que você é
bem bonita?

Eu balancei a cabeça em negativa e


fechei os olhos, a voz dele estava
me matando. Ele passou uma

mão pela minha cintura e a outra


desceu pelo meu braço até chegar
na mão onde estava a barra de

chocolate, ele passou ela entre os


dedos para ficar de mãos dadas
comigo.

- De verdade. Você é tão... – Ele


falou baixinho no meu ouvido,
fazendo eu me arrepiar, eu abri os

olhos e vi q ele olhava para mim.


Então ele tirou a mão que estava na
minha cintura e usou para

levantar minha cabeça, pra eu olhar


para ele direito e sorriu sexy, eu
fechei os olhos de novo e abri um
pouco a boca para receber o beijo.

- ...Retardada! – Ele me empurrou,


com a barra de chocolate na mão
dele, rindo alto.

Eu senti meu corpo ferver de raiva,


aquele cretino estava brincando
comigo! Meus olhos se encheram

de lagrimas de ódio.

- Ah bebê, não precisa chorar, é só


uma lição rápida: Se eu pedir uma
coisa, diga sim. – Eu fechei o
punho, o que só fez ele ri ainda
mais e se virar para o elevador,
mandado um beijo cínico para mim.

Eu entrei correndo na primeira


porta que eu vi. Que vontade de
chorar! Ele tinha me feito de idiota!
E
olha que ainda era o meu primeiro
dia nessa casa...

- Ei, já entra assim? – Eu estava tão


ocupada pensando que nem notei o
quarto que tinha entrado, o

Nicolas estava só de bermuda e


muito corado e ofegante.

- Desculpa, é que o Michael...

- Nem precisa completar, entra,


deixa eu só arrumar uma coisa. –
Ele entrou em uma porta e começou

a sussurrar o mais baixo que podia,


fiz força para não ouvir, não queria
levar outro fora.

Enquanto ele arrumava uma coisa


eu olhei o quarto, três vezes maior
que o sótão, cheio que pôsteres

de bandas de pop e algumas


cantoras tipo a Demi Lovato e a
Shakira. Sorri ao ver a cama dele
toda

bagunçada e as janelas fechadas e


com cortinas, é claro que ele estava
fazendo alguma coisa com

alguém ali.

- Bem, pode me dizer agora o que o


Michael fez. – Ele voltou do que eu
achava que era um closet,

tão corado quanto como quando ele


tinha entrado.

- Claro, mas... – Eu não queria


parecer intrometida, mas eu era tão
curiosa! Olhei na direção da porta
que ele tinha entrado e fiz cara de
interrogação.

Ele respirou fundo.

- O que você acha de Larry? – Ele


perguntou, olhando sério para mim.

- Larry?
- Sim, o Harry e o Louis de One
Direction juntos, o que você acha
sobre isso?

Eu pensei um pouquinho, sabia


poucas coisas sobre isso, mas não
via problema nenhum neles dois

estarem juntos e foi exatamente isso


que eu disse para ele.

- Jura? Você não vê problema


nenhum em dois homens juntos?

- Não.

- Deus não iria condenar eles?


- Deus não pode condenar ninguém
por amar...

Ele sorriu na mesma hora e correu


para me abraçar, pulando. Eu pulei
junto, animada com a

animação dele.

- Ei, por que tudo isso? – Eu


perguntei rindo enquanto ele batia
palmas.

- Vem, eu te mostro. – Ele pegou na


minha mão e eu vi seus olhos azuis
brilhando enquanto ele abria

a porta do que agora eu sabia ser


um banheiro.

Do outro lado do banheiro, meio


escondido, estava um garoto um
pouco mais baixo que ele, mas

mesmo assim mais alto que eu, com


o cabelo castanho e olhos da
mesma cor, tão lindo quanto o

Nicolas.

O garoto saiu do seu esconderijo e


sorriu tímido para mim.

- Oi, eu sou o Felipe... Eu e o


Nicolas... Nós... – Ele falou sem
graça, olhando fixamente para o
Nicolas enquanto falava.

- São namorados? – Eu adivinhei,


sorrindo para mostrar que não via
nenhum problema nisso.

- Sim, ele é lindo não é? Não


precisa responder já que você não
faz o tipo dele. – O Nicolas

respondeu rindo e eu ri também do


jeito como ele falou.

- Assim você me deixa ainda mais


sem graça, Nick. – O Felipe disse
tímido, se aproximando da

gente.
- E dai? Você fica lindo corado... –
Eles começaram a se olhar e eu me
senti automaticamente fora da
conversa.

- Eu tenho que ir. – Eu disse me


virando e saindo do banheiro.

- Ei Susan! – O Nicolas gritou


assim que eu me virei e eu parei,
esperando ele continuar. – Guarde

esse segredo, ok? Meu pai e meus


irmãos não são assim tão liberais. –
A voz doce dele saiu triste e

eu assenti e sai do quarto.


Uau, que irmãos complicados e
diferentes! Eu continuei andando
pelo corredor que virava para a

direita e olhei para os quadros na


parede. Tinha 5 fotografias em
sequencia.

Na primeira estava a Dona Nicole e


o Senhor Fernando, ele com a mão
na cintura dela de um jeito

meio possessivo, com a cara muito


séria, seu cabelo parecia ainda
mais loiro naquela luz forte e seus
olhos ainda mais azuis, enquanto a
Dona Nicole estampava um sorriso,
os olhos verdes-mar

brilhavam e o cabelo negro caia em


cascata até a sua cintura.

A segunda foto era um pouco maior,


com o Joshua em frente a algum
palácio europeu. O cabelo loiro

despenteado o deixava ainda mais


sexy e os olhos azuis pareciam
estar olhando diretamente para

mim, com um sorriso perfeito e


encantador. Quem será que ele
estava tentando seduzir?

Balancei a cabeça e me virei para o


terceiro retratado. O Nicolas sorria
animado, em frente a uma

praia, as covinhas dançando na sua


bochecha. Sorri também, ele era de
longe o meu preferido dos

homens Hunter.

Então eu cheguei na quarta


fotografia e o Michael sorria torto e
de um jeito fofo para a câmera, o

cabelo negro desarrumado e os


olhos verdes-mar o deixavam ainda
mais adorável. Pena que ele era

um filha da puta.
E na quinta foto estavam todos
juntos e, meu Deus, sabe aquelas
famílias que você pegaria a mãe, o

pai, o filho e o espirito santo? Os


Hunter eram assim.

...

- Filha, vem jantar! – Eu ouvi minha


mãe gritando, eu estava deitada na
minha cama lendo um dos

livros que a Dona Nicole colocou


na minha estante. Marquei a pagina
que eu estava com um pedaço

de papel e desci pela escada


mesmo, que ficava ao lado do
elevador.

Eu cheguei ao mesmo tempo que o


Michael e o Joshua saiam do
elevador, ambos sorriram cínicos

para mim e eu revirei os olhos,


passando direto por eles e indo
ajudar minha mãe a arrumar os
pratos na enorme e luxuosa mesa.

- Obrigada Susan – Ela murmurou


quando acabamos e foi pegar a
comida na cozinha, que ficava ao

lado da sala de jantar.


Na mesa o Senhor Fernando estava
sentado em uma das pontas, com a
Dona Nicole do lado direito

dele, do lado dela estava o Nicolas


e eu fiz questão de sentar ao lado
dele, enquanto o Joshua se

sentava na minha frente, olhando


fixo para mim.

- Bem, espero que vocês gostem,


suflê de frango é a minha
especialidade... – Minha mãe disse

enquanto servia a mesa e voltava


para cozinha.
- Não vai jantar com a gente mãe?-
Eu perguntei um pouco na
defensiva.

- Não, eu tenho muitas coisas para


fazer ainda. Podem comer. – Ela
disse e se virou para voltar à

cozinha.

Eu observei enquanto o Michael se


sentava para comer, ao lado do
Joshua – que, aliás, ainda não

tinha parado de olhar para mim, o


que já estava me deixando nervosa.

- Então Susan, gostou do seu novo


lar? – Olhei para a Dona Nicole
que me lançou um sorriso e

depois para o Michael e o Joshua,


que me olhavam com cara de se
você contar alguma coisa para ela

eu te mato e respirei fundo.

- É adorável. – Eu respondi tímida


e o Nicolas me lançou um olhar de
aprovação.

- Mãe, quando vamos comprar o


material do colégio? – O Michael
perguntou.

- Amanhã de tarde, ok? A Susan vai


com a gente. – Ela respondeu entre
um garfada e outra.

- Tanto faz. – Ele falou indiferente e


eu notei o Joshua dando um
empurrãozinho no ombro dele e

dizendo alguma coisa baixinho no


ouvido dele.

- Ei garotos, sem conversa na mesa.


– O Senhor Fernando falou e a
mesa ficou em silencio pelo resto

do jantar.

...
Eu acordei sonolenta, ontem foi um
dia bem longo – mais do que eu
gostaria – e eu ainda estava com

um pouco de preguiça, mas ai eu


lembrei que eu não tinha tomado
banho antes de dormir e fui logo ao

banheiro.

Tirei a roupa rapidamente e


coloquei no cesto fora do banheiro,
entrando já nua para dentro dele.
Dei uma olhadinha no espelho
enquanto trancava a porta e sorri
com o reflexo, eu era bonitinha,
minha
pele morena e meu cabelo muito
escuro e ondulado ia até mais ou
menos a minha cintura, eu não era

nem muito gorda, nem muito magra.


Afastei meus pensamentos
narcisistas e entrei no boxe, ligando
o

chuveiro.

Então eu ouvi um barulho de porta


se abrindo e fechando e desliguei o
chuveiro, antes mesmo de

molhar o cabelo.

- SOPHIA, SUA MÃE ESTÁ


PASSANDO MAL! – Eu ouvi a voz
do Joshua gritar e uma porta sendo

trancada.

Mesmo assim eu corri até a porta


do banheiro e procurei pela minha
toalha... Que não estava no

lugar, como eu iria sair dali?

- Joshua... – Eu falei baixinho, mas


ouvi ele se aproximando. – É que...
Bem, eu esqueci a toalha,

você poderia... Hã... Me entregar


para eu poder sair?
Ele não falou durantes alguns
segundos, antes de explodir em uma
gargalhada.

- Ai meu Deus, isso só pode ser um


sonho. Sua mãe não está passando
mal, é que eu iria esperar você

sair para tirar você da toalha e


fazer... Bem, o que você acha que
eu faria se visse você nua?

Eu respirei fundo.

- Joshua, por favor...

Ele riu.
- Por favor, o que você quer em
troca que me dê essa maldita toalha
e saia do meu quarto?

- Quero que você passe uma noite


comigo.

Eu revirei os olhos.

- Claro que não.

- Okay, então eu vou ficar aqui


lendo um pouquinho, alias, são 5
horas da manhã e só vão sentir sua

falta lá pras 12 quando você tiver


que sair com a mamãe e o Michael,
então... Bem, você vai ter
muito tempo parar pensar na minha
proposta.

Eu respirei fundo. Me fodi.

3. Aquele loiro só pode estar


brincando

Eu comecei a sentir frio, o vento


que vinha da janela do alto do
banheiro parecia vim direto para

minhas partes intimas e o pior, nem


a toalha de enxugar as mãos estava
lá – minha mãe tirou ontem à

noite para lavar.


Respirei fundo e cheguei mais perto
da porta, encostando minha testa
nela.

- Joshua... – Eu falei baixinho, eu já


estava toda arrepiada de frio e
aquela situação já estava ficando
humilhante.

- Por que não desiste? – Ele


perguntou e eu senti o perfume dele
se aproximando da porta, antes de

ele começar a ri.

Então uma gota de lágrima caiu do


meu olho direito, mas eu limpei ela
rápido. Eu NÃO iria chorar.

Não assim, não nua presa em um


banheiro.

- Vamos Susan, é só uma noite! –


Ele insistiu e depois começou a ri
de novo.

E ai eu comecei a chorar de
verdade. As lagrimas começaram a
cai sem parar e quanto mais eu

tentava limpar mais saia. Droga!


Odeio quando isso acontece.

- Susan? – Ele perguntou,


provavelmente estranhando o
silencio, mas se eu abrisse a boca
minha voz

sairia entrecortada pelas lagrimas.

Um soluço fez eu bater minha testa


na porta, eu ainda estava chorando,
agora mais.

- Susan, você está chorando? – Eu


ouvi ele perguntar baixinho, tão
próximo da porta que eu poderia

sentir o ar saindo de sua boca.

- C-Claro que n-não... – Eu


gaguejei por causa do choro,
entregando a mentira.
- Susan, não... Não precisa chorar...
– A voz dele saiu com um quê de
preocupação e eu me senti

ainda pior por parecer tão fraca.

Eu me afastei da porta e tentei


limpar minhas lagrimas, que
estavam melhorando, mas os
soluços

ficavam cada vez mais altos.

- Susan, eu... Ah, não chore, por


favor, eu estava... – Eu cheguei
mais perto da porta, e ouvi ele

respirar fundo e dando murrinhos


na porta, como se não soubesse o
que fazer.

Queria parar de chorar e gritar com


ele, mas a porra dos soluços
insistiam em continuar, fazendo meu
corpo todo tremer.

- ...Eu estava brincado Susan... E-


Eu vou embora e... Vou colocar sua
toalha em cima da cama, ok?

Eu olhei assustada para a porta, ele


só podia está brincando.

- P-Por que e-eu acreditaria em v-


ocê? – Eu perguntei gaguejando um
pouco por causa do choro, que

estava passando.

- Porque eu não sou disso, mas eu


também não posso ficar aqui
ouvindo você chorando nua ai

dentro... – Ele suspirou e se


distanciou da porta, ouvi seus
passos e depois o barulho de porta
se

destrancando, se abrindo e depois


se fechando.

Ele foi embora.


Ele foi embora porque me ouviu
chorar.

Eu passei a mão pelo meu cabelo,


sem entender muito bem. Me olhei
no espelho um pouquinho e vi

meus olhos inchados e vermelhos,


assim como o meu nariz.

Respirei fundo antes de abrir a


porta, esperando ver ele lá, rindo
de mim.

Mas quando eu abri ele não estava


lá, eu vi apenas a minha toalha azul
em cima da cama e olhei em
volta. Nada.

Sorri com o canto da boca, como


alguém podia ser assim?

...

Desci as escadas correndo, não


gostava muito de usar o elevador –
me lembrava o Michael –, e fui

direto para a cozinha. O Nicolas


estava lá também, com um pijama
fofo e um sorriso maior que a

cara dele enquanto pegava alguma


coisa na geladeira, dava para ver
suas covinhas de longe e ele não
notou minha presença.

- Realmente o Felipe poderia ser


um pouco menos saudável... – Ele
murmurou consigo mesmo

enquanto pegava uma maçã bem


vermelha. – Mas, eu entendo que
aquele corpinho só pode ser

daquele jeito devido a todas essas


precauções...

Eu sorri e me aproximei dele.

- Você não deveria ficar falando


sozinho coisas assim, vai que... –
Eu disse baixinho e ele deu um
pulo e me olhou com os olhos
arregalados.

- Ah, é você! – Ele disse aliviado.


– Você tá certa, eu sei, mas é que é
meio difícil controlar essas coisas.

- Eu entendo, Nick... Posso te


chamar de Nick? – Eu perguntei e
ele fez que sim com a cabeça,
depois fechou a geladeira e veio
pra perto de mim.

- Obrigado. – Ele me abraçou e eu


fiquei tão surpresa que não
consegui me mexer. Antes que eu
pudesse dizer alguma coisa ele foi
embora, me deixando ainda mais
confusa sobre o comportamento

desses irmãos.

Comi alguma coisa rápido e olhei o


relógio, eram 7:00. Meu Deus, eu
tinha passado duas horas

naquele negocio com o Joshua,


ainda não conseguia acreditar que
ele tinha desistido. Vai ver ele não
era assim tão ruim. Ou, tinha algum
outro truque na manga...

...
Fiquei assistindo TV até dá umas
11h e subi para trocar de roupa e
colocar uma para sair com o

Michael e a Dona Nicole, não seria


um passeio muito divertido.

Assim que eu desci a Dona Nicole


saiu do elevador, sorrindo para
mim ao me ver.

- Vamos? – Ela perguntou animada


e eu concordei com a cabeça.

O Michael passou pelo meu lado e


andou até a porta, saindo da casa
antes de qualquer pessoa, ele
não parecia muito animado. Ótimo.

Andei ao lado da Dona Nicole até


chegar a um grande carro preto com
um fumê muito forte. A Dona

Nicole entrou no bando do


passageiro e eu olhei para o
Michael antes de entrar atrás com
ele.

- Oi. – Eu disse seca.

- Pelo amor de Deus, você não


consegue ficar quieta? – Ele disse
irritado e eu olhei surpresa pra ele.

- Qual o seu problema? – Eu


perguntei me virando pra encara-lo

- Você. – Ele disse revirando os


olhos e se virando para a janela

Ah, quanta maturidade. Olhei para a


Dona Nicole que parecia nem ter
notado a discussão e falava

com o motorista para onde ele


deveria ir.

- Primeiro compramos o material,


que deve ser a parte mais longa,
depois eu e o Michael vamos ao

shopping comprar as outras coisas


que ele quer e enquanto isso, Susan,
vamos deixar você no

Colegio JK, para falar com o


diretor sobre a sua matricula. – Eu
abri a boca para falar que eu não

sabia o que dizer, mas ela levantou


a mão. – O Joshua vai com você,
vamos encontrar ele perto de

onde compramos o material e vocês


vão juntos falar com o diretor. Pode
ser?

Ninguém merece essa sessão de


tortura: Passar o dia todo com o
Michael e depois ir para algum
lugar sozinha com o Joshua, como
se ele fosse alguém minimamente
confiável. Suspirei.

- Pode. – Eu disse antes de respirar


fundo e olhar para a janela.

4. O Passeio

Olhei pro lado e notei o quanto o


Michael parecia fofo e meigo
quando estava quieto e mexendo no

celular. Se eu não conhecesse ele


minimamente acharia ele o garoto
mais perfeito do mundo. Pena

que eu conheço, pelo menos o


bastante que se pode conhecer de
alguém em dois dias.

Ele deve ter sentido meu olhar, pois


desviou os olhos do celular e olhou
para mim. Só olhou, sem

sorrisos sarcásticos, sem nenhuma


palavra arrogante ou idiota. Depois
de um tempo parecia que eu

tinha entrado em um jogo de quem


piscar perde e não conseguia
simplesmente desviar daqueles
olhos

verdes-mar.
Depois de alguns minutos ele bufou
e desviou os olhos, se virando para
a janela. Eu balancei a

cabeça e me virei para a outra


janela. Vi que estávamos em um
estacionamento.

- Chegamos. – O motorista disse


assim que terminou de estacionar o
carro.

A Dona Nicole agradeceu e saiu do


carro, eu e o Michael a seguimos.

Ela entrou numa loja enorme. Tipo,


enorme mesmo, com prateleiras
sem fim, todas organizadas e

brilhantes, cheias de diferentes


tipos de material escolar. Eu tinha
até um pouco de medo de quanto

seria um lápis naquele lugar – eu


iria ter que virar escrava sexual do
dono daquilo para ter alguma

daquelas coisas. Esse ultimo


pensamento me lembrou o Joshua.
Estranho.

- Vamos, a parte que mais vai


demorar é ali. – Ela apontou pro
outro lado da loja, quase não dava
para enxergar de onde estávamos,
mas eu continuei seguindo ela, o
Michael acompanhava a alguns

passos atrás da gente.

Enquanto andávamos vários


vendedores perguntaram se a gente
queria alguma coisa, eu e a Dona

Nicole dissemos que não e


agradeceu a todos ele. O Michael
os ignorava tão completamente, que

eles ficavam com vergonha de ir até


ele e dizer alguma coisa.

Chegamos no lugar, que parecia


maior que que a entrada e tinha
ainda mais material e também era o

mais cheio. Notei com um pouco de


vergonha que eu era a única menina
usando short jeans ali, todas

as outras estavam de saia e alguma


regatinha fofa e eu me senti
automaticamente fora do grupo.

- Vá dá uma olhadinha por aqui


Susan, fique a vontade e coloque
tudo numa cestinha. – A Dona

Nicole disse pra mim. – Não se


incomode com o preço. – Ela
sussurrou essa ultima parte e eu
sorri

para ela, um pouquinho sem graça.

Peguei a cestinha mais próxima


andei pelos corredores luxuosos, o
que era estranho já que eu estava

em uma papelaria. Esses ricos...


Vai entender.

Andava pelo primeiro corredor que


tinha visto, olhando fixamente para
baixo, procurando alguma

coisa que não fosse estupidamente


caro.
Então eu bati em alguém.

- Ai! – Eu olhei para cima e vi um


garoto ruivo e alguns centímetros
mais altos que eu, ele fez uma

careta leve de dor, mas logo depois


abriu um sorriso. – Deveria olhar
para cima enquanto anda. – Eu

me afastei dele, que tinha uma voz


doce e gentil.

- Ah, desculpe... – Se eu não


estivesse em um lugar onde um
caderno é mais caro que um celular
eu
até teria falado sem parecer tão
insegura, mas pelo amor de Deus,
eu não estava no meu habitat.

- Não tem problema, qual seu


nome? – Ele disse sorrindo pra
mim, de um jeito amigável, não de

flerte.

- Susan e você?

- Eduardo, mas todo mundo me


chama de Edu. – Ele estendeu a
mão e eu apertei.

- Tem alguma coisa que seja


minimamente barata? – Eu disse
baixinho e ele riu.

- Claro que não, onde você pensa


que está? – Ele sorriu e eu fiquei
aliviada pelo tom de voz dele ser
tão amistoso, tão não Hunter.

- É, né? – Eu ri com ele e


começamos a andar pelos outros
corredores, fui pegando uma coisa
ou

outra nas prateleiras.

- OLHA SÓ QUEM ESTÁ AQUI, O


ED CABELO DE FOGO! – Eu
fechei os olhos, aquele tom
irônico e irritante, nem precisava
me virar para ver que era o
Michael.

Mas mesmo assim me virei, e o


Eduardo também.

- Para a sua informação, é EDU não


Ed. – Ele cuspiu essas palavras
para o Michael, os olhos

castanhos ferviam de raiva.

- Vocês se conhecem? – Eu
perguntei, tentando impedir que
eles brigassem.

- Infelizmente, o Michael estuda na


minha sala desde o nono ano. – O
Edu falou, sem tirar os olhos do
Michael, que estava se
aproximando da gente.

- Susan não quero você sujando a


imagem dos Hunter andando com
esse ruivo. – O Michael olhou

para mim e falou com do mesmo


jeito que um pai autoritário falaria.

Eu revirei os olhos.

- Foda-se o que você quer. – Eu


murmurei, alto o bastante para ele
ouvi e me olhar com raiva.
- Gostei de você! – O Edu disse se
virando para mim e sorrindo.

- Ok, você está certa. Ralé anda


com ralé. – Ele disse se virando e
indo falar com um grupo de

meninas de saia que observava tudo


aos cochichos, todas elas pareciam
ser afim dele.

Eu andei pro lado contrario e o Edu


me seguiu, o cabelo ruivo
desarrumado parecia um pouco com
o

do Joshua.
- Por que vocês se odeiam? – Eu
perguntei para ele, enquanto
andávamos para a parte das
canetas.

- Tirando o fato de ele ser um idiota


metido?

- É, tirando isso.

Ele riu.

- No nono ano, quando nos


conhecemos, ele colocou a turma
inteira para me odiar, simplesmente

porque a garota que ele queria


pegar gostava de mim... – Ele
abaixou os olhos. – Inclusive ela

começou a me odiar.

- Sinto muito, ele é tão ridículo...

- Eu sei, só ano passado eu


consegui tirar a ideia horrível que
ela tinha de mim e somos amigos,
mas ele basicamente estragou
qualquer tipo de relacionamento
que eu poderia ter com a Monica. –
Ele

abaixou um pouquinho a voz e eu


senti o quanto ele gostava dela.
Maldito Michael.
- Se quiser eu posso trocar a pasta
de dente dele por condicionador. –
Eu tentei aliviar o clima, mas em
vez de ri ele parou de andar e olhou
para a minha cara.

- Como assim?

- Como assim o que?

- Você mora com aquele filho da


puta? – Ele disse me olhando com
um pouco de nojo.

- Minha mãe é... Empregada dos


Hunter. – Eu disse e ele corou na
mesma hora.
- Eu não sabia, foi mal. – Ele disse
sem graça.

- Não tudo bem, não tinha como


você saber. – Eu ofereci um sorriso
e ele retribuiu aliviado.

- Vai estudar no colégio JK? – O


Eduardo perguntou depois de um
tempo.

- Sim, hoje eu vou falar com o


diretor, ele é legal?

O Edu fez uma careta.

- Legal não é exatamente a palavra


certa, mas ele deixa tudo por
dinheiro e tendo os Hunter para

amaciar ele... Pode ser que ele dê


até boa tarde.

Eu ri um pouco nervosa com a


discrição dele sobre o diretor.

- Então ele também deve dá boa


tarde pra você, porque para tá
nessa papelaria é preciso ter...

- Dinheiro? – Ele concluiu minha


fala e sorriu tímido. – Meu pai é o
dono de varias empresas, mas

ao contrario de certas famílias não


nos achamos superiores nem nada.
Eu concordei com a cabeça e
mudamos de assunto.

Conversei com o Eduardo por mais


uns 15 minutos quando a mãe dele
chegou, com o cabelo tão

vermelho quanto dele e os olhos


verdes, o rosto salpicado de
pontinhos.

- Filho, quem é essa menina bonita?


– Eu sorri com o bonita e o tom de
voz gentil e doce , como o do filho.

- O nome dela é Susan, vai entrar


no colégio JK esse ano. – Ele
respondeu apontando para mim e

sorrindo depois.

- Então muito prazer te conhecer! –


Ela disse apertando a minha mão. –
Temos que ir Edu, tchau

Susan!

Eles passaram por mim e foram na


direção da porta, muito longe de
onde a gente estava.

- Então Susan, já encontrou tudo o


que queria? – A Dona Nicole
apareceu pelo corredor, com uma
cesta cheia de canetas, lápis e
coisas assim.

Dei uma olhada na minha cesta, que


também estava cheia.

- Acho que sim. – Eu falei por fim e


ela me mandou um sorriso.

- Então me dê essa cesta que eu irei


com o Michael no caixa. Eu liguei
pro Joshua e ele disse que

está te esperando na porta.

Eu fiz que sim com a cabeça e


depois abracei ela. Corando na
mesma hora por ter feito isso, mas
por

sorte ela sorriu e acenou para mim


enquanto eu ia em direção a saída.

- Helô? – Eu já tinha chegado na


porta e o Joshua estava em frente a
um carro vermelho de fumê

muito escuro, falando ao telefone.


Decidi não atrapalhar. – Claro que
é o Joshua... Não, eu vou está
ocupado hoje, infelizmente não vou
poder te foder, vai ter que procurar
outro. – Ele parecia irritado em
está falando com essa garota e eu
cheguei um pouco mais perto para
ouvir a voz dela.

- Mas ninguém consegue como


você! – Ela tinha um voz
irritantemente fina e eu conseguia
ouvir

perfeitamente, a poucos passos do


Joshua.

- Helô, chega ok? Eu tenho que


fazer umas coisas agora.

- Com quem? – A voz carregada de


ciúmes dela fez eu sorri.

- Se fosse da sua conta eu até


contaria, mas é claro que não é.
- Ah Joshua... Por que você é
sempre tão mau comigo? – O tom
mudou de ciumento para sensual e
eu

notei que ele estava sorrindo.

- Você quer que eu seja bonzinho


com você, não quer? – Agora ele
também falava com malicia e eu

comecei a me senti enjoada.

- Quero! E o que eu posso fazer


para conseguir isso?

-Tem várias coisas que você


poderia fazer... Incluindo parar de
ser tão fácil, isso me cansa. – Eu

olhei surpresa pra ele que tirou o


celular da orelha.

Me afastei de pressa pra ele não


achar que eu tinha ouvido.

- Eu sei que você está ai Susan. –


Ele disse sem se virar e eu morri de
vergonha no mesmo segundo.

– Reconheceria seu perfume em


qualquer lugar.

Ele se virou sorrindo para mim,


aquele sorriso de me dê um
segundo que eu vou conquistar
você.

Revirei os olhos.

- Você não presta. – Eu disse


empurrando ele pro lado e entrando
no carro.

- E daqui a pouco você vai dá pra


mim. – Ele sussurrou quando
passou do meu lado.

Ele entrou no carro e colocamos o


cinto. Ele deu a partida no carro e
olhou para mim.

- A voz dela não é irritante? – Eu


demorei um segundo para entender
pergunta e comecei a ri assim

que eu entendi. Muito irritante.

- Quem é ela afinal? – Eu perguntei


tentando parecer indiferente, sem
demostrar o quanto não tinha

gostado dela de primeira.

- Ah, só mais uma... – Ele parou o


carro no sinal e olhou para mim de
novo, os olhos azuis brilhavam a
luz do pôr-do-sol. – Eu conheci ela
na praia e ela foi para cama comigo
nesse dia, como eu gostei

dei o meu celular certo para ela. Se


arrependimento matasse... – Ele
falava entediado, como se isso

acontecesse o tempo todo.

- Ela parecia gostar de você. – Eu


falei baixinho, e ele pisou fundo
quando o sinal ficou verde.

- Ela não gosta de mim, ela gosta


do meu amigão aqui em baixo. –
Ele olhei para a própria calça e

sorriu. – Mas, convenhamos, quem


não gosta?

Eu ri do jeito que ele falou.


- Olha só, fiz você ri. – Ele disse
animado. – Primeiro passo para
levar alguém pra sua cama é fazer
essa pessoa ri.

- Pelo amor de Deus, você pensa


nisso? – Eu falei rindo para ele.

- E eu vou pensar em que?


Passarinhos e bandas pop? – Ele
respondeu irônico e eu revirei os
olhos

de novo. – Não, brincadeira, eu sou


muito mais do que essa maquina
sexy e linda.
Eu olhei pra ele desconfiada.

- Eu também sei dirigir. – Ele falou


e deu uma manobra perfeita para
estacionar em frente a um

colégio grande e imponente. –


Vamos.

Ele saiu do carro tão rápido que eu


mal tive tempo de abrir o cinto.

- Não acredito que você ficou ai


para que eu abrisse a porta! – Ele
falou e eu comecei a negar com a
cabeça, mas então ele veio e abriu
a porta, colocando a mão para me
dá apoio para sair. – Adoro

isso.

Eu corei na mesma hora e dispensei


a mão dele, andando na frente até
os portões do colégio.

- Em que posso ajudar? – O


porteiro perguntou entediado.

- Vim falar com o diretor. – Eu


disse confiante e ele me olhou de
cima para a baixo e eu novamente

me senti mal por está de short


jeans, all star e camisa de estampa
de herói – no caso o Batman.
- Primeira porta a esquerda. – Ele
disse, mas seus olhos não pareciam
me levar a serio e eu me irritei
muito com isso.

Eu passei por uma sala de recepção


– dando boa tarde para todas as
pessoas na sala e só recebendo

um de resposta – e parei em frente a


porta do diretor.

Bati discretamente na porta.

- Está aberta. – Uma voz grossa e


morrendo de tédio respondeu.

Eu entrei em um escritório, um
homem com uns 40 anos e muitos
cabelos brancos, estava sentado

numa cadeira atrás de uma mesa.


Ele olhou para a mim.

- O que você quer? – Ele parecia


irritado, como se eu tivesse
atrapalhado uma soneca que ele iria

fazer.

- Eu vim fazer minha matricula. –


Eu entreguei minha ficha para ele
que começou a ler e fiquei em pé
em frente a sua mesa.

- Não. – Ele murmurou.


- O que você disse?

- Eu disse que você não pode


estudar aqui. Você ficou em
recuperação em matemática no
segundo

bimestre. Sinto muito. – Ele disse


sem levantar os olhos, obviamente
não sentindo muito.

- Mas, isso foi porque eu estava


muito doente e depois eu
recuperei... – Eu comecei a
explicar, mas

ele levantou a mão.


- Não.

- O que eu perdi? – O Joshua entrou


com tudo na sala, sorrindo.

- Eu conheço essa voz... – O diretor


disse baixinho e levantou a cabeça
devagar, arregalando os

olhos para o Joshua. – O que você


faz aqui, senhor Hunter? – Ele
sentou com um pouco mais de

postura e mudou o tom de tedioso


para formal.

- Sem enrolação. – O Joshua disse


se aproximando da mesa dele. – O
que você disse para ela?

- Eu infelizmente não poderei


aceitar a senhorita Susan aqui. –
Ele tentou parecer seguro, mas sua

voz vacilou quando o Joshua


apoiou as mãos na mesa.

- Por quê? – Ele perguntou frio.

- Ela... Ficou de recuperação ano


passado e o senhor sabe que não eu
não posso aceitar uma aluna

com esse histórico tão...

- Ah, cale a boca. – Ele falou


ficando irritado. – Eu sempre
ficava de recuperação e você nem
sequer me chamava atenção.

- Mas... – O diretor corou. – É


diferente... O senhor é um...

- Hunter? Sim, eu sei. Ela agora


mora com a minha família, portanto
merece ter os mesmo direitos. –

Ele falou autoritário e o diretor


ficou vermelho de raiva.

- VOCÊ NÃO PODE FALAR


ASSIM COMIGO!

- Claro que posso. – O Joshua


parecia indiferente a fúria do
diretor. – Ou você aceita a Susan no
seu colégio de merda ou o Michael
e o Nicolas saem e meu pai tira o
patrocínio.

- Você não faria... – O diretor


parecia congelado.

- Claro que faria. Você sabe que


sim. – Ele se virou para mim e
depois de volta para o diretor. –

Agora assine logo isso, que eu


tenho mais o que fazer.

- C-Claro. – O diretor gaguejou e


assinou rápido o papel e entregou
ainda mais rápido ao Joshua, que
parecia muito feliz com si mesmo.

- Vamos Susan. Passear de carro.

5. Estranho e bom

Eu arregalei os olhos para o


Joshua, ele deu de ombros e abriu a
porta para eu sair, lançando um

olhar irônico para o diretor que


ainda parecia em choque.

Passamos direto pelo corredor e


senti todos os olhares femininos
indo direto para o Joshua, quase
conseguia ouvir um suspiro de ai
meu Deus, que menino lindo. Não
posso culpa-las, ele era

irritantemente perfeito.

- É sempre assim? – Eu perguntei


baixinho assim que saímos da sala
de recepção.

- Os olhares? – Ele sorriu. – Claro,


eu exalo sedução.

Eu ri e empurrei o braço dele de


leve.

Ele deu uma corridinha na minha


frente e olhou cínico pra mim,
enquanto abria a porta do carro
como

um cavalheiro. Entrei, mas ele não


fechou a porta, em vez disso ele me
encarou.

- Não vai dizer obrigada?

- Eu me lembro perfeitamente do
que você respondeu da ultima vez
que eu te disse obrigada. – Eu

disse me lembrando dele


respondendo que eu seria obrigada
a fazer muitas coisas.

- Ah, fazia parte do meu primeiro


plano, mas eu já mudei de tática. –
Ele falou como se aquilo

explicasse tudo e fechou a porta do


carro.

- E qual era o seu plano? – Eu


perguntei quando ele entrou e deu a
partida no carro.

Ele sorriu e depois balançou a


cabeça em negativa.

- Um dia eu te conto.

Eu revirei os olhos.

- Adoro quando você faz isso. – Ele


disse baixinho e eu corei na mesma
hora.

- Pra onde você tá me levando? –


Eu perguntei para mudar de assunto.

- Ainda tou pensando... – Ele olhou


pra mim e se virou de novo. – Que
tal se a gente se divertir um

pouquinho? – O tom de voz dele


não tinha nem um pingo de malicia,
eu estranhei isso.

- Com o que?

- Tem um parque de diversão na


cidade, o que você acha?
Eu ri com a ideia.

- Não parece combinar muito com


você.

- E o que parece combinar comigo?

Eu pensei um pouquinho.

- Sei lá, alguma coisa mais original.

Agora foi a vez dele de ri.

- Essa é a ideia que você tem de


mim, então saiba que...

When the days are cold...


Eu olhei pro celular dele, que
vibrava enquanto a música Demons
tocava.

... And the cards all fold...

- Não vai atender? - Eu perguntei e


ele se virou pra mim.

- Veja quem é, por favor.

Eu peguei o Iphone dele e vi o


nome Jane Ruiva.

Ele não faz questão nem de lembrar


o sobrenome dela, eu pensei.

- Jane Ruiva, vai atender?


Ele revirou os olhos e pegou o
celular da minha mão, colocou no
viva-voz antes de atender.

- O que você quer? – O tom de voz


dele mudou completamente, foi de
um amigável e descontraído

pra frio e entediado.

- Você! – Uma voz meio aguda veio


do celular, tão animadinha que nem
parece ter notado o jeito

como o Joshua falou.

- E o que você pretende fazer pra


conseguir isso?
- O que você quiser. – Ela
realmente era fácil demais. O
Joshua revirou os olhos, como se
ouvisse

isso o tempo todo. Provavelmente


ouvia mesmo.

- Jane, entenda, o que a gente teve


acabou, simples assim. – Ele disse
em uma cortada só e eu quase

conseguia ouvir o coração da ruiva


se partindo.

- Mas... Você sabe que foi intenso!


Sabe que não tem como esquecer
algo tão...

- Eu já esqueci. – Ele a cortou e eu


olhei surpresa pra ele.

- JAMES! COMO VOCÊ PODE


DIZER UMA COISA DESSAS? –
A voz dela estava alterada... Ela

estava chorando.

Ele se virou pra mim sorrindo, mas


eu fechei a cara na mesma hora.
Como ele pode ser tão

insensível?

Coloquei toda minha raiva no meu


olhar e acho que ele notou, pois seu
sorriso desapareceu.

- Seja gentil. – Eu disse sem


palavras para ele.

Ele respirou fundo.

- Sinto muito Jane, você é uma


menina muito boa, merece coisa
melhor que eu. – Cada palavra

parecia sair com esforço, mas


pareceu muito convincente.

- Mas pra mim você é o melhor que


tem... – Ela disse tão baixinho que
eu tive que fazer esforço pra
ouvir.

Ele ia revirar os olhos, mas então


olhou de novo para mim e eu
levantei uma sobrancelha, o

desafiando.

- Eu não sou tudo isso... E você é


linda, vai encontrar milhares de
caras que se matariam para ter

você e eles com certeza vão ser


muito melhores do que eu.

Eu sorri pra ele e ele me olhou de


um jeito estranho, como se não
acreditasse que tivesse dito isso.
- Você a-acha mesmo? – A voz dela
estava meio entrecortada,
provavelmente por causa do choro.

- Claro que acho, olha eu tenho que


ir agora. Seja feliz, ok? – Ele falou
e eu ouvi ela suspirando do outro
lado da linha.

- Tchau Joshua, eu posso ter um


milhão de caras, mas eu nunca vou
esquecer você. – Ela disse

confiante e ele respirou fundo, de


um jeito teatral.

- Espero que isso não seja verdade.


Tchau ruiva.

E desligou

Eu olhei pra ele, que sorriu pra


mim.

- Você sabe que acabou de salvar


aquela garota de passar a tarde
inteira chorando, não sabe? – Ele

disse cínico

Eu fechei a cara e olhei pra frente,


sem ter a menor ideia de onde a
gente estava, mas com certeza era
um bairro nobre.
- Eu sei disso e você sabia que não
é legal ficar partindo o coração das
pessoas? – Eu usei meu

melhor tom frio.

- Sabia... É que eu realmente não


gosto dela, foram só quatro noites e
ela simplesmente não largou

mais do meu pé! – Ele disse


olhando fixo para a rua, os olhos
azuis brilhando como sempre. – Eu
fui

gentil por mais tempo do que


costumo ser, acho que por que ela é
ruiva... Só fiquei com oito ruivas

até hoje e sempre fico mais meigo


com elas, mas a Jane já tinha
enchido o saco.

Eu encarei ele. Como assim ele já


tinha ficado com OITO ruivas até
hoje? E por que eu me sentia

estranha em relação a isso?

- Mesmo assim seria errado o jeito


como você iria terminar com ela! –
Eu estava indignada com a

forma como ele tratava as mulheres


e com raiva de outra coisa, que eu
não entendia direito o que era.

- Melhor forma que tinha. Rápido e


prático, ela iria me odiar e nunca
mais olharia na minha cara,

apagaria meu numero do celular


dela e me deletaria de TODAS as
redes sociais. Ou seja, eu me

livraria dela para sempre. – Ele


falou isso de uma forma tão natural
como eu falaria como se faz um

bolo.

- Mas isso não é certo! Partir o


coração de alguém assim, não é
justo!

- E o que é justo? – Ele parecia


entediado. – Olha Susan, eu tou
tentando mudar, eu juro. Eu

realmente cansei de encontrar


sempre o mesmo tipo de garota,
mas por enquanto que eu não
encontro

uma diferente eu vou continuar


sendo assim, lamento.

Eu olhei pra ele sem acreditar que


ele estava me confessando algo tão
pessoal. Eu mal o conhecia.
- Você vai encontrar essa garota... –
As palavras saíram antes que eu
pudesse impedir e ele freou o

carro, eu olhei assustada, estava tão


dentro da conversa que nem notei
que a gente já tinha chegado no
local.

- Bem, por hora eu invisto em você.


– Ele sorriu daquele jeito que deixa
qualquer menina sem ar e

saiu do carro, eu esperei ele abrir


minha porta.

- Que lugar é esse? – Eu olhei ao


redor e notei o quanto era verde
aquele lugar que parecia uma

grande praça, cheia de gente rindo e


correndo.

- É a pracinha que minha mãe


costumava levar eu e meus irmãos –
Ele sorriu ao lembrar disso e eu

adorei ver aquele sorriso inocente


que ele nunca me mostrou antes. –
Aqui – ele andou até uma

arvore grande com muitos galhos –


eu e o Michael subíamos o tempo
todo, apostando corrida, como
eu sou mais velho deixava ele
ganhar as vezes, só pra ele não
desistir.

Eu sorri e ele continuou andando e


parando para dizer algumas
recordações.

- Essa pedra é perfeita para brincar


de boneco... O Nicolas adorava
fazer historias enormes e cheias de
roteiros elaborados. – Ele riu
enquanto passava a mão pela pedra
plana e lisa. – Eu nunca

conseguia acompanhar e desistia


antes de saber se a garota era
mesmo adotada ou se era um plano

maligno da madrasta que queria o


dinheiro do pai dela.

Ri baixinho em imaginar um
pequeno Nicolas brincando
quietinho com seus bonecos
enquanto o

Michael e o Joshua subiam em uma


arvore.

- E por que você me trouxe aqui? –


Eu perguntei e me sentei na sombra
de uma arvore.

Ele sentou do meu lado, colocando


o braço no meu ombro.

- Queria que você soubesse que eu


não sou só um rostinho bonito.

Ele se virou para mim e eu apoiei


minha cabeça em seu ombro. Todas
as pessoas que passavam

olham para nós. Todas as mulheres


olhavam para ele com flerte e
depois para mim com raiva.

- Elas querem me matar. – Eu falei


baixinho e ele riu, me puxando mais
pra perto dele, o perfume

bom e forte me deixou arrepiada.


- Se elas tentarem eu protejo você.
– Ele se virou pra mim e olhou no
fundo dos meus olhos. Desviei

na hora. Eu tive vontade de beijar


ele, isso não pode acontecer.

- Pare de flertar comigo, eu sei do


que você é capaz. – Eu tirei a mão
dele do meu ombro e me

afastei, cruzando os braços.

Ele sorriu.

- Você é adoravelmente diferente


delas. – Ele chegou mais perto e
passou a mão pelo meu cabelo,
minha respiração parou com o
toque dele, mas eu não iria ceder.

- E você fala isso para todas elas.

- Claro que falo, como você acha


que eu convenço elas? – Ele sorriu
e chegou mais perto. Eu me

afastei mais. – Mas você é


realmente diferente, você nem
sequer corou.

- Você não me deixa sem graça,


lamento. – Eu disse me levantando
e a mão dele que estava no meu

cabelo passou pelo lado do meu


corpo e eu senti meu corpo todo
tremer. Como eu odeio isso.

Ele também se levantou, um


pouquinho vermelho e se virou de
costas pra mim.

- O que houve? – Eu perguntei.

- Você me deixou excitado, ta feliz?

Eu corei na mesma hora.

- Como você dizer uma coisa dessa


assim, na lata?

Ele se virou pra mim e seus olhos


encontraram os meus. Nós
começamos a ri.

- Agora sim você corou! – Ele


disse rindo, sua covinha única
aparecendo.

- Claro, eu não posso não corar


com você me dizendo aquilo! – Eu
disse empurrando ele, mas como

ele é um milhão de vezes mais forte


do que eu só deu um passinho pra
trás.

- Olha só, além de tudo ainda é


agressiva. – O seu tom estava tão
amigável quanto o de qualquer
melhor amigo.

- O que você quer dizer com além


de tudo? – Eu levantei uma
sobrancelha.

- Se olhe no espelho e você vai ver,


meu amiguinho aqui em baixo não
fica assim por qualquer

pessoa. – Ele disse a ultima frase


com toda a malicia do mundo, mas
eu fiz questão de não corar.

- Só por oito ruivas e mais meio


bilhão de morenas e loiras. – Eu
falei revirando os olhos e me
virando para andar pela praça.

- Ouvi um quê de ciúmes nessa


voz? – Ele deu uma corridinha para
andar ao meu lado.

- Não, não ouviu.

- É uma pena, adoro quando a


garota tem ciúmes de mim.

- Ah, cale a boca um pouco. – Eu


falei me sentando num banquinho
do balanço que ficava bem no

meio da praça.

O loiro assentiu com a cabeça e


olhou para o céu, que estava laranja
e rosa por causa do pôr-do-sol

e depois olhou pra mim.

- Não sei o que é mais bonito. – Ele


falou tão baixinho que eu quase não
ouvi. Será que ele estava

pensando alto? Ou era mais um


flerte?

Ele passou por mim e começou a


me balançar, eu sorri enquanto ia
cada vez mais alto até parecer que

eu ia voar.
- Sabe Susan – ele disse enquanto
me empurrava para frente – você é
a primeira garota que eu levo

aqui, eu só não faço a menor ideia


do porquê.

Eu coloquei pé no chão para frear e


me virei para olhar pra ele, o rosto
dele parecia o de um anjo

com aquele cabelo loiro e olhos


azuis.

- É serio?

- Eu não sou de mentir. A verdade é


que eu sempre levo as garotas para
um boliche, golfe, parque de

diversão ou qualquer outro lugar


onde eu possa abraçar ela a maior
parte do tempo, mas com você é

diferente. Isso faz sentido? – Ele


desviou os olhos.

- Não, com certeza não faz sentido.


– Eu sorri. – Você me conhece a
mais ou menos dois dias!

Ele olhou de novo para mim e


sorriu.

- E daí?
- Meu Deus, olha é melhor a gente
ir pra casa, eu tenho que arrumar
meu material escolar.

- Não se esqueça de quem te


conseguiu a matricula! – Ele rindo
enquanto a gente andava até o
carro.

- Pois é! Eu ainda não acredito que


você botou medo no diretor daquele
jeito.

- Eu tenho meus truques.

Assim que chegamos no carro ele


olhou pra mim e eu revirei os
olhos, sabia exatamente o que ele

estava pensando.

- Mas é uma dama mesmo. – Ele


disse e abriu a porta do carro para
mim, eu sorri e revirei os olhos.

- Então, o que achou do passeio? –


Ele perguntou enquanto dava
partida no carro.

- Tirando o flerte, o fora que você


deu na tal da Jane e o seu tom de
malicia... Até que não foi tão ruim.

Notei ele sorrindo com o canto da


boca, de um jeito meio torto e
imperfeito que não combinava nem

um pouco com todo o resto do


corpo e do rosto dele. Eu adorei
aquele sorriso. Mas então ele

pareceu pensar um pouquinho e o


sorriso desapareceu.

- Então resumindo a coisa que você


mais gostou foi ouvir sobre meus
irmãos? – Ele disse e eu senti

uma pontada de ciúmes na voz dele.

- Claro que não, eu adorei ouvir


sobre a sua infância! Alias, eu não
sei quantos anos você tem, senhor
Joshua. – Eu disse mais para mudar
de assunto, pois eu realmente tinha
gostado de ouvir sobre os

irmãos dele.

- Vou completar 21 no fim do ano. –


Ele disse dando de ombros.

Meu Deus, ele é 5 anos mais velho


que eu. Cinco anos. Isso é tempo
que só a porra... Não é?

- E você? – Ele perguntou, enquanto


parava no sinal vermelho e se
virava pra olhar pra mim.

- Adivinhe.
Ele me olhou de cima a baixo e eu
corei na mesma hora, me
arrependendo de ter falado aquilo,
já que

agora ele estava medindo cada


centímetro do meu corpo com o
olhar. Depois do que pareceu um

século – ele provavelmente estava


se aproveitando da situação – ele
sorriu e olhou de novo nos meus

olhos.

- Se for pelo seu corpo eu daria uns


18 anos, mas seu rostinho é de 15, o
que deixa tudo melhor. – Ele disse
com aquele tom sexy que ele usa
sempre.

- Obrigada, eu acho... E eu tenho


16.

Ele arregalou os olhos para mim.

- Não acredito! – Ele disse


surpreso. – Um corpo desses ainda
está em fase de crescimento?!

Eu ri, para não parecer que tinha


ficado sem graça.

- E eu achando que já tinha visto de


tudo nessa vida...
- Pare, isso deixa qualquer clima
tenso. – Eu falei desviando os olhos
dele e olhando para rua,

notando que já estávamos na


esquina da casa dele.

- Ok, sorte sua que já chegamos.

Ele falou enquanto parava em frente


à mansão dos Hunter, ainda não
conseguia acreditar que eu

morava naquele lugar.

...

Eu olhei pro teto, tentando parar de


pensar no Joshua, mas era quase
impossível. Já se passou 4 horas
desde que ele me deixou em casa e
saiu para encontrar uns amigos,
pelo menos foi o que ele disse...

O provável é que ele tenha ido


encontrar outra garota, mas o que
isso importa?

- Posso entrar? – Eu ouvi a voz e


reconheci que era o Nicolas, que eu
ainda considero como o melhor

dos irmãos, e andei até a porta para


abrir.
- Oi Nick, tudo bem? – Eu disse
enquanto deixava ele entrar e se
sentar na ponta da cama. Puxei uma

cadeira para sentar na frente dele.

- Mais ou menos... – Ele desviou os


olhos e respirou fundo. – Eu estava
num restaurante com o Felipe e
gente estava conversando e rindo,
eu nem notei quando o... Joshua
chegou e viu ele...

Eu prendi a respiração.

- Então ele me puxou e começou a


fazer perguntas e eu não sabia o que
fazer, ele já tinha me pego

conversando assim com um garoto


antes e já tinha desconfiado da
minha sexualidade... – Ele me

olhou como se pedisse perdão. – E


ai eu disse que o Felipe era seu...
Namorado.

Eu quase cai da cadeira. Agora o


Joshua acha que eu sou uma vadia!

- Me perdoe, por favor... – Os


olhos azuis deles se encheram de
lagrimas e eu me arrependi na

mesma hora de ter ficado com raiva


dele. – Eu simplesmente não sabia
o que dizer! Me desculpe

Susan...

- Não... – Eu me levantei da cadeira


e abracei ele. – Não precisa me
pedir desculpas, ok? Tá tudo

bem.

- Mas o que eu achei estranho foi a


reação do Joshua.

Eu olhei pra ele com cara de


interrogação.

- Ele ficou furioso... Eu nunca vi o


Joshua assim, foi muito estranho,
mas pelo menos ele não fez mais
perguntas e saiu com raiva do
restaurante.

O Joshua ficou furioso... De


ciúmes?

6. Que porra foi essa?

- É serio Susan... – O Nicolas disse


quando eu me sentei de novo na
cadeira. – Eu sei que não devia

ter mentido, mas eu estava com


tanto medo que nem pensei direito!
Não gosto nem de imaginar o que
aconteceria se o Joshua descobrisse
que eu sou gay. – Ele sussurrou as
ultimas duas palavras tão

baixo que foi quase inaudível. Era


seu maior segredo.

- Tudo bem Nicolas, você pode


sempre contar comigo. – Eu disse e
ofereci um sorriso pra ele, que

retribuiu.

I want to break free...

O Nicolas olhou para mim e eu


assenti, dizendo sem palavras que
ele podia atender o celular que
tocava Queen.

Um sorriso se espalhou pelo rosto


dele assim que leu o nome de quem
estava ligando.

- Oi Lipe!

- Oi Nick, eu estava pensando em te


ver de novo hoje... Depois de seu
irmão sair com tanta raiva

daquele jeito, eu fiquei preocupado


e também porque hoje é dia 13,
você sabia que eu te conheci a

exatamente 6 meses? – A voz doce


do Felipe veio do outro lado do
celular.

- Obvio que sabia! Claro que você


pode vim... Mas, eu não sei se é
uma boa ideia você chegar aqui

com meu pai na sala da frente, você


sabe... Minha família é muito...

- Sim, eu sei. – O tom dele adquiriu


um quê de tristeza. Eu também me
sentiria assim se a família do meu
namorado fosse tão contra o meu
relacionamento. – Então, por onde
eu posso entrar?

O Nicolas olhou para mim por um


minuto e então sua expressão se
iluminou. Ele teve uma ideia.

- Eu poderia falar com a Susan, ela


dorme no quarto do sótão e você
poderia entrar pela janela. – Ele
disse entusiasmado e eu quase me
engasguei de surpresa.

- Eu não quero atrapalhar ela... – O


Felipe disse, o tom de voz ainda
mais triste que antes e os olhos do
Nicolas suplicavam para eu deixar.

- Tá. – Eu disse sem emitir som.

- FELIPE! Eu falei aqui agora com


ela e ela deixou!

- Então que horas eu passo ai? – Eu


suspirei feliz pelo tom de animação
do Felipe, dava pra sentir a
ansiedade dele do outro lado da
linha.

- Daqui a... – O Nicolas olhou pra


mim e eu fiz um 1 com a mão. –
Uma hora, pode ser?

- Claro que pode!

- Ótimo, eu vou colocar uma escada


até o teto do lado da casa agora
mesmo. Tchau, eu te amo ok?
- Eu também te amo Nicolas.

Um sorriso involuntário e lindo


surgiu no rosto do Nicolas quando
ele desligou o celular, as duas

covinhas pareciam dançar em suas


bochechas e seus olhos azuis
estavam brilhando. Como os do

Joshua.

- Você é perfeita, sabia disso? – Ele


disse pulando pra me abraçar e eu
ri alto.

- Claro que sabia. – Eu disse rindo


enquanto abraçava aquele
incrivelmente lindo e animado gay.

...

Faltando cinco minutos pro Felipe


chegar e o Nicolas ainda não
voltou, ele disse que iria sair

rapidinho para comprar comida.


HÁ 40 MINUTOS! Mas tudo bem,
eu fico aqui como recepcionista

do Felipe mesmo... Fazer o que?

TOC TOC TOC

Me virei e vi uma sombra na janela.


Ele chegou.
Eu fui até a janela e olhei para ele.
Com o cabelo liso castanho e os
olhos da mesma cor, ele era tão
lindo que poderia ser um Hunter,
era só colocar um par de olhos
claros.

- Abre ai. – Ele falou, a voz


transbordando de ansiedade e
animação.

Eu abri e ele entrou pulando e eu


pulei com ele.

- Cadê o Nick?

- Ele foi comprar comida, mas já


volta.

Ele fez que sim com a cabeça e a


gente se encarou por um segundo.
Então ele começou a ri e me

abraçou.

- Obrigado, obrigado de verdade. –


Ele sussurrou no meu ouvido e eu
sorri, apertando ele ainda mais

no meu abraço.

- MAS QUE PORRA É ESSA?

Eu soltei o Felipe na mesma hora.


Aquela voz. Me virei e lá estava o
Joshua, os olhos brilhando de

raiva.

- Você deve ser o Joshua... – O


Felipe começou dizendo, com toda
a educação possível, mesmo que

seus olhos estivessem com medo.

- O que você está fazendo aqui? –


O Joshua o cortou, com a voz fria e
andou até ficar cara a cara com ele.

- Eu v-v-vim... – O Felipe
gaguejou, o Joshua o fuzilava com
os olhos.
- Ele veio me ver.

Os dois olharam para mim. Um


aliviado o outro... Bem, o outro
parecia que ia matar alguém.

- Como você pode ser tão vadia? –


O Joshua me olhou com frieza e
cuspiu as palavras pra mim.

- NÃO FALE ASSIM COM ELA. –


O Felipe, mesmo parecendo muito
assustado, levantou um dedo

para o Joshua.

O loiro olhou pra ele sem acreditar


e depois para mim. Então, antes que
eu pudesse fazer qualquer

coisa, ele deu um murro na cara do


Felipe, que se curvou de dor.

- JAMES, NÃO! – Eu tentei gritar,


mas o Felipe já estava no chão e o
Joshua em cima dele.

O Joshua parecia uma maquina de


guerra de tão feroz. Ele estava
levantando o braço para um

segundo murro quando eu me joguei


em cima dele e cai por cima no
chão, tentei imobiliza-lo, mas ele

segurou meus braços, enquanto eu


colocava uma perna de cada lado
dele.

- Por que você está fazendo isso? –


Eu perguntei me debatendo, mas ele
era mais forte.

Ele me olhou com raiva, então a


compreensão se espalhou pelo
rosto dele e ele soltou minhas mãos
e

me empurrou pro lado para se


levantar. Levantei também.

- Ei você – ele disse olhando pro


Felipe, que ainda estava no chão,
com a cara muito vermelha – saia
da minha casa agora, ninguém te
convidou.

- Eu convidei. – Eu disse parando


na frente dele para encara-lo, sem
acreditar no que tinha acabado

de acontecer.

- Ninguém que tenha o direito de


ficar chamando gente. Nenhum
Hunter. – Ele jogou essas palavras

para mim com toda a frieza


possível e eu senti duas irritantes
lagrimas tentando sair.
Eu me virei para o Felipe e ajudei
ele a levantar.

- Deixa que eu explico pro Nicolas,


volte mais tarde. – Eu disse
baixinho no ouvido dele que

assentiu, ele estava meio lento por


causa da dor no rosto.

- Saia. – O Joshua disse autoritário


e o Felipe me deu um beijo na
bochecha e saiu pela janela.

- QUE FOI ISSO? – Eu gritei pra


pro Joshua assim que o Felipe saiu,
a raiva fervia na minha veia.
- Eu que te pergunto! Ficar se
pegando uma hora dessas com um
completo desconhecido! – Ele

parecia um pai falando, o tom dele


tinha raiva e autoridade.

- Falou o cara que nunca se pegou


com ninguém, não é? – Eu falei com
ódio e andei até fica a um

passo dele.

- Mas é muito diferente. Eu não sou


tão ruim a ponto de fazer a garota
entrar pelo sótão! – Ele deu

meio passo e eu quase conseguia


sentir o ar saindo da boca dele.

Eu revirei os olhos. Era impossível


discutir com um cara desses.

- Tá Joshua, na próxima vez eu


peço pra ele vim pela porta da
frente, farei questão. – Eu procurei
o meu melhor tom frio para
competir com o dele. Nossos olhos
se fuzilavam. – Mas nada disso é

motivo para você dá um murro na


cara dele. O que você tinha na
cabeça?

Então aconteceu algo que meus


olhos só iriam ver de novo meses
depois, o rosto do Joshua ficou

vermelho. Ele corou.

- Eu estava defendendo a casa. –


Ele tentou parecer confiante, mas a
sua voz vacilou.

- Sei. – Eu disse irônica e me sentei


na cama, cruzando as pernas, sem
desviar em nenhum momento

dos olhos dele.

Ele bufou e sentou na minha frente.

- Você é como as outras.


Meu coração falhou, tentei me
manter indiferente.

- Como assim?

- Você mesmo com um namorado


saiu comigo, me deixou flertar com
você. Você é exatamente igual a

elas. – Ele disse de uma vez só.

- Claro que não! – Senti as lagrimas


voltando, mas eu não iria chorar,
não na frente dele.

- Claro que sim! – Ele se levantou


da cadeira e me olhou de cima. –
Achei que você fosse diferente.
Eu pensei rápido. Não podia contar
a verdade, não podia dizer eu sou
diferente. A única coisa que eu
podia fazer era ser fria.

- Não me importo com o que você


acha.

Ele levantou uma sobrancelha,


surpreso com a resposta.

- Ótimo, então esqueça que hoje


aconteceu.

Eu me levantei, estava tão perto


dele que por centímetros nossos
corpos não se tocavam.
- Ótimo.

- Ótimo.

- Agora saia do meu quarto.

Eu estava com a respiração


acelerada e meu coração parecia
ter perdido o controle. Ele era tão
lindo que dava raiva.

- Primeiro eu tenho que fazer o que


eu vim fazer aqui.

Ele pegou um Iphone do bolso da


calça preta dele.

- Pra que isso? – Eu perguntei


quando ele me estendeu o celular.

Ele desviou os olhos.

- Minha mãe descobriu que você


não tem um celular e comprou hoje
de tarde. – Ele respondeu rápido

e eu peguei o objeto da mão dele,


sem acreditar.

- Ela não precisava...

- É, ela não precisava. Mas pelo


jeito ela gosta muito de você. – Ele
disse, olhando para algum ponto
atrás de mim.
- Depois eu vou agradecer a ela.

- Tá.

Então ele foi embora.

Eu andei até a porta e a tranquei,


não queria mais visitas. Respirei
fundo, tentando entender o que

tinha acontecido. O Joshua tendo


um ataque de raiva, o Felipe saindo
assustado, eu ter deixado o

Joshua corado e a Dona Nicole ter


me dado um Iphone.

Olhei pro lugar onde o Joshua


estava e vi um pedacinho de papel
no chão, que ele provavelmente

derrubou quando tirou o Iphone do


bolso. Me abaixei e peguei o papel,
que era meio amarelo. Não

acreditei no que meus olhos viram:

PREZADO SENHOR JAMES R.

COMPRA BEM SUCEDIDA.

OBRIGADO POR ESCOLHER A


NOSSA LOJA PARA A COMPRA
DO IPHONE 5s

ESPERAMOS QUE A GAROTA


GOSTE DO PRESENTE.

VOLTE SEMPRE.

7. Não sei como explicar

Eu reli o papel amarelo umas dez


vezes. O Joshua comprou um
Iphone pra mim? Não pode ser...
Não

fazia sentido, ele não tinha, nem


tem, a menor necessidade de me
agradar, muito menos com algo tão

caro e...

É, ela não precisava. Mas pelo


jeito ela gosta muito de você. As
palavras surgiram como uma

bomba, se espalhando por todo


lugar na minha mente. Será que era
uma declaração? Não... Não pode

ser, ele é muita areia pro meu


caminhão, na verdade, ele é como
uma tonelada de areia para um

Hotwells. Ele não pode está


gostando de mim desse jeito, deve
haver um engano.

- Por que trancou? – Ouvi a voz


gentil do Nicolas vindo do outro
lado da porta. Como eu iria

explicar o que aconteceu aqui? Se


nem eu mesmo sei.

Eu respirei fundo e abri a porta pra


ele, que foi direto para a varanda,
abrindo a janela.

- Cadê o Lipe? – O tom dele estava


tão cheio de ansiedade que eu não
soube o que responder.

Ele abriu a janela e olhou ao redor.

- FELIPEEEE!

Eu me assustei e olhei pro Nicolas


que parecia que iria se jogar da
janela. Corri pra perto dele e vi o
Felipe sentado no telhado, olhando
as estrelas.

Então os olhos castanhos dele


encontraram os do Nicolas e um
sorriso instantâneo apareceu, quase

maior que a cara dele. Ele correu e


literalmente se jogou nos braços do
Nicolas, eu me afastei para

deixar eles a vontade.

Depois de uns três minutos de


beijos e abraços eles finalmente se
soltaram e vieram até onde eu

estava, bem no meio do quarto,


perto das sacolas com comida que
o Nicolas tinha trazido.

Sentamos em uma rodinha no chão,


o Nicolas com o braço ao redor do
Felipe, de um jeito protetor.

- Enfim, por que o Lipe estava do


lado de fora quando eu cheguei? –
O Nicolas perguntou com cara

de interrogação e eu olhei pro


Felipe, ele parecia meio nervoso.

- É que... – Eu comecei a
responder, tinha decidido contar a
verdade.

- É que eu vi o Joshua entrando no


quarto para falar com a Susan e
decidir nem entrar, para não

causar problemas. – Eu quase cai


pra trás quando o Felipe disse isso,
os olhos dele fixos nos do

Nicolas.

- Você sabe que eu não iria deixar


ele machucar você, não sabe? – O
Nicolas perguntou puxando o

Felipe para ficar mais perto dele.


Por que ele mentiu? Eu perguntei
para mim mesma e a resposta veio
logo em seguida.

- Sei, mas eu não queria que você


brigasse com seu irmão por minha
causa. Jamais iria fazer isso

com você. – Ele disse de uma vez


só e seus olhos foram direto para os
meus e entramos num acordo

silencioso: Nada de contar a


verdade pro Nicolas, pelo menos
não agora.

O Nicolas sorriu e tirou duas caixas


de pizza da sacola, encerrando o
assunto anterior. Nós

começamos a comer em silencio


quando uma pergunta veio na minha
cabeça.

- Como vocês começaram a


namorar? – Eu perguntei, sem
conseguir conter minha curiosidade.

Eles trocaram um olhar.

- Bem, tudo começou quando um


novato extremamente sexy e gostoso
entrou na minha sala no meio

do ano – o Nicolas sorriu e o


Felipe parecia ficar mais vermelho
a cada palavra que ele dizia. – E

claro que todas garotas da sala


ficaram loucas em cima dele, mas
ele não parecia interessado em

nenhuma delas e só quando ele


dispensou a menina mais loira e
bonita do colégio que eu comecei a

achar que ele era gay.

“Então eu decidi que iria ver se ele


era mesmo e comecei a olhar para
ele em todas as aulas e puxar

conversa, no começo ele ficava


tímido e não queria continuar os
assuntos, mas eu não desisti, é

claro...”

Ele olhou pro Felipe, que estava


tão vermelho quanto o cabelo do
garoto que eu conheci hoje cedo, o

Eduardo, e o Nicolas fez que um


sinal com a cabeça, pedindo pra
que ele continuasse a história.

- OK... Eu ficava muito nervoso de


falar com o Nick, mas ele é tão
insistente e irresistível que eu

decidir fazer alguma coisa. Então


eu comecei a puxar papo com ele
também, olhar bastante durante as

aulas e todas essas coisas que


fazemos quando paqueramos
alguém. Até que em julho, depois
de um

mês naquela troca de olhares sem


fim, a Camila, uma amiga nossa,
decidiu fazer uma super festa de

aniversário. Lá o povo decidiu


brincar de esconde-esconde, só pra
ter pegação mesmo e ai eu corri

pra o quarto dos fundos da casa da


festa e assim que eu cheguei lá dei
de cara com esses olhos azuis.

- O resto você já pode deduzir


sozinha. – O Nicolas disse
sorrindo. – Uma dica: A noite
começou

com parabéns Mila e acabou com


v-va-vai Felipe...

Eu ri alto com a imitação de


gemido dele, mas o Felipe parecia
um pimentão de tão vermelho, ainda

mais na ponta do nariz... Se bem


que foi bem na ponta do nariz dele
que o Joshua acertou aquele

murro.

Depois disso nós conversamos


sobre um monte de besteira, me
fazendo me chorar de ri uma hora e

me deixando de olhos arregalados


na outra, quando, depois de quase 2
horas, o Nicolas pediu pra eu

deixar ele e o Felipe a sós um


pouquinho e eu fui para o quarto
dele.

...
Devo ter pego no sono. Olhei em
volta e tava no enorme, organizado
e lindo quarto do Nicolas. Ele

deve ter dormido no meu quarto,


quer dizer, ele deve ter ficado
muito acordado com o Felipe no
meu

quarto.

Eu sentei na cama e pensei um


pouquinho. Era meu terceiro dia
naquela casa, mas parecia que eu

morava ali há meses...

Sai do quarto e já ia entrando no


elevador quando ouvi o barulho de
uma porta se abrindo do outro

lado do corredor. Rezei para não


ser o Joshua, eu não queria ver ele
agora, não tão confusa em

relação ao que eu sentia.

Mas quando eu me virei não eram


os olhos azuis do Joshua que
estavam me observando e sim os

verdes-mar do Michael, com um


sorriso cínico no rosto.

- Já? Achei que fosse demorar mais


pra você começar a se pegar com
um Hunter. – Ele disse e se

aproximou de mim. Mesmo com o


cabelo assanhado e amassado ele
parecia um tipo de deus grego.

- Claro que não! – Eu disse na


defensiva e apertei no botão do
elevador. – Eu só passei agora no

quarto do Nicolas para falar com


ele, mas como ele não tava eu sai.
Simples assim.

- Sei... – Nem uma parte dele


acreditava em mim, mas fazia
sentido, eu nunca soube mentir bem.
- Vai entrar? – Eu perguntei
entrando no elevador assim que ele
abriu.

Ele fez que sim com a cabeça e


entrou, se olhando no espelho.

- Eu sou muito lindo, pelo amor de


Deus! – Ele falou enquanto se
contemplava.

Sim, claro que é. Mas da minha


boca você nunca vai ouvir isso.

- Pena que só embalagem não faz


um produto... – Eu murmurei alto o
bastante para ele ouvir e se
virar pra mim, com uma
sobrancelha levantada, exatamente
como o Joshua faz quando fica
surpreso.

- O que você disse?

- Você é surdo? – Meu tom era frio,


eu não estava com o menor saco pra
aguentar o Michael.

- Mas que grosseria... Se eu fosse


você não me trataria assim. – A voz
dele estava carregada de

ameaça e quando eu estava


começando a sentir um pouquinho
de medo a porta do elevador se
abriu.

- Foda-se. – Eu disse enquanto me


virara pra sair, mas ele me segurou
pelo braço e me puxou de

volta para ao elevador.

- Acho que podemos conversar


mais um pouquinho antes de você
sair. – Ele falou e apertou no botão

do térreo.

Eu revirei os olhos.

- Eu não gosto de conversar com


você.

- Não perguntei o que você gosta ou


deixa de gostar, meu bem. Eu tou
pouco me fodendo pra isso,

mas eu quero continuar minha


conversa com você e é exatamente
isso que vamos fazer. – Ele usou

aquele irritante tom autoritário e


arrogante que eu odiei desde a
primeira vez que eu ouvi.

- Então diga.

- Peça desculpas pelo que você


disse.
Eu ri, quem ele pensa que é? Ele
vai esperar sentado eu pedir
desculpas pra ele.

- Ou você pede ou você vai se


arrepender disso.

Eu ri mais um pouco, tentando não


notar o tom sério e maldoso dele.

- Morrendo de medo de você eu


estou aqui. – Eu falei irônica e bem
nessa hora a porta do elevador

se abriu, a Dona Nicole estava na


sala e sorriu para nós dois quando
nos viu. – Creio que a nossa
conversa acabou.

Ele me lançou um olhar tão mortal


que eu fiquei um pouco tonta e
apertei o botão 3 o mais rápido o

possível assim que ele saiu do


elevador.

Só quando as portas se fecharam eu


pensei nas palavras do Michael.
Não havia nada que ele pudesse

fazer contra mim... Não é?

Tentei tirar isso da cabeça e esperei


o elevador se abrir. Assim que isso
aconteceu entrei no meu
quarto esperando encontrar o
Nicolas ou o Felipe, mas nenhum
dos dois estava lá... Em
compensação

minha cama dava todos os sinais de


que eles tinham passado a noite lá e
bem acordados.

Fui ao banheiro e tomei um banho


rápido, depois troquei de roupa e
me joguei na cama, olhando pro

teto. Daqui a dois dias começam as


aulas e a ansiedade já estava me
atingindo, mas é claro que
qualquer coisa deve ser melhor que
a minha antiga escola, com aqueles
maloqueiros e vadias em

todo lugar. Acho que eu era a única


virgem da minha sala. E isso
realmente é um problema já que

ainda era o primeiro ano do médio.

...

Depois de uma hora sem fazer


absolutamente nada decidi ir até o
jardim, respirar um ar puro.

Desci pelas escadas mesmo e


passei dando bom dia para minha
mãe e para Dona Nicole, que

conversavam animadamente. Passei


direto pela varanda e fiquei
andando pelo adoravelmente lindo

jardim. Então eu vi um balanço e


duas pessoas nele, de costas para
mim. Uma delas tinha um cabelo

loiro desarrumado e brilhante. Era


o Joshua. Eu olhei pra menina que
estava sentava no balanço ao

lado dele, ela tinha um longo e liso


cabelo ruivo. Ruivo. A cor de
cabelo que faz o Joshua ficar
gentil. Senti todos os meus
músculos tremendo de raiva.

- Sabe Emily... Desde o momento


em que eu te vi andando pelo
shopping eu soube que você era

especial. – A voz do Joshua estava


tão carregada de sedução que até eu
suspirei. Ele passou a mão

pelo cabelo ruivo dela e eu quase


conseguia ver todos os pelos do
corpo dela se arrepiando.

- Ah Joshua... – Ela estava sem ar e


ele se aproximou dela, em poucos
centímetros eles iriam se

beijar.

- UAU, VOCÊ DEVE SER A Jane


QUE O JAMES FALOU! – Eu corri
para ficar na frente dele e

joguei essas palavras da maneira


mais inocente que eu conseguia. Eu
não fazia a menor idéia do que

estava fazendo, mas eu NÃO iria


deixar ele beijar essa garota.

- Do que você está falando? – A tal


Emily se virou para mim a um
centímetro da boca do Joshua,
muito irritada por ter sido
interrompida.

O Joshua levantou uma sobrancelha


pra mim.

- O que? Você não é a tal da Jane


Ruiva que ele tanto fala?

- Do que você está falando? O


Joshua me disse que eu sou a
primeira ruiva que ele já se
interessou. –

Ela disse com raiva e eu sorri com


a ingenuidade dela, ainda sem
entender por que eu estava sendo
tão má. – Por que você está
sorrindo?

- Porque eu sempre quis ver o


Joshua enganando alguém ao vivo.

Ela se virou para o Joshua, como se


esperasse uma explicação, mas ele
parecia em uma espécie de

transe, olhando fixo pra mim, sem


acreditar no que estava
acontecendo.

- Joshua! Diga alguma coisa! Diga


pra essa vadia parar de mentir e...

- Não chame ela de vadia.


Eu me virei para o Joshua. Ele
parecia ter saído do transe e olhava
frio para a ruiva ao lado dele,

que estava prestes a chorar.

- Não acredito que você vai


defender essa menina! Que você
não vai desmentir tudo que ela
disse! –

Ela se levantou e seus olhos


pareciam vim de mim para o
Joshua, tentando decidi quem
odiava mais.

Eu ri da cara dela.
- Por favor, você acha mesmo que é
especial? Ele já ficou com milhares
de meninas como você.

O Joshua olhou de novo pra mim.

- Quem é você pra falar alguma


coisa? – Ela disse levantando o
dedo pra mim.

Eu já estava abrindo a boca pra


falar quando o Joshua se levantou.

- Ela é a Susan, a filha da


empregada. – Ele disse, mas sem
aquele tom de superioridade que
ele
poderia usar.

Ela olhou surpresa e indignada pra


ele.

- NÃO ACREDITO QUE VOCÊ


DEFENDEU UMA QUALQUER! –
Ela começou a gritar de raiva.

- Ela não é uma qualquer. Você é


uma qualquer. – Ele disse sem
elevar ou alterar o tom de voz e eu

olhei sem acreditar pra ele.

- Mas... – A voz da ruiva estava


fraca, ela iria começar a chorar a
qualquer momento e eu comecei a
me arrepender por ter tido aquele
ataque de maldade.

- Sinto muito Emily, mas vou ter


que pedir pra você sair da minha
casa. – O Joshua disse calmamente

e a garota olhou pra ele como se ele


tivesse enfiado uma faca no peito
dela.

Então uma lagrima caiu do olho


direito dela e eu me senti
completamente arrependida.

- Se quiser, eu te levo até lá e... –


Eu comecei a dizer.
- Não, você vai ficar bem aqui. Ela
vai sozinha. – O Joshua disse
devagar e a Emily olhou pra ele

incrédula, então ele se aproximou


dela e a puxou pela cintura. –
Minha mãe diz que não podemos

chamar alguém para nossa casa e


não dar nada a essa pessoa. Aqui
está o que eu dou pra você.

Assim que as palavras saíram, ele a


beijou. Um beijo de verdade,
daqueles de deixar qualquer um

sem ar. A menina começou lutando,


mas depois se entregou e colocou
as mãos no pescoço dele. Eu

fechei meus olhos, não queria ver


aquilo.

Depois do que pareceu um século


eu finalmente ouvi o barulho deles
se afastando e abri meus olhos.

Ela estava vermelha e ele parecia


quase indiferente ao que tinha
acontecido, mas sorria.

- Tchau. – Ela disse e eu tive medo


de ela se derreter ali mesmo, mas a
ruiva se virou e foi embora, sem
olhar pra mim.

Nós observamos em silencio


enquanto a garota ia embora e só
quando ela saiu da nossa vista o

Joshua se sentou de novo no


balanço e olhou pra mim.

- Quero uma explicação. – Ele


disse sem nenhuma emoção na voz
e eu respirei fundo. Não tinha

explicação pra isso.

- E-Eu não sei... – Me engasguei


com as palavras e senti que eu
estava corada.
Ele revirou os olhos.

- Para uma garota que tem


namorado até que você é muito
ciumenta.

Eu tentei pensar rápido, mas não


tinha nada na minha mente que
fizesse sentido.

- Me desculpa?

- Tanto faz, ela realmente não era


especial, mas eu gostaria de saber
por que você agiu como uma

namorada possessiva.
Suspirei e sentei no balanço ao
lado dele.

- Como você tinha dito mesmo? Eu


estava defendendo a casa. – Eu
imitei a voz dele e notei ele

sorrindo com o canto da boca.

- Você não pode ficar fazendo isso


comigo.

- Isso o que?

Ele se virou pra mim e seus olhos


azuis se fixaram nos meus.

- Não pode brincar comigo desse


jeito.

- Eu não tou brincando com você...


– Eu falei baixinho, mas eu sabia
que na visão dele eu era uma

puta de uma bipolar.

- Claro que está! – Ele falou


irritado. – Você tem a porra de um
namorado e ainda assim tem um

ataque de ciúmes quando me ver


com uma garota. Isso é brincar com
alguém.

Eu respirei fundo e pensei muito


nas palavras que diria a seguir.
- Eu terminei com o Felipe.

Ele olhou pra mim sem entender,


então uma de suas sobrancelhas se
levantou.

- Por quê?

Eu sorri.

- Ele é como os outros.

Ele sorriu também.

- O que aquele pedaço de bosta fez


com você? – O tom de voz dele
estava mil vezes mais amigável e
eu sorri ainda mais, aliviada.

- Ele ficou cheio de viadagem pra


cima de mim, morrendo de medo de
você. Não tem como namorar

alguém assim. – A parte da


viadagem era verdade, é claro, mas
o Joshua não precisava saber os

detalhes.

- Você sabe que acabou de garantir


que uma garota passe a tarde inteira
chorando, não sabe? – Ele

disse sorrindo, sem se importar


nem um pouco com os sentimentos
da menina.

- Claro que não, ela vai passar a


tarde toda é pensando no beijo... –
Eu falei e não pude evitar um quê
de ciúmes sair da minha voz, ele
também deve ter notado isso,
porque riu baixinho.

- É, talvez... Você quer ter uma


idéia?

Ele sorriu daquele jeito encantador


dele e eu senti todo o meu corpo
gritando sim, mas eu não sabia o
que dizer. Eu não queria ser fácil,
não queria ser como as outras. Mas
ele já estava se aproximando

de mim, a boca dele veio chegando


mais perto.

E mais perto.

Eu fechei meus olhos.

8. Almoço com os Hunter

Então, eu me lembrei do modo


como o Joshua iria terminar com a
Jane Ruiva se eu não o tivesse

desafiado a ser gentil. Da maneira


como ele não se importou com os
sentimentos daquela Emily,
mesmo sabendo que ela
provavelmente vai passar a tarde
inteira chorando. E como ele acha
que

todas são iguais.

Tudo isso passou na minha cabeça


como um raio e eu virei o rosto
bem no momento em que sua boca

iria tocar a minha.

- Joshua... – Eu suspirei, sem saber


o que falar.

Ele se afastou na mesma hora,


levantando a sobrancelha, com cara
de interrogação.

- Eu não vou beijar você. – Eu


disse cautelosamente e ele abriu a
boca pra responder, mas eu o

cortei. – Pelo menos não agora, não


só te conhecendo a menos de uma
semana e não assim, depois de

ter brigado com sua mais nova


peguete e acabado de terminar meu
namoro. – Eu disse, tentando

parecer a mais sincera o possível,


mesmo que a ultima frase fosse
carregada de mentira.
- Então você não quer me beijar? –
Ele disse, meio sem entender.
Claro, alguém como ele não deve

está acostumado em receber um


não.

- Não é que eu não queira, é que... –


Eu comecei a responder, mas, para
minha surpresa, ele sorriu.

- Você é a primeira garota que


recusa um beijo meu...

Eu corei.

-... Eu adorei isso. – Ele completou


e eu olhei pra ele, desconfiada. –
Não, sério, eu adorei saber que
você não vai ser tão fácil quanto
elas, eu adorei saber que você vai
virar o rosto pra mim quando

quiser e que não iria me beijar


assim, do nada. Eu adorei saber que
tenho um desafio pela frente.

Ele jogou todas essas palavras tão


rápido que eu demorei um segundo
para entender o que ele queria

dizer com isso. E um sorriso surgiu


na minha boca quando eu entendi.

- Você não pode tá falando sério...


Ele se levantou do balanço e me
puxou pela mão, para eu me
levantar também.

- Nunca falei tão sério na minha


vida.

Sua mão segurou a minha e


começamos a andar pelo enorme
jardim. Quando eu vi uma figura
vindo

na nossa direção. De longe só dava


para ver o cabelo preto e os olhos
verdes-mar.

- Joshua! – O Michael gritou


enquanto chegava perto de onde
estávamos.

- Fala gatinho! – O Joshua


respondeu sorrindo e estendendo a
mão para o Michael, que a apertou.

- Nosso pai tá chamando você.

O Joshua olhou para mim e depois


pro Michael.

- Onde ele tá?

- Lá na sala.

- Ok, vem comigo Susan. – O


Joshua disse e eu assenti com a
cabeça, meio irritada com a
presença

do Michael, mas por sorte ele não


parecia disposto a nos guiar e saiu
andando em direção à rua.

Assim que entramos na casa eu vi o


Senhor Fernando na sala, sua
postura impecável e seus olhos

azuis, exatamente iguais aos do


Joshua.

- Filho! – O Senhor Fernando disse,


se levantando da cadeira onde
estava e sorrindo de leve para o
Joshua. – Vá se arrumar, nós vamos
almoçar fora hoje.

Eu olhei pra o homem loiro na


minha frente e cheguei na conclusão
que eu não fazia parte de nós.

Soltei a mão do Joshua, que me


olhou com o canto do olho.

- A Susan vai também. – O Joshua


falou decidido, com aquele tom de
autoridade que apenas um

Hunter consegue atingir.

- Mas... – O Senhor Fernando


começou, olhando friamente para
mim.

- Pai, por que não?

O Senhor Fernando levantou uma


sobrancelha pro filho, seu rosto
demostrava sua irritação por estar

sendo contrariado.

- Porque ela não é uma Hunter. –


Ele disse lentamente e eu senti essa
frase como um tapa na minha

cara.

- Se ela não for eu não vou. – O


Joshua deu um passo a frente e
olhou bem no fundo dos olhos do
pai.

O Senhor Fernando o encarou por


um tempo.

- É sério, se ela não for você vai ter


que aguentar Michael, Nicolas e
Mamãe sozinho. Entende como

isso vai ser difícil? – O Joshua


disse em um tom de brincadeira,
mas eu vi o quanto ele estava

falando sério.

- Tá, ela pode ir. – O Senhor


Fernando falou depois de um
segundo e um sorriso surgiu no
rosto dele.

– Você sabe que eu odeio quando


você faz isso, não sabe?

- Sei. – O Joshua disse sorrindo.

- Então vão se arrumar.

O Senhor Fernando já estava se


retirando quando eu recuperei
minha voz e dei um passo na
direção

dele.

- E minha mãe?
Os dois loiros olharam para mim.
Quatro olhos azuis me olhando sem
entender o que eu tinha dito.

- Como assim? – O Senhor


Fernando disse voltando para o
lado do Joshua.

- Minha mãe tem que ir também. –


Eu disse tentando usar o tom do
Joshua, autoritário e confiante,

mas é claro que não saiu do jeito


que eu queria. Eu nunca mandava
nas pessoas, não sei fazer isso.

O Joshua olhou para o pai e depois


para mim.

- Bem, realmente não tem por que


não deixar... – Ele disse e o Senhor
Fernando olhou pra ele,

pensando.

- Deixe que eu falo com ela.

E se retirou, deixando eu e o Joshua


a sós.

- Você acha mesmo que ele vai falar


com ela? – Eu perguntei baixinho.

- Meu pai não é de mentir.


Eu assenti com a cabeça e fui direto
para o elevador.

- Não vai subir? – Perguntei para o


Joshua.

- Agora não.

O elevador abriu e eu entrei.

Assim que abri a porta do quarto eu


notei que nunca iria me acostumar
com o tamanho dele, com jeito

como tudo era enorme e caro – até


um pouco desnecessário.

Andei até a minha cama e vi o


Iphone que o Joshua me deu ontem.
Abri a lista de contatos e tinha

apenas um numero gravado, nem


precisei ler para saber que era o do
Joshua.

- Susan? – A voz da Dona Nicole


veio do outro lado da porta.

- Tá aberto.

Ela entrou e eu percebi o porquê de


todos os seus filhos serem
irritantemente lindos. Ótima
genética.

- o Fernando me disse que você vai


para o almoço, já sabe o que vai
vestir?

- Não...

Ela sorriu e foi até meu guarda-


roupa, assim que ela abriu eu quase
cai para trás. ESTAVA CHEIO

DE ROUPAS NOVAS!

- Mas... – Eu mal conseguia


acreditar.

- Eu fui com o Nicolas ao shopping


ontem e ele teve a ideia de comprar
umas roupas para você e
como eu sempre quis comprar
coisas para uma menina...

Eu corri até ela e a abracei.

- Meu Deus, não precisava!

Ela sorriu e tirou um vestidinho


azul com renda e me entregou.

- Use isso, a gente sai daqui a duas


horas. – Ela disse e me abraçou
outra vez antes de ir embora e me
deixar olhando aquelas roupas.

...

- VAAAAMOS!!!
Eu levantei da cama num pulo e vi
o Nicolas entrando no meu quarto,
gritando.

- Ainda faltam uns 10 minutos e...

- Eu sei, mas eu gosto de gritar. –


Ele disse e sorriu, deixando as duas
covinhas livres em usa

bochecha.

- Percebi.

Ele me puxou da cama pela mão,


me arrastando para fora do quarto e
apertou no botão do elevador.
- Aliás, eu adorei seu vestido – Ele
disse olhando para mim da cabeça
aos pés, eu me sentiria

envergonhada se um cara lindo


como ele me olhasse assim se eu
não soubesse que ele não gosta do

meu... Tipo.

- Obrigada anjo. – Eu disse


beijando ele na bochecha e
entrando no elevador que tinha
acabado de

abrir.

Fomos direto para o térreo.


- Fica ia, vou procurar minha mãe.
– Eu disse para o Nicolas e ele
assentiu com a cabeça.

Fui direto para a cozinha, mas em


vez de encontrar a mulher que me
deu a vida dei de cara com o

Michael.

- Oi. – Eu falei por pura educação.

Ele se virou pra mim e olhou pro


meu vestido.

- Você tá quase com cara de rica


com isso ai.
Eu revirei os olhos.

- Cala a boca.

- Só por que você mandou eu irei


continuar. – Ele disse cínico e eu
andei em direção a porta atrás

dele, mas ele me parou no meio do


caminho. – Por que você sempre sai
no meio da conversa?

- Porque sua voz é insuportável. –


Eu disse tirando a mão dele, que
impedia minha passagem.

- Você é tão ingrata, eu te fiz um


elogio e você nem pra agradecer!
- Não foi um elogio. – Eu me virei
pra encarar aqueles olhos verdes-
mar. – Nada que sai dessa sua

boca inútil é bom.

Ele deu um sorriso perfeito e eu


percebi que estava errada.

- Nem isso?

- Tanto faz, aliás eu estou


procurando minha mãe, não vou
perder tempo com você.

- Ela tá no porão.

- E onde fica o porão?


Mas, em vez de me responder ele
se virou e andou para fora da
cozinha.

- Procure. – Ele disse indo embora


e eu senti meu corpo ferver de
raiva. Qual a necessidade disso?

Fui para o elevador e vi o botão P,


que não tinha notado antes e
apertei.

Como acontece quando o elevador


vai para o andar do sótão as portas
se abriram em frente a uma

única porta.
- Mãe?

- Entre.

Eu abri a porta e meus olhos se


arregalaram com o tamanho do
quarto, maior do que o meu e com

uma organização impecável.

- Não vai para o almoço? – Eu


perguntei depois de abraçar ela.

- Não filha, na verdade eu tenho


um... encontro hoje.

Eu quase dei um grito.


- Conte direito! – Eu falei sem
conseguir conter a animação. Desde
que meu pai morreu minha mãe

nunca mais olhou para outro


homem, e isso já faz anos.

- Não é nada demais... – Ela disse


corando.

- Diga logo mulher!

- Lembra do Robert?

- O jardineiro lindo dos Barbosas?

- Esse mesmo, então, ele também


foi demitido e agora está
trabalhando para a mãe da Dona
Nicole.

- Como você sabe tudo isso?

- A casa dela é aqui do lado e


ontem eu passei lá e dei de cara
com ele e... Bem, ele me chamou
para sair.

Eu dei pulinhos de felicidade e


abracei ela de novo. Eu adorava o
Robert, até por que além de ele

ser um moreno de olhos dourados


ele sempre foi gentil e educado
comigo e com a minha mãe.
Eu sorri para minha mãe. A pele
morena e o cabelo ondulado e
castanho, da mesma cor dos olhos

brilhantes... Minha mãe era uma


mulher tão linda que poderia muito
bem parar o transito, sorte do

Robert.

- Então eu vou indo mãe. – Eu disse


indo em direção à porta. – Te amo,
ok?

- Também de te amo. – Ela falou e


eu sai do quarto.

Voltei para o térreo e vi que todos


os Hunter estavam me esperando.
Corei na mesma hora.

- Desculpa a demora, é que...

- Tanto faz. – O Michael me cortou


e a Dona Nicole lançou um olhar de
seja gentil para ele.

- Bem, vamos? – O Nicolas disse


vindo na minha direção e
colocando o braço no meu ombro.

O Joshua fuzilou ele com o olhar.

- A Susan vai no meu carro. – Ele


disse olhando para o Nicolas, a voz
em tom de desafio e eu tive
vontade de começar a ri... Mal sabe
ele que o Nicolas é de outro time.

- Tá, o resto vem comigo. – O


Senhor Fernando disse e todos
assentiram.

O Joshua fez questão de se colocar


entre eu e o Nicolas enquanto
andávamos até o carro preto dele.

- Tchau, a gente se ver lá! – O


Nicolas falou e acenou para mim e
para o Joshua enquanto entrava no

carro vermelho do pai.

Observei o carro partindo e senti a


mão do Joshua tocando a minha.

- Vamos?

Eu fiz que sim com a cabeça e


esperei ele abrir a minha porta.

- Acho que deixei você mal


acostumada. – Ele disse sorrindo e
eu revirei os olhos.

- Você fala como se eu tivesse


culpa.

- Você fala como se eu não


adorasse isso.

Eu ri e ele piscou pra mim antes de


entrar no carro.

- Vamos pra onde?

- Se eu conheço bem meu pai nós


vamos para aquele restaurante
italiano onde as garçonetes são

todas lindas e dão em cima de você


enquanto te serve.

- Com quantas delas você já ficou?


– Eu perguntei meio irritada.

- Umas doze.

- JAMES!
- Brincadeira, no máximo umas
quatro e já faz tempo, não precisa
se desmanchar em ciúmes. – Ele

disse e eu revirei os olhos de novo.

- Não é ciúme.

- E é o que? – Ele falou enquanto


parava no sinal vermelho e se
virava para olhar pra mim.

- Surpresa.

Ele sorriu e uma covinha apareceu


na sua bochecha, um pouco menos
profunda que as do Nicolas,
mas mesmo assim irritantemente
fofa.

- Sei... Bem, quando começam suas


aulas? – Ele disse e se virou de
novo para frente, pisando fundo

no acelerador quando o sinal ficou


verde.

- Daqui a dois dias.

- E você tá nervosa?

- Um pouco... Pelo menos eu já


conheço três pessoas.

- Três? – Ele disse e eu notei sua


sobrancelha se levantando.

- Nicolas, Michael e o Eduardo.

- Quem é esse?

- O ruivo que eu conheci quando fui


comprar meu material escolar, ele é
bem legal.

- Hm.

- Quem está com ciúmes agora? –


Eu disse rindo e ele freou o carro.

- Então você admite que estava com


ciúmes? – Ele falou se virando para
me encarar.
Eu corei.

- Ah, só dirija.

Ele riu e fez o que eu disse. Nem


deu tempo de um silencio, pois em
menos de um minuto ele já

estava estacionando.

- Chegamos.

Eu tirei o cinto e ia abrir a porta


quando ele segurou minha mão.

- Me deixe ser um cavalheiro. – Ele


disse e saiu do carro, dando uma
corridinha para chegar rápido
do meu lado e abrir a minha porta.

- Você é tão bipolar.

Ele sorriu.

- Sei disso.

Ele se virou, eu o segui até a


entrada do restaurante de luxo.
Olhei em volta e vi que todos
estavam tão bem vestidos que eu
agradeci mentalmente ao Nicolas e
a Dona Nicole por terem comprado
uma

roupa apropriada para mim, se não


eu com certeza me sentiria fora da
rodinha.

- Aqui! – Ouvi a voz animada da


Dona Nicole vindo do fim do
restaurante e andei ao lado do
Joshua

até lá.

Todas as mulheres no local se


viraram para olhar pra ele, mas ele
parecia completamente indiferente

a isso, não pude deixar de sorrir.

Eu me sentei ao lado da Dona


Nicole e o Joshua do meu lado, em
frente ao Nicolas e o Michael, com
o Senhor Fernando na ponta da
mesa.

- Já fizemos o pedido. – O Senhor


Fernando nos informou e o Joshua
assentiu com a cabeça.

- Agora deixem- me contar como


foram as coisas no trabalho hoje...
– A Dona Nicole começou a

dizer animada e eu vi o Senhor


Fernando sorrindo com o canto da
boca.

Então ela começou a contar todas


as coisas que aconteceram e eu,
assim como todos os outros, ri

com o jeito animado dela.

Depois de uns 10 minutos as


garçonetes chegaram, duas loiras
altas e bonitas. Mereço. Elas

colocaram os pratos na mesa, uma


delas – a de olhos azuis – olhando
fixo para o Senhor Fernando,

mordendo o lábio inferior.

- Mais alguma coisa? – A outra


loira, com os olhos esverdeados,
falou olhando para o Joshua, que
nem parecia notá-la.

- Não, obrigado. – O Nicolas


respondeu e as duas olharam para
ele, com aquele ar de flerte.

- Tem certeza? – A de olhos azuis


disse se virando para o Senhor
Fernando, ignorando

completamente a Dona Nicole. – O


que você quiser.

- Isso não te incomoda? – Eu


sussurrei o mais baixo o possível
para a Dona Nicole.

- Se elas fossem valem


minimamente a pena, não acha que
seria elas as casadas com três
filhos? –

Ela respondeu baixinho.

Eu sorri e vi as duas garçonetes


indo embora.

- Vocês duas só de conversinha... –


O Michael disse olhando
desconfiado pra mãe.

A Dona Nicole revirou os olhos.

- Eu sempre quis ter uma filha


mulher para ficar de conversinha.
- Então não somos o suficiente? – O
Joshua disse fingindo estar
ofendidíssimo.

- Deixe de viadagem. – O Senhor


Fernando disse, mas o seu tom não
era de brincadeira.

Olhei para o Nicolas. Ele abaixou


os olhos e eu senti um aperto no
coração.

- Relaxe pai, viadagem é a ultima


coisa que eu tenho. – O Joshua
disse rindo.

- Eu sei, filho viado eu não tenho


não!

O Nicolas se levantou e todo


mundo olhou pra ele.

- Vou no banheiro, já volto.

E saiu.

- Vai ver ele ficou ofendido quando


você disse que não tinha filho gay
e... – O Michael começou a

dizer rindo.

- Nem brinque com isso. – O


Senhor Fernando o cortou.
Eu respirei fundo.

Todos começaram a comer em


silencio e depois de um tempinho o
Nicolas voltou a mesa, o rosto não

demostrava nenhuma emoção e eu


me perguntei como ele conseguia
fazer isso.

Foi então que um casal entrou no


restaurante, todos se viraram para
olhar. A mulher devia ter uns 20

anos e um longo e loiro cabelo, que


caia ondulado até a cintura, ela
tinha um par de olhos verdes
brilhantes e uma pele bronzeada.
Ao lado dela estava um moreno
alto, de olhos azuis e lindo tipo Ian
Somerhalder.

O Joshua levantou a cabeça e


quando seus olhos encontraram os
da loira ela seu sorriso
desapareceu.

Eles vieram na nossa direção, a


loira visivelmente irritada.

- Joshua! – O moreno alto disse


sorrindo.

- Diogo, tudo bem? – O Joshua


respondeu se levantando e
cumprimentando ele. – Esses aqui
são

meus irmãos, meus pais e a Susan,


ela tá morando com a gente.

O tal Diogo se virou pra mim e


lançou um sorriso, eu retribui.

- Não vai apresentar? – A Dona


Nicole perguntou.

- Esse é o Diogo, amigo meu e essa


é a Jú... – Ele levantou uma
sobrancelha pra ela, que parecia

suplicar pra ele calar a boca. – A


namorada dele.

Todo mundo se cumprimentou


sorrindo e depois eles foram
embora, indo sentar na mesa da
frente.

O resto do almoço passou rápido.


Eu não pude deixar de notar que a
loira não parou de olhar pro

Joshua em nenhum momento.

...

- Eai, o que você achou? – O


Joshua perguntou assim que
entramos no carro.
- Adorei, só não entendi qual era a
daquela tal de Jú...

- Ah. – o Joshua disse sem se virar


pra mim. – Ela vivia traindo o
Diogo comigo no começo do

namoro deles.

- Que tipo de amigo você é? – Eu


perguntei sem acreditar.

- Eu não sabia que ele era


namorado dela e na época nem
éramos amigos na verdade... Longa

historia.
- Tenho tempo.

Ele sorriu e balançou a cabeça


negativamente.

- Depois eu te conto, ok?

- Tá.

Ele colocou um CD de rock e


ficamos ouvindo até chegarmos em
casa.

Eu abri a porta, mas ele não me


seguiu.

- Não vai entrar?


- Vou passar o fim de semana na
praia...

- Ah. – Eu disse meio


decepcionada.

- Domingo a noite eu tou de volta e


te levo pra escola segunda, pode
ser?

- Claro, tente não beber e pegar


todas nesses dois dias, pode ser?

- Se você insiste... – Ele disse


sorrindo e mandando um beijo antes
de eu chegar à porta e entrar na
casa.
Queria saber se ele iria mesmo
controlar o fogo nesse fim de
semana, queria saber a historia

completa dele com aquela Jú e


também queria saber se algum dia
eu iria me acostumar com aqueles

olhos azuis brilhantes.

9. Escola JK

Assim que eu entrei na casa, vi o


Nicolas deitado no sofá, assistindo
TV.

- Oi Nick, tudo bem? – Eu disse me


sentando no braço do sofá e indo
mexer nos cachos dele.

- Mais ou menos, tava aqui


pensando... O que vamos fazer
nesse fim de semana?

- Não faço a menor ideia.

- Que tal se a gente fosse pro


shopping amanhã e passasse o dia
todo lá?

- Quem faz parte do a gente? – Eu


perguntei, me lembrando que ele
poderia chamar o Michael

também.
- Eu, você e o Felipe, que tal? – Ele
respondeu e eu senti sua voz
ficando mais baixa ao falar do

Felipe e com um toque de tristeza.


É claro. Eu quase tinha esquecido
do que aconteceu no almoço.

- Tá ótimo, ei Nicolas... Bora


conversar no meu quarto?

Ele olhou pra mim e eu vi pelo seu


olhar que ele entendeu o que eu
estava querendo dizer.

- Claro – ele disse se levantando e


indo para o elevador.
Eu o segui e subimos em silencio
até o meu quarto. Assim que a gente
entrou eu fechei e tranquei a

porta.

- Quer desabafar? – Perguntei indo


me sentar na cama.

- Sobre o que? – O tom de voz dele


era indiferente, quase alegre, mas
seus olhos pareciam brilhar de dor.

- O almoço...

- Ah.

- Como você consegue se manter


tão calmo?

- Anos de prática.

- Nick...

Ele olhou para mim por um tempo,


pensando no que dizer. Então ele se
deitou no meu colo.

- Meu pai sempre foi assim, desde


que eu era criança... – Ele fez uma
pausa e respirou fundo. – Ele

sempre ficava irritado com


qualquer demonstração de
sensibilidade, no começo eu não me
importava, nem entendia na
verdade, mas então, quando eu
descobri quem eu era, eu percebi o
quanto

ele me criou de forma


preconceituosa e entendi por que
para ele era tão errado eu brincar
mais de

boneco do que de ficar brigando


com meus irmãos...

Eu suspirei, não sabia o que dizer.


Não sabia como confortar ele.

- ...É claro que ele nunca teve esse


problema com o Joshua ou com o
Michael, os dois eram

apaixonados por tudo que tinha


violência e ação e, assim como meu
pai, ficavam com raiva quando

eu simplesmente dizia que não


estava afim de sair por ai e subir
em arvores para depois se jogar no

chão, o Michael muito mais que o


Joshua. Mas, olha, vamos deixar
isso pra lá ok? Eu sempre dei

meu jeito e vou continuar dando.


Bem, até o dia em que eu não
aguentar mais.

[...]

Acho que cai no sono, pois acordei


ainda o vestido de renda azul. O
resto do dia anterior acabou

com eu tentando dar conselhos ao


Nicolas, mas eu não fui muito boa,
é claro. Se eu não consigo

ajudar nem a mim mesma quem dirá


ajudar outras pessoas?

Dei uma olhada pela janela e vi que


o sol já estava no meio do céu.
Tomei um banho rápido e
coloquei uma das roupas lindas que
o Nicolas e a Dona Nicole tinham
comprado pra mim.

Mal havia terminado de colocar as


sapatilhas quando o Nicolas entrou
voando no meu quarto.

- Vamos! – Ele disse animado, me


arrastando para fora do quarto.
Parecia outra pessoa. Ele era

assustadoramente forte.

[...]

O fim de semana passou voando e


quando eu me dei conta já estava na
tarde de domingo. O passeio

com o Felipe e o Nicolas foi ótimo,


eles me contaram sobre como era
estudar na escola JK, mas isso

não me deixou nem um pouco


menos ansiosa para amanhã.

Desci as escadas correndo e fui


direto para o jardim, tentando parar
de pensar no que iria acontecer
segunda.

Então ouvi um barulho de um carro


freando e me virei em direção ao
portão. Em menos de um minuto
ele se abriu e um cara alto e loiro
entrou. Joshua. Meu coração deu
um salto e eu o repreendi por ter
feito isso.

- Oi – Ele disse vindo na minha


direção e me dando um abraço –
como foi o seu fim de semana?

- Bem menos agitado que o seu. –


Eu disse dando uma olhada em sua
roupa amassada e com vários

cheiros de perfumes diferentes.

- O que te leva a pensar que meu


fim de semana foi animado? – Ele
perguntou passando o braço pelo

meu ombro.

- Que tal o fato de que você é o


Joshua?

- É um ótimo argumento na verdade


– Ele respondeu sorrindo. – Mas
nem foi tanto assim, todas as

garotas que estavam na casa de


praia já tinham passado uma noite
comigo e eu não gosto muito de

repetir a dose, então eu ignorei a


maioria.
A maioria.

- E qual delas você não ignorou?

Ele sorriu.

- Por que você quer saber?

- Curiosidade, posso não?

- Não. – Ele disse se virando pra


mim e me encarando.

- Ok, não faço questão.

- Melhor ainda, agora vamos mudar


de assunto, me conte o que você fez
enquanto eu estava fora.
- Não. – Eu rebati dando as costas
pra ele e indo em direção ao
portão, irritada por causa da

conversa. Ouvi ele chamando meu


nome, mas não me virei e ele não
me seguiu.

Nunca tinha andando pela rua dos


Hunter, mas como era meio que um
condomínio fechado tinha

segurança de sobra.

- Susan!

Eu me virei e vi a Dona Nicole,


sorridente e animada como sempre.
- Oi! – Eu disse dando um abraço
nela e sorrindo.

- Ansiosa para amanhã?

- Você não faz ideia...

- Não precisa se preocupar! Tenho


certeza que o Michael vai dá um
jeito de te apresentar a todo

mundo sala de vocês. – Ela disse


confiante. Pelo jeito ela tinha a
menor ideia de como era o filho.

- Claro... Mas, como você sabe que


vamos ficar na mesma turma?
- Eu não sei, mas se não ficarem eu
dou um jeito nisso rapidinho! – Ela
disse dando uma piscadinha e eu
sorri.

- Obrigada. De verdade, minha mãe


disse que a senhora fez questão de
me colocar na JK – Eu disse

me lembrando do dia em que minha


mãe me deu a noticia de que foi
contratada pelos Hunter.

- É claro que fiz, você agora é uma


de nós e tem que ter todos os
direitos.
Eu olhei para os olhos verdes-mar
da mulher na minha frente.

- Obrigada de verdade, nem todo


mundo pensaria assim.

- Sei disso... – Ela disse e eu senti


um quê de tristeza na voz dela. Me
perguntei se estaria se

referindo a algum de seus filhos.

- Enfim, o que você faz por aqui? –


Eu perguntei para mudar de assunto.

- Nada, o Fernando viajou por


causa do trabalho e meus filhos
estão todos ocupados, então decidi
andar um pouquinho.

- Se quiser eu posso fazer alguma


coisa com você e...

- PERFEITO! – Ela gritou e eu


quase morri de susto enquanto ela
me arrastava pela mão.

- O que vamos fazer? – Eu disse


seguindo ela.

- Vamos na casa da minha mãe,


lembrei que ela ainda não te
conhece!

Ela me levou até uma mansão do


outro lado da rua, maior do que as
do Hunter em largura, mas não

em comprimento – pois só tinha


dois andares – e apertou um botão
em um controle, fazendo os

portões se abrirem.

- Filha, que surpresa!

Eu olhei para frente e vi uma


senhora na casa dos 60 anos
sentada numa cadeira de balanço do
outro

lado de um enorme jardim, tão


lindo quanto o dos Hunter.
- Mãe, essa é a Susan, ela é filha da
Melissa. – A Dona Nicole disse
quando chegamos perto da

senhora na cadeira, ela tinha olhos


tão negros que pareciam só existir
pupila, nada de íris. Mas eles
brilhavam tanto que pareciam uma
noite estrelada.

- Muito prazer. – Eu falei meio sem


graça e estendi a mão para ela.

- O prazer é todo meu! – Ela


respondeu apertando minha mão, o
tom de voz alegre era exatamente
igual ao da filha. – Você é tão linda
quanto sua mãe.

- Obrigada, mas qual o nome da


senhora, Dona Hunter?

- Ah não... Eu não sou uma Hunter!


– Ela disse rindo. – Meu nome é
Eliza Montenegro.

Eu sorri.

- Espere um segundo. – A Dona


Eliza disse se virando para casa. –
PAOLA, VENHA AQUI!

Uma moça morena e bonita que


tinha no máximo 24 anos veio
correndo.

- O que deseja Senhora


Montenegro? – A voz dela era doce
e prestativa, mas quando seus olhos

verdes encontraram os meus alguma


coisa mudou na expressão dela. Ela
me fuzilou com o olhar.

- Traga alguma coisa para nós


comermos.

A tal Paola assentiu com a cabeça,


sem desviar os olhos dos meus e
voltou para dentro da casa.

Cinco minutos depois ela voltou


com uma bandeja cheia de biscoitos
e xicaras de chá. Enquanto

servia, seus olhos quase faziam eu


agradecer a Deus por ela não ter
uma arma. Eu só não entendia

por que de tanto ódio.

- Então, me conte de você.

Eu me virei para a senhora na


minha frente e comecei a falar
sobre o básico, mas elas ficaram

animadas e começaram a contar


historias sobre si mesmas também.
Depois de quase duas horas
conversando a Dona Nicole se
despediu e voltamos para casa.

[...]

Acordei ansiosa.

Dei uma olhada no relógio e vi que


eram 6:13, respirei aliviada,
minhas aulas só iriam começar

daqui a 47 minutos.

Depois de fazer minhas


necessidades abri o guarda-roupa e
comecei a procurar a farda do
colégio.
Como eu não estava conseguindo
achar comecei a jogar as roupas
para a cama, mas nem sinal de

nada que se parecesse com um


fardamento.

Foi então que eu ouvi batidas na


porta.

- Entre. – Eu disse sem me virar.

Ouvi o barulho da porta se abrindo


e senti um cheiro de perfume bom e
caro invadindo o quarto.

- Que bagunça é essa?


Meu corpo se enrijeceu com aquele
tom de voz arrogante e autoritário.
Michael, o mais insuportável

dos Hunter.

- Não é da sua conta! – Eu quase


gritei para ele enquanto me virava
para encarar aqueles olhos

verdes.

- Claro que é, você está atrasando


todo mundo com essa demora. – Ele
disse irritado e olhou em

volta. – O que você tá procurando?


- A farda do colégio...

Ele riu.

- Não usamos farda na JK, não é


como aquela sua escola publica de
gente pobre. – Ele cuspiu essas

palavras e eu senti meu sangue


fervendo de raiva.

- Pelo menos lá não tinha um idiota


cretino como você! – Eu falei
fechando o punho.

- Mas tinha uma vadia escrota que


nem você e... Olha só! Agora a JK
agora também tem.
Nós nos fuzilamos com os olhos.

- Saia do meu quarto!

- Seria uma honra, mas minha mãe


mandou avisar que você só tem
mais 10 minutos antes de irmos.

Então seus olhos pousaram no meu


corpo e eu corei na mesma hora. Eu
estava só de toalha.

- Obrigada por avisar, a-agora saia


daqui. – Eu disse com raiva, mas
minha voz vacilou um pouco.

- Claro. Bom dia para você


também. – Ele disse se virando e
indo embora.

Bom dia seu filho da puta. Só não tá


melhor porque você ainda não caiu
num poço.

Acabei pegando qualquer coisa.


Tudo dentro do meu guarda-roupa
era adoravelmente lindo.

Obrigada Nicolas, você é demais.

Desci as escadas correndo e acabei


esbarrando em alguém no ultimo
degrau.

- Ei, cuidado!
Olhei para cima e os olhos azuis
dos Joshua estavam levemente
arregalados. Fiquei vermelha e me

afastei dele na mesma hora.

- Desculpa...

Seus olhos encontraram os meus e


ele sorriu.

- Desculpa eu. Aliás, respondendo


sua pergunta feita ontem: Eu só
fiquei com uma garota, uma tal de

Paola que depois ficou puta comigo


por que... – Ele pensou um pouco,
acho que tentando decidir se
mentia ou não. Ele preferiu omitir.
– Eu fiz umas coisas que deixariam
qualquer pessoa p da vida.

Paola? Será que isso tinha alguma


ligação com a empregada da Dona
Eliza? Não, não pode ser.

- Entendo, e você pediu desculpas


depois?

Ele sorriu de um jeito malicioso.

- Fiz tudo que poderia para ele me


perdoar.

Eu revirei os olhos. Ninguém no


mundo conseguia dar um sorriso
pervertido como ele.

- E deu certo?

- Por sorte não.

Eu sorri e ele me acompanhou até a


mesa para eu tomar café com o
Nicolas, que estava observando

nossa conversa.

- Daqui a 5 minutos eu volto para


levar vocês. – O Joshua disse se
virando e correndo para a escada.

- Eai, ansiosa? – O Nicolas disse


assim que o Joshua saiu.
- Acho que ansiosa é fraco demais
para o que eu tou sentindo. – Eu
falei enquanto fazia um sanduiche
com as coisas na mesa.

- Tudo vai dá certo e relaxe, eu sei


que o Michael é... Hum... Difícil.
Mas, ele não vai fazer merda com
você na sala, e quando der
intervalo eu vou te apresentar meus
amigos.

Eu sorri, era bom saber que tinha


alguém do meu lado.

- Obrigada Nick, você é ótimo.


Ele revirou os olhos.

- Sei disso.

Nós rimos até o Joshua chegar


girando a chave do carro com o
dedo do meio.

- Vamos crianças. – Ele disse


abrindo as portas de um jeito
teatral.

- Eu vou na frente! – O Nicolas


disse animado e o Michael levantou
uma sobrancelha.

- Por que você sempre usa esse tom


de fêmea quando fica alegre? – Ele
perguntou irritado para o

Nick.

- Vai se foder. – O Nicolas


respondeu, mas eu sabia que ele
estava fingindo essa raiva. Ele
nunca iria falar assim.

- Meninas, tá bom de brigar. – O


Joshua encerrou a discussão e deu a
partida no carro.

Sentei o mais longe o possível do


Michael, mas por sorte ele não
parecia muito disposto a ficar perto
de mim.
- Que horas é a faculdade? – O
Nicolas perguntou enquanto o
Joshua ligava o som.

- Daqui a duas horas.

- Você faz faculdade de que? – Eu


perguntei por curiosidade.

- De como não ser uma intrometida.


– O Michael murmurou irritado,
quase inaudível. Mas eu ouvi.

- Não falei com você Michael!

- O que? – O Joshua perguntou


confuso.
- Nada não. – Eu bufei. – Me
responda.

- Ah, sim... Eu faço Pedagogia.

Minha mente demorou alguns


segundos para raciocinar. Joshua
queria ser professor?!

- Legal... – Eu disse sem saber o


que falar.

- É, imagina ter um professor


gostoso como eu, desse ser ótimo.

- Parou Joshua, você não é tudo


isso. – O Michael disse revirando
os olhos.
- Sou muito mais na verdade, porém
teremos que acabar nossa conversa
por que... – Ele fez uma

manobra perfeita e estacionou o


carro. – Chegamos.

Eu abri a porta do carro e sai


primeiro. Dei uma olhada em volta
e vi que boa parte dos alunos

estavam chegando e todos estavam


olhando pra mim.

Então o Nicolas e o Michael saíram


do carro também e eu consegui ouvi
um cochicho no ar. Aposto
que era algo como: Quem é essa
garota nova e por que ela chegou
com dois garotos perfeitos?

Mas ignorei isso e andei ao lado do


Michael e do Nicolas até chegar no
portão principal.

- Michael, leve a Susan para a sua


sala, se vocês não forem da mesma
turma vão descobrir. – O

Nicolas disse e depois foi embora,


para o outro lado de um campo
enorme. Tentei ver quem estava

no grupo de amigos deles, mas não


consegui reconhecer ninguém. Na
verdade sim, um garoto de

cabelo liso e castanho foi o


primeiro a abraça-lo. Felipe.

Eu sorri sem pensar, então parei,


por que percebei que o Michael
estava olhando pra mim.

- O que você quer? – Eu perguntei


fria.

- Absolutamente nada, agora


vamos. – Ele falou irritado como
sempre e subiu as escadas que

estavam do lado esquerdo do


corredor.

Eu o segui até chegarmos em um


outro corredor enorme, cheio de
gente. Cheio de gente com cara de

rica.

O Michael entrou na sala com a


letra A do lado e eu fui atrás. Dei
uma olhada em volta e meu

coração estava quase saindo pela


boca quando eu o vi. Um alto de
olhos castanhos e cabelos

ondulados e vermelhos, Eduardo.


Um sorriso surgiu no meu rosto sem
minha permissão e eu

simplesmente não consegui tirar os


olhos dele. Acho que ele sentiu,
pois parou de conversar com

uma garota morena e olhou pra


mim.

- Susan! – Ele disse animado e veio


me dá um abraço. – Vem, deixa eu
te apresentar meus amigos.

Eu sorri e ele me puxou pela mão


até um grupo com umas cinco
meninas, todas usavam casaco rosa

na cintura.
- Seguinte: essa é a Susan, sejam
legais. – Ele disse e todas elas
sorriram para mim, mas depois

começaram a trocar olhares. Então


eu me lembrei que vi elas na
entrada, elas me viram entrando
com

os Hunter.

- Eu sou a Clara. – Disse a mais


alta dela, com um cabelo longo,
liso e castanho. Mesmo sorrindo,

seus estavam frios para mim...


Acho que ela gosta do Michael, ou
do Nicolas, ou, na pior das

hipóteses, do Joshua. – Essa é a


Beatriz, mas chama de Bia. – Ela
apontou para a menina branca com

um cabelo longo negro e olhos da


mesma cor, ela tinha cara de
inteligente. – Essa é a Amanda. –

Agora ela apontou para uma menina


descendente de japoneses, com um
cabelo liso com as pontas

onduladas, tão preto quanto os


olhos meio puxados. –Essa é a
Isabela e essa a Iza. – As duas
garotas acenaram, as duas tinham os
olhos e os cabelos pretos e a pele
branca, mas a Iza tinha um cabelo

mais liso e era a mais baixinha


delas.

- Prazer em conhecer! – Eu disse


apertando a mão de cada uma delas
e vi o Eduardo sorrindo para

mim.

- E daqui a pouco a Monica chega,


você precisa conhecer ela! – A
Amanda disse e eu sorri com o

tom de voz animado dela.


Dei uma olhada no Edu e ele
parecia estar sorrindo ainda mais
por causa da Monica.

- Então, vamos a pergunta que não


quer calar... – A Isabela disse
cautelosamente, todas as meninas

olharam para ela. Menos a Clara,


que tava olhando para algo atrás de
mim. – Por que você chegou no

carro dos gostosos?

Eu abri a boca para responder, mas


então senti o cheiro de um perfume
conhecido.
- Porque a mãe dela trabalha para
nós. – Eu me virei na mesma hora,
vendo um Michael com aquele

ar superior ridículo dele. – E


obrigado pelo “gostosos”.

A Isabela corou na mesma hora e a


Clara parecia prestes a desmaiar,
mas eu o fuzilei com o olhar.

Ele notou e levantou uma


sobrancelha.

- O que, não era para contar? – O


Michael perguntou irônico.

- Tanto faz, não tenho vergonha do


emprego da minha mãe. – Eu disse
na defensiva.

- E por que a cara de raiva? – Ele


disse se aproximando de mim. Eu
quase conseguia ouvir a

respiração das meninas falhando.

- Por que ver você deixa qualquer


um sem saco.

Olhei para o lado sem acreditar.


Era o Eduardo, usando um tom frio
que não combinava nem um

pouco com a cor quente e linda do


cabelo dele.
- Enquanto olhar para você deixa
qualquer um com ânsia de vomito,
foguinho. – Eles se encararam e

todo mundo da sala começou a se


juntar em uma roda.

- Tava com saudade das tretas


diárias! – Ouvi um garoto murmurar
atrás de mim.

- Foda-se você. – O Michael


respondeu sem desviar os olhos do
Edu.

- O que você disse? – Eu me virei e


vi que o garoto atrás de mim era um
loiro um pouco mais alto

que eu, com brilhantes olhos


verdes, não tão bonito quanto o
Joshua, mas ainda assim
irresistível. Ele se aproximou do
Michael.

- Ignore ele, Júlio. – O Edu disse.

- OI GENTE!!

Todo mundo se virou. Uma loira


dos olhos azuis, com um batom
vermelho forte que parecia
combinar

perfeitamente com a saia e a blusa


florida dela entrou na sala. Seu
sorriso desapareceu assim que ela
viu o que estava acontecendo.

- Brigando de novo? Vocês não


cansam não? – Ela disse irritada e
andando até nós.

- A culpa não é do Michael... – A


Clara falou baixinho e o Edu, que
estava corado por causa da loira
que entrou, se virou pra ela.

- E é de quem? – Ele perguntou.

- Chega, não importa de quem é a


culpa, vocês vão parar por hoje.
Tão assustando os novatos! – Ela

disse olhando pra mim com


solidariedade.

- Ah, a Susan já se acostumou com


meu jeito, não foi? – O Michael
falou cínico.

- Como assim? – A loira perguntou.

- Ela é filha da empregada da minha


família, tá há uns quatro dias na
minha casa. – Ele falou com

aquele tom metido a besta e todo


mundo da sala olhou para mim, uns
com pena e outros com ar de
riso.

- Okay, eu me chamo Mônica,


prazer em te conhecer. – A loira
disse estendendo a mão e eu a
apertei.

- Oi crianças, vamos começar a


aula. – Um homem alto e meio
musculoso entrou. Ele tinha os
olhos

pretos um pouco puxados e um


cabelo liso penteado em um topete
da mesma cor, devia ter uns 26

anos. – Muito prazer aos novatos,


me chamem de Cavalcante. Sou
professor de química.

Todos se sentaram. As meninas


fizeram questão que eu sentasse
perto delas no lado direito da sala e

foi exatamente isso que eu fiz,


ficando na cadeira do lado do
Eduardo e muito, muito longe do

Michael.

- Quem é novato levanta a mão. – O


professor mandou.

Eu levantei a mão meio sem graça e


vi que só tinha outros três novatos
na sala.

- Digam seus nomes.

O professor apontou para um garoto


alto e com um nariz enorme.

- M-meu n-nome é Diogo, m-mas


podem me chamar de Junior. – Ele
disse vermelho de vergonha, sua

voz tremia tanto que eu tive que


fazer força para entender.

- Muito prazer Junior, seja bem


vindo! – O professor disse
gentilmente, abrindo um sorriso
branco e
perfeito para ele. - E você? – Ele
disse apontando para mim.

- Susan, Susan dos Alvez. – Eu


respondi e ouvi um barulho de
fofoca percorrendo a sala.

- Onde você estudava? – O


professor perguntou.

- Na 404. – Eu disse tentando ao


máximo não parecer envergonhada
por ter estudado na escola com o

maior índice de desaprovação no


ENEM do Brasil e com o maior
numero de adolescentes gravidas.
- Só podia! – Ouvi alguém gritando
do outro da sala. Do lado do
Michael da sala. O que provocou

alguns risinhos da turma.

Fechei o punho, irritada pelo


comentário.

- Seja bem vinda a JK, acho que


você vai adorar. – O professor
disse sorrindo e eu sorri também,

aliviada.

[...]

- Não acredito que você estudava


na 404! – A Mônica falou em
choque enquanto eu, ela e o
Eduardo

andávamos pelo campo enorme.

- Nem é tão ruim quanto as pessoas


dizem... – Eu menti, não queria que
falassem mal do meu antigo

colégio, mesmo que ele fosse uma


bosta.

- Concordo plenamente, minha irmã


tem uma amiga que estuda lá. – O
Eduardo falou e notei que sua

mão roçava a mão da Mônica. – O


bebê dela nasce esse mês! – Ele
completou rindo e eu ri também,

não tinha como fugir disso.

- Susan!

Eu me virei e vi o Nicolas
acenando para mim, ao lado dele
estava o Felipe, uma ruiva
extremamente

bonita e duas morenas idênticas.

- Nick! – Eu corri para abraçar ele


e quase ia abraçando o Felipe,
quando me lembrei que isso
poderia gerar perguntas como: O
que o Felipe fez na casa dos
Hunter?

- Essas são as gêmeas Joana e


Júlia, de meigas só a cara! – O
Nicolas disse rindo e as duas

reviraram os olhos de uma forma


assustadoramente sincronizada, mas
depois sorriram para mim.

- E essa é a minha irmã Jane! – O


Eduardo disse sorrindo e apontando
para a garota de cabelo

ondulado e longo, tão vermelho


quanto o do Eduardo e olhos verdes
brilhantes.

- Oi! – Ela disse animada.

Esse tom de voz animado. Jane...


Então meu cérebro chegou na
resposta. Era ela. A Jane Ruiva, a

garota que eu salvei de ter passar a


tarde toda chorando.

- Oi... – Eu disse sem acreditar que


era mesmo era. A Jane Ruiva era
irmã do Eduardo! Minha mente

estava a mil.
Conversamos sobre as férias por
um tempo, até que a Júlia – ou era a
Joana? Eu não conseguia

distinguir – disse que eles tinham


que voltar para a sala, pois estavam
preparando uma festa surpresa para
a professora de Matemática.

- Sua irmã é muito fofa! – A Mônica


disse para o Edu assim que eles
foram embora.

- Só não mais que você. – Ele disse


serio e eu quase cai pra trás com o
jeito direto e ousado dele.
Mas, em vez de corar ou coisa
parecida – o que eu com certeza
faria se um ruivo bonito como o

Eduardo falasse algo assim pra


mim – a Mônica riu e deu um
empurrão de leve no braço do Edu.

- Você não presta. – Ela disse rindo


e depois se virou para um grupo de
meninas do outro lado do

campo. – Eu vou indo, nos vemos


na sala!

Ela saiu correndo em direção ao


grupo, deixando eu e o Edu
sozinhos.

- Que cantada em. – Eu falei assim


que ela saiu. – Não sei como ela
não notou.

- Ela nunca nota. – Ele disse


desviando os olhos dos meus. –
Nunca mesmo.

- Eu posso te ajudar. – Eu disse,


lembrando que eu dava alguns
conselhos na minha antiga escola.

- Como?

- Posso ser sua cúpida, pode


confiar! Sempre dá certo.
Ele pareceu pensar um pouco.

- Quanto tempo para eu ter essa


garota de uma vez?

Eu pensei um pouco, tentando me


lembrar da rapidez que era o
começo de um namoro depois que
eu

começava a ajudar o garoto.

- Duas semanas no máximo, se você


seguir a risca.

Ele sorriu.

- Não é possível. – Ele disse sem


acreditar.

- O amor é como Deus: Para


consegui-lo, é preciso acreditar
nele. - Eu recitei uma frase que
tinha

lido meses atrás, em um calendário,


mas que combinava perfeitamente
com a situação.

- E se não der certo?

- Ai você vai ter uma historia para


contar pros seus netos. – Eu disse
sorrindo e ele sorriu também.

- Você é ótima.
- Sou mesmo.

[...]

O intervalo e as aulas passaram


rápido depois disso. Muitas
pessoas perguntaram meu nome.
Muitas

pessoas torceram o nariz pra mim.


Mas eu estava gostando da JK.

Quando o sinal da ultima aula tocou


eu me levantei sorridente. Nem
mesmo o Michael conseguiu

deixar esse lugar ruim, e olha que


só a existência dele já é um
problema.

Fui com as meninas para a porta do


colégio, elas falavam sem parar de
gente que eu não conhecia.

- Amanhã a Elena vem! Tou


morrendo de saudades dela. – A
Isabela falou e todas as outras

assentiram animadas.

- Quem é Elen...

Eu não consegui terminar a frase


por que um carro começou a
buzinar. Era o carro preto do
Joshua.
- Tenho que ir! – Eu disse indo em
direção ao carro.

Olhei em volta e vi o Michael e o


Nicolas estavam vindo também.
Todo mundo parou para olhar.

- Ai meu Deus. Eles são tão lindos.


– Ouvi uma das meninas
cochichando atrás de mim, mas não
me

virei, em vez disso dei uma


corridinha até a porta do
passageiro.

Eu já estava abrindo a porta quando


o Joshua saiu do outro lado, sua
postura impecável e seus olhos

azuis brilhantes tiraram a


respiração de todos.

- Posso? – Ele disse andando para


o meu lado do carro e abrindo a
porta para mim. – Nunca vou me

cansar disso.

Eu sorri pra ele.

- Obrigada, eu também não. – Eu


disse e ele riu.

- Oi Joshua. – O Nicolas e o
Michael disseram ao mesmo tempo
assim que entraram no carro.

- Eai, pegaram muitas menininhas


hoje? – O Joshua disse com aquele
tom malicioso.

- Não, ainda é o primeiro dia,


vamos com calma. – O Michael
disse na defensiva.

- Porra de calma! – O Joshua


rebateu rindo e dando a partida no
carro.

Assim que ele fez a volta eu pude


ver o rosto das meninas da minha
sala. Elas estavam em choque.

Sorri com isso.

[...]

- O que achou do primeiro dia de


aula?

Eu estava na casa da Dona Eliza,


ela me perguntou de um jeito fofo
que me deixava sem escolha se

não responder. Mesmo que já tendo


respondido essa pergunta um
milhão de vezes hoje.

- Foi ótimo, adorei a JK.


Ela sorriu e pediu detalhes. Sentada
naquela cadeira de balanço a Dona
Eliza parecia com a avó que

eu nunca tive, e eu a adorava por


isso.

Contei as partes importantes –


deixando de lado a briga do Edu
com o Michael – e ela era uma
ótima

ouvinte.

Só quando o céu começou a


escurecer eu me despedi dela e me
levantei para sair.
- Espera! – Uma morena com uns
30 anos correu para me alcançar. –
Eu sou a irmã da Paola,

trabalho aqui também. Meu nome é


Paula, mas todo mundo chama de P.

Eu sorri para P, então me lembrei


de uma pergunta que passou o dia
todo martelando minha cabeça.

- Então P... Você sabe me dizer por


que a sua irmã me olha como se
quisesse me matar? – Eu

perguntei da melhor forma possível


e o sorriso desapareceu do rosto
dela.

- Você não sabe?

- Não...

- Antes de ontem, ela estava numa


praia com o Joshua e... – Ela
diminuiu o tom da voz. – Ele gemeu
o seu nome quando estava na cama
com ela.

10. Surpresas

Minha respiração falhou. O que ela


queria dizer com isso?

Então meu coração acelerou. Ele


entendeu primeiro do que minha
mente.

- O que você disse? - Eu não


conseguia acreditar.

- O Joshua e a Paola estavam...


Bem, você sabe o que eles estavam
fazendo, então ele começou a

sussurrar seu nome e ela não


entendeu e mandou ele repetir e ele
disse... Hum... Ele disse que te

amava.

Meu coração estava a mil por hora,


eu não conseguia nem respirar
direito. Não podia ser verdade,

não faz o menor sentido. Era o


Joshua, o confiante, lindo,
pervertido e bipolar Joshua. Ele
não pode me amar, não tem logica.

- Não... Acho que ela ouviu errado.


– Eu disse tentando convencer a
mim mesma e controlar meu

coração.

- Você sabe que não. Bem, deixe eu


continuar: Então a Paola gritou com
ele e o Joshua percebeu a

merda que tinha dito e pediu


desculpas, tentou fazer com ela o
perdoasse usando aquele charme
que

todas nós sabemos que ele tem e


muito. Mas, não deu certo, por que
minha mãe não criou a gente pra

isso e ela saiu puta da vida da praia


e ligou pra mim, então eu disse que
sabia quem era você e contei que
você é a filha da Melissa, a
empregada dos Hunter.

Eu respirei fundo, tentando manter a


calma. O Joshua estava pensando
em mim enquanto ficava com a
Paola. Ele disse que me amava. Ele
disse que me amava. ELE DISSE
QUE ME AMAVA. Eu

simplesmente não conseguia pensar


em mais nada.

- Eu preciso falar com ela.

- Tem certeza que quer correr esse


risco? Ela odeia muito você. – A P
respondeu e eu sabia que ela

estava certa, sabia que quanto mais


eu mexesse nesse assunto mais
merda iria acontecer. Mas eu tinha
que saber sobre isso com detalhes.
Ele disse que me amava.

- Tenho certeza. – Eu disse


confiante.

- Ok, nós moramos aqui perto, num


puxadinho ao lado da casa da
Senhora Montenegro. – Ela apontou

pra uma casinha que ficava no lado


direito do enorme jardim da Dona
Eliza.

Nós andamos até o puxadinho cor-


de-rosa. Antes de abrir a porta, a P
se virou pra mim.

- Certeza absoluta? Ela pode ser um


pouco agressiva e...

- Absoluta.

Ela assentiu com a cabeça e abriu a


porta. A casa delas era pequena,
mais ou menos do tamanho da

sala dos Hunter, mas extremamente


organizada e limpa.

A Paola estava de costas para nós,


ajeitando um quadro na parede.

- Paola, temos visitas.

A morena se virou, seus olhos


castanhos estavam vermelhos,
assim como o seu nariz. Ela

provavelmente estava chorando por


causa do Joshua.

- O que ela está fazendo aqui? –


Seus olhos começaram a me fuzilar
no segundo em que me viram, e

seu tom era frio e furioso.

- Ela veio saber o que aconteceu


entre você e o Joshua, ela não tinha
a menos ideia do que...

- Mande-a sair, não estou a fim de


falar sobre isso. – A Paola cortou a
irmã no meio da frase,
enquanto isso seus olhos pareciam
prestes a me esfaquear.

- Por favor, eu preciso saber. – Eu


disse com toda a coragem possível,
tentando imitar o tom

confiante que ouvia o Joshua usar.

Ela olhou pra mim, pensando.

- Vamos Paola, a menina não tem


culpa. – A P falou em minha defesa.

A Paola respirou fundo, irritada.

- Tá, mas não com você aqui P. Eu


quero conversa a sós com ela.
Eita porra, agora eu me fudi.

- Mas Paola... – A P começou


dizendo.

- Ou isso ou eu não falo nada.

Merda. Não tinha escolha.

- Tudo bem, volte daqui a pouco P,


obrigada por tudo. – Eu disse quase
como uma despedida. Quem

me garante que a Paola não iria me


matar assim que a P fechasse a
porta?

A P deu uma grande olhada pra mim


antes de sair, o que me deixou mais
nervosa ainda. Assim que

ela se retirou a Paola puxou uma


cadeira e se sentou de pernas
cruzadas na minha frente.

- Então, o que você quer saber? –


Ela perguntou fria.

- Você sabe...

Ela bufou.

- Tá, lá vai eu de novo me lembrar


de toda a humilhação que aquele
maldito Hunter me fez passar...
Sexta à noite, assim que eu cheguei
na casa eu comecei a conversar o
Joshua, com todas as intenções

possíveis. Eu sempre o achei


gostoso, entende? Mas, por ser neto
da minha chefe eu tinha decido me

manter a uma certa distancia. Bem,


isso até eu ver ele só de bermuda
entrando na piscina.

Eu respirei fundo, tentando ao


máximo não ter ciúmes. Mas era
quase impossível.

- Então ele começou a dá em cima


de mim também e depois, no
sábado à noite, o Joshua me chamou

pra ir pro quarto dele assistir um


filme. E eu fui, é claro que eu fui. –
Ela respirou fundo. – Chegando lá
nós começamos assistindo filme,
mas depois de um tempo eu vi que
ele estava se levantando e

trancando a porta, eu perguntei “o


que você pretende fazer?” e ele deu
um sorriso malicioso. – Eu já
estava começando a ficar enjoada,
mas ela olhava pra um canto fixo na
parede, provavelmente
revendo todos esses momentos. –
Então ele aumento o volume do
filme e fechou as cortinas, todos os

seus movimentos eram tão precisos


que pareciam que ele já tinha feito
isso um milhão de vezes antes.

Mas comigo seria diferente, eu


pensei quando ele voltou pra cama.
O Joshua começou beijando

minha boca devagar e foi


aumentando o ritmo, enquanto suas
mãos iam...

E ai ela parou e olhou pra mim,


corada.

- Bem, você não precisa dos


detalhes. Depois de muitos beijos e
mordidas, o Joshua me puxou e me

colocou contra a parede, retirando


toda a minha roupa com poucos e
precisos movimentos, então eu

fechei meus olhos e vi que ele


também tinha fechado os dele. Foi
ai que eu comecei a gemer e ele

também, mas só quando eu coloquei


minhas duas pernas ao redor dele
que conseguir ouvir o que ele
estava sussurrando. Ele dizia
Susan...Susan eu amo você, você é
diferente.

Ela parou de novo e olhou no fundo


dos meus olhos, parecia prestes a
chorar.

Eu não sabia o que dizer, não sabia


o que pensar, não sabia nem mesmo
como respirar naquele

momento.

- Ah Paola... – Eu falei sem ter a


menor ideia do que fazer.

- Eu empurrei ele na mesma hora, e


no momento em que eu comecei a
gritar é que ele notou o que

tinha dito. Ele começou a me pedir


desculpas, dizendo que não falou o
que eu achei que ele tinha

falado, mas eu sabia que era


mentira. Ele estava pensando em
você enquanto tirava minha roupa.

Uma lagrima de ódio escorreu do


seu olho direito e eu senti um
aperto no coração. Af Joshua. – Ele

até tentou me fazer desculpa-lo, ele


me beijou com toda a intensidade
possível e eu quase perdoei

ele, quase esqueci tudo e me


entreguei para aquele loiro. Quase.

- Eu sinto muito, eu juro que não


tinha a menor ideia disso...

- Tá, olha, eu já contei tudo, agora


saia da minha casa.

Eu assenti, não queria esticar


conversa. Dava para ver pelos seus
olhos marejados que ela estava

fazendo força para não chorar.


Sai da casa e dei de cara com a P
me esperando aflita na porta.

- Ufa, você não está ferida. – Ela


disse aliviada.

- Eu não, mas sua irmã está... aqui


dentro. – Eu apontei pro meu
coração.

- Sei disso, vou lá tentar confortar


ela. – Ela disse entrando na casa.

Respirei fundo. Muitas


informações. Muitas mesmo.

Por sorte o portão da casa dos


Hunter estava aberto e eu corri pelo
jardim em direção da porta de

entrada. Antes de abrir, peguei meu


celular no bolso da calça, tinha
algumas mensagens do grupo que

fizeram da minha turma, mas nada


importante. Eram dez horas da
noite.

Suspirei, lembrando de todas as


coisas que eu tinha ouvido hoje e
puxei a maçaneta... Estava

trancada.

Puta que pariu.


Bati na porta, esperando que
alguém estivesse acordado.

- Quem é? – A voz fria e entediada


do Michael veio do outro lado.

- É a Susan, abre ai, por favor... –


Eu disse quase suplicando.

Ele deu um risinho.

- Por que eu faria isso?

- Porque você não me deixaria aqui


no frio a noite toda. – Eu falei, mas
assim que as palavras sairam da
minha boca eu percebi que sim, ele
deixaria.
- O que te leva a pensar isso? Eu
não gosto de você. – Ele disse da
forma mais natural do mundo, o

que me fez fechar o punho de raiva.

- Eu também não gosto de você,


então ou você abre essa porta agora
ou eu ligo pra Dona Nicole e

peço pra ela abrir. – Eu rebati


confiante. Mesmo sabendo que não
tinha o número da Dona Nicole.

- OK, liga ai. – Ele falou sem um


pingo de preocupação.

- Ótimo. – Eu peguei o meu celular


e coloquei no máximo, mas ele
ouvir enquanto eu discava. – Alô?

Dona Nicole, desculpe te acordar...

- Pera. – Ele me cortou.

Eu sorri vitoriosa.

- Que estranho, o celular da minha


mãe tá aqui na mesa. Alguma
explicação pra isso? – Ele falou
com

aquele tom superior que me fazia


meu sangue ferver de raiva.

- Porra Michael, só abra essa porta!


Ele riu e eu ouvi ele chegando mais
perto da porta.

- Não. Aliás, sua mãe não te


ensinou que quando você quer
algum favor você tem que ser
gentil? –

Ele disse cínico.

- Sim, mas ela também me ensinou


a diferenciar quem merece e quem
não merece minha gentileza. –

Eu respondi irritada.

- Ótimo. Espero que ela também


tenha ensinado como dormir em um
jardim.

- Michael!

- Oi?

- Por favor.

Notei que ele estava dando


murrinhos na porta, exatamente
como o Joshua fez quando me
trancou no

banheiro. Quando ele não sabia o


que fazer.

Mas o Michael não é o Joshua.


- Não, bons sonhos pra você. – Ele
disse e se afastou.

Antes que eu pudesse dizer alguma


coisa, ouvi o barulho do elevador.
Ele foi embora.

- Seu filho da puta! – Eu gritei


batendo na porta, mas sabia que ele
não iria me escutar.

Que ódio do Michael! Por que ele é


assim?

Me virei para o jardim, por sorte


ele estava iluminado e o vento não
estava muito frio.
Andei até o portão e me sentei
encostada no muro, olhando para a
mansão da Dona Eliza do outro

lado da rua.

Fechei os olhos. Se o único jeito


era dormir ali, era exatamente isso
que eu iria fazer.

Acordei com um barulho de carro.


Olhei assustada pra o meu celular e
vi que eram 1:05.

O carro preto parou a uns 10 metros


da entrada do Hunter, onde eu
estava apoiada. Respirei fundo.
Eu reconheceria esse carro de
longe.

Me levantei num pulo e fui em


direção ao carro. Mas então uma
ruiva saiu do lado do passageiro.

Não qualquer ruiva.

- Jane. – Eu murmurei sem


acreditar.

- O que você está fazendo aqui? –


Ela disse surpresa assim que seus
olhos encontraram os meus.

O Joshua saiu do carro no momento


em que eu abri a boca pra falar.
- Susan?! – Ele disse sem acreditar
e correu na minha direção. – Por
que você está na rua uma hora

dessas? – Seu tom irradiava


preocupação.

Alguma coisa em mim fez eu não


contar a verdade.

- Eu cheguei tarde por que estava


conversando com sua avó, mas
quando voltei a porta estava

trancada e todo mundo estava


dormindo...

A Jane olhava fixamente pra mim,


ela parecia irritada.

- Joshua, abra a porta pra ela e


fazemos o que iriamos fazer no seu
quarto no carro. – A voz dela

tinha um quê de malicia.

Mas em vez de fazer o que ela disse


o Joshua apenas se virou e olhou
para aqueles olhos verdes.

- Não mais Jane. Sinto muito, mas


acho que nossa noite termina aqui.

- JAMES! – A ruiva tentou


empurrar ele, mas como o Joshua
era milhões de vezes mais forte ele
rapidamente segurou as mãos dela.
– Você não pode fazer isso comigo
de novo!

- Jane, o que eu ia fazer com você


iria ser bem pior, confie em mim. –
Ele disse soltando as mãos

dela. – Eu iria passar uma noite


com você e depois fazer como eu
fiz da ultima vez.

- Eu não me importo com o que


você vai fazer depois Joshua! Eu
quero você. – Ela falou olhando no

fundo dos olhos do Joshua.


Minha vontade de sair correndo era
de 100%, mas eu não mexi.

O Joshua se afastou dela e ficou ao


meu lado.

- Me desculpa Jane, mas acho que


agora é um adeus definitivo. – Seu
tom era decisivo, ele não iria

voltar atrás.

- Por que você está agindo assim? –


Seus olhos começaram a marejar.
Joshua e seu dom de fazer as

pessoas chorarem.
- Porque eu cansei de ficar com
alguém e não dá valor no dia
seguinte.

- Então me dê valor amanhã,


simples assim! – Ela disse quase
suplicando.

- As coisas mudaram Jane. Agora


eu... – O Joshua olhou pra mim e
um sorriso apareceu no seu rosto

perfeito. – Estou apaixonado.

Parecia que a Jane tinha levado um


murro na cara.

- O QUE? POR ELA? – Ela gritou


vindo na nossa direção, seus olhos
foram de mim para o Joshua.

- Exatamente. – Ele disse


indiferente.

- JAMES! VOCÊ NÃO PODE


ESTAR FALANDO SÉRIO! – Ela
olhou pra mim com nojo,

esquecendo completamente de que


eu era amiga do irmão dela e o
quanto eu fui gentil. – EU SOU

MUITO MAIS BONITA QUE ELA!

- Isso é uma questão de opinião. –


Ele falou se virando para aqueles
olhos verdes, que ainda estavam
marejados.

Eu tinha perdido a fala, meu


cérebro parecia que iria explodir.

- MAS EU TAMBÉM SOU MAIS


RICA, LEGAL, INTERESSANTE
E... EU APOSTO QUE ELA

AINDA É VIRGEM! – Ela gritou


como eu não estivesse lá.

Eu abri a boca pra mandar ela


cuidar da vida dela, mas o Joshua
foi mais rápido.

- Melhor do que dá pra qualquer um


de primeira como você faz. – Ele
disse friamente.

Então uma lagrima escorreu no


canto do olho direito da ruiva.

- Eu não acredito que você disse


isso! – Ela disse com a voz cheia
de dor. – V-você sabe que foi o

primeiro e único homem com quem


tive alguma relação e...

- Sim, eu sei disso. Mas quem disse


que eu não sou qualquer um? – Ele
falou sorrindo. – Sinto muito

Jane, eu posso te pagar um taxi pra


casa.

Eu me virei pro Joshua sem


acreditar.

- Joshua... – Minha voz tinha


voltado, mas eu não conseguia
pensar em nada pra dizer.

- Depois a gente conversa. – Ele


falou sem desviar os olhos da Jane.

- Eu odeio você! – Ela disse dando


um tapa na cara do Joshua, que não
reagiu.

- Jane! – Eu deixei escapar,


surpresa por causa do tapa que ela
deu no Joshua.

-Eu odeio você também! – Ela


disse olhando pra mim
ameaçadoramente. – Podem anotar:
vocês vão

se arrepender por terem feito isso


com Jane Lohan!

- Acabou? – O Joshua falou e


depois pegou o celular do bolso e
discou um número rápido. – Vou

chamar um taxi.

Ela bufou e deu as costas pra nós,


correndo de volta para o carro e se
apoiando na porta do

motorista. Mesmo de longe dava


pra ver que ela estava chorando.

- Joshua, a gente devia ir falar com


ela. – Eu falei sem pensar.

- Só vai piorar as coisas. – O


Joshua disse e colocou o braço no
meu ombro. – Me desculpa por ter

me declarado daquela maneira, mas


eu tinha que falar.

Corei violentamente. Joshua... Por


que você faz isso comigo?
- T-tudo b-bem. – Eu disse me
enrolando nas palavras.

Ele me puxou mais pra perto dele e


eu senti seu perfume extremamente
bom.

- Já disse que adoro quando você


fica sem graça?

- Creio que sim. – Eu falei


sorrindo.

- Vem, bora sentar e esperar o táxi


da Jane. – Ele falou andando em
direção ao portão e se sentando

encostado nele.
Sentei ao seu lado, apoiando minha
cabeça no ombro do Joshua.

- Sabe Joshua... – Eu falei olhando


fixo para a Jane (que não estava
mais chorando, e sim sentada

encostada no carro preto do


Joshua), para não ter que olhar
naqueles olhos azuis ao meu lado. –
Eu

falei com a Paola hoje.

Ele se virou pra mim no mesmo


segundo.

- Você o que? – Ele disse sem


acreditar.

- Você estragou tudo com a garota,


tadinha.

Ele sorriu.

- Eu tentei, mas foi impossível. –


Ele falou olhando pra minha boca.

- Do que você está falando?

Ele voltou os olhos para os meus e


sorriu ainda mais.

- Eu tentei não pensar em você, mas


então ela revirou os olhos e eu...
Simplesmente não consegui
mais não imaginar você no lugar
dela.

Eu não soube o que responder. Mas,


pra minha sorte, um táxi chegou a
toda velocidade na rua.

- Jane! – O Joshua se levantou e me


deu a mão para eu me levantar
também. – Chegou.

- Não sou cega. – Ela respondeu


fria e deu uma corridinha até chegar
ao táxi.

O Joshua a seguiu e abriu a porta


do passageiro, entregando uma nota
de 50 reais ao motorista.

- Fique com o troco. – Ele disse e


eu vi de longe os olhos do
motorista brilhando.

- Muito obrigado. – O taxista disse


com uma voz rouca.

O Joshua sorriu e se virou para a


Jane.

- Me desculpe de novo. – Ele falou


e abriu os braços para dá um
abraço nela. Esse cara não existe

meu Deus.
- Não. – Ela respondeu e ignorou
completamente o abraço dele, então
se virou pra mim. – E você...

Saiba que isso não acabou. Você


vai se arrepender do dia que
nasceu!

Depois dessa ameaça ela entrou no


táxi e eu não pude responder.

- O que você acha que ela pode


fazer contra nós? – Eu perguntei
assim que o táxi sumiu de vista.

- Não faço a menor ideia, mas vou


proteger você daquela ruiva
vingativa. – O Joshua respondeu

andando na minha direção.

- E agora? – Eu perguntei andando


ao lado dele até ficar em frente ao
portão.

- Agora nós vamos para a cama.

- JAMES! – Eu gritei exasperada.

Ele riu.

- Calma garota, cada um pra sua...


Se você quiser, é claro. – Ele deu
um sorriso malicioso pra mim.
- Quero sim, obrigada. – Eu falei
tentando me manter séria, mas um
sorriso se espalhou no meu rosto

sem minha permissão.

- Vem, deixe-me abrir a porta pra


você. – Ele segurou minha mão e
andamos pelo jardim ate chegar

na porta de entrada da casa.

Ele tirou a chave do bolso, mas


antes que ele abrisse a porta eu
levantei um dedo.

- Espera um segundo. – Eu falei me


aproximando da maçaneta.
Empurrei a porta devagar e ela se
abriu.

Estava destrancada.

O Michael tinha destrancado a


porta pra mim.

11. Hunter que eu amo x Hunter


que eu odeio

- Você não disse que tava trancada?


– Ouvi o Joshua perguntar atrás de
mim, nem precisei me virar

pra saber que uma de suas


sobrancelhas estava levantada.
- Sim, e estava... – Eu deixei o
resto da frase no ar, nem eu sabia
como completar.

Por que o Michael destrancou a


porta? Qual o nível de bipolaridade
desse garoto?

O Joshua entrou na casa sem olhar


pra mim.

- Joshua!

Ele se virou, quase indiferente.

- Por que você ficou assim de


repente? – Eu perguntei confusa.
- Por que você estava na rua no
meio da madrugada? – Ele estreitou
os olhos azuis. – Quem você

estava esperando?

- Porque eu estava conversando


com a sua avó e depois com a
Paola, meu Deus. – Eu andei até
ficar

a um passo dele. – E não aja como


se fosse o santinho da história!

- O que você quer dizer com isso?

- Eu quero dizer que eu sei muito


bem o que você iria fazer com a
Jane se não tivesse me visto! – Eu
estava quase gritando de raiva,
provavelmente era um reflexo de
todo o ciúme acumulado durante o

dia.

Ele sorriu e me puxou pela cintura,


colando meu corpo com o dele.

- Não importa o que eu fizesse com


ela, eu iria gemer seu nome. – Ele
sussurrou no meu ouvido e eu

senti meu corpo todo se arrepiar.

- J-Joshua... – Eu falei tentando sair


de seus braços, mas ele era mais
forte. Toda a minha raiva foi por
água a baixo quando eu senti aquele
perfume tão perto de mim.

- Você sabe disso, não sabe? – Ele


falou com aquela voz rouca e sexy
que fazia meu corpo todo

tremer. – Você sabe que eu iria


beijar ela imaginando você,
imaginando sua boca... – Ele
desceu a

mão da minha cintura para o meu


quadril. – Suas curvas...

- Você não presta. – Eu disse


baixinho.

- Mas eu amo tanto você. - Ele


sussurrou como se fosse um
segredo.

Ele estava olhando fixamente pra


minha boca.

- Por que a gente simplesmente não


se beija?

- Me responda você.

Ele assentiu com a cabeça e suas


mãos voltaram para a minha
cintura, me puxando pra cima. Me
puxando para os lábios dele.

Sua boca estava a centímetros da


minha, meus olhos já estavam se
fechando quando eu ouvi o barulho

de um elevador abrindo.

- Porra é essa?

Nos viramos no mesmo segundo.


Um garoto de olhos verdes-mar,
cabelo preto e liso, e um corpo dos

deuses estava parado na porta do


elevador, com uma sobrancelha
levantada. Merda, logo agora
Michael?

- Oi maninho, teve pesadelos? – O


Joshua disse se afastando de mim
como se nada tivesse

acontecido e eu comecei a ficar


irritada pela mudança tão rápida de
humor, então ele se virou por um
segundo e piscou pra mim.

- Não... E vocês, se pegando uma


hora dessas? – O Michael disse
olhando pra mim.

- A gente nem conseguiu se pegar,


porque alguém atrapalhou a melhor
parte. - O Joshua disse e voltou
para o meu lado, passando o braço
pela minha cintura de um jeito meio
possessivo.

- Seu nível era mais alto


antigamente maninho. – O Michael
falou saindo de dentro do elevador
e

ficando na nossa frente, seus olhos


fixos nos do irmão.

- Não conseguiria pensar em


alguma menina melhor que a Susan.
– O Joshua respondeu frio e eu me
virei pra ele sem acreditar. Por que
tão perfeito?

- Eu posso fazer uma lista pra você.


– O Michael rebateu com o mesmo
tom de frieza, o tom que

apenas um Hunter consegue atingir


com perfeição.

- Vai dormir Michael, tá bom por


hoje. – A voz do Joshua exalava
autoridade.

- Tentem gemer baixinho pra eu


conseguir dormir.

- Vai se foder! – Eu falei irritada e


os dois olharam pra mim.

- É assim que se fala. – O Joshua


disse rindo, sua covinha única
dançando na sua bochecha.

- Você devia ensinar para a


empregadinha como ser educada. –
O Michael disse com aquele jeito

arrogante e superior dele, olhando


pra mim com nojo.

O Joshua me soltou e em uma


fração de segundo estava a um
passo do Michael, os punhos
cerrados.
- O que você disse? – Ele disse
com algo muito além do que raiva
na voz.

O Michael recuou.

- Você ouviu o que eu disse. – O


Michael falou tentando parecer
confiante, mas seus olhos
vacilaram.

Seus olhos demonstravam medo.

- Repita se você tiver coragem. – O


Joshua disse ameaçadoramente.

Eu quase não conseguia enxergar o


Michael atrás dele, mas o ouvi
respirando fundo.

- Não quero brigar com você por


causa dela. – O Michael pronunciou
as palavras com tanto nojo que

meu sangue começou a ferver de


raiva.

- Então saia daqui agora mesmo. –


O Joshua apontou para o elevador.
– Antes que eu mude de ideia e

faça você se arrepender pelo que


falou.

O Michael abriu a boca pra falar,


mas pareceu pensar melhor.
- Esperava mais de você. – Ele
disse se virando pro elevador e
entrando em silencio. – Alias, isso

não acabou.

Andei até ficar ao lado do Joshua.


Só quando as portas do elevador se
fecharam eu abri a boca pra

falar

- Duas ameaças em menos de uma


hora. – Eu disse rindo, tentando não
demonstrar o quanto eu estava

assustada com isso. Era a segunda


ameaça que o Michael me fazia.
O Joshua se virou pra mim,
colocando as mãos na minha
cintura.

- Quantas vezes eu vou ter que te


dizer que vou te proteger de
qualquer coisa? – Ele falou
sorrindo.

Eu sorri também, então lembrei que


o Michael era seu irmão acima de
tudo.

- Mas não quero que você fique


brigando com seu irmão por causa
disso.
Ele revirou os olhos.

- Todo mundo sabe que o Michael é


assim mesmo, uma hora é o ser
mais irritante do mundo e na

outra coloca toda a educação que a


nossa mãe deu em pratica e vira um
ser humano adorável. Depois

de um tempo a pessoa se acostuma.

Isso explica por que ele destrancou


a porta. Eu só queria que ele fosse
um ser humano adorável

sempre, assim não seria um


desperdício de beleza.
- Espero que ele melhore... – Eu
falei querendo encerrar o assunto. –
Onde paramos mesmo?

Ele sorriu malicioso e me puxou


pela cintura, fazendo eu ficar de
ponta de pé.

- Aqui. – Ele sussurrou baixinho e


eu fechei meus olhos.

Então nos beijamos.

Começou devagar e calmo, apenas


com um selinho demorado, mas eu
queria mais e coloquei minhas

mãos no pescoço dele, o puxando


pra mim. Sua boca se abriu e
aumentamos a intensidade, sua
língua

parecia treinada com perfeição,


suas mãos me segurando firmes na
cintura e eu comecei a ficar

ofegante, quase sem ar.

- Joshua, eu amo você. – Eu


sussurrei baixinho, sem fôlego.

- Eu também amo você. – Seus


olhos azuis brilharam e eu senti o
quanto as palavras dele eram

verdadeiras.
Nos beijamos de novo. E de novo e
de novo... Eu simplesmente não
conseguia mais parar, sua boca

se encaixava certa na minha e todo


o meu corpo parecia completar o
dele. Eu não conseguiria pensar

em nada melhor que beijar aquele


Hunter no mundo.

Ele me empurrou contra a parede e


suas mãos desceram até minha
bunda.

- Ai não Joshua... – Eu falei


baixinho.
Ele sorriu.

- Desculpa, não consegui controlar.


– Ele sussurrou com aquele tom
sexy e subiu a mão de volta pra

minha cintura. – Que horas são?

Eu tirei meu celular do bolso e


desbloqueie.

- Eita porra, 2 horas da manhã. – Eu


disse arregalando os olhos.

- Acho que é melhor a gente parar,


você tem aula daqui a umas cinco
horas. – Ele falou e eu notei o
quanto ele não queria parar.

Sorri.

- É, mas depois a gente continua. –


Eu falei dando um selinho
demorado nele. – Boa noite Joshua.

Eu me virei pro elevador, mas ele


me puxou pela mão.

- Promete que vai sonhar comigo?

Como se fosse possível eu não


sonhar com você.

- Prometo. E você?
Ele me olhou com aquele jeito
pervertido dele.

- Claro, acho que a casa toda vai


escutar eu gritando “Vai Susan, vai”
– Ele imitou um gemido e eu

empurrei seu braço de leve.

- Você é tão impuro! – Eu disse


revirando os olhos.

Ele sorriu e me deu um ultimo beijo


antes de subir as escadas em um
pulo.

Meu coração ainda estava tentando


controlar o ritmo quando eu entrei
no elevador.

Me olhei no espelho e vi o quanto


eu estava vermelha e meu cabelo
desarrumado, culpa de quem?

Joshua. O perfeitamente pervertido


e lindo Joshua.

[...]

- Acorda baby!!

Eu me levantei num pulo e dei de


cara com os olhos azuis brilhantes
do Nicolas.

- Ui, como você tá vermelha,


sonhando com quem? – Ele
perguntou fazendo uma cara
maliciosa e eu

joguei o travesseiro na cara dele.

É claro que eu tinha sonhado com o


Joshua, mas o irmão dele não
precisa saber disso. Pelo menos

não agora.

- Ninguém meu Deus! – Eu disse


rindo. – E você, por que tão
animado?

- Eu SOU animado, não sei se você


notou, mas eu exalo felicidade! –
Ele disse rindo também, então

me abraçou e me deu um beijo na


testa. – Agora levanta e vai se
ajeitar, seu segundo dia de aula tem
que ser mágico.

Eu sorri e fiz o que ele mandou. Em


menos de vinte minutos eu já estava
na mesa tomando café.

- Bom dia.

Me virei na mesma hora.


Reconheceria essa voz a milhares
de quilômetros.

- Bom dia Joshua. – Eu disse


sorrindo e ele deu um corridinha
pra me dá um beijo na bochecha e

apertar a mão do Nicolas.

Ele se sentou na minha frente da


mesa, seus olhos fixos em mim
brilhavam tão intensamente que seu

tom de azul ficou mais claro.

- Bom dia Joshua, por que tão feliz?


– O Nicolas perguntou desconfiado.

Então me passou pela cabeça


quantas vezes o Joshua já não
acordou assim, sorrindo a toa e
com os
olhos brilhando depois de ter
ficado com uma garota. Acho que a
resposta tem mais de 20 dígitos.

O Joshua desviou os olhos do meu


e sorriu ainda mais pro Nicolas.

- Porque eu fiquei com uma garota


ontem e...

- Fala como isso fosse novidade. –


O Nicolas falou baixinho do meu
lado e eu me irritei um pouco.

- Me deixe continuar, por favor.


Então, essa garota é especial, ela é
muito mais do que bonita, ela é...
Perfeita. – O Joshua olhou pra mim
por um segundo e depois pro
Nicolas de novo.

- Torço por vocês! Já passou da


hora de alguma menina te colocar
no eixo. – O Nicolas disse rindo e

o Joshua riu também.

- Acho que ela vai conseguir. Na


verdade, tenho certeza disso.

Eu sorri, sem consegui desviar os


olhos do Joshua.

- Bom dia. – Todos na mesa se


viraram pra um Michael frio e
irritado.

Ele estava irritantemente lindo com


uma camisa jeans com manga, uma
blusa preta por baixo e uma

calça jeans também preta. Ele


parecia um ator de cinema.

- Bom dia. – O Nicolas e o Joshua


responderam e o Michael se sentou
ao lado do Joshua, seus olhos

foram de mim para o irmão mais


velho.

O Joshua se levantou no mesmo


segundo e eu notei que ele
conseguia ser ainda mais bonito que
o

irmão, com uma camisa preta lisa e


uma calça jeans. Ele não precisava
de muito pra ser perfeito.

Não com aqueles olhos azuis e


aquele cabelo dourado liso.

- Coma rápido Michael, ou vocês


vão se atrasar. – O Joshua disse
olhando friamente pro irmão.

O Nicolas olhou pros dois sem


entender, mas ficou calado.

Em vez de responder com alguma


grosseria, o Michael comeu rápido
e em menos de cinco minutos se

levantou num pulo.

- Acabei. – Ele disse indo pra


porta. – Bora motorista, eu não
tenho todo o tempo do mundo.

O Joshua o puxou pelo braço e


estreitou os olhos para o irmão.

- Me chame de motorista de novo e


eu quebro você. – Ele disse frio e o
Michael soltou o braço

bruscamente, depois bufou irritado.


- Por que eles estão agindo assim?
– O Nicolas sussurrou pra mim
enquanto andávamos até o carro.

- O Michael é um caso sério... – Eu


deixei escapar e o Nicolas riu.

- Isso por que você só conhece a


figura a tipo uma semana.

Eu ri também e pior que era


verdade, eu estava no máximo há
uma semana lá e já tinha brigado
com

um dos donos da casa, ajudado o


outro com o namorado secreto e me
apaixonado perdidamente pelo

mais velho e (me perdoe Nicolas,


mas eu nem faço seu tipo mesmo)
mais gostoso deles.

Fui direto para o banco do


passageiro, quanto mais longe do
Michael melhor.

O Joshua fez questão de colocar


meu cinto, sorrindo daquele jeito
apaixonante, antes de dá a partida
no carro e ligar o som, que tocava
alto o álbum Night Visions –
Imagine Dragons.
Então meu celular vibrou e eu vi
que tinha um Whatsapp.

Eduardo Lohan - 07:05 :

Eai Susan, vem hoje não? Eu tava


pensando aqui e que tal vc começar
a me ajudar com a Mônica hj

msm? (Aquela carinha) kkkkk

Ri baixinho com a mensagem e


pensei um pouquinho antes de
responder.

Susan Dos Alvez – 07:05 :

Hii Edu ^^ Claro kkkk Por que não?


Como eu posso ajudar?

A resposta veio no mesmo segundo.

Eduardo Lohan – 07:05 :

Assim que vc chegar na escola eu te


conto os esquemas ;) Venha
correndo mds!

Eu sorri.

- Quem é Eduardo Lohan? – O


Joshua perguntou irritado e eu me
virei pra ele.

- O ruivo escroto lá da sala. – Ouvi


a voz do Michael vindo do banco
de trás e revirei os olhos.

- Ninguém tá falando com você


Michael. – Eu falei com raiva e o
Joshua sorriu com o canto da boca.

– E ele é meu amigo, tipo meu


melhor amigo da JK.

- Pera ai... Um ruivo Lohan? – O


Joshua perguntou confuso e eu
percebi que ele estava chegando na

resposta.

- É, ele é sim irmão dela. – Eu falei


e ele olhou pra mim sem acreditar.
- Não quero você andando com
esse menino, se ele for igual a irmã
vai querer ir pra cama com você

logo de cara. – O Joshua falou


irritado e aumentou o volume do
som, para o Nicolas e o Michael
não

ouvirem a gente.

- Não, eu não sou tão sexy quanto


você. – Eu disse rindo e ele freou o
carro, estacionando na porta da JK.

- É sim, você não faz ideia de


quanto é sexy. – Ele parou e
desligou o som, bem no meio do
refrão de It’s Time. – Chegamos
crianças, tenham um bom dia na
escola.

Eu dei um beijo rápido na bochecha


dele e corri pra porta do colégio,
ignorando todos os olhares na

minha direção.

- Tchau Susan, te vejo no intervalo!


– O Nicolas disse mandando um
beijo pra mim e correndo para o

prédio do outro lado do campo da


escola.
- Michael, antes de a gente entrar na
sala eu queria falar com você. – Eu
disse seria e ele se virou pra mim,
os olhos verdes-mar fixos nos
meus.

- O que você quer?

- Eu sei que você destrancou a


porta. – Eu disse de uma vez e ele
ficou um pouco vermelho, tipo bem

pouco mesmo, mas acho que é o


máximo que ele consegue no
sentido de corar.

- É, depois que eu ouvi você me


chamando de filho da puta eu decidi
ter um pouco de misericórdia,

mas você não estava mais lá


quando abri a porta e chamei você.

- Você fez o que? – Eu perguntei


sem acreditar no que tinha acabado
de ouvir.

Ele revirou os olhos.

- Eu chamei por você, mas como


ninguém respondeu eu pensei que
talvez você tivesse no portão e...

– Ele desviou os olhos. – Subi pro


meu quarto pra ver pela janela,
como você estava dormindo eu

decidi deixar pra lá.

ELE FEZ O QUE? MEU DEUS DO


CÉU, QUE MENINO BIPOLAR!

Mas mesmo assim um sorriso se


espalhou pelo meu rosto, acho que
era gratidão, ou talvez surpresa.

- Obrigada Michael, talvez você


não seja tão ruim assim...

- Se eu fosse você não contava com


isso. – Ele disse frio e se virou
para a escada no corredor. –
Bora, já estamos atrasados e agora
é Teacher Bernardo.

- Quem é esse?

Mas em vez de responder ele


simplesmente subiu as escadas sem
olhar pra trás. Esse garoto é

impossível!

Assim que entrei na sala fui puxada


por uma mão, me fazendo sentar na
cadeira mais próxima.

- EI! – Eu gritei irritada, então vi os


olhos castanhos e o cabelo ruivo de
quem tinha feito isso.
- Desculpa ai, eu tava agoniado
esperando você chegar! – O Edu
disse rindo e me dando um beijo na

bochecha. – Eai, tudo bem?

- Tudo ótimo, por quê?

- É que eu vi o Michael subindo as


escadas com cara de poucos
amigos...

- Ah, você fala como se o Michael


fosse alguém importante o
suficiente pra alterar meu humor. –
Eu

disse rindo e ele riu também.


- Por isso que eu gostei de você! –
Ele falou rindo e depois olhou pra
Mônica, que conversava

animada com as meninas que eu


conheci ontem. – Não sei mais o
que fazer com ela...

Eu respirei fundo.

- Me conte essa historia direito.

- Eu já te disse como começou isso


naquele dia na papelaria, o
problema é que desses dias pra cá
ela vem agindo como se eu fosse o
irmão mais novo dela. – Ele falou
olhando pra baixo e eu senti um

aperto no coração. Zona do amigo é


o pior caso de amor que tem.

Eu abri a boca pra dizer que não


tarde demais, que ele ainda tinha
chances de fazer ela mudar de

opinião, quando a porta se abriu e


um homem que tinha no máximo 25
anos, com um cabelo cachado

preto, uma barba e bigode que


combinavam perfeitamente com ele
entrou na sala. Ele devia ter no

máximo a minha altura, mas tinha


alguma coisa nele que o deixava
charmoso.

- Eaaaai, sentiram falta do teacher


Bernardo? – O professor chegou
animado na sala e todo mundo

começou a bater palma. - Obrigado,


obrigado, também amo vocês, seus
lindos!

Eu sorri com aquele professor.


Então todas meninas que estavam
conversando do outro lado da sala

foram pra onde eu e o Edu estava e


sentaram com a gente.
- Estou vendo uns rostinhos novos,
alguém quer se apresentar ou eu
vou ter que descobri ao longo do

ano? – Seu tom era tão


descontraído que nem parecia um
professor falando.

- Vai Susan, levanta a mão! – A


Amanda disse com aquele tom
animado dela e eu neguei com a

cabeça.

- Não, meu Deus... – Eu falei com


vergonha.

- Menina, é o teacher Bernardo, não


precisa ficar tímida! – Uma menina
sentada do meu lado falou

rindo, ela tinha um longo e


ondulado cabelo castanho, os olhos
e a boca dela pareciam ter sido

desenhados para um anime. – Ah,


eu nem me apresentei, sou a Elena!
– Ela sorriu e eu sorri também.

- LENITXA!! OUVI SUA VOZ! – O


teacher Bernardo deu um gritinho
animado e a sala toda riu,

principalmente a Elena.

- Sim, também estava morrendo de


saudade de você teacher! – A Elena
disse sorrindo e depois se

virou pra mim. – Olha professor,


aluna nova.

Eu corei na mesma hora, mas então


eu vi o jeito alegre do professor e
percebi que não tinha pra que

ficar com vergonha mesmo não.

- Meu nome é Susan...

- SEJA BEM VINDA AO MUNDO


MÁGICO ONDE OS ALUNOS E
OS PROFESSORES SÃO
LINDOS E IRRESISTIVEIS DA JK
ROWLING! – O teacher Bernardo
disse indo pra frente da turma

e pegando o microfone. – Ai, como


eu estava com saudade de vocês.

- E do professor Cavalcante... – A
Elena falou baixinho e todas as
meninas riram.

- Dele principalmente, parece que


fica mais lindo cada dia! – O
professor disse brincando.

- Ele é gay? – Eu perguntei


baixinho para a Iza, que estava
sentada na minha frente.

- Claro que não menina! – Ela disse


ficando vermelha. – Ele tá só
brincando.

- Aham, começa a assim. – A Elena


disse rindo e ri também, por causa
do jeito como ela falou.

- Agora, vamos começar a aula...


Vocês já ouviram a história da
minha sobrinha de dois anos com

pacto com o capiroto?

[...]
- Meu deus, melhor professor! – Eu
falei animada assim que o teacher
Bernardo saiu da sala, depois

de duas aulas seguidas.

- É! Ei Susan, vem comigo no


banheiro? – A Clara perguntou e eu
fiz que sim a cabeça.

Assim que chegamos lá, ela


começou a arrumar o cabelo na
frente do espelho.

- Ei... – Ela perguntou baixando o


tom de voz e eu me aproximei pra
ouvir. – O Michael já falou
alguma coisa de mim pros irmãos
dele ou sei lá?

Eu pensei um pouquinho, nunca


tinha ouvido nem falar no nome
dela na casa dos Hunter, mas não

queria magoá-la dizendo a verdade


na lata.

- Não sei, eu não falo muito com


ele na verdade... Se você quiser
pode passar lá e, você sabe,

chamar a atenção.

Ela sorriu animada.


- Você acha mesmo? – Seus olhos
estavam brilhando de felicidade.

- Com certeza! – Eu disse confiante


e ela me abraçou.

Mal sabe ela que ele é um bipolar


de merda, mas até que seria legal se
ela conseguisse mudar ele.

Voltamos pra sala conversando


sobre que roupa ela vai usar
quando for visitar os Hunter. Uma

professora com o cabelo laranja


estava esperando na porta, ela não
parecia nada feliz.
- Entrem, não quero ouvir nem um
pio. – Todo mundo se sentou e a
sala ficou em silencio. – Para os

novatos, meu nome é Ana Renata,


mas eu só irei atender se me
chamarem de Professora Pontes.

A sala inteira assentiu com a


cabeça e eu percebi que não iria
gostar muito dessa professora.

[...]

- Que aula insuportável! – A


Isabela disse enquanto nós, as
meninas, o Edu e o Júlio descíamos
as

escadas para o campo.

- Ah, isso é por que você não viu o


Paulo Pedro, cada segundo na aula
dele dá vontade de se matar! –

O Júlio disse fazendo uma arma


com a mão e atirando na própria
cabeça.

- Quem é Paulo Pedro? – Eu


perguntei, odiava ficar por fora das
historias.

- Chama de PH, é o professor de


matemática. – A Bia respondeu e
depois se virou pra cantina. – Ei

meninas, bora comprar o lanche


antes que acabe!

Todas as meninas assentiram e elas


saíram quase saltitando até a
cantina no norte, depois do campo.

- Acho que vou indo também, o


Michael disse que quer falar
comigo. – O Júlio falou e saiu, indo
na

direção da escada que dava pro


corredor do segundo ano.

- Agora você me diz o que iria me


dizer antes pro teacher Bernardo
chegar! – O Edu disse e se sentou
na sombra da árvore mais próxima.

- Eu ia dizer que você ainda pode


mudar a visão que ela tem de você,
é só agir menos como melhor

amigo e mais como namorado.

Ele olhou pra mim.

- Acha mesmo?

- Tenho certeza, a primeira coisa


que você deve fazer é começar
elogiando ela. – Eu disse me
lembrando do Joshua e do jeito
como ele me conquistou tão
rapidamente. – Você também podia
ser

meio pervertido de vez em quando,


pra ela ver que você não é tão
inocente assim.

Ele sorriu.

- Acha mesmo?

- Certeza.

E quase como se tivesse sido


ensaiado, a Mônica chegou
correndo na nossa direção, os olhos
exalavam determinação.

- EDU! EU JÁ SEI O QUE VOU


FAZER!

O Edu se levantou e olhou pra ela


sem entender.

- Do que exatamente você tá


falando?

- EU VOU ME DECLARAR
AGORA MESMO PRO MENINO
QUE EU MAIS AMO NESSA
VIDA!

Eu olhei pra ela sem acreditar, o


Edu parecia em choque, dava para
ver que seus olhos estavam

brilhando de esperança.

- Quem é esse menino? – Ele


perguntou animado.

- ELE É FOFO, MEIGO, LINDO...


PERFEITO, NA VERDADE.

O Edu sorriu.

- Nome?

Ela deu um pulinho e sorriu


vitoriosa.

- Nicolas Hunter.
12. Agora deu merda

- Quem? – O Edu disse sem


acreditar, sua voz parecia uma
mistura de dor, raiva e surpresa.

Eu olhei pra ela, que sorria


decidida.

- O Nicolas, irmão do meio dos


Hunter. – Ela fez uma pausa e seus
olhos brilharam. – O cara de

olhos azuis como o céu, que tem


aquele cabelo ondulado e preto e
um corpo que...

- Tá, já entendi. – O Edu falou


irritado e a Mônica olhou pra ele
sem entender.

- Por que você ficou com raiva do


nada?

Eu olhei pra Mônica. Qualquer


pessoa no mundo notaria que o
Eduardo era apaixonado por ela.

Ele revirou os olhos.

- Não gosto de ficar ouvindo sobre


macho. – O Edu falou, escondendo
o real motivo.

- Meu Deus Edu, era para você está


feliz por mim!
Ele olhou pra ela e sorriu, mesmo
parecendo prestes a desabar.

- Eu estou feliz por você. – Ele


disse desviando os olhos.

Ela abraçou ele, sorrindo de orelha


a orelha.

- Por isso que eu te amo! – A


Mônica disse dando um beijo na
bochecha dele. – Agora venham,
vocês

vão comigo enquanto eu me declaro


para o mais gostoso dos Hunter!

O Edu parecia sem emoção, seus


olhos estavam totalmente apagados.
Mas mesmo assim ele assentiu

com a cabeça.

Ela correu até o outro lado do


campo, comigo e com o Edu atrás.

Então ela parou bruscamente, a uns


5 metros de distância de onde o
Nicolas estava conversando com

o Felipe e com as gêmeas que eu


conheci ontem.

Com o Felipe. Eu quase tinha


esquecido esse detalhe. Um sorriso
se espalhou no meu rosto quando
eu imaginei o que iria acontecer.

A Mônica se arrumou rapidamente


o cabelo, ajeitou a saia e respirou
fundo.

- É agora.

Ela andou confiante até ficar em


frente ao Nicolas. Eu e o Edu
paramos um pouco atrás dela.

- Oi Mônica! – O Nicolas disse


sorrindo, as duas covinhas perfeitas
aparecendo no seu rosto.

- Nick, eu tenho que te dizer uma


coisa. – A Mônica disse e o Felipe
levantou uma sobrancelha pra

ela.

O Nicolas se levantou.

- Diga ai.

Ela respirou fundo.

- Nós somos amigos faz tempo e


você me ajudou nos momentos em
que eu mais precisei.

O Nicolas assentiu com a cabeça.


Olhei ao redor e vi que as meninas
da minha sala estavam
chegando e um monte de outras
pessoas tinham se levantado pra ver
também.

- E eu te conheço. Conheço sua


essência boa e gentil e... – Ela
olhou bem no fundo dos olhos dele.

Eu sou apaixonada por você.

O Nicolas olhou pra ela sem


acreditar. Olhei pro Felipe, ele
parecia ter levado um tapa na cara.

- Mônica...

- E eu sei que você também gosta


de mim, sei disso pelo jeito como
me olha, sei disso pelo jeito

como você fala comigo. – Ela falou


de uma vez só e o Nicolas parecia
ter perdido a fala.

- BEIJA LOGO ELA CARA! - Ouvi


alguém gritando da rodinha ao
nosso redor.

- É, SE TU NÃO PEGAR EU
PEGO! – Outra pessoa gritou.

O Nicolas respirou fundo.

Se ele não beijasse seria chamado


de gay.
Mas... Meus olhos foram para os do
Felipe, que olhava sem acreditar
para o que estava acontecendo.

Ele estava tão sem luz quanto o


Eduardo. Porra Mônica, tanta gente
no mundo e você vai se

apaixonar logo pelo Nick?

A loira se aproximou do Nicolas,


suas mãos puxaram as dele para a
sua cintura.

- Vamos Nick, não precisa ter


vergonha. – Ela disse de um jeito
sexy.
Olhei pro lado, mas o Edu não
estava mais lá.

- Eu... – O Nicolas começou


falando, mas foi calado por um
beijo.

Começou como um selinho meio


forçado, mas eu vi o quanto ela
queria isso, o quanto ela queria
mais

do Nicolas e suas mãos foram para


a nuca dele, o beijo foi aumentando,
virando um beijo de cinema.

As mãos do Nicolas eram firmes na


cintura dela, mas seus olhos
estavam abertos.

Todo mundo ao redor começou a


aplaudir. Bem, todo mundo menos o
Felipe.

Depois de quase dois minutos de


beijo, ela o soltou sem fôlego.

- Eu amo você Nicolas.

Ele balançou a cabeça em


concordância. Então seus olhos
encontraram os meus.

- Mônica, eu não posso fazer isso. –


Ele disse olhando pra mim, como
se tivesse tido uma idéia.

Ela olhou pra ele sem entender. As


pessoas ao nosso redor estavam tão
concentradas que parecia que

estavam vendo um jogo da Copa do


Mundo.

- Por que não?

Ele desviou os olhos.

- Eu não amo você.

- PUTA QUE PARIU! – Ouvi


alguém gritando de surpresa.
- E quem você ama? – A Mônica
falou com a voz carregada de dor. –
E por que você me beijou?

- Você que me beijou! – O Nicolas


falou indignado e depois olhou pra
mim, como se pedisse

desculpas.

Por que ele estava me olhando


assim... PUTA QUE PARIU! ELE
VAI FAZER MERDA!

- Eu amo a Susan. – O Nicolas


disse no segundo em que eu percebi
o que ele iria fazer. – Desde o dia
em que ela apareceu na porta da
minha casa.

Eu olhei pra ele sem acreditar. A


Mônica se virou pra mim no mesmo
segundo.

- SUA VADIA! – Ela gritou com


ódio nos olhos.

- Não fale assim dela. – O Nicolas


falou fechando o punho. – Ela não
tem culpa. Ela não tem culpa

de ser irresistível.

- Que merda ta acontecendo aqui?


Todo mundo se virou enquanto o
Michael entrava na rodinha, ele
parecia muito puto.

- Oi irmão...

- Susan decida-se qual dos Hunter


vai te comer. – O Michael disse
olhando pra mim com nojo e

raiva.

Merda, merda, merda. O que eu


faço agora?

- Do que você está falando? – O


Nicolas perguntou fingindo ciúmes.
A Mônica parecia que iria
explodir de raiva e o Felipe olhava
pra nós sem acreditar no que estava
acontecendo.

- Cala a boca Michael. – Eu disse


fria.

- Ah, então você não quer que


saibam o que você fez ontem? – O
Michael perguntou debochado.

- Do que ele ta falado? – A Mônica


perguntou com a voz cheia de dor e
raiva.

Então eu ouvi várias pessoas


suspirando atrás de mim, mas não
me virei. Não era importante.

- Cuida da sua vida! - Eu gritei com


o Michael.

Mas ele estava olhando pra alguma


coisa atrás de mim. Seus olhos
brilharam de maldade e ele

sorriu.

- Beije o Nicolas e ninguém vai


saber o que aconteceu ontem.

Eu olhei para o Nick, ele parecia


tão sem palavras quanto eu.

- E ai, vai ou não vai?


Suspirei e me aproximei do
Nicolas.

Olhei para o Felipe pedindo


permissão e ele assentiu com a
cabeça.

Então o Nicolas colocou as mãos


na minha cintura. Eu fechei meus
olhos.

Ele se aproximou e demos um


selinho demorado.

- Ah, oi maninho, que bom que você


chegou.

Me virei na mesma hora pro


Michael, ele sorriu cínico e
apontou pra alguma coisa atrás de
mim.

Eu devia ter me virado pra ver


antes.

- Susan, eu não acredito que você


fez isso comigo.

Eu fechei meus olhos com força,


tentando convencer a mim mesma
que aquilo não era real. O Nicolas

ainda estava com as mãos na minha


cintura.

- Não é o que você está pensando. –


Eu senti meus olhos se enchendo de
lagrimas.

Abri meus olhos e vi que o Joshua


ainda olhava pra mim com uma
mistura de todos os piores

sentimentos possíveis.

Mas um se destacava: decepção.

13. Por que era tudo tão


complicado?

- JAMES, EU JURO QUE...

- Eu não quero ouvir mais nada que


sai da sua boca. – O Joshua disse
frio, seus olhos brilhavam de

dor.

- O que está acontecendo? – O


Nicolas perguntou me soltando e eu
corri para perto do Joshua.

- E-Eu... – Tentei explicar, mas as


palavras sumiram.

- Você me trocou pelo meu próprio


irmão.

O Michael ria baixinho do outro


lado da rodinha.

Tentei segurar a mão do Joshua,


mas ele me afastou bruscamente.

- Agora eu sei que o que eu fazia


era errado. – O Joshua respirou
fundo. – Agora eu sei como dói ser
usado por alguém que não presta.

- Joshua me escuta, por favor...

- Alguém pode me explicar o que ta


havendo? – O Nicolas insistiu.

- Acho que nós dois fomos usados


por essa vadia.

Meu coração tinha parado de bater,


meu cérebro estava a mil, meus
olhos estavam lagrimejados. Eu
queria poder voltar 2 minutos atrás
e deixar o Michael contar pra todo
mundo que eu beijei o Joshua.

O que eu tinha na cabeça?

Um murmúrio passou pela rodinha.


Então o sinal tocou.

Todo mundo olhou pra nós como se


quisesse uma resposta final.

O Joshua revirou os olhos.

- Vão embora, isso não é da conta


de vocês. – Ele disse com frieza e
todo mundo se retirou sem falar
mais nada. Ninguém discordava da
ordem de um Hunter.

O Michael foi o primeiro a se virar


pra sair, mas o Joshua correu e
puxou seu braço com força.

- Você fica.

O irmão mais novo respirou fundo.

- Vocês três. – O Joshua disse


decidido.

Eu assenti com a cabeça e fiquei o


mais longe possível do Nicolas.

- Susan.
Me virei para os olhos azuis do
Joshua.

- Eu não suporto olhar pra você,


pode sair da minha frente, por
favor? – Ele disse me olhando com

desprezo.

- Joshua, eu posso explicar tudo pra


você...

- Então explica.

O Michael olhou pra mim, com um


sorriso travesso no rosto.

Eu olhei pro Nicolas.


- Explica?

- Você sabe que eu não posso. – O


Nicolas disse olhando fixamente
pra mim.

Eu sei, eu sei, mas eu também não


posso ficar assim. Eu queria poder
gritar a verdade, dizer que o

Nicolas é gay e que eu sou


apaixonada pelo Joshua, que jamais
trairia ele, jamais beijaria outro
cara.

Mas eu não podia fazer isso.

- Você sabe por que eu vim aqui


Susan? – O Joshua perguntou
olhando friamente para mim.

Eu neguei com a cabeça. Eu não


queria saber a resposta.

- Eu vim te pedir em namoro.

Puta merda.

- O que aconteceu entre vocês? – O


Nicolas perguntou mais uma vez.

Eu respirei fundo.

- Ontem à noite nós nos beijamos.

O Joshua olhou pra mim, seus olhos


foram de frieza para dor. Uma dor
tão profunda que fazia seus

olhos brilharem.

- Então... Ela é a garota que você


tava dizendo no café da manhã?

- Ela era.

Uma dor insuportável tomou conta


do meu ser.

- Joshua, por favor, me escuta ok?

- Eu não escutaria se fosse você... –


O Michael disse com ar de riso.
- Cala a boca. – Eu e o Joshua
dissemos juntos.

- Eu só quero ajudar. – O Michael


disse sorrindo, ele não se
importava nem um pouco com o
resto do

mundo.

- Susan, eu... Eu conto.

Olhei pro Nicolas sem acreditar.

- Não precisa... – Eu falei baixinho,


sem demonstrar o quanto eu queria
que ele dissesse.
-Preciso sim. – O Nicolas disse
decidido, mas seus olhos estavam
com medo. Medo da reprovação.

- Que drama é esse? – O Michael


bufou meio irritado, mas ainda com
um ar de riso.

O Nicolas desviou os olhos e


suspirou.

- Eu tenho que contar. – Ele fez uma


pausa, toda a atenção estava nele
agora. – Eu sou... – Ele

murmurou a ultima palavra tão


baixo que nem eu que estava perto
dele ouvi.

- Você é o que? – O Joshua


perguntou levantando uma
sobrancelha.

Eu não posso deixar ele fazer isso


por mim. Minha mente disparou em
busca de uma solução

- JAMES POR FAVOR, EU SÓ


BEIJEI O NICOLAS PRA FAZER
O Michael NÃO CONTAR PRA

TODO MUNDO O QUE


ACONTECEU ONTEM! – Eu gritei
correndo para perto do Joshua.
- Por que você não queria que as
pessoas soubessem? – O Joshua
perguntou com frieza.

Eu não sei. Eu simplesmente não


sei.

- Por que ela tem vergonha de você.


– O Michael disse vindo na nossa
direção, com um sorriso seco

no rosto. – Quem não teria?

O Joshua olhou pra ele com raiva


por um segundo, então abaixou os
olhos.

- Nada a ver! – Eu disse irritada.


- Ah não? E por que você preferiu
beijar o Nicolas do que deixar eu
contar para as pessoas sobre

você e o Joshua?

- Por que eu não queria chamar


tanta atenção no meu primeiro dia
de aula!

- Em vez disso quis cortar meu


coração? – O Joshua disse voltando
os olhos para os meus.

- Ei!!! O que vocês estão fazendo


fora das salas?

Nós nos viramos ao mesmo tempo,


para ver o Professor Cavalcante
correndo para perto da gente.

Ele era lindo, com uma camisa


meio colada do Real Madrid, que
realçava seus músculos definidos e

uma calça preta que caia


perfeitamente. Ele era lindo como
um Hunter.

- Professor Cavalcante, faz tempo


que eu não vejo você. – O Joshua
falou mudando de jeito e tom

rapidamente. Nunca vou entender


como ele consegue fazer isso.
- Joshua, tudo bem com você? – O
professor perguntou dando um
sorriso perfeito.

- Ótimo e você? – O Joshua disse


sorrindo também. Sem nenhum
vestígio do Joshua de 1 minuto

atrás.

- Também... Mas acho que a Susan


e seus irmãos deveriam estar na
sala de aula.

O Joshua assentiu com a cabeça.

- Sei disso, foi só uma reunião de


família de emergência.
- Espero que tenham resolvido sei
lá o que tenha motivado isso. – O
professor falou olhando pro

Michael, como se soubesse que ele


era o grande problema.

- Obrigado. Nicolas, Michael e


Susan – O Joshua pronunciou meu
nome com tanta indiferença que

minha alma doeu. – vão pras salas,


em casa nós conversamos.

- Acho melhor encerrarmos o


assunto. – O Nicolas disse.

- Isso quem vai decidi sou eu.


Agora vão. – O Joshua falou
autoritário.

Eu concordei com a cabeça e corri


para as escadas sem olhar pra trás.
A última pessoa com quem eu

queria conversar agora é o


Michael.

Bati na porta da sala e abri


devagar. Por sorte era o teacher
Bernardo.

- Perdeu a hora? – O teacher disse


sorrindo e eu entrei na sala.

- Você não faz idéia... – Ouvi


alguém murmurar no fundo da sala.

Fechei o punho e me sentei ao lado


do Edu, sem olhar pra ninguém.

- Foi mal, professor, posso entrar?


– O Michael disse entrando na sala
sem bater.

O teacher fingiu estar com raiva.

- DA PROXIMA VEZ EU CORTO


SEU PINTO! – O professor disse
imitando a voz de uma garota

irritada e toda a sala rio.

- Eita porra, nunca mais atraso na


vida. – O Michael falou rindo e foi
se sentar no fundo da sala com seus
amigos idiotas.

O professor começou a corrigi


algumas atividades, mas eu não
estava prestando atenção.

Eu só conseguia pensar no Joshua.


E em como as coisas mudaram
bruscamente e sem a minha

permissão de perfeito para... Isso.

Mas, a verdade é que eu nem me


importava comigo, nenhuma dor
que eu possa sentir se compara
com a dor do Joshua. Eu só queria
que ele ficasse bem, mesmo que ele
tivesse que me odiar pra

sempre para conseguir isso.

- Susan, tem como você explicar o


que aconteceu? – O Edu perguntou
baixinho do meu lado.

- Depois... Se eu consegui resolver.

- Torço por você. – O Edu falou e


me lançou um sorriso quase que de
pena e eu retribui.

O Edu estava com um coração


partido dentro do peito e mesmo
assim conseguia se importar
comigo.

Uma sensação boa se espalhou pelo


meu corpo, mesmo que quase tudo
fosse ruim, eu adorava saber

que pelo menos tinha um amigo de


verdade ali.

- AGORA QUE JÁ SABEMOS O


ASSUNTO, QUE TAL OUVIMOS
UM BOM E VELHO ROCK? –

O teacher Bernardo perguntou


animado e a sala ficou agitada em
concordância.
[...]

Quando o sinal que dizia que a


ultima aula do dia acabou, eu já
estava no meu décimo sono na aula

de matemática. O professor PH era


muito pior do que o Júlio tinha dito.

Arrumei as coisas na minha bolsa e


respirei fundo. Eu não queria ter
que chegar em casa e conversar

com o Joshua.

Passei direto pelas meninas,


também não tava afim de conversar
com elas, e desci as escadas num
pulo.

O carro preto do Joshua estava


estacionado na porta do colégio.
Respirei fundo.

Corri para o carro e entrei na porta


de trás, sem me virar para o
Nicolas ou para o Michael, que

vinham atrás de mim.

- Olá Susan, o Joshua mandou eu


buscar vocês hoje. – Um homem
loiro com um tom de voz

extremamente educado estava com


as mãos no volante. – Eu sou
Gustavo, o motorista dos Hunter.

- O que você está fazendo aqui


Gustavo? – O Nicolas perguntou
entrando sentando no banco do

passageiro.

- O irmão mais velho de vocês


disse que estava muito ocupado
para isso.

O Michael entrou no carro e o


Gustavo deu a partida.

- Para de sorrir, você estragou tudo.


– Eu disse irritada para o Michael,
mas ele sorriu ainda mais.
- Eu disse que iria fazer você se
arrepender pelo que disse, não
lembra? – O Michael respondeu

baixinho.

Eu não respondi. É claro que eu


lembrava, eu só não sabia que ele
poderia ser tão maldoso.

O resto da viagem foi silenciosa e


eu quase pulei do carro quando
finalmente estacionamos na frente

da mansão dos Hunter.

Entrei correndo e fui direto para o


quarto. No segundo em que a porta
se fechou eu me joguei na cama e
todas as lagrimas que eu segurei
durante o dia começaram a cair sem
parar.

[...]

Acho que acabei dormindo, porque


acordei ainda com a roupa que
tinha ido para o colégio. Meus

olhos ardiam e meu nariz estava


entupido de tanto choro.

Fui para o banheiro e tomei um


banho longo, tentando parar de
pensar no Joshua, no beijo dele, nas
mãos dele, no modo como ele me
olhou quando disse que me amava...

Meus olhos começaram a


lagrimejar de novo. Merda, eu
preciso conversar com ele.

Sai do banheiro e coloquei a


primeira roupa que encontrei, dei
uma olhadinha na hora e vi que já

eram 18:09.

Pensei em ir direto para o quarto do


Joshua, mas algo me disse que seria
melhor em um lugar em que

eu já estava habituada. Então


desbloqueie meu celular e procurei
o contato do Joshua.

Susan dos Alvez – 18:09 :

Joshua, a gente precisa conversar.

Ele respondeu no mesmo segundo.

Joshua – 18:09 :

Não quero falar com você.

Argh.

Susan dos Alvez – 18:09 :

Você precisa me ouvir.


Ele visualizou e começou a
escrever alguma coisa, mas apagou
e eu continuei sem resposta.

Continuei olhando para a tela do


celular por quase 10 minutos, então
eu cansei e deitei de novo na

cama, olhando pro teto.

Foi nesse momento em que eu ouvi


batidas na porta.

- Abra antes que eu mude de idéia.


– A voz do Joshua veio do outro
lado da porta e meu coração

acelerou.
Me levantei num pulo e abri a
porta. Ele entrou sem olhar pra
mim.

- Diga. – Ele falou frio e andou


direto para a janela, sentando numa
cadeira da varanda.

Eu o segui e fiquei em pé na frente


dele.

- Eu juro que eu não queria beijar o


Nicolas, você sabe disso, você
sabe que eu só amo você! – Eu

disse de uma vez e ele fixou os


olhos nos meus.
- E por que você beijou?

- Eu já disse! Eu não queria que


todo mundo soubesse com quem eu
fico logo no segundo dia de aula,

não queria que você achasse que eu


sai por ai espalhando o que
aconteceu e, pelo amor de Deus, eu

não queria magoar você!

Uma parte dele parecia lutar para


acreditar em mim.

- Eu não sei mais o que pensar. –


Ele disse desviando os olhos.
Eu segurei seu rosto com as mãos,
forçando ele a olhar pra mim.

- Você sabe sim, confie em mim.

- Por que eu deveria fazer isso?

Eu sorri quando me lembrei que eu


já tinha dito essas palavras para
ele.

- Porque eu não sou disso, mas eu


também não posso ficar aqui
ouvindo você chorando ai dentro...

Ele olhou surpreso pra mim.

- Você ainda lembra disso?


- Eu lembro de cada segundo que
passei com você Joshua. – Eu disse
e era verdade. Eu lembrava de

tudo, e amava cada momento de


forma única.

- Ah Susan...

- Eu amo você.

Ele olhou pra mim e então seus


olhos brilharam. Ele finalmente
entendeu.

- Eu também amo você. - Ele deu


uma pausa. - Nunca mais faça isso
ok?
- Você quem manda! – Eu disse
rindo de alivio.

Ele se levantou e me puxou pela


cintura.

E ai a gente se beijou.

Nossas bocas pareciam se conhecer


a anos, tudo combinava
perfeitamente, mesmo um selinho
rápido

parecia digno de filme. Por que era


amor. E amor tem dessas coisas.

Sua mão esquerda desceu para meu


quadril e me puxou mais pra perto,
eu estava tão colada que

conseguia sentir seu membro duro


perto da minha virilha.

Então ouvimos um grito.

- O que foi isso? – Eu perguntei me


afastando dele na mesma hora.

- Não faço a menor idéia, mas veio


lá debaixo.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO


AQUI? – Ouvi a voz furiosa do
Senhor Fernando vindo do

primeiro andar e nem olhei para o


Joshua antes de descer correndo.

A cena que eu vi me deixou sem


chão.

De um lado da sala, sentado


confortavelmente numa poltrona, o
Michael ria de tudo que estava

acontecendo.

Do outro, o Senhor Fernando


olhava com raiva, ódio e surpresa
para o Nicolas.

Para o Nicolas e o Felipe.

- P-Pai... – O Nicolas disse


soltando a cintura do Felipe.

- Você é gay. – O Senhor Fernando


falou com nojo. – Você é um viado.

- Não fale assim dele! – O Felipe


disse se colocando na frente do
Nicolas, de um jeito protetor.

Eu corri para ficar ao lado do


Nicolas, enquanto o Joshua ia para
o lado do pai, olhando sem

entender para o que estava


acontecendo.

- O que houve aqui? – O Joshua


perguntou.
- Eu vi. Eu vi o Nicolas beijando
esse... Esse garoto. – O Senhor
Fernando falou com tanto ódio na

voz que nem parecia estar se


referindo ao próprio filho.

- Pai, eu posso explicar!

- Nunca mais me chame de pai. Eu


não tenho filho gay.

- Eu não tenho culpa! – O Nicolas


gritou desesperado, correndo em
direção ao Senhor Fernando, que

o empurrou de volta.
- Não toque em mim. – Ele disse
com desprezo.

O Felipe segurou o Nicolas antes


que ele caísse de costas no chão e
olhou para o Senhor Fernando.

- Por favor, nos deixe explicar.

- Explicar o que? O jeito como


você colocou meu filho num mundo
de pecado? Me recuso a escutar a

qualquer palavra que sai dessa sua


boca imunda!

- Não fale assim! – Eu gritei sem


conseguir me manter calada.
O Joshua olhava para mim e para o
Nicolas sem parar, tentando
entender.

- Pai, é sério, ninguém escolhe isso,


as coisas simplesmente... – O
Nicolas começou a dizer, mas o

Senhor Fernando levantou um dedo.

- Chega. – Ele andou até chegar em


uma escrivaninha, abriu a primeira
gaveta e tirou um objeto de

lá. – Vamos resolver isso.

Ele se virou e um grito agudo


escapou dos meus lábios quando eu
vi qual era o objeto.

Uma arma.

14. Talvez as coisas estejam


melhorando

O Nicolas também deixou escapar


um grito e o Michael se levantou no
mesmo segundo.

-Pai... - O Joshua disse com uma


voz lutando pelo autocontrole, ele
foi devagar até fica na minha

frente, me protegendo.

Eu empurrei o Joshua da minha


frente com delicadeza e vi os olhos
furiosos do Senhor Fernando

brilhando de ódio.

-Não defenda esse viadinho. - Ele


cuspiu essas palavras com nojo e o
Nicolas deu um passo a frente,

encarando o pai.

-Você iria me matar? - O Nicolas


perguntou sem acreditar.

-Não fale como se eu tivesse


mudado de ideia. - O Senhor
Fernando disse calmamente e se
aproximou do filho. - Eu vou te
matar.

O Felipe correu para ficar na frente


do Nicolas, seus olhos estavam
fixos nos do Senhor Fernando e

ele parecia capaz de tudo.

-O senhor precisa ouvir a gente.

O Nicolas começou a chorar


baixinho atrás do Felipe e meu
coração ficou apertado. Eu não
sabia o

que fazer.
-Faça alguma coisa. - Eu sussurrei
para o Joshua.

Ele assentiu com a cabeça


discretamente e foi para perto do
pai.

-Não faça nada que poderia se


arrepender depois. - O Joshua disse
calmamente, mas o Senhor

Fernando não se virou pra ele.

-Eu não vou deixar esse garoto


estragar o nome da família.

O Nicolas caiu de joelhos e o


Felipe se virou para levanta-lo.
Seria o momento perfeito para
atirar.

-Agora. - O Senhor Fernando falou


para alguém invisivel e ajeitou a
mira da arma.

Então o Joshua se jogou em cima do


pai como uma lobo e a arma voo
para longe.

-NÃO VOU DEIXAR VOCÊ


MATAR MEU IRMÃO! - O Joshua
gritou para o pai, segurando suas

duas mãos acima da cabeça. - Nem


o namorado dele.
O Senhor Fernando olhou para o
filho sem acreditar.

-Você está do lado deles?

-Eles não estão fazendo nada de


errado. - O Joshua disse frio.

-CLARO QUE ESTÃO! - O Senhor


Fernando falou furioso e empurrou
o Joshua para longe. - E

nunca mais diga algo assim!

Eles se levantaram e começaram a


se fuzilar com o olhar. Fuzilar. A
arma! Eu me virei a tempo de
ver o Michael correndo para o
meio da sala para pegá-la, seus
olhos fixos nos do Nicolas.

-Ei pai, acho que vai querer ver


isso. - O Michael disse suavemente
e toda a atenção da sala foi para
ele. Ele com uma arma na mão,
apontada diretamente para o
coração do Nicolas.

-Michael, eu imploro. - O Nicolas


disse com os olhos cheios de
lagrimas. - Eu imploro que largue

essa arma!
O Michael riu baixinho.

-E se eu não fizer isso? - O Michael


disse sorrindo cínico e andando na
direção do irmão do meio. -

E se eu te matar?

O Felipe deu um passo a frente,


prestes a defender o namorado, mas
o Nicolas o empurrou de volta.

-Não Lipe, se alguém tiver que


morrer aqui sou eu. - Mesmo com a
voz confiante, os olhos do

Nicolas estavam marejados e seu


corpo parecia disposto a fugir o
mais rápido o possivel daqui.

-Que fofo os namoradinhos! Quase


chorei. - O Michael falou, a voz tão
cheia de ironia que eu tive

vontade de vomitar.

-Acabe logo com isso. - O Senhor


Fernando disse se aproximando do
Michael.

O Michael sorriu e seus dedos


estavam quase tocando no gatilho.
Eu precisava fazer alguma coisa.

-Michael! - Eu gritei, fazendo com


que toda a atenção fosse pra mim. -
Espere um segundo, pense nas

consequências. - Eu disse
rapidamente e praticamente corri
para ficar na frente do Nicolas. -
Tem

jeitos mais eficazes de acabar com


isso.

-Sai da frente empregadinha, ou eu


atiro em você também. - O Michael
disse segurando firme a arma.

Eu sabia que ele poderia atirar a


qualquer momento. Mas sair da
frente não é uma opção.
-Não ouse. - O Joshua disse do
outro lado da sala. O Nicolas e o
Felipe pareciam que tinham

perdido a voz. Talvez fosse o medo


da morte.

-Qual seria o outro jeito? - O


Senhor Fernando perguntou olhando
pra mim.

-Tira ele de casa, nunca mais olha


na cara dele e esquece que já teve
esse filho. Mas não o mate. - Eu
disse tentando parecer calma e
confiante, mas isso era muito
complicado de contarmos com o
fato de

o Michael estar com uma arma


apontada pra mim.

O Nicolas me puxou levemente


para o lado e seus olhos foram do
Michael para o Senhor Fernando.

-Eu posso me virar...

-Não me importo com você. - O


Senhor Fernando o cortou
friamente. - Mas, até que a ideia da
Susan

não é ruim. Eu não iria precisar


sujar minhas mãos com algo tão
sujo quanto você.

O Felipe respirou fundo e o Joshua


o encarou, ele parecia estar
pensando em alguma coisa.
Juntando

algumas peças do quebra-cabeça.

-Mas pai, eu vou ter que ver ele


todos os dias na escola... - O
Michael falou indignado, ainda

apontando a arma para o Nicolas.

-Não, ele vai estar proibido de


ficar perto de você. - O Senhor
Fernando disse autoritário e o
Nicolas assentiu com a cabeça,
olhando pra baixo.

-Ok, agora me deixe sair. Deixe eu


e o Felipe sair.

O Senhor Fernando olhou pro filho


com nojo, mas saiu da frente,
abrindo espaço para a porta.

-Nunca mais volte.

O Nicolas fez que sim a cabeça e


ele o Felipe saíram da casa em
silencio.

-Acho que tivemos piedade demais.


- O Michael disse irritado.
-Isso ainda não acabou.

Eu fechei meus olhos. O que


poderia ser pior que isso? O que
eles poderiam fazer com os dois?

-Susan, vamos. - O Joshua falou me


puxando para fora da casa pela
mão.

Andamos em silêncio até


chegarmos no portão. O Felipe e o
Nicolas estavam em pé do lado de
fora,

olhando um pro outro sem dizer


uma palavra.
Assim que o Nicolas me viu ele se
jogou nos meus braços.

-Obrigado, muito obrigado Susan!


Você salvou minha vida. - Ele disse
chorando de gratidão.

-Eu queria poder ajudar em mais


alguma coisa, mas não sei o que
fazer. - Eu disse desviando os

olhos.

-Você já ajudou muito. - O Felipe


disse se aproximando de nós com
um sorriso tímido. - Você

também Joshua, obrigado de


verdade.

O Joshua o encarou por um


momento, então sorriu.

-Obrigado a você, por não ter


namorado a Susan.

Todos riram, uma risada meio seca


por causa de tudo que aconteceu,
mas ainda assim sincera. Era

exatamente isso que estávamos


precisando.

-Agora você entende, tipo tudo


mesmo. - O Nicolas disse sorrindo
aliviado.
-E agora, pra onde você vai? - Eu
perguntei.

-Para casa do Felipe, até encontrar


algum outro lugar. - Ele disse sem
graça e eu tentei não sentir

pena dele (odiava quando sentiam


pena de mim), mas era impossivel.
Eu queria proteger ele, fazer

com que ele não precisasse passar


por isso. Mas, não havia nada que
eu pudesse fazer.

-Seus pais aceitam de boa? - O


Joshua perguntou pro Felipe.
-Desde que eu era pequeno eles
desconfiam da minha sexualidade,
eu só vou confirmar.

-E tem certeza que não dá


problema?

-Absoluta. Eles são legais. - O


Felipe falou sorrindo.

-Você me decepcionou muito.

Todos nós no viramos para o


portão. E lá estava o Michael, com
aquele ar superior dele.

-Michael. - O Nicolas disse


olhando fixamente pro irmão. -
Você iria mesmo me matar?

O Michael sorriu.

-Não, claro que não, isso nem


passou pela minha cabeça.

Eu levantei uma sobrancelha pra


ele, que sorriu ainda mais.

-... Ah, quase esqueci! - O Michael


deu um tapinha na própria testa. -
Eu que fiz isso.

-Do que você está falando? - O


Felipe perguntou.

O Michael sorriu de um jeito cruel.


- Eu sempre desconfiei de você,
Nicolas, desse seu jeitinho meigo e
delicado, mas ao mesmo tempo

sempre tão alegre, tão gentil, tão...


Gay. - O Michael disse torcendo o
nariz para a última palavra, com se
fosse uma doença. - Mas, claro que
era só desconfiança. Até hoje.
Quando você disse "eu

sou..." e parou. Então eu me toquei


do estava na minha frente desde
sempre.

O Nicolas respirou fundo, seus


olhos lutavam para se manterem
firmes. O Joshua nem piscava para

ouvir tudo que o irmão dizia.

- E ai eu vi vocês dois entrando


discretamente na casa, sorrindo um
pro outro e mais uma vez o

óbvio apareceu na minha mente. -


Ele deu uma pausa e então riu
baixinho. - Então eu liguei pro
papai e pedi para ele dá uma
passadinha em casa.

- VOCÊ O QUE? - O Nicolas gritou


sem acreditar.

Meu coração parou. Como alguém


podia ser tão maldoso?

- Por que você fez isso? - O Joshua


perguntou incrédulo.

- Eu estava entediado e nada mais


legal do que ver um circo pegando
fogo!

- O NICOLAS QUASE MORREU


PORQUE VOCÊ ESTAVA
ENTEDIADO?! - Eu gritei sem

conseguir me controlar, corri para


perto dele. Eu só queria socá-lo até
ele desmaiar.

Mas o Joshua segurou meu braço.


- Não. - Ele disse friamente. - Se
alguém for bater nesse idiota vai
ser eu.

O Michael revirou os olhos.

- Você realmente deveria aprender


a controlar sua vadia.

Nem deu tempo de piscar. Antes


que alguém pudesse abrir a boca, o
Joshua empurrou o Michael com

força contra a parede e o segurou


pela gola.

- Você tem ideia da gravidade do


que você fez? - O Joshua perguntou,
cuspindo cada palavra como se

fosse um tigre feroz. O Michael não


respondeu. - NOSSO IRMÃO
PODERIA ESTAR MORTO

AGORA! POR SUA CAUSA! POR


QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE
PENSAR EM MAIS NINGUÉM

NO MUNDO ALÉM DE SI
MESMO. - O Joshua gritou com
ódio na voz.

- E-Eu só queria ajudar o Nicolas a


se libertar. - O Michael falou com a
voz vacilante.
- EU não pedi sua ajuda. - O
Nicolas rebateu se aproximando
dos irmãos, seus olhos estavam

vermelhos de choro. - Eu NÃO


pedi sua ajuda Michael!

O Michael teve o bom senso de


abaixar os olhos e parecer
minimamente arrependido.

- Eu não iria atirar. - Ele disse por


fim.

O Joshua o soltou com nojo.

- Mas nosso pai iria, você sabe


disso!
O Michael balançou a cabeça em
negativa.

- Antes de ligar eu tirei quase todas


as balas da arma, deixando só uma.
Ele não iria conseguir

acertar de primeira.

Eu olhei pra ele. Isso não mudava


em nada as coisas, não mudava o
que ele fez, não mudava o nojo

que eu sentia por conhecer alguém


tão ruim, mas mesmo assim eu
estava surpresa.

Então eu olhei ao redor e notei uma


coisa.

- Cadê o Felipe?

O Nicolas nem sequer pensou antes


de correr de volta para a casa. Eu e
o Joshua o seguimos em alta

velocidade, parando um pouco


antes da porta por causa do que
estava acontecendo lá dentro. Lá

estava o Felipe e na sua frente, um


Senhor Fernando com olhos de
fogos e uma mão segurando uma

arma. Mas daquela distancia não


tinha como ele errar, uma bala seria
o necessário para matar o

Felipe.

-É muita cara de pau sua aparecer


aqui. - O Senhor Fernando disse
olhando pro Felipe como se ele

fosse um inseto.

-Eu vim pedir para você deixar o


Nicolas em paz. - Ele respirou
fundo. - Se quiser, pode me matar

agora mesmo, mas deixe ele ser


feliz.

O Nicolas correu para perto do


Felipe.

-Não, eu não conseguiria ser feliz


sem você! - O Nicolas deixou
escapar enquanto ficava um passo a

frente do Felipe. - Vamos embora,


ok?

-Faça o que ele estar mandando, ou


eu vou obedecer o que você disse. -
O Senhor Fernando disse

olhando para o Felipe com uma


expressão que só poderia ser
descrita como o mais puro nojo.

O Nicolas e o Felipe assentiram e


me deram um rápido abraço antes
de ir, murmurando algumas

palavras de agradecimento. O
mesmo eles fizeram com o Joshua.

E só quando eles saíram o Senhor


Fernando voltou a falar.

-E vocês dois saiam da minha


frente agora, não aguento olhar para
essas caras de súplica.

O Joshua abriu a boca para falar,


mas pensou melhor e me puxou pela
mão até subirmos as escadas,

indo direto para um quarto que eu


ainda não tinha entrado. O quarto
dele.

Assim que a porta se abriu eu senti


meu coração acelerar e isso
aumentou ainda mais quando ele a

fechou e trancou.

-Você sabe que a gente precisa


conversar, não sabe?

Eu sorri.

-Sei.

Ele me puxou pela cintura e me


colocou contra a parede.
-Você faz ideia de como eu estou
feliz? - Ele disse sorrindo. - Faz
ideia de como eu me senti quando
liguei A mais B e percebi que todas
as vezes que eu fiquei com raiva ou
triste com você foi pelo

motivo errado?

Eu balancei a cabeça em negativa,


sem conseguir conter a minha
felicidade por ouvir isso. Eu

finalmente estava livre.

Pena que pra isso o Nicolas quase


morreu.
-Ei, não fique assim... - O Joshua
disse quando notou minha
expressão. - Minha mãe não vai
deixar

ele longe por muito tempo, o


Nicolas sempre foi seu preferido.

-E quem é o preferido do seu pai?

-Eu. - Ele disse um pouco frio.

Eu não queria continuar o assunto,


então o beijei. E ele retribuiu com
força total, me puxando pra

cima pela cintura.


-Você nunca namorou o Felipe. -
Ele sussurrou mais para si mesmo
do que para mim, então começou

a distribuir beijos pelo meu


pescoço, me arrepiando. - Você
beijou o Nicolas para defendê-lo. -
O

Joshua continuou, fechando os


olhos e eu fechei os meus também,
enquanto sentia sua boca dando

leves mordidas na minha.

-J-Joshua, e-eu... - Eu não


conseguia terminar a frase, minha
voz parecia um gemido.

Sua boca voltou para minha e nos


beijamos intensamente, suas mãos
desceram para meu quadril e ele

me puxou mais para perto.

-Olha como você me deixa. - Ele


disse ajeitando o quadril para que
eu pudesse sentir seu membro

duro como uma rocha, o que me


deixou tão excitada que eu tive que
morder o lábio inferior para me

controlar.
-Eu ainda não estou pronta. - Eu
disse sem folêgo.

Abrimos os olhos ao mesmo tempo.

-Eu posso esperar. - Ele disse


sorrindo e se afastou um pouco de
mim.

-Mas, ainda podemos nos beijar


loucamente como se não houvesse
amanhã. - Eu falei, tentando ao

máximo não decepcioná-lo

-Sei disso. E é exatamente o que


vamos fazer.
Ele sorriu malicioso e sua mão
esquerda desceu até minha coxa.

-Mas não me julgue se eu não


conseguir me controlar
completamente.

Eu ri baixinho e voltamos a nos


beijar.

[...]

Acordei com o movimento do


Joshua na cama.

Me levantei assustada, vasculhando


no meu cérebro alguma coisa que
eu possa ter feito com ele. Mas
não encontrei nada, apenas beijos e
mais beijos, algumas mãos bobas e
sorrisos perfeitos.

-Susan?

Eu me virei e vi um Joshua
morrendo de sono acordando
devagar, então seus olhos se
arregalaram.

-Eu não me lembro de ter feito nada


demais com você. - Ele disse se
levantando também.

Ele estava sem camisa, deixando a


amostra seu corpo, que parecia ter
sido esculpido por um artista

brilhante. Joshua era tão lindo que


uma parte de mim chegava a pensar
que nunca iria me acostumar

com isso.

-Você não fez mesmo não. - Eu


disse sorrindo e dando um selinho
nele.

-Ufa, nem eu sabia que tinha tanto


autocontrole.

Eu ri e revirei os olhos.

-Nunca vou deixar de amar quando


você faz isso. - Ele falou sorrindo e
sua covinha única apareceu.

Seu cabelo loiro estava


desarrumado e sua cara gritava
sono. Mas ele parecia perfeito.

-Odeio quando você fala essas


coisas meigas e eu fico sem graça! -
Eu disse fingindo indignação.

-Odeia nada. - Ele falou e então


olhou para o relógio na parede. -
São quase 6 horas, é melhor você

ir pro seu quarto.

Eu fiz que sim com a cabeça e ele


me deu um último beijo antes de eu
sair e entrar no elevador.

[...]

-Não acredito que o seu pai fez


isso!

Eu mal tinha descido as escadas e


já conseguia ver o que estava
acontecendo na sala, o Joshua
estava contando sobra a noite de
ontem para a mãe.

-Eu sei... Você precisa fazer alguma


coisa!

-Eu vou fazer, amanhã mesmo o


Nicolas já vai estar de volta. - A
Dona Nicole disse decidida e eu

entrei na sala meio hesitante, mas


ela sorriu ao me ver. - Oi Susan!

-Oi Dona Nicole...

-Vai tomar café com o Michael, já


já eu libero o Joshua da conversa e
vocês vão pra escola.

Eu assenti com a cabeça e entrei na


cozinha, o Michael estava sentado
na mesa, de frente pra mim.

-Olá. - Ele disse indiferente e eu


me sentei na frente dele, nem um
pouco afim de conversa.

-Só quero comer, ok?

-Joshua vive dizendo isso, só que


normalmente se refere as garotas.

Meu sangue começou a ferver de


raiva no mesmo segundo.

-Cala a boca, se eu chamar ele aqui


você perde toda essa coragem em
um segundo!

-Você sabe que eu ainda não


desistir de fazer vocês se
arrependerem. Eu posso ser muito
cruel. - Ele disse ameaçadoramente
e eu fingi não me importar nem um
pouco.

-Que medinho. - Eu disse irônica.

Ele sorriu, mas não respondeu. Em


vez disso, nós comemos em
silencio por uns 5 minutos, quando
o

Joshua entrou na cozinha.

-Vamos.

Fui no banco do passageiro, ficar


perto do Joshua era extremamente
bom, mas a viagem da casa até a
escola foi sem graça. Sem o
Nicolas aquele carro parecia
estranhamente vazio.

Saltei do carro quando chegamos e


dei um selinho no Joshua ao sair,
ignorando completamente o

Michael no banco de trás. Também


ignorei os olhares na minha direção
e entrei na escola sem me

virar nenhuma vez.

Então eu vi o Felipe e o Nicolas


conversando animadamente do
outro lado do campo e corri até lá.
-SOPHIA! - Eles deram um gritinho
animado e me abraçaram ao mesmo
tempo.

-Me contem tudo que aconteceu


ontem!

-Meus pais aceitaram tudo de boa,


eles até gostaram do Nicolas. - O
Felipe disse sorrindo e passou a
mão na cintura do Nick.

-Ei, quanta demonstração de afeto. -


Eu disse estranhando.

O Nicolas sorriu.

-Vamos assumir nesse intervalo!


Eu pensei em todas as coisas que
poderiam dar errado e torci com
todo o meu coração para que elas

não acontecessem.

O Nicolas merecia ser feliz.

15. Um ótimo dia

- Boa sorte! – Eu falei sorrindo e


eles sorriram de volta.

- Obrigado Susan, provavelmente


vai ser no intervalo, então corra pro
refeitório assim que sair da

sala. – O Nicolas disse e eu notei


um tom autoritário no fundo da sua
voz. Às vezes eu esquecia que

ele também era um Hunter.

- Ok, mas agora eu preciso ir pra


aula. – Eu abracei os dois ao
mesmo tempo. – Amo vocês.

- A gente também te ama! – O


Felipe disse acenando enquanto eu
ia em direção ao outro lado do

campo.

Corri até chegar no corredor da


escada, quando vi que a Elena, a
Amanda e a Bia estavam sentadas
no chão, conversando.

- SOPHIA!! Vêm sentar com a


gente. – A Amanda gritou sorrindo
assim que me viu e eu sentei ao

lado dela.

- Oi, tudo bem com vocês?

- VOCÊ QUE TEM QUE DIZER! O


QUE FOI AQUILO ONTEM? – A
Amanda perguntou

arregalando os olhos e eu ri com a


empolgação dela.

- Seja discreta. – A Bia disse


olhando com censura pra Amanda.

- Ai minha gente, deixem a menina


falar. – A Elena completou
chegando mais preto de mim, seus

olhos brilhando de curiosidade.

- Acho que vocês vão descobri tudo


no intervalo.

- AH NÃO, DIZ AGORA!! – A


Elena e Amanda gritaram juntas.

- Vocês duas parem, a gente espera


até o intervalo. – A Bia disse
sorrindo, então se levantou. –
Agora vamos pra sala, é aula do
professor mais lindo do Brasil.

Cavalcante. É claro.

Um sorriso malicioso surgiu no


rosto da Elena.

- Por isso que eu adoro história!

- Mas ele dá aula de Química. – A


Bia disse confusa.

A Elena deu uma piscadinha.

- Não tem como prestar atenção EM


NADA com aquele gostoso
escrevendo no quadro.
Eu ri, mas enquanto estava subindo
as escadas comecei a pensar se
seria assim quando o Joshua

fosse professor. Porque, mesmo o


Professor Cavalcante sendo lindo,
o Joshua era perfeito. Meu

sangue ferveu só de pensar em um


monte de alunas chamando ele de
gostoso nos corredores.

Assim que entrei na sala, vi o Edu


conversando com um menino que eu
ainda não tinha conhecido e

com a Mônica, que parecia muito


triste.

Depois de tudo que aconteceu


ontem à noite, eu acabei
esquecendo o jeito como as coisas
terminaram

entre ela e o Nicolas.

- Susan, se junte a gente! – O Edu


acenou assim que me viu e me
lançou um sorriso tão brilhante que

parecia de comercial.

- Oi... – Eu disse entrando na


rodinha deles, meio sem graça por
causa da Mônica.
- Oi! Você é a tão famosa Susan? –
O garoto desconhecido perguntou,
ele era bem bonito, com um

cabelo castanho e liso, que caia em


uma franja de um jeito sexy, olhos
cor de mel e uma boca que

meu Deus do céu...

- Creio que sim. – Eu disse rindo. –


E você quem é?

- Meu nome é Pedro, prazer em te


conhecer. – Ele disse sorrindo e eu
vi que ele tinha uma única

covinha, no mesmo lugar que a do


Joshua, só que mais profunda.

- Susan, podemos conversar?

Eu me virei para a Mônica, ela não


parecia me odiar tanto quanto eu
esperava.

- Claro...

Ela me puxou pela mão até um


canto vazio da sala.

- Me explique o que aconteceu


ontem.

Eu respirei fundo.
- Você vai entender tudo na hora do
intervalo.

- Mas...

- Confie em mim.

Seus olhos pousaram nos meus, ela


parecia lutar contra algum
sentimento.

Depois de um minuto ela assentiu


com a cabeça e foi se sentar ao
lado da Iza. Fui atrás dela e me

sentei na frente da Elena.

Então a porta se abriu e quase


consegui senti todas as meninas
perdendo a respiração.

- Bom dia. – O professor


Cavalcante disse entrando na sala
com uma camisa do Bayer de
Munique.

- Bom dia professor. – A sala


respondeu em coro.

- Merda, com esse bom dia eu já


tou excitada aqui. – Ouvi a Isabela
sussurrar baixinho para a Elena.

Mas, por um segundo, os olhos do


professor encontraram os dela e ele
sorriu com malicia.

- Puta que pariu ele ouviu o que eu


disse! – Ela disse quase sem emitir
som.

- Adoro demais. – A Elena disse


rindo.

- Bem, como o assunto de vocês é


fácil, eu decidi dificultar um pouco
as coisas. – O professor deu

um sorriso maldoso. – Vamos fazer


um super trabalho em grupo que vai
valer metade da nota.

Um murmúrio de surpresa passou


pela sala.

- E eu quero grupos com sete


pessoas, vocês têm 5 minutos. – Ele
disse indo se sentar com uma

postura perfeita e autoritária.

A Amanda, a Iza, a Isabela, a Clara,


a Elena e a Bia se juntaram no
mesmo segundo. Então notaram

que faltava uma pessoa. Eu ou


Mônica.

Elas se entreolharam, tentando


decidir quem escolher.
Não que eu fizesse questão, mas
seria melhor fazer o trabalho com
elas que eu já conhecia.

Antes que eu pudesse me mexer, a


Mônica se levantou.

- É claro que vamos fazer juntas! –


Ela disse na defensiva. – Nós
fazemos trabalhos juntas desde que
tínhamos uns 13 anos.

A Bia deu um passo à frente e abriu


a boca para falar – provavelmente
para dizer que iria escolher a
Mônica - mas então a Clara deu um
grito:
- A GENTE TEM QUE
ESCOLHER A SOPHIA!

Todo mundo da sala olhou para ela.

- Nós já fomos um milhão de vezes


para a casa da Mônica, mas
nenhuma de nós já entrou na mansão

Hunter... – A Clara continuou em


um tom bem mais baixo.

- Até que faz sentido. – A Iza disse


baixinho.

- Então ta decidido: Vamos com a


Susan! – A Bia deu a palavra final e
todas as meninas deram um
pulinho.

A Mônica bufou e foi para o grupo


do Edu.

- Acabou o tempo. Agora quero que


cada grupo faça uma rodinha e
decidam ontem vai ser a primeira

reunião. – O professor disse se


levantando e indo para a frente da
sala, ajeitando levemente sua

camisa para deixar seus músculos


ainda mais definidos.

Fizemos o que ele mandou e eu e as


meninas chegamos na conclusão
que era melhor nos reunimos

essa tarde, na mansão dos Hunter.


Uma parte de mim ficou um pouco
preocupada com a reação do

Senhor Fernando e da Dona Nicole


quando eles virem que eu chamei
geral para fazer um trabalho

sem a permissão deles.

[...]

- Não importa quantas aulas


irritantes de português tenham
depois de química, o meu fogo pelo
Cavalcante não diminui nem um
pouquinho! – A Isabela comentou
sorrindo de um jeito pervertido

enquanto descíamos as escadas.

- Você devia aprender a controlar


essa sua pepeca. – O Edu disse
rindo e eu ri também.

- Falou o cara que não consegue


passar pela Mônica sem ficar de
pau duro. – A Isabela disse na

defensiva.

O Eduardo corou no mesmo


segundo.
- Ah, cala a boca.

- Ei, vamos para o refeitório. – Eu


disse para mudar o assunto e ver o
Nicolas.

Eu nunca tinha entrado no refeitório


da JK e meus olhos se arregalaram
no momento em que eu vi o

quanto era enorme, lotado de gente


e de mesas, e na extremidade tinha
um palco.

Andamos até sentarmos na mesa em


frente ao palco, uns 3 minutos
depois a Mônica, o Júlio e uns
amigos idiotas do Michael se
juntaram a nós.

Então o teacher Bernardo subiu no


palco e deu umas batidinhas no
microfone.

- Hi pessoas maravilhosas! – Ele


disse rindo e todo mundo (todo
mundo MESMO) aplaudiu. – Ai,

vocês são uns fofos. – Ele sorriu. –


Mas, quem merece esses aplausos é
o aluno do terceirão que quer
contar uma coisa para vocês.

Silencio. Ninguém tinha a menor


idéia do que poderia ser. Ninguém
a não ser eu.

- Vocês com certeza já devem ter


ouvido falar do lindo, gostoso e
extremamente sexy: NICOLAS

HUNTER! – Ele se afastou para o


lado e o Nicolas correu para se
juntar a ele.

Novamente todo mundo aplaudiu,


menos a Mônica.

O Teacher Bernardo abraçou o


Nicolas e depois saiu.

- Oi, tudo bem com vocês? – O


Nicolas perguntou sorrindo e ouvi
algumas respostas. – Eu também

estou bem, obrigado. – Ele parou e


seus olhos foram para uma mesa
atrás de mim, nem precisei me

virar para saber que o Felipe


estava naquela mesa. – Eu... Vim
aqui para tocar uma música. Uma

música para o grande amor da


minha vida.

O refeitório todo estava estático de


ansiedade. Quase conseguia ouvir a
pergunta que todos faziam na mente:
quem seria a garota?

O Nicolas respirou fundo e pegou


um violão e um banquinho.

- Eu amo você. – Ele disse para


alguém atrás de mim e depois
voltou a olhar para o resto das

pessoas. – O nome dessa música é


Friends, do Ed Sheeran. Gostaria
que acompanhassem a tradução,

ela descreve tudo.

Olhei ao redor e vi que vários


alunos pegaram o celular do bolso
e digitaram freneticamente o nome
da música. Mas eu já tinha ouvido
ela um trilhão de vezes.

Era a música mais Larry existente


na terra.

O Nicolas se sentou no banquinho,


ajeitou o violão e o microfone.
Então começou a cantar.

We’re not, no we’re not friends

(Não somos, não, nós não somos


amigos)

Nor have we ever been

(Nem nunca fomos)


We just try to keep those secrets in
the light

(Nós apenas tentamos manter esses


segredos à luz)

But if they find out, will it all go


wrong?

(Mas se eles descobrirem, tudo vai


dar errado?)

And heaven knows, no one wants it


to

(E o céu sabe, ninguém quer que


ele)
So I could take the back road

(Então, eu poderia tomar o caminho


de volta)

But your eyes will lead me straight


back home

(Mas seus olhos vão me levar de


volta para casa)

And if you know me, like I know


you

(E se você me conhece, como eu te


conheço)

You should love me, you should


know

(Você deve me amar, você deve


saber)

Friends just sleep in another bed

(Amigos apenas dormem em camas


separadas)

And friends don’t treat me like you


do

(E amigos não me tratam como


você faz)

Well I know that there’s a limit to


everything
(Bem, eu sei que há um limite para
tudo)

But my friends won’t love me like


you

(Mas meus amigos não me amam


como você)

No, my friends won’t love me like


you

(Não, meus amigos não me amam


como você)

Ele parou. Sua voz parecia a de um


anjo.
- Vocês devem estar se perguntando
pra quem é essa música. Eu poderia
responder, é claro, mas

prefiro que ele mesmo se levante.

Um murmúrio passou pelo


refeitório. Sabia o que todos
estavam gritando em suas mentes
confusas:

ELE FALOU ELE!

- Eu também amo você. – Ouvi a


voz do Felipe atrás de mim.

- AI MEU DEUS DO CÉU! –


Alguém gritou em algum lugar na
minha esquerda, mas nesse
momento

eu não conseguia desviar dos olhos


azuis e perfeitos do Nicolas, o jeito
como eles brilhavam de

amor era arrepiante.

O Felipe subiu no palco e sorriu.

- Eu também amo você. – O


Nicolas disse abraçando o Felipe.
– Ótimo, agora podem começar a

vaiar o amor gay.

Mas, em vez disso, eu bati palmas.


Isso pareceu acordar a todos de um
transe e em questão de

segundos todos estavam batendo


palmas e assobiando, alguns até
gritavam palavras de apoio.

Os olhos do Nicolas se encheram


de lágrimas.

- Vocês não vão vaiar? – Ele


perguntou sem acreditar.

- Eu iria.

Argh, aquela voz sempre


estragando tudo.
Todos se viraram em direção ao
Michael, que olhava seu irmão com
desprezo.

- Eu com certeza vaiaria isso


sempre. – Ele falou com nojo e
andou até ficar a 5 metros do palco,

então parou e sorriu. – Mas, não


dessa vez.

E meus olhos não acreditaram no


que viram a seguir: O Michael
bateu palmas com um sorriso de

felicidade no rosto, sem um pingo


de maldade.
Eu nunca vou entender esse menino.

- Obrigado irmão. – O Nicolas


falou quase sem voz por causa do
choro.

O Michael se curvou levemente.

- É por isso que eu amo esse


menino. – A Clara sussurrou para
mim e eu sorri.

Ele não é amável. Mas, talvez, não


seja tão ruim assim.

[...]

Voltei para a casa no carro da mãe


da Isabela, junto com todas as
outras seis meninas do trabalho em
grupo. Foi meio complicado para
todo mundo entrar, mas depois a
gente só fez ri da situação.

- AI MEU DEUS! – A Iza deixou


escapar assim que paramos na
frente da mansão Hunter. – É
gigante.

A Clara olhava sem acreditar.

- O Michael mora aqui. – Ela falou


para ninguém em específico.

- É Clara, cuidado para não babar!


– A Amanda disse rindo.

Entramos sem dificuldade já que o


portão estava aberto.

- Venham, deixa que eu mostro o


jardim. – Eu falei me sentindo
importante.

Mas, mal tínhamos começado a


andar quando eu vi alguém com um
cabelo dourado sentado no chão

ao lado de outra pessoa com o


cabelo muito preto.

- É o Joshua. – Eu falei sem


palavras para as meninas e nos
aproximamos deles em silencio.

De perto dava para sentir o cheiro


extremamente bom deles e também
dava para ver o quanto era

lindo o cabelo preto do cara ao


lado do Joshua, liso e desarrumado.

- Eu não sei o que fazer! – O Joshua


falou olhando para cima. – Eu
nunca senti isso por nenhuma

outra garota.

Senti meu coração apertar e desejei


que as meninas fossem embora para
eu poder ouvir tudo sozinha.
Mas, não tinha como eu mandar
elas saírem sem fazer barulho,
então não me mexi.

O cara de cabelo preto riu.

- Você ta fodido.

O Joshua balançou a cabeça em


negativa.

- Acho que não, ela também gosta


de mim. – Ele disse e mesmo de
costas dava para ver que ele

sorria. – Ela me ama.

- Então qual é o problema?


O Joshua respirou fundo.

- O problema é que eu não consigo


ver ela e não pensar em como deve
ser quando estivermos

fazendo amor.

O cara de cabelo preto explodiu


numa gargalhada.

- FAZER AMOR? Não acredito que


você disse algo tão gay! – Ele disse
rindo, então ficou sério. –

Espera ai, isso tem a ver com o


acordo que fizemos quando
tínhamos 11 anos?
- Exatamente.

- Você acha mesmo que a filha da


empregada é o grande amor da sua
vida? – Ele perguntou sem

acreditar.

- Eu não acho. – O Joshua fez uma


pausa e eu senti meu coração quase
parando. – Eu tenho certeza.

As meninas pareciam prestes a


desmaiar.

- Puta merda, eu preciso conhecer


essa garota! Não é qualquer uma
que faz você dizer algo gentil.
- Sei disso. – O Joshua sorriu. –
Acho que já já ela chega do
colégio. O que nos leva ao outro

problema: Ela ainda ta no segundo


ano do médio.

- Isso não é um problema! É até


bom, que ela ainda não sabe a
maldade do mundo e... – O cara de

cabelo preto se ajeitou. – Ainda


não acabou a puberdade.

A Clara abriu a boca para falar


alguma coisa, mas a Bia colocou a
mão para impedir no mesmo
segundo.

- Acho que não devemos ficar aqui


ouvindo. – A Bia disse sem emitir
som.

Eu concordava com ela, mesmo


querendo ouvir mais eu não iria
querer que o Joshua me ouvisse

conversando com outra menina


sobre ele.

- Merda, eu tou tão apaixonado que


juro por Deus que senti o cheiro
dela agora mesmo. – O Joshua

disse no segundo em que eu me


levantei.

Eu e as meninas entramos em
silencio na casa e nos jogamos no
sofá.

- Por que você não contou que


pegava o mais gostoso dos Hunter?
– A Elena perguntou indignada.

- Ele não é o mais gostoso dos


Hunter! O Michael que é! – A Clara
protestou deitando no colo da

Amanda.

- A gente só não tem mais o Nicolas


para escolher. – A Bia disse rindo e
todas as meninas riram

também.

- Vocês leram a tradução da


música? É tipo ai meu Deus,
observem eu saindo do armário! –
A

Isabela disse arregalando os olhos.

Eu e as meninas rimos ainda mais.

Então a porta se abriu.

- Susan!

Sorri no mesmo segundo. Primeiro


meus olhos foram para os do
Joshua, ele estava com uma jaqueta

preta de couro por cima de uma


camisa cinza meio colada que
destacava cada quadradinho de seu

tanquinho perfeito.

Então eu olhei para o deus grego ao


lado dele e meus olhos quase
doeram de tanta beleza: Ele era da

altura do Joshua, seus olhos azuis


um tom mais claro do que os do
amigo e o cabelo tão preto que

parecia noite, usava uma camisa


lisa e vermelha que combinava
perfeitamente com a pele branca

como a neve.

- Oi Joshua! – Eu disse sorrindo e


me levantei para abraçá-lo.

- Esse é meu amigo Bruno. – Ele


disse apontando para o cara
extremamente lindo ao lado dele. –
Eu

aprendi a conviver com ele antes


mesmo de aprender a falar!

Depois de abraçar o Joshua, eu me


virei para o tal Bruno, que me
olhava de baixo para cima com um

sorriso orgulhoso no rosto.

- Prazer em te conhecer. – Ele disse


sorrindo e me dando um abraço
rápido.

A Amanda tossiu baixinho e eu me


virei para as meninas.

- Ah, essas são as minhas amigas lá


da sala.

Eu apontei para cada uma delas e


disse seus nomes. O Joshua sorriu
gentil, mas assim que eu
terminei de falar os nomes delas ele
se virou para mim, sem demorar o
olhar em nenhuma das

meninas.

Ao contrário do Bruno, que parecia


ter entrado em uma espécie de
transe ao ver a Amanda.

- Nós viemos fazer o trabalho de


química. – A Iza disse corada.

- Ok, assim que vocês terminarem


gritem pela gente para conversamos
um pouco. – O Joshua disse

sorrindo, então se virou para mim e


me deu um selinho.

As meninas se seguraram para não


gritar um awwwwn.

E no segundo em que eles saíram da


sala, elas começaram a fazer
centenas de perguntas.

[...]

- Então você é solteira? – O Bruno


perguntou para a Amanda assim que
sentamos-nos à mesa.

O Joshua colocou o braço no meu


ombro.
- Sou... – A Amanda meio sem
graça.

- Isso não faz o menor sentido. – O


Bruno falou em um tom de
indignação misturado com
felicidade.

– Mas, eu tenho uma pergunta ainda


melhor para fazer, dessa vez para
todos na mesa.

- Diga ai. – Eu falei.

- Vocês sabem que amanhã é


feriado, não é? – Ele perguntou e
todos assentiram. – Pois, hoje eu
vou

fazer uma festa na minha casa e


adoraria que vocês fossem. – Ele
fez uma pausa e se virou para

Amanda. – Principalmente você.

- Vamos? – Eu perguntei para o


Joshua.

- Claro, mas lá tem bebida e...

- Isso não é problema! – A Isabela


disse rindo.

- Ah, e o professor de química de


vocês também vai estar lá.
- Melhor ainda! Essa noite promete.
– A Elena disse sorrindo com
malícia.

16. Festa do Bruno

-VAMOS SOPHIA, EU NÃO


TENHO A VIDA TODA! - A Clara
gritou enquanto batia

freneticamente na porta do
banheiro.

Assim que o Bruno acabou de


explicar onde ficava a casa dele
para mim e as meninas, o Michael

chegou da escola e acabou sendo


convidado para a festa também,
isso fez com que a Clara tivesse a

ideia genial de ir comigo para a


festa e ainda dormir na minha casa.

Dei uma olhadinha no relógio da


parede, eram 20:00. Faltava uma
hora para a festa.

Entrei no boxe e liguei o chuveiro.


Meus pensamentos disparam, todos
tinham a ver com o Joshua.

Todos mesmo. Sobre como as mãos


deles eram fortes e firmes quando
estavam me segurando pela
cintura, como elas desciam sem se
importar com nada para o meu
quadril quando o beijo ficava mais

intenso, pedindo mais... Mais...

Comecei a ficar excitada, de um


jeito que nunca tinha ficado antes.
Era como se minha intimidade

precisasse daquele loiro o mais


rápido o possível, não só ela, o
meu corpo todo parecia implorar

para que eu saísse correndo desse


banheiro e fosse direto para o
quarto do Joshua.
-Apressa ai, meu Deus. - A voz da
Clara fez com que eu me tentasse
me controlar um pouco.

Tomei um banho rápido e escovei


os dentes, fazendo o máximo de
esforço para não olhar meu corpo

nu pelo espelho e começar a


imaginar as mãos do Joshua
percorrendo ele por inteiro...

-Finalmente. - Clara disse agoniada


assim que eu abri a porta do
banheiro. - Agora saia da frente que
eu tenho que ficar linda para o
Michael Hunter.
Eu revirei os olhos e fui direto para
o guarda-roupa, analisar minhas
opções. Todos os vestidos eram
lindos, mas quando os meus olhos
bateram em um preto meio curtinho
que era colado na parte de

cima e soltinho na parte de baixo eu


senti meu coração pulando de
emoção. Era esse mesmo.

Meia hora depois, a Clara chegou


usando um vestido azul e branco
que era tão lindo que eu

automaticamente me senti feia, mas


foi só por um segundo, porque eu
lembrei que Nicolas Hunter não

iria comprar algo que não fosse


genuinamente perfeito.

-As meninas disseram que chegam


daqui a pouco lá. - A Clara disse
enquanto lia alguma coisa no seu

celular.

-OK, então é melhor a gente descer


agora e apressar os meninos.

Ela sorriu radiante e saímos do


quarto.

Mal tinha tocado o ultimo degrau


quando senti uma mão me puxando
para o lado.

-Você tá linda. - O Joshua disse me


dando um selinho demorado. - Até
mais que eu, isso é um

absurdo!

Eu ri e me afastei um passo para


poder observá-lo direito. Ai Deus...
Será que algum dia eu vou me

acostumar com a beleza desse


homem? Meu olhos passaram pela
sua calça jeans preta e sua polo

branca, que deixava seus músculos


definidos ainda mais aparentes, e
foram direto para o par de

olhos azuis que eu mais amo nessa


vida, não pude deixar de sorri.

-Acho que é impossivel alguém


ficar mais lindo que você.

Ele mordeu o lábio inferior e olhou


para mim como se a coisa que ele
mais quisesse no mundo fosse

me beijar. E seria exatamente isso


que a gente faria se eu não tivesse
sentido um aroma irritantemente
familiar atrás de mim.
-Oi pombinhos. - O Michael disse e
eu me virei para encará-lo.

-Oi irmão. - Joshua respondeu com


frieza e passou a mão na minha
cintura. - Até que você não está

tão mal quanto eu imaginei.

Dei uma rápida olhada na roupa do


Michael, com uma camisa listrada
por baixo de uma jaqueta preta

que o deixava com uma ar de bad


boy sexy. Mas, mesmo assim eu
ainda preferia o Joshua e sua roupa

de cafajeste lindo e rico, o que na


verdade define bem a
personalidade dele - pelo menos
antes de me conhecer.

-Eu estou muito mais que nada mal.


- O Michael respondeu enquanto se
virava para encarar a Clara. -

Ah, oi Clara, nem te vi aqui. - Ele a


olhou de cima a baixo. - Você fica
muito mais bonita fora da

escola.

A Clara corou violentamente.

-O-obrigada Michael. - Ela disse


desviando os olhos dos dele.
-Agora que você já flertou com a
visita, será que podemos ir? - O
Joshua perguntou.

-Claro, você quem manda. - Senti


um quê de inveja no tom do
Michael, mas decidi ignorar isso.

Fomos até o carro do Joshua, que


fez questão de abrir a porta do
passageiro para mim, e um silencio

mortal tomou conta.

-Coloca uma música. - Eu sugeri ao


Joshua depois de uns 3 minutos de
silencio.
-Claro... - O Joshua deu uma
olhadinha na pilha de CDs. -
Alguma preferencia, Clara?

-Coloca ai Justin Bieber, ela tem


cara de que gosta dessas tralhas. -
O Michael disse com a

ignorancia de sempre.

E ela realmente gostava, dava para


saber pelo fato de o toque dela ser
Boyfriend, mas duvido que ela
fosse dizer isso depois do que o
Michael falou.

-Na verdade, eu adoro mesmo é


Nickelback. - Ela disse o mais
decidida o possível.

-Nós temos o CD deles. - Michael


falou e pelo seu tom de voz eu nem
precisei me virar para saber

que ele tava com um sorriso


travesso no rosto. - Ainda dá tempo
de desisitir.

-Dá pra parar de ser irritante? - O


Joshua disse pegando um CD do
Coldplay. - Você gosta de

Coldplay, né Clara? Se não gostar


tudo bem, eu pego outro.
Abaixei o espelho do passageiro
para ver a cara dela.

Ela estava olhando para o Joshua


sem acreditar. Não olhe para ele
assim, olhe para o Michael assim,

eu pensei irritada.

-Eu adoro Coldplay, obrigada


Joshua.

O Joshua sorriu e colocou para


tocar Paradise.

-Como você é meigo. - Eu sussurrei


para o Joshua, deixando todo o meu
ciumes escorrer pela minha
voz.

Ele sorriu ainda mais e tirou umas


das mãos do volante para segurar a
minha.

-Não acredito que você tá com


ciumes, você sabe que eu só tenho
olhos para você. - Ele disse

baixinho.

Eu revirei os olhos, mas minha


boca se curvou em um sorriso.

-Ei Joshua, tu soube o que nosso


irmão fez hoje? - O Michael
perguntou.
-Não tenho a menor ideia.

O Michael respirou fundo antes de


começar a contar tudo o que
aconteceu na hora do intervalo.
Tudo

mesmo, todos os detalhes como se


fosse um escritor de talento.

Assim que ele acabou, uma das


sobrancelhas do Joshua se ergueu.

-Pera ai, você bateu palmas? Isso


não faz o menor sentido.

-Eu não iria vaiar o Nicolas, nunca


faria isso. Eu gosto dele. - O
Michael disse deixando uma frase
não dita no ar: Mas, eu não gosto de
você. Muito menos da sua peguete
ridicula.

-Todo mundo gosta do Nicolas, ele


é extremamente adorável. Pena que
alguém fez com que ele fosse

expulso da nossa casa. - O Joshua


disse de uma vez só e eu imaginei o
quanto isso soou estranho para a
Clara.

-A Susan que deu essa ideia, não


fale como se eu fosse culpado.
-VOCÊ É CULPADO! - Eu gritei
indignada. - ELE IRIA MORRER
SE EU NÃO TIVESSE

SUGERIDO ESSA IDEIA!

-Não precisa gritar, meu amor. - O


Michael disse cínico.

-Nunca mais chame ela de meu


amor. - Joshua falou frio sem tirar
os olhos da estrada.

A Clara acompanhava tudo sem


piscar, então seus olhos
encontraram os meus e ela parecia
gritar
interrogações.

-Pare de falar comigo como se


tivesse autoridade sobre mim.

O Joshua freou o carro e se virou


para o irmão, os olhos brilhando de
raiva.

-Eu tenho. Não fale como se não


soubesse disso.

O Michael bufou.

-Por isso que as pessoas preferem o


Nicolas. - Ele disse irritado.

Mas em vez de responder alguma


coisa, o Joshua sorriu e se virou de
novo para a rua.

-Nem se você vivesse mil vidas


iria ser tão bom quanto o Nicolas. -
O Joshua respondeu e deu a

partida no carro.

Uma música e meia do Coldplay


depois, o Joshua estacionou o carro
em frente a uma mansão cheias

de luzes neon.

-Hey! - O Bruno gritou para nós.

Saímos do carro e fomos para o


onde o Bruno estava com as
meninas da minha sala e alguns
meninos

do terceirão que eu já tinha visto no


intervalo.

-CLAIRE!! SOPHIA!! - A Isabela


gritou enquanto dava um abraço em
nós duas ao mesmo tempo, ela

tava com um vestido vermelho meio


curto que a deixava com um ar sexy
e extremamente ousado.

Aposto que o professor Cavalcante


vai adorar.
-AI MEU DEUS AMIGA, VOCÊ
TÁ LINDA! - A Clara disse se
afastando dela para dá uma olhada

enquanto a Isabela dava uma


rodadinha.

-Sei disso, tudo pela química. - A


Isabela disse com um tom cheio de
malícia.

-Ai ai, mal chegaram e já tão


falando putaria. - A Bia disse rindo
e balançando a cabeça em

desaprovação.

-Deixe elas, não faz mal. - O Bruno


falou rindo também, então seus
olhos pousaram no portão da

frente. - A Amanda vai vim, não é?


Eu preparei uma surpresa para ela.

-Ela e a Elena chegam juntas daqui


a pouquinho. Pode me contar qual é
a surpresa? - A Clara disse

curiosa.

-Vocês vão ver, por hora eu só digo


uma coisa: Eu passei o dia todo
pensando em como deve ser tê-

la nos braços.
-AIN QUE FOFO! - O Joshua disse
rindo da cara do amigo. - E depois
o meloso sou eu.

O Bruno revirou os olhos.

-Pelo menos eu tento me controlar


para não falar dela o tempo todo,
ao contrário do senhor, não é

Joshua Montenegro?

As meninas e eu rimos da cara de


surpresa do Joshua.

-Ah, cale essa um boca, ou eu vou


corar aqui.
-Seria muito lindo ver você coran...
PUTA MERDA, É ELA NAQUELE
CARRO? - O Bruno gritou e

saiu correndo em direção ao carro


branco que tinha acabado de
estacionar.

-Merda, eu conheço esse carro. - O


Joshua disse fechando o punho. -
Vamos entrar minha gente, não é

uma pessoa agradável.

Pelo tom da sua voz eu já tinha uma


ideia de quem poderia ser.

-Não Joshua, vamos ficar e esperar


a Amanda e a Elena. - Eu disse
decidida. Não iria deixar aquela

garota estragar a noite.

Assim que eu terminei de falar, a


porta do passageiro se abriu a Jane
Ruiva saiu do carro com um

vestido azul.

Respirei fundo.

-Oi Joshua. - Ela disse sorrindo de


um jeito maldoso assim que o
Bruno a colocou dentro da rodinha.

Dei uma olhadinha em volta e vi


que o Michael não estava mais
entre nós... Eita porra, a Clara

também tinha ido embora.

-Por que você convidou ela? - O


Joshua perguntou irritado para o
Bruno.

-Eu não convidei. - Ele respondeu.


- Eu convidei o irmão mais novo
dela.

A Jane revirou os olhos.

-Tanto faz, eu vim. - Ela deu um


passo na direção do Joshua. -
Lembra desse vestido?
Ele olhou para ela com desprezo.

-Lembro, você usou no dia em que


deu para mim sem nem mesmo
perguntar meu nome.

-Ai carai, segura essa vadia! - A


Isabela disse animada e a Bia olhou
para ela com censura por um

segundo, então um sorriso brotou no


seu rosto.

-Quem é você para falar assim


comigo? - A Jane perguntou para o
Joshua e a Isabela ao mesmo

tempo.
-EU sou um cara que adoraria te
ver embaixo de um trem e ELA é
amiga do amor da minha vida, ou

seja, não é um verme irritante como


você. - O Joshua respondeu com
frieza.

A Jane abriu a boca para falar, mas


a Bia deu um passo a frente.

-Quer uma dica? Acho que melhor


você sair daqui antes de ser ainda
mais humilhada.

E para a surpresa de todos, ela


bufou e saiu.
-Como você fez isso? - O Bruno
perguntou para a Bia sem acreditar.

-Ela tem o dom de fazer as pessoas


saírem com o rabo entre as pernas.
- A Iza disse rindo e eu

percebi que ela tinha ficado em


silencio esse tempo todo.

A Bia sorriu orgulhosa.

-Ei Bruno, acho que agora sim é a


Amanda. - A Clara disse apontando
para um carro vermelho que

estava estacionando.
O Bruno sorriu no mesmo segundo
e ajeitou a camisa. Ah, esqueci de
dizer que ele estava parecendo

um astro do rock com uma camisa


branca lisa combinada com uma
jaqueta preta de couro, que

destacava seus olhos azuis.

Ele correu até o carro e segurou a


porta do passageiro para a Amanda
passar. Mesmo de longe, dava

para ver que ela estava linda e


Elena não ficava atrás, as duas
pareciam ter saído de um programa
de TV.

Os três vieram correndo para onde


estávamos, a Amanda ria alto com
alguma coisa que o Bruno tinha

dito.

-Ai meu Deus, você é muito


engraçado. - Ela disse dando um
empurrão de leve no ombro dele,
que

parecia estar explodindo de


felicidade.

-E você é linda. - Ele disse ficando


sério e olhando fixamente para ela
com aqueles olhos azuis de

outro mundo.

Ela corou um pouquinho.

-Você também não está nada mal. -


Ela mordendo o lábio inferior.

-Quanto tempo para ele pegar ela


de jeito? - Eu sussurrei no ouvido
do Joshua.

-Não use esse palavreado, nunca vi


o Bruno olhando assim para nenhum
outra garota. - Ele sussurrou

de volta.
-Ei minha gente, vamos ficar a noite
toda do lado de fora é? - A Isabela
perguntou agoniada.

A gente riu e entrou na mansão.

AI MEU DEUS, estava lotado de


gente, com luzes vindo de toda a
parte e um globo estilo anos 70 no

teto, o que combinava perfeitamente


com a música alta de eletronica que
vinha de um DJ na

extremidade lado da sala enorme.

-Senhor do céu, que casa é essa? -


A Elena perguntou arregalando os
olhos.

-Ah, meu pai é sócio do tio


Fernando.

Isso explicava tudo.

Tinha uma parte para bebida e um


barman do lado esquerdo da sala e
foi exatamente para ai que a

Isabela se dirigiu. Eu e as meninas


seguimos ela.

-Ei Susan, eu e o Bruno vamos falar


com os nossos amigos da
faculdade, depois eu volto para
você. -
O Joshua disse e depois me beijou
rapidamente, mas com um
intensidade que ele só ele
conseguia

alcançar. - Já disse que te amo?

Eu sorri.

-Deve ter comentado.

Ele sorriu também e me deu um


último selinho antes de sair ao lado
do amigo.

Eu e as meninas sentamos em uma


mesa em frente ao barzinho dentro
da casa.
-Amanda, O QUE FOI AQUILO
ENTRE VOCÊ E O DEUS
GREGO, VULGO BRUNINHO? -
A

Isabela disse gritando por causa da


música alta.

A Amanda sorriu e depois revirou


os olhos.

-Nada menina, ele deve fazer issso


com todas as garotas.

-Nada a ver, o Joshua me disse que


ele nunca olhou assim para
ninguém. - Eu falei.
-Então Bruno Junior vem ai! - A
Elena disse rindo.

-Vão querer alguma bebida? - Um


garçom extremamente lindo
perguntou com um bloco de
anotações

na mão. Ele tinha um cabelo


castanho claro que combinava
perfeitamente com um par de olhos

verdes e um corpo que faz eu


querer agradecer a Deus por Ele ter
me dado visão.

-Tem você no cardápio? - A Elena


perguntou com um sorriso
pervertido.

O garçom a olhou com malícia.

-Por hora não, mas meu turno


termina daqui a pouco. - Ele disse a
olhando de cima a baixo com

desejo, então se virou para o resto


de nós. - E vocês?

-Trás vodka e tequila. - A Isabela


disse com os olhos brilhando.

-Nada disso. - A Bia falou cruzando


os braços.
-Vai Bia, deixa dessa, vamos curtir
um pouquinho... - A Isabela disse a
olhando com súplica.

-É Bia, deixa dessa. - O garçom


disse rindo.

A Bia bufou, mas deu um


sorrisinho.

-Tá, traga todo o seu estoque.

Em menos de cinco minutos o


garçom voltou com o que a gente
pediu, olhando fixamente para
Elena.

-Mais alguma coisa?


-Bem que seu turno poderia acabar
agora mesmo. - A Elena disse
mordendo o lábio inferior.

Ele a olhou por um segundo então


se virou para o barman.

-Ei chefe, posso voltar daqui a


pouco?

O barman sorriu malicioso.

-Tente não demorar muito.

-Não prometo nada. - O garçom


disse e puxou a Elena pela mão. -
Qual seu nome mesmo?
-Elena.

-Oi Lena, meu é Lion, mas todo


mundo me chama de Junior.

-Não É Lena! - Ela disse rindo. - É


Elena, entendeu?

O Junior corou no mesmo segundo.

-Agora eu fiquei com vergonha.

Eles riram e depois ele a puxou


pela cintura até entrar em uma porta
perto da última mesa.

-Agora que eles foram se comer,


vamos beber até cair. - A Isabela
disse enchendo um copo de tequila

para cada uma.

Eu nunca tinha bebido antes, então


uma ansiedade borbulhou no meu
estômago quando eu peguei o

meu copo e brindei com as


meninas.

A bebida desceu como fogo pela


minha garganta, mas não foi
exatamente ruim. E no mesmo
segundo

em que eu virei o copo meu corpo


pediu por mais.
-Proxima!

-Olha pra Susan, já é uma de nós. -


A Amanda disse rindo, mas a Bia e
a Iza não pareciam muito

animadas para beber.

-Seguinte, eu e Izinha vamos dançar


enquanto vocês enchem a cara, ok?
- a Bia disse se levantando e

puxando a Iza pela mão.

-Sobrou nós três. Vamos fazer


assim: Quem beber mais ganha! -
Isabela disse rindo e enchendo
copos
com vodka para nós.

E assim começou uma competição,


cada uma bebendo sem parar,
mudando de tequila para vodka em

intervalos de segundos.

Então a Isabela deu um grito.

-AI MEU SENHOR JESUS


CRISTO, VOCÊS VIRAM QUEM
PASSOU POR ALI? - Ela disse

apontando para um corredor


extenso do outro lado da sala.

Eu forcei minha vista e vi quem


era: O professor Cavalcante.

Corremos na direção onde ela


apontou e vimos ele encostado na
parede do corredor, bebendo um

liquido transparente.

A Isabela ajeitou o vestido para


ficar no meio das coxas.

-Fiquem ai e observem.

Eu e Amanda assentimos com a


cabeça.

-Oi professor. - A Isabela disse


com um voz cheia de malícia
enquanto andava até ficar na frente

dele.

-Oi Isabela. - Ele a olhou para o


decote dela por um segundo. - Belo
vestido.

-Obrigada, eu coloquei exatamente


para você tirar. - Ela disse dando
uma passo a frente, colando seu
corpo com o dele.

O professor arregalou os olhos.

-Isabela, eu sou seu professor, não


posso ter esse tipo de relação com
você. - Ele disse afastando ela com
delicadeza.

-Ah, sendo assim me responda uma


pergunta. - Ela disse usando um tom
de ingenuidade que eu não

sabia que ela tinha.

-O que você quiser.

-Por que você escolheu dá aula de


química podendo falar de coisas
religiosas? - A Isabela perguntou

inclinando a cabeça como uma


criancinha pequena.

-Não gosto muito de religião.


Ela sorriu.

-Mas eu adoro, na verdade... - Ela


se ajoelhou na frente dele. - Eu
sempre me ajoelho para rezar.

Ele levantou uma sobrancelha e eu


notei o volume de sua calça
aumentando.

-Se levante ou...

-Ou o que? - Ela aproximou sua


boca do ziper dele. - Ou você vai
me foder?

Ele a levantou pelos ombros e em


um movimento rápido a colocou
contra a parede.

-A palavra certa é penetrar e se


você continuar me olhando assim é
exatamente isso que eu vou fazer.

- Ele disse colocando uma mão de


cada lado dela na parede.

-Então eu vou te olhar assim pelo


resto da noite. - A Isabela disse
com uma voz rouca.

Ele respirou fundo.

-Você tá bêbada.

-Eu sei disso, mas eu não vou


bêbada para escola e mesmo assim
sinto vontade de dá para você toda

manhã.

-Já chega. - Ele a puxou pela


cintura. - Eu vou foder você
brutalmente e repetidamente.

Ela sorriu provocativa.

-A palavra certa é penetrar.

Ele abriu a porta mais proxima e


puxou ela para dentro.

-Ai meu Deus, o que foi isso? - A


Amanda perguntou para mim assim
que eles saíram de vista.

-Eu não faço a menor ideia, mas


que eu fiquei excitada com isso eu
fiquei.

-Imagina ela. - A Amanda disse


rindo.

-ALÔ MEU POVO? GOSTARIA


DE ATENÇÃO AQUI.

Nós viramos a tempo de ver o


Bruno do lugar do DJ, falando no
microfone.

-A Amanda TÁ AI EM ALGUM
LUGAR?
Ela sorriu e correu para ficar bem
no meio sala, onde todos tinha
deixando um espaço para ela.

-AH, OLHA VOCÊ AI. - Ela sorriu.


- TÁ GOSTANDO DA FESTA?

-Adorando. - Ela disse corando, já


que todos olhando para ela nesse
momento.

-TEM COMO VOCÊ DÁ UMA


SUBIDINHA AQUI NO PALCO?

Ela assentiu com a cabeça e correu


para ficar ao lado dele.

O Bruno sorriu e a colocou sentada


em uma cadeira ao lado do DJ.

-Então minha gente, agora que eu


posso parar de gritar, eu gostaria de
fazer uma perguntinha a vocês.

Alguém aqui acredita em amor a


primeira vista?

Algumas pessoas responderam.

-Eu não, pelo menos não até hoje de


tarde quando eu tava na casa do
meu melhor amigo e vi essa

menina linda que tá sentada aqui. -


Ele fez uma pausa e se virou para a
Amanda. - Mas, depois que eu vi
ela eu mudei totalmente de opinião,
principalmente a opinião de que
japas não são sexys.

Então a bebida começou a fazer


efeito e eu fiquei meio tonta, corri
para fora da casa e esbarrei em

alguém.

-Ei cuidado... Susan! - O Joshua me


segurou pelos ombros. - Você tá
bem?

-Sim, foi só uma tonteira.

Ele sorriu e me puxou pela cintura.


-Tá gostando da festa?

-Poderia ser melhor se a gente


saísse agora mesmo e fosse para um
quarto. - Eu disse sem pensar.

Ele levantou uma sobrancelha.

-Tem certeza disso? Olha que eu


aceito e vou mesmo. - Ele deu um
risinho malicioso.

A bebida começou a falar por mim.

-Certeza absoluta, chega de


autocontrole.

Suas mãos desceram para o meu


quadril.

-Eu não quero colocar pressão.

-E eu quero que você me coma até


dizer chega. - Eu disse sorrindo de
um jeito pervertido.

-Eu nunca vou dizer chega. - Ele me


puxou ainda mais para perto. -
Nunca mesmo.

-Então vamos agora para o seu


carro, ok?

Ele fez que sim com a cabeça e eu


comecei a me senti tonta de novo,
tudo começou a ficar embaçado.
-Susan...?

Então eu desmaiei.

✣Joshua✣

Meu pau já tava duro desde que eu


vi que foi ela que esbarrou em mim.

Então ela começou a falar aquelas


coisas e eu vi todos os meus
desejos estavam realizados. Eu

finalmente iria fazer amor com a


Susan. Sim, eu disse FAZER
AMOR, isso faz parte de uma

promessa que eu fiz com o Bruno


quando tinhámos 11 anos: Com
todas as garotas usaríamos o termo

"foder", mas quando a gente


encontrar o grande amor na nossa
vida vamos mudar para "fazer
amor".

Acho que isso já explica tudo.

E eu já estava prestes a levá-la


para meu carro - e provavelmente
pegar ela ali mesmo - quando ela

desmaiou e por pouco eu não a


deixei cair no chão por causa da
minha surpresa.
Coloquei ela nos meus braços e seu
vestido subiu até o meio das suas
coxas. Mordi o lábio inferior

para não passar a minha mão pela


aquelas pernas.

-Ain Joshua... - Ela gemeu


baixinho.

Merda. Como eu vou levar ela para


casa sem fazer nada? Como eu vou
controlar meu pau? Merda,

merda, merda.

Essa noite vai ser longa.


17. Autocontrole de uns...

✣Joshua✣

Olhei ao redor e vi que não tinha


ninguém, que pudesse me ajudar –
ou fazer com que eu me

controlasse mais – e suspirei.


Estava por minha conta. Eu não
podia entrar na festa e pedi para

alguém levar a Susan para casa,


porque 1) Eu não confiaria a Susan
inconsciente à ninguém, muito

menos à outro homem, 2) Isso iria


estragar a festa do meu melhor
amigo e 3) Não iria pegar bem para

Susan ficar sendo conhecida como


"a garota que desmaiou depois de
beber demais". E ainda tem um
bônus: E se ela gemesse meu nome
de novo? Não colocaria a Susan
numa situação tão

constrangedora. Se bem que ela não


é a primeira garota que geme meu
nome enquanto dorme...

Balancei a cabeça tentando afastar


esse pensamento. Era o pensamento
do antigo Joshua, o que nunca
tinha experimentado nada como
amor antes.

Ajeitei ela para que desse pra abrir


o carro e a coloquei delicadamente
no banco do passageiro,

ajustando o cinto e deitando o


banco para ficar o mais confortável
o possível. Mesmo sabendo que

ela estava desmaiada.

Seu vestido subiu ainda mais e


agora estava quase aparecendo sua
calcinha. Levante o olhar, levante

o olhar, vamos Joshua... Você


consegue. Eu tive que lembrar a
mim mesmo e com muita
concentração

- muita mesmo, tanta que eu tive


que estreitar os olhos para
conseguir - eu mantive meu olhar no
rosto da Susan, naquela boca
desenhada com perfeição que dava
o melhor beijo do mundo. Suspirei.
Como

ela conseguia me deixar assim?

Depois de analisar a Susan por um


tempinho, eu entrei no lado do
motorista, dei a partida no carro,
coloquei um CD do 30 seconds to
mars pra tocar e fui direto para
casa.

Umas quatro músicas depois,


estacionei e tirei a Susan de dentro
do carro do jeito mais gentil

possível, para não machucá-la. O


portão estava aberto e eu levei a
Susan no colo até chegar na porta
da casa, onde eu a coloquei em pé e
a segurei com uma mão enquanto a
abria a porta com outra.

Não tinha ninguém na sala de


entrada. Pelo relógio da parede
dava para ver que ainda era 1:00.
Eu

ainda teria a madrugada toda pela


frente. A madrugada toda de
autocontrole.

- Ok, vamos lá. - Eu murmurei pra


mim mesmo enquanto subia as
escadas, tomando cuidado para

nenhuma parte do corpo dela tocar


na parede.

Fui direto para o último andar.


Minha cabeça doeu levemente
quando eu lembrei que fiz drama
para

não deixar a nova empregada e a


filha dela dormirem no mesmo
andar que eu, meus irmãos e meus

pais. O que aquele Joshua tinha na


cabeça? Não era à toa que o
Michael era um idiota às vezes. Ele

não encontrou uma Susan para


colocá-lo no eixo.

Empurrei a porta com as costas e


por sorte a luz já estava ligada.
Andei até a cama da Susan e a

coloquei deitada lá, ajeitando os


travesseiros.

E agora? Perguntei pra mim mesmo,


agora você passa o resto da noite
tentando controlar esse pinto.

Não posso dizer que estou surpreso


com a resposta.

Peguei uma cadeira e coloquei em


frente à cama, para o caso de ela
acordar em algum momento da

noite.

Fiquei olhando pro teto por alguns


minutos, então um tédio enorme me
atingiu. Eu tinha que conversar com
alguém. Minha mão foi direto para
o celular e eu disquei o número da
única pessoa que poderia

me ajudar numa hora dessas.

- Vamos Bruno, atende essa porra...

Eu sei que estava sendo egoísta.


Nesse momento era bem provável
que ele estivesse com a Amanda.

Mas não mudei de ideia, eu queria


mesmo alguma distração – tava
cada vez mais complicado não

descer o olhar para o corpo da


Susan.
Depois de chamar umas 200 vezes,
o Bruno finalmente atendeu.

- Oi Joshua, o que aconteceu? -


Pelo tom dele eu notei que ele
estava apressado para desligar.

- Longa história, mas se você puder


dá uma passadinha na minha casa
para me ajudar a...

- Joshua, você sabe que eu sou seu


melhor amigo, não sabe? - Ele me
cortou no meio da frase. - E

que você pode contar comigo para


tudo sempre?
Eu revirei os olhos.

- Você tá ocupado, né?

Ele suspirou do outro lado da linha.

- Desde que eu me declarei pra


Amanda nós estamos conversando,
só agora que ela foi ao banheiro,

por isso eu demorei pra atender. -


Ele fez uma pausa. - Eu não sei nem
descrever o que sinto por essa
garota.

Um sorriso se espalhou pelo meu


rosto sem minha permissão. Sabia
exatamente o que ele tava
passando.

- Deixa eu adivinhar... A coisa mais


forte que você já sentiu em toda a
sua vida? Que faz seu coração dá
pulos e pulos sem parar depois de
todo esse tempo sem se abalar com
nada?

- Por ai. Ou mais, muito mais... A


parte mais estranha é que eu nem
tenho pressa em ir pra cama com

ela, se ela tiver do meu lado pelo


máximo de tempo possível. - Ele
desabafou.
Isso seria a maior viadagem já dita
pelo Bruno se eu não me sentisse
igualzinho em relação à Susan.

- Sei como é. Então acho melhor eu


desligar e ficar aqui tentando me
controlar para não passar a mão
numa Susan desmaiada.

- O que você disse? - Ele perguntou


surpreso.

- Ela bebeu demais e eu trouxe ela


pra casa. Nesse momento estou
sentado numa cadeira em frente à

cama dela, tentando ao máximo não


fazer merda.

- Torço por você. Lembre-se que


ela é o amor da sua vida.

Mordi o lábio inferior.

- Como se fosse possível eu


esquecer isso.

Ficamos em silêncio por um


segundo.

- Tchau Joshua, ela saiu do


banheiro, vou ver se consigo beijá-
la.

- Torço por você.


Ele desligou. De volta ao tédio.

Me ajeitei na cadeira e observei


enquanto a Susan aos poucos
voltava a se mexer. Ufa, não era
bom

ela ficar desmaiada por muito


tempo.

Ela se virou de lado e eu tive uma


visão bem privilegiada do corpo
dela. Eita porra, está ficando

quente aqui... Tirei a camisa e


joguei em algum lugar do quarto
dela. Merda, meu pau estava cada
vez mais duro.

Por sorte, ela se virou de novo pra


frente e seus olhos se abriram
devagar. Me levantei no mesmo

segundo e corri para perto dela.

-Joshua... - Ela murmurou sem


entender.

-Como você tá se sentindo?

Ela me olhou por um segundo e eu


tive a certeza de que ela se
lembraria disso depois, então sua
boca se abriu e eu achei que fosse
falar algo, mas em vez disso, ela
vomitou no próprio vestido e

desmaiou de novo.

-Puta merda!

O cheiro ruim tomou conta do


quarto. Eu tinha que fazer alguma
coisa. Quase cai pra trás quando

percebi que o único jeito seria


trocando a roupa da Susan.

Merda, por que Deus fazia essas


coisas? Era algum tipo de teste? Só
pode.

Respirei fundo e procurei onde


ficava o zíper, normalmente nesse
tipo de vestido ele ficava mais ou

menos na linha do braço. Anos de


prática. E eu estava certo, assim
que meus olhos foram para a linha
do braço direito dela eu vi um
pequeno zíper prateado.

Cheguei mais perto, olhando


fixamente para o zíper – e não para
os peitos dela, que estava a menos

de 5 cm de mim – e coloquei meu


polegar e o indicador em forma de
pinça pra abrir. Puxei para
baixo lentamente, tentando me
concentrar enquanto cada parte do
seu corpo começava a aparecer.

Depois do que pareceu um ano, eu


finalmente cheguei no final da linha
e tirei o resto do vestido com
movimentos rápidos. Desacordada
ou não, ela ainda era uma garota
deitada em uma cama e eu já

tinha passado por esse processo de


tirar o vestido assim um milhão de
vezes – talvez mais.

Ela estava de calcinha e sutiã


vermelhos vivo, o que me deixou
tão excitado que eu tive que fechar
o punho para conseguir me virar e
enrolar o vestido dela numa bola
para depois jogar no balde de

roupa suja. Isso melhorou o cheiro


de vômito. Agora eu precisava
vestir ela de novo.

-Seria legal se você acordasse


agora e me ajudasse com isso. - Eu
murmurei para ela.

Mas, claro que ela não acordou -


até por que quando ela acordar vai
estar numa ressaca tão forte que não
vai conseguir nem falar direito,
quanto mais fazer alguma coisa - e
eu fui até seu guarda-roupa do outro
lado do quarto.

Dei uma olhada nas opções e decidi


pegar uma camisa e um short de
pijama bem clarinho. O que

automaticamente me lembrou do dia


em que eu acordei e vi que ela
estava no meu quarto, um sorriso

passou pelos meus lábios quando


eu me lembrei da noite anterior a
isso. A noite em que eu quase

morri de tanto autocontrole. Mas,


valeu à pena, ela não estava
preparada e eu jamais iria obrigar
ela a nada. Se bem que... Eu sei em
que partes devo morder e beijar até
que ela relaxe e faça tudinho que eu
quiser, o problema é que uma parte
de mim – ou eu inteiro – nunca faria
isso.

Voltei até a cama com a roupa na


mão e respirei bem fundo antes de
sentar a Susan na cama e levantar
um braço de cada vez enquanto
colocava a camisa dos Beatles
nela.

OK, primeira parte feita. Agora


vamos para o momento difícil da
coisa.

Com uma mão eu levantei suas duas


pernas e MEU DEUS, COMO EU
VOU CONSEGUIR DESVIAR

DISSO? Eu fechei meus olhos com


força e lembrei do que o Bruno
disse. Ela é o amor da minha

vida. Você não pode estragar tudo,


Joshua.

Abri meus olhos e percebi que


estava muito melhor, coloquei o
short com poucos movimentos, sem
tocar nem uma vez nas pernas,
bunda ou coxas dela, e me sentei na
borda da cama, acariciando o

cabelo da Susan.

- Olha o que você faz comigo... –


Eu sussurrei enquanto alisava
aquele cabelo castanho e

extremamente macio. – E isso sem


nem ao menos estar acordada, só
pra você ter uma idéia!

Eu me curvei e dei um beijo em sua


bochecha.

- Eu te amo. – As palavras saíram


com tanta facilidade que parecia ter
sido ensaiado. Mas era a mais pura
verdade.

Me sentei de novo na cadeira em


frente a cama e peguei meu celular
para me distrair.

Depois de quase um século fazendo


nada – jogando sinuca e vendo o
Instragram, cheio de vadias que

imploravam para eu seguir de volta,


por um motivo bem simples: elas
queriam sair por ai gritando

com as amigas algo como “Oh, o


Joshua está afim de mim! Ele me
seguiu de volta!! Aaaaah” – eu

acabei caindo no sono.

Quando acordei vi que eram 5:04


da manhã. Ninguém merece acordar
tão cedo em um feriado.

Dei uma olhadinha na Susan, para


conferir se ela estava bem, e depois
sai do quarto para comer

alguma coisa.

Mal tinha entrado na sala de jantar


quando vi que a mãe da Susan
estava sentada na mesa tomando um
cappucino.

Os olhos dela eram


assustadoramente iguais ao da filha
e eu não conseguia desviar deles
nem eu

segundo.

- Senhora Alvez.

Ela deu uma risadinha.

- Quem deve utilizar de


formalidade sou eu, não acha
senhor Hunter?

Eu sorri.
- Seria melhor se nenhum dos dois
fosse formal. – Comentei enquanto
me sentava numa cadeira em

frente a ela.

- Concordo. Enfim, por que está


acordado tão cedo?

Pensei em mentir descaradamente e


dizer que “Não consegui dormir”
ou “Vou para a praia hoje”.

Mas eu jamais conseguiria mentir


para uma pessoa tão parecida com
a Susan.

- Fiquei a noite toda cuidando da


Susan.

Ela estreitou os olhos.

- Por quê?

- Ela teve que sair mais cedo da


festa.

A Dona Melissa me analisou por


um tempo.

- Não me diga que ela bebeu.

Se eu não disser estaria mentindo


para a mãe da pessoa mais
importante do mundo pra mim. Ah
merda, nem em pensamento eu
consigo parar de ser meigo com a
Susan. Tou fodido.

- Acho que não posso responder


sua pergunta.

- Por que você faz tanta questão em


proteger a minha filha?

Então a Susan não contou a ela


sobre o que aconteceu nos últimos
dias...

- Porque eu estou completamente


apaixonado por ela – Eu disse de
uma vez só e senti como se um
peso tivesse saído dos meus
ombros.

Ela levou um tempo para assimilar


isso.

- Você o que?

- Acho que a Susan iria te contar


depois, mas nós já estamos
flertando a um tempinho. – Senti
que

estava ficando vermelho. Eu não


coro desde que dei aquele murro na
cara do Felipe. Saudades.

- Provavelmente. Na verdade, eu
não tenho visto muito a Susan esses
dias... Mas, me diga sua versão

antes de ela me dizer a dela.

Meus pensamentos foram a mil e eu


voltei ao primeiro dia dela nessa
casa, entrando com a mãe em

um território completamente
desconhecido e me olhando com
ódio por causa de algo que eu
disse,

provavelmente de forma grosseira,


ignorando completamente meus
olhos azuis que sempre fazia as
pessoas serem gentis comigo. Um
sorriso se espalhou meu rosto.

- Eu sempre fui o tipo de cara que


usa as garotas. – Ela revirou os
olhos, como se já esperasse por

isso. – E, é claro que eu tive a


intenção de fazer isso com a Susan,
você tem um filha extremamente

linda que...

- Então você ia usar minha filha? –


Ela perguntou com um tom cheio de
acusação.

Falei Merda. Mas o que eu disse


era tão sincero que eu nem pensei
em como soaria nos ouvidos de

uma mãe.

- Não me julgue tanto, eu não fazia


idéia do quanto fazia mal àquelas
garotas. Bem, então eu comecei a
conversar com a Susan e... – Um
sorriso atrapalhou minha fala. – Ela
é muito especial, sabia?

- Sabia. – Ela respondeu sorrindo e


eu percebi que estava a um passo
de conquistar a sua confiança.

- E também sabia que ela consegue


mudar alguém por inteiro só com
aquele jeitinho sincero e alegre

de ser?

- Isso aconteceu com você?

- Jamais que eu falaria de alguém


com os olhos brilhando há duas
semanas!

Ela sorriu. Confiança conquistada


com sucesso.

- Então vocês têm minha


aprovação.

Nos levantamos no mesmo segundo


e eu corri para tomá-la nos braços
em um abraço forte.

- Obrigado, de verdade.

Ela se afastou para que pudesse me


olhar nos olhos.

- Se toda a animação da Susan for


por sua causa, obrigada a você.

Sorri e voltamos a tomar café e


conversar. Conversar sobre o meu
assunto preferido em todo esse

mundo: Susan dos Alvez.

✣ Clara✣
EU AMO Michael HUNTER. Acho
que essa é a única coisa que eu sei
de certeza sobre mim. Isso e o

fato de que ele nunca me notou,


pelo menos até agora... Mas pra
mim já chega!

Podem anotar: Eu ainda vou


conquistar esse garoto!

O doce, confiante, lindo, gostoso,


rico, inteligente e levemente
sarcástico Michael. Era ele quem

estava na cabeça no momento em


que saímos do carro e chegamos na
festa do Bruno – outro lindo e

gostoso, mas totalmente vidrado na


Amanda. Sorte a dela.

Assim que chegamos na rodinha


que estavam as meninas da minha
sala e uns garotos do terceirão, eu

tive que elogiar o vestido da


Isabela. Ela estava tão linda!
Espero que o professor Cavalcante
note e pegue ela de jeito... Sorri
com a idéia.

- Ei, vamos conversar lá trás?

Meus olhos não acreditaram no que


viram: O Michael ESTAVA
SUSSURRANDO PARA MIM!
PARA

EU IR CONVERSAR COM ELE!

Meu coração deu um triplo mortal


duplo pra trás e eu fiz que sim com
a cabeça.

Ele deu um sorriso perfeito e saiu


disfarçadamente, fazendo sinal para
eu o seguir. E foi exatamente isso
que eu fiz.

Andamos em silencio até


chegarmos atrás da mansão do
Bruno, que estava cheia de luzes e
música

alta, quando ele me puxou para o


lado e sentamos num sofá longo e
azul encostado na parede.

- Oi Michael. – Eu disse tentando


controlar minha timidez e o meu
coração.

- Oi Clara... Eu só queria saber se


você não ficou magoada com o que
eu disse no carro.

Ah, então era isso.

Ei, espera ai! Se ele disse isso é


por que se preocupou comigo!

- Não, ta tudo bem.

Ele sorriu aliviado.

- Foi mal, é que de vez em quando


eu sou meio irritante.

Eu balancei a cabeça em negativa.

- Não concordo com isso.

- Não?

- Claro que não! Você é uma pessoa


adorável. – Corei assim que as
palavras saíram da minha boca.
Ah merda, agora ele vai achar que
eu estou flertando.

Ele me analisou de baixo para cima


e eu corei ainda mais.

- Há quanto tempo você é afim de


mim?

Eu quase cai pra trás. Como ele


sabia disso? Meu Deus do céu!

- E-E-Eu – Gaguejei sem consegui


encontrar as palavras certas.

Ele sorriu debochado e se


aproximou de mim.
- Você...

Eu devia estar parecendo um


pimentão de tão vermelha, mas
aqueles olhos verdes-mar
continuavam

fixos nos meus.

- Quem te disse que eu sou afim de


você? – Foram as únicas palavras
que eu consegui pronunciar.

- Alguém precisa me dizer para eu


notar? – Ele se aproximou ainda
mais e eu conseguia sentir o ar

quente saindo da sua boca. – Não é


obvio?

- Eu tentei disfarçar...

Ele riu baixinho.

- Tem certeza? Acho que você não


foi muito boa nisso. – Eu conseguia
notar um tom meio arrogante

na voz dele, mas tentei ignorar isso.


– Mas, não é como se eu não
tivesse gostado disso.

Eu não sabia se ria ou se chorava,


então desviei os olhos.

- Ei, olhe para mim. – Eu fiz o que


ele mandou. – Por que não se
declara e começamos a nos beijar

agora mesmo?

ELE DISSE ISSO MESMO?


MINHA RESPIRAÇÃO FALHOU
E MEU CORAÇÃO FOI A UM

MILHÃO POR SEGUNDO.

- O-ok. Eu... Amo... – As palavras


lutavam para sair da minha
garganta. – V-V-Você.

- Tenta de novo. Agora sem passar


a mal em cada silaba.
Eu respirei fundo.

- Eu amo você Michael Hunter.


Desde o primeiro dia de aula do
oitavo ano, quando você entrou

usando uma jaqueta de coro preta


por cima de uma camisa vermelha e
uma calça jeans azul escura

que combinava perfeitamente com o


tom dos seus olhos. – Eu despejei
sem pensar nas

conseqüências. Todas as palavras


que eu vinha guardado há 3 anos.

Ele sorriu satisfeito.


- Bem melhor, não acha? – Ele
colocou uma mão na minha nuca e
me puxou para o mais perto

possível. – Agora vamos a minha


parte do trato.

Então ele me beijou. E eu senti


como se todo o mundo tivesse
desaparecido ao meu redor.

Finalmente estava acontecendo!

Eu abri minha boca devagar


enquanto suas mãos desciam e me
puxavam pela cintura. A única
coisa
que eu queria no mundo era que
esse momento não terminasse
nunca.

Mas a falta de ar fez com que eu me


afastasse.

- Ah Michael... – Eu suspirei.

Ele me deu um selinho demorado.

- Tem muito mais de onde veio isso.


Mas, você vai ter que fazer tudinho
que eu mandar. – Seu tom

era calmo e autoritário,


extremamente excitante.
- Eu faço... Eu faço o que você
quiser. – Eu sussurrei sem fôlego.

Ele mordeu o lábio inferior e me


puxou pela mão.

- Vem, tem um quarto que sempre


fica vazio nessa casa.

Senti minhas pernas tremerem de


ansiedade.

Tá, eu sei que não sou mais virgem


– cuidei disso ano passado, eu
estava numa fase bem louca e

animada... Muito, muito animada –


mas mesmo assim eu me sentia
como se tivesse indo direto para a

minha primeira vez de novo. De


certa forma era. Minha primeira vez
com alguém que eu realmente

amo.

Seguimos direto por um corredor e


eu vi de longe o professor
Cavalcante encostado na parede
com

uma garota bem branca e com um


cabelo muito preto de... AI MEU
DEUS, ERA A ISABELA DE

JOELHOS NA FRENTE DO
PROFESSOR! Eu não acreditei no
que vi, mas não tive tempo de

pensar nisso, pois um segundo


depois o Michael me puxou para
dentro de um quarto enorme e

trancou a porta dele.

- Sabe Clara... Pra mim, você


sempre a mais gostosa da turma. –
Ele sussurrou, me colocando contra

a parede. Sua boa roçando meu


ouvido, me arrepiando. - A que eu
sempre tive vontade de ouvir

gemendo meu nome bem alto... –


Ele continuou e suas mãos
desceram para a minha bunda. – A
que eu

sempre quis ver nua...

Eu fechei meus olhos e deixei todas


as ondas de prazer tomarem conta
de mim. Como ele conseguia

me deixar assim só com a voz?

- Ah, você já se entregou. – Ele


murmurou baixinho e suas mãos
encontraram o zíper do meu
vestido.

– Ótimo, vamos dá um jeito nisso


aqui.

Eu assenti com a cabeça, tentando


me controlar.

Senti uma excitação maior do que


tudo que eu já tinha experimentado
na vida quando ele tirou meu

vestido bem lentamente, sem


pressa.

- Abra os olhos. – Ele mandou, sua


voz exalava autoridade.

Eu fiz o que ele disse e vi que ele


não estava mais usando camisa –
deixando à mostra seu tanquinho
perfeito que parecia o de um deus
do Olimpo – e eu estava de
calcinha e sutiã azuis escuros.

Ele colocou uma mão de cada lado


na parede, me prendendo.

- Agora, eu vou dá prazer a você.


Simples assim. – Ele sussurrou no
meu ouvido e eu fiz que sim com

a cabeça, sem ar.

Ele subiu as mãos ate o fecho do


meu sutiã e abriu com um único
movimento, rapidamente se livrou

dele e se ajoelhou na minha frente,


encarando minha calcinha como se
fosse um premio.

Ele mordeu o lábio inferior com


força e eu senti que estava ficando
molhada, muito, muito molhada.

Ele se levantou de novo e brincou


com o cós da minha calcinha.

- Você quer isso? – Ele perguntou e


eu assenti com a cabeça, sem forças
para falar. Ele colou seu

corpo com o meu e eu senti seu


membro duro um pouco acima da
minha virilha. – Eu te fiz um
pergunta.

- Oh sim, eu... Quero... – Eu


murmurei entre gemidos.

Ele deu um risinho.

- Era isso que eu queria ouvir.

Sua mão desceu até a minha


intimidade e ele enfiou um dedo lá
dentro.

- Porra Michael, avisa antes! – Eu


falei em protesto, mas minha voz
estava cheia de prazer.

Ele enfiou outro dedo e eu arqueei


as costas para trás, minhas mãos
coladas na parede.

- Olhe lá como você fala... – Ele


sussurrou enquanto fazia
movimentos de vai e vem com o
dedo, me

torturando. – Você ta tão


molhadinha... Acho que podemos
passar para segunda fase.

Eu fiz que sim com a cabeça, me


segurando para não começar a
implorar.

Ele arrancou minha calcinha com


movimentos tão rápidos que eu nem
vi onde a coitada foi parar e

depois me jogou na cama


bruscamente.

- Chega de joguinhos.

- C-Chega s-s-sim – Eu gaguejei.

Ele tirou a calça jeans rapidamente,


mostrando a box preta
extremamente sexy que ele estava
usando.

PUTA MERDA, minha intimidade


pulsou quando eu vi enorme volume
dentro da cueca dele. Ele
deve ter percebido que eu estava
olhando fixamente, porque subiu em
cima de mim e roçou seu

membro duro por cima do meu


clitóris.

Meus olhos reviraram de prazer.

- Vamos Clara, implore por mim.

Ele fez movimentos para frente e


para trás como se tivesse me
fodendo.

- Pelo amor de Deus Michael, m-


me f-f-foda! – Eu gemi sem
consegui me controlar.
Ele sorriu malicioso.

- O que você disse? – Ele


perguntou enquanto seu membro me
torturava de desejo. – Eu não
consegui

ouvir seus gemidos tão baixinhos.

Eu fechei os olhos com força.

- Quando você me foder eu juro que


grito para todo mundo ouvir!

- Faça isso.

Ele se levantou da cama e tirou a


cueca Box. Eu simplesmente não
conseguia desviar do pau dele,

como aquilo iria caber dentro de


mim?

Ele rapidamente colocou uma


camisinha e subiu em cima de mim,
dando chupões em todas as partes

do meu corpo.

- Ah, eu nem brinquei com esses


aqui. – Ele murmurou olhando para
os meus peitos com prazer. –

Vamos mudar isso.

Eu assenti com a cabeça e mordi o


lábio de prazer quando ele lambeu
meu peito esquerdo enquanto

apertava o direito com força.


Depois o contrário. E o contrario. E
eu já tinha perdido a conta de

quantas vezes revirei os olhos de


desejo.

- M-Mi-Michael, acaba logo com


isso. – Eu gemi sem fôlego.

Ele fez que sim a cabeça e sem


nenhum aviso prévio penetrou com
força na minha intimidade.

-PORRA Michael!- Eu gritei


colocando minhas pernas ao redor
da sua cintura.

- Isso, grita meu nome. – Ele disse


enfiando mais fundo, fazendo eu
delirar de prazer.

- M-MA-MAIS F-F-FORTE. – Eu
gemi enquanto fazia movimentos
circulares com o quadril.

Mas em vez de fazer o que eu


implorei, ele tirou quase tudo com
um sorrindo maldoso no rosto.

- Implore.

Eu tentei forçá-lo a ir mais fundo


com o quadril, mas ele era mais
forte e conseguiu continuar imóvel.

- Se quiser mais, você vai ter que


implorar.

- Vai Michael, deixa dessa... Eu


imploro, eu imploro que me foda
agora mesmo! – Eu implorei

fechando os olhos de novo.

- Você é ótima.

Ele enfiou tudo de uma vez e eu


arqueei as costas de prazer.

- Michael, ACHO QUE EU VOU....


- Pode gozar. – Ele sussurrou
enfiando o mais fundo possível e eu
me senti como se tivesse rasgando

ao meio. Mas era a melhor coisa


que eu já senti em toda minha vida.

Tentei segurar esse momento de


puro prazer pelo máximo de tempo
possível, mas o orgasmo tomou

conta de mim e eu senti todos os


meus músculos sem choque.

Ele gozou logo em seguida e saiu


de dentro de mim. Abri meus olhos.

Ele tirou a camisinha e jogou em


algum lugar do quarto, depois caiu
ao meu lado e eu deitei com a

cabeça em seu peito nu.

- Eu amo você Michael Hunter. –


Eu suspirei sem ar.

Ele sorriu.

- Eu sei disso.

[...]

Acordei no quarto do Michael. Nós


fizemos sexo mais três vezes depois
daquela vez e eu me sentia
completamente destruída. E
realizada. Muito realizada.

Coloquei o meu vestido de volta e


sai do quarto. Ai meu Deus, o que
foi aquilo ontem?

Eu não conseguia parar de sorrir.

Fui direto para o quarto da Susan e


entrei sem bater.

- Oi Susan! – Eu disse animada.

Ela piscou, tentando me focalizar.


Pelo jeito bebeu demais...

Sentei na borda da cama e observei


enquanto ela se sentava.

- Oi Clara... Obrigada por trocar


minha roupa.

Eu olhei para ela confusa.

- Eu não troquei sua roupa, Susan.

Ela arregalou os olhos.

- Não? Então quem... – Ela colocou


a mão na boca, como se estivesse
prestes a gritar. – O JAMES!

EU ME LEMBRO! ELE ESTAVA


SEM CAMISA NA FRENTE DA
MINHA CAMA!!
- Você acha que ele...

Ela olhou pra mim como se tivesse


levado uma sequência de socos.

- Ele não faria algo assim.

Eu assenti com a cabeça, tentando


acalmá-la.

- Vou buscar uma água pra você.

- OK... – Ela respondeu sem fôlego


e deitou de novo na cama.

Eu desci as escadas correndo e bati


em alguém.
- Ei gata, cuidado.

Meu coração deu um salto. Essa


voz.

- Oi Michael.

Ele sorriu e me deu um selinho


rápido.

- Oi, tudo bem?

Eu pensei um pouco.

- Comigo sim, mas a Susan ta quase


morrendo lá em cima.

Ele levantou a sobrancelha de um


jeito fofo.

- Por quê?

- Por que ela acordou com uma


roupa diferente da que foi dormir
e... A única coisa que ela se lembra
é do Joshua sem camisa na frente
dela.

Ele demorou um segundo para


entender. Então um sorriso travesso
passou pelo seu rosto.

- Eu sei que ele não faria nada com


ela... – Ele murmurou mais para si
mesmo do que pra mim. Então
seus olhos brilharam. – Mas, ela
não sabe disso.

- O que você quer dizer com isso?

Ele me puxou pela cintura.

- Quero dizer que você vai subir


agora mesmo e convencer a Susan
de que o Joshua abusou ela. – Ele

sussurrou no meu ouvido.

- Mas... Ele é seu irmão...

Ele me soltou bruscamente.

- Que eu me lembre, você disse


ontem que faria o que eu quisesse.

Minha cabeça latejou.

- Mas...

- Ok, então você estava mentindo.


Tudo bem, saia da minha casa agora
mesmo e...

- NÃO! – Eu gritei quase em pânico


e ele sorriu. – Eu faço o que você
mandou.

- Já disse que você é ótima?

Eu assenti com a cabeça e ele deu


um risinho antes de me beijar.
Eu subi as escadas correndo e
novamente entrei sem bater. A
Susan estava de pé em frente a
cama,

com as mãos nas têmporas.

- Argh, eu não consigo lembrar de


nada. – Ela disse frustrada.

Eu me aproximei dela devagar,


lembrando do que o Michael me
disse.

- Susan... E se o Joshua fez alguma


coisa bem ruim com você ontem?

Seus olhos se levantaram e suas


mãos despencaram ao seu lado. Ela
estava em choque, lutando

contra algum sentimento.

- Ele jamais faria algo assim.

- Como você pode ter tanta certeza?


Você mal o conhece.

Ela abriu a boca para falar, mas


pareceu pensar melhor e continuou
muda.

- Ele pode ser muito pior do que


demonstra, vemos coisas assim
todo dia no jornal.
- Mas, o Joshua é diferente, ele é...

- Será mesmo? – Eu perguntei, me


odiando por fazer isso com ela.

- Você acha que ele poderia fazer


algo assim contra mim?

- Eu não acho. Eu tenho certeza.

Seus olhos brilharam com ódio e


dor e ela correu antes que eu
pudesse dizer alguma coisa.

Segui ela em direção as escadas e


fiquei um pouco escondida para ver
o que iria acontecer. O Joshua
estava bem no meio da sala.

Ela correu até ele e o empurrou


com força.

- Susan?!

- EU ODEIO VOCÊ! – Ela gritou


empurrando ele.

Ele segurou as duas mãos delas e a


olhou em entender.

- O que aconteceu?

- VOCÊ ME USOU! EU ACORDEI


COM UMA ROUPA DIFERENTE
DA QUE EU FUI PARA
FESTA! EU ME LEMBRO DE
VOCÊ SEMINU NA MINHA
FRENTE!

O Joshua soltou as mãos delas no


mesmo segundo.

- Não pense merda. – Ele disse


calmamente.

Ela fechou o punho.

- Você tirou minha virgindade com


eu inconsciente!

- Eu jamais faria uma coisa dessas!

Ela deu um tapa na cara dele.


- Mentiroso.

18. O resto de um dia ruim

Sua boca se abriu de surpresa, ele


parecia ter levado mais do que um
tapa. Ele parecia ter levado um tiro.

- Susan, como você pode pensar


que eu machucaria você? – Ele
perguntou pasmo enquanto passava
a

mão na bochecha, sem acreditar.

- NÃO SE FAÇA DE SONSO. – Eu


gritei com ódio.
Como eu posso pensar que ele me
machucaria? Simples, eu acordei
com uma roupa diferente da que

eu fui dormir, então é claro que foi


ele quem me trocou e isso não seria
um problema – pelo menos

não um problema tão grande – se a


única coisa que eu conseguisse me
lembrar de depois que vi a

declaração do Bruno para a


Amanda não fosse do Joshua sem
camisa na minha frente. Quem sabe
se
ele também não estava sem o resto
das roupas? Argh.

- Susan, eu imploro, eu imploro que


você me escute, impl...

- Não quero ouvir mais nada que


sai dessa sua boca. – Eu rebati
irritada.

O que ele poderia me dizer? Que


foi sem querer?

Ele abriu a boca para falar, mas


então se calou.

- Viu só? Você não tem nada a me


dizer. – Eu disse friamente.
Ele respirou fundo...

- Eu... Prefiro esperar que você se


acalme para conseguir me ouvir. –
Ele disse calmamente e pela

primeira vez eu consegui enxergá-


lo como alguém 5 anos mais velho.
Ele sabia das coisas.

- Não importa quanto tempo passe,


eu vou continuar odiando você! –
Eu fechei o punho com força.

Seus olhos brilharam por algum


motivo. Não sabia se era raiva ou
dor. Espero que seja dor.
- Ah Deus... Vamos Susan, você
sabe que eu...

- QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

Nos viramos no mesmo segundo e


vimos pela janela a Dona Nicole
gritando com o senhor Fernando.

O Nicolas estava ao seu lado.

Corri no mesmo segundo para onde


eles estavam. O Joshua me seguiu.

- QUEM EU PENSO QUE SOU?


EU SOU HETERO, COISA QUE
SEU FILHO NUNCA VAI SER. –
O senhor Fernando gritou de volta,
ele parecia com muita, muita raiva.

O Nicolas estava prestes a desabar


em lagrimas e eu percebi que meus
problemas eram bem menores

do que os dele – tá, talvez não tão


menores assim, mas o Nicolas
parecia TÃO mais sensível e frágil

do que eu que automaticamente me


senti egoísta por achar que o Joshua
ter feito o que fez comigo era o fim
do mundo.

- Meu filho? – A Dona Nicole


perguntou se aproximando do
marido, seus olhos brilhando de
fúria. –

NOSSO filho!

- Não sei se você notou, mas ele


puxou você em tudo.
Principalmente no gosto por pinto!

A Dona Nicole empurrou ele com


força e o senhor Fernando
cambaleou para trás.

- Me respeite! – Ela gritou e eu tive


medo de ela voar no pescoço dele
nesse momento.
O senhor Fernando revirou os olhos
e o Joshua deu um passo a frente,
preparado para defender a mãe

a qualquer segundo.

- Claro, eu volto a ser o gentil


Fernando no segundo que você tirar
esse viado da minha casa.

A Dona Nicole fechou o punho e


andou até ficar na frente do filho do
meio.

- Nossa casa. Nosso filho. E você


não tem o direito de tirar ele sem a
minha permissão.
- Claro que eu tenho! Eu sou o
chefe dessa casa. – O senhor
Fernando disse com arrogância e eu
tive

vontade de dá um soco bem forte na


cara dele. Não só por ele ter dito
isso, mas por que ele é muito

parecido com o Joshua. Muito


mesmo. Era como ver o Joshua em
uma versão com no máximo 40

anos.

- Não, você não é. Não existe chefe


nessa família e se você continuar
com essas atitudes machistas eu vou
embora AGORA MESMO e nunca
mais você vai me encontrar! – O
tom da Dona Nicole não

deixava duvidas. Ela iria mesmo


fazer isso.

O senhor Fernando deu um passo a


frente.

- Você não faria isso.

- Por um filho meu? Ah, por um


filho eu arrancaria sua cabeça e
jogaria num rio.

Um sorriso tímido apareceu no


rosto do Nicolas.

- Vamos pai, qual é o problema do


Nicolas voltar? – O Joshua
perguntou olhando fixo para os
olhos

do pai, que eram exatamente iguais


aos dele.

- Qual o problema? Ele é o


problema! Vocês não enxergam
isso? Ele é gay! Esse é o problema!
– Ele

gritou, seus olhos pareciam


enlouquecidos de raiva.
Então – para a surpresa de todos –
o Nicolas afastou a mãe da frente
dele e deu um passo em direção

ao pai.

- Sim, eu sou gay. – Ele disse


simplesmente e eu senti meu
coração parando de nervosismo. E
se o

senhor Fernando tivesse outra


arma? – Mas, eu nunca fiz nada de
mal com ninguém, nunca trair, nunca

roubei, matei, ou seja lá o que eu


poderia está fazendo que te desse
motivo para me odiar. Eu nunca

fiz nada disso. Eu só sou gay, só


isso, eu... – Seus olhos se encheram
de lagrimas – Eu só amo o

Felipe de uma forma que eu nunca


vou conseguir explicar e eu não me
importo com nada além disso,

não me importo se ele é do mesmo


sexo que eu. Por que eu o amo. E
não há nada que eu possa fazer.

Então, pai, se você quiser que eu


pare de ser gay, você vai precisar
me matar.
Todos se calaram. E o Nicolas
respirou fundo.

- E mesmo assim isso não vai ter


feito com que eu pare. Isso só vai
fazer com que eu morra, só isso.

Não vai mudar o que eu sou eu, não


importa quantas vidas eu tenha que
viver, em todas elas eu vou

ser exatamente isso e... Eu espero


que em alguma o meu pai consiga
entender.

- Nicolas... – O senhor Fernando


murmurou sem saber o que fazer.
- Viu? Era isso que eu estava
tentando explicar pra você, não faz
sentido tirar o Nick de casa. Ele vai
continuar sendo gay. – A Dona
Nicole sorriu. – Um gay
extremamente educado, bondoso e
gentil. Isso

pode ser considerado errado?

O senhor Fernando parecia ter


perdido o chão.

- Eu... Não sei mais em o que


acreditar. – Ele confessou baixinho.

- Acredite em mim. – O Nicolas


disse sorrindo.

- E em mim. – Agora o Joshua.

- Em mim. – A Dona Nicole.

Não pude evitar.

- Em mim também. – Eu deixei


escapar.

Ele olhou para nós três sem


acreditar.

- Mas... Isso vai contra tudo que eu


fui ensinado a crer.

- Então vamos te ensinar uma nova


crença. – A Dona Nicola disse
calmamente para o marido e eu

senti todo o amor que ela sentia por


ele em cada palavra que saia da sua
boca. – Uma em que o que o

nosso filho é não é algo errado.

- Eu gosto dessa nova crença. – O


Nicolas comentou baixinho.

O senhor Fernando olhou, por


alguns minutos, nos olhos do
Nicolas e da Dona Nicole, ele
parecia

estar pensando no que fazer. Então


eu notei que seu dedo indicador
estava batendo freneticamente na

sua perna.

Como o Joshua e o Michael dão


murrinhos da porta.

O Joshua acabou me deixando em


paz no mesmo segundo em que
começou a dá esses murrinhos, mas

o Michael esperou até que eu fosse


embora para destrancar a porta.
Eles não eram exatamente

maldosos. Bem, pelo menos o


Michael não.
Meu sangue ferveu quando eu
lembrei do que o Joshua fez e
subitamente a única coisa que eu
queria

era sair correndo dali. No entanto,


eu tinha que saber o que iria
acontecer com o Nicolas.

- Acho que... Posso me acostumar


com isso. – O senhor Fernando
falou depois de um tempo. – Mas,

como fazer o Michael concordar?

O Joshua sorriu.

- Isso não é um problema.


- Então, você pode voltar para
casa, Nicolas.

A Dona Nicole sorriu e correu para


os braços do senhor Fernando, que
a abraçou com força.

- Me desculpe por ter falado


aquelas coisas. – Ele sussurrou no
ouvido dela, mas todos nós
ouvimos.

- Eu amo você. – Ela respondeu de


volta. Isso explicava tudo. Isso
queria dizer que ela aceitava o

pedido de desculpas dele, aceitava


qualquer merda que ele possa vir a
fazer. Por que ela ama ele.

Eu olhei para o Nicolas por um


segundo e, por causa da sombra,
seus olhos pareceram mais escuros

do que eram. O azul do mesmo tom


que os do Joshua.

Corri em direção a casa e em


menos de 3 minutos já estava no
meu quarto, chorando.

Eu odeio chorar. Odeio me senti tão


indefesa, mas eu não pude
controlar. Era o Joshua, o cara que
eu achava que era o amor da minha
vida e olha o que ele fez comigo!
Eu só queria bater em alguém com

força até fazer essa dor passar.

Por que ele tinha que fazer isso


comigo? Por que ele simplesmente
não esperou? Eu com certeza

estava a um passo de fazer tudinho


o que ele quisesse, plenamente
sóbria.

Minha cabeça doeu. Eu só queria


que isso acabasse.

Ouvi batidas na porta, mas eu não


queria visitas então simplesmente
ignorei.

- Ei Susan... – A voz doce do


Nicolas veio atrás da porta.

Respirei bem fundo. Ele não


merecia ficar do lado de fora.

- Pode entrar.

Ele entrou devagar no quarto e se


sentou na borda da cama.

- O que você quer aqui? – Eu


perguntei, sem conseguir conter o
tom de irritação na voz.
- Eu só quero que você me
explique, ok?

Eu revirei os olhos.

- Explicar o que?

- O porquê do Joshua estar com


aquela cara de quem foi
esfaqueado.

- Não é da minha conta o jeito


como a cara dele tá. – Eu rebati
com grosseria.

O Nicolas não pareceu se


incomodar com o meu tom, ao
contrario, ele sorriu levemente,
como se eu

fosse uma criança pequena.

- Me diga o que você quiser me


dizer. Eu não vou insistir, mas
também não vou acreditar se você

disser que não aconteceu nada.

Suspirei. Eu tinha que contar pra


ele.

- É muito mais sério do que você


imagina.

- Pode me dizer, eu aguento tudo.


Tentei encontrar algum pesar em
seus olhos azuis – que agora
estavam no seu tom normal, aquele
azul

clarinho que parecia o de um anjo –


mas não encontrei.

- É que... – Eu tentei encontrar um


jeito de contar isso. Decidi iniciar
do começo, aos poucos. –

Ontem, eu, o Joshua, algumas


meninas da minha sala e o Michael
formos convidados para uma festa

do Bruno.
- O melhor amigo gostoso do
Joshua?

Eu sorri com o canto da boca. Só o


Nicolas mesmo para conseguir
arrancar um sorriso de mim.

- Esse mesmo, mas nem olhe muito,


ele é todinho da Amanda.

O Nicolas deu uma risadinha.

- Você fala como se eu não fosse


apaixonado pelo Felipe!

- Você que disse isso. – Eu


respondi e uma risadinha escapou
dos meus lábios.
Então o Nicolas ficou sério.

- Agora, me conte o resto da


historia.

Eu respirei fundo e disparei como


uma metralhadora. Contei tudo. O
que na verdade era muito pouco,

já que boa parte da noite parecia


meio nublada na minha mente.

- ...Então eu dei um tapa bem forte


na cara do Joshua e o chamei de
mentiroso. Ele até tentou insistir
que eu estava me enganando, mas
meu Deus, é claro que eu não estou.
– Eu disse, finalizando a

historia.

O Nicolas me estudou por um


tempo, pensando no que eu acabei
de contar.

- Susan, feche os olhos. – Eu


obedeci. – Quero que imagine o
Joshua fazendo tudo isso que você
acha

que ele fez com você.

Abri os olhos no mesmo segundo.

- Não quero imaginar isso.


- Confie em mim. Feche os olhos e
imagine.

Fechei os olhos e comecei a


imaginar: Ele me colocando no
colo com eu inconsciente, depois
me

jogando bruscamente na cama e...


Não consegui continuar. Algo
estava errado.

- Eu não consigo fazer isso.

- Tente imaginar alguém sem rosto


fazendo isso com uma mulher
desconhecida. – Ele falou
delicadamente.

Assenti com a cabeça e as imagens


surgiram de um jeito muito mais
fácil. Imaginei um desconhecido

abusando do corpo de alguma


mulher. Era perturbador, mas foi
fácil de imaginar.

- Pronto. – Eu disse, ainda com os


olhos fechados.

- Abra os olhos.

Abri e vi que ele sorria.

- Por que você tá sorrindo?


- Você não percebe? Não é possível
imaginar o Joshua fazendo uma
coisa dessas porque ele nunca

faria, simples assim.

- E como você me explica tudo o


que eu disse?

Ele deu de ombros.

- Deve ter algum motivo, mas meu


irmão nunca, em nenhuma
circunstancia, faria isso com você.
Ou

com qualquer outra pessoa.


Uma parte de mim implorava para
acreditar nele.

- O que te leva a pensar isso? – Eu


perguntei.

- Eu conheço o Joshua há anos, eu


sei do que ele é capaz e do que ele
não é. E, vamos combinar, ele

não é do tipo que gostaria de fazer


sexo sem ouvir os gemidos
femininos.

Eu respirei tão fundo que parecia


que iria inspirar o ar do mundo
inteiro.
E se ele estivesse certo?

- Mas...

- Acho que você devia conversar


com ele. Antes que seja tarde
demais.

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que você deve ir


agora mesmo falar com aquele
galego alto.

Eu nem pensei antes de sair daquele


quarto e ir direto para o quarto do
Joshua. Mas, no corredor, a
única pessoa no mundo que eu não
queria conversar agora estava
parada com um sorriso no rosto.

- Michael. – Eu cumprimentei com


frieza.

- Oi Susan, sabia que eu estava


tendo altos papos com meu irmão
agora mesmo? Ele mencionou você.

– Ele disse cínico.

- Legal, agora saia da minha frente


que eu quero falar com ele.

- Ah, claro, com certeza. Eu só


quero dizer uma coisinha: Eu
prometi que iria fazer vocês se

arrependerem, não prometi?

- O que você fez? – Eu perguntei


sentido todo o meu corpo se
arrepiar de medo.

Mas, em vez de responder, ele


sorriu e entrou no elevador.

- Boa sorte.

Ele deve ter falado alguma besteira


pro Joshua.

Entrei no quarto sem bater e vi que


o Joshua estava sentado na borda
da cama, olhando para algum

ponto fixo na parede.

- Posso entrar?

- Já entrou. – O Joshua respondeu


friamente.

Ah merda, ele tá usando aquele tom


frio.

Andei até ficar na frente dele, seus


olhos pousaram nos meus.

- O que você quer?

Eu pensei um pouco. O que eu


queria? Um turbilhão de respostas
atingiu meu cérebro: eu queria que

os problemas entre eu e o Joshua


acabassem, eu queria que a gente
pudesse ser um casal como outro

qualquer, eu queria esquecer aquela


noite e fingir que nada daquilo
aconteceu, ou talvez, eu queria

conseguir parar de amar ele. Mas,


acima de tudo, eu queria pedir
desculpas.

Essa ultima opção foi a que eu


escolhi.
- Me desculpa.

- Pelo o que?

- Por... Ter dado um tapa na sua


cara e gritado com você.

Ele me olhou por um segundo e se


levantou, seu corpo a centímetros
do meu.

- Eu te desculpo. – Ele respondeu


por fim.

Então se aproximou e eu achei que


ele fosse me beijar.

Mas ele não fez isso.


- Eu te desculpo, mas não posso
continuar amando você. – Ele fez
uma pausa e se afastou de mim. –

Não posso amar alguém que não


confia em mim.

- Quem disse que eu não confio em


você? – Eu perguntei, sentindo um
desespero tomando conta do

meu corpo.

- Você mesma disse isso, mas o


Michael que me fez entender.

Meu coração parou.


- O que o Michael te fez entender?

Ele desviou os olhos.

- Que você não me ama, e portanto,


eu não deveria amar você.

- MAS EU TE AMO! – Eu gritei


sem conseguir me segurar.

Seus olhos voltaram para os meus e


um sorriso de vingança se espalhou
pelo seu rosto.

- Mentirosa.

19. Eu não iria aguentar viver


sem você
Ok, acho que eu mereci essa.

- Por favor, vamos conversar.

Eu pensei que ele fosse dizer como


da ultima vez – quando eu o chamei
para vim pro meu quarto,

para que eu pudesse explicar que eu


não beijei o Nicolas. Quer dizer, eu
beijei o Nicolas, mas não

do jeito que ele... Ah, esquece. –


algo do tipo “Não estou a fim de
falar com você”.

Mas, em vez disso, ele se sentou de


novo na cama e assentiu para mim.
- Vamos.

Ele deve ter notado minha


expressão de surpresa já que deu
uma risadinha.

- O quê? Achou que eu fosse negar?


Bem, eu pensei nisso de primeiro,
mas acho que todos merecem

ser ouvidos... É claro que você não


pensa assim, porque não me ouviu
hoje de manhã e agora veio

toda arrependida me procurar.

Mereci essa também.


Me sentei em frente a ele e pensei
um pouco antes de falar.

- Acho que você não deveria ouvir


tudo o que o Michael diz.

Ele revirou os olhos.

- Acha mesmo que é assim que se


deve começar essa conversa?
Falando do meu irmão?!

- Exatamente assim. Ele é o inicio


do problema, nada mais justo do
que ser o inicio da conversa.

- Ele não é o inicio do problema.


Você é o inicio do problema. – Ele
falou e eu automaticamente me

lembrei do que ele disse para a


Emily ruiva, um bilhão de anos
atrás: “Ela não é uma qualquer.
Você

é uma qualquer.”. Mas, acho que eu,


ao contrario dela, não vou ganhar
um beijo no final.

- Na verdade, o inicio do problema


é você ter trocado minha roupa.

Ele se levantou no mesmo segundo.

- VOCÊ PREFERIA QUE EU TE


DEIXASSE COM VÔMITO NO
VESTIDO? – Ele gritou irritado.

Me levantei também.

- VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO


DE ME VER SEMINUA SEM
MINHA PERMISSÃO! DEVIA

TER CHAMADO ALGUÉM.

- ERA 1 HORA DA MANHÃ,


NÃO TINHA QUEM CHAMAR! –
Nós parecíamos dois loucos

gritando de raiva.

- FODA-SE QUE HORAS ERAM,


VOCÊ NÃO PODERIA TER
FEITO ISSO.

Ele abriu a boca para gritar


comigo, mas então se calou e
respirou fundo, extremamente
cansado.

- Susan, vou ter que pedir para que


saia do meu quarto.

Droga. Estraguei tudo.

Me sentei de novo a borda da cama.

- Acho que isso não foi lá das


melhores conversas.

- Descobriu sozinha? – Ele


perguntou com um tom
irritantemente parecido com o do
Michael. O

mesmo tom que sempre fazia meu


sangue ferver de raiva.

- Pare de agir assim. – Eu


murmurei.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Assim como?

- Como um idiota.

- Tá, agora eu que saio daqui. – Ele


disse indo em direção à porta.
MERDA, EU NÃO POSSO
DEIXAR ELE IR EMBORA
AGORA! Minha mente foi a mil
enquanto eu

pensava em um jeito de detê-lo e


quando ele estava prestes a sair eu
pensei em alguma coisa.

- VAMOS SER AMIGOS!

Ele se virou no mesmo segundo.

- Oi?

Ufa, eu consegui a atenção dele.

- É... Amigos. Já que amar está fora


de questão. – Eu disse de uma vez
só e ele demorou um segundo

para assimilar.

- Amigos? – Ele falou a palavra


como se estivesse provando uma
comida nova.

- Exatamente.

- Por quê?

Eu suspirei.

- Porque eu não iria aguentar viver


longe de você.
Ele deu um passo pra trás.

- Não vou conseguir ser seu amigo.


– Ele disse baixinho.

- Podemos tentar.

Ele pareceu pensar no assunto. E eu


quase perdi o ar quando ele fez que
sim com a cabeça.

- O que temos a perder?

Eu sorri.

- Nossa sanidade.

Ele riu baixinho. Então ficou sério.


- Como se faz isso?

Olhei para ele sem entender.

- Isso o que?

Ele desviou os olhos.

- Amizade entre homem e mulher.

- Você nunca teve amiga mulher? –


Eu perguntei sem acreditar.

- Depende de que categoria você


colocar o Nicolas. – Ele falou
rindo e eu ri também.

Mas então eu percebi a gravidade


disso.

- Como você pode nunca ter tido


uma amiga mulher?

Ele fixou seus olhos nos meus.

- Todas elas já começavam a


amizade com segundas intenções.
Depois de um tempo eu me
acostumei

e descartei todas as possibilidades


de uma amizade assim.

Senti um ciúme irritante


percorrendo minhas veias.
- Ah. – Eu murmurei sem saber o
que dizer.

Ele balançou a cabeça em negativa


e me puxou pela mão até a varanda
do quarto, que era um pouco

maior que a varanda do meu quarto


– mas, claro, não dava para o
telhado – e nos sentamos um de

frente para o outro.

- E agora? – Ele perguntou com um


tom divertido.

Pensei por um momento.


- Que tal se a gente fizesse tipo um
jogo de perguntas? Amigos tem que
se conhecer mais do que tudo.

Ele assentiu.

- Você começa.

Passou pela minha cabeça em fazer


alguma pergunta séria e pessoal,
mas acho que isso iria ser se

aproveitar demais da situação.

- Qual sua banda preferida? –


Decidi começar pelo básico.

- Imagine Dragons. – Ele disse sem


nem pensar duas vezes. – E a sua?

- Maroon 5, o Adam Levine é


perfeito e... – Parei de falar quando
notei a expressão de raiva no rosto
dele. Melhor mudar de assunto. –
Qual seu livro preferido?

- O Código Da Vinci. – Ele


respondeu depois de um tempo
pensando, o que significava que ele
tinha

lido muitos livros na vida. – E o


seu?

- Harry Potter e a Ordem da Fênix –


Eu respondi.

Ele sorriu.

- É um dos meus preferidos


também. Sabia que o nome da
escola em que você estuda é uma

homenagem a J.K Rowling?

- Sabia! – Eu respondi animada. –


Ela é a mulher mais perfeita que já
pisou na Terra.

Ele balançou a cabeça.

- Não.
- Não?

- Não, a mulher mais perfeita que já


pisou na Terra é vo... – Então ele
parou bruscamente. – Amigos.

– Ele falou mais para si mesmo do


que para mim. – Quase esqueci.

Argh. Ele ia dizer que era eu. E eu


iria beijá-lo e esqueceríamos todas
as merdas que aconteceu hoje.

Pena que isso não aconteceu.

- Então Joshua, por que você


escolheu pedagogia? – Eu
perguntei, já que desde o momento
em que eu

descobri isso fiquei morrendo de


curiosidade.

Ele pensou por alguns segundos.

- Porque eu queria ser útil. Não sei


se faz sentido, mas às vezes eu olho
em volta e percebo que

ninguém está fazendo nada para


mudar tudo que está errado e...
Bem, eu não queria ser assim. – Ele

desabafou, desviando os olhos.

Eu amo esse cara.


Um sorriso se espalhou pelo meu
rosto.

- Acho que você está certíssimo,


queria que todos pensassem como
você. – Eu suspirei a mais pura

verdade. – E o que você pretende


fazer com os alunos idiotas que
toda sala tem?

Ele deu de ombros.

- Vou ensiná-los como serem


pessoas que valem a pena, nem que
eu precise passar o ano todo

tentando. – Ele parecia bem


determinado. – E você, o que quer
ser quando crescer?

- Promotora ou advogada. Ou juíza.


Ou delegada. Ou veterinária. Ou...

Ele soltou uma risada fofa.

- Pelo jeito você é de varias faces.

Eu sorri.

- Você também é.

- Talvez, mas eu...

Então o celular dele começou a


vibrar e ele atendeu no mesmo
segundo, sem nem ver quem era.

- Oi... Bruno... Claro que você pode


me pedir um favor! – Ele olhou
para mim enquanto ouvia o

amigo. – Ah, já já eu chego ai. – E


desligou.

- O que aconteceu?

- Ele quer que eu passe na casa


dele para a gente conversar.

Isso significa que...

- Então a Amanda não dormiu com


ele!
- Por mais estranho que possa
parecer, ela não passou a noite lá. –
Ele sorriu assim que terminou a

frase. – O Bruno agora tem a


certeza de que ela é especial.

- Vá lá conversar com ele então. –


Eu disse, mesmo que nenhuma parte
do meu corpo quisesse que

ele fosse embora.

- Vou. Depois a gente continua a


conversa.

Eu assenti e sai do quarto para que


ele pudesse trocar de roupa.
No segundo em que eu toquei na
minha cama cai num sono
instantâneo.

[...]

- SOPHIA!! DEIXE DE MOLEZA,


JÁ ACABOU O FERIADO!

A voz gritante e meiga do Nicolas


me acordou de um sonho com o
Joshua.

- Hã... O que é você?

Ele riu.

- O cara mais sexy do mundo, agora


levanta dessa cama que temos que
ir para a escola!

Esfreguei bem os olhos para ter


certeza que ele real. É claro que
era. Nem em sonho eu verei um tom

tão único de azul como o dos olhos


dele.

- Ei, que carinha triste. – Ele falou


preocupado e se sentou na cama
perto de mim. – O que

aconteceu?

Então, bem rapidamente, eu


expliquei toda a minha historia com
o Joshua, desde o momento em que

eu entrei no quarto dele até o


segundo exato em que eu
praticamente desmaiei de sono.

- Ah céus... Por que o Michael faria


isso com vocês?

Eu revirei os olhos para essa


pergunta.

- Porque ele é cruel, simples assim.

- Não... Quer dizer, ele é, mas não


só isso. Ele não faria isso se não
tivesse um motivo.
- Ele não me quer com o Joshua,
esse é o motivo. – Eu falei meio
sem paciência.

Ele me olhou de um jeito estranho,


mas decidiu ficar calado.

- Ok. Agora vai se arrumar que eu


tou te esperando lá embaixo. – Ele
se despediu e me deu um beijo

na bochecha antes de ir.

O que ele estava querendo dizer? O


Michael não precisava de um
motivo para ser mau. Ele

simplesmente era.
Tomei um banho rápido e me
perguntei como iria ser daqui para
frente em relação ao Joshua. Não

vou conseguir ser amiga dele por


muito tempo. Não é possível. Eu
amo muito ele para isso.

Ah, por que nada podia ser


simples?

Coloquei qualquer roupa e desci


para o primeiro andar.

Quase cai de susto com a cena que


eu vi: O Michael conversando com
a Clara... Não, espera ai, o
Michael SORRINDO COM A
CLAIRE! Sorrindo de verdade, sem
malicia, sem deboche, só sorrindo

como uma pessoa relativamente


boa.

Entrei meio hesitante na sala de


jantar, sem saber muito como reagir
ao que eu estava vendo.

- Bom dia Susan! – A Clara disse


animada.

- Bom dia Clara... Hã... Bom dia


Michael. – Eu falei meio sem
convicção.
- Então, falou com meu irmãozinho?
Ele fez a coisa certa e perfurou seu
coração?

O sorriso dele me enganou. Ele


nunca seria alguém relativamente
bom.

- Na verdade, nós somos amigos


agora.

No mesmo a Clara e o Michael


trocaram olhares e percebi que com
certeza tinha alguma coisa no ar.

- Amigos? – O Michael perguntou


com um sorriso maldoso no rosto. –
Então ele deve tá puto com

você muito mais do que eu


imaginei.

Fechei o punho.

- Ninguém perguntou o que você


imagina ou deixa de imaginar. – Eu
rebati irritada.

- Oh, que resposta boa em,


aprendeu onde? No quarto ano? – O
Michael perguntou, seu tom exalava

ironia.

- Cala a boca.
Me virei no mesmo segundo e lá
estava ele. O Joshua, com uma
camisa vermelha meio colada e
uma

calça jeans azul-escuro quase do


mesmo tom que seus olhos. Era um
absurdo alguém ser lindo assim.

- Chegou o defensor dos indefesos.


– O Michael murmurou com raiva.

- Parem. – Todos se viraram no


mesmo segundo e eu vi um senhor
Fernando nem um pouco feliz na

porta da sala. – Entrem logo no


carro, eu que vou levar vocês.
Joshua, você vai ter a reunião hoje,

portanto, fique em casa. Ah e Clara,


sua mãe ligou, ela vem te buscar já
já. – Seu tom era tão

autoritário que nem sequer eu


pensava na possibilidade de negar.
Já sei de quem os filhos puxaram o

dom de mandar e fazer todos


obedecerem.

Todos nós assentimos e em menos


de cinco minutos eu estava ao lado
do Nicolas no banco de trás do
carro.

Chegamos em silencio no colégio e


o senhor Fernando não esperou nem
um minuto antes de ir

embora.

- Michael, tente não se meter em


nenhum briga hoje. – O Nicolas
disse um pouco antes de nós irmos

para a escada que dava direto na


sala. – E Susan... – Ele sorriu. – Se
cuida, ok? A gente se ver no

intervalo.
Ele saiu correndo até o outro lado
do campo e eu tive que estreitar os
olhos para ver de quem era os
braços que o puxaram pela cintura e
o tirou do chão. Era do Felipe.

- Eles são tão gays. – O Michael


murmurou e eu não consegui
identificar qual era o tom na sua
voz.

- Exatamente. E apaixonantes,
acima de tudo.

Seus olhos verdes-mar pousaram


nos meus.
- Que estranho.

- O que?

- Eu concordo plenamente com o


que você disse.

Olhei para ele sem entender.

- O que tem de estranho nisso?

Ele de uma risadinha.

- Eu odeio você, não era para eu


concordar.

Revirei os olhos e subi as escadas


para não ter que responder a ele.
Mal cheguei à sala e já consegui
ouvir o murmúrio de um monte de
meninas falando ao mesmo tempo.

- SOPHIA! – Elas gritaram ao


mesmo tempo e eu percebi que
tinha uma menina nova que eu não

conhecia. Assim como todas as


outras, ela tinha um cabelo longo e
preto e a pele bem branca,

também era bonita e sorriu pra mim


no segundo em que me viu.

- Oi povo. – Eu cumprimentei
sorrindo e abracei cada uma delas,
até a garota nova.

- Oi, meu nome é Gabrielle, eu tava


em Paris e não pude vim nesses
primeiros dias de aula.

Sorri.

- Acho que você já sabe meu nome.

- Menina, eu já sei é tudo sobre


você! – Ela disse rindo. – Pegando
o mais gostoso dos Hunter?

Como é que pode?

Eu ri com o jeito como ela falou e


decidi omitir o fato de eu não estar
mais pegando ele, até por que eu
não tinha nenhuma intenção de
continuar com aquele papo de
amizade.

- Nada a ver, o mais gostoso é o


Michael. – A Clara disse na
defensiva.

- Minha gente, nenhum se compara


ao Bruno. – A Amanda rebateu com
um sorriso tão grande que

cobria seu rosto todo. – Ai, eu não


sei como sobrevivi todo esse tempo
sem aqueles par de olhos
azuis.

- Isso porque você não viu o


professor Cavalcante me ensinando
sobre como...

- Isabela.

Ela corou no mesmo segundo e se


virou para o professor de química
que estava parado bem atrás

dela.

- O que você iria dizer mesmo? – A


Elena perguntou dando uma
risadinha e a Isabela a olhou de um
jeito mortal.

- É, fiquei curioso também. – O


professor disse olhando fixo para a
Isabela. – O que eu ensinei a

você mesmo?

- Química. – Ela respondeu e um


quê de malicia tomou conta da sua
voz. – Muito química.

Ele deu uma risadinha e foi para


frente da sala.

- Bom dia minha gente.

- O que você está fazendo aqui? É


aula de Biologia! - Alguém disse no
fundo da sala, mas eu nem

tive o trabalho de me virar para ver


quem era.

- Ah sim, o professor Barbosa não


pôde vir e como eu sei desse
assunto, ele pediu para eu dá uma

iniciação para vocês.

- Qual é o assunto? – A Bia


perguntou já abrindo o caderno e o
estojo.

O professor sorriu e seus olhos


puxados brilharam por algum
motivo.

- Reprodução.

Uma onda de sussurro passou pela


sala e a Isabela sorriu pervertida.

- Eu adoro esse assunto. – Ela


falou, alto demais para um
comentário só entre as meninas.

- Então senta no meu pau que eu


também adoro esse assunto!

A sala toda se virou para ver um


menino moreno com olhos com de
mel e uma cara de cafajeste
extremamente sexy. Todos os
meninos riram do que ele disse.
Menos o professor.

- Paulo, saia de sala agora mesmo.

O menino se levantou no mesmo


segundo.

- Foi só uma brincadeira, não


precisa levar tão a sér...

- SAIA! – O professor gritou de


raiva e eu percebi que tinha mais
coisa no tom de voz dele. Tinha

ciúmes. – Você vai ter que aprender


a respeitar as garotas.
- Você ouviu o que ela disse? Ela
que não se respeita!

O professor abriu a porta da sala


com força e apontou para o
corredor.

- Ou você sai agora mesmo ou eu


faço você ser expulso desse colégio
antes que possa dizer a

palavra “Biologia”! – Sua voz


estava carregada de fúria e ameaça.

A Isabela olhava para a cena sem


acreditar.

O tal Paulo nem discutiu, pegou as


coisas e foi embora o mais rápido
possível e assim que a porta se
fechou, a sala inteira parecia sem
folego.

- Mais algum comentário sem


graça?

Nenhuma resposta.

- Ótimo. E vocês, meninos,


deveriam aprender que é preciso
pensar antes de falar.

- Mas, ele só falou de zoa. – Um


menino com o cabelo castanho
claro que estava sentado ao lado da
cadeira vazia do Paulo disse.

Mas, as meninas – assim como eu –


tinham entendido o que aconteceu.
Foi ciúmes. Não foi por causa

do que ele disse, mas sim para


quem ele disse.

O sorriso no rosto da Isabela não se


apagou nem por um segundo durante
o resto da aula.

- Tchau professor! – A Isabela


correu para abraça-lo antes de ele
sair da sala e eu notei que a mão

dele a puxou pela cintura para cima


e ele sussurrou alguma coisa no
ouvido dela. – S-sim, eu o-od-

odeio ele. – Ela sussurrou de volta,


as palavras saindo com dificuldade
por causa do estado de

choque dela.

Cinco minutos exatos depois que o


professor Cavalcante saiu, a Dóris
– professora de interpretação

de texto – entrou na sala com o


braço engessado.

- Então, hoje vocês vão ler um


clássico da literatura mundial:
Romeu e Julieta. – Ela falou para
nós enquanto ia para frente da sala
e escrevia no quadro. – Mas antes...
Susan, pode me fazer um favor?

- Claro, professora. – Eu respondi


me levantando.

- Vá até o refeitório e traga um


copo com água para mim, por favor.
– Ela pediu e eu fiz que sim com a
cabeça.

Assim que abri a porta da sala dei


de cara com o Edu.

- O que você tá fazendo aqui fora?


- Cheguei atrasado. – Ele disse com
um pouco de vergonha. – Só posso
entrar na próxima aula. E

você?

- Vou buscar água para a


professora.

- Quer que eu vá com você?

- Não precisa, volto já! – Eu dei um


beijo na bochecha dele e desci as
escadas.

O colégio enorme ficava


estranhamente vazio nesse horário,
tirando pelos funcionários, não
tinha

ninguém nos corredores e no campo


principal. Andei rápido até chegar
no refeitório e fui até a banca da
cantina, onde um cara estava virado
de costas para mim, arrumando
alguma coisa.

- Bom dia. – Eu cumprimentei o


homem e ele se virou para mim.

Eu o conhecia de algum lugar. Ele


tinha um cabelo castanho claro que
combinava perfeitamente com

um par de olhos verdes e um corpo


que fazia eu querer agradecer a
Deus por... Então eu lembrei.

Era o garçom da festa do Bruno.

- Eu conheço você de algum lugar.


– Ele falou me olhando com
curiosidade.

- Eu estava na mesa com a Elena.

Um sorriso apareceu no seu rosto e


eu notei que ele tinha uma covinha
profunda na sua bochecha, do

lado direito.

- E ai, como foi a festa?


- Ótima. – Menti. – E para você?

Ele corou.

- Tão boa que eu procurei um


emprego para ficar mais perto dela.

- Do que exatamente você está


falando? – Eu perguntei intrigada.

Ele sorriu meio tímido, muito


diferente do garçom safado da
festa.

- Você pode ter uma ideia do que


fizemos depois que eu a puxei para
o quarto mais próximo. Mas,
isso não iria torna-la especial SE
ela não tivesse feito o que fez
depois.

Me sentei na banca da cantina, para


poder ouvir melhor.

- O que ela fez?

- No meu serviço da festa, eu teria


que servir 200 mesas para poder
sair e isso iria demorar umas 2

horas, então, quando eu expliquei


isso para a Elena, depois da gente
ter voltado do quarto, e ela... –

Ele sorriu. – Ela me decidiu que


iria me ajudar, para que eu pudesse
acabar mais rápido. E ela

realmente me ajudou. Eu acabei em


menos de 40 minutos com ela me
ajudando a servir as pessoas.

Dá para acreditar que ela fez isso?

- Que coisa fofa. – Eu deixei


escapar baixinho.

- É, eu pensei isso também. Então, a


gente voltou para o quarto e
começamos... A conversar! Eu

nunca conversei com uma garota


como conversei com a Elena. Por
isso, depois que acabou a festa e

tudo mais, eu pedi para o Bruno me


dizer em qual colégio ela estuda
para que eu pudesse pensar no

que fazer. E, por causa destino eu


acho, eles estavam precisando de
alguém para a cantina.

Eu sorri.

- Essa deve ser uma das historias


mais fofas que eu já ouvi!

- Mas, não conte para ela ainda.


Quero que ela tenha uma surpresa.
[...]

O resto do dia passou voando.

A Isabela prometeu que iria contar


todos os detalhes sobre o que
aconteceu entre ela e o professor

Cavalcante amanhã e a Elena quase


desmaiou de emoção quando viu
que o Lion estava trabalhando

na cantina. Nem preciso dizer que


eles se beijaram. Se beijaram
muito.

Antes que eu pudesse me dá conta,


já estava em casa, sentada na borda
da cama do meu quarto.

O motorista do Joshua foi quem


buscou eu, o Michael e o Nicolas
da escola, dizendo que o Joshua

ainda estava na reunião.

Então o Nicolas entrou voando no


meu quarto, atrapalhando meus
pensamentos.

- SOPHIA!! POR QUE VOCÊ TÁ


AQUI SEM FAZER NADA? – Ele
perguntou correndo para ficar

perto de mim, seus olhos brilhando


de animação.
- Porque eu...

- VOCÊ VAI AGORA MESMO


FALAR COM O JAMES!

- Por que eu faria isso?

- Lembra não? Nesse momento


você está na friendzone. – Ele falou
a ultima palavra como se fosse

uma doença e eu ri.

- É, ele tá no quarto?

- Prontinho para você.

Dei um risinho e corri até chegar na


porta do quarto do Joshua. Respirei
fundo antes de dá uma

batidinha.

- Posso entrar?

- Claro. – A voz dele veio do outro


lado da porta e eu senti meu
coração acelerando

instantaneamente.

Entrei no quarto e fui direto para


onde o Joshua estava, sentado na
cama dele mexendo em alguma

coisa no celular.
- Oi, como foi seu dia? – Eu
perguntei sorrindo e sentando na
frente dele, olhando fixos para
aqueles olhos azuis.

- Muito bom, consegui tudo o que


eu queria na reunião.

- E o que você queria?

- Depois te conto. – Ele falou com


um tom de mistério que combinava
perfeitamente com ele. – E o

seu dia?

- Voltamos ao jogo das perguntas? –


Eu perguntei rindo e ele sorriu.
- Claro, por que não?

- Sou totalmente a favor. Meu dia


foi legal. – Eu respondi sem muitos
detalhes.

- E qual sua musica preferida?

Sorri.

- Hey Jude e a sua?

- Demons, com certeza.

- O que você mais fazia quando era


pequeno?

- Brigava com o Michael. – Ele deu


uma risadinha. – Acho que as
coisas não mudaram muito.

Michael. Só de pensar nele meu


estomago se contraia de nojo.

- Qual sua cor favorita?

Pensei um pouco. Na verdade, eu


gostava de todas as cores.

Então um raio de sol invadiu o


quarto e eu percebi que existia
apenas uma cor que eu não
conseguiria viver sem.

- Azul.
- Que tom? – Ele perguntou
intrigado.

Antes que ele pudesse dizer alguma


coisa eu fui para perto dele, tão
rapidamente que ele perdeu a

respiração.

- O do seus olhos. – Eu sussurrei.


Minha boca roçava seu ouvido.

- Susan...

Eu me afastei dele bem devagar.

- Não vou aguentar ser sua amiga.


Ele suspirou.

- Eu amo você.

Meu coração errou uma batida e eu


senti meu corpo todo se acelerando.

- Eu também amo você. – A


resposta saiu da minha boca com
tanta facilidade que eu não tina

nenhuma duvida da sinceridade


nela.

- E agora?

- Agora a gente se beija até perder


o folego e esquece todos os
problemas.

E foi exatamente isso que fizemos.

Nossas bocas se encontraram como


se tivessem ficados anos sem se
ver. Cheias de interrogações e

saudades, mas mesmo assim foi o


beijo mais doce que eu já recebi em
toda minha vida. As mãos do

Joshua me puxaram pela cintura e


ele me levantou da cama.

Então perdemos o folego.

- Eu só queria que as coisas fossem


mais fáceis. – Ele sussurrou com as
mãos firmes na minha

cintura, como se eu sequer pensasse


em sair dali.

- Elas vão ser. – Eu disse tentando


convencer a mim mesmo. – Eu juro.

- Você jura? – Ele me puxou mais


para perto. – Porque EU juro que se
voce não sair correndo agora

mesmo eu nunca mais vou te soltar.

Eu não sai correndo.

- Mas, por favor, tente ter mais


calma com meu coração. – Ele
disse baixinho, quase suplicando. –
Eu não vou aguentar outra sessão de
tortura como essa.

- Eu nunca mais vou partir seu


coração.

Ele sorriu e me beijou de novo.

Ele me pegou no colo e me colocou


de novo na cama, me olhando como
se eu fosse uma caça e ele o

caçador.

- Puta merda, você vai ter que


trocar essa roupa.
- Por quê?

- Porque eu não tenho tanto


autocontrole assim. – Ele disse
mordendo o lábio inferior.

Pensei um pouco. Eu ainda não


estava pronta para dizer que ele não
precisava mais de autocontrole.

- Assim que você me responder a


uma pergunta.

- Diga.

- O que vocês decidiram na


reunião?
Ele sorriu.

- Que eu vou ser o professor que


vai comandar a viagem da sua
turma, vai ser um acampamento.

AI MEU DEUS!

- COMO ASSIM? – Eu perguntei


sem acreditar.

- Eu, você e um bando de outros


alunos que não iriam notar se a
gente fosse para um canto da
floresta e fizesse... Bem, depende
do seu humor. – Seu tom irradiava
malicia.
- Quando vai ser isso?

- Daqui a uma semana.

20. Ele me ama. Isso que importa.

- Vai ser tão legal.

Ele sorriu e eu esqueci como se


respirava. Nunca vou me acostumar
com aquela covinha no canto

esquerdo da sua bochecha, nunca


vou me acostumar com o jeito como
meu coração acelerava a cada

sílaba que ele dizia. Nunca vou me


acostumar com o tamanho do meu
amor por ele.

- Não. – Ele se aproximou de mim e


senti seu respiração a menos de 5
centímetros do meu ouvido. –

Vai ser muito mais que legal. Vai


ser o melhor dia da sua vida.

Lá no fundo da voz dele eu


encontrei o que ele estava tentando
me dizer.

Eu terei a minha primeira vez


naquele acampamento.

Um turbilhão de pensamentos
invadiu a minha mente, todos eles
morrendo de preocupação com o
que

poderia acontecer.

O Joshua se afastou de mim.

- Disse alguma coisa errada? – Ele


perguntou olhando preocupado para
o meu rosto.

Ah merda, será que eu estou com


cara de assustada? Provavelmente.
Nunca soube esconder o que

pensava.

- Não é isso, é que... – Eu deixei o


resto no ar. Não sabia como
completar a frase sem magoar ele.

É claro que ele entendeu o que eu


estava tentando de dizer.

- Susan, você acha que eu não sei o


quanto esse momento vai ser
importante para você? – Ele pegou

as minhas mãos, seu toque era


quente e acolhedor. – Você acha que
eu não sei que você vai querer

lembrar para sempre do que


acontecer?

Eu balancei a cabeça em negativa.


Eu sei que ele sabe.

- Mas... – Eu tentei encontrar


palavras para dizer o que eu estava
pensando. – E se eu não for boa o
bastante?

O canto da sua boa inclinou para


cima.

- Você já é melhor que o bastante,


entende isso? Você faz eu controlar
todos os meus hormônios, ao

mesmo tempo que mexe com cada


um deles e... Mexe também com a
minha sanidade.
- Fala sério, Joshua! Você já teve
um trilhão de garotas, nem venha
com esse papo de “você já é

melhor o bastante”! – Eu me
levantei da cama, irritada por
algum motivo que eu não conseguia

entender.

Ele se levantou também, sorrindo.

- Um trilhão de interesseiras? Você


ganha delas só com um revirar de
olhos. – Ele se aproximou de

mim e me puxou pela cintura. – Na


verdade, você consegue ganhar
delas só com a sua respiração.

Meu coração deu duplo mortal


farpado.

- Por que você fala essas coisas? É


para conseguir meu corpo nu? – Eu
perguntei tentando parecer

séria.

Ele deu uma risadinha.

- Ah claro, porque eu passaria


noites e noites sem dormir,
pensando no que vou dizer para
você no
dia seguinte, só para ter sexo, que é
uma coisa super difícil de
conseguir. – Ele respondeu irônico.

Não aquele irônico como o que o


Michael usa, o irônico do Joshua
era diferente, era apaixonante.

- Você faz o quê? – Eu não


conseguia acreditar no que ele tinha
dito.

Ele desviou os olhos e, eu juro, se


ele fosse qualquer outra pessoa
teria corado agora.

- Acho que falei demais. – Ele


disse sem olhar para mim. – Mas é
isso mesmo.

Eu fiquei de na ponta dos pés e seus


olhos pousaram nos meus.

- Quantas vezes no dia eu vou ter


vontade de dizer que te amo?

Ele sorriu.

- Um bilhão de vezes a menos do


que eu, pode ter certeza disso.

Ele aproximou sua boca da minha


devagar, como se fosse nosso
primeiro beijo. Primeiro ele me deu
um selinho demorado, suas mãos
seguras na minha cintura e as
minhas na sua nuca e no seu cabelo

dourado.

Então alguém bateu na porta.

Ele me soltou lentamente, sem


pressa nenhuma em falar com quem
quer que tenha atrapalhado a

gente.

- Quem é?

- Sua mãe. – A voz da Dona Nicole


veio do outro lado da porta, com
aquele tom animado e doce que

o Nicolas também tem.

Ele acenou com a cabeça para que


eu me sentasse no sofá e foi até a
porta.

O sofá ficava em frente à TV e eu a


liguei antes de sentar.

- Oi mãe, o que te leva aqui? – Ele


perguntou sorrindo e dando um
abraço nela.

- O Nicolas me disse que a Susan


estaria aqui, é que uns amigos dela
chegaram.
Me levantei no mesmo segundo.
Não estava esperando ninguém.

- Ah, o Bruno ligou e disse que iria


vim aqui. – A Dona Nicole
completou.

- Sim... Eu falei com ele. – O


Joshua disse meio confuso. – Que
amigos da Susan estão aqui?

Eu fui até onde eles estavam, minha


mão tocando a do Joshua.

- Um monte de meninas e um ruivo


extremamente fofo. – Ela disse
dando uma risadinha.
O Joshua segurou a minha mão, mas
não de um jeito carinhoso. Foi de
um jeito possessivo.

- Vamos descer em um segundo.

Os olhos da Dona Nicole foram


direto para minha mão na mão do
Joshua e um sorriso surgiu no rosto

lindo dela.

- Ok. Vou ficar lá com eles até


vocês chegarem.

Assim que ela saiu, o Joshua se


virou pra mim.
- Um Lohan? – Ele perguntou com a
voz cheia de ciúmes.

Revirei os olhos.

- Assim como você é muito melhor


que o Michael, o Edu é muito
melhor que a Jane. – Eu respondi

no mesmo segundo, como se


estivesse guardando essa resposta
na ponta da língua.

- Lá vem você de novo falar do meu


irmão como se ele fosse um
monstro.

- ELE É! – Eu falei mais alto do


que o necessário. – Ele que fez
você achar que eu não te amava
mais e depois, quando eu tava indo
falar com você, ele disse que
estava cumprindo a promessa que
ele

fez.

- Que promessa?

- A que eu iria me arrepender de ter


nascido.

Ele me olhou de um jeito estranho


por alguns segundos, então
balançou a cabeça.
- Bem, então vamos descer que eu
quero ter certeza sobre esse tal de
Edu.

Ele me puxou para fora, mas eu não


me mexi.

- O que foi?

- Você acha mesmo que se o Edu


fosse tipo a Jane, eu não iria dá um
fora nele como você deu nela?

Em vez de responder, ele me deu


um selinho.

- Eu sei que você daria o fora do


século nele, mas eu não quero que
ele seja como a Jane. Ninguém

merece uma Jane na vida. – Tentei


encontrar alguma raiva no tom dele,
mas ele parecia indiferente.

- Bora, eles estão esperando.

Descemos a escada rapidamente e o


Joshua não soltou minha mão nem
um segundo.

- Aleluia! – A Amanda gritou assim


que nos viu e todas as meninas
correram para perto da gente.

Abracei cada uma delas e elas


abraçaram o Joshua depois.
- Vocês são tão fofos juntos. – A
Bia disse sorrindo.

- Eu sei, eu sei. – O Joshua


respondeu ajeitando o cabelo, como
se pudesse ficar mais perfeito do
que já estava.

Dei uma olhada na sala e vi o Edu


conversando animadamente com a
Dona Nicole. Soltei a mão do

Joshua com cuidado e corri até


onde ele estava.

- EDU! – Eu gritei animada e ele se


levantou no mesmo segundo, me
dando um braço forte. – O que

vocês fazem aqui?

- As meninas disseram que seria


uma boa ideia vim e... – Ele corou.
– Eu estava curioso para saber

onde morava os Hunter.

A Dona Nicole deu uma risadinha


fofa.

- Então, estamos aprovados?

O Edu sorriu.

- Até mais que isso.


Ela assentiu, sorrindo, e foi até a
porta de entrada.

- Eu vou indo, divirtam-se. – Ela


disse, então se virou e saiu.

Todos nós nos jogamos no longo


sofá dos Hunter. Todos menos o
Joshua, que continuou em pé,

olhando fixo para o Edu. Espero


que ele entenda logo o quanto o Edu
é diferente da Jane.

- Dá para vocês me explicarem o


que vieram fazer aqui? – Eu
perguntei para a Isabela.
- Eu fiquei com saudades da sua
casinha. – A Clara respondeu
sorrindo e eu me perguntei do que

exatamente ela estava com


saudades. Espero que não seja do
Michael. Mas... Nem faz sentido ser

dele, já que eles ainda nem se


beijaram. Eu acho.

- AHAM, DA CASINHA. – A
Gabrielle gritou irônica e todo
mundo começou a rir.

O Joshua olhou confuso para ela.

- Acho que... Eu vou para o meu


quarto, não entendo nem um pouco
a conversa de vocês. – Ele falou

indo em direção à porta.

- Ei Joshua! – A Amanda chamou e


ele se virou para ela. – O Bruno
vem pra cá?

Ele sorriu.

- Se você ligar para ele nesse


segundo ele chega aqui em menos
de um minuto, pode ter certeza. –
Ele respondeu e subiu as escadas.

- Ai meu Deus, vocês acham que


ele falou sério? – A Amanda
perguntou, corada.

- Claro. Você não acha? – Eu


perguntei de um jeito meio
acusatório. Como ela podia duvidar
do

quanto o Bruno gosta dela?

Ela ficou mais vermelha ainda.

- Acho, mas é tão... Perfeito ter


encontrado alguém assim, tão
perfeito que eu fico me perguntando
se é mesmo real.

Sei como é. Sei muito. Sei mesmo.


Sei com todas as minhas forças. E
amo saber.

- Essa deve ter sido a coisa mais


fofa que você já disse. – A Clara
disse rindo. – Ei, coloca ai

música, Bia.

A Bia fez que sim a cabeça e


colocou Animals do Maroon 5.

Elas começaram a conversar sobre


alguém que estudava no JK ano
passado que agora estava

namorando uma outra pessoa que eu


não conheço e eu automaticamente
ignorei a conversa e me
voltei para o Edu, que estava
deitado no meu colo.

- Pensando em que? – Eu perguntei


enquanto mexia no cabelo vermelho
e lindo dele.

- Em como a Dona Nicole, mesmo


sendo assustadoramente parecida
com o Michael, consegue ser

uma pessoa tão simpática e... Boa.


– Ele murmurou a ultima palavra de
um jeito estranho, como se

não conseguisse admitir que estava


usando um adjetivo desses para se
referir a um Hunter.

- Eu sei, também vivo me


perguntando isso.

- É tão estranho.

- Mas é melhor do que se ela fosse


uma versão feminina daquele inútil.

Ele riu baixinho e eu quase não


conseguia mais ouvir as meninas
falando alto sobre pessoas que eu

nunca nem vi.

- Por que você odeia ele? Tipo, eu


odeio por causa de toda aquela
história com a Mônica, mas

você...

- Ah, ele não é um mar de rosas


comigo. Ele cismou que eu e o
Joshua temos que terminar e faz de

tudo para conseguir isso.

Ele me analisou por um tempo.

- Por que ele faria isso?

Revirei os olhos. Ninguém entendia


que simplesmente não tinha motivo?
Ele fazia porque era
maldoso, só isso.

- Porque ele é o Hitler do século


XXI.

O Edu riu, mas mesmo assim


parecia intrigado com qual seria o
motivo do Michael ser um belo de

um filho da puta.

- ... E ai Susan, o que você acha?

Olhei sem entender para a Elena,


que estava concluindo uma história.

- Sobre o que? – Eu perguntei meio


envergonhada por não ter prestado
atenção nela.

- Sobre eu e o Lion viajarmos


juntos nesse fim de semana! – Ela
respondeu animada.

- Não acha que vocês tão indo


rápido demais? – Tentei ser o mais
cautelosa possível com essa

pergunta, já que eu não queria


magoar ela nem nada disso.

O sorrio brilhante dela


desapareceu.

- Foi exatamente isso que eu disse!


– A Bia disse dando um tapinha no
braço do sofá. – E se ele não

for tudo isso que você pensa?

- Só por que você não tem


sentimentos, não quer dizer que
ninguém mais tenha. – A Elena
respondeu

com uma frieza que não combinava


nem um pouco com o jeito meigo
dela.

A Bia se levantou no mesmo


segundo.

- Eu TENHO sentimentos! – Ela


gritou na defensiva. – O problema é
que eu ainda não achei o grande

amor da minha vida, me perdoe por


isso. – Ela completou com
sarcasmo.

A Elena se levantou também.

- Então você não sabe como é


quando a pessoa acha. Eu sei, a
Andressa sabe, a Isabela, a Clara,
a...

- A Clara? – Eu perguntei, me
intrometendo na conversa. – Como
assim a Clara sabe?

As meninas olharam para mim sem


entender e a Clara ficou vermelha.

- É que eu... Tou namorando com o


Michael.

Puta merda.

- Por que você não me disse?

Ele desviou os olhos.

- Ele pediu para eu não contar.

- Por que ele faria isso?

O Edu olhou para mim assim que eu


fiz essa pergunta.
- Pelo menos motivo que ele não
quer que você fique com o Joshua,
talvez. – Ele sussurrou baixinho,

só para eu ouvir.

- Nada a ver. – Eu rebati no mesmo


tom de voz. Então me virei para a
Clara. – Ele não te disse o

porquê?

Ela deu uma risadinha.

- A gente não é muito de conversar.


– Um quê de malícia era facilmente
encontrado no tom dela.
Como alguém poderia ir para cama
com o Michael sem sentir nojo? Eu
não conseguia nem pensar na

possibilidade de beijar aquela boca


suja dele, quem dirá tirar a roupa
para aquele imbecil.

- Quando ele te pediu em namoro?


– Eu perguntei só para não ficar em
silencio.

- Ontem à noite. – Ela disse dando


de ombros.

Depois de quase ter estragado tudo


que eu poderia ter com o Joshua.
- Minha gente, tá bom de falar nele.
– O Edu falou meio irritado.

- Meu Deus Edu, faz tanto tempo


desde que ele fez aquilo com você,
não precisa mais ficar assim... –

A Clara tentou ser imparcial


enquanto falava, mas cada sílaba
que saia da boca dela estava do
lado

do Michael, ignorando os
sentimentos do Edu.

O Edu se sentou, se afastando do


meu colo, e olhou para a Clara
como se ela tivesse apontado uma

arma para ele. Coisa que, aliás, o


namorado dela já fez com o
Nicolas.

- Ele acabou com todas as minhas


chances com a Mônica, pra NADA!
Como eu posso não ficar com

raiva?

A Clara se calou no mesmo


segundo.

- Minha gente, pra quê tanta briga?


Elena e Bia, Edu e Clara... Já
chega. – A Iza pediu, se levantando
e colocando o braço no ombro da
Bia. – Somos todos amigos aqui,
não importa com quem a gente

namore ou quem a gente odeie.


Somos amigos e ponto final.

Olhei para a garota baixinha, com o


cabelo longo e muito liso na minha
frente e me perguntei se ela

diria isso se uma amiga dela


namorasse alguém que estraga a
vida de todos ao seu redor. Com

certeza não, mas decidi não


argumentar contra ela. Não tinha
pra quê.

- Ela tá certa, em vez disso a gente


poderia ouvir o que aconteceu
comigo e com o professor mais

bonito do Brasil. – A Isabela deu a


ideia, dando um sorrisinho
pervertido que combinava muito
com

ela. – Quem mais concorda?

Eu ri e levantei a mão junto com as


meninas. O Edu não parecia muito à
vontade com esse assunto.

- Acho que eu vou dá uma volta por


ai e vocês me ligam quando acabar
essa sessão. – Ele disse.

- Ei, se você encontrar o Michael,


tente não... – A Clara começou
falando, mas o Edu levantou a mão.

- Relaxe, não vou quebrar seu


namoradinho ao meio. – Ele falou e
depois saiu da casa.

Não tenho tanta certeza disso.

- Ótimo, agora que ele já foi, deixe-


me contar as paradas. – A Isabela
se levantou e a Bia e a Iza se
sentaram no sofá com eu e as outras
meninas, preparadas para ouvir.

Ela contou rapidamente toda aquela


parte do corredor, quando ela se
ajoelhou e ele a puxou para

cima e a levou para o quarto, como


se essa não fosse nem perto da
parte mais “Ai meu Deus” da

história. Então limpou a garganta e


se ajeitou para falar do que
aconteceu dentro do quarto.

- Assim que ele ligou as luzes eu


percebi que a gente estava bem no
quarto do Bruno, cheio de fotos
dele e blá blá blá, e ele me jogou
bruscamente na cama, quase com
raiva. – Seu tom estava vacilante,
como se só de falar ela ficasse
nervosa e muito, muito excitada. –
Ele me olhou com frieza e disse

“Eu odeio você por fazer eu


quebrar as regras” e eu não
respondi, então ele me puxou pela
cintura

para que eu ficasse por cima, suas


mãos firmes nos meus quadris e ele
suspirou antes de sussurrar no meu
ouvido. Ele sussurrou “E gosto de
você pelo mesmo motivo” e, eu
juro, meu corpo todo se

arrepiou ali.

Comecei a ficar nervosa só de me


imaginar no lugar dela e pelo jeito
as outras meninas também, pois

nenhum nem piscava para


acompanhar tudo.

- Ai ele começou a descer meu


zíper e antes que eu pudesse me dá
conta estava de calcinha e sutiã.

Ele me olhava como se eu fosse


uma prova difícil e mandou eu ficar
de pé. Eu fiz o que ele disse e
ele me analisou de cima a baixo. –
Ela fez uma pausa e corou. – Então
eu comecei a ficar irritada por toda
aquela demora e me sentei na cama,
cruzando os braços. E ele deu o
sorriso mais brilhante que

eu já vi em toda minha vida e me


colocou no colo dele em um
movimento rápido.

- AI MEU DEUS! – A Bia deixou


escapar. – Não acha que tá dando
detalhes demais não?

A Isabela revirou os olhos.


- Eu não iria contar tudo não. –
Então deu uma risadinha. – Só as
partes mais importantes.

- Tipo...? – A Elena perguntou.

- Tipo que de asiático ele só tem


aqueles olhinhos puxados mesmo. –
A Isabela respondeu e depois

passou a língua nos lábios de um


jeito extremamente malicioso.

- Isso porque você não viu o do


Michael. – A Clara murmurou
baixinho, mas como ela estava do
meu
lado eu ouvi. Argh. Preferia não ter
ouvido.

As meninas riram com o comentário


da Isabela e ela jogou o cabelo
preto para trás, sensualizando, e

elas riram ainda mais.

- Ei minha gente, olha quem eu


encontrei. – A voz do Edu veio do
outro lado da sala e todas nós nos

viramos para ver quem era.

Um sorriso surgiu no rosto da


Andressa assim que ela viu o cara
ao lado do Edu. Com a pele bem
branca e um cabelo muito preto em
contraste com a pele, um par de os
olhos azuis brilhantes e uma

roupa que definia cada musculo


dele; Bruno dava certinho para ser
um Hunter.

- Amanda! – O Bruno quase gritou e


seus olhos se iluminaram quando
ela se levantou e correu até

ele, dando um abraço tão forte que


ele deu um passo para trás. – Achei
que tinha chegado tarde

demais.
- Eu esperaria você. – Ela
sussurrou, mas foi alto o bastante
para todos ouvirem.

- Você não existe, meu Deus.

A Amanda deu uma risadinha e se


virou para nós.

- Eu posso ir dá uma volta com o


Bruno? Depois eu volto pra falar
com vocês.

- Vai logo menina. – A Bia disse


rindo e foi exatamente isso que eles
fizeram.

Assim que eles saíram, o Joshua


chegou.

- Ei meninas, vocês não querem


comer alguma coisa não?

A Elena se levantou e todas as


meninas se levantaram também.

- Nós vamos para uma pizzaria,


quer ir também?

Ele olhou para mim por um segundo


antes de responder.

- Não, eu tenho que cuidar de umas


coisas. – Seus olhos foram diretos
para os meus e subitamente se
iluminaram. – E tem que ficar tudo
perfeito.

O que será?

A pergunta tomou conta da minha


mente. Mas, eu não iria obter uma
resposta. Pelo menos não agora.

Mandei um beijo no ar para o


Joshua antes dele ir e ele sorriu de
um jeito adorável, então se virou e
saiu.

- E você, Susan? – A Iza perguntou.

- Claro, deixa eu só trocar de


roupa. – Assim que eu disse isso,
me lembrei do Joshua dizendo que
se eu não trocasse de roupa ele não
iria conseguir se controlar. O que
teria acontecido se eu tivesse dito
que ele não precisava se controlar
mais? Eu estaria aqui na sala com
as meninas ou teria dito para a
Dona Nicole dispensá-las, que eu
tava fazendo algo importante
demais? Eu estaria gemendo nesse

exato momento?

Afastei esses pensamentos. Eu optei


em esperar e ele aceitou. Porque
ele é uma das melhores
pessoas do mundo.

Subi as escadas e fui direto para o


meu quarto. Dei uma olhada rápida
no guarda-roupa e peguei uma

calça jeans preta com uma camisa


do Queen e sai do quarto ajeitando
o cabelo.

Então parei, olhando para as duas


portas na minha frente. A do quarto
do Nicolas e a do quarto do

Joshua.

Respirei fundo. Se eu fosse falar


com o Joshua agora, era muito
provável que eu não fosse querer

parar nunca. Então eu bati na porta


do Nicolas.

A porta se abriu bem devagar e eu


coloquei a cabeça para ver quem
estava do outro lado. Era o

Felipe.

- FELIPE! – Eu gritei surpresa e


abracei ele. Mal entrei no quarto e
o Nicolas trancou a porta atrás de
mim. – Como você entrou, eu tava
na sala esse tempo todo e...

- Seu quarto. – O Felipe completou,


ficando vermelho. – Me desculpa
ter entrado sem falar com

você, mas eu e o Nicolas decidimos


ainda ter cuidado com o pai dele,
por que... Nunca se sabe, né?

Concordei com a cabeça. Nunca se


sabe quando o pai do seu namorado
vai apontar uma arma para

você.

- Eu só vim avisar que eu vou pra


pizzaria com uns amigos meus e
que... Se vocês puderem, deem

uma passadinha no quarto do


Joshua, não quero que ele se sinta
abandonado.

Eles deram uma risadinha.

-OK. – Os dois responderam ao


mesmo tempo e eu sorri.

- É isso ai, tchau. – Eu falei me


virando e destrancando a porta.

Desci a escada e vi que nenhuma


das meninas estava mais na sala
então fui direto para fora da casa.

Elas estavam sentadas no meio-fio,


conversando.
- Voltei. – Eu me sentei ao lado da
Bia.

- Você tem que assistir um filme que


eu vi ontem! – A Isabela começou a
falar animada, então um

carro prata entrou na rua. – Olha,


Gabi, seu irmão chegou.

Nos levantamos no mesmo segundo


que o carro prata estacionou.

A porta se abriu quase em câmera


lenta, e um menino com uns 18 anos
saiu do carro. Meus olhos

quase arderam por causa da beleza


dele. Alto, com os olhos azuis,
cabelo castanho não muito escuro

e músculos definidos por trás de


uma camisa xadrez vermelha.

- E aí meninas. – Ele cumprimentou


sorrindo. – Me perdoem por não ter
ido ver vocês hoje na

escola, é que eu estava ajeitando


minha fixa, acreditam que
colocaram que eu faltei esses dias
por

que estava me divertindo em Paris?


– Ele perguntou indignado.
- E não era isso que você estava
fazendo? – A Bia rebateu,
estreitando os olhos. Ela parecia

acostumada com a beleza dele,


enquanto eu ainda estava sem ar.

Ele revirou os olhos.

- Não, eu estava na Holanda.

- Fazendo...? – A Bia insistiu.

O menino deu um sorriso digno de


comercial.

- Eu ganhei uma bolsa de estudos


da Universidade Radboud, umas
das melhores de toda a Europa.

- E por que porra você ainda vai


pra escola? – O Edu perguntou sem
entender.

Então, por mais estranho que


pareça, ele corou.

- Eu não queria perder o meu ultimo


ano, não queria ter que abrir mão
disso e... – Por meio segundo, seus
olhos pousaram nos da Bia, então
ele balançou a cabeça. – Ainda
preciso fazer algumas coisas

no Brasil antes de ir embora.


- Tipo nos levar para a pizzaria, né
Richard? – A Gabi perguntou se
encostando na porta do carro,

entediada.

- Claro maninha, você quem manda.


– Ele disse sorrindo e empurrou a
irmã para o lado, depois abriu

a porta e apontou para dentro. –


Entrem, gatas.

O Edu tossiu.

- Ah nem vem, você é um gatão


também. – O Richard deu um
risinho e o Edu revirou os olhos.
[...]

- Não acredito que você disse isso,


Bruno! – A Amanda empurrou o
ombro dele, muito vermelha. –

Eu não sou mais bonita que ela,


meu Deus.

Ele sorriu.

- Você é mais bonita que qualquer


garota no mundo.

A Isabela deu um tapinha na mesa,


meio indignada com o que ele
disse.
- Deixa, Isa, ele tá apaixonado. – A
Bia disse se apoiando o queixo no
punho, como se a coisa que

era mais quisesse na vida fosse


encontrar alguém como ele. O
Richard observava ela de um jeito

triste.

- Exatamente. – O Bruno concluiu,


sem desviar nem um segundo de
uma Andressa muito corada. – Eu

estou perdidamente apaixonado.

- Jesus! Eu preciso de um menino


urgente. – A Gabrielle deixou
escapar.

A Bia soltou uma risada.

- Dá uma chance pro meu maninho,


ele ama você desde sempre.

- Ah, ele é primeiro ano, não vai dá


certo. – A Gabi rebateu e depois
suspirou.

- Se ele fosse terceirão no mesmo


segundo você iria, né?

A Gabi deu um sorriso pervertido.

- Você não?
- Com certeza sim. – A Bia falou
rindo e o Richard levantou uma
sobrancelha para ela, mas só eu

notei.

Isso me fez lembrar o quanto o


Joshua é mais velho que eu. Cinco
anos. Quando ele estava

aprendendo a andar de bicicleta eu


nasci. Eu devo ter beijado no
máximo sete meninos em toda a

minha, e ele? Quantas garotas ele já


não deve ter levado para cama?

Um trilhão de interesseiras? Você


ganha delas só com um revirar de
olhos

Um sorriso bobo dançou na minha


boca. Não importa se ele já beijou
mais gente do que existem

estrelas no céu, porque ele me ama.


É isso que importa.

- Olha, a Susan deve tá pensando no


Joshua. – A Elena apontou para
mim, dando uma risadinha. –

Esse sorriso não engana ninguém.

- Tava mesmo. – Eu falei rindo. –


Como não pensar?
- Minha irmã odeia você, sabia? –
O Edu disse. – Eu tentei explicar
para ela que não tinha nada a ver
ter raiva de você, já que ninguém
escolhe por quem vai ser apaixonar.
Mas, obviamente, ela não me

ouviu. – O tom dele parecia


preocupado com o que ela poderia
fazer comigo.

- Eu sei. Obrigada por tentar, mas


não tem jeito, ela quer que eu me
arrependa por estar namo... –

Então eu parei bruscamente, não


parecia certa essa palavra.
- O quê? Não vai me dizer que você
não se considera namorada dele! –
A Iza disse quase irritada.

Corei na mesma hora.

- Ele não me pediu em namoro nem


nada. – Eu murmurei tímida, então
me virei para o Bruno. – Você

sabe de alguma coisa?

O Bruno sorriu.

- Saber eu sei, mas não posso


contar.

- Vai Bruno, por favor. – Eu insistir.


Ele negou com a cabeça e mudou de
assunto.

[...]

O jantar na pizzaria durou até umas


22h e eu cheguei em casa exausta,
antes que eu pudesse sequer

pensar em falar com alguém eu cai


na cama e dormi como um anjo.

O despertador me acordou de um
sonho extremamente estranho.
Estranho porque era o Michael

falando coisas meigas para mim.


Ele pedia desculpas. Desculpas
pelo que fez, por ter feito da minha

vida um inferno e... Por ter matado


alguém importante para mim.

Balancei a cabeça em negativa,


aquilo com certeza era um
pesadelo, não um sonho. Sonho
seria se

fosse o Joshua sendo Joshua. Não o


Michael sendo... Michael.

Fiz minhas necessidades no


banheiro e coloquei a mesma calça
jeans que usei no jantar de ontem,

junto com uma camisa preta com


manga longa, com uma estampa do
Batman. Essa não foi o Nicolas

que comprou, mas eu achei que


seria bom usar coisas da minha
antiga vida.

Fui para o primeiro andar e senti


todo o meu bom humor indo pro
espaço quando eu vi o Michael na

mesa, tomando café.

Me aproximei e ele me olhou de


cima a baixo.

- Olha só quem tá parecendo um


menininho.
- Olha só quem não consegue calar
a porra da boca. – Eu rebati
irritada.

Ele sorriu de um jeito convencido.

- Você aprendeu rapidinho.

- O quê? – Eu perguntei me
sentando na frente dele.

- A dá respostas rápidas. – Ele me


analisou por alguns segundos. – Ah,
se você fosse um pouquinho

mais bonita poderia até se passar


por uma Hunter.
Eu revirei os olhos.

- Só se for o lado bom da família,


por se for para ser do seu lado eu
prefiro ser pouco bonita mesmo.

Isso não pareceu irritar ele, ao


contrário, ele parecia estar se
divertindo.

- E qual é o lado bom? O doce


Nicolas ou o sensual Joshua?

- Os dois, só não o ridículo


Michael. – Eu respondi no mesmo
tom dele.

- Ah, que pena, ele é o mais


gostoso.

Me levantei da mesa, sem nem


tocar na comida.

- Não concordo com isso.

Ele se levantou também.

- Não preciso que você concorde.

- Foda-se.

Seus olhos verdes-mar brilharam.

- Por que eu iria me auto foder se


eu posso sair e foder outras
pessoas?
- Tipo a Clara? – Assim que as
palavras saíram da minha boca eu
me arrependi de ter dito isso, não

parecia certo tratar ela dessa forma.


Ela não era uma vadia. Ela nunca
tinha feito nada comigo para

eu falar algo assim.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Como você sabe disso?

Pensei um pouco: Ela disse que ele


não queria que eu soubesse, então,
se eu dissesse que ela que me
contou, ele provavelmente iria fazer
alguma merda que a magoaria.

- As meninas me disseram.

- Ah.

- Não queria que eu soubesse? – Eu


perguntei, estreitando os olhos.

- Foda-se você. Eu não queria era


que ela saísse espalhando por ai. –
Ele falou, mas é claro que era
mentira.

- Ei, vocês vão passar o resto da


manhã brigando ou vão para
escola?
Me virei assim que ouvi essa voz e
lá estava o Joshua, com um mão no
bolso e a outra girando a

chave do carro com o dedo


indicador. Ele parecia a pessoa
mais confiante do mundo. Talvez
fosse.

- Chegou o salvador da pátria. – O


Michael murmurou baixinho. – Bom
dia, Joshua. – Ele completou

mais alto dessa vez.

- Bom dia, anjinho. – O Joshua


respondeu cínico, então seus olhos
se voltaram para os meus e ele

sorriu. – E bom dia, anjinha.

Sorri e corri para abraçar ele.

- Me desculpa ter abandonado você


ontem. – Eu sussurrei no ouvido
dele.

Ele deu de ombros.

- Tudo bem, eu realmente tinha


coisas para ajeitar.

- E ajeitou? – Eu perguntei me
afastando para olhar para ele.
- Com certeza. – Ele respondeu
com tom de mistério.

O Nicolas desceu correndo nesse


segundo, vermelho.

- Vamos? – Ele perguntou ofegante.

- Você tem cinco minutos para


tomar café. – O Joshua disse com
aquele velho tom de autoridade que

eu já estava me acostumando a
ouvir naquela casa.

Acabei indo tomar café com ele, já


que minha primeira tentativa foi
atrapalhada com um filho da puta
irritante, e cinco minutos depois
nós entramos no carro do Joshua.
Eu no banco do passageiro.

- Joshua, tu sai de que horas da


faculdade hoje? – O Nicolas
perguntou enquanto eu colocava o
cinto.

O Joshua olhou para mim por um


segundo.

- Não vou para a faculdade hoje.

- Por quê? – Eu perguntei, curiosa.

- Tenho que fazer uma coisa muito


importante.
- Posso saber o que é?

- Com certeza você vai saber. Na


hora certa.

Ele colocou um CD dos Beatles e


ficou apertando na seta direita até
encontrar a música que queria.

Assim que começou a música que


reconheci qual era.

Era Hey Jude.

Ele lembra. Ele não está chateado.


Ele... Então a mão dele que não
estava no volante tocou a minha
de um jeito carinhoso.

Ele me ama.

21. Pistas

- Ótima música. – Eu comentei


baixinho enquanto apreciava as
boas sensações que a mão do
Joshua

me causava.

- Acha mesmo? – Ele perguntou


com um tom divertido. – Eu
coloquei porque é a preferida de
uma
amiga minha.

Um sorriso tomou conta do meu


rosto, como sempre acontece
quando eu falo com o Joshua.

- Desde quando você tem amigas


mulheres? – A voz do Michael
apagou meu sorriso como uma

lâmpada, como sempre acontece


quando ele abre a porra da boca.

- Desde um dia bem mágico


chamado Não É Da Sua Conta.

Pelo espelhinho, vi o Michael


revirando os olhos.
- Você dava respostas melhores
quando tinha cinco anos. – Ele
retrucou.

- É por que hoje em dia eu estou


muito apaixonado para pensar em
qualquer outra coisa.

Mordi o lábio inferior.

- Oh, quem será a garota? – O


Michael perguntou com aquele tom
de ironia dele. – Deixa eu

adivinhar... Ela é uma morena sem


nenhuma qualidade citável?

Argh. Odeio quando ele usa


palavras difíceis, como se fosse
superior.

O Joshua soltou a mão devagar,


apenas para fazer uma curva
perfeita.

- Na verdade, não. – O Joshua


sorriu e parou em frente ao colégio
JK. – Ela é uma morena gentil,

inteligente e extremamente linda


que acaba com você só com um
olhar.

- Acho que não conheço essa


menina.
- Acho que vocês deveriam parar
de brigar. – O Nicolas disse
irritado.

Todos se viraram para ele. O


Nicolas nunca utilizava esse tom.

- Aprendeu a usar uma voz de


macho, foi? – O Michael perguntou
e eu fechei o punho com raiva.

O Nicolas sorriu suavemente.

- Não sei. Só sei que não aguento


mais vocês dois agindo como se
estivessem em uma disputa.

O Michael abriu a boca para falar


alguma coisa, mas o Joshua
levantou um dedo.

- O Nicolas tá certo. Vamos parar,


ok Michael?

- Ok. – O irmão mais novo


murmurou quase friamente. Ele não
iria parar.

Ninguém disse mais nenhuma


palavra.

Assim que saímos do carro, o


Joshua andou até ficar do meu lado
e segurou na minha mão.

- Às vezes eu tenho vontade de me


desculpar por causa das coisas que
o Michael diz. – Ele sussurrou

tão baixinho para mim que eu


provavelmente não entenderia se
não estivesse olhando fixamente
para

sua boca.

- Não precisa. Eu acho mais


importante ouvir as coisas que meu
tio-avô bêbado fala do que
qualquer

merda que sai daquela boca suja


e...
O sorriso dele atrapalhou minha
frase.

- Por que você está sorrindo?


Ontem mesmo você brigou comigo
por falar do seu irmão como se ele

fosse um monstro!

O Nicolas e o Michael já tinham


ido embora. E agora, mesmo com o
campo central ainda com alguns

alunos e todos os funcionários ao


nosso redor, eu senti como se
estivesse sozinha com o Joshua.

- Eu ainda não acho que ele seja um


monstro, ele só ainda não encontrou
alguém que o coloque no

eixo. – Os olhos do Joshua me


observaram por alguns segundos. –
Eu era ainda pior antes de

conhecer você.

Tive vontade de revirar os olhos,


mas me segurei. Não gostava de
falar do antigo Joshua.

- Então você deveria me agradecer.

Ele colocou as mãos na minha


cintura e me puxou para perto dele,
levantei a cabeça para conseguir
olhá-lo nos olhos.

- O que eu tenho que fazer para


provar minha gratidão? - Ele
perguntou, o ar quente saindo da
sua

boa fazendo cocegas no meu


ouvido.

Nada. Você não precisa fazer nada,


Joshua.

Eu estava prestes a falar isso


quando senti as mãos do Joshua se
afastando de mim tão rápido que eu

quase me desequilibrei.
- Quem é você? – Ele perguntou e
eu me virei para ver quem era que
tinha atrapalhado nossa

conversa.

Reconheci no mesmo segundo o


menino quase da altura do Joshua,
os olhos dele pareciam mais

claros por causa da luz do sol e seu


cabelo foi do castanho escuro que
eu vi ontem para um tom perto do
loiro.

- Meu nome é Richard. – Ele


cumprimentou, sem sorrir. – Acho
que a Susan deveria estar na aula.

O Joshua levantou uma sobrancelha


para ele.

- Acha é? – Seu tom era desafiador,


como o que uma cobra falaria antes
dá o bote. Ele muda de

humor muito rápido.

O Richard sorriu.

- Não precisa se armar todo. – Ele


disse levantando as mãos, como se
estivesse se rendendo. – Eu já

estou em outra, mas eu realmente


acho que a Susan deveria ir pra
aula.

O Joshua olhou para mim.

- Ele tem razão. Foi muito


irresponsabilidade da minha parte
ter...

Calei ele com um beijo. Suas mãos


foram para minha cintura e ele me
puxou para cima no mesmo

segundo, fazendo minhas mãos não


terem escolha a não ser segurar na
sua nuca e o puxar mais para

mim.
Depois de alguns segundos, nos
afastamos. O Richard nos
observava de um jeito estranho,
como se

fossemos uma fórmula de


matemática que ele simplesmente
não conseguia aprender.

- Tchau Susan. – O Joshua se virou


e foi para o corredor que dava para
as salas principais, tipo a do
diretor e coordenadores. Ele
provavelmente veio para uma
reunião sobre o acampamento.

Só quando ele saiu de vista, eu me


virei para o Richard.

- Você acha que eu entro para a


primeira aula ainda?

Ele pegou o celular do bolso e viu


a hora.

- Só daqui a 10 minutos.

- E você?

- O mesmo. – Ele veio até onde eu


estava e colocou o braço no meu
ombro de um jeito amigável. –

Vem, vamos sentar.


Andamos até o meio do campo e
sentamos num banquinho vermelho
com flores ao redor. Notei que o

Richard não parecia exatamente


feliz.

- Tudo bem com você? – Eu


perguntei enquanto me ajeitava no
banco.

Ele balançou a cabeça em negativa.

- O que aconteceu?

- Nada...

Mas eu sabia que ele estava


mentido.

- Tem a ver com a Bia, não é?

Ele se virou para mim no mesmo


segundo.

- Tá tão na cara assim? – Ele


perguntou surpreso, suas bochechas
ficando vermelhas.

- Na verdade não, mas é que eu


sempre noto essas coisas.

Ele me olhou de um jeito estranho,


eu não sabia se ele estava
desapontado ou feliz com isso.
- E você acha que ela...?

- Com certeza não. – Assim que as


palavras saíram da minha boca com
tanta rapidez, eu me

arrependi por não ter dito de um


jeito mais gentil.

- Por quê? – Ele abaixou os olhos.

- Quer que eu dê umas dicas para


ela perceber? - Eu ofereci.

Ele olhou para mim e seu rosto se


iluminou.

- Você faria isso?


- Claro. – Eu disse dando uma
risadinha. – Agora me conte como é
aquela faculdade na Europa.

[...]

Fiquei conversando com o Richard


até chegar a hora de entrar na sala.
Ele não tocou no assunto

“Bia” nem uma vez depois de eu ter


dito que iria ajudar e eu acabei
contando minha história com o

Joshua – cortando algumas partes, é


claro – e ele riu alto em alguns
momentos e ficou espantado em
outros. Por fim, ele disse que
queria ter um amor como eu tive a
sorte de achar.

Ainda estava sorrindo quando o


Edu apontou para a cadeira ao lado
da dele e eu sentei.

- Achei que você e o Michael


chegavam juntos. – Ele comentou
enquanto me entregava o caderno

dele. – Isso foi o que o professor


Cavalcante anotou.

Dei uma olhada na revisão enorme


de química, chegando na bela
conclusão de que não, eu não iria

escrever tudo isso agora.

- Nós chegamos, mas ai o Joshua


veio também e eu acabei... Me
distraindo. – Um quê de malicia

acabou saindo na minha voz, sem


minha permissão.

Ele riu.

- Na boa, ele te olha como se você


fosse a coisa mais extraordinária
do mundo.

- E eu não sou? – Eu perguntei


fingindo estar ofendida.

- Claro que é, anjinho. – Ele


respondeu sorrindo. – Mas ele
deveria ser mais discreto.

- Não concordo. Ele é perfeito do


jeitinho que é.

- Pera ai que eu vou vomitar. – Ele


disse enjoado e eu ri do tom dele.

- Abram seu livros na página 19. –


Uma professora com o cabelo
pintado e um tom severo entrou na

sala. Acho que o nome dela é Ana


Renata. – Eu quero todos fazendo a
atividade sem dizer nem um

piu.

Ouvi as meninas atrás de mim


bocejando e dei um sorrisinho.

O Joshua vai ser um professor


muito melhor do que essa Ana
Renata, ele vai ser o autoritário
sem

nunca ser mau, inteligente sem ser


arrogante e, por favor, só de ver ele
todos os dias na semana as

alunas iriam querer estudar. Senti


uma pontada de ciúmes por causa
desse ultimo pensamento.

Abri meu livro e procurei a página.

Mas o que é isso?

Exatamente na página que ela


mandou, tinha um papel dobrado em
forma de carta. Abri rapidamente.

Meus olhos se arregalaram quando


eu li o que tinha escrito:

Oi Susan,

Eu decidi que vou animar seu dia


hoje. De nada.
Eu vou jogar com você, mas não
como aquele jogo das perguntas que
fizemos ontem. Dessa vez, você

vai ter que pensar sozinha até achar


o que eu quero que você ache. Mas
relaxe, você vai gostar. Você sabe
que eu não iria te dá trabalho se o
resultado final não fosse bom.

PS: Você já deve saber quem é, mas


deixe-me dá uma dica:

“... Cho Chang, era a única menina


da equipe... Harry não pôde deixar
de reparar que era uma garota
muito bonita. Cho sorriu para ele
quando os times ficaram frente a
frente... E o garoto sentiu uma

ligeira pulsação na região abaixo


do ventre, que ele achou que não
tinha relação alguma com o seu

nervosismo.” – Harry Potter e o


Prisioneiro de Azkaban, pagina
211.

Você é a Cho, é claro. E eu sou o


pobre Harry Potter que ainda está
tentando lidar com o jeito como

você mexe com o meu corpo.


Parei de ler por causa das batidas
do meu coração. Estava tão alto que
eu tinha medo de a sala toda

escutar. O Joshua não pode ser real,


ele era perfeito demais para existir.
Sorri mais um pouquinho e
continuei lendo a letra inclinada do
cara mais inesperadamente incrível
do mundo.

Bem, vamos lá. A sua pista para o


próximo papelzinho desse é:

Embaixo dessa frase, havia uma


foto do Maroon 5, com a cara do
Adam Levine riscada com força.
Reprimi uma risada. Ele lembrava
de tudo.

Pensei em como isso poderia ser


uma pista e quase estourei meus
neurônios tentando entender o que

aquilo queria dizer.

Comecei ficar frustrada e estava


prestes a pedir ajuda ao Edu
quando a professora deu uma
batidinha

no microfone. Não estava ligado.

- Mas o quê... – A professora deu


outra batidinha no microfone e
novamente o som não ecoo. – Como

uma escola tão rica pode comprar


materiais de segunda mão com tão
pouco... – Ela começou a

reclamar. Então se calou e ouvimos


um barulhinho baixo vindo das
caixas de son nas paredes da sala.

O barulho aumentou, virando uma


música.

I'm at a payphone trying to call


home

All of my change I spent on you...


Meu coração deu um salto. Era
Payphone do... Minha respiração
falhou. Era minha música preferida

do Maroon 5.

A sala inteira começou a se mexer;


as meninas se levantaram e
começaram a dançar e os meninos

seguiram, gritando junto com a voz


do Adam Levine.

O Edu me puxou pela mão e eu


fiquei de pé, em choque.

- Ei, o que houve? Isso é


FANTÁSTICO! – O Edu deu uma
risada animada e eu vi com o canto
do

olho a Ana Renata saindo da sala,


furiosa.

- Edu... Hã... – Eu não conseguia


encontrar palavras para explicar.
Eu só sabia que tinha que

descobrir a pista do Joshua. – Isso


acontece com frequência?

Ele riu ainda mais. As meninas


agora estavam no palco da sala,
cantando alto.

- Claro que não! Por isso a gente


tem que aproveitar e não ficar
conversando.

Ele colocou as duas mãos na minha


cintura e me girou como se eu fosse
feita de pano.

- Puta merda, como você é leve. –


Ele comentou um pouco alto demais
e eu notei o olhar do Michael

me queimando.

- Vou levar como um elogio. – Eu


respondi rindo.

Ele inclinou a cabeça para mim.


- Você realmente não está afim de
dançar. – Ele concluiu. Agora
estava na parte do rap do Wiz

Khalifa.

Não, eu estava afim de pensar. Se


eu demorar muito aqui eu posso não
encontrar o papelzinho no

Joshua na hora certa.

Então me ocorreu uma ideia.

- Edu... – Eu o chamei e ele se


virou para mim, radiante. – Você
sabe de onde vem essa música?
- Da caixa de som, ué.

Reprimi uma gargalhada.

- Não é isso que eu quero dizer. É


tipo, onde se controla o som das
caixas de som?

- Ah sim, na sala da música.

- E onde fica isso?

- Ao lado da sala do diretor.

- Obrigada, Edu.

Ele sorriu e se virou de novo para


as meninas.
Baby, I’m preying on you tonight

Hunt you down, eat you alive

Agora estava tocando Animals. Eu


tinha que agir rápido.

Sai da sala, desci as escadas o mais


rápido possível e corri até o
corredor onde ficava a sala do

diretor. Parei, ofegante, tentando


adivinhar qual seria a sala.

- P-P-Porra Joshua. – Eu reclamei


sem folego.

Apoiei minhas mãos nos meus


joelhos e tentei respirar fundo. Eu
nunca tina corrido tanto assim.

Assim que minha respiração ficou


mais instável, eu andei pelo
corredor, tentando achar a porta.

Então eu vi: Um porta vermelha


com a maçaneta em forma de uma
nota musical. Colégio de rico é

outro nível.

Entrei na sala e me deparei com um


lugar enorme e... Sem ninguém.
Como o Joshua conseguiu essa

proeza?
Passei direto pelos instrumentos
musicais e olhei para o painel de
controle. A tela mostrava que a

música estava tocando e que a


próxima seria Maps. Uma coisa eu
tenho que admitir: Joshua sabe

escolher música.

Me aproximei da tela, mas não


encontrou nenhuma pista de onde
deveria ir agora. Olhei para os

controles e vi uma daquelas


embalagens de CD virgem.

Só quando as levantei para pegar


percebi que minhas mãos estavam
tremendo. Sorri de leve e puxei

o papel que estava dentro da


embalagem.

Oi, meu amor (Quer dizer, eu


espero que seja você e não alguma
funcionaria curiosa que esteja lendo

isso. Se for uma funcionaria, por


favor, largue isso e vá trabalhar.
Obrigado pela compreensão),

Isso não foi louco? Sim, eu sei que


foi. Acho que me superei. Ah, e
antes que você diga alguma coisa,
eu já tinha combinado com a
Renatinha (Seja lá o que ela tiver
feito, foi encenação) para fazer isso
E

as pessoas que trabalharam na parte


sonora da escola só chegam depois
das 10h.

Então, agora vamos para o que te


levou a sair correndo da sala e vim
aqui:

“Você está tão ocupada sendo você


mesma que não faz ideia de quão
absolutamente sem igual você
é” - A Culpa é das Estrelas.

PS: Pode pensar nisso como eu


dizendo para você.

PS2: Porque eu adoraria ter


pensado em algo tão genial para te
dizer antes daquele maldito Gus
falar para a Hazel, e acabar com
toda a graça da frase que eu não te
disse.

PS3: Talvez a dica não esteja na


frase em si, mas no livro.

Outra coisa: Você só vai procurar


pela próxima pista no intervalo. Me
prometa isso – Me imagine

apertando sua mão – pronto, agora


sua honra está em jogo.

PS4: Desligue o som apertando no


botão vermelho. Por favor.

Reli o papelzinho umas quinhentas


vezes. Como ele conseguia ser
assim?

Guardei o papelzinho no bolso,


apertei o botão vermelho e suspirei.
Não tinha a menor ideia do que

poderia ser, mas, pelo menos, eu só


iria precisar pensar nisso no
intervalo.

Voltei para a sala mais devagar. A


porta já estava fechada e eu dei três
batidinhas nela.

- Onde você estava? – O professor


PH perguntou irritado e eu corei no
mesmo segundo.

- Eu tive que ir falar com o diretor


sobre...

- Tanto faz. Agora sente-se. – O


professor me cortou rispidamente e
eu assenti com a cabeça.

- Sério, onde você foi? – A Elena


perguntou enquanto eu me sentava
ao lado dela, o Edu se virou

para ouvir também.

- Eu já disse! Eu fui falar com o


diretor. – Eu menti. Por algum
motivo estranho eu não queria que

eles soubessem do meio joguinho


com o Joshua, era algo particular. –
O que eu perdi?

- Todo mundo estava pulando,


gritando, se descabelando e BUM a
musica simplesmente parou e não

voltou mais a tocar. Foi estranho. –


A Elena sussurrou para mim.

- Mas o mais estranho foi porque


quando a Ana Renata voltou, ela
não reclamou nem nada, ela só

voltou a dá aula como se nada


tivesse acontecido. – O Edu
completou.

- Ei, sem conversinhas. – O


professor parecia ter se
materializado na minha frente e eu
quase cai

para trás de susto. – Não precisa de


medo, Susan... Bem, na verdade
precisa se você continuar

conversando com seus cumplices.

Resolvi ficar em silencio pelo resto


da aula.

[...]

Duas aulas depois, o sinal


finalmente tocou e eu quase saltei
da cadeira, ansiosa. Só tinha um

problema: Mesmo tendo queimado


meu cérebro de tanto pensar, eu não
consegui entender a pista do

Joshua. Como A Culpas é das


estrelas poderia me ajudar?

- O que aconteceu, Susan? – A Bia


perguntou enquanto analisava minha
expressão.

Balancei a cabeça em negativa.

- Nada não... Eu só não entendi


absolutamente nada daquele
assunto.

Ela me olhou com solidariedade.

- Eu já tinha estudado isso por


curiosidade ano passado, se quiser
eu posso te dá algumas aulas
extras.

- Claro. – Eu aceitei, já que eu


realmente não tinha entendi muito.

Ela sorriu, feliz com sigo mesma.

Nós nos juntamos as outras meninas


e nos sentamos na sombra de uma
arvore enorme, no canto

direito do campo.

- Oi anjas. – O Richard disse se


aproximando. Seus olhos foram
diretos para a Bia.

- Oi Rick. – Elas disseram em


uníssono e ele sorriu.

- Vocês nunca me chamam assim, o


que estão querendo? – Ele
perguntou desconfiado.

A Bia deu uma risadinha.

- É uma comparação ao Rick


Martin.

- AH NÃO! – Ele gritou rindo. – Eu


sou tudo menos gay.

Ri junto com as meninas.

- Ai meu Deus, não riam de uma


coisa dessas.
A Bia se levantou, vermelha de
tanto ri.

- Se você visse sua expressão agora


com certeza riria também.

De repente, o Richard ficou sério.

- Você acha mesmo que eu sou gay?

A Bia parou de ri no mesmo


segundo.

- Quem sabe.

- Quer que eu prove? – Ele


perguntou dando um sorriso
malicioso e a Bia ficou corada.
- Ah, cale a boca.

Eles começaram a conversar e as


meninas entraram também. Me
afastei delas e tentei encontrar uma

solução para a pista do Joshua.

A culpa é das estrelas.

Culpa

Das
Estrelas

Fechei os olhos para tentar


conseguir me concentrar melhor.

A culpa é das...

Então meu cérebro quase explodiu.


Eu descobri.

Corri até onde as meninas estavam


e entrei na rodinha, me preparando
para sair correndo assim que

ganhasse a resposta.

- Aqui tem uma sala de astronomia?


– Eu perguntei rápido e elas
demoraram um segundo para

entender.

- Uma o quê? – A Amanda


perguntou inclinando a cabeça.

- Uma sala de astronomia. – Eu


repeti mais devagar.

- Ah sim, no ultimo andar do prédio


principal. – A Elena respondeu
apontando para o prédio onde

ficava as salas do terceiro ano. –


Por quê?

- Por nada. – Eu respondi .


Antes que elas pudessem dizer mais
alguma coisa, eu sai correndo em
direção ao prédio principal.

Passei rápido por um monte de


alunos e pedi desculpas para todos
eles.

Cheguei sem ar no ultimo andar do


prédio, mas com um sorriso
brilhante no rosto. Só tinha uma
porta

naquele corredor e eu abri ela


devagar, tentando controlar minha
ansiedade.
A sala tinha varias varandas e o
teto era de vidro, o lado esquerdo
da sala estava cheio de

telescópios e o lado direito era


como uma pequena sala de aula.

Olhei para o chão e vi que tinha


varias pedrinhas azuis colocadas
em fileiras em direção a uma

varanda maior do que as outras. Me


agachei e peguei umas das
pedrinhas; era um azul levemente

escuro, quase como um azul


marinho, mas não exatamente. Era
um tom único de azul.

Meus olhos se arregalaram quando


eu reconheci. Era o tom de azul dos
olhos do Joshua.

Ai meu Deus, como ele conseguiu


fazer isso?

Girei a pedrinha entre meus dedos e


senti todo o meu corpo se
arrepiando com a perfeição e

igualdade. Era exatamente o tom


dos olhos dele.

Segui as pedrinhas até chegar na


varanda. Em cima da parte de
apoio, tinha um papelzinho.

Você conseguiu.

Nosso joguinho termina aqui, você


só precisa olhar para baixo e vai
descobrir o porquê de tudo

isso.

Ah, antes de olhar, deixe-me dizer


uma coisa: O tom do meu azul é
conhecido como Denim, por isso

eu só tive que achar alguém que


pintasse pedrinhas e pronto.

Agora sim você pode olhar para


baixo.

Respirei fundo. Chegou a hora.

Olhei para baixo devagar e vi um


cabelo loiro ao longe. Joshua. Ele
estava segurando alguma coisa

na mão esquerda enquanto a direita


mexia no celular.

Desci correndo as escadas e dei


cara com a porta de vidro, agoniada
para falar com o Joshua.

Ele ouviu o barulho e se virou para


onde eu estava. Seu rosto se
iluminou e ele deu uma corridinha
para abrir a porta e eu me joguei
nos braços dele.

- Eu amo, amo, amo, amo você. –


Eu sussurrei no ouvido dele.

- Eu também amo você. – Ele


respondeu me soltando só por um
segundo e depois colocando as
duas

mãos na minha cintura. – Acho que


deixei isso bem claro.

- Você não precisava ter tido todo


esse trabalho...

Ele sorriu.
- Eu sei que não, mas o Bruno disse
que seria uma boa ideia e o Nicolas
concordou plenamente.

- O Nicolas sabia? – Eu perguntei


surpresa.

- Claro que sim. Ele que me ajudou


com a frase a A Culpa é das
Estrelas. Ou você acha mesmo que

eu li aquele livro?

- Eu também não li. – Eu comentei


sem consegui conter uma risada.

- Ah, deixe fazer o que eu vim fazer


aqui. – Ele disse se afastando de
mim e eu levantei uma

sobrancelha.

Bem devagar, ele abriu a caixinha


que estava segurando e tirou uma
pulseira de dentro dela.

- Lembra do nosso primeiro


encontro? – Ele perguntou sorrindo
e eu assenti com a cabeça. – Você

estava usando uma camisa do


Batman... – Ele me entregou a
pulseira e eu quase dou um grito
quando

vi o símbolo do meu super-heroi


preferido ao lado de um coração
azul. Azul Denim.

- Joshua... – Eu comecei a dizer,


mas ele balançou a cabeça.

- Isso é só a primeira parte do que


eu vim fazer.

Notei que algumas pessoas estavam


se juntando ao nosso redor e, de
uma hora para outra, nós

viramos o centro de uma rodinha.

- E qual é a outra parte? – Eu


perguntei, tentando ignorar os
olhares na minha direção.
Ele se afastou um pouco de mim e
sorriu.

- Quer namorar comigo?

Meu coração deu um salto.

- SIM! – Eu gritei e me joguei nos


braços dele, que me envolveram no
mesmo segundo e me rodaram.

– Mil vezes sim!

As pessoas ao nosso redor


começaram a bater palmas e dá
gritinhos. Era o melhor momento da
minha
vida.

Ele me soltou devagar e eu olhei


rapidamente ao redor, só para ter
certeza de que tudo era real.

O Nicolas e o Felipe estavam


dando pulinhos de animação.

As meninas estavam suspirando.

O Edu sorria radiante para nós.

Todo o resto parecia feliz com a


nossa felicidade.

Então meus olhos encontraram dois


pares de olhos frios na minha
direção. Duas pessoas não estavam

aplaudindo. Duas pessoas não


estavam felizes.

Michael e Jane.

Não era exatamente uma surpresa,


até que ela se virou para ele e disse
algo baixinho. Eu tive vontade de
mandar todo mundo calar a boca
para poder ouvir, mas nesse
segundo as mãos do Joshua
voltaram

para minha cintura.

A ultima coisa que eu vi antes de


fechar os olhos para beijar o Joshua
foi a Jane saindo com o

Michael para conversar.

22. Unidos pelo ódio

✣Jane Lohan✣

Eu odeio o Joshua. Odeio aqueles


olhos azuis escuros, odeio aquele
cabelo loiro brilhante, odeio

aquele corpo perfeito. Odeio tanto


ele que chega a doer. E quero que
ele se foda. E que me foda.

Pelo amor de Deus, como eu quero


que ele me foda.

- AI JESUS! O QUE É AQUILO? –


Alguém gritou perto de mim e eu
quase dei um pulo por causa do

susto.

Então, antes que eu pudesse pensar


em alguma coisa, todo mundo saiu
correndo em direção ao prédio

principal, onde ficam as salas da


minha série e a torre de astronomia.
Sem raciocinar direito, corri atrás
deles e o vi.

A única pessoa que eu não gostava


e gostava de ver, ao mesmo tempo.
Desacelerei o passo; se o

Joshua estava aqui, não era por


minha causa.

Virei um pouco a cabeça e vi o


porquê de ele estar aqui se jogando
nos braços dele.

Susan. Aquela morena sem sal,


açúcar, pimenta, bunda, curvas,
simpatia...

Fechei o punho e cheguei mais


perto, mas sem me juntar a rodinha
que estava se formando ao redor
deles. Olhei para o lado e percebi
que tinha apenas mais uma pessoa
não estava se juntando também

a rodinha.

O garoto com o cabelo muito preto


e a pele branca se virou para mim,
provavelmente atraído pelo

meu olhar e se aproximou, andando


sem pressa nenhuma. Bem de longe,
eu conseguia ouvir a voz

irritante da Susan falando com o


Joshua.

- Quem é você? – Eu perguntei


quando o garoto ficou a mais ou
menos dois passos de mim. Ele era

bonito. Poderia parecer uma pessoa


fofa, com aquela franja que caia nos
olhos verdes-mar, se esses

olhos não fossem tão frios. Mas


eles eram. Como duas tempestades
de neve.

- Por que isso te interessaria? – Ele


perguntou com um tom de frieza que
me parecia estranhamente

familiar, assim como o nariz fino,


nem tão grande nem tão pequeno,
dele.

- Por que você não está suspirando


de amores? – Eu rebati. Era
estranho falar assim com alguém
que

eu nem conhecia, mas... O que


importa? O Joshua estava rodando
a Susan e ela estava rindo como se

esse fosse o melhor dia da sua vida.


Isso importava. Isso fazia meu
sangue ferver de raiva.

- Não apoio muito o casal. – Ele


disse me analisando. – E você? Ex
ou ele nem chegou a te pegar?

- Como você...?

Ele sorriu.

- Sou irmão do Joshua. – Ele


estendeu a mão, mas não foi de um
jeito amigável. – Meu nome é

Michael.

Apertei a mão dele e ouvi as


pessoas ao meu redor batendo
palmas.

- Meu nome é Jane. Acho que


devíamos nos juntar a rodinha.
Ele assentiu e nós entramos no meio
daquelas pessoas idiotas que
estavam batendo palmas. Dei uma

olhada na cena bem na minha frente.

A Susan estava prestes a desmaiar,


segurando alguma coisa em uma das
mãos tão forte que parecia

que estava segurando ouro enquanto


a outra estava no braço do Joshua,
como se a qualquer momento

ele pudesse sair correndo dali.


Adoraria se ele fizesse isso.

Os olhos escuros e sem graça dela


deram a volta pela rodinha,
sorrindo. Senti a respiração do

Michael ao meu lado e encarei a


Susan, esperando o momento exato
em que ela olhasse para nós.

Então ela olhou. E o seu sorriso


sumiu no mesmo segundo.

- Adorei isso. – Eu sussurrei no


ouvido do Michael e ele deu uma
risadinha.

- Eu também. – Ele sussurrou de


volta, então se virou para mim e eu
observei enquanto um brilho
surgia naqueles olhos verdes-mar. –
Vem, vamos conversar só eu e
você.

Fiz que sua cabeça e o segui para


fora da rodinha. A voz dele soou
exatamente igual a do Joshua;

autoritária e confiante. Não sei se


odiei ou amei isso.

Andamos em silencio até


chegarmos em um dos banquinhos
do campo. Quase nenhum aluno
estava

por aqui – só alguns casais que


aproveitaram que todos os outros
tinham ido embora para se

beijarem.

Me sentei do lado esquerdo do


banquinho e o Michael se sentou em
seguida.

- O que você quer falar comigo? –


Eu perguntei.

Ele me olhou de cima a baixo. Mas


não de um jeito malicioso ou
pervertido. Ele me olhou como se

eu fosse uma arma que ele estivesse


pronto para usar e ferir alguém.
- Me conte o que aconteceu entre
você o Joshua. – Ele pediu
calmamente.

- Não. – Eu respondi, no mesmo


tom calmo. – Jurei que nunca mais
falaria disso.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Foi tão ruim assim?

- Pior. – Eu desviei os olhos. –


Muito pior.

- Então acho que você vai adorar o


que tenho a dizer.
Olhei de novo para ele, subitamente
interessada.

- Eu odeio a Susan. – Ele falou tão


naturalmente quanto alguém falaria
que horas são. – E não suporto o
amorzinho entre ela e o Joshua.

Ele fez uma pausa, como se


esperasse minha resposta, e eu
assenti com a cabeça.

- E... Acho que quando duas


pessoas têm coisas em comuns, elas
deveriam se juntar. – Ele concluiu

lentamente, não havia nenhum pingo


de malicia na sua voz.

- Qual é o seu plano?

- Ainda não tenho um plano...

Ri da cara dele.

- Você não tem um plano? – Eu


perguntei. – Isso é ridículo.

Seus olhos esfriaram no mesmo


segundo.

- E você tem, por acaso?

- Eu posso criar um no segundo que


eu quiser.
- Então crie. – Ele mandou, com um
olhar de divertimento.

Fechei os olhos para me concentrar


melhor. Com o irmão do Joshua
como aliado, minha vingança

contra a Susan iria ser fácil. E iria


ser cruel.

Eu tive uma ideia.

- Já sei. – Eu disse abrindo os


olhos. – Na verdade, eu tenho três
planos.

Ele olhou surpreso para mim.


- Três?

- Sim. O ultimo é o pior deles, mas


acho que é melhor começar aos
poucos, como uma forma de teste.

- Já testei muito o amor deles. – Ele


retrucou. – De várias formas, mas
eles sempre voltam no final.

- Então você não foi bom o


bastante.

- Quem você pensa que é para falar


assim comigo? – Ele preguntou
irritado.

- Alguém que pode te ajudar a


destruir aquele relacionamento
ridículo.

- E o que eu tenho que te dá em


troca?

Ele era esperto. Sabia que ninguém


ajuda ninguém se não souber que
vai ganhar com isso depois.

- O Joshua. – Eu respondi.

Ele bufou.

- Não sei o que vocês veem nele.

- Se você quiser, eu posso fazer


uma listinha para você.
- Não, obrigado. – Seu tom era frio
mesmo quando falava uma frase
gentil. Gostei muito desse

garoto. – Já basta a Susan


suspirando pela casa por causa
daquele...

- Ah, já entendi. – Eu o interrompi.


– Você não gosta deles juntos
porque gosta da Susan.

Ele riu baixinho.

- Sinto lhe dizer, mas meus motivos


são muito maiores e mais profundos
do que isso.
- Então o que é?

- Por que eu contaria para você?

- Porque você precisa de mim para


se vingar.

- Preciso, mas não vou contar. – Ele


falou suavemente, como alguém fala
com uma criança pequena. –

E, não se esqueça de que você


precisa tanto de mim quanto eu de
você.

Ele tinha razão, é claro.

- Agora me diga qual é o seu


primeiro plano.

- Nós poderíamos fazer com que a


Susan odiasse o Joshua, fazer com
ela ache que ele é um monstro,

para isso nós...

- Já tentei. – Ele me cortou. – Não


dá certo, o Joshua é muito
convincente... Vai ter que pensar
mais.

- Esse foi apenas o primeiro plano.

- Então espero que o segundo faça


essa conversa valer a pena.
Me irritei como comentário dele,
mas não disse nada. Não éramos
amigos, ele não precisava ser

legal comigo.

- A outra coisa que eu pensei foi...

Contei para ele minha ideia,


descrevendo todos os detalhes do
mesmo jeito que alguém descreve
um

filme. Não fazia sentido eu ter tudo


isso na minha mente já pronto, mas
eu tinha. Seus olhos brilharam
quando eu terminei.
- Isso é genial. – Ele comentou. –
Com certeza vai dá certo. Mas, só
por curiosidade, qual é o

terceiro?

Eu sorri.

- Mortes.

Ele ficou sério.

- Não mesmo.

- Não estou falando em matar seu


irmão, estou falando em...

- A Susan não vai morrer, entende


isso? – Ele disse com algo
parecido com raiva. – Você não
deveria

nem ter pensado nisso.

Levantei uma sobrancelha.

- Não vai me dizer que você se


importa com aquela menina.

- Não me importo, mas não sou


assassino. – Ele fez uma pausa e
seus olhos pousaram nos meus.

Verde com verde. – E creio que


você também não seja.
- Você não faz ideia do quanto eu
odeio ela.

- Não importa. Ela não vai morrer.

- Se não te conhecesse, diria que


você está zelando pela vida dela.

- Então é uma sorte você me


conhecer. – Ele rebateu. – E, sobre
o seu segundo plano...

- Não gosto dessa palavra.

- Plano?

- É, parece que temos 7 anos e


estamos brincando de FBI.
Ele deu uma risada.

- Então vamos chamar de que?

- Ideia. – Eu respondi depois de um


tempinho pensado. – Ideia parece
bom.

- Ok... Antes de colocarmos a sua


ideia em pratica, precisamos
esperar um pouco.

- Quanto tempo?

Ele pensou por alguns segundos.

- Acho que daqui a mais ou menos


uma semana.
- Por que tudo isso?

- É o tempo que o Joshua vai


precisar para levar a Susan pra
cama. – Ele respondeu indiferente e
eu

senti como se tivesse levado uma


facada. Acho que ele notou minha
expressão. – Ei, não precisa

ficar assim. Vai ser a primeira e a


ultima vez deles.

Percebi nesse segundo que gostava


do Michael maldoso e cruel, mas
também gostava desse: o que se
preocupava minimamente com os
meus sentimentos.

- Você é uma pessoa com várias


faces, Michael.

- Eu sei disso. Mas, todos são


assim.

- Eu não.

- Não?

- Eu sou apenas má.

- Discordo. – Seus olhos ficaram


sérios e frios. – Só o fato de você
amar tanto o Joshua a ponto de
pensar em matar a Susan, significa
que você é mais do que só má.

- Matar alguém é maldade, eu sei


disso.

- Não estou falando da morte. – Ele


disse lentamente. – Estou falando
do amor.

- Isso soa tão estranho saindo da


sua boca.

Ele riu e se levantou do banquinho.

- Eu sou uma pessoa de várias


faces, lembra?
- Você é bipolar. – Eu rebati e me
levantei também.

- Talvez essa seja a combinação


perfeita.

- Do que você está falando?

- De eu e você. Nunca pensei que


alguém que já foi comida pelo
Joshua pudesse ser tão inteligente.

Revirei os olhos.

- Cale a boca.

- Gostei de você.
Nos encaramos por alguns
segundos. Ele não queria me beijar
e eu não queria beijar ele, não esse

tipo de gostar. Ele gostava de mim


como os EUA gosta das suas
bombas nucleares; ele gosta de mim

porque sabe que juntos nós iremos


explodir tudo.

- Também gostei de você.

Ele estendeu a mão, de um jeito


diferente do que fez na primeira
vez.

Apertei a mão dele.


- A Susan que não vai gostar disso.

- Mas o Joshua vai adorar. – Eu


sorri de um jeito malicioso.

- Com certeza.

Soltei a mão dele e vi que as


pessoas estavam saindo da rodinha.

- O que você acha que ele fez? – Eu


perguntei, sem me virar para o
Michael.

- Provavelmente pediu ela em


namoro.

Senti meu estômago revirando de


nojo.

- Espero que essa semana passe


rápido.

Senti o Michael parando de andar e


parei também. Nossos olhos se
encontraram.

- O mais rápido possível.

- Também espero que ele broxe. –


Eu deixei escapar e ele sorriu.

- Você é muito mais maldosa do que


eu imaginei. – Ele disse com um de
brincadeira que combinava
muito mais com a aparência dele.
Não gostei muito desse tom.

- Meu cabelo é vermelho de ódio.

- Achei que isso fosse laranja. –


Ele comentou.

- Não perguntei o que você achou.

Ele estreitou os olhos. Não parecia


surpreso com a minha resposta.

- Não precisa ficar tão na defensiva


comigo, eu não tenho nada contra
você. – Ele me observou

durante alguns segundos. – Não


faça eu mudar de ideia.

- Digo o mesmo.

- Você muda de humor muito


rápido.

Sorri.

- Digo o mesmo.

✣Susan✣

Eu amo tanto o Joshua que no


segundo que minha boca tocou a
dele eu esqueci completamente do

Michael e da Jane.
- Como você consegue ser assim? –
Eu sussurrei no ouvido dele assim
que tivemos que nos separar,

sem folego.

- Eu iria te perguntar isso agora


mesmo. – Ele respondeu baixinho.

Nos afastamos um pouco e eu vi


todas as pessoas ao nosso redor.
Elas não estavam mais batendo

palmas, mas todos estavam


sorrindo. Como aconteceu depois
que o Michael saiu do refeitório no
dia
que o Nicolas assumiu para todos
que era gay.

- Ei. – Uma das pessoas na rodinha


chamou, eu e o Joshua nos viramos
para ver quem era. Ele tinha o

cabelo castanho, os olhos cor-de-


mel e um sorriso de cafajeste. Foi o
menino que saiu da sala porque
mandou a Isabela sentar no pau
dele. Pelo que eu me lembrava, o
nome dele é Paulo. – O Michael

nos disse que vocês se conhecem a


tipo duas semanas, não acham que
estão indo rápido demais?
Encarei ele sem acreditar em como
alguém podia ser tão intrometido.

- Eu acho que isso não é da sua


conta. – O Joshua rebateu friamente
e algumas pessoas, incluindo eu,
riram.

- Vocês não responderam minha


pergunta.

Respirei fundo, sem desviar os


olhos dele.

- Tudo entre eu o Joshua aconteceu


muito rápido, nosso primeiro
encontro foi um dia depois de
quando eu entrei na casa dos
Hunter. – Eu respondi calmamente e
percebi que todos, incluindo o

Joshua, estavam olhando para mim


agora. – Mas, isso não significa
nada. Eu tenho um amigo que se

apaixonou perdidamente por uma


outra amiga minha depois de ter
visto dela só uma vez. – Eu disse,

citando o Bruno e a Amanda. – E, o


amor dele por ela é uma das coisas
mais sinceras que e já vi em

toda a minha vida.


- E eles estão namorando? – O
menino perguntou, insistindo em ser
um idiota que fala demais.

- Não. – O Joshua respondeu no


meu lugar. – Mas isso é só uma
questão de tempo. E, antes que você

fale mais alguma coisa irritante, eu


amo a Susan. Pronto, simples
assim. Não importa se eu conheço

ela há duas semanas ou duas


décadas, não importa se eu não
estou nos melhores momentos da

infância dela, não importa se eu não


sei qual a primeira escola que ela
estudou e não importa se eu

nunca nem imaginei da existência


dela antes de a conhecer. Por que,
no segundo em que nós

conversamos de verdade pela


primeira vez, eu percebi que ela é a
garota certa pra mim.

Percebi que estava com lagrimas


nos olhos. Nunca tinha ouvido o
Joshua falando algo assim em

publico.

Paulo se calou no mesmo segundo.


- Mais alguma pergunta? – Eu
perguntei sorrindo e o Joshua me
puxou mais para perto dele.

- Se eu começar a chorar de
emoção aqui, alguém vai me julgar?
– O Nicolas disse mordendo o
lábio

inferior.

O Felipe foi o primeiro a ri e


colocou o braço ao redor da cintura
do Nicolas.

As coisas estavam indo tão bem


que eu era quem estava com
vontade de chorar. Eu e o Joshua, o

Nicolas e o Felipe, o Bruno e a


Amanda, o Lion e a Elena... Então
eu me lembrei de uma coisa.

Olhei para a Bia e para o Richard,


que estavam um do lado do outro.
Ele, como era de se esperar,

estava olhando para ela.

- Sabe de uma coisa, acho que hoje


é o dia perfeito para quem estiver
apaixonado se declarar. – Eu

disse olhando fixamente para o


Richard e ele olhou para mim no
mesmo segundo. – Pode ser a sua

ultima chance.

Ele fez que não com a cabeça, de


um jeito quase imperceptível.
Suspirei. Ele não era o Bruno, que

dizia todo o seu amor na frente de


todo mundo.

- Não, nada disso. – O Joshua disse


e eu percebi que ele esperou até o
Richard responder antes de

dizer alguma coisa. Ele era muito


mais inteligente do que deixava
transparecer. – Hoje só eu me
declaro.

- Que egoísta. – Eu comentei


sorrindo.

- Agora, se não for pedir muito,


será que vocês poderiam nos dá
licença? – Ele perguntou para as

pessoas ao nosso redor.

- Ah, só mais um beijo. – Alguém


disse.

- Que pessoa cruel. - O Joshua


comentou irônico, com um
sorrisinho no rosto. Meu coração
estava
dançando algo parecido com
samba.

- Agora você vai ter que encarar


minha mãe. – Eu falei baixinho,
antes beijá-lo.

Ele sorriu de um jeito travesso.

- Já cuidei disso.

Abri a boca de surpresa e estava


prestes a perguntar como, quando
ele me beijou e eu esqueci

completamente como se fala.

Ao longe, eu conseguia ver um


cabelo laranja e longo perto de um
preto e curto.

Gostaria de saber o que eles


estavam dizendo.

Algo me diz que eu vou descobrir


em breve.

23. Nenhum Hunter é igual ao


outro

- Finalmente estamos a sós. – Eu


comentei baixinho, assim que as
pessoas ao nosso redor saíram.

O Joshua me lançou um sorriso


triste.
- Mas eu vou ter que ir. – A voz
dele saiu pesada, como se estivesse
dizendo que ia pra guerra.

Amava isso.

- Por quê?

- Eu passei a manhã toda aqui,


então eu tenho que voltar agora
para a faculdade e ficar lá até de

noite.

- Ah.

Ele soltou uma das mãos da minha


cintura e colocou no meu rosto, com
a palma quente contra a

minha bochecha, de um jeito tão


carinhoso que eu senti todos os
meus músculos relaxando. Eu o

encarei. Ele nunca tinha me tocado


assim.

- Às vezes, eu acho que estou sendo


muito meloso com você. – Ele
sussurrou. – Por que eu nunca tive

um relacionamento de verdade. Eu
não sei muito bem como eu deveria
agir e... Ao mesmo tempo, a

única coisa que eu quero fazer é te


deixar feliz.

Sorri. Eu me sentia exatamente


assim.

- Por que está me contando isso?

Por um segundo, ele pareceu


decepcionado com a minha
resposta. Então seus olhos voltaram
a

brilhar.

- Porque eu pensei que isso fosse


fazer você dá pra mim o mais
rápido possível. – Ele respondeu
com um sorriso malicioso e um tom
irônico. Não parecia ser sério, mas
não chegava a ser mentira.

Uma risadinha escapou dos meus


lábios.

- Você é muito esperto, Joshua.

- E o céu é azul. – Ele retrucou


rindo.

- Até a um minuto atrás você era o


pobre garoto que não sabia como
agir com a namorada. Que

mudança de ego.
Ele tirou as duas mãos de perto de
mim e levantou uma sobrancelha.

- Fala de novo.

- O que? – Eu perguntei confusa.

- O que nós somos. Diz de novo.

- Namorados?

- É. – Ele parecia como alguém que


acaba de fazer um calculo enorme e
finalmente chegou na

resposta.

- Somos namorados. – Eu repeti e


senti como as palavras soavam
bem. Soavam certas, como se

estivessem pairando sobre a minha


boca desde o dia em que o conheci.

Nossos olhos simplesmente não


conseguiam mais desviar um do
outro. O que será que ele estava

pensando?

- Queria que todos os momentos


que eu tenho com você durassem
mais tempo.

- Nem todos.
Ele riu, mas desviou os olhos. Ele
ficou com vergonha.

- Tipo, as suas primeiras palavras


comigo foram... – Eu comecei a
falar, para provocá-lo.

- Não precisa me lembrar, eu sei


bem o que eu disse. – Ele olhou de
novo para mim. – Ainda quer um

pedido de desculpas?

- Depois de tudo o que você fez


hoje? Acho que não.

- Acho. – Ele repetiu com o sorriso


cínico.
Fique na ponta dos pés e o beijei.
Eu nunca iria me cansar disso.

Infelizmente, ele não me beijou até


eu ficar sem ar.

- Eu tenho mesmo que ir embora.

Soltei um suspiro de frustração.

- Nos vemos de noite. O Michael e


o Nicolas cuidam de você.

- O Nicolas. – Eu corrigir.

Ele abriu a boca para falar, mas


rapidamente se calou.
Então o celular dele começou a
tocar Demons.

- Acho que essa é minha deixa para


ir embora. – Ele disse tirando o
celular do bolso.

- Até depois.

Dei um selinho nele e sai para


deixá-lo atender o celular, mesmo
sem querer nem um pouco que ele

tivesse que ir.

Acho que eu é que sou melosa


demais. Mas, e daí?
Percebi que minha barriga estava
roncando e fui para o refeitório.
Comprei a primeira coisa que vi e
procurei alguma mesa para sentar,
por sorte as meninas, o Edu, o
Richard, o Nicolas e o Felipe

estavam em uma. Me juntei a eles.

- Oi gata. – O Edu foi o primeiro a


cumprimentar e eu sentei ao lado
dele. – Nós estávamos falando

de você e do seu novo namorado.

Minhas bochechas ficaram


vermelhas.
- Bem ou mal?

Eles riram.

- Claro que bem. – O Nicolas


respondeu sorrindo. – O Richard
estava dizendo que o Joshua elevou
o

nível da categoria Como pedir


alguém em namoro.

Olhei para o Richard, que estava na


minha frente, e ele sorriu.
Reconheci um toque de gratidão no

sorriso dele.
- Mas, como eu ia dizendo, aposto
que o Rick vai ser muito meloso
quando resolver se apaixonar por

alguém. – A Bia comentou,


empurrando de leve o braço do
Richard. – Só não esqueça os
amigos, ok?

Ela chamou ele de Rick. Puta


merda. Eu tinha que agir rápido, ou
ele iria entrar na mesma situação

que o Edu com a Monica.

- E se ele já estiver? – Eu perguntei


para a Bia.
Ela riu.

- Não Susan, ele não está. – Alguma


coisa no tom dela fez o Richard
sorri discretamente. Demorei

um segundo para entender que era


ciúme.

- Ah, não tenha tanta certeza assim.


– Ele disse, se virando para olhar
para ela. – Existe a

possibilidade de eu estar
extremamente apaixonado por
alguém.

A Bia se virou também e eles se


encararam. Todos na mesa
pareciam ter perdido a voz, acho
que eu

não era a única que sabia o segredo


dele.

- Ela deve ser uma daquelas


atiradas que segue você até pro
inferno.

Ele mordeu o lábio inferior, como


se estivesse se segurando ao
máximo para não se declarar.

- Talvez ela seja, mas não vou te


contar agora.
- Por que não?

- Não acho que seja o lugar certo.

Ele se levantou da mesa, com uma


maçã em uma mão e um lápis na
outra.

- Já chega de gente se declarando


por hoje. – Ele completou e foi
embora.

A Bia olhou para nós sem entender.

- Ele não falou isso com o sentido


que eu acho que falou, não é?

Por dentro, eu queria gritar com


ela.

- Acho que você deveria se


levantar e falar com ele. – O Edu
respondeu e eu percebi um quê de

solidariedade. Ele sabia o que o


Richard estava passando. Era o
primeiro estágio antes de cair em

um poço sem fim.

Ela balançou a cabeça em negativa.

- Vamos mudar de assunto. – A


Elena sugeriu. – Eu ouvi o teacher
Bernardo comentando com a Dóris
sobre um acampamento que vai ter,
do ensino médio todo.

O Felipe bateu palmas, animado.

- EU SOUBE! Vai ser no próximo


fim de semana.

- O Joshua me disse, ele vai ser um


dos nossos acompanhantes. – Eu
disse, tentando não demonstrar o

quanto isso me deixava ansiosa e


nervosa ao mesmo tempo.

- Opa, que no sábado nós iremos


ouvir gemidos. – A Isabela disse
rindo.
- Estranho, eu não ouvi ninguém
dizendo que o Cavalcante ia
também. – A Gabrielle rebateu.

Eu ri junto com os outros da mesa.

- Depois dessa eu ficava calada. –


A Clara falou e eu olhei para ela.
Era tão estranho ver a mesma

boca que conseguia beijar o


Michael falando qualquer coisa
engraçada ou legal. Porque porra,
não

era qualquer cara irritante, era o


Michael. O Michael. Senti que
estava começando a ficar enjoada.

O sinal tocou alguns minutos depois


e cada um foi para sua sala. Não vi
o Richard em nenhum lugar.

Mas, infelizmente, vi a Bia em


todos.

O professor Cavalcante já estava na


sala quando eu entrei com o Edu, o
Pedro, e as meninas. A

Isabela sorriu e foi até ele.

- Oi professor, tudo bem? – Cada


silaba que ela emitia parecia estar
flertando com ele. Não sei como
ela conseguia.

- Oi Isabela. – Ele a olhou de cima


a baixo e deu um sorrisinho. – Tudo
ótimo e você?

Ela assentiu e eles começaram a


conversar sobre uma questão do
exercício que ele passou, mas dava

para notar que nenhum dos dois


estava interessado nisso. Eles só
queriam conversar.

Me sentei ao lado do Edu e do


Pedro.

- O que vocês vão fazer no fim de


semana? – O Pedro perguntou
quando o professor se virou e

começou a escrever sem parar no


quadro.

- Ainda não sei. – Eu respondi. Na


verdade, eu nem me importava. O
próximo é que seria importante.

- Sério? Achei que os Hunter


tinham a vida mais agitada do
mundo. – O Edu comentou e, como

sempre acontecia quando falava


esse sobrenome, torceu o nariz.

Queria que ele parasse de


generalizar. Até o senhor Fernando
conseguia ser legal às vezes, só o

Michael que não.

- Eu não sou uma Hunter.

- Adoro pessoas que se auto-


elogiam. – O Edu rebateu, seu tom
parecia com o da irmã. Não gostei

disso.

- Pare de falar assim, o Joshua é um


Hunter.

Ele suspirou. O Pedro não estava


mais prestando atenção na
conversa.

- Eu sei, mas como você pode ter


notado, irmãos podem ser muito
diferentes entre si.

Nos encaramos por um tempo.

- Eu vi eles conversando. – Eu
disse por fim.

- Quem?

- O Michael e a Jane.

O Edu olhou para mim como se eu


tivesse dado um tapa nele.
- Espero que eles não tenham
ficado amigos.

- Eu também, porque se não eu que


me fodo.

Ele riu, mas parecia preocupado.


Também estava.

[...]

- Como assim você ainda não


assistiu essa temporada de The
Voice US? – O Nicolas perguntou

indignado quando eu perguntei o


que era que ele estava vendo.
- Não sei se você notou, mas eu não
tenho muito tempo. – Eu respondi e
me sentei no sofá. Ele se

deitou no meu colo no mesmo


segundo.

- Então vamos ver agora mesmo,


porque depois vai ter o jantar.

- Que jantar?

- Minha família se reúne pelo


menos uma vez por mês. Hoje, os
irmãos do papai vão vim aqui com

seus filhos lindos e metidos.


- Michaels. – Eu murmurei.

Ele deu uma risadinha.

- Seu namorado também, mas


menos.

- Bem menos.

- Claro. – Ele concordou, sorrindo.


– Voltando ao assunto do jantar, eu
vou apresentar o Felipe para os
meus tios.

- O que você acha que vai


acontecer?

Ele pensou um pouquinho.


- Provavelmente vão começar com
brincadeirinhas e depois passa.
Eles não costumam ficar zoando

uma pessoa só.

- Espero que não seja uma das


vitimas.

- Nem eu, nem o Joshua vamos


deixar isso acontecer.

- Mas o irmãozinho de vocês vai


fazer questão.

Ele suspirou. Seus olhos claros


desviaram do meus, indo para a TV
e eu segui seu olhar. Na tela, o
Adam Levine estava sorrindo.

- Ele é tão lindo que sobe meu fogo.

- Deixa o Joshua ouvir você


falando essas coisas.

Ri baixinho. Realmente, não seria


legal se o Joshua ouvisse, mas,
verdade seja dita, eu não trairia ele
nem se o Adam aparecesse sem
camisa na minha frente.

- Não existe homem no mundo que


seja concorrência para o Joshua.

O Nicolas deu um sorrisinho


malicioso.
- Vocês são tão bonitinhos que eu
estou eternamente surpreso.

- Surpreso?

- O Joshua nunca teve nada nem


parecido, com ninguém. Aliás, você
vai ser a primeira garota que ele

levou como acompanhante no


jantar.

- Não por falta de opção...

Ele olhou para mim e sua


sobrancelha se ergueu. Essa
expressão era tão genuinamente
Hunter que eu
me perguntei como nunca tinha
visto antes no rosto dele, ou se vi
não lembrava.

- Qualquer pessoa sã escolheria


você. – Era estranho ver o Nicolas
sério, como se ele estivesse

demonstrando que é mais velho.


Mas, eu gostei.

- Você é um amor.

Ele deu uma piscadinha sexy e se


virou de novo para a TV.

- Vamos assistir, agora é o Taylor


Phelan.
- Quem?

- Shiu! Escute.

Um homem baixinho, loiro e


extremamente fofo começou a
cantar. Ele era muito bom.

Tão bom que eu só notei a presença


do Michael quando acabou a
apresentação. Os quatro jurados

viraram.

- O jantar vai ser na casa do tio


Vitor. – O Michael disse assim que
os jurados começaram a falar.
Ele se sentou na poltrona ao lado
do sofá, de onde eu estava dava
para sentir o perfume dele.

- Faz sentido. – Murmurou o


Nicolas, pausando a TV. – Vai levar
alguém, Michael?

- Ainda estou pensando. E você?


Vai levar seu namoradinho? – Ele
emitiu a ultima palavra com nojo.

Argh.

O sorriso do Nicolas se apagou


como fogo na água.

- Vou. – Ele respondeu secamente. –


Por quê?

- Por nada, é claro. – O Michael se


levantou. – Até porque nada vai ser
mais humilhante para a nossa
familia do que Joshua com a
empregadinha.

Me levantei no mesmo segundo,


com os punhos cerrados.

- Senta, Susan. – O Nicolas pediu


calmamente. – É só não dar
atenção.

Fuzilei o Michael com os olhos.

- Isso não acabou.


Ele riu com desdém.

- Você não faz idéia. – Ele rebateu,


mas tinha alguma coisa esquisita no
jeito como ele falou a ultima
palavra. Não, eu devo estar ficando
paranóica.

Então ele saiu. Eu e o Nicolas


voltamos a assistir de The Voice.

[...]

Tomei um banho rápido. O jantar


seria daqui a meia hora e eu ainda
não estava pronta.

Sai do banheiro correndo e abri o


guarda-roupa. O que eu posso usar?
Olhei minhas opções:

Vestido florido – Eles iriam me


achar meiga e não iriam me
respeitar.

Vestido vermelho – Vulgar demais,


eu não era uma piriguete.

Vestido branco – Mas também não


era tão santa.

Vestido azul com renda – Já usei


num almoço na sexta passada.

Respirei fundo. Peguei uma calça


jeans preta e uma camisa xadrez
rosa com branco e um pouquinho

de preto. Será que iria ficar muito


masculino? Será que o Joshua iria
gostar?

Sentei na cama e revirei os olhos.


Nunca fui do tipo insegura e não
seria agora. Me levantei e estava
prestes a colocar a calça e a camisa
quando ouvi batidas na porta.

- Quem é?

- Sua adorável mãe.

Abri sem nem pensar e a abracei.


Ela tinha o mesmo cheiro de
sempre: Doce e feminino. Não

importa quantos anos eu tenha, seu


cheiro sempre vai me deixar mais
confortável.

- O que te leva aqui, adorável mãe?


– Eu abri passagem para que ela
entrasse no quarto.

- Faz tempo que não conversamos.

Olhei para o relógio, 20 minutos


para o jantar.

- Pode ser depois.

Ela sorriu.
- Eu só queria pergunta como estão
as coisas com o Joshua.

- Quando ele te contou?

Ela deu de ombros.

- Quando teve que passar a noite


cuidando de você depois de uma
bebedeira.

Senti minhas bochechas queimando.

- Sobre isso...

- Não quero saber. – Ela me cortou.


Até quando era para ser grossa, a
voz da minha mãe soava gentil.
– Só quero saber como anda seu
coração.

- Melhor impossível. Eu não pensei


que ele fosse ser tão... Perfeito.

Ela assentiu, seus olhos brilhando


como se soubesse exatamente o que
eu estava sentindo.

- E você e o Robert?

- Depois, quando você voltar do


jantar, eu te conto.

Eu adorava isso na minha mãe: ela


sabia os momentos certos pra tudo.
[...]

Desci as escadas e dei de cara com


o Michael, que estava falando no
celular.

- Clara, pare de frescura e vá para


o térreo que eu chego daqui a
pouco. – Ele parecia entediado de

um jeito que as pessoas não


deveriam estar enquanto falam com
seus namorados. Ele me viu e me

olhou de cima a baixo. – Tchau, eu


vou ter que desligar... Tá, eu sei...
Aham... – Ele deu um sorriso
malicioso. – Eu vou para sua casa
depois do jantar... Até mais.

- Pelo jeito você decidiu chamar


alguém. – Eu comentei quando ele
desligou.

- Pelo jeito o céu é azul.

- Você só não é mais engraçado


porque é um só.

- Você não fica bem de rosa.

- Você não fica bem de nenhuma


cor.

Ele sorriu.
- Você não...

- Susan!

Me virei no mesmo segundo. Não


tinha pensado que iria sentir falta
do Joshua por ele ter passado o

dia todo fora, mas eu senti.

- E irmão. – O Michael corrigiu,


mas o Joshua não estava prestando
atenção.

- Você está absolutamente linda. –


Ele disse se aproximando e olhando
cada centímetro do meu
corpo. Corei violentamente.

- Digo o mesmo.

O Michael olhou para mim como se


minha fala tivesse lembrado a ele
alguma coisa.

O Joshua segurou na minha mão e


fomos para a sala principal.

- Aleluia. – O senhor Fernando


parecia irritado. – Vamos, ou vocês
vão querer demorar mais 10

anos?

Ele tinha o mesmo tom de voz que o


Michael, mas sua aparência era
completamente do Joshua. Me

pergunto o que o Nicolas puxou


dele.

- A Clara está esperando.

- O Felipe também.

O senhor Fernando o encarou por


um momento, então fez que sim com
a cabeça.

- Eu vou com a Susan e o Nicolas.


– O Joshua ofereceu e eu agradeci a
ele mentalmente.
- Tá, nos vemos daqui a pouco. – O
senhor Fernando disse e olhou para
a dona Nicole, que estava ao

lado dele. – Vamos?

Ela sorriu como se ele tivesse


pedido ela em casamento.

- Vamos.

[...]

A casa do senhor Vitor era enorme.


Talvez não tanto quanto a do irmão,
mas tinha mais ou menos o

tamanho da do Bruno. Senti minhas


pernas começando a tremer.

- Eles vão me odiar. – Eu murmurei


para o Joshua enquanto
esperávamos o resto da família
chegar.

- Não é cientificamente possível


odiar você.

- Diz isso pro Michael e pra Jane.

Ele deu uma risadinha e me puxou


mais para perto, pela cintura.

- Qualquer dia desses, eu digo.

Suspirei e vi, pelo canto do olho, o


Nicolas conversando com o Felipe.

- Eles não são fofos?

- Com certeza. – O Joshua


respondeu. – Acho que está empate
do meu casa preferido depois de eu
e

você.

- Empate com quem?

- Bruno e Amanda, é claro. Ele não


para de falar dela um segundo.

- Quando você acha que vai pedi-la


em namoro?
- Não sei, provavelmente quando
tiver certeza absoluta que não vai
levar um fora.

Levantei uma sobrancelha.

- Ele acha que poderia levar um


fora?

- Ah, nunca se sabe. Eu disse para


ele que ela não faria isso, por que
só pelo jeito como ela olha para ele
dá pra sacar que ela diria sim, mas,
obviamente, ele não me ouve.

- Espero que ele peça logo, ai nós


vamos ter encontros triplos.
Ele riu.

Um carro estacionou ao nosso lado


e o Michael, o senhor Fernando, a
dona Nicole e a Clara, que

estava extremamente bonita com um


vestido preto, saíram dele.

A Clara veio para perto de mim.

- Oi, tudo bem?

- Ótima e você?

- Nervosa.

- Entendo.
Ela mordeu o lábio inferior e nós
esperamos até que todos estivessem
na frente da casa. O senhor

Fernando abriu a porta.

- Ei, olha só quem chegou!

Tentei me concentrar no menino


moreno e lindo que estava
apontando para nós, mas foi difícil.
O

Jardim era gigante.

Atrás do menino, tinha mais três


pessoas. Nos aproximamos.
O menino que apontou para nós era
ainda mais bonito de perto, os
olhos dele eram verdes como suas

esmeraldas e o cabelo liso e


castanho caia em um franja que
combinava perfeitamente com o
sorriso

arrogante dele.

Atrás dele, tinha um menino


praticamente igual, só que com os
olhos azuis. Meu coração deu um

salto. Os olhos dele eram azuis


Denim.
O pai deles era como uma versão
de 50 anos do Nicolas, talvez um
pouco mais másculo.

E a mãe parecia uma supermodelo.

Bem a cara dos Hunter: toda a


família ser linda. Espero que eles
sejam legais.

- Ah você deve ser a Susan. – A


mãe deles disse, seu tom não
parecia muito animado. – Soube
que

sua mãe é uma ótima empregada.

- A melhor. – Eu respondi
friamente.

Ela me lançou um olhar fatal.

- Algum problema com isso, tia? –


O Joshua surgiu atrás de mim, sua
voz parecia cheia de raiva.

Ela sorriu com um ar superior.

- Vários.

Respirei fundo.

Esse jantar vai ser longo.

24. Jantar, revelações e Joshua


- Então acho que isso vai ter que
mudar. – O Joshua rebateu.

Os olhos dela eram da mesma cor


que os meus, mas tão frios que
pareciam duas bolas de neve.

- Creio que isso não irá acontecer,


mas, porque precisaria mudar?

Ela queria que ele dissesse que


estava comigo. Ela queria humilhá-
lo.

Por sorte, Joshua não era o tipo de


cara que alguém consegue humilhar.

- Por que eu e a Susan...


- Patético.

A voz irritante do Michael passou


bem perto do meu ouvido, assim
como o perfume dele passou pelo

meu nariz, me deixando enojada, e


ele andou até ficar ao lado da tia,
que, aliás, tinha uma

personalidade muito parecida com


a dele.

- Oi Michael. – Ela cumprimentou


com algo parecido com um sorriso,
mas não exatamente. – O que

você disse?
O Michael olhou para mim daquele
jeito cruel que ele sempre olha
antes de falar ou fazer algo ruim.

- Eu só estava comentando o quanto


é patético meu querido irmão ter
acabado com uma serviçal.

Cerrei os punhos.

- Eu não sou uma serviçal!

A tia dele se afastou um pouco e eu


juro que conseguia ver um
sorrisinho de desdém no rosto dela.

- Claro que é! – O Michael deu um


passo para frente. – Você não passa
de uma empregadinha

interesseira.

Antes que eu pudesse dizer alguma


coisa, o Joshua segurou o Michael
pela gola da camisa o

empurrou contra a parede da


mansão. Reprimi um grito de susto.

- O que eu disse sobre falar essa


coisas dela? – O Joshua perguntou,
puxando o Michael tão forte que
tirou os pés daquele idiota do chão.

O Michael abriu a boca para falar,


mas o Joshua o empurrou com mais
força.

- O QUE EU DISSE? – Ele repetiu.

- Parem com isso. – Não tinha


notado até agora que todos os
Hunter, e a Clara, estavam por
perto.

Mas, quem mandou eles pararem


foi a Dona Nicole. – Pelo amor de
Deus!

Joshua soltou o Michael como se


ele fosse um saco de lixo e olhou
para mim. Nos encaramos.

Sorri para mostrar que estava tudo


bem.

O Michael limpou as mãos na barra


da calça jeans preta, seus olhos
estavam arregalados.

- Mãe, ele me agarrou, só porque


eu...

- Cale a boca, Michael. Ninguém


quer saber. – O senhor Fernando o
interrompeu. Olhei surpresa

para ele, mas todos o resto das


pessoas – exceto a Clara –
pareciam estar acostumadas com a
forma
grosseira como ele falou. Até
mesmo a Dona Nicole. Isso não me
parece certo.

- Venham, ou o jantar vai esfriar. –


O senhor Vitor disse para aliviar a
tensão. Seu tom de voz era

completamente diferente do da
esposa.

Em silencio, entramos na casa.


Passamos por uma sala grande, com
mobílias de luxo, e sentamos em

uma mesa na sala de jantar. Eu ao


lado do Joshua e do Nicolas, e de
frente para um dos primos deles.

O de olhos azuis Denim.

- Nossa secretária do lar fez o seu


prato mais famoso dela, vocês vão
gostar. – O senhor Vitor falou
quando nos sentamos. Ele em um
dos extremos da mesa e o seu irmão
no outro, como se estivéssemos

em uma reunião de trabalho e eles


fossem os dois líderes.

- Chama de empregada, pai. Só


porque a filha de uma delas está
aqui, não significa que você precisa
ser gentil. – Olhei para o moreno de
olhos azuis na minha frente, sem
acreditar em como ele

conseguia dizer uma coisa dessas.


Ele devia ter a idade do Nicolas,
17 anos.

- Sim, preciso. Devemos ser gentis


com as nossas visitas, David.

O nome dele era bonito, parecia


meio de gringo. Assim como
Joshua. Mas acho que é apenas isso

que eles têm em comum. Bem, isso


e os olhos extremamente lindos.
- Depende da visita. – O Michael
murmurou baixinho, apenas eu e a
Clara escutamos.

A Clara sorriu e chegou mais perto


dele. Não acredito que ela achou
que a indireta era para ela e não
para mim. Soltei uma risadinha.
Queria poder avisar a ela o quanto
o namorado dela era idiota, mas

eu não seria ouvida.

- Qual é a graça? – O tal David me


perguntou friamente.

O Joshua se levantou da mesa.


- Parem de falar assim com ela!
Meu Deus, qual é a necessidade
disso? – Ele parecia irritado,
muito, muito irritado.

- O Joshua ta certo, não tem


necessidade disso. – O Nicolas
disse se levantando. Felipe se
levantou

também. – Qual é problema de ela


ser filha da Melissa? – A tia dele
abriu a boca para falar, mas ele
ergueu uma mão. – Não tem
problema algum. Simples assim.

Eu continuei sentada, imóvel. Se me


mexesse muito provavelmente iria
começar uma briga ou chorar.

Nenhuma das duas coisas seria boa.

- Sentem-se, por favor. – O senhor


Fernando pediu, com um tom
extremamente calmo.

Eles obedeceram sem questionar.


Ordem de um Hunter é ordem de um
Hunter, certo?

David olhava estranho para mim,


com uma mistura de nojo e raiva.
Cretino.

Pouco tempo depois, uma mulher


baixinha entrou na sala. Ela devia
ter uns 40 anos e suas feições

eram duras, como se ela tivesse


tido uma vida difícil.

- Essa é a Luciana. – O senhor Vitor


apresentou, então apontou para mim
e em seguida para o Felipe.

– Essa é a Susan e esse é o Felipe,


melhor amigo do Nicolas.

Melhor amigo?

- Muito prazer! – A mulher disse


dando o sorriso e colando os pratos
de cada um. No meio da mesa,
ela colocou um prato que tinha três
lagostas enormes. Comecei a ficar
nervosa enquanto a mulher se

retirava.

- Joshua. – Eu sussurrei no ouvido


dele, quase inaudível. – Como eu
vou comer essa coisa?

Ele riu baixinho.

- Eu ensino, não é difícil. – Ele


sussurrou de volta.

- Não? – Eu perguntei irônica,


então pensei em uma coisa. – Mais
difícil é aguentar sua tia.
Me arrependi por ter dito isso
assim que falei, mas era a verdade.

Ele respirou fundo e não respondeu.


Ele sabia que eu estava certa.

- Então, Felipe, onde você estuda?


– O senhor Vitor perguntou,
novamente tentando aliviar o clima.

Ele parecia a versão masculina da


Dona Nicole.

O senhor Fernando se ajeitou na


cadeira, incomodado.

- No JK, sou da mesma sala do


Nicolas.
- Ah, que ótimo! Lembro que
quando tinha sua idade a coisa que
eu mais queria era que meu melhor

amigo estudasse comigo.

O Nicolas segurou minha mão de


leve, como se estivesse reunindo
coragem, e olhou para o tio.

- Na verdade, o Felipe não é meu


melhor amigo.

- “Ele não é meu melhor amigo, ele


é meu irmão”, certo? – O senhor
Vitor imitou a voz do sobrinho e

depois sorriu.
Todos que sabiam o que estava por
vim ficaram nervosos.
Principalmente o senhor Fernando.

- Na verdade... Ele é meu


namorado.

Um breve momento de silêncio.

Então o David se levantou da mesa


num pulo.

- NÃO ACREDITO QUE O MEU


PRIMO É GAY! – Ele gritou com
nojo. – QUANTAS VEZES NÓS

TOMAMOS BANHO DE PISCINA


JUNTOS? E VOCÊ ESTAVA
OLHANDO PARA O MEU...

- É CLARO QUE NÃO! – O


Nicolas se levantou também,
gritando. – NÃO É ASSIM QUE
AS

COISAS FUNCIONAM!

- E É COMO? SEU VIADIN...

- Não, filho. – A mãe do David o


interrompeu no meio da palavra.
Ela parecia calma, mas seus olhos

pegavam fogo. – Não é assim que


se expressa a raiva.
Os olhos escuros dela foram até o
outro lado da mesa e pousaram no
senhor Fernando. O David

sentou na mesma hora, enquanto o


Nicolas esperou ainda alguns
segundos para voltar para o lado do

Felipe.

- Sabe, Fernando, eu esperava mais


de você. – Ela disse lenta e
friamente. – Eu achei que você
fosse conseguir comandar uma
família, mas pelo jeito, eu estava
enganada. – Sua voz parecia uma
faca
cortando o senhor Fernando, que
estava paralisado do outro lado da
mesa. Na minha diagonal, o

Michael sorriu. – Você falhou.

- Não fale assim com o meu pai! –


O Nicolas protestou.

- Eu falo do jeito que eu...

- Não, não fala. – O senhor Vitor a


cortou, sério.

- Mas... – Ela começou, irritada.

- Não importa. O Nicolas é um


garoto incrível. Nada vai mudar
isso.

Pelo canto do olho, eu conseguia


ver algumas lagrimas brotando nos
olhos azuis do Nicolas. Ele não

esperava assim reação do tio. Ele


não esperava essa reação de
ninguém, na verdade.

Senti o olhar de alguém e procurei


de onde vinha. Era do outro primo,
o de olhos verdes – que era

levemente mais bonito que o irmão


gêmeo – e percebi que até agora ele
não tinha falado nada nesse
jantar. Talvez ele fosse uma pessoa
boa, mas não quisesse discordar da
mãe. Ou talvez ele fosse uma

pessoa ruim e não quisesse


discordar do pai. Suspirei e desviei
os olhos.

- Vitor, você não acredita mesmo


nisso, não é? – A esposa dele
perguntou indignada.

Os ombros do Joshua tremeram de


leve. Ele estava rindo baixinho.

- Acredito. E creio que o Nando


não está gostando de ver a cunhada
dele falando essas coisas

grosseiras. – Ele deu ênfase em


cunhada, acho que para mostrar que
ela devia ter o mínimo de

respeito pelo irmão dele. Gostei


muito do senhor Vitor.

- Acertou. – O senhor Fernando


disse, sorrindo com um ar superior
que combinava muito com ele. O

que, como consequência, significa


que combinava muito como Joshua
também. Respirei fundo.

Ficamos em silencio por um tempo,


cada um com seu próprio
pensamento.

O Michael, bem lentamente,


colocou o braço no ombro da
Clara. O Joshua o imitou comigo,
enquanto

o Felipe o imitou com o Nicolas.

Então, sem que ninguém tivesse que


falar nada, começamos a comer e a
tensão no ar se evaporou.

- Ei Arthur, como vai a banda? – O


Joshua perguntou sorrindo para o
garoto de olhos verdes.
O David revirou os olhos com um
ar de inveja. Ótimo.

- Nós estamos muito bem, obrigado.


– O garoto de olhos verdes, que
agora tinha um nome ficou

animado. – O nosso primeiro show


com mais de 5 mil pessoas vai ser
no próximo fim de semana,

topa?

Eu e o Joshua nos entreolhamos.

- Não posso, tenho um estágio. –


Ele respondeu, apenas eu devo ter
notado um quê de malicia na voz
dele. Porque eu sabia o que iria
acontecer no próximo fim de
semana.

- Ah sim, como vai a faculdade,


Joshua? – O senhor Vitor entrou na
conversa, sorrindo.

- Melhor impossível, o diretor da


JK já disse que assim que eu me
formar eu vou poder trabalhar no

colégio.

- Ai meu Deus, isso é incrível! – Eu


deixei escapar, sem conseguir
conter a animação.
O senhor Vitor me analisou por
alguns segundos.

- E você, Susan, o que ta fazendo da


vida? – Ele perguntou
educadamente.

O que você quer que eu responda?


Fumando escondido nas favelas
onde você acha que eu nasci?

Balancei a cabeça de leve. Ele não


era esnobe como a esposa e o filho.

- Ela apenas irrita as pessoas ao


seu redor. – O Michael respondeu
por mim. Seu braço estava quase
caindo no ombro da Clara, como se
ele não fosse se importar se ela
levantasse e saísse agora mesmo.

Provavelmente não se importava


mesmo.

O David deu uma risada.

- Bem que eu imaginei!

O Joshua cerrou o punho.

- Não concordo com o seu


comentário, Michael. – Ele disse,
tentando parecer indiferente, mas o
fim
de cada palavra saiu trêmulo de
raiva.

- Claro que não concorda. Ela é sua


namorada.

O senhor Fernando levantou uma


sobrancelha.

- O que ele quis dizer com isso,


Joshua?

Senti a respiração dele ficando


acelerada ao meu lado, mas seu
rosto continuava firme.

- É isso mesmo que você ouviu.


O senhor Fernando se levantou da
mesa.

- Vamos conversar.

- Pai...

- Vamos conversar, Joshua. – Ele


repetiu.

O Joshua tirou o braço do meu


ombro e se levantou. Nosso olhares
se encontraram alguns segundos

antes de ele começar a andar em


direção ao pai. Pouco tempo
depois, os dois saíram da sala e
foram
para o jardim.

- Ai meu Deus. – O Nicolas


murmurou baixinho ao meu lado.
Ele parecia uma mistura de medo e

solidariedade. Faz sentido.


Considerando o fato do senhor
Fernando já ter apontado uma arma
para

ele por causa do seu namorado.

- O que vocês acham...? – Eu deixei


o resto da pergunta no ar.

A Dona Nicole deu de ombros.


Enquanto a tia deles parecia estar
se divertindo com tudo isso.

Não consegui aguentar mais de dois


minutos antes de me levantar e ir
atrás do Joshua.

Ninguém me impediu.

Fui até o jardim e encontrei o


Joshua e o senhor Fernando se
encarando. Me aproximei devagar e

percebi que eles estavam


conversando baixinho, o que me
deixou surpresa.

- Você acha mesmo que ela é a


mulher certa?
O Joshua nem pensou antes de
responder.

- Acho. Pela milésima vez: eu amo


a Susan!

Senti meu coração acelerando.


Sempre iria gostar de ouvir ele
dizendo isso em voz alta. Me

aproximei mais e me escondi atrás


de uma arvorezinha que estava bem
perto deles.

- O que te leva a pensar que ela não


é uma interesseira? Que ela não
quer só o seu dinheiro? O nosso
dinheiro!

- Eu sei que ela não é assim. Ela é


diferente.

- Você não pode ter tanta certeza


assim.

- Claro que posso! – O Joshua


aumentou o tom da voz, subitamente
irritado. – Eu posso porque eu a

amo! Simples assim. Pelo amor de


Deus, confie em mim!

- Eu confio em você, em quem eu


não confio é naquela...
- Limpe sua boca antes de falar da
Susan.

O senhor Fernando pareceu


surpreso com a resposta.

- Como ela conseguiu te deixar


assim?

O Joshua mordeu o lábio inferior,


como se estivesse se lembrando de
alguma coisa muito boa. Corei

bruscamente ao imaginar o que


seria.

- Não faço a menor idéia, só sei


que não posso mais viver sem
aquela menina.

- Ela só tem 16 anos! Ela é filha da


nossa empregada! Quantos motivos
você quer para entender que

isso não vai dar certo?

Senti um aperto no peito. E se o


Joshua o ouvisse?

Mas ele não ouviria.

- Sinto muito, mas nada que você


disser vai me fazer parar. O que
você quer que eu faça para te

convencer?
O senhor Fernando pensou por um
momento.

- Vocês têm um mês. Se daqui até lá


eu perceber alguma coisa...

- Obrigado, pai. – O Joshua o


cortou no meio da frase. - Você não
vai se arrepender.

Ele não parecia muito convencido,


mas não tinha nada que pudesse
fazer.

- Espero que você esteja certo...


Enfim, vamos voltar para o jantar?

- Claro, vai na frente que eu tenho


que fazer uma ligação.

O senhor Fernando voltou para a


mansão do irmão.

Continuei escondida atrás da


arvore, esperando para saber para
quem seria a ligação.

- Eu sei que você está ai.

Sorri e sai de trás da arvore. Não


fiquei muito surpresa com isso.

- Como?

Ele deu de ombros.


- Seu perfume, eu reconheceria ele
mesmo que tivesse um milhão de
pessoas aqui.

- Na verdade, isso não é possível,


já que...

Ele riu e colocou o dedo indicador


na frente da boca, para pedir
silencio.

- Calada, eu que sou o professor


aqui.

Revirei os olhos.

- Que matéria?
Ele chegou mais perto de mim, com
uma cara de pervertido que eu tinha
aprendido a amar.

- Física.

Meu corpo inteiro ficou quente.


Como ele conseguia fazer isso só
com uma palavra?

- Bela matéria.

Ele me olhou de cima a baixo.

- Belo físico.

Ri nervosa.
Ele se aproximou de mim e nos
beijamos com intensidade. O corpo
dele queria o meu tanto quando o

meu queria o dele. Suas mãos


subiam e desciam na curva da
minha cintura.

- Ei pombinhos, não vão comer a


sobremesa? – A voz do Arthur era
doce e divertida, leve. Tão leve

que eu nem consegui odiar muito


ele por ter nos atrapalhado.

Olhamos para a varanda da casa.


Nenhum dos dois se importava mais
com a sobremesa do que com o

que estávamos fazendo, mas fomos


mesmo assim.

Assim que sentei, percebi que o


clima estava muito melhor.

- ...Não acredito nisso, Felipe!


Você é sobrinho da Rê? – O David
parecia animado, parecia ter

esquecido completamente as coisas


que falou para o Nicolas.

- Sou, ela mora tipo do lado da


minha casa. – Ele respondeu um
pouco mais baixo do que o normal,
seu tom de voz deixava claro o
quanto estava tímido.

Eles começaram a conversa sobre


essa tal Rê e eu não entendi nada,
mas tanto faz. O que importa é

que eles não estavam brigando.

No canto direito da mesa, o senhor


Fernando conversava e ria com a
Clara e a Dona Nicole. O

Michael parecia perdido demais em


pensamentos para participar e de
vez em quando olhava para

mim. Queria que ele parasse, estava


começando a ficar irritada.

No canto esquerdo, o senhor Vitor


falava alguma coisa para a esposa,
mas não parecia ser nada

sério, já que ele estava sorrindo.

Nicolas observava desconfiado o


bom humor do primo.

Não teve mais nenhuma briga no


jantar. Graças a Deus.

[...]

- Como a Teresa foi... – A Dona


Nicole começou a dizer assim que
chegamos em casa.

Descobri que Teresa era o nome


daquela mulher que eu odiei desde
que cheguei naquela casa. A tia

do meu namorado.

- Sim, sim, eu sei. – O senhor


Fernando falou. – Não precisa nem
comentar.

- Claro que precisa! – Ela suspirou.


- Ah, eu estou tão cansada...

- Isso me lembra uma coisa.

Olhei, juntos com os outros, o


senhor Fernando tirando um papel
do bolso.

- Nosso aniversário de casamento é


daqui a 5 dias, pensei em começar
a te presentear de hoje. – Ele

entregou o papel para a Dona


Nicole.

Ela deu um gritinho assim que leu.

- Isso é... Perfeito!

- Vamos partir hoje mesmo.

- O que é, pai? – O Michael


perguntou curioso. Sua mão estava
segurando a da Clara, mas não

parecia um ato romântico.

- Uma viagem de iate.

Arregalei os olhos, impressionada.

- Arrasou! – O Nicolas falou rindo.

O senhor Fernando torceu o nariz


por um segundo, então se virou de
novo para a Dona Nicole.

- Vá se arrumar, vamos daqui a uma


hora.

Ela subiu as escadas, correndo


como uma adolescente.

- Isso me lembra que eu vou dormir


na casa da Clara hoje. – O Michael
disse.

O Joshua encarou o Nicolas, que


rapidamente encontrou seu olhar.
Eles pareciam estar discutindo

alguma coisa.

- Sabe... Acho que eu vou também.


– O Nicolas emitia cada palavra
devagar, como se estivesse

explicando alguma coisa.


Me lembrei que, ainda quando eu
estava no jantar, minha mãe me
mandou uma mensagem dizendo que

passaria a noite na casa do Robert.

Então eu entendi.

Eu e o Joshua, sozinhos.

- Talvez, a gente pudesse adiantar


as coisas do próximo fim de
semana para esse... – Ele sussurrou

rouco no meu ouvido e eu me


arrepiei.

Talvez.
Talvez.

Então eu percebi que meu corpo


todo não queria um talvez.

Ele tinha certeza de que diria sim.

25. Primeira vez

Olhei para o Joshua. Ele era tão


lindo. Queria que ele não fosse tão
rodado.

Seria minha primeira vez e a


20932º dele. Muita pressão, com
certeza.

Ele me olhou de volta, deu um


sorrisinho e, antes que pudesse
dizer alguma coisa, o som de
Demons

encheu o ar.

- Fala Bruninho! – Ele disse, ainda


sorrindo, ao atender. – Eu estou
ótimo. – Seus olhos me

analisaram por alguns segundos. –


Na verdade, acho que “ótimo” é
pequeno demais para o meu

estado de espírito... – Ele riu de


alguma coisa. – Como você
adivinhou?... Não use esse tom de
surpresa!

Eu segurei minha risada,


imaginando o que o Bruno estaria
dizendo.

- Joshua, dá pra você falar com seu


best em outro canto? – O Michael
perguntou.

Revirei os olhos enquanto via o


Joshua indo embora sem reclamar.
Ele parecia feliz demais para ir

brigar com o Michael.

O senhor Fernando entrou no


elevador, deixando eu, Nicolas,
Felipe, Michael e Clara sozinhos.

Gostava de 75% das pessoas nessa


sala.

- O que achou do jantar, Clara? – O


Michael sentou no sofá ela sentou
ao lado dele. Mesmo de longe,

dava para ver os olhos dela


brilhando.

- Foi legal, o David é meio metido,


mas o Arthur é adorável. – Ela
comentou, dando de ombros.

Nicolas e Felipe se sentaram no


sofá também. Preferi ir para a
poltrona.

- Sério? Gosto muito mais do


David.

- Claro. Coisa ruim se atrai por


coisa ruim. – Eu murmurei alto o
bastante para ele ouvir.

- Espero que isso não tenha sido


uma indireta para mim, Susan. – A
Clara disse, estreitando os olhos
escuros.

- Não, você é um amor. Seu


namorado, no entanto...

- Por que você não vai se foder? –


Ele se levantou do sofá, irritado.

Me levantei também.

- Por que você não para de


respirar? Só pra eu testar uma
coisa.

Ele riu.

- Achei que você tivesse melhorado


nos seus foras, mas pelo jeito não.

- Não lembro de ter perguntando o


que você acha ou deixa de achar.

- Pelo amor de Deus, eu saio por 5


segundos e você arruma briga com
a minha namorada. – O Joshua

entrou na sala e foi até o Michael,


ficando na minha frente como um
escudo.

- A culpa não é minha que você


escolheu a menina mais irritante do
universo. – O Michael rebateu e

eles se fuzilaram com os olhos.

Na minha diagonal, o Nicolas


mostrava alguma coisa no celular
para o Felipe. Nenhum dos dois

dava a mínima para minha


discussão simplesmente porque não
gostavam de ver essas coisas.

Invejava a capacidade deles de


ficarem longe de problemas.

- Michael, você não vai querer que


eu quebre você ao meio, vai? – A
voz do Joshua ficava mais

ameaçadora a cada palavra. – Se


você quiser é só continuar falando
sobre a Susan.

O Michael fechou os punhos com


força.

- Quem garante que você vai


ganhar?
Joshua riu com desdém.

- Fala sério, você nunca ganhou


uma briga contra mim desde que
tinha 9 anos...

- Parem. – O Nicolas finalmente se


levantou do sofá. Apenas o Felipe e
Clara estavam sentados

agora. – Qual é o problema de


vocês?

- Desde quando você é o defensor


do Joshua? – O Michael perguntou
com algo parecido com raiva,

mas não exatamente.


- Não sou defensor de nenhum dos
dois, só acho que não tem pra quê
fazer isso. Aliás, Michael, você

não deveria estar na casa da Clara?

Estiquei o pescoço para ver a


reação dela. Corada. Como era de
se esperar.

- Você tem razão. – O Michael se


virou para a Clara. – Vamos, eu vou
chamar um taxi e a gente

espera lá fora.

Ele parecia estar se esforçando


para manter um tom educado e
gentil. Esse garoto merece um
Oscar

de atuação.

- Tchau Susan, até segunda! – A


Clara se despediu rapidamente
antes de sair quase que correndo
para

encontrar o Michael.

[...]

Exatamente como o senhor


Fernando disse, 1 hora depois de
ter dado o presente para a Dona
Nicole
ele já estava na porta para ir
embora.

- Volta quando, pai? – O Joshua


perguntou.

- Só domingo à noite.

A Dona Nicole parecia prestes a


explodir de felicidade.

- Zerou a vida com esse presente. –


O Nicolas disse sorrindo.

- Eu fiz o que rapaz? – O senhor


Fernando levantou uma
sobrancelha, mas sua expressão era
divertida. Ele parecia mais feliz do
que eu jamais tinha visto antes.

- Digamos que a vida seja um jogo,


com esse presente você...

O riso do Felipe atrapalhou a fala


do Nicolas. E a Dona Nicole
aproveitou esse momento para
olhar

o relógio.

- Querido, já estamos quase


atrasados.

O senhor Fernando assentiu para a


esposa e eles entraram no carro.
Só quando saíram de vista, o
Joshua se virou para o irmão.

- E vocês?

- Vou chamar um taxi agorinha,


podem ir lá pra dentro. – O Nicolas
falou sorrindo malicioso.

- É exatamente isso que vamos


fazer. – O Joshua retrucou pegando
na minha mão e me puxando pelo

jardim de um jeito gentil, mas


apressado.

Assim que entramos na casa, ele me


encostou na porta, com um braço de
cada lado do meu corpo.

Perdi a respiração.

- Você não faz idéia de como eu


esperei por isso. – Ele sussurrou
extremamente perto do meu ouvido.

Sua voz parecia a de um predador.

- J-Joshua... – Eu murmurei sem


saber o que dizer, sentindo cada
parte do meu corpo perdendo o

fôlego.

Ele me empurrou ainda mais contra


a parede e eu pude senti o volume
da sua calça muito próximo da

minha virilha. Reprimi um gemido.

- Eu amo tanto você. – Ele parecia


igualmente sem ar.

- Eu... Ai meu Deus, Joshua, eu


também.

Ele se afastou um pouco de mim,


como se estivesse pensando no que
fazer.

- Eu vou tomar banho, ok? – Ele


disse lentamente, olhando fixo para
mim, tão perto que eu poderia
ver o ar saindo da sua boca e
rodopiando até chegar aos meus
ouvidos. – Volto daqui a 10
minutos.

Então ele saiu e eu senti um arrepio


de frio quando o corpo quente dele
se afastou do meu.

10 minutos.

Eu só tinha mais dez minutos de


pureza.

Ri com esse pensamento, mas


estava nervosa. Tão nervosa que
me joguei no sofá e tentei encontrar
alguma coisa no celular que me
distraísse.

Por sorte, o Edu estava on. Mandei


uma mensagem para ele:

Oi baby, tudo ótimo?

Ele respondeu no mesmo segundo.

Edu Lohan:

Claro e você?

Pensei em dizer para ele o que


estava para acontecer, mas decidi
deixar para depois; ele não
precisava saber.

Susan dos Alvez:

Também. Ei, eu percebi que vc


meio que pariu de falar com a
Mônica

Parou*

Ele demorou um pouco para


responder essa.

Edu Lohan:

Eu ainda não esqueci ela, é claro,


mas acho que... Estou melhorando.
Eu não penso mais tanto nisso,
sabe?

Assenti e começamos a conversar


sobre isso.

Falar com o Edu era leve, era bom.


Tão bom que 10 minutos se
passaram voando e só quando o
Edu

se despediu – dizendo que ia ajudar


a Jane com não sei o que e já
voltava – eu senti falta do Joshua.

Decidi subir as escadas e ir atrás


dele.

Assim que eu cheguei na porta do


quarto senti minhas pernas
tremendo. Dei três batidinhas.

- Não achei que você fosse vim até


aqui em cima. – Ele estava sem
camisa. Tentei não ficar

encarando o corpo perfeito dele,


mas era difícil. Ele parecia um deus
com sorriso pervertido. -

Porém, que bom que você veio.

Ele colocou as duas mãos na minha


cintura e me puxou para dentro do
quarto. Por um segundo ele me

soltou e fez menção de ir até a porta


– provavelmente para trancá-la –
mas então pareceu se lembrar

que ninguém iria nos atrapalhar.

Fiquei na ponta dos pés e nos


beijamos de verdade. Ele me puxou
pela cintura com mais força e eu

senti que estava saindo do chão e


precisava de um apoio, então –
como se estivesse ouvindo meus

pensamentos – ele me colocou


contra a parede.

- Tem certeza disso? – Ele


perguntou quando tivemos que
parar o beijo por causa da falta de
ar.

- Absoluta. – Eu respondi, puxando


ele pela nuca e o beijando
novamente.

Sua mão esquerda desceu pela


minha cintura até chegar no meu
quadril e, em um movimento
rápido,

ela o ultimo botão da minha camisa.


Fechei os olhos e beijei o Joshua
com mais força, para tentar

não suspirar.
A mão do Joshua era longa, quente
e macia, e subiu pela minha barriga
por um segundo antes de

voltar e desabotoar outro botão,


tudo isso tão facilmente que o
Joshua parecia nem ter consciência
do que estava fazendo.

Ele parou de me beijar por um


breve momento e sua outra mão
começou a ajudar a primeira a

desabotoar e, quando eu me dei


conta, a camisa estava sendo
sustentada apenas por um ultimo
botão
rosa.

- Agora eu vou pedir para que você


feche os olhos e só abra quando eu
mandar. – Ele disse baixinho.

Hesitei.

- Apenas confie em mim.

Eu confio, Joshua.

Fechei meus olhos.

Senti as mãos dele abrindo o ultimo


botão e a camisa xadrez deslizou
pelos meus braços, fazendo
algo parecido com cócegas. Ele
desabotoou os botões do pulso e eu
quase consegui ouvi o barulho

da minha camisa caindo no chão.

✣Joshua✣

Ela era tão linda.

Quando finalmente eu consegui tirar


aquela maldita camisa, meu
membro já estava doendo de tão

duro. Eu queria ela. Eu precisava


estar dentro dela. Agora. Por favor.

Minhas mãos já estavam


preparadas para ir no piloto
automático, como sempre faziam:
de um jeito

rápido, para chegar logo aonde eu


queria.

Mas eu as controlei. Não, não iria


ser assim com a Susan. Iria ser
mágico.

Com a mão esquerda, eu acariciei o


rosto dela devagar, o puxando
lentamente para mim. Seus olhos

tremeram, ela queria me ver. Mas


eu sabia que seria melhor apenas
sentir, pelo menos por enquanto.

Ainda sem pressa eu a beijei,


começando com um selinho simples
e depois aumentando para um

beijo intenso, que já já iria acabar


por causa da falta ar. Faltar de ar
era a única coisa que fazia eu parar
de beijar a Susan.

Minha mão direita foi até as costas


dela e brincou por um momento
com o feixe do sutiã, como se eu

não quisesse desesperadamente


tirá-lo. A boca da Susan se afastou
da minha por um segundo e ela

soltou um suspiro baixinho, com os


olhos bem fechados. Ela estava tão
imersa em prazer que eu

decidi não demorar mais e abri o


feixe do sutiã.

- Dê um passo para frente. – Eu


comandei, dando um passo para
trás.

Ela obedeceu e o sutiã foi para o


chão, perto da camisa. Meus olhos
demoraram um segundo para

assimilar o que estava acontecendo;


ela parecia ter sido esculpida por
um pintor italiano.

Pousei uma das mãos em cima de


um dos seios dela, apenas para
testar sua reação. Ela ficou corada

no mesmo segundo. Sorri com


satisfação e fiz movimentos em
círculos que sabia que ela iria
gostar.

E estava certo, na minha segunda


volta ela já estava gemendo
baixinho.

✣Susan✣
A mão dele estava me deixando
louca. Eu nunca tinha
experimentado nada assim antes, eu
só queria

mais, e mais, e mais.

Senti sua respiração ficando mais


ofegante e sorri. Eu deixava ele
assim. Eu.

- Abra os olhos. – Ele pediu, sua


voz saiu rouca, como se ele
estivesse fazendo força para falar.

Fiz o que ele mandou e me deparei


com aquele par de olhos azuis que
tanto amava. Tentei não ficar

com vergonha do meu corpo, mas


era difícil. Ele já tinha visto tantas
mulheres que...

- Você é tão linda.

Isso interrompeu meus pensamentos


negativos como uma parede se
erguendo entre eles e a minha

mente.

- Ah Joshua...

Ele sorriu e me puxou pela cintura.


Gostava da sensação do meu peito
em contato com a pele quente

dele. Todo o meu corpo gostava


daquela sensação.

- Agora, vamos para o próximo


passo.

Assenti com a cabeça e ele me


puxou para cima, fazendo com que
minhas pernas não tivessem outra

opção a não ser ficarem ao redor


do quadril dele.

- Gostei desse passo. – Eu comentei


com um mistura de nervosismo e
prazer.
Ele sorriu, mas não conseguiu
responder. Ele parecia concentrado
demais em alguma coisa outra.

Fomos da parede ao lado da porta


até cama em poucos segundos, e ele
me colocou nela devagar.

Minhas pernas ficaram abertas e o


quadril dele encostava no meu.

- Feche os olhos de novo.

Obedeci, deixando que minha


cabeça repousasse em cima de um
travesseiro que estava no exato

local onde precisaria estar. Joshua


pensava em tudo.

Senti que ele estava se


aproximando de mim por causa da
sua respiração e do seu cheiro bom,
e ele

me beijou devagar. Suas mãos


desceram pela lateral do meu corpo
e seus dedos traçaram círculos na

barra da minha calça.

Ele ainda estava me beijando


quando desabotoou o primeiro
botão e, sem minha permissão, meu

quadril se ergueu levemente. Todo


meu corpo queria o Joshua.

Nos afastamos por causa da falta de


ar e ele desabotoou o outro botão.
Então se afastou de mim e

desceu até as minhas pernas. Fiz


força para manter meus olhos
fechados e me concentrei em sentir.

As mãos precisas dele desceram


minha calça jeans e eu senti a
respiração dele perto das minhas

coxas.

Agora eu estava apenas de calcinha


e ele voltou a subir até o meu
pescoço, depositando um beijo lá,

depois subiu pelo meu queixo,


minha bochecha, minha boca. Cada
toque dele fazia meu corpo se

arrepiar de 100 maneiras


diferentes.

Senti sua mão descendo pela minha


barriga até chega na minha
intimidade. Em um único
movimento,

ele se livrou da minha calcinha.


Todos os pensamentos que eu
estava tendo se evaporaram da
minha

cabeça no mesmo segundo. Ele,


bem devagar, chegou com o dedo
até a minha entrada. Minhas pernas

se abriram ainda mais e eu soltei


um gemido um pouco mais alto do
que pretendia.

Lentamente, ele enfiou um dedo lá,


fez movimentos para frente e para
trás, então enfiou outro. Senti
minhas costas arqueando um pouco.

- J-J-Joshua – Eu tentei dizer


alguma coisa, mas tudo que saia da
minha boca eram gemidos.

- Eu só estou te testando. – Ele


subiu até que sua boca tocasse meu
ouvido. – Se eu for direto você

não vai aguentar.

Mordi o lábio inferior com força,


para tentar me segurar. Senti alguns
movimentos sobre a minha

barriga e percebi que era o Joshua


tirando a própria roupa. Sem
conseguir me controlar, abri os

olhos.
Ele sorriu malicioso ao ver meus
olhos abertos, mas eu não
conseguia dar atenção a isso; estava

ocupada demais observando os


movimentos das suas mãos:
desabotoando a calça, tirando-as,

jogando elas em algum lugar, e por


fim, tirando a cueca.

Fechei os olhos no mesmo segundo.


Não queria ver isso. Queria sentir.

Ele beijou meu pescoço devagar,


uma de suas mãos estava no meu
quadril e a outra segurava as
minhas duas acima da minha
cabeça.

- Eu amo você. – Ele sussurrou


mais uma vez.

Ele entrou devagar dentro de mim,


então foi aumentando o ritmo, indo
mais fundo e meu quadril se

mexeu em resposta. A mão dele que


segurava meu quadril me puxou
para cima.

- JAMES PUTA QUE PARIU! – Eu


gritei quando ele arremeteu com
força. – ISSO TÁ DOENDO
PRA CARA... Pera... Faz mais
disso... – Ele agora estava fazendo
um movimento de vai e vem. – Ai

meu Deus, isso é tão... – Fui


interrompida com o som do Joshua.

Ele estava gemendo. Ele estava


preenchendo todo o meu corpo com
o dele e estava gostando tanto

quanto eu.

Rebolei com o quadril e, de


repente, senti todos os meus
músculos contraindo.

- O que ta acontecendo? – Eu
perguntei sem ar.

Ele sorriu com os olhos fechados.

Então eu senti como se todo o meu


corpo estivesse em choque, todos
os meus músculos, ossos, pelos,

tudo, tudo, tudo estava dentro dessa


transe.

E ai passou, tão rapidamente quanto


veio.

O Joshua saiu de dentro de mim e


se ajoelhou na minha frente. Minhas
pernas estavam tão fracas que
eu deixei que elas caíssem. Desviei
os olhos enquanto ele tirava a
camisinha e jogava em um

lixeirinho exatamente a um metro da


cama. Novamente, o Joshua pensou
em tudo.

Ele olhou para o meu corpo por um


momento, então seus olhos
encontraram os meus. Sorri meio
sem

forças.

Ele mordeu o lábio inferior e se


jogou ao meu lado, me puxando
para os seus braços.

Nos beijamos um vez.

E outra.

E outra.

E o quadril procurava pelo meu,


mas minhas pernas estavam fracas
demais para procurar de volta.

Ele suspirou e se levantou da cama.

- Para onde você vai? – Eu


perguntei quase assustada.

Ele sorriu com o canto da boca e


olhou para o chão, procurando
alguma coisa.

- Vou pegar sua calcinha. – Ele


respondeu dando de ombros.

Me levantei no mesmo segundo,


mesmo sentindo todos os meus
ossos protestando por eu ter feito

isso.

Fiquei em pé na frente dele e nos


encaramos.

- Por que você vai fazer isso?

- Porque se você continuar nua eu


vou querer um segunda rodada e
você não está pronta para isso. –

Ele disse simplesmente, então se


agachou e pegou uma coisa do
chão. – Coloque isso.

- Quem disse que eu não estou


pronta? – Eu perguntei irritada.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Eu disse. Você não está nem se


agüentando em pé.

Levei aquilo como um desafio e


com movimento improvisado joguei
ele na cama. Me sentei em cima
da barriga dura dele e rebolei.

- Pare com isso. – Ele falou com a


voz tremida. Ele não queria que eu
parasse.

- Eu vou mostrar para você quem


não está pronta...

Ele me puxou pela cintura e achei


que fosse me beijar, mas, em vez
disso, me colocou deitada de

novo na cama e me cobriu do


quadril para baixo com o lençol.

- Não sei se você concorda, mas


acho que seria legal você conseguir
andar direito amanha.

Revirei os olhos.

- Você está se achando muito,


Joshua.

Ele se aproximou de mim tão


rapidamente que pareceu apenas um
borrão.

- Se eu quisesse, você não estaria


conseguindo nem falar agora. –
Cada palavra dele me deixava

excitada. Mordi o lábio inferior. –


Mas, eu não quero. Porque eu me
preocupo com você.
Ele pegou alguma coisa da
escrivaninha ao lado da cama. Era
uma cueca. Que ele pôs
rapidamente

antes de entrar no lençol que estava


me cobrindo. Suas mãos me
puxaram pela cintura e eu fiquei a

poucos centímetros dele.

- Eu...– Eu pensei em quais


palavras poderia usar. – Eu não
consegui te dá tanto prazer quanto
você

me...
Ele balançou a cabeça em negativa.

- Nem pense em dizer isso. – Ele


falou baixinho e severamente. –
Essa foi de longe a melhor noite

que eu já tive.

- Mas...

- Você é a coisa mais perfeita que


eu já tive a honra de tocar.

Senti minhas bochechas ficando


vermelhas, mas, pela primeira vez,
não me importei com isso.

- Ainda acho que eu poderia ter


feito mais. – Eu comentei,
desviando os olhos.

Ele tocou na minha bochecha, para


que eu olhasse para ele.

- Eu vou te ensinar tudo.

- O que você disse?

- Eu vou te ensinar tudo o que eu


sei. Todas as posições, em todos os
lugares, em todos os horários. –

A voz dele saiu como se isso fosse


uma promessa. – Nós temos todo o
tempo do mundo.
- Tem certeza que você não vai
desistir de mim?

Ele riu baixinho.

- Eu não sou capaz de desistir de


você.

26. Amor, amor, amor

✣Joshua✣

Ela corou quase que


instantaneamente. Será que nunca
iria se acostumar com o meu jeito
direto de

explicar o amor que eu sinto?


Espero que não. Eu gostava de vê-
la sem graça.

- Não diga isso, Joshua. Você não


sabe o dia de amanhã. – Ela disse
baixinho e eu senti uma pontada

de tristeza no seu tom.

- Pare com isso, ok? – Eu sussurrei


e a puxei para mais perto. Os
contornos do seu corpo pareciam

completar os do meu. – Eu nunca


vou desistir de você e ponto.

Ela desviou os olhos.


- Eu não sei se mereço todo esse
amor.

Uma das minhas sobrancelhas se


levantou sem minha permissão,
como sempre acontecia quando eu

ficava intrigado com alguma coisa.

- Do que você está falando? – Eu


perguntei confuso. – A única pessoa
aqui que já fez algo

verdadeiramente ruim aqui foi eu.

Ela olhou para mim de novo e todas


as minhas lembranças voltaram.
Queria poder pedir desculpas
para aquelas garotas.
Principalmente para a primeira de
todas.

- Não diga isso... - Ela começou a


pedir.

- Claro que digo. – Minha voz saiu


suave, mesmo que eu não estivesse
assim por dentro. Eu odiava

lembrar do idiota que era.

Ela balançou a cabeça em negativa


e sua mão subiu pelas minhas
costas até chegar à minha nuca –

provocando uma série de arrepios


no caminho – e em seguida me
puxou para um beijo. Retribui no

mesmo segundo.

Nunca fiz tanta força para segurar


minhas mãos. Eu queria tanto um
segundo round. Só mais um, juro.

E a boca dela não estava ajudando;


cada movimento me fazia ter
vontade de puxá-la pela cintura e

montá-la em cima de mim para ela


rebolar de novo, só que dessa vez
eu não iria dispensá-la. Esse

pensamento fez meu pau ficar tão


duro que eu ajeitei o quadril para
ela não sentir.

Quando ficamos sem folego, eu já


estava quase implorando por uma
trégua.

Ela se aninhou no meu peito e


suspiro. Eu já estava sorrindo antes
mesmo de notar sua mão no meu

quadril. Senti todos os meus


músculos ficando tensos.

- Por favor... – Eu pedi quase sem


ar – Coloque uma roupa.

Ela revirou os olhos e tirou a mão


do meu quadril. Droga.

- Eu também quero um segundo


round. – Ela falou mordendo o
lábio inferior.

Tudo na sua voz estava programado


para ser sensual. Essa menina
deveria ter o mínimo de respeito

pelo meu pau e a situação


complicada em que ele se
encontrava.

- Tem certeza disso? – Eu


perguntei.

Era um teste.
- Claro.

Nem esperei ela dizer outra coisa e


arranquei o lençol que estava nos
cobrindo, deixando todo o

corpo perfeito dela exposto. Desci


o olhar até chegar às suas pernas e
percebi que elas tremiam. Era
obvio que era não estava
preparada.

Segurei sua cintura com firmeza e a


puxei para cima da minha barriga.
Tentei ignorar o fato de ela

está sem calcinha, mas era difícil.


Ela fechou os olhos e eu deixei
minhas mãos descerem até as suas
pernas e dei um leve aperto. A

Susan soltou um gemido tão alto


que eu a soltei no mesmo segundo.

Ela saiu de cima de mim em um


pulo e se levantou da cama.
Suspirei e me levantei também.

Me aproximei dela devagar, com


medo de alguma reação ruim e
esperando que ela se afastasse. Mas

ela não se mexeu, apenas continuou


me olhando como se pedisse
desculpas.

Pensei um pouco no que iria dizer.

- Susan, você sabe que, se tudo der


certo, nós vamos casar, não é?

Ela parecia confusa com o que eu


estava falando. Fiz força para
manter meus olhos fixados nos dela

e não no seu corpo.

- Sei. – Ela respondeu baixinho,


quase sem voz.

- E você sabe que eu quero passar a


minha vida inteira acordando com
você ao meu lado?

Um sorriso tímido apareceu no


lugar da expressão confusa dela.

- Sei.

- Então não precisamos de um


segundo round hoje. Nem amanhã. –
Eu parei e esperei enquanto ela

assimilava isso. – Temos o resto de


nossas vidas.

Ela assentiu devagar.

- E... O que vamos fazer agora?


- Bem, temos a casa toda para nós.
Aposto que deve ter algo de bom
para fazer.

Ela pareceu pensar um pouco, então


deu um pulinho. Isso me lembrou o
quanto ela era mais nova do

que eu; não que isso importasse.

- Vamos ao jardim, como nos


filmes.

Eu ri do jeito romântico dela.

- Claro, quer que enquanto nós


andamos você me abrace tão forte
que eu vou me desequilibrar e você
vai cair em cima de mim para nós
corarmos e depois nos beijarmos
loucamente até decidirmos que o

céu está bonito o bastante para ser


observado hoje?

Ela riu baixinho e me empurrou de


leve.

- Claro, mas acho que preciso


colocar uma roupa antes. – Ela
disse ficando vermelha.

Assenti. Obviamente, não era um


problema para mim ela está desse
jeito, mas não poderia culpa-la
por ficar com vergonha.

- Eu vou te esperar na sala. – Eu


falei sorrindo e peguei minha calça
jeans no chão. – Quer que eu use
isso?

- Vai me ajudar a manter a


concentração.

Tentei me manter firme e não beijar


ela agora mesmo. Respirei fundo.

- Concordo plenamente.

Sai do quarto com vontade de ficar


mais. Assim que a porta se fechou
eu senti toda a realidade dando
voltas na minha cabeça: eu fui o
cara da primeira vez da Susan. E
adoraria ser o da ultima – depois

de ter sido o de todas.

Senti como se tudo estivesse se


encaixando agora; o número de
meninas que eu já fiquei foi apenas

para me treinar. Me treinar para eu


ser o cara da vida da Susan. Tudo
agora fazia sentido. Eu

finalmente entendia por que nunca


me senti completamente satisfeito
com as outras.
Porque sempre foi a Susan.

Ela era quem eu queria desde o


começo, desde aquela primeira
garota morena e extremamente
meiga

com quem eu tive minha primeira


vez.

Sorri. Era bom saber das coisas.


Era bom saber que eu zerei uma
parte da vida.

Fui até a sala, sentei no sofá e


esperei ela chegar.

Ela veio alguns minutos depois,


usando um short jeans e uma camisa
de time. Minha camisa de time.

- As duas coisas que eu mais amo


no mundo: Você e Flamengo. – Eu
disse sorrindo e me levantando

do sofá.

Ela revirou os olhos.

- Eu só vestir porque ela é a menor


camisa que você tem.

- Ah não... Não me diga que você é


Vasco. – Eu pedi, mas na verdade
isso não importava. Ela podia
ser até Fluminense que eu não me
importaria.

- Eu sou São Paulo.

- Ufa, posso continuar namorando


com você sem desonrar minha
família. – Coloquei a mão no peito

como se estivesse aliviado.

Ela riu por um minuto.

Então ficou séria.

- Diga isso para o Michael.

Suspirei.
- Não vamos voltar para esse
assunto de novo, ok?

Ela pareceu ficar irritada com o


que eu disse.

- Por que você sempre defende ele?


Não tá vendo que ele vai fazer de
tudo para terminar nosso

namoro?

- Eu que te pergunto: não tá vendo


que nada nesse mundo vai fazer eu
terminar com você?

O ombro dela relaxou um pouco,


mas ela ainda parecia estressada.
Eu não tinha noção do quanto ela

odiava o Michael.

- Eu vi ele conversando com a Jane.


– Ela disse devagar, sua voz dando
uma leve tremida no final do

nome da ruiva. – Eles juntos... Eu


não saberia dizer até onde eles são
capazes de chegar.

Isso não me abalou. Eu não tinha


medo do meu irmão mais novo e da
minha “ex” problemática. Mas a

Susan parecia estar fazendo força


para não gritar.
Fui até ela e a abracei. Ela colocou
a cabeça no peito e respirou fundo.
Será que ela gostava do meu
perfume tanto quanto eu do dela?

- Eu não vou deixar nada acontecer.


– Sussurrei enquanto afagava o
cabelo dela. – Confie em mim.

- Eu confio em você, é só que... –


Ela se afastou um pouco para poder
olhar nos meus olhos. – Eu não sei
o que eu faria se eles conseguissem
o que querem.

Ouvir ela falando isso me fazia ter


vontade de ir até onde o Michael
estava só para descer o cacete

nele. E mandar alguma garota bem


forte fazer o mesmo com a Jane.

- Não pense nisso. – Eu disse com


o tom mais doce que minha voz
podia alcançar. Ele parecia rude

comparado com o tom normal do


Nicolas, mas conseguia acalmar a
Susan. – Vem, vamos fazer nossa

cena de filme.

Ela sorriu.

- Vamos.
[...]

Acordei com a mão da Susan


deslizando pelo meu braço. Acho
que eu ainda estava sonhando.

Pisquei os olhos algumas vezes


para ter certeza que a visão dela
abraçada comigo era real. Por
sorte, era sim.

Na noite de ontem, a gente foi até o


jardim e conversamos sobre os
nossos gostos enquanto

olhávamos o céu. Parecia mesmo


cena de filme. Então, começou a
chover e tivemos que voltar

correndo para casa. Assistimos uns


três episódios de The Voice US. –
mas como ela estava nos meus

braços enquanto assistíamos eu não


consegui prestar muita atenção – e
acabamos voltando para o

meu quarto. Ela caiu no sono quase


que no mesmo segundo.

Posso dizer que foi a melhor noite


da minha vida.

Porque foi.
Foi a primeira noite em que eu me
senti amado de um jeito que se eu
descrever iria parecer

extremamente gay.

Deixei que a mão dela subisse e


descesse pelo meu braço. Ela
parecia está em um sonho tão bom
que

eu não tive a coragem de me


levantar da cama.

Depois de um tempo, ela virou para


o outro lado. Fiquei tentando a
passar a mão pela sua cintura e
dormirmos de conchinha, mas, em
vez disso, me levantei da cama
devagar.

Como eu tinha combinado, liguei


pro Bruno assim que sai do quarto.

Ele atendeu no sexto toque. Aposto


que estava dormindo, aquele idiota.

- Oi garoto da pesada.

- Oi Brubru.

- Por que veio me incomodar a essa


hora da manhã? – Ele perguntou
fingindo uma irritação que eu
sabia que era mentira. Ele nunca se
importava com isso.

- Porque ontem eu fui no paraíso e


voltei.

Ele demorou um segundo para


entender.

- Não me diga que...

- Claro que digo. – Eu disse


sorrindo sem perceber.

- PUTA QUE PARIU!

- EU SEI!
- MEU DEUS, VOCÊ DEVE ESTÁ
TÃO GAY SALTITANDO POR AI.

- VOCÊ NÃO FAZ IDEIA! EU


QUERO SAIR POR AI E GRITAR
PRAS PESSOAS QUE EU FUI O

PRIMEIRO CARA DA SOPHIA.

- E se Deus quiser o único.

- Exatamente.

Gostava disso no Bruno: ele sabia


o que eu estava pensando. Ele me
conhecia mais do que todos os

meus irmãos juntos.


- Eu iria parecer muito viado se
dissesse que estou com inveja?

- O próprio Nicolas.

Ele riu.

- Vai se foder.

Então foi minha vez de ri.

- Zoa, claro que não. Mas por que a


inveja?

Ele suspirou do outro da linha e eu


entendi logo o motivo.

- Amanda.
- Pensei nisso.

- Eu sei que pensou. – Ele retrucou.


– Nossa situação tá difícil.

Sentei no sofá. Ele iria começar a


falar, era melhor eu está bem
acomodado.

- Conte.

- Ela gosta de mim. Já disse isso


com todas as letras.

- Então qual o seu problema? – Eu


interrompi ele.

- Me deixe falar que eu conto. – Ele


esperou um pouco o meu silencio,
então continuou: – Nós não

conseguimos nos ver muitas vezes,


o que fode um pouco as coisas. Eu
só beijei ela três vezes, acho.

Isso é tão pouco, tão frustrante,


tão...

- Você fala como se fossem um


casal de 13 anos. – O cortei de
novo. Eu não conseguia me manter

calado por muito tempo.

- Cala a boca, nem todo mundo


mora com a namorada.
- Eu sei. Aliás, quase ninguém mora
com a namorada e mesmo assim
tem um monte de gente

namorando.

- Mas, nós não namoramos ainda.

Ri com ironia.

- Não, vocês apenas se pegam e se


gostam; isso com certeza não é um
namoro.

- Ela quer um pedido oficial, eu sei


disso. Mas, eu queria provar tudo
que ela tem primeiro.
- Acho que não em.

Ele respirou fundo.

- E o que eu faço?

- Pede ela em namoro de um jeito


bem fofo e adorável. – Respondi o
obvio. O Bruno era tão lento às

vezes.

- Tipo...?

- Sua mãe é dona de uma


floricultura.

- O que você tem em mente? – Ele


perguntou intrigado.

- Flores que só a porra e muitas


palavras meigas que você não
conseguiria pensar sozinho.

- Não me subestime.

Ri baixinho.

- Te subestimar é meu passatempo.

- Você é um monstro. – Ele rebateu


rindo.

- E você vai conseguir a garota da


sua vida, e daqui até o
acampamento vocês já vão ter feito
de

tudo.

- Estou apostando todas as minhas


fichas nisso.

- Eu sei que vai. Você confia em


mim?

- Jamais.

Rimos ao mesmo tempo.

- Assim não tem como eu te ajudar.

- Eu posso pedir pro seu


irmãozinho romântico.
- Nicolas ou Michael? – Eu
perguntei levantando uma
sobrancelha.

- Claro que o Nicolas, o Michael


não tem nem coração quem dirá um
coração romântico.

- Não fale assim do meu irmão. –


Eu disse rindo, perdendo todo o
credito do meu sermão.

- Ele fala coisa pior de você.

Respirei fundo.

- Que nada, ele já esqueceu aquilo.


- Se eu lembro como se fosse ontem
imagina ele.

Meus punhos se fecharam. Não


gostava de lembrar do que
aconteceu.

- Eu já pedi desculpas para ele.

- Mas desculpas não vai apagar o


que...

- Tá Bruno, já chega.

- Foi mal, esqueci que você ainda


não tinha se desculpado.

Bruno pegava pesado quando


queria.

- Por favor, pare de falar disso.

- Parei.

- Vamos falar da Amanda?

- Meu assunto preferido.

- Hoje de tarde eu passo na sua


casa e a gente faz um plano.

- Fechado.

- Ei, acho que a Susan vai acordar.


Tchau Brubru.
- Tchau loirinho.

Desliguei o celular. Era bom falar


com o Bruno, mas ele tocou no pior
assunto possível.

Balancei a cabeça para tentar


esquecer. Ele estava certo, eu não
tinha me perdoado ainda. E acho
que o Michael também não.

Espero que ele não faça nada de


mal com a Susan por minha causa.

Não, seu idiota, você espera que


consiga protege-la do que ele vai
fazer, pensei, por que sim, ele vai
fazer alguma coisa.

E agora junto com a Jane.

Respirei fundo.

Peguei duas maças na cozinha e


subi as escadas para o meu quarto.
Abri a porta devagar e vi que ela

estava sentada na cama, tocando no


lugar onde eu estava deitado.

Então ela me viu.

- Bom dia. – Ela cumprimentou com


um sorriso tão apaixonado que nem
parecia real. – Por que
acordou cedo?

- São 10 da manhã. – Eu rebati


rindo e me aproximando dela.

- Cedo demais para um domingo.

- Concordo.

Ela se levantou e me deu um beijo


na bochecha.

- Ontem foi o melhor dia da minha


vida. – Ela sussurrou no meu
ouvido.

- E se depender de mim vai ser


pouco comparado com o resto da
sua vida.

Ela sorriu e olhou nos meus olhos.


Sempre iria adorar aquele tom de
castanho escuro dela, quase

preto. Ela não precisava de um par


de olhos azuis para ser linda.

- Eu amo você.

- Ah, me conte uma novidade.

Ela riu e revirou os olhos.

- Por que tão convencido?

- Por que tão perfeita?


Ela corou quase que
instantaneamente.

Nunca iria me cansar disso.

P. O. V’ S Susan

Não vou tentar descrever como foi


o momento em que eu percebi o que
tinha feito. Não existem

palavras necessárias para


descrever. Ainda não inventaram
algo forte o bastante para eu
comparar

com o que estava sentindo. E eu


amava isso. E a única coisa que eu
queria era que o Joshua estivesse
tão nas nuvens quanto eu. Mas, não
sei se ela possível alguém está tão
nas nuvens assim.

Eram 14:00 quando o Nicolas


chegou em casa, dando pulinhos.

- O FELIPE É TÃO PERFEITO! –


Ele gritou enquanto passava pela
porta.

O Joshua sorriu deitado no sofá.

- O que aconteceu com o casal do


ano?

- Ai Joshua, você não tem noção do


quanto eu amo aquele menino.

- Claro que tenho, eu amo a Susan.


– Ele disse tão naturalmente quanto
quem diz que gosta de pizza.

Senti meu coração acelerando.

- Eita é, esqueci. – O Nicolas


sorriu e olhou para mim. – Garota
de sorte.

- Você também.

Ele pareceu ficar ofendido.

- Não use o feminino para falar


comigo.
- Desculpa. – Pedi com
sinceridade, não queria magoar ele.

- Tudo bem, você não fez por mal. –


Ele veio para onde eu estava no
sofá e me deu um beijo na

bochecha. – Então, querem ouvir


como foi minha noite?

O Joshua se levantou.

- Na verdade, eu estava esperando


você para poder ir embora... O
Bruno precisa da minha ajuda para

umas coisas.
- Ok, então nos vemos mais tarde. –
Eu disse me levantando e dando um
selinho nele.

- Mal posso esperar.

E foi embora.

Nicolas olhava para mim com uma


cara de pervertido. Senti minhas
bochechas ficando vermelhas.

- Não me olhe assim.

- Ah, nem venha, me conte logo


tudo que aconteceu noite passada.

Suspirei.
- Primeiro, me diga sobre o Felipe.

Ele nem hesitou antes de começar a


falar sem parar.

Pelo pouco que eu prestei atenção –


meus pensamentos estavam quase
todos voltado a um certo loiro

– o Felipe tinha apresentado TODA


a família dele ao Nicolas e, por
incrível que pareça, nenhum

parente dele era homofobico. O


Nicolas disse que nem parecia real;
todos o adoraram de primeira.

- Sério? – Eu perguntei ainda meio


distraída.

- Sério! Eu também fiquei sem


acreditar. Parece que o avô dele era
gay e todos foram criados para

aceitar isso como uma coisa


normal.

- Isso é lindo.

- Eu sei, nunca estive tão feliz. –


Ele disse sonhador.

Continuamos a conversa sobre isso


por um tempo e um assunto foi
puxando o outro, até que a gente
percebeu o quanto o tempo estava
passando rápido.

- Já são 17h! – O Nicolas falou


assustado olhando para o relógio da
parede.

- E nada do Michael chegar.

- Fala como se a ausência dele não


fosse uma benção pra você. – O
Nicolas rebateu sorrindo.

- Oh, eu deixo transparecer meu


ódio?

- Tem um pouco de tom na sua


ironia.
Rimos.

E quase como se tivesse sido


ensaiado, o Michael entrou na sala.

- Oi. – Ele cumprimentou


secamente.

- Oi Michael, por que essa cara de


raiva? – O Nicolas perguntou
parecendo preocupado. Era tão

fácil esquecer que eles eram


irmãos.

- Nada não. – Ele respondeu frio.

- Eu conheço você.
- Não, não conhece. – Ele olhou
para o irmão com tanta raiva que eu
me preparei para ir em defensa

do Nicolas no mesmo segundo.


Então os ombros do Michael
relaxaram. – Só me deixe em paz,
ok?

Eu nunca tinha visto o Michael


daquele jeito.

- Se precisar de ajuda...

- Eu sei Nicolas, eu sei. – Ele disse


e em seguida subiu as escadas.

- Que estranho. – Eu comentei.


O Nicolas deu de ombros.

- Nem mesmo o Michael está imune


às dores da vida.

Pensei sobre isso; o que seria forte


o bastante para abalar alguém como
o Michael? Como machucar

uma pessoa que não se importa com


mais nada a não ser o próprio
nariz?

Ou, talvez, exista alguém que o


Michael se importe.

Guardei esse ultimo pensamento.


Gostaria que esse alguém fosse a
Clara.

[...]

Quando a segunda-feira chegou, eu


ainda não tinha parado de sentir as
sensações do sábado. Eu me

sentia uma pessoa nova.

Me levantei sem precisar que


ninguém me acordasse. Fiz minha
higiene e coloquei uma calça jeans

preta e uma camiseta soltinha.

Minha vontade era usar a camisa do


Flamengo do Joshua, mas acho que
não seria apropriado para ir

ao colégio.

Desci de elevador e fui direto para


a mesa, onde o Nicolas e o Michael
já estavam tomando café.

- Bom dia baby! – O Nicolas


cumprimentou animado.

- Bom dia Susan. – O Michael


cumprimentou com algo parecido
com tédio.

- Bom dia... – Eu respondi indo me


sentar ao lado do Nicolas.
Comemos em silencio até o Joshua
chegar.

- Sinto dizer, mas nós vamos ter que


nos apressar hoje.

- Por quê? – O Michael quis saber.

- Porque eu tenho prova e preciso


chegar cedo. – O Joshua explicou
rapidamente e pegou a chave do

carro em cima de uma mesinha.

Assentimos com a cabeça e nos


arrumamos rápido. 5 minutos
depois todos já estavam dentro do
carro – eu no banco do passageiro.

- Ei, me faça um favor hoje. – O


Joshua enquanto dirigia. – Dê um
jeito de levar a Amanda até o

refeitório assim que começar o


intervalo.

- O Bruno tem alguma coisa a ver


com isso?

Com o canto do olho, eu podia ver


o Joshua sorrindo.

- Claro.

[...]
- OI ANJOS! – Eu cumprimentei
dando pulinhos.

O Edu me deu um beijo na


bochecha e as meninas me
abraçaram.

- Por que tanta animação? – A Bia


perguntou levantando uma
sobrancelha. Ela era bonita o
bastante

para parecer uma Hunter com essa


expressão – só faltava os olhos
claros.

- Porque meu namorado é perfeito,


ué.

Elas riram.

- Isso a gente já sabe, mas o que ele


fez dessa vez? – A Elena mexia no
cabelo longo enquanto falava, como
se procurasse a melhor pose para
ficar.

- Tudo. – Eu respondi com um ar


misterioso.

O Edu foi o primeiro a entender.

- Não acredito que você...

- É, eu também não acredito. –


Confessei, corando de leve.

As outras garotas levaram um


segundo para se ligar no que estava
acontecendo.

Então a Isabela deu um grito.

- AI MEU DEUS, A SOPHIA


AGORA FAZ PARTE DO CLUBE!

Ri com a animação dela.

- EU ACHEI QUE ELA FOSSE


PURA, SOCORRO! – A Gabrielle
completou, gritando junto com a

Isabela.
- Pelo jeito ninguém se rende
àqueles olhos azuis. – A Elena
disse rindo.

- Meu Deus, Susan... Conte direito.


– A Iza pediu. Ela estava vermelha
só de imaginar.

- Não tem muito o que contar, só


posso dizer que foi tudo perfeito.

- NÃO, NADA DISSO. A GENTE


QUER DE-TA-LHES. – A Isabela
soletrou na minha cara.

- Deixem a menina. – A Bia veio na


minha defensa.
- Af Bia, você sempre propagando
a paz. – A Isabela reclamou,
revirando os olhos.

- Graças a Deus. – Eu disse rindo.

- Não acredito que você transou


com um Hunter. – O Edu finalmente
falou.

Me virei para ele.

- Ele não é só um Hunter. Ele é meu


namorado.

- Pior ainda. – Ele rebateu.

- Ei, pare com isso! O Michael


também é um Hunter.

Nem preciso dizer quem falou isso.

- Eu sei Clara, por isso eu rezo


todos os dias para Deus te perdoar
por beijar um cara daqueles.

- Já chega, Edu. – A Bia disse se


colocando na frente dele. – Você
tem que superar aquilo.

- É bem fácil falar.

- Não, é fácil fazer também. – A


Amanda se intrometeu. – Todo
mundo aqui sabe que o Michael fez
coisas ruins com você, mas você se
iguala a ele ao generalizar todos de
uma família por causa do que ele
fez.

O Edu olhou para ela sem acreditar.

- O que eu tenho que fazer então? Ir


lá e dizer que perdoo ele?

- Claro que não. – Eu disse. –


Apenas pare de falar do Joshua
como se ele fosse como o irmão.

- Faça como você faz com o


Nicolas: finja que ele é apenas um
Montenegro. – A Bia deu a dica.
O Edu revirou os olhos.

- É fácil esquecer que o Nicolas é


um Hunter, todo mundo sabe disso.

- Sim, também é fácil esquecer isso


com o Joshua. – Percebi que estava
na defensiva. Como se

estivesse falando da minha família.


Estranho.

- Tá, me desculpe então. – Ele


pediu e eu percebi que estava sendo
sincero. – Eu só não quero que

você se machuque, ok?


- Obrigada por cuidar de mim, mas
eu realmente não preciso de
proteção contra o Joshua.

- Exceto a camisinha. – A Isabela


comentou, fazendo todo mundo ri.

- Ah, vai se foder. – Eu respondi


rindo também.

[...]

Quando deu a hora do intervalo, eu


já tinha falado para todas as
meninas o que o Joshua me disse e
a gente nem deu tempo da Amanda
pensar para onde ir; fomos direto
para o refeitório.

Assim que chegamos lá eu quase


soltei um grito de surpresa.

Tinha flores em todos os lugares:


no teto, no chão, nas mesas, na
cantina, até no cabelo das moças da
limpeza.

- O que é isso? – A Amanda


perguntou colocando a mão sobre a
boca.

- Não faço a menor...

- OI MINHA GENTE.
Todos se viraram para o palquinho
do refeitório e lá estava o Bruno,
com uma camisa preta e uma

rosa na mão.

- Vocês devem estar se perguntando


por que o doce lugar das refeições
está lotado de flores. – Ele

começou a dizer. Eu e todo o resto


das pessoas que estavam lá se
aproximaram dele. – Eu posso

explicar, mas antes vou pedir para


vocês sentarem nas mesas.

Todos obedeceram ele. A Amanda


mal conseguia andar por causa do
choque de ver o Bruno ali.

- Primeiro de tudo, gostaria que a


Amanda Sakamura subisse no
palco.

- Ai meu Deus, ele sabe o


sobrenome dela. – A Clara
sussurrou pasma. – Quase ninguém
sabe.

- Bruno é um nível superior. – Eu


comentei no mesmo tom que o dela.

Bem devagar, a Amanda subiu no


palco.
- Não acredito que você vai fazer
isso se novo. – Ela tentou dizer
baixinho para ele, mas o microfone
captou tudo.

- Claro que vou, você merece. –


Ele rebateu sorrindo. – Então,
vamos as respostas: minha mãe é

dona de uma floricultura.

- Notei. – A Amanda comentou,


ficando ainda mais vermelha.

- Bem, caso vocês tenham se


perguntado, aqui tem 1998 flores de
todos os tipos.
- O ano que eu nasci. – A Amanda
disse sem acreditar.

O Bruno sorriu, olhando para a sua


plateia.

- Exatamente. Fiz questão de que


fosse um numero especial... E nada
mais especial do que o ano que

você nasceu. – Ele concluiu


olhando para ela. – Mas, não foi
por isso que eu vim aqui.

- E foi por quê? – Ela perguntou


tímida.

- Porque eu queria te fazer uma


pergunta importante e achei que
esse seria um bom jeito de fazer
isso.

- Qual... Qual a pergunta? – A


Amanda mal conseguia falar de
emoção.

Ele sorriu ainda mais e foi para


perto dela.

- Você aceitaria namorar comigo?

- AI MEU DEUS, É CLARO QUE


SIM. – Ela respondeu e se jogou
nos braços dele.

Nesse momento, centenas de flores


foram jogadas para eles. Era
inacreditável.

O Bruno se afastou dela bem a


tempo de pegar uma tulipa do ar.

- Sinto muito, mas eu não sei qual é


a sua flor favorita. – Ele disse
abaixando os olhos.

- Qualquer uma... Ai meu Deus,


isso não importa. – Ela respondeu e
eu percebi que seus olhos

estavam cheio de lagrimas.

- Claro que importa. – Ele rebateu,


ainda com a tulipa não mão.
Ela olhou para a flor que ele estava
segurando.

- É essa mesmo. – Ela falou


exasperada.

- Tem certeza?

- Eu amo tulipas.

Ele sorriu como se tivesse ganhado


um presente e entregou a tulipa para
ela.

- Pra você.

[...]
Depois disso, não aconteceu mais
nada de relevante na semana.

Tanto que, num piscar de olhos, já


era sexta e todos só falavam sobre
o acampamento de amanhã.

- Queria que o Lion fosse. – A


Elena reclamou fazendo um
biquinho.

- Queria que o Cavalcante fosse. –


A Isabela imitou.

- Queria que o Brun...

- Tá, já entendemos que vocês


querem muitas coisas que não vão
conseguir ter. – A Gabi interrompeu

a Amanda.

- Que grosseria. – A Isabela cruzou


os braços, irritada.

- Foi mal, mas vocês já reclamaram


a semana toda por causa disso.

- A Gabi tá certa, tem coisas piores


do que isso na vida. – O Richard
disse, olhando para a mesa do

outro lado do refeitório. A mesa


onde a Bia estava com as amigas
dela do primeiro ano.
- Ah Rick... – A Elena começou.

Ele levantou a mão.

- Não quero a pena de vocês.

O Edu respirou fundo.

- Sei como é.

- Meu Deus, parece que a gente só


tem amigo na friendzone. – A
Isabela comentou de um jeito quase

maldoso.

- Não é nossa culpa se as meninas


andam cada dia mais difíceis. – O
Richard rebateu na defensiva.

- Mas é culpa de vocês essa falta


de atitude. – Eu me intrometi na
conversa. – Vocês deveriam ser

mais como o Bruno e o Joshua.

- Nem todo mundo tem a mãe dona


de floricultura. – O Edu falou triste.

- Não é preciso encher isso de


flores para ser romântico. – Eu
rebati. – Se vocês tiverem o
mínimo

conseguem
- E qual o mínimo? – O Richard
perguntou ainda olhando para a
mesa da Bia.

- Coragem.

Os dois olharam para mim ao


mesmo tempo.

- Não é tão simples. – O Edu


reclamou.

- Eu sei que não, mas também não é


a coisa mais difícil do mundo.

- A Susan tá certa, eu já cansei de


dizer pro irmão deixar de ser
otário.
Ele se levantou da cadeira, irritado.

- Ok, então podem anotar: Nesse


acampamento eu vou arranjar
coragem nem que seja de outro

planeta.

- E eu também. – O Edu se levantou


também.

- Pelo visto esse acampamento vai


ser bom. – A Gabi sussurrou no
meu ouvido e eu concordei com a

cabeça.

27. O Acampamento
- Acorda gata.

Abri os olhos devagar. Não


precisava ver para saber que
aquela voz era do Nicolas.

- Que horas são? – Perguntei me


sentando na cama.

- Daqui a 4 horas é o acampamento


e é melhor a gente deixar tudo
arrumado de agora.

Suspirei. Não estava com sono, mas


a preguiça me dominava.

- Tem que ser agora?


Ele achou graça da minha voz
arrastada.

- Tem que sim, levanta logo. – Ele


me puxou pela mão e eu me levantei
sem nem um pingo de

disposição.

- Sério isso?

Ele torceu o nariz.

- Sim e você precisa ir escovar o


dentes, amada.

Revirei os olhos e corri pro


banheiro.
Depois de fazer o que ele mandou,
fiquei me olhando no espelho por
um tempo. Tinha alguma coisa

diferente em mim.

Eu ainda era a mesma Susan, pelo


menos por fora.

Mas tinha algo fora do normal.


Desde sábado eu tenho me sentido
renovada, como se tivesse passado

para um novo mundo desconhecido.


Bem, acho que foi exatamente isso
que aconteceu.

Me pergunto quem foi a garota da


primeira vez do Joshua e se ele
também se sentiu assim depois

de... bem, você sabe.

Balancei a cabeça para me livrar


desses pensamentos e sai do quarto.
Nicolas estava me esperando

na borda da cama, mexendo no


celular.

- Pronto.

- Demorou um pouco talvez muito.


– Ele disse e deu uma risadinha. –
Mas tudo bem, foi até bom pra
eu ver aqui todos os detalhes.

- Detalhes de quê? – Perguntei


enquanto ia me juntar a ele na cama.

- Do acampamento, ué. Pelo que eu


consegui descobri, apenas 50
pessoas vão.

Olhei pra ele surpresa.

- Mas não era o ensino médio todo?

- É, mas parece que a maioria das


pessoas não gosta de floresta.

- Otários.
Ele riu.

- Como se o motivo pelo qual você


vai fosse a floresta e não o meu
irmãozinho loiro.

Mordi o lábio inferior para indicar


que ele estava certo.

Ele deu um sorriso malicioso e eu


retribui.

Mesmo com o Joshua sendo meu


namorado e o grande amor da
minha vida; o Nicolas empatava
com

ele no quesito “Melhor Hunter”.


[...]

- Uau. – Foi o que eu consegui


dizer.

O lugar era estonteante. Árvores


altas e flores coloridas nos
cercavam na maior parte, mas bem
ao

sul do local onde estavam as nossas


barracas, ficava uma pequena praia.

Acho que, se o Paraíso existe – e eu


acho que existe –, ele é muito
parecido com esse lugar.

- É tudo tão lindo. – A Bia suspirou


sem folego.

Todos concordaram sem palavras.


Nesse momento, eu só queria ficar
em silêncio e admirar o quanto

Deus é perfeito em tudo o que faz.

Senti uma mão sendo passada pelo


meu ombro e automaticamente
pensei que fosse o Joshua. Mas,

quando me virei para ver quem era,


os olhos castanhos do Edu se
fixaram nos meus.

- Esse é o lugar perfeito para eu me


declarar pra Monica. – Ele
sussurrou quase inaudível.

Sorri.

- Concordo plenamente.

Ele me puxou mais para perto e eu


encostei minha cabeça em seu
ombro. Mesmo que nós não

fossemos amigos desde sempre, eu


sentia um amor de irmão
extremamente forte pelo Edu.

- Oi Lohan.

Me virei na mesma hora que o Edu.


O Joshua o olhava de um jeito
estranho, como se tivesse se

segurando para não ter raiva.

- Pode me chamar de Edu. – O


ruivo disse estendendo a mão.

- Por quê? Assim como eu, você


acha que seu sobrenome não define
quem você é? – Ele perguntou

analisando a reação do Edu. Eu


sabia que era um teste.

- Sinto muito pelo que minha irmã


fez, mas não tenho vergonha do meu
sobrenome.
- Não disse que você tinha
vergonha.

Eles estavam prestes a se fuzilarem


com o olhar quando eu resolvi me
intrometer na conversa.

- Ei ei ei, acalmem os nervos. –


Pedi levantando as mãos em
redenção. – Joshua, pare com isso.

Ele bufou irritado.

- Sério, pare. Vocês ainda não


entenderam que irmãos são
diferentes entre si? – Esperei um
segundo
para continuar. – Edu não é a Jane e
Joshua não é o Michael, simples
assim.

- Você tá certa. – O Edu disse


depois do que pareceu o mais longo
dos segundos. – Me desculpe

Joshua.

O Joshua sorriu.

- Me desculpe também. Eu fui um


idiota.

Eles apertaram as mãos e eu sorri


internamente.
- Professor Joshua, pode me ajudar
aqui? – Uma menina baixinha e
morena perguntou vindo na nossa

direção.

- Claro! O que deseja?

Ela olhou para mim de um jeito


afiado antes de responder. Percebi
que tinha segundas intenções no

que quer que ela fosse pedir.

- Acho que tem algum problema na


minha barraca, poderia ir lá ver? –
Ela inclinou um pouco a
cabeça, tentando parecer ingênua e
sexy ao mesmo tempo. Segurei uma
risada.

O Joshua assentiu com a cabeça e


ela sorriu radiante.

- Já percebeu, né? – Eu sussurrei no


ouvido dele quando ela se virou.

Ele riu.

- Claro, mas ela não faz meu tipo. –


Ele sussurrou de volta e deu uma
corridinha para alcançar a

menina.
- SOPHIA! VEM PRA CÁ! –
Alguém gritou de algum lugar atrás
de mim e eu me virei para ver quem

era. E lá estava a Isabela,


acenando.

Fui até onde ela estava com o resto


dos meus amigos.

- A gente estava comentando sobre


aquela vadiazinha do primeiro ano.
– A Gabrielle falou apontando

para a menina morena que tinha


chamado o Joshua.

- Ah, ela não é uma ameaça. –


Comentei sem conseguir conter um
sorriso.

- Sabemos. – O Richard disse


rindo. – Mas que ela é atirada ela é.

Ri do jeito que ele falou.

- Talvez ela não saiba que o Joshua


tem namorada. – A Bia sugeriu,
olhando para a barraca onde o

Joshua e a garota entraram. Como


ela conseguia desviar os olhos do
Richard tão facilmente? Ele

estava particularmente lindo hoje.


- Acho que isso não é possível, ele
fez questão de um pedido de
namoro bem público. – A Elena

retrucou.

Dei de ombros.

- Tanto faz, aquela anã não vai


consegui nada do meu loiro.

Eles riram e eu acabei rindo


também.

- Ei Elena, como vai o Lion? – O


Pedro perguntou subitamente. Se
ninguém estava falando disso e ele
surgiu com o assunto quer dizer que
era nisso que ele estava pensando.
Hum.

Ela olhou pra ele sem entender.

- Melhor impossível. A gente já tá


até combinando onde vamos morar
depois que eu me formar...

- Sério? – A Amanda perguntou


surpresa. – Eu ainda nem toquei
nesse assunto com o Bruno.

A Clara olhou pra ele como se


tivesse lembrado de uma coisa
muito importante.
- EI, VOCÊ AINDA NÃO
CONTOU COMO FOI ONTEM!

A Amanda corou no mesmo


segundo.

- Cala a boca, meu Deus. – Ela


murmurou baixinho. Dava para
notar que estava morrendo de

vergonha.

- O que aconteceu ontem? – Eu


perguntei curiosa.

A Amanda negou com a cabeça,


olhando para o chão.
O Edu estreitou os olhos na direção
dela.

- Ei caras, acho que isso é assunto


de mulher.

O Richard e o Pedro olharam para


ele.

Houve um suspiro coletivo e eles


se retiraram sem mais uma palavra.

- Que mágico: garotos que sabem a


hora de ir. – A Gabrielle disse
surpresa.

Rimos. A Amanda parecia feliz por


o assunto da conversa não ser mais
ela.

- Agora que eles já foram, bem que


você poderia contar... – A Bia
insistiu.

- Vocês já devem ter uma ideia...

- Mas é melhor se tudo for


confirmado por você. – A Isabela
rebateu.

Percebi que era a única que estava


por fora dessa história.

- Alguém poderia me explicar o que


está acontecendo?
Elas olharam para mim como se
fosse obvio.

- A Amanda passou a noite na casa


do Bruno ontem. – A Clara explicou
por fim.

- Ai meu Deus, parem de falar


disso. – A Amanda corou ainda
mais e levantou os olhos para não
ter

que olhar para nenhuma de nós.

- Não sei por que você está com


tanta vergonha. – A Isabela falou. –
Não é como se ele não fosse um
deus grego de tão lindo.

A Amanda riu e revirou os olhos.

- Bem, eu só posso dizer que


aconteceu exatamente o que vocês
estão pensando. – Ela respondeu
com

um tom de mistério e malícia


misturados.

A Clara soltou um gritinho.

- VOCÊ PRECISA CONTAR OS


DETALHES!

- Ah, foi muito bom. – A Amanda


disse sorrindo como se só de falar
sobre isso ela ficasse feliz.

Antes que a gente pudesse insistir


mais, o perfume do Joshua invadiu
minhas narinas. Virei o corpo e o vi
andando na nossa direção.

- Oi garotas. – Ele cumprimentou


com um sorriso perfeito. Acho que
nunca teria folego o suficiente

para aguentar esse sorriso. – Já


vamos começar as atividades.

- Vamos logo então. – A Amanda


foi a primeira a se juntar a ele,
parecendo extremamente grata pela

interrupção.

Seguimos o Joshua até um conjunto


enorme de pessoas na areia da
praia. Tinha uns sessenta

adolescentes entre 15 e 17 anos


conversando em grupos separados.

Consegui distinguir o grupo do


Michael e dos amigos levemente
babacas dele. Eles estavam dando

em cima das garotas do terceiro


ano. Notei que a Jane estava no
meio dessas garotas, mas ela nem
parecia prestar atenção neles –
estava ocupada demais falando
alguma coisa no ouvido do
Michael.

Senti um calafrio percorrendo


minha coluna quando os dois
olharam para mim e para o Joshua.

- Aleluia você chegou, senhor


Joshua. – Uma mulher que deveria
ter uns 30 anos disse aliviada se

aproximando de nós.

- Me desculpe a demora, é que eu...

- Não tem problema. O que importa


é que agora todos os monitores
estão reunidos. Ou seja, podemos

começar.

A moça olhou para mim e para as


meninas.

- Acho que vocês não me


conhecem. Meu nome é Lucia, eu
sou a coordenadora de disciplina. –
Ela

se apresentou com um sorriso


rápido e não esperou uma resposta,
foi direto para o pequeno palco

que havia sido colocado no centro


da praia.

Ela deu uma batidinha no microfone


e todos os alunos ficaram em
silencio.

- Olá, espero que tenham gostado


do lugar. – Ela começou e eu
percebi que ainda estava sorrindo.

Antes de começarmos, chamo para


se juntar a mim os monitores que
me ajudarão nesse fim de

semana.

O Joshua piscou pra mim e correu


para o palco. Ele estava mais
bonito do que normalmente. Ouvi

alguns suspiros quando ele ajeitou


o cabelo loiro e sorriu para a
Lucia.

Não sinta ciúmes, lembrei a mim


mesma.

Outros dois homens um pouco mais


velhos que o Joshua – acho que
com 25, 26 anos – e uma menina

que deveria ter no máximo 19 subiu


também. O Joshua era de longe o
mais bonito do grupo. Para ser
sincera, o Joshua era a pessoa mais
linda do acampamento todo.

- Ótimo. – A Lucia disse quando


todos os monitores se juntaram a
ela. – Agora sim podemos

começar... Bem, o Acampamento é


um evento tradicional do colégio
JK e eu creio que alguns de

vocês lembram como foi bom ano


passado, em Alagoas. Mas, para os
novatos e os alunos do

primeiro ano, eu gostaria de


explicar para que serve tudo isso.
Em uma palavra: confraternização.

Ela fez uma pausa dramática. –


Alguns de vocês se veem nos
corredores da nossa linda escola e
não

se falam, simplesmente por causa


da falta de intimidade entre algumas
séries. E é para acabar com

isso que serve o Acampamento.


Para unir todos vocês em uma só
família. É claro que, infelizmente,

uma parte dos alunos não pudera


comparecer. Mas, quem perde são
eles! Perdem de fazer novos

amigos. Perdem de fazer novos...


irmãos.

Assim que percebemos que tinha


acabado o discurso, aplaudimos.
Realmente parecíamos uma

família quando todos faziam a


mesma coisa.

Só que eu nunca iria ser da mesma


família que a Jane e que o Michael.

No momento em que os aplausos


cessaram, a Lucia entregou o
microfone ao Joshua.

- Para nossa primeira atividade,


vocês terão que se dividir em trios.

Olhei ao redor a procura de quem


seria meu trio. O Edu olhou para
mim e me lançou um sorriso. Fui

até ele.

- Vamos?

- Claro, só que eu também gostaria


de ir com a...

- Ei Edu! – A Monica chamou se


aproximando da gente. Seus olhos
azuis se destacavam ainda mais

com a blusa vermelha que ela


estava usando. – Quer ser do meu
trio?

- Claro. Eu, você e a Susan, ok?

Ela me olhou com um pouco de


amargura.

- Pode ser... – Disse meio a


contragosto.

Tinha que fazer essa garota gostar


de mim, ou nunca iria apoiar ela e o
Eduardo.
- Pelo que eu vi, os trios já estão
todos formados. – O Joshua voltou
a falar. Seus olhos iam de mim para
o Edu em questão de segundos, mas
ele não parecia está irritado nem
nada. Ufa. – O que

significa que eu posso explicar


como será a primeira atividade.
Então, cada trio irá receber uma
lista de coisas para procurar na
floresta e na praia, com essas
coisas vocês terão que montar um
castelo

ou uma casa. – Ele sorriu para as


nossas caras de surpresa. – Depois
de 2 horas, eu e os outros

monitores iremos escolher os


quatro melhores e os doze alunos
que forem escolhidos irão dormir
nas

barracas de ouro.

Realmente, havia mais ou menos


umas dez barracas maiores do que
as outras. Isso significa que

haveria mais provas valendo elas


como premio.

- A gente tem que ganhar! – A


Monica falou com a voz
transbordando de competitividade.

- Nós vamos. – O Edu assegurou.

- Venham pegar as listas. – O


Joshua chamou e todos correram na
direção dele.

Foi meio complicado pegar a lista


com aquele tanto de gente, mas o
Edu conseguiu depois de quase 5

minutos empurrando as pessoas ao


seu redor.

Corremos para o outro lado da


praia, onde estava vazio e a gente
poderia pensar melhor.
Tudo na lista poderia ser
encontrado na floresta – madeira,
frutas, flores, folhas grandes, cipós
e

pedras. Também iriamos precisar


de areia e de água.

- Por onde começamos? – Eu


perguntei.

- Folhas e frutas. – A Monica


comandou, apontando para a
floresta.

Procuramos a parte da floresta que


ainda não estava cheia de gente e
corremos para lá.

O Edu apontou para um coqueiro.

- Acho que esse tá perfeito. Com a


casca do coco a gente poderia fazer
a porta do castelo e essas

folhas são enormes.

A Monica concordou com a cabeça.

- É, mas quem vai subir ai?

O Edu sorriu orgulhoso.

- Eu, é claro.
Eu e a Monica olhamos sem
acreditar pra ele.

- Desde quando você sabe subir em


arvores? – Ela perguntou intrigada.

Ele riu.

- Desde sempre. – Ele rebateu e


passou a mão pelo cabelo
avermelhado.

E não é que ele sabia mesmo? Em


menos de cinco minutos ele já tinha
pego um monte de folhas e uns

seis cocos.
- Acho que isso é o suficiente. –
Ele disse limpando uma gota de
suor da testa.

A Monica olhava para ele com uma


mistura de orgulho e admiração.

- Eu não fazia ideia de que você


tinha tantos talentos. – Ela
murmurou baixinho, quase que para
si

mesma.

Esse era o momento perfeito. Por


favor, se declare Edu.

Ele sorriu timidamente.


- Que nada, eu só sei isso porque
cresci no sitio do meu tio e...

- Eu também tenho um sitio e não


conseguiria fazer nem metade do
que você nesses minutinhos.

Eles estavam bem próximos agora,


menos de um metro. Senti meu
coração vibrando de ansiedade.

- Eu posso te ensinar se quiser. – O


Edu sugeriu. Percebi que eles já
tinham se esquecido

completamente da minha existência.

- Adoraria. – Ela sussurrou.


Ele mordeu o lábio inferior com
força.

- Edu.

- Oi?

- Fale logo o que você quer falar. –


Ela pediu. Sua voz era uma mistura
de ansiedade com

nervosismo.

Ele respirou fundo. Quase


conseguia ver a coragem fazendo
força para entrar nele.

- O que você quer que eu diga?


- O que você vem guardando desde
que viramos amigos. – Ela
respondeu no mesmo segundo,
como

se a resposta estivesse na ponta da


língua.

Ele assentiu devagar e deu um


passo pra frente.

- Eu sou completamente apaixonado


por você. – Assim que as palavras
saíram da sua boca, seus

ombros relaxaram. Ele conseguiu.

Ela o observou por um minuto. Não


parecia surpresa com a informação.

- E se eu te disser que também


estou apaixonada por você?

- Ai eu seria o homem mais feliz do


mundo.

Ela sorriu.

Ela sorriu.

Se eu saísse correndo e gritando


nesse momento, eles não notariam.

Bem devagar, o Edu se aproximou


dela e colocou as mãos em sua
cintura.
- Por que nunca me disse antes?

- Eu tinha medo de estragar a nossa


amizade. Você sempre foi muito
importante para mim. – Ela disse

e logo depois soltou um suspiro.

- Acho que sempre é um bom


momento para estragar uma
amizade.

Ela riu e pôs as mãos na nuca dele,


acariciando de leve seu cabelo
ruivo.

Observei enquanto eles se


aproximavam ainda mais, até o
momento em que finalmente se
beijaram. É

difícil descrever o beijo de outra


pessoa. Só posso fizer que foi de
tirar o folego.

Depois de alguns minutos, eles


ficaram sem ar e se afastaram.
Ambos estavam da mesma cor que
o

cabelo do Edu.

- E agora? – Ela perguntou


mordendo o lábio inferior.

Foi nesse momento que o Edu me


notou.

- Acho que a gente deve procurar as


coisas dessa maldita lista.

A Monica olhou para mim também.


Não parecia irritada. Pelo
contrario, ela parecia nas nuvens.

- Ok, depois a gente volta para


onde parou. – Ela concluiu com um
sorriso malicioso.

Ele sorriu de volta e segurou na


mão dela.

- Claro.
Olhei para eles sem conseguir
conter minha animação.

- Aleluia em.

Eles riram, radiantes.

[...]

Acabou que não ficamos entre os


quatro melhores. Mas, quem se
importa?

Eduardo e Monica eram um casal.


Só isso importa. Eu estava feliz por
poder ter participado disso.

- Bia, Clara e Amanda; Nicolas,


Felipe e Camila; Joana, Julia e
Lorena; Milena, Catarine e Luiza. –

O Joshua citou, olhando para cada


uma dessas pessoas. – Parabéns
pela vitória! Os castelos de vocês

ficaram extremamente bonitos e


espero que eles sobrevivam pelo
menos até o fim desse

Acampamento.

Ouve uma salva de palmas. A Bia


ficou um pouco vermelha por
chamar tanta atenção. O Richard foi

o ultimo a parar de aplaudir –


enquanto o Michael foi o primeiro.

- A próxima tarefa será só quando


estiver muito escuro, então vamos
fazer uma fogueira e esperar o

sol ir descansar. – O Joshua


explicou. Todos os monitores
pareciam gratos pela falta de
timidez dele.

Fui ao banheiro antes de me juntar


as meninas na fogueira.

Repassei a declaração do Edu na


minha mente. Eu estava tão feliz por
ele! Ele merecia tudo de bom
que o mundo pode oferecer.

Ajeitei meu cabelo no espelho


improvisado e sai do banheiro.
Fiquei impressionada com a
rapidez

com que fizeram a fogueira e se


ajeitaram em uma roda grande ao
redor dela.

Percorri o lugar com os olhos e vi


que uma menina loira com mechas
azuis já tinha ocupado o espaço

ao lado do Joshua. Fuzilei ela com


o olhar, mas ela parecia perdida
demais admirando meu

namorado para notar. Por sorte, ele


nem parecia ter consciência da
existência dela.

Encontrei o Richard do lado direito


da roda e fui na direção dele.

- Cadê as meninas?

Ele deu de ombros.

- Provavelmente se arrumando. –
Ele respondeu indiferente. – Enfim,
gostou da prova?

- Adorei, mas acho que o Edu


gostou muito mais.

Ele assentiu com a cabeça.

- Ele me contou. Nunca vi alguém


tão saltitante em toda a minha vida.

- Verá assim que fizer o mesmo com


a Bia.

Ele ajeitou o cabelo castanho e se


endireitou no banquinho onde
estávamos sentados. Quando segui

seu olhar percebi o porquê disso. A


Bia e as meninas estavam vindo.

- Oi... – A Bia foi a primeira a


cumprimentar e olhou para mim e
para o Richard com uma

sobrancelha levantada. Dava para


ver que estava lutando para não ter
ciúmes.

- Oi meu anjo. – Ele respondeu com


um sorriso brilhante e a apontou
para o espaço ao lado dele. –

Senta ai.

Ela fez exatamente isso.

As meninas demoraram um pouco


para decidi como iriam sentar, mas
acabou com a Elena ao meu
lado.

- Agora que estão todos


devidamente acomodados, podemos
começar uma brincadeira. – Um dos

monitores disse, ele não parecia


muito animado por ter que falar.
Acho que não poderia ser o Joshua

o tempo todo.

- Poderíamos contar historias de


terror. – Uma menina do primeiro
ano sugeriu.

Ouve murmúrios em resposta.


- Gostei da ideia. – O Joshua falou
alto o bastante para todos ouvirem
e se calarem. – Quem quer

começar?

O Pedro levantou a mão.

- Só que ver. – A Elena sussurrou


no meu ouvido. Pelo seu tom, ela
parecia ter muito intimidade com

ele.

O Pedro começou a contar uma


história sobre fantasmas que
assombravam um acampamento de
verão. E eu já estava ficando com
medo quando percebi que o
Richard estava se inclinando sobre
a

Bia.

- Ei, preciso conversa a sós com


você. – Ele disse tão baixinho que
se eu não tivesse prestando

atenção de tão perto não ouviria.

Ela olhou pra ele com curiosidade.

- Claro, agora?

Ele assentiu.
- O mais rápido possível.

Sem chamar muita atenção, eles


saíram da rodinha. Ninguém notou,
já que todos estavam ouvindo

atentamente a historia assustadora


do Pedro.

Observei enquanto eles se


afastavam e percebi que iria ser a
maior intrometida do mundo se me

levantasse e fosse atrás deles.

Sem nem pensar duas vezes, foi


exatamente isso que eu fiz. Lancei
um olhar para o Joshua enquanto
caminhava por onde eles tinham
passado. Ele levantou a
sobrancelha para mim e eu dei de
ombros,

esperando que ele entendesse. Ele


sorriu e voltou sua atenção ao
Pedro.

Andei meio perdida pelo local até


ouvir barulho de conversa. Eles
estavam atrás de uma arvore.

Me aproximei devagar e arrisquei


uma olhada. A Bia estava de costas
para mim, com a mão na
cintura, e o Richard em frente a ela,
sorrindo.

- Por que você quer conversar


comigo? – Ela perguntou.

Ele inspirou todo o ar do mundo


antes de falar.

- Tem coisas que você precisa


saber.

Os nós dos dedos dela ficaram


brancos de tanta força que ela
estava fazendo na cintura. Ela
estava

nervosa.
- Então diga.

- Não é tão... Simples assim. –


Tudo na voz dele tinha um toque de
cautela. Isso me irritou um pouco.

- Bem, não tem como eu saber se


você não me disser.

- A parte difícil é exatamente te


dizer... – Ele falou baixinho.

- Tente.

Ele a analisou por um tempo.


Procurando palavras para começar
sua declaração.
- Primeiro de tudo, gostaria de
dizer que você está absolutamente
linda hoje.

Não precisava ver para saber que


ela corou bruscamente.

- O-Obrigada. – Agradeceu ela


meio sem jeito.

Ele sorriu.

- Se eu pudesse, te diria isso todos


os dias.

A mão dela soltou a cintura. Ela


não estava preparada para aquilo.
- E por que não diz? – Ela
perguntou devagar, quase com medo
da resposta.

- É difícil te elogiar.

- Como assim?

Ele mordeu o lábio inferior por um


segundo.

- É difícil te elogiar porque eu


sempre tenho vontade de me
declarar depois.

Gostaria de poder ver a reação


dela. Mas posso apostar tudo o que
tenho que ela estava sem ar,
tentando assimilar isso.

- Ai meu Deus, Richard... – Ela não


parecia ter palavras para responder
a ele.

- Você não faz ideia de há quanto


tempo eu venho guardando isso
para mim.

Ela respirou fundo.

- Isso o que?

Ele sorriu com o canto da boca.

- Esse meu amor inexplicável. –


Ele respondeu lentamente, então fez
uma pausa. – E essa minha

vontade imensa de te beijar.

Não sei qual foi a cara que ela fez,


mas foi o bastante para dá coragem
ao Richard. Em menos de um

minuto, ele já a tinha tomado nos


braços.

- Richard, eu também me sinto


assim... – Ela sussurrou sem folego.
Seus rostos estavam a centímetros
de se tocar.

- Por que não me disse antes?


- Porque eu sou muito otária às
vezes.

Ele riu baixinho e negou com a


cabeça.

- Nunca mais repita isso, ok?

Então eles se beijaram.

Sai sem fazer barulho nesse


momento.

Eduardo e Richard conseguiram. Eu


não poderia estar mais orgulhosa.

Mal tinha chegado perto da roda


quando ouvi um grito.
- Isso é mentira, sua vadia!

Corri para ver o que estava


acontecendo e vi a Elena chorando
com o rosto vermelho. Do outro
lado,

a Jane sorria com desdém.

- Ah, meu amor, acredite. Você é


uma corna. – A ruiva parecia cuspir
veneno a cada palavra que

dizia.

- O que está acontecendo? – Eu


perguntei correndo para ficar ao
lado da Elena.
- Que bom que você chegou, Susan.
Eu estava contando para a doce
Elena que o namorado dela

estava comigo ontem a noite.

Cerrei o punho no mesmo segundo.

- Por que acreditaríamos em você?

Ela riu e as meninas que estavam ao


lado dela também.

A Jane se aproximou de nós e


desbloqueou o celular. Abriu no
Whatsapp.

Realmente, tinha várias mensagens


do Lion chamando ela para sair e
dizendo coisas pervertidas. A

Elena se afastou como se tivesse


levado um tiro.

- Não... Não pode ser... – Ela falou


desamparada, as lagrimas caindo
sem parar.

A Amanda correu para abraçar a


amiga e a Clara se juntou a ela.

- Sua puta. – O Pedro tremia de


raiva ao falar isso para a Jane. –
Você tem ideia do que fez?

Ela riu ainda mais.


- O que eu posso fazer se a Elena
não consegue satisfazer ninguém?

O Pedro parecia estar se segurando


para não arrancar a cabeça dela.

- Sinto lhe dizer, mas a Elena é um


milhão de vezes mais bonita do que
você.

A ruiva não pareceu se ofender com


isso. Pelo contrario, ela sorriu e se
aproximou do Pedro.

- Se isso fosse verdade, por que ele


a trocou por mim?

- PORQUE ELE É OUTRO FILHO


DA PUTA! – Eu gritei sem consegui
me controlar e andei até

ficar cara a cara com a Jane. O


Pedro deu um passo pro lado. –
Assim como você. – Eu conclui
mais

baixo.

- Não briguem... Não briguem com


essa... – A Elena tentou pedir atrás
de nós, mas sua voz estava

sendo cortada pelos soluços.

- Cala a boca ai. – Um menino alto


com cara de arrogante falou. A Jane
riu.

O Pedro se jogou tão rápido em


cima do menino que eu nem tive
tempo de falar mais nada. O Pedro

deu um chute na barriga dele e os


dois caíram no chão, o Pedro, por
cima, começou uma onda de

socos na cabeça do menino.

- Ai meu Deus, parem eles! – A


Elena pediu para ninguém em
especifico, sua voz tremia por
causa do

choro que não tinha cessado.


Mas ninguém os parou.

O Pedro acertava todos os socos e


chutes no menino, que tentava em
vão desviar dos golpes. Só

quando o Pedro acertou um murro


no nariz do garoto, o Joshua chegou
correndo e puxou o Pedro pela

blusa.

- Ei ei ei, o que tá acontecendo


aqui? – Ele perguntou para um
Pedro vermelho de raiva e de suor.

Nada de sangue.
O menino continuou no chão, com a
mão no nariz. Ele chorava de um
jeito quase assustador.

- Esse filho da puta faltou com


respeito com a Elena.

- Ela que faltou com respeito com


si mesmo ao dá pra um garçom. – A
Jane murmurou alto.

- O que você disse? – O Joshua


perguntou soltando o Pedro e se
virando para a ruiva.

Ela mordeu o lábio inferior.

- Você sabe o que eu disse.


Os punhos do Joshua se fecharam
com força. Ele não poderia bater
nela, mas dava para ver que era

isso que queria fazer.

O Hunter respirou fundo para tentar


manter a calma e desviou sua
atenção para o garoto no chão.

- Quero vocês três na minha


barraca. Agora. – Sua voz era como
um iceberg, fria e mortal.

A Jane revirou os olhos.

- Eu não fiz nada.


- CLARO QUE FEZ! – A Elena
protestou com ódio.

O Joshua assentiu com a cabeça e


se inclinou para ajudar o menino no
chão a se levantar.

- Luciano, certo?

O menino assentiu, sem forças para


falar. O Pedro não teve pena
nenhuma dele.

- Luciano, Jane e Richard. Na


barraca 2, agora.

A Jane abriu a boca para dizer


alguma coisa mas o olhar do Joshua
foi o bastante para a fazer calar a
boca.

O Joshua se virou para mim antes


de ir.

- Assim que achar que a Elena está


melhor, mande ela vim também. –
Ele comandou.

Segundos depois, os quatro foram


embora.

As amigas da Jane quase


evaporaram de tão rápido que
saíram.

Corri para perto da Elena e a


abracei. Ela parecia sem chão.

- Não consigo acreditar que isso


aconteceu.

- Calma... – Eu pedi enquanto


passava a mão no cabelo dela.

Todas as outras meninas já estavam


aqui. Até as de outras turmas que
nem conheciam a Elena direito.

Todos tinham visto o que aconteceu.

E, nesse momento, todas nós


odiávamos a Jane e o Lion do fundo
do coração.
- Ela vai ter o que merece, não
precisa chorar. – A menina baixinha
e morena do primeiro ano disse.

Talvez ela não fosse tão ruim assim.

Minutos depois, a Bia chegou


correndo e se juntou a nós.

Seu rosto ainda estava vermelho


pelo que aconteceu com o Richard,
mas ela esqueceu completamente

seus amores e se concentrou em


tentar acalmar a Elena.

Acho que tinha mais ou menos 20


meninas ao nosso redor.
De certa forma, éramos uma família
nesse momento.

E eu estava jurando para mim


mesma que a Jane iria pagar por
isso.

28. Plano cruel

Já se passaram uma hora desde da


briga com a Jane, mas os olhos da
Elena ainda estavam vermelhos

de choro. Não conseguia ter nem


noção do quanto ela estava
magoada.

Eu queria matar o Lion.


Como alguém pode ser tão idiota?
A Elena era doce e gentil, bonita e
engraçada; ela basicamente era

tudo que as pessoas gostariam de


ser. E mesmo assim ele escolheu
aquela ruiva ridícula.

- Posso entrar? – A voz do Joshua


encheu a cabana em que eu estava
com as meninas e me tirou dos

meus pensamentos.

Olhei para a Elena em busca de


permissão e ela assentiu com a
cabeça em resposta.
Fui até a entrada da cabana e puxei
o zíper para baixo.

Ele me deu um selinho rápido e


entrou.

- Oi Joshua. – As meninas
cumprimentaram quase em
uníssono.

- Oi... – Ela parecia desconfortável,


acho que por ser o único homem do
lugar. – Bem, eu tenho

algumas coisas para falar.

- Diga. – Falei enquanto me sentava


ao lado dele, em frente à Elena e as
meninas.

- Primeiro de tudo, vim dizer que a


Jane, o Luciano e o Pedro já devem
ter chegado em casa.

Ouve um segundo para


processarmos a informação.

Então a Elena se levantou.

- NÃO! O Pedro SÓ ESTAVA ME


DEFENDENDO! – Ela gritou
indignada.

O Joshua desviou os olhos.

- Eu sei, mas ele quebrou o nariz do


Luciano. Eu não podia ser injusto. –
Ele respondeu na defensiva.

- Mas... – A Elena começou a falar.

- Sinto muito. – O Joshua disse


antes mesmo de ela terminar de
falar. – Eu gostaria de não ter feito
isso.

- Então por que fez? – Ela


perguntou com nojo e raiva.

Me levantei no mesmo segundo,


prevendo as palavras maldosas que
ela poderia dizer.

- Elena, você tem que entender que


o Joshua estava aqui como monitor
e não como amigo. Ele tem

que cumprir ordens.

Olhei para ele e vi um sorriso se


formando no canto de sua boca.

- A Susan tem razão... – A Isabela


comentou baixinho.

- Eu... Vou também.

- Como assim Elena? – Perguntei


sem entender.

Ela olhou decidida para o Joshua.


- Eu vou para casa também.

O Joshua levantou uma


sobrancelha, surpreso.

- Tem certeza disso?

- Absoluta. – Ela respondeu e saiu


da cabana. Eu e o Joshua a
seguimos. – Onde eu arranjo um

ônibus?

- Posso conseguir um rapidinho. –


Ele disse ainda meio confuso.

- Ótimo.
Olhei para a Elena por um
momento. Aposto que, se fosse o
contrário, Pedro faria o mesmo sem

pestanejar.

Joshua fez que sim a cabeça e


pegou o celular do bolso. Digitou
algumas coisas rapidamente e

aguardamos poucos minutos antes


de ele sorri e olhar para a Elena.

- Pronto, já pode ir. – Ele apontou


para o outro lado do acampamento.
– O ônibus já está chegando.

Quer que eu mande algum monitor


ir com você?

Ela negou com a cabeça e entrou na


cabana de novo.

Menos de um minuto depois, voltou


com uma mochila grande.

- Tchau Joshua. Tchau Susan. – Ela


se despediu dando um beijo em
nossas bochechas.

Então se virou e saiu com passos


firmes.

As meninas apareceram quase que


no mesmo segundo.
- Tenho que admitir que não
esperava por essa. – A Clara falou
observando a Elena indo embora.

- Acho que nenhuma de nós. – A


Bia completou. – Mas, ela fez a
coisa certa.

- E agora você tá doidinha para sair


correndo daqui e ir para a cabana
do Ricardão. – Falei com um

sorrisinho malicioso.

As bochechas dela coraram


instantemente.

- E você tá doidinha para fazer o


mesmo com o Joshua.

Ele riu e me puxou pela cintura.

- Como você adivinhou, Bia? –


Perguntei cínica e ela revirou os
olhos.

- Acho que essa é a nossa deixa. –


O Joshua sussurrou no meu ouvido.

Assenti com a cabeça e olhei para


as meninas.

- Bem, vou indo.

Elas se entreolharam e eu quase


conseguia ouvir as coisas
pervertidas que passaram por suas

cabeças nesse momento.

O Joshua me guiou até a segunda


cabana do circulo enorme e deu
passagem para eu entrar primeiro.

- Lembra quando você sempre abria


a porta do carro pra mim?

Ele sorriu.

- Lembro de cada segundo que


passo com você, senhorita Alvez.

Mordi o lábio inferior e me segurei


para não beijá-lo ali mesmo.
Então entramos na cabana; ele
trancou a entrada com um cadeado
prateado e foi até o canto esquerdo

do local, onde tinha vários lenções


formando uma cama confortável.

- Eu disse para eles que não


precisava de um lugar tão grande,
mas ninguém me escutou.

- Você é um Hunter, achei que já


tivesse aprendido que as pessoas
vão babar seu ovo. – Retruquei

com um sorriso e me juntei a ele na


cama.
- Daqui a menos de dois anos você
também vai ser, prometo.

Me aconcheguei nos braços dele,


com a cabeça encostada em seu
peito. Conseguia esquecer todos os

problemas ali, enquanto ouvia as


batidas aceleradas do seu coração.

- Tem certeza que seu pai vai


deixar?

Ele suspirou e senti sua mão


mexendo no meu cabelo. Nossos
joelhos se tocavam e nossos pés

estavam entrelaçados.
- Ele não tem que deixar, é a minha
vida. É a nossa vida.

Não pude evitar meu sorriso


quando ele disse isso. Casar com o
Joshua seria a melhor coisa do

mundo.

- Eu amo tanto você. – Sussurrei.

Ele desceu uma das mãos até a


minha cintura e me puxou para
cima.

- Eu também amo você. – Ele


estava tão perto de mim que eu
senti o ar quente saindo de sua boca
e

fazendo cocegas na minha.

Nos beijamos com intensidade.


Cada centímetro do corpo dele
procurava pelo meu enquanto cada

centímetro do meu corpo procurava


pelo dele. Nos completávamos.

- Lembra da minha primeira ideia


para esse acampamento? – Ele
perguntou quando ficamos sem ar.

- Claro.

Ele mordeu o lábio inferior.


- Se você não quiser, eu vou
entend...

Silenciei ele com um beijo. Eu


queria.

Ele entendeu o recado no mesmo


segundo e me puxou para ficar em
cima dele. Fechei os olhos e

senti suas mãos subindo até minha


camisa e desabotoando-a.

- Dessa vez vai ser ainda melhor. –


Ele prometeu enquanto eu ajudava a
tirar minha camisa.

- Não é possível.
- Por que não?

Olhei naqueles olhos azuis escuros.

- Porque nada supera a perfeição.

Ele sorriu orgulhoso e se sentou na


cama, com eu no seu colo. Minhas
pernas ao redor do seu quadril.

- Eu posso tentar.

Ele pegou as minhas mãos e pôs


nos botões de sua camisa.

- Dessa vez, você que vai


comandar.
Assenti com a cabeça, mesmo que,
por dentro, eu estivesse nervosa
por causa da responsabilidade.

Joshua já teve centenas de garotas,


ele que deveria me dizer cada
passo até o fim. Mas como ele

pediu eu vou fazer o melhor que


puder. Porque é o Joshua.

Abri o primeiro botão meio sem


jeito, tentando controlar o vermelho
que devia estar meu rosto.

Foi então que sentimos a cama


vibrando.
- Mas que porra...? – Ele perguntou
confuso e olhou ao redor para
procurar de onde tinha vindo.

Sai do colo dele sem conseguir


conter minha frustração. Não era
para nada atrapalhar a gente!

Ele tateou a cama a procura de


onde veio a vibração até encontrar
seu celular com a tela piscando.

- Merda merda merda. – Ele


resmungou irritado.

- O que aconteceu?

Ele suspirou, tão frustrado quanto


eu.

- Vai ter uma atividade agora. – Ele


respondeu olhando para mim com
culpa. – Me desculpa, eu

esqueci completamente...

- Não tem problema, a gente


continua depois.

Assim que disse isso, peguei minha


camisa da cama e me vesti.

Ele balançou a cabeça em negativa.

- Não podemos dormir na mesma


cabana, é contra as regras.
Desviei os olhos para ele não
conseguir ver minha decepção.

- Ah Susan... – Ele se aproximou de


mim e segurou meu rosto com as
mãos. – Nós vamos ter milhares

de oportunidades; não se você


lembra, mas moramos na mesma
casa.

- Mas você é tão ocupado... –


Reclamei baixinho.

- Para tudo ao meu redor pode até


ser, mas não pra você. Pra você eu
tenho todo o tempo do mundo.
Ele me beijou devagar, como se
para confirmar suas palavras.

Sorri por dentro; eu poderia ter o


Joshua todos os dias se quisesse. E
eu queria. Eu nunca vou me

cansar de tê-lo.

Ele se afastou de mim lentamente e


respirou fundo antes de falar.

- Agora que já resolvemos isso,


vamos ter que sair daqui e ir para a
atividade.

- É... – Falei sem vontade. Então


me lembrei de uma coisa. – Ah,
quase me esqueci de dizer o quanto

você fica sexy de monitor


autoritário.

Ele achou graça.

- Acha mesmo?

Mordi o lábio inferior em resposta.


Por um segundo, ele se aproximou
para me beijar; mas então se

afastou de novo.

- Temos mesmo que ir.

Bufei e me levantei.
- Amanhã a gente continua.

- Ótima ideia.

Nos beijamos mais uma vez antes


de sairmos da cabana.

Assim que saímos, uma menina


apareceu – quase que num passo de
mágica – ao lado do Joshua.

- Monitor, você poderia me ajudar


ali? – Ela perguntou e apontou para
uma cabana do outro lado do

circulo.

Enquanto o Joshua seguia com o


olhar até onde ela estava
apontando, flagrei a menina
olhando para

cada centímetro do meu namorado.


Fechei o punho para tentar me
controlar.

- Claro. – Ele respondeu com um


sorriso gentil. – O que aconteceu?

Ela olhou confusa para ele.

- Como assim?

- O que aconteceu para você


precisar da minha ajuda? – Ele
repetiu mais devagar.
Ela corou e eu percebi nesse
segundo que essa pergunta não
estava nos planos dela. O Joshua

também pareceu entender isso.

Ela ficou calada por uns instantes.

- Bem, acho que notei quais eram


suas intenções. – Ele disse por fim.

A menina ficou surpresa, mas


rapidamente mudou de expressão.

- E o que você acha dela? – Tudo


na sua voz sugeria malicia.

Tossi para chamar atenção e os dois


olharam para mim. Joshua sorriu.

- Eu acho que minha namorada aqui


não vai concordar muito com isso.
Estou certo, Susan?

Os olhos cor de mel da menina


foram do Joshua para mim em uma
fração de segundo.

- Tem certeza que pode namorar


uma aluna?

Ele deu de ombros.

- Tem certeza de que isso é da sua


conta? – Ele perguntou com um
toque de frieza. – Aliás, acho que
você não se importou com isso
quando me chamou para ajudar
você.

Ela abriu a boca para rebater com


alguma resposta, mas pareceu
pensar melhor e saiu pisando duro.

- Quanta concorrência. – Murmurei.

Ele revirou os olhos.

- Como se alguma garota nesse


mundo se comparasse a você.

Antes que eu pudesse responder,


alguém chamou o Joshua.
Nos viramos e vimos que era a
Lucia, a coordenadora. Ela parecia
animada.

- Joshua, quero você no palco em


um minuto.

Ele assentiu com a cabeça e piscou


para mim antes de correr para o
palco do meio da praia. Era

estranho vê-lo cumprindo ordem de


alguém.

Achei as meninas no meio da


rodinha de gente que se formava ao
redor do palco e me juntei a elas.
Não pude deixar de sorri quando
percebi a mão do Richard na
cintura da Bia.

- Ei, isso que eu tou vendo é o novo


casal do ano? – Perguntei
apontando para a mão do Richard.

A Bia corou bruscamente.

- Não, nós que somos.

Me virei para ver se onde vinha


essa voz e me deparei com o Edu e
Monica.

- Eita que agora a competição tá


acirrada.
Eles riram. O Edu parecia prestes a
explodir de felicidade enquanto os
olhos azuis do Richard

brilhavam de alegria.

- Oi gente. – O Joshua falou e a


atenção de todos foi para ele. –
Temos mais uma atividade antes de

vocês poderem dormir. Dessa vez


será individual e eu vou precisar de
muita organização para sair

tudo certo.

Todos assentiram. Ele continuou:


- Seguinte: cada um de vocês irá
receber um balão que brilha no
escuro, um papel e uma caneta.

Acho que já podem ter uma ideia


do que vai acontecer, mas eu tenho
que explicar mesmo assim. –

Algumas pessoas viram da cara de


tédio dele. Ele sorriu com isso. –
No papel, vocês irão escrever a

coisa que vocês mais querem que


se realizem e amarrarão no balão.
Assim, quando todos

terminarem, nós iremos soltar esses


balões para as estrelas.

Todo mundo ficou animado com


essa atividade. Eu já tinha até uma
ideia do que iria escrever.

Uma fila de formou em frente aos


monitores que estavam com uma
caixa enorme e distribuíam os

materiais. Esperei uns cinco


minutos antes de pegar meu balão –
laranja florescente –, o papel e a

caneta.

Me sentei no chão ao lado da


Amanda e da Gabrielle.
- E aí, já sabem o que vão botar? –
Perguntei enquanto amarrava o
cordão do balão no tornozelo para

ele não sair voando.

- Bruno para sempre é uma boa


ideia. – A Amanda respondeu com
um ar sonhador.

- Encontrar um Bruno barra Joshua


barra Eduardo é uma boa ideia. – A
Gabi falou.

- Pelo que eu ouvi, o irmão da Bia


é afim de você. – Eu disse me
lembrando de uma conversa de um
milhão de anos atrás.

Ela deu de ombros.

- Depois penso nisso.

Desviei minha atenção para o papel


e pensei um pouco antes de
escrever.

Ser a garota da vida do Joshua.

Reli essa frase algumas vezes para


ter certeza se era apropriada, então
percebi que sim, era. A coisa que
eu mais queria era ser a garota da
vida dele e se Deus quiser eu vou
ser – talvez eu já seja, mas casar e
ter filhos com ele iria ajudar a
confirmar isso.

Amarrei o papelzinho no cordão e


esperei enquanto os outros
escreviam.

Mais ou menos meia hora depois


todos já tinham terminado. Me
levantei e dei uma corridinha para

ficar ao lado do Joshua.

- O que você escreveu? – Ele


perguntou assim que me viu.

Mostrei o papel para ele.


- Mas você já é. – Ele disse assim
que leu. Ele nem precisava pensar
antes de afirmar isso.

- Agora, mas ninguém sabe o dia


amanhã.

Ele negou com a cabeça.

- Eu sei; amanhã você ainda vai ser


o amor da minha vida e... Ó, que
estranho! Depois de amanhã

também.

Ri com o tom de ironia dele.

Ele sorriu e me deu um selinho


extremamente rápido antes de sair e
voltar para cima do palco. Todos

olharam para ele.

- Alguém ainda está escrevendo?

Ninguém levantou a mão.

- Ótimo, então soltem no 3. – Ele


sorriu e levantou três dedos. –
1...2...

Todos levantaram as mãos e os


balões encheram o acampamento de
cor.

- 3!
Soltamos os balões e observamos
enquanto eles se juntavam ás
estrelas.

Era lindo.

[...]

Acordei quatro horas da tarde e


ainda assim sentia sono.

O resto do acampamento foi muito


bom, mas pareceu passar
assustadoramente rápido e, do
nada, eu

já estava deitada na cama do meu


quarto, dormindo como uma pedra.
Sentei devagar e me espreguicei.
Não posso dormir o dia todo –
mesmo sendo domingo.

Fui ao banheiro e joguei água no


rosto para tentar me acordar.
Funcionou.

Sai do quarto e desci direto para a


sala. Para minha desagradável
surpresa, o Michael estava lá.

- Boa tarde. – Cumprimentei por


pura educação.

Ele olhou para mim e seus olhos


brilharam por algum motivo. Tentei
não senti medo de qual motivo

seria esse.

- Oi Susan, eu estava mesmo


querendo falar com você.

- O que você quer? – Perguntei sem


paciência.

Ele se levantou do sofá e andou até


ficar a alguns metros de mim.

- Eu poderia responder agora


mesmo, mas prefiro que você veja.

- Do que você tá falando?


Ele fez o gesto de “siga-me” e
subiu as escadas. Mesmo com um
pouco de receio, segui-o até o
andar

onde ficava os quartos.

Ele abriu uma porta branca que


tinha um adesivo de PARE. Era o
quarto dele.

- Não vou entrar ai.

Ele riu com desdém.

- O que você acha que eu vou


fazer? Te estuprar? – Ele riu ainda
mais. – Sinto lhe dizer, mas meu
nível é mais alto.

Revirei os olhos.

- Não confio em você.

- Faz sentido. – Ele comentou e deu


aquele sorriso travesso que o fazia
parecer uma criança depois

que aprontava uma pegadinha. Ou


que estava prestes a aprontar uma.

Ainda desconfiada, entrei no


quarto.

Era um pouco menor do que o do


Joshua, mas com certeza maior do
que o meu. Havia uma estante de

livros do lado direito do quarto – o


que me surpreendeu –, e uma TV
enorme e um sofá em frente do

lado esquerdo.

- Dá para você me dizer logo o que


é?

Ele apontou para o sofá em frente a


TV.

- Melhor você ver com seus


próprios olhos.

Andei até o sofá tentando parecer a


pessoa mais corajosa do mundo,
mas aquilo estava longe da

realidade. Tudo no quarto do


Michael me deixava nervosa, como
se tivesse explosivos espalhados

pelos moveis.

Ele ligou a televisão e pôs um CD


no aparelho DVD.

Demorou alguns segundos para


ligar, mas assim que a imagem
apareceu percebi que se tratava de

uma câmera de segurança.


A câmera estava focada em algo
que parecia com um cofre e eu
observei enquanto uma mulher

entrava em cena, ela estava de


costas então só dava para ver seu
cabelo castanho escuro preso em
um

coque firme. O mesmo coque que a


minha mãe usa para trabalhar.

Senti todos os meus pelos se


arrepiando. Não, aquela não pode
ser minha mãe.

A mulher morena leu alguma coisa


em um papel e depois digitou uma
senha no cofre. Ele se abriu no

mesmo segundo. Sem hesitar, ela


pegou todas as joias que estava
dentro do cofre e, depois, pegou

bijuterias idênticas da bolsa que


estava segurando e colocou no
lugar.

Tudo isso demorou menos de 2


minutos até que ela fechou o cofre e
saiu como se nada tivesse

acontecido. Em nenhum momento


consegui ver seu rosto, mas sua
pele era exatamente da mesma cor

que a minha. Da mesma cor que a


da minha mãe.

- O que... O que isso significa? –


Perguntei sem folego.

O Michael me lançou um olhar da


mais pura maldade.

- Isso significa que sua mãezinha é


uma criminosa.

- Não. – Eu disse baixinho. – NÃO!


– Repeti mais alto dessa vez,
sentindo meu sangue fervendo. –
Não é ela nesse vídeo, não dá para
ver o rosto.

Ele não se abalou nem um pouco


com o meu tom.

- Eu digo que é sua mãe e as


pessoas vão concordar.

Me levantei do sofá no mesmo


segundo.

- Você não pode acusar ela de uma


coisa que não fez.

Ele sorriu.

- Claro que posso. E, aliás, é a


minha palavra contra a sua.

Senti o peso da sua frase como um


tiro de canhão. As pessoas nunca
iriam duvidar de um Hunter.

- Michael... – Eu implorei sem ar. –


Apague esse filme.

- Claro. Mas você já deve saber o


que eu quero em troca disso, não é?

Cai no sofá como se ele tivesse me


dado um murro.

Não, por favor, tudo menos isso.

Senti meus olhos se enchendo de


lagrimas.

- Pelo jeito sim. – Ele comentou e


depois soltou um risinho de
maldade.

- Eu imploro, qualquer coisa,


qualquer menos isso.

- Não. Nosso acordo está feito: Ou


você termina com o Joshua ou sua
querida mãe vai ser demitida e

presa.

Desviei os olhos para tentar afastar


as lagrimas, mas elas escorreram
do mesmo jeito.
- Olhe para mim.

Obedeci. Aquele par de olhos


verdes-mar não demonstravam nada
além de ódio. Ele era um monstro.

- Você tem até hoje de noite para


decidir. – Ele disse. – Ah, e se eu
sonhar que você contou isso para
alguém pode apostar que sua mãe
vai parar atrás das grades tão
rápido que você não vai consegui

nem piscar.

Fechei os olhos. Aquilo só podia


ser um pesadelo.
Ouvi a risada do Michael ecoando
nos meus ouvidos. Eu estava na
palma da mão dele.

Abri os olhos.

- Eu não posso terminar com o


Joshua.

- Tudo bem.

- Tudo bem? – Perguntei confusa.

Ele sorriu.

- Eu posso ir agora mesmo falar


com o meu pai sobre a nossa
empregada ladra, não tem problema
algum.

O jeito como ele falava era tão


seguro e maldoso que parecia
ensaiado, como se ele tivesse

praticado com alguém antes de falar


comigo.

- Por que você está fazendo isso?

- Lembra de quando eu disse que


iria me vingar? Bem, eu não estava
brincando. – Sua voz era fria.

Seus olhos eram frios. Ele parecia


uma tempestade de neve.
Mais lagrimas brotaram nos meus
olhos enquanto eu tentando encará-
lo.

- Seu irmão não vai acreditar se eu


disser que não o amo.

Ele deu de ombros.

- Sei disso. Já tenho até o roteiro de


como você vai terminar com ele.

Respirei fundo.

- Por favor, Michael, não faça isso.


Eu nunca fiz nada com você.

Ele fingiu que não ouviu.


- Tem até hoje de noite.

Abaixei a cabeça, sem forças para


continuar olhando naqueles olhos
de neve.

- Você sabe que eu não posso fazer


isso com a minha mãe.

- E você sabe que eu não ligo.

Mordi o lábio inferior para impedir


meu grito de desespero. Era assim
que eu estava agora:

desesperada.

Ele se virou e pegou um papel de


cima do aparelho DVD.

- Aqui tem suas falas. E, não pense


que eu não vou descobrir se você
não fizer tudo direitinho.

Peguei o papel olhando fixo para


um canto na parede.

- E se o Joshua me odiar para


sempre?

Ele riu.

- Essa é a intenção.

- Mas...
- Agora saia do meu quarto, cansei
de você. – Ele disse isso com
naturalidade. – Assim que o Joshua

acordar dê essa noticia a ele.


Estarei esperando.

Não havia nada que eu pudesse


responder, então apenas me levantei
e sai. Assim que atravessei a

porta, corri para o meu quarto.

Minha lagrimas não paravam de


escorrer e eu deitei de barriga para
cima na cama, com um

travesseiro para abafar meus gritos


de dor e raiva.

Sempre soube que o Michael era


cruel, mas não a esse ponto.

Não a ponto de me fazer decidir


entre o amor da minha vida e a
pessoa que me deu a vida. Aquilo

não era justo.

Mas, eu sabia que, na verdade, não


havia escolha nenhuma a ser feita.
Ela era minha mãe. Eu amava

o Joshua? Com certeza. Eu faria


tudo por ele? Sem nem pensar duas
vezes. Mas, ela era minha mãe.
Jamais a deixaria sofrer se pudesse
impedir. Preferia morrer de tanto
chorar a ver minha mãe na

prisão.

Li o roteiro do Michael.

Aquilo ultrapassava todos os


limites da maldade.

Quando deu seis horas, fui até o


quarto do Joshua. O meu coração
implorava que eu parasse a cada

passo. Mas eu não podia fazer isso.

Bati a porta e pedi a Deus para que


ele estivesse dormindo ainda.

- Quem é? – A voz do Joshua era


animada e feliz. Será que ele tinha
sonhado comigo?

- Susan. – Respondi sem animo.

Por favor, não abra.

Mas ele abriu no mesmo segundo e


me recebeu com um sorriso de
orelha a orelha.

- Oi meu amor. – Ele disse me


dando um selinho e dando
passagem para eu entrar no quarto.
Não me chame de meu amor, não
torne tudo ainda mais difícil. Por
favor, Joshua, me expulse desse

quarto para que eu não tenha que


partir seu coração.

- Tá tudo bem? – Ele perguntou


preocupado. Ele notou minha
expressão, é claro.

Desviei os olhos e respirei fundo.


Todo o meu um mês de curso como
atriz iria à tona agora.

- Na verdade não. – Eu respondi


com o máximo de frieza que
consegui.

Ele se aproximou de mim.

- O que houve? – Tudo na sua voz


exalava preocupação.

Mordi o lado interno na boca por


um momento. Como eu iria dizer
isso para ele?

- Joshua, nós precisamos conversar.

- Claro, sente e despeje seus


problemas em cima de mim. – Ele
brincou com um sorriso no rosto.

Dava para ver que, se eu fizesse


mesmo isso, ele não iria reclamar.

É agora.

Encarei-o.

- Meu único problema é você. E eu


pretendo me livrar disso agora
mesmo.

29. A pior coisa que poderia


acontecer

✣Joshua✣

- O quê?

Os olhos dela esfriaram de um jeito


que eu nunca tinha visto antes. A
garota na minha frente não

parecia mais a Susan.

- Você ouviu o que eu disse. – Ela


disse calmamente, sem nem um
pingo de sentimentos. – Hoje de

tarde, eu cheguei à conclusão de


que já passou da hora de você
saber a verdade.

- Do que você está falando?

- Acho melhor você sentar.

Fiquei tão assustado com essa frase


que nem hesitei antes de ir até o
sofá que ficava encostado à

parede e me sentar.

Ela não sentou comigo. Em vez


disso, ela continuou em pé, me
olhando como se eu fosse um
inseto.

O que estava acontecendo? Aquilo


era algum tipo de pegadinha?

Ou um pesadelo?

- Sabe, Joshua, tem muitas coisas


que você não sabe. – Ela falou meu
nome com tanta frieza que
minha garganta deu um nó.

- Como por exemplo...? – Perguntei


sem querer de verdade saber. Não
queria conversar com essa

Susan que tinha um olhar mortal.

Ela respirou fundo e, por um


milésimo de segundo, pareceu com
a Susan que eu amava.

Então seus olhos esfriaram de novo.

- Por que motivo você acha que eu


me aproximei de você, no começo
de tudo isso?
Olhei para ela sem entender. Que
espécie de pergunta era essa?

- Não sei. – Respondi com


sinceridade.

- Eu nunca tinha te visto antes e do


nada aceitei que você flertasse
comigo. Não acha isso estranho?

Senti um arrepio percorrendo minha


espinha.

- Talvez, mas...

- Você nunca achou estranho o fato


de eu não ter escolhido o Michael?
Ele é da minha idade.
Fiquei calado por um instante; eu
realmente já tinha me perguntado
isso. Mas o amor da Susan por

mim sempre pareceu algo quase


óbvio. Destino, eu pensava.

- Você e o Michael brigavam


demais para surgir um amor
daquilo. – Foi o que eu consegui
responder,

era a única frase que fazia sentido


na minha cabeça.

Ela riu de um jeito mais do que


maldoso.
- E por que a gente não começou
brigando como aconteceu comigo e
com o Michael? Por que decidi

deixar que um desconhecido me


dissesse coisas fofas que eu sabia
que ele já tinha dito para centenas
de outras garotas? - Cada palavra
que saia da boca dela tinha um tom
que eu nunca ouvi antes. Tinha

indiferença.

- Porque eu sou diferente dele,


porque eu...

Ela negou com a cabeça e eu me


calei no mesmo segundo.

- Não. Tudo entre nós foi calculado.


– Ela disse devagar, como se eu
fosse uma criança e não

entendesse as coisas.

- Como assim?

Ela sorriu. Mas não do jeito que


sorria até ontem – com amor e
aquela alegria radiante por me ver.

Longe disso.

- Foi tudo um plano, Joshua. – Ela


fez uma pausa enquanto eu engolia
aquelas palavras. – Sabe, a

Heloísa estudava no 404.

Preferia que ela tivesse me dado


um tiro. Ou um chute no saco. Ou
tocado fogo no meu cabelo.

Qualquer coisa seria menos


impactante que aquilo.

Seus olhos analisaram minha


expressão. Ela pareceu ficar
satisfeita com meu desespero.

- Bem, eu era amiga dela quando


vocês se conheceram. Eu estava do
lado dela quando você disse
que... Como foi mesmo?... Ah sim,
disse que ela não tinha valor.

Senti meu cérebro prestes a


explodir. Não, não, não, não, aquilo
não estava acontecendo.

- E quando ela finalmente percebeu


que você era um cafajeste
manipulador, decidiu se vingar. E é
ai

que eu entro.

Mordi o canto interno da minha


boca para não começar a gritar e
me mantive imóvel no sofá. Cada
palavra dela pesava mil toneladas.

- Assim que ela soube que eu iria


morar com você, veio correndo
falar comigo e fizemos um plano.

Eu iria fazer você se apaixonar por


mim do mesmo jeito que ela se
apaixonou por você. – Ela

suspirou antes de continuar. – E eu


faria você sofrer do mesmo jeito
que você fez ela sofrer. Você iria
pagar por cada lagrima que
escorreu do rosto dela.

- Mas... – Minha voz estava fraca e


falha. Eu estava me segurando para
não desabar.

- Mas foi muito mais forte do que


nós poderíamos ter imaginado.
Você entregou seu coração para

mim de um jeito que ia muito além


de qualquer plano, qualquer
calculo. Você confiou em mim de
uma

forma que não achávamos que era


possível. – Agora a voz dela
transmitia pena. Ela estava com
pena
de mim. – Você foi tão idiota.

Me levantei e ela deu um passo


para trás instantaneamente. Nos
encaramos. Ela parecia ser feita de

pedra, e eu, de areia.

- Me diga que isso é mentira. –


Tentei soar mais como uma ordem
do que como um pedido

desesperado. Falhei.

- Já te enganei muito, não acha? –


Ela perguntou cínica.

Senti minhas lagrimas queimando


para sair, mas as controlei. Eu não
iria deixar isso acontecer. Não

na frente dela.

- Por que você fez isso? – As


palavras saíram baixas, como um
sussurro.

Se isso fosse um pesadelo, queria


que acabasse logo.

Eu não sou forte o suficiente para


aguentar isso.

- Porque a Heloisa pediu e... Bem,


eu não tinha nada a perder, certo? A
única coisa que eu sabia
sobre a sua pessoa era que você
não tinha sentimentos. Por que eu
teria pena de alguém assim? Por

que eu negaria o pedido de uma


amiga por um desconhecido que a
magoou?

- Susan... Por favor, pare com isso.


– Implorei quase sem voz. Mais
uma palavra e eu cairia de

joelhos.

Ela colocou as mãos no bolso e


olhou para o meu nariz. Quase
conseguia ver um sentimento
lutando

para se sobressair enquanto ela o


empurrava com força para dentro.
Eu daria tudo o que tinha para

que esse sentimento fosse amor.

- Parar com o que, Joshua? Com a


verdade? – Ela olhou nos meus
olhos. Senti um calafrio descendo

pela minha coluna e fiz força para


me manter de pé. – Depois de
ontem, no acampamento, eu percebi

o quanto você já estava


desesperadamente apaixonado por
mim. Então hoje era o dia perfeito
para te

destruir.

Dei um passo para trás. Ela era um


monstro.

- Pronto, agora que já contei, já


posso ir embora. – Ela disse mais
para si mesmo do que para mim.

Então seus olhos foram para o


próprio braço e ela assentiu com a
cabeça.

- Creio que não preciso mais disso.


Segui o olhar dela e percebi que ela
estava se referindo à pulseira que
eu dei. Com um movimento

rápido, ela puxou com a outra mão


e a quebrou.

O pingente de coração caiu no


espaço entre meus pés. Senti como
se alguma coisa estivesse

morrendo dentro de mim e eu não


pudesse fazer nada para ajudar.

Então, sem dizer mais nenhuma


palavra, ela se virou e saiu do meu
quarto.
Observei enquanto ela saia e me
levantei também. Assim que ouvi o
barulho de elevador, tranquei a

porta do meu quarto.

Não queria que ninguém entrasse e


se deparasse comigo nessa
situação.

Deitei na cama de barriga para


baixo e mordi o travesseiro com
toda a minha força. A dor

ultrapassava tudo o que eu já havia


sentido antes. Era insuportável.

Aquilo não podia ser verdade.


Tinha que ter alguma coisa errada.

Tudo não passou de um plano. A


Susan nunca me amou.

Eu provavelmente nem fui o


primeiro cara da vida dela, mas
isso era a coisa que menos
importava.

Lembrei de como doeu quando eu


vi a Susan e o Nicolas se beijando,
de como eu achei que aquilo

era o máximo que meu corpo


poderia atingir sem eu quebrar ao
meio.
Eu estava errado.

Isso doía mais, muito mais. Muito,


muito, muito mais. Isso era dor de
verdade, isso fez mais do que

me quebrar ao meio. Isso me


quebrou em um milhão de
pedacinhos e depois me jogou em
ácido.

As palavras dela não paravam de


se repetir na minha mente, como um
CD que não tinha fim. Era

tortura.

Me sentei na cama e olhei ao meu


redor, esperando que, do nada, eu
acordasse e percebesse que

ainda estava dormindo. Não podia


ser real.

O que eu tive com a Susan foi a


coisa mais pura que já aconteceu,
foi digno de livros e filmes de

amor. Foi digno de poemas e


músicas sem fim. Foi digno de ficar
cravado na história da humanidade

como um exemplo a ser seguido, um


exemplo de amor que não enxerga
classe sociais.
Bem, era isso que eu achava.

Mas a verdade era essa: o que eu


tive que com a Susan não passou de
um plano de vingança.

Não sei se existe uma palavra forte


o suficiente para descrever o que eu
estou sentido, mas posso

dizer que até minha alma estava


imersa em agonia.

Doeria menos se ela tivesse entrado


no meu quarto e me matado da
forma mais lenta o possível,

como as torturas da Idade Média.


Porque nenhuma dor física pode ser
comparada a isso.

Então eu percebi uma coisa: eu


estava recebendo o que merecia.

Eu usei tantas garotas. Eu


machuquei tantos corações.

Eu merecia sofrer e sabia disso.

O mundo dá voltas, aquilo era o


jeito que o Universo encontrou para
fazer pagar.

A Heloisa conseguiu.

A Jane conseguiu.
Todas elas conseguiram.

Todas as loiras, morenas, ruivas,


altas, baixas, adolescentes e jovens
que tiveram suas vidas

balançadas por mim estavam sendo


vingadas.

Deitei de novo na cama, de barriga


para cima.

Fechei os olhos com força.

Meu coração batia com dificuldade.


Ele nunca apanhou tanto.

Se o objetivo da Susan era me


destruir, ela o alcançou com
eficiência.

"Destruição" é fraco comparado ao


meu estado.

30. Notícia ruim se espalha rápido

Assim que saí do quarto do Joshua,


senti toda a dor que estava
segurando.

O que foi que eu fiz? Como pude


fazer uma coisa dessas?

Meu coração e minha mente


martelavam de arrependimento. Eu
devia ter entrado naquele maldito
quarto e contado tudo, contado todo
o plano do Michael e pronto. O
Joshua ficaria do meu lado e

protegeria minha mãe e eu, certo?

Então eu percebi uma coisa: Esse


era o problema. Eu não sabia se ele
faria mesmo isso. Não poderia

arriscar o emprego da minha mãe.

Fui para o meu quarto devagar,


quase me arrastando. A única coisa
que eu queria agora era voltar

para ontem e curtir mais aquela


felicidade que nunca vai voltar.
Assim que abri a porta, me deparei
com a única pessoa nesse mundo
que eu não queria ver nem

pintada de ouro.

- Saia daqui. – Pedi quase sem voz


para o cara que tinha criado tudo
isso.

- Não. Quero saber como foi lá


dentro. – A voz do Michael era
objetiva e fria, exatamente como
ele.

- Vá lá perguntar para seu irmão


então.
Ele me analisou por um tempo,
como se pudesse ler meus
pensamentos.

- Se você fez mesmo tudo o que


estava no roteiro, meu irmãozinho
está deitado em posição fetal e

chorando como se não existisse


amanhã. – Ele disse isso de um
jeito tão natural... Me pergunto se
ele tem mesmo um coração dentro
do peito.

- Como você pode dizer umas


coisas dessas do próprio irmão?
Ele deu de ombros.

- Ele já fez coisas piores comigo.

- Do que você está falando?

- Nada não.

Eu insistir, mas ele olhou para a


porta atrás de mim.

- Quando eu for embora você vai se


desmanchar em lagrimas, certo?

Não respondi.

Ele sorriu.
- Tchau Susan.

Ele passou por mim e saiu do


quarto.

Estranho.

Tranquei a porta e respirei fundo.


Não queria admitir para mim
mesma que o Michael estava certo,

eu iria mesmo me desmanchar em


lagrimas.

Mas, o que mais eu poderia fazer?

Eu acabei de destruir o coração do


amor da minha vida. Isso é motivo
mais do que suficiente para

chorar como se não houvesse


amanhã.

Todos os segundos da minha


conversa com o Joshua disparavam
na minha mente. Não sei como

consegui manter meu olhar frio


enquanto o garoto que eu amava
perdia o chão.

Lembrei do momento em que eu


puxei a pulseira que ele me deu,
lembrei de como doeu cada pedaço

do meu corpo quando o pingente de


Batman caiu no espaço entre os
meus os pés. Foi como se eu

tivesse puxado a corda do nosso


amor e acabado com tudo em um
único movimento.

Se eu fosse um pouquinho mais


corajosa, iria agora mesmo para o
térreo e pegaria a arma do senhor

Fernando. Imagina que divertido


seria colocar medo no Michael.

Mas eu não era. Eu não conseguiria


segurar um objeto que mata nas
mãos e nunca, nem em sonho,
conseguiria tirar a vida de uma
pessoa. Mesmo que essa pessoa
fosse o cara que acabou com a
minha

vida no momento em que mostrou


aquele vídeo para mim.

Deitei na cama de barriga para


baixo e deixei que minhas lágrimas
molhassem o travesseiro. Minha

mãe sempre disse que é bom


colocar para fora.

[...]

Acordei com o barulho de alguém


batendo na porta. Me sentei na
cama e observei a mancha que eu

tinha feito no travesseiro.

- Quem é? – Perguntei irritada. Não


queria visitas. Não hoje.

- Eu. – A voz do Nicolas era


insegura, como se ele não tivesse
certeza se queria ou não falar
comigo.

Será que o Joshua já contou o que


aconteceu para eles?

Suspirei e vi que eram 20h.


Arrumei rapidamente meu cabelo e
abri a porta.

Ele entrou sem ser convidado e


sentou na cama. O olhar do Nicolas
foi até o meu travesseiro e ele

assentiu de leve, para si mesmo.

Me aproximei dele.

- O que você quer aqui?

Ele olhou nos meus olhos.

- A verdade.

- Sobre o que?
Mas, é claro que eu sabia sobre o
que era.

- Eu falei com o Joshua.

- Então você já sabe a verdade. –


Respondi a contragosto e coloquei
a mão na cintura.

Se ele soubesse a verdade, contaria


ao Joshua; e isso não podia
acontecer.

Terei que atuar de novo.

- Sei que não, só não entendo por


que você inventou tudo aquilo. –
Ele falou de forma segura.
- Sinto te decepcionar, mas tudo o
que Joshua falou realmente
aconteceu.

- Eu sei o que você disse, apenas


não acredito em nenhuma palavra
daquilo.

- Por que não?

- Você ama o Joshua mais do que


tudo. Todo mundo consegue
enxergar, ouvir, e até sentir isso. Se
no

começo era tudo um plano, foi você


quem falhou e acabou se
apaixonando por sua vitima. – Ele
disse

de uma vez. Não existia nem um


pingo de duvida em sua voz.

Tive vontade de chorar como um


bebezinho e contar toda a verdade,
mas me contive. Eu tinha que me

conter.

- Acho que o Joshua não foi o único


que consegui enganar. – Comentei
com uma frieza que eu não

tinha.
- Por que você está fazendo isso? –
O Nicolas olhava para mim de um
jeito insistente, como se

pudesse arrancar a verdade de mim


assim. – Quem está te obrigando a
fazer isso, Susan? Por favor,

me diga e eu juro que não...

- Ninguém está me obrigando a


nada! Saia do meu quarto e vá
ajudar a catar os pedaços do seu

irmão! – Elevei a voz e fuzilei ele


com o olhar.

Por favor, saia do meu quarto. Eu


não aguento mais fingir.

No entanto, aquele par de olhos


azuis nem piscaram.

- Eu posso até ir embora, mas isso


não significa que acreditei em você.
Eu sei quem você é, Susan.

Eu sei que você é incapaz de


concordar com um plano de
vingança. – Ele fez uma pausa antes
de

continuar. – Eu sei que você o ama,


não tente me convencer do
contrário.
Pensei em gritar que ele estava
errado e que ele não sabia quem eu
era, mas me calei. Lá no fundo, eu
estava grata por ele confiar em mim
dessa forma.

Mas, como eu não podia agradecer


em voz alta e explicar tudo o que
aconteceu, não respondi nada.

Nos olhamos por um tempo.

- Seu segredo tá muito bem


guardado, Susan. – Ele se levantou
da cama. – Se algum dia resolver

contar a verdade me chame para


ouvir.

Ele me deu um beijo na bochecha e


saiu do quarto.

Tentei absorver o significado


daquilo. O Nicolas não duvidou de
mim nem por um segundo.

Senti uma pequena faísca de


felicidade dentro de mim. Eu não
estava só. Eu tinha alguém que, de

certa forma, poderia me ajudar a


carregar todo esse peso.

Peguei o celular e fiquei lendo as


900 mensagens no grupo que eu
tinha com as meninas da minha

sala. Só besteira, é claro; mas era


melhor do que ficar sozinha com
meus pensamentos.

Depois do que pareceu um longo


tempo, alguém bateu na porta.

Uma parte do meu ser gostaria que


fosse o Joshua, mesmo sabendo que
isso só iria piorar as coisas.

Eu queria ver como ele estava.

- Quem é? – Perguntei com uma


mistura de esperança e medo.
- Abra logo. – Uma voz grave
mandou. Reconheci pelo tom
autoritário que era o senhor
Fernando.

Fiz o que ele mandou e ele entrou


no meu quarto. As pessoas dessa
casa não esperavam ser

convidadas.

- Oi... – Cumprimentei meio sem


jeito. Nunca tinha conversado a sós
com o senhor Fernando.

Ele olhou para mim com desprezo.

- O meu filho me contou o que você


fez.

Respirei fundo.

- Não posso dizer que estou


surpreso. – Ele completou.

- Recado dado, pode sair do meu


quarto agora? – Perguntei irritada.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Acha mesmo que pode falar assim


com seu superior?

Fechei o punho.

Me segurei para não dizer que ele


não era meu superior.

- Vim aqui para informar que você


apenas confirmou as coisas que eu
disse ao Joshua no jantar de

sexta. Eu dei um mês para ele me


convencer de que você valia
mesmo a pena e, como se tivesse

ouvido tudo, você chegou dois dias


depois e provou para ele o
contrário. – Ele sorriu. – Vim aqui

para agradecer por ter saído do


caminho do meu filho.

Engoli em seco. Ele era maldoso


sem esforço.

- Sorte a sua então.

Ele assentiu.

- Agora, se não for pedir demais,


nunca mais cruze o caminho do
Joshua, ok? Ele merece coisa muito

melhor do que você. – Ele falava


naturalmente, como se não houvesse
veneno em cada sílaba. Ele

falava como o Michael.

- Isso não vai ser um problema.


Não tenho a menor intenção de
continuar qualquer contato com o

Joshua. – Menti.

- Ótimo.

Ele me lançou um ultimo olhar com


aquele par de olhos azuis Denim e
depois se retirou.

Será que o Joshua sabia que ele


vinha e o que iria dizer?

Lembrei de como o Joshua me


defendeu com unhas e dentes no dia
do jantar, como ele discutiu com o

próprio pai por mim. Porque ele


acreditava mesmo que eu era a
pessoa certa.

E eu sou, na verdade.

O problema é que, normalmente, as


pessoas certas não precisam seguir
ordens de um cretino.

[...]

- Acorde logo.

Abri os olhos devagar e me deparei


com um Michael irritado.

- O que você está fazendo aqui? –


Perguntei, incomodada pela
presença dele.

- Já que ninguém mais nessa casa


gosta de você, tive que vim te
acordar.

Por um segundo, meu coração


apertou e eu pensei que o Nicolas
tinha parado de gostar de mim.

Então eu me lembrei que ele


provavelmente não poderia
continuar sendo tão gentil comigo,
mesmo

acreditando em mim, como prova


de fidelidade ao irmão mais velho.
- Já acordei. – Disse enquanto me
levantava da cama. – Pode se
retirar.

- Na verdade, eu gostaria de
conversar com você.

- E eu gostaria de ter o Joshua, mas


pelo jeito ninguém pode ter o que
deseja, certo?

Ele suspirou.

- Vim aqui dizer que quem fez o


roteiro foi a Jane, não eu.

- E o que importa?
- Só quero que você saiba que...

- Michael, poupe suas palavras. Eu


odeio você e a Jane da mesma
forma.

- Eu sei disso. – Ele respondeu


rapidamente. – Mas, depois do que
o Joshua me contou, eu senti a

necessidade de te dizer isso.

- Já disse. Pode se retirar. – Repeti


friamente.

Ele sorriu de leve.

- Você é muito mais forte do que


imagina, sabia?

- Claro que sabia, você faz questão


de testar minha força sempre que
pode.

Ele fez que sim com a cabeça e deu


uma risadinha.

- Até mais, Susan.

Observei enquanto ele se virava e


saía.

Por que ele se deu o trabalho de


vim até aqui e dizer essas coisas?

Essa era a parte que eu mais odiava


no Michael: ele parecia indeciso se
era ou não o vilão da

história.

Balancei a cabeça para mudar de


pensamento. O Michael e a Jane
eram iguais, dois manipuladores

frios e sem sentimentos. Apenas


isso.

Me arrumei e desci as escadas até o


térreo.

O Nicolas desviou o olhar do seu


cereal e olhou para mim.
- Bom dia Susan. – Ele
cumprimentou com um sorriso.

- Bom dia Nicolas. – Respondi


indo me sentar em frente a ele na
mesa.

Comemos em silencio por um


tempo.

Então o Joshua chegou.

Nem precisava me virar para saber


que era ele – aquele perfume era
reconhecível até de longe – mas

mesmo assim o fiz e nossos olhares


se encontraram.
Ele estava mais bonito do que o
normal e olhou para mim como se
não me conhecesse. Aquilo doeu

tanto que desviei o olhar.

- Vamos. – Ele disse friamente para


ninguém específico.

O Michael se levantou do sofá onde


estava deitado e eu e o Nicolas
terminamos de comer

instantaneamente.

Andamos sem dizer nenhuma


palavra.
- Michael, vá no banco do
passageiro, por favor. – O Joshua
pediu calmamente.

Olhei sem entender para o Joshua.


O que ele queria com isso?

Entramos no carro – o Michael


onde o Joshua pediu – e só quando
chegamos na metade do caminho

que eu percebi o significo daquilo.

O Joshua pediu para o Michael ir


para o banco do passageiro porque
sabia que eu não gostava dele.

Ele, mesmo me odiando, cuidava de


mim.

Senti meus olhos se enchendo de


lagrimas e rapidamente desviei
para a janela.

Joshua não merecia o irmão que


tinha.

31. Tentei não sentir pena

O percurso entre a casa dos Hunter


e a escola nunca foi tão logo. Cada
segundo que passava era pior

que o outro. Eu só queria gritar


para o Joshua toda a verdade e
abrir a porta ao lado do Michael,
para ele voar para fora e – se eu
der sorte – se ralar todo na rua.

Quando chegamos eu praticamente


pulei do carro de tão rápido que
saí. Dei uma corridinha até o

começo da escada para o corredor


da minha turma.

Então eu senti alguém me puxando.

- Mas o que...? – Perguntei tentando


soltar o braço, mas a pessoa que me
segurou era um milhão de

vezes mais forte.


- O que foi aquilo que o Joshua fez?

O corpo do Michael me imprensou


contra a parede, com uma mão de
cada lado.

Empurrei ele com força, mas isso


só foi piorou a minha situação
porque agora minhas mãos estavam

tocando no peitoral dele. Senti uma


onda de nojo.

- Do que você está falando? – Falei


irritada para que ele perceber o
quanto essa pouca distancia me

incomodava.
Ele me fuzilou com os olhos.

- O Joshua sendo legal com você.


Acha que eu não percebi? – Ele me
empurrou ainda mais contra a

parede e minhas costas começaram


a latejar de dor. – O que foi aquilo?

- Não sei! Eu disse tudo o que você


mandou. Todo mundo na casa sabe,
agora me solta!

Ele não pareceu convencido.

- Ele deveria odiar você.

Eu estava prestes a responder


quando o Michael foi jogado para
longe mim como um boneco de

pano.

- O QUE VOCÊ PENSA QUE


ESTÁ FAZENDO?

Olhei para o garoto alto e ruivo que


empurrou o Michael tão forte que
ele caiu de bunda no chão.

Naquele momento, o Eduardo


parecia uma maquina mortal.

Mas o Michael não é o tipo de cara


que fica no chão enquanto gritam
com ele. O Hunter se levantou
com um único movimento e encarou
o ruivo que era apenas alguns
centímetros mais alto que ele.

Saí do meu transe e corri para ficar


ao lado do Edu. Ele passou o braço
pelo meu ombro

automaticamente.

- Responda minha pergunta. – Ele


disse com a voz tremula de raiva.

- Assuntos familiares. – O Michael


respondeu no mesmo tom. Eles
pareciam dois animais selvagens.

O Edu tirou o braço do meu ombro


e fechou os dois punhos.

- Ela não é da sua família.

- Muito menos da sua.

Eles se fuzilaram com o olhar.

- Edu, vamos entrar na sala antes


que a gente tenha que passar dez
minutos aqui fora com ele. – Pedi
tentando impedir a discussão que
iria acontecer se eles conversassem
por mais tempo.

- Vai lá, cabelo de fogo. Aliás, já


notou que sempre chega uma
amiguinha sua quando estamos
prestes

a brigar? – O Michael sorriu com


aquele ar de superioridade. – Deve
ser porque elas têm medo de eu

acabar com você.

O Edu deu um passo para frente,


tremendo de raiva.

- Eu vou acabar com você. – Ele


falou com ódio.

Olhei para o meu melhor amigo em


frente ao cara que eu mais queria
ver apanhando. Será que ele
conseguiria vencer? Ele era mais
alto...

O Michael deu um murro tão rápido


na cara do Edu que meu pensamento
parou no mesmo segundo. O

Edu tombou para trás, mas


rapidamente se ajeitou e foi para
cima do Michael, jogando-o no
chão e

ficando por cima. Ele não esperou


nem um segundo antes de encher o
rosto do Michael de murro, que

tentava em vão se defender.


- BRIGA! – Alguém gritou perto de
mim, mas eu estava concentrada
demais para me virar.

Senti que um monte de gente estava


se juntando ao meu redor, mas meus
olhos não conseguiam

desviar: O Edu, com uma perna de


cada lado do Michael, acertou
todos os lugares possíveis de um

Michael que estava prestes a


desmaiar. De onde eu estava,
conseguia ver a sobrancelha do
Michael
sagrando sem parar.

- ISSO É PELA SOPHIA! – O Edu


deu um murro na boca do Michael,
que começou a sangrar no

mesmo segundo. – ISSO É PELA


MONICA! – Dessa vez o murro foi
no nariz dele, que fez um

barulho alto de algo sendo


quebrado. – E ISSO... – Ele deu
uma joelhada no ponto fraco do
Hunter,

que urrou de dor. – É por mim.

Foi então que alguém passou


correndo por mim e puxou o Edu
pelo braço.

- O que está acontecendo? – Olhei


para o cara alto e moreno que
perguntava isso e reconheci no

mesmo segundo. Professor


Cavalcante.

O Edu arregalou os olhos e engoliu


em seco quando percebeu o que fez.

Arrisquei uma olhada para o


Michael e vi que ele estava quase
em posição fetal. Uma parte –
maior
do que deveria – sentiu pena.

Outra pessoa passou correndo por


mim, dessa vez para levantar o
Michael. Era uma menina morena,

e, olhando ela assim de costas, tive


uma sensação de déjà vu. Mas
então ela se virou e eu vi que era a
Clara. Não estou surpresa, é claro.

- Eu fiz uma pergunta! – O


professor repetiu para um Eduardo
em choque.

Corri para perto do Edu.

- Ele só estava me defendendo.


O professor abriu a boca para falar,
mas foi interrompido pela Clara.

- Ele vai desmaiar! – Ela gritou


assustada e todos se viraram para o
Michael que, de fato, se apoiava
completamente nos braços da
namorada.

Desviei para não olhar diretamente


para seu rosto todo machucado.

- Leve ele para a enfermaria. – O


professor mandou para a Clara. Ela
nem hesitou antes de correr

com o Michael para o outro lado do


colégio. – E vocês... – Ele se virou
para mim e para o Edu. –

Quero os dois naquele banquinho e


só saiam quando eu mandar. – Sua
voz exalava uma autoridade. –

E quero todos os outros alunos nas


suas salas. Agora!

Ninguém discutiu. Em menos de um


minuto todos já tinham ido embora,
menos eu e o Edu. Sentamos

no banquinho que ele apontou e no


encaramos por um tempo.

- Eu vou ser expulso. – Ele disse


baixinho, sua voz cheia de medo.

- Não vou deixar isso acontecer.

- Você não tem que deixar. – Ele


suspirou. – Viu como ficou a cara
dele?

Claro. A sobrancelha direita estava


aberta na lateral, o lábio inferior
sangrava sem parar e o nariz com
certeza quebrou.

Tentei não imaginar a dor sem


tamanho que o Michael estava
sentindo. Ele era o vilão, eu não

deveria sentir pena. Mas eu sentia.


Por fim, assenti com a cabeça.

-Foi ele quem começou.

Ele sorriu com o canto da boca.

- Obrigado por tentar me ajudar. –


Seu tom era baixo e fraco. – Mas eu
sei o que fiz. Acho que

quebrei o nariz dele em três partes


diferentes.

- Não estou surpresa. – Admiti. –


Nunca te vi com tanto ódio.

Ele não pareceu ficar orgulhoso


disso.
- Agora, pensando bem, eu fui
muito irresponsável. – Ele desviou
os olhos, triste. – Eu deveria ter

ido embora em vez de ter me


irritado com as coisas que aquele
menino diz.

Não respondi. Porque, na verdade,


eu concordava com ele. Não queria
ter visto o Edu batendo no

Michael naquele jeito, mesmo que


ele merecesse.

- Deixa isso pra lá. Me conte como


vai você e a Monica. – Disse para
mudar de assunto.

Um sorriso tomou conta do rosto


dele no mesmo segundo. Era
gritante o jeito como ele a amava.

Joshua me amava assim.

Esse ultimo pensamento deve ter


mudado minha expressão porque o
Edu me lançou um olhar

preocupado.

- O que houve? – Ele perguntou.

Como eu iria contar o que


aconteceu?
Fiquei calada por o que pareceu um
longo tempo.

- Tem a ver com o Joshua?

Continuei quieta. Ele iria entender.

- Ah. – Ele me olhou com


solidariedade. – O que aquele
idiota fez?

Como eu iria explicar que o Joshua


era o único que não tinha culpa do
que aconteceu?

Não poderia continuar calada


agora.
Suspirei antes de falar.

- Para falar a verdade, ele não fez


nada. Só... Não deu certo.

Ele me olhou com cara de


interrogação.

- Não quero dar detalhes.

Ele assentiu devagar. Sabia que não


insistiria se eu dissesse isso.

- Vocês dois! – Alguém chamou e


nos viramos no mesmo segundo
para ver quem era. Michael,

acompanhado pelo professor


Cavalcante.

Nos levantamos do banquinho.

- Quero os três na sala do diretor


agora mesmo. – O professor
mandou e soltou o braço do
Michael,

que cambaleou para frente e parou


ao meu lado. – E nada de brigar
daqui até lá, ouviram? – Ele nos

observou por um tempo. – Agora,


se me dão licença, tenho aulas para
dar.

O Michael não pareceu nada


contente com o jeito como o
professor estava tratando ele e eu
percebi,

antes mesmo de ele abrir a boca,


que ele não iria levar aquele
desaforo para casa.

- Essa pressa toda é pra ver aquela


tal de Isabela que você come às
vezes?

- O que você disse? – O professor


perguntou, se segurando para não
esganar o Michael.

- Apenas a verdade.
O professor Cavalcante deu um
passo à frente e encarou o Michael.

- Se você disse o que eu acho que


disse está suspenso agora mesmo. –
Ele disse devagar,

ameaçadoramente.

O Michael não se deixou abalar.

- Você sabe o que eu disse, mas não


tem como provar.

Olhei para o Hunter ao meu lado


que, mesmo com um band-aid na
sobrancelha, um curativo no nariz
e o lábio inchado, parecia capaz de
tudo. Como ele conseguia ser
assim?

- Edu e Susan, podem ir para suas


salas, só quem vai ser suspenso é...

- Ok, ok. – O Michael levantou as


mãos em redenção. – Foi apenas
uma brincadeirinha. Você tem que

ter mais senso de humor.

O professor se aproximou do
moreno até ficar a menos de um
metro dele.

- Se você fizer esse tipo de


brincadeira de novo, eu dou um
jeito de te ver expulso. – Ele
sussurrou quase inaudível para o
Michael.

- Recado dado. – O Michael


respondeu com um sorriso.

O professor fuzilou ele com os


olhos mais uma vez antes de se
virar e sair.

Ficamos em silencio por um


segundo.

Então o Michael começou a andar


em direção a sala do diretor e eu e
o Eduardo o seguimos.

- Você viu aquilo? – O Eduardo


perguntou sem palavras para mim.

Fiz que sim com a cabeça, ainda


surpresa. O Michael arranjava
confusão com a mesma facilidade

que respirava.

Mais ou menos 5 minutos depois,


nós três já estávamos em frente à
sala do diretor. Nos

entreolhamos.

Por fim, eu dei duas batidinhas na


porta.

- Pode entrar. – A voz arrastada do


diretor respondeu. Exatamente
como eu me lembrava.

Entramos ao mesmo tempo.

- Olá diretor. – O Eduardo


cumprimentou inseguro. Ele estava
morrendo de medo por dentro, tinha

certeza disso.

- Olá... – O diretor arqueou as


sobrancelhas para o Michael. – O
que aconteceu com você?
- O Eduardo me espancou. – Ele
disse simplesmente.

O diretor deu um pulo da cadeira,


surpreso.

- O QUE VOCÊ FEZ?

- Ele só estava me defendendo! –


Respondi no lugar do Edu.

- Sentem-se os três, quero ouvir


essa história direito.

Fizemos o que ele mandou.

- Um Hunter e um Lohan brigando,


como pode? – Ele perguntou
indignado, como se só o fato de
eles

serem de duas famílias ricas os


fizessem Alvez.

- Eu posso explicar. – Ofereci no


mesmo segundo.

Ele levantou a mão.

- Não quero suas palavras, Susan. –


Ele respondeu friamente. – Lohan,
pode começar.

Ele não usou meu sobrenome


porque ele não era tão importante
quanto Hunter e Lohan. Fechei o
punho. Diretor cretino.

- Eu vi o Michael discutindo alto


com a Susan e empurrei ele para
longe dela, mas quando eu estava

prestes a ir embora o Michael disse


que eu estava com medo de ele
acabar comigo. E é claro que

isso me irritou. – Ele explicou


rapidamente, gesticulando com as
mãos. Ele parecia nervoso.

O Michael bufou, entediado.

- Alguma objeção a fazer, Hunter? –


O diretor perguntou.
- Tudo o que ele falou é verdade. –
Concordou o Michael.

- Então eu terei que suspender os


dois. – O jeito como o diretor
falava mostrava o quanto ele não

queria fazer isso.

O Edu ficou mais branco do que o


normal.

- Por favor, senhor diretor... – Ele


começou a implorar.

O Michael olhou para o ruivo e


depois para o diretor.
- Na verdade, eu que comecei a
briga, então eu que deveria ser
suspenso.

Todos na sala olharam com


surpresa para o Michael. Desde
quando ele era solidário ou gentil?

Aquilo estava muito estranho.

- Tem certeza disso?

- Claro. Eu disse para o Eduardo


que sempre paravam nossas
discussões porque achavam que eu

iriam ganhar, ele só agiu como um


ser humano normal e me mostrou a
burrice que eu falei. – Ele

tocou no próprio nariz por um


segundo, mas rapidamente tirou a
mão por causa da dor. – Pode me

suspender. Quanto tempo for


necessário para eu aprender a
lição.

Eu não acreditava no que meus


ouvidos estavam ouvindo. Aquilo
não era possível!

O diretor inclinou a cabeça para o


lado, sem saber muito bem como
lidar com aquilo.
- E ai, vai ser quanto tempo? – O
Michael insistiu apressado.

- Acho que... Com tudo isso que


você disse... Bem, pelo que eu
entendi, você já aprendeu a lição. –

Cada palavra que saía da boca do


diretor parecia meio confusa e
indecisa, mas ele continuou: – E,

portanto, você não vai ser


suspenso.

O Michael se levantou no mesmo


segundo.

- Mas eu fiz algo errado! O mínimo


que pode acontecer é eu ser punido!

Olhei para o Michael. Aquele


garoto era inacreditável.

- Viu? Isso prova que você já


aprendeu. Já podem ir.

Mas o Michael não mexeu nem um


músculo.

- Não saio dessa sala até você me


dar um castigo.

O diretor olhou com curiosidade


para o moreno.

- Está se sentindo culpado, Hunter?


Então meu olhar encontrou o do
Michael por uma fração de
segundo.

- Talvez, diretor.

O homem sorriu com solidariedade.

- Não precisa se sentir assim, já


passou, ok? – Ele se levantou e
apontou para a porta. – Agora peço
que se retirem, já já é o intervalo
de vocês.

Sem hesitar, fizemos o que ele


mandou. Assim que o Eduardo
fechou a porta, o Michael soltou
uma

gargalhada alta.

- Ele acreditou direitinho em. – Ele


afirmou rindo.

Suspirei. Até eu tinha acreditado.


Deveria parar de achar que o
Michael tem um lado bom.

- Vem Susan, vamos para aula. – O


Edu segurou minha mão e me guiou
até a escada.

Demos uma batidinha na porta e,


infelizmente, era a Ana Renata. Ela
não parecia muito feliz em nos
ver, mas depois alguma insistência
deixou a gente entrar. O Michael
chegou logo em seguida e foi

para o outro lado da sala enquanto


eu e o Edu nos juntamos às
meninas.

Assim que sentamos nos nossos


lugares, elas nos enxurraram de
perguntas, mas a gente respondeu a

todas da mesma forma: No


intervalo eu conto.

Depois do que pareceu a mais


longa aula da minha vida,
finalmente o sinal tocou e fomos
liberados.

Notei que a Clara não parava de


olhar para mim com algo parecido
com pena e culpa, ou não, sei lá.

Acho que estava ficando paranoica.


Afinal a Clara nunca fez nada
comigo.

- Agora diga o que aconteceu lá! –


A Isabela pediu impaciente.

O Edu explicou rapidamente a


situação, sem detalhar demais.

- Ai meu Deus, eu fiquei tão


preocupada. – A Monica falou indo
beijar o Edu, que retribuiu sem nem

pensar duas vezes. Eles eram tão


fofos.

- E você Susan, tudo bem? – A


Amanda perguntou. – Você pareceu
meio triste.

A Clara tossiu.

- Ei meninas, eu tenho que ir,


combinei de ir ver umas amigas
minhas do primeiro. – Ela mandou
um

beijo no ar e foi embora quase


correndo.

- Que estranho... – A Bia murmurou.

A Amanda continuava olhando para


mim com preocupação e eu percebi
que não tinha respondido a

pergunta dela ainda.

Respirei fundo.

- Eu... – Então, sem que eu pudesse


fazer nada evitar, meus olhos se
encheram de lagrimas e eu

comecei a chorar sem parar.


As meninas tomaram um susto com
a rapidez que isso aconteceu e
ainda mais rapidamente me

abraçaram em grupo, cada uma


dizendo palavras de incentivo
mesmo saber o que estava

acontecendo. Comecei a soluçar e


chorar ainda mais por causa de
todo o amor que estava recebendo.

Eu não merecia isso. Eu tinha


acabado com o coração do Joshua,
eu não merecia que elas cuidassem

de mim.
- Pode nos dizer o que aconteceu? –
A Elena perguntou enquanto
passava a mão no meu cabelo.

Solucei um pouco antes de


conseguir força para falar qualquer
coisa.

- E-Eu term-minei com o J-Joshua.


– Gaguejei tentando me controlar.

Era por isso que eu odeio tanto


chorar, porque quando começo é
difícil parar.

Elas arregalaram os olhos de


surpresa.
- Mas vocês eram um casal
perfeito! – A Gabrielle disse sem
acreditar.

A Bia deu um empurrão no ombro


da amiga e olhou para mim como se
pedisse desculpas.

- Não precisa dar nenhum detalhe,


ok?

Apenas assenti com a cabeça e


respirei fundo para tentar parar de
chorar.

Depois do que pareceu um bom


tempo, eu finalmente conseguir me
acalmar e elas começaram a falar

de um monte de coisa para me


distrair. Agradeci mentalmente por
isso.

O Richard estava passando com o


Pedro e acabou parando para falar
com a gente. Os olhos da Bia

brilharam ao vê-lo. Fazia sentindo,


ele estava mais bonito do que o
normal hoje.

- Oi Rick. – Ela cumprimentou com


um sorriso de orelha a orelha.

- Já conversamos sobre esse


apelido. – Ele retrucou rindo e
puxando ela pela cintura.

Ela riu e eles deram um selinho.


Bia não era o tipo de garota que
beijava alguém loucamente na

frente de outras pessoas.

Eles começaram a conversar e eu


participei, chegando até a soltar
uma risada às vezes.

Por fora, acho que estava


relativamente bem.

Mas, por dentro, eu ainda estava em


mil pedaços.
32. Cada irmão com seu problema

- Eu estou morrendo de fome. – A


Isabela avisou com cara triste.

- Vamos para o refeitório então, ué.


– A Elena respondeu.

O Pedro olhou para a cara da Elena


com raiva e eu rapidamente entendi
o que ele estava pensando:

depois de tudo o que o Lion fez


você ainda quer ir para um lugar
onde sabe que ele está?

Mas a Elena simplesmente ignorou


isso e todos a seguiram até o
refeitório. Nos sentamos numa mesa

perto da cantina.

- Já volto. – A Isabela disse se


levantando.

- Vou com você. – O Pedro falou


fazendo o mesmo.

Observei enquanto eles iam até o


caixa e pediam o que queriam;
poucos minutos depois, foram até o

local onde pegava a comida. E era


ai onde o Lion trabalhava. Vi que
ele o Pedro conversaram
algumas palavras rapidamente,
então as vozes começaram a se
elevar.

- QUE EU SAIBA EU COMO


QUEM EU QUISER. – O Lion
gritou batendo com a mão no
balcão.

Todos do refeitório olharam para


ele no mesmo segundo.

- QUE EU SAIBA AS PESSOAS


NÃO DEVERIAM FICAR COM
OUTRAS QUANDO TEM

NAMORADA! – O Pedro rebateu


ainda mais alto.

Eu, a Elena e o Edu demos um pulo


de nossas cadeiras e corremos para
ficar perto do Pedro. Mais

uma briga.

- Chegou seu rebanho. – O Lion


falou do outro lado do balcão, com
um sorriso convencido no rosto.

Toda a beleza dele acabou nesse


exato segundo.

- Rebanho é a sua mãe com as


amigas dela. – Rebati irritada
mesmo sabendo que não era um
bom

fora.

Ele riu.

- Quem é essa em? – Ele me olhou


como se eu fosse nada. – Ah sim, é
a vadia do Joshua.

Ok, agora ele pegou pesado.

- Quem você pensa que é para falar


mal de alguém? – O Pedro
perguntou cerrando o punho.

- Pergunta para a Elena.


Ele não devia ter falado isso. Numa
fração de segundo, o Pedro puxou o
Lion pela gola de sua

camisa e o levantou até fazê-lo


bater com o peito no balcão. As
mãos do Lion sacudiram enquanto
ele

tentava acertar o rosto do Pedro,


mas não adiantou. O Pedro era mais
forte e estava com mais raiva.

- Peça desculpas a Elena! – O


Pedro mandou com a voz rouca.

- Pelo o que? Não tenho culpa se a


Jane é mais gostosa.

Aquela foi a gota d’agua; o Pedro


puxou o Lion tão forte que ele caiu
no chão, bem perto de onde eu

estava. A Elena estava em choque.

- EI, PAREM COM ISSO!

Me virei e vi que o Nicolas e o


Felipe tinham se aproximado da
gente. Foi o Felipe quem gritou.

O Lion se levantou e soltou a mão


do Pedro da sua gola com um
movimento bruto.
- Você acha mesmo que tem moral?
– Ele olhou para o Felipe com nojo.
– Você não passa de um

viadinho.

- O que você disse? – O Nicolas


perguntou dando um passo a frente,
virando um escudo para o

Felipe. – Repita.

- Você é outro.

- Outro o que? – O Nicolas insistiu


e eu percebi que estava a um passo
de perder seu autocontrole.
Nunca tinha visto ele assim.

- Além de viado agora é surdo?

Foi então que o Nicolas avançou


para cima dele, mas o Felipe o
puxo pelo braço no mesmo
segundo.

- Se eu não deixei o Pedro brigar,


imagine você.

- Você não tem que deixar. – O Lion


rebateu, encostando-se ao balcão.
O Pedro olhava para ele como

um leão olha para sua presa,


esperando o momento certo para
acabar com a raça dele. – Eu só não

brigo com seu namorado porque


não quero ouvir os gritos agudo que
ele vai...

- Ok. – O Nicolas o cortou com um


sorriso. – Com licença. – Assim
que ele disse isso, se virou de

costas para todos nós e tirou o


Felipe do caminho dele e andou até
o meio do refeitório.

- Para onde você vai, florzinha? –


O Lion perguntou rindo vitorioso.

- Ter uma conversa bem séria com


o diretor. – Ele respondeu sem se
dar o trabalho de se virar.

O Lion correu até onde o Nicolas


estava e o puxou pelo ombro.

- Como assim? – Mesmo de longe


dava para ouvir a apreensão em sua
voz.

- Como assim que eu sou um Hunter


e eu não vou tolerar que um
funcionariozinho como você fale

essas coisas sobre mim e sobre as


pessoas que eu gosto. – Ele
respondeu de uma vez, tirando a
mão

dele do seu ombro.

O Lion deu um passo para trás.

- Seja homem e termina as coisas


com uma briga, não deixe jeito. –
Ele falou, mas sua voz denunciou

o medo que ele estava sentido.

- Eu termino as coisas do jeito que


eu quiser.

Andei até chegar perto deles –


seguida por Pedro, Edu e Felipe – e
vi o Lion engolindo em seco.
- Nicolas...

- Ah, agora você resolveu usar meu


nome? – O Nicolas perguntou
estreitando os olhos. – Tarde

demais.

E com essa ultima frase, ele se


virou de novo e saiu do refeitório.
O Lion fez menção de segui-lo,

mas o Edu segurou o braço dele.

- Nada disso. Mexeu com fogo


porque quis.

O Lion bufou e soltou a mão do


Edu.

- Duvido que aconteça alguma


coisa comigo.

Soltei uma risada mais alta do que


pretendia e percebi que alguém a
acompanhou.

- Duvido que você ainda esteja aqui


amanhã. – Olhei para o lado e
descobri quem tinha rido comigo.

Michael. Mesmo com o rosto


machucado, ele sorria com
superioridade. Não estava surpresa.

- Cuide da sua cara antes de


ameaçar alguém. – O Lion rebateu.

- Você realmente não tem noção do


perigo. – O Michael riu ainda mais.
– Boa sorte com isso.

- Vamos voltar para a mesa e


aguardar o desfecho dessa história.
– O Edu disse, notavelmente

incomodado pela presença do


Michael.

Fizemos isso. O Lion voltou para a


cantina e o Michael se juntou aos
amigos dele numa mesa bem

longe da nossa.
- O que foi isso? – A Gabi
perguntou assim que sentamos.

- Meu Deus, nunca vi o Nicolas


assim. – O Richard comentou.

- Nem eu... Mas aquele Lion é


muito trouxa mesmo. – Falei
olhando para a Elena.

- Sempre soube. – O Pedro


murmurou alto o bastante para
todos ouvirem.

A Isabela olhou para ele de um


jeito malicioso, como se soubesse
de alguma coisa que ninguém mais
sabia. Fiquei curiosa para
descobrir no mesmo segundo.

Notei que a Clara estava mais


quieta do que normalmente, mas
decidi não comentar – quando você

não quer conversar e alguém fica


insistindo é tão irritante.

- Ei Amanda, não pense que a gente


desistiu de saber como foi a
primeira vez de você e do Bruno. –

A Gabi interrompeu meus


pensamentos numa tentativa de
mudar de assunto.
A Amanda revirou os olhos,
corada.

- Um dia eu conto.

- Quando eles tiverem três filhos e


um cachorro. – A Bia concluiu
rindo.

Todos na mesa riram e continuamos


a conversa até o sinal tocar e cada
um ir para a sua sala. O

Richard se despediu a Bia com um


beijo e o Felipe olhou agoniado
para a entrada, esperando que o

Nicolas aparecesse. Mas ele não


apareceu.

[...]

- Por hoje é só, podem ficar


conversando até acabar a aula. – O
professor Cavalcante avisou, indo
se sentar em sua cadeira. A Isabela
se levantou e foi até onde ele
estava. – Alguma duvida? – Ele

perguntou com um sorriso cheio de


segundas intenções no rosto.

- O que vocês acham que vai


acontecer quando descobrirem
sobre eles? – A Iza perguntou
apontando

o queixo para o professor.

- Não sei... Mas provavelmente não


vai ser coisa boa. As regras do
colégio não devem permitir esse

tipo de relacionamento. – A Bia


respondeu preocupada.

Observei eles dois que, mesmo com


a diferença de idade – um pouco
maior do que a minha e do

Joshua mas não muito – se amavam


incondicionalmente.
Por que ninguém pode
simplesmente amar e ser amado?
Por que sempre tem que existir
algum

obstáculo?

Havia tantas perguntas as serem


feitas e tão poucas respostas para
elas. Guardei esse pensamento e

suspirei enquanto esperava o sinal


tocar e nos liberarem para casa. A
manhã parecia ter tido 24

horas.

Vários e longos minutos, finalmente


ouvimos a musiquinha que
avisavam que estávamos livres.

Praticamente pulei da cadeira e fui


até a porta antes de alguém sequer
ter se levantado. Senti que

alguém colocou o braço no meu


ombro e levantei a cabeça para ver
quem era. Para minha surpresa,

era o Júlio; um menino loiro que


quase nunca falava comigo.

- Soube que você terminou com o


Joshua. – Ele sussurrou no meu
ouvido. Seu hálito de menta era tão
forte que eu fiquei enjoada.

Tirei a mão dele do meu ombro.

- Legal. – Falei já me retirando da


sala.

- Que tal mudar de um loiro pro


outro? – Ele insistiu andando ao
meu lado.

Suspirei.

- Sinto muito, Júlio. Nada contra


você, mas ninguém tem capacidade
para tomar o lugar do Joshua.

Ele levantou uma sobrancelha.


- Eu posso tentar.

- Tentar você pode né, mas


conseguir já é mais difícil. – Eu
rebati e andei mais depressa para
ele não me alcançar.

Mas ele simplesmente não desistia


e me seguiu até a porta da escola.
Argh.

- Ei, vamos conversar direito. – Ele


pediu, segurando minha mão.

Me segurei para não revirar os


olhos. Cadê o Edu quando eu
preciso dele?
- Já conversamos! Eu quero ficar
solteira, pode ser? – Soltei minha
mão com um movimento rápido e

olhei friamente para ele.

Ele deu um passo para trás.

- Desculpa... Eu não tive a intenção


de te ofender ou sei lá. – Ele disse
olhando para baixo.

Merda, por que eu tinha que ter


pena das pessoas?

- Não fique assim... – Me


aproximei dele e o abracei. – Você
é bonito e legal, vai arranjar um
monte de menina.

Ele me afastou alguns centímetros,


ainda segurando na minha cintura.

- O Joshua deve tá arrependido de


ter terminado com você.

Tentei disfarçar minha surpresa ao


saber que essa era a historia que o
Michael estava contando; o

Joshua terminou comigo, não o


contrário. Isso faz com que as
pessoas achem que eu que sou a

coitadinha da situação. Aposto que


não foi a Jane quem fez esse
roteiro.

Senti que meus olhos se enchendo


de lágrimas e olhei para o céu
tentando controla-las, mas não

funcionou.

- Ei... Ei não chore. – Ele pediu, me


puxando devagar pela cintura.

Coloquei a cabeça em seu peito e


deixei que as minhas lágrimas
encharcassem a camisa azul dele.

✣Joshua✣

Abri a janela do carro para chamar


meus irmãos e a Susan para irmos
embora quando me deparei

com essa cena: A Susan, aquela que


enganou meu coração da forma
mais cruel possível, abraçada

com um loiro um pouco mais alto


do que ela. Observei enquanto ele
passava mão no cabelo castanho

e longo dela, que cobria seu rosto –


que provavelmente estava
encostado no peito dele.

Senti meu estômago revirando.


Talvez esse fosse um dos motivos
de ela ter me dito a verdade o mais

rápido que pôde. Respirei fundo


algumas vezes antes de arranjar
coragem para falar alguma coisa.

E eu estava prestes a chamar meus


irmãos quando vi o Michael e o
Nicolas vindo na direção do

carro. O Nicolas tocou no ombro da


Susan ao passar e ela deu um salto,
visivelmente assustada.

Consciência pesada, talvez.

Quando o Michael chegou perto


levei um susto ao ver seu rosto todo
machucado.

- O que aconteceu? – Perguntei


assim que ele entrou no carro, no
banco do passageiro.

Lembrei que eu pedi para ele sentar


aqui por causa da Susan. Eu sou um
otário. Um grande otário que

se preocupou com o bem estar de


uma menina que já tinha outro loiro
em mente. Minha cabeça

começou a doer.

- Ah, eu briguei com um menino ai.


– Ele respondeu dando de ombros.
O Nicolas entrou e a Susan veio
logo em seguida, fechando a porta.
Dei a partida no carro.

- Isso eu entendi, mas por quê?

- O Eduardo pode ser bem irritante.

- Eduardo? Aquele Lohan, irmão da


Jane?

O Michael assentiu.

- Espero que ele esteja com o rosto


pior. – Comentei.

Ele não respondeu, apenas assentiu


novamente e se virou para a janela.
Estranho.

- E você, Nicolas, alguma


novidade?

- Fiz um funcionário ser demitido. –


Ele respondeu simplesmente.

- SÉRIO? – A Susan gritou


surpresa.

- Claro. Eu nem tive que falar


muito, sabe como diretor baba o
ovo da nossa família né? – Seu tom

era de diversão, coisa que não


combinava nem um pouco com o
fato de ele ter feito mal a alguém.
- O que esse funcionário fez com
você? – Perguntei enquanto parava
no sinal vermelho.

- Muitas coisas, na verdade. Mas o


que me fez perder a cabeça foi
quando ele gritou com o Felipe.

Pelo espelhinho, olhei para o rosto


apaixonado e decidido do Nicolas.
Ele amava tanto o Felipe. Por

um momento, invejei-o.

Não precisei dizer mais nada, pois


já estava na rua de casa. Não que
eu fosse estender esse assunto,
aquilo não me fazia bem. Para falar
a verdade, nada me fazia bem desde
ontem.

[...]

- Oi Bruno. – Cumprimentei-o e
sentei na cadeira ao seu lado da
mesa. – Oi Rafa, oi Cauã e...? –

Perguntei sem palavras para a loira


ao lado dele.

Ela sorriu antes de responder.

- Meu nome é Bryana, mas todos


me chamam de Bry. – Ela
respondeu com um sotaque sexy de
estrangeira. – E o seu?

- Joshua, muito prazer. –


Apresentei-me com um sorriso e
ela estendeu a mão como se fosse
para eu

apertá-la, mas, em vez disso,


depositei um beijo nela. – De onde
você é?

Ela mordeu o lábio inferior por um


segundo e retirou a mão.

- Nasci em Liverpool, mas vim


para o Brasil quando tinha 16 anos.
– Ela falou e eu notei que ainda
tinha um pouco de dificuldade com
o nosso idioma. Ela devia ter uns
19 para 20 anos.

- E o que está achando?

Ela olhou para mim e depois para


os outros na mesa.

- Os brasileiros são a raça mais


bonita, disso eu tenho certeza.

Rimos. Ela piscou para mim depois


de dizer isso e eu apenas assenti
com a cabeça. Já sabia o que

viria depois disso, mas não posso


dizer que fiquei animado com a
ideia.

O jantar foi bom. Descobri que a


Bryana era prima do Cauã e que
essa era a ultima semana dela antes

de ela viajar para Inglaterra e


passar um mês lá.

Depois que acabou, os meninos


foram embora para suas casas, mas
a Bryana ficou. Ela iria para a

minha casa.

- Então, Hunter... – O sotaque dela


era como música, mas parecia soar
distante. Eu não estava
prestando 100% de atenção nela.

- Me siga.

Andei até o meu carro e abri a


porta do passageiro para ela.

- Que cavalheiro. – Ela comentou


sorrindo.

Lembrei da Susan tão rapidamente


que minha mente pareceu girar. Foi
assim que começou comigo e

com ela, com um passeio de carro.


Só que, dessa vez, eu não estava
com um bom pressentimento
sobre o que iria acontecer.

Entramos no carro e conversamos


durante todo o caminho até a minha
casa. Ela era uma pessoa fácil

de puxar assunto. Descobri que


tínhamos um gosto musical bem
parecido e que estávamos no
mesmo

dia do Rock in Rio ano passado.

- Bela casa. – Ela elogiou quando


eu estacionei.

Dei de ombros e sai do carro,


dando uma corridinha para abrir a
porta dela logo em seguida.

- Você é tão gentil... – Ela sussurrou


se aproximando de mim.

Se tudo o que aconteceu entre mim


e a Susan não passou de um plano
dela, por que eu estava me

sentindo tão culpado? Por que você


é um otário, minha mente
respondeu. Concordei.

Passei a mão pela cintura dela e a


guiei até a porta da minha casa. Ela
se virou para mim antes de

entrarmos.
- Eu acho que nunca senti isso
antes. – Ela falou baixinho olhando
no fundo dos meus olhos. E, acho

que pela primeira vez na historia,


verde e azul não combinaram.

Eu não deveria estar fazendo isso.


Mas eu queria tanto esquecer a
Susan, nem que fosse só por uma

noite.

Bem devagar a puxei para mim,


sem dizer nada, e a beijei. Ela
retribuiu sem nem pensar duas
vezes.
Ela tinha um beijo diferente de
todos que eu já senti, mas, antes do
que eu pretendia, ela me afastou
com uma mão.

- Estamos fora de casa ainda. – Ela


avisou olhando para os lados.

Ri baixinho.

- Acho que você ainda não


aprendeu que brasileiros são
ousados.

Ela riu também, mas fez que não


com a cabeça.

- Ok, você quem manda. – Falei


sorrindo e abri a porta de casa.

As luzes e a TV estavam ligadas, o


que era bem estranho. Olhei para o
relógio da parede e vi que

eram 2h. Por que as coisas estavam


ligadas ainda? Será que a Melissa
esqueceu de desligar tudo?

Foi então que eu a vi, dormindo no


sofá em frente à televisão.

- Quem é essa? – A Bryana


perguntou.

- A filha da nossa empregada. –


Respondi sem demonstrar nenhum
sentimento.

- Deixa ela ai, vamos logo para o


seu quarto. – Ela sugeriu enquanto
beijava meu pescoço, me

arrepiando. Realmente, ela ficava


bem mais ousada dentro de casa.

Assenti com a cabeça e começamos


a andar em direção ao elevador,
mas eu parei bruscamente assim

que alcançamos o sofá.

- Ela vai acordar com dor na coluna


se dormir assim.
A loira levantou uma sobrancelha
para mim.

- Então acorda ela rapidinho para


gente fazer o que viemos fazer. –
Tudo na sua voz estava

programado para me fazer delirar,


mas não funcionou.

- Ou eu posso leva-la até o quarto


dela e depois voltar para você.

Ela estreitou os olhos.

- E se eu não quiser? Que eu saiba


ela só a filha da sua empregada,
você não precisa ter esse
trabalho todo.

Eu sabia que ela não dizendo por


mal, mas aquilo me irritou se um
jeito que eu perdi toda a minha –

pouca – vontade de ir para a cama


com ela.

- Ou é isso ou nada. – Rebati


friamente.

Ela pareceu surpresa com a minha


resposta.

- Você só pode estar brincando!

- Está me vendo sorrir aqui? Acho


que não.

- Por que você ficou grosseirro de


uma horra para outra? – Ela
perguntou irritada, seu sotaque se

intensificando junto com a raiva.

Suspirei.

- Não é nada contra você. Eu só...


Ainda não superei as coisas que
aconteceram entre mim e ela. –

Admiti apontando o queixo para a


Susan.

- E mesmo assim você me levou até


aqui? – Era uma pergunta retorica.
– Meu Deus, você é...

- Sim, sim eu sei, várias ofensas


estão passando pela sua cabeça
agora.

Ela inclinou a cabeça para o lado,


confusa.

- Se quiser, posso te dar meu


numero e você me liga quando ficar
tudo bem.

Agora foi a minha vez de ficar


confuso.

- Tem certeza de que você não vai


me dar um tapa na cara e me odiar
para sempre?

Ela riu.

- Tenho. – Ela pegou meu celular do


meu bolso tão rápido que eu nem
tive tempo de impedir e, mais

rápido ainda, digitou alguns


números. – Pronto.

- Pronto para quando eu estiver


pronto. – Brinquei, sorrindo.

- Exatamente. – Ela me deu um


beijo na bochecha. – Boa noite,
Joshua.
- Boa noite, Bryana.

Fui até a porta com ela e esperei o


taxi dela chegar. Assim que ela foi
embora, voltei para a casa e olhei
para a Susan, que dormia como um
anjo.

- Eu deveria odiar você. – Falei,


chegando perto dela. – Mas não
consigo.

Respirei fundo e coloquei ela


delicadamente no colo. Ela não
pesava quase nada.

- Sabe, eu ainda tenho esperanças


de você voltar atrás e tal. Sei que
posso parecer um idiota por

isso, mas fazer o que? Eu tenho


mesmo. – Confessei. – Ou que, pelo
menos, eu consiga esquecer você

rapidamente. Não é justo eu guardar


esse sentimento dentro mim.

Subi as escadas com cuidado e abri


a porta do quarto dela com o
cotovelo. Fui até a cama dela e a

coloquei ali com todo o carinho do


mundo, depois, coloquei um lençol
por cima das suas pernas e
ajeitei o travesseiro embaixo do
sua cabeça. Ela parecia tão
inofensiva assim.

- Bons sonhos, Susan. Sonhe


comigo, ok? – Sabia que estava
sendo trouxa, mas continuei. Ela
não

estava ouvindo mesmo. – Eu com


certeza sonharei com você.

33. A verdade, no fim, sempre


aparece

Senti um beijo na minha testa e abri


os olhos minimamente, quase nada.
E lá estava ele, com um olhar que
transmitia vários sentimentos
diferentes ao mesmo tempo. Ele me
observou por mais alguns

segundos antes de suspirar e se


afastar de mim. Apenas quando ele
virou de costas e começou a

andar em direção a porta que eu


abri meus olhos completamente.
Admirei seu corpo. Tudo no Joshua

parecia perfeito.

Então, antes que pudesse fechar os


olhos de novo, ele se virou para
mim. Seus olhos se arregalaram

quando encontraram os meus.

- S-Susan. – Ele gaguejou nervoso.

- Joshua... – Falei tímida. Aquela


conversa não estava nos meus
planos.

Mesmo de longe, eu poderia jurar


que vi suas bochechas ficando
vermelhas. Era a segunda vez que

eu via o Joshua corando – e tenho a


impressão de que é algo que não dá
para se acostumar, nem em
um milhão de anos.

- Você... Ouviu alguma coisa que eu


disse? – Ele perguntou apreensivo.

Ouvi, é claro. Cada uma daquelas


palavras doces me fez ter vontade
de “acordar” e contar toda a

verdade sobre o plano do Michael


e da Jane. Foi uma tortura. Mas foi
uma tortura tão boa.

- Que coisa? Eu acordei agora. –


Menti. Não queria que ele ficasse
com vergonha.

Ele respirou fundo, aliviado.


Então seus olhos esfriaram, ele
lembrou de tudo o que eu fiz.

- Nada não. Já pode voltar a


dormir.

E ele já estava se virando para sair


quando eu lembrei do que estava
faltando.

- Joshua. – Chamei.

Ele se virou a contragosto.

- Obrigada.

Ele deu de ombros. Nos encaramos


por alguns segundos.
Eu o amava tanto. Será que ele
conseguia ouvir as batidas
aceleradas do meu coração? Porque
eu

com certeza conseguia. Eram altas e


rápidas. Meu corpo gritava amor.

Depois do que pareceu um longo


tempo, ele balançou a cabeça e saiu
sem dizer nenhuma palavra.

Gostaria que ele tivesse ficado. Eu


estava quase contando tudo.

Deixa pra próxima.

[...]
- Bom dia turma! – O teacher
Bernardo cumprimentou com
animação.

Ele era o único professor no mundo


que conseguia manter o sorriso
durante a aula toda. E olha que

essa era a primeira aula do dia, ou


seja, 7 horas da manhã.

- Bom dia professor! – Todos


responderam em uníssono.

- É o seguinte: hoje completa um


mês desde a nossa primeira aula!
Dá para acreditar? O tempo
passou voando.

Olhei surpresa para ele. Eu já


estava há um mês no JK. Realmente
parecia inacreditável.

Ele começou a contar histórias


engraçadas sobre várias coisas
diferentes. A sala inteira ria sem

parar. Mas, na boa, eu não estava


no clima. Deitei minha cabeça no
caderno e fechei os olhos.

[...]

Uma semana se passou sem que eu


desse conta. Os professores
estavam cada vez mais rígidos por

causa das provas que estavam se


aproximando, o que significava que
cada intervalo agora valia ouro.

Eu ainda estava triste por causa de


todas as coisas que aconteceram,
mas conseguia aguentar; como

se fosse um machucado na perna


que ficasse latejando e fazia você
andar mais devagar. Eu estava

assim; andando devagar, mas não


parada. Não daria esse prazer ao
Michael.
- Meninas, vocês não vão acreditar
no que aconteceu! – A Gabi disse
enquanto nos sentávamos numa

das mesas do refeitório.

- Diga. – O Richard pediu para a


irmã.

- Lembra que eu fui para um show


domingo? – Ela perguntou. Todos
assentiram. – Então, lembram

que eu disse que o vocalista da


banda era um gato? – Assentimos
de novo. Ela sorriu. – Ontem,

quando eu estava comprando um


CD naquela loja do shopping, eu vi
ele na sessão de rock e fui até

lá, bater um papo e tal. E ele foi


super gentil comigo! Disse que não
sabia muito bem como lidar com
uma “fã”, mas, mesmo morrendo de
vergonha, ele deixou que eu tirasse
uma foto e nós ficamos

conversando sobre música. – Ela


gesticulava enquanto falava,
apressada para chegar logo na parte

importante. – Então, depois de um


bom tempo de conversa, ele pediu
meu número e eu dei, claro. E
ontem à noite, ele me ligou do nada
e começou a contar que uma outra
menina reconheceu ele na rua e

que, graças a mim, ele sabia como


lidar com ela, mas que ela NÃO
ERA TÃO LEGAL QUANTO

EU.

- AI MEU DEUS QUE


BONITINHO! – A Bia deixou
escapar, sorrindo.

O Richard levantou uma


sobrancelha.

- E o que te leva a acreditar que ele


não é um pervertido? – Tudo na sua
voz sugeria ciúmes.

Ela revirou os olhos.

- Ele é extremamente fofo e deve


ter uns 17 anos, no máximo.

Olhei intrigada para ela.

- Qual o nome dele?

- Arthur, por quê?

- Sério? Meu Deus, ele é primo do


Joshua.

- Não acredito! Bem que eu


desconfiei que já tinha visto
aqueles traços em algum lugar.

- E você conhece ele? Sabe se ele é


uma pessoa boa e tal? – O Richard
perguntou.

Afirmei com a cabeça.

- Com certeza. O irmão dele que


não é muito legal, mas ele é ótimo,
sério. Pode ir fundo, Gabi.

Ela sorriu com malícia.

- Irei.

Olhei para a Clara e vi que ela


estava distante do nosso assunto.
Ela passou a semana toda assim.

[...]

Se a semana passou rápido, o mês


passou mais ainda. Pisquei os olhos
e já estávamos em Março. Dia

2, para ser mais precisa.

As provas foram boas, acho que a


minha menor nota foi oito.

E quanto ao resto? As coisas


estavam indo bem, pelo menos para
as pessoas ao meu redor: Gabi e
Arthur estavam cada dia mais
próximos – todos os fins de
semanas ele saíram juntos, sem
exceção –,

Pedro e Elena seguiam o exemplo,


sempre se encontrando fora da
escola e conversando o tempo todo

no Whatsapp – o assunto parecia


simplesmente não acabar quando se
tratava deles –, Richard e Bia

empatavam com Eduardo e Monica


no quesito de melhor e mais fofo
romance. Tudo estava dando
certo para todo mundo, até minha
mãe estava explodindo de
felicidade por causa do namoro
com o

Robert.

E era em todas essas coisas que eu


estavam pensando quando entrei na
sala na primeira aula do dia,

mais cedo do que o normal. Tinha


apenas duas pessoas dentro da sala.
Michael – que eu tinha visto

correndo para dentro antes mesmo


de eu ter saído do carro – e Clara
conversando num canto.

Eu estava prestes a me retirar


quando ouvi um grito.

- POR QUE VOCÊ TEM QUE


AGIR ASSIM? – A Clara perguntou
com raiva. Me virei no mesmo

segundo para eles, que não


pareciam notar minha presença.

- Porque você tem que ser tão


fresca? Eu só disse que não preciso
da sua ajuda para resolver os

meus problemas. – O Michael


rebateu com frieza.
- Mas eu sou sua namorada! Tenho
todo o direito de saber o que te
incomoda e te ajudar com isso!

Ele fechou o punho e eu dei um


passo à frente, preparada para
correr até eles e entrar na
discussão.

- Eu não perguntei o que você é. –


Ele falou lentamente, com toda a
maldade possível.

Ela deu um passo para trás, seus


olhos cheios de lágrimas.

- Não entendo como você consegue


ficar tão frio do nada. – Sua voz
saiu fraca, como um sussurro.

Ele sorriu com desdém.

- Eu não me importo de magoar as


pessoas.

- Nem a mim? – Ela perguntou


ofendida.

- Muito menos a você.

Então os olhos da Clara me


acharam.

- Sabe, Michael... – Seu tom mudou


de triste para ameaçador em
segundos. – Eu ainda sei o seu

segredo.

Ele seguiu o olhar dela e eu o


encarei. Seus olhos se arregalaram.

- Não ouse.

Ela veio na minha direção, mas ele


a puxou pelo braço com força e
sussurrou alguma coisa em seu

ouvido.

Ela balançou a cabeça em negativa,


irritada.
- Você deve achar que eu sou uma
vadia né? – Ela soltou o braço da
mão do Michael bruscamente.

- Não, claro que não. – Ele


respondeu com ar de riso. Que
cretino.

Ela o empurrou com força e correu


até ficar perto de mim.

- Precisamos conversar.

- Claro, pode falar.

- EI, FOI BRINCADEIRA! NÃO


FAÇA ISSO! – O Michael gritou e
correu para onde estávamos.
- O que está acontecendo?

Nos viramos e vimos as meninas, o


Edu, e o Pedro entrando na sala.
Foi o Edu quem fez a pergunta,

estreitando os olhos para nós.

- Apenas um casal discutindo, não


pode mais? – O Michael perguntou
revirando os olhos.

A Clara olhou séria para ele.

- Não somos mais um casal.

O Michael olhou surpresa para ela.


- O que você disse?

- Você ouviu o que disse, agora, se


me dá licença... – Ela foi em
direção à cadeira perto do Edu e

sentou-se nela. Seus olhos pareciam


estar pegando fogo.

O Michael engoliu em seco.

- Vamos conversar. – Ele andou até


ela e segurou sua mão. – Me
desculpa pelas coisas que eu disse.

Ela riu.

- Sinto muito, mas agora é tarde


demais. – Ela olhou para o Edu. –
Pode tirar ele daqui, por favor?

O ruivo sorriu com prazer e


colocou a mão no ombro do
Michael.

- Não me faça ter que quebrar seu


nariz de novo.

Eles se encaram por um tempo, mas


o Michael rapidamente desistiu e
foi para sua cadeira do outro

lado da sala. Seus amigos passaram


pela porta segundos depois e foram
até ele, fazendo barulho.
A Clara tentou falar alguma coisa
para mim durante o intervalo, mas
estava tendo JK musical, onde

os alunos que tinham algum talento


faziam tipo um show para o resto
do colégio, e eu adiei nossa

conversa. Ela ficou extremamente


decepcionada com isso.

As aulas depois do intervalo eram


do professor Cavalcante e ele
encheu o quadro com tantas

anotações que, novamente, eu não


consegui conversar com a Clara.
Estava curiosa para saber sobre o

que era – tinha que ser algo muito


forte para deixar o Michael tão
tenso o dia todo.

Quando o sinal que avisava o fim


das aulas tocou, dei um pulo da
cadeira e fui até a porta do colégio
tão rápido que ouvi um sermão do
professor ao longe, mas eu queria
ver o Joshua. Ele parecia mais

animado esses dias, e eu não sabia


se ficava feliz ou triste por isso.
Quanto mais animado ele ficava,
mais eu pensava que ele tinha me
esquecido.

O Michael e o Nicolas ficaram ao


meu lado até o carro do Joshua
chegar e nós entramos. O Michael,

como sempre, no banco do


passageiro.

- Como foi o dia? – Ele perguntou


sorrindo.

- Comecei namorando e terminei


solteiro. – O Michael respondeu
com algo parecido com tristeza,

mas não exatamente. Era mais como


raiva.
- Sinto muito... O que aconteceu?

- Nós tivemos uma discussão. – Ele


diminuiu muito o acontecimento.

- Aleluia a Clara tomou jeito. – O


Nicolas sussurrou quase inaudível
no meu ouvido e eu soltei uma

risadinha.

O Joshua não respondeu. Alguns


minutos depois, estacionamos na
porta de casa. Eu, o Michael e o

Nicolas saímos do carro, mas o


Joshua ficou.
- Não vou dormir em casa hoje. –
Ele explicou para nossas caras
interrogações. Seus olhos foram até

os meus e ele completou falando


diretamente para mim: - Vou dormir
na casa da Jane.

Meu coração falhou uma batida e eu


senti uma vontade chorar tão grande
tão repentina que o máximo

que pude fazer foi me virar e entrar


na casa quase correndo. Dane-se
que ele percebeu o quanto

aquilo me atingiu.
Fui direto para o meu quarto e
sentei na borda da cama, me
segurando para não me desmanchar
em

lágrimas.

Então era por isso que ele estava


todo feliz!

Argh.

Poderia ser qualquer uma, mas ele


escolheu logo a que fez tudo de
ruim acontecer. A que eu mais

odeio.
[...]

Eram umas 18h quando eu acordei.


Tinha ido dormir há duas horas,
achando – em vão, é claro – que

isso faria eu parar de pensar no


Joshua.

Fui dá uma olhada no Whatsapp e


vi que a Clara estava online.

Susan – 18:02:

Oi, o que vc queria me contar na


escola?

Ela não demorou nem um segundo


para responder.

Clara – 18:02:

Acho melhor você ir logo se


preparando...

Susan – 18:02:

Para de suspense e conta logo


kkkkk.

Ela começou a digitar e, pela


demora, eu percebi que seria um
texto bem grande. Me ajeitei,
coloquei o celular na cama e apoiei
minha cabeça nos cotovelos
enquanto esperava.
Clara – 18:15:

Antes de tudo, eu já vou me


desculpando de agora por tudo o
que fiz. É claro que, no começo,
nem eu

sabia o que tinha feito, mas depois


eu entendi. E eu sinto muito mesmo.
Espero que um dia você

possa me perdoar...

Tudo começou no Domingo, depois


do acampamento. O Michael tinha
me chamado para ir até a casa

dele e eu fui, claro. Ele me ligou e


pediu para ir direto para o quarto
dele, sem falar com ninguém, e foi
exatamente isso que eu fiz.

Chegando lá, vi que ele não tava


sozinho; a Jane irmã do Eduardo
também estava lá. Perguntei o que

ela estava fazendo ali e eles


sorriram de um jeito suspeito.
Lembro que ela disse algo como
“ela é

exatamente da cor que a gente quer”


e eu não entendi absolutamente
nada. Então o Michael falou que
precisava da minha ajuda para um
tipo de filme e me entregou uma
roupa simples. Depois de algum

tempo com eu fazendo perguntas


que não eram respondidas
diretamente, acabei fazendo o que
ele

queria: vesti aquela roupa e prendi


o cabelo.

Então as começaram a ficar


estranhas.

Ele pediu para que eu pegasse uma


bijuteria que estava no meu bolso e
colocasse no lugar de uma

joia que estava dentro de um cofre


no quarto dos pais deles. É claro
que eu perguntei o porquê

daquilo, mas ele disse que era


importante e usou todo aquele
charme contra mim até que eu
aceitei e

fiz o que ele pediu.

Quando acabou, perguntei qual


seria o papel da Jane e ela falou
que não era hoje que ela iria fazer.

Depois de um tempinho de
conversa, ela disse que iria embora
e me ofereceu carona. Aceitei,
ainda

meio sem entender o que tinha


acontecido.

Descemos até a sala e eu vi que sua


mãe estava limpando uma prateleira
com uma roupa

assustadoramente parecida com a


minha. Por um segundo de lerdeza,
me perguntei por que o Michael

faria um filme que incluía uma cena


daquelas – com a sua mãe roubando
uma joia.

Só no dia seguinte, quando o


Michael me disse que você e o
Joshua tinham terminado, que eu

comecei a juntar algumas peças.


Não preciso ser uma gênia para
entender que ele usou aquela

gravação contra você. E, assim que


eu percebi isso, fui até o Michael
tomar satisfações, mas ele

simplesmente me ignorou! E ainda


mandou eu parar de me meter na
vida dele! Dá para acreditar? Ele
é tão idiota.

Mas, por causa do estupido amor


que eu sentia por ele, decidi não
contar nada para você por

enquanto. Isso fez eu me sentir tão


culpada! Toda vez que eu te via eu
lembrava de tudo e minha

consciência pesada tanto que eu não


conseguia nem conversar direito.
Acho que você notou o quanto

eu fiquei silenciosa esses tempos.

E esse mês passou tão rápido que


eu simplesmente acabei deixando
aquele assunto de lado. Me

desculpe de verdade por isso.


Então hoje de manhã eu tive que
acordar mais cedo do que o normal
e

fiquei na sala esperando as outras


meninas chegarem para eu ter
companhia, mas só quem chegou foi

o Michael, com uma cara tão triste


que eu nem hesitei em perguntar o
que tinha acontecido. Pra que

eu fui fazer isso? Ele foi super


grosso comigo e me deu um fora
daqueles, então eu comecei a gritar

com raiva e acho que o resto você


já sabe.

É isso. Me desculpa. Eu sei que


devia ter dito antes... Espero que
você entenda o meu lado. E se

você quiser processar o Michael,


ou sei lá, pode contar comigo para
ser sua testemunha.

Espero que tudo entre você e o


Joshua dê certo. Shippo demais
Jophia :-)

Li umas três vezes aquele texto


antes de responder. Agradeci
rapidamente pela verdade e saí do

Whatsapp para discar o número do


Joshua. Eu estava livre, pensei.

✣Joshua✣

- Achei que você não vinha. – A


Jane disse enquanto abria a porta
para eu passar. Aquela era a

primeira vez que eu entrava na casa


dos Lohan.

- Tem certeza que não tem ninguém?

- Meus pais estão viajando e o


Eduardo foi dormir na casa da
Monica. Ninguém vai atrapalhar a

gente hoje.

Ela se aproximou de mim e pousou


as mãos na minha nuca, fazendo
com que meus olhos fossem

obrigados a olhar nos dela. Até que


ela era bonita. Acho que não
poderia ter escolhido ninguém

melhor para começar essa nova


fase da minha vida: a “voltando a
ser o que era antes de conhecer a

Susan”.
- Acho que tenho que te pedir
desculpas por tudo o que aconteceu
naquele dia. – Disse enquanto a

puxava pela cintura.

Ela negou com a cabeça.

- Já faz quase dois meses... Todos


nós já superamos aquilo. – Ela
estava se referindo á Susan, eu

sabia disso. Eu só não sabia se


concordava.

Assenti com a cabeça e observei


enquanto ela ficava na ponta dos
pés. Nos beijamos devagar,
aproveitando o momento como se
não houvesse o dia de amanhã. Ela,
sem tirar a boca da minha, me

guiou por um corredor e eu soltei


uma das mãos de sua cintura para
abrir a porta. Era o quarto dela.

Mal entramos e eu já a tinha


colocado contra a parede, nosso
beijo acelerando junto com os

batimentos cardíacos dela – que eu


conseguia sentir por causa dos
nossos corpos colados.

Ela sorriu quando tivemos que


parar para respirar.

- Senti sua falta. – Ela sussurrou


sem fôlego.

Não respondi. Não queria ter que


mentir para ela.

Ela notou meu silencio.

- Esse é o momento em que você


diz que também sentiu a minha. –
Ela explicou enquanto passava a

mão no meu cabelo lentamente, com


carinho. Tentei me deixar levar por
essa boa sensação.
- Desculpa, não sou muito bom com
palavras.

Ela tirou as mãos do meu cabelo e


se afastou um pouco para olhar
melhor para mim. Minhas mãos

ainda estavam em sua cintura.

- Desde quando você não é bom?


Porque, que eu me lembre, você
tinha os melhores flertes do

mundo.

Suspirei decepcionado pelo rumo


que essa conversa estava tomando.
- As coisas mudam quando você se
apaixona por alguém. – Deixei
escapar. Merda.

- Ainda pensando na Susan? – Ela


perguntou ficando irritada. – Não
acredito que você ainda não

esqueceu aquela menina.

Tirei as mãos da cintura dela.

- Não vim aqui para discutir como


anda meu coração.

Ela pareceu ficar ofendida. Eu


deveria começar a pensar antes de
falar.
- Então é isso? Você veio aqui só
para me usar e me jogar fora como
na ultima vez? – Seus olhos se

encheram de lágrimas. Merda,


merda, merda.

Tentei me aproximar dela, mas ela


me afastou com uma mão.

- Eu juro que estou tentando...

Ela fez que não com a cabeça.

- Joshua, você tem que esquecer


aquela menina! Depois de tudo o
que ela fez você ainda consegue
sentir alguma coisa por ela?

Abri a boca para responder,


quando, do nada, percebi uma
coisa.

- Como você sabe que ela fez algo


grave?

Ela revirou os olhos.

- Estava na cara né, ela sempre


mostrou a mentirosa que era.

Dei um passo para trás.

- Como você sabe que ela mentiu?


Eu tinha pedido para os meus
irmãos não contarei sobre o que
aconteceu. E a Jane estudava com o

Nicolas, que nunca fazia algo que


pedia para não fazer.

A Jane pareceu ficar abalada com


as minhas perguntas.

- Quem te contou? – Insisti.

- A própria Susan fez questão de


contar para todo mundo sobre o
planinho dela com aquela tal de

Heloisa. – Ela respondeu rápido.


Rápido demais, até.
- Por que a Susan diria algo que a
faria parecer má?

- Porque ela é uma idiota, simples


assim! – Sua voz estava cada vez
mais nervosa.

Cruzei os braços.

- Quero a verdade, Jane.

Ela me encarou, forçando uma cara


de ofendida que não enganava
ninguém.

- Me promete que não vai me


matar?
Tentei conter minha expressão de
surpresa. Eu tinha apenas chutado
que existia uma verdade.

- Prometo, é claro. – Respondi


calmamente, tentando me controlar.

Ela respirou fundo.

- O Michael e eu estávamos
conversando um dia desses e
acabamos descobrindo que temos
muitas

coisas em comum, por exemplo:


nenhum dos dois gostava de ver
você e a Susan juntos. Era
simplesmente insuportável. – Ela
dizia cada palavra com insegura,
como eu pudesse soca-la a

qualquer momento. – Então o


Michael teve a ideia de fazer com
que a Susan terminasse com você
por

medo.

- Como assim? – Perguntei


agoniado.

Ela mordeu o lábio inferior.

- Fizemos a Clara colocar uma


roupa sem graça, prender o cabelo
e fazer uma “cena” para nós; ela

tinha que roubar uma joia do cofre


dos seus pais e colocar uma cópia
no lugar. Tudo filmado pela

câmera de segurança. – Ela fez uma


pausa, com medo de continuar. –
Depois, o Michael pegou o

DVD desse vídeo e fez a Susan


assistir, dizendo que era a mãe dela
e que ela tinha duas opções: ou

terminava com você ou a mãe dela


seria presa. É claro que ela
escolheu a primeira opção. E eu
escrevi um roteiro para que você a
odiasse tanto que não iria ter mais
nem um pingo de sentimentos

por ela.

Meu cérebro trabalhou para


processar aquela informação. A
primeira coisa que eu senti foi
raiva.

Muita raiva.

- VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO


ISSO COMIGO! – Gritei com ódio,
me segurando para nao bater

nela até dizer chega.


Ela abaixou os olhos.

- Foi por amor, Joshua. Eu juro.

- Como ousa chamar isso de amor?


– Meu tom era de puro nojo. – Você
ultrapassou todos os limites!

- E-Eu si-sinto muito. – Ela


gaguejou, ainda sem olhar para
mim. – Você tem que entender que
eu

estava sem opções.

- E decidiu, em vez de tentar me


conquistar como uma pessoa
sensata faria, arruinar todo um
relacionamento? Como você
consegue dormir a noite?

Ela finalmente olhou para mim.

- Eu penso que apenas adiei o


inevitável. Vocês não nasceram
para ficarem juntos! – Ela tentou se

aproximar de mim, mas eu dei um


passo para trás, com os braços
cruzados. – Nós que fomos feitos

um para o outro.

- Você é louca!

- Você precisa entender que...


- EU NÃO PRECISO ENTENDER
PORRA NENHUMA! VOCÊ NÃO
TINHA O DIREITO DE

FAZER UMA COISA DESSAS


COMIGO! SE VOCÊ ME AMA
TANTO, POR QUE NÃO PENSOU

EM COMO FICARIA MEU


CORAÇÃO?

Ela se calou.

- Eu vou embora daqui.

Saí do seu quarto sem ser


impedido. Ela ainda estava
absorvendo minhas palavras.
Fui até a calçada e peguei o celular.
Eram 18:20.

Eu ainda estava discando o número


dela quando meu celular vibrou.
Olhei para o nome da pessoa

que estava ligando. Susan. Atendi


antes mesmo que começasse a
tocar.

- Precisamos conversar! – Falamos


ao mesmo tempo.

Fiquei confuso.

- Mas, tem que ser pessoalmente. –


Ela completou, sua voz parecia ter
pressa.

- Já já eu chego ai. – Respondi,


sentindo todos os meus músculos
relaxando. As coisas iriam

finalmente começar a dar certo.

- Estarei esperando.

Ficamos em silencio por um


segundo.

- Susan. – Chamei.

- Oi. – Ela respondeu insegura.

Sorri.
- Eu amo você.

34. A segunda vez é ainda melhor

Perdi a respiração. Meus ouvidos


estavam me enganando, só pode.

- O que você disse? – Perguntei


confusa.

Ele soltou uma risada fofa.

- Eu amo você, Susan. Ouviu


agora?

Meu coração deu um triplo mortal


para trás.
Não estava interessada em como
ele me perdoou ou em como ele
descobriu tudo, aquilo não era

importante. Isso era importante. Ele


me ama. Existe algo mais
importante do que isso?

- Eu também amo você. – Respondi


baixinho, como um sussurro. Se eu
falasse muito alto, talvez me

acordasse desse sonho. – Ai meu


Deus, Joshua, eu amo tanto você!

Apertei o celular contra o meu


ouvido como se isso pudesse trazer
o Joshua para perto de mim.

- Chego ai em 10 minutos e nós


continuamos essa conversa a partir
dessas três palavras, ok?

Sorri radiante.

- Nunca quis tanto que 10 minutos


passassem voando.

- Na verdade, já quis sim. – Ele


retrucou. – Reflita enquanto eu
dirijo até ai o mais rápido possível.

E desligou.

Eu sabia do que ele estava falando:


nossa primeira vez. E ele estava
certo, é claro.

Queria que ele não tivesse


desligado, mas eu sei que é melhor
ele dirigir sem estar falando
comigo –

ou com qualquer pessoa, na


verdade.

Eu amo você, Susan.

Como quatro palavras conseguiam


me deixar assim? Meu coração
estava quase saltando pela minha

boca. Não existe nada no mundo


que se compare a ouvi-lo dizendo
isso.

Sentei na cama pensando no que


faria nesses 10 minutos. Bem que
eu poderia falar para o Michael

que eu acabei de ganhar o jogo, mas


ainda não era o momento certo.
Não, primeiro o Joshua.

Decidi ver vlogs para passar o


tempo; boa escolha, aliás.

Eu estava no meio do quarto vídeo


do LubaTV quando ouvi batidas na
porta. Corri para abrir e lá
estava ele. Paramos a poucos
centímetros um do outro,
encarando-nos. Os olhos dele nunca
foram tão

lindos.

- Posso entrar? – Ele parecia


tímido.

Abri espaço para ele entrar e fechei


a porta em seguida. Nos viramos ao
mesmo tempo, a alguns

metros de distancia um do outro.

- Quer uma explicação? – Ele


perguntou.
Neguei com a cabeça.

- O que importa é que você sabe a


verdade agora. – Me aproximei
dele até que só restassem dois

passos para nos tocarmos.

Ele assentiu.

- Senti sua falta.

- Senti mais a sua.

Ele deu um passo na minha direção.

- Não podemos fingir que nada


aconteceu, você sabe disso né?
- Claro que sei. – Respondi com
sinceridade, mesmo que, por
dentro, eu quisesse apenas jogar
todo

aquele passado pro espaço e seguir


em frente. – Mas, será que nós
podemos nos beijar agora e

conversar sobre isso depois?

Ele riu e me puxou pela cintura.


Minhas mãos foram para sua nuca e
seu cabelo. Ai meu Deus, como

eu senti falta disso. Enquanto eu ia


para a ponta dos pés, ele se
aproximava de mim devagar, com

cuidado.

Então nossas bocas se tocaram.

E tudo – de repente e lentamente –


começou a fazer sentido. Era como
se eu tivesse perdido um livro

que estava lendo e, depois de um


tempo, o encontrasse em algum
lugar e começasse a ler de onde

parei.

Nós ainda nos encaixávamos com


perfeição. Tudo parecia ter sido
moldado para ser assim. Ele me

empurrou de leve até que minhas


costas se apoiassem na parede e
suas mãos desceram para o meu

quadril.

Paramos apenas para respirar.

- Me pergunto como consegui


sobreviver sem beijar você todo
esse tempo. – Ele sussurrou sem

folego.

Não tinha forças para responder;


até porque nada que eu dissesse
conseguiria descrever esse

momento. Por sorte, ele não estava


mesmo afim de palavras. Nossas
bocas se encontraram

novamente. Eu poderia beijá-lo até


o fim dos meus dias.

Nos beijávamos de forma intensa,


quase desesperada. Eu só queria
ainda mais dele e ele ainda mais

de mim. Ele pôs as duas mãos na


minha cintura e me puxou para
cima, me tirando do chão, fazendo

com que minhas pernas não


tivessem outra opção a não ser
abraçarem sua cintura.

Então, novamente, tivemos que


parar por causa do ar – maldito ar.

- Eu amo você. – Ele falou


baixinho, seu hálito fazia cocegas
no meu ouvido.

- Eu também amo você. – Respondi


no mesmo tom, olhando fixo para
aqueles olhos azuis brilhantes.

Se eu pudesse, nunca desviaria


daqueles olhos.

Vi um sorriso dançando nos seus


lábios. Ele se virou de novo para
mim e nossos narizes e nossas

testas se tocaram. Poderíamos ter


nos fundido e virado uma única
pessoa nesse momento que eu não

me surpreenderia.

Ele, com as duas mãos firmes na


curva da minha cintura, me guiou
até que eu sentisse a cama abaixo

de mim. Ficamos de joelhos em


cima da cama, bem no meio dela,
um na frente do outro. Ele sorriu.

Eu sorri. Não existia plano no


mundo que pudesse tirar isso de
mim; esse amor insuportavelmente

grande que eu sentia pelo Joshua.


Não importa se nós tínhamos
passado um mês sem sequer se
falar,

nosso amor continuou o mesmo.

Dessa vez, não nos beijamos.


Apenas nos olhamos, como se
pudesse, assim, compensar todas as

vezes que viramos a cara quando o


outro passava. Eu adorava beijá-lo,
é claro, mas olhar para ele
era igualmente bom. Ele era lindo,
com todos os sentidos possíveis
para o adjetivo.

- Ainda precisamos conversar. –


Ele disse ficando levemente mais
sério, mas sem apagar

completamente seu sorriso.

- Não podemos fazer isso mais


tarde?

- Isso é bem tentador... – Ele se


aproximou e me deu um selinho
devagar, mas, quando eu estava

prestes a evoluir o beijo, ele se


afastou de novo. – Mas quanto mais
cedo nós esclarecemos o assunto
mais cedo vamos nos livrar dele.

Ele era quatro anos e alguns meses


mais velho do que eu, isso era
visível para quem visse de longe,

mas eu raramente lembrava desse


detalhe. E essa era uma daquelas
situações em que ele deixava

esse fato óbvio e visível. Ele sabia


mais do que eu sobre o mundo.

- Ok, vamos conversar então. – Me


sentei na cama e ele imitou. – Por
onde quer começar?

- Que tal pelo domingo?

Suspirei.

- Se você está aqui, já sabe o que o


Michael fez... – Comecei.

- Sim, eu só não entendo porque


você não veio me contar. – Ele me
cortou, como se essa frase

estivesse na ponta da língua dele


desde que ele entrou no quarto.

- Eu fiquei com medo de você não


acreditar. – Confessei, olhando
para baixo.

- Ei, olhe para mim. – Fiz o que ele


mandou. – Eu nunca, nem em sonho,
ficaria contra você.

Fiquei quieta. Eu fui tão idiota por


não ter confiado nele.

- Arranjaríamos um jeito, qualquer


coisa, mas não eu não iria ficar
parado e aceitar enquanto meu

irmão te ameaça. – Ele disse a


palavra irmão como se falasse de
um desconhecido. Deve ser tão

difícil descobrir que o irmão na


verdade é um monstro.

- Eu sei, Joshua. Mas você não faz


ideia da pressão que ele fez! Ele
falou que se eu te contasse ele iria
demitir minha mãe no mesmo dia e
eu simplesmente não poderia deixar
isso...

- Desde quando o Michael tem


autoridade para demitir alguém? E,
vamos ser francos, se eu me

colocasse contra ele na frente do


meu pai, ele me escolheria.

Ele estava certo, o senhor Fernando


era extremamente parcial – tanto
que, se ele fosse um pouquinho

menos malvado, eu sentiria pena do


Michael.

- Sinto muito. – Foi o que consegui


dizer.

Ele deu de ombros.

- Pelo menos já passou.

Assenti com cabeça e sorri. Pelo


menos já passou. Se essa frase
fosse vendida num leilão, eu daria

todo o meu dinheiro por ela.


- E agora nada vai atrapalhar a
gen...

- Shh. – Ele ergueu o dedo


indicador. – Você disse isso da
última vez.

- Mas agora é pra valer... Só acho


que você deveria ter uma conversa
séria com o Michael, você não

pode deixar tudo isso barato.

Ele não pareceu feliz com a ideia.

- Acho que, depois de tudo o que eu


já fiz com ele, nada mais justo do
que o aconteceu. Mas eu
lamento o fato de ele ter te
envolvido nisso.

- O que você já fez com ele? –


Perguntei intrigada, já tinha ouvido
o Michael mencionar algo assim.

- Nada não.

Há um mês, Michael me respondeu


a mesma coisa.

Decidi não insistir.

- Então, que tal a gente voltar de


onde parou?

Ele sorriu com malicia.


- Um pouco mais do que aquilo
também, pode ser? – Ele perguntou
na se aproximando de mim.

- O que você quiser. – Respondi


com um sussurro em seu ouvido.

Ele me puxou pela cintura para que


eu me sentasse em seu colo e
colocasse minhas pernas ao seu

redor. Joguei o cabelo para o lado


esquerdo enquanto ele percorria o
meu pescoço com beijos.

Suspirei. Minhas mãos acariciavam


o cabelo dele e, quando eu enrolei
um fio e observei enquanto

ele se desmanchava em meu dedo, o


Joshua também suspirou.

Suas mãos desceram até a borda da


minha camisa e seus olhos me
perguntaram sem palavras se

poderiam ou não continuar. Como


resposta, o beijei com mais
intensidade. Ele entendeu o recado
e

deslizou minha camisa para cima


fazendo com que nós tivéssemos
que interromper o beijo para ela
passar. Com uma mão, enrolei ela e
a joguei para algum canto do
quarto.

- Minha vez. – Falei baixinho.

Ele mordeu o lábio inferior e


assentiu com a cabeça.

Minhas mãos fizeram exatamente o


que as dele tinham feito há poucos
segundos e ele me ajudou a

tirar até o fim. Ela também foi


jogava para longe. Senti minhas
bochechas corando enquanto eu o

observava; ele era perfeito. Como


se tivesse sido pacientemente
esculpido.

Ele me puxou para cima e ficou de


joelhos, me inclinando até que
minhas costas tocassem a cama

abaixo de mim e ele ficasse por


cima. Minhas mãos desceram da
sua nuca e foram até suas costas

fortes.

- O que acha de tirar mais uma


camada de roupa? – Ele sussurrou
no meu ouvido.

- Uma boa ideia. – Respondi no


mesmo tom e me surpreendi com o
quanto minha voz saiu sensual.

Ele sorriu com o canto da boca e


ergueu de leve o quadril para que
suas mãos pudessem desabotoar

minha calça jeans. Fechei os olhos


e senti um ultimo selinho antes de
ele descer para minhas pernas e me
deixar apenas com uma camada.

- Abra os olhos e olhe para mim. –


Ele pediu.

Obedeci e observei enquanto ele


abria os botões prateados da
própria calça e a tirava em seguida,

com poucos e precisos movimentos,


mas não sem antes tirar alguma
coisa do bolso. Posso deduzir

que coisa era essa.

Tentei desviar do volume de sua


cueca box, mas não consegui. Ele
seguiu meu olhar e levantou uma

sobrancelha para mim, fazendo com


que eu corasse ainda mais e olhasse
para os olhos dele. Então

ele se aproximou até que a única


coisa que eu conseguisse ver fosse
o brilho azul daquele par de

olhos.

Ele, sem acabar com o contato


visual, abriu o fecho do meu sutiã e
eu o ajudei com as alças. Agora

só tinham duas camadas entre nós.

- Você só ficou mais bonita. – Ele


murmurou quase sem voz, como se
estivesse pensando alto.

- Faço de suas palavras as minhas.

Sorrimos ao mesmo tempo e meus


olhos se fecharam enquanto ele
beijava cada parte do meu corpo

até chegar às minhas pernas. Senti


sua respiração perto da minha
intimidade e mordi o lábio inferior
pensando no que iria acontecer.
Suas mãos deslizaram minha
calcinha até meu tornozelo e ele a

retirou rapidamente.

Arrisquei uma olhada e que agora


não havia nenhuma camada de
roupa entre nós. Desviei os olhos

para os dele e sorri quando ele se


aproximou de mim e me beijou com
intensidade. Ele segurou

minhas mãos acima da minha


cabeça. Senti enquanto ele entrava
dentro de mim aos poucos. Então

veio a primeira estocada e minhas


costas arquearam para cima.

- PORR... – Eu comecei a gritar,


mas ele me beijou mias forte para
que eu me calasse. Deu certo.

Ele era rápido. Meus olhos se


fecharam quando minhas pernas não
aguentaram mais e agarraram o

quadril dele, fazendo-o ir com mais


força.

Arrisquei uma olhada e ele estava


com os olhos fechados. Ainda
estávamos nos beijando quando

senti uma sensação tão boa que eu


só quis mais e mais do Joshua; e
acho que ele sentiu a mesma

coisa, pois veio com mais


intensidade até que todos os meus
músculos se contrariam e minhas
pernas

despencaram do seu quadril.


Respirei fundo para tentar
recuperar o folego.

Ele se afastou por alguns segundos


para retirar a camisinha e a jogou
no ar, fazendo com que ela

atingisse, com precisão, a tampa da


lixeira.

Quando ele se deitou de novo, eu


me aproximei e sorrimos um para o
outro.

Meu dedo traçava círculos


invisíveis no peito nu dele.
Conseguia ouvir sua respiração
leve, mas ele
não estava dormindo; sabia disso
por causa do movimento suave da
sua mão em meu cabelo.

- Hoje foi o melhor dia da minha


vida. – Ele falou baixinho, alguns
minutos depois.

- Digo o mesmo. – Respondi com


um sorriso. Cada minuto parecia
irresistivelmente melhor que o

outro.

- Então, o que aconteceu esse mês


na sua vida? – Ele perguntou.

Parei de fazer os círculos


imaginários e descansei minha mão
em seu peito.

- Nada de relevante... A verdade é


que tudo passou meio em preto e
branco, sem grandes emoções.

- Aconteceu o mesmo comigo, mas


eu fingia que estava animado às
vezes só para não parecer que

você é tão importante para mim. –


Ele confessou baixinho.

- Não posso dizer o mesmo, eu não


conseguia fazer isso, por isso
simplesmente ignorava sua
existência para não sofrer, entende?

Sai do aconchego dos seus braços e


subi até ficar frente a frente com
ele, com a cabeça apoiada no

cotovelo. Ele me imitou.

- Entendo. – Ele fez uma pausa. –


Acabei de lembrar que você
precisa de uma pulseira nova.

Sorri.

- Você está certíssimo, mas, dessa


vez, quero que você use algo meu
também.
Ele assentiu.

- Só não pulseira porque é meio


gay. – Ele falou rindo e eu ri
também. – Nada contra. – Ele

acrescentou ainda sorrindo.

- Que tal um anel?

Ele pensou um pouco.

- Só se você me prometer que


vamos usar outro daqui a alguns
anos. – Ele respondeu por fim.

Sorri com a ideia.


- Eu prometo.

Ele sorriu radiante.

- Amanhã eu procuro um anel


perfeito para você.

- Para nós. – Corrigi com leveza.

- Ok, para nós. E quando você se


formar eu procuro outro. – Ele
segurou minha mão e entrelaçou os

dedos com os meus. – E você


procura seu vestido de noiva.

Assenti com a cabeça.


- Vai ser perfeito. – Disse baixinho.

- Já é perfeito. – Ele retrucou.

Nos beijamos.

- O que acha de um segundo round?


– Ele perguntou no meu ouvido.

- Uma boa ideia.

Ele me puxou para cima e suas


mãos desceram para minha cintura.

[...]

Acordamos com o barulho de


alguém batendo na porta.
- Está aberta. – O Joshua respondeu
revirando os olhos.

Puxei o lençol até meu pescoço e


observei a porta se abrindo.

Senti minha respiração parando


quando vi quem era.

Michael.

35. O novo e o inesperado

Os olhos verdes-mar dele se


arregalaram.

- Mas que porra...? – Ele começou,


levantando uma sobrancelha.
O Joshua se sentou na cama,
deixando apenas o essencial
coberto.

- Oi Michael, bom dia pra você


também.

Eles se encararam em silencio.


Senti meu rosto queimando quando
me dei conta da situação. Merda.

- Eu só... Vim acordar a Susan para


ir à escola. – Ele disse devagar,
como se ainda tentasse assimilar o
que estava vendo.

- Recado dado, pode ir. – O Joshua


retrucou calmamente.

Mas ele não mexeu nem um


músculo, apenas ficou parado
olhando fixamente para o Joshua.

- Sabe irmão, não é a primeira vez


que te pego nessa situação.

Com o canto do olho, podia ver o


Joshua ficando tenso.

- Só saia daqui como da ultima vez.


– Ele rebateu rapidamente, irritado
pelo rumo que a conversa

estava tomando.
- E você pretende en...

- EU MANDEI VOCÊ SAIR! – O


Joshua o cortou no meio da frase.
Olhei assustada para ele, que

parecia fuzilar o irmão com os


olhos.

- Ah, então você não quer que a


Susan saiba? – O Michael
perguntou com um sorriso de
desdém.

- Por favor – o Joshua pediu, quase


implorando – saia daqui e eu não
conto para nossos pais o que
você fez.

O Michael riu.

- Você realmente acha que eu me


importo com o que aqueles dois
pensam?

- Michael, já chega. – Ele se


abaixou um pouco e pegou alguma
coisa no chão, rapidamente a

colocando por baixo do lençol e


fazendo alguns movimentos que eu
não conseguia distinguir. Poucos

segundo depois, ele se levantou, de


cueca. Tentei não encarar, mas era
difícil. – Precisamos

conversar.

- Sobre o que?

- Não se faça de sonso.

Queria estar com uma roupa para


me levantar e ficar ao lado do
Joshua, mas, em vez disso, eu tinha

que ficar aqui, praticamente


escondida para o Michael não ver
nem um centímetro do meu corpo.

- É sério, não sei sobre o que você


quer conversar. Porque, se vocês
estavam se comendo, significa

que já sabe tudo o que deveria


saber. – Ele falou simplesmente.

Observei enquanto os ombros do


Joshua subiam e desciam devagar.
Ele estava respirando fundo para

não começar uma briga, aposto.

- Só não entendo por que você fez


tudo aquilo.

- NÃO ENTENDE? EU PODERIA


CITAR VÁRIOS MOTIVOS PARA
ISSO. – O Michael explodiu,
dando um passo em direção ao
Joshua.

- PELO AMOR DE DEUS, VOCÊ


TEM QUE ME PERDOAR!

- Eu tenho porra nenhuma! Você


merece tudo o que aconteceu.

Queria saber do que eles estavam


falando.

- Eu entendo que você queira se


vingar, mas não precisava ter
metido a Susan nisso.

- Como não? Se ela é a coisa mais


importante do mundo para você. –
Ele respondeu como se eu não

estivesse ali.

O Joshua se virou para mim por um


segundo e nossos olhares se
cruzaram.

- Você está certo, ela é. – Ele se


virou de novo para o irmão. – Mas
você não tinha o direito de usar o
emprego da mãe dela contra ela. Eu
poderia até denunciar você por
isso.

- Mas você não vai e nem pode


fazer isso. Nossa família tem um
nome a zelar, lembra? E, não fui eu

quem deu a ideia de fazer isso.


Tudo saiu da mente da sua ex vadia
ruiva.

- Eu sei disso. Quem você acha que


me contou?

O Michael ergueu as sobrancelhas,


surpreso.

- Não sabia que ela era tão idiota. –


Ele comentou pensativo.

- EI VOCÊS DOIS! – Chamei


irritada. Os dois se viraram para
mim. – Será que eu posso me trocar
ou vocês vão ficar ai conversando?

O Joshua sorriu como se eu fosse


uma criança falando, fascinado.

- Ela tá certa, depois nós


conversamos.

Michael olhou para mim e soltou


uma risada.

- Você parecia a mais pura daquele


grupinho que você anda. – Ele se
virou para a porta. – Enganou

bem.

E saiu.
Eu e o Joshua nos encaramos por
alguns segundos. Então ele riu. E eu
ri. Era tão bom poder rir de

novo.

- Você tinha que ver a sua cara


quando o Michael abriu a porta. –
Ele falou rindo.

Revirei os olhos.

- E você deu um grito para cortar o


que ele iria dizer. Não era só eu
que estava nervosa.

- Mas você estava nervosa por


vergonha. – Seu riso parou. – Eu
estava nervoso por culpa.

- O que quer dizer com isso?

- Muitas coisas aconteceram entre o


mim e o Michael, acho que você já
conseguiu deduzir isso.

- Sim, mas é só isso mesmo que eu


consegui alcançar com as poucas
informações que vocês me dão.

Ele deu de ombros.

- Por mim, eu nunca mais falaria


sobre aquilo, mas o Michael
simplesmente não esquece.
Suspirei. Acho que eu não vou
descobrir agora o motivo de tudo
isso.

- Ei Joshua, que tal você me dá


cinco minutos para eu me trocar? –
Perguntei sorrindo e apontando

com o queixo para o lençol que me


cobria.

- Pode ser, mas posso te garantir


que essa visão sua não é nada mal.
– Ele sorriu malicioso.

Soltei uma risada tímida e ele me


mandou um beijo antes de sair do
quarto.

Me levantei devagar, relembrando


mentalmente tudo o que aconteceu
nas ultimas horas. É incrível

como a vida de alguém pode mudar


completamente de um dia pro outro.

Fui ao banheiro, fiz tudo o que


deveria fazer e troquei de roupa;
fazendo tudo isso meio voadora,
com os pensamentos concentrados
apenas no Joshua, é claro. Não
tinha como não pensar nele.

Ele era tão fofo e romântico ao


mesmo tempo em que era
pervertido e descontraído. Não o
imagino

fazendo tanto mal ao Michael


quanto ele deve ter feito em algum
momento. Maldade e Joshua são

duas coisas que não combinam.

Desci as escadas e vi os três


irmãos Hunter sentados ao redor da
mesa.

- Bom dia. – Cumprimentei com um


sorriso.

Os três olharam para mim ao


mesmo tempo e o Joshua apontou
para a cadeira ao seu lado.

- Bom dia anjinho. – O Nicolas


respondeu também sorrindo. –
Soube que o casal do ano fez as
pazes.

Sentei entre ele e o Joshua, em


frente a um Michael entediado.

- Melhor notícia do mundo. – Falei


enquanto o Joshua colocava o braço
no meu ombro e me puxava

para perto dele.

- Do universo. – O Joshua corrigiu,


mordendo o lábio inferior.

O Michael se levantou da mesa


nesse segundo.

- Não quero vomitar no meu café da


manhã. – Ele disse antes de se virar
e ir comer no sofá.

- Você conversou com ele? –


Perguntei ao Joshua.

- Ainda não... É difícil prever o que


vai acontecer quando se trata do
Michael. Ele é muito impulsivo às
vezes.

- Mesmo assim você deveria falar


com ele, – Nicolas afirmou
pensativo – querendo ou não, você

ainda é o irmão mais velho.

Era o estranho o fato de que isso


era algo que deveria ser lembrado,
estranho como era fácil

esquecer que todos eles eram uma


família.

O sangue que corre nas veias do


Michael corre também nas do
Joshua; isso deveria ser um motivo

mais do que suficiente para eles


não brigarem desse jeito.
Mas não era.

- Farei isso quando voltarmos, ok?


– O Joshua concluiu se levantando
e pegando as chaves na mesa.

– Vamos?

Tomei o ultimo gole do meu suco e


me levantei junto com o Nicolas.
Fomos direto para o carro e,

sem que nenhuma palavra tivesse


que ser pronunciada, abri a porta
do banco do passageiro e entrei.

Acabamos chegando atrasados na


escola – porque o Joshua pegou,
simplesmente, todos os sinais

vermelhos no caminho até aqui – e


quando eu entrei na sala, ao lado do
Michael, todos os alunos já

estavam sentados, conversando


enquanto esperavam o professor
chegar.

Me juntei aos meus amigos, ao lado


da Elena e da Gabi, enquanto o
Michael foi para o outro lado da

sala se sentar perto dos amiguinhos


dele. Lá no fundo, eu queria que
não houvesse nenhum grupinho
na classe.

- Oi Susan, quais são as novidades?


– A Gabi perguntou radiante. Ela
vivia feliz desde que começou

a sair com o Arthur.

- Vocês não vão acreditar! – Todas


as meninas, o Eduardo e o Pedro se
viraram para mim. – Eu voltei

com o Joshua!

- AI MEU DEUS, SABIA QUE


ISSO IRIA ACONTECER. – A
Amanda falou alto, batendo palmas
de
empolgação.

- Eu também! Vocês dois nasceram


um pro outro. – A Isabela
completou sorrindo.

- Na boa? Até eu estou feliz por


isso. – O Edu comentou e eu soltei
uma risada aliviada. – Não

importa se ele é um Hunter ou se o


irmão dele é um otário; o que
importa é que ele te deixa bem.

Senti vontade de chorar. O Edu,


mesmo tendo todos os motivos do
mundo para odiar o Joshua, estava
feliz em me ver com ele. Porque ele
se importava mais com a minha
felicidade do que com um

sobrenome. Agradeci mentalmente


a Deus por ter me dado alguém tão
bom como melhor amigo.

- Obrigada Edu. – Agradeci


baixinho e ele sorriu.

A Bia abriu a boca para falar


alguma coisa quando a porta se
abriu e o teacher Bernardo entrou
na

sala. Todos pararam de conversar e


olharam ele quase que num sorriso
coletivo.

- Bom dia turma! – Ele


cumprimentou animado.

- Bom dia teacher Bernardo! –


Respondemos em uníssono.

Ele sorriu e colocou seu material na


mesa do professor.

Então alguém bateu na porta.

- Pode entrar. – O professor falou


se virando para a porta.

Uma moça, que devia ter no


máximo 30 anos e vestia o uniforme
dos funcionários do colégio, entrou

ao lado de um garoto moreno, da


nossa idade.

Ela passou pela sala e cochichou


alguma coisa no ouvido do
professor, que apenas assentiu com
a

cabeça e a dispensou em seguida.

O garoto olhava fixamente para o


teto, tímido.

- Gente, temos um novato! – O


teacher Bernardo foi até onde o
menino estava e pôs a mão em seu

ombro. – Qual seu nome?

- Caio. – O novato respondeu ainda


sem desviar os olhos.

- Uma salva de palmas para Caio! –


O professor pediu e todo mundo da
sala bateu palmas para o

garoto novo. – Vocês são uns


amores, sabiam disso? Enfim, já
que nós temos carne nova por aqui,

que tal fazermos algumas perguntas


para conhecer o Caio melhor?
O menino se virou para ele, seu
rosto parecia uma mistura de
irritação e vergonha.

- Se ele não desmaiar de timidez


até lá a gente faz isso. – O Michael
murmurou do outro lado da sala,
alto o bastante para todos ouvirem
e darem risadas.

Apenas eu, o Edu e Clara não


rimos.

- Por acaso eu te conheço para você


poder falar assim comigo? – O
Caio perguntou irritado; ele tinha
um sotaque sulista fofo e fuzilou o
Michael com o olhar.

- E esse sotaque? De onde você é?


– O professor falou tentando
amenizar a situação.

Caio deu de ombros.

- Curitiba, mas meu pai arranjou um


emprego aqui.

- E o que você achou disso? – O


professor puxou sua cadeira para
perto do novato e sentou, olhando

para ele.

- Mais ou menos. – Ele respondeu


abaixando os olhos.

- Aposto que vai melhorar...


Alguém tem alguma pergunta a
fazer?

Enquanto algumas pessoas


levantavam a mão, percebi que só
agora que o teacher tinha saído de
perto

que dava para ver o novato direito;


ele era bonito – o cabelo escuro e
liso dava destaque aos seus

olhos levemente esverdeados. Ele


era alto também, acho que 1,80m.
- Isabela, qual sua pergunta?

Quase podia ver daqui seu


sorrisinho travesso de quem iria
aprontar alguma coisa.

- Que tipo de garota você gosta de


pegar? – Ela perguntou com um ar
malicioso.

Ele levantou a sobrancelha e corou


de leve – coisa que combina muito
bem com sua pele morena.

- Acho que eu não tenho um tipo...


Ela sendo legal e me entendendo tá
bom pra mim.
Percebi alguns olhares entre as
meninas do outro lado da sala e
revirei os olhos.

- Bela resposta... Agora, será que


você poderia se sentar ao lado da
Clara e assistir enquanto eu faço um
show? – O professor perguntou com
um sorriso.

Ele soltou uma risada e sentou-se


na cadeira ao lado da Clara.

- Eu nunca ri tanto na minha vida. –


O Pedro falou ainda meio sem
folego por ter passado a aula toda
de inglês rindo.
- Ele é sempre assim? – O Caio
perguntou enquanto nós descíamos
a escada até o pátio.

- Às vezes ele é ainda melhor; – A


Elena respondeu dando um sorriso
– ele é um arco-íris.

Caio soltou uma risada e olhou para


a Clara.

- Se você tivesse parado de falar só


por dois segundos eu teria prestado
mais atenção. – Ele disse

brincando e a Clara riu.

- Você que resolveu perguntar como


era por aqui.

- E você resolveu contar sua


história de vida. – Ele retrucou
sorrindo.

Olhei para os dois, que pareciam


amigos de anos, e me perguntei
quanto tempo iria demorar até que

surgisse um romance. A Clara


merecia isso. E não é preciso
conhecer muito do Caio para
perceber

que ele seria um namorado bem


melhor que o Michael.
Eles continuaram conversando e
brincando um com o outro enquanto
nós íamos para o refeitório.

- Ei, vai ter festa nesse fim de


semana, quem vai? – A Isabela
perguntou quando nos sentamos a
mesa.

- Sim! O Arthur vai tocar lá né? – A


Gabi disse com um sorriso bobo no
rosto.

- Exatamente... Então já sabemos


quem vai de certeza. – A Isabela
concluiu rindo.
- Ah cala a boca. – A Gabi disse
revirando os olhos.

- Onde vai ser essa festa? –


Perguntei.

- Sábado à noite na minha casa,


meus pais vão tá viajando. – A
Isabela explicou.

- O Caio pode ir também? – A


Clara perguntou meio sem graça.

Todos na mesa se entreolharam.

- Claro que pode... Mas tente não


sair gravida de lá.
- Não prometo nada. – O Caio se
intrometeu, rindo.

- Ai meu Deus, vocês dois em! – A


Clara empurrou o braço do Caio e
da Isabela ao mesmo tempo,

corada.

Rimos da cara de pau do Caio e


ficamos conversando sobre a festa.

- Isabela, o ps vai? – Perguntei com


um sorriso malicioso.

Ela riu.

- Se ps for paquerinha secreto, ele


vai sim.

- Então já sabemos quem vai de


certeza. – A Gabi retrucou dando
uma risada.

Seguimos a risada dela e


continuamos assim; conversando e
implicando um com o outro.

Eu ria com vontade sempre que


alguém fazia alguma brincadeira. E
apenas a Clara tinha noção de

como ri e me diverti era algo novo


para mim, depois de mais de mês
sem sentir nada bom. Joshua
não deixava só o meu coração feliz
– ele deixava minha alma feliz.

Eu estava mandando a minha


décima resposta para a cartinha que
a Elena mandou – já estava até

parecendo um Whatsapp no papel –


quando o sinal tocou.

- Quem terminou de escrever pode


ir. – O professor PH avisou,
entediado.

Por sorte, eu tinha terminado. Saltei


da cadeira, peguei minhas coisas e
fui ao lado da Clara e da Bia
– as únicas que também tinha
copiado tudo – até o pátio.

- O Caio é um fofo. – A Clara


comentou enquanto descíamos a
escadas.

- E desde quando fofo é seu tipo de


garoto? – A Bia perguntou
levantando uma sobrancelha.

- Ah, pare com isso. O Michael não


era tão ruim assim.

Abri a boca para responder que sim


ele era quando ouvi passos atrás da
gente.
- Obrigado. – Nos viramos e lá
estava ele, com seu sorriso de
superioridade.

- Falando no diabo... – Murmurei


irritada.

A Clara revirou os olhos.

- Poxa, gata, já se passou um mês...


Quando você vai resolver superar?
– Sua voz era cheia de

autoconfiança.

- Já superei. – Ela rebateu com


raiva.
- Com aquele sulistinha que chegou
agora? – Ele riu. – Que ladeira em.

Por cima do ombro do Michael, vi


o Caio se aproximando.

- Cara, o que eu te fiz em? – Ele


perguntou quando chegou perto o
bastante da gente. – Além de te

deixar se borrando de ciúmes.

O Michael se virou para ele.

- Você acha mesmo que você é uma


concorrência? – Ele soltou uma
risada seca. – Não que isso
importe, é claro. Eu não quero
mais, – ele se curvou um pouco
para frente – pode ficar com as
sobras do meu jantar.

O Caio começou a responder


alguma coisa, mas o Michael
simplesmente ergueu um dedo e foi

embora.

- Que filho da puta!

Coitada da Dona Nicole. Mas não


podia culpá-lo por querer xingar. O
Michael sabe como irritar uma

pessoa.
- Ei Caio, não se incomode com ele
não, ok? – Falei.

- Não é comigo que você tem que


preocupar... – Ele se aproximou da
Clara. – Você tá legal?

Ela deu de ombros.

- Qualquer dia desses, eu quebro o


nariz dele. – Ele afirmou com raiva.
Seu sotaque fofo não

combinava com ameaças, mas ele


parecia tá falando bem sério.

- Já fizeram isso. – Comentei.


- Deus abençoe essa pessoa. – Ele
retrucou.

Rimos.

Então eu senti um cheiro familiar


perto de mim.

Me virei e vi o Joshua. Não estava


surpresa; eu sentiria – e
reconheceria – seu perfume dele de

longe.

- Oi Joshua. – As meninas
cumprimentaram ao mesmo tempo.

O Caio olhou para ele com cara de


interrogação.

- Meu namorado. – Expliquei com


um sorriso. Era tão legal poder
falar isso.

- Exatamente. E você quem é? – O


Joshua perguntou levantando uma
sobrancelha.

- Caio, o novato.

Joshua assentiu com a cabeça e


estendeu a mão para ele.

- Muito prazer. – Ele disse quando


o Caio a pegou e sorriu.
Mais um ponto positivo para o
Caio: ele não odiava o Joshua. No
meu placar mental ele já estava

ganhando de 10x0 do Michael.

- Então Susan, vamos?

- Claro, até amanhã.

Eles acenaram para mim.

- Sabia que ele é irmão do


Michael? – Ouvi a Bia murmurar
baixinho.

Não consegui ouvir a resposta dele,


mas deve ser uma expressão de
surpresa seguido por um

“Sério?”.

- Aposto que ele não esperava por


essa. – O Joshua comentou
enquanto andávamos até o carro.

- É sempre estranho descobrir que


dois irmãos são completamente
diferentes. – Respondi, me

lembrando de como fiquei surpresa


quando soube que Jane era irmã do
Edu.

Ele apenas fez que sim com cabeça


e abriu a porta do passageiro para
mim.

Nicolas e Michael apareceram em


seguida e entraram o carro.

- Como foi o dia? – O Joshua


perguntou quando deu a partida.

- Tirando o garoto novo que é


extremamente irritante, foi bom.

- Isso é ciúmes, Michael? –


Perguntei com um sorriso
presunçoso.

- O que te leva a pensar que eu


tenho um coração? – Ele rebateu
com algo parecido com tédio.
Suspirei e não respondi.

✣Joshua✣

Não tem como eu explicar como


estou feliz.

Nunca me senti assim antes. É como


se cada segundo valesse a pena.
Cada respiração. Cada palavra

que saia da minha boca e cada


pensamento que passava pela minha
cabeça. Tudo parecia mais

brilhante agora que eu tinha Susan


de volta.
Era isso que estava na minha mente
quando chegamos em casa e eu abri
a porta do passageiro para

ela; como no nosso primeiro


encontro. Será que ela ainda se
lembrava dele? Foi tudo tão

imperfeitamente bom que eu sai de


lá completamente apaixonado por
ela.

- Vou subir para estudar, mas


depois a gente se fala. – Ela disse
ficando na ponta dos pés para me
dá um selinho.
- Esperarei ansioso por esse
momento.

Ela riu, levemente corada, e se


afastou. Acompanhei suas curvas
enquanto ela subia as escadas e

sumia de vista. Ela era tão bonita.


Poderia ficar observando seus
passos pelo resto da minha vida e

não reclamaria.

Esse ultimo pensamento me


lembrou de como eu praticamente a
pedi em casamento depois da nossa

segunda vez. Às vezes, eu só queria


que ela fosse um pouco mais velha
para eu poder casar agora

mesmo.

O Michael se deitou no sofá


enquanto o Nicolas entrava no
elevador. Fui até meu irmão mais
novo e

parei em frente a ele.

- O que você quer?

- Sabe que precisamos conversar. –


Respondi calmamente. Não queria
perder a paciência com ele.
- Sabe que eu já disse tudo o que
precisava dizer.

- Michael...

Ele se sentou e me encarou. Seus


olhos pareciam refletir uma coisa
completamente nova. Pareciam

refletir culpa.

- Eu sinto muito, ok? – Olhei para


ele sem entender. – Eu não queria
envolver a Susan nisso, ela não fez
nada comigo, mas você não me deu
escolha. – Ele praticamente
soletrou as ultimas palavras para
mim.

Abaixei os olhos, eu era que estava


me sentindo culpado.

- Você só precisava ter dito para a


Jane que não era uma boa ideia.

Ele riu.

- Isso não iria impedir ela. Você


não faz ideia de como ela odeia a
Susan.

- Mais ou menos do que a


intensidade que você me odeia?

Ele suspirou e eu levantei os olhos


para ele.

- Será que não podemos


simplesmente esquecer tudo o que
aconteceu? – Perguntei com
esperança. –

Somos irmãos.

Ele estreitou os olhos para mim.

- Desde quando você se importa


com isso?

Minha vez de suspirar. Será que o


Michael nunca iria me perdoar?

- Eu me importo, Michael. Eu amo


você. – Falei, mas, sem permissão,
minha voz saiu um pouco

baixa, como um segredo. Eu nunca


tinha dito para ele.

Ele se levantou e eu dei um passo


para trás.

- Como eu posso confiar em você?


– Ele perguntou desviando os
olhos.

- Eu mudei. Eu juro para você que


mudei. – Ele continuou sem olhar
para mim. – Eu não sou mais o

mesmo Joshua que fez aquilo...


Aquele Joshua era um otário. E
você está agindo como ele.

Ele olhou para mim. Seus olhos


eram iguais aos da mamãe.

- Eu queria poder acreditar em


você.

- Por favor...

Ele fez que não com a cabeça e deu


alguns passos para longe de mim.

Então se virou de novo, por um


único segundo, e quando nossos
olhos se encontraram, eu percebi
que
ele tinha me perdoado.

Eu também o perdoava.

36. Festa que deu errado

Fiquei alguns minutos deitada antes


de pegar minha apostila de
Biologia e começar a estudar.

Eu já estava no quinto tópico


quando alguém bateu na porta.

- Tá aberta.

Levantei a cabeça e vi o Joshua


entrando no meu quarto com um
sorriso orgulhoso no rosto. Ele se
aproximou de mim e, sem dizer uma
palavra, se deitou ao meu lado, de
barriga para baixo e com o

queixo no punho.

- Oi? – Cumprimentei confusa.

Ele sorriu ainda mais.

- Posso saber o porquê de tanta


felicidade? – Perguntei sorrindo
também.

- Fiz as pazes com o Michael. – Ele


respondeu simplesmente.

Demorei um segundo para entender.


Então dei um pulo e sentei na cama,
surpresa. Meus olhos se
arregalaram sem minha permissão.

- Como? O quê? Quando? –


Disparei sem pensar.

Ele se sentou lentamente, com um


olhar pensativo.

- Agora mesmo, – seus olhos azuis


brilharam – eu não consigo
acreditar que isso aconteceu.

- Nem eu... – Murmurei meio sem


saber o que dizer.

Ele tocou no meu rosto com


suavidade e eu esqueci
completamente do que estávamos
falando.

- Ele me perdoou. – Ele repetiu


mais para si mesmo do que para
mim. – Entende o quanto isso é

importante?

Pensei um pouco.

- Na verdade, não. Você não me


explica o que fez para ele e...

Joshua me interrompeu, balançando


a cabeça em negativa.
- Não importa mais o que eu fiz ou
o que ele fez. É ai onde eu quero
chegar! – Ele sorriu radiante,

retirando a mão do meu rosto e


gesticulando com urgência. – Nós
somos irmão de novo, Susan. Será

que você não consegue entender o


quanto isso é impactante?

Sorri com a felicidade dele. Não


me importava se era do Michael
que ele estava falando. Se ele

estava feliz, eu estava feliz.

Joguei meus braços ao seu redor e


o abracei. Senti seu coração
acelerado batendo contra o meu

peito.

- Eu o perdoei também. – Ele falou


devagar após alguns segundos, me
soltando um pouco para que eu

pudesse olhar em seus olhos. – Eu


sei que ele fez muita coisa ruim
com você, mas ele se arrependeu

disso, Susan, eu juro...

- Eu acredito em você – soltei um


suspiro – e, consequentemente,
acredito nele também.
Ele olhou surpreso para mim.

- Tem certeza? Não estou pedindo


para você parar de não gosta dele.
– Ele explicou rapidamente.

- Joshua.

- Oi.

- Eu amo você. Sabe disso não é? –


Ele sorriu. – E não importa o que o
Michael tenha feito, ele é seu irmão
e, se você o perdoa, eu o perdoo
também.

Então, precisar dizer mais nada, ele


se inclinou e me beijou com
intensidade.

[...]

No sábado à tarde, algumas horas


antes da festa e quatro dias depois
do Michael e o Joshua terem se

entendido, o Nicolas e o Felipe


estavam me ajudando a escolher
uma roupa.

- Meu Deus, preto não! – O Nicolas


reclamou puxando o vestido que
estava na minha mão.

- Ei! – Protestei olhando com raiva


para ele. – Esse vestido é lindo.
Ele riu.

- Eu sei disso, mas preto é clichê


nível máximo. – Ele se virou para o
meu guarda-roupa aberto e

estreitou os olhos. – Precisamos de


algo que chame atenção.

Revirei os olhos.

- As pessoas só chamam atenção


quando querem pegar alguém e, não
sei se vocês notaram, eu já

tenho um namorado.

- Mas não é porque você tem


namorado que você pode sair de
casa como uma qualquer. – Nicolas

retrucou, pegando um cabide com


um vestido vermelho pendurado. –
Que tal?

Observei o vestido; o decote não


era muito profundo, mas a parte de
cima era um pouco justa

enquanto a de baixo era soltinha.


Ele tinha ainda alguns detalhes
brilhantes que eu poderia jurar que
era ouro de verdade.

- É lindo. – Respondi com


sinceridade.

Ao meu lado, Felipe olhava com


orgulho para o Nicolas.

- Você é genial. – Ele elogiou com


um sorriso.

As bochechas do Nicolas ficaram


vermelhas e ele desviou os olhos.

Felipe riu e foi até o Nicolas,


sussurrando algo extremamente
baixo no ouvido do Hunter.

- O-Ok. – Nicolas gaguejou ficando


ainda mais corado do que antes.
Sorri com eles dois e peguei o
vestido da mão do Nicolas.

- Podem ir, obrigada de verdade


pela ajuda.

Eles sorriram e me deram um


abraço antes de ir embora.

Assim que eu ouvi o barulho da


porta batendo, me olhei do espelho
com o vestido na frente e percebi

que, realmente, iria ficar muito


bom. Sorri internamente e fui me
trocar.

Uma hora depois, lá eu estava


rodando a chave do carro do Joshua
com dedo indicador.

- Ei loiro, vem hoje não? –


Perguntei.

Ouvi uma risada vindo da escada e


me virei para observar enquanto ele
descia.

Ele estava absolutamente lindo,


com uma camisa azul escura e uma
calça jeans preta.

- Desculpe morena, mas eu não


estava encontrando meus
documentos. – Ele explicou com um
sorriso

e se aproximou de mim.

- Então vamos? – O Michael


perguntou da cozinha.

- Claro. Tem certeza que o Nicolas


não vem? – Joshua perguntou para o
irmão.

Michael veio até onde nós


estávamos.

- Ele e o Felipe parecem estar se


divertindo muito mais no quarto do
que aqui.
Rimos.

Era bom ver o Michael e o Joshua


interagindo assim, como uma
família.

Então o elevador se abriu e a Dona


Nicole saiu de lá.

- Quero todos em casa antes das


quatro, ok?

O Joshua riu.

- Mãe, não se você lembra, mas eu


tenho 20 anos.

Ela colocou as mãos na cintura.


- Você pode ter 40 que ainda assim
vai ser meu bebê. – Ela rebateu,
tentando ao máximo não sorrir.

Eu e o Michael rimos da cara feia


que o Joshua fez.

- E aí de você se beber e dirigir. –


Ela completou.

Ele assentiu.

- Isso nem passou pela minha


cabeça. – Ele foi até ela e a beijou
na bochecha. – Voltamos antes das

quatro.
Ela sorriu.

- E Susan, sua mãe pediu para eu


avisar que nada de se achar a adulta
lá. – A Dona Nicole avisou,

ficando séria para olhar para mim.

Fiz que sim com a cabeça.

- Relaxe mãe, ela tá por minha


conta. – Joshua disse.

Ela riu.

- Eu sei, mas não vejo por que ficar


relaxada.
- Ei família, se a gente ficar
conversando não vamos chegar
nunca lá. – Michael avisou, seu tom

parecia surpreendentemente
educado.

- Ele tem razão – a Dona Nicole


abraçou o Joshua e piscou para
mim em seguida. – Divirtam-se.

- Pode deixar. – Respondi com um


sorriso.

Ela sorriu de volta e deu um beijo


na bochecha do filho mais novo
antes de ir para a cozinha.
Joguei a chave do carro para o
Joshua e ele a pegou no ar.

- Vamos.

- Vamos. – Respondi em uníssono


com o Michael.

Saímos da casa e paramos ao lado


do carro. Joshua me olhou de cima
a baixo.

- Acho que ainda não comentei o


quanto você está linda.

Senti meu rosto queimando, mas


não desviei o olhar.
- Você também está apresentável.

Ele riu e me deu um selinho rápido


antes de abrir a porta do passageiro
para mim. Entrei e o Michael entrou
em seguida no banco de trás.

Só quando o Joshua entrou e deu a


partida no carro, eu coloquei o
novo CD da Taylor Swift para

tocar.

Pelo retrovisor, vi o Michael


revirando os olhos.

- Agora você vira à esquerda. –


Expliquei apontando para a rua.
Joshua olhou para mim de canto.

- Já vim aqui antes, Susan.

Me virei para ele, assustada.

- Por que motivo? – Perguntei com


um pouco de medo. Todo mundo
sabia que o Joshua era rodado.

Ele riu da minha reação.

- Na festa de aniversário do
Nicolas ela bebeu demais e eu tive
que leva-la para casa.

Suspirei aliviada.
- Menos mal.

Ele riu ainda mais e acelerou o


carro até parar em frente a uma
casa enorme e branca.

Mal saímos do carro e as meninas


correram para onde a gente estava.
Todas elas estavam bonitas e

maquiadas, principalmente a
Isabela, que sorria radiante.

- O ps acabou de chegar! – Ela


avisou batendo palmas.

O Joshua olhou ao redor e se virou


intrigado para elas.
- Posso jurar que aquele é o carro
do meu primo Arthur.

Olhei para a Gabi na mesma hora e


ela mordeu o lábio inferior.

- É, ele vai tocar aqui. – Expliquei


no lugar delas.

E, quase como se tivessem


ensaiado, o Michael e o Joshua
levantaram a sobrancelha.

- O David também vai vim? –


Joshua perguntou.

- Não, eles não são muito próximos,


pelo que eu percebi. – A Gabi
falou.

Olhei para o Joshua e o Michael.


Nos últimos dias, eles tinham agido
como irmãos de uma forma

completamente nova – até mesmo


para eles –, não brigavam nem
elevavam a voz um com o outro;

Todos da casa estranharam isso no


começo, mas, aos poucos,
começamos a nos acostumar e
admirar

essa nova realidade. Os Hunter,


aquela família divida e confusa,
viraram o que todos poderiam

chamar de uma família perfeita. E


eu estava feliz por poder dizer isso.
Porque agora, mesmo que eu

ainda estava com o pé um pouco


atrás – não dá para confiar 100%
do Michael –, eu conseguia sentir

a união dentro daquela casa.

- Eu entendo. Enfim, a gente vai


ficar o dia todo aqui fora é? – O
Michael disse apontando para a

porta.
Elas riram e nós a seguimos para
dentro da casa.

As luzes piscavam em cores neon e


uma música de forró tocava alto.
Havia mais ou menos quarenta

pessoas no meio da sala, rindo e


dançando, mas a Isabela nos guiou
pela escada e demos direto em

um cômodo que se dividia entre


uma cozinha/bar e algumas mesas e
cadeiras. As luzes também

piscavam aqui, mas a música estava


mais baixa.
Clara, Caio, Edu, Monica e Pedro
estavam sentados ao redor de uma
mesa, rindo de alguma coisa.

- Oi gente. – O Joshua
cumprimentou com um sorriso.

Eles se levantaram e vieram falar


com a gente.

- Michael. – O Caio falou friamente


e fez questão de não apertar na mão
dele. Não posso culpa-lo

por isso.

Clara também não parecia feliz com


a presença dele e simplesmente o
ignorou.

Olhei para o Michael e ele apenas


assentiu com a cabeça e desceu as
escadas.

- Você chamou os amigos dele


também? – Perguntei baixinho para
a Isabela.

Ela fez que sim a cabeça e eu voltei


minha atenção para as pessoas da
sala.

- Por que vocês estão aqui? – A


Elena falou apontando para as
mesas.
- Estávamos esperando vocês. – O
Edu explicou, sua mão indo até a da
Monica e segurando-a.

- Então vamos descer ué. – Rebati.

Eles riram e nós descemos para o


térreo.

- JAMES!

Dei um pulo, assustava, e observei


enquanto o Bruno se aproximava da
gente com um sorriso.

- E Amanda. – Ele completou


olhando para a garota ao meu lado,
que se afastou de mim no mesmo
segundo e correu para os braços
dele.

Eles se beijaram como estivessem


se reencontrando depois de anos.

Então a música que estava tocando


terminou e todos se viraram para o
palco improvisado. Um garoto

alto e levemente malhado entrou


com um violão. Em seguida, outros
quatro caras entraram também,

dois deles com algo parecido com


guitarras e os outros dois foram
para a bateria e o piano,
respectivamente.

- Oi galera! – O Arthur
cumprimentou.

Ouve um grito coletivo em resposta


e a Gabi não pensou duas vezes
antes de correr para o meio

deles e se juntar a plateia.

Todos se entreolharam por um


segundo e acabamos decidindo,
sem palavras, que íamos segui-la. E

foi exatamente isso que fizemos. O


Joshua, com a mão na minha
cintura, me guiou por entre as
pessoas até que ficássemos em
frente ao palco.

- O nome dessa música é Só penso


em você. – O Arthur falou ajeitando
o microfone.

Ele começou a cantar uma música


animada e começamos a dançar sem
nos preocupar com nada.

Com o canto do olho, vi a Isabela


se afastando e subindo as escadas.
Posso apostar que o professor

Cavalcante estava esperando por


ela lá em cima.
O show continuou por quase duas
horas até que meus pés
simplesmente não aguentavam mais
nem

tocar no chão.

- Ei, vamos parar um pouco. – Falei


no ouvido do Joshua para que ele
conseguisse me ouvir em meio

a musica.

Ele assentiu e me puxou pela mão


para fora da casa, as pessoas
abrindo espaço para ele sem que

fosse preciso pedir. Joshua exalava


autoridade.

No jardim, duas pessoas


conversavam alto, quase gritando.
Reconheci no mesmo segundo como

sendo Jane e Michael.

-PARE DE FALAR BESTEIRA. –


Michael gritou irritado.

Corremos até eles.

- Ah, olha só quem chegou. – A


Jane comentou apontando para nós,
sua voz parecia meio enrolada,

como se ela tivesse bebido demais.


- O que está acontecendo aqui? –
Joshua perguntou confuso.

Michael jogou as mãos para o alto,


em rendição.

- Cuidem dela, já cansei dessa


menina. – Ele falou se virando e
entrando na casa.

Jane revirou os olhos e cambaleou


até o Joshua.

- Senti sua falta. – Ela sussurrou


para ele. Seu hálito cheirava a puro
álcool.

Ele se aproximou dela e segurou


seu braço para que ela não caísse.

- Vou chamar um taxi pra você.

- Não, não, não. – Ela protestou se


jogando em cima dele. – Primeiro
eu quero meu beijo.

Senti meu sangue fervendo de raiva


e ciúmes, mas o Joshua não mexeu
nem um musculo.

- Sinto muito, mas isso não vai dar.

Ela riu de forma exagerada e se


afastou um pouco para olhar para
ele. Seus olhos verdes estavam
sem foco.

- Ah Joshua, você é tão bonito. –


Ela falou passando a mão pelo
rosto dele como se para ter certeza

de que ele estava ali.

Dei um passo à frente, na defensiva.

- Obrigado Jane. – Ele respondeu


sério. – Mas você realmente
precisa sair daqui.

Ela fez que não com a cabeça e por


pouco não caiu no chão com o
movimento. Nunca vi alguém tão
bêbado.

- Espero que você já tenha me


perdoado. – Ela disse colocando as
mãos na nuca do Joshua, que

continuou imóvel.

- Por que ele faria isso? – Perguntei


irritada.

Ela se virou para mim confusa.

- Desde quando você tá aqui? Ah


isso não importa... – Ela parecia
fazer força para falar direito. –

Ele me perdoa porque é apaixonado


por mim, não é Joshua?

Ele respirou fundo.

- Você tem 17 anos, não devia


beber como um corno num bar.

Ela fingiu que não ouviu.

- Vamos Joshua, só um beijinho. –


Ela se inclinou para ele de forma
descoordenada.

Ele estava prestes a virar o rosto


quando ouvimos um grito.

- MAS QUE PORRA ESTÁ


ACONTECENDO AQUI?
Olhamos para cima no mesmo
segundo. O grito veio do primeiro
andar.

O Joshua aproveitou a falta de


atenção da Jane e a afastou com
uma mão, a mantendo numa
distancia

adequada.

- Temos que subir! – Falei


apontando para cima.

- Não podemos deixa-la aqui nesse


estado. – Ele replicou olhando com
raiva para ela.
Revirei os olhos e me aproximei
deles, ainda olhando para cima.

- SAIAM DAQUI! – Alguém gritou


dentro da casa.

Poucos segundos depois, uma


enxurrada de gente saiu correndo
pela porta, tropeçando uns nos

outros. Não era só a Jane que


estava bêbada.

A Elena correu até onde eu estava,


seus olhos arregalados de medo.

- O diretor! O diretor, Susan, ele


entrou na festa e subiu as escadas. –
Ela segurou meus ombros e me
balançou. – ISABELA E
CAVALCANTE ESTAVAM LÁ EM
CIMA.

- AI MEU DEUS! – Gritei de susto.


– Como isso foi acontecer?

- Ninguém sabe, mas eles estão lá


em cima agora. Os três. – Ela olhou
com medo para o primeiro

andar. – Acho que devíamos sair


daqui.

A Bia e o Richard vieram também.

- Quero subir e lá e ver o que está


acontecendo! – A Bia disse olhando
para cima.

- Não iriamos ajudar em nada...


Espero que fique tudo bem. – Falei
baixinho, me sentindo mal por

eles.

- Ei, ei, ei, pare de virar o rosto. –


Ouvi a voz da Jane ao meu lado e
vi o Joshua revirando os olhos e
afastando o rosto dela. – Você quer
isso tanto quanto eu.

- Ela está bêbada? – O Richard


perguntou no meu ouvido.
- Com toda certeza.

Ao meu redor, as pessoas iam


embora reclamando.

- Cadê o Edu? – O Joshua


perguntou tentando controlar a Jane

- Ele subiu com a Monica faz uns


dez minutos. – Elena respondeu
olhando preocupada para a ruiva.

-Merda. O que vamos fazer com


ela?

Richard olhou para a Bia e depois


para o Joshua de novo.
- Desculpa cara, mas não vou poder
ajudar. – Ele segurou a mão da Bia.
– Acho melhor a gente ir.

Ela fez que sim com a cabeça e nos


mandou um olhar de solidariedade
antes de sair.

Meus olhos encontraram o da Elena


e eu percebi que ela também não
queria ficar ali.

- Por que não procura o Pedro? Ele


deve tá atrás de você agora.

Ela respirou aliviada.

- É, vou fazer isso. – Ela me lançou


um obrigada sem palavras e foi até
a entrada da casa, onde tinha um
pequeno grupo de pessoas.

- AH QUER SABER? – A Jane


gritou do nada e eu me virei
assustada para ela. – Não preciso
de

você, Joshua! Quero alguém que me


mereça.

Ela o empurrou com toda sua força


e andou cambaleando para longe da
gente.

- Não devíamos deixa-la sair


assim. – Joshua disse.

- Duvido que ela vá dirigir nesse


estado. – Observei enquanto ela se
apoiava nos joelhos para

vomitar. – Alguém vai cuidar dela.

- Quem? – Ele levantou uma


sobrancelha. – Ela não é a pessoa
mais amada do mundo.

Foi então que duas meninas


morenas correram para perto da
Jane e começaram a falar alguma
coisa.

Acho que eram as gêmeas da sala


do Nicolas.

- Viu só? Ela vai ficar bem.

Ele não pareceu ficar convencido.

- Amanhã a gente liga para o Edu e


pergunta se ela chegou bem em
casa.

- Ok. Mas, agora, acho melhor a


gente ir embora.

Não havia quase ninguém na festa e


as luzes tinham sido desligadas.

Ele assentiu com a cabeça, ainda


olhando para a Jane.
- Estou com um mau
pressentimento...

- Shh. – Falei ficando em frente a


ele, bloqueando a visão da ruiva. –
Vai ficar tudo bem. Amanhã eu
pergunto para o Edu.

- Jura?

- Juro.

Ele sorriu e me beijou como se não


houvesse amanhã.

- Vamos para casa. – Ele sussurrou


para mim assim que ficamos sem
fôlegos. – Terminar a noite com
chave de ouro.

Senti minha nuca se arrepiando com


as palavras dele e o segui até o
carro.

- E o Michael? – Perguntei quando


ele abriu a porta para mim.

Ele olhou ao redor.

- Deve ter ido para casa com


alguém. – Ele murmurou. –
Qualquer coisa ele me liga e eu
volto aqui.

- É.
Entrei no carro e ele entrou em
seguida.

- Gostou da festa? – Ele perguntou


para descontrair.

- Nunca dancei tanto na minha vida.


– Respondi rindo.

Ele riu também e deu a partida no


carro. Colocamos o cinto e ele
botou o CD do Imagine Dragons.

Joshua cantava as músicas como se


já tivesse ouvido todas mil vezes e
dirigia com facilidade.

- Fiquei surpresa com o modo como


você tratou a Jane. – Comentei
depois de um tempo.

Ele deu de ombros.

- Quando eu for professor, vou ter


falar com os piores alunos como se
não odiasse eles. – Ele se

virou por um segundo para piscar


para mim. – Mas duvido que meus
alunos sejam tão irritantes e...

Então ouvimos uma buzina alta na


nossa frente.

Um grito saiu pela minha garganta


antes mesmo que eu pudesse me dar
conta do que iria acontecer.

Ele jogou o volante para a direita e


me abraçou no exato segundo que o
carro nos atingiu em cheio.

A última coisa que eu vi foi o


cabelo ruivo da motorista.

37. Depois

Meus olhos se abriram devagar,


com cuidado. Eles pareciam pesar
uma tonelada. Pisquei algumas

vezes para tentar melhorar a visão,


mas ela continuou meio borrada. A
única coisa que eu conseguia
ver com clareza era uma lâmpada
branca e forte, que me cegava
enquanto eu tentava focar no que

estava a minha volta. Até agora, era


o único sentido que tinha voltado a
funcionar.

Aos poucos, eu consegui formar


uma imagem meio turva de onde
estava. Era um hospital, disso eu

tinha certeza. Havia uma mascara


no meu rosto, mas eu não sentia o
cheiro de nada. Fechei os olhos

novamente. Não tinha notado que


estava fazendo força para mantê-los
abertos.

Não sei quantos minutos se


passaram até a minha audição
voltar. Ouvi apenas algo parecido
com um

chiado de rádio que, lentamente, foi


se transformando em murmúrios
baixos, quase inaudíveis. Abri

os olhos quando reconheci a voz da


minha mãe; desta vez, eles estavam
surpreendentemente leves – o

que significa que deve ter passado


muito tempo desde daquela
primeira tentativa.

Mal havia abertos os olhos quando


escutei um grito de surpresa.

- ELA ACORDOU!

Era a voz do Michael.

Minha cabeça doeu com o barulho e


eu gemi baixinho, sem conseguir
evitar.

- Olha o que você fez. – Ouvi uma


voz doce o repreendendo. Era o
Nicolas.
Tentei me sentar, mas parecia que
havia um elefante em cima de mim,
me impedindo de me mexer.

Minha mãe se aproximou com


delicadeza até que eu pudesse olhar
para ela.

Seus olhos estavam vermelhos de


choro.

- Filha... – Ela sussurrou sem saber


o que dizer, com o tom falho de
emoção. – Graças a Deus você

está bem.

Assenti devagar. Cada movimento


que eu fazia era como se alguém
estivesse esmagando meus ossos.

Tentei formular uma pergunta.

- J... – murmurei, fazendo o


possível para continuar. – Ja...

- Joshua? – O Michael completou


por mim, vindo em nossa direção.

- Si... – Tentei responder, mas fui


vencida pelo cansaço.

Todos na sala se entreolharam.


Senti um calafrio percorrendo a
minha coluna.
Não, por favor. Tudo menos isso.

- Ele está... Desacordado ainda. –


Nicolas explicou devagar. – O
médico disse que já já traria novas
informações.

Fiz que sim com a cabeça, mais


intensamente dessa vez. Minha
força estava voltando aos poucos.

Talvez fosse uma consequência do


medo.

- E há... Quanto tempo... – As


palavras saiam roucas da minha
boca e custavam mais energia do
que

nunca.

Minha mãe pressionou o lábio,


nervosa.

- Dois dias. – Ela disse por fim.

Não precisei responder a isso.

Ficamos em silencio por um


minuto, apenas nos olhando, cada
um em seu próprio pensamento.

A única coisa que passava pela


minha mente era que minha mãe
havia chorado por dois dias
seguidos. Dona Nicole também,
pensei com tristeza.

Alguns segundos depois, alguém


abriu a porta. Me inclinei um pouco
para frente, para ver quem era.

- Dr. André! – Minha mãe


cumprimentou com um sorriso e foi
até ele. – Alguma noticia do
Joshua?

Os outros dois Hunter ficaram ao


lado dela; dois pares de olhos
claros arregalados de ansiedade e

nervosismo.
O médico respirou fundo.

Esse ato me deixou tão preocupada


que me sentei em um pulo,
esquecendo completamente da

mascara em meu rosto e do tubo na


minha mão. Aquilo doeu, mas eu
não podia ficar deitada

esperando ele falar.

- Creio que a paciente deva se


acalmar – o doutor afirmou
apontando para mim com o queixo.
– Toda

e qualquer notícia só deve ser


comunicada a ela depois da alta.

Olhei para ele indignada.

- Mas eu preciso... – Comecei a


falar, usando toda a minha energia
para terminar a frase.

- Sinto muito – ele me cortou


rispidamente. – São as regras do
hospital.

Minha mãe olhou para ele irritada.

- Ela tem o direito de saber o que


aconteceu.

- Concordo, mas não agora. Ela


precisa descansar e se recuperar. –
Ele rebateu. – Estou certo,

Melissa?

- Senhora Melissa. – Michael o


corrigiu. Olhei surpresa para ele. –
E se você não pode contar aqui,

será que não podemos


simplesmente nos retirar e ir para
outro local?

Ele parecia mais do que nervoso ou


ansioso. Ele parecia culpado.

Me deitei de novo na cama, minhas


forças se esgotando rapidamente.
Eu realmente precisava

descansar.

Ouvi barulho de passos seguido por


uma porta batendo. Eu estava
sozinha.

[...]

Acordei me sentindo melhor.

Me sentei na cama com cuidado,


admirando o fato de todos os meus
sentidos estarem bons e não

haver mais uma mascara no meu


nariz. Eles devem ter tirado
enquanto eu dormia.

Olhei ao redor e vi minha mãe


deitada no sofá de visita, dormindo.
Ela era a única pessoa no local

além de mim.

Me perguntei por um segundo se


poderia simplesmente me levantar e
sair andando, mas algo me

disse que isso não era certo.


Imagina o susto que minha mãe
tomaria se acordasse e eu não
estivesse

ali.
Então, ao invés disso, esperei
alguma coisa acontecer para eu
colocar minhas perguntas para fora.

Precisava saber onde e como


estava o Joshua.

Fiquei assistindo a televisão na


parede por algum tempo até ouvir a
porta se abrindo. Me virei na

mesma hora. Era a Dona Nicole.

Seus olhos encontraram os meus e


ela levou a mão à boca, surpresa.

- Ai meu Deus... – ela correu até


onde eu estava e segurou minha
mão. Seus olhos verdes estavam

lacrimejados. – Como você está se


sentindo?

- Bem, eu acho.

Ela assentiu com a cabeça e me


abraçou com intensidade. Seu
perfume doce invadiu minhas
narinas e

senti como se estivesse abraçando


minha própria mãe.

- Que dia é hoje? – Perguntei


depois do abraço.
- Quarta-feira.

Passei um dia dormindo; não é atoa


que eu estava com energia agora.

Nossos olhares se encontraram. Ela


sabia qual seria minha próxima
pergunta.

- Vem, vamos dar uma volta. – Ela


estendeu a mão para mim e eu a
segurei, me apoiando nela para

me levantar da cama.

Olhei para minha mãe.

- Acho melhor acordá-la – falei.


Ela balançou a cabeça.

- Não, ela só conseguiu dormir


agora – ela olhou para minha mãe
com solidariedade. – Deixe-a

descansar.

Concordei com a cabeça e a segui


até o corredor, com um pouco de
vergonha por estar só de

camisola. Ela segurou minha mão e


sorriu para mim, fazendo com que
eu me sentisse uma criança

enquanto ela me guiava pelo


corredor, parando em frente a uma
porta branca.

Nos entreolhamos. Era a sala de


visitas.

Respirei fundo antes de entrar. Abri


a porta com cuidado e senti meus
olhos se arregalando quando vi
quantas pessoas estavam aqui;
Michael, Nicolas, senhor Fernando,
Bruno e a Dona Eliza, avó do

Joshua.

- Oi... – Cumprimentei enquanto


entrava.

Nicolas deu um pulo do sofá e


correu para me dar um abraço
aperto.

- Eu sabia que você ia ficar bem! –


Ele falou animado, seus olhos
brilhando de alegria.

Bruno e Michael se levantaram


também, mas não com tanto
entusiasmo.

- Que bom você está legal. – Bruno


disse com um sorriso e me
abraçando de leve, sem prolongar

tanto como o Nicolas fez.

Michael apenas sorriu com o canto


da boca para mim e voltou para o
seu lugar, ao lado da Dona

Eliza. Fui até ela.

- Graças aos céus você está bem. –


Disse me beijando na bochecha e
sorrindo com carinho.

Me afastei dela, passei pelo senhor


Fernando – que nem se dera ao
trabalho de olhar para mim – e

me sentei na poltrona perto da


televisão.

- Alguma notícia? – Perguntei


tentando parecer casual, mas eu
estava nervosa e ansiosa. Não

aguentaria mais nenhum segundo


sem saber sobre o Joshua.

Todos olharam para o senhor


Fernando, como se ele fosse o
porta-voz da família – o que, na

verdade, fazia sentido, já que ele


era de longe o mais frio.

Ele me observou um pouco antes de


falar.

- Ele está na UTI, em coma.

Demorei um segundo para assimilar


a noticia.

Então minhas mãos foram até minha


boca e eu segurei um grito. Meus
olhos se arregalaram e meu

coração acelerou no mesmo


segundo.

Joshua estava em coma.

Nicolas veio até mim e passou o


braço pelo meu ombro, tentando me
reconfortar.

- Mas, se você acordou, ele vai


acordar em breve. – Ele afirmou me
apertando contra ele. Nunca
tinha percebido o quanto Nicolas
era forte, tanto fisicamente quanto
emocionalmente.

- Mais... Alguma coisa? – Perguntei


apreensiva. Não sei se queria
mesmo saber.

O senhor Fernando olhou para o


Michael, que suspirou antes de
abrir a boca.

- Jane também está desacordada,


mas não na UTI.

Levantei uma sobrancelha para ele,


surpresa.
- Os médicos falaram que ela
provavelmente irá acordar hoje ou
amanhã. – Ele completou com

indiferença.

- Pelo jeito foi o Joshua quem mais


foi atingindo... – Murmurei com
tristeza.

Eles se entreolharam. Nicolas tirou


o braço do meu ombro e se virou
para olhar para mim.

- Na verdade, foi tudo rapidamente


calculado. – Falou.

- O que isso quer dizer? – Perguntei


confusa

- No momento da batida, o Joshua


jogou o carro para o lado direito, o
lado que ele estava, fazendo

com que todo o impacto da batida


fosse para ele e não para você. –
Ele explicou.

- E que o carro da Jane não


atingisse a parte da frente, o que
iria ser muito mais impacto para
ela. –

Bruno completou do outro lado da


sala.
Olhei para eles sem acreditar.

Joshua salvou duas pessoas naquela


noite.

Ele era um herói.

- E ele cursa Física, o que significa


que ele sabia o que estava fazendo,
mesmo que apenas com

alguns segundos para pensar. – O


Michael adicionou.

Observei enquanto os olhos da


Dona Nicole se enchiam de
lagrimas. Doía muito em mim, mas
eu sei
que doía infinitamente mais nela.

Alguém abriu a porta e todos se


viraram para ver quem era. Minha
mãe.

Corri até ela e a abracei com força.


Ela suspirou aliviada e beijou
minha testa. Ficamos um tempo

assim, apenas sentindo o amor uma


da outra.

Quando o abraço acabou, ela olhou


para a Dona Nicole.

- Será que ela já pode sair do


hospital e ir para casa?
- Deixa que eu vou chamar um
médico. – O Bruno falou passou
por nós e saindo do quarto. Ele

parecia insuportavelmente triste.

Passei o braço pelo ombro da


minha mãe e a guiei até o sofá, indo
me sentar ao seu lado. Senti que

todos na sala observavam meus


passos.

O silêncio pesou sobre a sala.


Ninguém queria conversar. Porque
todos os assuntos terminariam em

Joshua; e ninguém estava preparado


para falar sobre isso – bem, pelo
menos eu não estava.

Alguns minutos depois, Bruno


voltou com um médico. Me levantei
na mesma hora e fui até eles.

O médico me analisou por um


tempo.

- Farei um check-up antes de dar a


alta definitiva, mas pelo que eu
estou vendo você está bem.

Assenti com cabeça.

- Siga-me. – Ele comandou saindo


da sala.
[...]

Eram 19h quando eu sai do


hospital, no carro do senhor
Fernando. Por sorte, deu tudo certo
nos meus

exames e eu estava tão bem como


antes da batida; Joshua realmente
recebeu todo o impacto e eu

quase não fui atingida – mas, é


claro, eu não conseguia me sentir
feliz por isso.

Chegamos em casa e eu parei um


pouco na entrada, olhando para a
mansão dos Hunter como se

estivesse ali pela primeira vez. Eu


poderia ter morrido naquele
acidente. Eu poderia não estar aqui

agora, vendo essa casa enorme na


minha frente. Senti meus olhos se
enchendo de lagrimas por causa

de tudo o que estava acontecendo e


entrei devagar, tentando controlar
minhas emoções.

Aparentemente, tudo estava igual.


Subi as escadas e fui direto para o
meu quarto, me jogando na
cama e sentindo cada sensação de
estar viva; respirar, piscar os olhos,
mexer os dedos, sentir o

lençol tocando minha pele.

A única coisa que faltava era o


Joshua aqui comigo. Eu não iria
aguentar muito tempo sem ele.

[...]

Acordei por conta própria e me


espreguicei antes de me sentar na
cama e ver que já eram 10h da

manhã. Não me acordaram para ir


ao colégio!
Me levantei e fui ao banheiro.

Depois de fazer tudo o que deveria


desci as escadas e dei de cara com
o Michael no sofá, olhando

para o teto.

- Por que não foi pra escola? –


Perguntei.

Ele se virou para mim.

- Não estou preparado


emocionalmente para isso.

Olhei para ele sem entender.


- O que isso quer dizer?

Ele se levantou do sofá e andou até


mim sem dizer uma palavra,
parando a alguns metros. Seu

perfume era o mesmo de sempre.

- Precisamos conversar.

Estreitei os olhos para ele.

- Da ultima vez que você me disse


isso, eu tive que terminar com o
Joshua.

- Sorte que ele está em coma agora


e isso não vai poder se repetir. –
Ele rebateu com frieza.

- Como você pode falar uma coisa


dessas sobre o próprio irmão?

- Esse é um dos assuntos que eu


quero tratar com você. Já passou da
hora de você saber o que

aconteceu entre mim e ele.

Senti meu coração acelerando de


expectativa. Eu iria finalmente
descobrir o motivo de tudo aquilo.

- Ok, pode falar.

Ele negou com a cabeça.


- Não, não aqui. Vou chamar o
Gustavo e nós conversaremos na
praça perto daqui. – Ele se pegou o

celular no bolso. – A praça que o


Joshua te levou no primeiro
encontro de vocês.

- Como você sabe disso?

- Pode deixar que eu vou contar


tudo para você.

Apenas assenti com a cabeça,


mesmo sem entender por que ele
estava fazendo tudo isso.

Ele apontou o sofá com o queixo.


- Fica ai assistindo TV enquanto eu
ligo para o Gustavo.

Fiz o que ele mandou e me senti


estranha por isso.

Ele se sentou ao meu lado e


colocamos em um canal de música
enquanto esperávamos o motorista.

- Você foi à escola essa semana? –


Perguntei depois de um tempo.

- Sim, por quê?

- O aconteceu com a Isabela e o


professor?
Ele se virou para me olhar nos
olhos.

- Ninguém sabe direito ainda... O


diretor fez questão de deixar tudo
escondido, mas já sabemos que

foi um menino da nossa turma quem


dedurou os dois.

Pensei em quem poderia ser o


cretino que fez isso, mas não
consegui chegar a nenhum nome.

Ninguém lá da sala parecia ser tão


mal a esse ponto – a não ser, é
claro, o garoto que estava na minha
frente agora mesmo.

- E não, não fui eu. – Ele completou


com um sorriso divertido. – Ah e a
Isabela faltou esses dias,

assim como o Cavalcante. Todos


estão falando sobre isso.

- Foi uma merda. – Comentei com


pena.

Ele assentiu.

- Ele sabia que tinha riscos.

- Mas o amor não tem medo de


nada.
Ele me encarou por um segundo.

- Sabe de uma coisa? – ele sorriu. –


Concordo com você.

- Obrigada.

Continuamos nos olhando por um


tempo.

Então ouvimos uma buzina de carro


e nos levantamos. Andei ao lado
dele até o carro e ele abriu a

porta para mim; me surpreendi com


esse ato, mas não agradeci.
Querendo ou não, ele ainda era o
Michael.

- Bom dia jovens. – O Gustavo


cumprimentou sorrindo para nós
pelo espelhinho.

- Bom dia. – Respondemos ao


mesmo tempo.

- Para a praça, por favor. – Michael


falou, sentando do outro lado do
banco.

Gustavo deu a partida no carro e


andamos ao som da rádio.

No caminho, não parei de pensar no


Joshua nem por um segundo. Nosso
primeiro encontro passou

pela minha mente e eu relembrei


cada detalhe como um filme.

Eu o amava tanto.

Mesmo quando eu ainda nem sabia


disso direito, eu simplesmente não
conseguia ficar longe dele e,

quando ele estava por perto, eu me


sentia diferente. Ele me transformou
em uma nova Susan.

Senti meus olhos marejando quando


eu lembrei onde ele estava agora.
Rezei mentalmente pedindo
que ele acordasse logo.

Quando menos esperei, já


estávamos em frente à praça.

A praça da infância do Joshua. A


praça do nosso primeiro encontro.
A praça em que o Michael me

contará o motivo das coisas.

Agradeci ao Gustavo e sai do


carro. Michael me imitou.

Ele foi andando pela praça, não me


dando outra opção a não ser segui-
lo, até parar em um banquinho
de madeira. Ele sentou e eu sentei
ao seu lado.

- Por que aqui? – Perguntei curiosa.

Ele deu de ombros.

- Pura representação; minha


infância foi aqui e o que eu quero te
contar se passa na minha infância.

- Um cenário pro seu filme. –


Arrisquei com um sorriso.

Ele riu. Nunca tinha visto o


Michael rindo de verdade; sem
ironia ou frieza.
- Por ai... Então, por onde eu
começo?

- Não tenho a menor ideia. –


Respondi com sinceridade.

Ele pensou um pouco.

Sua expressão começou a


entristecer e ele olhou ao redor.

- Está vendo aquele casal ali, com


três filhos?

Ele apontou para um casal andava


pela praça com duas crianças ao
redor e um menino de colo.
Esperei eles se aproximarem mais
para ver com detalhes; A mulher
brincava com a criança em seus

braços, ignorando as outras duas,


enquanto o homem ria com alguma
coisa que a menina mais alta

dizia, ignorando o menino que


jogava sua bola para o alto e a
pegava sem muita animação.

- Estou.

- Se você pudesse deduzir alguma


coisa sobre eles, o que diria?

Olhei para eles de novo.


- Talvez que o menino com a bola
está meio triste e ninguém tá se
importando muito com isso.

Ele assentiu, olhando com


solidariedade para o menino.

- Foi uma sorte essa família ter


chegado; eu não poderia ilustrar
melhor como foi minha infância –

ele suspirou. – O menino de colo é


o Nicolas, que tem todo o amor e
atenção da mãe sem fazer

nenhum esforço. Ele sempre foi o


queridinho dela, todo mundo sabia
disso. E a menina, como você

pode deduzir, é o Joshua. Pelo que


eu sei, meu pai queria muito um
filho homem e quando o Joshua

nasceu ele simplesmente o colocou


em cima de um pedestal e ficou
fascinado por tudo e qualquer

coisa que o Joshua fazia. Isso não


mudou com o tempo. – Ele olhou
para a família que passava por

nós. – Eu entendo o que esse


menino está sentindo; ele tenta não
demonstrar o quanto está doendo
ser o ignorado, o ninguém se
importa da família, mas doí. – Ele
se virou para mim de novo. Seus
olhos

estavam apagados. – Doí de uma


forma que eu não conseguiria
explicar.

- Michael... – Comecei, mesmo sem


saber o que poderia dizer para
ajudar.

- Então, eu comecei a odiá-los.


Todos eles. Minha mãe por não me
dá atenção, Nicolas por chamar
atenção, meu pai por não ouvir
nada que eu digo, Joshua por falar
demais... Todos eles. – Ele repetiu.

Seu tom lentamente se tornava mais


frio. – Eu fugia dos almoços em
família e fingia esquecer todos

os aniversários, achando que,


assim, iria conseguia deixa-los tão
tristes quanto eu estava.

- E deu certo?

Ele abaixou a cabeça.

- Não, eles nem sequer notaram. Eu


só era um Hunter na teoria.
- Não diga isso, duvido que...

- Ah, você mesma já teve ter


notado. Mamãe melhorou um
pouco, mas meu pai nem faz
questão de

esconder sua preferencia. – Ele


olhou para mim com seriedade. –
Ele nunca respondeu meu bom dia.

Pode parecer algo desnecessário a


ser dito, mas era importante. O
senhor Fernando ignorava tanto a

existência do Michael que nem


mesmo se dava ao trabalho de
responder o bom dia dele.

Tentei não sentir pena dele, mas não


consegui. Eu queria abraça-lo e
dizer que iria ficar tudo bem.

- Aonde... Você quer chegar com


isso? – Perguntei com delicadeza.

- Todo o meu ódio durou até meus


13 anos. Então tudo mudou.

Olhei para ele com cara de


interrogação.

Ele respirou fundo antes de falar.

- Joshua tinha 17 anos quando


decidiu foder minha vida e jogar
tudo para o alto.

38. Os motivos do Michael - Parte


I

✣Michael✣

Acordei me sentindo bem. O que


era estranho, é claro. Eu nunca
acordava me sentindo bem.

Talvez fosse por que hoje era meu


aniversário de 13 anos.

Talvez fosse por que eu não teria


aula.
Talvez fosse simplesmente por que
Deus decidiu me dar uma folga e
me deixou ser feliz.

Ri com esse último pensamento;


desde quando eu sou alguém
religioso?

Não que eu não ache que Deus


existe, mas Ele poderia ter me
colocado em uma família melhor –
ou

seja, em qualquer uma sem ser a


minha.

Me levantei da cama e fui ao


banheiro. Meu reflexo no espelho
mostrava que mudei absolutamente

nada; o mesmo cabelo preto que


não ficava do jeito que eu queria,
os mesmos olhos verdes sem

graça, a mesma cor pálida. Eu


ainda parecia um vampiro mirim.
Ótimo, pensei, não será esse ano
que

eu vou perder a porra do meu bvl.

Joguei água no rosto, escovei os


dentes e respirei fundo antes de sair
do quarto. Será que eles
lembravam que dia é hoje? Ou seria
como ano passado?

Mal abri a porta do quarto e já ouvi


gritos. Por um segundo, pensei que
fosse de parabéns; então

percebi que era uma briga. Corri


até o local de onde estava vindo o
barulho: o quarto dos meus pais.

Parei em frente à porta e esperei.

- NÃO ACREDITO NISSO! – Ouvi


minha mãe gritando.

- Se-Senhora Nicole... – Alguém


gaguejou. Demorei um segundo
para reconhecer como sendo Joana,

a empregada da casa. – Eu juro


que...

- Saia daqui. – Uma voz fria


rebateu. Meu pai, é claro.

- Por favor, me dê uma chance. – A


Joana implorou.

Minha mão foi até a maçaneta


automaticamente. Eu precisava
saber o que estava acontecendo.

Já estava rodando a mão quando


senti algo tocando meu ombro.
Dei um pulo, assustado, e me virei
para ver quem era.

- Joshua porra, não faça isso! –


Reclamei irritado, sentindo meu
coração a mil por hora.

Ele me fuzilou com os olhos.

- Não use esse palavreado comigo,


pirralho – ele pegou meu braço e
me puxou para longe da porta. –

Sabia que é feio espiar as pessoas?

Soltei meu braço bruscamente e


olhei para ele com raiva.
- Ouvi gritos e fui ver o que estava
acontecendo.

Ele fingiu que não ouviu.

- Espero que isso não se repita. –


Ele avisou ameaçadoramente.
Então, se inclinando um pouco para

poder falar ao meu ouvido,


completou: – Ou eu conto para o
papai.

Engoli em seco e me afastei dele,


indo para o elevador.

- Aliás, parabéns pelos 13 anos.


Me virei por um segundo, tentando
não me senti grato por ele ter
lembrado. Eu deveria odiá-lo por

ser tão idiota comigo, mas não


consegui. Não agora.

Joguei meu orgulho para longe,


girei meu corpo e sorri para ele.

- Obrigado.

Ele levantou uma sobrancelha para


mim, surpreso pela minha atitude.

Então, quando eu pensei que


teríamos um daqueles raros
momentos em que agíamos como
irmãos, ele

simplesmente se virou e entrou no


próprio quarto.

Suspirei e entrei no elevador.

Eu era alto para a idade – 1,76, por


ai –, mas gostaria de ser mais, pelo
menos o bastante para poder olhar
nos olhos do Joshua sem ter que
inclinar o pescoço minimamente.

Fui até a sala e vi o Nicolas


deitado no sofá, rindo com alguma
coisa no computador. Me aproximei

um pouco para ver o que era, mas,


assim que sentiu minha presença,
ele fechou o computador com

força, antes mesmo que eu pudesse


ler algo.

- PUTA MERDA Michael, AVISE


QUANDO ENTRAR! – Ele gritou
se sentando no sofá e me

olhando com raiva. Seu tom


exalava nervosismo.

Revirei os olhos.

- Pode deixar que eu não quero ver


sua conversa com seu namorado. –
Rebati com irritação.
Ele arregalou os olhos.

- Nunca mais repita isso!

Abri a boca para responder, mas


acabei pensando melhor. Não
queria brigar com outro irmão.

Fui andando devagar até a porta da


casa. Meu subconsciente achou que
ia ganhar outro parabéns.

Coitado, iludido.

Passei pelo jardim e me sentei no


balanço, tentando ao máximo não
ficar triste.
- Se sinta bem – falei para mim
mesmo. – Já já você vai poder sair
de casa e viver sua vida longe

dessas pessoas.

Lá no fundo, gostaria que hoje não


fosse feriado. Pelo menos no
colégio eu posso fingir que minha

vida não era uma merda.

E lá tinha a Clara.

Não sei como nem por que, mas ela


era apaixonada por mim – e não
fazia muita questão de ser
discreta. Ela era bonita, inteligente
e parecia ser legal, mas, por algum
motivo, eu não conseguia me sentir
do mesmo jeito. E, por isso, eu não
podia beija-la. Seria errado ficar
com uma garota sabendo que ela
sente algo mais.

Suspirei. Eu não gostava de admitir


para mim mesmo, mas adorava o
jeito como ela ficava sem graça

ao me ver; o jeito como ela mexia


no cabelo quando falava comigo; o
jeito como ela escrevia meu

nome centenas de vezes no caderno


dela, mesmo sem perceber. Ela
fazia eu me sentir amado.

E, ao mesmo tempo, gostaria que


ela parasse. Amasse um garoto que
também amasse ela. Bem, acho

que essa paixão não vai durar muito


tempo mesmo... Assim que
passarmos do 8º ano ela vai me

esquecer.

Ou seja, daqui a nove meses.

Balancei a cabeça para tentar parar


de pensar nela. Saltei do balanço e
voltei para dentro de casa.
Assim que abri a porta me deparei
com essa cena: Meu pai jogando as
malas da nossa empregada no

chão bruscamente, seus olhos


pegando fogo de ódio.

- E nunca mais pise nessa casa! –


Ele gritou apontando para porta.

Entrei em casa e fui discretamente


para o lado, tentando não chamar
atenção para mim.

- Senhor Fernando, eu realmente


sinto muito. – Ela começou, com os
olhos lagrimejados.
Olhei ao redor e vi que o Nicolas
ainda estava no sofá, meio
escondido, enquanto minha mãe e o

Joshua observavam a Joana, atrás


do meu pai.

- Não tem desculpas. E saia daqui


antes que eu chame a policia.

Ela não respondeu. Apenas olhou


uma ultima vez para minha família
antes de se virar e andar até a

saída.

- Feliz aniversário, Michael – ela


falou ao passar por mim. – Você
sempre foi meu preferido.

Senti um nó se formando em minha


garganta, me impedindo de
responder qualquer coisa. Ninguém

nunca havia dito isso para mim.

Quando ela sumiu de vista, fui até


meu pai.

- O que aconteceu?

Ele olhou para mim como se eu


fosse um estranho. Ele sempre me
olhava assim.

- Encontramos ela roubando as


joias do cofre. – Ele disse já se
afastando de mim e indo para perto

da mamãe. – Será que a gente


encontra outra até o fim da semana?

- Claro – ela pegou o celular do


bolso. – Me dê cinco minutos.

Meus pais sorriram um para o outro


e subiram as escadas. Joshua olhou
para mim.

- Como pretende comemorar seu


aniversário?

Me perguntei por que ele estava


sendo tão legal. Não fazia sentindo.
Antes que eu pudesse responder,
ouvi um gritinho.

- AI MEU DEUS, EU ESQUECI


COMPLETAMENTE! – Nicolas
correu até onde eu estava e me

abraçou. – Parabéns Michael!

- O-brigado. – Respondi meio sem


graça. Não estava acostumado com
tanto contato físico.

Ele se afastou de mim, sorrindo.

- Vamos comemorar! Que tal um


campeonato de futebol? Pra estrear
a quadra. – Ele apontou para o
campo pela janela.

Joshua riu.

- Querem ser humilhados digam.

Nicolas empurrou o ombro dele,


rindo também.

- Sai dessa.

Joshua o empurrou de volta e olhou


para fora da casa.

- Vamos agora ou vocês preferem


desistir enquanto há tempo?

Nem nos demos ao trabalho de


responder e corremos para a
quadra, pegando a bola no caminho.

- Como vai ser? – Perguntei quando


entramos no campo.

- Você chuta a bola e reza pra ela


chegar ao gol.

- Como você é engraçado Joshua, é


comediante?

Ele riu ainda mais e colocou a bola


no chão.

- Vamos fazer dois jogadores e um


goleiro e ir trocando. – Ele
comandou.
- E quem vai ser o goleiro? –
Perguntei, já sabendo a resposta.

- Você. – Eles responderam em


uníssono.

Fui até o meio do gol e observei


enquanto eles tiravam impar ou par
e decidiam quem começava com

a bola. Nicolas ganhou.

Eles começaram o jogo, quase


nunca chutando a gol, apenas
driblando uns aos outros e rindo
alto.

Eles eram irmãos. Por que eu não


fazia parte disso?

O jogo foi se estendendo por horas,


até o sol começar a se pôr e só
agora eu consegui sair do gole

jogar. Peguei a bola e coloquei no


chão, me preparando para começar
a chutar e driblar o Joshua.

Então alguém tocou a companhia.

Joshua olhou para mim e riu.

- Mais azarado que você só dois.

Revirei os olhos.
- Vai lá abrir a porta, Michael. –
Nicolas pediu educadamente. Era
impressão minha ou o tom dele

sempre era gentil, mesmo quando


ele estava triste ou irritado?

Chutei a bola para longe e fui fazer


o que ele mandou. Eu era o mais
novo, não tinha muita escolha.

Parei em frente ao portão.

- Quem é?

- Meu nome é Solange...

- Pode abrir Michael! – minha mãe


gritou da porta de casa. – Ela é a
nova... Secretária do lar.

Abri o portão para ela e senti meus


olhos se arregalando de surpresa.
Uma mulher com no máximo 30

anos, sorriu para mim, mas não foi


ela quem me chamou atenção. Foi a
menina – que devia ser da

minha idade ou um pouco mais


velha – ao seu lado; com o cabelo
castanho ondulado e longo que

descia até sua cintura fina, a pele


morena que combinava
perfeitamente com seus brilhantes
olhos

escuros e um sorriso que poderia


parar o mundo por um segundo. Ela
era mais do que linda. Ela era

mais do que qualquer coisa que eu


já tinha visto em toda minha vida.

- ...Michael? – Olhei confuso para a


mulher e pisquei duas vezes para
tentar me concentrar.

- Desculpe, o que disse? –


Perguntei me sentindo
envergonhado por ter ficado fora do
ar.

A menina riu baixinho da minha


cara.

- Eu perguntei se você era o


Michael, o filho mais novo.

- Ah sim, sou eu mesmo. –


Respondi com um sorriso e dei um
passo para o lado, segurando o
portão

para elas passarem.

A mulher passou mim e foi em


direção a minha mãe, mas a menina
ficou, parando bem na minha
frente.

- Oi, meu nome é Anna – ela se


apresentou sorrindo e estendendo a
mão para mim. – Muito prazer.

- O prazer é todo meu.

Apertei sua mão. Assim que a


toquei, senti pontadas de
eletricidades, como se estivesse
tocando em

um fio solto. Era uma boa sensação.

Se ela sentiu o mesmo, não


demonstrou.
- Ei Michael, venha com a Anna
para a casa. – Ouvi minha mãe
falando.

Olhei para a garota na minha frente,


que se virou para a entrada e saiu
andando, sem me esperar.

Adorei ela.

Dei uma corridinha para alcança-la


e andei ao seu lado até entrar em
casa. Ela arregalou os olhos,

com a boca entreaberta de surpresa.


Achei graça de sua reação.

- Seja bem-vinda! – Minha mãe a


cumprimentou com um sorriso de
orelha a orelha.

- Obrigada, Dona... Nicole?

Mamãe assentiu com a cabeça e


apontou para a escada.

- Venham comigo, vou mostrar seus


quartos.

Ela subiu as escadas e as duas a


seguiram. Acompanhei as curvas da
Anna com o olhar enquanto ela

se afastava de mim. Já que disse


que ela era linda?
Ouvi risadas atrás de mim e girei o
corpo. Meus irmãos entraram na
sala, rindo.

- Você me paga! – Nicolas falou


dando um murrinho no ombro do
Joshua.

- Não sabe perder não joga. –


Joshua rebateu em tom divertido.

Ele era poucos centímetros mais


alto do que o Nicolas, mas
aparentava ser milhões de vezes
mais

forte. Talvez desse essa impressão


pelo fato do Nicolas parecer
incapaz de machucar alguém, ao

contrário do Joshua, que parecia


sempre preparado para brigar.

- Nem vi como era a nova


empregada. – Joshua comentou
olhando para mim.

- Ela parece ser legal... A filha dela


também. – Deixei escapar. Espero
que minha voz tenha saído

sem malicia.

Ele levantou uma sobrancelha.


- Quantos anos?

- 15, por ai.

Ele apenas assentiu com a cabeça.

- Então, que tal voltarmos ao jogo?


– Nicolas perguntou.

- Não estou mais afim. Que tal a


gente ir comer em algum lugar? –
Joshua sugeriu olhando para mim.

- Claro, onde?

- A gente decide no caminho – ele


pegou o celular na mesa de jantar. –
Vou ligar para o Gustavo, um
segundo.

[...]

Sai do banheiro com a toalha


enrolada no quadril. Tinha dez
minutos para me trocar e descer
para

sair com o Nicolas e o Joshua. Não


saíamos juntos há tanto tempo que
eu nem me lembrava da ultima

vez.

Eu ainda estava no caminho até meu


guarda-roupa quando ouvi alguém
batendo na porta. Deve ser
Joshua mandando eu me apressar.

- Pode entrar. – Disse me virando


para a porta, ajeitando a toalha.

- Me desculpe incomodar, mas...

Senti meu coração acelerando.


Observei em choque enquanto a
porta se abria e a Anna surgia atrás

dela, com um sorriso envergonhado


no rosto.

Ela me olhou de cima a baixo e


corou violentamente.

- Ai meu Deus, eu não sabia que


você estava... – Ela desviou os
olhos.

Sorri sem jeito.

- Tudo bem, eu não estou


completamente nu aqui – falei,
tentando acalmar ambos. – O que
você quer?

Ela olhou para o meu corpo mais


uma vez e posso jurar que vi seus
olhos brilhando por um segundo.

- Na boa? Esqueci. – Ela riu,


finalmente olhando em meus olhos.
– Se eu lembrar de novo digo, ok?
- Ok... – Respondi sem saber o que
dizer. Seus olhos pareciam flertar
comigo. - Quer... Hum... Me

ajudar a escolher minha roupa?

Ela ergueu as sobrancelhas.

- Sério? – ela não esperou minha


resposta. – Claro que quero.

Apontei para o guarda-roupa na


minha frente e ela correu para perto
de mim, sorrindo como uma

criança.

Ela passou a mão pelas minhas


roupas.

- Preto iria destacar a cor dos seus


olhos. – Ela falou pensativa. – Mas
vermelho te deixaria com

cara de ousado.

Ri do que ela estava falando.

- Eu vou para um restaurante, não


pra uma balada.

Ela balançou a cabeça.

- Não importa ué. Pra onde quer


que você vá – ela se virou para
mim –, tem que ir arrasando.
- Ok, ok, o que você sugere?

Ela pegou uma camisa azul escura


quase preta que continha apenas o
símbolo da marca.

- Vai ficar perfeito.

Ela me entregou a camisa e eu a


olhei com cuidado.

- Realmente vai. – Confessei rindo.

Ela sorriu por um segundo.

Então sua expressão tomou um quê


interrogativo.
- Me desculpa perguntar, mas por
que você vai a um restaurante em
pleno feriado e uma hora dessas?

Pensei um pouco.

- É meu aniversário. – Respondi


por fim.

Ela arregalou os olhos.

- Ai meu Deus! Parabéns!

Ela bateu palmas e me abraçou.


Senti todos os músculos do meu
corpo se contraindo com o toque.

Meu coração deu um mortal para


trás.

- Obrigado. – Disse enquanto ela se


afastava. – Sei lá... Se quiser, pode
vim com a gente.

Ela negou com a cabeça.

- Não posso sair com vocês – ela


abaixou os olhos –, de certa forma
seria como sair com meus

chefes.

- Não concordo com você. Mas,


mesmo que fosse assim, eu estou te
convidando. – Ela olhou para
mim novamente, séria. – Eu faço
questão.

Não sei por que estava sendo tão


gentil. Eu nunca agia assim. Eu
sempre fiz questão de não me

importar muito com as pessoas – ou


pelo menos fingir que não me
importava. Mas, agora, eu só

queria que ela sorrisse, nem que


fosse por um único segundo.

- Mas...

- Você quem sabe. – A cortei, já


prevendo o que era iria dizer. Não
queria ter que ouvir aquelas

coisas que menina diz quando quer


ser paparicada.

- Ok então, eu vou.

Internamente, admirei sua decisão e


seu tom seguro de voz. Ela não era
uma menina que queria ser

paparicada. Longe disso.

- Vai se trocar que eu passo no seu


quarto daqui a dez minutos.

- E você sabe onde é?


- Não.

Ela riu. Sua risada saia facilmente


mas era algo difícil de esquecer.
Parecia música.

- Sou sua vizinha esquerda. – Ela


respondeu, já se virando para ir
embora.

Observei enquanto ela saia. Bela


vizinha, pensei.

Coloquei a roupa que ela escolheu,


junto com uma calça jeans preta, e
saí do meu quarto. Parei em

frente ao quarto ao lado.


Bati na porta, ansioso para ver a
Anna.

- Só um segundo! – Ela pediu com


uma voz apressada.

Esperei, pensando no que ia dizer.


Elogiaria sua roupa ou apenas a
guiaria até o térreo? A

cumprimentaria com um abraço ou


um aperto de mão? Seria gentil ou
indiferente?

Respirei fundo. Pare com isso, falei


para mim mesmo, irritado.

Então a porta se abriu e eu não


consegui pensar em mais nada. Se
ela já era linda naturalmente,

imagina maquiada. Ela estava


perfeita.

Fiz força para não arregalar os


olhos e a abrir a boca de surpresa.

- O-oi. – Gaguejei, sem conseguir


evitar.

Ela riu, corada.

- Peguei a maquiagem da minha


mãe... Acho que exagerei. – Ela
falou, baixando os olhos.
Neguei com a cabeça, mais
intensamente do que deveria.

- Você está linda.

Para com isso pelo amor de Deus.


Seja mais difícil.

- Acha mesmo?

Mude de assunto, mude assunto,


mude de...

- Com certeza.

Ela sorriu envergonhada.

- Obrigada, Michael.
Nos encaramos e eu senti um
sorriso bobo surgindo em meu
rosto, dançando na minha boca sem
que

eu pudesse controla-lo. Merda,


agora é tarde demais.

- Então... Vamos? – Perguntei sem


desviar os olhos.

- É pra já!

Sorri e apontei para as escadas. Ela


andou até lá e eu a segui.

Descemos as escadas rapidamente


e demos de cara com o Joshua e o
Nicolas conversando na sala.

- Por que porra você terminou com


ela? – Joshua perguntou confuso.

Nicolas ficou vermelho e hesitou.

Estranho. Nicolas nunca hesitava –


essa era umas das coisas que eu
admirava nele.

- Ela não... Faz meu tipo. – Ele


respondeu dando de ombros, mas
seus olhos revelavam seu

nervosismo. O que será que ele está


escondendo?
Joshua bufou com ironia.

- Você diz isso para todas – ele


estreitou os olhos para o irmão do
meio. – Afinal, qual é seu tipo?

Nicolas abriu para falar, mas parou,


olhando para mim e para Anna com
uma mistura de surpresa e

gratidão.

- Michael! E...? – Ele


cumprimentou e olhou para a
menina ao meu lado.

- Anna – ela completou com


sorriso. Era tão fácil fazê-la sorrir.
– e o seu?

- Nicolas, e esse é...

- Joshua – ele falou praticamente


correndo até a Anna e pegando sua
mão. – Muito prazer. – Ele

completou, levantando a mão dela e


a beijando.

Suas bochechas ficaram vermelhas


e ela desviou os olhos, indo para
mim. Tentei não odiar o Joshua

e não morrer de ciúmes.

- O prazer é todo meu. – Ela


respondeu baixinho, sem graça.

Ele sorriu e ela levantou os olhos


para ele.

Tossi baixinho, chamando a atenção


para mim.

- Vamos ou não?

Ele se virou para mim como se


tivesse, só agora, notado minha
presença.

- É, vamos. – Ele pegou celular e


discou um número. – Gustavo?
Pode vim agora, por favor?
Não sei o que ele respondeu, mas o
Joshua assentiu com a cabeça e nos
olhou com os olhos

brilhando.

- Ele chega daqui a dois minutos. –


Avisou.

Anna se inclinou para mim.

- Não acredito que vocês tem um


motorista particular! – Ela
sussurrou no meu ouvido.

Ri com a surpresa dela.

- Ele trabalha para nós há cinco


anos já. Gente boa demais.

Ela me olhou impressionada.

- Gente rica é outro mundo.

Balancei a cabeça.

- Não fale como se não fizesse


parte disso agora.

Ela levantou uma sobrancelha.

- Não concordo com você; eu não


tenho dinheiro e vocês têm, mas o
fato de eu vim morar aqui não

faz com ele seja transferido para


minha conta no banco.

- Ei duplinha, venham pra cá.

Olhei para o Joshua no sofá,


acenando para nos juntarmos a ele.

Eu não queria, é claro, mas fui


assim mesmo.

Me sentei ao lado dele enquanto ela


sentava-se na poltrona, em frente
aos dois. Nicolas estava

deitado no outro sofá, sem prestar


atenção em nenhum de nós.

- Quantos anos você tem? – Joshua


perguntou.

- Fiz 15 mês passado.

Os olhos dele brilharam e eu senti


uma pontada no meu estomago. Ela
era dois anos mais velha do

que eu e dois anos mais nova do


que ele. Ela tinha idade para
escolher qualquer um.

- E você?

- 17.

Eles se olharam, provavelmente


pensando de que sim, eles
poderiam se pegar sem problemas.

Pressionei os lábios, vasculhando


na minha mente algo para falar e
mudar o assunto.

Foi então que, para minha sorte,


ouvimos um barulho de buzina.
Gustavo. Aleluia.

Joshua deu um pulo do sofá.

- Vamos crianças. – Ele disse indo


para a porta.

Observei enquanto a Anna revirava


os olhos, irritada por ser chamada
de criança. Era uma sorte
enorme o Joshua não pensar antes
de falar.

O seguimos para fora da casa e o


Joshua entrou no banco do
passageiro, deixando os três
lugares de

trás para nós. Nos sentamos. Quem


olhasse de longe diria que somos
todos da mesma família.

Cumprimentamos o Gustavo e o
Joshua explicou para ele para onde
estávamos indo.

- Aliás, parabéns Michael. – Ele


falou enquanto dava a partida no
carro.

- Obrigado, Gusta.

Ele sorriu para mim pelo


espelhinho.

- Gente boa demais. – Ouvi uma


voz quase inaudível perto do meu
ouvido.

Olhei para a Anna, que estava a


poucos centímetros de mim.

- Eu falei.

Ela sorriu, apoiando a cabeça em


meu ombro. Senti uma onda elétrica
partindo de onde ela me tocou,

mas disfarcei.

Assim que chegamos lá, Joshua saiu


do carro e abriu a porta do banco
de trás. Anna olhou para ele

com uma mistura de admiração e


surpresa. Merda.

Saímos do carro e seguimos o


Joshua até o interior do restaurante.
Nos sentamos na mesa perto da

televisão.
- Vai estudar no JK? – Perguntei
para a Anna quando nos sentamos.
Ela ao meu lado e de frente para

o Joshua.

- Com certeza. Acho que sou da


turma do Nicolas.

Ele deu de ombros e eu me


surpreendi com sua indiferença.
Mas, pensando bem, ele nem a
olhou

direito – se é que você me entende


– ainda. Nicolas agia aos poucos.

- Passe no terceirão viu? – Joshua


pediu com um sorriso.

- Pode deixar. – Ela respondeu


sorrindo também.

- Ei você vai conhecer o Reys,


professor de química. Se prepare
para escrever até sua mão cair. –

Nicolas falou, finalmente


participando da conversa.

- Odeio professor que escreve


muito. – Ela comentou.

- Também. – Concordei.

- Quando eu for professor, vou


escrever apenas o necessário. –
Joshua afirmou, olhando fixamente

para a Anna enquanto falava,


querendo ver a reação dela.

Ela arregalou os olhos para ele.

- Você quer ser professor?!

Ele riu. Todos tinham essa reação.

- Com toda certeza.

Ela levou a mão à boca,


extremamente surpresa.

- Isso é tão estranho... Nunca


conheci ninguém que quisesse ser
professor.

Joshua riu ainda mais.

- Alguém tem que querer, se não


como o país vai continuar?

A cada palavra que ele dizia, Anna


parecia ficar mais admirada.
Revirei os olhos.

- Eu acho linda essa profissão – ela


disse. – Ensinar alguém é algo tão
nobre.

Ele assentiu com a cabeça, feliz.


- Obrigado. – Ele agradeceu com
um sorriso imenso no rosto.

- E você Michael, o que quer ser? –


Ela perguntou se virando para mim.

- Alguma coisa que tenha Medicina.


– Respondi sem detalhes. Nunca
tinha parado de verdade para

pensar nisso. Até por que eu só


tinha 13 anos, tempo de sobra para
decidir.

Ela concordou com a cabeça.

- Também!
- Ótimo, já já vou poder ficar
doente qualquer dia. – Joshua
brincou.

Todos na mesas riram, até o


Nicolas, que realmente não estava
se importando com o que acontecia
ao

seu redor.

- Eu e o Michael cuida dos seus


alunos, Joshua. – Ela sugeriu com
os olhos brilhando, como se

estivesse ansiosa desde agora.

Ele riu.
- Não tenho nem dúvida disso.

[...]

O jantar passou rapidamente. Não


ficamos sem assunto nem por um
único segundo.

Anna gostava de falar; Joshua


gostava de falar; Nicolas e eu não
reclamávamos de ouvir. A

combinação perfeita para uma


conversa quase sem fim.

Quando finalmente chegamos em


casa – depois de eu ter descoberto
coisas como: Anna nasceu na
Argentina, mas foi naturalizada
brasileira com três anos de idade;
ela é alérgica a camarão; odeia

todo e qualquer tipo de refrigerante;


só foi a praia uma vez na vida etc –
eu estava exausto. Me

despedi de todos e fui para o meu


quarto.

Deitei na cama e ajeitei o


travesseiro na minha cabeça, sem
conseguir para de pensar no tanto
de

coisa que eu descobri. Anna era


uma garota de várias faces.

Eu ainda estava acordado quando


ouvi alguém batendo na porta.

- Pode entrar. – Respondi


automaticamente.

Me sentei na cama para ver melhor


quem era. Joshua.

Ele entrou no quarto e fechou a


porta com cuidado.

- Oi irmãozinho.

Levantei uma sobrancelha,


desconfiado.
- O que você quer?

Ele riu baixinho e veio até mim,


sentando na bora da cama.

- Precisamos conversar.

- Sobre...?

Mas eu sabia sobre o que era.

- Anna.

Como eu pensei.

- O que exatamente você quer


dizer?
Ele suspirou antes de falar. Seus
olhos azuis estavam particularmente
escuros hoje, como quando meu

pai brigava com alguém.

- Não posso negar que ela é uma


menina extremamente bonita.

- Ninguém está mandando você


negar isso. –Retruquei, sem gostar
do rumo da conversa.

- Eu vi o jeito como você olhou


para ela, Michael. Eu não tenho 10
anos. – Ele suspirou outra vez. –

Eu sei quando vejo alguém


apaixonado.

- Não estou apaixonado por ela! –


Respondi na defensiva.

Mas, na verdade, eu não sabia se


estava sendo sincero. Nunca estive
apaixonado antes então, se eu

estivesse, eu provavelmente não


saberia.

- Claro que está, mas isso não é um


problema.

- Então por que veio aqui?

- Só vim dizer que também a acho


bonita e legal, por isso vou tentar
ficar longe dela.

Olhei para ele surpreso.

- Sério?

Ele assentiu com a cabeça.

- Sei que você faria isso por mim.

Fiquei calado. Não sei se faria isso


por ele. Não sou tão bom assim.

Ele riu do meu silencio.

- Ok, talvez não, mas isso não é


importante – ele se levantou da
cama. – O importante é que eu já
dei meu recado e você já pode
voltar a dormir.

Ele girou o corpo para porta.

- Boa noite Michael.

- Boa noite Joshua.

Meu ultimo pensamento antes de


dormir foi que, talvez, eu devesse
dar uma chance a minha família.

Eles não são de todo ruim.

[...]
O tempo passou rápido.

A beleza da Anna apenas


aumentava a cada dia, mas, aos
poucos, fui me acostumando com a

presença dela; em casa e na escola.

Ela já estava há duas semanas aqui


e nós ficamos, por mais estranho
que isso pode parecer no

começo, amigos.

Não que eu nunca tivesse sido


amigo de outra garota antes, é
claro, mas a Anna era diferente. Eu
queria beijar e conversar com ela,
ao mesmo tempo.

Joshua estava certo, eu estava


apaixonado por ela.

Admiti isso apenas ontem a noite,


quando ela passou no meu quarto
para falar como foi seu dia na

escola. Fiquei tão fascinado por


tudo o que ela disse que, quando
ela foi embora, fiquei curioso para
saber mais sobre a amiga do
Nicolas que namora o inimigo da
melhor amiga dela; e isso só tem
duas
explicações possíveis: eu a amo, ou
eu sou gay.

Fiquei com a primeira opção.

E era nisso que eu estava pensando


enquanto caminhava pelo corredor
do primeiro andar, indo em

direção ao meu quarto.

Então eu ouvi vozes se elevando.


Vinha do quarto dos meus pais.

Corri para lá e parei em frente a


porta, esperando alguma coisa.

- Eu já falei mil vezes! Não quero


ela nas nossas reuniões de família!
– Meu pai gritou, irritado.

Os gritos naquela casa estavam


ficando frequentes.

- Mas tá na cara que o Michael


gosta dela, temos que respeitar
isso. – Minha mãe rebateu, com seu

velho tom gentil e marcante ao


mesmo tempo.

Gelei. Eles estavam falando de


mim.

Todos os meus extintos disseram


que era melhor eu ir embora agora
e não ouvir mais nada, mas eu

não me mexi.

- Maldita hora que a gente foi fazer


aquele menino!

Eu não devia ter ouvido isso.

Olhei para o lado sem saber o que


fazer. Não podia entrar e fazer um
escândalo. Não podia correr

como uma criança e chorar em meu


quarto. Não podia continuar parado
ali.

- Fernando! Como você pode dizer


uma coisa dessas? – Ouvi minha
mãe perguntar irritada, mas

sabia que era mais por ela do que


por mim.

Respirei fundo, tentando me


controlar e me virei para o meu
quarto, andando devagar.
Respirando e

inspirando para não começar a


chorar ou gritar.

Eu sabia que meu pai não queria um


terceiro filho. Todo mundo sabia
disso. Ele sempre foi um
homem muito supersticioso e a
ideia de ter um número impar de
crianças o assustava. Ele não
queria

que eu tivesse nascido.

Mas eu nasci. E ele nunca me


perdoou por isso. Ele decidiu que a
culpa da minha existência era

minha e simplesmente fez questão


de não participar de nada da minha
vida. Ele me ignorou quando eu

era menor e me ignora agora.

Andei mais depressa até meu quarto


e abri a porta com força.

- Ai que susto!

Olhei para a garota na minha cama,


com a mão no coração. Não queria
ver a Anna agora.

Levantei os olhos para segurar as


lagrimas. Eu não podia chorar na
frente dela. Não, meu Deus, eu

não podia estragar tudo.

Fiquei parado na entrada do quarto,


com medo de me aproximar e ela
perceber que havia algo de
errado. Naquele momento, eu só
queria ficar sozinho.

Mas, infelizmente, ela queria


conversar. Me mantive imóvel
enquanto ela se levantava da cama
e

vinha na mina direção, parando a


menos de um metro de mim.

Olhei para ela.

Ela era tão bonita.

Não importa se fazia um dia ou


duas semanas que ela tinha chegado
nessa casa, eu ainda me
surpreenderia ao vê-la de perto.

- O que aconteceu? – Ela perguntou


preocupada.

Neguei com a cabeça.

- Nada não.

Ela estreitou os olhos.

- Eu sei que aconteceu alguma


coisa, Michael.

- Não me obrigue a dizer. – Pedi


baixinho, me arrependendo no
mesmo segundo por parecer tão
vulnerável.

- Não vou obrigar, só... Quero


saber como posso te ajudar.

Nos olhamos. Seus olhos escuros


refletiam minha imagem como um
pequeno espelho.

- Apenas... Me deixe sozinho. –


Pedi, mesmo sabendo que isso não
iria ajudar.

Ela não se mexeu.

- Não acho que isso vai adiantar de


alguma coisa.
- E o que vai?

Ela respirou fundo, como se


estivesse tomando coragem para
alguma coisa.

- Não sei. Alguma ideia?

Ela olhou para mim boca.

Senti o mundo ao meu redor


girando e eu esqueci completamente
o motivo da minha tristeza.

Ela queria me beijar.

Dei um passo à frente.


- Algumas. – Falei deixando que o
tom de malicia saísse.

- Não vejo nada que as impeça de


acontecer. – Sua voz saiu baixa e
rouca. Ela estava tão nervosa

quanto eu.

Na ultima semana, tínhamos ficado


amigos. Mas isso não impediu de
termos momentos de flerte. Eu

deitava em seu colo quase toda


tarde e ela mexia no meu cabelo
com suas mãos leves. Nos

olhávamos o tempo todo. Ela me


apresentou as amigas com sendo
SEU Michael. E eu não deixava

que meus amigos olhassem para ela


por mais de cinco segundos. De
certa forma, eu sabia que isso

iria acontecer. Só não sabia que


seria agora e dessa maneira.

Ela deu um passo à frente.


Estávamos quase nos tocando.

Minhas mãos foram lentamente até


sua cintura e eu a puxei para mim,
com cuidado. Nada poderia dar

errado agora.
Ela, agora colada comigo, colocou
as mãos na minha nuca e no meu
cabelo, me arrepiando.

Mesmo sendo mais velha, ela


precisou ficar na ponta dos pés;
assim que o fez, ficamos cara a
cara.

Nossos olhos simplesmente não


conseguiam desviar um do outro.

- Talvez eu esteja apaixonado por


você. – Falei baixinho, como um
segredo.

Ela assentiu com a cabeça.


- É, talvez eu também esteja
apaixonada por você.

Nos olhamos por mais alguns


segundos.

Então nossas bocas se encontraram


e eu fechei meus olhos. Eu só
queria sentir.

Depois de tudo que já aconteceu


entre mim e minha família, eu não
pensei que fosse capaz de amar

alguém. Não assim. Não de


verdade. Eu não pensei que
conseguiria encontrar uma pessoa
pela qual

eu daria minha vida sem pensar


duas vezes. Mas aqui estava eu,
beijando essa pessoa. Deixando
que,

mesmo que por apenas alguns


segundos, fizéssemos parte de uma
só coisa.

Eu a amava.

Meu coração batia forte e, quando


paramos para respirar, não
consegui dizer nada para descrever
o
que estava sentindo. Mas não
precisei. Ela sabia.

Ela sabia que eu a amava.

Era só isso que importava.

[...]

Acordei me sentindo uma pessoa


nova.

Tudo estava dando certo.

Você tem ideia de como isso é raro


para alguém como eu?

Me levantei da cama e sorri.


Enquanto existisse a Anna, eu
sorriria todos os dias.

Era domingo, e eu desci as escadas


para tomar café da manhã.

E lá estava ela, sentada na mesa.


Quando nossos olhares se
encontraram senti como se alguém
tivesse

tirado o ar dos meus pulmões. Ela


era de tirar o folego.

- Então, estamos namorando? – Ela


perguntou quando me sentei ao seu
lado.
Sorri com a ideia.

- Só se você quiser.

Ela riu e me beijou.

- Claro que eu quero.

[...]

A semana depois disso não poderia


ser melhor. Eu e Anna estávamos
cada dia mais próximos e

conversávamos sobre tudo. Ela era


minha melhor amiga e minha
namorada. O que eu poderia pedir a
Deus?

Notei que Joshua ficou um pouco


afastado esses dias, acho que
mantendo sua promessa. Ele era um

bom irmão.

Então, num dia de terça-feira em


que eu iria ter esporte, mas foi
cancelado por que o professor teve
problemas de saúde, voltei para a
casa mais cedo do que a rotina.

Decidi passar no quarto da Anna e


ir falar com ela. Tinha pego uma
flor no jardim para entregar
quando a visse.

Abri a porta sem bater, como


sempre fazia.

Então eu vi.

Preferia ter visto qualquer coisa,


em qualquer momento. Menos
aquilo. Não, por favor.

A Anna estava deitada com a


cabeça no peito nu do Joshua, com
os olhos fechados.

- Mas o que...? – Olhei para eles


sem acreditar.
Ela deu um pulo da cama,
assustada. Joshua a imitou.

Eles ficaram sem voz.

Não havia nada que pudesse ser


dito.

Eu fui traído não só pelo amor da


minha vida como também pelo meu
próprio irmão.

39. Os motivos do Michael - Parte


II

✣Michael✣

Ela ajeitou o lençol para cobrir


melhor seu corpo e olhou para o
Joshua, que usava uma bermuda

vestida as pressas.

Senti algo quebrando dentro de


mim, como se alguém tivesse
pegado meu coração e jogado do
alto

de um prédio.

- Eu posso explicar – ela falou,


finalmente olhando para mim.

Neguei com a cabeça, meio tonto


por causa do excesso de
informações.
- Acho que ele já sabe o que
aconteceu aqui – Joshua retrucou
com ar de riso. Ele era muito pior
do

que eu imaginei.

Anna se virou para ele, irritada.

- A culpa é toda sua!

Ele riu sem nem um pingo de


arrependimento ou culpa. Será que
alguma parte dele, nem que seja a

menor, lembrava que somos


irmãos?
- Mas eu não estou namorando
ninguém – ele rebateu olhando para
mim.

Respondendo a pergunta anterior:


Não, ele não lembrava.

Mordi o canto interno da boca para


tentar me controlar. Eu só queria
sair correndo dali e ir para o

mais longe possível, quebrar


algumas coisas e gritar o mais alto
que eu pudesse.

Ela deu um passo à frente,


cautelosamente.
- Me deixe explicar, Michael.

Ontem, meu nome saia como


música de sua boca, como se ela
estivesse cantando ele para mim,
com

todo o amor possível.

Mas, agora, eu só queria que ela


calasse a boca e nunca mais sequer
falasse comigo.

- Não, deixe que eu explique –


Joshua disse dando dois passos à
frente. – Eu, ao contrário dela, não
tenho nada a perder.
Ele não se importava em perder
minha confiança. Bom saber.

- Não, claro que não! Você vai


inventar...

- Quero ouvir a versão dele –


decidi, apenas para a fazer ficar
quieta. – Saia daqui, Anna.

Ela me encarou sem acreditar e, por


um segundo, me senti culpado por
ter sido tão duro.

Então eu lembrei o motivo de tudo


isso; ela me traiu com meu próprio
irmão. Ela merecia.
Encarei-a de volta, sério, sentindo
meus olhos esfriando de uma forma
que nunca tinham feito antes.

Por fim, ela assentiu com a cabeça


e lançou um ultimo olhar para o
Joshua antes de andar até a porta
atrás de mim.

- Me perdoe – ela sussurrou


enquanto passava. – Eu amo você.

Fingi que não ouvi.

Se ela me amasse de verdade, nada


disso estaria acontecendo.

Assim que ouvimos a porta se


fechando, Joshua soltou uma
risadinha.

- Qual é a graça? – Perguntei


friamente.

Ele parou de rir no mesmo segundo


e pareceu, mesmo que muito pouco,
arrependido.

- Acho melhor você sentar...

- Foda-se o que você acha.

Ele levantou uma sobrancelha para


mim, surpreso. Eu nunca mandava
as pessoas se foderem, mas
agora era diferente. Eu o odiava.

- Eu posso explicar.

- Então explique – repliquei com


raiva. Nada poderia explicar o que
aconteceu, eu sabia disso. Ele

era um idiota só por tentar.

Ele respirou fundo, pensando no


que dizer.

- Eu tentei, ok? Juro que tentei. –


Ele falou, finalmente tendo o bom
senso de desviar os olhos dos

meus. – Desde daquela nossa


conversa, eu fiz de tudo para manter
meu juramento; eu nunca olhava

para ela, eu nunca parava para


conversar, eu nunca ficava muito
tempo no mesmo cômodo que ela.
Eu

fiz de tudo. Tudo que estava ao meu


alcance para fingir que ela não
existia e não sentir atração por ela.
Mas hoje de manhã, quando ela
voltou da escola mais cedo por
causa de uma dor de cabeça... –

ele olhou para mim novamente, seus


olhos transmitindo vários
sentimentos diferentes. O mais forte

era decepção. Ele estava


decepcionado consigo mesmo por
não ter conseguido. Ele estava mais

decepcionado do que arrependido.


– Eu estava em casa porque não
tenho aula hoje, só de noite, para

fazer um simulado. Então, quando


ela chegou, me encontrou na sala,
assistindo TV só com uma

bermuda, e veio conversar comigo.


Eu não poderia sair como se não a
conhecesse e subir as escadas
para o meu quarto, Michael. Eu
simplesmente não poderia fazer
isso. Então eu fiquei.

Assenti com a cabeça, como se,


assim, pudesse fazer ele parar de
falar. Não queria ouvir mais. Eu já
conseguia deduzir o resto. A única
coisa que eu queria era um pedido
de desculpas.

Mas ele continuou:

- Ela é tão linda. E ela flertava


comigo, com as palavras e com os
olhos. Não pude resistir. – Ele
falava pausadamente, com cuidado.
– Então ela disse que queria me
mostrar uma coisa no quarto

dela...

- Já entendi – o cortei, sem querer


saber o resto. – Posso muito bem
deduzir o resto.

Ele mordeu o lábio inferior por um


segundo.

- Não posso dizer que sinto muito –


ele disse por fim. – Porque não
sinto.

Por dentro, eu queria gritar com


ele. Mas continuei calmo e
inexpressivo, sem deixar que ele
visse o quanto suas palavras
estavam me magoando. Ele não
precisava saber; isso só iria inflar
mais seu ego.

- Eu entendo – menti.

Ele negou com a cabeça.

- Não Michael, você não entende.


Você é muito novo para entender
que...

- Ah, então eu sou muito novo para


entender isso, mas não sou muito
novo para ser corno? –

perguntei com ódio. – VAI SE


FODER, JAMES.

Ele cruzou os braços.

- Ainda sou seu irmão mais velho,


você não pode falar assim comigo.

Forcei uma risada.

- Você não é meu irmão – olhei para


ele sem nem um pingo de
sentimento. – Eu não tenho família.

Ele ficou calado. Lá no fundo, ele


concordava comigo.
Eu não era um Hunter de verdade.
Aquele era só o nome que estava no
meu cartório, não significava

nada além disso. E o Joshua sabia.

- Apenas... Me deixe sozinho, ok? –


Pedi, minha voz levemente mais
suave. Minhas forças estavam

se esgotando aos poucos. – E


mande esse mesmo recado para sua
nova peguete.

Ele abriu a boca para responder


alguma coisa, mas pensou melhor.
Nos encaramos por alguns
segundos até ele finalmente assentir
com a cabeça e sair do quarto.

Respirei fundo, tentando não


desmoronar.

Girei o corpo e fui até o meu


quarto.

Entrei, tranquei a porta e deixei


meu corpo cair, encostado na
parede. Meus joelhos se dobraram
e eu os abracei, com a cabeça
abaixada. Nunca havia me sentindo
tão pequeno quanto agora.

E a pior coisa que passava pela


minha cabeça é que o Joshua não
sentia muito.

Ele era pior que a Anna. Ele sabia


como eu me sentia em relação a ela,
ele sabia que eu a amava

mais do que qualquer coisa. Ele


sabia e mesmo assim fez aquilo.
Mas a pior parte é que ele

prometeu; ele jurou que não faria


nada com ela em respeito a mim,
por sermos irmãos. E, na primeira

oportunidade, jogou tudo para o


alto e esqueceu tanto da promessa
quanto do fato de termos o mesmo

sangue, o mesmo sobrenome, a


mesma mãe e o mesmo pai que, se
soubessem o que aconteceu,

ficariam do lado dele.

Mas ele não era a única coisa que


me deixava triste. Também tinha a
Anna; a garota com quem eu tive

meu primeiro beijo de verdade, que


me fez sorrir depois de eu ter
ouvido coisas horríveis da boca

do meu pai e que disse que me


amava. A garota que roubou meu
coração de uma forma que eu nunca

imaginei que fosse possível. E,


infelizmente, a garota que se deitou
com meu próprio irmão quando

eu não estava por perto.

Me sentia duplamente traído. Eu até


podia ser novo demais para
entender o que aconteceu, mas eu

também era novo demais para


sofrer desse jeito e ninguém nunca
se importou com isso. Eu era novo

demais para várias coisas, sempre


foi assim; novo demais para odiar
meus parentes, novo demais

para me apaixonar com tanta


intensidade, novo demais para
pensar em fugir de casa e, agora, eu
era

novo demais para ser quebrado ao


meio. As pessoas não davam a
mínima para a minha idade.

Enquanto minha parte triste


reclamava, o meu ódio interior
crescia como nunca antes e eu
prometi

para mim mesmo que eu faria o


Joshua sentir muito. Nem que seja a
última coisa que eu faça.

Uma parte de mim também pensou


em me vingar da Anna, mas tirei
essa ideia da minha mente tão

rápido quanto veio. Ela me pediu


perdão. Mesmo eu não a tendo
perdoado de verdade, eu sabia que

ela estava sendo sincera. Ela estava


arrependida e isso, por si só, já a
fazia melhor que o Joshua.

Ouvi batidas na porta, mas


continuei imóvel. Não queria
visitas.

- Michael, por favor, eu sei que


você está ai... – Era a Anna.

- Não estou muito afim de falar com


você – respondi com sinceridade.

Do outro lado da porta, ouvi um


suspiro.

- Não estou pedindo que você


converse comigo... Eu só... Queria
dizer que eu realmente sinto muito

e... Ah Michael, eu amo você.

Me levantei e fui até a porta,


parando com a testa encostada na
madeira. Mordi o lábio inferior
sem

saber o que fazer. Minha mão


direita se fechou em um punho e eu
dei murrinhos involuntários na

porta; eu sempre fazia isso quando


estava confuso.

- Por que você fez isso comigo? –


perguntei baixinho.

Ouvi sua respiração ficando mais


próxima da minha.

- Eu não sei – ela respondeu por


fim, sua voz gritava
arrependimento, mas eu não sabia
se ele era

sincero. – Mas eu me sinto tão mal,


Michael. Eu me sinto tão suja.

Não respondi. Não queria dizer que


era suja, mas também não queria
conforta-la. Eu não sabia o que

fazer. E a pior parte era que eu a


amava.

- Me dê um tempo. Eu não
consigo... Falar com você. Não
agora. Não depois de tudo o que eu
vi –

confessei, quase implorando para


ela ir embora.

Ainda estava dando murrinhos na


porta quando ouvi um soluço baixo.
Ela estava chorando.

- Eu entendo que você


provavelmente nunca vai me
perdoar por isso. Eu sei que o que
eu fiz foi

injustificável e eu sinto muito


mesmo. Eu só... Queria te pedir
desculpas.
- Já pediu, pode ir embora – falei
fingindo indiferença.

Mas ela não foi. Apenas ficamos


ali, ouvindo a respiração um do
outro, com muito mais do que uma

porta entre nós.

Não sei quanto tempo isso durou,


mas, quando ela finalmente saiu, me
senti vazio.

Uma parte de mim já a tinha


perdoado e só queria voltar para o
começo do dia, quando nos
beijamos
antes de entrarmos na escola e
fugimos dos nossos amigos no
intervalo para conversar.

Mas também havia a outra parte,


que a odiava por ter feito isso
comigo, que só queria nunca mais
vê-

la na vida e seguir em frente.

Não sabia qual era maior.

E assim, surgiram dois Migueis


dentro de mim; o bonzinho e o mau,
o que perdoa e o que se vinga, o

que é caloroso e o que é frio; me


dividindo ao meio sem que eu
pudesse controla-los.

[...]

Passei a noite acordado, por isso


não me assustei quando o
despertador tocou, me dizendo que
eu

teria que ir para a escola.

Bufei, irritado. Não, hoje não. Eu


realmente não estava com saco para
ir para o colégio –

literalmente ir era a parte que mais


me deixava com raiva; ter que ver o
Joshua e a Anna era demais

para mim.

Me levantei, já pensando no que


diria para minha mãe para
convencê-la.

Depois de ir ao banheiro, saí do


quarto com cuidado, com medo de
encontrar pessoas indesejadas.

Por sorte, o corredor estava vazio e


eu desci pelas escadas até o térreo.

Nicolas conversava com a mamãe,


rindo de alguma coisa que ela
falou. Me aproximei deles,
aliviado.

- Bom dia.

Eles olharam para mim e sorriram


em sincronia.

- Bom dia Michael! – Minha mãe


respondeu radiante, como sempre.

- Bom dia irmãozinho.

- Mãe eu... Não estou me sentindo


muito bem, será que eu posso faltar
hoje? – perguntei fazendo um

tom de cansaço.
Nicolas levantou a sobrancelha,
intrigado. Ele sabia que tinha algo
errado. Eu raramente adoecia e,

quando isso acontecia, eu fazia


questão de ir para escola, porque
qualquer coisa era melhor do que

ficar em casa olhando para o teto.

Minha mãe também não parecia


convencida, mas assentiu com a
cabeça. Essa era uma das coisas
que

eu admirava nela; ela era


compreensiva.
- Claro, quer que eu te leve ao
médico?

Era um teste.

- Eu fico em casa repousando, se eu


não melhorar daqui até de tarde
você me leva.

Ela estreitou os olhos por um


segundo e eu me senti exposto,
como se ela tivesse acendido o
farol da verdade no meu rosto e
lendo tudo o que aconteceu desde
ontem.

- Certo, pode ir pro seu quarto


descansar – ela disse sorrindo com
o canto da boca.

Agradeci e fui até as escadas.

Senti todos os meus músculos se


contraindo como se alguém
estivesse me dando uma série de
murros

– o que, na verdade, seria melhor


do que ter que ver isso – e eu dei
um passo para trás. Meus olhos

foram até os da Anna e ela me


encarou surpresa.

- Oi.
Não respondi, apenas olhei para
ela, irritado por saber que
momentos como esses iriam
acontecer

sempre. Ela morava na minha casa,


eram inevitáveis esses encontros.

Desviei os olhos para a parede


atrás dela e subi as escadas com
passos decididos, minha cabeça

levemente erguida e meus olhos


frios sem transmitir nenhum
sentimento.

- Me desculpe – ela murmurou


enquanto eu passava.

Quase parei. Quase disse que a


desculparia. Quase disse que a
amava apesar de tudo. Quase.

Continuei andando, fingindo uma


indiferença que não existia. Fui
direto para o meu quarto, meu

coração confuso por causa de tantas


emoções diferentes ao mesmo
tempo.

Quando deu meio dia, desci pelo


elevador, faminto. Meus irmãos e a
Anna ainda não tinham chegado
da escola e eu fui direto para a
cozinha, pensando no que iria fazer.

Acabei pegando a primeira comida


que vi pela frente e me sentei no
sofá, nem me dando ao trabalho

de ligar a TV.

Ficar sozinho em casa não foi uma


ideia muito boa. As lembranças de
ontem me assombraram a

manhã toda e o silencio da casa –


que só era quebrado apenas pelo
barulho da Solange trabalhando –

parecia piorar as coisas.


Terminei de comer e me deitei
olhando para o teto, tentando não
pensar na Anna e no Joshua. Sem

sucesso.

A pior parte era que eu realmente


cheguei a achar que as coisas
começariam a dar certo na minha

vida; eu teria uma namorada e um


irmão que respeitava meus
sentimentos a ponto de se afastar de

uma garota bonita por mim. Eu fui


tão idiota por pensar isso. Coisas
boas não tendem a acontecer
comigo, eu deveria simplesmente
aceitar e seguir em frente.

Poucos minutos depois, ouvi


barulho de carro. Suspirei e fechei
os olhos, fingindo dormir para não

ter que aguentar conversar com


eles. Nenhum deles.

- VAI SE FODER, JAMES!

Senti meu corpo pegando fogo. Era


a voz da Anna.

- Parem de brigar – Nicolas pediu,


com seu velho tom suave e
decidido.
- Não se meta – Joshua mandou
irritado.

Agora eu fazia força para manter


meus olhos fechados.

- Não fale assim com ele! Você é o


idiota aqui.

- E você é vadia – Joshua rebateu.

Mordi o canto interno da boca, me


segurando para não defendê-la. Ela
te traiu, lembrei a mim

mesmo. Continuei imóvel, tenso.

- Joshua! – Nicolas protestou,


elevando a voz de uma forma que
eu nunca tinha visto antes. – Você

não pode falar assim com ela!

- Você por acaso sabe o que ela


fez? Com o nosso querido
irmãozinho?

- Jam... – Anna começou a falar.

- Ah, então você não quer que ele


saiba? – Joshua perguntou com um
tom de diversão.

- Se ela não quer que eu saiba, não


quero ouvir – Nicolas retrucou. Ele
era uma pessoa tão boa.
Joshua devia começar a se inspirar
nele. Todos nós devíamos, na
verdade.

- Obrigada, Nicolas.

Ouve um minuto de silencio e eu


senti que alguém estava se
aproximando de mim.

- Abra os olhos, eu sei que você


está acordado – Joshua disse com
impaciência. Continuei sem me

mexer, achando que, assim, o


convenceria de que eu estava
dormindo. – Você não me engana,
Michael.

Abri os olhos e lá estava ele, me


olhando de cima com aqueles olhos
azuis frios e indiferentes.

- Dá para você mandar sua


vadiazinha parar de me irritar?

Me sentei, olhando para ele sem


acreditar em como ele era
desprezível.

- Não chame ela assim.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Como você pode defender essa


menina depois de ela...?

- Não estou defendendo ninguém –


me levantei e olhei para ele – só
não acho que você tenha moral o

bastante para chamar alguém assim.

Ele abriu a boca para discutir


comigo, mas eu me virei e passei
pelo Nicolas e pela Anna, indo até

entrada da casa. Respirei fundo e


abri a porta, deixando que o ar puro
me acalmasse um pouco. Ouvi

alguém me chamando dentro de


casa, mas continuei andando, até
chegar a quadra. Me sentei

encostado na trave.

- Michael!

Levantei os olhos. Era a Anna.

- Por favor...

- Anna, não torne tudo isso mais


difícil.

Ela se aproximou de mim,


sentando-se ao meu lado antes que
eu pudesse protestar. Olhei em seus

olhos.
- Só me escute.

- Eu não quero odiar você – falei,


minha voz saindo rouca por causa
do esforço. – Então, eu imploro

que você pare de falar comigo.


Pelo menos por um tempo, até eu
parar de sentir algo por você.

Ela abaixou os olhos e eu continuei:

- Passe por mim como se eu não


existisse, não me olhe, não me dê
bom dia, nem sequer me pergunte

que horas são. Por favor, Anna, eu


não vou aguentar. Faça isso por
mim, por todo o amor que você

um dia disse que sentia.

Ela olhou novamente em meus


olhos e eu vi que estava se
segurando para não chorar.

- Tudo bem, Michael – sua voz


estava trêmula e baixa. – Eu vou
fazer o que você mandou. Porque eu

amo você.

Ignorei a ultima frase.

- Obrigado.
Ela assentiu e se levantou. Nos
olhamos por mais alguns segundos
antes de ela se virar e ir embora.

Espero que ela cumpra o que disse.


Não vou aguentar ter outra conversa
dessas.

[...]

O tempo passou. Rápido e


friamente. Três semanas se
passaram desde daquilo e meu
coração ainda

não tinha se recuperado – o que me


levava a pensar se algum dia ele
recuperaria. Anna fez o que eu

pedi de uma forma quase


admirável; ela não errou nenhuma
vez, não deu nenhum deslize, mas

qualquer pessoa sã conseguiria


enxergar o quanto ela estava se
esforçando para isso. E eu, com

minha tolice sem fim, a perdoei –


não que ela soubesse disso, é claro,
mas eu sabia, eu sentia isso

todos os dias ao olhar para ela e


não sentir nada além de um coração
magoado. Coisa que não
aconteceu com o Joshua. Cada dia
que se passou eu o odiei mais, não
que ele se importasse com isso.

Ele não ligava para a minha


existência.

E era em tudo que eu estava


pensando quando me sentei na
cama, surpreso com o fato de eu ter

acordado cedo em pleno sábado.

Então eu ouvi gritos vindo do


térreo.

Levantei em um pulo e desci as


escadas correndo, dando de cara
com uma cena que eu nunca tinha

visto antes: Anna chorando e


gritando com um Joshua de olhos
arregalados.

- EU TE ODEIO, EU TE ODEIO,
EU TE ODEIO! – Ela gritou, dando
murros no peito do Joshua

enquanto ele olhava para algo atrás


dela, sem demonstrar nenhuma
reação.

- O que está acontecendo aqui? –


Perguntei.

Ela se virou para mim chorando


sem parar e por um segundo eu não
soube o que fazer.

Joguei meu orgulho longe e corri


até ela, tomando-a nos braços para
que ela parasse de chorar. Ela

deitou a cabeça em meu peito e eu a


abracei com força.

- M-Michael... – Ela soluçou, sua


voz abafada.

- Me diga o que aconteceu.

Ela negou com a cabeça, chorando


ainda mais. Afaguei seu cabelo com
uma das mãos enquanto a
puxava para mais perto com a
outra.

- Vai passar, ok? – falei baixinho,


mesmo sem saber do que se tratava.

- Não – Joshua murmurou e eu


demorei um segundo para perceber
que ele estava falando comigo.

Seu tom era frio como uma bola de


neve. – Isso nunca mais passar.

Senti meu estomago se contraindo


de medo.

- O que aconteceu? – Repeti, sem


saber se queria ou não uma
resposta.

Ela se afastou de mim, com os


olhos vermelhos e inchados. Um
soluço escapou de seus lábios antes

dela finalmente dizer:

- Eu estou grávida.

Dei um passo para trás, tonto. Por


favor, tudo menos isso. Qualquer
coisa, meu Deus, qualquer coisa

doeria menos.

Ela caiu de joelhos e cobriu o rosto


com as mãos, voltando a chorar.
Joshua olhou para ela com desprezo
e depois para mim.

- Acalme ela. Eu darei um jeito


nisso.

Olhei para ele sem entender, mas


ele não me explicou, apenas passou
por mim e subiu as escadas em

um pulo.

Fui até ela, com cuidado, deixando


todos os meus sentimentos de lado.
Nada que eu estivesse

passando poderia ser comparado


com o que ela estava sofrendo
agora. Ela estava grávida do
Joshua.

Ela só tinha 15 anos.

Me ajoelhei e passei meus braços


ao redor de seu corpo, colocando
sua cabeça em meu ombro. Ela

estava tremendo de tanto chorar.

- Ei, ei... Vai ficar tudo bem... –


Passei a mão pelo seu cabelo até
suas costas, lentamente. Eu só

queria que ela parasse de chorar um


pouco.
- Eu fui tão burra. – Ela sussurrou
sem voz para mim.

Neguei com a cabeça mesmo


sabendo que ela não conseguia ver
meus movimentos.

- Você só errou, Anna. Todo mundo


erra nessa vida... Vai ficar tudo bem
– repeti.

Ela se virou um pouco para olhar


em meus olhos, suas mãos ao redor
da minha cintura me segurando

com força, como se eu pudesse sair


correndo a qualquer momento.
- Eu não quero um filho daquele
homem – os olhos se encheram de
lagrimas novamente. – Eu quero

um filho seu, Michael! Não dele. Eu


o odeio.

Meus olhos marejaram. Nada


daquilo era justo.

- Anna...

Uma lágrima escorreu dos meus


olhos antes que eu pudesse
terminar. Ela levantou a mão e a
secou,

olhando fixamente para mim. Seu


rosto estava vermelho de choro e
seu cabelo assanhado; não que

isso a deixasse menos bonita.

- Eu amo você, Michael. Mais do


que qualquer coisa.

Fechei os olhos por um segundo. Eu


a amava. Eu a perdoava por tudo.
Eu só queria que as coisas

dessem certo, não só para mim,


como para ela também. Eu só
queria que a gente pudesse ser feliz,

nem que só por um único minuto.


Abri os olhos e decidi uma coisa.
Eu seria feliz, pelo menos por
alguns segundos.

Me inclinei devagar e ela me olhou


surpresa quando viu o que eu iria
fazer.

- Eu também te amo, Anna. Nunca


duvide disso – sussurrei antes de
beijá-la.

Então, nossos lábios se tocaram


pela ultima vez. Meu coração batia
acelerado em meu peito. Ela

ainda tinha o mesmo sabor e eu


senti uma felicidade pura tomando
conta de mim.

A puxei para cima pela cintura até


ficarmos de pé.

Paramos para respirar.

Seus olhos estavam cheios de


lagrimas e nos abraçamos, sentindo
um ao outro. Lá no fundo,

sabíamos que era uma despedida.

Ouvimos passos e murmúrios e nos


viramos para a escada. Senti meus
olhos se arregalando; toda a
minha família estava ali, juntamente
com a Solange, que olhava decidida
para nós, arrastando uma

mala com a mão esquerda e uma


bolsa com a direita.

Puxei a Anna para mais perto de


mim enquanto encarava todas
aquelas pessoas, cada uma

demonstrando um sentimento
diferente.

Joshua balança alguma coisa com a


mão. Senti um calafrio descendo
pela minha coluna quando
percebi que eram passagens de
avião.

Senti a mão da Anna endurecendo


em minha cintura. Ela estava com
tanto medo quanto eu.

- ...E se precisarem de alguma


coisa é só ligar – minha mãe falou
para a Solange.

- Do que vocês estão falando? –


Perguntei apreensivo.

Joshua deu um passo à frente,


olhando fixamente para mim.

- Solange pediu demissão.


- O QUÊ? – Anna gritou surpresa,
sem se afastar um único centímetro
de mim.

- Isso mesmo filha, mas não precisa


se preocupar, os Hunter já
providenciaram nossa passagem.

Vamos voltar para nossa terra natal.

Segurei a Anna com mais força


contra mim.

- Não, ela não vai – falei baixinho,


olhando para o Joshua com fúria. –
Ela não vai!

- Você não manda em nada, Michael


– ele rebateu friamente. – Ela já
conversou com nossos pais e

vai embora hoje mesmo.

Meus olhos foram até os da Anna e


nos encaramos em silencio; ela
parecia prestes a chorar

novamente.

- Não aguentaria perder você de


novo. – Sussurrei quase inaudível
para ela.

Ela negou com a cabeça.

- Eu não posso ficar aqui, Michael


– ela sussurrou de volta e beijou
minha bochecha antes de se

afastar de mim.

- Que fofos – Joshua comentou com


ironia –, mas acho melhor vocês se
apressarem; o voo sai daqui

à uma hora.

Olhei para a Solange.

- Por que você pediu demissão?


Nós nunca te tratamos de forma
menos que excele...

- Michael, isso não é coisa que se


pergunte – minha mãe me cortou no
meio da frase. – Ela deve ter

seus motivos e nós temos apenas


que respeitá-los. Tenha educação.

Olhei para ela, surpreso.

- Como posso ter educação se não


tenho pais?

- Michael! – Nicolas protestou no


mesmo segundo.

Abaixei os olhos. Não queria brigar


com eles.

- Anna, vá arrumar suas coisas lá


em cima e desça daqui a dez
minutos – a mãe dela comandou.

Olhei para a Anna, que assentiu e


correu para as escadas, pedindo
licença para passar.

Imediatamente, fui atrás dela.


Trombei com o ombro do Joshua no
caminho e continuei subindo, até

chegar ao corredor dos quartos. A


segui até seu quarto e esperei um
segundo antes de entrar.

- Obrigada por não me deixar subir


sozinha – ela agradeceu baixinho,
sem se virar.

Fui até ela e a puxei pela mão para


que olhasse para mim.

- Eu nunca vou te deixar sozinha.

- Mas...

- Não estou falando só fisicamente,


Anna. Não importa para onde for e
o quão longe esse lugar seja,

eu nunca vou esquecer você.

Os olhos dela começaram a marejar


e eu balancei a cabeça em negativa.
- Não chore, por favor. Vai ficar
tudo bem. Eu amo você.

- Eu também amo você.

Me inclinei para sussurrar em seu


ouvido.

- E eu vou me vingar do Joshua, por


você.

Ela se virou para mim assustada.

- Não precisa...

- Claro que precisa. Ele não pode


sair impune depois de tudo o que
fez.
- Do que exatamente você está
falando?

- Eu conheço o Joshua; ele


convenceu sua mãe a se demitir. Ele
não brinca em serviço Anna, eu sei

disso muito bem.

- Você está dizendo que...?

- Provavelmente ele ofereceu muito


dinheiro e sua mãe aceitou, porque
quer o melhor você.

Ela desviou os olhos, sem saber


como lidar como tudo isso. Não
posso julgá-la
- Vem, eu te ajudo com as roupas –
falei para mudar de assunto.

Ela assentiu.

- Como eu te ajudei com as suas, há


um milhão de anos atrás.

Senti vontade de chorar ao lembrar


daquele momento, mas me segurei.
Ela precisava que eu fosse

forte.

E eu fui. Eu dei meu máximo em


cada segundo até que não fosse
mais possível. Até que ela passasse
pela porta da minha casa e fosse
embora para sempre.

Ela disse que amava antes de ir.

Não dormir naquela noite.

No dia seguinte, quando percebi


que nunca mais veria a Anna de
novo, decidi uma coisa:

Eu iria esperar para me vingar do


Joshua. Não poderia ser qualquer
coisinha, tinha que ser algo que

realmente doesse nele. Ele teria que


sentir na pele o que eu senti. Ele
teria que sofrer por dentro
como eu estava sofrendo agora. Por
isso, eu teria que esperar; Joshua
não se magoaria por ninguém

hoje em dia. Mas isso iria mudar.


Não sei quando nem onde, mas
algum dia vai chegar uma garota e o

Joshua vai se apaixonar por ela. E é


ai que eu vou entrar. E aquilo era
mais do que uma ameaça; era

um juramento.

[...]

Um mês se passou. Apenas ontem


Joshua confirmou minhas suspeitas,
ele realmente subornou a

Solange para que ela fosse embora


e se mudasse para o outro lado do
país. Não gritei com ele depois

da notícia, simplesmente me virei e


sai do quarto, como se não tivesse
ouvido nada.

Pensei em Anna em cada semana,


dia e hora que se passou durante
esse mês, mas não havia nada que

eu pudesse fazer.

[...]
Um ano se passou e eu comecei a
tentar seguir em frente; ficava com
uma garota em um dia e dava um

fora dela no outro, tentando, em


vão, esquecer a Anna. Devo ter
beijado todas as garotas da minha

turma – menos, é claro, a Clara.


Não sei por qual motivo, mas eu
não conseguia ir até ela e fazer o

mesmo que com todas as outras.


Acho que é por que ela gosta de
mim há tanto tempo que eu não teria

coragem de a magoar assim. Eu não


sou o Joshua. Ela merecia ser feliz.

Me pergunto como vai o bebê da


Anna. Se meus cálculos estavam
certo, ele nasceu em Outubro.

Enquanto isso, meus irmãos


pareciam bem. Nicolas era o de
sempre, sorridente e fofo com todas
as

pessoas com quem tinha contato.


Ele era adorável e todo mundo
sabia e admirava isso.

Joshua também estava em uma boa


fase, levando uma menina diferente
para casa toda noite. Nenhuma

delas começavam com a letra A,


percebi depois de um tempo. Anna
deixou cicatrizes nele também.

[...]

Três anos se passaram.

Eu mudei. O Michael bom e o


Michael mau ainda existiam dentro
de mim, competindo para ver quem

comandaria a maior parte do meu


ser. Normalmente, era o Michael
mau. Era tão fácil ser indiferente
e frio que eu até me esquecia que as
pessoas tinham sentimentos. Eu
raramente me importava com

eles.

Então, no dia 13 de janeiro, eu


acordei apreensivo. Hoje chegaria
a nova empregada e a filha dela –

era a primeira vez desde a Anna


que minha família contratava com
alguém que tivesse filhos. Tenho

que admitir, eu estava com medo.

Fui ao banheiro e me olhei no


espelho por um segundo. Por fora,
eu ainda era o mesmo Michael; o

velho cabelo preto rebelde, os


olhos verdes-mar que faziam as
pessoas olharem para mim por mais

tempo do que deveriam, a pele


branca e lisa, como a de uma
criança. Eu era bonito. Hoje em
dia, eu

sabia disso. O fato de não me


importar com as pessoas me deixou
mais autoconfiante.

Fiz minha higiene e sai do quarto,


dando de cara com o Joshua, que
também saia do próprio quarto.

- Oi irmãozinho, preparado para o


que está por vir? – Ele perguntou
com um sorriso presunçoso.

- Tente não engravidar essa também


– murmurei irritado. Era impossível
não lembrar da Anna agora

Ele ficou sério.

- Nunca mais farei uma merda


dessas.

- É um juramento? – Perguntei com


ironia.
Nos encaramos, cada um com sua
própria lembrança sobre o passado.
Eu ainda iria me vingar dele.

- Fique quieto um segundo, estou


ouvindo barulho de carro.

Parei para prestar atenção e ouvi


também. Elas chegaram.

Ele sorriu.

- Agora, eu vou dar uma péssima


boas-vindas.

- Como assim?

Ele olhou surpreso para mim.


- Você quer mesmo que ela more
aqui? Não acha que já teve
confusões o bastante com uma filha
da

empregada para a vida toda?

Não respondi. Ele estava certo.


Tínhamos que ser desprezíveis para
que elas fossem embora. Tanto

que, quando a mamãe nos perguntou


sobre onde elas iriam dormir,
praticamente gritamos para que

fossem para o sótão e para o porão.

Ele desceu as escadas correndo e


eu o segui, indo direto para o sofá e
ligando a TV. Ele foi até a

varanda que dava para a entrada da


casa. Tentei não prestar atenção.

- MÃE! PARE DE ME
ENVERGONHAR!

Sentei assustado com o grito do


Joshua.

- Ah filho, vem cá conhecer elas! –


Ouvi minha mãe responder ao
longe.

- Aliás, estou com fome – ele


respondeu mais alto do que deveria
e eu observei enquanto ele entrava

de novo em casa, piscando para


mim. – Fui ruim o bastante?

Olhei para ele sem entender.

- Você só estava sendo você


mesmo.

Ele revirou os olhos e saiu da sala.

Esperei alguns segundos até ver


elas entrando. Então, quando a vi,
senti todo meu corpo em choque e

eu esqueci como se respirava.


A garota era exatamente igual à
Anna; os mesmos olhos escuros e
brilhantes, o mesmo cabelo longe e

ondulado, a mesma pele morena e


suave. Meu coração deu um mortal
para trás, assustado.

Eu estava tão surpreso que só


percebi que não tinha apertado a
mão estendida da nova empregada

quando a garota me olhou com


raiva. Ótimo, pelo menos agora era
acha que eu sou um esnobe de

merda.
Me virei e subi as escadas com
pressa, indo direto para o quarto do
Joshua. Abri sem bater.

- Joshua, você viu a cara da...

Ele me olhou com os olhos


arregalados.

- Vi, Michael. Elas são iguais.

- O que nós vamos fazer?

Ele pensou um pouco.

Então um sorriso travesso surgiu


em seu rosto.
- Pode deixar que eu vou assustar
ela.

[...]

- Não deu certo – ele falou entrando


em meu quarto, horas depois, sem
nem mesmo ser convidado.

- Do que você está falando?

- Eu fui até o quarto da Susan e


disse que ela seria obrigada a fazer
muitas coisas, mas ela não

pareceu ficar com medo; pelo


menos não tanto quanto eu gostaria.
Vai ser difícil de tirar ela dessa
casa, Michael.

Suspirei.

- E ainda tem o fato de ela ser linda


– ele continuou, pensativo. –
Amanhã tentarei outra coisa.

- Tipo...?

Ele sorriu com maldade, mas não


me respondeu. Apenas se virou e
foi embora do meu quarto, tão

rapidamente quanto entrou.

[...]
No dia seguinte, de manhã, ouvi
batidas na portas. Esfreguei os
olhos antes de responder.

- Pode entrar.

Joshua abriu a porta, irritado por


algum motivo.

- Eu não consigo, Michael!

Me sentei na cama, olhando para


ele sem entender.

Ele respirou fundo antes de falar.

- Não entendo o que aconteceu, mas


quando ela começou a chorar eu
senti como se o mundo estivesse

desmoronando. Eu não podia com


aquilo. Eu tive que desistir, não
tinha o que fazer. Eu não podia

ficar ouvindo ela...

- Ei! Eu não estou tentando nada.

Ele olhou para mim como se tivesse


notado agora minha existência.

- Acho melhor nós nos


acostumarmos com ela, Michael.

- Mas...
Ele se virou e eu me senti frustrado
por isso.

- Ela não é a Anna – ele comentou


antes de sair.

Como ele podia ter tanta certeza


disso?

[...]

Mais ou menos dois dias depois,


Joshua me disse que estava
apaixonado pela Susan. Não me
disse

como nem por que, apenas chegou


em mim e falou com todas essas
letras, seus olhos brilhando só de

falar o nome dela. E eu percebi que


havia chegado a hora da minha
vingança.

Joshua não fazia ideia do que


estava por vir.

[...]

Na maior parte do tempo, eu ficava


confuso. O Michael bom e o mau
disputavam o tempo todo, cada

um tendo seu momento de comando;


eu era frio em um dia e destrancava
a porta para a Susan no
outro, eu ligava para o meu pai ver
o Nicolas e o namorado dele, mas
tirava todas as balas de sua

arma antes – mesmo que depois eu


contasse que deixei uma, para não
parecer tão bonzinho –, eu

usava a Clara – que eu decidi não


ter mais pena desde que ela ficou
com todos os garotos da sala no

primeiro ano – e no dia seguinte a


pedia em namoro de uma forma
mais do que romântica. As pessoas

deviam achar que eu era bipolar.


Mas eu só estava confuso. Eu não
sabia em que time jogar e estava

com medo de perder. A única coisa


que não mudava em mim era a
vontade de me vingar do Joshua.

Ele era o culpado por tudo.

Então, depois de ter feito as pazes


com a Susan pela milésima vez,
Joshua veio conversar comigo.

- Você pode, por favor, parar com


isso?

Levantei os olhos do meu livro e


olhei para ele, que parecia cansado.
- Não entendi.

Ele cerrou os punhos.

- Entendeu sim, Michael, não se


faça de sonso! Já perdi as contas de
quantas vezes você tentou

estragar meu relacionamento com a


Susan!

- O que te leva a pensar que eu tive


alguma coisa a ver com aquilo?
Você quem trocou a roupa dela

enquanto ela estava inconsciente.

- Como se eu não soubesse que foi


você quem convenceu a Clara para
ela dizer aquelas coisas para a

Susan, e isso sem contar que você


veio conversar comigo poucos
minutos antes dela entrar no meu

quarto. Você me fez acreditar que


ela não me amava mais!

Ele estava certo, é claro, mas


mantive minha expressão suave,
quase cínica.

- Isso é uma vingança – ele


concluiu. – E eu entendo que você
me odeie por tudo o que aconteceu,
mas a Susan não tem nada a ver
com isso. Ela nunca fez nada com
você.

- Eu também nunca tinha feito nada


com você e você engravidou minha
namorada – retruquei.

- FAZ TRÊS ANOS! – Ele gritou


em protesto. – EU MUDEI,
Michael, EU NÃO SOU MAIS O

MESMO JAMES! A Susan me


mudou, você sabe que isso pode
acontecer. O amor pode mudar as

pessoas.
- Fiquei um pouco enjoado, será
que você poderia parar de falar um
pouco?

Ele bufou irritado.

- Por favor, faça qualquer coisa


comigo, mas deixe a Susan em paz.

- Vou tentar.

Ele me olhou sem se convencer.

- Por favor...

- Já entendi – o cortei – pode ir


embora.
Ele suspirou e fez o que eu pedi.
Agradeci mentalmente por isso,
aquela conversa estava acabando

com meu psicológico.

[...]

Eu estava quase desistindo da


minha vingança quando a Jane
apareceu. Não pude dizer não para
ela.

Era sua vingança pessoal, eu sabia


como ela estava se sentindo. Joshua
era mestre em foder a vida

das pessoas.
Depois que cumpri minha parte do
plano, e a Susan e o Joshua
finalmente terminaram pra valer,

comecei a me sentir culpado.


Demorei tanto tempo querendo me
vingar do Joshua que acabei

esquecendo de pensar no que


aconteceria depois, em como me
sentiria após tudo acabar. Não foi

como eu pensei.

E era nisso que eu estava pensando


enquanto ia até o quarto da Susan,
decidido a contar a verdade
para ela e aguentar as
consequências disso. Pelo menos eu
estaria livre da culpa. Aquilo
estava me

matando.

Abri a porta sem bater e tive uma


sensação de dejá vú; lá estava a
Susan, deitava no peito nu do

Joshua. Como há três anos. Só que,


dessa vez, eu me senti aliviado em
ver essa cena.

Entrei no meu personagem maldoso,


escondendo minhas reais intenções.
Eles estavam juntos de

novo. Eu não poderia estar mais


feliz.

E, nesse momento, eu percebi uma


coisa: eu perdoava o Joshua.
Porque ele não é mais o Joshua de

17 anos. Ele mudou. A Susan o


mudou como a Anna me mudou.
Tive que fazer força para não
sorrir.

Ele era meu irmão de novo.

[...]
Então, teve aquela festa. Quando eu
finalmente achei que as coisas
começariam a dar certo entre eu, o
Joshua e a Susan, eles sofreram um
acidente de carro.

Assim que soube da noticia, senti


vontade de gritar e quebrar alguma
coisa. Será que eu nunca iria

conseguir ser simplesmente feliz e


sem problemas? Será que era pedir
demais?

Quando a Susan acordou e o Joshua


não, percebi que havia chegado a
hora de contar para ela o que
aconteceu no passado, de explicar
para ela o porquê de várias coisas.
Ela merecia saber. Ela

merecia saber que eu sentia muito.

[...]

Então, chegou o momento.

Olhei para a Susan, que me


encarava sem acreditar. Minha boca
estava seca de tanto falar e meu

coração parecia em estado de


choque. Fazia anos que eu não
falava sobre o que aconteceu.
Umedeci os lábios antes de fazer a
pergunta que concluiria nossa
conversa, a pergunta que eu

guardava há semanas, que apenas


ela poderia responder.

- Então, Susan – falei, com a voz


rouca –, o que eu fiz foi justo ou
injustificável?

40. Eu não sabia o que pensar

Eu não sabia o que responder.

Lá no fundo, eu achava justo; por


causa de tudo o que o Joshua fez
com ele, numa época em que ele
nem sequer tinha idade para sofrer
daquela maneira. Mas, ao mesmo
tempo, vingança nunca era

justificável, ela só fazia mal – tanto


para quem fez quanto para quem
sofre.

Continuei calada por mais tempo do


que deveria. Michael respirou
fundo, decepcionado.

- Eu entendo que você não deve


saber o que responder... Talvez
minha pergunta tenha sido direta

demais – ele disse, com a voz ainda


meio rouca e falha de tanto falar.

Neguei com a cabeça.

- Não... Eu só... Não sei o que


pensar, entende? Acho que foram
muitas informações.

Ele pareceu ficar satisfeito com a


resposta.

- Me desculpa por isso, mas acho


que você iria descobrir, mais cedo
ou mais tarde.

Olhei para ele por um segundo, me


perguntando como alguém
conseguia ser tão forte. Toda raiva
que

um dia eu senti por ele se esgotou


como água sendo sugada por um
ralo. Naquele momento, eu apenas

o admirava, surpresa.

- Posso fazer uma pergunta?

Ele levantou a sobrancelha por um


segundo, mas rapidamente assentiu
com a cabeça.

- Quantas você quiser.

Não falei nada enquanto ele


contava sua historia, porque
simplesmente não havia nada que
pudesse

ser dito. Eu não exclamei uau! ou ai


meu Deus! em nenhum momento;
minha surpresa ia muito além de

qualquer palavra. Eu simplesmente


o ouvi, em silencio, tentando
organizar minha mente para todas

essas novidades.

Mas, agora, eu queria saber mais


sobre o que aconteceu. Eu queria
conseguir, pelo menos uma vez na

vida, entender o que se passa na


mente de Michael Hunter.

- O que houve com ela? – Perguntei


por fim, parte de mim sabendo que
essa era apenas uma das

dezenas de perguntas que eu


gostaria de fazer.

Uma sombra passou pelo rosto dele


e ele desviou os olhos. Um suspiro
escapou de seus lábios antes

de ele responder.

- Eu não sei, Susan – ele olhou para


mim novamente, triste. – A única
coisa que me disseram é que
ela foi morar no Norte, mas eu
também tenho uma vaga noção de
que seu filho nasceu em Outubro e

quase certeza de que o Joshua ainda


mantém algum contato com ela.

Por essa eu realmente não


esperava. Acho que meu rosto
deixou transparecer minha surpresa,
pois o

Michael sorriu de leve e balançou a


cabeça.

- Não precisa ficar desse jeito, é


apenas uma teoria. Mas, se eu
estiver certo, mesmo assim você
não precisa ficar com ciúmes. Anna
o odeia.

Era estranho o jeito como ele


falava o nome dela, com uma
mistura de apreensão e nostalgia,
como

se ela fosse um fantasma que


pudesse aparecer a qualquer
momento e que, se isso
acontecesse, ele

ficaria assustado e feliz ao mesmo


tempo.
- Eu sei, não é por isso que eu
fiquei surpresa; eu não estava
preparada para essa noticia.

Ele assentiu com a cabeça, olhando


fixamente para mim. Nos
encaramos por um tempo, cada um
com

seu próprio pensamento.

A única coisa que passava pela


minha cabeça era que o Joshua
tinha um passado mais obscuro do

que eu imaginei.

- Você se parece muito com ela –


comentou ele, baixinho, como se
estivesse me contando um

segredo. – Mas não por dentro.

- Isso é bom ou ruim?

Ele riu e por um segundo eu


poderia jurar que estava música. E,
nesse momento, percebi que nunca

tinha visto o Michael rindo de


verdade.

- Bom, eu acho. A Anna tinha


momentos, entende? Ela era doce e
sensível, engraçada e descontraída,
mas também era sarcástica, quase
má, quando queria. Ela tinha fases,
como a lua. E acho que era por

isso que eu gostava dela; eu gostava


de pensar que estava conhecendo
todas as faces delas – ele fez

uma pausa e seus olhos brilharam


por um segundo. Ele estava se
lembrando de como era amá-la.

Então, ele olhou para mim


novamente. – Mas você não é
assim. Você é segura e forte; você

simplesmente decide um lugar para


ir e vai, discutindo com qualquer
pessoa que possa passar pela

sua frente e tentar te impedir. E


você nunca é má. Talvez seja isso
que o Joshua viu em você, talvez
seja por isso que ele se apaixonou
com tanta rapidez. Você não é a
Anna. Você é melhor. Muito,

muito, muito melhor. – Agora, ele


não estava apenas olhando para
mim enquanto falava, ele estava

gesticulando, como se para me


fazer entender bem. Por um
segundo, senti vontade chorar. Era
o

Michael falando. Era o Michael me


elogiando. Isso não parecia ser
real. – E a melhor parte –

continuou ele – é que você tem um


coração enorme. Você não salvou
só o Joshua, Susan. Você salvou

o Nicolas, o Felipe, e até a mim


mesmo.

Abaixei os olhos, corada, sem


saber ao certo o que responder. Um
agradecimento seria pouco

demais.
- Michael... – Comecei, lutando
para encontrar palavras.

Ele sorriu com o canto da boca.

- Me desculpe por isso. Eu só achei


que você deveria saber. Eu sinto
muito mesmo por ter feito todas
aquelas coisas com você.

- Tudo bem, já passou. Acho que de


agora em diante podemos ser...
Amigos – minha voz vacilou na

ultima palavra, como se eu ainda


não conseguisse acreditar no que
estava acontecendo.
- Por mim ok, só não espere que eu
vá andar com você na escola... –
por um segundo, achei que isso

tinha sido um comentário maldoso e


que o velho Michael havia voltado,
mas então ele sorriu. – Sua

amiga Clara não iria concordar com


isso.

Ri baixinho. Ele estava certo.

- Nem o Caio, aliás.

Ele riu também, tirando uma mecha


de seu cabelo escuro que estava
caindo em seus olhos.
- Verdade. Não sei por que aquele
garoto me odeia.

Levantei uma sobrancelha para ele,


que riu ainda mais.

- Na verdade, sei sim, mas não é


recíproco – ele ficou sério
instantaneamente e eu me lembrei
de

como odiava quando ele falava


palavras difíceis, como se quisesse
ser superior de alguma forma, só

que, dessa vez, eu achei bonito esse


jeito de falar. – Eu gosto do fato de
ele ter chegado. Por causa da Clara,
sabe? Ela merece alguém que goste
dela e eu vi como ele a olhou no
primeiro dia de aula.

- Mas... Você não sente nada por


ela? – Perguntei, mesmo tendo uma
noção da resposta.

Uma parte de mim queria ouvir da


boca dele que ele não gostava dela,
que ele a usou e tudo mais;

como se isso pudesse diminuir o


que o Joshua fez de alguma
maneira, como se isso pudesse
deixar
meu mundo fazendo sentido de
novo, com um irmão bom e um mau
– e não dois irmãos que eram uma

mistura disso.

Ele pensou um pouco antes de


responder.

- Eu gostava dela, mas era


diferente. Eu não sentia o mesmo
que ela e sabia disso muito bem, o
que

por si só já me torna um grande


idiota – ele ficou em silencio por
um segundo antes de continuar. –
Mas não é como se eu não sentisse
nada por ela. Existe alguma coisa,
aqui dentro, que se sente bem

quando ela está por perto, corando


quando eu a elogio, mexendo no
cabelo nervosa e rindo das

coisas que falo. Ela sempre


conseguiu me deixar assim, fazendo
com que eu me sentisse especial e

importante. – Ele deu um sorriso


malicioso antes de completar: – E
você pode deduzir que há mais

coisas que eu goste nela.


Não consegui ficar frustrada com a
resposta dele. Eu estava apenas
surpresa, como quando ele

começou a falar, há mais ou menos


uma hora. Michael era
inacreditável; e ainda tinha a
ousadia de

chamar a Anna de várias faces.

- Mais alguma pergunta? – Ele


falou com um tom suave, com um
sorriso dançando pelos seus lábios.

- Só mais uma.

Ele se ajeitou no banquinho,


inclinando-se confortavelmente
para trás, com seus olhos brilhando
por

algum motivo que eu não conseguia


entender.

- Sou todo ouvidos.

Pensei por um segundo em como


perguntaria isso. Michael era mais
sensível do que deixava

transparecer.

- Seus pais... Eles... Não sabem de


nada do que aconteceu? – Perguntei
um pouco indecisa; isso era
apenas metade do que eu gostaria
de saber.

Ele pareceu surpreso com a


pergunta.

- Não, eu acho. Eu não contei e


duvido que o Joshua tenha
contado... A única coisa que eles
devem

saber é que eu gostava da filha da


empregada que pediu demissão sem
nenhum motivo aparente e que

rapidamente foi amparada pelo


Joshua, o adolescente que não se
importava com nada nem ninguém.

Duvido que eles liguem um fato ao


outro, mas, se tiverem ligado, eles
não vieram conversar comigo

sobre isso. – Sua voz era fria e


calculada, como se ele a treinasse
em frente ao espelho diariamente.

Ele estava escondendo seus


sentimentos reais, como sempre.

- Ah... Mas... Eles nunca notaram


que você odiava o Joshua?

Ele inclinou de leve a cabeça para


mim, intrigado.
- Onde você está querendo chegar,
Susan?

Ele era direto demais.

- Eu só queria saber se você nunca


ficou de castigo por isso, sabe?
Vingança não é uma coisa muito

educativa.

Ele me olhou como se não pudesse


acreditar que eu tinha dito isso.
Então uma risada escapou de seus

lábios e ele negou com a cabeça,


rindo com um toque de ironia.
- É claro que eles notaram que seu
filho mais novo ignorava o mais
velho de forma gritante, mas você
realmente acha que eles se
importariam com isso? – Ele riu
ainda mais, só que sem tanta
intensidade

dessa vez. – Acho que você não


conhece aquele casal. E, sobre sua
outra pergunta... Eu nunca fiquei

de castigo na vida.

Olhei para ele sem acreditar.

- Como não?!
Sua risada vacilou e eu pude ver
uma tristeza passando pelos seus
olhos claros. Ele estava sofrendo.

- Digamos que você tenha um filho


e ele bate em uma menina da escola
– ele começou a falar, com

uma rapidez e indiferença que não


combinava com os sentimentos
refletidos em seus olhos –, você

não iria querer que ele fizesse isso


de novo, certo? Você iria coloca-lo
de castigo para que ele

aprendesse e virasse alguém


decente, porque você se importa
com ele, afinal ele é seu filho.
Então,

você o colocaria de castigo e diria


para não fazer mais isso e ele iria
aprender a lição e não faria isso de
novo, se tornando uma pessoa com
caráter; o que significa que o
castigo, na verdade, é uma

forma de mostrar que você quer o


bem dele e que você quer que ele
seja algo na vida. Você tem que

amá-lo para o colocar de castigo.


Você tem que se importar com o
futuro dele, certo?

Abaixei os olhos, entendi aonde ele


queria chegar.

- Mas... – Murmurei, tentando falar


algo que o confortasse.

Vi sua mão direita se fechando em


um punho e ele começou a dar
murrinhos no canto do banco, suave

e ritmicamente. Talvez esses


murrinhos significassem mais do
que não saber o que fazer. Talvez
eles

significassem uma confusão interna,


uma luta. Porque, assim como havia
o Michael bom e o mau,

havia também o Michael sensível e


o frio. Ele não sabia quem ser
agora. Ele não sabia o que

demonstrar.

- Será que você entende, Susan? –


Sua voz parecia sair de uma
caverna, abafada e baixa. – Eu
nunca

fiquei de castigo por que eles não


se importavam se eu ia ou não virar
alguém decente.
Olhei para ele. Eu não tinha nem
noção de como poderia doer nele
falar dos pais. Eu sou uma idiota

por ter tocado nesse assunto.

Me aproximei dele, com cuidado,


sem saber muito bem o que fazer.
Ele olhou para cima, como

fazemos quando queremos segurar o


choro.

- Só... Não faça mais perguntas, por


favor – ele falou tão baixinho que
mais parecia um sussurro. –

Pelo menos não agora, depois eu


respondo o que você quiser, eu só...

- Ei, tudo bem. Me desculpe por ter


falado daquilo, de verdade. Eu
realmente não tinha intenção de te
deixar assim.

Ele olhou para mim por um segundo


e um sorriso tímido surgiu no canto
de sua boca.

- Mas você teria motivos para


querer.

Neguei com a cabeça. Eu teria


motivos apenas contra o antigo
Michael, o que agia de forma
maldosa

sem nenhuma explicação. Não


contra esse. Não contra ele, que
tinha uma história muito maior do
que

qualquer um poderia imaginar. Eu o


perdoava por tudo.

- O que você fez, tudo o que você


fez, foi pela Anna. Foi por amor.

Ele mordeu o lábio inferior,


pensativo. Ele ficava tão bonito
assim. Ele ficava tão Hunter.

- Digo isso para mim mesmo todos


os dias, para conseguir dormir à
noite.

Abri a boca para responder no


exato momento em que senti algo
molhado tocando meu ombro. Olhei

para o céu; estava começando a


chover.

Ele seguiu meu olhar e suspirou –


numa mistura de alivio e tristeza –
antes de se levantar e estender a
mão para mim. Me apoiei nele e
levantei também.

- Melhor irmos antes que comece a


chover de verdade – disse ele,
olhando para a rua. – Vou ligar

para o Gustavo.

Ele apontou para o parquinho de


madeira que estava bem no meio da
praça. Fui até lá e ele me

seguiu, dando passagem para que eu


sentasse primeiro, embaixo da
casinha colorida que se erguia

sobre um escorregador amarelo.


Ouvi enquanto ele pedia para o
Gustavo vim nos buscar, desligando

em seguida, e olhando para o


brinquedo com um ar nostálgico.

- Quando eu era pequeno, ele era


vermelho – comentou ele – e o
Nicolas sempre adorou vermelho,

então ele corria para cá quando


víamos, levando seus bonecos
junto.

Senti uma pontada de dor no peito.


No meu primeiro encontro com o
Joshua, ele também falou de sua

infância. Em minha mente, todo o


nosso encontro passou de novo e eu
relembrei dos melhores
momentos; como quando ele me
empurrou no balanço e me disse
que eu era a primeira garota que

levava ali. Quando ele disse que eu


era diferente.

- Falei algo errado?

Percebi que havia ficado em


silencio por muito tempo e
rapidamente fiz que não com a
cabeça.

- Não é isso, é que... Esse lugar me


lembra o Joshua.

Ele me encarou, com um olhar


solidário.

- Para mim também, Susan.

Ficamos quietos por alguns


minutos, pensativos – Joshua era
tão importante para ele quanto era
para

mim.

Então, ouvimos uma buzina de


carro. Michael levantou a cabeça
instantaneamente.

- É o Gustavo.

Nos levantamos e corremos para o


carro, com a chuva forte molhando
nosso corpo sem pena.

Ele abriu a porta para eu entrar.

[...]

Cheguei em casa tão cansada que


fui direto para a cama, mesmo
ainda sendo 16h. Ficar acordada

significava pensar no Joshua. Eu


não sou tão forte assim.

Eu não sou o Michael.

Por ter ido dormir muito cedo,


acordei 5h da manhã. Ótimo,
pensei, pelo menos eu vou para
escola

hoje.

Pulei da cama e fui para o banheiro.


Me surpreendi com o reflexo no
espelho: eu estava sem nem um

arranhão. Novinha em folha, como


se o acidente nunca tivesse
acontecido. Tudo isso graças ao

Joshua. Senti um nó se formando em


minha garganta e respirei fundo
antes de ir me trocar. Se eu

continuar assim, o dia será muito,


muito longo.

Depois de fazer tudo o que deveria,


desci as escadas e fui para a
cozinha. Peguei um copo com suco

e me sentei à mesa, esperando.

Nicolas e Michael apareceram


poucos minutos depois, com cara
de sono.

- Bom dia – cumprimentei com um


sorriso.

- Bom dia bebê, caiu da cama foi?


– Nicolas perguntou vindo até mim,
sorrindo daquele jeito fofo
dele, com suas covinhas dançando
em sua bochecha.

- Fui dormir muito cedo e vocês?

- Não consegui dormir – Michael


respondeu passando por nós e indo
para a cozinha.

Nicolas olhou para mim e depois


para o irmão, como se estivesse
juntando duas peças em um

quebra-cabeça.

- Onde vocês estavam ontem? - Ele


perguntou por fim, com uma das
sobrancelhas arqueadas.
- A gente estava conversando
naquela pracinha. Ele me contou
algumas coisas sobre seu passado.

Nicolas se inclinou para mim.

- Sobre Anna? – Sua voz saiu quase


inaudível.

Assenti com a cabeça.

Ele se virou para a cozinha,


surpreso.

- Não achei que fosse voltar a falar


dela tantos anos depois.

- Uma hora eu tinha que saber.


Estávamos sussurrando agora.

- Eu entendo... Só acho que ele


deveria ter esperado até que o
Joshua acordasse para te contar
isso.

Ele não é o único envolvido.

Não respondi. Eu não sabia se


concordava ou não com ele. E,
afinal, era tarde demais para
discutir

isso.

Ouvimos barulho de elevador e nos


viramos. As portas se abriram e o
senhor Fernando surgiu,

girando a chave do carro com o


dedo indicador – exatamente como
Joshua fazia.

- Vamos logo, não quero me atrasar


– ele mandou, nem se dando ao
trabalho de olhar para nós

enquanto falava.

Ele não era o tipo de pessoa que


cumprimentava com um bom dia.

Praticamente pulei do carro quando


estacionamos em frente ao colégio.
Só agora tive noção de
quanta saudade estava sentido das
pessoas daqui.

Apressei o passo e praticamente


corri até a escada, subindo de dois
em dois degraus até chegar ao

corredor. Soltei um suspiro de


felicidade ao ver todas as meninas
lá, rindo encostadas na porta da

sala. Gabi foi a primeira a me ver.

- GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ


BEM! – Ela gritou e correu com as
meninas até mim, me

sufocando em um abraço em grupo.


Ri com a animação delas.

- Obrigada flores.

- Ficamos tão preocupadas, você


não tem noção! – A Bia falou
olhando para mim com alivio.

Sorri, agradecida por tudo isso.

- SOPHIA!

Girei meu corpo para trás e vi o


Edu correndo na minha direção, me
tomando nos braços com tanta

rapidez que eu nem tive tempo de


pensar. Ele me rodou no ar, com as
mãos firmes na minha cintura,

parando com cuidado segundos


depois.

- Eu senti tanto sua falta – ele falou,


me puxando para um abraço. – Eu
nunca fiquei tão desesperado na
minha vida.

- Ai meu Deus Edu, muito obrigada


mesmo – agradeci de volta e
ficamos ali, abraçados, unidos.

Então eu me lembrei de uma coisa.


– E a Jane?

Ele se afastou um pouco de mim,


para poder me olhar nos olhos.

- Ela acordou há mais ou menos


duas horas – ele respondeu
sorrindo. – Eu não poderia estar
mais

feliz, Susan!

Desviei os olhos por um segundo.


Joshua salvou a vida dela também.
Esse era um dos motivos de ele

não poder morrer: ele era um herói.


Não seria justo.

Acho que o Edu percebeu sobre o


que eu estava pensando, pois
colocou o braço no meu ombro,

tentando me reconfortar.

- Ele vai ficar bem, ok? Joshua é


forte. – Ele abaixou a cabeça. – E
desculpe por ter sido minha irmã a
causadora de tudo isso. Eu
realmente sinto muito.

Neguei lentamente com a cabeça,


mesmo sabendo que eu não estava
sendo totalmente sincera.

- Não precisa pedir desculpas.

Ele sorriu.
- Mas sério, eu ainda tenho que
agradecer o Jam...

Antes que ele pudesse terminar a


frase, o sinal tocou. Ele revirou os
olhos, irritado.

- Acho que temos que ir para aula.

- Não se preocupe, eu entendi o que


você iria dizer. Eu também tenho
que agradecê-lo.

Ele assentiu a cabeça e entramos na


sala, nos juntando às meninas no
canto direito.

Com o canto dos olhos, pude ver o


Edu parando um pouco antes de
sentar e olhando para o Michael.

Imagino o tamanho da luta interna


que ele estava sentindo agora.
Joshua salvou sua irmã. Um Hunter,

a família que ele sempre odiou.


Não posso culpa-lo, eu também
ficaria confusa. Todos ficariam, na

verdade, se tivesse que mudar de


ódio para gratidão. Mas, pelo
menos, ele conseguiria entender

agora o que eu falei sobre o Joshua


não ser uma pessoa ruim.
Bem, pelo menos não mais.

Menos de um minuto depois, uma


mulher entrou na sala, com uma
bolsa numa mão e uma pasta na

outra. Todos olharam confusos para


ela; agora era aula do Professor
Cavalcante.

Ela sorriu para nós enquanto


colocava suas coisas na mesa do
professor.

- Antes que vocês perguntem, meu é


Samanta, professora substituta de
química.
Olhei ao redor e vi a Isabela
enterrando a cabeça na banca.

- Onde está o Cavalcante? – Ouvi


uma voz perguntando do outro lado
da sala. Era uma das meninas

que andavam atrás do Michael e


seu grupinho.

A professora soltou um suspiro


antes de responder.

- Ele está afastado


temporariamente.

Eu quase podia sentir os olhares em


cima da Isabela, mas ela não se
mexeu; apenas continuou com a

cabeça apoiada no braço, com o


cabelo cobrindo todo seu rosto.
Pelos movimentos de seus ombros,

pude ver que ela estava chorando.

A professora começou a corrigir as


atividades do livro, não dando
oportunidade a ninguém de fazer

perguntas.

Quando acabou a aula, fui atrás da


Isabela. Ela havia corrido para o
banheiro assim que tocou o sinal e
eu a segui, junto com a Gabi e a
Amanda.

Assim que abrimos a porta demos


de cara com ela limpando algumas
lagrimas com a toalha, com

alguns soluços escapando de seus


lábios Fomos até ela e ficamos ao
seu redor, alisando seu cabelo e

passando a mão em seu braço.

- O que aconteceu naquela noite? –


A Gabi perguntou por fim. A
agradeci mentalmente por ter sido

tão direta.
Ela suspirou algumas vezes antes
de responder.

- Al-Alguém contou p-pa-para o


diretor que e-e-eu... – Ela começou
a falar, gaguejando por causa do

choro.

- Calma... A gente espera você ficar


bem para ouvir a resposta –
Amanda disse com um olhar

solidário.

Isabela respirou fundo e foi até a


pia. Observei enquanto ela jogava
água no rosto e o enxugava na
toalha em seguida. Quando se virou
para nós de novo, ela parecia está
muito melhor. Ou fingia que

estava.

- Certo – ela se ajeitou, olhando


para nós. – Mas prometam não
contar para ninguém.

- Prometemos – respondemos em
uníssono.

Ela se apoio na parede antes de


falar.

- Alguém da nossa sala contou para


o diretor sobre eu e o Cavalcante, e
ainda o informou sobre a

festa, dizendo que era muito


provavelmente que ele estivesse lá.
E o diretor, é claro, foi correndo

para lá, entrando no meu quarto


bem no momento em que eu e o
professor estávamos nos beijando.

Ela fez uma pausa, olhando para


algum ponto fixo do outro lado do
banheiro, como se estivesse

lembrando tudo em sua mente. –


Então ele começou a gritar. E gritar.
E gritar. Chamando o professor

de pedófilo para baixo, dizendo que


isso era inadmissível e que não
toleraria uma coisa dessas em

seu colégio. Foi péssimo e eu


realmente cheguei a achar que não
poderia piorar, mas, é claro,
piorou; o professor, ao invés de me
defender ou dizer que não
estávamos fazendo nada de errado,
disse que

eu era quem tinha dado em cima


dele e o enchido de álcool. Ele até
começou a falar enrolado como
se estivesse bêbado! Ele negou
tudo, fingindo até que tinha
esquecido meu nome. – Seu tom era
um

mistura de raiva e tristeza e ela


suspirou antes de continuar. – O
diretor acreditou, é claro. Ele disse
que eu seria suspensa por alguns
dias e que falaria para minha mãe o
que aconteceu. E foi ai que eu

comecei a implorar, chorando, para


que ele não falasse para ela, porque
eu sei que ela não

acreditaria em mim. No fim, ele


acabou cedendo, e disse que eu
ainda seria suspensa e se minha
mãe

perguntasse o porquê ele iria


contar. É uma sorte ela não se
importar tanto a ponto de ir até ele

perguntar. E, quanto ao professor...


O diretor falou que ele não iria
trabalhar até que isso estivesse
resolvido e ele se encontrasse em
condição para falar alguma coisa.

Meus olhos estavam arregalados.


Nunca pensei que o professor
pudesse ser tão cretino.
- Meu Deus, ele foi tão... – A Gabi
começou, procurando um adjetivo
ruim o bastante para ele.

- Eu sei – Isabela interrompeu. – E


a pior parte é que eu o amava
mesmo, entende? – Ela abaixou os

olhos. – E eu cheguei a achar que


ele também se sentia assim por
mim.

- Mas ele não disse nada para você


depois? – Perguntei.

- Ele tentou me ligar algumas vezes,


mas eu não atendi. Não estou
preparada para falar com ele.

Olhei para aquela garota com o


coração partido, me lembrando
automaticamente do Michael e sua

história com a Anna.

Será que algum dia o amor vai


parar de ser tão difícil?

As aulas passaram rápido. As duas


seguidas de química foram apenas
corrigindo exercícios e os

professores das outras duas


entraram em um acordo e decidiram
passar um filme. Então, quando a
gente menos esperou, já estávamos
indo para o pátio.

Isabela estava contando sua história


para as meninas e todos estavam
chocados pelo o que o

Professor Cavalcante fez. Ninguém


esperava isso dele.

- Eu não achei que ele fosse um


bosta... Isso é tão surpreendente que
chega a ser assustador –

comentou a Bia, com pena.

- Do que vocês estão falando,


gatas? – O Richard perguntou se
aproximando de nós, indo direto
para

o lado da Bia.

- Nada que seja agradável –


respondi.

Os olhos da Isabela se encheram de


lagrimas novamente e ela escondeu
o rosto com as mãos.

Nunca pensei que fosse odiar tanto


um professor como agora.

Eu e as meninas nos juntamos ao


redor dela, em um abraço em grupo
– como fizemos com a Elena no
dia do acampamento.

- Bom que ele seja demitido – a


Clara falou com raiva.

Isabela continuou chorando, sem


concordar ou discordar da Clara.

Senti uma mão sendo passada pelo


meu ombro e olhei para o lado.
Nicolas e Felipe se juntaram ao

nosso abraço, mesmo sem saber o


motivo. Eles ainda eram o meu
casal favorito no mundo.

Ficamos assim por um tempo,


tentando confortar a Isabela, cada
um dizendo alguma coisa em

determinado momento –
normalmente xingando o professor.

- Vamos para o intervalo, antes que


acabe o intervalo – Isabela pediu
com a voz baixa. – Estou com

saudades da comida.

Percebi que hoje era o primeiro dia


de aula dela depois da suspensão.
Ela era forte só por ter vindo,
sabendo que a primeira aula do dia
era de química.

Fizemos o que ela pediu e ficamos


tentando alegra-la o tempo inteiro,
soltando gritos quando ela

começava a chorar de novo e


correndo para outro abraço em
grupo. Ela riu algumas vezes. Ela
nos

agradeceu, mesmo sabendo que não


precisava.

Quando o intervalo acabou, ela


ligou para o motorista ir busca-la,
dizendo que não estava se sentindo
bem. O que, de certa forma, não era
mentira.
O resto das aulas passou rápido. Os
professores decidiram dar um dia
de folga para nós antes de

começarem o assunto novo para as


provas. Pelo menos alguma coisa
estava dando certo na minha

vida.

[...]

Assim que acabei de fazer a ultima


questão da atividade para casa,
desci as escadas. Ainda eram

17h, mas todos os Hunter estavam


em casa e, quando eu cheguei na
sala, me surpreendi com a

presença de todos eles, sentados


nos sofás e na poltrona. Até mesmo
minha mãe, encostada na

parede, pensativa.

O estranho era que a televisão


estava sem som e ninguém estava
conversando.

Eles olharam para mim e o Nicolas


foi o único que sorriu, apontando
com a cabeça para o espaço ao

seu lado. Fui até ele e me sentei,


olhando para cada uma das pessoas
que estavam ali.

O senhor Fernando estava na


poltrona vermelha, lendo um jornal,
sem dar nenhuma importância para

o resto das pessoas. Sua postura era


perfeita, como se ele quisesse
impor para todos quem mandava

ali. Desviei os olhos no mesmo


segundo; ele me dava nojo.

A Dona Nicolas, por outro lado,


parecia olhar para tudo, mudando
seu alvo a cada poucos segundos

– se demorando apenas quando se


tratava de seu marido, o que me fez
pensar que talvez fosse por

causa da semelhança dele com o


Joshua. Ela parecia mais do que
triste. Ela parecia arrasada. Senti

vontade de ir até lá e a abraçar, mas


me segurei.

Michael e Nicolas trocavam


olhares, cada um prestando
solidariedade ao outro. Eles eram
irmãos.

Era a primeira vez que os via dessa


maneira, como duas pessoas com o
mesmo sangue correndo nas

veias. Duas pessoas boas. Duas


pessoas fortes, cada um à sua
maneira. Duas pessoas que
passaram

por muitas dificuldades na vida e


sempre continuaram firmes –
mudando apenas a forma como isso

aconteceu e qual foi sua


consequência. Sorri com o canto da
boca ao pensar nisso.

Minha mãe olhava para a mesa de


jantar, pensativa e com um olhar
distante. Será que ela já

conversou com o Joshua ali? Me


pergunto o que ele disse. Joshua
sempre tinha as melhores frases.

Então, o telefone tocou.

Todos olharam com medo para ele,


como se fosse um animal selvagem.
Ficamos parados por um

segundo, tentando decidir, sem


palavras, quem iria atender.

Michael se levantou.

- Eu atendo – ele avisou, andando


até o telefone fixo na parede. Ele
tirou o aparelho e ouviu o que

quer que estivesse sendo dito, sem


responder nada. Seu rosto não
demonstrava nenhum sentimento.

Ouve uma pausa.

Ele desligou, virando-se para nós.

- Era do hospital.

Fechei os olhos, com o medo


subindo e descendo com tanta
rapidez quanto os movimentos do
meu
coração. Meus dedos se cruzaram e
uma oração silenciosa passou pela
minha mente, mas ela ainda

estava na metade quando o Michael


completou, falando com sua voz
firme e levemente rouca:

- Joshua acordou.

41. Eu senti sua falta

Senti como se alguém estivesse me


chacoalhando bruscamente. Tudo
dentro de mim balançou. Meu

coração foi parar em minha boca e


meu pulmão esqueceu que tinha
trabalho para fazer. Perdi o

fôlego.

Nicolas deu um salto e correu para


até onde o Michael estava, gritando
por mais informações.

Mas eu não estava ouvindo.

A única coisa que prendia minha


atenção eram duas únicas e
impactantes palavras.

Joshua acordou.

Joshua estava vivo.


- ...Vamos logo!

Olhei para a Dona Nicole,


finalmente desviando dos meus
próprios pensamentos.

- O que estamos esperando? –


Perguntei ansiosa, quase irritada.

Senhor Fernando levantou uma


sobrancelha para mim, como se não
acreditasse na minha ousadia.

Mas eu não me importava. Eu não


me importava com nada além do
Joshua.

Por um segundo, não houve


resposta. Então a Dona Nicole
praticamente correu até a mesa de
centro e

pegou a chave do carro.

- Vamos.

[...]

Assim que chegamos ao hospital, o


enfermeiro chefe nos mandou para a
sala de espera.

- Por que não podemos ir até onde


ele está? – Nicolas perguntou
nervoso.
- O paciente está fazendo os
últimos exames. Aguardem, por
favor – respondeu o enfermeiro, já
se

virando para sair.

Me sentei no sofá branco e largo.


Isso não era justo. Eu estava a um
passo de subir pelas paredes e

ele me mandava esperar?

Michael me seguiu, sentando-se ao


meu lado.

- Também estou nervoso – ele


sussurrou quase inaudível ao meu
ouvido.

Olhei para ele, levemente surpresa.


Lá no fundo, eu ainda estava
tentando digerir tudo o que ouvi

ontem à tarde.

- Mas ele vai ficar bem – murmurei,


tentando convencer a mim mesma
disso.

Ele assentiu, seus olhos fixos na


porta de entrada da sala.

- Eu sei. Ele é o Joshua.

- O que isso quer dizer?


Ele levantou uma sobrancelha como
se isso fosse óbvio.

- Joshua sempre ganha no final,


Susan.

Por um momento, eu tive a certeza


de que ele estava se referindo a
mim e a Anna. Então percebi que

era muito mais do que isso. Era


tudo. Joshua nunca perdeu em nada
para o Michael – ou para

qualquer outra pessoa. Ele iria ficar


bem. Porque não é da natureza dele
ser derrubado.
- Espero que você esteja certo.

Ele olhou para mim. Seus olhos


pareciam duas esmeraldas,
levemente sombreadas por causa da
luz.

- Você sabe que estou.

Ele tinha razão

Eu estava prestes a responder


alguma coisa, quando, de repente,
ouvimos batidas na porta.

- Posso entrar?

Meu coração parou por um segundo


e eu senti todos os meus pelos se
arrepiando.

Era a voz do Joshua.

Me levantei e corri para a porta,


ignorando todos ao meu redor. A
porta se abriu no momento em que

eu toquei a maçaneta e lá estava


ele. Joshua. Meus olhos se
encheram de lagrimas e senti meu
corpo

sendo puxado para o dele, como um


imã. Nos abraçamos.

Ele passou uma mão pelo meu


cabelo enquanto a outra se firmava
em minha cintura. Todos meus

músculos estavam extasiados e meu


pulmão se movimentava com
dificuldade dentro do meu peito.

- Ei, eu estou bem – ele falou


baixinho, sua voz levemente mais
rouca do que o normal.

Me afastei um pouco para poder


olhar para ele. Nunca pensei que
pudesse sentir tanta falta de um par
de olhos azuis.

- Joshua... Ai meu Deus, Joshua, eu


fiquei tão preocupada...

Ele balançou a cabeça e me


abraçou novamente, com mais
força.

Ficamos assim por um minuto,


apenas sentindo um ao outro.

Ele estava vivo.

Ele estava ali, bem na minha frente,


com os braços ao redor do meu
corpo.

E eu o amava tanto.

- Também queremos um pouco de


Joshua, ok?

Olhei surpresa para o Nicolas.


Tinha esquecido completamente que
havia mais pessoas nessa sala –

ou em qualquer outra sala do


mundo.

Saí do abraço do Joshua a


contragosto e observei enquanto
todos da família, e minha mãe,
abraçavam

o Joshua, felizes.

Notei que a Dona Nicole estava


com lagrimas nos olhos e o abraçou
por mais tempo do que todos os

outros. Eu não posso nem imaginar


o alívio que ela estava sentindo.

Michael foi o ultimo a ir até ele.


Eles se encaram antes do ato, como
se pedissem desculpas um para

o outro. Senti um suspiro saindo


dos meus lábios quando eles
sorriram e, finalmente, se
abraçaram.

Como irmãos.

Assim que o abraço acabou, Joshua


foi até mim, passando o braço pela
minha cintura.

- Senti sua falta – sussurrei apenas


para ele ouvir.

Ele sorriu com o canto da boca e


inclinou um pouco a cabeça para
que pudesse olhar em meus olhos.

- Eu amo você.

Mordi o lábio inferior por um


segundo e percebi que estava a
poucos passos de começar a chorar.

Ele negou com a cabeça, se


aproximando de mim.
- Não chore, por favor. Eu estou
aqui. Eu amo você. – Ele repetiu
pausadamente, seus olhos

brilhando tanto que eu cheguei a


achar que era ele quem estava com
lagrimas.

- Eu também amo você, Joshua.

Sorrimos. E isso era tão bom. Nada


se comparava a essa sensação de
que as coisas finalmente

estavam dando certo. Nada se


comparava a essa felicidade pura e
simples, que tomava conta de cada
vértice, ponto, reta, ângulo e grau
do meu corpo.

Nada se comparava ao amor.

Então, a porta se abriu novamente e


uma enfermeira baixinha entrou na
sala, segurando uma pasta.

Joshua se afastou apenas o


suficiente para olha-la, levemente
preocupado.

A enfermeira parou em frente à


porta, olhando para cada uma das
pessoas presentes.

Senti meu estomago revirando de


medo.

- Boa noite – ela cumprimentou


enquanto a abria a pasta, dando uma
ultima lida no que estava escrito
antes de falar conosco. – Eu
gostaria de conversa com o senhor
Joshua Hunter, a sós.

- Somos a família dele, pode falar –


Dona Nicolas protestou.

A enfermeira negou com a cabeça.

- São as regras do hospital: os


resultados do exame só podem ser
ditos para o paciente ou, se ele for
menor de idade, seus pais.

- Então vocês... – o senhor


Fernando começou, olhando para
mim.

Entendi o recado. Saí com cuidado


do abraço do Joshua, beijando sua
bochecha antes de abrir a

porta da sala. Nicolas, Michael e


minha mãe passaram por mim e eu
fechei a porta no final.

Do lado de fora, Michael parecia


irritado.

- Nós tínhamos todo o direito de


ouvir!

Minha mãe encostou-se à parede,


calma.

- Não precisa se preocupar. Em


breve saberemos.

Sorri para ela, impressionada. Ela


sempre foi assim: suave; doce e
compreensiva, como se soubesse

que as coisas fossem melhorar.

Ficamos em silencio, apenas


olhando os enfermeiros, médicos,
pacientes e visitas passando de um
lado para o outro, sempre
apressados.

Uma adolescente com mais ou


menos a minha idade foi a única
que passou por nós devagar,
olhando

fixamente para o Michael, com um


sorrisinho quase – quase – sensual
no rosto. Ele nem sequer a

notou.

Alguns minutos depois disso, a


porta se abriu e eu soltei o ar que
não havia notado que estava
prendendo. A enfermeira acenou
para nós e saiu sem dizer nenhuma
uma única palavra.

Entramos na sala, com medo.


Senhor Fernando e Dona Nicole
estavam sentados no sofá, olhando
um

para o outro como se conseguissem


se comunicar por pensamento,
enquanto Joshua estava em pé,

bem no meio sala, sério de uma


forma que eu nunca tinha visto
antes.
Olhei para ele com cara de
interrogação.

Ele suspirou antes de responder.

- Eu estou quase completamente


bem – ele respondeu por fim,
apreensivo. – A única coisa que
não

está funcionando direito é... – Seus


olhos se desviaram para o teto e ele
suspirou novamente. O medo
cresceu tanto dentro do meu peito
que eu pensei que fosse desmaiar. –
Meu coração.
Fechei os olhos enquanto ele
continuava a falar.

- Minha válvula mitral está com


dificuldades para fazer seu
trabalho. A cirurgia para substituí-
la será daqui a cinco dias e, até lá,
eu não posso ter nenhuma emoção
forte.

- Ou...? – Michael perguntou, com


uma curiosidade quase infantil na
voz.

- Ou eu morro, é claro – ele


respondeu com naturalidade.
Abri os olhos e encarei o Joshua.
Ele parecia tão bem, sem nem um
arranhão, sem nenhum um osso

quebrado ou qualquer coisa desse


tipo. Ele estava tão bem por fora.
E, no entanto, seu estava coração
doente.

E logo o coração, a parte do corpo


que sempre foi a maior e a mais
forte dele.

Senti um nó se formando em minha


garganta e não consegui dizer nada.
Não que houvesse algo que
pudesse ser dito.

Então Joshua olhou para mim, com


um sorriso passando pelos seus
lábios.

- Mas a cirurgia quase não tem


riscos e nova válvula pode
sobreviver por uns 20 a 25 anos
antes de

ser substituída novamente. Não


precisa ficar assim. Vai ficar tudo
bem.

- Bem, acho que nós devíamos ir


para a casa agora – o senhor
Fernando falou, antes que qualquer
um

de nós pudesse sequer se mexer.

Joshua assentiu, ainda olhando para


mim.

- É, concordo com você. Já passei


tempo demais nesse hospital.

Joshua fez questão de ir comigo nos


últimos bancos do carro – aqueles
que ficam na mala. E assim

que o senhor Fernando deu a


partida, eu apoiei minha cabeça em
seu ombro, pensativa.
- O que está passando pela sua
cabeça? – Ele perguntou
suavemente como se eu fosse uma
criança.

- Tudo, eu acho. Aconteceram


muitas coisas desde o acidente.

Ele olhou para mim sem entender e


eu me arrependi no mesmo segundo
de ter dito isso. Eu não

queria ter que falar sobre a Anna.


Pelo menos não agora.

- Por exemplo...?

Pensei um pouco antes de


responder.

-Você foi um herói– falei por fim.

Ele negou com a cabeça.

- Eu só fiz o que deveria fazer.

- Você salvou duas vidas naquela


noite, Joshua.

- Então a Jane está bem? –


Perguntou surpreso.

- Ela acordou ontem de manhã.

Ele sorriu.
- Espero que a partir de agora ela
pare de tentar me separar de você.
Eu realmente já perdi a

paciência.

- Eu também.

Nos olhamos por um tempo, cada


um lembrando das coisas que
tivemos que passar por causa dela e

do Michael. A coisa que eu mais


queria no mundo era nunca mais ter
que viver algo assim.

Então, ele se inclinou até mim,


olhando fixamente para os meus
olhos. Senti meu coração dando um

salto. Eu não tinha nem noção da


saudade que eu estava do seu beijo.

Fechei os olhos quando nossos


lábios se tocaram. Eu o amava
tanto. Às vezes, nem eu conseguia

medir o tamanho de tudo isso.


Porque mesmo se eu dissesse que
era 10 de 10 eu estaria mentido.
Era

mais. Muito mais. Mais do que


qualquer coisa que eu já havia
sentindo antes. Forte o bastante
para

me fazer esquecer do presente, do


passado e até mesmo do futuro
enquanto nos beijamos. E a melhor

parte era que eu sabia que ele


também se sentia assim.

E ele beijava tão maravilhosamente


bem que eu poderia passar o resto
da minha vida assim, o

beijando, parando apenas para


respirar e olhe lá.

Ele se afastou, sem fôlego.


- Já disse que te amo hoje?

- Acho que sim, mas se quiser pode


repetir.

Ele riu e me beijou novamente.

Quando o finalmente chegamos a


rua dos Hunter, Joshua e eu já
tínhamos nos beijado tantas vezes
que

eu havia perdido a conta. Era uma


sorte que ninguém dar atenção a
nós.

Saímos do carro e o Joshua foi


andando devagar até a porta de
casa, com os olhos fixos na enorme

casa, pensativo.

Os outros entraram na casa


enquanto eu fiquei ali, ao lado dele,
tentando entender o que ele estava

pensando.

- Eu poderia não estar aqui, sabe? –


Ele sussurrou para mim. – Eu
poderia não estar aqui falando

com você.

- Não pense nisso...


- Não tem como não pensar, Susan
– ele desviou os olhos para os
meus. – Eu poderia ter morrido. E

sabe quando é a pior parte? A culpa


seria toda minha.

- Não era você quem estava


dirigindo bêbado.

Ele balançou a cabeça, quase


irritado.

- Mas eu poderia ter evitado. Eu vi


o jeito como ela estava e não me
ofereci para leva-la para casa,
porque eu sou porra de um egoísta e
agora até meu coração está pagando
por isso – ele falou com

uma rapidez furiosa, olhando para


mim com intensidade. – Por isso
virar aquela porcaria de carro

era o mínimo que eu podia fazer. Eu


errei primeiro, Susan –
acrescentou. – Eu não sou um herói.

Olhei para ele sem acreditar. Como


ele podia se sentir assim? É claro
que ele não era o culpado por

isso e, mesmo que ele fosse, isso


não mudaria o fato dele ter salvado
vidas.

- Você deixou ela ir embora porque


algumas amigas dela chegaram para
ajuda-la. Se a culpa for para

ser de alguém, então ela é toda


daquelas garotas.

Ele não pareceu convencido. Tudo


em seu rosto gritava
arrependimento.

- Eu não sou um adolescente. Eu sei


que acidentes podem acontecer e
sei que aquelas garotas têm no

máximo 17 anos, o que significa


que elas não pensam muito antes de
fazer as coisas. Eu era o adulto

e isso me faz responsável por isso.

Fui até ele e coloquei as mãos em


sua nuca, o aproximando de mim.
Ele negou com a cabeça.

- Não tente me dizer o contrário, eu


sei o que...

- Não vou tentar, Joshua. Mas, para


mim, você é um herói – falei,
ficando na ponta dos pés enquanto

ele, lentamente, colocava as mãos


em minha cintura. – E eu não estou
falando só do acidente.

Ele sorriu com o canto da boca,


com uma timidez que não
combinava nem um pouco com ele.

- Foi você quem me salvou – ele


sussurrou antes de finalmente me
beijar.

Me pergunto se algum dia eu vou


me acostumar com isso; Com essas
explosões no meu peito toda vez

que ele se aproxima de mim; Com


esse gostinho de quero mais sempre
que o beijo acaba; Com tudo
isso; Com ele; Com meu coração
batendo suavemente no meu peito,
relaxado e feliz. Com o amor em

geral.

Talvez não. Amor é algo muito


grande para que alguém consiga se
acostumar completamente com ele.

- Ei pombinhos, que tal irmos


jantar?

Olhei para o Nicolas na varanda na


sala, com seu sorriso de covinhas e
seus olhos azuis brilhantes

como o de uma criança.


Joshua suspirou e se virou para ele.

- Um segundo – pediu.

Ele se virou novamente para mim e


nos beijamos com mais intensidade.

Ouvi uma risada ao longe, tão


suave quanto uma brisa de verão, e
em seguida uma porta se fechando.

Nicolas sabia que iríamos demorar


mais do que um segundo.

Quando a falta de ar nos venceu,


fomos para dentro de casa.

Todos os Hunter já estavam


sentados na mesa de jantar enquanto
minha mãe cozinhava alguma coisa

no cômodo ao lado. Me sentei entre


o Michael e o Joshua.

Olhei para as pessoas ao meu


redor, sentindo algo estranho meu
peito. Naquele momento, eu não me

sentia só a namorada de um Hunter


ou filha da empregada deles. Eu me
sentia da família.

- Mãe, eu vou dormir em casa hoje,


ok? – Nicolas avisou com um
sorrisinho travesso dançando em
sua boca. – Mas só vou sair umas
onze e meia.

Michael olhou para ele, intrigado.

- E os pais do Felipe vão te levar


para a escola amanhã? – Ele
perguntou cínico.

Nicolas revirou os olhos.

- Que eu saiba eu estava falando


com minha mãe, não com você.

Michael riu baixinho.

- Aprendeu bem, irmão – murmurou


para si mesmo, tão baixo que eu
quase não ouvi.

Depois do jantar, fui para o quarto


do Joshua. Ele me puxou pela mão
assim que passei pela porta e

me deitou na cama, ficando por


cima de mim. Meu coração deu uma
cambalhota dentro do meu peito.

- Pena que eu não posso ter fortes


emoções – sussurrou no meu
ouvido, tão perto que eu poderia

sentir o ar saindo de sua boca e


tocando minha pele.

- É uma pena mesmo – respondi no


mesmo tom de voz.

Ele apoiou o peso nos braços e se


elevou um pouco para poder olhar
para mim direito.

- Você é sexy.

Minha mão esquerda foi para o seu


cabelo dourado, fazendo cachos
com os dedos e logo em seguida

os soltando.

- Olha quem fala.

Ele sorriu e seus olhos se


desviaram para minha boca.
- Lembra quando nós nos beijamos
pela primeira vez, na sala, no meio
da noite que tinha tudo para

dar errado?

Minha vez de sorrir. Como eu


poderia esquecer isso?

- Claro que eu lembro.

Minha mão livre desceu pelas suas


costas, suavemente, quase que por
vontade própria. Ele fechou os

olhos por um segundo, sentindo-a.

- Foi naquele momento em que eu


percebi que não podia mais negar
isso. – Ele abriu os olhos. Azuis

Denim. – Foi naquele momento que


eu percebi que eu estava
completamente apaixonado por
você,

Susan.

- Eu descobri isso muito antes,


Joshua.

Ele olhou para mim surpreso.

- Quando exatamente?

- Em algum momento entre você me


levar para aquela praça e dar um
murro no nariz do Felipe.

Ele riu nostálgico.

- Bons tempos.

- Não – falei –, o melhor tempo é


agora.

- Achei que eu fosse o meloso da


relação – ele comentou sorrindo.

Dei de ombros.

- Podemos dividir esse papel.

Ele se inclinou para baixo e me deu


um selinho demorado, como se
nunca tivesse encostado nos meus

lábios antes.

- Eu preciso te contar uma coisa –


sussurrei inaudível quando acabou.

Eu tinha que falar sobre a Anna.

Ele saiu de cima de mim e se deitou


ao meu lado, com a cabeça apoiada
no cotovelo.

- Sou todo ouvidos.

Respirei fundo antes de falar,


pensando em como diria isso para
ele. Em como diria que eu sabia

que, no passado, ele era um


monstro.

Desviei os olhos.

- Estou ficando com medo...

Neguei com a cabeça e me virei


para ele, imitando sua posição.

- Eu te disse que aconteceram


muitas coisas desde o acidente. E
uma delas... – olhei para ele,

tentando encontrar em seus olhos


forças para continuar falando. –
Michael me levou para aquela

pracinha e me contou... Me contou


sobre Anna.

Por um segundo, seu rosto não


demonstrou nenhuma reação e ele
apenas ficou ali, parado, olhando

para mim como se não tivesse


entendido direito o que eu disse.

Então seus olhos se arregalaram e


se sentou na cama, assustado.

- Ele fez o que?!

Me sentei também, tentando parecer


calma para mostrar que estava tudo
bem.

- Eu tinha que saber, Joshua.

- Ele não tinha o direito de ter te


contado enquanto eu estava em
coma! Essa historia não é só dele!

Meu Deus, você deve achar que eu


sou a pior pessoa do mund...

- Joshua! Me escute, ok?

Meu tom de voz pareceu


desacelera-lo por um segundo e ele
piscou os dois olhos para mim,
como se
tentasse focar a visão.

- Primeiro de tudo fique calmo, por


favor. Você não pode elevar seus
batimentos, lembra? Então

respire fundo.

Lentamente, ele fez o que eu pedi;


inspirando e expirando devagar,
quase com cuidado.

- Que parte ele contou? – Perguntou


por fim, parecendo bem mais
calmo, mas ainda preocupado.

- Tudo.
Ele fechou os olhos por um
momento, respirando fundo
novamente.

- Só não me diga que você me


odeia.

- Não sou capaz de te odiar, Joshua.

Ele abriu os olhos e por um


segundo eu poderia jurar que havia
lágrimas neles, mas rapidamente
elas

desapareceram.

- E o que você acha disso então?


- Eu queria... Ver a Anna, talvez. Eu
queria ouvir todos os lados dessa
história.

Suas sobrancelhas se juntaram e


uma ruguinha em formato de vírgula
apareceu entre elas.

- Tem certeza disso? Não sei o que


o Michael faria se a visse
novamente.

Dessa vez foi eu quem estreitei os


olhos para ele.

- E o que você faria?

Ele suspirou, pensativo.


- Com ela? Nada, é claro. Mas não
sei como eu iria se sentir se
finalmente visse meu filho.

Olhei para ele, surpresa com a


naturalidade e a rapidez com que
ele disse isso.

- Joshua, você está escondendo


alguma outra coisa de mim?

Ele ficou em silencio por um


segundo.

Então as palavras saltaram da sua


boca como se ele estivesse as
prendendo por tempo demais.
- Eu não podia deixar ela
simplesmente ir embora, ok? –
começou, falando aceleradamente.
–Ela

estava carregando o meu filho no


ventre. O meu filho! Eu tinha que
fazer alguma coisa. Eu não podia

deixar ele passar por algum tipo de


necessidade e eu sabia que o
dinheiro que eu tinha dado para a

Solange não iria durar por muito


tempo. Então eu abri uma conta no
banco para ela, colocando uma
certa quantia de dinheiro todos os
meses e aumentando 50% em
Outubro, pois é o mês que ele

nasceu. Claro que, às vezes, dava


algum problema na conta e quando
isso acontecia a Anna me

ligava, falando comigo como se eu


fosse obrigado a fazer o que estava
fazendo. E sempre que ela me

ligava eu pedi para ver meu filho,


ou pelo menos ouvir a voz dele, e
ela nunca aceitava. Eu não sei

nem o nome dele, Susan.


Tentei assimilar o que ele estava
me dizendo.

O Michael tinha razão.

Ele ainda mantinha contato com a


Anna.

- Por que você nunca contou isso ao


Michael? Ele merecia saber que
poderia falar com ela se

quisesse.

- Eu não sei qual seria a reação


dele. Ele a amou demais, Susan, e
se ele falasse com ela todo esse
sentimento iria voltar e ele me
odiaria de novo. E eu não posso
perder meu irmão novamente.

Ele estava certo, mas mesmo assim


eu não podia aceitar o Michael
ficar por fora de tudo isso.

- Liga para ela, diga que vocês três


têm que conversar sobre isso de
uma vez por todas. E eu também

quero conhece-la.

- Mas...

- Talvez ela seja o amor da vida do


Michael, talvez você esteja
empatando algo que deveria estar

acontecendo.

Ele me olhou fascinado por algum


motivo que eu não conseguia
entender.

- Tem certeza que eu sou o mais


velho aqui?

Sorri, esquecendo completamente


qualquer raiva que eu poderia ter
dele.

- Senti sua falta, Joshua – confessei


por fim.
Ao invés de responder, ele se
levantou da cama, decidido.

Observei enquanto ele andava até o


meu lado e me virei quando ele
segurou minha mão. Seus dedos

se entrelaçaram nos meus com tanta


facilidade que eu me perguntei se
eles já não estavam assim o

tempo todo.

- Será que eu não posso


simplesmente me casar com você?

Mordi o lábio inferior por um


segundo. Não era uma má ideia.
- Me deixe só terminar o ensino
médio e a gente conversa.

Ele negou com a cabeça e me puxou


pela mão para que eu me levantasse
também.

- Não, vamos casar agora.

Olhei sem entender para ele, que


apenas sorriu e soltou minha mão.

- Volto em um segundo.

Ele saiu do quarto antes que eu


pudesse dizer alguma coisa.

Sentei novamente na cama, curiosa


para saber o que ele estava
aprontando.

Tentei não pensar na Anna e em


todas as histórias que a envolviam,
mas era mais difícil do que eu

imaginei. Ela estava em todos os


lugares. Ela marcava tanto essa
família quando o z no final de

Hunter.

E era nela quem eu estava pensando


quando a porta se abriu, alguns
minutos depois. Joshua, Michael

e Nicolas surgiram atrás dela,


sorrindo cumplices um para o
outro.

Me levantei, impressionada.

- O que é isso?

Michael olhou para o Joshua como


se ele fosse o irmão mais novo.

- Joshua teve uma ideia fofa –


respondeu com um toque de ironia.

Nicolas sorriu e correu até onde eu


estava, encaixando o braço no meu
– como ficam os casais

quando entram em algum evento.


Michael, por sua vez, puxou o
criado-mudo ao lado da cama até o
meio do quarto e parou atrás dele,

ficando sério no mesmo segundo.

Joshua foi para o outro lado do


criado-mudo, em frente ao Michael.
Seus olhos brilhavam, pousados

nos meus.

Sorri quando entendi o que estava


acontecendo.

- Precisamos de música! – Avisou o


Nicolas.
Michael riu e pegou o celular do
bolso, digitando alguma coisa por
alguns segundos, até que, por fim,
uma musica de casamento tomou
conta do quarto. Assim que a
música começou, ele pôs o celular
em

cima do móvel e voltou a sua


posição inicial.

Nicolas sorriu para mim e me guiou


para frente, indo em direção ao
Joshua.

Ao meu redor, as coisas começaram


a se transformar em minha mente: o
guarda-roupa grande e

marrom virou várias fileiras de


cadeiras, com pessoas de todas as
famílias da cidade sentadas nelas,
olhando para nós com fascínio; o
teto branco e liso foi pintado com
imagens de anjos e Alvez, como

os de uma capela e até mesmo o


chão ficou mais claro – mais
sagrado.

Joshua estendeu a mão quando eu


cheguei perto o suficiente para
tocá-la e o Nicolas se afastou,
ainda sorrindo, e foi para o nosso
lado, como um padrinho.

Fiquei ao lado do Joshua, em frente


ao Michael. Ele sorriu para nós.

- Posso pular logo para o “você


aceita?”? Porque eu realmente não
sei o que o padre fala antes disso.

Joshua revirou os olhos, com um


sorrisinho fofo tomando conta do
seu rosto.

- Pode pular para o “pode beijar a


noiva” se quiser.

Soltei uma risada nervosa. Meu


coração estava a mil por hora,
como se eu estivesse casando de

verdade.

- Não, não, se vamos fazer isso


pelo menos que façamos um pouco
direito – Michael retrucou,

ajeitando a gola da camisa. – Posso


começar?

- Pode – respondemos em uníssono.

Ele tossiu antes de falar, fazendo


charme. Segurei outra risada.

- Joshua Montenegro Hunter, você


aceita Susan dos Alvez como sua
legitima esposa, na alegria e na

tristeza, na saúde e na doença, na


riqueza e na pobreza, até que a
morte os separe? – Ele perguntou

sério, entrando de verdade no


personagem.

Joshua nem pensou antes de


responder;

- Aceito.

- E você, Susan, aceita Joshua


como seu legitimo esposo, o
amando e o respeitando assim como
a si
mesma, durante todos os dias de
sua vida, até que a morte os separe?

Sorri.

- Aceito.

42. Ninguém esperava por essa

– Pode beijar a noiva.

Joshua sorriu antes de se aproximar


de mim, com os olhos brilhando.

– Eu amo você – sussurrou.

– Eu também amo você.


Senti o olhar do Michael sobre nós.
Gostaria de saber o que ele estava
pensando. Gostaria de saber

se ele estava pensando em Anna.

Então, a boca do Joshua tocou a


minha e eu não gostaria de mais
nada no mundo. Aquilo bastava. Ele

bastava.

– Acho que vamos indo agora... –


Ouvi o Nicolas falando ao longe,
com um ar de riso na voz. –

Felicidades para o casal.


– Digo o mesmo – Michael disse, já
se virando para ir embora.

Joshua tirou as mãos da minha


cintura apenas para dar um aceno e
voltou a se concentrar no beijo,

que ficava cada segundo mais


quente. Era bom mesmo eles irem
embora.

Ouvimos o barulho da porta


batendo segundos depois.

Nos afastamos por causa do ar.


Joshua estava ofegante.

– Susan.
– Oi?

Ele sorriu, com o peito subindo e


descendo rapidamente.

– Você é uma forte emoção.

[...]

– Então por que Joshua? –


Perguntei confusa.

Ele estava deitado em meu colo,


contando a história da sua família e
me deixando fazer perguntas

sobre o assunto. Enquanto isso, eu


mexia em seu cabelo loiro e liso,
fascinada com tudo o que ele

estava me dizendo.

– Meu bisavô era britânico e meu


nome foi em homenagem a ele, já
que ele foi basicamente a origem

de tudo.

– Como assim?

– Ele veio para o Brasil nos anos


20 e foi aqui onde conheceu a bela
Dulce Hunter, uma espanhola

que estava passando alguns dias no


país e acabou se encantando pelo
loiro do olhos verdes que era o

jovem Joshua. E acho que você já


pode deduzir o resto.

– Mas por que vocês não usam o


sobrenome do senhor Joshua, ao
invés do Hunter?

Joshua suspirou, pensativo.

– Ninguém gosta muito falar sobre


isso, mas ele não tinha sobrenome.
Por causa da guerra ele foi

abandonado pelos seus pais e


levado para um orfanato com
poucos meses de vida. Ele foi um
guerreiro.

– Talvez seja uma benção do nome.

Ele riu e negou com a cabeça,


modesto.

– Você faz bem para o meu ego.

Dei de ombros.

– Você faz bem para minha vida.

[...]

Acordei com a voz do Joshua


pedindo para eu levantar.
– Alguém precisa ir para a escola
nessa casa.

Me levantei devagar, ajeitando o


cabelo com a mão.

– Você tem mais dois irmãos para


isso – resmunguei com sono.

Ele soltou uma risada e tirou o


lençol que estava me cobrindo.

– Só podemos casar de verdade se


você terminar o ensino médio,
então levante sua delinquentezinha

– ele falou usando um tom de voz


fofo, como aqueles que usamos
para falar com crianças.

Dessa vez foi eu quem ri e fiz o que


ele mandou. Tinha me esquecido de
como os Hunter podiam ser

convincentes quando queriam.

Fui para o meu quarto e me arrumei


para um novo dia. É estranho
pensar que ontem tudo estava em

preto em branco e hoje até o Sol


parece mais brilhante, como se nos
desse bom dia e nos dissesse o

quão sortudos somos apenas pelo


fato de existir. O amor é algo
encantador – assim como o Joshua.

Depois de fazer tudo o que deveria,


desci pelas escadas até o térreo e
encontrei o Michael e o Joshua
tomando café, sentados um do lado
do outro na mesa.

– Quem diria que um dia eu veria


essa cena – comentei com um
sorriso.

Eles olharam para mim e depois um


para o outro, sorrindo também.

– É uma surpresa para nós também


– Michael retrucou observando o
irmão mais velho. – Mas já

estou me acostumando em não te


odiar.

Joshua revirou os olhos.

– É mais fácil do que se pode


imaginar.

Michael riu e fez que não com a


cabeça.

– Não mesmo.

– O que você quer dizer com isso?


– Joshua perguntou com uma falsa
irritação.
Michael levantou os braços em
sinal de rendição.

– Nada não irmãozinho.

– Irmãozão – Corrigiu o Joshua


com um sorriso divertido no rosto.

O caminho ate o colégio foi calmo


e tranquilo. Eu adorava isso.

Joshua demonstrava sua força


discretamente; com o fato de ir
dirigindo comigo ao lado, sem
parecer

nem lembrar do acidente. Mas, é


claro, eu não sabia o que ele estava
pensando.

– Tchau crianças, tenham uma boa


aula – Joshua falou ao estacionar,
sorrindo como se fosse nosso

pai ou algo assim.

Michael riu e saiu do carro,


acenando para nós enquanto
passava pela porta.

Olhei para o Joshua.

– Tem certeza de que pode ir para a


faculdade hoje? – Perguntei
preocupada, olhando para o peito
dele, bem onde ficava seu coração.

– Se ninguém inventar de me dar um


susto lá não vou ter nenhum
problema – respondeu com leveza.

– Se cuide, ok?

Ele mordeu o lábio inferior por um


segundo.

– Certo mãe.

Empurrei o ombro dele com uma


mão, com um sorriso dançando em
meus lábios sem que eu pudesse

controlar.
– Melhor ir logo para não me
atrasar – ele falou olhando para o
relógio de pulso. – Nos vemos
daqui

a algumas horas.

Ele me deu um selinho rápido antes


de eu me virar e sair. Corri até a
porta do colégio e subi as

escadas rapidamente, pulando de


dois em dois degraus.

Passei pelo corredor praticamente


voando e abri a porta ofegante.
Todas as pessoas olharam para
mim, até o mesmo o professor
Cavalcante, que estava parado no
meio da sala falando alguma coisa.

– Bom dia senhorita dos Alvez –


ele cumprimentou.

Passei direto por ele e fui para a


cadeira ao lado da Bia e da Isabela,
me lembrando imediatamente

de todas as coisas ruins que o


professor fez com ela.

– Se vocês estavam se perguntando


o porquê da minha ausência, acho
melhor pararem. Pois eu não
quero ninguém falando sobre isso
na minha sala ou fora dela. A única
coisa que vocês precisam

saber é que eu estou de volta e não


irei sair tão cedo – ele sorriu. –
Obrigado pela compreensão.

Isabela revirou os olhos ao meu


lado e deitou a cabeça na banca,
fingindo dormir.

– Então abram seus cadernos


porque hoje tem assunto novo.

Suspirei. Ele não merecia ser


professor.
Depois de mais ou menos uma hora
escrevendo sem descanso, o
professor Cavalcante foi se sentar,

deixando quem terminou conversar


enquanto os outros escreviam.

– Isabela venha aqui, por favor.


Estou com duvidas sobre sua nota –
ele falou, com um tom tão formal
que por um segundo eu não entendi
com quem ele estava falando.

Ela olhou na direção dele.

– Estou escrevendo ainda.

– Não vai demorar, só preciso que


você me explique o que quis dizer
nessa questão.

Todos da sala estavam em silencio


agora, esperando pela resposta
dela.

Por fim, ela se levantou e foi até ele


devagar, irritada por ser obrigada a
fazer isso.

Observei enquanto eles


sussurravam um para o outro, tão
inaudíveis que nem mesmo o
Daniel, o

garoto que sempre sentava na


primeira cadeira da fileira bem na
frente da mesa do professor,

conseguiu ouvir.

Alguns segundo depois, ela se virou


novamente e, em vez de voltar para
seu lugar, abriu a porta e

saiu da sala.

Olhei para o professor com cara de


interrogação, esperando que ele
desse alguma dica do que tinha

acontecido.

– O que vocês estão olhando?


Voltem para suas tarefas – mandou,
autoritário como um Hunter.

Me entreolhei com as meninas e


todas pareciam saber tanto quanto
eu. Pelo jeito só depois da aula

para descobrirmos.

Mas ela não voltou depois da aula.

Assim que o sinal que avisava que


as duas primeiras aula havia
terminado tocou, fui com as
meninas

para porta, esperando que a Isabela


aparecesse a qualquer momento. E
nada aconteceu. Nem sinal

dela.

– Onde será que ela foi? – A


Amanda perguntou intrigada.

– Talvez ela tenha ido conversar


com ele – falei pensativa.

– Ou ido para um canto chorar –


Gabi rebateu preocupada.

Eu estava prestes a dizer que a


gente devia ir ao banheiro procurar
ela quando o teacher Bernardo

apareceu, sorrindo para nós.


– Podem ir entrando, o show vai
começar – ele pediu com aquele
velho tom de animação na voz.

Fizemos o que ele mandou. Não


tinha como argumentar contra o
teacher Bernardo; as aulas dele

realmente eram um show.

Fomos para nossos lugares,


dividindo a atenção entre a porta e
o professor.

– Como nossa ultima aula foi de


assunto novo, vamos relaxar um
pouco nessa. Que tal algumas
músicas internacionais para vocês
traduzirem enquanto eu corrijo seus
livros?

Batemos palmas em concordância.


Ele sabia exatamente o que um
aluno queria fazer.

Juntei minha cadeira com a Bia


enquanto ele colocava Blank Space
da Taylor Swift para tocar e nos

entregava uma folha com a letra em


inglês para traduzirmos.

– Adoro essa música – Bia


comentou enquanto pegava seu
lápis no estojo.

Concordei com a cabeça e


começamos a cantar baixinho junto
com a Taylor, traduzindo as partes

óbvias primeiro.

Então a porta se abriu subitamente e


todos levantaram a cabeça,
esperando que fosse a Isabela.

Mas era o Richard.

Olhei confusa para o garoto


ofegante que entrava correndo na
classe, sem sequer pedir licença
para o professor, e vinha na nossa
direção, olhando fixamente para
Bia.

– Eu passei. – Ele falou quase sem


folego, apoiando-se na banca dela
para conseguir respirar melhor.

– Eu passei, Bia, agora eu sou um


aluno da universidade de
Cambridge.

Ela arregalou os olhos para ele.


Cambridge está entre as 10
melhores universidades de todo o

mundo.

– Você vai para a Inglaterra – ela


sussurrou mais para si mesmo do
que para ele.

Ele desviou os olhos.

– Eu sei... E eu sinto muito mesmo,


mas não posso deixar de aceit...

Ela negou com a cabeça e o


abraçou com força, como se a
qualquer segundo ele pudesse pegar
um

avião e ir embora.

– Eu não poderia estar mais


orgulhosa.
Ele se afastou um pouco para poder
olhar para ela. A música tinha
acabado e agora tocava Thinking

out loud do Ed Sheeran, como uma


trilha sonora perfeita para o
momento.

– E o que vai acontecer com a


gente? O curso é de seis anos, Bia.

Ela balançou a cabeça e o abraçou


novamente.

– Não vamos falar disso agora, ok?


Existe coisas mais importantes para
se pensar.
– Como o que? – Ele perguntou
confuso.

Ela sorriu.

– Como o fato de eu amar você.

Ele mordeu o lábio inferior e a


abraçou com mais força, ignorando
completamente todos ao seu

redor.

O professor tossiu para chamar


atenção.

– Me desculpem por atrapalhar o


momento, mas...
A Bia corou violentamente e se
afastou dele, lembrando-se naquele
momento de que havia dezenas de

pessoas olhando para ela.

– Na hora do intervalo falamos


sobre isso – O Richard avisou, se
virando para ir embora. – E só

para não deixar passar: Eu também


amo você.

[...]

Quando o sinal tocou para o


intervalo, praticamente pulei da
cadeira e fui para a porta, ansiosa
para saber o que aconteceu entre o
professor e a Isabela. Correndo
com as meninas até o pátio.

Enquanto isso, Bia passou direto


por nós, indo direto para o prédio
do terceiro ano falar com o

Richard. Ela havia ficado


extremamente silenciosa depois que
ele saiu da sala. Não posso culpá-
la.

Seu namorado iria morar na


Inglaterra por seis longos anos. E
quando eu fui perguntar como
ficariam
as coisas, ela simplesmente me
disse que daria um jeito, decidida.

– EI, MENINAS!

Nos viramos, dando de cara com a


Isabela, que sorriu radiante para
nós.

– O que aconteceu? – Elena


perguntou curiosa.

Ela correu até a gente e fechamos


uma rodinha para ela poder falar
sem ninguém ouvir.

– O Cavalcante, meu Deus, ele


explicou tudo.
– Do que você está falando? –
Perguntei.

– Ele me ama, Susan. Ele fingiu


ficar bebado para que o diretor não
descobrisse a verdade e não o

demitisse, pois ele não conseguiria


ficar longe de mim. E ele sabia que
eu só seria suspensa por no

máximo dois dias, e que ele


voltaria depois para o emprego. Ele
fez isso para me proteger. Para

proteger nós dois. Mas ele também


admitiu que estávamos fazendo algo
errado, e decidiu que iria

esperar. Ele vai esperar eu


completar 18 anos para que
possamos voltar. E por isso ele não
podia

perder o emprego, pois ele


precisava me ver. Assim como eu
preciso ver ele. Então, a partir de
hoje, nós seremos amigos.
Professor e aluna. Sem nenhum tipo
de relacionamento, mas nutrindo
esse

sentimento até que chegue o


momento de deixarmos as coisas
acontecerem de novo. – Ela fez uma

pausa para respirar. – Ele me pediu


perdão tantas vezes que eu perdi a
conta. E ele disse que não

conseguiu pensar em nada melhor


no momento, que conseguisse
encobrir o erro de ambos. Ele falou

que até tentou me ligar para


explicar tudo poucas horas depois,
mas eu não atendi e ele decidiu que

iria esperar para contar


pessoalmente. Ele não é um cretino.
Vocês têm noção de como isso
muda

tudo?

Olhei para ela surpresa. Eu


realmente não esperava por essa.

– E você vai esperar?

– São apenas oito meses, Clara. Eu


espero. Ele espera.

Sorrimos com a felicidade dela e


nos abraçamos em grupo, dando
alguns pulinhos de animação.

As coisas estavam dando certo para


quase todo mundo.
[...]

Bia não falou nada durante as aulas


depois do intervalo. Nem uma
única dica do que iria fazer em

relação ao Richard.

Enquanto isso, Isabela parecia


dançar de alegria. O professor
Cavalcante foi realmente muito
esperto em seu plano, e agora eu me
perguntava como não pude ter
pensado nisso; na possibilidade de
existir

uma segunda intenção do que ele


havia feito. As pessoas sempre
escondiam seus reais interesses.

Mas, pelo menos, ela estava feliz. E


eles iriam ser um casal um dia –
daqui a oito meses, para ser

exata.

E era em tudo que eu estava


pensando quando o professor PH
finalmente disse que estávamos

liberados, alguns minutos mais


cedo do que o normal.

Saltei da cadeira e fui até a porta.


Senti alguém atrás de mim e girei o
corpo para olhar quem era.

Michael.

Ele sorriu e abriu a porta para eu


passar.

– Dia agitado hoje.

Soltei uma risada e assenti com a


cabeça.

– Já me acostumei.

Ele riu também e me acompanhou


até a porta do colégio, esperando o
Joshua.
– Então, o que aconteceu com
Isabela e o professor Cavalcante?

– Eles se amam – respondi sem


muitos detalhes. Isso bastava. Isso
explicada tudo e mais um pouco.

Ele levantou uma sobrancelha.

– E o que exatamente isso


significa?

– Que as coisas vão dar certo no


final.

Ele não pareceu satisfeito com a


resposta, mas não rebateu. Nesse
momento, eu sabia que ele estava
pensando na Anna – e em como as
coisas com ela não deram certo no
final – e me perguntei se

algum dia ele conseguiria falar dela


normalmente, como a maioria das
pessoas falam de seus ex-

namorados.

Espero que sim.

Michael merece essa sorte.

Ficamos em silencio por alguns


minutos, cada um com seus
próprios pensamentos sobre tudo o
que
aconteceu.

Então, o carro do Joshua dobrou a


esquina e estacionou segundos
depois na nossa frente, quase que

gritando por atenção.

Me virei para ver o Nicolas se


despedindo do Felipe com um beijo
na bochecha – tão próximo da

boca que eu tive que pensar por um


segundo para ter certeza de que não
era um selinho – e depois

vindo sorridente em nossa direção.


Assim que entramos em casa eu me
sentei no sofá, pensando no que
tinha acontecido no colégio.

– Ei Michael, daqui a uma semana é


seu aniversário! – Ouvi o Nicolas
comentado enquanto se

sentava na poltrona.

Olhei surpresa para o Michael.

– Vai fazer festa?

Ele riu, negando com a cabeça.

– Não mesmo.
– Por quê? Eu posso perguntar pro
Bruno o nome do DJ que ele
contratou para a festa dele – Joshua

se ofereceu, se sentando ao meu


lado no sofá.

– Não precisa, sério. Eu não me


importo com esse dia.

Lá no fundo, ele parecia triste por


isso.

Joshua se levantou num pulo e


estralou os dedos, tendo uma ideia.

– Que tal se começássemos a


comemorar agora mesmo?
Michael estreitou os olhos para ele,
intrigado.

– No que você está pensando?

Joshua sorriu e se virou para a


porta.

– Sigam-me.

Ele saiu da casa, parando na


entrada para esperar por nós. Me
levantei e fui até ele, com os outros

dois Hunter me seguindo.

– Duas ideias em dois dias; isso é


algum tipo de recorde? – Michael
perguntou com um sorriso

travesso no rosto.

Joshua fingiu que não ouviu e foi


até o jardim, parando em frente ao
campo de futebol.

– Que tal uma partida?

– O que você está aprontando,


Joshua? – Nicolas perguntou
curioso.

– Nada, é claro. – Ele olhou em


volta, procurando alguma coisa. –
Será que ainda temos uma bola?
Michael negou com a cabeça,
envergonhado.

– Eu joguei ela na rua quando tinha


14 anos.

Joshua girou o corpo e olhou para


ele, abrindo a boca para falar
alguma coisa.

Então a campainha tocou.

Joshua arregalou os olhos,


surpreso. Sua respiração pareceu
falhar por um segundo, mas ele

rapidamente voltou ao seu estado


normal. Estranho.
– Atenda por favor, Michael.

O irmão mais novo assentiu e foi


em direção a porta.

Observei enquanto ele pegava a


chave no carteiro e parava em
frente a porta.

– Quem é?

Um segundo de silencio.

E Michael já estava se virando para


nós quando finalmente
responderam, com um tom trêmulo;

– Michael?– Uma voz feminina


perguntou com nervosismo. – É a
Anna.

43. Anna

Michael se virou para nós, com os


olhos arregalados de surpresa.
Joshua se limitou em assentir com

a cabeça em resposta.

Então, lentamente, Michael


destrancou a porta e a abriu, se
distanciando em seguida com algo

parecido com medo.

Não pude ver quem apareceu atrás


da porta, mas foi o suficiente para
fazer o Hunter dar outro passo

para trás.

– Anna... – Ele começou a falar,


apreensivo – O que você...?

Ele inclinou a cabeça para baixo no


meio da frase, olhando fixamente
para alguma coisa. Notei suas

mãos se fechando em punhos.

– Mamãe, esse é o tio Nicolas ou


tio Michael? – Uma voz doce e
infantil perguntou.
Senti todos os pelos do meu corpo
se arrepiando e olhei para o Joshua.
Ele olhou para mim de volta.

– Meu filho – sussurrou baixinho. –


E eu cheguei a pensar que ele não
existia...

Ele deu um passo em direção à


porta, mas eu o impedi, o puxando
pela mão.

Nicolas olhou para nós.

– Concordo com a Susan, você não


deveria atrapalhar a conversa
agora, Joshua.
Joshua ficou imóvel, olhando para
o irmão mais novo que estava à
metros de distância.

– É o tio Michael – Anna respondeu


por fim.

– É... – Michael murmurou ainda


olhando para baixo. – Vocês...
Querem entrar?

– Se não for um incômodo... – Anna


respondeu e, nesse momento, eu
percebi por que ela havia

conquistado dois Hunter; tudo em


sua voz era sexy e amável, como
uma série de flertes a cada sílaba

pronunciada. Eu nem precisava vê-


la para saber que ela era bonita.

Michael, no entanto, continuou sem


se mexer.

– Ele não vai nos deixar entrar? – A


voz infantil perguntou confusa.

– Ele vai, filho, é só que...

– Eu não estava esperando por isso


– Michael completou.

Ele deu um passo para o lado,


dando espaço para eles entrarem.
Joshua foi até eles.

Eu e o Nicolas o seguimos
instantaneamente.

Parei no segundo que a vi. Ela era


linda. Não linda de um jeito
tradicional, como as meninas que

passam pela rua e atraem apenas


alguns olhares. Ela era muito mais
do que isso.

Ela era de tirar o fôlego.

Seus olhos eram levemente


esverdeados e brilhavam em
contraste com sua pele bronzeada e
seu

cabelo longo e escuro, liso na raiz e


levemente ondulado nas pontas.

E ela não se parecia comigo.

Tudo nela era melhor, mais bonito.


Ela era uma versão melhorada de
mim mesma.

– E esse quem é? – A criança


perguntou olhando para o Joshua.

Anna olhou para o Michael como se


pedisse desculpas antes de
responder;
Seu pai.

✣Michael✣

Ele era loiro, foi a primeira coisa


que pensei ao vê-lo.

Seu cabelo era dourado e liso,


como o do pai. Enquanto sua boca
era desenhada e levemente rosada,

exatamente como a da mãe.

E ele seria a mistura perfeita deles


dois se não fossem pelos olhos.

Verdes-mar, como os da mamãe.


Como os meus.

Eu simplesmente não conseguia


desviar daquele par de olhos
curiosos e brilhantes.

Ele poderia ser meu filho.

Nicolas se apressou em se ajoelhar


em frente a ele, sorrindo. Ele
empatava com a Susan no quesito

de melhor pessoa naquele grupo.

– Qual seu nome, lindinho? –


Perguntou.

A criança sorriu por ser finalmente


o centro das atenções. Ele tinha o
ego do Joshua.

– Micael e o seu?

Meu coração deu um salto. Eu


conhecia esse nome.

Uma vez, quando era menor, a


professora mandou a gente procurar
a origem dos nossos nomes. E eu

descobri que Micael é Michael em


hebraico, o idioma original do meu
nome – Mikhael.

E Anna sabia disso.


– Nicolas – respondeu. Mas eu não
estava mais ouvindo.

– Precisamos conversar – falei


desviando minha atenção para a
Anna. Ela parecia um milhão de

vezes mais bonita hoje em dia do


que quando a conheci.

Ela ajeitou a postura.

– Mica, que tal ir brincar um pouco


com seu tio Nicolas? Eu chego já –
disse em um tom

extremamente maternal e adorável.


O garoto sorriu com um ar travesso
e puxou meu irmão pela mão,
correndo para o campo de futebol.

Quando eles saíram de vista, nos


entreolhamos.

– Susan – Joshua chamou.

– Oi?

– Será que você poderia nos dar


lince...

– Não – interrompi –, ela fica.

Eu não podia deixar ela ir embora


por dois motivos; 1) Ela merecia
ter conhecimento de toda e

qualquer coisa dita naquela


conversa, e 2) Ela era, de longe, a
pessoa que eu mais confiava ali.

Mas, é claro, eu nunca contaria isso


para alguém.

Todos os três olharam surpresos


para mim, mas ninguém contestou.

– Venham, vamos falar lá dentro –


Joshua falou apontando para casa.

Assentimos e o seguimos até a


entrada. Notei os olhos da Anna se
fechando por alguns segundos
quando ela passou pela porta.
Imagino quantas centenas de
lembranças estavam passando pela
mente

dela nesse exato momento.

Me sentei na poltrona em frente ao


sofá – eu não queria ficar ao lado
de ninguém agora. Susan e

Joshua se sentaram bem na minha


frente e a Anna na diagonal, mais
próxima de mim.

– Então, quem começa falando? –


Perguntei cruzando os braços.
– O que exatamente você quer
saber? – Joshua perguntou
estreitando os olhos para mim.

– Tudo. Antes, durante e depois –


expliquei e me virei para Anna. –
Prefiro que você comece. Eu já

ouvi a história do Joshua antes.

Ela respirou fundo antes de


começar a falar.

– Primeiro de tudo, eu realmente


sinto muito por...

Neguei com a cabeça, impedindo-a


de continuar.
– Não quero pedidos de desculpas.
Não preciso disso. Eu quero apenas
a verdade – falei com um

tom frio e sério. Lá estava o


Michael mal de novo, se erguendo
como um muro para que as pessoas

não enxergassem o que eu estava


sentindo.

– Ah Michael... Tudo bem, se é


assim que você quer – ela suspirou
antes de falar. – Nada daquilo

estava nos meus planos. A única


coisa que eu queria quando fui falar
com o Joshua naquela tarde era

conseguir entender porque um


garoto que havia sido tão legal
comigo no primeiro dia
simplesmente

parou de me enxergar de uma hora


para outra. Eu sentia, sabe? Eu
notava o jeito como o Joshua

desviava o olhar quando eu passava


e não respondia nem mesmo que
horas eram para mim. E quando

eu o vi sentado no sofá, sozinho,


vendo TV, cheguei na conclusão de
que aquele seria o momento

perfeito para conversar com ele;


para entender o que aconteceu.
Então eu fui lá e me sentei ao lado

dele, puxando assunto. E ele, para


minha surpresa, retribuiu depois de
poucos segundos, como se

estivesse decidindo com si mesmo


se iria ou não falar. Nós
começamos conversando sobre o
Nicolas

e não me lembro mais o quê,


quando, de repente, eu senti o que
estava acontecendo. Eu senti o
clima.

E eu saí, Michael, eu me levantei,


dei uma desculpa qualquer e fui
direto para meu quarto, porque eu
não podia sequer pensar na ideia de
sentir alguma coisa pelo seu irmão.
Mas ele bateu na porta mais

ou menos um minuto depois de eu


ter entrado no quarto. E eu juro que
abri a porta para mandá-lo ir

embora, mas não consegui. A coisa


que eu mais me arrependo na vida é
de ter aberto aquela maldita
porta. – Ela fez uma pausa por um
segundo, olhando fixamente para
mim. Desviei os olhos. Não sou

forte o bastante para a olhar


diretamente. – O que aconteceu
durante você já sabe. Não
conversamos

nenhuma vez. As coisas


simplesmente aconteceram. Tanto
que, alguns minutos antes de você
entrar no

quarto, eu estava dizendo para o


Joshua que éramos dois idiotas.
– E eu estava concordando com
isso – Joshua completou com algo
parecido com vergonha, mas não

exatamente. Joshua não sentia


vergonha de nada.

Assenti com a cabeça, fingindo uma


indiferença que na verdade eu não
sentia. Eu estava em choque.

Tudo aquilo era novo para mim.

Meu coração borbulhando era algo


novo para mim.

Eu já tinha me acostumado em não


sentir nada por ninguém, já tinha me
acostumado em estar sempre

do mesmo jeito por dentro.

E lá estava a Anna de novo,


fazendo eu sentir as coisas. Isso não
era justo.

– E depois? – Perguntei.

Joshua passou no cabelo,


incomodado.

Ele era tão previsível.

Balancei a cabeça tentando afastar


o pensamentos contra ele.Você o
perdoou, o Michael bom lembrou
para o resto da minha mente.

– Nós paramos de nos falar. Ela me


odiava e eu não suportava a ideia
de ter trocado um irmão por

uma única noite. Nos sentíamos tão


culpados que passamos a sequer
nos olharmos, como se um não

existisse para o outro, e como se,


assim, pudéssemos perdoar a nós
mesmos – ele olhou para a

Anna. – E isso continuou até mais


ou menos três semanas depois,
quando, numa manhã, ela veio falar
comigo chorando. Ela me disse que
estava grávida. E eu fiquei com
tanta raiva, Michael. De mim

mesmo principalmente. Como eu


pude deixar uma merda dessas
acontecer? Eu não conseguia pensar

num jeito de lidar com isso. Nossos


pais iriam me matar. Nicolas me
julgaria. E você... Ah, eu não

podia nem ter noção do quanto iria


doer em você ver meu filho com a
menina que você amou

crescendo. Então eu tive uma ideia


para que ninguém tivesse que lidar
com isso; a criança iria viver longe
de todos nós e, assim,
esqueceríamos que tudo isso um dia
aconteceu. Pensando assim, eu fui

para o meu quarto, imprimi as


passagens de avião e peguei
dinheiro do meu cofre, indo atrás
da

Solange em seguida, contando para


ela tudo o que aconteceu. E ela
aceitou, é claro. Era muito

dinheiro, Michael. Dei um pequeno


roteiro para ela falar aos nossos
pais e a avisei que a Anna não

poderia saber do que nosso acordo.


Mas você contou. Eu sei pelo jeito
como você não ficou surpreso

quando eu te disse o que aconteceu.


Você sabia, Michael. Você sempre
foi esperto.

– E depois disso? – Insisti,


ignorando completamente seus
elogios. Nada daquilo valia algo
para

mim.

– Durante uns dois dias eu até


conseguia lidar bem com tudo
aquilo, mas a culpa foi me
consumindo

aos poucos. No terceiro dia eu já


estava incapaz de dormir à noite.
Eu não parava de pensar que tinha
mandado meu filho para longe
como se ele fosse um peso, sem dar
a mínima para onde ele tinha ido

parar e como ele estava. Eu


abandonei meu próprio filho,
Michael. Tem noção de como isso é

perturbador? De como eu me senti


um monstro? Era mais do que eu
podia suportar. Então eu decidi

tomar uma providência. Liguei para


a Solange pedindo os dados da
Anna, como o CPF e o número

do celular, e ela me passou sem


fazer muitas perguntas. E com isso
eu abri uma conta para o meu

filho em nome da Anna,


depositando uma certa quantia de
dinheiro todos os meses e
aumentando

mais do que o dobro em Outubro,


pois seria o aniversário do meu
filho e eu queria que ele tivesse um
bom presente e uma festa de
verdade. Eu sempre me importei
com ele, mesmo sem saber seu
nome ou

seu sexo ou até se ele existia


mesmo. Porque eu não poderia
correr o risco dele ter uma infância

menos do que perfeita. Eu sempre o


amei, Michael.

Lá no fundo, eu não estava


surpreso. Eu já tinha ouvido algo
entre ele e Anna em uma de suas
conversas pelo telefone. Mas eu
jamais imaginei que ele pudesse ser
tão paternal. Na verdade, isso

nunca sequer passou pela minha


cabeça. Joshua nunca foi uma
pessoa sentimental.

– E você, Anna? – Perguntei me


virando para ela.

Ela respirou fundo antes de


responder, lembrando. Havia
muitas coisas para serem
lembradas.

– No começo, eu fiquei
desesperada. Eu só tinha 15 anos.
Tudo aquilo era muito para mim e
cada dia

parecia pior do que o outro, com


todas as pessoas me julgando sem
pena. Mas eu tentava não ligar,

sabe? Por mim, pela minha família,


mas principalmente pelo meu filho.
Eu não queria que ele tivesse

uma mãe mal falada. Então eu


comecei a me comportar de
maneira exemplar, ajudando as
pessoas e
tirando as maiores notas na escola.
E, aos poucos, as pessoas
começaram a se calar e perceberam

que eu era apenas uma garota boa


que havia cometido um erro bem
grande. E os amigos começaram a

aparecer em massa para mim. As


coisas começaram a dar certo. E
quando eu descobri que a criança

que eu aguardava seria um menino,


automaticamente me lembrei do dia
que nós estávamos

conversando e você me disse que


Micael era Michael no idioma
original. Eu nem pensei duas vezes

antes de decidir que esse seria o


nome dele, em sua homenagem.
Porque eu te amava tanto, tanto.

Nem eu tinha noção do tamanho


disso.

Desviei os olhos, incomodado com


o rumo da conversa. Não queria
falar de amor com a Anna. Eu

não estava preparado para isso.

Ela percebeu minha movimentação


e suspirou um pouco frustrada.
– Então ele nasceu. E eu nunca
pensei que pudesse amar tanto
alguma coisa. Ele sempre valeu o

sacrifício. Durante mais ou menos


dois anos eu consegui lidar bem
com tudo, mas depois um tempo

eu fiquei cansada. Minha mãe era o


principal motivo para isso. Ela
nunca me dava folga; ela parecia

ter raiva de mim por tudo que


aconteceu e nós brigávamos quase
sempre. Então, em janeiro, quando

eu fiz 18 anos, eu sai de casa. Tirei


minha carteira de motorista, aluguei
um apartamento, entrei numa
faculdade e arranjei um emprego de
meio período para...

– E quem cuida do Micael enquanto


você faz tudo isso? – Joshua a
interrompeu no mesmo segundo.

Ela olhou surpresa para ele.

– Ele tem uma babá fixa desde que


ele era apenas um bebê – explicou.
– Ela cuida muito bem dele.

Joshua se levantou do sofá, irritado.

– Então quer dizer que você


simplesmente jogou a
responsabilidade de cuidar dele
para uma babá

enquanto passa o dia todo fora?

Ela se levantou também, na


defensiva.

– Eu não disse isso! Micael está


tendo uma ótima infância.

– Sem pais presentes? Ah deve ser


ótimo mesmo – Joshua falou com
ironia.

– A culpa não é minha que você


nunca sequer se deu o trabalho de ir
visita-lo!

– VOCÊ NUNCA ME DEU ESSA


CHANCE! Você nunca nem me
disse o nome dele, quem dirá me

convidar para ir vê-lo!

Eles estavam gritando um com o


outro como se fossem um casal.

Senti os pelos da minha nuca se


arrepiando.

– SE VOCÊ TIVESSE O MÍNIMO


DE CONCIÊNCIA IRIA ATRÁS
DELE, JAMES.
– Mas...

– Você que nunca deu a mínima


para isso! Você sempre achou que
dinheiro pagaria a sua ausência,

mas não paga, Joshua. Dinheiro não


significa nada.

– Então por que você trabalha ao


invés de ficar com ele? – Ele
retrucou furioso.

– Porque eu quero que ele tenha um


futuro brilhante. E eu não trabalho a
semana inteira. Todos os fins de
semana nós saímos para algum
lugar e sempre viajamos nas férias.
Eu sou uma boa mãe.

Joshua bufou com raiva.

– Eu também quero isso para ele,


mas não acha que seria muito pior
ele ter um pai que nunca ver do

que simplesmente achar que não


tem um? Ele não pode sentir falta
de algo que não sabe que existe.

– Mas eu posso. E eu nunca escondi


sua existência dele, Joshua. Ele
sabe que aconteceu alguma coisa

no passado que fez com que o pai


dele fosse para longe, porque eu
não posso apagar isso. E eu não

quero que ele viva uma mentira.

Joshua deu um passo para trás.

– Você falou de mim para ele?

– Ele é esperto. Ele notou algo


errado quando todos os coleguinhas
dele levaram alguém para o Dia

dos Pais e ele não.

– Eu não sabia... – Ele abaixou os


olhos. – Eu não sabia que estava
sendo um idiota em não ir até
vocês. Isso nunca passou pela
minha cabeça. Eu... Eu sinto muito.

Olhei para ele sem acreditar.

Joshua nunca pedia desculpas.

Anna também ficou surpresa, tanto


que desviou os olhos dos dele.

– Tudo bem... Ele não tem nem três


anos ainda... As coisas podem
mudar a partir de agora – Ela

murmurou baixinho, tímida.

– Eu vou dar o meu melhor.


Eles se olharam ao mesmo tempo e
eu senti um arrepio descendo pela
minha coluna. Eles pareciam

marido e mulher.

Susan se levantou, olhando


fixamente para a Anna.

– Então, você tem namorado? – Ela


perguntou com ciúmes escorrendo a
cada palavra.

Sorri com o canto da boca,


impressionado. Susan nunca se
intimidava com alguém.

Joshua olhou para ela no mesmo


segundo e andou até ficar ao seu
lado, passando a mão pelo seu

ombro como se pedisse desculpas


pela cena.

– Eu namorei há mais ou menos um


ano com um garoto que era amigo
meu, mas não deu certo. Eu não

conseguia sentir o amor que ele


sentia por mim, sabe? Eu tive que
terminar, porque era como se eu

tivesse o usando ou algo assim.


Meu coração não estava preparado
para outra pessoa ainda.
Ela olhou para mim.

Mordi o canto da boca para não


gritar com ela. Isso era tão
estupidamente injusto. Tudo isso.
Eu, ela, o Joshua, o filho deles, até
mesmo a Susan parecia perder com
o que estava acontecendo.

– Tem mais alguma coisa que você


quer saber? – Ela perguntou para
mim.

Pensei um pouco.

– Por que você está aqui?

– Joshua me chamou. Ele disse que


nós três precisávamos dessa
conversa. Acabar com isso de uma

vez por todas. E eu vim, é claro. Eu


concordava com ele.

– E você acha que deu certo? –


Perguntei com uma sobrancelha
levantada.

– Você quem pode responder a isso.

Soltei um suspiro.

– Eu não sei o que dizer; ou o que


pensar. Eu não faço a menor ideia
do que está acontecendo aqui –
confessei. – Eu ainda não consigo
acreditar que você está na minha
frente agora mesmo. Isso não

parece real para mim.

Os olhos dela brilharam como se eu


a tivesse elogiado.

Mas o que eu falei não foi um


elogio.

Ela parecia um pesadelo se


tornando realidade.

– O que isso quer dizer? – Ela


perguntou com um ar de malícia.
Tudo nela era um grande flerte.
– Não estava nos meus planos
conhecer meu sobrinho hoje –
respondi friamente.

Seus olhos estreitaram por uma


fração de segundo. Não passou pela
cabeça dela que eu diria isso.

Mas eu não iria facilitar as coisas.

– Que tal nós comermos alguma


coisa? – Susan perguntou para
aliviar o clima. – Estamos

conversando a um bom tempo.

Olhei para ela com gratidão.


– Ótima ideia.

Joshua assentiu com a cabeça e


retirou os braço do ombro da
Susan, pegando seu celular do
bolso em

seguida.

– Querem pizza?

– Claro – Susan respondeu antes de


todos, com um sorrisinho no rosto.
Ela era tão apaixonada.

– Vou perguntar para o Nicolas se


ele quer também – Joshua falou
indo para a porta.
Anna foi até ele.

– Eu vou com você.

Eles se olharam por um segundo


antes de passarem pela porta,
juntos.

Susan fez cara de nojo.

– Você viu o jeito como eles se


falam? – Ela perguntou quando ele
saíram de vista. – Eles parecem

um casal! Isso é tão irritante.

– Concordo, mas não precisa ficar


com ciúmes. Ele ama você.
Ela respirou fundo.

– Eu sei, mas... É chato, sabe? Eles


têm um filho juntos.

Dei de ombros.

– Se isso não significa nada para


eles, não devia significar para você
– falei tentando convencer a

mim mesmo também.

Ela andou até mim e se inclinou


antes que eu pudesse dizer alguma
coisa. Seus braços passaram

pelos meus ombros e ela me


abraçou. Senti todos os meus
músculos tensionados e me mantive
imóvel

por alguns segundos.

– Obrigada – sussurrou no meu


ouvido, como um segredo.

Me levantei para poder abraçá-la


melhor. Minhas mãos se firmaram
em sua cintura e ela me puxou

para perto, com a cabeça em meu


ombro.

– Obrigado a você – retruquei


enquanto apoiava minha cabeça na
sua.

Ficamos assim por alguns


segundos, cada um com seu próprio
pensamento. Eu estava abraçando a

Susan. Quantas coisas inesperadas


podem acontecer durante 24 horas?
Isso deve ser algum tipo de

recorde.

– Nunca pensei que abraçaria


Michael Hunter assim um dia – Ela
comentou e pela sua voz eu podia

saber que estava sorrindo.


– Ah, eu sou irresistível.

Ela riu e se afastou de mim, com os


olhos brilhando.

– Claro. Tanto que a Anna só voltou


para você pegar ela de novo – ela
falou rindo.

Mordi o lábio inferior enquanto


pensava na ideia.

– Isso iria dar uma merda tão


grande – falei enquanto analisava a
possibilidade. – Ela não mora aqui,
Susan. Eu só iria me apaixonar e
perdê-la como na ultima vez. Não
quero passar por aquilo

novamente.

Ela desviou os olhos.

– Não sei o que dizer.

– Não precisa dizer nada. Eu só...


Isso está sendo mais difícil do que
eu deixo transparecer.

– Eu sei. Você sempre soube


esconder seus sentimentos muito
bem.

– Anos de prática – rebati.


Ela abriu a boca para responder,
mas foi interrompida pelo barulho
da porta se abrindo. Nos

viramos. Micael entrou correndo e


rindo, chegando onde estávamos em
uma fração de segundo.

– Ei ei, bora brincar de esconde-


esconde? Todo mundo aceitou só
faltam vocês dois – ele disse com

a voz animada.

Susan e eu nos entreolhamos,


sorrindo.

– Com toda certeza! – Ela


respondeu com o mesmo tom de voz
de animação. – Quem chegar
primeiro

no jardim conta.

Ele soltou um gritinho e saiu


correndo para fora da casa.

O seguimos, rindo da situação.

Susan me empurrou no caminho


para que eu chegasse por ultimo e
riu vitoriosa quando me viu

cambaleando para trás, perdendo


tempo. Tentei alcançá-la, mas era
tarde demais. Cheguei quase
cinco segundos depois que eles no
jardim. Micael soltou uma risada
maldosa.

– Você conta! – Ele falou com


diversão.

Suspirei com falsa tristeza e me


virei para parede ao meu lado,
fechando os olhos em seguida.

– Até quanto? – Perguntei.

– 50 – Ouvi a voz do Nicolas


respondendo.

Sorri. Ele era uma criança.


Contei até cinquenta devagar,
ouvindo passos em vários lugares
atrás de mim. Talvez eu também
seja

uma criança.

– 49... 50! Lá vou eu! – Gritei


enquanto abria os olhos e me virava
para um jardim completamente

vazio. – Vocês são bons.

– Sei disso – ouvi uma voz infantil


responder ao longe.

Ri e fingi que não tinha ouvido.


Andei para o lado contrário da voz,
indo para a quadra.

Ouvi passos rápidos atrás de mim e


me virei bem a tempo de ver a
Anna correndo para bater na

parede. Corri até ela alta


velocidade e praticamente me
joguei para impedi-la. Minha mão a
puxou

para o lado e ela se desequilibrou,


me levando junto para o chão. Cai
por cima dela, rindo.

Então me dei conta da situação.

Senti minhas bochechas queimando


no mesmo segundo e me levantei
depressa, limpando as mãos na

barra da calça. Ela continuou


deitada na grama, olhando
fixamente para mim.

Ela era tão sexy.

– Senti saudades – ela falou


baixinho.

Respirei fundo, tentando controlar


minha respiração.

– Me ajude a procurar os outros –


disse para tentar mudar de assunto.
Ela deu de ombros, sorrindo com
malícia.

– Já achei o que eu queria.

A observei por um segundo.

Tudo nela era perfeito. Suas curvas,


seus olhos, seu sorriso, sua boca.
Até sua voz parecia

programada para fazer alguém de


sentir bem.

Nem precisei pensar antes de


responder;

– Mas eu não achei ainda.


44. Notícias

Corri para longe do Michael,


procurando um lugar para me
esconder.

Enquanto isso, minha cabeça estava


quase explodindo de informações.

Micael, Michael, Joshua, Anna.

Eu ainda estava decidindo quem me


preocupava mais quando senti algo
me puxando para o lado pela

mão.

Trombei meu corpo com o da


pessoa, assustada, e ouvi uma
risada doce em resposta. A
reconheci no

mesmo segundo.

– Joshua, meu Deus, que susto! –


Reclamei enquanto me afastava
dele.

Ele riu por mais alguns segundos


antes de responder.

– Jurava que você tinha me visto,


mas pelo jeito você estava em outro
planeta.

Dei de ombros, andando até ficar


ao lado dele, escondida colada a
uma parede branca.

– Tenho muitas coisas para pensar –


retruquei enquanto sentia sua mão
se entrelaçando com a minha.

Ele desviou os olhos.

– Eu ia falar sobre isso agora... Eu


sinto muito por você ter que passar
isso, de verdade.

– Não precisa se desculpar.

– Preciso sim – ele rebateu no


mesmo segundo –, não deve ser
nada divertido ver seu namorado
brincando com o filho dele, mas eu
juro que, se pudesse controlar, nada
disso estaria acontecendo.

Eu fui um idiota no passado e me


desculpa mesmo por isso interferir
no nosso presente.

Seus olhos foram para os meus e eu


percebi o quão culpado ele estava
se sentindo. Me aproximei

dele, colocando as mãos em sua


nuca e me erguendo para poder
olhá-lo da mesma altura.

– Tá tudo bem, Joshua – falei, mas


lá no fundo eu não sabia se estava
sendo sincera.

Ele negou com a cabeça, olhando


para baixo.

– Era por isso que eu não queria


chamá-la, Susan; não era só pelo
Michael. Eu não conseguia sequer

imaginar como você se sentiria.

– Eu... Estou lidando bem com isso,


eu acho. Poderia ser pior, sabe?
Mas não é tão ruim assim. É

apenas confuso e novo, como toda


essa história para mim – confessei
baixinho, quase sussurrando.

Ele assentiu compreensivo.

– O que eu preciso fazer para


melhorar isso? O que eu preciso
dizer para te fazer sentir melhor? –

Ele perguntou olhando para mim


novamente, seus olhos brilhando de
determinação.

Sorri.

– Apenas diga que me ama, Joshua.

Ele sorriu, revirando os olhos.


– Mas falar isso é tão óbvio quanto
dizer que o céu é azul.

Estreitei os olhos para ele, fingindo


desentendimento.

– Então você não vai dizer?

Ele arregalou os olhos, surpreso.

– Claro que vou meu Deus, quantas


vezes você quiser – ele falou
acelerado, me puxando para mais

perto. – Eu amo você, Susan dos


Alvez. Eu amo, amo, amo, amo,
amo você. Eu amo você com todos
os significados que o verbo amar
pode ter. E eu vou amar você para
sempre – ele concluiu devagar,

olhando fixamente para mim.

Senti meus olhos marejando de


leve. Eu não conseguiria explicar o
que passava pelo meu corpo ao

ouvi-lo dizer isso, mas era algo


único, mágico. Ele me amava. Meu
coração explodia em meu peito

enquanto eu tentava formular uma


frase para respondê-lo à altura.

– Eu também amo você, caso você


esteja se perguntando, você não
pode imaginar o quanto.

– Claro que eu posso. Se for mais


ou menos o quanto eu te amo deve
ser infinito.

O sorriso em meu rosto aumentou


ainda mais. Ele era tão especial.
Tudo nele, para ser sincera,

parecia perfeito para mim.

– Mais alguma coisa que eu possa


dizer? – Perguntou, passando a mão
pelo meu cabelo suavemente,

me arrepiando. – Eu faço qualquer


coisa.

– Só... Me diga como você está se


sentindo, em relação a tudo isso.

Ele suspirou antes de responder,


sem parecer muito feliz pela minha
resposta. Mas era o que eu

queria saber. Eu não conseguia ter


noção do que se passava em sua
mente.

– É complicado, sabe? Tudo isso é


novo para mim também. – Ele deu
uma pausa, pensando em como

iria continuar. – Eu nunca pensei


que pudesse amar alguém dessa
forma. Mas lá está o Micael, rindo

e brincando, com o mesmo tom


loiro do meu cabelo e o mesmo
jeito levemente narcisista de falar

que eu tinha quando era criança. Eu


sou pai, Susan. Isso é tão
impactante para mim. E eu o amo
tanto.

Mas, não é da mesma forma que eu


amo você ou que eu amo a minha
mãe, é algo completamente

novo. Eu só quero colocar ele numa


caixa e protegê-lo de todo o mal.
Eu não suportaria a ideia de

vê-lo sofrendo ou chorando. Isso é


tão estranho. Eu mal o conheço. E
ele já é uma das coisas mais

preciosas de toda a minha vida.

Desviei os olhos. Não que aquela


resposta me surpreendesse, mas
mesmo assim era difícil ouvi-la.

Eu queria ser a mãe do Micael, do


filho do Joshua. E eu serei, é claro,
um dia, mas eu queria ter sido a
primeira a dar essa sensação a ele;
com o nosso filho.

– Eu entendo.

– Não, nem eu entendo. Eu não faço


a menor ideia do que está
acontecendo. A única coisa que eu
sei

é que eu gostaria de criá-lo com


você.

Por um segundo, fiquei surpresa.

– Sério?

Ele riu da minha reação.


– Eu queria que ele fosse nosso,
não da Anna. Ela não é o amor da
minha vida, Susan. Mas você é. E

se eu pudesse decidir alguma coisa


na vida, eu nos tornaria uma
família.

Em resposta, eu o beijei.

Não havia que pudesse ser dito. Eu


o amava. Simples assim. Como um
piscar de olhos ou uma

respiração, eu o amava com


naturalidade. E beijá-lo era o
melhor jeito de provar isso.
Deixando que

ele sentisse com o corpo todo o


meu amor por ele; já que alma não
fala.

Quando nos afastamos para


respirar, ele estava sorrindo de um
jeito quase bobo.

– Obrigado, Susan – ele sussurrou


para mim, inclinando-se. – Por
tudo, aliás.

Abri a boca para responder que não


precisava agradecer, quando
ouvimos um gritinho infantil
cortando o ar.

Micael correu até nós, rindo.

– Achei vocês! – Berrou ele ao nos


ver.

Joshua levantou uma sobrancelha,


com os olhos brilhando de fascínio.

– Eu achava que o Michael quem


tinha que procurar.

Micael deu de ombros.

– Ele pediu minha ajuda.

Joshua se ajoelhou para ficar da


altura do filho. De cima, dava
apenas para ver o par de cabelos

loiros e lisos.

– Então quer dizer que é você quem


as pessoas chamam quando não
conseguem concluir os

serviços?

A criança sorriu orgulhosa.

– Claro, Jayjay.

Ri junto com o Joshua do novo


apelido e me ajoelhei ao lado dele,
olhando para o Micael.
– Jayjay é? – Joshua perguntou
rindo alto.

– Joshua é muito sem graça – ele


retrucou com um gesto com as
mãos.

Joshua estreitou os olhos em uma


falsa irritação.

– É sem graça é? – falou


ameaçadoramente.

Micael riu com divertimento e


assentiu com a cabeça.

– Pois sabe de uma coisa que é


muito engraçada?
– O que?

Joshua o puxou pela mão no mesmo


segundo, o deitando no chão e
começando um ataque de cócegas.

Micael gargalhou, mexendo as


pernas para tentar parar o pai.

– Isso não é justo! – Gritou ele


enquanto o Joshua segurava suas
pernas e o colocava no colo, o

girando em seguida. Ele riu tão alto


que eu acabei rindo junto.

– Cuidado Joshua.
Me virei e vi Michael e Anna
andando até nós. Para minha
surpresa, foi Michael quem gritou.

– Ah maninho, eu sei o que estou


fazendo – Joshua rebateu enquanto
jogava Micael no ar e o pegava

fazendo a criança chorar de tanto


rir.

– Desde quando? – Michael


perguntou sorrindo, mas seu tom
falava sério. Michael e suas duas

personalidades.

Joshua se agachou e pôs o Micael


no chão, que começou a protestar
no mesmo segundo.

– Não, eu quero mais! – Pediu ele


fazendo beicinho.

Joshua riu.

– Depois, ok?

– Ok... Jayjay.

– Do que você me chamou? –


Joshua perguntou levantando uma
mão.

Micael soltou um gritinho e saiu


correndo no mesmo segundo.
Meus olhos foram até os do Joshua
e ele me perguntou sem palavras se
podia sair correndo também.

Sorri em resposta, eu estava


adorando ver esse lado paternal do
Joshua. Ele entendeu e foi atrás do

mais novo dos Hunter.

– Adorável, não? – Ouvi Michael


sussurrar ao meu ouvido.

– Acho que surpreendente que é a


palavra certa.

Ele sorriu e se afastou de mim.


– Vou ter que dar uma saída, mas
depois eu volto – avisou já se
virando para ir embora. – Tchau

Susan, tchau Anna.

Acenamos enquanto ele


desaparecia de vista.

– Acho que precisamos conversar –


Anna falou quando ouvimos o
barulho do portão sendo fechado.

– Concordo com você.

Ela deu um sorriso perfeito e me


guiou para dentro da casa – como
se ela morasse ali e não eu –, até
chegarmos ao sofá da sala. Me
sentei nele enquanto ela ia para a
poltrona, séria.

– Primeiro de tudo, como você


está? – Ela perguntou me olhando
com algo parecido com pena, mas

não exatamente. Solidariedade,


talvez.

– Bem – respondi mais seca do que


deveria.

Ela fez que sim a cabeça, pensativa.


Eu nunca me senti tão mais nova do
que alguém quanto agora.
– Eu sei que deve está sendo difícil
pra você tudo isso.

– Não é meu dia preferido.

– Mas o que eu puder fazer para


melhorar, eu faço, ok?

Ela parecia ser sincera e eu deixei


que um sorriso tomasse conta dos
meus lábios.

– Ok. Obrigada mesmo.

Então um silencio tomou conta de


nós. Eu não fazia ideia do que dizer
para ela e ela não parecia
muito longe disso.

Depois de alguns segundos longos,


ela se ajeitou na poltrona,
endireitando a coluna.

– Você sabe se o Michael tá


gostando de alguém? – Perguntou
um tanto quanto tímida.

Por dentro, me surpreendi com a


pergunta; mas não demonstrei.

– Acho que não... Ele não é uma


pessoa muito aberta.

Ela não respondeu, então eu pensei


que era para continuar.
– Por quê? Você tem algum
interesse nele?

Eu já sabia a resposta, é claro, só


queria uma confirmação.

– Eu... Falei com ele agorinha,


sobre ele ser provavelmente o que
eu estava procurando. E ele me

disse que não era assim que ele me


via, que ele não tinha encontrado o
que queria ainda... – Seus

olhos se encheram de lágrimas. – E


eu sei que é tudo culpa minha.
Porque eu fui idiota há três anos e
ele não me perdoou e por isso não
confia mais em mim.

Abaixei os olhos sem saber o que


falar.

– E eu não acho isso justo, sabe?


Eu só tinha 15 anos quando tudo
aconteceu! Eu não tinha maturidade
o suficiente para entender a merda
que estava fazendo com o Michael
e comigo mesma – continuou

ela. – E ele não consegue esquecer


isso.

– É meio difícil esquecer uma


traição quando o fruto dela está
correndo de um lado para o outro –

deixei escapar, me arrependo no


segundo em que as palavras saíram
de minha boca. Mas agora era

tarde demais.

Levantei os olhos e ela estavam me


encarando. Ficamos assim por um
segundo. Seus olhos tinham

exatamente a mesma tonalidade que


os meus, mas sua maquiagem os
fazia parecer mais brilhantes e

vivos. Ela não era uma adolescente.


– Eu sei, por isso eu vou embora
daqui a 5 dias – ela respondeu por
fim.

– Joshua concordou com isso?

– Ele não precisa concordar, Susan.


É o meu filho.

– Ele não é só seu. Joshua o ama


tanto quanto você – falei na
defensiva. Joshua iria sofrer muito
se perdesse o Micael novamente.

Ela deu de ombros, indiferente.

– Ele pode nos visitar quando


quiser, mas eu não vou abandonar
minha vida na minha cidade por
ele.

Além do que, ficar longe do


Michael fará bem para mim, pois só
assim eu iria conseguir superar o

que aconteceu e seguir em frente.

Não podia discutir com isso. Era a


vida dela. Era o coração dela. Eu
não podia me meter.

– Eu entendo, Anna. Mas acho que


você deveria conversar com o
Joshua sobre isso, sabe? Ele pode

se magoar.
– Desde quando Joshua tem
coração mesmo? – Ela perguntou
com um sorriso sarcástico,
exatamente

igual ao do Michael. – Brincadeira.


Eu vou falar com ele daqui a pouco.

– Ótimo, espero que fique tudo bem


entre vocês.

Ela sorriu para mim.

– Você é muito especial, Susan.


Poucas meninas da sua idade
conseguem ter tanto raciocínio e

delicadeza ao mesmo tempo – ela


fez uma pausa enquanto eu sentia
minhas bochechas corando. –

Joshua tem sorte.

– Obrigada Anna, você também é


especial. Seja lá quem for o cara
com quem você terminar, ele será

um sortudo.

Ela se levantou e caminhou até


mim. Me levantei também.

Então, sem que ninguém que tivesse


que dizer mais nada, nos
abraçamos.
Ela era um pouco mais alta do que
eu e seu cabelo era mais longo e
mais ondulado, como uma

cascata escura caindo sobre seus


ombros e descendo até um pouco
acima da cintura.

Mas ela tinha meus olhos.

E ela tinha um bom coração, no


final das contas.

Todo mundo erra.

E ela era a prova viva de que as


pessoas podem se arrepender e
mudar, amadurecer. Ela era uma
pessoa boa que havia cometido um
erro terrível na adolescência. Mas
esse erro não mudava o quanto

ela era fascinante com suas


diversas faces – assim como o
Michael.

Quando nos afastamos um pouco,


ela sorriu.

– Só eu tenho a impressão de que


seremos grandes amigas? –
Perguntou com aquele tom de voz
gentil

e doce, aquele eterno flerte que ela


não precisava forçar para fazer.

– Eu também sinto isso – falei com


sinceridade.

Ela sorriu ainda mais e nos


abraçamos de novo.

Eu era amiga de Anna.

Tomando a frase do Michael para


mim: Quantas coisas inesperadas
podem acontecer em um dia?

Passamos o resto do dia brincando


com o Micael. Ele simplesmente
não cansava e queria mais e
mais e mais. Exatamente como o
pai.

– Cadê seus pais? – Anna perguntou


para o Joshua em algum momento
da tarde.

– Eles só voltam amanhã de manhã.

– E eles sabem sobre...? – Ela


olhou para o Micael e depois para
o Joshua.

Ele negou com a cabeça.

– Vou precisar de sua ajudar com


isso. Enquanto a Susan e meus
irmãos estiverem na escola a gente
conta.

– Certo – ela falou apreensiva. Eu


também teria medo da reação do
senhor Fernando. Ele era

imprevisivelmente mau.

Olhei para eles dois assim,


conversando pacificamente sobre o
futuro, e percebi que todos nós

poderíamos ser amigos. Ou uma


família quem sabe. Micael merecia
isso.

Era tarde da noite quando ouvimos


a porta se abrindo. Minha mãe
estava lavando os pratos após o

jantar e o Micael estava brincando


no tapete enquanto eu, Joshua, Anna
e Nicolas víamos um filme de

comédia. Ergui a cabeça para ver


quem era.

Michael.

– Boa noite – cumprimentou


enquanto entrava.

– Onde você estava? – Joshua


perguntou intrigado.

– Na casa da Jane, nós estávamos


conversando sobre a vida.

Senti meu estomago revirando de


nojo. Esqueci completamente que
ainda existia Jane no mundo.

– E ai? – Joshua insistiu.

– Nós conversamos muito, muito


mesmo. E ela decidiu que vai sair
do país próximo mês, pois foi

aceita em uma faculdade boa nos


Estados Unidos.

Suspirei aliviada. Adorava a ideia


dela bem longe de mim e do Joshua.
– Algo a acrescentar? – Perguntei.

Ele olhou para o irmão mais velho.

– Ela te agradeceu por tudo.

Joshua levantou uma sobrancelha.

– Diga para ela que não foi nada.

– Ela sabe que foi alguma coisa.


Você a salvou, Joshua. Isso
simplesmente mudou tudo o que ela

pensava em relação a você e a


Susan. Ele está verdadeiramente
arrependida por tudo o que fez.
Michael sempre falava bonito
quando queria.

– Ótimo – Joshua falou enquanto


passava o braço pelo meu ombro –,
agora as coisas vão começar a

se acalmar.

– Espero – respondi ao mesmo


tempo que o Michael.

Sorrimos um para o outro.

Mais uma coisa para acrescentar na


lista de coisas improváveis do dia.

[...]
Acordei com a mão do Joshua se
movimentando em minha cintura.

Me virei para ele. Se é que era


possível, ele parecia mais bonito
ainda dormindo.

– Precisamos acordar, Joshua –


sussurrei quase inaudível. Não
queria sair dos seus braços.

Ele sorriu com o canto da boca.

– Podemos fazer várias coisas


acordados nessa cama.

Senti meu rosto queimando. Joshua


não muda mesmo.
– Pena que temos aula.

– Pena que você é muita areia pro


meu coração – ele retrucou me
puxando para mais perto.

Inclinei a cabeça para cima para


poder olhá-lo melhor.

– Daqui a 4 dias a gente dá um jeito


nisso.

Ele sorriu com a ideia.

– Fechado.

Sua mão desceu até encontrar a


minha e ele a guiou até a própria
barriga. Um sorriso travesso tomou

conta de seu rosto.

– Vou pode te ensinar algumas


coisas a mais? – Ele perguntou de
um jeito pervertido.

Mordi o lábio inferior, pensativa.

– O que você quiser, Joshua –


respondi no mesmo tom.

Ele se sentou na cama no mesmo


segundo, num pulo.

Observei enquanto ele andava até o


meio do quarto, ajeitando a camisa
branca para que cobrisse sua

cueca.

– Vou ao banheiro – ele falou indo


para a porta. – E a culpa é toda sua.

– Por que você não está vestido


direito, Joshua? – Nicolas
perguntou quando o irmão desceu
as

escadas. Eu, ele e o Michael


estávamos tomando café da manhã.

– Não vou para a faculdade hoje,


mas já liguei para o Gustavo e ele
chega já – explicou ele.
– Por que não? – Perguntei curiosa.

– Nossos pais podem chegar a


qualquer momento e eu quero está
aqui para apresentar o Micael para

ele.

Assenti com a cabeça, entendo


completamente a situação. Joshua
ficaria para controlar a reação do

pai, principalmente.

Michael se levantou, limpando as


mãos na barra da calça jeans preta.

– Boa sorte – falou. – Nosso pai


não parece ser o tipo de cara que
aceita bem ter um neto da ex filha
da empregada.

Joshua sorriu com um toque de


arrogância.

– Eu dou um jeito nele.

Michael riu com frieza.

– Eu sei muito bem disso.

Eles se encararam por um segundo


e eu quase podia ver aquela velha
parede se formando novamente

entre eles.
Então o Michael respirou fundo e
um sorriso sincero apareceu em seu
rosto.

– Mas pelo menos vai dar tudo


certo.

Joshua assentiu com a cabeça.

– Obrigado pela torcida.

– Claro ué, estamos falando do meu


sobrinho.

Alguma coisa ardeu em meu peito


ao ouvi-lo falar isso. Ele parecia
bem. E, por algum motivo que eu
não conseguia entender, era só isso
que importava agora.

Chegamos no colégio em um piscar


de olhos. Nicolas praticamente
saltou do carro de tanta animação

e, quando eu perguntei o porquê,


ele simplesmente respondeu "hoje é
dia 13" e saiu correndo para dentro.

– Só eu não entendi? – Michael


perguntou enquanto observava o
irmão.

– Dia 13 é o aniversário de namoro


deles – falei me lembrando de uma
de nossas primeiras

conversas.

Michael olhou para mim surpreso,


com um sorriso surgindo no mesmo
segundo.

– Melhor casal – comentou


enquanto se virava e ia para a
entrada do colégio.

– Ah eu gosto de Annel – disse o


seguindo.

Ele riu.

– Figurinha repetida, Susan.


– São as que dão mais lucros –
retruquei.

Ele revirou os olhos e não


respondeu.

Subimos as escadas para o


corredor e eu dei de cara com uma
Bia radiante, erguendo uma carta e

balançando enquanto uma roda se


formava ao redor dela. Fui para
perto para ouvir melhor.

– ...E como eu não sou capaz de


viver sem o Rick, eu corri para
fazer uma prova extra, exclusiva
para alunos que possuem potencial
mas não conseguiram fazer o teste
no dia certo – disse ela

abaixando a carta e a abrindo. – Eu


não li ainda, mas eles
encaminharam a resposta em uma

velocidade incrível, então... – Ela


abriu a carta e começou a ler
devagar, em pensamento. – EU

PASSEI! – Gritou quando acabou


de ler. – EU PASSEI NA
UNIVERSIDADE DE
CAMDBRIGE!
Como um raio, alguém a tomou nos
braços, a abraçando com força
enquanto ela dava pulos de

felicidade. Richard.

– Eu estou tão orgulhoso de você,


Bia. Essas provas extras são quase
o dobro de dificuldade e eles

só aceleram o resultado quando o


resultado é máximo – falou ele a
segurando pela cintura, sua voz

entrecortada pela emoção. – Eu


amo tanto você.

Então eles se beijaram. Meu


coração deu um pulo animado com
o amor deles. Era algo tão gritante.

Tão simples e tão fascinante ao


mesmo tempo. Ela iria para
Inglaterra por ele. Porque ela não

suportaria a ideia de perdê-lo. Ela


preferia perder seu terceirão do que
passar alguns anos longe

dele.

E todos deviam está pensando


como eu pois, de uma forma tão
automática quanto seria se
estivessem
ensaiando, uma salva de palmas
começou, junto com assobios e
gritos de felicidade.

O amor tinha dessas coisas.

Ele contagiava.

✣Joshua✣

Olhei para o Micael. Ele ficava tão


angelical assim, quietinho,
brincando de fazer castelinhos com

lego. Como eu iria aguentar viver


sem ele todos os dias? Eu já estava
apegado.
Anna entrou na sala, vindo se sentar
ao meu lado no sofá. Ela seguiu
meu olhar e sorriu.

– Como eu posso me arrepender de


tudo o que eu fiz vendo esse
menininho? – Perguntei sem me
virar

para ela. – Ele tinha que existir.

Ela fez que sim com a cabeça.

– Eu penso o mesmo. O tempo todo,


para ser sincera, eu fico me
perguntando por que as coisas tem

que ser tão confusas se ele é algo


tão... Certo.

– Porque a vida é assim – respondi.


– Ela não vê o certo e o errado. Ela
só chega e faz as coisas

acontecerem, como um autor


criativo que vira a vida dos seus
personagens sem dó.

– Você é bem profundo, Joshua.

Dei de ombros.

– Eu sou mais velho do que você.

Ela empurrou meu ombro e soltou


uma risada.
– Mas eu sou mais madura.

– Não concordo com isso – rebati


rindo também.

Então, um barulho de porta se


abrindo nos parou. Senti um arrepio
descendo pela minha espinha e me

virei devagar, apreensivo.

Por sorte, era a Melissa.

Soltei o ar que não sabia que estava


segurando e olhei para ela aliviado.

– O que aconteceu?
– Seus pais estão na porta, vim
avisar para que você tivesse tempo
de pensar no que fazer – ela

respondeu cumplice e saiu da casa,


voltando para a porta principal.

Me virei para a Anna rapidamente.

– Vá com o Micael para a cozinha e


fiquem lá escondidos enquanto eu
amacio o terreno. Só voltem

quando eu mandar, ok?

Ouvimos passos ao longe.

– Ok? – insistir apressado.


– Ok – ela respondeu se levantando
e colocando o Micael no colo,
tampando a boca dele para que

ele não falasse nada.

Corri para o tapete e empurrei as


peças de lego para debaixo da
estante da TV.

Me sentei novamente no sofá em


seguida e esperei, pensando no que
iria dizer.

Então a porta se abriu e meus pais


entraram na sala. Meu pai estava
mais bronzeado do que o normal
e sorria radiante por algum motivo.
Minha mãe, como sempre, parecia
em um poço de amor e

felicidade. Mordi o canto interno


da boca. Espero que isso continue
depois que eu contar sobre o

pequeno detalhe chamado Micael.

Me levantei para falar com eles.

– Pai, mãe... Precisamos conversar


– falei lentamente, tentando
controlar minha voz. Que merda. Eu

nunca ficava nervoso. Eles iriam


notar alguma diferença no meu tom.
Mas, por sorte, eles sorriram para
mim.

– Claro filho, pode falar – minha


mãe respondeu com um sorriso
enorme.

Engoli em seco.

Papai estreitou os olhos por um


segundo.

– Joshua...?

Então um vulto baixinho passou por


mim, sendo seguido por um grito de
não tão alto que eu me virei
bem a tempo de ver o Micael
correndo até meu pai e dando
pulinhos na frente dele.

– Quem é essa criança? – Meu pai


perguntou sem reação.

Respirei fundo.

– Meu filho.

45. Eu os amava

✣Joshua✣

Meu pai levantou uma sobrancelha.

– Que tipo de piada é essa, Joshua?


– Perguntou sério, olhando
fixamente para mim.

Desviei os olhos.

– Acho... Acho melhor vocês


sentarem – falei apreensivo.

Senti uma mão tocando meu ombro


e me virei. Anna sorriu com o canto
da boca.

– Vai dar tudo certo – disse ela tão


baixo que quase não ouvi.

Assenti com a cabeça, levemente


mais seguro. Eu não estava sozinho
nessa.
– Anna? – Minha mãe olhou
surpresa para ela. – O que você
está fazendo aqui?

– Por favor – pedi –, sentem.

Papai hesitou por um segundo,


olhando para o Micael – que estava
dando pulinhos em sua frente –,

mas, por fim, andou até a poltrona


vermelha e sentou-se cruzando os
braços. Mamãe o seguiu, indo se

sentar no sofá ao lado.

– Pode começar – ordenou meu pai


com frieza.
Meus olhos foram até os da Anna e
ela fez que sim de leve com a
cabeça. Suspirei e andei até ficar

de frente para eles.

– Como vocês sabem, Anna morou


conosco por alguns meses há três
anos... – Comecei.

– E namorou o Michael nesse


tempo – meu pai me interrompeu,
me testando. Seus olhos estreitos

para mim.

– Eu sei, mas... – Pensei um pouco


em como diria isso. Era
complicado. – Aconteceu. E o
Micael

nasceu desse momento.

Minha mãe abriu a boca, surpresa e


exasperada pela informação.

– Você traiu seu irmão? – Ela


perguntou em choque. Seus olhos,
sempre brilhantes, estavam
apagados

de decepção.

Abaixei a cabeça.

– Eu sinto muito – disse baixinho


com sinceridade. – Eu era muito
novo, eu não sabia direito o que

estava fazendo.

– Então você trocou a reputação da


nossa família por uma noite? – Meu
pai perguntou irritado.

– Fernando! – Minha mãe protestou.


– Esse não é o problema!

– Qual é então? O que pode ser


pior do que isso? – Ele retrucou
olhando com nojo para a Anna.

Fechei o punho. Odiava quando ele


olhava assim para alguém.
– Eles são irmãos! Você tem noção
de como o Michael sofreu, bem
embaixo de nossos narizes? –

Mamãe perguntou com a voz


preocupada irradiando culpa.

Meu pai deu de ombros.

– Ninguém pode culpar a Anna por


escolher o Joshua.

Mamãe se levantou furiosa.

Dei uma olhada rápida no Micael –


preocupado com o que ele poderia
estar achando de tudo isso – e
o vi encostado na parede, escutando
tudo com atenção. Anna ainda
estava ao meu lado.

– Como você pode ser tão parcial?


Michael só tinha 13 anos!

Meu pai revirou os olhos.

– Será que podemos voltar para a


parte dos Hunter ter uma reputação
a zelar, que não pode ser

manchada por...

– Mais uma palavra e eu peço o


divórcio! – Mamãe o cortou com
seriedade.
– Mas...

– Eu não vou admitir que você fale


uma coisa dessas do meu neto.

Mordi o canto interno da boca para


conter meu sorriso. Ela chamou o
Micael de neto.

– Você está aceitando isso? – Meu


pai perguntou angustiado.

– Se ele é filho do meu Joshua,


como eu posso não aceitar?

– Não importa – ele rebateu sem um


único pingo de sentimentos. – Ele
não é meu neto. Nem nunca
será.

Então, como se tivesse ouvido uma


deixa, Micael correu até a mãe.
Senti um aperto no coração ao

ver seus olhos cheios de lágrimas.

– Por esse homem não gosta de


mim? – Ele perguntou com a voz
entrecortada de tristeza.

Olhei surpreso para ele. Micael era


esperto; ele sentiu o desprezo do
meu pai.

– Não sei, filho – Anna respondeu.


– Vai lá perguntar.
Sorri com diversão. Anna não tinha
medo de nada.

Micael andou devagar até meu pai,


parando em frente a poltrona e
colocando as mãos na cintura.

Personalidade forte.

Mamãe se inclinou para olhar para


ele. Eles se encararam por alguns
segundos. Então ela se ergueu

novamente, com um sorriso no


canto da boca.

– Fernando, olhe para ele.


Papai não se mexeu.

– Fernando, por favor – pediu


novamente.

Ele suspirou e se inclinou para o


Micael, que se virou lentamente
para ele.

– Nada vai mudar a minha opiniã...


– Ele começou a dizer. Então seus
olhos encontraram os do

Micael e ele se calou, surpreso. –


Esses olhos... Nicole, ele...

– Ele tem meus olhos. E o seu


cabelo – ela completou sorrindo.
Um suspiro escapou de seus lábios

antes dela voltar a falar. – Não


importa de que família a mãe dele
é, Nando. Ele é um Hunter. E eu o
amo por isso.

Com o canto do olho, vi uma


lágrima escorrendo do rosto da
Anna. Me aproximei dela e passei o

braço pelo seu ombro.

Meu pai olhou para mim.

– Por que você não nos contou?

– Eu estava esperando o momento


certo – falei com sinceridade. – É
complicado para mim.

Ele assentiu.

– Para todos nós.

– Mas ser complicado não o torna


menos adorável – disse um pouco
na defensiva.

Ele olhou para o Micael


novamente, que estava no colo da
mamãe. Seus olhos brilharam com a

visão.

– Eu sei que não... Me desculpe por


ter dito aquelas coisas – ele falou
sendo sincero.

Sorri para ele. Eu o desculpava.

Porque, lá no fundo, ele era uma


pessoa boa. O único problema era
que ele era uma pessoa que

possuía bases erradas. Mas o amor


o ajudava a lidar com isso – o amor
pela minha mãe, pelos seus

filhos, pelo seu mais novo neto.

– Nando, vem ouvir o que ele está


falando – mamãe o chamou,
olhando fascinada para o Micael.
Meu pai se aproximou deles.

Micael girou o corpo para ele. Eles


se olharam por uma fração de
segundo.

Então o Micael sorriu. Ele não


guardava mágoas.

Olhei para eles três enquanto sentia


o mão da Anna ao redor da minha
cintura. Ela se virou para mim, seus
olhos marejados transbordando
felicidade.

Sorri para ela.

As coisas estavam começando a dar


certo.

[...]

– Cansei. Que tal pararmos um


pouco? – Falei depois de jogar o
Micael no alto e o pegar pela

décima vez.

A criança fez biquinho.

– Não, Jay, vamos mais – pediu


agitando as mãozinhas na minha
direção.

Revirei os olhos e o coloquei no


chão, rindo da sua breve raiva.
– Se você quiser, eu faço
brigadeiro para a gente – ofereci
para tentar melhorar a situação.

Ele pareceu pensar no meu caso.

– Melhor chamar a mamãe, ela faz


o melhor brigadeiro do mundo!

– Isso porque você nunca


experimentou o meu – retruquei
com uma leve pontada de ciúmes na
voz.

Ele concordou com a cabeça.

– Ok, você venceu. Mas depois a


gente volta.
– Não prometo nada – rebati
enquanto o guiava para a cozinha. –
Sente-se ai que eu vou preparar o

nosso lanche – comandei apontando


para a mesa do café. Ele fez o que
eu pedi.

Abri o armário e peguei os


ingredientes, sorrindo comigo
mesmo por toda a situação. Isso
parecia

tão certo.

Então, enquanto eu estava girando o


corpo para pegar a panela, a
companhia tocou.

Micael correu para a porta,


curioso. Fui atrás, correndo
também.

– Quem é? – Perguntei intrigado.


Susan e meu irmãos só iriam chegar
daqui a umas duas horas.

– Sua inspiração de vida – a voz do


Bruno respondeu com humor.

Soltei uma risada e abri a porta


para ele.

– Saudades, bebê – disse enquanto


o abraçava.
Ele assentiu com a cabeça.

– Eu também, mas essa faculdade tá


me deixando sem tempo até para
respirar. Amanda morre de

raiva – falou já entrando. Fechei a


porta atrás dele.

– Quem é esse? – Micael perguntou


com aquela curiosidade infantil.

Bruno olhou para ele surpreso e


depois para mim, perguntando sem
palavras se era quem ele pensava

que era.
Fiz que sim com a cabeça.

– Pode me chamar de tio Bruno –


disse se ajoelhando para ficar da
altura dele. O imitei para

participar da conversa. – E qual seu


nome?

– Micael – respondeu sorrindo para


ele. – Quer brincar com a gente?

– Claro – Bruno respondeu no


mesmo segundo.

Ergui uma sobrancelha.

– Que eu lembre nós tínhamos dado


uma pausa – falei com um tom
acusatório.

Micael riu.

– Mas o tio Bruno acabou de dizer


que quer brincar – rebateu
apontando para o meu amigo.

Bruno soltou uma risada e olhou


para mim fascinado.

– Ele é sempre assim? – Perguntou


baixinho.

– Adorável como o pai – respondi


mais baixo ainda e ele riu
revirando os olhos.
– Vamos ou não? – Micael
interrompeu apressado.

Bruno se levantou. Fiz o mesmo


automaticamente.

– Joshua é o pega! – Bruno gritou e


saiu correndo em seguida,
exatamente como uma criança faria.

Micael soltou um gritinho animado


e correu também.

Respirei fundo e fui atrás deles,


rindo.

[...]
– Até que seu brigadeiro é bom,
Jayjay – Micael falou enquanto
colocada a quinta colher cheia na

boca.

Sorri e me encostei na parede, ao


lado da porta de casa. Bruno estava
ao meu lado, completamente

exausto. Já estávamos brincando a


umas duas horas.

– Melhor do que o da sua mãe? –


Perguntei competitivo.

Ele parou pensar no assunto.


– Empate, pode ser? – Resolveu
por fim.

– Pode – respondi feliz com a


resposta.

– Aliás, cadê ela? – Bruno indagou


olhando ao redor.

– Foi ver umas amigas e comprar


algumas coisas, mas acho que ela
volta já.

Bruno olhou para mim com um


sorriso malicioso.

– Ela ainda é bonita daquele jeito?


Revirei os olhos.

– Nem olhei – falei com


sinceridade. – Mas pela cara que o
Michael fez acho que sim.

– Ah... Ele ainda gosta dela?

– É complicado – respondi olhando


para o Micael. – Ele já sofreu
demais por ela, sabe?

Bruno assentiu com a cabeça,


sempre compreensivo; essa era uma
das coisas que eu admirava nele.

Ficamos em silêncio por alguns


minutos, cada um com seus
próprios pensamentos. Até o
Micael

parecia refletir sobre alguma coisa


enquanto comia lentamente seu
brigadeiro de colher.

Então a porta se abriu de repente.


Levantei a cabeça, assustado por
um segundo.

– ... E desde quando você é melhor


amigo da Jane? – Ouvi a Susan
perguntar enquanto ela e meus

irmãos entravam em casa.

Nicolas foi o último a aparecer,


trancando a porta atrás de si em
seguida.

– Somos amigos, ué – Michael


respondeu como se fosse óbvio. –
Passamos por muitas coisas juntos.

Susan colocou as mãos na cintura,


quase irritada. Estreitei os olhos
para ela, surpreso por ela não ter
me notado ainda.

Micael agitou as mãos para o alto.

– Oi para vocês – cumprimentou


chamativo.

Eles arregalaram os olhos para nós.


Nicolas correu para se sentar ao
lado do Micael, seus olhos

brilhantes cintilavam como sempre.

Michael e Susan, no entanto,


continuaram de pé, se encarando.

– Só não voltem a fazer aquelas


coisas de novo – Susan pediu com
algo parecido com nervosismo.

– Aquele tempo já passou, Susan.


Agora nem eu nem ela está
interessado na infelicidade de
vocês.

– Certeza? – Insistiu ela.


Ele sorriu e passou a mão pelo seu
ombro.

– Absoluta.

Me levantei e fui até eles,


levemente enciumado com toda
aquela amizade.

Assim que me viu, ela girou o


corpo para mim e se afastou do
Michael para pode pegar em minha

mão. Sorri. Eu não precisava sentir


ciúmes.

– Como foi na escola? – Perguntei


enquanto a puxava para perto de
mim.

Michael piscou para nós e foi até


onde o Bruno estava, sentando-se
ao seu lado. Observei enquanto

seus olhos iam até os do Micael e


um suspiro baixo escapava de seus
lábios. Não conseguiria

imaginar o que ele está sentindo.

– Bem. Só estou um pouco triste


porque a Bia vai para a Inglaterra,
mas sei que é o melhor para ela –

falou olhando para baixo.


– Por que ela vai para lá? –
Perguntei me lembrando da menina
baixinha e inteligente que às vezes
eu via com a Susan na hora da
saída.

Ela pousou seus olhos nos meus.


Nunca iria me acostumar com o
quanto ela era bonita.

– Ela vai para uma faculdade de


sucesso, que está entre as 10
melhores do mundo para você ter
uma

ideia. O Richard, namorado dela,


falou que ia e ela nem pensou duas
vezes antes de fazer um teste

para ir também. E é claro que ela


foi aprovada, ela é extremamente
inteligente – explicou.

– Não fique triste por isso, Susan.


O futuro dela será brilhante. E ela
ainda teve a sorte de conseguir o
amor e o sucesso ao mesmo tempo,
isso é pra poucos – disse tentando
fazê-la se sentir melhor. – E

a gente pode sugerir a ideia de ir


para a Inglaterra nas férias do meio
do ano, que tal?
Ela arregalou os olhos para mim.

– Não, meu Deus, é muito caro.

Soltei uma risada.

– Acho que temos condição


financeira para isso. E se o resto da
família não quiser ir, vamos só eu e
você, não tem problema. – Sorri
com o canto da boca. – Pode ser até
melhor.

Ela sorriu também, seus olhos


brilhando com intensidade.

– Depois a gente fala disso, ok? –


Completei para ela saber que eu
estava falando sério. Eu iria para
qualquer lugar do mundo para vê-la
feliz. – Agora é hora de almoçar.

Ela assentiu e eu me virei para falar


com o Micael.

– Joshua – ouvi-a chamando atrás


de mim.

Rodei o corpo para olhar para ela.

– Susan?

Um sorrisinho tomou conta de sua


boca antes dela completar;

– Eu te amo.
Meu coração deu um pequeno salto
para trás. Eu nunca iria me cansar
de ouvir isso.

– Eu também te amo.

Ela mordeu o lábio inferior por um


segundo e eu senti aquela velha
vontade imensa de beijá-la até o

fim dos tempos. Ah, céus, como eu


a amava.

– Bem, – Bruno falou nos


interrompendo. Olhei para ele. –
acho que eu vou indo.

– Fique para o almoço, Brubru –


ofereci.

– Nem dá, combinei de ir almoçar


com a Amanda. Hoje fazemos dois
meses de namoro.

Susan sorriu e bateu palmas. Sorri


também, eu sabia como a Amanda o
fazia feliz.

– É justo – falei enquanto ele se


levantava. – Até amanhã?

– Mal posso esperar – retrucou com


um sorriso, já se virando para a
porta.

Micael correu até ele, parando em


sua frente.

– Tchau tio.

Bruno o puxou para cima e o


abraçou. Micael riu, satisfeito com
a atenção.

– Já disseram que ele tem seu ego,


Joshua?

Dei de ombros.

– Devem ter comentado.

Depois do almoço, Susan e Nicolas


foram para seus quartos fazer
atividade de casa. Micael
finalmente pareceu cansar e eu o
coloquei para dormir no meu quarto
enquanto a Anna não chegava.

– Oi irmão – cumprimentei o
Michael que estava sentado no sofá
vendo televisão. – Como você está?

Ele se virou para olhar para mim.

– Normal, eu acho.

– Isso é bom?

Ele riu fraco.

– Eu estou bem, Joshua. Seu filho é


realmente adorável.
Suspirei e me sentei ao lado dele,
pensando no que poderia dizer.

– Quer um pedido de desculpas? –


Perguntei com sinceridade. Se ele
quisesse, eu daria.

– Não precisa. Estou começando a


achar que foi melhor assim, sabe?
Micael precisava existir.

– Eu também penso nisso quando


estou com ele. Eu me arrependo
pelo jeito como as coisas

aconteceram, mas não pela


consequência.
Ele assentiu.

– Eu entendo, Joshua. Seus olhos


brilham só de falar nele.

Sorri com o canto da boca.

– Faz sentido. Eu o amo tanto,


Michael.

– Eu sei, mas admito que seu lado


paternal me surpreendeu –
confessou.

– A mim também – retruquei com


um sorriso.

Ele olhou para mim por um segundo


antes de voltar a atenção novamente
para a TV. Respirei fundo e

me encostei no sofá, pensando em


como o dia estava dando certo.

When the days are cold...

Senti meu celular vibrando ao


mesmo tempo que a música
começava a tocar. O peguei do
bolso e

atendi.

– Boa tarde, Joshua Montenegro se


encontra? – Uma voz feminina e
suave perguntou.
– Está falando com ele.

– Ah, olá. O Dr. Pacheco mandou


informar que não poderá fazer a
cirurgia no dia marcado e

perguntou se poderia adiantá-la


para hoje.

Pensei por um segundo.

– Agora?

– Exatamente, senhor.

Mordi o canto interno da boca


enquanto pensava no que responder.
Tinha que admitir, eu estava com
medo.

– Não pode ser amanhã?

– Só se o senhor não se importar


em receber um médico substituto,
que também é muito bom, é claro,

mas...

– Não, tudo bem, eu entendo. Que


horas seria essa cirurgia?

– Daqui a cinco horas, senhor


Hunter.

Assenti com a cabeça. Daqui até lá


eu iria me acalmar.
– Ok, pode ser. Comunique para ele
que eu aceitei.

– Certo. Obrigada pela atenção e


tenha uma boa tarde – ela se
despediu e desligou.

Olhei para o Michael com os olhos


arregalados.

Ele se virou para mim, levantando


uma sobrancelha.

– O que houve?

– A cirurgia foi transferida para


hoje à noite.
Ele olhou para mim surpreso.

– Por quê?

– O médico disse que não poderia


fazer daqui a cinco dias e pediu
para ser daqui a cinco horas –

resumi com apreensão.

Michael coçou a cabeça com a


mão, pensativo.

– Não precisa ficar assim, sabe?


Ele é um doutor renomado, vai dar
tudo certo.

– Espero, irmão.
[...]

As horas se arrastaram para passar.


Anna chegou mais ou menos meia
hora depois da ligação e

pareceu ficar preocupada quando


eu contei o que iria acontecer, mas
tentou me tranquilizar dizendo o
quanto o médico era bom. Susan, no
entanto, ficou bem calma em
relação a tudo, apenas me disse que

iria passar e que era até melhor que


fosse agora, para acabar com essa
ansiedade. E ela estava certa, é
claro. Quanto mais cedo isso
acabar melhor.

Por isso eu não conseguia esconder


meu sorriso ao levantar os olhos
para o relógio da parede e ver

que só faltava uma hora para a


cirurgia. Toda a minha família
estava na sala esperando, incluindo

Susan, Melissa e Anna.

– Vamos? – Perguntei olhando para


o relógio.

Anna negou com a cabeça.

– Eu vou ficar aqui com o Micael,


não quero que ele vá ao hospital.

– Não precisa. Eu posso cuidar


dele enquanto você vai – a mãe da
Susan se ofereceu.

Anna pareceu pensar no assunto.

– Mas ele dá muito trabalho...

– Eu sou mãe também, Anna, há


muito mais tempo que você – ela
lembrou. – Vão logo, não é bom se

atrasar para uma coisa dessas.

Eu concordava com ela.


– Por que não deixa ele ir também?
Há uma parte infantil lá, ele pode
ficar brincando. Além do que a
gente não sabe que horas vamos
chegar – Susan falou pensativa. Ela
era tão esperta.

Anna pareceu surpresa com a ideia.

– Não tinha pensado nisso.

Susan sorriu enquanto corava de


leve, agoniada por ser o centro das
atenções.

Me levantei do sofá.

– Assunto encerrado então, todo


mundo vai. Agora será que
podemos ir?

Michael olhou para mim


impressionado. Ele devia está
achando que eu estava com medo.
Mas eu não

estava mais. Agora eu só tinha


pressa para que tudo isso acabasse
e eu pudesse curtir minha vida

com total saúde.

– Ok, vamos – papai decidiu. –


Joshua, você pode dirigir?

– Claro – respondi com segurança.


Nada podia dar errado.

Entramos no hospital e fomos direto


para a área de espera, aguardando
enquanto o doutor não

chegava.

Mais ou menos um minuto depois


de todos nós nos sentarmos, quatro
enfermeiros chegaram

segurando uma maca aberta e vazia.


Um homem alto e forte apareceu
atrás deles, pegando alguns

papeis no bolso de seu jaleco


fechado e olhando para mim em
seguida.

– Joshua Montenegro Hunter? Suba


aqui, por favor – pediu
educadamente.

Olhei para a Susan por um segundo.

– Posso conversar com uma pessoa


antes?

Ele suspirou.

– Você tem vinte minutos – avisou


enquanto se virava para sair.

Levantei e fui até onde a Susan


estava, no sofá da frente, sorrindo
com nervosismo para mim.

– Eu volto já, ok? – Falei me


sentando ao lado dela.

Ela assentiu, mas desviou o olhar.

– Não me diga que está com um mal


pressentimento – pedi quase
implorando.

– Não é isso, é que... Eu não sei o


que eu faria se perdesse você,
Joshua – ela confessou levantando
os olhos para os meus.

Ergui a mão e passei pelo seu


cabelo suavemente. Ela fechou os
olhos por um segundo, sentindo meu

toque.

– Você nunca vai me perder.

E isso era verdade. Eu amaria


Susan dos Alvez por toda a
eternidade.

– Mas e se...

Neguei com a cabeça e a beijei


para interromper sua fala. Ela
retribuiu o beijo no mesmo segundo
e

eu senti seu peito subindo e


descendo colado no meu. Ela
estava nervosa. A beijei mais
devagar,

lentamente, tentando acalmar os


dois.

Paramos por causa do ar.

– Eu amo você – disse por fim.

Ela sorriu, mais calma dessa vez.

– Eu sei disso, Joshua.

Me inclinei para beijar sua


bochecha antes de me levantar
novamente. Eu ainda tinha que falar
com

mais duas mulheres.

Fui até a Anna com cautela, que


estava me observando do outro
lado da sala, ao lado de um Micael

adormecido.

– Oi – ela cumprimentou enquanto


eu me aproximava.

Continuei em pé à sua frente,


pensando no que poderia dizer para
ela.

Ela se levantou antes que eu


pudesse sequer abrir minha boca e
me puxou para um abraço quase

fraternal.

– Quando essa cirurgia acabar,


você me pode ajudar a escolher a
cor do quarto do Micael – ela

soprou baixinho no meu ouvido.

Me afastei assustado e surpreso.


Ela realmente havia dito aquilo?

– Do que você está falando?

Ela sorriu.
– Seu pai me ofereceu um emprego
na empresa dos Hunter e eu posso
trabalhar enquanto estudo na

faculdade daqui; ele também me


ofereceu o quarto de hóspedes e
disse que, se eu quisesse, poderia

ficar com uma das casas vazias da


rua da sua casa – explicou. – Minha
mãe vem próxima semana

com todas as nossas coisas.

Arregalei os olhos para ela, sem


conseguir colocar em palavras a
explosão de felicidade que eu
estava sentindo naquele momento.

– Micael vai morar comigo?!

Ela assentiu sorrindo ainda mais.

– Meu Deus, meu Deus – falei


enquanto tentava encontrar o que
dizer. Isso era tão incrível. – Eu
vou ver meu filho crescer!

– Agradeça ao seu pai por ter me


convencido de que esse era o
melhor para todos.

Sorri para ela e fui até onde meu


pai estava, o puxando para cima tão
rapidamente que ele quase
soltou um grito.

– O que você está fazendo? –


Perguntou assustado enquanto eu o
puxava para um abraço forte.

– Obrigado, pai.

Ele olhou para a Anna por um


segundo e ela se limitou em assentir
com a cabeça para ele.

– O que eu não faço por você? –


Ele falou me abraçando de volta.

Senti um braço passando pela meu


ombro e me virei a tempo de ver
minha mãe se juntando a nós.
– Quero participar! – Ela protestou
como uma criança.

Meu pai passou a mão por sua


cintura e a colocou dentro do
abraço em grupo.

Sorri.

Isso sim era uma família de


verdade.

– Ei, ei, vocês ainda lembram que


têm mais de um filho? – Ouvi o
Nicolas perguntar atrás de mim.

Me afastei do meu pai para poder o


colocar dentro do abraço.
Então meu olhos passaram por cima
do ombro da mamãe e eu vi o
Michael nos observando com

cuidado.

– Você também faz parte disso,


Michael – falei alto o bastante para
ele ouvir.

Ele revirou os olhos.

– Desde quando?

Mamãe sorriu ao responder;

– Desde sempre.
Ele pareceu satisfeito com a
resposta e andou até nós devagar,
procurando um espaço. Ele entrou

entre eu e o Nicolas, sorrindo com


o canto da boca com um timidez
que eu nunca tinha visto antes.

Ficamos assim por alguns


segundos, cada um sentindo a
montanha de significado que aquele
abraço

possuía.

Eu os amava. Cada um deles,


individualmente e completamente.
Eu os amava não só porque eles

eram do meu sangue e portavam o


mesmo sobrenome que o meu. Eu os
amava porque eles eram,

acima de tudo, os meus guias para a


vida. Eles eram a minha família.

Nesse momento, a porta se abriu e


o abraço se desfez. Sorrimos entre
si, sentindo que, agora, as

coisas iriam começar a mudar.

– Dei ainda alguns minutos de


sobra para o senhor – o doutor
comentou apontando para o relógio
Sorri agradecido e corri para dar
um beijo na testa do Micael antes
de ir para a maca. Susan me

mandou um beijo no ar e a dona


Melissa me lançou um sorriso de
esperança, como se dissesse que

iria ficar tudo bem.

Assenti para ambas e fui me deitei


na cama móvel, olhando para cima
com algo muito maior do que

felicidade no peito.

– Preparado? – O doutor perguntou.


– Com toda certeza.

✣Susan✣

As horas seguintes foram


agoniantes. Ninguém sabia ao certo
quanto tempo demorava uma
cirurgia

daquele nível, mas já haviam se


passado três horas desde que o
Joshua passou por aquela porta,
com

um sorriso enorme no rosto.

Micael acordou há exatamente dez


minutos e agora estava brincando
com as peças de montar que

trouxe de casa – em cima do sofá,


já que chão de hospital era algo
muito contraindicado. Anna estava
ajudando ele a montar uma casinha
enquanto o Michael olhava para
eles com um ar leve. Ele parecia

bem melhor depois daquele abraço


em grupo.

Nicolas e eu estávamos um ao lado


do outro, com minha cabeça
apoiada em seu ombro há quase
meia
hora. Ele não reclamava.

– Só eu estou me sentindo
sufocado? – Ele sussurrou apenas
para eu ouvir.

– Acho que todos aqui estão –


murmurei olhando em volta.

Dona Nicole suspirou do outro lado


da sala, como se participasse da
nossa conversa.

– Vou lá perguntar quanto tempo


falta – avisou se ajeitando para se
levantar.

Mas o senhor Fernando a impediu


com uma mão, a puxando de leve
para que se sentasse novamente.

– Vai demorar o tempo que for


preciso.

Ele estava certo. Eu esperaria um


dia inteiro se isso fosse o
necessário para que o Joshua
ficasse

curado. Na verdade, eu esperaria


mais; muito mais. Eu faria qualquer
coisa para vê-lo bem.

– Se estão tão entediados por que


não vem aqui ajudar a montar essa
cidade? – Michael perguntou

pegando duas peças e as juntando,


formando um pequeno cubo
vermelho.

Olhei para o Nicolas como se


perguntasse o que ele iria fazer.

Em resposta, ele se levantou e foi


até lá. O segui imediatamente.
Micael sorriu para nós e eu o

coloquei em meu colo para


conseguir um lugar. Anna se ajeitou
para dar espaço ao Nicolas e o

Michael se acomodou ao lado dela.


– Qual é a sua ideia? – Perguntei
para o Micael enquanto o
observava montar algo parecido
com uma

porta, mas não exatamente.

– Eu vou fazer a casa de vocês –


ele falou pegando mais algumas
peças da caixa.

Anna olhou para ele.

– Aquela casa vai ser nossa


também, Micael.

Ele arregalou os olhos, surpreso.


– Sério?

– Aham – ela confirmou com um


sorriso.

Dei uma olhada rápida para o


Michael e o vi sorrindo também.
Ele era tão compreensivo. Ele
sabia

que morar naquela casa seria o


melhor para o Micael e a Anna e
por isso ele não estava com raiva
ou

triste. Ou pelo menos era isso que


ele demonstrava sentir.
– E eu vou poder brincar com o
Jayjay o dia todo? – Ele perguntou
com os olhos brilhando.

Ela assentiu.

– Mas você poderia começar a


chamar ele por outro nome.

Ele riu.

– Joshua é sem graça – falou


repetindo sua frase.

Ela negou com a cabeça.

– Não estou falando de Joshua.


Estou falando de chamá-lo de pai.
Ele franziu a sobrancelha,
notavelmente confuso.

Ela suspirou e deu de ombros.

– Com o tempo ele se acostuma –


falou para ninguém específico.

Fiz que sim com a cabeça e voltei


minha atenção para as pecinhas,
ajudando o Micael a montar a

miniatura da casa.

[...]

Devo ter pego no sono.


Acordei com um luz fraca no meu
rosto. Eram raios de sol que
surgiam pelas frestas da cortina.

Esfreguei os olhos para tentar me


focalizar e senti meu pescoço
doendo. Eu havia dormido sentada.

Olhei para baixo e vi, para minha


surpresa, o Michael deitado no meu
colo, respirando lentamente

como se estivesse dormindo, mas


com os olhos abertos e ativos.
Empurrei ele de leve com a mão.

– Alguma notícia? – Perguntei


quando ele levantou os olhos para
mim.

Ele negou.

– Nem um sinal de Joshua. Mamãe


desceu a pouco tempo para tomar
um calmante.

– E o resto? – Falei olhando em


volta e vendo quase todos
dormindo.

– Micael só começou a dormir


agora, mas a Anna e o Nicolas já
tinham desistido faz tempo. Eu

fiquei brincando com ele até o ver


pegando no sono.

– E você?

Ele sorriu fraco.

– Eu não conseguir dormir, Susan.


Nem por um segundo.

Ele se sentou ao meu lado e olhou


para a porta.

– Tem alguém vindo – falou


enquanto se ajeitava.

Apurei a audição e consegui ouvir


os passos ao longe. Ele realmente
estava mais ativo do que todos
aqui.

Cinco segundos depois, a porta se


abriu. Dona Nicole e o doutor que
estava comandando a cirurgia

entraram na sala. O rosto da mãe


dos Hunter ainda estava ansioso, o
que significava que ela sabia

tanto quanto eu.

– Acorde a todos – ela pediu


olhando para nós.

Me levantei sem contestar e fui até


onde minha mãe estava, balançando
seu ombro até ela despertar.
Ela piscou os olhos e me focalizou,
entendendo a situação no mesmo
segundo. Depois dela, fui até o

Nicolas e o Micael, que dormiam


um ao lado do outro no sofá, e os
acordei falando baixinho. Eles

demoraram mais tempo para


assimilar a realidade, mas também
pareceram despertar com clareza.

Michael acordou a Anna e o


próprio pai, usando o mesmo tom
calmo para falar com ambos.

Demoramos alguns minutos até que


todos estivessem preparados para
qualquer que fosse a notícia,

mas, assim que isso aconteceu, nos


levantamos e fizemos uma roda ao
redor do doutor, esperando.

Apenas Micael continuou no sofá,


mais interessado em seu sono do
que em qualquer coisa.

O médico respirou fundo.

– Como foi a noite? – Perguntou


com educação.

– Diga logo o que aconteceu –


senhor Fernando o cortou com
rispidez.

O doutor engoliu em seco,


pressionando os lábios em seguida.

Dona Nicole deu um passo para


trás.

Ele olhou para mim por um segundo


antes de finalmente falar, com um
tom baixo e suave, projetado

exatamente para situações como


essa.

– A cirurgia foi um fracasso. O


paciente não resistiu.
46. E todos nós o amávamos de
volta

– O que você disse? – O senhor


Fernando perguntou com a voz
trêmula.

Mas eu já havia entendido.

Senti meus joelhos fraquejando e


meu corpo se inclinando para trás
em seguida, prestes a desmaiar.

Então alguém puxou meu braço com


força, sem delicadeza alguma. Um
segundo depois, Michael me

encarou enquanto colocava os


braços ao meu redor, me mantendo
em pé.

– Não desmaie – sussurrou ele


autoritário e frio. – Não agora.

Fechei os olhos e assenti com a


cabeça sem contestar, tentando me
concentrar apenas em me manter

consciente.

– Sinto muito – o doutor falou


depois do que pareceu um longo
tempo. – Fizemos o possível.

Dona Nicole soltou um grito agudo


de dor, como se estivesse sendo
esfaqueada, e caiu no chão em

seguida, com os olhos fechados.

Nicolas correu para fora da sala no


mesmo segundo, chamando por
ajuda. Um enfermeiro alto surgiu

praticamente voando na sala e pôs a


mãe dos Hunter no colo, a
carregando para fora da sala com

agilidade.

Eu via todas essas cenas escondida


entre os braços do Michael, na
pequena brecha entre seu pescoço
e seu ombro. Minha cabeça parecia
prestes a explodir, mas eu
batalhava para me manter acordada,

para ver o que iria acontecer antes


que eu não fosse mais capaz de
aguentar.

– Você me disse era uma cirurgia


simples, de poucos riscos – o
senhor Fernando lembrou ao

cirurgião. Sua voz parecia


entrecortada de dor, mas, mesmo
assim, ele ainda conseguia impor
um
medo irracional em que a ouvisse.

– Ela dá certo em 80% dos


pacientes, mas o senhor Joshua
não...

Então aconteceu.

O senhor Fernando se jogou contra


o médico em um piscar de olhos, o
arrastando até o imprensar

contra a parede com uma mão e o


atacar com a outra, numa sequencia
de murros fortes e certeiros,

em todos os cantos possíveis do


rosto do doutor, que soltava gritos
de susto e dor enquanto era

esmurrado pelo Hunter com fúria.

Vários enfermeiros entraram


correndo na sala, com os olhos
arregalados de surpresa, e correram

para tentar apartar. Michael me


puxou para trás, segurando minha
mãe com outra mão e tentou guiar

ambas para fora da sala.

Ouvi um grito alto junto com o


barulho sendo quebrado.

– PELO MEU FILHO! – Ouvi o


senhor Fernando gritar após o grito
alheio.

Fechei os olhos com força, me


sentindo enjoada e extremamente
tonta. Aquilo era demais para o
meu

emocional.

– Eu vou desmaiar, Michael –


avisei baixinho, com a voz rouca e
a cabeça pesando para cair.

Ele negou com a cabeça e me


abraçou mais forte, largando a mão
da minha mãe para poder me
segurar melhor.

– Não me deixe aqui sozinho – ele


implorou quase sem voz. – Eu juro
que te tiro daqui e te levo para
longe dessa confusão. Apenas não
desmaie. Por favor.

Encostei a cabeça em seu ombro,


me afogando na escuridão mesmo
estando de olhos abertos. Ao

longe, eu ouvia os berros dos


enfermeiros. Eu não queria ficar
acordada. Eu não queria me manter

assim, pensando, raciocinando,


entendendo o que eu não gostaria de
entender e tentando ao máximo

não deixar a ficha cair e não me


quebrar ao meio de tanta dor.

Mas foi exatamente isso que eu fiz.


Porque o Michael havia pedido, e
isso era o bastante para mim.

– Mãe, o que está acontecendo? –


Ouvi a voz doce e fina do Micael
vindo do sofá. Fechei os olhos

instantaneamente. Eu havia
esquecido que ele existia, que ele
estava aqui, dormindo enquanto um
doutor dava a notícia de que seu pai
havia morrido.

Meu peito estava apertado e eu


tinha dificuldade para respirar; mas
isso não tinha nada a ver com o

meu corpo encolhido dentro do


abraço do Michael. Não era dor
física. Era pior.

Era dor na alma.

Então eu senti o Michael me


empurrando com cuidado, ainda me
deixando apoiada a ele, só que de

lado. Abri os olhos para ver o que


estava acontecendo. Senhor
Fernando estava deitado no chão,

inconsciente.

Observei enquanto uma das


enfermeiras guardava uma agulha
pequena no bolso. Eles doparam o

senhor Fernando!

Os dois únicos enfermeiros homens


foram para as extremidades do
Hunter no chão e o ergueram com

certa dificuldade, o botando numa


maca em seguida e o tirando da
sala.
Notei, naquele segundo, que o
cirurgião não estava mais ali.

As outras enfermeiras lançaram um


olhar de pena para nós e saíram em
seguida também, deixando eu,

minha mãe, o Michael, o Micael e a


Anna sozinhos.

– Eu não quero mais ver tudo isso,


Michael – falei baixinho para ele.

– Susan, por favor, eu não sou


capaz de desmaiar.

– O que você quer dizer com isso?


Ele olhou para mim.

– Meu corpo tende a continuar


acordado quando eu estou
preocupado ou triste. Eu não
consigo

desmaiar com nada – ele explicou


em um tom de súplica.

Assenti com a cabeça e apoiei


minha cabeça no ombro dele,
tentando bloquear todos os
pensamentos

ruins que iriam chegar. Eu estava


fingindo para mim mesmo que tudo
estava bem.

Nesse momento, a porta se abriu de


repente. Bruno passou voando por
ela, correndo até nós com os

olhos arregalados e uma calça de


moletom junto com uma camisa do
avesso.

– Nicolas me ligou – foi o que ele


conseguiu dizer enquanto colocava
a mão no outro ombro do

Michael e se apoiava nela para


respirar. – Me digam que ele estava
brincando ou eu quebro esse
hospital inteiro – ele falou com a
voz tremida de ódio e dor.

Raiva, eu percebi, era sempre a


primeira reação.

Depois, só depois, a pessoa


desmoronava.

Mas eu ainda não havia chegado


nesse nível. Eu estava no processo
de negação, ignorando os fatos e

tentando me concentrar apenas em


estar aqui, ao lado do Michael,
observando tudo.

Michael encarou o Bruno, retirando


sua mão de seu ombro e colocando
a sua no ombro dele,

trocando de posição. Eles se


olharam.

Então o Bruno caiu de joelhos no


chão, com as mãos no rosto e os
ombros tremendo sem parar.

– Não, não, não... – ele implorou


enquanto se inclinava ainda mais
para frente. Abaixei-me junto com o
Michael e o abraçamos. Ele negou
com a cabeça, chorando ainda mais.
– Ele... Não... Por favor,
não. – Suplicou baixinho, passando
os braços pelos próprios joelhos e
abaixando a cabeça entre

eles.

Olhei para o Michael. Ele não


demonstrava nenhum sentimento.

Em outro lugar da sala, ouvi o


barulho da Anna tentando ninar o
Micael novamente. Sua voz tremia

enquanto ela cantava uma canção


para ele. Reconheci a voz da minha
mãe ajudando, mesmo que

também meio fraca. Ninguém estava


preparado para isso.

– Ajude elas – Michael pediu. –


Micael não precisa passar por esse
momento.

Neguei com a cabeça. Bruno ainda


chorava à minha frente, mais baixo
agora, soluçando em

intervalos curtos.

– Não vou sair daqui.

Ele me encarou com raiva.

– Abraçar ele não vai trazer o


Joshua de volta – ele falou com
frieza. – Mas fazer o Micael dormir

por fazer uma pessoa a menos ficar


traumatizada.

Olhei para ele sem acreditar,


sentindo minha garganta se fechar e
toda a dor que eu estava tentando

controlar sair em forma de


lágrimas.

Joshua não iria voltar.

Me afastei do Michael como se ele


tivesse me dado um murro e senti
meus olhos inchando de
lágrimas, que caiam sem parar pelo
meu rosto. Meio segundo depois,
senti um braço ao meu redor.

Me virei para minha mãe e chorei


ainda mais, abraçada com ela. Ela
passava a mão no meu cabelo

devagar enquanto eu sentia todo o


meu organismo derretendo. A dor
emocional era tão grande que se

tornava física.

Minha cabeça parecia estar sendo


apertada por um quebra-nozes e
minha barriga estava contraída
por causa do movimento de chorar.
Meu corpo inteiro tremia. Eu
poderia morrer ali.

– Me desculpa – ouvi o Michael


dizer para minha mãe, que não
respondeu. – Eu achei que isso
fosse

demorar mais para acontecer.

Eu também achei, pensei com o


fundo da minha mente, a única parte
que não estava se

desmanchando.

– Ai meu Deus!
Levantei os olhos por um segundo,
apenas a tempo de ver um Nicolas
destruído entrando na sala. Ele

correu até nós, parando no meio de


mim e do Bruno; tentando decidir
quem iria consolar primeiro.

– Por favor, não chore também –


Michael pediu calmamente.

– Já fiz isso – Nicolas respondeu


com a voz abafada, como se
estivesse dentro de uma caverna.
Toda

sua doçura nata havia ido embora,


dando lugar a uma tristeza infinita,
que percorria cada parte do seu
tom.

Me encolhi ainda mais, sentindo os


braços da minha mãe ficando mais
fortes ao meu redor. Eu sentia

que, sem seus braços, eu iria me


desmanchar de verdade, como
açúcar em água.

– Onde estão nossos pais? – Ouvi o


Michael perguntando ao longe, tão
baixo e distante como seria se

ele estivesse a metros de distância.


Mas ele estava ao meu lado. A dor
estava me colocando em uma

bolha.

– Os dois estão desacordados num


dos apartamentos do hospital,
juntos – Nicolas respondeu com a

voz séria e madura, mesmo que


cheia de sofrimento. Ele era o
irmão mais velho agora.

E foi exatamente no momento em


que eu pensei nisso que meu
cérebro sentiu uma pontada de dor,

como se estivesse sendo rasgado ao


meio com uma espada.

A última coisa que eu ouvi foi o


soluço do Bruno, ecoando pela
escuridão até eu não sentir mais

nada.

[...]

Minha cabeça doía.

Não sei quanto tempo se passou


desde que eu desmaiei, mas, assim
que minha consciência voltou,

todas as lembranças vieram juntas,


sem esperar nem um único segundo
para metralharem em minha

mente.

Fechei os olhos de novo. Eu não


queria ter que enfrentar isso.

Mas eu tinha.

Pelo Joshua, acima de tudo.

Joshua.

O nome flutuou nos meus


pensamentos, fazendo uma série de
imagens passarem como um
flashback
longo e torturante pela minha
cabeça.

Ele me mudou.

Ele me mostrou, com todos aqueles


incontáveis atos fascinantes, o que
é viver de verdade.

Quem mais, além de Joshua,


procuraria o tom exato do azul de
seus olhos apenas para comprar

pedrinhas dessa cor?

Quem mais, além do Joshua, faria


um casamento dentro de um quarto
ser o momento mais perfeito de
toda uma vida?

Quem mais, além do Joshua, seria


capaz de se arrepender de todos os
seus erros e pedir perdão sem

hesitar? Quem mais teria essa


humildade? Quem mais teria essa
nobreza?

Não, ninguém jamais seria como o


Joshua.

Senti as lágrimas descendo


suavemente pelo meu rosto. Chorar
era a única coisa que eu podia
fazer.
E, ainda assim, não era nada.

– Ela acordou.

Abri os olhos devagar. Michael em


pé ao meu lado, olhando para mim
com uma mistura de

preocupação e alívio. Nesse


segundo, pude sentir sua mão
cobrindo a minha, com seu dedão
dando

voltas suaves na minha palma.

Minha mãe chegou em seguida,


ficando ao lado do Michael. O
movimento em minha mão parou
instantaneamente.

– Ah filha... – Ela falou baixinho


enquanto passava a mão no meu
cabelo. Ela sabia o que eu estava

sentindo. Ou talvez para ela tivesse


sido ainda pior, já que o papai
morreu quando eu tinha apenas

três anos.

– Vou deixar vocês a sós – Michael


disse se afastando de mim. Sua mão
apertou a minha por um

segundo antes de soltá-la e ir


embora. Senti vontade de chorar
ainda mais. Era o Michael, afinal
de

contas.

– Ele é tão forte... – Minha mãe


sussurrou para mim quando ele
saiu. – Foi o único que não chorou

ainda.

Assenti com a cabeça.

– Por dentro ele deve estar


completamente exausto – continuou
ela. – Mas por fora... Susan, ele não

demonstra nada! – Ela parecia


impressionada de verdade,
enfatizando sua voz mesmo que
estivesse a

oitavos do tom normal.

– Ele construiu uma fortaleza ao seu


redor – respondi, me
surpreendendo com o quanto minha
voz

estava rouca e fraca, arranhando


minha garganta a cada palavra. –
Ele teve que fazer isso.

Ela fez que sim com a cabeça e


abaixou os olhos para olhar para
mim. E, por mais impossível que

isso possa soar eu me sentir melhor


ao olhar para ela. Me senti segura,
mesmo que todo o meu mundo

tivesse partido ao meio.

– Eu amo você, mãe – sussurrei,


tendo que fazer força para
conseguir emitir alguma coisa.

Ela assentiu.

– Eu também amo você, filha.

[...]
O resto do dia eu passei no
hospital, praticamente sem sair da
cama – apenas para fazer minhas

necessidades e comer.

Quase não havia barulho de


conversa.

A única pessoa que falava e fazia


algo de verdade era o Micael –
Anna havia decidido não contar

para ele ainda, apenas omitir até


que ele tivesse capacidade de
entender direito o que aconteceu.
Ela não queria contar para ele que
ele era órfão.

– Quero ir para casa. – Ouvi o


Michael falando para o Nicolas no
sofá ao meu lado. – Eu não

aguento mais esse lugar.

Nicolas não respondeu. Eu não


sabia se concordava com o
Michael; ir para casa significava
lembrar-

se do Joshua de uma forma um


milhão de vezes maior.

Então, a porta se abriu devagar e o


senhor Fernando entrou no
apartamento. Seus olhos estavam

inchados e vermelhos, mas ele


ainda assim parecia feroz.

– Vamos embora daqui – ele falou


com aquela autoridade nata.

Ninguém discordou.

Me levantei com cuidado, sentindo


o peso dos meus ossos pela
primeira vez na vida. Eu estava

exausta, mesmo que não tivesse


feito absolutamente nada o dia todo.

Nicolas se levantou e segurou


minha mão. Olhei para ele por um
segundo, tentando entender como
ele

conseguia consolar alguém quando


seu rosto deixava transparecer o
quanto ele estava destruído por

dentro.

– Obrigada – agradeci baixinho.

Ele negou com a cabeça.

– Não é nada.

Ele apertou minha mão de leve e


me guiou até fora do apartamento.
Nicolas era o irmão que eu não

tive a sorte de ter.

Senti uma mão no meu ombro e me


virei para ver a Anna, sorrindo
solidária para mim. Seus olhos

também estavam opacos e sem


vida, mesmo que não tão inchados
quanto os dos outros. Ela não havia

conhecido o verdadeiro Joshua por


tempo o suficiente.

Michael carregava o Micael no


colo enquanto andava, mesmo que
minha mãe tivesse se oferecido
para segurá-lo.

Fomos até o estacionamento. Dona


Nicole ia à frente, sem falar
absolutamente nada. Não
conseguiria

encontrar um número alto o bastante


para definir sua dor agora. Eu sabia
disso. Sabia que, por pior

que eu estivesse, ela estava muito


mais triste. Sua dor era maior do
que a de todos nós.

Senhor Fernando andou mais rápido


para alcançá-la e passou o braço
pelo seu ombro, fazendo-a

encostar a cabeça neste. Sua mão


descia e subia devagar pelo braço
dela com cuidado; com amor.

Bruno estava encostado no carro


dos Hunter, como se estivesse lá há
muito tempo.

Olhei para ele sem entender.

– Vocês vão precisar de uma carona


– ele falou apontando para o carro
do Joshua. Sua voz era tão

profundamente triste que meu


coração parou por um segundo. Isso
não era justo com ninguém aqui.

Michael assentiu com a cabeça. Ele


era o único que não parecia ter sido
tocado.

– Anna, Micael, Susan e Melissa


podem ir com você – ele falou
olhando para nós.

Senhor Fernando olhou para ele por


uma fração de segundo,
extremamente impressionado com
sua

atitude. E, nesse momento, percebi


que ele nunca havia olhado de
verdade para o Michael. Ele nunca

tinha notado o quanto seu filho era


forte.

Nicolas soltou minha mão e beijou


minha bochecha antes de se juntar a
seu irmão.

– Vamos. – Ele falou enquanto


Michael passava o braço pelo
ombro dele.

Olhei para os dois por um segundo.

Joshua adoraria ter visto isso.

[...]
Obviamente, não consegui dormir
naquela noite.

Minha mente parecia que iria


explodir a qualquer momento,
tamanha a dor que eu estava
sentindo.

Eu não conseguiria explicá-la, se


alguém me perguntasse.

Mas era a pior coisa que eu já


havia sentindo em toda minha vida,
a sensação de que não há

absolutamente nada que você possa


fazer a não ser relembrar de tudo e
chorar como uma criança

depois de uma queda. E era isso


que eu estava fazendo, cada
segundo dessa longa noite.

Não foi apenas o Joshua que


morreu. Foi meu coração; metade
da minha alma. Ele levou tudo o
que

valia a pena junto de si.

Ele levou o motivo de acordar feliz


para um novo dia.

Ele levou toda e qualquer graça que


um raio de Sol poderia ter.
Porque ele era o próprio raio de
Sol da minha vida.

Foi ele quem chegou e a iluminou


com suas ironias e frases doces.
Ele me iluminou com sua luz

própria.

Seu coração era tão grande que


possuía uma gravidade interna,
atraindo as pessoas para junto dele.

Eu fui atraída.

Todos nós – todos nós que o


conhecemos por mais de 5 minutos
– fomos atraídos por essa força sem
tamanho que era o Joshua.

Por isso não era justo ele ir


embora.

O mundo precisa de pessoas


genuinamente boas como ele para
continuar girando de forma

equilibrada, sem deixar que todo o


mal o consuma.

Ninguém merecia a dor de não


perder alguém como ele.

Passei a mão pelo meu cabelo e me


sentei na cama, tentando não deixar
meu cérebro explodir.
Me levantei e fui ao banheiro. Fiz
tudo o que deveria fazer e saí do
quarto, pensando em como o dia

de hoje poderia estar sendo


maravilhoso se as coisas tivessem
tomado outro rumo.

Desci as escadas, passando direto


pelo corredor do quarto do Joshua.
Deve ser insuportável entrar

lá.

Michael estava deitado no sofá,


olhando para uma televisão
desligada. Fui até ele com cuidado
e

sentei ao seu lado.

Ele se ergueu um pouco e se


arrastou até colocar a cabeça no
meu colo.

– Oi. – Ele cumprimentou baixinho.

– Oi.

Ele se virou para me olhar nos


olhos.

Me surpreendi com a cor vermelha


deles, como se ele tivesse chorado
a noite toda.
Então me lembrei que foi
exatamente isso que deve ter
acontecido, já que o Michael só
consegue se

deixar sentir algo de verdade


quando está a sós com si mesmo.

– Eu sinto muito – foi o que eu


conseguir dizer.

Ele assentiu.

– Eu também sinto.

Nos encaramos sem dizer nada por


um tempo.
Então ele se sentou, olhando para a
mesinha de centro e apontando com
o queixo para ela. Segui seu

olhar; havia um papel dobrado nela,


levemente molhado.

– O que é isso? – Perguntei.

– Eu fui ao quarto do Joshua e... –


Ele parou por um segundo, olhando
para cima e respirando fundo.

– Ele escreveu isso ontem, algumas


horas antes da cirurgia.

Olhei para a carta sem acreditar.


– Você leu?

Ele assentiu com a cabeça.

– Eu ia esperar para ler com todos,


mas... Eu tinha que saber o que ele
estava sentindo antes de...

Antes de partir – respondeu ele


com a voz entrecortada.

Peguei a carta com as mãos,


segurando ela como se fosse feita
de vidro. A parte de cima estava

molhada com um único pingo


incolor. Uma lágrima.
Olhei para o Michael e ele se
limitou em pressionar os lábios. Às
vezes, sua fortaleza caía.

– Eles não vão ficar com raiva? –


Perguntei um pouco apreensiva. Eu
não sabia se estava preparada

para isso.

– Ninguém aqui consegue sentir


nada além de dor, Susan – ele
retrucou calmamente.

Mordi os lábios por um segundo,


tentando ao máximo não abraçá-lo.
Ele não iria gostar que o
tratasse assim, como alguém que
merece algum tipo de
solidariedade. Mas ele merecia. A
vontade

que eu tinha era de consolá-lo até


ficar tudo bem para ambos.

Mas isso iria demorar muito.

Abri a carta do mesmo jeito que se


tira um curativo; rapidamente para
tentar não sentir o impacto.

Respirei fundo antes de começar a


ler.

Oi.
Me sinto meio ridículo falando com
um papel, mas eu preciso botar
para fora o que eu estou

sentindo, então vamos fingir que


você possui vida, ok? Obrigado
pela compreensão.

Há mais ou menos meia hora me


ligaram falando que minha cirurgia
do coração foi adiada para daqui

a 5 horas e eu não sei como lidar


com isso. Uma parte de mim diz
para eu relaxar, que vai ficar tudo
bem; afinal eu só tenho 20 anos,
sabe? Eu ainda tenho muita coisa
pela frente e tal.

Mas o complicado é que essa parte


é o equivalente a 0,5% da minha
mente.

Todo o resto está desesperado e


com mau pressentimento,
completamente apavorado pela
ideia de

deixar todas as pessoas que eu amo


para trás.

Eu não quero morrer.

Não exatamente por mim, é claro.


Morrer não seria uma barreira se eu
não amasse tantas pessoas.

Eu tenho um filho, sabia? Eu tenho


uma família completa, um amor
para a vida toda e um amigo-

irmão.

É por eles que eu não posso morrer.

Eu ainda preciso ver o Micael


crescendo; ainda preciso ter meu
filho com a Susan e ser padrinho do

casamento do Nicolas com o


Felipe. Eu ainda preciso ver o
Michael se apaixonar e ser feliz
com
alguém. Eu ainda preciso ver meu
pai e minha mãe velhinhos numa
cadeira de balanço, de mãos

dadas enquanto lembram-se de


todas as dificuldades que eles
passaram até chegar ali.

Eu não quero nem posso morrer,


mas eu sei que existe essa
possibilidade. Eu entendo isso.
Entendo

que às vezes o Universo faz coisas


que ninguém entende o porquê e
prega peças na vida de todas as
pessoas boas ou ruins. Eu não sou
ingênuo. Eu sei que posso entrar
naquela sala de cirurgia e nunca

mais sair, por causa de uma falha


humana ou artificial.

Por isso eu estou escrevendo isso.

Porque eu sei que, se eu morrer,


esse será meu ultimo documento.

Se alguém que não seja eu estiver


lendo isso, é por que eu não
sobrevivi. Porque, se eu passar por

tudo isso e ficar tudo bem, eu vou


queimar essa carta.
Então, eu vou me prevenir.

Espero que nada que eu diga a


seguir seja útil no futuro. Mas, bem,
vamos lá. Estou respirando fundo
agora, enrolando para não precisar
escrever o que eu realmente
deveria.

Ok, vamos.

Agora.

Isso dói.

Meu peito está subindo e descendo


enquanto minha garganta arde de
medo. Eu não quero ter que
escrever meu testamento. Isso não
me parece justo.

Mas eu vou. Por eles (como


sempre).

• Primeiro de tudo; eu possuo uma


conta no banco com um bom
dinheiro – basicamente todo o

dinheiro que eu ganhei de presente


ou de mesada desde que eu tinha 12
anos –. É dinheiro o

suficiente para ser divido


igualmente para duas pessoas e
conseguir sustentá-las por um bom
tempo.

Essas duas pessoas serão Susan e


Micael. A metade da Susan pode
ser gastar com o que ela quiser,

podendo ser até transferida para a


conta da Melissa se ela decidir
assim (o que é bem a cara dela,

para ser sincero). A metade do


Micael, no entanto, deve ser
utilizada acima de tudo para sua

educação; pagando sua mensalidade


no colégio JK até ele se formar (e o
dinheiro que sobrar no mês
pode ser usado para seu lazer).

• Segundo; minha herança paterna


deve ser dividida igualmente entre
o Michael e o Nicolas, meus

irmãos. Diga a eles que eu os amo,


mesmo que eu não tenha dito isso
muitas vezes. Eles são pessoas

fascinantes e tão brilhantes que eu


sei que, seja lá quanto dinheiro
minha parte na herança possua,

eles não vão precisar dele.

• Terceiro; minha herança materna


pode ser toda doada para alguma
instituição de caridade (talvez

um orfanato ou algo do tipo). Minha


mãe decidirá isso. Ela tem um
coração de ouro.

• Quarto; todos os meus bens


materiais devem ser administrados
pelo Bruno. Ele sabe o que eu faria

com eles, e eu sei que ele cuidará


de tudo o que foi precioso para
mim com perfeição. Eu confiaria

minha vida ao Bruno. E ele sabe


disso.

• Quinto e último; essa carta deve


ser guardada com meu pai e apenas
com ele (mesmo que possa ser

lida por qualquer outra pessoa que


eu tenha citado acima).

É isso.

Foi ruim ter que escrever tudo? Foi.


Provavelmente a pior sensação que
eu já senti em toda a minha

vida. Mas eu tinha que o fazer.

Agora eu vou sair do quarto e dar a


noticia para todos da minha família
sobre a cirurgia.
Espero queimar essa carta quando
eu voltar.

Mas, se isso não acontecer, avisem


a Susan que ela foi a melhor coisa
que já aconteceu em toda a

minha vida. Eu a amo. Ela sabe


disso. Todo mundo sabe disso.

Digam o mesmo para o Micael,


quando ele crescer. Ele é a coisa
mais fascinante que eu já tive a

honra de tocar.

Muito obrigado ao Michael,


Nicolas e Bruno. Meus irmãos. Sem
vocês, eu não seria nada.

Mãe, pai e avó; eu não preciso nem


comentar. Vocês sabem. Vocês
sabem o que vocês significam

para mim e sabem que tudo –


absolutamente tudo – que eu sou só
existe por causa da forma como

vocês me moldaram. Eu amo vocês.

- Joshua Montenegro Hunter

Fechei os olhos depois de ler,


tentando me lembrar de como se
respira.
Michael estava com o braço no meu
ombro desde que eu havia
começado a chorar – mais ou
menos

depois da primeira linha – e me


apertava forte contra ele.

– Eu sei. – Ele falou com


solidariedade.

Assenti com a cabeça e me encostei


em seu ombro, deixando as
lágrimas caírem sem parar.

Me pergunto se, algum dia, isso irá


passar.
[...]

O enterro do Joshua foi no dia


seguinte, no cemitério onde estavam
seus bisavôs.

O caminho até aqui foi silencioso –


assim como quase todos os outros
segundos desde ontem.

Não havia nada que pudesse ser


dito.

Fui ao lado dos Hunter até a


primeira fileira de cadeiras e me
sentei bem em frente ao pequeno

altar do padre. O caixão estava ao


lado dele, mas eu não o olhei. Eu
não conseguia olhar para ele

sabendo que o Joshua – meu Joshua


– estava ali dentro.

Ao meu redor, reconheci algumas


pessoas – como as meninas da
minha sala e quase todos os meus

professores – mas a maioria eram


desconhecidos para mim. Boa parte
dos desconhecidos eram

jovens da idade do Joshua,


provavelmente da faculdade dele.

Algumas pessoas vieram


cumprimentar os Hunter, dando
condolências. Felipe foi o único
que se

juntou a nós após dar seus pêsames,


sentando-se ao lado do Nicolas e o
abraçando com força.

Nicolas enterrou seu rosto no peito


do parceiro e eu finalmente o vi
chorando, com os ombros

tremendo enquanto o Felipe


acariciava as ondas suaves de seu
cabelo, apoiando o queixo da
cabeça
deste. Eles se amavam tanto.

– Por favor, sentem-se todos.

Levantei os olhos para o padre na


minha frente, que tinha uma Bíblia
em sua frente e usava uma

manta branca e simples, que


combinava perfeitamente com o tom
pacifico de seus olhos azuis claros.

Todos fizeram o que ele mandou e o


barulho de conversa foi
rapidamente substituído por um
silencio

ecoante.
O padre começou a discursar sobre
Deus, falando coisas como “tudo o
que Ele quer acontece por

uma razão” e “nosso querido


Joshua agora está em um lugar
muito melhor”. Mas eu não estava

prestando atenção. Ao invés disso,


eu observava o caixão do Joshua,
tentando imaginá-lo vivo lá

dentro, batendo na madeira


enquanto gritava para alguém o
ouvi-lo, com seu coração batendo
no
peito. Em minha mente, ouvíamos o
barulho do Joshua e corríamos para
abrir a caixa de madeira, o

tirando de dentro com vida. Eu o


beijava. Eu dizia que o amava e
segurava a mão dele sem acreditar

que isso estava mesmo


acontecendo.

Fechei os olhos com dor.

Até sonhar ficava torturante quando


o sonho era tão impossível.

–... E agora eu vou pedir para que


alguém da família venha fazer um
pequeno discurso sobre a

importância do Joshua – o padre


falou depois de quase 20 minutos.

Olhei ao meu redor enquanto os


Hunter decidiam silenciosamente
quem iria falar. Dona Nicole usava

um óculos escuro grande e negou


com a cabeça no mesmo segundo,
soluçando em seguida. Senhor

Fernando a abraçou e fez que não


com a cabeça também. Nicolas
ainda estava nos braços do Felipe,

com a cabeça encostada de leve em


seu ombro, com lágrimas
silenciosas caindo de seus olhos

claros.

Michael se levantou.

Ele era o único que tinha condições


de falar.

Observei levemente surpresa


enquanto ele caminhava até o altar,
dando lugar ao padre. Ele ajeitou a

gravata branca e passou a mão pelo


cabelo, notavelmente
desconfortável.
Seus olhos foram até os meus e ele
respirou fundo enquanto mexia no
microfone para ficar na sua

altura.

– Bem, – começou ele, falando


baixinho e com seriedade. Ele não
desviava os olhos dos meus. –

como vocês podem notar, há muitas


pessoas aqui. Provavelmente o
dobro do que normalmente em

ocasiões como essa. E eu sei o


porquê disso – ele suspirou antes
de continuar, como se estivesse
buscando palavras. – Porque era o
Joshua. E tanto eu quanto vocês sei
o quão significante ele era. E

ninguém, nem mesmo eu, precisaria


falar isso em voz alta. Era só
conversar com ele por mais de

cinco minutos. Ele emitia sua


energia brilhante com naturalidade,
sem esforço algum. Ele emitia

essa... Liderança. Como se sempre


soubesse exatamente o que deveria
ser feito a seguir. E ele

sempre foi assim. – Agora Michael


falava quase rápido, como se
estivesse fascinado em lembrar-se

do irmão. – Ele sempre esteve um


passo a frente de todos nós, mesmo
sem saber. Ele era brilhante,

inteligente e engraçado ao mesmo


tempo. Era fácil amá-lo. Eu sei
disso por que já tentei sentir o

contrário, já tentei nadar contra a


corrente que era o Joshua, sempre o
puxando para o seu lado. E foi
impossível, mesmo que tenha dado
certo por algum tempo. Eu sempre
voltava. E ele sempre estava
lá, de braços abertos para me
perdoar e dizer que, mesmo depois
de tudo, eu era seu irmão, todas as

vezes que eu fazia isso – ele parou.


Todos estavam imóveis, esperando
ele continuar. – Eu tive a

honra de ser irmão do Joshua. De já


nascer com uma pessoa tão
fascinante ao meu lado, mesmo que

às vezes eu não notasse o quão


especial ele era. É tão fácil ter
raiva de algo que brilha demais; é
tão fácil achar que isso o ofusca,
quando, na verdade, o ilumina. E é
por isso que existem tantas pessoas
aqui. Porque era o Joshua. E isso
sempre foi autoexplicativo. Não era
qualquer um, sabem? Não era

um cara que você possui ele e mais


quatro iguais. Não, não, nada disso.
Era o Joshua. Era meu irmão.

Era a única pessoa que eu me


sentiria honrado em copiar. Porque
ele sabia de mais coisas do que

qualquer um de nós – ele parou


novamente, por mais tempo dessa
vez. Suas palavras ecoavam em
minha mente. – E eu o amava,
apesar de não me lembrar de ter
dito isso mais de duas vezes para
ele.

Não houve palmas. Não houve


assobios ou qualquer outro barulho
que poderia ter. Não, longe disso.

Todos estavam estáticos enquanto


Michael descia do altar e se
sentava ao meu lado, quieto.
Ninguém

parecia esperar por esse discurso


vindo do Michael – nem mesmo eu,
para ser sincera.
O padre voltou para o altar. Até ele
parecia surpreso.

– Isso foi... Belo – ele comentou


devagar. – Creio que todos aqui
concordem plenamente com você.

Assenti com a cabeça.

Eu concordava.

Michael deu de ombros e olhou


para o chão, como se pensasse se
disse ou não a coisa certa.

Então o senhor Fernando se


levantou de repente.
Olhei pra o Hunter que caminhava
até nós, parando bem em frente ao
filho mais novo.

Michael levantou os olhos para ele,


que o olhava em algo parecido com
choque.

– O que eu fiz de errado? –


Perguntou na defensiva.

Senhor Fernando negou com a


cabeça e se inclinou para o filho,
respirando fundo antes de falar.

– Me perdoe, Michael.

Olhei para ele sem acreditar.


Michael parecia igualmente
surpreso.

– Eu fui um péssimo pai por anos e


eu sei disso. Por favor, me perdoe –
ele implorou com humildade.

Seu rosto nunca foi tão parecido


com o do Joshua. – Só agora eu
percebi o tamanho do seu coração.

Me perdoe por demorar tanto. Eu


fui um cretino.

Michael abaixou a cabeça,


respirando fundo para se controlar.

– P-pai... – ele gaguejou fraco. Ele


não podia acreditar no que estava
ouvindo.

Senhor Fernando passou os braços


ao redor do Michael e o abraçou.

Eles ficaram assim um tempo,


sentindo um ao outro de uma forma
que nunca haviam feito antes.

– Eu amo você, filho, mesmo que


nunca tenha te dito isso.

Eles se afastaram apenas o bastante


para se olhar.

Michael sorriu com o canto da boca


enquanto olhava para cima,
tentando ao máximo não chorar. Eu

não podia nem imaginar o que ele


estava sentindo agora.

– Eu também amo você, pai.

47. Eu esperaria

✣Joshua✣

O começo foi ruim.

Eu fiquei desesperado, é claro. Eu


achei que tivesse perdido tudo, bem
no momento em que eu não

precisava de mais nada.


Eu tinha um filho, pais que me
amavam, irmãos que eram meus
amigos e amigos que eram como
meus

irmãos.

E eu tinha a Susan; um grande e


explosivo amor para a vida inteira.

Eu, com apenas 20 anos, tinha


conquistado tudo que algumas
pessoas com 40 ainda nem
sonhavam

em conseguir. Eu era a pessoa mais


feliz do mundo.
E, no entanto, eu morri.

Não sei quanto tempo se passou até


eu me acostumar com a ideia, mas
posso prometer que não foi

como no mundo mortal; o tempo


passa de um jeito diferente por
aqui. É complicado.

Mas eu consegui, em algum


momento, entender por que eu tive
que ir embora. A mente fica mais
clara

quando passamos para esse lado.

E eu descobri que era um espírito


de luz – ou um anjo, se quiser
chamar assim.

Quando eu nasci, salvei o


casamento dos meus pais. Eles
estavam numa crise de alguns
meses por

causa de uma discussão forte; e


minha mãe estava jogando suas
coisas em sua mala quando viu um

pacote de absorvente fechado. Ela


não menstruava há dois meses.

Houve gritos e choros. Eles


voltaram e se casaram. Com a
minha vinda, perceberam que se
amavam

acima de qualquer discussão.

Essa foi minha primeira missão.

Ao crescer, fui o irmão que os pais


do Bruno não puderam dar para ele;
o tirei da solidão mesmo sem

ter noção disso. Eu o guiei e ele me


guiou dia após dia até que os meus
dias acabassem. E Bruno

rezou para mim todas as noites,


mesmo depois de eu ter ido
embora.
Minha segunda missão durou minha
vida inteira e foi a mais fácil de ser
executada.

Também teve o Michael.

Admito que, no começo, eu só


baguncei a vida dele. Meu pai era
parcial, emitindo mais amor para

mim do que para qualquer outro


filho – não que eu fosse o culpado,
é claro, eu não pedi para isso

acontecer; mas eu tinha minha


parcela de culpa.

No entanto, eu o fiz amadurecer


enquanto estava vivo e, ao ir
embora, eu deixei um espaço que

deveria ser dele o tempo todo. Ele


recebeu o amor do meu pai, que
estava guardado abaixo do amor

por mim.

Minha terceira minha missão só foi


concluída com a conclusão da
minha vida.

A minha quarta e principal missão


foi a Susan, foi meu amor e minha
dedicação a ela. Foi a mais

intensa de todas, que exigiu mais


esforço de mim, mas essa vocês já
conhecem.

[...]

Olhei para o garoto loiro à minha


frente. Ele não me notou; sua
concentração estava voltada a uma

gravata vermelha que ele não


conseguia colocar.

Tossi baixinho, chamando sua


atenção.

Ele se virou para mim, levemente


surpreso pela minha presença, mas
não assustado com ela.
- Você não cumpriu sua promessa –
falou enquanto voltava sua atenção
para a própria roupa. – Eu

achei que te veria no meu


aniversário.

Passei a mão pela cabeça, irritado


comigo mesmo.

- Nunca fui bom com juramentos –


confessei. – Me desculpa?

Ele deu de ombros, tentando


esconder o quanto estava magoado
comigo. Fui até ele e parei em sua

frente, o forçando a olhar para mim.


- As coisas nesse lado são
diferentes, Matheus. Eu perco a
noção do tempo às vezes.

- Muitas vezes – corrigiu ele.

- Você não vai me desculpar? –


Perguntei.

- Claro que vou, Joshua – ele sorriu


com leveza. – Eu entendo.

- Não, você não entende; mas


obrigado por me perdoar – disse
sorrindo de volta.

- Enfim, por que você está aqui


então?
- É aniversário da sua mãe, eu não
poderia perder. E faz tempo que eu
não vejo aquelas pessoas.

Ele abriu a boca para dizer que eu


poderia ver mais vezes se eu
quisesse, mas se calou no mesmo

segundo. Ele era compreensivo


como a mãe.

- Papai está preparando essa festa


faz quase um mês; ele disse que não
é todo dia que se faz 40 anos e
chamou todas as pessoas possíveis
– comentou.
Observei o garoto de 13 anos com
atenção enquanto o ouvia falar. Ele
era mais maturo do que os

outros meninos da sua idade e seu


dom nato de enxergar além do
plano corporal me deu a

oportunidade de conversar com


alguém da família.

Me lembro quando apareci para ele


pela primeira vez, quando ele tinha
um ano. Não havia percebido

que ele me notava até que ele


chorou quando eu saí do cômodo
onde ele estava. Voltei no mesmo

segundo, intrigado. Ele me


acompanhou com os olhos e
levantou as mãos, como se pedisse
para eu o

pegar no colo – coisa que eu não


poderia fazer, é claro. Então eu fui
embora; voltando apenas dois

anos depois e o vendo novamente,


com ele me pedindo para brincar de
bonecos com ele. E isso

continuou com mais frequência até


que eu o acostumei com a minha
presença quase diária até seus

oito anos. Os pais dele achavam


que eu era seu amigo imaginário.
Eu gostava desse tempo.

Mas então ele cresceu e sua vida


começou a ficar um pouco ocupada
e eu me afastei dele aos poucos,

vindo apenas de vez em quando vê-


lo. Nós tínhamos nos tornado
amigos, de certa forma, apesar das

minhas visitas terem ficado cada


vez mais raras.

Então eu ouvi batidas na porta, me


tirando dos meus pensamentos.

Matheus olhou para mim com o


rosto intrigado. Ele gostava de me
ver fazendo “coisas de fantasma”

– como ele chamava quando era


pequeno.

- É seu pai – falei.

Ele sorriu satisfeito e abriu a porta


do quarto.

- Se você demorar mais vai perder


o começo da festa – reclamou o pai
dele assim que entrou. Seus
olhos desceram até sua gravata mal
colocada e ele sorriu com diversão.
– Problemas ai?

Matheus assentiu, levemente


envergonhado por não ter
conseguido colocar.

O pai foi até ele e fez um nó em


poucos segundos, ajeitando sua
camisa social em seguida. Um

sorriso orgulhoso surgiu em seu


rosto.

- Agora está perfeito.

Eles sorriram um para o outro.


- Então, já podemos descer? –
Matheus perguntou.

- Claro, sua mãe já deve está na


sala – respondeu o pai, se virando
para sair do quarto.

Matheus e eu o seguimos pelo


corredor e descemos as escadas
para o primeiro andar. Sua casa era

enorme – até maior do que a que eu


morei. Eu tinha muito orgulho da
mãe dele por ter conquistado

tudo isso. Ela merecia.

Fomos até a sala principal e vi a


mãe e a irmã do Matheus sentadas
no sofá, conversando enquanto os

convidados não chegavam. Ambas


sorriram para eles, que se juntaram
a elas.

- Parabéns – falei para a mãe dele,


mesmo sabendo que ela não podia
me ouvir. – Eu amo você.

Matheus olhou para mim por um


segundo, rapidamente desviando
para outro local. Ele fingia que não

conseguia me ver quando estava


com a família.
Susan franziu o cenho por um
segundo, sentindo minha presença.
Queria que ela conseguisse me ver,

mesmo que só por um minuto; mas


sabia que isso não faria bem a ela.
Foi muito complicado para ela

me perder e demorou muitos anos


até que conseguisse acordar para
um novo dia sem sentir uma dor

no peito. Eu não a faria relembrar


de tudo isso. Ela merecia ser feliz.

E por isso – pelo amor


incontrolável e eterno que eu sinto
por ela – eu estava aqui, esperando.

Esperando pelo momento em que


ela irá se juntar a mim – que eu
espero que demore muito, é claro;

ela ainda tem muita coisa para


viver. Eu não passaria para o
próximo plano até que isso
estivesse

concluído. Eu podia esperar. Por


ela.

Seu marido se sentou ao seu lado e


eu os observei. Ela ainda era linda,
exatamente igual à Melissa na
época em que a conheci. Suas
curvas eram bem marcadas devido
à academia, mas sua beleza era

natural; seus olhos brilhavam sem


esforço e seu cabelo castanho,
agora cortado no ombro, descia

suavemente até tocar sua pele. Eu


poderia admirá-la por mais
cinquenta anos e não me importaria.

No entanto, levantei os olhos para a


porta, sentindo a presença de pelo
menos dez pessoas. Matheus

seguiu meu olhar e esperamos


alguns segundos até ouvirmos a
campanhia.

Alice se levantou num pulo e correu


para a porta de entrada, ajeitando o
cabelo longo e escuro. Ela

era a adolescente mais bonita da


sua escola – e provavelmente da
cidade inteira. Seu cabelo era tão

negro que brilhava em contraste a


pele branca e os olhos claros,
exatamente iguais aos do irmão.

Assim que abriu a porta, uma


enxurrada de gente entrou na grande
casa, todos conversando e rindo.

Exatamente dez pessoas. Susan, do


outro lado da sala, se levantou e foi
até seus amigos, com o

marido ao lado, sorrindo.

Bruno foi o primeiro a abraçá-la e


dar seu presente. Seus olhos azuis
agora possuíam a companhia de

rugas de sorriso e seu cabelo,


outrora completamente preto, agora
estava com alguns fios brancos. A

idade o fez bem, eu tinha que


admitir.
Amanda correu para abraçar a
amiga depois do marido. Sorri para
elas. Susan conseguiu manter a

maior parte das amizades do


colegial. Ela tinha noção do quanto
a amizade é algo importante e

cultivou todas elas, dando o seu


melhor sempre.

- Cadê o Jay? – Susan perguntou se


referindo ao filho deles, Joshua.

Lembro-me de quando Amanda


ficou grávida, no mesmo ano em
que Felipe e Nicolas tiveram seu
primeiro filho por fertilização
assistida. Houve uma briga para
quem usaria o nome Joshua para a

criança, mas meu irmão acabou


cedendo quando percebeu que meu
sangue correria pelas veias do

menino, não importando qual o


nome que ele tenha, enquanto o do
Bruno não possuiria tais genes. O

que é um ótimo exemplo de como


os anos se passaram e Nicolas
continuou o mesmo coração doce,

apesar de tudo que aconteceu.


- Deve estar por ai com a sua filha
– rebateu Bruno rindo. – Alice o
pegou de jeito.

O pai dela empurrou o ombro do


Bruno, soltando uma risada. Eles
eram amigos.

- Seu filho que é muito atirado.

- Ele é apenas um conquistador –


retrucou Bruno.

Susan riu e deixou-os conversando,


indo em direção a outro grupo.

- Meu amor! – Cumprimentou


Nicolas enquanto a tomava nos
braços. – Parabéns, bebê. Mais

quarenta anos pela frente, por favor


– disse que o mesmo tom suave de
sempre. Sua voz mal

engrossou ao longo dos anos e


quem o visse diria que era muito
mais novo do que sua idade real.

Nicolas sempre soube se cuidar


bem.

Ela sorriu agradecida e se virou


para receber um abraço do Felipe.

- Tudo de bom, Susan. Hoje e


sempre – falou o Felipe com a voz
grossa e gentil ao mesmo tempo.

Ele a considerava como uma irmã.

- Obrigada meus amores – ela


respondeu grata, pegando o
presente deles e colocando na
mesinha ao

lado.

- Feliz aniversário tia – desejou o


filho mais velho deles, Luís. Seus
olhos eram azuis tão claros

quanto os do Nicolas e brilhavam


da mesma forma. Ele a abraçou por
mais alguns segundos antes de
se afastar e segurar a mão de uma
garota ruiva. – Essa é a minha
namorada, Milena.

- Oi tia – disse a garota sorrindo


com o rosto salpicado de sardas.
Ela era filha do Eduardo e da

Monica. – Parabéns!

- Sempre soube que vocês iam


acabar namorando – Susan
comentou com um sorriso e eles
coraram

de leve.

- Enzo não pôde viajar a tempo da


França para cá, mas ele já deve ter
mandado os parabéns pelo

celular – Nicolas explicou sobre o


filho mais novo, que estava fazendo
faculdade de música na

Europa. Ele era muito bom, para


ser sincero. Seus genes eram os do
Felipe, o que o proporcionou um

lindo cabelo liso e castanho e um


par de olhos cor de mel. Ambos os
filhos deles eram bonitos – e

héteros, caso alguém tenha dúvidas


sobre isso.
Susan fez que sim com a cabeça,
olhando ao redor como se estivesse
incomodada com alguma coisa.

Era a segunda vez no dia que ela


sentia minha presença.

Fui para frente dela, tentando


focalizar minha energia para que
ela conseguisse me ver –
esquecendo

completamente meu acordo interno


de não aparecer para ela.

Por um segundo, ela arregalou os


olhos, que estavam parados mais ou
menos no meu nariz, mas

rapidamente balançou a cabeça.

- O que foi? – Perguntou Nicolas.

Ela deu de ombros, ainda intrigada.

- Eu poderia jurar que... Esquece –


ela balançou a cabeça novamente. –
Já volto.

Nesse segundo, percebi que ela não


havia me visto realmente, mas
apenas o meu contorno. Ela

contaria para o Nicolas se tivesse


enxergado o irmão dele.
A segui pelo salão, observando
todas as mesas lotadas – as pessoas
estavam chegando enquanto eles

conversavam. Ela era muito querida


por todas as pessoas que estavam
ao seu redor.

- Susan! – Anna chamou, correndo


até a melhor amiga de anos e a
abraçando com força. – Parabéns

amor.

Elas sorriram e se abraçaram, já


começando a falar sobre a vida.
Elas haviam chegado ao nível de
amizade que eu possuía com o
Bruno.

Deixe-as conversando e fui atrás do


Micael; eu não o via desde o dia do
nascimento do seu filho.

Varri os olhos pela sala e percebi


que ele não estava em nenhuma das
mesas. Fui até a cozinha,

imaginando que ele poderia estar


ali para esquentar uma mamadeira
ou algo do tipo.

Eu estava certo. Assim que entrei


na cozinha o vi segurando o
pequeno Nando com uma mão

enquanto lavava uma chupeta com a


outra. Andei até ficar em frente a
eles, observando com orgulho

o homem que havia se tornado meu


filho. Ele era alto e forte devido às
horas de malhação intensa,

sua pele era bronzeada e seu cabelo


havia escurecido um pouco com o
tempo, tomando o tom de

castanho claro. Ele poderia passar


a ideia de durão, se não fosse por
aquele par de olhos verdes
angelicais, que transmitia com
sinceridade a alma doce que ele
possuía.

- Quero a mamãe! – Pediu a criança


que tinha mais ou menos dois anos
de idade, balançando as

perninhas em protesto.

Micael suspirou, olhando para o


próprio filho.

- Mamãe está na casa da vovó


agora, você sabe que ela não pode
ficar saindo de casa por causa da

sua irmãzinha – explicou


suavemente e pelo seu tom eu
percebi que não era a primeira vez
que ele

tinha que dizer isso.

Olhei para o bebê pela primeira


vez, observando seus traços. Seu
rosto me lembrava muito os traços

da Anna, mas seus olhos eram


levemente puxados como os da
mães. Senti meu ser vibrar ao notar
o

tom deles; azuis Denim. Ele tinha


meus olhos. Sorri feliz com esse
fato e me inclinei para ver melhor.

Então, ele olhou para mim.

Seus olhos foram até os meus e ele


sorriu, batendo palmas. Me afastei
por um segundo, surpreso. Ele

continuou me olhando, agora


curioso com a minha reação. Seus
bracinhos se ergueram para mim e
eu

neguei com a cabeça devagar,


aliviado pelo Micael não ter notado
os gestos do filho.

Os olhos dele se encheram de


lágrimas pela minha rejeição. Fiz
uma careta que aprendi quando era

criança e ele soltou uma risada,


atraindo a atenção do Micael.

- Em que você está pensando,


anjinho?

- No avô dele – respondi baixinho,


sorrindo.

Sai de perto deles, ouvindo um


choro ao longe quando entrei na
sala.

Agora até mesmo os sofás estavam


lotados de gente, conhecidas e
desconhecidas para mim.

Duas crianças passaram por mim


correndo, brincando de super-herói.
Reconheci no mesmo segundo

como sendo os gêmeos filhos da


Bia e do Richard; eles foram os
últimos da turma a ter filhos, já que
escolheram fazer doutorado e pós-
doutorado antes de constituir uma
família. Eles foram o único

casal que praticamente não


brigaram em 20 anos juntos – até
mesmo Bruno e Amanda passaram
por
algumas crises, nada demais, é
claro, mas houve. E todo o amor da
Bia pelo Richard apenas se

multiplicou quando descobriu sua


gravidez, há mais ou menos sete
anos, de um lindo casal de gêmeos

– Letícia e Robert, os dois com as


covinhas do pai, os olhos escuros
da mãe e a inteligência de

ambos. Robert aprendeu a ler com


três anos enquanto Letícia
conseguia recitar todos os números
de 0
a 100 em francês, inglês e italiano.

Sorri ao passar pela mesa deles


com os outros ex-alunos da classe
da Susan e do Nicolas; Elena e

Pedro estavam de mãos dadas por


baixo da mesa enquanto Isabela e
seu marido davam um selinho –

Acabou que não deu certo entre ela


e o professor, mesmo que a paixão
deles tenha durante todo o

ensino médio dela e até o começo


da faculdade. Mas ela estava feliz e
apaixonada pelo Joe, que
conheceu durante uma viagem para
os Estados Unidos –. Gabrielle e
Arthur discutiam sobre o

estúdio de música deles com a


Clara e o Caio, todos eles casados,
com seus filhos espalhados pela

casa, conversando e rindo – a


maior parte deles estudavam na
mesma sala, no JK.

- Obrigada, Dona Nicole – ouvi a


voz da Susan agradecendo em
algum lugar perto de mim.

Me virei em direção a elas e fui até


uma mesa maior do que as outras,
com meus pais, a mãe da

Susan e a mãe da Anna.

- Parabéns Susan – meu pai falou se


levantando para abraçá-la. Sorri
com a visão, mesmo que já

tivesse visto centenas de vezes.


Desde que eu fui embora, meu pai
havia começado a perceber mais

nas pessoas ao seu redor. Ele


aprendeu da pior forma possível
que não se deve colocar alguém
acima
de todas as outras pessoas.

Melissa sorriu, mostrando algumas


rugas ao redor dos olhos escuros e
brilhantes como os da filha.

Ela não poderia estar mais


orgulhosa da filha, que havia
conquistado simplesmente tudo de
bom que

se pode querer. Eu entendia o que


ela estava sentindo.

- Boa noite a todos.

Levantei a cabeça para o palco


colocado no final do salão, com o
marido da Susan segurando um

microfone.

Todos se calaram instantaneamente


e olharam para o homem alto e
bonito usando uma camisa social

preta, destacando-se em sua pele


clara. Ele respirou fundo antes de
falar, pensando no que iria dizer.

- Acho que, agora que todos os


convidados chegaram, eu posso
fazer um discurso para o amor da

minha vida – das nossas vidas,


corrigi internamente. Susan sorriu
ao se aproximar do palco. – Bem, –

ele fez outra pausa, esperando a


Susan se senta a sua frente. Eles
sorriram um para o outro – você

salvou minha vida. Você salvou


minha vida de todas as formas que
uma pessoa pode salvar outra.

Porque você me mostrou, sem


esforço algum, o que é senti alguma
coisa por alguém. Você é o tipo de

mulher que transforma os homens,


que pega suas essências e as molda
com amor. Você é diferente –
ele parou novamente. Eu
concordava com ele em todos os
sentidos. – Eu lembro que, no
começo, eu

tentei negar o que eu sentia por


você por causa da nossa história.
Você era minha melhor amiga,

sabe? Eu tinha aquele clássico


medo adolescente de estragar nossa
amizade. Isso sem contar os

outros fatores que todos aqui sabem


muito bem – houve um silencio
geral. Ele estava se referindo a
mim. Ele suspirou por um segundo.
– Mas eu não consegui. Não por
muito tempo. Você era especial

demais para eu deixar ir embora,


você era especial demais para eu
ter apenas como amiga. Eu tinha

que tocá-la, Susan. Porque eu


estava, e estou, completamente
apaixonado por você. E eu sei que

algumas pessoas tem a ignorância


de dizer que o amor vira rotina ao
longo dos anos, mas elas não

estão certas. Eu poderia viver mil


anos e, mesmo assim, eu amaria
você na mesma intensidade em

que amo agora. Ou talvez mais.


Porque você me conquista dia após
dia. E eu sou o homem mais feliz

do mundo por ter você ao meu lado.

Todos aplaudiram. Susan subiu no


palco e o beijou.

Sorri. Eles se amavam e ele fazia a


Susan feliz. Era isso, e apenas isso,
que importava para mim.

Anna – que estava na mesa com seu


marido Dylan, primo da Clara –
soltou um grito de felicidade e

puxou um parabéns, ecoando por


toda a casa. Um dos garçons correu
para empurrar a mesa com o

enorme bolo para o centro da sala e


ligou as velas. Susan, seu marido,
Matheus e Alice foram para

lá, ao redor da mesa.

Aplaudi junto deles, mesmo que


não emitisse som. Ouvi uma risada
infantil vinda da mesa do Micael

e me virei para sorri para o meu


neto. Ele encontrou meus olhos e
riu ainda mais, com as bochechas

rosadas e adoráveis salientando o


rosto gordinho.

Girei o corpo novamente para o


centro do salão e vi o Matheus
piscando para mim, sorrindo

enquanto batia palmas para a mãe.


Sorri de volta, sentindo as
vibrações de felicidade emanando
de

todo o local. Será que a Susan tinha


noção do quanto era amada?

Olhei para as mesas, sentindo


minha atenção sendo atraída por um
cabelo longo e ruivo. Jane estava

aqui. Fui até ela, surpreso com a


sua presença. Ela sorria ao lado de
um homem de ombros largos e

sorriso arrogante. Senti meus olhos


se arregalando ao perceber que era
o David, meu primo. Seus

olhos azuis Denim foram o bastante


para me confirmar isso. Ele estava
com a mão pousada sobre a

sua coxa e eu podia sentir a enorme


tensão sexual entre eles. Sorri
comigo mesmo. Observei que não

havia nenhum adolescente ou


crianças perto deles e cheguei à
conclusão de que ela não havia tido

filhos. Era de se esperar,


considerando sua personalidade e
do David. Eles combinavam.

- Tia, você viu meu pai? – A


menina ruiva que eu vi no começo
da festa perguntou; seus olhos

castanhos se tornavam dourados


perto da pupila e ela tinha um
sorriso lindo.
- Acho que ele está na mesa com o
Richard e o Pedro, Milena – ela
falou apontando para uma mesa

apenas com homens.

- Obrigada. E oi tio David – ela


cumprimentou sorrindo para meu
primo, que apenas deu de ombros,

pouco interessado. Sempre um


cretino.

A segui até a mesa e sorri ao ver o


Micael e o Bruno sentados um ao
do outro. Bruno o tratava como

próprio filho muitas vezes, dando


conselhos e o ajudando sempre que
podia. Ele o amava e o Micael

sentia o mesmo.

- ...Então eu decidi fazer outra


quadra de esporte para as crianças
– Bruno continuou a história que
estava contando, seus olhos
brilhando de orgulho ao falar da
própria escola de ensino
fundamental I.

- Quantas são as escolas mesmo


participam da redé? – Richard
perguntou curioso, seu sotaque
inglês
acentuando algumas palavras.

- Contando com a JH daqui da


cidade, ainda possuímos cinco no
Sul, três no Norte, duas no
Nordeste

e seis no Sudeste, mas estamos


providenciando a primeira no
Centro-Oeste – ele falou com o
mesmo

tom de voz que um pai falaria de


um filho. – E eu estou pensando em
começar uma com o fundamental

II e o ensino médio, com o nome de


JH também.

- Creio que JH signifique Joshua


Hunter, certo estou? – Richard
indagou com os olhos brilhando de

curiosidade. Ele sempre queria


saber mais sobre tudo.

Micael abaixou a cabeça por um


segundo, respirando fundo. Eu sei o
quanto ele gostaria de conseguir

se lembrar de mim, mas era


impossível, considerando o pouco
tempo em que estivemos juntos e a

idade que ele possuía. Nós não


tiramos nenhuma foto juntos
enquanto eu estava vivo. Eu achei
que

teria tempo para isso.

- Você sempre está certo Rick – o


Eduardo falou com humor para
aliviar o clima.

Bruno parecia ter esquecido-se do


que estava falando por um momento
e um suspiro passou pela sua

boca.

- Não poderia ser diferente. Joshua


queria ser professor, então nada
mais justo do que eu abri minha
escola com seu nome... – Ele parou,
refletindo. Seus pararam de brilhar.
– Eu apenas pequei em ter

feito uma apenas para crianças, já


que ele queria ser professor de
Física. Mas eu vou me redimir; até
o fim desse ano eu começo a
construção de um segundo andar na
escola JH e abro as matriculas para

até o terceiro do ensino médio.

- Assim que abrir me avise para eu


matricular a Iana – Pedro falou se
referindo a filha dele com a
Elena.

- Milena também irá estudar lá, o


que vai trazer o Luís no mesmo
segundo – Eduardo comentou rindo.

- Ouvi o nome do meu filho? –


Felipe perguntou, aproximando-se
da mesa com a mão na cintura do

Nicolas.

Eles sorriram e abriram espaço


para mais duas cadeiras. Eles se
sentaram ao redor da mesa, Nicolas

ao lado do sobrinho e do marido.


Eu os amava tanto.
- Pai, vem ver!

Joshua apareceu correndo até a


mesa, segurando o pequeno Nando
no colo. Seus cabelos negros

balançavam com leveza enquanto


seus olhos puxados brilhavam. Ele
era a cara da mãe, mas

escandaloso como o pai.

Micael sorriu automaticamente ao


ver o filho, exatamente como eu
fazia ao vê-lo muitos e muitos

anos atrás.
- O que foi menino? – Bruno
perguntou.

- Fala de novo, Nandinho – Ele


pediu para a criança em seu colo
que, pelas bochechas mais

vermelhas do que normalmente,


estava correndo por ai antes de vim
parar aqui.

- Jayjay vai brincar! – O menino


disse agitando os braços.

O sorriso do Bruno se apagou,


assim como o meu. Micael também
parecia incomodado, lembrando-
se de quantas vezes sua mãe
comentava sobre como ele me
chamava.

- O que foi? – Joshua perguntou


estranhando as reações.

- Nando, não o chame assim, ok? É


só Jay – Micael falou para o filho,
mesmo sabendo que ele não

entenderia o que estava


acontecendo.

- Mas eu gostei de Jayjay –


Reclamou o adolescente.

Bruno o encarou.
- Não. – Disse simplesmente. –
Existem coisas que não podem ser
contestadas, Jay.

Ninguém o chamava de Joshua.


Nunca. Eu me sentia honrado com
isso, é claro, mas entendia que

devia ser difícil para ele ter um


nome que não podia ser dito sem
quer todos se entreolhassem

depois. Chamá-lo de Jay era mais


fácil para todo mundo.

Sai de perto deles, indo para onde a


Susan estava.
A mão do seu marido estava acima
da dela, com o seu dedão fazendo
pequenos círculos sobre ela.

Ele nem precisava dizer que a


amava para que todos soubessem
disso. E ela também o amava, é

claro. Não do mesmo jeito que ela


me amou, mas apenas porque
nenhum amor é igual a outro. Ela

não o amava mais nem menos,


apenas de forma diferente do que
foi comigo; até porque eles tiveram

algo que eu pude ter: tempo.


Tempo para se conhecer, tempo
para brigar e reconciliar, tempo
para constituir uma família e entrar

em uma igreja com ela usando um


vestido lindo, tempo, acima de
tudo, para se amar. Eu tive dois

meses com a Susan. Ele teve vinte


anos e até hoje. E a única coisa que
me impede de me sentir mal

por isso era o fato dele ser o


homem perfeito para ela.

Seus filhos estavam ao seu lado,


Alice ria de algo que estava lendo
no celular enquanto Matheus

conversava com a Laura, filha da


Gabrielle e do Arthur. Eles eram
melhores amigos desde o maternal

e todo mundo achava que eles


teriam um caso um dia. É claro que
eu poderia contar para ele que ela

seria a mãe de seus filhos, mas


preferia que ele descobrisse isso
sozinho, com o tempo.

Ela era linda, aquela família. Eles


eram unidos, acima de tudo. E
sempre que era possível – quando a
Susan não estava ocupada com seus
livros de sucesso ou o pai deles
com as aulas que dava para a

faculdade de Direito – eles


viajavam para algum lugar do
mundo. Susan era uma mãe
maravilhosa,

como era de se esperar.

E Alice e Matheus pareciam


esculpidos de tão bonitos,
divinamente abençoados com tanta

semelhança com a mãe.

Mas seus olhos eram do pai.


Verdes-mar, os olhos que o pai
deles puxou da avó

Os olhos que o Michael puxou da


mamãe.
Document Outline
1. Seja bem-vinda... Ou não
2. Irmãos Hunter
3. Aquele loiro só pode estar
brincando
4. O Passeio
5. Estranho e bom
6. Que porra foi essa?
7. Não sei como explicar
8. Almoço com os Hunter
9. Escola JK
10. Surpresas
11. Hunter que eu amo x
Hunter que eu odeio
12. Agora deu merda
13. Por que era tudo tão
complicado?
14. Talvez as coisas estejam
melhorando
15. Um ótimo dia
16. Festa do Bruno
17. Autocontrole de uns...
18. O resto de um dia ruim
19. Eu não iria aguentar viver
sem você
20. Ele me ama. Isso que
importa.
21. Pistas
22. Unidos pelo ódio
23. Nenhum Hunter é igual ao
outro
24. Jantar, revelações e Joshua
25. Primeira vez
26. Amor, amor, amor
27. O Acampamento
28. Plano cruel
29. A pior coisa que poderia
acontecer
30. Notícia ruim se espalha
rápido
31. Tentei não sentir pena
32. Cada irmão com seu
problema
33. A verdade, no fim, sempre
aparece
34. A segunda vez é ainda
melhor
35. O novo e o inesperado
36. Festa que deu errado
37. Depois
38. Os motivos do Michael -
Parte I
39. Os motivos do Michael -
Parte II
40. Eu não sabia o que pensar
41. Eu senti sua falta
42. Ninguém esperava por
essa
43. Anna
44. Notícias
45. Eu os amava
46. E todos nós o amávamos
de volta
47. Eu esperaria

Você também pode gostar