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seguir descreverei aspectos da cultura Yanomami relevantes para a análise; e, por último,
elencarei alguns pontos para a discussão sobre o acesso à biomedicina e suas conseqüências
foi extensamente remodelado. Hoje existe uma rede de serviços de saúde espalhada por,
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praticamente, todas as comunidades indígenas no Brasil1 . Entretanto, dependendo da
freqüente com as equipes de saúde, constituídas pelos brancos ou por pessoas de outras
FUNASA, as populações indígenas que tinham acesso aos recursos estatais eram atendidas
por profissionais de saúde lotados na FUNAI, órgão cujas ações em saúde priorizadas eram
saúde foram atribuídos a órgãos indigenistas, englobados por políticas de integração dos
povos indígenas ao sistema produtivo nacional. Neste contexto, as ações em saúde tinham
sanitária capaz de promover a saúde dos povos indígenas, em sua maioria vivendo em
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Há indícios de, ao menos, 55 grupos indígenas que permanecem isolados da sociedade nacional (FUNASA,
2002) e não estão incluídos no sistema de saúde oficial.
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prognósticos pessimistas quanto à sua sobrevivência nas décadas de 70 e 80 (Santos &
Coimbra, 2003). A reformulação da política nacional de saúde para os povos indígenas faz
Federal de 1988, cujo conteúdo assegurou capacidade civil plena aos povos indígenas, ao
mesmo tempo em que lançou as bases para a descentralização dos serviços públicos de
saúde (FUNASA, 2002). O novo sistema foi organizado através de 34 Distritos Sanitários
sanitário supervisiona o atendimento de uma região geográfica coberta por uma ou mais
saúde. O modelo de atenção diferenciada prevê que as ações básicas de saúde sejam
prestadas por equipes que incluam representantes da comunidade treinados como agentes
de saúde. Os profissionais de saúde que trabalham nas áreas indígenas e prestam assistência
complexidade são efetuados por profissionais pertencentes aos hospitais da rede pública,
domicílios. Existem também as Casas do Índio, baseadas nas cidades próximas às terras e
áreas indígenas, que funcionam como infra-estrutura de apoio na transferência dos doentes
indígena (DSY), projeto precursor do atual sistema de saúde, porém a assistência não
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cobria todas as comunidades. Naquela época, antes de ter sido implantado o Subsistema de
Atenção à Saúde Indígena, na região do Cauaburis atuava uma ong francesa, o Instituto
Associação Italiana Amigos de Raoul Follereau, AIFO, ong italiana. Ambas financiavam os
financiada pelo Ministério da Saúde. Quase todas as comunidades têm um posto de saúde,
mantido por técnicos de enfermagem e monitorado por profissionais de nível superior que
entretanto eles atuam como auxiliares dos demais profissionais, com pouca ou nenhuma
oncocercose, conjuntivite, dermatoses e hepatite. Nos casos que requerem maior tecnologia
tratamento, os doentes são removidos até a cidade mais próxima. Tanto o hospital de São
Gabriel quanto o de Santa Isabel têm recursos limitados, de forma que, muitas vezes, os
pacientes são transferidos novamente para serem atendidos nos hospitais de Manaus.
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YANOMAMš
normalmente não ultrapassam 100 pessoas (Ramos, 1995), espalhados em uma vasta área
350 comunidades nos estados de Roraima e Amazonas (FUNASA, 2003 apud Francisco &
espacial intenso (Good, 1989), mas hoje os grupos locais estão sedentarizados ou em
pressionar o governo federal. Então, ao longo da década de 90, a Terra Indígena Yanomami
foi demarcada e homologada, montou-se uma operação para a retirada dos garimpeiros da
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O Yanomami é uma família lingüística isolada, subdividida em quatro línguas com
vários dialetos cada (Ramirez, 1994). Não só as variações dialetais são significativas, como
quais podem representar diferenças marcantes no conjunto. Todos os grupos locais que
visitei, que correspondem a boa parte das comunidades Yanomami localizadas no estado do
SECOYA estão dispersas na área dos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel
do Rio Negro e Barcelos. Esta área2 está subdividida para fins de logística em regiões
grupo local mora coletivamente em uma única casa, o xapono, com exceção daqueles que
entre famílias, compondo uma trama que reforça alianças entre diferentes parentelas de um
local existem duas ou mais lideranças de facção, bons oradores e com autoridade moral,
para coordenar as atividades do grupo (Lizot, 1988). Entretanto, a única posição hierárquica
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Em 2001, o Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário, IBDS, era responsável pela assistência
sanitária nas regiões do Cauaburis e do Padauiri. No convênio com a FUNASA no ano seguinte, a área de
abrangência foi modificada e a entidade começou a trabalhar em parceria com outra ong, Serviço e
Cooperação com o Povo Yanomami, SECOYA. Antes responsável pela região do Marauiá, a SECOYA
passou a prestar serviços no Padauiri, Marauiá e numa comunidade do rio Demini.
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Sobre a aldeia de Ajuricaba, no Demini, não tenho informações consistentes e por isso não farei comentários
sobre este grupo ao longo do texto.
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respeito à chefia do grupo. Vários grupos locais avizinhados formam um conjunto
À medida que cresce a distância espacial entre os grupos locais, as relações passam a ser de
hostilidade, mantidas por conflitos reais ou simbólicos (Albert, 1985; Taylor, 1996).
espalhadas pela floresta. Os grupos do Padauiri, em geral, vivem até hoje distantes da
população regional, mantêm o modo de vida tradicional e não falam português. Embora
haja uma missão evangélica há cerca de 30 anos no local, seguem vivendo em casas
vivendo pouco dependentes dos objetos e tecnologias dos brancos. No Marauiá algumas
comunidades próximas da cabeceira do rio vivem também mais isoladas, enquanto aquelas
próximas à foz dependem economicamente das visitas à cidade mais próxima, Santa Isabel.
cidade de São Gabriel, a estudo, trabalho, ou servindo no exército; e todos os grupos estão
mais evidentes.
como especialista é o xapori ou hekura. Em geral, um dos xamãs mais reputados é também
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a principal liderança de um grupo local. O uso da farmacopéia nativa é comum, sem ser
comunidades. Existe uma utilização bem marcada dos recursos terapêuticos, sendo
preferentemente os estados mórbidos que eles consideram mais graves tratados com
saúde.
duas categorias gerais: o invólucro corporal, pei sik ™, e o conjunto não material da pessoa,
pei ¥¥xi. Os Yanomam™ com quem conversei sobre o assunto reconheceram a existência de
três componentes não materiais ou almas: no uhutipë, norexi e noram™. O no uhutipë é uma
corpo – a imagem vital que anima o sujeito. Noram ™ é como a sombra de uma pessoa à
contraluz, imagem fantasmática que os Yanomami conseguem enxergar quando são vítimas
homens e de ariranha para as mulheres. Esta imagem liga cada Yanomam ™ a um animal
real que habita as regiõ es mais distantes da floresta; vivem simultaneamente as mesmas
situações, incluindo acidentes, doenças e morte. No caso dos xamãs, eles ainda possuem as
imagens dos espíritos auxiliares que lhes capacitam a curar, os hekura, e que moram
geralmente no seu peito. Como os componentes não materiais são integrados entre si e com
o componente material da pessoa é um dado não elucidado. O certo é que o no uhutipë pode
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Por outro lado, os cuidados com o corpo são realçados nos momentos liminares da
vida social: menarca, iniciação xamânica e após uma ação homicida. Nestes momentos da
vida a pessoa é cercada por regras de higiene, sexuais e alimentares. Banhos de rio e sexo
é a banana assada, que deve ser consumida sem que as mãos toquem diretamente a comida
nem o corpo. As carnes de caça, os alimentos selvagens, o sal e o açúcar devem ser
evitados.
vida comunitária. O xamanismo é praticado quase que diariamente pelos Yanomam™, pois
seus espíritos auxiliares precisam ser alimentados com paricá4 . É uma atividade que
acontece no centro da aldeia e pode ser observada por todos, entretanto sem participação
direta de outras categorias de pessoas do grupo a não ser os doentes. Em contraste está o
rito funerário, evento intercomunitário irregular na freqüência, mas que quando ocorre
envolve praticamente todo o grupo local na sua preparação. E durante o evento, todos,
expresso ritualmente, em que morte e vida são explicadas como processos em constante
interação.
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Taylor (1996) descreve essas sessões como um desfrutar o prazer do contato com o mundo espiritual.
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Tendo em mente a descrição de como é feita a assistência de saúde em áreas
concernentes às intervenções em saúde. Antes de tudo, quero esclarecer que estas idéias
não pretendem ser afirmações conclusivas, são para serem elaboradas em conjunto.
saúde.
aglutina os vários domínios culturais: organização social, política, história, religião, arte,
medicina, senso comum etc. O xamanismo, neste sentido, não se restringe às atividades do
xamã. O termo faz referência a um sistema cosmológico original, que tem a práxis
como uma teoria de agressões sobrenaturais intercomunitárias. Assim, algumas doenças são
suspeitas de feitiçaria comum, não letal, utilizada geralmente durante cerimônias funerárias.
Às relações entre grupos locais inimigos são atribuídas mortes decorrentes de feitiçaria
sem relacionamento atual, que enviam seus espíritos auxiliares para provocar malefícios. E,
mortes súbitas podem também ser atribuídas a grupos locais mais longínquos, que são
conhecidos apenas por notícias vagas, acusados de caçar o duplo animal da vítima 5 .
intersubjetiva, pois são raros os casos em que a origem da doença não é imputada à ação
maléfica de outro ser humano 6 . Esse “saber tridimensional” sobre as doenças esbarra no
Nos períodos que permaneci com os Yanomam ™, pude constatar que no contexto
xawara, hen— e hekura. Xawara a wayu são as doenças epidêmicas, entre elas: malária,
grande contingente de pessoas do grupo ao mesmo tempo. A febre é um sinal quase sempre
propagado pelos objetos e resíduos dos brancos quando incinerados (Albert, 1992). Hen—
kë wayu é como são chamadas as substâncias mágicas. A princípio qualquer pessoa adulta
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Este tipo de explicação etiológica não apareceu nas narrativas de doença dos Yanomam™, embora eles
tenham confirmado essa noção em conversas ao redor do tema.
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Alguns espíritos que vivem na floresta e a não observância das prescrições alimentares podem provocar
doenças (Albert & Gómez, 1997).
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Estas designações podem indicar outras nuances para o grupo que não explorei em profundidade.
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diagnóstico biomédico, pruridos e doenças de pele e mal-estares difusos. As mortes
provocadas por feitiçaria guerreira são descritas com início repentino e evolução rápida. E,
por último, hekura kë pë são seres espirituais vindos de comunidades inimigas para caçar a
alma (no uhutipë) dos Yanomam ™, enviados por xamãs de grupos distantes ou se
deslocando por agência própria. É um estado mórbido que acomete sujeitos isoladamente.
falar demais coisas sem sentido ou ficar “espantado”. Os Yanomam™ que já foram vítimas
morte, caso o doente não seja tratado. Na maioria das comunidades, o tratamento com
profissionais de saúde, freqüentemente, como dificuldade de entender o que está sendo dito
sobre sua genuína condição de saúde. Para os profissionais de saúde, as doenças são
que nem todo tipo de estado mórbido pode ser curado por eles. Entretanto, o diagnóstico
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Em concordância com a afirmação de Buchillet (1991), de que os medicamentos dos brancos atuam na
esfera dos efeitos enquanto o tratamento xamânico opera na esfera das causas das doenças.
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sempre envolve uma negociação equilibrada com o doente e/ou familiares. O doente tem
total autonomia na busca da cura; um xamã nunca procura os doentes para curá-los. Na
como um estado grave, muitas vezes, nem o xamã é consultado. O oposto acontece nos
diferença entre olhar a doença como evento patológico – o que é inconcebível para os
Yanomam™ – e percebê-la como processo existencial, que constitui a visão Yanomam ™ mas
Yanomam™ nem todas as doenças podem ser prevenidas, já que qualquer um é vulnerável a
do xapono no cair da tarde. Este horário é perigoso porque tanto os hekura costumam atacar
quanto as pessoas gostam de usar substâncias mágicas neste momento do dia. Também os
bebês recém-nascidos devem ficar sempre no colo de alguém para evitar que certos hekura
roubem suas almas. Contudo, tendo em vista o perfil epidemiológico destas populações,
relacionada basicamente aos padrões de higiene. A higiene dos brancos – corpo, roupas,
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Por este tipo de doença resultar de uma provocação ou acerto de contas entre espíritos inimigos, os
Yanomam™ mais fortes e bonitos são o alvo predileto de agressão, independentemente do seu
comportamento.
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moradia e utensílios domésticos “assépticos” – não tem paralelo entre os Yanomam™,
especialmente nas comunidades que vivem de forma tradicional. Nestas, as casas são
tenuemente isoladas do ambiente da floresta, compartilhadas com cães e aves e sem água
encanada. As crianças brincam livres pelo chão e os adultos desenvolvem trabalhos físicos
durante quase todo o dia. As mãos e a boca são instrumentos para todo tipo de atividade e
nestas condições dificilmente se mantêm limpos, bem como o próprio corpo (mesmo com
os costumeiros três ou quatro banhos diários). As reações dos profissionais de saúde que
chegam a estas comunidades são, na maior parte das vezes, de tentar transmitir noções de
higiene enfatizando a “sujeira”, sem levar em conta a enorme distância que separa o estilo
Além dos aspectos citados existem vários outros detalhes que saltam aos olhos
todas as dificuldades que devem ser transpostas para prestar assistência levando em conta
as noções Yanomam ™ sobre saúde e doença, o aspecto crucial, no meu ponto de vista, é a
visão que os profissionais de saúde nutrem sobre as práticas de cura tradicionais. Como já
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Aqui podemos pensar na sujeição constante dos corpos, como descrito por Foucault (1987).
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Além disso, o uso do paricá 11 é condição sine qua non para um xamã incorporar seus
espíritos auxiliares, aos quais é atribuído o poder da cura. E é necessário cheirar muito
paricá para interagir com os espíritos que povoam o universo. Do ponto de vista dos
xamânicas tendem a ser avaliadas como misticismo ineficaz cujos resultados, quando
torno da figura do AIS, que deveria assumir as ações básicas de saúde sob supervisão e
treinamento dos profissionais de nível médio e superior. Não é o que ocorre na prática, pois
curativas e preventivas.
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Mistura de espécies vegetais pulverizadas, com forte efeito psico-ativo, soprada nas narinas do xamã por
outra pessoa por meio de uma taquara. Os Yanomam™ chamam de epena ou pararo, dependendo das espécies
constituintes.
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Ao mesmo tempo em que os AISs estão em posição de inferioridade na equipe
saúde (Erthal, 2003). A lacuna existente entre a idéia de atenção diferenciada e o que tem
saúde e comunidade. Considerando que não existem posturas políticas semelhantes nas
relações intra e intercomunitárias, o fato se torna ainda mais evidente. Vários elementos
heterogênea. A maioria não completou o ensino fundamental, que é necessário para terem
sua formação como agentes de saúde reconhecida 12 . Mesmo os que concluíram os estudos
do ensino médio ocupam uma posição marginal na equipe de saúde, seguindo a lógica
dos AISs perante o sistema de saúde e, por extensão, na própria comunidade. A contradição
maior do modelo é não levar em conta que nas sociedades de tradição oral o aprendizado
Yanomam™ não tem acesso. Não bastasse este fato, o intercâmbio de conhecimentos através
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Na verdade, a lei 10.507 ampara apenas os agentes comunitários de saúde. Mas na falta de regulamentação
específica para os AISs tem sido usada como parâmetro para a categoria.
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de formação fragmentado, os AISs não desenvolvem condições para assumir a
ao conteúdo, que é estruturado “numa lógica assistencial que privilegia o indivíduo como
[...]” (Erthal, 2003, p.208). Assim, a posição reservada atualmente aos agentes de saúde
sua autonomia.
tradicionais. Para esclarecer este ponto comentarei sobre o infanticídio. Algumas crianças
Yanomam™ são desprezadas logo após o parto, asfixiadas, se a mãe e/ou o pai não a
desejam.
Durante dois meses que permaneci na região do Padauiri foram noticiados dois
casos de infanticídio e uma jovem gestante comentou com um agente de saúde que não
ficaria com a criança quando nascesse. A atitude dos profissionais de saúde envolvidos
nestas circunstâncias foi tentar convencer a comunidade, diretamente ou através dos AISs, a
abandonar esta prática. Porém, o fato de os Yanomam ™ não desejarem criar os filhos que
geram está fora do campo de atuação dos profissionais de saúde. Em meu ponto de vista, as
ações em saúde não devem ser direcionadas para mudar comportamentos por questões
infanticídio não acarreta sanção moral para os pais, já que “[u]m recém-nascido não
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pertence a categoria nenhuma antes de ser amamentado, é algo em transição, não é um ser
completo, e pode ser morto se tiver alguma deformação congênita evidente ou se os pais
não o quiserem” (Lizot, 1988, p.16). Entretanto, pelo código moral da cultura ocidental, o
os Yanomam ™ para criarem seus filhos é análoga a, por exemplo, persuadi- los a evitar
conflitos para prevenir agravos ou mortes incidentais. Se for assim, a medicina está sendo
exercida como instrumento de controle social, de acordo com a reflexão de Taussig (1980).
Deixo claro que estes comentários pretendem contribuir para a adequação das
Ressaltei alguns pontos delicados decorrentes de uma tendência geral em medicalizar a vida
destes grupos. Para colocar em prática a idéia de atenção diferenciada – ações em saúde
que prestam assistência primária em comunidades indígenas precisam aprender a agir com
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Esta estatística corresponde a aproximadamente 45% da população Yanomami do Brasil.
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BIBLIOGRAFIA
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Athlone, 1995.
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Lizot, J. O círculo dos fogos – feitos e ditos dos índios Yanomami. São Paulo: Martins
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Ramos, A. Por falar em paraíso terrestre. Série Antropologia n 191. Brasília: UnB, 1995.
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