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Tradução de
RICHARD PAUL NETO
Digitalização
VITÓRIO
Revisão
ARLINDO_SAN
EDIÇÕES DE OURO
Perry Rhodan foi a Vênus na Good Hope, uma das naves
auxiliares do cruzador dos arcônidas destruído na Lua, a fim de
instalar uma base e um centro de treinamento da Terceira
Potência. Naquele planeta descobriu um segredo mais velho que a
história da humanidade — tão velho que nem os arcônidas Crest e
Thora sabiam dele.
Tratava-se de uma gigantesca central arconídica, dirigida
por robôs, que atravessou os milênios e continua a funcionar tão
bem como no dia em que foi construída.
É claro que essa descoberta representa um aumento enorme
do poderio da Terceira Potência, que bem precisa disso, pois numa
mensagem radiofônica que Perry Rhodan recebe em Vênus pede-se
com urgência Socorro Para a Terra.
= = = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = = =
Perry Rhodan comprimiu o botão vermelho com a estranha gravura branca. O sinal
lembrava a letra F do alfabeto rúnico. Mas a essa hora pouco importava sua origem.
Bastava saber que designava o botão que cortava o suprimento de energia do
supercérebro positrônico.
A vibração monótona, só perceptível ao subconsciente, cessou. A série de luzes de
controle com seu brilho mágico apagou-se. As membranas sonoras imobilizaram-se. O
maior e mais potente dos cérebros positrônicos jamais instalados no sistema solar corria
em ponto morto.
Perry Rhodan reclinou-se exausto. O diálogo com aquela máquina quase onisciente
chegara ao fim. O silêncio que se espalhou pela caverna do subsolo de Vênus foi
interrompido por outro zumbido. Rhodan acionou o aparelho de intercomunicação.
— Quem é?
— Sou eu.
A voz rouca de Reginald Bell não permitia a menor dúvida sobre a identidade da
pessoa que se ocultava detrás da palavra “eu”. Sem levantar-se, Rhodan destravou a
porta.
— Entre, Bell!
— Que diabo, Perry! Você me mete medo. Faz mais de vinte e quatro horas que se
trancou nesta caverna misteriosa. Até parece que está no encalço do mistério fundamental
do universo.
— Nunca deixamos de andar no encalço dele. Se não conseguimos aproximar-nos é
porque o mistério está muito distante.
— Aposto que não comeu nada.
— Pois está enganado! Tinha comigo uma ração diária de alimentos desidratados.
Já não posso me dar ao luxo de cometer os pequenos enganos do dia-a-dia.
— Mas acho que você está nutrindo uma falsa ambição ao...
— Também não me posso dar ao luxo das falsas ambições. Nenhum de nós pode.
— Toquei a campainha ontem de noite. Hoje de manhã toquei três vezes, e agora
estava diante da porta há mais de duas horas, sem conseguir entrar. Por que não abriu?
— Porque não sabia que você estava lá fora. Não queria ser perturbado. O cérebro
está regulado de tal forma que as reações vindas de fora penetram nele, enquanto está
ativado.
— Dizem que nestes últimos dias você andou fazendo um bom número de
regulagens neste cérebro. É verdade?
— Não sei a que está se referindo. Exprima-se com mais clareza.
— Crest falou no modelo das suas ondas cerebrais. Afirma que é bem possível que
você conheça suas freqüências pessoais...
— E daí? Por enquanto suas insinuações continuam bastante confusas. Acho que
não estarei errado ao supor que logo ouvirei uma recriminação.
— Acho que por aqui ninguém se julga com direito de dirigir recriminações a você.
— É por medo, não é? Mas sempre existe um pouco de inveja.
Bell não conseguiu enfrentar o olhar penetrante de Rhodan. Pegou um cigarro, que
o fez recuperar um pouco da sua autoconfiança.
— Sempre há um pouco de inveja.
— Acontece que o pessoal confia em você. Sabem que é o mais forte entre nós.
Sentem-se satisfeitos porque ainda existe uma pessoa à qual podem recorrer quando não
sabem mais como agir diante dos problemas.
— O.K.! — confirmou Perry Rhodan. — Conheço minhas freqüências, e este
cérebro robotizado foi regulado para elas. Nunca me deparei com tamanho volume de
saber prestes a revelar-se a mim. Apesar disso ainda não consegui solucionar o problema.
Penso em termos arconídicos, na medida em que isso é possível a alguém que carrega a
condição humana desde o nascimento. Procuro raciocinar com o espírito de quem
construiu esta máquina, mas defronto-me com problemas de semântica. Afinal, não
podemos alcançar a interpretação do saber arconídico de um dia para outro. Não
possuímos a consciência do passado dos arcônidas. Bell, você não tem nenhum motivo
para invejar-me. Um diálogo de vinte e quatro horas com este cérebro representa um
massacre físico e intelectual.
— Valeu a pena? — a pergunta de Bell exprimia curiosidade e esperança.
Perry Rhodan fez que sim.
— Nesta montanha existem hangares ocultos. O cérebro aludiu a seis naves
espaciais.
— Isso seria mais do que os arcônidas desejam. Thora e Crest só precisam de uma
nave para voltar para casa. Você não se entusiasma com essa perspectiva, não é?
— Preciso encontrar as naves.
— Mas não lhe faria nenhuma diferença se não as encontrasse. Sei perfeitamente o
que está pensando, Perry. Precisamos de Thora e de Crest. Precisamos deles no planeta
Terra e no nosso sistema solar, não a uma distância de trinta e quatro mil anos-luz. Se eu
fosse você, não diria nada sobre a existência dessas naves.
— Acha que devo começar um jogo de intrigas? Acha que devo enganar e lograr os
arcônidas, aos quais a Terra deve sua união política? Devo retribuir sua amizade por meio
de uma prisão indireta? Não acredito que esse tipo de comportamento concorreria para
promover o entendimento entre as duas raças.
— Para você seria uma traição; para mim, um ato de diplomacia.
Perry Rhodan fez um movimento violento com a mão, para espantar qualquer
ambigüidade sobre seu ponto de vista.
— Localizaremos o que puder ser localizado, Bell. Não há dúvida de que devemos
conservar Thora e Crest ao nosso lado para fortalecer a posição da humanidade e do
planeta Terra. Mas nem por isso podemos cometer uma traição contra nossos amigos. Os
hangares devem ficar ao norte. Vamos procurá-los; você virá comigo.
— Seis naves! — exclamou Bell espantado. — Nelas poderíamos transportar todo o
pessoal da Terceira Potência. Conforme as circunstâncias seis naves arconídicas dariam
para percorrer toda a galáxia.
— Então você estaria disposto a bater em retirada? Sabe o que aconteceria se
eliminássemos a Terceira Potência?
— Aconteceria mais ou menos a mesma coisa que tem acontecido nos milênios da
história da humanidade. Seria uma sucessão de inveja, malquerença, sede de mando,
guerras. Talvez só houvesse mais uma guerra. A guerra definitiva.
— Então você sabe muito bem. Acontece que também somos homens, e por isso
vamos desistir do cruzeiro pela galáxia, mesmo que as seis naves arconídicas estejam em
condições de decolar.
Saíram. Perry Rhodan trancou a sala em que estava abrigado o cérebro positrônico,
usando um novo código. Só ele o conhecia.
Diante deles abriu-se um labirinto cavernoso. Fazia mais de um mês que estavam no
interior daquela montanha situada no hemisfério norte de Vênus. E fazia mais de um mês
que se encontravam na pista dessa última testemunha de uma colônia arconídica de há
muito caída no esquecimento.
Para termos uma .idéia dos acontecimentos, devemos recuar mais de dez mil anos
na história da humanidade.
Quando Árcon se encontrava no auge, numa época em que seus habitantes ainda
não apresentavam o menor sinal de degenerescência, uma nave expedicionária tripulada
com mais de cem arcônidas pousara em Vênus e instalara aquela fortaleza de retaguarda.
O raio de fusão atômica abrira um labirinto de corredores na rocha da montanha, fazendo
surgir uma verdadeira cidade, que não podia ser vista do lado de fora. As instalações
correspondiam em toda linha ao elevado nível da civilização e da tecnologia dos
arcônidas. Para o homem do vigésimo século terreno eram algo de fabuloso e
inacreditável, como o quadro vago do futuro distante da própria humanidade.
Ainda por outro motivo eram fabulosas.
Ao se depararem com elas, parecia que penetravam no castelo da bela adormecida.
Os arcônidas daquela época já não existiam. Haviam descoberto a Terra e verificaram
que era um mundo ideal para a colonização. A nova colônia dos emigrantes arconídicos
surgira na Atlântida. Proporcionara uma época de elevado desenvolvimento tecnológico à
Terra, mas submergira com o continente situado entre a África e a América.
Embora nessas quatro semanas os homens já tivessem tido tempo de acostumar-se
ao novo ambiente, não podiam deixar de evocar constantemente essas ligações históricas.
— Não posso compreender que possam estar mortos — disse Reginald Bell
enquanto subiam numa vagoneta que trafegava numa das vias principais da cidade
subvenusiana. — Será que todos viviam na Terra quando a catástrofe diluviana irrompeu
sobre a Atlântida?
— É de supor que sim — respondeu Rhodan. — Mas tenho minhas dúvidas. Em
Árcon não sabiam nada sobre a base de Vênus e sobre a colônia terrena. É bem possível
que o cérebro montado na base venusiana nunca tenha tomado conhecimento de certos
fatos importantes. Dependia das informações orais que lhe fossem transmitidas —
esboçou um sorriso misterioso. — Os centros de memória falaram em ocorrências
inexplicáveis que tiveram lugar em Vênus, em seres invisíveis que andaram pelas
proximidades. É possível que a informação tenha sido ministrada por algum elemento
perturbado que tenha permanecido aqui, nunca devemos esquecê-la, embora para nós só
possa ter uma importância histórica.
— É claro que já compreendi a teoria concebida por você. Mas tenho lá minhas
desconfianças. É bem possível que tudo se tenha passado de forma bem diferente.
— Queira explicar o motivo das suas desconfianças.
— Ora, é simples. Crest e Thora conseguiram convencer-nos de que esta base foi
instalada por emigrantes que aqui aportaram numa nave arconídica. E agora você me fala
em seis naves que estariam escondidas por aqui. Seis naves são uma frota. Se neste
planeta chegaram a pousar seis naves arconídicas completas, não resta a menor dúvida
que a base mantinha contato permanente com seu mundo natal. Dali se conclui que Thora
e Crest mentiram.
— Você não devia ter proferido esta última frase. Só teremos uma conclusão desse
tipo quando tivermos certeza de que os dados que induzem suspeitas são corretos.
Bell percebeu que Rhodan não estava disposto a prosseguir num debate apoiado
apenas em probabilidades. Por isso ficou calado, reclinando-se na poltrona do pequeno
veículo que os conduzia. Seguiu por um corredor secundário longo e retilíneo que,
partindo do centro da fortaleza, penetrava na montanha cerca de dois quilômetros. A
extensão total das instalações pareceria um exagero a qualquer homem terreno. Bell
exprimiu esse sentimento em palavras e sacudiu a cabeça.
— Sem dúvida devemos admirar as realizações dos arcônidas. Mas acho um
absurdo que uma simples fortaleza tenha estas dimensões. Deve ter sido montada por
gente estúpida. Até se parece com alguém que queira matar pardais a tiro de canhão.
— Também parece que alguém que não aplica os padrões corretos sofre de uma
falta grave de substância cerebral — respondeu Rhodan em tom áspero.
— E qual é o padrão correto?
— O dos arcônidas. Ao ver este labirinto, você logo pensa em termos de dispêndio
de tecnologia terrena. Acontece que com os recursos dos arcônidas não há nada de
extraordinário em perfurar corredores e cavernas de dez ou vinte quilômetros na rocha de
uma montanha.
Rhodan interrompeu sua exposição didática e parou a vagoneta.
— Vamos! — disse em tom lacônico, e caminhou em direção a um dos grandes
portões que a intervalos regulares ladeavam a estrada subvenusiana.
Um toque de dedo sobre o mecanismo da fechadura bastou para que dez toneladas
de aço arconídico deslizassem para o lado.
Quando viu diante de si o enorme pavilhão, Reginald Bell deixou cair o queixo.
Não é que se sentisse impressionado com as instalações e o tamanho, que na sua opinião
era exagerado. Depois que tinham descoberto a fortaleza, já tivera oportunidade de
admirar essas coisas. Tentara acostumar-se aos padrões que prevaleciam ali. Acontece
que até então tudo parecia morto naquele pavilhão. E hoje a vida reinava por ali. Ruídos
abafados em toda a gama de escala sonora atingiram seu ouvido. Os medidores, as
agulhas dançantes, as células eletrônicas e positrônicas cintilavam em tons coloridos.
Robôs dos mais variados formatos e tamanhos corriam por entre as máquinas.
— Feche a boca! — disse Perry Rhodan, permitindo-se um sorriso condescendente.
— Você já conhece a fábrica.
— Mas nunca a vi trabalhando. Foi você que a pôs em funcionamento?
— Já estava na hora de uma instalação tão bem montada reiniciar a produção. Não
estamos em condições de deixar ociosa essa capacidade produtiva que se encontra
paralisada há dez mil anos.
— Hum! — fez Bell, esticando o som para que o amigo percebesse que não
acreditava muito naquilo. — Há pouco você me disse que devia aplicar os padrões
corretos. Você também devia fazer o que pede aos outros.
— O que quer dizer com isso?
— Acho que esta fortaleza foi instalada pelos arcônidas e para os arcônidas. O que
for produzido aqui só pode ter uma utilidade para esses seres.
O rosto de Rhodan assumiu uma expressão séria. Bell sentiu a mão pesada do amigo
sobre o ombro.
— Ouça, Bell! Não temos muito tempo, pois ando com esse assunto das seis naves
espaciais atravessado na garganta. O que está sendo feito aqui corresponde a uma
finalidade terrena, não arconídica. Seria difícil aplicar nosso conhecimento hipnótico
sobre a ciência e a tecnologia arconídica às necessidades humanas. Ando meditando
sobre isso há várias semanas. Examinei todos os recantos do saber arconídico a que tenho
acesso e elaborei um minucioso plano esquemático. O que está sendo feito aqui terá
utilidade única e exclusivamente para a humanidade terrena. Esta fábrica robotizada está
produzindo robôs, mais exatamente autômatos de construção e armamento. Olhe a esteira
automática ali à sua direita. Jamais um olho arconídico viu essas formas modificadas de
máquinas inteiramente positronizadas.
— Você faz isso sem que Crest e Thora saibam?
— Faço porque acho melhor assim. Thora e Crest são arcônidas muito inteligentes,
mas como homem acho que sei avaliar melhor o que poderá ser útil à Terra. Nem penso
em enganá-los, se é isso que você quer dizer.
— Acontece que podem interpretar a coisa assim. A desconfiança reinante entre
eles e nós ainda não foi eliminada. Até você não está muito seguro na sua concepção,
Perry. Ao menos acredito que não esteja. Pense naquelas seis naves espaciais. Recorde a
reconstituição do período histórico em que aqueles arcônidas emigraram. Sua colônia na
Atlântida desapareceu. Se naquela época ainda havia arcônidas em Vênus, os mesmos
morreram por não terem possibilidade de voltar para Árcon. As seis naves espaciais a que
esse cérebro se referiu não combinam com o quadro. Talvez você pudesse ter a gentileza
de informar o que conseguiu descobrir.
— Não é muita coisa. Com a palavra-chave “nave espacial” não consegui extrair
maiores detalhes do cérebro. Só sei que as naves devem estar estacionadas numa caverna
distinta junto à encosta norte. Vamos procurá-las.
Perry Rhodan montou um conjunto de aparelhos de medição de ondas sonoras e
sondas de matéria que funcionavam com base no processo químico-analítico. Ativou um
robô que se encontrava nas proximidades e ordenou-lhe que colocasse o equipamento
sobre a vagoneta e tomasse lugar nela. Avançaram mais setecentos metros na direção
norte, até chegarem ao fim do corredor. Uma parede lisa de concreto fechou-o contra a
rocha da montanha.
— Você acha que o corredor continua depois dessa parede? — perguntou Bell
enquanto saltava da vagoneta.
— O cérebro falou numa caverna distinta. Disso se conclui que daqui não existe
qualquer acesso. Mas antes de mais nada devemos demarcar a situação da caverna. Robô,
coloque o aparelho azul junto à vagoneta. Os outros instrumentos podem continuar onde
estão.
Reginald Bell pediu a Rhodan que lhe explicasse o funcionamento dos aparelhos.
Como seu cérebro também tivesse sido ativado pelo treinamento hipnótico, aprendeu em
poucos minutos o suficiente para prestar assistência a Rhodan. Cada medição era
submetida à dupla conferência; uma era realizada pelo processo da ecossonda, outra por
via químico-analítica. Dessa forma conseguiram estabelecer em pouco tempo um quadro
preciso da composição da montanha, ate a encosta norte.
A uma distância de oito quilômetros as escalas de medida indicaram uma perda total
de pressão.
— É a caverna! — gritou Bell mais alto do que seria necessário.
— O.K.! — confirmou Rhodan com um aceno de cabeça. — Anote as coordenadas.
Vamos prosseguir em sentido radial, para determinar o diâmetro da caverna. Depois
ampliaremos as observações para os lados.
Em menos de meia hora completaram o diagrama sobre a lâmina eletrônica de
desenho. Logo se viam dois queixos caídos.
— Você entende isso? — perguntou Bell.
— Ainda não consegui. De qualquer maneira realizamos duas medições, e sabemos
que a caverna não tem mais de noventa e cinco metros de diâmetro. A hipótese de um
engano está completamente excluída.
— Num buraco de ratos como esse não podem caber seis naves arconídicas
completas. Talvez os hangares sejam separados.
— Mesmo uma única nave teria de ser muito pequena para caber ali. Nossa Good
Hope mede seus bons sessenta metros, e não passa de uma nave auxiliar cujo raio de ação
mal chega aos quinhentos anos-luz.
— Então deve tratar-se de veículos menores — concluiu Bell. — Talvez sejam
naves de socorro ou de patrulha. Acho que nossa preocupação com Thora e Crest não
tinha o menor fundamento. Os dois terão de ficar conosco.
— O acesso fica aqui — disse Rhodan, apontando para o mapa cujos contornos
acabavam de formar-se. Não deu atenção às palavras de Bell. Mas de si para si fazia
votos de que ele tivesse razão.
***
Decolaram com a Good Hope e voaram alguns quilômetros para o norte. Depois de
vencerem os cumes mais elevados, deixaram que a nave descesse junto às encostas
íngremes. Ao atingirem a altitude determinada através das medições, Perry Rhodan parou
e ajustou o regulador gravitacional, até que a nave aparentemente sem peso, encontrou
uma posição de equilíbrio a uns quinhentos metros do fundo do vale.
Logo encontraram o acesso para o misterioso hangar. Embora a encosta norte
tivesse sido polida pela erosão provocada pela chuva venusiana, logo notaram a área
alterada em que se encontravam as duas escotilhas.
Envergando seus trajes arconídicos, que também dispunham de um regulador
gravitacional, Rhodan e Bell saíram da nave e aproximaram-se da encosta rochosa. A
localização do mecanismo de travamento da escotilha e sua combinação não
representavam qualquer problema. O treinamento hipnótico habilitara-os a pensar em
termos arconídicos.
A área da encosta artificialmente criada deslizou para o lado, pondo a descoberto
uma abertura de menos de vinte metros.
— É grande para um homem, mas pequena demais para uma nave espacial —
constatou Reginald Bell.
Viram-se diante de uma galeria escura, que descia na vertical. A camada profunda
de nuvens venusianas só deixou penetrar uma luz mortiça, que mal dava para iluminar os
primeiros metros da galeria. Um ligeiro impulso propulsor dos seus trajes bastou para
fazer os homens penetrarem na montanha. Regularam o antígravo para a posição zero e
voltaram a sentir chão firme sob os pés.
Com o auxílio de lanternas descobriram um amplo painel de instrumentos. Rhodan
acionou uma chave. No mesmo instante uma luz branco-azulada encheu a caverna.
Toda a instalação continuava a funcionar tal qual funcionara há dez mil anos.
Era outro fato que mereceria a admiração dos homens. Mas nos últimos anos estes
tiveram de habituar-se a muitas maravilhas arconídicas. O choque do não querer acreditar
já não tinha a mesma intensidade dos primeiros encontros com a nova tecnologia. E, mais
interessante que a luz alimentada por fontes de energia instaladas a milênios era o próprio
hangar.
— São seis! — exclamou Reginald Bell espantado. — Mas até parecem uns
brinquedinhos. Faço votos de que não esteja decepcionado.
A atitude de Rhodan provou que não estava. Sentiu-se entusiasmado. Percebeu
intuitivamente o que tinha diante de si. Tirou o traje desajeitado dos arcônidas e saltou
sobre o aparelho mais próximo.
— Você acha que são brinquedos? Acontece que são uns brinquedos muito
perigosos. Veja aqui! Nesta máquina cabe um único homem. Quem sabe se você não
quer pensar um pouco e dizer o que vem a ser isto?
Reginald Bell segurou-se na borda de uma das asas em delta e subiu.
— Até parece um avião de caça. A fuselagem tem aspecto intergaláctico. Até me
sinto tentado a estabelecer comparação com as naves dos habitantes de Fantan. Mas o
dispositivo direcional aerodinâmico e as asas em forma de delta poderiam ter sido
concebidas numa prancha de desenho terrena.
— Em qualquer assunto a razão e a lógica sempre conduzirão ao mesmo resultado.
Aqui está a prova. Você ainda tem alguma dúvida de que estes caças espaciais são de
origem arconídica?
— Nenhuma. A semelhança na disposição dos instrumentos prova que são. É
verdade que tudo é menos complicado que na Good Hope, mas o princípio é o mesmo. O
assento fica numa cabina pressurizada. Existe um painel de comando do mecanismo
propulsor. Com isso fica garantida a saída das partículas à velocidade da luz. Aqui está a
chave reguladora da alteração volumétrica da câmara de combustão, e este olho só pode
servir para a observação do regulador do campo de saída dos jatos. Perry, como vejo,
você não está nem um pouco decepcionado. Até acredito que aprecie mais esta
esquadrilha que seis supernaves espaciais.
— Um belo dia nós também construiremos naves deste tipo, Bell. Acho que ainda
precisam de nós no planeta Terra, e este caça à velocidade da luz é o melhor presente
para nós. Que tal um vôo de experiência?
Nos olhos de Bell lia-se o entusiasmo.
— Você acha que sou capaz de pegar um aparelho destes e sair voando por aí sem
mais aquela?
— Se não for, peça a Thora que lhe devolva a taxa de matrícula. Vamos embora!
Pegue aquele ali. Eu vou neste.
***
***
Perry Rhodan foi sozinho para junto do cérebro positrônico estacionado no interior
da cúpula energética. Levava consigo os dados elaborados pelo cérebro gêmeo que se
encontrava em Vênus. Esses dados não haviam sido submetidos a um processamento
coerente. A partida precipitada de Vênus não lhe deixara tempo para ocupar-se
intensamente com o problema.
Inicialmente introduziu na máquina os cartões perfurados e positrogramas que tinha
em seu poder. Na primeira passagem formulou a pergunta em termos muito gerais. O
cérebro tinha de ser conduzido ao núcleo do problema numa progressão e logicamente
coerente. Não que lhe faltasse capacidade de solucionar problemas complexos num
tempo muito reduzido. O caso era que tudo dependia do equacionamento correto do
problema por parte do homem.
— Como poderei identificar o cérebro de um homem? — principiou Rhodan.
— Pergunte-lhe quem é.
— Neste caso não existe a possibilidade de perguntar. O cérebro que se pretende
identificar não libera a informação.
— Cada cérebro possui uma freqüência individual, identificável através da medição
do comprimento das ondas — respondeu o cérebro.
— Nossa tarefa consiste em identificar certas características de determinado grupo
de cérebros — prosseguiu Rhodan. — Não se trata de um indivíduo isolado.
— Isso não altera nada na resposta que acabo de dar
Rhodan refletiu. Dessa forma nunca chegaria ao fim.
— O estímulo transmitido de molécula a molécula irradia um espectro mensurável.
Nossa sonda cerebral permite a medição das freqüências. A constituição e o
funcionamento da sonda são conhecidos?
— São conhecidos — respondeu prontamente o cérebro positrônico.
— Mas por essa forma só conseguimos apurar desvios em princípio. Não
conhecemos nenhuma análise qualitativa. A mesma não pode ser realizada por meio do
exame do modelo cerebral. Este fato já foi constatado. Minha pergunta é a seguinte:
Quais são os dados utilizáveis, além do espectro de ondas cerebrais?
— Não dispomos de informações a este respeito.
Mais uma vez Rhodan havia chegado a um ponto morto. O cérebro positrônico não
fora concebido exclusivamente para o armazenamento de experiências; também possuía
áreas dedicadas ao pensamento criativo.
Rhodan pegou um exemplar dos positrogramas e introduziu-o na máquina.
— O que resulta deste estímulo?
— Recomenda-se a utilização de telepatas.
— Neste caso não dispomos de telepatas.
— A verificação da atividade cerebral só pode ser realizada por meio do exame das
freqüências, pois qualquer fluido tem um caráter eletromagnético. Recomenda-se o
aperfeiçoamento do receptor. A modulação proporciona a melhor possibilidade para a
determinação do caráter individual.
— A modulação por meio de uma onda?
— Sim.
— Como faço para conseguir a onda?
— Ela já existe. O cérebro a ser identificado faz o papel de emissor.
— Quer dizer que todo segredo está no fato de que as sondas cerebrais dos
arcônidas trabalham numa faixa de freqüências muito restrita. A onda portadora deve ser
incluída na área de ressonância.
— É muito provável que seja assim.
— Quais são as freqüências que devem ser incluídas?
A resposta do cérebro positrônico foi abafada por um uivo ensurdecedor. Perry
Rhodan endireitou o corpo. Seu espírito vivaz logo se adaptou à nova situação. Uma
sereia de alarma era mais importante que qualquer resposta do cérebro positrônico, por
mais vital que fosse. Não se podia perder a sabedoria da máquina positrônica. Mas num
alarma, cada segundo podia representar uma perda irreparável.
Rhodan correu para o portão e olhou para fora.
Os homens corriam pelas ruas arenosas ladeadas de barracos. Isso não tinha nada de
estranhável, pois o alarma no território cercado significava que de início cada um tinha de
deslocar-se para um ponto indicado, onde aguardaria instruções.
O ponto de Rhodan ficava no escritório, que servia de quartel-general da Terceira
Potência. Só ali podia ser dado o alarma.
Do ponto em que Rhodan se encontrava era apenas um pulo. Por isso preferiu não
usar seu rádio de bolso. Saiu correndo sem perder tempo.
Na entrada do escritório Reginald Bell aguardava-o em traje de viagem.
— Foi você que deu o alarma?
— Entre. Ali fora, além da área bloqueada, o diabo está solto.
— São os DI?
— É o que dizem. Pelo menos é uma das coisas que dizem. Estão fazendo uma
pequena revolução. Num caso destes é difícil conseguir uma informação precisa.
— É uma nova invasão? Será que os caças espaciais deixaram passar alguém?
— Nada disso. Se forem DI, os mesmos já estão na Terra há alguns dias. Olhe!
Rhodan aproximou-se da tela.
Bell modificou a regulagem. O olho energético da antena direciona foi penetrando
no espaço e colocou-se numa perspectiva que lhe permitia abranger todo o território
submetido à soberania da Terceira Potência.
— Onde foi que aconteceu? — perguntou Rhodan.
— Aqui — respondeu Bell, trazendo para a tela um setor ampliado. — Bem ao
noroeste. Perto do posto número trinta e sete.
Não precisou dar outras explicações. A imagem dizia mais que as palavras.
Verdadeiras massas humanas comprimiam-se junto à cúpula energética. Via-se
perfeitamente que se tratava de dois grupos inimigos.
— Você disse que é uma revolução?
— É, sim. Ras pode dar maiores detalhes.
Rhodan voltou-se ao africano.
— O que aconteceu?
— Eu estava fazendo uma inspeção de rotina. Encontrava-me no posto número
trinta e sete, que fica na área número dois, isto é, a menos de dois quilômetros da cúpula.
Naquele lugar a Harris Corporation está construindo dez pavilhões de montagem para
agregados de refrigeração de plástico endurecido e outras peças padronizadas para o
interior das naves. Junto às betoneiras havia um grupo de pessoas que conversava
animadamente. Algumas delas discutiram e passaram às vias de fato. Naturalmente
resolvi intervir, mas logo me ameaçaram de pancada. Mas nenhum dos briguentos
chegou a bater em mim, pois não estavam de acordo. Alguns elementos menos agressivos
perguntaram se era verdade que havia gente possuída no território da Terceira Potência.
— E você respondeu alguma coisa?
— Não, outros responderam no meu lugar, afirmando insistentemente que havia
prova disso. Um dos técnicos apontou para dois homens, acusando-os abertamente de
serem possuídos. Quando fizeram menção de saltar sobre ele, apontou-lhes uma arma.
Em torno dos acusados logo se formou um grande grupo de pessoas. Todos procuraram
afastar-se deles, com exceção de quatro homens que, ao que tudo indicava, pertenciam ao
grupo dos seus colegas de trabalho mais chegados. Estes também foram acusados, e
disseram-lhes que rezassem, porque iriam morrer. Subitamente alguém me empurrou
para junto dos acusados e ouvi gente gritar: “Também é um deles. Vamos liquidá-lo!” Vi
o fanatismo escrito nos rostos, e sabia perfeitamente que esses sujeitos que portavam
armas estariam dispostos a tudo. Ouvi um tiro atrás de mim; um dos trabalhadores caiu
ferido. Logo me teleportei para cá.
— Fez bem. Mais alguém tem alguma coisa a dizer?
— Ninguém — disse Bell, fazendo um gesto inequívo em direção à tela. — Mas
receio que já tenha havido mortos. Pela imagem ótica parece que os dois grupos têm
aproximadamente a mesma força. Evidentemente o partido dos acusadores está armado.
Por isso tem certa superioridade que lhe permite acusar muitos dos outros de serem
possuídos.
Rhodan pegou o microfone de seu emissor particular e ligou o sistema de alto-
falantes.
— Aqui fala Rhodan. Não foi dada nenhuma ordem para um alarma geral. Os que
não foram convocados devem ficar de prontidão. Comando de vigilância da Good Hope,
preparar para decolagem. Estou chamando o comando de terra dos astronautas. Favor
responder.
— Aqui fala o tenente Deringhouse.
— Também se prepare para decolar. Você deixará o território bloqueado juntamente
com a nave esférica. A contagem regressiva será iniciada no máximo dentro de cinco
minutos. Por motivos de segurança a cúpula só será aberta por dois segundos. É bem
possível que toda essa revolução não passe de uma trama do inimigo, que nos quer fazer
sair do abrigo. Tenente, sua missão consistirá em cruzar sobre o território da Terceira
Potência, dando aviso de qualquer movimentação suspeita em terra e no ar.
— Sim, Rhodan.
Dirigindo-se ao Dr. Manoli, Rhodan prosseguiu:
— Eric, você vai exercer o comando até nosso regresso. Manteremos contato
ininterrupto pelo som e pela imagem. Capitão Klein, você assumirá o controle da cúpula
energética, uma vez que já está conosco. Sempre se desempenhou muito bem desse
serviço. Mas não confie na sua capacidade de reação. A contagem positrônica será
iniciada a partir do segundo menos sessenta.
— Entendido!
— Bell, você irá comigo.
— O.K.! Sugiro que usemos trajes arconídicos.
— Isso não é necessário. Precisamos de projetores mentais e neutralizadores
gravitacionais.
Reginald Bell obedeceu. Os instrumentos a que Rhodan acabara de aludir sempre se
encontravam ao alcance das mãos. O mesmo acontecia com os trajes arconídicos, que
Rhodan e Bell só usaram para atingir sem perda de tempo a nave Good Hope, que se
encontrava a mil metros de distância.
A nave recebeu-os como uma catedral deserta. Os passos dos homens apressados
retumbavam pelos corredores e produziam eco. Thora e Crest estavam na sala de
comando. Encontravam-se ali, como se fossem acessórios imprescindíveis da nave. A
Good Hope era o último vestígio da pátria arconídica. Era ali que residiam os dois
arcônidas, que a tudo assistiam com um interesse dúbio, quando um alarma colocava os
homens em estado de exaltação. Faziam papel de espectadores, sempre que não se
encontrava em jogo uma questão do seu interesse.
Thora, a comandante do gigantesco cruzador arconídico, destruído na Lua,
raramente fazia uso do seu direito inato. Sua vida sempre desembocava no conflito entre
o passado orgulhoso e a situação atual, sempre mutável, que lhe era imposta pela
convivência com os terráqueos.
Rhodan atirou-se no assento do piloto e começou a manipular os comandos. A
Good Hope despertou para a vida. Ergueu-se do solo e subiu com ligeira aceleração.
A uma altitude de dois mil metros encontrava-se o zênite da abóbada energética.
— Rhodan chamando o capitão Klein. Altitude: duzentos metros. Estou ligando o
piloto automático. Mude para o contador positrônico. Alô, Deringhouse! Mantenha a
mesma altitude. Quando atingir os quinhentos metros, acelere l g. Transmita a contagem
regressiva pelo emissor, capitão Klein.
Uma voz mecânica iniciou a contagem em direção a zero. A decolagem das naves e
a retirada da cúpula energética estavam conectadas a uma reação positrônica automática,
que seria expedida a partir da central. Tudo daria certo. E deu. Pelo menos no que dizia
respeito à decolagem. Na terra a série de manipulações não deixou de provocar seus
incidentes.
O televisor orientado para a área critica do posto 37 revelou tudo.
A massa enfurecida, cujos fronts estavam separados por uma estreita faixa de terra,
comprimia-se junto à cúpula energética. Um dos grupos levantara barricadas, apoiando-
as contra o muro invisível. Dois homens subiram nelas, para apresentar uma
demonstração tola.
Quando a energia foi retirada da cúpula, a armação ruiu. Dois segundos depois a
mesma energia retornou, impelindo tudo que se colocava ao seu alcance. A reação lenta
dos homens não conseguiu aproveitar esses dois segundos.
A cúpula que voltou a funcionar depois da interrupção teve o efeito de uma
catapulta. A massa de energia “limpa”, livre de radiações, que só funcionava de forma
cinética, golpeou como um punho de ferro. Homens que iam cambaleando para a frente
foram atirados para trás, aterrizando de forma nada suave. A reação da barricada
desmoronada foi semelhante. Tábuas e pranchas caíram em meio às massas que se
aglomeravam, completando o caos.
Bell interpretou as minúcias que conseguiu captar na tela.
— Agora precisamos de médicos e enfermeiros.
— Eles terão de procurar imediatamente eventuais corpos de DI que foram
abandonados — interrompeu uma voz vinda dos fundos da sala. Era Crest.
— Procurar corpos de DI em nosso território?
— Esses sujeitos preferem a escuridão. A divisa exterior do nosso território não é
totalmente intransponível. É bem possível que os DI tenham escondido seus corpos nas
proximidades.
— Eles precisam disso?
— Nunca se deve subestimar um inimigo, é o que ouço os homens dizerem — disse
Crest, dirigindo-se para a frente da sala. — É uma regra que muitos táticos e estrategistas
entre as diversas inteligências da galáxia já descobriram. Mas toda e qualquer sabedoria
só tem validade dentro de certos limites. Além desses limites ficam as exceções que,
ainda segundo um dos seus provérbios, confirmam a regra.
— Que exceção poderia ocorrer no presente caso?
— Para os terráqueos as qualidades naturais dos Deformadores Individuais são
verdadeiramente sobre-humanas. Por isso a raça dos homens tenderá a atribuir uma
superioridade infinita aos DI, e essa atitude já envolve uma disposição inconsciente para
a capitulação. Sempre que um obstáculo pareça intransponível, somos tentados a desistir.
— Acho que você está aludindo antes às qualidades arconídicas que às terrenas —
corrigiu Bell.
O arcônida ergueu os ombros num gesto de dúvida.
— Se fosse você, não me sentiria tão seguro.
Rhodan insistiu para que atacassem logo o núcleo da questão. Não havia tempo para
pesquisas demoradas sobre as características das diversas raças.
— Quer dizer que você recomenda que os DI sejam avaliados com base em critérios
objetivos, para que suas limitações naturais possam ser conhecidas.
Crest fez que sim.
— Superestimá-los seria um erro tão grave como não dar atenção às suas manhas
traiçoeiras. Os DI são uma raça obstinada, mas o heroísmo não ocupa um lugar de
destaque entre eles. Possuem um instinto de autoconservação muito desenvolvido, que os
põe em alerta diante de qualquer risco. São bons intrigantes, dotados de grande
inteligência e flexibilidade. Mas, como acabo de dizer, prezam antes de tudo sua
segurança pessoal. Vocês já sabem de que forma os DI costumam apossar-se de suas
vítimas. Chegam bem perto e sem maiores esforços realizam a troca de identidades. Mas
sempre estão dispostos a bater em retirada. Para isso é necessário que seu corpo fique o
mais perto possível, muito embora o salto para dentro do homem seja muito mais difícil
que o regresso ao próprio eu.
— É por isso que acredita que devíamos procurar corpos de DI nas proximidades da
cúpula?
— Isso mesmo. Quando se sentem seguros, preferem procurar um esconderijo para
seu corpo o mais perto possível do homem em que se recolhem. Em média, pode-se
contar com uma área situada num raio de duzentos metros. É bem verdade que já se
verificaram casos em que os DI se afastaram alguns milhares de quilômetros com o corpo
por eles possuído.
— E mesmo assim conseguem regressar?
— Só com um esforço extremo. E isso se torna ainda mais difícil quando o corpo
em que se abrigaram é ameaçado de morte. A morte do mesmo significaria sua própria
morte. O DI não sabe saltar de um homem para outro. Tem de regressar ao seu corpo, e
isso enquanto o corpo possuído estiver vivo. Se matarmos um homem possuído por um
DI, o DI também morre.
— Faço votos de que isso seja verdade — disse Bell em tom desconfiado.
— Você não tem motivo para duvidar da veracidade do que acabo de dizer —
retrucou Crest.
— Não estou falando por mal. Acontece que você já se enganou quando viu tudo
sob a perspectiva dos arcônidas. Afirmou que um homem possuído cujo eu retorna ao
corpo a que pertence acaba enlouquecendo.
— Isso diz respeito a homens e arcônidas, entre cujas mentalidades existem
diferenças enormes. Enquanto estivermos falando nos DI, você pode confiar nos meus
conhecimentos.
***
Quando surgiu a Good Hope, houve certa agitação entre as massas que se
aglomeravam junto ao posto trinta e sete. A divisão entre os dois fronts já se tornara
menos nítida com o desmoronamento das barricadas. A essa altura a consciência pesada
parecia unir os homens. A esfera dos arcônidas corporificava uma autoridade toda
especial.
Rhodan pousou e pediu a Thora que mantivesse a nave em condições de decolar a
qualquer momento. Olhou para Bell e fez-lhe um sinal.
— Vamos, Bell! Tenha cuidado com o neutralizador. Só utilize feixes de raios
estreitos e bem concentrados, e isso mesmo só quando não tiver outra alternativa. Não
quero que um setor amplo do território onde estão sendo erguidas nossas construções
fique subtraído de repente aos efeitos da gravidade. Se todas as cargas verticais perderem
sua posição estática, gastaremos várias semanas na reconstrução.
— Não se preocupe — disse Bell com um sorriso cordial. — Acho que não teremos
necessidade de recorrer a isso. Só carrego estas coisinhas comigo por uma questão de
tranqüilidade de espírito.
Foram para a frente da nave. A massa humana recuara um pouco, enfileirando-se
como um muro compacto. Rhodan aproximou-se. Reginald Bell seguiu-o.
— Vejo mil rostos estranhos — suspirou enquanto caminhava.
Era o que Rhodan estava pensando. A maior parte desses homens haviam sido
colocados ali durante a expedição a Vênus. Quase todos viam Rhodan pela primeira vez.
Sentiu-se envolvido por uma onda de reverência, desconfiança e insegurança. Até mesmo
o pensamento falso e traiçoeiro podia estar presente. Mas Rhodan e Bell prosseguiram
imperturbáveis. Agora, a uma distância de cinqüenta metros, já tivera início um duelo
espiritual; os dois homens mais proeminentes da Terceira Potência tinham de provar que
realmente possuíam a autoridade que corporificavam.
Perry Rhodan levou o jogo ao máximo. Sabia que a essa altura nenhum exagero
seria demasiado. Quando chegou junto à massa, não parou. Prosseguiu como um robô;
Reginald Bell seguiu-o com a mesma obstinação.
A muralha humana recuou. Ninguém tocou nos dois homens. Uma passagem
estreita abriu-se diante deles.
Subitamente Rhodan parou.
— Quem é o chefe da seção?
Silêncio.
Rhodan encarou o homem que se encontrava mais próximo.
— Será que você perdeu a língua?
— É o professor Morton — gaguejou o homem, olhando em torno com uma
expressão de insegurança.
— Desejo falar com o professor Morton! — disse Rhodan com a voz alta. —
Queiram abrir caminho.
Mais para os fundos houve uma movimentação. Todos se afastaram para deixar o
chefe de seção passar.
— Bom dia, professor. Sou Perry Rhodan. O que houve?
— Não posso explicar. Parece que tudo não passa de um mal-entendido, ou então é
obra de um pequeno grupo de fanáticos. Terei muito prazer em dar-lhe todas as
informações de que disponho. Mas ficarei muito grato ao senhor se me der oportunidade
de cuidar primeiro dos feridos.
— Há um hospital nas proximidades. Por que ainda não tomou nenhuma
providência?
— Não disponho de autoridade para isso, senhor Rhodan. Peço seu apoio.
— Ordene aos homens que retornem aos seus locais de trabalho, professor. Não me
importo de aguardar com as minhas perguntas.
Morton transmitiu as instruções que acabara de receber. Aos poucos os homens da
frente foram recuando, empurrando os colegas que se encontravam atrás. Bell segurou
um dos homens pela manga do paletó.
— Como é seu nome?
— Brian — respondeu o homem com a voz tímida.
— Muito bem, Brian. Você fica responsável pelos feridos. Dentro de dois minutos
deverá haver por aqui um número suficiente de médicos e enfermeiros. Pode retirar-se.
Como é o seu nome?
— Schley.
— Schley, você será responsável pela remoção das barricadas. Pegue quantos
homens precisar. Quero que termine em vinte minutos.
O homem desapareceu, proferindo um “sim senhor” com a voz rouca. Mas não foi
só este. De repente todos pareciam empenhados em dar o fora o mais rápido possível.
Num instante toda a área foi evacuada. Rhodan, Bell e Morton estavam a sós.
— Isto não deixa de ser uma arma — disse Bell com um sorriso de satisfação.
— Uma arma psicológica — confirmou Morton. — Fico-lhes muito grato. Há
alguns minutos a situação ainda era muito ameaçadora. Tudo começou há meia hora.
Encontrava-me...
— Não vamos entrar em detalhes, professor. Da central e da nave observamos tudo.
Se hoje ouvimos homens acusarem-se mutuamente de serem possuídos pelos DI, isso
parece muito perigoso, mas tudo indica que se trata de uma reação de pânico em cadeia.
Será que você tem base para afirmar o contrário?
— De forma alguma, senhor Rhodan. Já lhe disse que para mim tudo não passa de
um mal-entendido.
— Foi o que você disse. Mas é o que pensa? — interveio Bell.
— Não entendo.
— Se é que não me entende, será que tudo está bem com você?
— Por que não estaria?
— Ora, professor. Há pouco você teve uma verdadeira revolução. E agora vem nos
dizer que tudo não passa de uma bagatela. Talvez com isso queira livrar-se de nós. Você
é um dos possuídos, não é?
Morton ficou rubro de raiva. Demorou a encontrar as palavras.
— Isso é um absurdo. Será que até o senhor está apoiando essa campanha sub-
reptícia?
Bell continuou, muito gentil.
— Não é nenhum absurdo, professor. Os DI sempre procuram apossar-se das
pessoas mais influentes. E no posto trinta e sete a pessoa mais influente é você.
— No momento não, se é que me permite dizer isso na minha modéstia. Se eu fosse
um DI, já teria procurado apossar-me do seu corpo ou, melhor ainda, do corpo do senhor
Rhodan.
— Teria saltado para nós?
— É o que minha lógica humana diz.
— O que acha, Perry? Parece que tudo está em ordem com ele, não é?
— Acredito que sim. Você passou pelo exame, professor.
— Muito obrigado — Morton respirou aliviado. Mas seu rosto também exprimiu
certa perturbação. — Sua maneira de examinar os homens é muito estranha. Gostaria de
conhecer o método.
— Se fosse um DI, nunca lhe teria passado pela cabeça transferir-se do professor
Morton para o corpo de Perry Rhodan. Isso não é possível.
Caminharam até a muralha energética e viram que só quatro pessoas haviam
recebido ferimentos sem maior gravidade.
Brian estava junto dos enfermeiros, conforme lhe fora ordenado.
— Como vê, tive razão — disse Reginald Bell satisfeito.
— Mais que isso. Você tinha a intenção de prender três cabeças da revolução, mas
não houve necessidade disso. Tudo isso só demonstra o estado de ânimo que hoje deve
prevalecer em toda a humanidade. O resultado é a insegurança, a desconfiança, a
disposição para os atos irrefletidos. Não temos tempo a perder, Bell; devemos salvar a
Terra do caos.
— É verdade! — confirmou Bell.
O sorriso já desaparecera do seu rosto largo.
— Tive muito prazer em conhecê-lo, professor — prosseguiu Rhodan, estendendo a
mão a Morton. — Mas não quero que se sinta em segurança só porque o conflito foi
dominado com tamanha facilidade. Ainda existe a possibilidade de que entre seus
homens exista algum DI. Não adianta ficar perguntando a todo mundo. O mais
importante é procurar os corpos abandonados daqueles seres. Ainda hoje transmitirei
instruções nesse sentido a todos os grupos de trabalho situados fora da cúpula. Espero
que me avise pelo rádio quando tiver apurado algo de concreto. A qualquer momento
estaremos prontos para revidar um golpe.
***
Quem passasse pela Michigan Avenue teria que inclinar a cabeça bem para trás para
enxergar o céu por cima dos grandes edifícios.
John Marshall voltou a baixar o queixo, depois de ter feito suas observações sobre
Chicago em geral e a Michigan Avenue em particular. Ele e Reginald Bell tinham
descido perto da esquina com a Congress Street e, guardando certa distância, dirigiram-se
ao hotel de igual nome. Bell registrara-se no Congress Hotel com seu nome completo,
enquanto Marshall adotara o nome de John Linker, embora ocupasse um quarto do
sétimo andar, logo ao lado do de Bell. Oficialmente não se conheciam.
Do lado que dava para o pátio interno do Congress Hotel havia uma sacada que
ocupava todo aquele lado. Era verdade que uma parede alta e grossa de vidro fosco
separava a parte correspondente a cada apartamento, mas não era necessário ser um
grande alpinista para escalar esse obstáculo.
As janelas vizinhas estavam escuras. John Marshall arriscou a entrada no
apartamento de Bell. Fechou as cortinas e disse:
— Pronto! Já pode acender a luz.
Bell acendeu o abajur que se encontrava perto da poltrona. Sugou a fumaça do
cigarro que acabara de acender e ofereceu o estojo ao telepata. Este serviu-se em silêncio
e sentou.
— Afinal, o que há com Cannon? — perguntou Bell, já que Marshall não
demonstrou a menor pressa.
— Não estive com ele.
— Mas como?
— Peço-lhe que guarde seu juízo a meu respeito para depois. Cannon está preso
numa fortaleza. Para falar com ele a gente tem de atravessar três ante-salas, e cada uma
delas representa uma verdadeira corrida de obstáculos.
— Será que estou condenado a ouvir uma ladainha de desculpas? — interrompeu
Bell. — Afinal, para que serve sua telepatia?
Marshall não se abalou.
— Pelo que se nota nas cercanias de Cannon, o homem caiu numa armadilha dupla
— informou.
— Você examinou essas cercanias?
— Afinal, minha missão de telepata consistiu nisso. E descobri uma porção de
coisas. Provavelmente essas coisas são mais importantes que as que poderia ter
descoberto se tivesse falado com o chefão em pessoa.
— Faça o favor de contar.
— A cem metros do edifício Kreysky, que fica nesta rua, do mesmo lado do nosso
hotel, existe um restaurante subterrâneo. Nesse restaurante estão os primeiros guardas.
Tanto os da polícia como os do Blue Bird Syndicate. Às vezes até ficam sentados na
mesma mesa, conversando entre si.
— Será que é um acordo secreto?
— Não acredito. Ambas as partes conservam a linha. Ficam brincando de gato e
rato, e às vezes nem sabem direito se foram reconhecidos uns pelos outros. Quase
chegaria a dizer que guardam uma desconfiança instintiva entre si.
— Onde é que a coisa começa a ficar mais interessante?
— No edifício Kreysky, evidentemente. E, o que é de surpreender, também no
prédio vizinho. O pavimento térreo de ambos os imóveis foi construído para abrigar lojas
independentes. No edifício Kreysky existe um auto-serviço para a venda de sabonetes e
cosméticos. Além disso, há uma representação geral da Mix Centry.
— Essa gente instala seus motores em qualquer coisa que possa rodar por aí.
— Isso mesmo. Cheguei a ver veículos de rua para uma pessoa, lanchas e hélices
individuais que cabem numa pasta.
— Espero que não se tenha limitado a olhar, mas também tenha procurado
investigar pensamentos. A loja da Mix Centry pode se tornar muito interessante para nós.
— Por quê?
— Adams manifestou um interesse bastante intenso pelas ações dessa empresa. Por
enquanto a usina continua firme nas mãos do grupo Kreysky. Mas pelo que sei nossa
General Cosmic Company já conseguiu tirar suas casquinhas. Mas continuemos! No
edifício ao lado há uma loja de cerâmica e decorações comerciais. Já passei por lá. Acho
que já chegou a hora de passarmos aos detalhes.
— Muito bem. Uma vez que já conhece as fachadas, estará interessado em saber
que na loja de cosméticos trabalham duas agentes da polícia federal secreta. Uma delas é
supervisora, outra trabalha na caixa. No entanto, o gerente só fica pensando em coisas
tais como o Kreysky, Cannon e umas idéias muito desligadas sobre eventuais atacantes.
O gerente do posto de vendas da Mix Centry pertence à mesma categoria de pessoas. Há
dois dias viu-se obrigado a contratar outro empregado, já que a policia prendeu um antigo
colaborador seu. Quer dizer que o velho está preso para investigações. O novo
funcionário é um agente que trabalha para Kaats. É bem verdade que essa alteração no
pessoal da empresa deu na vista, tanto que o chefão desconfiou.
— Percebeu que o novo funcionário é um homem de Kaats?
— Não chegou a tanto. Mas desconfia dele por uma questão de princípio.
— Nesse caso não vamos dramatizar a situação. Como estão as coisas nas outras
lojas?
— Fiz uma lista, Bell — Marshall tirou um papel do bolso e colocou-o sobre a
mesa. — Na primeira coluna estão registrados os nomes, na segunda a organização a que
pertencem: à polícia ou à gangue do Blue Bird. A seguir vem a indicação de sua relação
de emprego. Verá que em quase todos os pavimentos encontrei pessoas suspeitas.
Principalmente no escritório de advocacia de Smith & Smith, que fica logo ao lado.
— Ao que parece Kaats não conseguiu penetrar no escritório de Smith. Os doze
funcionários que trabalham ali simpatizam com Cannon. Receio que, se começarmos por
ali, poremos as mãos numa casa de marimbondos.
Reginald Bell submeteu a lista a um exame demorado. Finalmente levou o papel até
a lareira, encostou a chama do isqueiro e espalhou as cinzas.
— Quer dizer que existem vários círculos de bloqueio, que se interpenetram. Cada
um protege para fora, enquanto outro procura penetrar para o interior e isolar. Kaats vigia
cada passo de Cannon. Será muito difícil seqüestrá-lo.
— Por que não procura o apoio de Kaats?
Bell repeliu a idéia com um gesto.
— Uma série de negociações com a polícia consumiria muito tempo e
provavelmente não levaria a nada. Kaats não é nenhum Mercant. Serve aos Estados
Unidos da América e nem chega a simpatizar com a Terceira Potência. Quando muito
utiliza as informações fornecidas por Mercant, mas de resto a ambição leva-o a querer
fazer tudo sozinho.
— Então acredita que não concordaria em que levássemos Cannon ao deserto de
Gobi?
— Tenho certeza, Marshall. Portanto, elimine o caminho mais fácil. Devemos
seguir as instruções de Rhodan. Uma colaboração de Kaats significaria uma adaptação
dos respectivos interesses.
— Quer dizer que teremos de agir fora da lei.
— Não se trata de respeitar determinadas normas legais, mas de salvar toda a Terra
dos DI. E para isso só podemos fazer uma coisa: cumprir as ordens de Rhodan.
— Concordo plenamente.
— Não esperava outra coisa. Afinal, você realizou um trabalho preliminar muito
valioso, criando condições para a elaboração de um plano de combate bastante promissor.
Tenho na cabeça a relação que acabo de queimar. No futuro recorreremos o menos
possível a quaisquer registros escritos. Mais uma pergunta: existe alguma suspeita de que
qualquer das pessoas observadas por você seja possuída pelos DI?
— Não. Excluo essa possibilidade. Só temos um conhecimento positivo disso em
relação a Clive Cannon. Acredito que os DI devem ter lançado seu ataque num front
bastante amplo, que se estende por toda a Terra. O primeiro contingente invasor deve ter
sido relativamente fraco, motivo por que os indivíduos tiveram de ser bastante
espalhados. Aliás, para eles basta ocuparem as posições-chaves. Cannon é o chefe da
gangue Blue Bird, cuja direção intelectual provavelmente é idêntica à do Kreysky
Syndicate. Todos os outros não desconfiam de nada, e seguem suas instruções sem
pestanejar.
— O.K.! Vamos ao que importa. Pelo que acaba de dizer, o edifício vizinho é
bastante suspeito, por estar ocupado pelos gângsteres. Já notou que o escritório de
advocacia de Smith & Smith fica à mesma altura que a secretaria do Kreysky Syndicate?
— É verdade. As coisas combinam tão bem que podemos ter certeza de que
encontraremos uma ligação entre os dois edifícios. Só resta saber de que lado devemos
começar.
— De ambos os lados ao mesmo tempo. Além disso, você fica encarregado de
entrar em contato com Clive Cannon. Enquanto isso darei uma olhada no pessoal de
Smith & Smith.
No dia seguinte John Marshall compareceu ao edifício Kreysky trinta minutos antes
do início do expediente. Assim mesmo teve de esperar, pois havia dois cavalheiros que
tinham levantado antes dele.
De início não se importou, ainda mais que resolveu fazer um exame da vida
psíquica dos dois indivíduos.
“...fui o primeiro. Terminarei antes do meio-dia... Falar pessoalmente com
Cannon... estará de bom humor? Trago uma recomendação do secretário... Posso
ameaçá-lo com a GCC. Em Nova Iorque Adams compra tudo em que consegue pôr as
mãos. Mesmo empresas duvidosas... Será que já posso fumar? Antes disso devia comer
alguma coisa... Tolice! Cannon terá que dar-se por satisfeito com as condições que vou
oferecer. Os Kreysky não deviam bancar os importantes. Se não quiserem ser engolidos
pela GCC, precisarão de toda substância que conseguirem assimilar... mesmo que as
condições não sejam tão favoráveis... É claro que ontem ficou muito tarde.”
No cérebro do homem ao lado um problema financeiro parecia ocupar o lugar de
maior destaque.
O outro homem encontrava-se mais afastado. Marshall teve dificuldades em
alcançar a área dos seus fluidos. Acabou se levantando e andando pela sala, como se
estivesse profundamente entediado. Ainda de pé, remexeu num montão de jornais, e
assim conseguiu estabelecer um contato telepático de primeira ordem. Não só isso:
também era muito precioso.
“...esse jovem parece um executivo. Roupa muito elegante. Deve ser uma pessoa de
influência, do contrário não andaria por aqui... Mas o dinheiro do seu carro deve ter
saído do bolso do velho...”
John Marshall não se sentiu muito lisonjeado. Mas no momento não lhe interessava
o que os outros pensavam dele. A próxima série de pensamentos provou que havia algo
melhor.
“...ordens são ordens. Gostaria de ver como Kaats me dará cobertura. É uma
estranha forma de execução num estado de direito... Tomara que não me submetam a
uma revista muito detalhada. Da terceira vez devo dar um jeito de chegar ao chefão...
Este rapaz deixa a gente nervoso. Talvez ele mesmo esteja nervoso. Por que não senta?...
Evidentemente, se Cannon é um dos possuídos, nada me poderá acontecer. Cabe
exclusivamente a Kaats decidir como se elimina uma fera dessas. Além disso todas as
portas estão trancadas... Nada me pode acontecer... Nada me pode acontecer... Devia ler
um pouco...”
— Com licença! — disse o policial e pegou um dos jornais que talvez pertencessem
ao montão que Marshall parecia ter reservado para seu uso exclusivo.
— Pois não!
John Marshall pegou o jornal que segurava na mão e dirigiu-se à sua poltrona.
Não conseguiu concentrar-se na leitura. O homem sentado naquela poltrona era um
policial. Recebera a incumbência de matar Cannon e hoje faria sua terceira tentativa de
penetrar no santuário do Kreysky Syndicate. Quem sabe se Kaats já teve a intenção de
guiar-se pelos desejos de Mercant.
Provavelmente com o tempo o encargo de vigiar um único possuído representaria
um peso muito grato. Um DI morto era um DI bom. Provavelmente haveria algumas
centenas deles perambulando pelo país, e seria necessário cuidar de todos eles com os
meios dos serviços de identificação.
Sob essa perspectiva o coronel Kaats não deixava de ter razão.
Acontece que até então Clive Cannon era o único homem possuído pelos DI que
havia sido identificado com alguma segurança. Por isso era uma pessoa muito importante
para ser abatida sem mais aquela.
John Marshall percebeu que Bell tivera toda razão ao desaconselhar qualquer tipo
de colaboração com a polícia federal secreta. Os interesses e os planos da Terceira
Potência eram ligeiramente diferentes. Era bem verdade que o fato de que Marshall
deveria depender cada vez mais de si mesmo, representava um consolo muito fraco.
Lembrou-se da pasta que continha vários instrumentos de origem arconídica, e que lhe
serviriam de proteção num perigo extremo. Mas teria de fazer o possível para evitar seu
uso, a fim de não provocar suspeitas.
Além disso, seria necessário modificar os planos primitivos. Ninguém contara com
a possibilidade de um atentado. O próprio Bell, que pretendia dar uma olhada no
escritório de advocacia Smith & Smith, não tinha a menor idéia de que a situação se
modificara dessa fora. Por isso mesmo Marshall não poderia seguir um caminho
inteiramente novo. Enquanto os ponteiros iam se aproximando das nove, esforçou-se para
ordenar seus pensamentos. Ficou satisfeito em ter mais um prazo, já que o outro
cavalheiro foi convidado a entrar antes dele.
Com pequenos intervalos apareceram mais cinco visitantes que depois de um ligeiro
cumprimento sentaram e pegaram os matutinos.
Marshall procurou fazer uma ronda disfarçada num passeio inofensivo, mas teve
dificuldades em sondar os pensamentos dos homens que se encontravam tão próximos
uns aos outros. As impressões sobrepunham-se. Tudo indicava que um dos cinco
simpatizava com o policial e estava informado sobre sua missão. Mas Marshall não
conseguiu descobrir qual deles era. Aquela gente nem chegou a trair-se por meio de
ligeiros olhares. Estavam bem treinados e não assumiam o menor risco. Bem, era claro
que para um golpe desses Kaats devia ter destacado os melhores elementos de que
dispunha.
“Brown será o seguinte”, foi o pensamento nítido que surgiu de repente. Então o
nome do policial era Brown.
A recepcionista voltou a aparecer e convidou Brown a entrar.
Os nervos de Marshall quase chegavam a arrebentar de tamanha tensão. O assassino
contratado iria subtrair-se ao seu controle. Nem sequer poderia vigiá-lo com os olhos.
Será que teria de perder a oportunidade?
Se os agentes de Kaats matassem o homem possuído pelos DI na sua presença, Bell
e Marshall levariam um sabão daqueles quando retornassem ao deserto de Gobi. Além
disso, tal ato representaria uma grande vitória para os DI, mesmo que por algum tempo
perdessem uma posição importante.
Era imprescindível impedir a execução dos planos de Kaats.
Marshall teria de concentrar-se, evitando qualquer tipo de pânico interior.
O policial Brown ainda não poderia estar perto de Cannon. Enquanto o primeiro
visitante não saísse, Brown teria de lutar obstinadamente pelo seu objetivo nas três ante
salas. Talvez nem conseguisse chegar à posição de tiro.
Quem sabe se chegaria a conseguir?
Marshall sentiu que deveria eliminar esta última restrição. Representava um consolo
produzido pelo desejo, que não podia merecer a menor confiança.
A porta abriu-se e o primeiro visitante saiu com uma expressão nada satisfeita no
rosto.
A porta fechou-se.
Ninguém convidou Marshall a entrar. Decidiu tomar a iniciativa.
Levantou-se e bateu à porta. Entrou sem esperar pelo convite. A moça sentada atrás
da mesa era a recusa e a indignação personificadas.
— Aqui não é costume entrar sem ser convidado. Peço-lhe que espere lá fora até
que chegue sua vez.
— Já está na minha vez, senhorita.
— Não espere outras explicações de minha parte, cavalheiro. Tenho minhas
instruções. Recomendo-lhe que se adapte às peculiaridades desta casa. Aliás, o senhor já
foi anunciado? Posso verificar se para o senhor vale a pena esperar.
— Essas palavras não foram apenas francas, mas descorteses, senhorita —
respondeu Marshall com uma expressão de ironia no rosto e, num movimento suave,
tirou a agenda das mãos da recepcionista. — Não fui anunciado, tal qual a morte não é. E
tal qual a morte ninguém me pode pôr para fora. Será que a senhorita entendeu a
comparação?
No rosto da recepcionista lia-se o pânico. Como uma das colaboradoras mais
chegadas do círculo de Clive Cannon, porém, pertencia à classe das pessoas que se
distinguem pela inteligência e capacidade de decisão. Alarma! Era este o elemento
principal dos pensamentos que se atropelavam em sua cabeça. Mas hesitou. Era muito
comum que por ali aparecessem blefadores que recorriam a falas imponentes para forçar
a entrada. Chegou a hesitar tanto que Marshall teve de animá-la.
— Não se acanhe em apertar o botão da campainha, senhorita! Não perca tempo, se
é que está interessada em salvar a vida de seu chefe.
— Cavalheiro...!
Marshall procurou frustrar a iniciativa da moça com um movimento semelhante ao
que executara pouco antes. Mas ela foi mais rápida. Não anunciou sua decisão através de
uma série de pensamentos que pudessem traí-la; agiu imediatamente.
Marshall defrontou-se com o cano de uma pistola.
— Suas brincadeiras vão longe demais. Já que escolheu um tema macabro, vamos
prosseguir por esta forma. Saia imediatamente!
— Não está mesmo interessada em salvar a vida de Clive Cannon?
— Acho que ela não corre o menor perigo, enquanto o senhor não conseguir chegar
perto dele.
— É engano, senhorita! A vida de seu chefe correrá perigo assim que o capitão
Brown entrar na sua sala. E, para evitar qualquer dúvida, quero realçar que Brown entrou
bem à minha frente. Só faço votos de que ainda esteja numa das ante-salas. Pelo que
estou informado, não foi anunciado diretamente a Cannon; apenas vem com uma
recomendação de certo secretario. Será que falei bastante claro para fazer com que a
senhorita dirija sua atenção ao lugar certo?
— Um momento.
A recepcionista levantou-se e abriu apressadamente a porta.
— Lem! Onde está o cavalheiro que eu lhe trouxe por último?
— Acabo fazê-lo avançar mais uma casa — respondeu uma voz masculina vinda da
peça contígua.
— Fale imediatamente com Mac Phan e faça-o esperar mais um pouco. Tenho uma
notícia muito importante para o chefe. Não permita em nenhuma circunstância que esse
homem se aproxime dele.
Marshall ouviu um arrastar de cadeira e uma voz que emitia um som de surpresa.
De qualquer maneira as instruções foram cumpridas. Outra fechadura abriu-se.
— Desculpe a interrupção, Bill. Peça a esse cavalheiro que aguarde mais cinco
minutos. O chefe está recebendo um telefonema importante e não pode ser perturbado.
— Quando o chefe fala pelo telefone, eu fico sabendo.
— O telefonema vem diretamente da central. Portanto, você está informado.
O homem que a recepcionista chamara de Lem surgiu na ante-sala.
— Agora você vai fazer o favor de explicar o que significa isso, Marge!
— Quem vai explicar é este cavalheiro. Ele ainda está me devendo a mesma
explicação.
— Meu nome é Linker — disse John Marshall com uma ligeira inclinação do corpo.
— Podemos ter certeza de que o capitão Brown não se aproximará do senhor Cannon?
— Meu nome é Steinberg — disse o homem cujo prenome era Lem, com a mesma
cortesia. — O que tem para nos contar?
— Gostaria que antes respondesse à minha pergunta, Steinberg. No momento o
senhor Cannon se encontra em segurança?
Marshall já o sabia face aos pensamentos de seu interlocutor. Até sabia que Cannon
fora prevenido por uma lâmpada de advertência vermelha, ativada a partir da mesa de
Steinberg, de que alguma coisa não estava em ordem. Por isso o sistema de travamento
automático da porta não seria liberado antes que o perigo tivesse sido eliminado.
Marshall sabia tudo isso. Acontece que ali não poderia revelar sua qualidade de telepata,
motivo por que tinha de formular perguntas como qualquer homem normal.
Steinberg deu um sorriso irônico.
— Você faz perguntas muito estranhas, Linker. É claro que Clive Cannon está em
absoluta segurança. Justamente por isso você terá que se dar ao incômodo de relatar tudo.
— Reviste o capitão Brown. Encontrarão uma pistola, provavelmente até mais de
uma. Penetrou aqui com a finalidade de matar Cannon.
— Ora! Você diz que Brown é policial. O fato é que manteve contatos comigo
como representante de uma empresa privada. E hoje não foi a primeira vez. Como pode
afirmar que pertence à polícia?
— Não só pertence a ela, mas está agindo a seu mando.
— Linker, pensei que você fosse mais inteligente. Então a polícia estaria tramando
um assassinato! E ainda espera que eu acredite que faz isso oficialmente.
— Fornecerei os detalhes ao senhor Cannon. A esta hora já deve ter compreendido
que são muito importantes.
A expressão de ironia no rosto de Steinberg aumentou.
— Se está interessado em convencer-nos da sua ingenuidade, Linker, pode ficar
tranqüilo: já o conseguiu. Apenas receio que o senhor Cannon não o queira receber hoje,
nem qualquer outro dia. Mas sente por um instante. Vamos cuidar do capitão Brown.
Steinberg transmitiu ordens a várias pessoas através do interfone. Dali a pouco
houve uma verdadeira invasão. Cinco homens saíram da segunda ante-sala, onde deviam
ter entrado por um corredor lateral. A seguir o capitão Brown foi introduzido no recinto.
Seus pensamentos revelavam que se sentia descoberto. Mas seu rosto não traía nada.
— Revistem estes homens — ordenou Steinberg.
John Marshall notou que receberia um tratamento tão ríspido como o que era
dispensado a Brown. A revista pessoal realizada em sua pessoa até parecia dar mais
resultado. Enquanto o capitão só trazia três armas comuns, uma delas artisticamente
costurada no forro do paletó, nas roupas de Linker foram descobertos instrumentos que
ninguém ali sabia para que serviam, mas que por causa de suas formas estranhas tinham
um aspecto bastante perigoso.
— Hum! — disse a recepcionista. — Acho que encontramos um par muito
interessante.
— Também acho. É claro que estes bonecos nunca vão confessar que trabalham
juntos. Mas terão tempo para refletir sobre isso. Queira explicar para que serve isto!
— Não vou explicar coisa alguma. Estes instrumentos são meus e vocês nada têm
que ver com eles.
— Vamos confiscar essa sua propriedade, até que o chefe decida a respeito. Knox,
será que você dispõe de dois quartos separados e bem seguros para os dois?
Um dos cinco homens armados deu um sorriso.
— Sempre temos lugar para umas belezinhas como estas, Steinberg. Permite que os
leve logo?
— Protesto! — indignou-se o capitão Brown. — Vocês não podem privar um
homem de sua liberdade pelo simples fato de carregar armas a serviço do Estado.
Previno-os de que estão assumindo uma posição ilegal, que pode sujeitá-los a um castigo
bem pesado. Se tiverem alguma coisa contra mim, ajam dentro da lei. Estou pronto a
prestar declarações perante qualquer corte de justiça regular.
— Acredito — interveio Marshall. — A promotoria sempre vai defender as
posições sancionadas pela polícia. Mas você vai pagar pelo fato de eu ter sido
identificado com suas intenções. E quem vai fazer você pagar serei eu; assim que
conseguir sair daqui. Disponho dos meios, e também disponho de relações para isso.
Basta olhar sobre os instrumentos que estão em cima daquela mesa. Nossos amigos não
têm a menor idéia do que venham a ser, muito menos sobre a maneira de lidar com eles.
O homem chamado Knox, que carregava a pistola automática, aproximou-se para
olhar de perto os instrumentos de Marshall. Chegou a estender a mão para pegar o
neutralizador.
— Deixe de ser tolo! — gritou Marshall a plenos pulmões. — Não ponha a mão
nisso, se não quiser fazer desta casa seu túmulo.
A advertência parecia tão exagerada que quase chegava a dar a impressão do
ridículo. Mas Steinberg continuou a falar objetivamente.
— Que instrumentos são estes, Linker? Serão armas?
— São armas, sim. E quero dirigir a todos a advertência que acabo de fazer a Knox.
Faço-a no seu interesse e no meu.
— Explique-se melhor.
— Não há nada a explicar. Não vim dar aulas a você. Ainda acontece que estes
instrumentos são muito caros para vocês.
— São de procedência terrena? — Steinberg atirou verde para colher maduro.
— Vejam só! — John Marshall procurou dar à sua voz um tom de tranqüila ironia.
— Já começa a compreender. Continue a pensar. Com toda essa inteligência, você
acabará descobrindo um dia.
— Picaremos com você até que resolva falar.
— Isso é chantagem! E provavelmente ainda furto e cárcere privado. Acha que
Cannon está de acordo com isso?
— Acredito que sim.
— Em absoluto! — a voz saiu abruptamente dos alto-falantes. — Mande os homens
embora, Steinberg. Prenda Brown e traga Linker à minha presença.
— Sim senhor!
Pelo comportamento daqueles homens Marshall concluiu imediatamente que quem
acabara de falar não era outro senão Clive Cannon. Dentro de poucos segundos a sala
ficou vazia. Lem Steinberg fez um gesto convidativo.
— Faça o favor, linker!
John Marshall estava esperando.
— Você esqueceu uma coisa — disse com um sorriso, apontando para o
neutralizador e o projetor mental.
— Não sei se o senhor Cannon estará de acordo em que você leve isso.
— Estou de acordo, Steinberg, desde que Linker nos garanta que você vai trazer
esses instrumentos e os colocará sobre minha mesa.
— De acordo — confirmou John Marshall.
Clive Cannon recebeu-o como se fosse um velho conhecido.
— Sente, Linker. Queira servir-se.
Marshall olhou para o estojo em que havia uma dezena de cigarros de marcas
diferentes. Escolheu um.
— Para deixá-lo logo a par, Linker, quero informá-lo de que ouvi sua palestra na
primeira ante-sala. Acompanhei o diálogo. Mas a apresentação, se é que posso falar
assim, tomou um rumo nada sério, motivo por que prefiro que os entendimentos
prossigam aqui.
Marshall esforçou-se para conseguir uma pausa para captar alguns detalhes dos
pensamentos a que Cannon não deu expressão. Mas, se pensava que reconheceria ao
primeiro lance um homem deformado pelos DI, sentiu-se decepcionado.
— Além disso — prosseguiu Cannon — o que acaba de ser dito não foi apenas
confuso, mas também muito estranho. Poderia dar-me uma explicação?
Cannon lançou um olhar sobre o neutralizador e o projetor mental. Seus
pensamentos formularam definições bem reconhecíveis. Marshall viu nisso um primeiro
indício de que Cannon assumira a identidade de um DI. Um ser humano e um habitante
dos Estados Unidos jamais reconheceria esses instrumentos.
— Serei breve, Cannon. Nas ante-salas infelizmente me vi condenado a fornecer
explicações extensas, que não levavam a nada. Conforme já deve saber, há meses Perry
Rhodan procura recrutar pessoas competentes para formar um núcleo sadio de onde sairá
a população de seu Estado. Para isso já estebeleci contatos bem proveitosos. Tudo isso
por um bom dinheiro, é evidente. É por isso que estou aqui. O incidente com o capitão
Brown não fazia parte do programa. De qualquer maneira, só hoje de manhã tive
conhecimento das intenções da polícia. Por isso infelizmente não pude deixar de
dramatizar minha presença.
— Apesar de tudo estou perplexo — disse Cannon. — Além de não saber o que a
polícia pode ter contra mim, acho muito estranhável que a justiça seja administrada por
essa forma.
— Hoje em dia até costumam ter alguma coisa contra os homens mais pacatos,
Cannon. Não preciso explicar a influência que a invasão dos DI exerceu sobre a mente
dos homens. Por isso não é de admirar que algum funcionário do escalão médio dê
ordens para matar este ou aquele cidadão. O medo dos DI pode justificar qualquer
assassinato.
— Medo dos DI! Isso é muito interessante — respondeu Cannon, fazendo de conta
que nada tinha que ver com isso. Mas sua mente desenvolvia uma atividade febril.
“Descoberto? Terei sido descoberto? O que estará pensando esse Linker? Será que
faz parte do jogo? Isso seria muito complicado. Não é possível que Linker saiba. Se
simpatizasse com a polícia, não os teria impedido de me matarem.”
— Por que iriam suspeitar justamente de mim?
— A palavra justamente está fora de lugar. Hoje em dia suspeitam de qualquer
pessoa. Basta, por exemplo, que ela tenha aparecido num sonho mau. Parece que todo
mundo perdeu a razão. Só nos resta um consolo: dentro de pouco tempo nossa tecnologia
nos ajudará a vencer tudo isso. Estão iniciando a construção de aparelhos que permitem a
identificação de qualquer pessoa possuída pelos DI.
Mais uma vez o pânico tomou conta da mente de Clive Cannon. Era muito pior do
que seria num homem que se encontrasse em situação idêntica. A essa altura Marshall já
tinha certeza de que Clive era um possuído e que o caráter dos DI não era nada heróico.
— Estão dando início à construção — observou Clive com um sorriso de dúvida,
como se lamentasse que ainda não se dispunha desses aparelhos. — Quando nossa
tecnologia chegar lá, os DI já terão completado a conquista da Terra. Não tenha a menor
dúvida!
— Não seja tão pessimista! — objetou Marshall. — É claro que uma coisa dessas
não pode ser feita de um dia para outro, mas com os recursos dos arcônidas, de que se
dispõe no deserto de Gobi, poderemos contar com um resultado positivo dentro de
poucas semanas. A Terceira Potência está empenhando todas as forças na solução do
problema. E um dia encontrará a solução.
— Um dia... será amanhã?
— Amanhã não. Mas aposto que não demora mais que uns dois ou três meses. Até
lá a humanidade tem de agüentar, e até lá qualquer um de nós terá de contar que algum
maluco o mate. Ninguém está seguro.
— Ninguém — repetiu Cannon em tom pensativo.
Sua exaltação de DI diminuíra sensivelmente. Já namorava outros planos, onde a
tecnologia da Terceira Potência ocupava um lugar de destaque. Marshall captou a
seguinte série de pensamentos: “dentro de dois meses estarão em condições de
reconhecer um DI. Logo, a Terceira Potência terá de ser conquistada dentro de dois
meses.”
— Ninguém. De qualquer maneira, fico-lhe muito grato. Hoje você salvou minha
vida.
— Fiz isso no meu interesse — Marshall procurou minimizar a importância de seu
ato. — Afinal, gostaria de fazer negócios com você.
— Isso já é uma conversa mais agradável. Que negócios seriam esses?
— Conhece Homer G. Adams e a General Cosmic Company?
— Andam dizendo por aí que a Terceira Potência está atrás disso. Por que fala
justamente no meu concorrente mais feroz?
— Porque a concorrência é uma coisa boa. Vamos abrir o jogo, Cannon. É verdade
que Adams é um dos nossos melhores homens. Chega a ser bom demais. Compreendeu?
— Não posso dizer que tenha compreendido.
— A Terceira Potência é antes de tudo um instrumento político. Precisamos da
eficiência econômica, corporificada sob a forma da GCC. Mas no momento em que pensa
em tornar-se independente torna-se perigosa para nós. Queremos dividir nossa indústria
entre duas empresas equivalentes. Precisamos oferecer uma figura gêmea ao nosso gênio
financeiro. Cannon, você seria capaz de fazer concorrência a Homer G. Adams com a
nossa ajuda?
— Isso representa um grande desafio. É uma pergunta que não pode ser respondida
de supetão.
Realmente era uma pergunta difícil. Apesar disso, os dois homens chegaram a um
acordo naquela mesma manhã. Marshall teve todos os motivos para orgulhar-se de sua
tacada diplomática. Não chegou a pedir que Cannon o acompanhasse numa viagem ao
deserto de Gobi: foi Cannon que pediu. Insinuou-se com o fanatismo de um homem
possuído pelos DI que pretendia conquistar o território da Terceira Potência para impedir
a invenção de certo instrumento.
— Não sei — disse Marshall com a voz insegura. — Não tenho competência para
decidir se posso levá-lo comigo. Segundo os planos de Rhodan, você manteria seu
escritório e todo o complexo do Kreysky Syndicate, para construir sobre essa base.
— É exatamente o que penso. Continuaremos a trabalhar aqui em Chicago e
mostramos a Adams que não está só no mundo. Mas você há de compreender que preciso
obter alguma orientação. Preciso colher uma impressão das coisas imensas que se ouve
falar a respeito do deserto de Gobi. Tenho de saber para quem vou trabalhar. O lugar que
me foi destinado justifica um contato pessoal com Perry Rhodan.
— Compreendo seu ponto de vista, Cannon. Dê-me um dia, para que possa entrar
em contato com minha gente. Voltarei amanhã à mesma hora e lhe trarei a decisão de
Rhodan. Se for positiva, gostaria de decolar imediatamente.
— Estarei pronto, Linker.
***•
No hotel, Bell e Marshall entraram em contato pelo rádio. Não era aconselhável
realizar uma demonstração de alpinismo na sacada à plena luz do dia.
Bell teve a decência de reconhecer que falhara por completo. Em compensação
sentiu-se consolado pelo êxito de Marshall.
— Sabe que Cannon não desconfia de nada?
— Não desconfia de que tenho a intenção de atraí-lo para o deserto de Gobi. Mas de
resto desenvolve uma atividade que nos poderá custar a vida.
— Não vá me dizer que em tudo isso existe um ponto fraco.
— Um ponto muito fraco. Você terá de ir a Nova Iorque ainda hoje, Bell. Cannon
planeja um ataque contra Adams.
— Ele lhe disse isso?
— Pensou. Com toda nitidez. Um possuído de nome Porter entrará em contato com
ele e marcará encontro em Staten Island, onde um DI autêntico estará à espera, para
apossar-se dele. Acho que você devia estar presente quando isso acontecer.
— É claro que estarei presente. Partirei dentro de uma hora. Quando é que esse
misterioso Porter tomará o avião?
— Hoje de tarde. Você ainda dispõe de algum tempo. Os DI não agirão antes do
escurecer.
— O.K.! Se tudo der certo, dentro de vinte e quatro horas conduzirei um DI
autêntico à presença de Rhodan. Será um achado importante.
— Nem tanto — disse Marshall, dando uma risada. — Cannon pretende levar seu
corpo. Pensa em levar uma bagagem enorme. Gostaria de saber qual será o conteúdo
declarado.
— Por que será que vai levar seu verdadeiro corpo, que só pode traí-lo? Além disso,
não é necessário que o mesmo se encontre nas proximidades quando surgirem
complicações. Pelo que diz Crest, o retorno pode ser realizado a uma distância muito
grande.
— Mas não o salto para o corpo de outro homem.
— Qual é o significado de tudo isso?
— O sujeito tem um plano muito simples. Assim que estiver no interior da cúpula,
pretende deixar o corpo de Cannon e saltar para o de Rhodan.
Reginald Bell ficou devendo a resposta por algum tempo.
— Marshall! Estamos brincando com fogo! Não deixe de avisar Rhodan.
— É o que eu pretendo fazer. Boa viagem! Dê lembranças a Adams.
V
***
***
***
***
***
***
Ainda havia 303 homens bem selecionados. Rhodan devia dirigir-lhes algumas
palavras de saudação, ainda mais que se tratava de um núcleo inteiramente novo que se
formava dentro da Terceira Potência. Mas voltou a falar em termos breves e não-
convencionais.
— Talvez um dia possa dedicar-me melhor a vocês. Acontece que hoje não existe
fortuna que pague um segundo perdido.
Desejo-lhes bom apetite para a refeição que já foi preparada. Daqui a pouco
Reginald Bell e o coronel Mercant lhes transmitirão as instruções necessárias.
No escritório Rhodan manteve uma palestra num círculo bastante íntimo.
— Você é de uma leviandade imperdoável — disse Reginald Bell assim que se
ofereceu oportunidade para falar, antes que Rhodan tocasse em qualquer dos assuntos que
compunham a agenda dos debates.
— Pretende dar-me outra lição?
— O que está em jogo não são minhas ambições pedagógicas, mas a sua segurança.
Enquanto aqueles homens desfilaram, você não usou a menor proteção. Procurou
dissuadir Pirelli da intenção de cometer um atentado. Acha que o olhar hipnótico será
suficiente para protegê-lo contra esse tipo de gente?
— Acho, sim. Você se enganou com a atitude do Pirelli. Ao que parece você ainda
não compreendeu como é covarde o espírito que se oculta atrás dessas criaturas. Um DI
jamais cometerá um atentado se tiver que arriscar sua vida. Mas chega de discussão!
Tenho diante de mim as notícias mais recentes de todo o mundo. Infelizmente devo
constatar que para o bem intencionado torna-se cada vez mais difícil ser acreditado pelos
outros. A melhor prova são as acusações incessantes que formulam contra nós. Farei uma
última tentativa para convencer o mundo. A população de Nova Iorque será nossa
fiadora. Se é que algum habitante deste planeta teve oportunidade de convencer-se da
crueldade dos DI, são os habitantes daquela cidade, violentada há três dias.
— Para isso teríamos de libertar aquele contingente de oito milhões de seres
humanos.
— Meu plano é este. A usina robotizada já está fabricando a primeira série de
detectores de DI. Por enquanto encomendei quatrocentas peças.
— Quando estarão prontos os aparelhos?
— Amanhã de manhã. Todos os mutantes de que dispomos, com exceção dos
telepatas, serão equipados com os mesmos. Também os novos membros do contingente
policial e vocês, que são meus colaboradores mais chegados. Bell, você irá à Lua
amanhã. Leve duzentos homens e procure entrar em contato com o comando de robôs
estacionado na cratera Anaxágoras. Procure avaliar os resultados de sua atuação. Caso a
base lunar ainda não tenha sido precisamente localizada, você ficará encarregado disso.
Assim que descobrir o objetivo, entre em contato comigo.
— Um simples contato?
— Por enquanto sim. O ataque pelo qual você deve ansiar não demorará muito.
Apenas pretendo golpear em todos os lugares ao mesmo tempo. Por isso você aguardará
minhas ordens.
— Está bem!
— E agora você, Adams! Não me venha dizer que não tem talento para herói. Darei
a você um punhado de homens nos quais pode confiar. Talvez Ras Tshubai e vinte dos
policiais recém-engajados. Seu objetivo será a base canadense dos DI. Mas não deve
também iniciar nenhum ataque antes que tenha recebido minhas ordens.
— Como queira, Rhodan — disse Adams no tom humilde que costumava usar nas
raras ocasiões em que sua fala não se ligasse ao dinheiro.
As últimas instruções, e as mais detalhadas, foram transmitidas a Allan D. Mercant,
dirigente oficial do Conselho Internacional de Defesa e membro não-oficial do exército
de mutantes da Terceira Potência, dirigida por Perry Rhodan. Mercant recebeu uma
armada de seis planadores espaciais que dispunham de armamentos, espaço de carga e
velocidade suficientes. Sua missão era a libertação de Nova Iorque.
***
Enquanto no deserto de Gobi raiava um novo dia, o dia de Nova Iorque ia chegando
ao fim.
As máquinas haviam decolado.
Em primeiro lugar o grupo de Mercant, seguido pouco depois por um avião de
radiações isolado que seguia em direção ao Canadá. A Good Hope foi a última. Embora
seu objetivo ficasse mais longe, teve que dar a precedência aos aviões estratosféricos, já
que a capacidade de aceleração que desenvolvia no espaço compensava qualquer
distância interplanetária.
Rhodan estava só no edifício central. Desistira de qualquer espécie de assistência.
Preferira destacar os homens disponíveis para os três pontos críticos em que seriam
travados os combates.
Seu assistente era a técnica avançada, que convergia no quadro de comando que
tinha diante de si. Conforme se esperava, a primeira mensagem veio da Lua.
— Alô, Perry! Pousei sem incidentes na cratera Anaxágoras. A força policial está
saindo da nave. Voltarei a chamar depois que tiver estabelecido contato com o comando
de robôs.
— Obrigado e boa sorte!
O ponteiro do relógio continuou a avançar. O contacto seguinte.
— Estamos cruzando por cima de Nova Iorque. Conforme previmos, não
encontramos obstáculo ao penetrar na cidade. Ao que parece o bloqueio só atinge os que
querem deixá-la. Pousaremos em seis aeroportos diferentes. A ação está sendo iniciada
conforme previsto.
Conforme previsto. Isso significava que nos próximos trinta minutos os personagens
mais importantes da cidade seriam visitados por pessoas armadas. Seriam reconhecidas
prontamente como indivíduos possuídos pelos DI e receberiam o tratamento adequado.
As ordens de Rhodan eram terminantes. A luta contra os DI seria conduzida sem a menor
contemplação.
— Alô, Rhodan! — Era a voz de Adams. — Acabo de pousar em cinqüenta graus
de latitude e oitenta e cinco de longitude. Meu velho avião permanece intocado.
— O.K., Adams! Tome posição junto à linha férrea e aguarde.
Por dez minutos o rádio permaneceu em silêncio. Depois a voz de Bell voltou a
encher o recinto.
— Decolamos em direção ao sul, pela face oculta da Lua. Dentro de três minutos
pousaremos na cratera de Mendelejw. O comando de robôs determinou a localização
precisa da base dos DI. Não há o menor sinal de vida.
As notícias começaram a precipitar-se. Surgiam simultaneamente, através de faixas
substitutas. As fitas gravadas registravam-se para Rhodan. Dali a trinta minutos a
situação era a seguinte:
Três vigias DI em plena atividade haviam sido mortos. Bell noticiou a descoberta de
mais de quinhentos corpos de DI imobilizados, cujo ego originário sem dúvida devia
encontrar-se na Terra.
Rhodan interrompeu a mensagem:
— Basta de detalhes. Os corpos dos DI devem ser colocados imediatamente a bordo
da Good Hope e trazidos ao território bloqueado da Terceira Potência. Quanto tempo
levarão para isso?
— Somos duzentos homens. Em média o peso de um DI corresponde ao dobro de
um homem. Com a gravitação lunar isso vem a ser uns vinte e cinco ou trinta quilos.
Levaremos quinze minutos.
— Apresse-se, Bell! Tenho muita necessidade da sua presa.
Também Adams recebeu instruções para agir. Seu trabalho era muito mais difícil.
Seus vinte homens tiveram que colocar a bordo duzentos corpos de DI. É bem verdade
que Ras Tshubai logo os livrou das maiores preocupações. Por precaução o africano
trouxera o neutralizador, com o qual o peso dos corpos foi quase totalmente eliminado.
Pelas onze e meia a Good Hope pousou; o “comando Adams” chegou pouco depois.
A Terceira Potência tinha em seu poder 732 corpos, que foram depositados no seu
território, fora da cúpula energética.
Poucos minutos depois a Good Hope decolou em direção a Nova Iorque, onde se
amarraria ao mastro do Empire State Building.
A Good Hope era larga e parecia desajeitada. Oferecia um bom alvo, mas era
inexpugnável. Seus superemissores martelaram o apelo de Rhodan, dirigido aos homens e
aos DI, usando todas as freqüências disponíveis. A voz de Rhodan superava toda e
qualquer interferência, até uma potência de três mil quilowats. Não era só Nova Iorque
que o ouvia, mas toda a Terra. Os homens livres logo se colocaram a seu lado. Três dias
de ditadura dos DI em Nova Iorque bastaram para convencer a humanidade de que só a
Terceira Potência podia proporcionar-lhes um auxílio eficaz.
Mercant veio com cem detectores. A Good Hope trouxe outros trezentos, que já não
eram necessários na Lua ou no Canadá.
A guerra em meio àquele oceano de prédios perdeu-se em episódios isolados. O
conflito desenvolveu-se de rua para rua, de prédio para prédio, de sala para sala. Os
homens de Rhodan estavam sós. E depois da primeira investida já não representavam
uma surpresa. Apesar disso, venceram. Poucos dos DI chegaram ao extremo. A maior
parte deles agarrou-se ao corpo que os hospedava, já que, afora umas poucas exceções,
seus corpos originários estavam fora de seu alcance. A noticia do roubo dos setecentos
corpos abandonados, depositados na Lua e no subterrâneo do Canadá, levou o pânico dos
invasores ao auge. Os DI haviam chegado ao fim.
O prefeito, o chefe de policia e os sete senadores de Nova Iorque puderam subir a
bordo da Good Hope exatamente ao meio-dia, a fim de oferecer seu relato dos
acontecimentos. Os rostos dos primeiros homens libertados atravessaram o mundo pela
televisão.
— Repórter do demônio? — Alguém soltou a observação a bordo da nave,
evocando uma idéia bastante corrente há cerca de um decênio. Mas havia um ponto de
interrogação atrás dessas palavras. Já havia a certeza de que a mensagem de Rhodan, que
já cobria todas as emissoras da Terra, tinha um sentido bastante sério.
Representava um apelo dirigido a todos os terráqueos, representava o brado de
alerta final dirigido a uma geração que praticamente perdera a hora de sua missão
cósmica a partir do lançamento do Sputnik.
Hoje penetrava, como fato mais consumado, nos recantos mais íntimos, de Tóquio a
Lisboa, de São Francisco a Moscou.
“Não estamos sós no mundo. Nós, os terráqueos, não somos os únicos. Outros seres
existem. E alguns deles não são nossos amigos.”
Pouco depois Perry Rhodan dirigiu um apelo pessoal aos governantes da Terra. Fê-
lo na qualidade de primeiro presidente da Terceira Potência. E a mensagem foi coroada
de êxito. Desta vez os representantes eleitos foram obrigados pela vontade popular a
percorrer o caminho que conduzia para Perry Rhodan, no deserto de Gobi, para
estabelecer a união definitiva da humanidade.
As condições feitas aos DI eram inequívocas e não admitiam qualquer discussão. Os
monstros tiveram oportunidade de aguardar na órbita de Marte até que uma de suas naves
os levasse de volta ao seu mundo natal. Mas esse tratamento humano não os iludia quanto
ao fato de que não teriam a menor chance contra a humanidade.
— A forma de expor a situação ao seu governo depende exclusivamente dos
senhores — foram estas as últimas palavras que Rhodan lhes dirigiu. — Os homens e os
arcônidas são aliados, e daqui por diante proibem-lhes qualquer violação da área
submetida à sua soberania. Mantenham-se dentro dos seus limites cósmicos, e poderemos
ser amigos.
***
* *
*
A Terceira Potência obrigou os DI a bater em
retirada, repelindo uma invasão vinda das profundezas do
espaço, invasão esta a que o restante da humanidade teria
de assistir completamente indefesa.
Perry Rhodan e seus homens sentem-se orgulhosos.
Mas também estão preocupados, pois sabem que para a
Terceira Potência, e posteriormente para toda a
humanidade, vai ter início a Era Galáctica.
O décimo volume da coleção Perry Rhodan,
intitulado Batalha no Setor Vega, nos conduzirá ao limiar
dessa era.
* *
*