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Canto IV – Despedidas em Belém

Estrofes 83 a 87: os que partem


Estrofe 83
A estrofe começa com a referência a D. Manuel I, «Emanuel», o qual elogia e anima os
argonautas (soldados e marinheiros) por fazerem parte da armada e por se aventurarem nesta expedição
marítima.
Estrofe 84
O primeiro verso situa no espaço a ação, «ínclita Ulissea», ou seja, Lisboa, em Belém. O
ambiente é de alvoroço e as naus estão prontas para partir. A «gente marítima e a de Marte», marinheiros
e soldados, estão entusiasmados e determinados. O narrador, Vasco da Gama, não duvida que os seus
homens o seguirão para toda a parte.
Estrofe 85
A agitação dos homens na praia contrasta com a calma da natureza. Os soldados de várias
cores e os homens de várias artes movimentam-se pela praia, ansiosos com a partida em busca de
“novos mundos”; no mar, os «ventos sossegados» ondeiam os estandartes das «fortes naus».
Estrofes 86 e 87
Preparadas as naus, é tempo de preparar as almas para a partida. A morte não deixa de
preocupar os homens e, por esse motivo, convém pedir/implorar proteção e ajuda do «sumo Poder», ou
seja, de Deus. Para isso, os que partem ouvem missa e comungam, «aparelhámos a alma pera a morte».
Depois seguem em procissão desde a Ermida de Nossa Senhora de Belém até à praia. O momento é
solene, as dúvidas e os receios invadem os corações daqueles que partem, as lágrimas tornam-se
difíceis de conter.

Estrofes 88 a 92: os que ficam


 Estrofe 88
A população mobiliza-se para ver partir a armada: há aqueles que ali estão por causa dos
amigos e/ou parentes; outros, para «ver somente», isto é, por curiosidade. Todos evidenciam saudade
dos que ainda não partiram ou tristeza. Na procissão seguem não só os soldados e marinheiros, como
também os religiosos. Todos rezam.
 Estrofe 89
No primeiro verso, há a indicação de um «tão longo caminho». Na verdade, remete-nos não para
a distância, mas para o sofrimento de todos nesta difícil despedida e partida. As mulheres choram
compulsivamente, os homens desesperam entre suspiros. O desespero apodera-se das mães, esposas e
irmãs que, por Amor, temem não voltar a ver os homens.

Os Lusíadas, Canto IV – Despedidas em Belém Folha 1 de


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 Estrofe 90
O desespero é tanto que uma mãe interpela (discurso direto) o seu filho, «Ó filho», tentando
dissuadi-lo de partir. Pergunta-lhe como a pode deixar tão chorosa e em sofrimento, ele que era o seu
amparo na sua velhice. Pergunta-lhe ainda como pode partir para a morte, «onde sejas de pexes
mantimento». A mãe não acredita no sucesso da viagem e crê que o seu filho, ainda vivo, já está
condenado à morte.
Estrofe 91
O desespero também leva uma mulher a dirigir-se (discurso direto) ao seu «doce e amado
esposo». De acordo com o que ela sente, contraditoriamente ao suposto, é precisamente o Amor (esse
cruel sentimento) que os impede de estarem juntos. Pergunta ao seu esposo o que o leva a aventurar-se
no mar perigoso, por um caminho incerto, deixando-a na tristeza.
 Estrofe 92
Outros intervêm e apelam para que os soldados e marinheiros não partam, seguindo-os até ao
mar. O ambiente é de profunda emoção e claro desespero e isso reflete-se na Natureza: os montes
quase respondiam, comovidos pelo sofrimento humano. Na praia, a «branca área» é banhada pelas
lágrimas da multidão. Esta hipérbole pretende transmitir a dimensão do sofrimento que parece
incomensurável.

Estrofe 93: a partida


Os homens que partem procuram manter os olhos no chão, para assim suportar melhor o
sofrimento e não encarar o desespero das mulheres (mãe, esposa). Para evitar maior sofrimento e
poupar os homens de maior desespero e angústia, Vasco da Gama determina que todos embarquem
sem as habituais despedidas.

Conclusão
Neste episódio predomina o tom lírico e não o épico.
É a linguagem emotiva que domina o registo da narração, ou seja, os sentimentos familiares e
humanos, em todos os seus sonhos e temores. Não temos a narração de grandes feitos, como a
superação de obstáculos ou descobertas.
Este episódio permite conferir aos portugueses a sua verdadeira dimensão humana, valorizando
todos os feitos alcançados ao longo da história: por um lado, são capazes de grandes aventuras,
coragem e determinação; por outro lado, são suscetíveis ao sofrimento e dor humanos.

Os Lusíadas, Canto IV – Despedidas em Belém Folha 2 de


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