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Universidade Federal do Pampa

Programa de Pós-Graduação em Engenharia


Disciplina de Mecânica dos Fluidos Viscosos

DETERMINAÇÃO DO TIPO DE ESCOAMENTO E FATOR DE ATRITO NO


EXPERIMENTO DE REYNOLDS

RESUMO – O estudo do comportamento de fluidos é de grande importância na


engenharia. Através dele pode-se determinar o tipo de escoamento em tubulações, por
meio do número de Reynolds e obter a perda de energia do fluido. Sendo assim, o
presente trabalho objetivou a observação dos regimes de escoamento em uma tubulação
lisa, utilizando como fluido de trabalho a água, bem como a obtenção do fator de atrito
de Darcy e dos comprimentos de entrada. A vazão foi determinada através de um
recipiente graduado e a perda de energia (hL) com um manômetro inclinado. Mediram-
se também os comprimentos de entrada para o desenvolvimento do perfil de
escoamento. A partir do experimento foi possível observar os tipos de escoamento
laminar, transiente e turbulento. O comportamento do fator de atrito em função do
número de Reynolds foi semelhante ao descrito no diagrama de Moody, porém, no
escoamento turbulento foram obtidos valores mais elevados em comparação ao laminar.
De acordo com os comprimentos de entrada, para o regime laminar obteve-se um ajuste
com coeficiente angular de 0,015. Para o escoamento turbulento o valor de Le/D foi de
47.

características importantes no estudo de


INTRODUÇÃO
escoamentos. Quando um fluido escoa por um
duto, o perfil de velocidade na região de
O escoamento de um fluido pode ser
entrada é normalmente uniforme, até que, ao
classificado como sendo externo, quando o
longo de sua trajetória, forças viscosas nas
fluido escoa por uma superfície, ou interno,
paredes da tubulação, e de cisalhamento entre
quando escoa por um conduto (ÇENGEL e
as camadas adjacentes promovem o
CIMBALA, 2007). Dentro do conceito de
desenvolvimento de um perfil parabólico
escoamento interno, em 1883, Reynolds
(VILANOVA, 2011).
definiu os tipos de regimes de um fluido
Segundo Çengel e Cimbala (2007), o
através de um experimento em duto no qual foi
fator de atrito no escoamento turbulento e
possível observar os escoamentos laminar,
totalmente desenvolvido em um duto está
transiente e turbulento (REYNOLDS, 1883).
associado ao número de Reynolds e à
Um escoamento laminar é caracterizado
rugosidade relativa, conforme estão
por não apresentar mistura significativa entre
apresentados no Diagrama de Moody.
partículas vizinhas do fluido. Já um
Sendo assim, o objetivo deste trabalho
escoamento turbulento é caracterizado por
foi realizar o experimento de Reynolds
apresentar movimentos que variam
observando os tipos de escoamento. Além
irregularmente (POTTER e WIGGERT, 2011).
disso, determinar o fator de atrito de Darcy e
Além destes, o escoamento pode-se apresentar
avaliar o comprimento de entrada.
em um regime de transição, o qual apresenta
características intermediárias entre regime
laminar e turbulento (ÇENGEL e CIMBALA, MATERIAIS E MÉTODOS
2007).
A região de entrada e de escoamento Para reproduzir o experimento de
completamente desenvolvido são Reynolds foi utilizado um módulo composto
por uma tubulação de 1,5 cm de diâmetro com 𝐿𝑒
( ) = 120 (5)
injeção de corante em dois pontos, um para 𝐷 𝑡𝑢𝑟𝑏
avaliação do comprimento de entrada e efeitos
Onde, α é o coeficiente linear da reta, Le
de borda e outro, já na região de escoamento
(m) é o comprimento de entrada e D (m) é o
desenvolvido, para observação do regime de
diâmetro da tubulação.
escoamento. A vazão de água foi obtida
medindo-se o tempo e o volume em um
recipiente graduado. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Número de Reynolds (Re) do
escoamento foi obtido através da Equação 1. Na Tabela 1 são apresentados os valores
de vazão que separam um tipo de regime de
𝑑. 𝑢. 𝜌 outro, bem como os regimes observados e o
Re = (1) número de Reynolds calculado.
𝜇

Onde, d (m) é o diâmetro da tubulação, u Tabela 1: Regimes observado no experimento.


(m/s) é a velocidade, ρ (kg/m³) é a massa Q [m³/s] Regime Re
-6
específica, μ (Pa.s) é a viscosidade absoluta. 7,33.10 Laminar 603
O fator de atrito de Darcy foi 2,93.10-5 Transiente 2413
determinado através da Equação 2 para 1,13.10-4 Turbulento 9324
escoamentos em regime laminar e pela
Equação 3 para escoamentos em regime Observando a Tabela 1, percebe-se que a
turbulento. região de comportamento laminar corresponde
a valores baixos de vazão; para vazões
64 superiores a 7,33.10-6 m³/s, ou seja, menores
𝑓𝐷,𝑙𝑎𝑚𝑖𝑛𝑎𝑟 = (2)
que 1 dL/s já não se observa um
𝑅𝑒
𝑑 2𝑔 comportamento laminar.
𝑓𝐷,𝑡𝑢𝑟𝑏𝑢𝑙𝑒𝑛𝑡𝑜 = ℎ𝐿 . (3) Potter e Wiggert (2011) afirmam que
𝐿 𝑢2
para valores de Reynolds superiores a 7700 já
não é mais possível o escoamento laminar de
Nas quais, fD é o fator de atrito, hL (m) a fluidos, de acordo com as condições
perda de carga, L (m) é o comprimento da específicas do sistema. Entretanto, ressaltam
tubulação, g (m/s²) a aceleração da gravidade. também, que para condições de engenharia
Em posse do número de Reynolds e das valores de Reynolds acima de 1500 já podem
características do material da tubulação, ser considerados escoamento em regime
construiu-se o diagrama de Moody. Para este turbulento.
estudo, a tubulação era de vidro, material que Na Figura 1 é apresentado o
possui baixa rugosidade de parede, portanto, comportamento do fator de atrito em função
pode ser considerado como um tubo liso. do número de Reynolds.
Os comprimentos de entrada foram
medidos e a perda de carga na tubulação foi 1
obtida através de um manômetro inclinado 0,8
0,6
conectado em dois pontos da linha com 0,4
Fator de atrito

distância de 3,03 m. Segundo Potter e Wiggert


(2011), uma aproximação para o comprimento 0,2

de entrada em escoamento laminar pode ser 0,1


0,08
dada pelo ajuste dos pontos a uma equação da 0,06
reta, conforme a Equação 4. Para escoamentos 0,04
turbulentos, Le/D é uma constante dada pela Diagrama de Moody
0,02
Equação 5. 2
10 10
3
10
4

Número de Reynolds
𝐿𝑒 Figura 1: Fator de atrito em função de Re
( ) = 𝛼. 𝑅𝑒 (4)
𝐷 𝑙𝑎𝑚 experimental e do Diagrama de Moody.
O comportamento apresentado no CONCLUSÃO
experimento foi semelhante ao descrito no
diagrama de Moody, apresentando uma reta Através do experimento de Reynolds foi
para o regime laminar e uma curva decrescente possível a observação dos regimes de
para o turbulento. Entretanto, devido a escoamento laminar, transiente e turbulento. O
configuração do experimento, pode-se regime laminar foi observado para valores de
perceber que a região de escoamento vazão de até 7,33.10-6 m³/s e para valores
turbulento apresentou valores mais elevados maiores observou-se o movimento
do fator de atrito quando comparada ao desordenado do fluido, característico dos
escoamento laminar. Em razão das limitações regimes transiente e turbulento.
do equipamento não se pôde realizar o O comportamento do fator de atrito
experimento com vazões mais altas que observado no experimento foi coerente com o
levariam o fator de atrito a ser menor pela diagrama de Moody, apresentando bem
dissipação das forças viscosas. definidos os regimes laminar e turbulento.
A Figura 2 mostra os pontos de regime Em relação a análise dos comprimentos
laminar ajustados. de entrada obteve-se um coeficiente angular
para o ajuste linear do regime laminar no valor
de 0,015. Para o regime turbulento o valor de
22 Le/D foi de 47.
20
NOMENCLATURA
18
Le/D

16 diâmetro da
D M
tubulação
14
fator de atrito
12 de Darcy para
fD,laminar -
10 escoamento
0 200 400 600 laminar
Número de Reynolds fator de atrito
Figura 2: Ajuste aos dados experimentais de de Darcy para
FD,turbulento -
comprimento de entrada para regime laminar. escoamento
turbulento
O ajuste da equação da reta para o aceleração da
g m/s²
regime laminar fornece coeficiente angular de gravidade
0,0155, o qual é da mesma ordem de grandeza perda de carga
hL m
do que o descrito por Potter e Wiggert (2011), na tubulação
que tem valor de 0,065. Esse ajuste fornece um comprimento
valor de coeficiente linear, que pode estar L m
da tubulação
relacionado com imprecisões nas medidas. Q vazão de água m3/s
Ainda, segundo Potter e Wiggert (2011), número de
para o regime turbulento o valor do Re -
Reynolds
comprimento de entrada sobre o diâmetro da velocidade da
tubulação é constante (120), como já u m/s
água
apresentado na Equação 5. Entretanto, a partir viscosidade
desta equação o comprimento de entrada para μ dinâmica da Pa.s
o desenvolvimento do perfil seria de 1,8 m. água
Para a configuração do módulo experimental massa
utilizado o desenvolvimento do perfil ocorre ρ kg/m3
específica real
em 71 cm, com um Le/D de 47.
REFERÊNCIAS

POTTER, M. C.; WIGGERT, D. C. (2011)


“Mecânica dos Fluidos”, McGraw-Hill,
p. 219-221.
REYNOLDS, O (1883). An experimental
investigation of the circumstances which
determine whether the moton of water
shall be direct or sinuous, and of the law
resistence in parallel channels. Phil
Trans. R. Soc. London, v. 174, pp 935-
982.
VILANOVA, L. C. (2011) “Mecânica dos
Fluidos”, Colégio Técnico Industrial de
Santa Maria, Curso em Automação
Industrial, p. 50-51.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. (2007)
“Mecânica dos Fluidos: Fundamentos e
Aplicações”, Cengage Learning, p. 279-
295.

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