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VEREDAS Revista da Associacao Internacional de Lusitanistas VOLUME 9 PORTO ALEGRE 2008 A AIL ~ Associago Intermacional de Lusitanistas tem por finalidade 0 fomento dos estudos de lingua, literatura e cultura dos paises de lingua portuguesa. Organiza congressos trienais dos sécios e partcipantes inte- ressados, bem como co-patrocina eventos cientificos em escala local. Pu- blica a revista Veredas ¢ colabora com instituigdes nacionais e intenacio- nais vinculadas & lusofonia. Sua sede se localiza na Faculdade de Letras 4a Universidade de Coimbra, em Portugal. ¢ seus 6rgaos diretivos sto a Assembléia Geral dos sécios, um Conselho Diretivo e um Conselho Fis- cal, com mandato de trés anos. Seu patriménio & formado pelas quotas dos associados ¢ subsidios, doagdes ¢ patrocinios de entidades nacionais ou estrangeiras, piblicas, privadas ou cooperativas. Podem ser membros da AIL docentes universitarios, pesquisadores ¢ estudiosos accitos pelo Con- selho Diretivo e cuja admissio sejaratificada pela Assembléia Geral. Consetho Diretivo Presidente: Regina Zilberman, UFRGS regina zilberman@gmailcom 1P, Vice-Presidente: Carlos Reis, Univ. de Coimbra caseis@mailtelepac.pt 2°. Vice-Presidente: Elias Torres Feijs, Univ. de Santiago de Compostela fgtorres@usc.es Sectetéria-Geral: Maria da Gloria Bordini, UFRGS dini@portow 1 ‘Vogais: Ana Mafalda Leite (Univ. Nova de Lisboa); Benjamin Abdala Ju- rior Univ. Sto Paulo); Cristina Robalo Cordeiro (Univ. Coimbra); Ettore Finazzi-Agrd (Univ. Roma, La Sapienza); Fétima Celeste Ribeiro (Con- tacto, Servigos de Linguas, Lda); Helena Rebelo (Univ. da Madeira) M. Carmen Villarino Pardo (Univ. Santiago de Compostela); Sebastido Tava- res de Pinho (Univ. Coimbra); Rolf Nagel (Univ. Duisburg); Teresa Cris- tina Cerdeira da Silva (Univ. Fed. do Rio de Janeiro). Consetho Fiscal Fatima Viegas Brauer-Figueiredo (Univ. Hamburgo); Laura Calcavante Padilha (Univ, Fed. Fluminense); Thomas Farle (Univ. Oxford) Associe-se pela homepage da AIL: www lusitanistasail net Informagdes pelos e-mails: sitanistasail@terra.com.br,ailusit@ci.uept Veredas Revista de publicacio anual Volume 9 Maio de 2008 Diretor: Regina Zilberman Diretor Executive: Benjamin Abdala Junior Consetho Redatorial Anibal Pinto de Castro, Axel Schonberger, Claudio Guillén, Cleonice Berardinel- 1i, Femando Gil, Francisco Bethencourt, Helder Macedo, J. Romero de Mage- Ides, Jorge Couto, Maria Alzira Seixo, Marie-Héléne Piwnick, Ria Lemaire. Por ineréncia: Ana Mafalda Leite; Carlos Reis; Cristina Robalo Cordeiro; Elias Tor- res Feijé; Ettore Finazzi-Agrd; Fitima Celeste Ribeiro; Fatima Viegas Brauer- Figueiredo; Helena Rebelo; Laura Calcavante Padilha; M. Carmen Villarino Pa do; Maria da Gléria Bordini; Rolf Nagel; Scbastido Tavares de Pinho; Teresa Cristina Cerdeira da Silva; Thomas Earle Redagio: VEREDAS: Revista da Associaeao Intemacional de Lusitanistas Enderego eletrénico:ailusit@ci.ue-pt Realizacio: ‘Coordenagio: Perpétua Gonealves Revisio: Tania Regina Ortiz Vernet ‘Capa: Atelier Henrique Cayatte ~ Lisboa, Portugal Impressio e acabamento: Evangraf, Porto Alegre, Brasil ISSN 0874-5102 AS ATIVIDADES DA ASSOCIACAO INTERNACIONAL DE LUSITANISTAS, ‘TEM 0 APOIO REGULAR DO INSTITUTO CAMOES SUMARIO EDITORIAL... or APRESENTACAO .. 09 Inés Duarte © Portugués moderno ¢ a Romania (Nova) ninewnnee — 1B MARIA FERNANDA BACELAR DO NASCIMENTO, LUISA PEREIRA, ANTONIA ESTRELA, JOSE BETTENCOURT GGONCALVES E SANCHO OLIVEIRA Aspectos de unidade e diversidade do Portugués: as variedades africanas face a variedade européia MARGARIDA TADDON! PETER O trio companihado pelo ports anglao, brasileiro e mogambicano .. . 61 JOHN Lipskt Angola ¢ Brasil: vinculos lingiisticos afro-lusitanos... 8 MARILZA DE OLIVEIRA Portugués Brasileiro, Portugués Mogambicano ¢ as linguas crioulas de base portuguesa. . 99 ‘GREGORIO FIRMINO Aspectos da nacionalizagio do Portugués em Mogambique 115 CupistoPHER STROUD 0 Portugués de Mogambique na construgo de um espago social e politico .. sv 137 ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES portugués medieval: koinizaglo € elaborago vninn 155 Os AuToREs 7 EDITORIAL A revista Veredas focaliza, neste mimero, a grande diversi- dade das manifestagdes da lingua portuguesa. Sao estudos que des- exevem ¢ analisam variagées lingilisticas ¢ estratégias de aquisigao do portugués em situagdes de diglossia e enquanto lingua segunda. Sdo questdes de atualidade em termos de pesquisa na érea, neste momento de grandes deslocamentos populacionais no plano interno de cada pais, em especial nos pafses africanos de lingua portuguesa, € também no externo, diante das novas dindmicas sociais resultantes da globalizagio. Nossas variedades lingiisticas vieram, evidentemente, de nossa experiéncia histérica, considerada nas interagdes politico culturais ocorridas inicialmente sob a hegemonia imposta pelo pro- cesso colonial. Vieram depois outras hegemonias, mas também re~ sisténcias as tendéncias unidirecionais esses fluxos, que tém resul- tado apropriagdes que enredam esses direcionamentos assimétricos. Como resultantes desses tensionamentos, registram-se no passado, como na atualidade, variantes situacionais da lingua portuguesa, ‘com miltiplos recortes: locais, regionais, nacionais, plurinacionais, Hé varios crioulos e numerosas modalidades sociolingiisticas, que estabelecem seus estatutos. Tais interpenetrag6es, além de procura- ‘rem romper o sentido dos fluxos hegeménicos, modelizam a lingua naquilo que ela tem de manifestago concreta: suas formas varian- tes, pois o paradigma é abstrato. Sao poderes simbdlicos que, a0 se vincularem a situagdes mais especificas, no deixam de dinamizar 0 sistema que as atravessa, a lingua portuguesa As circulagdes entre nossos povos, que viveram experiéncias histéricas comuns com o contato entre africanos, amerindios e eu- ropeus, levam-nos a nos conhecer naquilo que temos de proprio ¢ de comum. Nos processos de hibridizagdes resultantes desses contatos culturais encontram-se tragos que marcam a maneira de ser de cada tum de nossos povos. A busca desses caracteres lingbistico-culturais constitui possibilidades em termos de pesquisa que os ensaios aqui reunidos procuram levantar. Em relago as pesquisas que tém sido realizadas em ambito universitério, ha a necessidade de as dinamizarmos, alargando-as para projetos conjuntos entre grupos de pesquisa dos trés continen- tes, com integragdo de varias dreas do conhecimento, aproximadas sob 0 influxo e mediag4o de nosso comunitarismo cultural. A lingua scu sistema paralelo, as literaturas em portugues, constituem un ‘campo bisico nao s6 para a indugdo da pesquisa, mas também para a dinamizago das relagdes entre os paises de lingua portuguesa. Ne- cessitamos de projetos que afirmem politicas de pesquisa do idioma comum, suas literaturas e culturas com ele imbricadas, de maneira a associar instincias universitirias as agéncias de fomento. Nao s6: 0s ministérios de relagBes exteriores devem apoiar essas demandas co- ‘munitérias enquanto fato relevante de politica de Estado. E importante, para a concretizagio desses horizontes mais ‘erais, que pesquisas, como as que aparecem neste volume, repercu- tam em cada pais, alargando seus efeitos do campo da pesquisa uni- vversitiria para o do ensino da lingua portuguesa, em seus miltiplos registros. Trata-se, pois, nos planos intemo e extemo de cada pais de lingua portuguesa, de se formular politicas comuns que certa- mente afirmardo 0 ensino do portugués € 0 nosso comunitarismo lingUistico-cultural, neste momento de grandes deslocamentos po- pulacionais em nivel internacional. Se 0 comunitarismo leva-nos & formagio de blocos, sua inclinagdo aberta, supranacional, desenha ‘um gesto capaz de abrigar também as comunidades de nossos mi grantes, postas & margem em outros paises, em razio das assimetri- as do grande capital APRESENTACAO Devido a conjugacao de um leque de factores de natureza di- versa, 0 diltimo quartel do século XX teve uma importéncia crucial na consolidagdo do universo da lingua portuguesa, Do ponto de vista sécio-histérico, sobressai a massificagio do uso do Portugués nos pafses afticanos recém-independentes, on- de a sua adopgzo como lingua oficial tem como consequéncia uma intensificagdo notavel do processo de formago de variedades locais. Do ponto de vista cientfico, este € o periodo da historia da teoria linguistica no qual sfo criados instrumentos de andlise das linguas naturais que tornam possivel uma abordagem mais objecti- va, endo discriminatoria, da variagao linguistica e do processo de aquisigao de linguas nao maternas. No campo da metodologia de pesquisa, este periodo ¢ mar- cado pelo desenvolvimento de meios tecnolégicos mais sofistica- dos, que permitem recolher, arquivar e tratar informaticamente cor- pora de grandes dimensdes, tomando assim acessiveis grandes quantidades de dados, base imprescindivel para um estudo empiri- camente fundamentado das diferentes variedades do Portugués. ‘A massificago do uso da lingua portuguesa nos novos pal- ses afticanos e os desenvolvimentos te6rico-metodolégicos eriaram, por sua vez, condigdes para o surgimento de uma vasta literatura ci- ‘entifica, na rea da linguistica descritiva e aplicada, sobre proprie- dades gramaticais especificas das diferentes variedades do Portu- gués, assim como sobre as dindmicas sociais da sua utilizagao. Hoje, parece ja longe a época em que os varios objectos contidos no conjunto “Lingua Portuguesa” eram ainda definidos numa dimensdo meramente extensional, em que se privilegiavam os aspectus histéricos, em detrimento de uma definigdo intencional, qualitativa, baseada nas suas propriedades gramaticais (cf. RAPO- SO 1984). Nao menos importante, vai também sendo remetida para " RAPOSO, B. Algums obsrvantes sabre a nog de “Lingua Portus”. Boetin de Flologia 9.28, 885:92, 1984 10 um horizonte cada vez mais longinquo a época em que apenas as variedades europeia e brasileira e 0 Galego eram reconhecidos co- mo partes do conjunto “Lingua Portuguesa”, ou em que se admitia a existéncia do chamado “Portugués Africano”, uma entidade linguis- tica abstracta, falada em cinco paises independentes, numa zona ge- ograficamente descontinua, por populagSes com linguas maternas tipologicamente distintas. Foi este 0 quadro geral em que o presente ntimero da revista, Veredas foi concebido, no qual se procurou, em primeiro lugar, reu- nir trabalhos que aproximem € contrastem entre si nfo sé diferentes variedades do Portugués, mas também crioulos de base lexical por- ‘tuguesa, proporcionando assim uma percep¢io mais global do con- timuum de variedades e linguas incluidas no universo da lingua por- tuguesa. Assim, o artigo de Duarte, para além de situar o Portugués moderno no contexto das linguas roménicas de sujeito nulo, revela de forma sistemética propriedades que distinguem as duas varieda- des nacionais da lingua portuguesa ja estabilizadas, a europeia e a brasileira. O artigo de Bacelar ef al. representa a primeira tentativa, na histéria dos estudos sobre variedades do Portugués, de estabele~ cer semelhangas ¢ diferencas, a nivel do léxico e da gramatica, entre todas as variedades africanas de Angola, Cabo Verde, Guiné, Mo- gambique e S. Tomé e Principe, tomando como base cinco subcor- pora compariveis. O estudo de Peter propde-se examinar 0 léxico de origem portuguesa ou africana pertencente ao vocabulério co- mum do Portugués angolano, brasileiro e mogambicano, destacando convergéncias e divergéncias na forma ¢ na interpretagdo semanti- ca. O trabalho de Lipski busca uma explicagdo para as semelhangas entre o Portugués vernacular dos musseques angolanos ¢ as varie- dades marginais brasileiras, sobretudo nas, zonas de contacto com linguas afticanas, baseada em dois factotes: as manifestagdes uni- versais de aquisigéo de uma lingua segunda, ¢ as estruturas morfo- sintéticas das principais linguas angolanas ¢ do antigo Congo portu- gués (0 kimbundu e 0 kikongo). Por fim, o artigo de Oliveira procu- ra trazet & luz. novas consideragdes sobre a questdo da origem crioula do Portugués brasileiro, analisando contextos de uso da preposigdo a ‘com complementos dativos e verbos de movimento, em dois crioulos u de base portuguesa (Cabo Verde ¢ Kryol) ¢ no Portugués mogambi- cano, buscando uma comparago com o Portugués brasileiro Em segundo lugar, considerou-se igualmente enriquecedor incluir neste ndimero da revista Veredas estudos sobre dinémicas re- ccentes do Portugués nos novos paises africanos, que revelam aspec- tos ainda pouco conhecidos do seu uso em comunidades urbanas multilingues. Assim, o artigo de Firmino proporciona uma reflexao sobre as mudangas sécio-simbélicas ¢ estruturais que a lingua por- tuguesa vem softendo em Mogambique, pondo em causa a visio tra- dicional que limita o impacto das linguas coloniais em contextos pés- coloniais apenas a sua funcionalidade, como simples instrumentos de comunicagtio, Por sua vez, 0 artigo de Stroud analisa diferentes tipos de narrativas tipicas da cultura popular mogambicana, da época co- lonial ¢ pés-colonial, que mostram que a melhor forma de analisar 0 Portugués de Mogambique é vé-lo, tal como qualquer outra lingua, ‘como produto de debates ideolégicos e como uma construgo social, toricamente varidvel. Por fim, para além dos artigos baseados numa perspectiva Linguistica e/ou sociolinguistica, considerou-se importante que a perspectiva histérica estivesse também representada neste nimero, estimulando, entre outros, os estudos diacrénicos sobre 0 proceso de formagio das novas variedades afticanas do Portugués. Conside- ra-se assim que 0 artigo de Cardeira & Fernandes, a0 mostrar como as profundas alteragies (fonéticas, morfolégicas, lexicais e sintécti- as) que se registam no Portugués europeu no século XIV anunciam actual norma, pode constituir um estimulo para o estudo de fe- némenos especificos das variedades africanas do Portugués, como ‘evidéncias da construgio de novas normas. Em suma, espera-se que 0 conjunto dos artigos incluidos neste niimero da revista Veredas proporcione uma reflexao dindmi ca sobre a vitalidade actual da lingua portuguesa, e desafie os inves- tigadores para novas incursdes no seu universo. Perpétua Goncalves Universidade Eduardo Mondlane Maputo, Novembro/2007 VEREDAS 9 (Porto Alegre, 2008) 155-176 O portugués medieval: koinizacao e elaboracgao ESPERANGA CARDEIRA Universidade de Lisboa ‘MARIA ALICE FERNANDES Universidade do Algarve 1. Os dialectos portugueses ‘A lingua portuguesa conhece uma divisio geogréfica em va- riedades setentrionais e centro-meridionais correspondentes, respec- tivamente, a dialectos primérios e secundérios. A is6fona (fronteira fonética) que os separa corresponde a uma linha que atravessa ot quamente 0 centro de Portugal, partindo da costa a norte de Aveiro € encontrando a fronteira com Espanha na regio de Castelo Bran- 0," Os dialectos primétios constituem os formados na drea original " Trat-se da iséfonarelatva aos diferentes resultados da fusto do sistema de sibliantes medievais:apicais nos teirias a nonce dorsodetais nos teitrios a sul. Na sua pro= posta de classificgto dos dialects glego-portugucses, Cinta usta realizasto deste fo- emas como uma das caractersticas que permite trae Fonteias ene grupos de dilee- tos: so daleto ransmontano-alto-minhoto ainda conserva um sistema de quatro sibilan- tes (sz predorsodentas/,zdpico-alveolare) © batxo.minholo-duriense-eirdoreduzit~ © 88 duas dpico-alveolares todo o dialecto entro.meridiona realiza apenas es predos0- ‘denials. Nesta distrbigdo, © transmontano-allo-minhoo ila 0 estado evoutiva do 3 ‘alo xv, quando as aftcada ts e/a! tnham js perdido o seu elemento oelsivo inca, masse mantnham and distin ds frictivaspio-alveolares, 156 LESPERANCA CARDEIRA & MARIA ALICE FERNANDES do galego-portugués, que abrangia a regiéo de Entre-Douro-e- Minho, a Galiza e a zona ocidental das Astirias. A fronteira politica entre 0 Reino de Portugal e a Galiza, imposta a uma populago es- tavel e densa, nao conseguiu quebrar a unidade linguistica nem velar a riqueza dialectal que a sua estabilidade, densidade e antig dade justificam. Os dialectos secundérios sfo 0 resultado da color zagao linguistica interna portuguesa no centro e sul. Nestes territd- rios de colonizagdo, a mistura de populaydes vindas quer de norte quer de oeste, transportando consigo uma diversidade de variedades linguisticas, materializou-se no nivelamento dialectal e na apeténcia para a inovagao. Quando observamos a actual estruturago dialectal da faixa ocidental da Peninsula Tbérica apercebemo-nos de como uma antiga unidade hist6rica e linguistica, 0 galego-portugués dos Cancioneiros medievais, se ramificou em duas Iinguas. © portugués, virado para © sul e para o mar, sofreu, a partir do século Xv, um processo de e- laborago que 0 instituiu como idioma nacional; no galego, esse processo é ainda recente, Entre galego e portugués, a continuidade linguistica reflecte as comuns raizes hist6ricas. Por isso se pode i- dentificar esta unidade, 0 dominio linguistico galego-portugués, com base em dois ou trés tragos: quer portugués quer o galego se diferenciam de todos os outros dominios romanicos pela palataliza- 40 dos grupos latinos iniciais PL, CL e FL em [t8] pela sincope de N € L latinos intervocalicos e pelas vogais abertas resultantes das bre- ves latinas € ¢ 6? E é também por isso que os dialectos setentrionais ortugueses so, de algum modo, a continuagio dos dialectos gale- ‘80s € se distinguem tao claramente de uma area de dialectos centro- meridionais, mais homogénea e inovadora, em que se elaborou a norma do portugues. E precisamente por esta ser a regido em que se constituiu a norma que um dos poucos tragos que sentimos como dialectal € a monotongagao do ditongo [ej]. Se reconhecemos um falante setentrional pelos seus tragos marcados, j 0 falante meridi- onal pouco se afasta da norma. E como o papel centralizador da norma tem nivelado, desde hé séculos, a variagdo dialectal, as dife- Tengas entre dialectos, no portugués, néo impedem a comunicagio. * AAs mesmas vognis latinas originaram ditongos em castlhano; a isbfona que separa as vogais do galego e portugues dos dtongos eaelhanos acompanha, rosso modo, a isha da onteira (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO. 187 Em Portugal continental, os dialectos podem, assim, agru- par-se em duas grandes éreas:* (D Os dialectos setentrionais (Trds-os-Montes, Alto ¢ Baixo Minho, Douro e Beira Alta) em que se observam as seguin- tes caracteristicas: lantes apicais; = distingdio entre as consoantes palatais africada [18] e fricativa [8] ~ betacismo, ou seja, ndo distingdo entre a oclusiva bilabial [b] ea fricativa labiodental [v]; = realizago dos ditongos [ow] ¢ [ej]. (Il) Os dialectos centro-meridionais, que abrangem a Estrema- dura e a Beira Baixa, o Ribatejo, 0 Alentejo ¢ 0 Algarve ¢ que se caracterizam pelos seguintes aspectos linguisticos: ibilantes dentais [s} e [2]; - redugdo do ditongo [ow] a [o]. Dentro de cada uma destas grandes reas podemos identificar subéreas, com tracos individualizantes: (D) Na regido dos dialectos setentrionais destaca-se a variedade do Baixo-Minho ¢ Douro Litoral, regio que abrange 0 Porto e ar- redores, em que se observa uma ditongagao das vogais médias [e] ¢ {0}, respectivamente em [je] ¢ [wo] (peso pljelso; porto plwo]rto). (il) Nos dialectos centro-meridionais existem duas regides com caracteristicas préprias: os dialectos do Centro-Litoral (Estremadu- ra e parte das Beiras) ¢ os do Centro-Interior e Sul, (Ribatejo, Beira Baixa, Alentejo e Algarve) que se distinguem na proniincia do di- tongo representado por , conservado no Centro-Litoral, [ej)* e reduzido a vogal [e] no Centro-Interior e Sul. Ainda na area dos di- alectos centro-meridionais, uma regio que engloba uma parte da Beira Baixa ¢ Alto Alentejo (Castelo de Vide, Castelo Branco > Os esudos dlalectol6gics sobre o portugus iniciam-se com a publi leotldgico do Continente Portugués, do aite de Vasconcelos, em Fos autores se debrugaram sabe a diferencagao dialectal em Portugal eestdo actuamente fem curso diversas investigades no Centro do Linguistica da Universidade de Lisboa, co {ps resultados podem ser consltadosem Note-se que Lisboa conservae dtongo sob forma dissimilada [aj 158 ESPERANGA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES Portalegre) individualiza-se pela palatalizagio das vogais acentua- das [u}, [a] € [o] (graficamente ). Também no Barlavento do Algarve (em Sagres, Vila do Bispo e outras localidades) se observa uma deslocagio em cadeia da proniincia das vogais acentuadas, com palatalizagio de [u] ténico ¢ apagamento do -o e do -e finais no acentuados, Os dialectos dos Agores e da Madeira, embora possam ser inte- grados na rea dos centro-meridionais, exibem caracteristicas espe- cificas. No arquipélago agoriano, o dialecto micaelense apresenta as vogais palatais (0 e [6], tal como na variedade dialectal jé des- crita da Beira Baixa e Alto Alentejo (uva, [d]va; pouco, p[d}eo), ¢ 4 substituigao do [0] ténico por [u] (amor amfujr). No arquipélago madeirense nota-se 0 fechamento do [a], a ditongagao do [i] ténico (ha {aj}Iha) e a palatalizagao do [I] quando precedido de [i] (filete, fidJete). Evidentemente, a par das caracteristicas fonéticas, também ‘no plano da estruturacao lexical as vicissitudes da histéria deixaram ‘marcas. O noroeste de Portugal, em que as divisdes administrativas romanas vieram ajustar-se a anteriores limites étnicos e foram con- tinuadas pelas fronteiras do reino suevo e pela organizagao eclesifs- tica do periodo visigodo, manteve uma populagdo estavel, mesmo apts as invasGes érabes. A individualizagao precoce da regio entre © Douro e 0 Minho ¢ a estabilidade da sua densa populagao favore- ‘ceram uma tendéncia conservadora que justifica a sobrevivéncia de tipos lexicais arcaicos, por vezes dos mais antigos de toda a Roma- nia, como € 0 caso de anho, substituido por cordeiro ou borrego no restante territério portugués. A esta regio arcaizante do noroeste ‘opdem-se as inovadoras terras planas do sul, palco das lutas da re- conquista e objecto de uma politica sistematica de repovoamento. A. norte do Tejo encontramos designagées mais antigas e de origem la- tina; no sul, a ocupagio érabe ¢ a influéncia mogérabe legaram-nos novos vocabulos. E assim que & sega, ao cesto, & palmada ou a0 bolso nortenhos, correspondem a ceifa, a alcofa, 0 agoite e a algi- beira meridionais.® * Orlando Ribeiro, em apéndice aos Estudos de ditectologia portuguesa de Citra (1983), ititlado “A propésito de rca lexiais no leritro portugues (algumasrefiexdes acres (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAOE ELABORACAO 159 2. Constituigao histérica dos dialectos portugueses tragado do mapa linguistico de Portugal continental espe- Iha, até hoje, as diferentes estratégias dos movimentos da Recon- quista Cristd e do consequente repovoamento das terras reconquis- tadas. Cerca de um século ap6s a invasio frabe (711) a recuperagéo do territério tinha jé atingido a linha do Douro, restaurando 0 antigo regime senhorial e abrindo caminho para 0 movimento migrat6rio dos vencedores. No norte, da Galiza ao Douro, o repovoamento, i- iado ainda no perfodo em que a reconquista partia das Astirias e Led, acrescenta a uma antiga populago rural novos senhores que apossam das terras, instalando-se em ‘vilas’ e ‘quintis’. A ‘pre- stria’, apropriagdo da terra (incluindo pessoas), caracteriza esta primeira fase do repovoamento, com a reconstituigao de uma socie- dade de senhores ¢ servos. A fundacio de igrejas € mosteiros atrai, ainda, novos habitantes que contribuem para aumentar a jé densa rede populacional. © Entre-Minho-e-Douro, terra de senhores ¢ mosteiros, o- pée-se ao Entre-Douro-e-Tejo, terra de concelhos ¢ do Rei. A dis- tribuigdo dos topnimos com a palavra pago (‘casa de proprietétio") ilustra bem este processo, jé que esta palavra se encontra em 328 top6nimos localizados a norte de Douro e apenas em 78 nas Beiras. A sul do Douro, principalmente entre 0 Mondego e 0 Tejo, o repo- vVoamento teré um cardcter municipal, concentrando-se em torno das ccidades © a0 longo das principais vias, ¢ deixando todo o interior pouco povoado, Destrufda a antiga autoridade senhorial, surge uma nova forma de organizagdo social, a da autoridade colectiva dos ‘vizi- ‘hos’, que se reunem em ‘concelhos’ (do latim CONCILIU., ‘reuni- 4") para resolverem os problemas da vida quotidiana Do vale do Tejo para sul, as ordens militares (Templétios- Cristo, Calatrava, Santiago) praticam um repovoamento que se tra- duzird, durante séculos, em vastas propriedades ¢ fraca densidade Populacional. E nestas terras ‘novas’ que se criam os concelhos de tipo ‘perfeito’, institufdos pelo Rei com a outorga de um foral que 4o seu condcionamento),spresenta uma lista de voesbulos de origem romfinicy © de uso ‘orenenasregiesstentrionals, aque se ope formas ardbcas nos dalestos merdionis 160 [ESPERANGA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES modela uma completa organizacio municipal. A abundancia destes novos concelhos a sul do Mondego é bem reveladora da necessida- de de repovoar as terras reconquistadas, ‘© mapa linguistico da faixa ocidental da Peninsula apresenta uma continuidade entre os dialectos galegos e os portugueses seten- trionais (conservagao da africada /ts/ correspondente a grafia , oposta a fricativa /8/, grafada ; conservagao da sibilante apical conservacdo dos ditongos /ow/ e /ej/ e betacismo) com raizes mais, antigas que a fundago da nacionalidade ¢ que se consolidou na se- quéncia destas estratégias de reconquista e repovoamento do territé- Tio, Os dialectos portugueses centro-meridionais, por outro lado, forjaram-se em terras reconquistadas ¢ repovoadas, onde a necessi- dade de comunicagdo entre falantes de variedades diversas impés 0 nivelamento linguistico: em periodos caracterizados por grandes movimentos migratorios, mudangas que tomem a comunicagéo ‘mais fécil, eliminando diferengas entre 0s falantes, so favorecidas, Desde finais do século XIV e ao longo dos séculos XV € XVI, a sociedade portuguesa softe profundas alteragdes. Inicia-se ‘uma nova dinastia e mudam as classes que detém o poder; a corte, até entdo itinerante, fixa-se na érea centro-meridional, terra recon- quistada e repovoada, lugar de encontro de gentes ¢ dialectos; a ca- pital, Lisboa, tora-se 0 modelo urbano que atrai as populagGes € os interesses; 0 pafs consolida-se dentro ¢ fora da Peninsula; a impren- ssa permite uma maior difusdo do pensamento e a produgao literdria em portugués aumenta e toma-se mais acessivel; surgem as primei- ras graméticas, inaugurando a reflexio linguistica ¢ abrindo cami ‘ho & normalizagao e ao ensino da Lingua. A evolugao da lingua nao poderia deixar de acompanhar todo este processo de mudanga: con- cretizam-se mudangas lingufsticas iniciadas ainda nos séculos ante- riores, extinguem-se caracteristicas do portugués arcaico, a lingua sofre um processo de elaboragdo ¢ comega a fixar-se uma norma linguistica. Norte ¢ sul opunham-se jé, em consequéncia das estra- tégias da Reconquista e do repovoamento: um norte-noroeste de “terras antigas’, densamente povoado, estével, dialectalizado, centro da produgdo trovadoresca ¢ ligado & Galiza, demarcava-se de um centro-sul mogérabe, reconquistado, de populagdo rarefeita e com ‘uma lingua homogeneizada pelo repovoamento. Agora, é este eixo (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO 161 centro-meridional que se torna 0 modelo que enformard a elabora- ‘edo linguistica do portugués. A Corte de Avis, funcionando como “forga centripeta’, absorve as distintas dreas dialectais, deixando & ‘margem as caracteristicas ~ doravante regionais ~ do norte. E a an- tiga lingua dos Cancioneiros sofreré mudangas que, num processo de unificagio ¢ normalizagao, a transformarao em idioma nacional € simbolo de um império. Com a afirmacao politica de Portugal no contexto peninsular, 0 portugués demarca-se da primitiva unidade galego-portuguesa. O galego sofre um processo de castelhanizagio, © portugués um processo de elaboragdo (por elaboracdo entenda-se a eliminagao de dialectos em tomo de um centro hegeménico que labora no sentido da unificagao de um idioma nacional). A partir do século XV, a histéria de Portugal ¢ do portugués deixou de confinar-se a uma estreita faixa ocidental na Peninsula Ibérica: os descobrimentos e conquistas levaram a lingua aos mais, distantes pontos do mundo.‘ Para os Agores e Madeira a lingua por- tuguesa foi transplantada numa fase de normalizagao lingufstica ja centrada na rea dos dialectos centro-meridionais. A norma péde, assim, exercer uma pressao significativa. A esta funcao unificadora da norma serd preciso acrescentar o papel do préprio processo de colonizagio que, ao juntar num mesmo e novo ambiente falantes de variedades lingufsticas diversas, favoreceu a uniformizago. A valo- rizagdo da fungdo comunicativa da linguagem, ao eliminar caracte- risticas que possam dificultar o entendimento entre os falantes, pro- duziu uma simplificagdo e um progressivo nivelamento linguistico. Daf que tragos sentidos como dialectais (a sibilante apical, a aftica- da palatal surda, 0 betacismo) fossem suprimidos, criando-se uma ygua mais nivelada, Daqui resultou, na prética, uma aproximagio a0s dialectos centro-meridionais (também eles produto de um proces- so de povoamento e de unificaco linguistica), uma vez que estes, sendo o palco da constituigao da norma eram,jé, os menos marcados, Ivo Castro 2006) considera dois ciclos evoutves na histria do portuguts, correspon- dontes a dois movimentas sucessivos de eescimento. No primeito, 0 ciclo da formagie dda Vagus, cure os séculos re x¥, a lingua abandons a sua Sra inci, a Galcia Magna «, acompanhando 9 movimento da Reconquista, expande-se para sul. No segundo cico, «| da expansto da lingua, que corresporde ao peviodo das Descoberas, portugus instal se fra da Europa e consolida-se em Portugal 162 [ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES ‘Ainda assim, a lingua adquiriu, nos Agores © Madeira, uma feigdo peculiar, justificada quer pelo processo de colonizagéo quer pelo isolamento. A insularidade criou condigées para que af se de- senvolvessem dialectos que se, por um lado, conservam tragos que {6 no se mant&m no Portugués continental, por outro desenvolvem ‘caracteristicas inovadoras préprias. As peculiaridades dos dialectos insulares so, portanto, justificadas quer pelo processo de coloniza- 40 quer pelo isolamento. E a colonizagio que explica o [Ul] palata- Tizado destes dialectos (muro m{ti}ro, como na Beira Baixa e Alto Alentejo ¢ no Barlavento Algarvio), € o isolamento que justifica a preservagio de um antigo demonstrativo aqueste; mas a palataliza- ‘go da lateral {I} antecedida de [i] é mudanea propria da Madeira. 3. Koinizagio, elaboragio e estandardizacao nos dialectos centro-meridionais Se tomarmos o termo koiné no sentido em que Siegel (1985) © aplica, como um resultado estabilizado da mistura de subsistemas como dialectos regionais ou literdrios, teremos de L 08 dialectos portugueses centro-meridionais resultaram de um processo de koiniza¢ao decorrente dos movimen- tos de reconquista e repovoamento do territério, nomea- damente na regio a sul do Mondego; IL a norma do portugués europeu se constituiu, por um pro- cesso de elaboragdo e estandardizagao, com base nas va- riedades centro-meridionais. Com efeito se, numa primeira fase, a colonizagdo interna que se verificou na sequéncia da Reconquista crista pds em contacto falantes provenientes de diferentes regides, numa segunda fase o re- sultado homogeneizado dessa confluéncia tornou-se uma espécie de lingua franca da nova comunidade de fala e € sobre essa lingua franca que se viré a elaborar a norma do idioma nacional.” 7 Siva Neto (1961, p. 3-8) ditingveaformagdo do domino Lingustico portuguds (detr- minada pela Remanizag3o, de Sul pra Nort, e pela Reconquista, de Norte pare Sul) da Formas da lingua nacional que decree da constiuigho do Esta). (O PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO. 163 A medida que a reconquista incorporava novos espagos © 0 Condado Portucalense se transformava no Reino de Portugal, 0 repo- voamento dos territérios reconquistados ia-se fazendo a custa de fa- lantes oriundos quer da érea original do galego-portugués quer de ou- tras regides peninsulares e, até, de fora da Peninsula Ibérica. Esta no- ‘ya populagao vem juntar-se a uma comunidade falante de um diferen- te estado evolutivo do estrato latino, o mogérabe, e também a falantes de outra lingua, 0 arabe. © centro-sul de Portugal torna-se, assim, particularmente favoravel ao desenvolvimento de uma espécie de |i gua franca, simplificada e regularizada' (jie., koinizada), justificada ppelas necessidades comunicativas da comunidade reeém-constituida. E nesta lingua franca, que rapidamente se toma lingua matema da nova comunidade, que se ancora a codificagao do portugues. A diferenciagao dialectal do portugués do Sul em dois sub- ‘grupos, o do centro litoral e o do centro interior e sul, acompanha a historia da conquista e colonizagao interna A regio entre o Mondego € 0 Tejo (centro-litoral) constitui uma zona de transigio a que faltam tragos privativos, pois partitha dialectalismos setentrionais e meridionais. A sua falta de individua- lidade dialectal ficaria a dever-se a continuidade de contacto com os dialectos primérios. Essa continuidade de contacto seria possibilita- da pela maior proximidade geogrifica desta regio com a area origi- nal do galego-portugués, mas, sobretudo, pelo tipo de povoamento ‘municipal, que facultaria uma mais fécil difusdo da variedade linguis- tica da administragdo, que até & dinastia de Avis seria a minhota, Do vale do Tejo até a0 Guadiana (centro-interior ¢ sul), 0 repovoamento latifundiério favoreceu ndo s6 a continuago do nive- lamento dialectal, iniciado na regio entre 0 Mondego e 0 Tejo, co- mo a preservagio dos seus resultados Nenhum dos dialectos do centro interior ¢ sul possui, actual- ‘mente, tragos exclusivos. Mas, apesar de partilharem as mesmas ca- racteristicas linguisticas, a sua vitalidade e distribuigo nao é idénti- " efrindo-se ao proceso de Koinizagso no espenhol da América, Beatriz Weinberg (1984, p. 47) afrma que “era mds fil para los hablantes que poseian determinadasoposi= cionesperderas que para quienes no ls tenian adqurras” que “en Ie alternative de aprender una variedad con mayor nimero de oposicones 0 una Variedad simplifcna, les ‘esulaba mucho mis sencilla a segunda possbiliad,” 164 ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES. cca: 0 mesmo trago dialectal pode num deles ndo ser sistematico ou ‘ocorrer apenas no falar de uma ou vérias localidades © noutro ser extensivo a toda a regiflo, pelo que 0 conjunto de tragos de uso geral que caracteriza cada um dos dialectos do centro interior ¢ sul & par- ticular. As escolhas que vieram a configurar a individualidade des- tes dialectos forain, assim, diferenciadas e, mais uma vez, depende ram das vicissitudes hist6ricas, politicas e sociais das regises por eles caracterizadas. So 0s tragos comuns a todos 0s dialectos meridionais, cuja descrigao a seguir apresentamos, que nos permitem reconstituir © {que tera sido a koiné medieval: A. Fonética $1. Vocalismo ténico §1a, Alteragio em cadeia do sistema vocélico ténico: [i > ¢ (apenas ‘em contexto de nasal ou vibrante), > ¢, £> #, a> 4,O>0, 0> uu > ii] : mésa ‘mesa’, poe ‘pé’, afethado “afilhado’, argélas ‘argolas’, cencufre ‘enxofte’, mila ‘mula’. Caracteristica do Barlavento Algarvio, as is6fonas destas mudangas nao so coincidentes, nem tém todas a mesma vi- talidade. A ocorréncia esporidica, nao sistemética, de algu- mas delas [e > 6, a> 4, O> 0, 0> u] nas zonas central e ori- ental leva a crer que a deslocagdo em cadeia do vocalismo ‘ténico possa outrora ter abrangido toda a regio. Fenémeno semelhante caracteriza a localidade de Tolosa, no concelho de Nisa, onde se observa a deslocagio em cadeia de todo 0 vocalismo, t6nico e dtono. O falar desta localidade enqua~ dra-se na variedade da Beira Baixa e Alto Alentejo, que se individualiza pela palatalizagao de w tonico e pela labializa- 80 de e ténico fechado em [ce]. Do mesmo modo, varios dos elos destas cadeias de alteragdes persistem nos dialectos do centro interior e sul, pelo que podem ter constituido uma ‘mudanga difundida em todo o territério que nalgumas zonas nao ter chegado a fixar-se por completo € noutras entraria ‘em regressao, (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO 165 elo despoletador desta cadeia de alteragdes parece ter sido a palatalizacdo de w, que se ficaria a dever (tal como as pala- talizagdes referidas nos §§ 1b ¢ 3a) a influéncia dos Hospita- lérios ¢ Templatios. De facto, 0 cardcter excepcional destas palatalizagdes na fonética histérica peninsular e a sua afini- dade com idénticus fendmenos galo-romanicos. permitem pensar que elas se possam ter ficado a dever & colonizagio das ordens militares com aquela origem: os Templarios ¢ os Hospitalérios tiveram a seu cargo a defesa e povoamento da maior parte da Beira Baixa e do Alto Alentejo eo Algarve pertenceu a Ordem de Cristo, fundada em 1319 ¢ herdeira da Ordem do Templo extinta em 1311 Sabemos que estas alteragdes ja se observavam no século XY, pois vamos encontrar no micaelense (Agores) um sis- tema semelhante 20 do Barlavento Algarvio, embora com labializacZo de e ténico em [ce] em vez de abertura, como na variedade da Beira Baixa e Alto Alentejo. §1b. Palatalizagao da vogal ténica a, condicionada pelo contexto, pois s6 se observa quando a vogal esté em contacto com consoante palatal ou quando, na silaba precedente, se encontra ou encontrou i ou u vocélicos ou semivocélicos: buréco “buraco’, bacalhéu *baca- Iau’, alguidér ‘alguidar’, preciséva ‘precisava’ Esta palatalizagdo manifesta-se numa érea continua que re~ cobre a franja sul da Beira Alta, a Beira Baixa e o norte do Alto Alentejo, ocorrendo ainda em algumas localidades do Alentejo Litoral ¢ do Baixo Alentejo. No Algarve, a sua maior vitalidade verifica-se nas zonas central e oriental, da- do 0 Barlavento Algarvio ter privilegiado a velarizagao deste fonema independentemente do contexto fonético (v. §1a). Nesta regio, 0 mesmo fenémeno observa-se igualmente quando o fonema é seguido de nasal homo ou heterossilabica: ‘moréngos ‘morangos’, guéncho ‘gancho’, usémos “usamos’. $le. Conservacdo do timbre (e] nas terminagdes ~elho/a, -enb/a e ~ ejova: urétha ‘orelha’, lénha ‘lenha’, séja ‘seja’ 166 LESPERANGA CARDEIRA [ARIA ALICE FERNANDES Na variedade padrdo essa vogal centralizaria e chegaria mesmo a ditongar antes de palatal oral. Essa mudanga € tar- dia ¢ esta abonada no século XIX. §1d.Conservagio da vogal ténica nasal final @ ou da sua variante centralizada algarvia d: bé ~ba ‘bem’, 12 ‘tem’, ald ‘além’, va ‘vem’, O algarvio conhece ainda a variante &a, com paragoge vocd- fica: 2a ‘tem’. A centralizago da vogal nasal ancora-se numa permuta an- tiga de € por d, observavel igualmente no alentejano, quando a vogal é entravada por consoante nasal. A paragoge vocdli- ca é condicionada pela durago da silaba ténica. $2. Vocalismo étono §2a. Ensurdecimento do / tono, sobretudo preténico: feguéra ‘fi- gueira’, menterosa ‘mentirosa’. © ensurdecimento desta vogal ficou a dever-se a troca ante- rior de ie e dtonos, abonada, para o Algarve, por Contador de Argote (1725, p. 295)’ e, para a Estremadura ¢ Alentejo, por Monte Carmelo (1767, p. 501, §3). {§2b. Realizagdo da vogal final e como [i ponti ‘ponte’, fomi fone’. Fenémeno de uso generalizado no dialecto alentejano, mas no algarvio apenas nas zonas central ¢ oriental, este trago re~ presenta a conservagdo de uma prontincia antiga, que ainda hoje caracteriza 0 portugués do Brasil e que no portugués europeu se observava ainda no século XVII §2c. Reducdo ou apécope da vogal final [uJ, grafada : cope ~ cop *copo”. Trata-se de um mogarabismo devido a influxo drabe"® que se verifica nas variedades da Beira Baixa e Alto Alentejo, do * {0 dialeto do Algarve diffe na pronuncia [do da Estemadura, porque aE fechado promuncito como / assim como Pedaro dizem Pidaco,e ao pronuncito como E echado, ‘sim como Diser pronunciso Deser,e em outs cousas» (CONTADOR DE ARGOTE, 1725, p.295), '° 0 abe andaluzapocopava a vogai final -0 das formas romnica, em virude de 08 substantvos masculinos dabes terminarem em eonsoante. Esta caracteristcn, que seria (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACKO E ELABORAGAO. 167 Baixo Alentejo ¢ do Algarve, onde caracteriza as zonas bar- laventina e setentrional. §2d. Conservagdo da vogal dtona nasal final 2, que no dialecto al- garvio apresentava, ainda na década de sessenta do século passado, como trago de uso geral, uma variante centralizada e desnasalizada viagé ~ viaja ‘viagem’, vagé ~ vaja ‘vagem’, ferruge ~ ferruja ‘fer- rugem’, onfé ~ onta ‘ontem’. ‘A vogal centralizada algarvia, que ocorre tanto em silaba t6- nica quanto atona (v. §11), perde aqui o trago nasal devido & sua atonicidade. §3. Ditongos A tendéncia para a redugtio dos ditongos é uma caracteristica inovadora meridional. As monotongagdes comuns aos dialectos me- ridionais sdo as dos: §3a. ditongos decrescentes ow ¢ ef: canté, canté ‘cantou’, éiro, iro “outro” preméro ‘primeiro’, féra ‘feita’ A. génese destas mudangas em antigo terrt6rio linguistico mogérabe, que se caracterizava pela conservagao de ai, ei, au © ou, foi interpretada por Cintra (1983, p. 48) como resultado da colonizagao étnica e linguistica, propicia & aceitagfio ¢ pro- agacio de inovagdes. Mas é provavel que o influxo do ads- {rato frabe ndo tivesse sido estranho a este processo, pois no andaluz era frequente a tendéncia para a redugo dos ditongos [ow] ¢ [ej] do drabe antigo (FERNANDES 2007, p. 586). Do seu foco meridional, estas monotongagdes propagaram- se para Norte, tendo a de ow sido acolhida nos dialectos por- ‘tugueses centrais € na lingua padrdo, enquanto a de ei se fi- cou pela faixa ocidental da Estremadura ¢ no se normativi- zou. A sua expansto para norte pode ter-se produzido ainda durante os séculos XIII-XIV e acentuado em finais de tre- zentos € no inicio de quatrocentos, quando a populagio do Sul do reino adquiriu papel preponderante nos exércitos ¢ na ‘tansmitida ao romance mopirabe, es slestedae abundantement iustrada na toponinia coeva do dominio slimica, 168 [ESPERANCA CARDEIRA B MARIA ALICE FERNANDES. corte de D. Joao I. Apesar de a implantagdo geografica des- tas monotongagées pressupor, segundo Cintra, que o avango da de ow foi mais rapida, desconhecem-se-Ihe atestagdes medievais e as de ei S6 se comegam a registar a partir de 1385 na documentago remanescente algarvia (CARDEIRA e FERNANDES 1997, p. 60-1). ‘A monotongagao do ditongo ou teve, para além do resultado generalizado [0], uma variante palatalizada [6], que, indivi- dualizando a variedade da Beira Baixa ¢ Alto Alentejo, se deve ter ficado a dever A influéncia franca das ordens milita- res, Esta variante seria levada, no século XV, para as ilhas de S. Miguel e Terceira nos Agores. §3b. ditongos decrescentes eu, do, au ¢ iu, em situagdo de préclise: 12 um pa na mao ‘tem um pau na mio’, nd v6 ‘no vou’, abri-se ‘a- briu-se’ {§3c. Sincope da semivogal palatal [j] dos ditongos crescentes pos- tonicos ou sua atracgdo para junto da vogal tonica: duza ~ duiza ‘diizia’, meséra ‘miséria’, ambuldiga ‘ambulancia’, negoce ~ negoi- go ‘negécio’."* $4. Consonantismo E ao nivel do consonantismo que os dialectos meridionais mais se distanciaram das suas origens galego-portuguesas, tendo todas ‘as suas inovagSes fonol6gicas sido acolhidas na variedade padi. 4a, Distingao entre os fonemas /b/ e /v/: bento vs vento Esta oposigdo fonolégica s6 se observa, no contexto hispani- co, nos dialectos portugueses centro-meridionais. O romance galego-portugués ¢ os dialectos setentrionais actuais distin- guem duas bilabiais sonoras: a oclusiva [b] com origem na sonorizagio da consoante latina oclusiva bilabial surda sim- ples em contexto intervocélico ¢ a fricativa [B] resultante da consonantizagio da semivogal velar latina. {Tp matte da semivogal €abonada por Monte Carmelo (1767, p. S01) como caracteis- ica da plebe da Estremadura do Aleteo, dando como exemplos Antoine € Theotoino por Antonio Theotonio e Oratoiroe Purgaoiro pot Oratorio e Purgatorio, (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACKO E ELABORACAO 169 No dialecto algarvio, persistem ainda residuos de realizagées ‘oclusivas ou fricativas (neste caso, por vezes levemente la- bicdentais), que documentam a colonizagéo setentrional. A Imaioria dessas realizagdes estio lexicalizadas: barrer ‘var- rer’, brabe ‘bravo’, baca ‘vaca’, leBar ‘levar’ §4b. Fuso do sistema de sibilantes nas predorsais /s/ e /2/: passo e aco [5] coser e cozer [2]. A simplificago do antigo sistema de sibilantes em favor das predorsais encontra-se atestada desde a segunda metade do século XIII, em documentos de Sintra (1266, 1272) e Chelas (1293, 1299) na Estremadura, e de Loulé (1277) no Algarve (CINTRA 1999, p. 228 [1963b)) $4c. Conservagdo de N ¢ L intervocélicos em numerosos mogara- bismos: pino ‘pinho’, doinina ‘doninha’, maganéra ‘macieira’, po- nnente ‘poente’, retenida ‘cabo de 250 bracas usado nas traineiras para puxar as redes’, caganal ‘rede de apanhar cages’, calador ‘al- tura da égua do mar’ No dialecto alentejano, 0 1. intervocélico conservar-se-ia i- gualmente na formagio do plural das palavras terminadas em -el € -il € 0 mesmo se viria a verificar no micaelense: Pasteles ‘pastéis’, caracoles ‘caracéis', funiles “funis’, B. Morfologia e formacao de palavras $1. Nomes §1a. Formagao do plural dos nomes em —d (<-ANE) € -3 (<-ONE) a través da jungio do sufixo flexional de nimero -s: trevas “trovées", inkos ‘pinhdes’, lemés ‘limdes’, eds ‘cies’, pas ‘pies’. Em galego-portugués os plurais destes nomes terminavam nnas sequéncias hiditicas ~des (<-ANES) e ~Ges (<-ONES), em Virtude da sincope de N intervocélico. As formas em as ¢ — @s documentam variantes dialectais minhotas ¢ galegas sul- ocidentais, ainda hoje observaveis nesses dialectos, de que cexistem atestagdes medievais, embora pouco frequentes, 170 ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES. Nas zonas dos territérios colonizados onde se registam, este tipo de plural parece corresponder a uma regularizagio mor- folégica ancorada nessas variantes e cronologicamente ante- rior & uniformizagdo de -d e ~ em do, Essa regularizago conheceria evolugées divergentes consoante os dialectos: no algarvio, os plusais em —ds generalizar-se-iam © os em ds teriam apenas um uso esporddico, provavelmente devido a menor frequéncia lexical de nomes com esta terminago; no alto-alentejano, a régularizagdo, observando-se, de acordo com os dados conhecidos," apenas no falar de Tolosa (con- celho de Nisa), iria mais longe e abarcaria também os nomes terminados em ~du (<-ANU), passando todos eles a fazer 0 plural em —ds se do género masculino e em ~ds se do género feminino, Os plurais em -ds caracterizam igualmente o ma- deirense §1b. Diminutivos formados com o sufixo ito ou com a sua variante -nito nas palavras terminadas em -do: mocito ‘mocinho’, panito ‘piozinho’, manita ‘maozinha’, leanito ‘lefozinho’ $e. Diminutivos formados com 0 sufixo galego-portugués —inho (historicamente resultante do lat. INU). Difundido largamente com a reconquista nos terrtérios me~ jionais, mas com a particularidade de o seu alomorfe - zinho, mais recente, set muito pouco frequente no Algarve: pobrinho ‘pobrezinho’, anelinho ‘anelzinho’, quintalinho “quintalzinho’, §2. Verbos {§2a. Terminagdo em -f da 1* pessoa do singular do Pretérito Perfe to do Indicativo dos verbos da primeira conjugagao por analogi com as outras conjugagées: janti ‘jantei’, gosti ‘gostei’, casi ‘case ‘precuri ‘perguntei’. Menos frequentes € resultantes da penetragio 1 ses, come todos o¢ outros dados,dependem das recolhasefectuadas, que no so uni- formes no tertrio considerado. E, assim, possvel que novasrecolhas venham mostrar & enistencia destesfendmenos noutraslocalidades. (© PORTUGUES MEDIEVAL; KOINIZACAO F ELABORACAO im dda norma-padrlo, sio as formas com redugio do ditongo ~ei: lavé “lavei’, aché ‘achei’, chamé ‘chame’’." §2b. Terminagiio em -4, ou na sua variante desnasalizada —u, da 3° pessoa do plural do Pretérito Perfeito do Indicativo (gal -port. 8 <- NT), do Presente do Indicativo da I* conjugacao e do Pretérita Im- perfeito das 2* e 3° conjugagdes (gal.port. ~4 < -ANT): eles derom “deram’, forom ‘foram’, andom ‘andam’, bubiom ‘bebiam’, eles ‘chan ‘chamam’, diziu ‘diziam’ A variante nasal é prépria do alentejano ¢ a desnasalizada do algarvio e do baixo-alentejano, Ambas se observam ainda no dialecto minhoto e so cronologicamente anteriores a diton- Bagdio de -5 em -du neste dialecto, E assim provavel que es- ta seja mais uma caracteristica devida colonizagao interna inicial, §2c, Participios passados fortes (ie. iregulares) com acento na vogal do radical: repéso ‘arrependido’, cérta ‘cortada’, certo ‘acertado’ Este tipo de participio passado, que era frequente em galego- Portugués, apresenta ainda uma grande vitalidade nos dialec- tos meridionais, sobretudo no algarvio. Nao é corrente noutras regiées do pais, onde s6 muito raramente tem sido registado, C. Sintaxe §1. Conservagao da perifréstica gerundiva: tava céfando ‘estava a far’, andi caiando ‘andei a caiar’, ficarom brincando ‘ficaram a brincar’ A perifristica gerundiva galego-portuguesa caracterizou 0 Portugués arcaico © conservar-se-ia igualmente em galego. Foi levada para os Agores e para o Brasil, onde ainda hoje é de uso geral. §2. Uso frequente do geriindio flexionado em pessoa e nimero (de acordo com o paradigma eu vindo, tu vindos ~ vindes, ele vindo, nés vindomos, vés vindeis, eles vindem), em vez do futuro do conjunti- "A terminagdo verbal 1 abonada por Joo Franco Barreto (167, p $4) como caracers- tica do Riatejo, € por ele condenada como cura notavel barbara & mayor por ser aqui visinho da Cote, m ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES. ‘vo, do presente do indicative ou mesmo, ainda que muito raramen- te, do infinitivo flexionado, em oragdes relativas livres, condicio- nais e comparativas: em tu me chamandos, v6 ld; cando o leéte ‘tan- do morninho...; se o homem nao arrebentando...: que no hé como {as coisas estandem nas mdos dos donos ‘Ao contrario do infinitivo flexionado que caracteriza 0 gale- ‘g0-portugués, o gertindio flexionado nao se encontra atesta- do na documentagao medieval e a sua implantagdo geografi ‘ca € mais limitada: regista-se apenas em trés localidades ga- legas das provincias da Corufta, Pontevedra e Lugo ¢, no ter- ritério do portugués europeu, na Beita Alta, Beira Baixa, Alentejo e Algarve e nos falares fronteirigos de Cedillo (Cé ceres) ¢ de Olivenga (Badajoz) em Espanha. Observa-se es- poradicamente na ilha da Madeira (LOBO, 2008). Estes factores fazem crer que o gertindio flexionado, de que se desconhece a origem, seja mais tardio do que o infinitive flexionado (este com origem no imperfeito do conjuntivo la- tino) e que resulte de um processo analégico espontineo. D. Léxico §1. A confluéncia de etnias e linguas distintas nos territérios coloni- zados deixaria também vestigios lexicais: a par de arabismos (al- queive ‘terra preparada para a sementeira’, taleiga ‘saco, bolsa’) © de mogarabismos (trena ‘tranga’, griséu ‘ervilha’), sto muitos os arcaismos galego-portugueses ainda em uso nos dialectos meridio- nais (calma ‘calor’, mandado ‘recado’, avondo ~ abondo ‘bastante, suficiente’) §2. Ao mesmo factor se deve a coexisténcia de variantes de uma mesma palavra. £ 0 caso, por exemplo, das formas correspondentes & denominagao da macieira, um derivado em —ARIA do at MATTIANA. Maciéra, representante da variante padrio. macieira, convive com a galego-portuguesa macéra'* ¢ a mogérabe maganéra, que divergem quanto & sincope ou conservagio de N latino intervo- “A forma galego-portuguesa macera ainda se usa a Gali. Maceira © maccira resltam de diferentes esolugbes do iat da forma intermedia maceera (© mapaeira< moqdera) ‘ase dis vps no primero cas, e semivocalizag da vogal preténica n segundo, (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO 13 calico, mas todas elas com a particularidade de observarem a reduc io do ditongo ei que caracteriza os dialectos meridionais. Nos finais do século XIV Portugal ganha uma nova capital.'* A revolugio de 1383-1385, ao determinar a queda da antiga nobreza setentrional, determina, também, uma rejei¢ao das suas caracteristi- cas linguisticas, substituidas pelas da regio em que a nova corte se instala, a area koinizada centro-meridional, centrada em Lisboa. A partir daqui, esté decidida a localizago da norma. No periodo, relativamente curto, de profundas transforma- es a que corresponde o portugués médio," registam-se mudangas que anunciam, jé, 0 portugués que hoje falamos. Algumas dessas mudangas configuram simplificagdes e regularizagSes linguisticas que no podem deixar de estar relacionadas com o proceso de koi- niizago que referimos acima” e que representam a recusa de um passado galego-portugués;"* a resolugio de hiatos do portugués an- tigo, a substituigao da terminagdo -udo do participio passado da 2* ¢ 3° conjugagdes por ~ido, a sincope de -d- na 2* pessoa do plural da flexdo verbal, a substituigdo da terminacdo paroxitona -vil por -vel, ‘0 desaparecimento da série dtona dos possessivos ma fa sa, a regu- larizagdo e fixago do género em formas nominais. No plano fonolégico, duas mudangas, que se estendem para lé das fronteiras do portugués médio, merecem particular destaque: a unificago das terminagdes nasais e a simplificagao do sistema de sibilantes. Sti varias as hipéteses avancadas para descrever e explicar © processo que culminou com a redugao das antigas terminagdes ~ "5 eentalizagao do poder (8 Corte) edo saber (a Universidade) constitem os aspectos Yisiveis de uma cultura urbana de que aestandardizaglo¢corclat lings "© Os limites inciale final do portwgués médio podem ser fxados com base nas datas da batana de Ajubarota (1385), simbolo do adverto da diastia de Avis eda impress da Grammatica da lingoagem portuguesa de Feri de Olivera (1536), que arsinalao inicio de uma nova fase nahistria do portuguts, ada codiicagio " Note- que o facto deo process de Koinizaio do ports ser anterior & sun estan- dasdizagto explica a geeraizago de alguns process simpiicadoes, "Diz Silva Neto (1961, p. 10)“ evolupto ests presaa dois polos: de um lado ezguecer, de out inovar. 14 ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES do, -@ ¢ -0,” continuagio das terminagdes nominais e verbais lati- nas, a uma sé, que consiste no ditongo final do. Certo ¢ que essa cconvergéncia se verificava jé no século XV e que a norma a acolheu [Nao quer isto dizer, no entanto, que os dialectos do portugués néo apresentem, ainda hoje, variagio: enquanto os dialectos setentrio- nais tenderam a uniformizar a terminagdo nasal no ditongo [8w],” ‘0s centro-meridionais escolheram 0 ditongo do, embora nas suas variedades mais conservadoras ainda se verifiquem plurais em ~ds ¢ ‘em -ds, como jé referimos. Quanto ao sistema de sibilantes, as duas africadas predors dentais do galego-portugués, que se opunham as duas fricativas é- pico-alveolares (representadas graficamente por , € <2> / e ) teriam j6, no portugués do século XV, perdido o ele- mento oclusivo inicial. Estava dado o primeiro passo para a redu- ‘¢do a-um sistema com apenas dois elementos,” um surdo ¢ um so- noro, de que as confusdes graficas do século seguinte dardo teste- munho abundante, E também durante 0 portugués médio que se verifica a in- trodugdo da subordinago na construgdo frésica, em oposi¢ao a uma construgdo tipica do portugués antigo, em que predominava a coor- denagio; do mesmo modo, desaparecem ou substituem-se vocdbu- los arcaicos ¢ alarga-se Iéxico com recurso a empréstimos do la~ tim. Estas mudangas sto indicios claros de um processo de elabo- ragdo linguistica em curso, 1 Uma revis de etudos referent 8 convergtneia destasterminagDesnasais pode ese cen CARDEIRA 2006, . 113-24 Bete de Vasconcelos (1911, p. M2. 1 © 144 n, 6) diz que ~0& a terminaso galegne~ ‘a interammense, também presente em parte da Beira, Cintra (1963, p. 76) refer a pre Stnga de ou no minhoto, mas no recorte a este trago na elaborao da Nova Pro- oma de classfcagdo des dalectosgalego-prtugueses nem aee aude na Nova Grama Moa do Portgués Contempordneo. Também Vizquez Cuesta (1980, p. 61-99) arma que 1 Baixo Minho, Baixo Douro e parte da Beira conservar a forma arcaca ~Ou ¢regista 8 fealizagio-— no Alto Minho. No galego, a terminapo latina ~aMU evolu quer para 20, ‘om a variant au, quer para -on (no gslego ocidenta), com uma zona de ~d; ANE evolu a dn, oe para“ 6a flex Verbal, a terminagSo-UNT do pefetoresultow em dn A distingdo fooldgica entre dois pares de sibilant de artculagio to proxime sera de diffe manent, assim, ceo teram surgi focos de neuralizagio,stestados pela ins- {shiidade préfea presente na documentaco desde oséelo xi "Siva de encrplo para voeabulos acaicn que desaparcem neste periodo as formas triganga (press) omenca (tengo), avisamento (prudcia); para substituigds lexias, fnsinanga = ensinamento,perdoanga > perdao, para mudanga de sentido, mantimento (© PORTUGUES MEDIEVAL: KOINIZACAO E ELABORACAO. 1s portugues sofre, durante a primeira metade do século XV, lum processo de claboragdo que aprofunda as diferengas face as restantes linguas da mesma familia, retomando um modelo latino que 0 renova, enriquece e aprimora, e que serve de suporte & sua ‘gramaticalizagdo a partir do século seguinte. Para isso contribuiram uuma forga politica (a emergéneia do conccito de ‘nagao"), urna forya cultural (0 desenvolvimento da prosa e a sua divulgagio pela imprensa) ¢ uma forga social (0s Descobrimentos): estes trés vectores foram determinantes para a normativizago e fixaglo (.e., para a estandardizagdo) do portugués europeu. Desde o século xv, data em que surgem as primeiras gramé- ticas do portugués (de Femio de Oliveira, em 1563, ¢ Joao de Bar- ros, em 1540) que a fixacdo € normalizacao da lingua se tomam o onto fulcral do pensamento metatingufstico: no quadro do movi- ‘mento dos Descobrimentos portugueses, a ‘questo da lingua’, pre- sente em toda a Europa, ganha, em Portugal, uma importéncia a- crescida pela necessidade de ensinar a lingua aos povos coloniza- dos. Mas seré $6 no século xvitt que o real alargamento do ensino e dda imprensa e 0 crescimento econémico e demogréfico terdo como consequéncia natural um crescente empenho no estudo da lingua portuguesa e na fixagdo ¢ divulgagao da norma culta. E nessa época {que os trabalhos sobre a lingua portuguesa elegem a variedade da Estremadura, em particular da Corte, como norma culta e Ihe preci sam 0s contornos, como ilustra a afirmagao de Verney, no Verda- deiro Método de Estudar (1746): “Em materia de pronuncia, sem- pre se devem preferir os que sam mais cultos e falam bem na Es- ‘tramadura, que todos os das outras Provincias juntas”, REFERENCIAS ARGOTE, Jerénimo Contador de. Regras da lingua portgueza, espelho da lingua latina 2. impresso. Lisboa: Officna da Misia, 1728, Disponivel em BARRETO, odo Franco. Ortografia da lingua pornguesa, Lisboa: Oficina de loam da Costa, 1671. Disponivel em: . BECHARA, Evanildo. As fases da lingua portuguesa escrta. XVII Congrts International 4e Linguistique et de Philologc Romanes. Actes. Tubingen: Max Niemeyer Verlag. 1991 P-68-75.9.3, (xanutengo),falecimento (at), instramento (act); e paca alargumento do Kxico com ‘eeurso aempréstinos do lati, sasfaga, malic, ircunsdnci, intelectual. 116 [ESPERANCA CARDEIRA E MARIA ALICE FERNANDES BOLEO, Manuel de Paiva. Esudor de Inguistica portuguesa ¢ romdnica: dialestologia © histria da lingua. Coimbra: Acta Universitatis Conimbrigenss, 1974 v. 1. CARDETRA, Esperance, Alguns dados sobre o sistema de sibilantes do Portugués. In CASTRO, Ivo; DUARTE, nts (org). Razdes emogdo: miscelinea de estudos em home ‘nagem a Maria Helena Mira Mateus. Lisboa: INCM, 2003. 29-185. . 1 FERNANDES, Maria Alice, Aspectos do portugtsalgurvio na ransigho do séeu- IT RAW’para © XV. XIl Encontro da Associagao Portuguesa de Linguistica, Actas. Lisboa: [Assoiapao Pomuguess de Linguistic, 1997. p 95-68. ¥.2 CASTRO, Wo. nroducdo a histria do Portugus. Lisboa: Coli, 2006 CINTRA, Luis Filipe Lindley. Observations sur 'othographe et la langue de quelaues textes non litres glicien-portupais de la seconde moiié du Xie, scl, Revue de TLinguistigue Romane, 0. 77, p. 38-77, 1963a, In FARIA, Isabel Hub (org), Lindley Cintra, Homenagem a0 homem. a0, ‘ese € ao edad, Lisboa Cosmos, 1999p, 199-231. “Estudos de dalectologia portuguesa, Lisbou: Si da Costa, 1983. ‘CRUZ, Maria Luise Segura da. frontira dialectal do barlavento do Algarve. Lisbos Universidade de Lisboa, 1987, Dissertago (Linguistica Portuguesa). Inia CCUNHA, Celso Ferreira da; CINTRA, Lus Filipe Lindley. Nova gramdtica do portugues Contempordneo Lisboa: Si éa Cost, 1984, FERNANDES, Maria Alice. A toponinia do percuso. In: KHAWLI, Abdallah; FRAGA. DA SILVA, Luis; FERNANDES, Maria Alice. viagem de Ibn Ammar de Sdo Brés a Si- tes Sto Bris de Alportel: Cimara Municipal, 2007, p 46-66 e 78-60 FLORENCIO, Manuela. Diafecto alentjano: contributos pra o seu estado, Lisboa: Coi- 5, 2001 OBO, Maria. Aspectos da sintaxe das oragbes geundivas do portuguts dialectal, In ‘Congresso Tnteracional 500 anos de Lingua Portuguesa no Brasil, 2000, Evora. Aetas Disponivel em: : MATA, Clarinda de Azevedo, Os flares do Algarve (inovagio © conseragio), Revista Portuguesa de Flologia, Coimbra, v.21, t U2, 1975. Separata MONTE CARMELO, Luis de. Compndo de orthografa.Lisbos:Offcina Ant6nio Ro- Argues Galhardo, 1767. Dispoivel em:
. SEGURA, Lutse; SARAMAGO, Joo, Varedades dialects portugues. In: MIRA, Mo- fia Helena (coord). Caminhos do pormgués:exposico comemoraiva ao ano euopeu das Tinguas Catdlogo. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2001. p. 221-37. ‘SIEGEL, J Keines and koinezation, Linguoge in Society, n 14, p. 357-78, SILVA NETO, Seerafim da. A constiuio do portgués como lingua nacional Lisboe Universidade de Lisbos, 1961, VASCONCELOS, Jos Leite de. Exquisse d'une dlalectologie portugalse 3. fcsimi- Tada, Lisboa: Instituto Nacional de Invesigng Ciena, 1987 Ligdes de philologia portuguesa. Lisboa: Livraria Clisic, 1911 ‘VAZGUEZ CUESTA, Pilar, LUZ, Maria Albertina Mendes da Gramtica da lingua por- uguesa, Trad. para o portugués de Ana Maria Brito e Gabriela de Mats, Lisboa: Edigbes 10,1971. WEINBERG, Marie Bettri Fontanela de, £1 espaol de América. Madsi: MAPERE, 1994, Os AUTORES: Antonia Estrela ¢ Mestre em Linguistica pela Faculdade de Cién- cias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Colabora no Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa, onde tem esta- do associada & pesquisa sobre varicdades africanas do Portugués. Os resultados desta pesquisa tém sido apresentados em diversos ccongressos internacionais, podendo destacar-se os seguintes estu- dos, realizados em colaboragdo com M. F. Bacelar do Nascimento, J. Bettencourt Gongalves, L. Pereira, A. Pereira, R. Santos ¢ S. Oli- veira: (I) As variedades africanas do portugués: um corpus com ravel. In X Simposio Internacional de Comunicacién Social, Mii terio de Ciencia, Tecnologia y Medio Ambiente, vol. I (Santiago de Cuba, 2007); (II) The African Varieties of Portuguese: Compiling Comparable Corpora and Analyzing Data-derived Lexicon. In Pro- ceedings of the Fifth International Conference on Language Res ources and Evaluation (LREC 2006) (Génova, 2007). Enderego electrénico: antonia.estrela@clul.ul.pt Christopher Stroud & Professor Catedritico da Universidade de Estocolmo e trabalha actualmente na Universidade de Western Ca- pe (Africa do Sul). Ao longo da sua carreira de investigagao, tem estado associado a estudos na érea da Educagdo Multilingue e Soci- alizacao, Politica Linguistica, Contacto Linguistico, particularmente 0 desenvolvi inguistico de novas variedades. Desenvol- veu a sua actividade de pesquisa em Mogambique, Nova Guiné Pa- pua, Suécia, Singapura e Africa do Sul. Da sua vasta bibliografia, podem destacar-se os seguintes estudos: (1) Framing Bourdieu so- cioculturally: Altemative forms of linguistic legitimacy in postcolo- nial Mozambique. Multilingua 21: 247-272(2002); (II) The perfor- mativity of codeswitching. International Journal of Bilingualism 8(2): 145-166 (2004); (IT} African modernity, transnationalism and language vitality: Portuguese in multilingual Mozambique. In Ceci- le Vigouroux & Salikoko Mufwene (eds.) Globalization and Lan- ‘guage shift: Experiences from Black Africa. New York / London: Continuum Press (2008). Enderego electrénico: cstroud@uwe.ac.za 178 Esperanga Cardeira é Professora Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorada em Linguistica Portuguesa, publicou varios trabalhos na 4rea da Linguistica Histérica e da Dia- lectologia, podendo destacar-se: (I) Entre o Portugués Antigo ¢ 0 Portugués Classico. Lisboa: Imprensa Nacional ~ Casa da Moeda (2005); (11) O Essencial sobre a Histéria do Portugués. Lisboa: Edi- torial Caminho (2006). Enderego electrénico: ecardeira@hotmail.com Gregorio Firmino é Professor Auxiliar na Faculdade de Letras © Ciéncias Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (Maputo, Mo- ambique). Doutorado em Antropologia pela Universidade da Cali- fornia em Berkeley, publicou varios trabalhos na drea da Socioli guistica e Antropologia Linguistica, podendo destacar-se: (I) A na- tivizagdo do Portugués em Mogambique. In C, Carvalho & J. P. Ca- bral (orgs.) A Persisténcia da Histéria: Passado e Contemporanei- dade em Africa. Lisboa: Imprensa de Ciéncias Sociais (2004); (II) A Questo Linguistica na Africa Pés-Colonial: O Caso do Portugués ¢ das Linguas Autéctones em Mocambique. Maputo: Promédia (2002). Enderego eleetrénico: gregoriofirmino@tveabo.co.mz Inés Duarte é Professora Catedritica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desenvolvendo a sua pesquisa nas éreas da Sintaxe Comparada e Linguistica Educacional. Tem estado associa~ da aum grande nimero de projectos de pesquisa, entre os quais se destaca Portugués Europeu e Portugués Brasileiro. Unidade e Di- versidade na Passagem do Milénio (FCT ~ CAPES) e O Portugués Europeu numa Perspectiva de Sintaxe Comparada (FLUL ~ INICT). Da sua vasta bibliografia, pode destacar-se a sua colabora- ‘glo na Gramética da Lingua Portuguesa (com M. H. Mira Mateus, ‘A. M. Brito, I. Hub Faria, S. Frota, G. Matos, F. Oliveira, M. Vigi- rio e A. Villalva). Lisboa: Editorial Caminho (2003; 6° edi¢0, 2004). E autora da obra Lingua Portuguesa. Instrumentos de Andli- ‘se, Lisboa: Universidade Aberta (2000) ¢ participou como co- organizadora e co-autora da Introdugio d Linguistica Geral Por- tuguesa. Lisboa: Editorial Caminho (1996; 2* edi¢0, 2006). Enderego electrénico: iduarte@reitoria.ul.pt 19 John Lipski é Doutor em Lingiistica Roménica pela Universidade de Alberta (Canada), e ensina na Universidade Estadual da Pensil- vania (Estados Unidos). As suas areas de pesquisa so 0 Contacto de Linguas, a Variagdo do Espanhol e do Portugués e a Linglistica Afro-hispanica. Entre as suas numerosas publicagées, podem desta car-se: (I) El espaol de América (Madrid: Cétedra, 1996); (II) A history of Afro-Hispanic language (Cambridge: Cambridge Univer- sity Press, 2005); (III) Varieties of Spanish in the United States (Washington, D. C.: Georgetown University Press, 2008); (IV) El espaol de América en contacto con otras lenguas. Lingiiistica apli- cada del espariol, ed. Manel Lacorte (Madrid: Arco Libros, 2007). Enderego electrénico: ‘lipski@psu.edu (www.personal.psu.edu/jml34/) Maria Alice Fernandes é Mestre em Linguistica Portuguesa Hist6- rica, leccionando na Universidade do Algarve. Desenvolve pesquisa nas éreas de Histéria da Lingua, Dialectologia e Toponimia Entre as suas publicagées, destacam-se os seguintes estudos, realizados em ‘colaboragio com E. Cardeira: (1) Aspectos do portugués algarvio na ttansig&o do século XIV para 0 XV. Actas do XII Encontro Nacional da Associacao Portuguesa de Linguistica (Braga-Guimaries, 1996). Lisboa: Associagdo Portuguesa de Linguistica (1997); (II) As termi- nagdes nasais nas Actas das Vereagdes de Loulé (séculos XIV a XV). Actas do XIV Encontro Nacional da Associagdo Portuguesa de Lin- guistica (Aveiro, 1998). Braga: Associagao Portuguesa de Linguisti- a (1999). Enderego electrénico: mfernand@ualg.pt Maria Fernanda Bacelar do Nascimento é Investigadora Princi- pal do Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa. Doutorada em Linguistica Portuguesa, desenvolve a sua pesquisa na rea da Linguistica de Corpus, nomeadamente constituigdo e exploracio de corpora (Léxico ¢ Sintaxe do Oral), tendo coordenado, entre outros, (08 seguintes projectos: (I) Léxico Multifuncional Computorizado do Portugués Contempordneo (2001); (Il) C-ORAL-ROM ~ Integrated reference corpora for spoken romance languages. Multimedia edi- tion; tools for analysis; standard linguistic measures for validation in HTL. IST Programme — Comissio Europeia DG Information So- ciety (Coordenadora da parte portuguesa do Projecto, 2001-2004); (Ml) Recursos Linguisticos para o Estudo das Variedades Africanas do Portugués. Fundagao para a Ciéncia e a Tecnologia (PLUS / LIN 7 5027012003) e Fundagdo Calouste Gulbenkian (Autora do Projecto ‘¢ Couruenadora, 2004-2006). Entre as suas publicagdes, podem des- tacar-se os seguintes estudos: (I) em colaborago com S. Antunes, J. M. Casteleiro, A. Mendes, L.. Pereira, ¢ T. Sa, A Lexical Database of Portuguese Multiword Expressions. In R. Vieira et al. (orgs.) PROPOR 2006. Berlin: Springer-Verlag (2006); (II) em colabora- ¢4o com J, Bettencourt Gongalves, R. Veloso, S. Antunes, F. Barre- to, R. Amaro, The Portuguese Corpus. In E. Cresti & M. Monegnia (cds.) C-ORAL-ROM: Integrated Reference Corpora for Spoken Romance Languages. Amsterdam: J. Benjamins (2005). Enderego electrénico: fbacelar.nascimento@clul.ul.pt José Bettencourt Gongalves ¢ Mestre em Linguistica Portuguesa Descritiva, docente da Universidade Auténoma de Lisboa e colabo- rador do Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa. Tem es- tado associado a pesquisas realizadas na drea da linguistica de cor- ‘pus, podendo destacar-se os seguintes estudos: (I) em colaborago ‘com M. F. Bacelar do Nascimento, L. Pereira, A. Pereira, R. Santos € S. Oliveira, As variedades afticanas do portugués: um corpus comparavel. In Actas del X Simposio Internacional de Comunicaci- 4n Social. Santiago de Cuba: Ministerio de Ciencia, Tecnologia y ‘Medio Ambiente (2007); (II) em colaboragio com M. F. Bacelar do Nascimento, The Role of Spoken Corpora in Teaching / Learning Portuguese as a Foreign Language ~ The case of Adjectives Intensi- fication. In Y. Kawaguchi et al. (eds.) Linguistic Informatics and Spoken Language Corpora. Tokyo: Tokyo University of Foreign Studies (2006). Enderego electrénico: jose.bettencourt@elul.ul.pt Luisa Pereira é Mestre em Linguistica Portuguesa Descritiva ¢ co- labora como investigadora no Centro de Linguistica da Universida- de de Lisboa na Area de Recursos Linguisticos (Corpora ¢ Léxicos). Entre os trabalhos que produziu, podem destacar-se: (1) The use of concordancing in Portuguese teaching, In J. M. SINCLAIR (ed.) 181 How to Use Corpora in Language Teaching. Amsterdam: John Benjamins (2004); (I1) em colaborag#o com S. Antunes, M. F. Ba- celar do Nascimento, J. M. Casteleiro, A. Mendes e T. Sa, Corpus- based extraction and identification of Portuguese Multiword Ex- pressions. In: P. Mertens ef al. (eds.) Proceedings of Traitement Au- fomatique des Langues Naturelles (TALN). Leuven: UCL (2006). Endereco electrénico: luisa.alice.sp@gmail.com Margarida Taddoni Petter é Doutorada em Linglistica e lecciona na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas da Universi dade de So Paulo. Realiza pesquisa nas dreas das Linguas Aftica- nas e Contato de Linguas. Entre as suas publicagdes, destacam-se os seguintes artigos: (I) Linguas Africanas no Brasil. In S. M. Cardoso et al. (orgs) Quinhentos anos de historia linguistica do Brasil. Sal- vador: Secretaria da Cultura ¢ Turismo do Estado da Bahia (2006); (UD) em colaborago com E. Bonvini, Langues afticaines et portu- ais du Brésil. Langages (V. 130). Paris: Larousse (1998). Junta- mente com J. H. Nunes, organizou a obra Historia do saber lexical € constituigdo de um Iéxico brasileiro. 2002. Sao Paulo / Campinas: Pontes, Humanitas. Enderego electrénico: mmtpetter@uol.com.br Marilza de Oliveira é Professora Titular em Filologia e Lingua Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciéncias Humanas da Universidade de Sa0 Paulo. Realiza investigagao na érea da Lin- guistica Histérica, coordenando actualmente o projeto “Historia So- cial do Portugués Paulista”. Entre as suas publicagdes, podem des- tacar-se: (1) The pronominal subject in Italian and in Brazilian Por- tuguese. In M.A Kato & E. V. Negrio (eds.) Brazilian Portuguese and the Null Subject Parameter. Franckfurt & Madrid: Vervuert- Tberoamericana (2000); (II) O caipira na imprensa paulista do séc. XIX. In D, Callou e M. E. Duarte (orgs.) Para a Histéria do Portu- gués Brasileiro, vol. 1V (2002); (Ill) Amare aveva or amare iva? A new look at the grammaticalization of Portuguese Conditional (2003-4). Linguistica (Revista da Associago de Linguistica e logia da América Latina, ALFAL), vol. 15/16. Enderego electrénico: maritza@usp.br 182 Sancho Oliveira é engenheiro Informético ¢ professor de Lingua- gens de Programagio. Investiga nas éreas de Fisica de Particulas ¢ Sistemas Dindmicos. No ambito de uma parceria entre o Centro de Linguistica da Universidade de Lisboa e 0 Centro de Fisica Teérica ‘¢ Computacional da Universidade de Lisboa, colaborou em projec tos sobre as variedades afficanas do portugués, nomeadamente a construgao ¢ desenvolvimento de ferramentas informéticas. para consulta e tratamento estatistico e comparativo dos dados extraidos de corpora, Dos estudos realizados na érea da linguistica de corpus, podem destacar-se: (1) em colaboragio com J. Bettencourt Gongal- ves, L. Pereira, A. Estrela, ¢ R. Santos, The African Varieties of Portuguese: Compiling Comparable Corpora and Analyzing Data- derived Lexicon, Proceedings of the Fifth International Conference ‘on Language Resources and Evaluation (LREC), 24-26/Maio, Gé- ova, (2006); (II) em colabora¢do com L. Pereira, J. Bettencourt Gongalves, A. Estrela, ¢ R. Santos, Especificidades das Variedades ‘Afticanas do Portugués na Formacdo dos Professores de Portugués, Saber Ouvir, Saber Falar, “7° Encontro Nacional da Associagio de Professores de Portugués” (publicagdo em CD, 2007). Enderego electrénico: Sancho.Oliveira@iscte-pt

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