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Revista da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual • Preço: 5 € Nº 51

Associação de Professores

Associação filiada na InSEA


de Expressão e Comunicação Visual
Nº 51
Dezembro de 2008

Índice
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Teresa Eça

Criatividade:
ilusões, realidades e novas oportunidades . . . . . . . . . . . . 4
Dr John Steers

Arte na educação: aspectos conceituais


e metodológicos na contemporâneidade ............ 8
Silvia Sell Duarte Pillotto

Uso de VRML em EDMC para ensino de arte:


possibilidades e limitações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Profª. Me. Jurema Luzia de Freitas Sampaio-Ralha

Banda desenhada:
fusão de linguagens scripto-visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Clara Silva Brito

Artístas de palmo e meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24


Catarina Coelho

REINVENT’AR-TE:
“O Património Português de lés a lés” . . . . . . . . . . . . . . . 26
João Bogalho

“Festejar a água: As Aventuras do Aqua“ . . . . . . . . . . . . 28


Margarida Barros e Catarina Melo

“Uma Cúpula Geodésica Na Escola“ . . . . . . . . . . . . . . . . 33


Vítor Fernando Gil Ferreira da Silva

Notícias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Livros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Ficha Técnica
■ Rev. da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual ■ Propriedade: APECV - Associação de Professores de Expressão e Comunicação
E-mail: apecv@apecv.pt - http: www.apecv.pt Visual - R. Dr. Ricardo Jorge 19 sala 5 - 4050-514 Porto
■ Direcção: APECV ■ ISSN 1646-6845
■ Editora: Teresa Eça ■ Tiragem: 1000 exemplares
■ Design Gráfico: Filipa Eça ■ Distribuição: APECV - R. Dr. Ricardo Jorge 19 sala 5 - 4050-514 Porto
■ Paginação e Imp.: ESFERARTE arte & design, Lda. - www.esferarte.pt ■ Preço: 5€ (Cinco Euros)
■ Capa: ‘Vitral’, alunos da Escola EB 2.3 Dr. Horácio Bento Gouveia da Região
■ Depósito Legal: 25344/88
Autónoma da Madeira, 2007/2008
■ Conselho Científico: Dr. António Serafim Pereira / Dra. Maria do Céu Melo /
■ Colaboradores deste número: Dr John Steers; Silvia Sell Duarte
Prof. Eduardo Salavisa / Prof. Margarida Marinho / Mestre Clara Silva Brito /
Pillotto; Profª. Me. Jurema Luzia de Freitas Sampaio-Ralha; Clara Silva
Mestre Graça Martins
Brito; Catarina Coelho; João Pedro Bogalho; Margarida Barros e
Catarina Melo; Vítor Fernando Gil Ferreira da Silva ■ Apoio: STAEDTLER Portuguesa, Lda.

2
Editorial
Teresa Eça

Este número da revista Imaginar tem por fio condutor o conceito de criatividade. É lugar comum dizermos que a educação artística , a
educação visual são disciplinas que promovem por excelência a criatividade. Os professores de educação visual costumam dizer à boca
cheia que fazem aulas muito criativas, que desenvolvem muito a criatividade, que as artes e o design são muito importantes para
desenvolver a criatividade.

É um discurso que tenho ouvido milhões de vezes. Mas tenho sempre muitas suspeitas sobre esses discursos demasiado seguros. De que
criatividade estamos a falar? O que se entende por criatividade? É claro que todas as disciplinas desenvolvem a criatividade, não são
só os professores de arte, não é só nas aulas de educação visual que se promovem criatividade. Existem muitas aulas de educação
artística extremamente castradoras e rotineiras, existem muitos professores de educação visual que são uma verdadeira ‘seca’. Existem
aulas criativas, às vezes. Existem professores que às vezes promovem a criatividade dentro dos contextos pouco criativos de uma escola
pública que se rege por normas e regulamentos anti-criativos e por programas de ensino sem imaginação nem liberdade. Existem
também experiências incríveis dentro e fora das escolas.

Talvez fosse bom parar um pouco e pensar o que é isso da criatividade. Como se pode fazer? Como se faz? Onde se faz e quando se
faz? Porque é que a criatividade é assim tão importante para a sociedade? Porque é que o Reino Unido está a apostar num novo
currículo centrado na criatividade? Porque é que Frances Kelly veio no dia 12 de Dezembro à Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa
falar do sucesso educativo da reforma da Nova Zelândia? Porque é que de um momento para o outro a sociedade está interessada na
criatividade? Porque é que os programas da Comunidade Europeia no próximo ano vão ser dedicados à criatividade?

Este número não vai conseguir responder a nada disto, mas pelo menos vamos levantar as questões e limpar o pó aos pontos de
interrogação que dormitam no fundo das nossas inquietações pedagógicas há muito esquecidas porque estamos demasiado
preocupados um sistema normativo que tenta impor uma avaliação sem criatividade nenhuma.

Seleccionámos para este número alguns autores chave e algumas experiências educativas. CRIATIVIDADE: ILUSÕES, REALIDADES E
NOVAS OPORTUNIDADES é um texto que nos elucidará sobre o que se passa no Reino Unido, trata-se da tradução da comunicação
apresentada pelo Doutor John Steers, Secretário Geral da National Society for Education in Art & Design (NSEAD) na conferência da
APECV ‘Compreender as artes’, no de 25 de Outubro no ISMAI. John Steers é Secretário Geral da National Society for Education in Art
and Design e actualmente faz parte do Grupo que está a implementar a introdução ao novo currículo de ‘art & design’ para o Ensino
secundário em Inglaterra.

De Silvia Sell Duarte Pillotto o texto apresentado : ARTE NA EDUCAÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS E METODOLÓGICOS NA
CONTEMPORÂNEIDADE visa partilhar com o leitor algumas reflexões sobre a arte e seu ensino na contemporaneidade, construídas ao
longo de um processo de transições permanentes da educação e da arte no currículo escolar. Esta autora instiga a nossa capacidade
de expandir os limites e abrir espaços para as mais variadas formas de expressões artísticas: do moderno ao contemporâneo, da arte
das minorias, das manifestações culturais. Sílvia lecciona disciplinas nos cursos de Artes Visuais e Pedagogia na Universidade da Região
de Joinville – UNIVILLE, em Joinville, Estado de Santa Catarina, Brasil e coordena o Núcleo de Pesquisa em Arte na Educação – NUPAE.

Clara Silva Brito apresenta o texto BANDA DESENHADA: FUSÃO DE LINGUAGENS SCRIPTO-VISUAIS, este artigo vem propor uma
revisão de conceitos que surgem quando se fala de banda desenhada abordando métodos que permitem analisar uma banda
desenhada em função da sua técnica, do lugar que ela ocupa na história da arte) e do ponto de vista do seu conteúdo ideológico e
mitológico, ou seja, do papel psicológico e social que desempenha na nossa cultura e também do ponto de vista sociológico. Através
de recursos como a banda desenhada podemos ajudar os nossos alunos a romper fronteiras, tudo dependerá da maneira como se
aborda.

E como se poderão utilizar novas tecnologias, como se estão a usar ? Jurema Luzia de Freitas Sampaio-Ralha alerta-nos para o caso
das potencialidades e limitações das tecnologias que poderemos usar no seu artigo : USO DE VRML EM EDMC PARA ENSINO DE
ARTE: POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES.

De novo reflectindo sobre o que é a criatividade, como fazer uma unidade de trabalho que resulte tanto para desenvolver a criatividade
como para desenvolver a fruição estética dentro das orientações curriculares? A jovem professora Catarina Coelho em ARTISTAS DE
PALMO E MEIO diz-nos o que pensa e partilha connosco uma unidade de trabalho.

As unidades de trabalho são sempre pontos de partida para algo mais, os resultados não esperados surpreendem, é caso de outras
partilhas pedagógicas que vieram enriquecer este número: “O PATRIMÓNIO PORTUGUÊS DE LÉS A LÉS” da escola Padre Francisco
Soares de Torres Vedras, ANO POLAR e ‘FESTEJAR A ÁGUA’ pelos alunos da Escola EB 2.3 Dr. Horácio Bento Gouveia da Região
Autónoma da Madeira e UMA CÚPULA GEODÉSICA na Escola Básica Integrada de Lagoa da Região Autónoma dos Açores.

3
Criatividade: Ilusões, Realidades
e Novas Oportunidades
Dr John Steers

Introdução re-equacionados, para a necessidade de riscos e olhando-os como simples


re-pensar a educação da arte e do operacionais: eles ‘executam o currículo’.
Sou suficientemente velho para me design. Estas chamadas de atenção Parece que existem muito poucas
lembrar que a criatividade estava no topo reflectem sobre a necessidade de recompensas, se houver algumas, para as
da agenda educacional nos anos sessenta reformar o currículo e parece que as iniciativas criativas – tal indicador não era
e no princípio dos setenta mas depois críticas tinham muito em comum (White, evidente nas listas de verificação usadas
parece que desapareceu. Os que 2004). pelos inspectores das escolas para quem
ensinam as artes acreditavam piamente não interessa referir o grau de educação
que a criatividade estava no centro de Investigações recentes (HMI, 2006) criativa na aprendizagem e na avaliação.
tudo o que faziam – alguns até chegavam mostraram que o que os professores
a pensar que só eles é que tinham essa entendem por ‘criatividade’ varia muito. É frequente dizer que muitos professores,
prerrogativa no currículo. Dez anos O modo como a criatividade deveria especialmente os professores de artes
depois o tópico reapareceu com um fazer parte do curriculo escolar também é estão predispostos para a criatividade –
apoio retórico crescente de tal modo que sujeito a diferentes interpretações. Alguns eles precisam de tratar o currículo com
está hoje no centro da política educativa. professores identificam a criatividade com desenvoltura para eles e para os jovens.
Com certeza é uma notícia muito boa áreas particulares do currículo, outros Mas tal como Cropley (2001) escreveu
mas, e isto é a minha questão essencial, argumentam que criatividade é sinónimo ‘os professores que fomentam a
como é que as artes podem promover a de resolução de problemas, imaginação, criatividade são os que promovem a
criatividade dentro dos moldes inflexíveis e capacidades de pensamento lateral/ ‘flexibilidade’, que aceitam ‘sugestões
do sistema escolar contemporâneo? divergente. Possivelmente poderemos alternativas’ e que encorajam ‘ a
concordar que embora a criatividade não expressão de ideias’.
A Criatividade é difícil de definir. Uma seja a única prerrogativa das artes, as
definição aproximada foi tentada por artes deveriam ter um papel significante Infelizmente num sistema educativo
Pope (2005, p.xvi). Ele propôs que no currículo em relação a este assunto. altamente monitorizado aqueles que
criatividade era a ‘‘… capacidade de assumem riscos podem ser uma minoria e
produzir, fazer, ou tornar algo em uma Na Inglaterra o declínio do interesse pela existe a tendência contraditória para
coisa nova e válida tanto para si como criatividade coincidiu com o convencer os professores a adoptar o
para os outros’. Podemos pegar em desenvolvimento do currículo nacional na sistema de prescrição segura para que os
centenas de definições de criatividade e segunda metade dos anos oitenta e com alunos tenham boas notas nos exames.
depressa vemos que a criatividade pode a introdução de exames nacionais mais Os alunos são treinados a responder pelo
ser pensada como um acto, um conceito, prescritivos. Isto pareceu ter retirado todo seguro, replicando respostas de anos
uma estratégia ou até uma ideologia incentivo às abordagens inovadoras do anteriores nos exames e a criatividade
tácita. Seja uma destas ou uma currículo – houve um sentimento de que o que se pode encontrar nos trabalhos dos
combinação de várias, ou todas elas, problema do que ensinar fora finalmente alunos é realmente a do professor que fez
sugiro que não se limite a criatividade aos codificado e portanto não era necessário e o projecto e não dos alunos. Este tipo
que em certo período de tempo foram procurar mais nada. Parece que nunca de abordagens frequentemente ajuda os
considerados génios. É um atributo houve verdadeiramente uma intenção de alunos a produzir trabalhos que podem
humano comum. A maioria das pessoas inibir a criatividade em vez de a ser bem classificados nos exames
resolve problemas de todas as espécies promover, mas na vaga dos programas externos. Isto é muito importante porque
no seu dia a dia com algum grau de rígidos que enfatizavam o modelo das os professores são avaliados unicamente
criatividade. capacidades / competências chave1 isto através da percentagem das notas altas
foi o que aconteceu. nos resultados dos exames nacionais. Este
Criatividade nas escolas tipo de situação de prescrição assídua e
Alunos criativos precisam de professores de directivas do professor recolhe
Claro que há algum excelente ensino das criativos que não tenham medo de correr dividendos mas a consequência é que o
artes criativo e para onde quer que riscos. Infelizmente isto pressupõe uma trabalho obtido tipifica a ortodoxia do
olhemos no mundo podemos encontrar visão e um envolvimento excepcional num estilo 'School art' que é perpetuado.
excelentes professores de artes que devem sistema educacional altamente
ser reconhecidos. Mas estamos estratificado que incita ao conformismo Até o Office for Standards in Education
enganados se pensarmos que isso é do currículo estandardizado. Com a sua (OFSTED, 2005) reparou neste perigo
norma. Muitas preocupações graves têm avaliação estandardizada, tarefas de evidente em algumas escolas onde o
sido expressas durante várias décadas avaliação e metas de avaliação desenvolvimento dos programas para os
sobre ortodoxias dominantes nas estandardizadas, ranking de escolas, alunos entre 11 e 14 anos não era mais
abordagens ao ensino das artes. iniciativas constantes para subir os do que uma preparação para os exames
Ortodoxia é a antítese de criatividade. Ao resultados, regimes de inspecção que eles teriam que fazer aos 16 anos.
longo dos últimos vinte anos muitos intimidatórios, magros recursos e Eles salientaram que o currículo nacional
autores de artigos da revista britânica formação profissional limitada. estava a transformar-se num estilo
International Journal of Art & Design particular de trabalho associado às boas
Education têm chamado a atenção dos Tais condições limitam severamente os notas nos exames.
leitores para assuntos que devem ser professores, impedindo-os de assumir
1
(‘key skills’)
2
Nota da tradutora: Na Inglaterra os exames nacionais não são feitos pelo governo, são encomendados aos ‘examining boards’, agências não governamentais de avaliação externa.

4
A anedota seguinte ilustra talvez o que desconexas – quantas vezes dizemos se encontram becos sem saída. Isto
algumas pessoas com autoridade pensam volta ao teu trabalho não foi isso que sugere que o tempo é uma componente
da criatividade. Aconteceu durante numa eu te disse para fazeres, para de chave do espaço criativo se queremos
mesa redonda num programa de perderes tempo’. que o fluxo criativo floresça. Como
televisão sobre criatividade onde eu e • A auto-consciência e coragem para poderemos acomodar isso com os
outro membro da mesa estávamos prosseguir com as suas ideias contra horários escolares, onde na melhor das
extrapolando sobre a importância da uma possível oposição quantas vezes hipóteses as artes têm 1 hora entre uma
criatividade. Um orador que pertencia a interpretamos isso como mau hora de matemática e uma hora de
um dos ‘examination boards ‘2 estava comportamento e insubordinação? história, semana após semana?
visivelmente agitado e acabou por dizer • Confiança, auto-estima para assumir
que os ‘examination boards’ estavam riscos intuitivos e intelectuais ( se calhar Existem outras preocupações igualmente
muito interessados empromover mais a essência da criatividade esta no importantes tanto para professores como
criatividade, ‘eles queremver mais ‘pensamento arriscado’). – Então para alunos, uma atmosfera forte de
criatividade’, ele enfatizou a frase porque é que muitas vezes dizemos que confiança mútua e suporte afectivo – os
‘criatividade é muito importante. Mas, é melhor jogar pelo seguro, ficar nas alunos quererão assumir riscos criativos se
disse ele, ‘a criatividade tem de ser rotinas estabelecidas, não arriscar à acharem que as suas ideias vão ser
cuidadosamente controlada! E é sorte? esmagadas logo que sejam pronunciadas?
frequentemente controlada’. O uso construtivo de métodos sensíveis de
Poderemos honestamente dizer que a questionamento é essencial para promover
Claro que a criatividade pode ser nossa principal finalidade é promover desafios intelectuais. Devemos deixar os
problemática, ela não está associada só activamente a criatividade em cada alunos desenvolver um sentido real de
ao aparecimento de ideias inventivas, criança? autoria das tarefas, problemas ou trabalhos
inovadoras e imaginativas, mas também a e devemos fomentar a sua auto-confiança
ideias que podem ser radicais, heréticas Dewulf and Baillie (1999) identificaram através de um feedback positivo.
ou revolucionárias. Quais são os limites quatro elementos no processo criativo:
da criatividade nas escolas? Deveriam • Preparação – na qual o problema ou Seguramente que a falta de preocupação
existir limites à criatividade nas escolas. questão é definida, reformulada e com a criatividade ou a falta de oferta de
Deveriam existir mais alguns limites para redefinida, partindo de factos dados oportunidades apropriadas no currículo
além daqueles impostos pele decência para chegar a factos compreendidos. não é um problema recente. Muito antes
comum e pelas práticas da segurança e • Geração – partindo dos caminhos do Currículo nacional Inglês Perry (1987,
saúde? habituais do pensamento, listando p.287) dizia que a criatividade não era
conceitos associados, brainstorming. uma chave doirada para o sucesso da
Criatividade nas escolas • Incubação – um estimulo aprendizagem para todos os alunos. A
subconsciente, normalmente depois de chave disse ele estava na mediação entre
Existem aspectos que devem ser um período de relaxamento ou atenção conhecimento e criatividade, nas ligações
encarados na sala de aula ou studio relaxada. da criatividade com o conhecimento,
criativo e que podem estar em conflito • Verificação – onde as ideias são hábitos e outros aspectos perfeitamente
com o ethos de muitas escolas – analisadas, arrumadas e avaliadas, razoáveis do currículo.
instituições sociais que dão muito valor a passando ao planeamento da acção e
um certo grau de conformismo. Os implementação. Aqueles que transmitem o conhecimento
indivíduos criativos podem revelar somente a partir de processos de memória
características, capacidades e habilidades A criatividade não pode ser reduzida a deveriam ter em conta que o
que os professores tenham dificuldade em uma formula: normalmente há um longo conhecimento é o produto de processos
gerir. Por exemplo período de incubação antes que as ideias criativos ocorridos no passado. Aqueles
• Tolerância pela ambiguidade – quantas surgem naquele momento elusivo do que ensinam processos criativos sem ter
vezes cortamos coisas para eliminar 'Eureka!' em conta o papel do passado deveriam
incertezas? estar cientes que a criatividade do
• Jogar com ideias, materiais e processos ‘Serendipity’3 joga um papel chave no passado foi preservada e é continuada no
– quantas vezes dissemos aos alunos desenvolvimento de produtos criativos. presente através do conhecimento
para pararem de fazer disparates e Requer um tipo de ‘espaço’ raro nas aprendido.
fazer apenas o que lhes tinha sido escolas dirigidas por objectivos que
pedido para fazer? dificilmente poderão deixar entrar o Seguramente se adoptarmos o papel da
• Habilidades para concentração e acidental das descobertas não esperadas criatividade como o que pode aparecer,
persistência, continuar a insistir e que surgem ás vezes quando se procuram então aparece o que pode e não chegam
preocupar-se num problema em vez de outras coisas completamente diferentes. muitas coisas. O currículo perde a
procurar soluções prematuras quantas estrutura e forma e temos turmas cheias
vezes dizemos aos alunos que o É importante salientar que a criatividade de alunos apáticos. Se o conhecimento é
trabalho tem que ser acabado no não é um processo linear e normalmente o que puder aparecer, então teremos um
prazo? é consequência da interacção de vários fosso entre a memória e a compreensão e
• Vontade de explorar, associações elementos, de várias fases que são falta de vitalidade e então teremos temos
insólitas e ideias aparentemente revistas e revisitadas por exemplo quando turmas cheias de alunos apáticos.
3
Nota da tradutora: Termo que se refere à ocorrência de descobertas científicas por puro acaso.

5
Há um outro aspecto chave da Novas oportunidades agora se fez. As Associações
criatividade nas escolas. Deverá ser profissionais em cada disciplina tiveram
avaliado? E poderá ser avaliado? As boas notícias são que os tempos um lugar e estiveram envolvidas na
Gardner (1993) questionou a validade estão mudando depressa no Reino feitura dos novos programas e dos
dos testes de criatividade dizendo que a Unido. As mudanças podiam parecer exames. O que resultou foi a mais
criatividade não é o mesmo que imperceptíveis ao principio mas coerente visão até agora tida sobre o
inteligência – embora estes dois traços apresentam agora verdadeiras currículo baseada em finalidades e
estejam correlacionados, um individuo oportunidades e desafios para os valores claros, será implementado a
pode ser bem mais criativo do que professores de artes. Em 1997 o partir de Setembro de 2008. Oferece
inteligente, ou bem mais inteligente do governo trabalhista já tinha demonstrado mais flexibilidade, menos prescrição,
que criativo. Muito antes dele Torrance algum interesse nas industrias criativas e mais autonomia para os professores.
(1970, p.358) tinha levantado questões na sua importância crescente na Proporciona espaço para ensino
similares, segundo Torrance ‘se queremos economia Britânica. O relatório do individualizado, desenvolvimento pessoal
identificar crianças dotadas a partir de governo All Our Futures: Creativity, e desenvolvimento do programa Every
testes de inteligência teríamos que Culture and Education (NACCCE, 1999) Child Matters (Cada criança é
eliminar aproximadamente 70 por cento foi publicado em 1999 e incluia uma importante) . Há mais oportunidades
das mais criativas’.Ele reparou que os grande lista de recomendações para a para coerência e relevância – ligando a
professores classificavam melhor as reforma educativa. O Primeiro Ministro aprendizagem à vida fora da escola e
crianças com altos resultados nos testes Tony Blair disse ‘ A nossa finalidade fazendo transdisciplinariedade . Embora
de IQ mas diziam que as crianças deve ser criar uma nação onde os haja mais ênfase nas capacidades4, não
criativas aprendiam tanto como as mais talentos criativos de todos sejam são capacidades funcionais mas
inteligentes sem fazerem tanto esforço. utilizados para criar uma verdadeira capacidades alargadas para a
Porquê? Ele suspeitou que as crianças economia de empresas para o século aprendizagem e para a vida. O novo
criativas estavam a aprender e a pensar vinte e um – onde irão competir currículo oferece oportunidades reais
quando parecia que estavam só a brincar. cérebros e não músculos’ (NACCCE, para a renovação e revigoração através
Tais alunos são difíceis de gerir na sala de 1999, p.6). Mas esse relatório parece de maior decisão local e flexibilidade.
aula porque frequentemente seguem as que teve muito pouco impacto na
suas prioridades, fazem o que querem e revisão do currículo em 2000. Pouco Um aspecto interessante é a maneira
quando querem em vez de seguir as tempo depois o governo investia mais de como a criatividade atravessa todo o
prioridades e actividades ditadas pelo 100 milhões de libras no ‘Creative currículo – não apenas as artes. As
professor. O que lhes acontece depois? Partnerships’ um projecto piloto que finalidades gerais incluem o
queria investigar o impacto do aumento desenvolvimento de aprendizes de
Qual a consequência? de oportunidades criativas e culturais no sucesso criativos capazes de identificar e
ensino-aprendizagem nas escolas. O resolver problemas. O lugar do
Parece que o processo criativo pode ser então Secretario de Estado da Educação Pensamento criativo e crítico no
avaliado tal como Lindström (2006) (Clarke, 2003) declarou ‘ A criatividade currículo é proeminente nas dimensões
provou desde que se usem instrumentos não é um acrescento, deve ser vital e transdisciplinares
de avaliação sensíveis e autênticos fazer parte integral da experiência das
integrando evidência variada mas crianças nas escolas. A investigação Segundo as Qualifications and
precisamos de nos assegurar que a demonstrou que, se assim for, podemos Curriculum Authority:
avaliação não influencia o currículo. contribuir para uma melhoria da
aprendizagem e aumento dos standards …a criatividade envolve o uso da
Está claro que o ethos no qual a ao longo da escola no seu todo’. imaginação e intelecto para gerar ideias,
criatividade floresce nem sempre se perspectivas e soluções para problemas
adapta às prescrições do currículo Quase ao mesmo tempo o e desafios. Aliadas ao pensamento
nacional, sistema de avaliação e sistema Qualifications and Curriculum Authority crítico, que envolve avaliação,
de inspecção. Para finalizar vejamos este (QCA) lançou um debate nacional para raciocínio, as actividades criativas
conselho de um professor da Califórnia : consultação sobre o futuro do currículo. podem produzir resultados originais,
Os contribuidores foram convidados na expressivos e com valor, A Criatividade e
‘E agora vamos ao que interessa: a base de que deveriam preparar um o pensamento crítico desenvolvem nos
criatividade requer perícia; mas não desafiante currículo para o século vinte jovens capacidades para terem ideias
sabemos muito bem o que isso é. Se e um. Reconheceu-se que as mudanças originais e produzir acções válidas.
colocarmos demasiada ênfase na na sociedade, o impacto das novas Experimentar as maravilhas do génio
especialização restringimos o campo. tecnologias, a nova compreensão da humano nas artes, ciências, tecnologias
Imaginemos o impossível: muitas ideias aprendizagem, globalização e pode despertar entusiasmos individuais
ao principio, ideias no ar durante os preocupações de política publica que contribuirão para a realização
primeiros pensamentos podem parecer deveriam ser tomadas em conta. As pessoal.
ideias malucas. Tens que impor as tuas preocupações levantadas centraram-se
ideias senão pensarão que as tuas em criar mais espaço para A Criatividade pode ser uma actividade
ideias são disparatadas. As ideias aprendizagem personalizada e individual ou de grupo. Ao participar em
malucas permanecerão disparatadas se desenvolvimento pessoal, menos actividades criativas, os jovens podem
não sobreviverem à crítica. Finalmente, prescrição, mais inovação, mais desenvolver capacidades para construir
sê persistente; os grandes problemas motivação dos alunos e claro aumento e gerir as suas vidas na sociedade.
raramente se resolvem nas primeiras dos standards e melhoria das Cada um de nós tem potencial para
tentativas, mas lembra-te de fazer capacidades e competências essenciais. actividades criativas e essas actividades
pausas, incuba um pouco para voltar a podem ter um impacto positivo na auto-
tentar de modo mais fresco’ (Simonton, A maneira como se desenvolveu o novo estima, equilíbrio emocional e realização
2005). currículo foi a mais colaborativa que até pessoal. Podem desbloquear o potencial
4
Nota da tradutora: adoptei o termo capacidades para o termo inglês ‘skills’, que designa também, experiências, habilidades e perícias.

6
dos indivíduos e das comunidades para ninguém os levasse a sério. Mas neste fácil cruzar os braços e dizer que não
resolver problemas pessoais, locais e momento está claro que as artes têm pactuamos com estes valores. Penso que
globais. A criatividade é possível em uma oportunidade enorme para isso não tem sentido nenhum, uma
todas as áreas da actividade humana, melhorarem o currículo no seu todo. Se educação que tenta ajudar os jovens a
desde o mais excepcional até ao mais isso acontecer e – apesar da legislação construir ou a dar sentido ao mundo em
comum aspecto da vida quotidiana. A isso pode levar tempo para que seja que vivem, deve estar preocupada em
Criatividade e o pensamento crítico não devidamente implementado pelas ajudar os jovens a investigar os seus
são disciplinas do currículo, mas são direcções das escolas – como poderão valores e os valores dos outros – as artes
aspectos cruciais da aprendizagem e os professores de artes responder? podem contribuir enormemente para
devem atravessar o currículo e a vida da Estaremos à altura das mudanças? Ou isso , nem que seja para a comprensão
escola (QCA, 2007). vamos repetir o mesmo de sempre? cultural, consciencia critica, anti-racismo
e equidade. As artes podem levar ao
O QCA continua sugerindo que para É importante que se compreenda o que desenvolvimento de um enorme leque de
desenvolver a criatividade e o motivou essas mudanças. O Governo qualidades criativas e capacidades. A
pensamento crítico, eles devem ter britânico, talvez todos os governos, entre Inacção não é ima opção a menos que
oportunidades ao longo do currículo as suas variadas preocupações têm queiramos ver as artes desaparecer do
para: assegurar a estabilidade social e o curriculo.
• Usar a imaginação para explorar desenvolvimento económico. Numa
possibilidades sociedade multi-étnica, multi-cultural e Talvez que a maior mensagem é que
• Gerar ideaias, assumir riscos e multi-religiosa como a sociedade do precisamos de olhar para as artes e
aprender a partir dos erros Reino Unido a estabilidade e a harmonia torná-las mais relevantes para os jovens e
• Redefinir, modificar e desenvolver ocupam um lugar de destaque na para a sociedade em geral. Deveremos
ideias e produtos através de iterações agenda política nestes tempos pensar outra vez no conceito de
• Fazer associações de ideias/conexões conturbados onde temos uma imigração Educação através das Arte(s)? Como
entre ideias a uma escala global sem precedentes. poderemos saber de que queremos
• Participar em actividades criativas em Daí por exemplo a importância da realmente promover a criatividade nas
todas as disciplinas, explorando as identidade cultural, da participação escolas e oferecer oportunidades
ligações entre disciplinas e aspectos cívica, do desenvolvimento sustentável e genuínas de desenvolvimento criativo?
alargados da aprendizagem. da globalização como temas
• Trabalhar em contextos relevantes com transdisciplinares e a valorização das Talvez que o slogan da World Alliance
audiências reais e com fins significativos industrias criativas pela economia for Arts Education seja um aforismo
• Trabalhar com vários indivíduos Britânica. O primeiro Ministro Gordon cunhado por Michael Barber (NACCCE,
criativos tanto dentro como for a das Brown escreveu recentemente num 1999, p.75) ‘ A criatividade não é
aulas documento estratégico: apenas um produto da educação com
• Encontros com o trabalho de outros, qualidade, mas um meio para atingir
incluindo teorias, literatura, arte, design, ‘Nos próximos anos, as industrias qualidade na educação’ Poderemos nós
invenções e descobertas, como fonte de criativas serão muito importantes não só assinar isto?
inspiração para a prosperidade nacional como
• Descobrir e prosseguir interesses e também para que a Grã Bretanha
talentos particulares. coloque a cultura e a criatividade no Notes and references
centro da nossa vida nacional.’ (DCMS, Barber, M – Sir Michael Barber, formerly head of the Department
for Education Standards and Effectiveness Unit in England. Op.cit
Mas há mais – em Fevereiro de 2008 2008, p.3). NACCCE, 1999, p. X.
anunciou-se um novo fundo de 25 Clarke, C (2003) author’s notes of a major conference
‘Collaborate, Create, Educate’ jointly organised by the DfES and
milhões de Libras No mesmo documento: DCMS at the Barbican Centre, London, in June 2003.
Cropley, A. J (2001) Creativity in Education and Learning: A Guide
for Teachers and Educators, London: Kogan Page.
‘Find Your Talent’, como estrategia da As indústrias criativas precisam de sair DCMS (2008) Creative Britain: New Talents for a New Economy– a
ambição do governo de fornecer aos das margens da economia e passar para strategy document for the Creative Industries accessed on 1 May
2008 at http://www.culture.gov.uk/Reference_library/Publications
jovens experiencias qualificadas nas artes a corrente do pensamento político e /archive_2008/cepPub-new-talents.htm.
e na cultura. Esta medida foi económico se queremos criar os Dewulf, S & Baillie, C (1999) How to foster Creativity, DfEE, London.
acompanhada por mais um investimento empregos do futuro… Gardner, H (1993) Creating minds, Basic Books, New York.

de 110 milhões no programa ‘Creative HMI (2006) ‘Emerging Good Practice in Promoting Creativity’,
accessed 0n 23 June 2007 at http://www.ltscotland.org.uk
Partnerships’ que promove a A Grã Bretanha é um país criativo e as /creativity/aboutcreativity/goodpracticeincie.asp or http://
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A intenção destas mudanças é a de pessoas com empregos criativos e o NACCCE (1999) All Our Futures: Creativity, Culture & Education.
desbloquear os talentos dos jovens. A sector contribui com 60 milhões por ano DfEE, London.

longo prazo o governo quer que toda a – 7.3 por cento – para a economia Ofsted (2005) ‘Ofsted subject reports 2003/04: Art & design in
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QCA (2007) ‘Creativity and Critical thinking’ accessed on 30 April
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O Desafio atravessa o novo currículo do secundário. http://curriculum.qca.org.uk/
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Durante anos os professores queixaram- artística volte a ser marginalizada é vital creativity.htm
se dizendo que eram cidadãos de que os arte educadores compreendam e Torrance, E (1970) ‘Stimulating Creativity’, in Vernon, P (ed),
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estimados, mal amados, sem que parte para servir estes fins. É demasiado Purposes, London, RoutledgeFalmer.

7
Arte na educação: aspectos conceituais
e metodológicos na contemporâneidade
Silvia Sell Duarte Pillotto – (pillotto@terra.com.br) (spillotto@univille.br)

ciência como verdade absoluta e/ou que se faz de idas e voltas na história.
Resumo: O estudo ora apresentado exclusiva, mas como forma de Nesse movimento não há lugar para
visa socializar com o leitor algumas conhecimento, de expressão, de verdades absolutas, nem para a
reflexões sobre a arte e seu ensino construção e re-significação separação entre as questões
na contemporaneidade, construídas simbólica do mundo. Portanto, muito relacionadas à construção de um olhar
ao longo de um processo de próxima das características da arte e sensível e dos conhecimentos
transições permanentes da educação da apropriação que fazemos dela apropriados; entre a arte e o contexto
e da arte no currículo escolar. Para como forma de conhecimento, sócio-cultural.
que possamos nos situar em tempo e comunicação, linguagem e
espaço nesse contexto, é preciso expressão, estão à ciência, Essa idéia pode nortear as nossas
remetermo-nos as questões históricas evidentemente que entendida nesse experiências de docência para além
e conceituais da arte na educação, contexto como caminho de busca, e, daquilo que muitas vezes nos é imposta:
e, nesse sentido, o fragmento fica muito mais de perguntas do que na mídia, nos livros, nas falas de
por conta das questões que meras respostas redutoras. Para se teóricos, nos modismos, entre outros.
envolvem as tendências pedagógicas pensar a arte nesse contexto, não é Mais importante do que seguir uma linha
relacionadas ao viés do modernismo possível mais partir de um teórica única e definitiva, é pensar em
e do pós-modernismo no ensino da entendimento reducionista e estratégias que oportunizem a nós
arte. Esse enfoque nos leva a buscar quantitativo para a educação. Então, professores e a nossos alunos uma
possibilidades infinitas para a o objetivo desse texto é basicamente ampliação de repertórios estéticos,
docência em arte para muito além tratar do conhecimento de forma artísticos e culturais. Mesclar questões do
de destaques e preferências na arte qualitativa e, sobretudo humana, e, presente com o passado; do local com o
por estilos ou tendências nesse viés não podemos negar, universal, da arte com as manifestações
consideradas “mais importantes” por desprezar ou desconsiderar a culturais, podem representar uma
aqueles que “detem” o importância da arte dentro e fora abertura sem fim ao conhecimento.
conhecimento. Nesse jogo de das instituições educacionais Segundo a visão de Efland (2005,
aprendência, é fundamental que se (instituições educacionais, escolas, p.178), no ensino é possível
oportunize aos alunos o estudo de museus, espaços culturais, entre
imagens, de obras e objetos de arte outros). A arte no currículo escolar [...] enfatizar o fato de o passado
e das tradições popular e folclórica, deve permear caminhos em que tornar-se referência numa obra
pois, caso contrário, estamos prevaleçam os processos de contemporânea, haja vista as maneiras
fadados a olhar num único sentido: aprendizagem, tanto do ponto pelas quais os artistas pós-modernos
o olhar ocidental, branco, erudito e cognitivo quanto sensível. reciclam imagens e citações de obras
masculino. Também nessa de arte e estilos anteriores. O pós-
perspectiva não há como priorizar Com relação à arte na educação, modernista enfatiza a continuidade
apenas a forma de arte mais recente seguindo a linha de pensamento de com relação aos estilos artísticos do
ou contemporânea. É preciso abrir Efland, Barbosa, Jagodzinski (2005), passado. Porém, as tradições do
espaços para as mais variadas historicamente tudo o que realizamos em passado não são necessariamente
formas de expressões artísticas: do termos de arte na educação hoje é reverenciadas como tradições
moderno ao contemporâneo, da arte contemporâneo. Entretanto do ponto de sagradas, mas podem ser exploradas
das minorias, das manifestações vista conceitual, assumimos ou não uma por meio da sátira e da paródia.
culturais, entre tantas outras. No postura contemporânea no ensino da
entanto para que possamos melhor arte. Efland (2005, p. 117) afirma que: Importante ressaltar que nesse processo
compreender tais processos, é dialógico entre presente-passado-
necessário também estarmos alertas Uma arte-educação pós-moderna presente não existe linearidade
ao contexto dos alunos e dos modos enfatiza a habilidade de interpretar cronológica da história, ou seja,
como eles apreendem. É obras de arte sob o aspecto do seu corremos menor risco de salientarmos
fundamental que possamos articular contexto social e cultural como como melhores “obras” as anteriores em
formas interativas entre os espaços principal resultado da instrução. Isso é detrimento das atuais ou vice-versa.
formais e não-formais da educação, válido não apenas para a Além disso, o aprendizado se constitui
a fim de ampliar o repertório supostamente séria, a arte erudita, mas em real significado quando delegamos
artístico, estético e cultural dos também para as tendências e impactos esforços na construção reflexiva do
alunos. Nesse viés conceitual, da cultura popular e cotidiana. conhecimento, isto é, o passado não
legitima-se uma arte na educação mais se configura como algo estático, é
que preocupa-se em não discriminar O que Efland (2005) coloca em tão dinâmico quanto o presente, faz
as manifestações discussão nesse momento é que para parte, interage com ele, é também
artísticas/expressivas. Não há lugar além das tendências modernistas da arte presente, conferindo novas significações
para um ensino da arte que na educação, os olhos daqueles que ao contexto contemporâneo.
elege apenas uma fatia pequena da ensinam e daqueles que apreendem não
história da arte e das imagens de estão condenados a uma linearidade Segundo Jagodzinski (2005, p. 684) no
obras de arte. A partir desse ponto estanque, ou seja, apreendemos e espaço da arte na educação se faz
de vista, não podemos pensar em ensinamos paralelamente, num círculo necessário tratar de questões que

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[...] situam textos culturais (visuais e mais amplo e complexo sobre o contexto cotidiano e, sobretudo, da
literários) num contexto que os obra às patrimônio cultural da humanidade, mais experiência humana”. (PILLOTTO: 2004,
possibilidades de reconhecer a ainda, nos permite refletir sobre que p. 53)
globalização das aparições humanas sujeitos somos nós, construtores também
universais democráticas de justiça, desse patrimônio. Segundo Richter Se optarmos pela reflexão epistemológica
igualdade, liberdade e independência (2004, p.51) “precisamos de um ensino de que a arte se caracteriza pelo
para todos, isto é, uma cidadania da arte por meio do qual as diferenças conhecimento, pela expressão, pela
planetária no qual o imperalismo, nas culturais sejam vistas como recursos que comunicação, e nessa tríade pelas
suas formas pós-coloniais, o permitam ao indivíduo desenvolver seu transformações, é viável também a
patriarcado, os problemas ecológicos, próprio potencial humano e criativo, compreensão de que ciência e arte
as distinções de classes forjadas pelo diminuindo o distanciamento existente caminham muito próximas, embora cada
capitalismo transnacional e os direitos entre arte e vida”. uma delas possua natureza específica. A
de preferências sexuais permaneçam ciência
em evidência na pauta educacional. Porquanto, numa visão pós-crítica é
possível compreender o aprendizado da [...] constitui uma busca de
Efland (2005) nos aponta sérias reflexões e sobre a arte como forma de ampliar conhecimento, na qual o pensamento é
no sentido de pensarmos para além do repertórios a partir de nossas experiências o agente fundamental da criatividade,
ensinar e apreender arte na sala de aula. artísticas, estéticas e culturais. Segundo cujo objetivo é modificar a qualidade
Para o professor não basta mais ter o Meira (2003, p. 22) “expressar é criar de vida, subjugando a realidade aos
“domínio” conceitual, histórico e artístico um mundo interativo com a comunicação desejos humanos. Considera que o
da arte. É necessária uma construção social, vital e ambiental, onde o que está cientista usufrui um prazer inerente à
permanente, na qual os conhecimentos, fora do corpo é reelaborado a partir de busca do conhecimento. Entretanto, a
identidades e consciência planetária são sua presença”. Nessa perspectiva, é ciência não é cópia ou apreensão
realimentados, no sentido de ampliar o possível compreender o ato de apreender fotográfica da realidade, mas
universo do professor para outros e conhecer arte também como processo construção, modalidade expressiva,
campos de conhecimento, como os da de simbolização e reorganização dos portanto criativa, da consciência. Neste
filosofia, da antropologia, da sociologia, signos que interpretamos. È desta forma sentido, não lhe é concedido um status
da psicologia, entre outros. Tão que criamos idéias e para te-las devemos diferente do da arte ou da religião,
importante como conhecer e vivenciar a ser instigados a criar. “Ter idéias é, em sendo todas as formas simbólicas,
arte é compreendê-la no espaço/lugar e certo sentido, estar engajado num formas de consciência da realidade e
tempo culturalmente construído. processo de formação de conceitos nos sua criação. (VASCONCELOS: 2001:
quais estes são abstraídos ou criados, ou p. 33)
Apreender e Ensinar: seja, transformados em realizações
movimento dialógico formais”. (MEIRA: 2003: p. 20). Ao transpormos essas questões para o
contexto da educação, uma pergunta
A aprendência e o conhecimento da arte Dessa forma, é possível apreender e ecoa em nossas consciências: em que
e sobre arte significa apropriações que conhecer os códigos subjetivos da arte e medida, enquanto professores de arte
vão muito além de simples relacioná-los as nossas experiências, permitimos aos alunos serem construtores
decodificações do objeto de estudo. dando formas e sentidos diferenciados e de um conhecimento compartilhado?
Quando avançamos especificamente únicos a partir da forma que os vemos e Segundo Vasconcelos (2001: p, 98) “a
para o campo da arte cuja natureza é que os internalizamos. Nesse caso, pessoa cria ao reconhecer novas
subjetiva, expressiva e complexa, as perceber o mundo significa uma atitude relações em antigas questões, ao
contradições e conflitos são visíveis em estética, ou seja, através e pela arte construir respostas às situações-
vozes que ecoam em dúvidas: É possível podemos apreender a ver todas as coisas problema, ao redimensionar os próprios
apreender arte? Essa questão é de uma forma especial, superando os aprendizados”. Ou seja, a construção do
abordada no contexto das escolas, das limites da não compreensão para uma conhecimento só tem sentido quando
universidades, das famílias, dos compreensão ainda que subjetiva de nós socializado, compartilhado com as
encontros e seminários nas áreas da mesmos. pessoas. Para tanto, é imprescindível que
educação, da arte e da arte na as nossas práticas pedagógicas estejam
educação, causando certa inquietude Nesse aprendizado existe sempre uma fundamentadas em ações flexíveis,
naqueles que atuam nesse contexto. escolha: por onde olhamos, o que democráticas e principalmente
queremos ver e o que fazermos com o comprometidas, considerando cada
Professores de arte estão constantemente que selecionamos, percebemos e vemos aluno como um ser único num universo
buscando respostas, no sentido de – apropriação – transformação – re- de muitas diferenças.
aquietar essa dúvida maior: o que se significação. Por esse viés, podemos
apreende na disciplina de arte? Qual o pensar na apreensão do conhecimento Socializando algumas vivências
seu significado para a vida, de fato? “nos níveis da racionalidade
(argumentação/reflexão) e do sensível Ao longo de minha trajetória como
Se optarmos pelo viés multicultural, (emoção, intuição, percepção...). Ambos professora e pesquisadora de/em arte,
poderíamos pensar que arte no currículo devem ser considerados nos processos de convivi em muitos contextos que
é fundamental, pois possibilita um olhar aprendizagem, pois fazem parte do percorreram desde a educação infantil,

9
passando pelo ensino fundamental, [...] ao representar as idéias, o No processo de investigação sobre a arte
médio, superior e pós-graduação. Em indivíduo o faz por meio de uma no contexto da educação infantil e séries
cada experiência, histórias que ora se simbologia muito pessoal e que iniciais percebemos mais claramente que
assemelham e ora se distanciam umas caracteriza as diferentes linguagens as crianças constroem conhecimento pela
com as outras, por conta da natureza de artísticas: ora nos valemos dos via do lúdico, do jogo e das relações
cada contexto. símbolos lingüísticos, ora dos códigos entre o brincar, experienciar e ser
corporais, ora dos musicais ou criança... Nesse sentido, abrimos um
Em pesquisa realizada na Universidade plásticos. Esse procedimento não é grande espaço para a arte nos currículos
da Região de Joinville – Univille, durante apenas apresentar ou comunicar idéias educacionais e nas possibilidades que as
o período de 2002, 2003, 2004 e 2005, e sentimentos, mas expressa-los linguagens da arte trazem ao universo
estivemos envolvidos (pesquisadores e aliando o real e o imaginário, a razão interpretante da criança.
bolsistas do curso de artes visuais, e a emoção perpassadas pelo que
pedagogia e psicologia) com questões mais refinado habita em nós: nossa Essas reflexões nos levam a pensar mais
relacionadas a arte no contexto da capacidade de criar e sonhar e, com intensamente sobre o lúdico, sobre o
educação infantil e séries iniciais. isso, elaborar conhecimentos que nos jogo e o brincar como elementos
Interessante salientar, que muitas das humanizam. (KEHRWALD:1999, p. 29) fundamentais no cotidiano infantil. A arte
questões apontadas pelos teóricos nas séries iniciais e no contexto da
estudados por nós, foram amplamente Portanto, um dos pontos básicos da arte educação infantil não pode estar
vivenciadas durante toda a trajetória de no contexto educacional, e que tem sido desvinculada desses elementos, uma vez
investigação e experiência. Percebíamos objeto de nossas pesquisas, é sem dúvida que a sua própria natureza comporta o
que o discurso teórico fazia mais sentido a educação do olhar. Não o olhar que ato básico e humano de todos nós – a
pela experiência nos remetendo as conduz para uma única direção, mas o imaginação. Segundo Freire (1999, p.
teorias de Dewey (1974). olhar que amplia as leituras de mundo. 16) “os primeiros sintomas de
imaginação surgem em nós no período
O foco de pesquisa na educação infantil E o que entendemos, então por leitura? de vida em que aparece a fala. E ela
e séries iniciais têm se fundamentado Paulo Freire (1982) sistematizou com aparece com tamanha força que toma
basicamente na idéia de que a arte deve sensibilidade e de forma peculiar esta conta da criança”.
fazer parte integrante dos currículos, questão, quando nos falava sobre a
desde a tenra idade, pois acreditamos leitura para além da decodificação Portanto, praticamente tudo o que a
que o conhecimento cognitivo e sensível mecânica, reducionista, nos falava das criança faz nesse período está
é apropriado a medida que estamos leituras de mundo. relacionado às fantasias. A criança
conectados ao mundo visual, sonoro e ocupa o seu tempo brincando de faz de
corporal, do qual construímos A leitura do mundo precede a leitura conta. O jogo e a imaginação nessa
significações. da palavra, daí que posterior leitura trama estão intimamente associados e é
desta não possa prescindir de essa a atividade básica da criação até o
Vale lembrar que toda a nossa continuidade da leitura daquele. final de nossas vidas. Podemos afirmar,
experiência está situada num contexto Linguagem e realidade se prendem então que é a imaginação a responsável
educacional, em um País que vem se dinamicamente. A compreensão do direta pela construção da cultura
deparando ainda com a problemática do texto a ser alcançada por sua leitura humana, sem a qual não haveria um
analfabetismo, com a idéia de que basta crítica implica a percepção das meio ambiente ao qual pudéssemos
ao ser humano saber decodificar relações entre texto e contexto. (FREIRE, adaptar. Nada que constatemos ao nosso
números e letras para construir leituras 1988, p. 11-12) redor, excetuando os recursos da
de mundo. Essa história está atrelada a natureza, foi construído em outro lugar
paradigmas conceituais relacionados ao O sentido e a significação que as que não na nossa imaginação.
contexto político, econômico, social e pessoas dão aos objetos, as situações e
cultural e é preciso um esforço muito as relações, passam pela impressão que A partir dessas considerações,
grande de cada um de nós para tem de mundo, do seu contexto histórico compreendemos as atividades
buscarmos alternativas para romper e e cultural, dos afetos, das relações inter e pedagógicas nas linguagens da arte
ampliar tais realidades. intrapessoais. Na apropriação de articuladas ao lúdico, ao jogo e ao
elementos do seu entorno o fazem a brincar, pois possibilita àss crianças a
O conhecimento de outras épocas partir dos seus próprios referenciais. construção do conhecimento no aspecto
históricas, outras culturas, outras formas Desta forma, o mesmo objeto ou a cognitivo e sensível, essencial ao
de expressão, outros modos de sentir e mesma situação são muitas vezes desenvolvimento humano.
de ver são também fundamentais no compreendidas por elas de maneiras
desenvolvimento humano. Saber que totalmente diferenciadas. São as Processos curriculares em arte:
vivemos num mundo multicultural, de possibilidades de leituras signícas que movimento em ebulição
muitas idéias, costumes e culturas, nos estão em processo latente.
fazem, de certa forma nos sentirmos A partir dessas investigações no universo
protagonistas das nossas e de outras Com relação a essa questão sinalizamos das séries iniciais e educação infantil,
histórias. para a seguinte reflexão: as intervenções desembocamos para amplo estudo sobre
sócio/culturais demandam conhecimento os processos curriculares em arte para
Se pretendemos de fato uma educação sensível que permitem ampliar os melhor compreender o sistema educativo
para a cidadania, que entenda os processos de criação, percepção, vigente, os espaços que de fato temos e
sujeitos como construtores de suas emoção, intuição e imaginação. A arte como construirmos currículos a partir de
histórias, temos que garantir a educação como linguagem, expressão e identidades, de vivencias culturais? Saber
estética e artística nos espaços das comunicação tratam de um modo muito discernir a natureza de cada contexto,
instituições educacionais. Kehrwald especial essas categorias, fundamentais respeitando suas identidades, é
(1999) nesse sentido, afirma que: para a construção humana sensível. fundamental no processo de construção

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de um ensino da arte capaz de contribuir artísticas realizadas pelos alunos? Ou com a experiência estética e artística do
para a ampliação dos conhecimentos pretendemos contrariamente a essas aluno e do professor? Meira (2003, p. 32)
sensível e cognitivo. Entender que a questões contribuir na construção do afirma que:
natureza do contexto em educação conhecimento sensível e cognitivo dos
infantil não é escolarizante e que as alunos? Se para a experiência científica o que
séries iniciais são compostas de crianças conta é o resultado final, na experiência
(continuam crianças) e, portanto, a Essa decisão é fundamental no estética, cada detalhe mínimo,
condução da arte nesses contextos deve desenvolvimento das práticas pedagógicas alterações de ânimo, etapas
enfatizar o lúdico, as vivências, o brincar, no ambiente educacional e está intermediárias, ganham relevância...A
o pensar e a familiarização e relacionada a uma postura conceitual. experiência estética coloca a cognição
apropriação das linguagens expressivas Afinal, o que entendemos sobre as em permanente desconstrução e
da arte, é atitude fundamental e linguagens da arte na educação? Quais as reconstrução, pela vulnerabilidade aos
indispensável. nossas experiências com essas linguagens? acontecimentos, estados de espírito,
Que vivencias temos com materiais, relações com a cultura, saberes
Ter clareza que no ensino fundamental e suportes e espaços que utilizamos? Meira múltiplos vindos do corpo e de
médio os alunos continuam construindo (2003) nos remete a reflexões bastante abstrações, além do que a mente
conhecimentos e protagonizando consistentes no que se refere às escolhas elabora a partir de paisagens do corpo,
histórias individuais e coletivas, é básico que realizamos aparentemente simples, do ambiente, da memória e da ficção.
para que consigamos juntos significar a dos suportes e materiais, mas que podem
arte e a experiência em arte. Tão culminar em construções simbólicas e Nesse sentido, todo o aprendizado dos
importante quanto os conhecimentos sensíveis ao longo da trajetória de alunos está em jogo. Cada um desses
sobre arte, as informações históricas, as aprendizagem dos alunos. elementos: conhecimento, espaço,
produções e experiências artísticas, é filosofia/conceito e metodologia
construir sentidos naquilo que realizamos Trabalhar criadoramente um material conduzem a histórias diferentes...
e que lemos sobre o universo e sobre nós não é somente expressar-se, é
mesmos. possibilitar que esse material também se Portanto, há que se compreender a
expresse, gerando, a contrapelo, importância da construção de
O ensino básico nos revela o aluno que comportamentos de simultaneidade com conhecimento sensível (imaginação, a
chega ao ensino superior e a pós- quem o trabalha, ou dialoga criação, a percepção, a intuição e a
graduação. Um aluno ávido pelo virtualmente. Tais comportamentos são emoção) nesse processo de aprendência.
conhecimento ou imerso na de apreensão, compreensão e atuação.
acomodação, no marasmo. Um aluno (MEIRA: 2003, p. 22) A imaginação pode ser entendida como
que constrói sua autonomia dia a dia ou uma função ética, pois produz efeitos no
um aluno que reage por indução. Essas Quando nos encontramos no interior das comportamento humano, possibilitando
questões cabem também para o Instituições de educação, observamos que mudanças ao integrar pensamento e
professor, que escolhe caminhos a utilização do material é na maioria das ação. Meira ainda nos diz que: “ser
conceituais e metodológicos nas suas vezes selecionados aleatoriamente, ou o transgressor é ser imaginante, livre,
práxis. Quais posturas nos são que é da mesma forma complicado, a romper com o dado, código, regra”.
apropriadas por nós em nossas ações? opção parte da realidade das instituições, (2003: p. 36). A imaginação pode ser um
Até que ponto nos reconhecemos na arte ou seja, muitas vezes usamos o que é elo para a construção dessa relação entre
e naqueles que produzem arte? Estamos possível, o que se tem. Esse fato culmina o professor e aluno, entre aluno e aluno,
também construindo conhecimento em e na maioria das vezes com o uso pois provoca motivações de ânimo em
sobre arte quando assumimos papéis, inadequado de materiais e suportes, nível perceptual, racional,
como: apreciadores, questionadores, resultando em muitas ocasiões em afetivo/emocional.
interventores na e da arte? E quando esta produções danificadas e professores sem
nos causa estranheza, repulsa e medo? saber como lidar com tais situações. Ainda sobre a imaginação Vygotsky
Estamos aprendendo a nós conhecer (1998) nos permite refletir sobre a
mais inteiramente ou diferentemente? Da mesma forma, observamos os influência de tudo que nos cerca, pois o
Então como negar que apreendemos e espaços, geralmente empilhados de mesas que foi criado/pensado no corrente da
construímos conhecimentos através e e cadeiras, armários encostados ao fundo história pela mão do homem, todo o
com a arte? das paredes e nesse contexto os alunos, universo cultural, ao contrário do mundo
geralmente sentados, também quase natural, é produto da imaginação e da
Para além do currículo: empilhados, apertados, tentando criação humana. A partir desse conceito,
o aprendizado humano desenvolver atividades possíveis e na podemos então pensar que a imaginação
maioria das vezes direcionadas, com se alimenta e se realimenta de materiais
Refletir sobre o aprendizado humano é metodologias e procedimentos únicos, que tomados/apropriados da experiência
resgatar e retomar nossas práxis. Lidamos não respeitam o ritmo, as vontades e a vivida por cada um de nós. Segundo
basicamente com as linguagens da arte, forma de aprendizagem da cada aluno. Japiassu (2003, p. 45)
a história e as construções poéticas. Mas Os espaços são culturais, e, portanto
em que medida nos apropriamos dessas resultam em postura conceitual, não só do [...] quanto mais rica a experiência
linguagens? No intuito de oportunizar professor, mas da instituição como um humana, tanto maior será o material
prazer aos alunos? Como forma de todo. disponível para a imaginação. Desta lei,
utilizarmos o tempo? Como parceiros de portanto, extrai-se a importante
uma Instituição que deseja um espaço No que essas opções relacionadas aos conclusão pedagógica de ampliar a
mais BONITO com paredes repletas de materiais, espaços, conceitos, experiência cultural da criança, caso se
estereótipos? Para agradar aos pais, metodologias interferem no pretenda fornecer-lhe uma base sólida
diretores, outros professores, desenvolvimento cognitivo e sensível? para que venha a desenvolver sua
confeccionando ou mostrando técnicas Qual a efetiva relação dessas questões capacidade criadora.

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A criação humana a partir das Com relação a essas questões sempre o já conhecido? Quais os
linguagens da arte contribui nas suas sinalizamos para a seguinte conclusão: caminhos a percorrer? Acomodar-se
construções e vínculos afetivos ao mesmo de fato as intervenções sócio/culturais com o cotidiano ou agitar-se no
tempo em que lhe permite flexibilidade e demandam do conhecimento sensível movimento de mudanças, de
interesse no engajamento de atividades que permite ampliar os processos de descobertas? Percorrer o já conhecido
sociais e culturais. Nas palavras de criação, percepção e imaginação dos ou se aventurar no universo do
Japiassu (2003, p.58), a criação pode alunos. A arte no contexto da educação desconhecido? Seguir obedientemente
“facilitar-lhe o exercício de seus desejos e não pode estar desvinculada desses todas as orientações institucionais ou
de formar hábitos, dominar o elementos, uma vez que a sua própria argumentar, analisar, criticar e
funcionamento da representação natureza comporta o ato básico e principalmente fazer-se presente nas
simbólica na linguagem e transmitir humano de todos nós – a imaginação. mudanças?
idéias, auxiliando-a a desenvolver Segundo Freire (1999, p. 16) “os
modalidades categorial de pensamento”. primeiros sintomas de imaginação Essas são decisões difíceis e, sobretudo
surgem em nós no período de vida em definitivas no desenvolvimento infantil.
Se optarmos por essa linha de que aparece a fala. E ela aparece com Segundo Souza e Canegundes (2003,
pensamento, podemos também afirmar tamanha força que toma conta da p.120)
com que o conhecimento e a interação criança”. Portanto, praticamente tudo o
do aluno com os sistemas convencionais que fazemos nesse período está Ao optarmos pelo caminho centrado
de representação de cada uma das relacionado às fantasias. As crianças na expressão do ser humano,
linguagens da arte deveria ser parte ocupam seu tempo brincando de faz de ampliamos a visão de arte-educação
fundamental, básica e indispensável em conta. O jogo e a imaginação nessa para além das técnicas, através de
todos os currículos educacionais. trama estão intimamente associados e é atividades
essa a atividade básica da criação até o compartimentadas...Buscamos enfatizar
Os alunos são receptivos a novas final de nossas vidas. Podemos afirmar, a valorização do educador também
experiências e, portanto cabe ao então que é a imaginação a responsável como ser sensível e expressivo, com
professor não romper com esse processo direta pela construção da cultura conteúdos culturais que podem ser
de apreensão da realidade e do humana, sem a qual não haveria um expostos e articulados com outras
imagético. Quando formos capazes de meio ambiente ao qual pudéssemos manifestações que fazem parte da
nos diferenciar, preservando as nossas adaptar. Nada que constatemos ao história da humanidade. Ao
marcas pessoais e ao mesmo tempo nos nosso redor, excetuando os recursos da perceberem e reconhecerem o valor
integrarmos nos grupos sociais, teremos natureza, foi construído em outro lugar de seus conteúdos culturais e que estes
também a possibilidade de amadurecer e que não em nossa imaginação. podem participar de suas relações
crescer. Estaremos cada vez mais aptos a profissionais, começam a encarar a
ler e interpretar o que o mundo tem a A imaginação nasce do interesse, do educação como um processo para eles
nos dizer e o que podemos dizer a ele, entusiasmo, da nossa capacidade de nos e para as crianças. Por outro lado,
numa interação dialógica que envolve relacionar e, portanto as instituições também começam a perceber a
construção e apropriação da história e educacionais precisam estar atentas ao educação como um processo em que
do conhecimento. currículo, propondo ações voltadas ao a criança participa de suas
interesse dos alunos. Ações que manifestações particulares -e por isso
Nessa perspectiva, o fazer criativo dos permitam o inesperado, a surpresa, o é importante respeitar o seu ritmo,
alunos sempre se desdobra numa movimento as interações sócio/culturais. suas curiosidades e descobertas.
simultânea exteriorização e interiorização Na visão de Ferreira (2003, p. 32)
das suas experiências, numa Os alunos se desvelam e se revelam
compreensão cada vez maior de si Observar o mundo com uma atitude através das manifestações expressivas.
próprio e numa constante abertura de estética requer olhar para além do que Materializam em formas, movimentos,
novas perspectivas do ser. Para que isso é estritamente literal ou utilitário. No sons os repertórios do que vão se
ocorra às instituições educacionais trabalho com as artes, as crianças apropriando de um universo de histórias,
possuem grande responsabilidade e aprendem um modo diferente de ver a situações e percepções. Cabem então as
muitos desafios. O primeiro deles é o de vida, que as leva a superar os limites instituições de educação possibilitar a
permitir que esse processo se faça valer impiedosos do prosaico e da ampliação desses repertórios,
através de ações que os possibilitem praticabilidade e a apreciar as possibilitando aos alunos criar,
experiências com as linguagens da arte, qualidades estéticas presentes nos compreender, imaginar e re-significar.
desenvolvendo conseqüentemente a objetos. “A criança passa a ter condições mais
imaginação, a percepção, a emoção, a favoráveis de expressar-se autoral e
intuição e a criação. Nesse sentido, cabe analisar a criativamente quanto mais material bruto
relevância do que é pensado em termos para re-elaboração ala possuir, isto é,
Quando os alunos têm a possibilidade de de currículo em arte para a educação amplia-se seu acervo colhido/construído
vivenciar as linguagens da arte, básica, superior, pós-graduação e nesse por meio de suas
manifestando-se expressivamente constroem aspecto quais as decisões com relação experiências”.(LEITE:2004, p.34)
possibilidades de leituras signícas que estão aos espaços, aos objetos, aos conceitos
em processo latente. Nessas conexões e metodologias apropriadas para cada Entretanto para que o professor possa
haverá sempre os dados do contexto contexto. O que realmente importa para compreender esse processo é necessário
cultural. Nele estão determinadas visões de cada etapa de escolaridade? Aprender a ele próprio se desvelar e revelar para os
mundo, cujos valores definirão a gama de decodificar ou aprender a interpretar? alunos. É preciso que experiencie as
significados que poderão ser validos na Seguir rituais cotidianos, previsíveis e linguagens da arte, que faça delas seu
interpretação da realidade. Isso vale para repetitivos ou esperar curiosamente pelo alimento diário, indispensável para a sua
todo o contexto, professores, alunos, inesperado? Desenvolver o formação humana também. Segundo
famílias, enfim... conhecimento sensível ou reproduzir Ostetto e Leite (2004, p.23)

12
Sensibilizar o movimento, o olhar e a maior – a conexão com o outro, com o FREIRE, Paulo.(1988) A importância do ato de ler em três artigos
que se completam. 21ª Ed. Coleção: Polêmicas do nosso tempo.
escuta do professor contribuirá, lugar, com a história e a cultura. São Paulo. Cortez.

sobretudo, para torná-lo um sujeito ____. (1991) O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma
nova pedagogia da leitura. 5ª Ed. São Paulo: Cortez.
aberto e plural, mais atento ao outro; Morin (2001, p. 24) afirma que “todo JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. (2001) Criatividade, criação e
ampliará seu repertório e, conhecimento constitui, ao mesmo apreciação artísticas: a atividade criadora segundo Vygotsky. In
VASCONSELOS, Mário Sérgio. (ORG) Criatividade – psicologia,
conseqüentemente, seu acervo para tempo, uma tradução e uma educação e conhecimento novo. São Paulo. Moderna.
criação – uma vez que só se cria a reconstrução, a partir de sinais, idéias, JADODZINSKI, Jan. (2005) As negociações da diferença: arte
partir da combinação de elementos teorias, discursos”. Todo conhecimento educação como desfiliação na era pós-moderna. In J.
GUINSBURG; BARBOSA, Ana M. O pós-modernismo. São Paulo.
diversos que se tenha -, tornando sua constitui a unicidade, a compreensão de Perspectiva.
prática mais significativa, autoral e que o todo está em todo lugar, portanto, KEHRWALD, Isabel Petry.(1999) Ler e escrever em artes visuais In.
NEVES, Iara C.B (Org.). Ler e escrever compromisso de todas as
criativa. a educação em arte não deve se áreas. 2ª Ed. Porto Alegre. Ed. Da Universidade/UFRGS.
constituir em fragmentos, mas em LEITE, Maria Isabel.(2004) Linguagens e autoria: registro, cotidiano
Esse repertório também faz parte da interações, nas quais um contexto se e expressão. In MEIRA, Marly. (2003) Filosofia da criação –
reflexões sobre o sentido do sensível. Porto Alegre: Mediação.
formação do professor de arte. Ao comunica com o outro, um contexto MORIN, Edgar. (2001) A cabeça bem feita – repensar a reforma –
chegar na universidade trás consigo as apreende e ensina ao outro. A decisão reformar o pensamento.Tradução: Eloá Jacobina. 5ª Edição. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil.
suas experiências, impressões e agora é apenas nossa: no que acreditar, OSTETTO, Luciana; LEITE, Maria Isabel. (2004) Arte, infância e
interpretações do mundo, trás a sua em quem acreditar, por que acreditar, em formação de professores: autoria e transgressão. Campinas: SP.
história que continua em processo nós acreditar? Papirus. (Coleção Ágere)
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte.(Org.). (2007) Linguagens da arte na
permanente agrupada a outras histórias. infância. Joinville SC. Editora Univille.
Esse é um momento decisivo nas opções ___. (2005) Processos curriculares em arte: da universidade ao
que fazemos, seja relacionada às Referências Bibliográficas ensino básico. Joinville SC. Editora Univille, 2005.
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. (2004). O conhecimento sensível:
construções curriculares, ao uma contribuição para o aprendizado humano. In SCHRAMM,
CONEGUNDES, Eduardo; SOUZA, Nilza Alves. (2003)
conhecimento ampliado e a nossa forma Desccobertas cotidianas: vivências e reflexões na educação infantil.
Marilene de Lima Korting; CABRAL, Rozenei Maria Wilvert;
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. (Orgs). Arte e o ensino da arte.
de continuar o processo de aprendência. In: PARK, Margareth Brandini (Org.). Formação de educadores,
Blumenau/ SC. Nova Letra.
memória, patrimônio e meio ambiente. Campinas, Mercado de
Letras. PILLOTTO, Silvia Sell Duarte; SILVA, Maryahn K; MOGNOL, Letícia
T. C. A leitura do texto não verbal na produção gráfica infantil. In
É verdade que cada etapa da educação DEWEY, J. (1074) A arte como experiência. São Paulo, Abril
ORMEZZANO, Graciela (Org). Questões das artes visuais. Passo
Cultural. (Os pensadores).
básica, superior e da pós-graduação tem EFLAND, Arthur D. Cultura, sociedade, arte e educação num
Fundo: UPF, 2004 (Série Jornadas)

naturezas específicas e isso deve ser mundo pós-moderno. In J. GUINSBURG; BARBOSA, Ana M. RICHTER, Ivone Mendes.(2004) Interculturalidade e estética do
cotidiano no ensino das artes visuais. Porto Alegre. Mercado das
(2005)O pós-modernismo. Trad. Ana Amália T.B. Barbosa; Jorge
levado em conta sempre. Mas é bem Padilha. São Paulo. Perspectiva. Artes.
verdade também, que se não FERREIRA, Sueli (Org). (2001) O ensino das artes – construindo VASCONCELOS, Mário Sérgio (org.) (2001) Criatividade –
psicologia, educação e conhecimento do novo. São Paulo.
encontrarmos meios para conexões entre caminhos. Campinas. SP: Papirus. (Coleção Ágere)
Moderna.
FREIRE, João B. (1999) O jogo e sua função pedagógica. In Livro
todas essas etapas, em algum lugar do da 7ª Jornada Curitibana de educação. Ed. Futuro Congressos e VYGOTSKY, L. S. (1991) Pensamento e linguagem. São Paulo.
tempo/espaço perderemos a essência Eventos. Curitiba. PR. Martins Fontes, 1991.

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13
criativas 13
Uso de VRML em EDMC para ensino
de arte: possibilidades e limitações.
Profª. Me. Jurema Luzia de Freitas Sampaio-Ralha1

Os resultados apresentados nas pesquisas de que isso ocorra, procuremos identificar as


Palavras-chave: Realidade Virtual; campo deste trabalho de investigação etapas de elaboração de um projeto e é com
Educação à Distância; Ensino de Arte. indicaram, de modo geral, que os a mesma idéia que esta proposição foi
profissionais entrevistados, em especial os da desenvolvida.
Resumo: Este trabalho é a síntese do área artística, apresentam níveis de
resultado de pesquisa de mestrado “tecnofobia” não superiores aos dos públicos Ao longo do desenvolvimento do trabalho de
intitulada “A utilização de linguagem não-acadêmicos, porém, suas atitudes pesquisa algumas características do público-
VRML na educação à distância em arte”, mostram-se conservadoras em relação às alvo foram se delineando. A principal delas foi
sobre das possibilidades de ensino de tecnologias digitais, levando-os a manterem a dificuldade da maioria dos profissionais de
arte com a ajuda do computador, em certo grau de afastamento. arte e ensino de arte em lidar com as novas
rede, usando as tecnologias de tecnologias digitais de comunicação.
simulação de Realidade Virtual não- Os dados colhidos nas entrevistas foram
imersiva. Pelo uso da linguagem VRML analisados por vários aspectos. É constatada a Há, comprovado pelos dados recolhidos pela
como ferramenta para criação de necessidade de atualização tecnológica dos pesquisa de campo, um distanciamento entre
ambientes, visando proporcionar, à profissionais de educação do mercado e as áreas tecnológicas e as artes, na prática
distância, experiências de apreciação também da formação dos futuros profissionais diária do ensino, e o motivo desse
artística (um dos três pontos e o modo como essas atualizações poderiam distanciamento quando se fala em
fundamentais da Proposta Triangular) e ser feitas, atendendo a um maior número computadores é grande, pois Realidade
envolvimento sensorial, a realidade possível de profissionais, poderia ser pelo uso Virtual em especial, antes mesmo de ser não-
virtual, usando a linguagem VRML para da rede Internet no ensino de arte. Pela aceita, não é conhecida.
promover a simulação e reproduzir obras flexibilidade espaço-temporal de acesso à
visuais e ambientes virtuais. Para esse fim informação e pela característica de acesso Realidade Virtual
a proposta é analisada em três estágios: assíncrono, como base da proposta.
vantagens, desvantagens e principais O termo ‘Realidade Virtual’ (RV) foi
dificuldades para implementação. A As dificuldades, a cada dia maiores, de inicialmente cunhado por Jaron Lanier,
presente proposta não pretende que se disponibilidade de tempo e recursos para fundador do Grupo de Pesquisa VPL (1989) e
venha a substituir professores e/ou tutores atualizações, somando-se ao universo de originalmente se referia somente à ‘Realidade
no ensino e aprendizado em artes possibilidades oferecidas pelas tecnologias Virtual Imersiva’3. Outros termos relacionados
visuais, mas sim, possibilitar a oferta de digitais, justificam que o conhecimento incluem ‘Realidade Artificial’ (Myron Krueger,
acesso a conteúdos de uma forma mínimo desse universo se faça absolutamente meados da década de 1970), ‘Cyberspace’
diferenciada, a um número maior de necessário [Gardner, 1996]. Os principais (William Gibson, 1984) e mais recentemente
pessoas, através das possibilidades não “problemas” a serem resolvidos ao optar-se ‘Mundos Virtuais’ e ‘Ambientes Virtuais
presenciais e assíncronas de por uso de tecnologias digitais de (década de 1990)4. [Beier, 1999, P. 1]
aprendizagem propiciadas pelas comunicação (em especial a Internet) no
trabalho de formação continuada se Jerry Isdale é um dos primeiros pesquisadores
tecnologias digitais de aprendizagem à de RV, e em seu artigo chamado “What Is
distância, com uso de computadores mostraram como: Simulação de Presença e
Representação da Tridimensionalidade. Virtual Reality?” (O que é Realidade Virtual?),
ligados em redes, chamadas de e- dá explicações muito importantes para o
Learning. entendimento de RV. O pesquisador esclarece
Nessa pesquisa, além dos resultados aqui
A Pesquisa apresentados, também foi desenvolvida, com que o termo Realidade Virtual (RV) é usado
base na Metodologia de Desenvolvimento de por muitas e diferentes pessoas com diversos
Partindo do conhecimento de possibilidades Projetos de Produto, do designer italiano significados. Isdale diz que: “Há muitas
do aproveitamento da informática na Bruno Munari [1998], uma proposta de pessoas para quem RV é uma coleção
educação e centralizando o interesse na área Metodologia de Desenvolvimento de Material específica de tecnologias como capacetes
de ensino de arte, as questões desse trabalho para EaD2, testada, com sucesso. Esta (Head-Mounted Display - HMD), luvas de
surgiram de forma a esclarecer a necessidade metodologia pode ser aplicada no ‘entrada’ (data gloves input) e áudio. Algumas
do profissional de ensino de arte estar desenvolvimento de material para EaD em outras pessoas consideram que o termo inclui
habilitado a trafegar com desenvoltura no qualquer área de conhecimento, utilizando livros convencionais, filmes ou a pura fantasia
tema “Tecnologias Digitais”. O profissional qualquer técnica ou recurso, por abranger, e imaginação. [...] Todavia, [...] vamos
produtor artístico pode até não se sentir à além das necessidades específicas da EaD, restringir a RV aos sistemas mediados por
vontade para expressar-se com uso dessas uma abordagem de mapeamento de computadores”5. [Isdale, 1998; P. 01] Ainda
tecnologias, porém, como professor e necessidades e metas de projetos segundo o mesmo pesquisador, a melhor
orientador, deve conhece-las para, educacionais. A proposição metodológica é a definição de RV é a do livro ‘The Silicom
minimamente, entender o universo em que de que temos um PROBLEMA a ser resolvido, Mirage’6, onde é definida como sendo ”um
seus alunos trabalham e pensam. e queremos alcançar uma SOLUÇÃO. Para modo para humanos visualizarem,
1
Jurema L. de F. Sampaio-Ralha é Licenciada em Educação Artística e Artes Plásticas; Especialista em Ensino de Arte (pela PUC Campinas) e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Arte da UNESP/SP. É pesquisadora
na área de Tecnologias Digitais, Comunidades Virtuais e Ensino de Arte e Professora Universitária.
2
A metodologia está disponível para consultas no site pessoal da autora, em http://www.jurema-sampaio.pro.br/ead/pagina1.html
3
“Today, 'Virtual Reality' is used in a variety of ways and often in a confusing and misleading manner. Originally, the term referred to 'Immersive Virtual Reality’.” Tradução da autora.
4
“The term 'Virtual Reality' (VR) was initially coined by Jaron Lanier, founder of VPL Research (1989). Other related terms include 'Artificial Reality' (Myron Krueger, 1970s), 'Cyberspace' (William Gibson, 1984), and, more
recently, 'Virtual Worlds' and 'Virtual Environments' (1990s)”. Tradução da autora.
5
“The term Virtual Reality (VR) is used by many different people with many meanings. There are some people to whom VR is a specific collection of technologies, that is a Head Mounted Display, Glove Input Device and
Audio. Some other people stretch the term to include conventional books, movies or pure fantasy and imagination. […] However, my personal preference, […] we restrict VR to computer mediated systems”. Tradução da
autora.
6
AUKSTAKALNIS, Steve. "Silicon Mirage: The Art and Science of Virtual Reality". Berkeley:Peach Pit Press, 1992. OBS. Não tive acesso ao livro original, sabendo somente da existência por citação de Jerry Isdale. É
apresentado como “An introduction to virtual reality covers every aspect of the revolutionary new technology and it’s many possible applications, from computer games to air traffic control. Original. National ad/promo”,
no site na Amazon (http://www.amazon.com), e consta como produto fora de catálogo. Não consegui acesso a nenhum exemplar pesquisando por livros usados.
7
“The best definition of Virtual Reality I have seen to date comes from the book "The Silicon Mirage" (see section on VR Books): ‘Virtual Reality is a way for humans to visualize, manipulate and interact with computers and
extremely complex data’". Tradução da autora.

14
manipularem e interagirem com - Quando a interação presencial com O que é VRML?
computadores e dados extremamente pessoas, tanto professores e estudantes,
complexos”7. [Aukstakalnis, 1992. apud. seja necessária; É uma sigla, que significa Virtual Reality
Isdale, 1998; P. 01] - Quando o uso de um ambiente virtual Modeling Language e, numa tradução livre,
possa causar problemas físicos ou Linguagem de Modelagem de Realidade
Desde 1991 a Profª. Drª. Verônica Pantelides8 emocionais; Virtual. Pronuncia-se “vermél”, e foi criada
[1995, PP. 2-5 e 1993, PP. 23-27] vem - Quando o uso de ambiente virtual, com para ser utilizada na World Wide Web (a parte
pesquisando sobre o uso de VRML em uma simulação muito convincente, puder gráfica da Internet), permitindo aos usuários,
educação e, como resultados dessas causar confusão quando de volta ao em qualquer parte do mundo, criar e
pesquisas, traçou um pequeno esquema de ambiente material; compartilhar objetos e espaços 3D. Baseada
indicação de uso do recurso. - Quando a RV seja muito dispendiosa em Open Inventor, é uma linguagem de
para justificar seu uso, considerando o descrição usada para rápida prototipagem de
Deve-se usar quando: resultado de aprendizado esperado. aplicações tridimensionais e, desde seu
nascimento, tem como objetivo se tornar
- Há necessidade de simulações; A RV pode ser de dois tipos principais: “padrão mundial”. Por este motivo, não foi
- O aprendizado ou treinamento é impossível imersiva e não-imersiva. O que as diferencia associada a nenhuma empresa de software,
no mundo material ou oferece fator de risco primordialmente é que a RV imersiva é chip ou sistema operacional específico.
e perigo (como viajar dentro do corpo baseada no uso dos HDM (capacetes de Apresentada pela primeira vez em 1994 na
humano, por exemplo); visualização), dos BOOM9 (Binocular Omni- Primeira Conferência sobre World Wide Web,
- Os possíveis erros cometidos pelos usuários Orientation Monitor) ou dos sistemas a linguagem tem como objetivo dar o suporte
poderiam comprometer a evolução do baseados em salas com projeções das visões necessário para o desenvolvimento de
aprendizado, ou prejudicar o ambiente nas paredes, teto e piso, as chamadas CAVE10 mundos virtuais multi-usuários na Internet, sem
material e/ou danificar equipamentos; (Cave Automatic Virtual Environment); precisar de redes de alta velocidade. [Araújo
- O modelo virtual pode ensinar tão bem enquanto que a não-imersiva consiste no uso & Collares, 1997, P.1]
quanto o ambiente material porém o de monitores, também chamada de interface
segundo é de difícil acesso (por distâncias tradicional (por ser uma forma bidimensional Usar a expressão "realidade virtual", aplicada
ou por custos); de representação de RV) e incluem navegação ao VRML, ainda tem gerado polêmica. Alguns
- A interação com o modelo é tão ou mais controlada pelo mouse através de um pesquisadores sustentam que a Realidade
motivadora que o ambiente material ambiente tridimensional em um monitor Virtual implica em imersão (com uso de
(exemplo dos jogos); gráfico, visão estéreo do monitor através dos óculos e luvas), coisa que o VRML, por hora,
- Proporcionar a redução de custos, tempo, óculos estéreos, sistemas estéreos da projeção ainda não oferece. [Uchoa, 2000, P. 4]
distância, sem, obviamente, comprometer a e outros11.
qualidade dos resultados educacionais; Mesmo assim, a escolha da linguagem VRML
- Puder proporcionar o compartilhamento de Neste trabalho de pesquisa foi concentrada a (Virtual Reality Modeling Language) aconteceu
experiências em grupo; atenção na forma não-imersiva de RV, por de forma intencional por suas características
- A experiência da criação de um ambiente necessitar menos equipamentos para de uma linguagem web-based, de fácil
simulado for importante para o objetivo do viabilização e por apresentarem formas mais acesso, que não exige do usuário-final
aprendizado; simples de interação, pois, embora a RV com grandes conhecimentos em informática, nem
- A visualização da informação é necessária o uso de capacetes e luvas tenha evoluído e necessita de altas taxas de transferência de
(poder manipular a informação pode ficar seja considerada típica, a RV com monitor dados (fator recorrente na pesquisa). [Araújo e
muito mais fácil de entender); apresenta, ainda assim, alguns pontos Colares, 1997]
- Houver a necessidade de fazer notar e ser positivos como: utilizar plenamente todas as
percebido o imperceptível (por exemplo, o vantagens da evolução da indústria de Os mundos virtuais e suas possibilidades de
uso de movimento em planos para computadores; evitar as limitações técnicas e interação mostraram possibilidades
percepção da formação dos sólidos, por problemas decorrentes do uso de capacete; e interessantes de solução para os problemas
rotação, em geometria); facilidade de uso. É interessante ressaltar de simulação de presença em EaD e mesmo
- For necessário ensinar tarefas envolvendo também a RV não-imersiva é para contemplar os aspectos tridimensionais
destreza manual ou movimentos físicos; economicamente mais viável e dispensa os do ensino de arte. Assim este trabalho seguiu
- E, principalmente, quando seja essencial periféricos específicos que potencializam a na tentativa de mapear as principais
fazer o aprendizado mais interessante e sensação do usuário de estar imerso num dificuldades de uso da RV, por VRML, para
motivador (como por exemplo, quando os ambiente sintético e a maioria das aplicações EaD, em Arte.
alunos têm problemas de atenção por falta e programas podem ser desenvolvidos a
de motivação do tema). partir de tecnologias proprietárias ou então O uso de RV em educação já é pesquisado
através da linguagem VRML (Virtual Reality por algumas áreas, inclusive EaD [Meiguins,
Não se deve usar RV nas seguintes situações: Modeling Language) e ser facilmente 1999]. Nesta proposta é usada a linguagem
manipuladas com o uso da mesma VRML para construção de um ambiente de
- Quando não houver substituto para o linguagem, já que esta propicia mundos simulação para experiências específicas na
aprendizado ou treinamento do mundo virtuais integrados na WEB12. [Tarouco, 2001, área de ensino de arte, pois o uso de VRML
real; slide 081] na educação sendo defendido por diversos
8
A Dr. Verônica Pantelidis é professora titular da Faculdade de Educação do departamento de Broadcasting, Recursos Bibliográficos e Tecnologia Educacional da East Carolina University, Greenville, Carolina do Norte, EUA
desde 1976. Seu website pessoal pode ser encontrado em http://www.soe.ecu.edu/vr/6242/EDTC6242vit.html
9
BOOM é marca registrada dos óculos da Fakespace Labs Inc. Fabricante dos mesmos, porém muitos pesquisadores se referem a BOOMs como somente os óculos, sem o capacete (http://www.fakespacelabs.com/).
10
A CAVE (Cave Automatic Virtual Environment) foi desenvolvida pela University of Illinois at Chicago (http://www.uic.edu/) e provê a ilusão da imersão pela projeção de imagens em estéreo nas paredes e chão de um
cômodo de formato cúbico.
11
“This includes mouse-controlled navigation through a three-dimensional environment on a graphics monitor, stereo viewing from the monitor via stereo glasses, stereo projection systems, and others”. Tradução da autora.
12
“[…] provides three-dimensional worlds with integrated hyperlinks on the WEB.” Tradução da autora.

15
autores, como, basicamente um processo de somados à colaboração entre os participantes com o ambiente em tempo real. [Dragone,
exploração, de descoberta, de observação e vão dando suporte ao seu aprendizado. O 2002, P. 2]
de construção de uma visão do conhecimento ambiente colaborativo construído pela
a partir destas ações se mostra interessante Politécnica de Milão dá este suporte através de
para a área. A forma de uso de RV na uma complexa colaboração de equipe e
educação em arte, proposta por este trabalho, professores conectados a um mundo virtual.
é a possibilidade de trabalhar, no ensino de Baseada em experiências prévias de outros
arte, novos aspectos (ou novas percepções) projetos 3D para museus, recentemente a
da representação da tridimensionalidade que universidade implementou um novo
vem ganhando novas formas desde a empreendimento. A construção virtual da
Perspectiva Renascentista. ‘Cidade Ideal’ de Leonardo da Vinci, retirada
de várias partes de seus manuscritos. A
No mundo todo pesquisadores estão curadoria deste projeto foi feita pelo Museu Fig. 04. Villa Savoye. Imagem retirada do site
descobrindo as possibilidades da RV no uso Nacional de Ciência Leonardo da Vinci, de http://www.int3d.com/3dscenes/savoye/savoye.html
educacional, em arte. Alguns projetos Milão, Itália enquanto um time de O arquivo em VRML pode ser visualizado no endereço
pontuais mostram que o interesse pela RV modeladores e programadores usavam uma http://www.int3d.com/data/savoye.wrl
vem crescendo a cada dia. Um deles é o ferramenta de trabalho chamada WebTalk-II
projeto 'A 3d Flight over Vermeer's Delft in para distribuir a aplicação. O Collaborative O Projeto ARCA17 - Ambiente de Realidade
1660' (um vôo em 3D pela Delft de Vermeer 3D Virtual Ideal City está online no site do Virtual Cooperativo de Aprendizagem,
em 166013), que se propõem a ser uma Museu Nacional de Ciência.”16 [Barbieri & financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de
ferramenta de estudo de história da arte, Paolini, 2001, P. 1] Desenvolvimento Científico e Tecnológico),
arquitetura e, principalmente, da arte do pesquisa RV e educação, desdobrado em
mestre, reconstruindo a cidade de Johannes Usando o VRML para construir os espaços e diversos sub-projetos, propõem um ambiente
Vermeer (1632-1675), virtualmente, bem ambientes, é um espaço multi-usuários, uma 3D, com acesso possível pelo uso do Active
como das plantas de Delft14 em 1660, para espécie de “chat” 3D que permite circular Worlds18, desenvolve-se em sub-temas de
possibilitar o estudo de seu trabalho pela entre uma “cidade ideal” que, embora Da pesquisa como Agentes Pedagógicos
compreensão de sua vida, história pessoal e Vinci nunca tenha planejado, uma pesquisa (coordenação de Luis de França Ferreira), Vida
social. Bastante interessante, subdivide-se em cuidadosa em seus escritos pôde revelar Artificial (coordenação de Rosa Maria Viccari),
várias sub-propostas, como a Walking with como seria. dentre outros que envolvem a RV cooperativa,
Vermeer15, onde desenhos originais, mas não fala de EaD em Arte.
digitalizados, são usados como base para a
“entrada” nas imagens. São quatro momentos Já os sub-projetos A APROPRIAÇÃO DO
e, através de uma navegação virtual, ESPAÇO (que pretende “Desenvolver Módulos
propiciada por tecnologia 3D para ser de Ensino para trabalhar com professores de
visualizada com Quicktime ou Windows Educação Artística, através de redes
Media Player, por streamming de vídeo, pode- telemáticas, visando tratar de questões
se “caminhar” pela cidade através dos relacionadas com o ensino da Arte
desenhos históricos, os filmes são resultado de Contemporânea”), e o AMORA – Oficina
muitos anos de cooperação multidisciplinar Interativa Virtual, (que “propõe-se desenvolver
entre o autor do projeto, o historiador e o conceito de objeto na Arte
professor alemão Kees Kaldenbach e a Contemporânea”) também são iniciativas
Universidade Politécnica de Delft. Trabalha interessantes em EaD em arte mediada por
com 3D não-imersiva e não usa VRML, mas computador, porém sem o uso de RV. Para
vale a visita para conhecer. [Kaldenbach, ensino de arte, por EaD, não foi possível
2001, P. 59] mapear, até então, nenhuma utilização
específica de RV.
Outro projeto que usa RV não-imersiva, por
VRML, como forma de ferramenta no estudo O VRML já vem sendo usado, com sucesso,
de arte é o Collaborative 3D Virtual Ideal City, na construção de museus virtuais 3D, onde se
da Politécnica de Milão. Trata-se de um pode navegar com simulação de presença,
ambiente colaborativo virtual, que é uma permitindo aprender visitando lugares onde o
classe de aplicações de desktop que permitem Fig. 01, 02 e 03. Imagens do ambiente “Cidade Ideal”, ser humano teria dificuldades de estar em sua
ao usuário explorar um ambiente 3D, ciente retiradas do site: http://webtalk.elet.polimi.it vida material. Sites como o italiano Il Percorsi
da presença, posição e atividade dos outros Del Viaggio 3D19, onde podem ser vistos
usuários, que dividem com este o mesmo Mais um projeto que usa recursos em RV não- modelos em VRML de edifícios inteiros, são
espaço. Apresentado como: imersiva, por VRML, para estudo de arte. O freqüentes na rede; e o Projeto Michelangelo
VILLA SAVOYE - Le Corbusier (1931). Digital20, da Stanford University, será,
“Em Ambientes virtuais orientados a Construído por um dos maiores arquitetos do futuramente, de grande auxílio como
conteúdos de patrimônio cultural é possível século XX, este prédio é considerado um dos ferramenta de EaD em arte.
prever a colaboração entre os usuários, mais importantes exemplos da história da
interessados em aprender, através de um moderna arquitetura. Por tecnologia 3D No aspecto do fazer artístico, usando a RV por
modo inovador e intrigante. Os quadros vão baseada em VRML é possível visitar a Villa linguagem VRML temos vários exemplos bem
sendo mostrados e os recursos apresentados, através de uma experiência em RV, interagindo sucedidos de realizações. Dentre elas,
13
Tradução livre, da autora.
14
Cidade de Nascimento do artista. Em meados do século 17, era uma cidade conservadora e sofisticada, com cerca de 25 mil habitantes, uma população que se expandiu muito com a entrada de imigrantes de outras
regiões. Mais antiga e mais produtiva que outras cidades (até mesmo que a corte de Haia, situada a 5 quilômetros de distância), Delft tinha excelentes indústrias de tecelagem e faiança, pelas quais é famosa até hoje.
O transporte pelos rios facilitava sua conexão com a corte e lhe trazia uma clientela internacional, permitindo também a penetração de influências culturais.
15
Link próprio em http://www.io.tudelft.nl/id-studiolab/vermeer
16
Tradução da autora. O site do projeto pode ser visto em http://webtalk.elet.polimi.it. Em http://webtalk.elet.polimi.it/museum/scienziato.wrl há um acesso direto ao VRML do espaço, infelizmente é um aplicativo de
código protegido que não pode ser reproduzido fora da WEB.
17
Ambiente de Realidade Virtual Cooperativo de Aprendizagem – ARCA - http://www.pgie.ufrgs.br/projetos/arca. Participam do projeto as universidade UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UCPEl -
Universidade Católica de Pelotas e ULBRA - Universidade Luterana do Brasil cujo elo principal de ligação é o fato de terem docentes e pesquisadores envolvidos no Programa de Pós-Graduação Informática na
Educação da UFRGS.
18
Active Worlds Educational Universe - AWEDU é um browser que possibilita ao usuário acessar mundos tridimensionais na forma de um avatar: http://www.activeworlds.com/. Ver detalhes na nota 17.
19
http://www.vps.it/propart/vrml/homevrml.htm

16
podemos destacar os trabalhos de Lúcia mas várias pessoas o fizeram, muitas delas motivo, esta área foi a mais estudada na
Leão21, Gilbertto Prado22 e Tânia Fraga23, no demonstrando surpresa com o tema, e outras, avaliação dos dados colhidos e, dentro dessa
Brasil. grande interesse pela proposta. Porém, não área de conhecimento, o perfil da amostra,
muito diferente do que se supunha por gênero, difere um pouco do perfil geral,
Desenvolvimento do Trabalho originalmente, no início do trabalho, passando a apresentar uma maioria feminina
comprovado pelas as entrevistas feitas com de 68% em oposição aos 32% dos membros
Sendo o foco principal deste trabalho a profissionais de diversas áreas, a efetivação da que formam a parcela masculina da área.
utilização das possibilidades tecnológicas de proposta encontra barreiras numa realidade
comunicação em rede como ferramenta de que se mostra o principal entrave na ampla
construção de conhecimento em artes visuais, utilização das tecnologias de Realidade Virtual
por simulação de ambientes em 3D com não-imersiva em Educação à Distância
utilização da linguagem VRML, direcionou a mediada por Computador (EDMC): o
opção por participar, como membro, de desconhecimento das possibilidades
cinqüenta e uma comunidades virtuais de pedagógicas e mesmo da existência da Fig.07. Divisão por gênero, na área de arte.
aprendizagem colaborativa (listas de referida tecnologia.
discussão), ao longo dos três anos em que a O perfil acadêmico de formação foi traçado
pesquisa se desenrolou, se mostrou necessária Para mapear as possibilidades de aplicação da seguinte forma: dos que declararam
e coerente com a proposta. Também nestas da proposta, além das pesquisas exercer sua atividade profissional na área de
comunidades foi utilizado o questionário bibliográficas e da construção da ferramenta arte, 5% concluíram o ensino médio; 27% são
diagnóstico de aplicabilidade desta de aplicação foram feitas entrevistas com estudantes de graduação em arte (desses
proposição (pesquisa de campo), respondido profissionais de diversas áreas, inclusive do 27%, 75% concluirão seu curso em 2003 e
voluntariamente, por profissionais de diversas ensino de arte. Os dados levantados nas 24% em 2004); 9% concluíram graduação
áreas, principalmente da área artístico- entrevistas comprovaram as expectativas em arte (entre 1976 e 1990); 18% concluiu
educacional. Este questionário procurou iniciais de que a disseminação do uso de pós-graduação e/ou especialização na área
recolher dados estatísticos do uso de tecnologias 3D em EDMC não é feita, em (entre os anos de 2000 e 2002); 22%
tecnologias digitais de comunicação e em grande parte, por falta de conhecimento de desenvolvem, atualmente, pesquisa de
especial a Internet e de seu conhecimento das possibilidades, na maioria dos casos. mestrado (com conclusões previstas entre
possibilidades de uso da linguagem escolhida: 2003 e 2004); 5% concluíram doutorado (em
VRML. Resultados da Amostragem 1986); também 5% possuem pós-doutorado
(concluído em 1987) e 9% não declararam
As entrevistas aconteceram de forma O universo da amostra dessa pesquisa foi seu grau de escolaridade. Mais
totalmente virtual, por convite, sob a forma de dividido, por gênero, em 52% dos detalhadamente, todos os cursos citados pelos
um questionário, disponibilizado na Internet. entrevistados do sexo masculino e 48% do entrevistados (graduação, pós-graduação lato
Para responder ao questionário as exigências sexo feminino. e stricto sensu) se distribuem da seguinte
foram: ter acesso à internet e saber usar as forma: das pessoas da área de arte que
ferramentas e-mail e formulários on-line e, responderam a pesquisa, 52% cursaram
esse questionário, ao ser respondido, enviava graduação /licenciatura em educação
os resultados automaticamente, por e-mail, artística, 7% cursaram pedagogia, 4%
para a autora. graduaram-se em arte e tecnologia, 4%
cursaram artes cênicas, 4% cursaram design
O critério de seleção, da amostra gráfico e 4% cursaram música. O restante dos
entrevistada, foi o de ser membro de uma das Fig.05. Divisão por gênero, geral. cursos citados se distribui pelas áreas de
cinqüenta e uma listas de discussão, pesquisa de pós-graduação e/ou
escolhidas por proporem temas pertinentes a As respostas foram separadas, para análise, especialização, mestrado, doutorado e pós
esta pesquisa. Este critério foi usado por por áreas de conhecimento, sendo que 15%
acreditar que o pertencimento a uma informou pertencer à área de Arte; 37%
comunidade virtual de aprendizagem já declarou pertencer à área de Ciências Exatas
demonstra interesse pelas temáticas envolvidas e/ou Tecnologia; 28% afirmou fazer parte da
neste trabalho. área de Ciências Humanas, 11% informou
pertencer à área de Ciências Sociais e 9%
Foram enviados, a cada uma das listas de declarou pertencer à área de Saúde.
discussão, convites em forma de e-mails.
Neste convite eram esclarecidos os motivos do Fig.08. Cursos citados pelos entrevistados.
pedido de colaboração. Desta forma, foram
feitas 145 (cento e quarenta e cinco) A atuação profissional dos entrevistados se
entrevistas, ou seja, cento e quarenta e cinco distribui deste modo: 58% declararam exercer
pessoas, após receber o e-mail, se dirigiram, atividades letivas; 5 % desenvolveram
voluntariamente, ao website informado e trabalhos como artista plástico; 5% trabalham
responderam ao questionário on-line. Este e- Fig.06. Divisão por área de conhecimento. como designer gráfico. O restante exerce
mail foi redigido da mesma forma para as atividades em artes gráficas (5%), webdesign
cinqüenta e uma listas. Não era necessário O interesse desta pesquisa se concentra nos (5%), computação gráfica (5%) e conservação
responder, particularmente ou não, ao e-mail, profissionais da área de arte e, por este de obras de arte (5%).
20
http://graphics.stanford.edu/projects/mich/
21
A Profª. Drª. Lúcia Leão é autora do livro O Labirinto da Hipermídia. São Paulo:Iluminuras /Fapesp, 1999, artista multidisciplinar e pesquisadora de Arte e Novas Tecnologias. Realizou mestrado (com orientação do
pesquisador Prof. Dr. Arlindo Machado) e doutorado em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil - PUC - SP. Sua dissertação Labirinto 1. A arquitetura da hipermídia é um
trabalho interdisciplinar sobre a tecnologia hipermidiática e estruturas labirínticas, e sua pesquisa de doutorado, intitulada Labirinto 2. Hipermídia e Arte, é um mergulho teórico e prático em tópicos labirínticos dos
antigos mitos, arquitetura, física, matemática e trabalhos artísticos na WWW e CD-ROM. A professora Lúcia foi uma das entrevistadas por este trabalho de pesquisa. A biografia completa da artista e professora pode
ser encontrada no site: http://www.pucsp.br/pos/cos/interlab/in4/tilu_cv.htm
22
O Prof. Dr. Gilbertto Prado é pesquisador de Arte e Novas Tecnologias, também, artista multimídia. Estudou Engenharia e Artes Plásticas na Unicamp (Universidade de Campinas - São Paulo). Obteve seu doutorado
em Artes na Universidade de Paris 1 e Livre-Docência em Artes - Universidade Estadual Paulista - São Paulo. Atualmente é professor do Departamento de Artes Plásticas da ECA – USP. Sua biografia e currículo podem
ser encontrados no site http://wawrwt.iar.unicamp.br/gilbertto/gilbertto.htm
23
A Profª. Drª. Tânia Regina Fraga é arquiteta, pela UFMG, mestre em Planejamento Urbanístico pela UNB e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC SP. Artista multimídia e Professora Adjunta no Instituto de
Artes Visuais da Universidade de Brasília, é Pesquisadora Associada da Escola Politécnica de Engenharia na Universidade de São Paulo. Seu trabalho tem sido exibido internacionalmente no IV FISEA: The Art Factor,
Minneapolis 1993, e em diversas mostras no Brasil, Estados Unidos, Paris e Itália, na coleção da Bemis Foundation, do Museu de Arte Moderna de Brasília e da Universidade de Hong Kong. Vem trabalhando com arte
por computador desde 1987 e seu principal interesse hoje é o desenvolvimento de ambientes interativos em linguagem VRML, que podem ser vistos nos seguintes endereços: http://www.lsi.usp.br/~tania/ e
http://www.unb.br/vis/lvpa. Sua biografia e currículo podem ser encontrados no site: http://www.lsi.usp.br/~tania/tania.htm

17
classificaram como “incompatibilidade entre
tarefas exigidas e tempo de execução das
mesmas”, até mesmo a algumas declarações
de “mea culpa” dos entrevistados, que
afirmaram não terem “se dedicado o
suficiente ao programa que se dispuseram
cursar”.
Fig.09. Atividades profissionais exercidas pelos
entrevistados. Fig.13. Diferenças entre EaD e EDMC.

Quanto ao tempo de atuação na área de Das pessoas que disseram saber o que a
trabalho declarada, 18% informaram exercer expressão significa, a totalidade (100%) não
a atividade há mais de vinte anos; 14% soube exemplificar, com experiências
indicaram como tempo médio, mais de dez conhecidas, porém, quando questionadas
anos; 31% declararam que exercem sua sobre como conheceram EDMC, 50% delas
atividade por períodos que variam entre seis e disseram que conheceram como alunos; 23% Fig.16. Impressões dos entrevistados sobre suas
dez anos; também 31% exercem suas informaram que conheceram como experiências em EDMC.
atividades profissionais por períodos que professores/instrutores e 27 % não
variam entre três e cinco anos e 6% responderam à pergunta. Fatores como “pouco domínio das tecnologias
declararam exercer sua atividade profissional usadas nos cursos” (por parte dos alunos) e
há menos de um ano. “material inadequado ao veículo de suporte
proposto” (Declaração recorrente, em várias das
entrevistas. Dados não computados em números.),
também foram relatados nos comentários, o que
leva ao questionamento: Será que os
desenvolvedores de EDMC estão realmente
Fig.14. Modo como conheceu EDMC. capacitados e habilitados a isto? Será que os
Fig.10. Tempo de atuação na área profissional programas fazem a necessária pesquisa de perfil de
apontado pelos entrevistados. É curioso notar que a pessoa: 1. Fez um seus futuros alunos, para adequar recursos
curso/treinamento numa modalidade tecnológicos às suas propostas?
específica de aprendizagem, diferente da
usual; e 2. Não o referencia quando Por fim, encerrando a coleta de dados sobre EDMC
perguntada sobre a modalidade em que este em arte junto aos profissionais de arte entrevistados,
se desenvolveu. Mais interessante ainda foi perguntado se conheciam, mesmo que somente
porque a questão se referia à primeira vez que por comentário de terceiros, projetos em EaD ou
a pessoa tivesse feito um curso e/ou EDMC, no ensino de arte. Embora existam vários,
Fig.11. Atividades acadêmicas de pesquisa. treinamento por esta modalidade. As razões inclusive no Brasil, 36% dos entrevistados
deste comportamento são desconhecidas declararam não conhecer nenhum projeto deste
Quanto às áreas pesquisadas por eles, 31% dessa pesquisa, mas informalmente a maioria tipo, 55% não responderam à questão e somente
desenvolvem pesquisa em ensino de arte; (não há dados numéricos) declarou não ter 9% informaram conhecer “algo do gênero”, porém
13% pesquisam educação e tecnologia; 9% “se lembrado” somente. não citaram exemplos.
pesquisam artes cênicas, também 9%
pesquisam Net Art e EaD é pesquisada por Com referência ao tempo que conhecem O perfil tecnológico dos entrevistados se mostrou
iguais 9%. Um total de 9% dos entrevistados EDMC, as datas de contato com esta forma bastante interessante. Como usuários de tecnologias
não responderam à questão. Restam 5% para de aprendizagem variam entre 1996 e 2002, digitais de comunicação e informação, em especial
cada uma das outras quatro área: porém a maioria (31%) declarou ter a Internet, os resultados reafirmam as questões
restauração de obras de arte, realidade virtual, conhecido esta modalidade de ensino no ano anteriores sobre adequação de uso de recursos.
animação e Web. de 2000.
Dos entrevistados, 9% declararam ser usuários de
alguma experiência na utilização das tecnologias
digitais de comunicação; 41% declararam ter
experiência moderada; 27% declararam-se usuários
experientes;18% declararam ser especialistas nesse
tipo de tecnologia de comunicação e 5%
Fig.12. Áreas de pesquisa dos entrevistados. informaram ser profissionais de informática e Internet.

Quando questionados sobre os conhecimentos Fig.15. Ano em que conheceu EDMC. Estes dados mostram um perfil afinado com as
em Educação à Distância (EaD) e Educação à tecnologias mais comumente encontradas, em
Distância Mediada por Computador (EDMC), Quanto às impressões que tiveram da níveis de usuário. Mesmo assim, como já
o entendimento das diferenças entre as duas experiência, apesar dos resultados, de maioria vimos, os comentários sobre inadequação de
expressões se mostrou confuso. Das pessoas negativa, vários entrevistados declararam estar recursos foram constantes (50% dos
entrevistadas, somente 14% souberam dispostos a repetir a experiência (muitos já o entrevistados da área de arte fizeram menção,
diferenciar, claramente, as duas propostas. Estas fizeram), no sentido de conhecer mais a de alguma forma, a este tópico).
pessoas foram, exatamente, as que metodologia, a fim de, possivelmente, mudar
desenvolvem pesquisa em áreas afins a este de opinião.
trabalho: educação & tecnologia e realidade
virtual. Dos entrevistados restantes, 68% Isso nos permite concluir que, também a
declararam saber o que era EDMC, porém maioria (segundo os comentários) não
não souberam diferenciar de EaD e, por fim, creditou os resultados negativos ao método
18% não sabiam o que significava a expressão em si, mas sim a fatores diversos, que vão
e, naturalmente, também não souberam desde a “pouca organização da equipe
explicar as diferenças. desenvolvedora”, passando pelo que Fig.17. Perfil de usuário envolvido nesta pesquisa.

18
Avaliando os aspectos de perfil tecnológico e de Considerações Finais percepções sensoriais, permitindo estabelecer
recursos mais detidamente, entendemos que uma relação com o concreto (imagens de
para utilizar VRML, muito mais do que depender Considerando que o profissional da área de objetos tridimensionais), para então buscar a
de altas taxas de transferência de arquivos, arte não se mostrou avesso ao uso de abstração (fundamentação teórica) e, assim,
necessitamos de bons equipamentos recursos tecnológicos para apoio ao ensino obter conhecimentos e aplicá-los em
(computadores com bons processadores) para de arte, como podemos ver pelos dados determinadas situações. São partes de um
que as aplicações possam funcionar a contento. recolhidos pela pesquisa (73% declaram usar processo onde o concreto e abstrato tem uma
Por este motivo, foi perguntado aos entrevistados algum tipo de recurso tecnológico em suas relação dialética.
o tipo de máquina que utilizam para navegação aulas), uma das questões que esta pesquisa se
na Internet, bem como tipo de acesso que dedicou a esclarecer foi o motivo de, mesmo Para o ensino de arte por EDMC, a RV mostra-
fazem, o provedor de acesso que utilizam e o com todos os benefícios apontados pela RV se como recurso eficiente em proporcionar a
browser preferido. [Araújo e Colares, 1999; como simuladora de ambientes e/ou objetos experimentação, que pode ser feita de forma
Castro e Magalhães, 1999] e agente de experimentação sensorial, esta orientada, como num atelier, só que à distância,
não é nem mesmo sugerida para uso, por e este fato requer novas abordagens no ensino
Com relação ao tipo de acesso, 47% dos 100% dos entrevistados. de arte, novos paradigmas surgem, várias
entrevistados declaram utilizar provedores de questões se apresentam. Metodologias
acesso a Internet do tipo gratuito, 16% declara necessitam ser revistas e adaptadas a essa
utilizar conexões do tipo ADSL (banda larga), realidade.
31% informam o acesso feito por redes LAN, 3%
declaram acesso via rádio e mais 3% têm acesso Os computadores já disponíveis para a maioria
por conexão via cabo. Os tipos de conexão dos usuários medianos permitem utilização de
variam muito e vários usuários utilizam mais de Fig.20. Professores de arte e o uso de recursos RV não-imersiva (tecnicamente) e a utilização
um tipo de conexão para acessar a rede. tecnológicos em aula. dessa tecnologia permite, além da interação,
que as ações implementadas sejam próprias do
Aproximadamente 75% dos entrevistados, usuário a partir da sua exploração com relação
oriundos de áreas tecnológicas, creditam o ao ambiente, proporcionando o que foi
pouco uso da linguagem VRML em geral aos chamado de aprendizagem em primeira
equipamentos de qualidade inadequada. Porém, pessoa.
quando estes mesmos profissionais são
questionados sobre seu conhecimento acerca de A EDMC também já se mostrou eficiente e
VRML, 62% declaram conhecer a linguagem, viável, mostrando-se como uma alternativa para
mas somente 15% dos entrevistados acertaram Fig.21. Tipo de recurso tecnológico, declarado pelos educação (não um substituto), a junção de
uma definição da mesma. Os 13% restantes professores de arte, para uso em sala de aula. ambas parecer ser útil para atingir os objetivos
erraram a definição, confundindo-a com de aprendizagem onde os métodos tradicionais
conceitos gerais de RV e mesmo com outras Cabe ressaltar que 100% dos entrevistados não estão falhando. Assim, a idéia que este trabalho
linguagens de programação. explicaram, mesmo tendo sido solicitado, o tem como causa do não-uso de VRML e
motivo de fazer uso dos recursos que declaram mesmo RV, em ensino a distância em arte, se dá
usar. Porém, não cabe afirmar que, se vier a pelo desconhecimento das possibilidades.
conhecer a tecnologia, o professor de arte fará
uso efetivo dela em sua programação Referências Bibliográficas
pedagógica, mas é certo que sem a conhecer é
praticamente impossível que qualquer proposta Araújo, M. e Collares, R. (1997) About VRML. 16/01/1997.
http://elogica.br.inter.net/colares/vrml.htm
Fig.18. Conhecimento da linguagem pelos profissionais de utilização desta ou de qualquer outra Barbieri, T. e Paolini, P. (2001) Reconstructing Leonardo's ideal city -
entrevistados, oriundos das áreas de Ciências Exatas tecnologia, como apoio às aulas, seja efetivado. from handwritten codexes to webtalk-II: a 3D collaborative virtual
environment system. International Conference on Computer
e Tecnológicas. Graphics and Interactive Techniques. Proceedings of the 2001
conference on Virtual reality, archeology, and cultural heritage. P. 1,
Dos profissionais, da área de arte, que Glyfada, Greece. 19/07/2001.
Fato interessante, também vale notar, ocorreu informaram conhecer VRML, 49% declaram http://portal.acm.org/citation.cfm?id=585003&coll=portal&dl=A
CM#?id=585003&coll=portal&dl=ACM
com os profissionais da área de Ciências que, sim, vêem possibilidades de uso da Beier, K. (1999) Virtual Reality: A Short Introduction. 02/07/1999.
http://www-vrl.umich.edu/intro/index.html
Humanas. Dos profissionais entrevistados, 21% linguagem em ensino de arte, embora nenhum Dragone, G. (2002) Villa Savoye - Le Corbusier. Interactive Net
confundiram o conceito de RV com o de tenha exemplificado como isso pode ser feito. Technology 3D. Pesaro, Italy. 20/06/2002.
http://www.int3d.com/3dscenes/savoye/savoye.html
Ciberespaço, em geral apoiados por citações Com relação ao uso de tecnologia, delineiam- Gardner, H. (1996) Mentes que criam - Uma anatomia da
de leituras de Pierre Lévy. Cabe questionar se se algumas questões que essa pesquisa não criatividade observada através das vidas de Freud, Einstein,
Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi. Porto Alegre, Brasil:
essas pessoas realmente compreendem as conseguiu esclarecer: Artes Médicas. Tradução: Maria Adriana Veronese.
Isdale, J. (2002) Jerry Isdale's VR Page. 25/02/2002.
leituras que declaram ter feito ou se, desta http://vr.isdale.com/
forma, se mostra uma diferenciação conceitual - Os professores de arte sabem, efetivamente, Kaldenbach, K. (2001) A 3d Flight over Vermeer's Delft in 1660,
entre áreas. Ainda em relação às Ciências usar as tecnologias digitais? resumo extendido. In: Leonardo, Journal of the International Society
for the Arts, P. 59. 27/06/2001. http://www.xs4all.nl/~kalden
Humanas, embora 49% dos entrevistados - E as de pesquisa? Meiguins, B. S. (1999) Uso de Realidade Virtual em Ensino à
Distância Mediado por Computador. Dissertação de mestrado
tenham declarado conhecer VRML, 18% - Vários entrevistados declararam estar desenvolvida sob orientação do Prof. Dr. BEHRENS, F.H., no

erraram, até mesmo ao definir o que seja a envolvidos em pesquisas. Nessas pesquisas, Instituto de Informática da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas. Área de Concentração: Sistemas de Informação.
sigla e somente 12% foram capazes de utilizam a Internet como ferramenta auxiliar? Campinas, 1999. 31/07/2002. http://www.puc-
campinas.edu.br/ceatec/inst/sistel/dissertacoes.htm
elaborar uma definição consistente. - Se assim o fazem, por que isso acontece? ________. (1998) “What Is Virtual Reality? A homebrew
Desconhecimento, também, de introduction and information resource list (Isdale Engineering). s.l.
Version 2.1, 1993”. Obtido pela Internet via FTP em
possibilidades da ferramenta? sunee.uwaterloo.ca. 07/10/1998.
http://www.cms.dmu.ac.uk/~cph/VR/whatisvr.html
- Será que falta efetiva divulgação, na área Munari, B. (2000) Das Coisas Nascem Coisas. São Paulo:Martins
Fontes.1ª Edição.
artística, das conquistas das pesquisas mais Pantelides, V. S. (1995) Reasons to Use Virtual Reality in Education.
recentes? PP. 2-5. 10/10/2000. http://eastnet.educ.ecu.edu/vr/reas.html
________. (1993) Virtual Reality in the Classroom. Educational
Technology, 33(4), 1993, PP. 23-27.
O VRML trás para o ensino de arte uma Tarouco, L.M.R. (2001) O que é educação à distância.
possibilidade de representação da Apresentação em Power Point, disponibilizado em 25 de outubro
de 2001. Arquivo capturado em 26/10/2001. Slide 81.
tridimensionalidade que permite interação e http://penta2.ufrgs.br/edu/ambvirt/eadtecsuport2/sld081.htm
manipulação, em tempo real, de imagens Uchoa, C. (2000) Realidade Virtual: o estado da arte. Trabalho
apresentado à disciplina. Tópicos em Informática na Educação do
Fig.19. Conhecimento da linguagem pelos profissionais construídas nos eixos x, y e z. Desta forma, tem- programa de Doutorado em Informática na Educação – UFRGS.
Profª. Drª. Santarosa, L. M. C. 17/04/2000.
entrevistados oriundos das áreas de Ciências Humanas. se possibilidade de trabalhar, principalmente, http://solaris.niee.ufrgs.br/~claudia/

19
Banda desenhada:
fusão de linguagens scripto-visuais
Clara Silva Brito1

Apesar do tema ser do conhecimento geral dos Quanto ao seu aspecto formal, convém primeiras manifestações gráficas do homem,
professores de Educação Visual e conteúdo de destacar que a BD pode assumir modos de descobrem-se características de representação
manuais escolares, este artigo vem propor uma representação bastante diferentes: há quem ainda hoje utilizadas, principalmente pela BD.
revisão e reunião de conceitos que surgem utilize o balão e há quem não o utilize, sendo Uma dela consiste no traço negro que
quando se fala de banda desenhada. Pretende- o texto entendido como legenda e contorna as figuras, linha que não existe na
se recordar ao executor e ao leitor, métodos simplesmente associado à imagem (Príncipe natureza e que constitui apenas uma
que lhe permitam analisar uma banda Valente de Harold Foster). Também não é convenção representativa. A outra característica
desenhada em função do lugar que ela ocupa absolutamente obrigatória a associação do é a preferência pela postura de perfil na
na história da arte, do ponto de vista da sua texto à imagem, pois existem casos de bandas representação das figuras: observada nas artes
forma gráfica, ou seja, das suas técnicas de desenhadas onde não se inclui qualquer texto. mesoptâmica, cretense e sobretudo egípcia, e
expressão (linguagem e códigos) e do ponto de Quanto à configuração da “prancha” e hoje, em certo tipo de BD esquemática, como
vista do seu conteúdo ideológico e mitológico, respectiva divisão em “tiras” e “vinhetas”, é o caso dos Peanuts. O perfil parece
ou seja, do papel psicológico e social que também convém saber que este sistema não é corresponder a uma necessidade de
desempenha na nossa cultura e também do um critério universal: as bandas desenhadas representar seres em movimento ou a praticar
ponto de vista sociológico. Como linguagem chinesas, por exemplo, apresentam-se sob a acções. Em comum com a representação pré-
de fusão, ela poderá ser alvo de análise e forma de pequenos fascículos compreendendo histórica, a banda desenhada partilha das
estudo expansivo multidisciplinar. apenas uma imagem por página. Actualmente mesmas estratégias gráficas de natureza
têm surgido inúmeros autores que optam por simbólico-figurativa: ao desejar imitar o real, o
1. GENERALIDADES SOBRE A abolir o tradicional “quadrado”, ou o fazem artista exagera ou minimiza certos aspectos
BANDA DESENHADA desaparecer em determinadas pranchas. gráficos a fim de acentuar o significado do que
pretende transmitir com os seus desenhos
1.1. Definição da banda desenhada O público da banda desenhada é bastante (Vénus pré-históricas, de seios e ancas
heterogéneo, existindo BD (s) para distintos enormes, e as figuras do Popeye ou Astérix
Banda Desenhada (BD) é toda a história grupos etários, e BDs para todos as idades, com os respectivos exageros corporais).
desenhada e impressa. onde cada um se situa a um “nível de leitura”
diferente, como acontece em Astérix, ou em No surgimento das primeiras formas de
Em primeiro lugar existe uma história: uma Tintim, ou em Mafalda. Do mesmo modo, linguagem codificada, as primeiras escritas são
banda desenhada conta uma história através não existe um tipo específico de narrativa para ainda figuras ou pictogramas, dos quais se
de uma sucessão temporal de situações reais banda desenhada, todos os géneros podem destaca a elaborada escrita egípcia. É
ou imaginárias, tendo em comum uma ou ser tratados nesta linguagem verbo-icónica: o justamente na convergência e relação entre a
várias personagens, sendo geralmente humorístico, o realista, o fantástico, o familiar, imagem (pictograma) e o sinal (a escrita, a
centrada num herói que dá o seu nome à o histórico, o policial, o western, ou ainda ideia) que se encontra o centro do fenómeno
série. A acção, ou encadeamento dos combinações mistas destes géneros. da banda desenhada. Lembremos o uso de
acontecimentos vai exprimir-se numa imagens que se transformam em sinais (uma
sequência de cenas desenhadas (sucessão de Na autoria duma banda desenhada lâmpada num balão significa ter uma ideia),
imagens), ainda que por vezes o geralmente associam-se dois tipos de ou o uso de sinais transformando-se em
desenvolvimento temporal no seio de uma profissionais, o argumentista, que cria a imagens (as letras grandes e grossas significam
imagem possa ser igualmente sugerido pela história, e o ilustrador, que concebe os gritar em voz alta). Quando o desenho
sobreposição dos balões de um diálogo entre desenhos, podendo a este último trabalho ultrapassa uma dimensão naturalista e
várias personagens. associar-se os coloristas e os “arte-finalistas”. racional, retoma todo o seu valor simbólico,
Tal como num filme, a produção de uma ou seja, conduz a múltiplos significados e
A forma impressa: a noção de impresso insiste banda desenhada pode assumir o carácter interpretações.
no carácter manejável do suporte material da colectivo, se bem que existam autores que
banda desenhada, semelhante ao do jornal ou realizam todo o trabalho: criação de texto, Do ponto de vista da “literatura gráfica” é
ao do livro. É por este motivo que em termos desenho e pintura. durante a Idade Média que se formam os
de actividade preceptiva do leitor, a BD se elementos constitutivos da banda desenhada
aproxima mais da literatura do que do cinema 1.2. Origens da banda desenhada moderna. A célebre tapeçaria de Baiyeux (séc.
ou mesmo do desenho animado. O leitor só XI) é um bom exemplo do que consideramos
utiliza o sentido da visão: percorre com os Pela sua própria natureza, e de acordo com a hoje a “banda desenhada”: com 70 metros de
olhos determinada ordem de imagens fixas; definição proposta, a literatura gráfica comprimento, representa uma sucessão de
reconstitui o universo dos sons e dos encontra-se ligada às técnicas de reprodução, cenas de batalha acompanhadas por textos
movimentos sugeridos; lê textos quando ou seja, à imprensa. A história da origem da descritivos das acções.
existem e pode ainda voltar atrás como banda desenhada pode ser dividida em dois
acontece com qualquer livro. Pelo facto de ser momentos: Decorrente da função religiosa-didáctica, nos
impressa, a BD junta-se ao conjunto dos mass sécs. XII e XIII, o texto e a imagem coexistem
media, ou técnicas de difusão colectiva. Antes da invenção da imprensa (os sob diversas formas: nos tímpanos das igrejas,
antepassados das imagens populares); onde algumas personagens têm na mão
Para além destes factores que pelo seu carácter “bandeirolas” escritas, e nos vitrais, onde as
constante nos permitem uma definição da Depois do nascimento da imprensa (as cenas bíblicas são acompanhadas de texto em
banda desenhada, existem ainda algumas imagens populares impressas). jeito de legenda. Também nas miniaturas que
variantes a considerar: a forma, o público e a ilustram as Escrituras e nos Livros de Horas,
produção. Recuando à pré-história, donde datam as surge o surpreendente: da boca das figuras

1
Docente na Escola Superior de Educação de Santarém. Licenciada em Pintura e Mestre em Teorias de Arte (ESBAL/FBAL). Supervisora da Formação em Serviço, Artes Visuais.

20
saem “bandeirolas” onde estão palavras atenção. Assim, a banda desenhada encontra- extraordinários (O Superman voa – It´s a man,
inscritas. Nestes exemplos a situação centra-se se associada ao nascimento da imprensa it´s a bird, it´s a superman!), força hercúlea,
ainda em cenas isoladas, onde uma única periódica, assumindo duas vertentes: o jornal corpo de atleta e, finalmente, um vestuário
imagem resume toda uma série de satírico, por um lado, e o jornal para crianças, (disfarce) que simultaneamente o distingue e
acontecimentos funcionando como o por outro. representa uma imagem de marca. Enfim, pode
momento simbólico mais intenso da narrativa. dizer-se que é o impacto destas personagens
A dimensão temporal da narrativa encontra-se Do ponto de vista da sátira, a imagem assume que irá provocar na Europa uma grande
ausente. Privilegia-se o sistema sincrónico um papel de crítica social, utilizando geralmente adesão à banda desenhada americana.
relativamente ao diacrónico. a caricatura. Com a ascensão social da Paralelamente, no início dos anos 30, surge na
burguesia surge uma nova atitude relativamente Bélgica, com argumento e desenhos de Hergé,
A partir do séc. XV, com a descoberta dos meios às crianças, o que vem a suscitar técnicas a mais popular figura da banda desenhada de
tipográficos, a divulgação da palavra e da pedagógicas que se querem simultaneamente língua francesa, Tintin, que de acordo com a
imagem dá inicio a uma verdadeira revolução, instrutivas e lúdicas. Surge assim o jornal e os moral europeia, é o tipo realista, de coração
anunciadora de uma nova era. Numa época suplementos ilustrados, que constituem uma puro e defensor da justiça.
em que poucas pessoas sabiam ler, “os forma de transmitir valores adequados ao
contadores de histórias” recorriam a imagens sistema ideológico: a religião, a pátria, a família, 1.4. Sociologia da banda desenhada
que, comentadas oralmente, representavam os a honra e a ordem social. Outra corrente
principais momentos da história. O aspecto igualmente conservadora, mas mais laica e TINTIN: RETRATOS DA HISTÓRIA DO SÉC.
mais interessante desta estratégia é o facto deste virada para o aspecto lúdico dos jornais, opta XX
trabalho representar uma primeira forma de pela ilustração de sequências de textos da As histórias criadas por Hergé para esta
planificação sistemática do texto e do desenho, literatura juvenil. Ainda assim, as imagens personagem são um caso paradigmático na
uma vez que a cada imagem se encontrava continuam mais associadas à ilustração do que sociologia da banda desenhada, pois todas
associado um comentário. Quando este passa à banda desenhada, sendo que no primeiro elas se centram em problemas da actualidade
a ser escrito em vez de falado encontramos a caso as imagens são estáticas, e no segundo histórica e numa dada região do mundo: o
banda desenhada. visam a representação do movimento. regime bolchevique russo (Tintin no País dos
Sovietes); a colónia belga do Congo (Tintin no
A associação de imagens a textos encontra-se A partir dos finais do séc. XIX, autonomizadas Congo); a sociedade americana (Tintin na
inicialmente em publicações de carácter popular, relativamente ao jornal, começam a aparecer as América); os traficantes do Médio-Oriente (O
em revistas tipo almanaque, e simultaneamente primeiras bandas desenhadas sob a forma de Caranguejo das Tenazes de Ouro); a invasão
na ilustração de livros e romances. álbum. A sua linguagem e modos de fazer japonesa da China (O Lótus Azul); os índios e
Progressivamente o desenho torna-se o encontram “escolas” ou “estilos” que numa os regimes militares da América do Sul (Tintin
elemento dominante: por vezes as folhas de primeira abordagem permitem fazer uma e os Pícaros); os moedeiros falsos (A Ilha
papel são divididas em “casas”, cujo número e distinção entre o “estilo europeu” e o “estilo Negra). No entanto, a pressão político-social
dimensões são variáveis. As imagens americano”. também se faz sentir na produção do
representam cenas sucessivas de uma história argumento da banda desenhada. Assim,
curta, sob as quais, um pequeno texto esclarece No primeiro, os argumentos baseiam-se quer devido à ocupação alemã, Hergé viu-se
a narrativa visual. O sentido da leitura é idêntico no contexto político-social, quer na cultura obrigado a abandonar os argumentos sobre
ao da literatura escrita: de cima para baixo, e da histórica. A sátira dos costumes utiliza por vezes a realidade, virando-se para histórias
esquerda para a direita. o processo da fábula, na qual os animais falam baseadas em ocorrências estranhas, em
e dão corpo aos defeitos e às paixões humanas. países exóticos, tipo “caça ao tesouro” (que
Ao longo dos sécs. XVII e XVIII estes Surge um tipo de banda desenhada serão recuperadas pelo cinema com Spielberg
antepassados da moderna banda desenhada “animalista”. Por sua vez, a “humanização” das em filmes como Os Salteadores da Arca
foram de grande importância, não só na figuras, à semelhança dos desenhos infantis, Perdida), das quais se destacam A Estrela
formação duma cultura popular, mas também torna-se uma importante estratégia Misteriosa, O Tesouro de Rackam o Terrível,
na alfabetização do mundo camponês. No séc. comunicativa, quer para crianças, quer para Os Charutos do Faraó, As Sete Bolas de
XIX acentua-se a importância dos meios de adultos. Cristal e o Templo do Sol.
divulgação. Na sua forma actual, a banda
desenhada tem a sua origem a partir de O “estilo americano” caracteriza-se pela acção ALIX E ASTÉRIX: AS RAÍZES DA
meados do séc. XIX. Nessa altura, Rudolphe centralizada na figura do herói e pelas séries, CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
Topffer, o pai da banda desenhada, propunha a que transformam cada conjunto de álbuns num Tal como Tintin, Alix é a personagem que dá
expressão “literatura em estampas”. Outras produto inesgotável de acontecimentos e o nome ao álbum. Um rapazinho pela idade
definições têm sido encontradas por diversos peripécias, aliciando o leitor para o seu de Tintin. As características de realismo
autores: “literatura gráfica” (Francis Lacassin), consumo pelo efeito da continuidade. O herói narrativo são idênticas, mas a acção decorre
“figuração narrativa” (Pierre Couperie). Grandes torna-se uma personagem dum mundo de na bacia do Mediterrâneo sob o domínio do
artistas associam o seu nome às imagens que ficção que urge acompanhar. império romano. Destaque-se o cuidado
realizam quer na ilustração de romances, quer colocado na reconstrução fiel das
na ilustração de cartazes: em França, destacam- 1.3. Os heróis indumentárias, adereços e arquitectura: uma
se Gustave Doré e Daumier; em Inglaterra, óptima estratégia para motivar os alunos para
William Hogarth e Thomas Rowlandson. Os heróis começam por ser, ou crianças, ou o estudo deste período da história.
animais “humanizados” (Crazy Cat, Mickey
Em virtude das exigências da impressão, quer o Mouse, Spirou), mas será a banda desenhada Em Astérix, sátira impiedosa ao império
cartaz, quer a banda desenhada obedecem às americana do pós-guerra que com Batman romano, predominam os aspectos
mesmas leis gráficas: esquematismo do traço, (início: 1939), irá traçar as características do caricaturais, quer na figura das personagens,
simplicidade das cores, necessidade de atrair a super-herói: dupla identidade, poderes quer no cómico implícito na narrativa.

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Enquanto que em Alix o leitor participa da O CÓDIGO PICTÓRICO diz respeito à planificação. A contaminação destas duas
angústia com que a personagem (que tal como articulação entre a imagem e o texto, ao tipo de formas de linguagem observa-se inicialmente na
Tintin, de extraordinário só tem a sageza e a traçado e à utilização da cor ou do preto e banda desenhada centrada em argumentos em
sorte) vive e resolve as situações que se lhe branco. A utilização do termo “pictórico” tem que o herói e a aventura, históricos ou fictícios,
deparam, já em Astérix, espécie de paródia ao origem na associação que inicialmente terá sido têm o principal papel; no cinema esta
super-herói americano, o leitor, tranquilizado feita entre o “quadradinho” (vinheta) da B. D. e contaminação verifica-se com a introdução das
acerca do poder da “poção mágica” que mais o “quadro” (pintura), pela geometria da sua técnicas do cinema de animação e, hoje cada
tarde ou mais cedo será usado como recurso forma (quadrado ou rectângulo), e ainda pelo vez mais, com as tecnologias multimédia:
para resolver os conflitos, pode fruir todas as facto de cada um desses qua(dra)dros ter sido lembremo-nos de filmes como “Mary Poppins”,
situações que se centram nas características entendido (ainda no espírito da pintura “Quem tramou Roger Rabitt”?, “Toy Story”,
psico-fisiológicas das personagens. Estes renascentista) como “janela” para uma “cena”. “Batman” (série de televisão com personagens
aspectos tornam Astérix particularmente No entanto, a imagem estática só por si não reais, cujos sons são traduzidos por
interessante para o estudo da caracterização passaria de uma ilustração. onomatopeias gráficas), etc.
psicológica e da correspondente caricatura, em
aulas de Português e Educação Visual. Em termos de grafismo, associa-se à linguagem PLANIFICAÇÃO
da B.D. o traçado linear que define o contorno O autor duma banda desenhada terá de a
A BANDA DESENHADA CRÍTICA das figuras e objectos. Por vezes, às silhuetas planificar como se planificasse um filme. Para tal,
(INTELECTUAL, PARODIANTE E simplificadas faltam detalhes realistas, sendo basta imaginar que o quadradinho da banda
UNDERGROUND) estes compensados pelo leitor, que fará agir o desenhada é uma tela de cinema e pensar na
Apropriando-se da linguagem da banda seu inconsciente para se acomodar a um organização e sequência a dar às imagens, tal
desenhada, a partir dos anos 50 desenvolvem-se modelo por si compreendido. Esta tendência como um camera-man. Assim sendo, há a
duas correntes: a B.D. “intelectual”, que olha para a simplificação gráfica é predominante nas considerar os seguintes aspectos comuns à
criticamente a sociedade e o mundo, e a banda bandas desenhadas satíricas e humorísticas banda desenhada e ao cinema: o
desenhada “parodiante”, que plagia com humor onde o traço visa a caricatura. A título de enquadramento, o plano, o ponto de vista e a
as séries da idade de ouro americana. As exemplo, observem-se as figuras montagem.
bandas desenhadas “intelectuais” apresentam-se antropomórficas dos animais de Walt Disney,
sob a forma de comic strips, normalmente a cujas mãos têm quatro dedos, ou as orelhas do O ENQUADRAMENTO é, por assim dizer, o
preto e branco. Exemplos: os Peanuts (Snoopy), Mickey ou da Minie, que em qualquer posição “formato do écran”, que na B.D., gozando de
Mafalda, Calvin & Hobbes, etc... mantêm inalterável a sua forma circular. maior liberdade, se traduz pelo formato,
geométrico ou não, da vinheta. Um
A FICÇÃO CIENTÍFICA PÓS-MODERNA A utilização tardia da cor na banda desenhada enquadramento circular, por exemplo, permite
Particularmente motivador para os adolescentes, prende-se a questões de natureza económica, já usar diversos processos narrativos, como um
o género ficção científica é hoje um dos mais que o custo elevado da impressão constituiu flash back (retorno rápido ao passado,
praticados pelos argumentistas. Os temas uma limitação ao seu uso. Exemplos notáveis da recordação, referência ou alusão). Ao conjunto
andam à volta dos grandes problemas actuais: utilização do preto e do branco podem ser sequencial das vinhetas (quadradinhos) com a
a catástrofe ecológica, a clonagem, observados em Dick Tracy (1931), Príncipe disposição horizontal chamamos tiras. Uma
apocaliptização do futuro. Quebrando a Valente, Corto Maltese (Hugo Pratt, 1967), entre prancha (página) será então, no formato mais
tradição do herói que dá nome ao álbum ou à outros. Do ponto de vista do simbolismo, o alto tradicional, um conjunto de tiras. A leitura, como
série, estas histórias são mais fáceis de identificar contraste do preto e do branco está associado já vimos, revela o hábito da cultura ocidental: da
pela autoria: Bilal, Segrelles, Moebius, entre ao conjunto de símbolos esquizomorfos, esquerda para a direita e de cima para baixo.
muitos outros, significam a proeminência da baseados simultaneamente na oposição e na
intencionalidade do autor em criar argumentos separação; cria atmosferas onde domina o O formato e o tamanho da vinheta podem
únicos, aproximando-se da obra literária. As fantástico, o terror, a tensão. Recurso alterar-se de acordo com o plano que se queira
características estruturais da narrativa são por amplamente utilizado no cinema expressionista representar. Assim, uma vinheta comprida e
vezes duma tal complexidade que, rompendo de Eisenstein, Fritz Lang, Murnau e até horizontal é ideal para um plano panorâmico,
com as tradicionais linearidade e causalidade, Hitchcock. geralmente utilizado no início das histórias. Uma
causam no leitor uma perplexidade semelhante vinheta comprida vertical equivale à panorâmica
à de uma viagem na “montanha russa”, ou na O uso da cor pode ter como finalidades a vertical do cinema, permitindo representar as
“máquina do tempo”, onde se baralham todas legibilidade, a verosimilhança, ou o simbolismo arquitecturas ou paisagens que se desenvolvem
as coordenadas espácio-temporais. Por sua vez, afectivo. Por legibilidade entende-se a distinção de baixo para cima, ou ao contrário.
o grafismo, as técnicas picturais são da maior das zonas numa mesma vinheta. Assim, o autor
diversidade, e os códigos tradicionais da banda pode aplicar uma determinada cor a todos os O PLANO corresponde ao plano da vista, e tal
desenha, interpretados com maior liberdade, balões de fala, uma outra, a todas as legendas, como acontece quando olhamos através da
quebram a divisão rígida da prancha, ou a etc. Entendida deste modo, a cor fará parte da objectiva duma máquina de filmar, ou duma
delimitação da mancha do texto. Na planificação e será um factor de identificação máquina fotográfica, aproximamos ou
generalidade, observa-se uma crescente rápido. Por verosimilhança queremos dizer afastamos cenas, figuras e cenários.
sofisticação no grafismo e na erudição do semelhança com o real. Obviamente uma
argumento, o que representa a valorização imagem colorida terá muitos mais elementos Dum modo geral, distinguem-se sete planos
desta forma de comunicação associada ao que a associam ao real. A utilização simbólica possíveis: o plano panorâmico, o plano geral, o
consumo popular, aproximando-a mais do da cor é, no entanto, o aspecto mais significativo plano de conjunto, o plano médio, o plano
objecto artístico e literário. da banda desenhada. Alguns autores incluem americano, o grande plano e o close-up.
na planificação este factor.
AS TÉCNICAS DA BANDA O PONTO DE VISTA é o resultado de uma
DESENHADA O CÓDIGO CINEMATOGRÁFICO é o certa posição ou de um certo movimento da
suporte da narração. Vai para lá da utilização câmara de cinema. O ponto de vista normal
As técnicas de expressão da banda desenhada do código anteriormente referido porque corresponde ao campo de visão do homem em
decorrem de três códigos: pretende, tal como no cinema, traduzir o pé. A visão em plongé (de cima para baixo)
movimento e o ritmo através de cada imagem e coloca a câmara ou o olho do observador por
O código pictórico; pela sucessão das mesmas. O vocabulário cima da cena. Pelo contrário, em contre-plongé,
O código cinematográfico; utilizado é o mesmo do cinema: a observação é feita abaixo do ponto de vista
O código ideográfico. enquadramentos, planos, pontos de vista, normal. O travelling consiste em aproximar ou

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afastar a câmara da cena filmada, ou ainda em sentido natural da leitura, ao colocar no canto motivo que o universo do público-alvo é
acompanhar uma pessoa ou objecto em esquerdo acções anteriores, e no canto direito relativamente amplo, pois sendo o tema
movimento. Em banda desenhada, isto é acções posteriores. Outro recurso consiste em transversal às linguagens verbal-escrita e visual,
traduzido por uma série de planos sucessivos, dar às personagens a mímica do movimento. reúne duas das problemáticas mais discutidas
geralmente em vinhetas com as mesmas No desenvolvimento desta técnica acrescenta-se em Educação: a literacia artística e a promoção
dimensões para acentuar a impressão de ainda a possibilidade de sugerir o movimento da leitura. Pela sua característica multimodal, a
movimento. O fondu enchainé consiste na fusão pela divisão do mesmo em diversas posições. Banda Desenhada, desenvolve apetências para
de duas imagens em que a primeira se dissolve, Por exemplo: numa vinheta representa-se um a leitura e capacidade de produção de discurso,
enquanto a segunda se torna cada vez mais movimento de partida e na seguinte, um nomeadamente em crianças e jovens com
nítida. E, finalmente, a técnica do campo/contra movimento de chegada. O leitor imagina dificuldades nestes domínios. Simultaneamente
campo, que consiste na apresentação de duas mentalmente as posições intermédias. lúdica, racional e intuitiva, desenvolve
imagens sucessivas, sendo a segunda o Finalmente, pequenos sinais gráficos lineares, os competências nos domínios do pensamento
complemento visual da primeira. Esta técnica “sinais cinéticos”. plástico-visual e da expressão escrita, entre
representa o movimento de rotação à volta da outras.
personagem ou objecto. O texto “falado” é geralmente colocado em
balões, tão diversos tanto quanto ao seu Esperemos com este artigo, ter contribuído para
ARTICULAÇÃO IMAGEM-TEXTO formato quanto à sua função na oralidade. Os estimular a apetência dos educadores pela BD,
A planificação secciona o texto e procede à SONS e as vozes indiferenciadas são traduzidos quer como consumidores, quer como
correspondente distribuição das imagens, graficamente de tantos modos quantos os promotores da sua prática e fruição.
sintetizando as intenções dos autores quanto aos desenhadores conseguirem inventar. No
recursos gráficos e estratégias da narrativa entanto, existem algumas constantes, tais como:
verbo-icónica: onde colocar o texto? Sob que os gritos são representados pela dimensão das Bibliografia
forma? Diálogos? Descrições? Onomatopeias? letras (quanto mais alto é o som, maior será o
Que enquadramentos, pontos de vista e planos tamanho das letras). Neste caso o balão é BLANCHARD, Gérard (1974) Histoire de la Bande Dessinée, Marabont,
Paris.
se deverão utilizar? dispensável porque limita a expansão do som. DEUS, A (1997) Os comics em Portugal, Lisboa, Cotovia Bedeteca de Lisboa
Quanto às onomatopeias, uma espécie de FERRO, J. (1987) História da banda desenhada infantil portuguesa, Lisboa,
A planificação compreende ainda a criação e “imitações verbais” dos sons, físicos, mecânicos, Editorial Presença.
FRESNAULT- DERRUELE, P (1972) Dessins et Bulles: la bande dessiné comme
caracterização das personagens. Criação e etc. (glup, crash, vroum, snif, zzzzz ...), não se moyan d´expression, Paris, Bordas.
caracterização dos espaços (interiores, exteriores, destinam propriamente a ser lidas, mas a serem LA BORDERIE, René: Les images dans la Societé et l´Education. Casterman,
1972.
outros!); símbolos, cor, etc... Ou seja, a banda olhadas e integradas no sentido do conjunto, PAZ, A (1997) Es un livro? Es una película? Es un comic? In Lomas, C (org.)
desenhada, tal como um filme, corresponde ao reforçando o seu carácter simbólico- El aprendizage de la communication en las aulas. Barcelona, Ed. Paidós,
Ibéria, SA (249-261).
desenvolvimento de uma ideia e a um projecto comunicativo. RECASENS, Margarita (1990)Como Jogar com a Linguagem, Lisboa,
Plátano Editora.
muito bem elaborado. RENARD, Jean-Bruno, A Banda Desenhada. Lisboa, Editorial Presença,
Vários sinais, hoje já historicamente Colecção Dimensões, 1981 (1ª edição: Editions Seghers, Paris, 1978).
A cada imagem deverá corresponder um convencionados, utilizam-se para exprimir A ROUX, A (1970) La bande dessiné peut être educative. Paris. Editions de L´
Ecole.
fragmento de texto, se bem que possam existir VIDA PSICOLÓGICA, constituindo, no fundo, SÁ, C (1988) A banda desenhada no ensino do português (língua materna),
Actas do 1º Encontro nacional de Didácticas e Metodologias de Ensino da
na B. D. imagens sem texto (predomínio da um modo de exteriorizar os aspectos subjectivos Universidade de Aveiro.
velocidade ou do detalhe), ou texto sem das personagens. Exemplos: um balão vazio
imagem (comentário, descrição). Sendo assim, indica um estado de perplexidade (o equivalente AUTORES E ÁLBUNS DE BANDA DESENHADA
CLÁSSICOS:
observam-se três modos principais de gráfico da expressão “não sei o que dizer”, “não DAVIS, Jim: Garfield [vários volumes], Lisboa, Meribérica Liber, 1999
articulação entre imagem e texto: sei o que pensar”). O sonho ou o devaneio, (múltiplas reedições). [O humor em grande estilo. Para todas as idades.
Pequenas histórias em formato de tira.]
uma evocação ou uma recordação, são FALK, Lee & BARRY, Sy: Fantasma, o justiceiro da selva, Lisboa, Círculo de
Um texto único sob a imagem; figurados por um balão em forma de nuvem; o Leitores, 1980. [Tem por tema a história de acção e o herói ].
FALK, Lee & DAVIS, Phil: Mandrake no País dos Homens Minúsculos e
Um texto único no interior da imagem; sinal que figura o aparecimento de uma ideia, Mandrake no País dos Faquires, Agência Portuguesa de Revistas, s/d. [Tem
ou a compreensão súbita de um problema é por tema o fantástico e o onírico em cenários exóticos: em meados dos anos
30, inicia-se a sua publicação em tiras diárias, em jornais e revistas...] .
Vários textos na imagem. bem conhecido: trata-se de uma lâmpada FOSTER, Harold: Prince Valiant, [ preto e branco, vários volumes], Slaktine
B.D., 1980. [Tem por tema a história medieval: a sua publicação em tiras
eléctrica acendendo-se, metáfora que compara diárias, em jornais e revistas, ocorre entre 1937 e 1939 ] .
Neste último caso, para além do texto, poderão a inteligência à luz; noutros casos, uma FOSTER, Harold: Príncipe Valente, [ edição a cores, vários volumes], Editorial
Asa, 1990.
existir balões e todos os ideogramas possíveis. O representação de engrenagens e sons GOSCINNY & UDERZO: Astérix [vários volumes], Lisboa, Meribérica Liber,
texto sonoro pode assumir duas formas mecânicos associa-se metaforicamente a um 1996 [de entre inúmeras reedições]. [Tem por tema a ficção histórica e
humorística; a acção decorre durante o domínio do Império Romano].
principais: sem balão, se se trata de ruídos laborioso trabalho mental. HERGÉ: As aventuras de Tintin [vários volumes], Lisboa, Difusão Verbo, 1995
inesperados e “invasores” (onomatopeias, gritos, [de entre inúmeras reedições].[Acção, aventura e humor, retratando, quer
acontecimentos da história do séc. XX, quer, mais fantasiosamente, temas e
um tiro, etc.). Se se trata de palavras ou de Os ideogramas dos sentimentos são bastante contextos exóticos].
HERRIMAN, George: “Krazy Kat”, [7 volumes], Lisboa, Livros Horizonte,
pensamentos, o texto poderá ser rodeado de conhecidos, desde o coração para indicar amor, 1991. [Tem por tema o humor absurdo: em meados dos anos 30, inicia-se
a sua publicação em tiras diárias, em jornais e revistas...] .
um “balão” com um apêndice que indica a até aos pontos de interrogação, ou exclamação, MARTIN, Jacques: Alix, [vários volumes], Lisboa, Edições 70, 1983. [Tem por
origem do som (o emissor). respectivamente para indicar surpresa, ou tema a ficção histórica; a acção decorre durante o domínio do Império
Romano].
espanto. A cólera é geralmente figurada com MCCAY, Windsor: Little Nemo in the Slumberland (O pequeno Nemo no
O CÓDIGO IDEOGRÁFICO tem como nuvens negras e relâmpagos, ou uma sopa de país dos sonhos), [4 volumes], Lisboa, Livros Horizonte, 1990. [A temática é
onírica e fantástica: as histórias baseiam-se nos sonhos fantásticos de um
função dar a ilusão da vida, através duma série sinais que pretendem exprimir as emoções rapazinho. A sua primeira publicação decorreu entre 1905 e 1911, em tiras
diárias e a cores ].
de estratégias gráficas que permitem traduzir os negativas. PRATT, Hugo, Corto Maltese [diversos volumes por história; vários títulos.
sons, o movimento, a psicologia das Produção extensa], Lisboa, Edições 70, s/d (múltiplas reedições). [Aventura
poética: Corto Maltese “viaja” na história dos acontecimentos e no espaço
personagens, etc. A essas estratégias dá-se a Estamos portanto a falar de METÁFORAS geográfico].
WATTERSON, Bill: Calvin & Hobbes [vários volumes], Lisboa, Editorial
designação de “desenhos simbólicos” ou VISUAIS, e os exemplos não têm fim. Gradiva, 1990 (múltiplas reedições). [A vida familiar, a escola, as
ideogramas. Procuremo-las, pois, e transformemos esta brincadeiras e os amigos com um genial sentido crítico e humor. Para todas
as idades. Pequenas histórias em formato de tira.]
pesquisa numa divertida tarefa didáctica.
Para a representação do MOVIMENTO existem EXEMPLOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA (AUTORES EUROPEUS)
BILAL & CHRISTIN: O cruzeiro dos esquecidos; A cidade que não existia; A
vários recursos gráficos: organização do plano Em suma, na ilustração narrativa, ou banda caçada; As falanges da ordem negra; O navio de pedra. Publicados por
dentro de uma vinheta, criando a ilusão de desenhada convergem vários domínios do Meribérica Liber.
BILAL: A feira dos imortais; Memórias d´além espaço; A mulher armadilha.
profundidade entre o primeiro e o último planos saber: literário, artístico, histórico e sociológico; e Publicados por Meribérica Liber.
(essa profundidade, além de espacial, também operações do “saber–fazer”: sintetizar, planificar, MEZIERES, J.C. & CHRISTIAN P. : Valerien, agent spatio-temporel [vários
volumes e várias histórias com o herói Valerian].
sugere a diferença temporal); utilização do experimentar, seleccionar, produzir. É por este SCHUITEN & PEETERS: As cidades obscuras [com esta temática existem
várias histórias em diferentes álbuns]. Publicados por Meribérica Liber.

23
Artístas
de palmo e meio
Catarina Coelho

CRIATIVIDADE Não se trata apenas de mais um novo conceito Gardner (1993;1994ª;1994b;1995) prossegue
de educação. “Trata-se de uma forma de neste sentido com a Teoria das Inteligências
Etimologicamente, criatividade, tem a sua educação projectiva, que formará homens Múltiplas, em que a ideia central é a de que a
origem nas palavras criar e criação, há, então, capazes de assumir o futuro.” (Alberto Sousa, inteligência é composta por um amplo espectro
que diferenciar criação e criatividade. Criação 2003, p.197) Sendo cada vez maiores os de competências que inclui as dimensões
refere-se ao aparecimento real de uma coisa, avanços da técnica e da ciência e tão diferentes corporais, lógico-matemática, linguística,
de uma obra que não existia antes, por acção e imprevisíveis os problemas que o progresso musica, interpessoal e cinética.
deliberada e consciente. Criatividade é uma faz surgir constantemente, parece
capacidade, uma aptidão. Segundo Alberto completamente desajustado pensar que a Os contributos dos estudos de Gardner,
Sousa (2003) ela é inútil se não levar à criação. criança aprenda a resolvê-los de uma forma referem-se essencialmente ao carácter múltiplo
erudita. Só uma educação voltada para a que a inteligência apresenta, não como
Se olharmos o conceito de criatividade através criatividade poderá permitir uma atitude criativa entidade isolada mas como uma teia, única e
dos estudos publicados pelos diferentes face aos problemas desconhecidos, através de global, de relações que se tece em todas as
investigadores desta área, ficaremos com uma uma constante invenção de novos processos e direcções que estabelecendo as possibilidades
ideia mais profunda sobre a sua importância. de constante colaboração e cooperação social. de manifestação da inteligência.
Para Guilford (1956), a criatividade é a
habilidade de gerar um leque de soluções Sob a forma de jogo, naturalmente e com A CRIATIVIDADE E O PROCESSO
possíveis para um problema que não tem maior simplicidade, a criança motivada, inicia a ENSINO – APRENDIZAGEM
resposta directa e simples. Drevdahl (1956) criação de toda uma sucessão de expressões
considera que, a criatividade é a capacidade do emocionais corporais, cada vez mais elaboradas “A criatividade precisa de um envolvimento onde
homem de produzir resultados de pensamento e precisas. Por muito que se estude, por maior se reconheçam e recompensem as produções
de qualquer tipo, pode tratar-se de imaginação número de conhecimentos que se adquira, imaginativas, para poder ser desenvolvida, com
ou de uma síntese mental que seja mais do que surgirão sempre problemas para os quais não segurança, pela criança.” (Sànchez, Martínez e
um mero resumo. A criatividade pode implicar a se possui solução preparada. Deverá então ser García, 2003, p.70).
generalização de novos sistemas e combinações criada a solução para o problema, e esta
de informações conhecidas, como também as criação será tanto melhor e mais fácil, quanto Na planificação do seu trabalho com crianças
transferências de relações conhecidas a novas melhor se estiver preparado para o fazer. criativas o professor deve ter em conta, em
situações e o estabelecimento de novas primeiro lugar, algumas orientações
correlações. Wollschlager (1972), diz que a Segundo Alberto Sousa, 2003, a educação nomeadamente, a organização das experiências
criatividade é a atitude de encontrar novas inter- criativa procura o desenvolvimento da de aprendizagem de uma forma individualizada
relações, de mudar significativamente as normas capacidade que o homem tem de conseguir e a organização e adaptação das
tradicionais, contribuindo assim para a solução imaginar, inventar e criar coisas novas e aprendizagens a cada aluno. Isto é importante
geral dos problemas da realidade social. originais. A capacidade de avançar para além para os alunos, porque lhes é dada a
do conhecimento e da mera inteligência possibilidade de trabalhar de forma
“A criatividade, pode então, ser entendida como associativa. Criatividade, é uma atitude na vida, independente respeitando o seu próprio ritmo
uma capacidade ou aptidão humana para uma capacidade para dominar qualquer de aprendizagem. Quanto ao trabalho de
produzir acções intelectuais inteiramente novas e situação da existência. perseverança e às actividades que impliquem
desconhecidas de quem as produz. Poderão um certo desafio intelectual, o professor deverá
tratar-se de produtos da imaginação ou de Não interessa que a criança possua um enorme introduzir o grau de complexidade e abstracção,
sínteses mentais, produzindo sempre caminhos conjunto de conhecimentos – soluções para os gradualmente e de forma conveniente. O
novos, constituindo por isso uma capacidade problemas que lhe são apresentados. Interessa ensino – aprendizagem deve ser cooperativo,
mais importante que a de aprendizagem de sim que ela se proponha a criar as suas próprias onde todos os membros vêem de alguma
conhecimentos.” (Alberto Sousa, 2003, p.189) soluções, que invente, que descubra e que crie. forma o seu trabalho recompensado.
O ensino tradicional impõe à criança um falso
Ainda segundo este autor, se a criatividade é realismo intelectual, que não é uma realidade, Segundo Sànchez, Martínez e Garcia (2003), o
uma potencialidade latente, há que possibilitar, mas uma aparência, visto que, com a professor deve delinear actividades orientadas,
através de meios e motivações adequadas, a velocidade progressiva da nossa sociedade para favorecer a aprendizagem de técnicas,
passagem deste poder criativo à acção criativa. global, o que hoje é certo, amanhã já não é estratégias e tácticas criativas, em vez da mera
Estimular a criatividade será também provar à certamente. Todos os investigadores convergem aquisição de conhecimentos. Isto exige ensinar a
criança que se confia nela, nas suas sobre a importância da criatividade no utilizar o conhecimento base, que cada criança
possibilidades de realização, levando-a a pensamento humano e das emoções como a transporta consigo, porque a criatividade não
descobrir que a criação é mais importante que energia que a acciona. existe no vazio. Deve-se valorizar sempre a
a simples execução reprodutiva. Devemos resposta original, não só a correcta, e criar um
encarar a criação como uma necessidade “A expressão das emoções através da ambiente propício onde se possam manifestar
biológica da criança, tal como as suas outras criatividade, ou seja, a criatividade expressivo- as ideias criativas. Situações de ambiguidade e
necessidades. A vida da criança é um processo criativa coloca-se, deste modo, como o desafio intelectual, a criança criativa precisa
em constante desenvolvimento, inteiramente objectivo imediato e sempre presente de uma desse ambiente estimulante, onde se
voltado para a construção de si. “Criar é mais educação centrada no desenvolvimento reconheçam e valorizem as suas ideias.
importante que contemplar a criação alheia. A cognitivo. A cognição não é, porém, uma
criança prefere fazer do que assistir ( e ela associação de partes (lógica, criatividade) mas Para estimular a criatividade individual e em
passa a vida a ser levada a assistir: às aulas, à um todo, uma forma de pensar em que todas grupo, o professor pode ensinar o aluno a
TV, ao futebol…).” (Alberto Sousa, 2003, estas formas estão simultaneamente presentes e reflectir e pensar previamente sobre o problema
p.196). Uma educação criativa corresponde a interactuantes, de um modo global.” (Alberto ou situação a resolver, criar a disposição de
uma necessidade indispensável à vida actual. Sousa, 2003, p.207) ânimo e a abertura mental para admitir outras

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ideias e saber rejeitar as preconcebidas, ajudá-lo pesquisa de várias obras de pintores já
a ser receptivo às ideias dos outros e a conhecidos dos alunos, afim destes elegerem
comunicar a produção criativa. Pôr de lado a uma como base do seu trabalho. Foi
aprendizagem autoritária, não quer dizer conveniente que os alunos se
eliminar o respeito pelas normas e regras responsabilizassem pela escolha das obras a
estabelecidas. trabalhar uma vez que iram apoderar-se destas
como suas afim de as transformar em
Diz Sànchez, Martínez e Garcia (2003) que o esculturas. Para que todo o processo tivesse
ensino criativo requer imaginação, flexibilidade, sucesso foi imprescindível que os alunos
originalidade, capacidade de adaptação e a gostassem do que estavam a fazer, a produzir.
sua utilização na solução de problemas dentro
do currículo. Por conseguinte é necessário que o Logo após esta escolha, o aluno reproduziu a
professor se familiarize e assimile os princípios obra de arte em desenho copiado à mão livre e
básicos do ensino criativo que contribuem para colorido a lápis de cor, a título de projecto, uma
a realização do potencial criativo do aluno. Um vez que teriam de seleccionar da obra o
ensino com uma natureza flexível; criativa e elemento ou os elementos que iriam reproduzir
imaginativa; que fomenta o uso de materiais e em três dimensões.
ideias recriando a sua utilização; que fortaleça a
relação pedagógica; que fortaleça a auto- Na segunda fase do processo, o aluno inicia a
direcção e a auto-valorização. Um ensino construção da sua escultura tendo para isso
criativo comporta alguns riscos mas também papel de jornal e fita-cola ou cordel para a
tem muitas recompensas quer do ponto de vista estrutura. Esta será uma estrutura modelada
do professor quer do ponto de vista do aluno. onde o papel de jornal é modelado através das
Para se poder desenvolver a criatividade é ataduras produzidas pela fita-cola e vai dando
necessário um ambiente onde se reconheçam e A arte enquanto conhecimento do ser humano, forma à produção artística do aluno. Quando
se recompensem as produções inventivas e do mundo, articula as dimensões, teórica e se justifica o aluno pode utilizar diferentes
imaginativas. prática da criação artística. A dimensão teórica espessuras de papel ou mesmo cartão. Esta será
abrange a abstracção, a planificação, a uma escultura completamente em papel, desde
Unidade de Trabalho: ARTÍSTAS DE intencionalidade do fazer/trabalhar/construir a estrutura ao revestimento, que será em papel
PALMO E MEIO artístico. A reflexão na acção criadora, a reflexão maché. Posteriormente foi pintada de branco
sobre essa mesma acção, a imaginação, o para ocultar as sombras produzidas pelo jornal
saber metacognitivo. A dimensão prática na transparência do papel maché.
traduzindo-se pela ascensão do abstracto ao
concreto, pela influencia em determinadas Esta foi uma unidade de trabalho a que os
técnicas, pelo domínio de um certo “saber fazer” alunos se dedicaram desde o início até à sua
artístico. A proposta pedagógica do Currículo conclusão. Empenharam-se e viram a
Nacional do Ensino Básico de Educação construção de uma escultura, através dos seus
Artística sinaliza claramente a importância de se próprios recursos, com um resultado final que
trabalhar pedagogicamente a complexidade da agradou a todos, em especial aos alunos. Nesta
modalidade típica do processo criativo. unidade de trabalho pode ainda ser observado,
Organizar as intervenções educativas tendo como os alunos se envolvem de uma forma
como base de trabalho a Obra de Arte em “completa”, com todo o corpo tocando a
torno dos eixos do “fazer artístico”: Fruição – psicomotricidade. Quando amassam o jornal,
contemplação; Produção – criação; Reflexão – uns de uma forma concentrada outros de uma
interpretação. Os exercícios artístico-estéticos forma mais agressiva, parecendo aliviar alguma
têm-se revelado um procedimento eficaz no pressão.
sentido de desafiar o aluno a desenvolver uma
I leitura crítica do ambiente social e cultural no Foi uma experiência muito enriquecedora, que
qual ele está inserido e com o qual interage, permitiu aos alunos sentirem as suas próprias
mobilizando as dimensões prática e teórica do experiências, e não será essa a base da
conhecimento artístico. criatividade?

É neste sentido que esta unidade de trabalho Referências Bibliográficas


vem propor aos alunos do 6º ano do ensino
básico que através do conhecimento da obra de EISNER, E. W.; GUILFORD, J. P.; KOGAM, N.; LAGEMANN, J. K.;
arte, façam uma recriação, transformando, SIEBER, J. E.; SINGER, J. L.; TORRANCE, E. P. Y WALLACH, M. A.
(1983)– Creatividad y Educación – Barcelona; Editorial Paidós
apoderando-se assim dos elementos que Educador.

compões a obra de arte. Passando a conhecer GARCIA, CARMEN F.; MARTÍNEZ, OLIVIA L. E SÁNCHEZ, MARIA
D. P. (2003); - La Creatividad en el contexto escolar – Estratégias
estes elementos de uma maneira quase intima, para favorecerla – Editora Píramide.
GARDNER, HOWARD (1995) – Inteligências Múltiplas – A Teoria
pois a composição proposta pelo autor Na Pratica; Porto Alegre; Artmed
estudado é agora de alguma maneira sua SOUSA, ALBERTO B. (2003) – Educação pela Arte e Artes na
Educação – 1º Volume Bases Pedagógicas; Colecção Horizontes
também. Pedagógicos; Instituto PIAGET
VIGOTSKY, L. S. (2001) – A Construção do Pensamento e da
Linguagem. - Colecção Psicologia e Pedagogia; Editora Martins
A unidade de trabalho iniciou-se com a Fontes

25
REINVENT’AR-TE
“O Património Português de lés a lés”
João Pedro Bogalho

Os alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico (5º e


6º Anos) da Escola EBI Padre Francisco Soares
(Torres Vedras) desenvolveram durante o
ano Lectivo de 2007/2008, um trabalho de
aproximação à arte, no âmbito da disciplina
de Educação Visual e Tecnológica
aprofundando conhecimentos sobre “O
património português”. O objectivo foi
reinventar a partir de uma tradição, de um
poema, ou de uma imagem e divulgar a toda
a comunidade o produto final, através de uma
exposição colectiva de trabalhos. A finalidade
da exposição foi demonstrar a importância da
preservação da cultura de um povo.
Reinventaram-se tradições; poemas; objectos.
5ºG - Linhas de Torres
5ºD - Retrato de Família Há 200 anos, Portugal defrontou as tropas napoleónicas.
Este trabalho resultou de um diálogo colectivo, sobre a Foi criado um extenso conjunto de linhas fortificadas que
importância da família e o património que dela resulta, visavam a defesa de Lisboa e do seu porto. São
desde a herança material à herança de valores sociais. consideradas pelos especialistas um dos mais eficientes
Deste modo, os alunos recolheram fotografias de família, sistemas de fortificações da história militar. A turma do
e realizaram vários estudos pictóricos, resultando daí uma 5ºG resolveu nesta instalação homenagear este marco
apresentação final colectiva do seu retrato de família. tão importante da nossa história.
Técnica: Mista Técnica: Mista

5ºA - Filigrana
A arte de trabalhar o fio de ouro na região de
Gondomar levou os artesãos a criar uma técnica única,
tornando as peças de rara beleza. Essa especificidade
foi recriada pela turma, representando peças de
ourivesaria inspiradas na filigrana e nas rendas.
Técnica: Mista sobre tela

5ºE - Pedras que escondem segredos


“ … são decerto os castelos que melhor falam à nossa
alma, na vibração ou na saudade que a sua
contemplação em nós desperta.” “É preciso também
amá-los na sua verdadeira essência, ou seja, no papel de 6ºA/A1 - Personalidades/Personagens
relevo que desempenharam na história. Porque apenas Este trabalho é composto por representações de pessoas
5ºB - Procissão nessa atitude de reverência, evocando o cortejo de e figuras que contribuíram para o enriquecimento da
Em quase todas as romarias, de norte a sul do país, a heroísmo e de tragédias de que foram cenário, podemos cultura Portuguesa. De reis a poetas, religiosos a
procissão sai à rua. As ruas, casas e vielas enfeitam- sentir a carga espiritual que deles se desprende.” navegadores, medalhados a prémios Nobel, a turma
se de cores múltiplas para a ver passar. Rosa Joaquim Veríssimo Serrão seleccionou algumas destas figuras.
Ramalho modelou-a em barro; João Villaret recitou-a; Técnica: Mista Técnica: Mista sobre tela
Adriano Sousa Lopes pintou-a e a turma reinventou-a.
Técnica: Mista

FALTA FOTO

5ºC - Moliceiros 6ºB - A Floresta


Pela sua tipologia, cores e características, os moliceiros Este trabalho resultou de um estudo, sobre a árvore,
e as casas da Costa Nova são um verdadeiro património 5ºF/F1 - Portugal aos Quadradinhos parte integrante do nosso Património Florestal.
a preservar. A turma recriou a proa destes barcos com Muitas vezes, esquecemo-nos de olhar para o chão. O tratamento gráfico partiu da aplicação dos vários
base na sua tradição pictórica, utilizando ainda a sátira Neste trabalho compilámos o que de mais belo há no movimentos do Módulo – Padrão, resultando, deste
e a ironia nos registos escritos. chão de Portugal: Calçada, Mosaico e Arraiolos. modo, numa composição artística colectiva.
Técnica: Mista sobre madeira Técnica: Mista sobre tela Técnica: Mista

26
6ºG - Trajes Tradicionais
6ºE - Portugall-mix Aspecto riquíssimo do nosso património são os trajes
Do Minho ao Algarve, do Galo de Barcelos aos Tabuleiros tradicionais, que tão raramente vimos desfilar.
de Tomar, passando pelos Moinhos do Oeste, do vinho Este trabalho resulta da pesquisa e do tratamento gráfico
6ºC - De lés a lés… do Porto até aos Doces regionais do Algarve, Portugal dos diversos trajes do nosso País, aglutinando, num
“ Pelos caminhos de Portugal, vimos tanta coisa linda, apresenta-nos um património tão vasto que nos foi difícil trabalho colectivo, essa mesma diversidade.
vimos um mundo sem igual…” Caminhámos de lés a lés seleccionar um só elemento, pelo que optámos por Técnica: Mista
por Portugal, com botins de borracha, para que nada nos realizar uma mistura (“MIX”).
impedisse de representar um povo, uma cultura, um país. Técnica: Mista
A arte apropriou-se do objecto!
Técnica: Mista

FALTA FOTO
6ºH - Xadrez do Património
O jogo de xadrez foi concebido tendo em conta as várias
áreas representativas do património nacional. O rei da
6ºF - “Chapéus há muitos…” História está em confronto com o rei da Literatura. As
Este trabalho foi baseado na frase – “ Chapéus há suas damas reportam a lenda das rosas e do cinema a
muitos, seu palerma!” protagonizada pelo actor Vasco preto e branco. A classe religiosa é representada pelo
6ºD - Em Busca dos azulejos em Torres Vedras Santana e que passou a fazer parte do Património Oral patrono da escola e pelo santo das festividades. O
Este trabalho foi resultado de um estudo sobre o azulejo Português. Deste modo, surgiu a ideia de realizar uma relinchar da guitarra está contra a altivez do galo e as
como parte integrante do Património Artístico Português. imagem de um chapéu de cada região do país a aparecer torres do Porto e de Lisboa desafiam-se. Na linha da
Desde modo, os alunos estudaram os azulejos da cidade nos nossos auto-retratos, criando a ideia de movimento. frente, encontram-se os mais fracos porque facilmente
de Torres Vedras e reinventaram padrões, cores e Por fim, estudámos o movimento animado a partir dos são devorados: o caldo verde e o pastel de feijão são
técnicas, respeitando os motivos originais do módulo. processos mais “arcaicos”. uma tentação!
Técnica: Mista 2,80m x 1m Técnica: Mista Técnica: Mista

ACTIVIDADE DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES
2 0 0 9

Para informações, contactar:


STAEDTLER Portuguesa, Lda.
Tel.: 219 156 700 • Fax: 219 156 706
27
E-mail: formacao@staedtler.pt
“Ano Polar” e
“Festejar a água: As Aventuras do Aqua”
Margarida Barros e Catarina Melo

ANO POLAR
INTERNACIONAL
A turma 6º 4, com base no tema “Ano
Polar internacional”, criou uma
instalação a fim de sensibilizar os
menos atentos para a situação do
aquecimento global.
Este trabalho serviu também para
explorar o conceito de “Instalação”
(construção artística geralmente
tridimensional, que tem um carácter
temporário, mas pretende permanecer
na memória de quem a observa).
Conjugando diferentes técnicas
artísticas, como a pintura, a colagem,
o desenho, a prosa e a música,
pretendeu jogar com os sentidos e as
sensações, solicitando uma
participação pró activa dos
espectadores.
As áreas intervenientes neste processo
foram, E.V.T., L. Portuguesa, e Área de
Projecto.

28
Livro POP-UP Assim, Aqua viu as irmãs de Uz
transformarem a Terra numa onda de luz.
Foi perdendo altitude e aproximou-se do
Planeta Terra.
- Espantoso! - Exclamava. - Estás tão desanimado!? – Disse-lhe.
De seguida visitaram os oito Planetas. - Na verdade a poluição está a dar cabo de
Introdução Uz então olhou para o Kitó e disse: mim1 Já mal consigo rodar. Estas poeiras, os
- Não continuarão assim se no Planeta gases atmosféricos… Lixo, é o que me
Era uma vez… Terra não tiverem cuidado! rodeia dia a dia!!!
Aqua era um ser curioso, bem Terra, é o Planeta mais bonito, contudo
disposto mas também preocupado é preciso mais atenção ao que por lá
com o bem-estar dos outros. fazem!??
Certo dia Aqua resolveu apanhar u Então para surpresa do Aqua, Uz e Kitó
furacão que por ali passava, e… apresentaram-lhe um espectáculo de
despedida – inúmeras bolhas de sabão
Depois de muitos trambolhões que cresciam e multiplicavam-se numa
encontrou-se a pairar no Espaço numa imagem multicolor.
calma inesperada. Aqua despediu-se pensativo…
Para sua surpresa veio ao seu encontro No trajecto passou pelas várias camadas
uma partícula chamada Uz que brilhava protectoras do Planeta Terra e viu com
ao lado de um ET chamado Kitó. espanto que havia grandes zonas
-Onde estou? Quem são vocês? – desprotegidas. O Sol ali entrava sem
Perguntou Aqua. qualquer guardião que o fizesse
Depois de se apresentarem, rapidamente anunciar! Era o Buraco do Ozono!
tornaram-se amigos e, com prazer Calculou que seria insuportável e
mostraram-lhe as suas maravilhas. devastador para o Planeta Terra.

29
Procurando o eixo do Planeta, Aqua foi igloos. As nossas roupas têm por base Aqua fez então uma grande Cimeira
à procura do Pólo Sul – o Antárctico. pele de animais como a do urso polar e com os responsáveis de todos os Países.
Encontrou o Cubo a fazer patinagem! das raposas. São essas peles que nos Observaram o estado do Mundo e as
Cumprimentaram-se por ser tão raro mantêm quentes. As focas também são a populações como viviam…
encontrar alguém por aquelas paragens. base da nossa alimentação vida porque A alguns foi muito difícil convencer
Após Aqua mostrar a sua curiosidade e com elas fazemos quase tudo o que porque tinham sempre justificações para
preocupação disse-lhe o Cubo: precisamos! Como vês a nossa tudo.
- Sabes as temperaturas na Antárctica sobrevivência depende do meio Mas depois de ficarem a saber que com
são sempre baixas e não existe degelo ambiente a que nos habituamos! Alguém a mudança não iam ficar mais ricos
nem mesmo no Verão! Aqui está a notar- tem de nos ajudar!!?? Não temos culpa provavelmente, pois teriam de fazer
se grandes alterações no clima! O de nada! grandes mudanças e apostar na
Homem é o responsável por este educação das populações, mas iam
Aquecimento Global. As espécies assim Aproximou-se de um grupo de turistas garantir a sobrevivência de todos não
não se conseguem adaptar ao novo que estavam numa visita guiada. houve mais comentários porque a
clima! Os gases poluentes provocam o O guia turístico explicava: ninguém serve o dinheiro depois de
aumento do buraco do ozono. Estas - Aqui está um glaciar. São formados morto!
alterações afectam todo o Planeta! de gelo acumulado que se move sobre Para isso teve que haver grandes
Cada vez mais apreensivo prosseguiu a água. Como tal é composto por castigos a quem não respeitasse as
viagem… água em estado sólido. Os icebergues novas leis mas com boa vontade até as
são desprendimentos de gelo das pessoas compreenderiam e não Seria
grandes massas de água gelada. A necessário aplicá-las!
banquisa(…) Não havia outra alternativa!
Temos de poluir menos(…)
Aqua afastou-se.

Continuou a sua viagem e encontrou


no Oceano Atlântico um ser simpático.
O Porluto! Depressa se tornaram
amigos porque Aqua era muito aberto
ao conhecimento e mostrava sempre
um sorriso e uma humildade que fazia
todos se aproximarem sem receio.
Planearam visitar outros Oceanos.
Por todo o lado encontraram lixo!
(latas, óleos plásticos…)
- Qual o motivo de toda esta porcaria?
– Perguntou Aqua.
Poluto respondeu:
Para confirmar voou até ao outro Pólo – - Os seres humanos são inconscientes Aqua conseguiu que todos se
o Árctico. e estão a pôr em perigo todo o Planeta comprometessem a cumprir as regras:
Encontrou um ser estranho chamado e os seus seres vivos! • Fazer parar com as sociedades
Abo nevão que apesar de ser assustador - Tenho tantas saudades daquele mar consumistas
o convidou para mais próximo, afim de azul, das águas limpas e cheirosas! E • Obedecer á lei dos 3 R:
poderem comunicar. começou a chorar. • Procurar hábitos de vida mais
Perguntou-lhe um pouco assustado o Depois de um grande abraço de saudáveis:
que por ali se passava para ter tudo um consolo prometeu fazer o que podia Deslocações; alimentação; consumo de
aspecto tão triste. para ajudar. energias somente renováveis.
- O Gelo dos Pólos está a derreter • Incentivar a uma grande respeito pela
devido às alterações climáticas! Vem! Visitou todos os Continentes e o Natureza e por todos os seres vivos
Vem comigo ver como está tudo! – espectáculo não foi nada animador! • Organizar em todas as sociedades
Convidou o Abo nevão. Então fez um grande mapa com a grandes ou pequenas incentivos para
E mostrou-lhe as redondezas. ajuda de cientistas especializados, voluntariado de vigilantes da natureza
Um espectáculo desolador! onde anotou os grandes perigos para • Ser disciplina obrigatória de
alertar os seres humanos! Eles eram os aprendizagem em todo o sistema de
Aproximou-se depois das populações. únicos responsáveis ensino.
- Olá! O que fazes por aqui? –
Perguntaram-lhe. América Ásia Oceânia
- Estou de passagem e chamo-me Aqua.
Digam – me como estão vocês? Haverá grandes alterações Este continente irá diminuir Prevê-se que este continente
geográficas neste continente! As muito apesar de ser agora o fique submerso!
- Olha parte do meu povo já morreu por cidades mais afectadas serão maior continente da Terra
causa do degelo e nós também temos a Tóquio, Rio de Janeiro, Nova
nossa vida em perigo porque os animais York!
estão a desaparecer ou seja, não
podemos mais manter os nossos Europa África Pólos
hábitos!?? Não sobreviveremos a estas
Algumas cidades e ilhas terão Este continente está a ficar seco O degelo irá provocar
mudanças!!... grandes problemas! a falta de água é evidente! grandes alterações climáticas,
- Mas tudo isto é mais grave do que Sem água não há comida, não subida de temperatura,
pensava, apesar de já ter ouvido falar é possível a sobrevivência! furacões, subida do nível das
sobre o assunto! águas do mar, terramotos
- Pois, o gelo é muito importante para maremotos em todo o
nós. É com ele que construímos os Planeta!

30
Para que fossem mesmo cumpridas,
Aqua convocou os seus amigos que
conheceu nesta grande viagem. Todos
juntos iriam fiscalizar o seu espaço e
ás crianças pediu que cada uma delas
ajudasse com os seus pequenos gestos
de boa vontade!
Se reunirmos pequenas vontades
iremos conseguir!
Estaremos assim todos unidos por um
Planeta melhor.
Contamos contigo também!

32
Uma cúpula
geodésica na escola
Vítor Fernando Gil Ferreira da Silva

eficientes em muitos aspectos. O triângulo demonstrou o conceito nas suas


Resumo: Uma cúpula ou domo é uma forma geométrica muito estável; esculturas, como é o caso da famosa
geodésico é uma estrutura que se por exemplo a força aplicada num “Needle Tower” em 1968. (ver Figura 2)
realiza a partir de triângulos que rectângulo pode torna-lo um
combina a leveza, a economia de paralelogramo, mas a mesma força não A influência de Fuller na arte
meios e a resistência. irá deformar um triângulo. Isto torna o contemporânea pode ainda ser
Efectuada ao longo do ano lectivo domo geodésico uma estrutura muito observada no trabalho de Olafur
2007/2008 esta intervenção no sólida perante agressões exteriores. Para Eliasson. É clara a influência formal de
exterior da Escola Básica 1, 2 cobrir uma mesma superfície de terreno Fuller nos seus projectos baseados em
António José de Ávila, Horta (Faial, ocupa 38% de superfície em comparação modelos geométricos, desenvolvidos em
Açores), contou com a participação com um edifício “clássico” de linhas rectas sistema de estúdio por uma equipa onde
activa dos alunos e da comunidade e paredes sólidas. Assim garante menos é promovida a partilha de ideias o
educativa. exposição aos elementos. São estruturas diálogo aberto de conceitos e
que se podem construir e desmontar com conhecimento, tal como Fuller fomentava
Palavras-chave: Estrutura, rapidez e metade dos triângulos na fila no seu tempo.
Geometria, Comunidade, Ambiente. inferior de um domo podem ser retirados
sem comprometer a estrutura o que Não raras vezes, Eliasson e os seus
oferece inúmeras possibilidades, colaboradores constroem
Buckmister Fuller nomeadamente na construção de matematicamente e fisicamente modelos
e o domo geodésico habitações. Ao nível dos materiais estas que foram captados a partir das
construções também são de grande fotografias do artista. Desmaterializando
Feito de triângulos e com uma aparência versatilidade podendo ser executadas em as paisagens captadas nas fotografias é
semiesférica, um domo geodésico é uma bambu, madeira, metal, etc. posta a nu a perfeição geométrica e a
estrutura capaz de cobrir grandes economia de recursos existente na
superfícies sem usar suportes ou pilares. Esta estrutura tem até um equivalente a natureza.
Concebido por Richard Buckminster nível molecular: a molécula de carbono
Fuller (1895-1983), inventor, designer, C60, à qual se deu o nome de fulereno Construção de um domo
arquitecto e filósofo americano no final em homenagem ao multifacetado geodésico na escola
dos anos 40 do séc. XX, partiu da americano. Descoberta em 1985 e com
vontade de criar uma forma barata de características únicas, tem inúmeras Partindo da necessidade de dinamizar o
construir casas eficientes aplicações que vão da biomedicina à espaço exterior da escola a construção
energeticamente. Autor de várias nanotecnologia. Tem sido usada desta estrutura envolveu uma fase de
invenções que se destacam pelo enfoque nomeadamente na construção de pesquisa e de construção de maquetas
na sustentabilidade dos recursos materiais ultra leves e resistentes. até chegar à fase de construção e
naturais, Fuller desenhou uma casa que instalação.
se segurava presa a um mastro, um Hoje, este tipo de edificação
mapa do mundo que mostrava todos os democratizou-se de tal forma que tem as Um domo geodésico pode ter
continentes sem os distorcer, um carro mais diversas funções, desde instalações frequências praticamente infinitas. A
de três rodas que conseguia dar a volta temporárias, garagens e até abrigos frequência influencia o tamanho dos
sobre o seu eixo e uma casa de banho para pesquisas científicas no Pólo Sul. triângulos e implica a utilização de
com um jacto de vapor que reduz em ? “varas” de diferentes tamanhos que
o gasto de água para tomar um Influências na arte dispostas numa determinada ordem e
“duche”. Na sua obra Manual de com um determinado ângulo dão
Instruções para a Nave Espacial Terra, Fuller foi professor na escola de arte origem ao aspecto arredondado da
sustenta que a terra é um corpo sensível Black Mountain College numa altura em estrutura. A fórmula matemática que
em viagem no universo, uma nave que era frequentada, entre outros, por determina estas variantes é algo
espacial com treze mil quilómetros de Willem de Kooning, Merce Cunningham complexa. No entanto são vários os
diâmetro na qual os seus habitantes e John Cage, que foram influenciados sítios na internet com dicas importantes e
(todos nós) são os responsáveis pela pelo seu trabalho. Foi nesse ambiente e calculadores que facilitam bastante o
gestão eficiente dos recursos disponíveis. em conjunto com os seus alunos que trabalho, por exemplo em
pôs em prática muitos dos seus www.desertdomes.com ou
Fuller afirma que “todos os grandes pensamentos. Em teoria os domos www.byexample.com, onde é possível
círculos são linhas geodésicas, porque geodésicos são as únicas estruturas feitas inclusive determinar a quantidade de
contêm as distâncias mais económicas pelo homem que são mais fortes quanto material necessário para executar a
(energia, esforço) entre dois pontos maior é o seu tamanho, crendo-se que é obra. O ponto de partida para usar
numa superfície esférica.” Com cerca de possível construir domos suficientemente esses calculadores é normalmente
sessenta e um metros de altura e setenta grandes para cobrir cidades, planetas e escolher a frequência pretendida (e
e seis metros de diâmetro, a cúpula estrelas (Fuller chegou mesmo a consequentemente o aspecto do domo)
geodésica que o celebrizou, e que ainda projectar uma cúpula capaz de cobrir a e o raio desejado para a base. Em regra
pode ser visitada, é o pavilhão baixa de Manhattan). Isto é possível pela quanto menor for a frequência menor é
americano da exposição mundial de através da tensegridade, uma teoria que a dificuldade em construir a cúpula.
1967 em Montreal. (ver Figura 1) foi imaginada por Fuller e que viria a ser
aplicada pelo seu discípulo e artista Neste caso optamos por construir um
Os domos geodésicos são estruturas Kennet Snelson que explorou e domo geodésico de frequência três, ou

33
seja com varas de três tamanhos cumprimento dos prazos o que Através da utilização das ferramentas e
diferentes, normalmente a cada vara desenvolveu o sentido de dos utensílios necessários os alunos
corresponde uma letra A, B e C. Na responsabilidade dos alunos. Levou os conheceram as regras de higiene e
construção do nosso domo identificamos alunos a reconhecer as vantagens da segurança no trabalho e aprenderam a
essas varas com três cores, as varas A de divisão de tarefas e melhorou as suas aplica-las.
amarelo, as varas B de azul e as varas C capacidades ao nível do trabalho
de vermelho. Esta identificação é colaborativo. Os alunos aprenderam a organizar
importante pois a montagem tem de espaços tridimensionais e adquiriram
respeitar um esquema determinado. Proporcionou o desenvolvimento de algumas noções de cor nomeadamente
capacidades ao nível das medições de quando pintaram a estrutura com as
Foi de grande importância a realização comprimentos e ângulos, aplicadas nas cores primárias.
de maquetas com rolinhos de jornal e diferentes fases de trabalho. A realização
ataches. (ver Figura 3) Feitas à escala de maquetas e do projecto final permitiu A escolha dos materiais para a
permitiram estudar o processo que seria que os alunos compreendessem e construção da estrutura promoveu a
utilizado no produto final. Os rolinhos aplicassem noções de escala. Para além adopção de comportamentos ecológicos
foram cortadas dando uma margem que disso realizaram e interpretaram plantas e a consciência de que recursos naturais
permitisse achatar as pontas, a medida e esquemas de construtivos. devem ser respeitados e utilizados
útil de vara (que define os lados dos responsavelmente, para tal os alunos
triângulos) seria aquela que foi Permitiu aos alunos identificar, conhecer fizeram estudos de custo/benefício na
determinada pelo calculador. O e relacionar figuras geométricas como o utilização de materiais a utilizar.
objectivo dos achatamentos é criar triângulo, o pentágono e o hexágono e
pontos de união. compreender a razão pela qual os
triângulos são formas básicas da
Uma vez que a construção se baseia estrutura de muitas construções.
numa fórmula exacta é possível construir
a estrutura começando pelo topo ou
pela base. Começando pelo topo deve
iniciar-se por um pentágono com cinco
varas A no interior e no perímetro cinco
varas B. Se começar-mos pela base
deverá formar-se um “círculo” com
quinze varas, cinco varas B e dez varas
C, repetindo a sequência C-C-B cinco
vezes. Não esquecer que o aspecto
esférico da estrutura depende do ângulo Figura 3 - Maqueta do domo geodédico
dado nos achatamentos das varas. (ver
www.desertdomes.com/tips.html)

No produto final o material usado para


construir o Domo foi tubo de ferro
galvanizado (série ligeira), por ser
resistente, económico e fácil de cortar e Figura 1 - BiosphËre de Buckminster Fuller
achatar. A união das varas foi feita
usando parafusos, porcas e anilhas.

O raio da base foi de aproximadamente


dois metros já que a cúpula foi pensada Figura 4 - Tapete feito com sacos de plástico
para cobrir um canteiro circular existente
na escola. A estrutura comprovou ser
muito forte e leve, duas pessoas são
suficientes para a levantar no entanto
aguenta com o peso de várias pessoas
porque a gravidade incide no perímetro
da base.

No chão da superfície intecoberta foi


colocado uma espécie de tapete feito a
partir de tiras sacos de plástico que
foram aplicadas numa malha com a
técnica de ermirna. (ver Figura 4)
Figura 5 - Domo geodédico no exterior da escola
As crianças apropriaram-se da estrutura
logo após a instalação e converteram-na
num espaço de descanso e brincadeira. Referências Bibliográficas
(ver Figura 5)
ARTE CAPITAL, Repensar o mundo,
Competências adquiridas http://artecapital.net/criticas.php?critica=197, Acessed 18 Outubro
2008.
FULLER, R. Buckminster (1969), Manual de Instruções para a Nave
Esta unidade didáctica pela sua riqueza Espacial Terra, Via Óptima, Oficina Editorial, Lda., Porto, 1998.
envolveu a exploração de múltiplas WIKIPEDIA, Fulereno, http://pt.wikipedia.org/wiki/Fulereno, Acessed
13 Outubro 2008.
competências. Implicou um grande WIKIPEDIA, Tensegridade, http://pt.wikipedia.org/wiki/Tensegridade,
cuidado na planificação do trabalho e o Figura 2 - Needle Tower de Kenneth Snelson Acessed 18 Outubro 2008.

34
35
Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual
Centro de Formação de Professores Almada Negreiros

PLANO DE FORMAÇÃO 2009


Associação de Professores
de Expressão e Comunicação Visual

Região Norte
Designação Nº de horas Público
da acção Formadores /créditos -alvo Data Local Preço

25 horas Professores dos códigos 31 de Janeiro* Porto Associados APECV: 135€


Técnicas de Gravura Artística Hercília Gonçalves 1 crédito 240 e 600 das 9h00 às 14h00 (escola a designar) Não Associados: 165€

Exploração da Serigrafia 25 horas Professores dos códigos 18 de Abril* Porto Associados APECV: 135€
na sala de aula Hercília Gonçalves 1 crédito (escola a designar) Não Associados: 165€
240 e 600 das 9h00 às 14h00

15 hs presenciais
Exploração de técnicas mistas através do Sede da APECV
Margarida Marinho + Professores dos códigos 7 de Fevereiro* Associados APECV: 100€
ponto, linha e cor Porto
15 hs trab. autonómo 110, 110, 240 e 600 das 10 às 12h00 Não Associados: 140€
(junto à Câmara)
1,2 créditos

AS TIC no processo de ensino Sede da APECV


aprendizagem na aplicação dos conteúdos 30 horas Professores dos códigos 28 Fevereiro* Porto Associados APECV: 100€
Adriano Costa
das disciplinas de EVT e EV 1,2 créditos 240, 530 e 600 das 10 às 12h00 (junto à Câmara) Não Associados: 140€

Sede da APECV
Exploração das isometrias/ simetrias 25 horas Professores dos códigos 27 de Junho* Porto Associados APECV: 100€
Margarida Marinho
1 crédito 110, 230, 240, 530 e 600 das 10h00 às 12h00 (junto à Câmara) Não Associados: 140€

Os recursos multimédia nos programas de Sede da APECV


educação visual e tecnológica e educação 30 horas Professores dos códigos 16 de Maio* Porto Associados APECV: 100€
Adriano Costa
visual 1,2 créditos 240, 530 e 600 das 10h00 às 12h00 (junto à Câmara) Não Associados: 140€

Desenho: Práticas pedagógicas em contexto Sede da APECV


25 horas Professores dos códigos 20 de Junho* Associados APECV: 100€
pós-modernos Hercília Gonçalves Porto
1 crédito 240, e 600 das 10h.00 às 12h.00 Não Associados: 140€
(junto à Câmara)

50 horas Professores dos códigos Cronograma a definir. Consultar Associados APECV: 150€
Animação com BLENDER (Software livre) Sede da APECV
2 créditos 550 e 600 site da apecv em Janeiro Não Associados: 190€

Região Centro
Designação Nº de horas Público
da acção Formadores /créditos -alvo Data Local Preço
15 hs presenciais Escola Secundária
O portfólio como instrumento de + Professores dos códigos 4 de Maio* Alves Martins Associados APECV: 60€
Teresa Eça 15 hs trab. autonómo
aprendizagem e avaliação nas artes visuais 240 e 600 das 9h30 às 13h30 Viseu Não Associados: 100€
1,2 créditos

AS TIC no processo de ensino aprendizagem


30 horas Professores dos códigos 14 de Fevereiro* Aveiro Associados APECV: 100€
na aplicação dos conteúdos das disciplinas Luís Branco
1,2 créditos 240, 530 e 600 das 9,30 às 13,30 Não Associados: 140€
de EVT e EV

AS TIC no processo de ensino aprendizagem


30 horas Professores dos códigos 9 de Maio* Escola Secundária Associados APECV: 100€
na aplicação dos conteúdos das disciplinas Luís Branco
1,2 créditos 240, 530 e 600 Das 9,30 às 13,30 Guarda Não Associados: 140€
de EVT e EV

4 de Julho Escola Secundária


Desenho: Práticas Pedagógicas em Contexto 25 horas Professores dos códigos Associados APECV: 100€
Teresa Eça 8,30 às 13,30 Alves Martins
Pós-Modernos 1 crédito 240 e 600 Não Associados: 140€
Cronograma a definir Viseu

Professores dos códigos Cronograma a definir. Consultar Escola Secundária


Animação com BLENDER (Software livre) Fernando Figueiredo 50 horas Associados APECV: 150€
550 e 600 Alves Martins
2 créditos site da apecv em Janeiro Não Associados: 190€
Viseu

Imagem digital com software livre: 50 horas Professores dos códigos Cronograma a definir. Consultar Escola Secundária
Associados APECV: 150€
gimp e inkscape Fernando Figueiredo 2 créditos 240 e 600 site da apecv em Janeiro Alves Martins
Não Associados: 190€
Viseu

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Região Centro
Designação Nº de horas Público
da acção Formadores /créditos -alvo Data Local Preço

Animação com BLENDER (Software livre) Fernando Figueiredo 50 horas Professores dos códigos Cronograma a definir. Consultar Coimbra Associados APECV: 150€
2 créditos 550 e 600 site da apecv em Janeiro Não Associados: 190€

Esc. Sec. Joaquim Associados APECV: 150€


Animação com BLENDER (Software livre) Fernando Figueiredo 50 horas Professores dos códigos Cronograma a definir. Consultar
de Carvalho Não Associados: 190€
2 créditos 550 e 600 site da apecv em Janeiro
Figueira da Foz

Região de Lisboa e Vale do Tejo


Designação Nº de horas Público
da acção Formadores /créditos -alvo Data Local Preço

AS TIC no Processo de Ensino Aprendizagem Escola Secundária


na Aplicação dos Conteúdos das Disciplinas Paula Falcão 30 horas Professores dos códigos 7 de Março* D. João II Associados APECV: 100€
de EVT e EV 1,2 créditos 240, 530 e 600 Das 9h.00 às 14h.00 Setúbal Não Associados: 140€

Os Recursos Multimédia nos Programas de 6 de Julho a 18 de Julho


Educação Visual e Tecnológica e Educação Paula Falcão 30 horas Professores dos códigos Das 9h00 às 14hh00 Lisboa Associados APECV: 100€
Visual 1,2 créditos 240, 530 e 600 O cronograma será definido Não Associados: 140€
nesse dia

A Reciclagem na Comunicação Visual Anabela Costa 25 horas Professores dos códigos 9 de Maio* Bombarral Associados APECV: 100€
1 credito 100, 110, 240 e 600 das 15h00 às 17h00 Não Associados: 140€

Escola Secundária
Perfomance como pedagogia crítica Graça Martins 25 horas Professores dos códigos 9 de Maio* Maria Lamas Associados APECV: 100€
1 credito 240 e 600 9h00 às 14h.00 Torres Novas Não Associados: 140€

* As acções de formação que decorrem aos Sábados na primeira sessão será definido o cronograma.

REGULAMENTO DAS INSCRIÇÕES NAS ACÇÕES DE FORMAÇÃO

1 - As inscrições processam-se por ordem de chegada com prioridade para os 8 - Os candidatos inscritos nas acções pagas, serão reembolsados em caso de
associados da APECV com as quotas em dia. cancelamento da acção ou de inexistência de vaga.
2 - Forma de pagamento: cheque com 50% do valor no momento da inscrição e 50% 9 - Para efeito de IRS, será emitido recibo das quantias pagas pelos formandos,
até final da acção para as acções de 25 horas. Nas acções de 50 horas o valor será apenas após o depósito do valor ( entregue durante a realização da acção) e
pago em três prestações a primeira de 50 euros no momento da inscrição, a não após a sua recepção.
segunda no primeiro dia da acção e a terceira no final da acção. A inscrição só 10 - As acções de formação só se poderão realizar com o número de 20
fica válida com o envio do primeiro pagamento. formandos, com excepção para as acções de serigrafia sendo o número de
3 - O cheque será guardado no cofre até um mês antes da realização da acção. quinze.
4 - Só são aceites desistências até 30 dias antes da realização da acção, por envio de carta. 11 - Será emitido um certificado da acção de acordo com o regulamento em
5 - No caso de desistência após os 30 dias só será reembolsado se o formando indicar vigor, no prazo máximo de 100 dias, após a conclusão da acção de
um substituto. formação.
6 - A confirmação da realização da acção será feita um mês antes do início da acção
bem como a cobrança do cheque. APECV - Centro de Formação de Professores Almada Negreiros
7 - Para receber toda a informação os formandos devem indicar sempre o seu Rua Dr. Ricardo Jorge, 19 - 2º andar, sala 5 - 4050-514 Porto
endereço electrónico na ficha de inscrição. Tel.: 223326617 • Emails: apecv@apecv.pt / apecv@hotmail.com • www.apecv.pt

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Notícias
21º ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO de PROFESSORES de EXPRESSÃO
e COMUNICAÇÃO VISUAL
23, 24 e 25 de Fevereiro de 2009, na Escola Secundária Alves Martins, em Viseu
Estamos a preparar um sobre práticas pedagógicas artísticas (15 horas).
encontro diferente, ponto de Estão abertas as propostas de participação nas
encontro real entre conferências e debates do Encontro até dia 28 de Janeiro.
professores para discutir as Quem estiver interessado em contribuir com as suas
questões que nos inquietam e experiências e opiniões deve enviar uma mensagem com
para sentir que pertencemos a os seguintes dados para o email: apecv@apecv.pt: 1)
uma comunidade viva, feita Autor, 2) Título da comunicação;
de profissionais competentes 3) Resumo até 500 palavras.
que pensam o futuro e a educação. A par das conferências Os interessados poderão contribuir com outro tipo de
e debates sobre temas gerais da educação artística e contribuições, por exemplo apresentações multimédia,
avaliação serão realizados cursos de formação acreditados posters e oficinas práticas.

Um olhar sobre: Júlio Resende "Consultório didáctico"


VI Concurso de trabalhos artísticos de alunos
O "Consultório didáctico"
Com o apoio da Staedtler, está on-line na página da
Eberhard Faber e da APECV (www.apecv.pt), para
Fundação Júlio Resende enviar todas as dúvidas
relativamente a teoria e
O prazo de entrega dos práticas pedagógicas e
trabalhos dos alunos termina obter respostas de colegas e
em 31 de Janeiro de 2008. especialistas. Para quem não
Cada estabelecimento de ensino poderá participar com gosta de Internet pode enviar
10 trabalhos, a enviar para a APECV. O Regulamento e as perguntas por carta
ficha de inscrição estão disponíveis na página da directamente para a APECV.
APECV (www.apecv.pt). Os prémios serão oferecidos
pela Staedtler, Eberhard Faber e a cerimónia da entrega
de prémios será feita Fundação Júlio Resende.

Livros …a não perder!

O poder das Uma antologia Uma antologia a


imagens como de textos não perder.
recurso essenciais na Possibilidades na
transdisiplinar. educação artística educação.
Um livro cheio de contemporânea. Processos
experiências educativas para aprender Teorização, ensino formal e não formal, artístico-criativos, tecnologia, culturas
história e muito mais. museus, arte educação na comunidade híbridas, a/r/tografia.
e no ambiente, novas tecnologias, arte
Maria de Céu de Melo (Org.). (2008). educação como intervenção social. Barbosa, Ana Mae & Amaral, Lilian
Imagens na Aula de História. Diálogos e (Org.). (2008) Interterritorialidade. SESCSP.
Silêncios. Mangualde: Edições Pedagogo. Eça, Teresa Torres Pereira de & Mason, São Paulo: Editora SENAC
ISBN: 978- 972-8980-60-3 Rachel (Org.). (2008). ‘Interdisciplinary
Dialogues in Art Education’ UK: Intellectbooks.

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