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REPRESENTAÇÕES DO BRASIL

EM TEXTOS DO EXAME CELPE-BRAS


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RONALDO AMORIM LIMA

REPRESENTAÇÕES DO BRASIL
EM TEXTOS DO EXAME CELPE-BRAS

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal
Fluminense, na área de concentração Estudos da
Linguagem, subárea Estudos Lingüísticos, linha de
pesquisa Ensino de Línguas, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutor em Letras.

Orientadora: Profª Drª Norimar Júdice

NITERÓI
2008
L732 Lima, Ronaldo Amorim.
Representações do Brasil em textos do exame CELPE-BRAS /
Ronaldo Amorim Lima. – 2008.
166 f.
Orientador: Norimar Júdice.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Letras, 2008.
Bibliografia: f. 128-137.
1. Língua portuguesa – Compêndios para estrangeiros. 2.
Representações sociais. 3. Ideologia. 4. Discurso. I. Júdice, Norimar. II.
Universidade Federal Fluminense. III. Título.
CDD 469.0202
RONALDO AMORIM LIMA

REPRESENTAÇÕES DO BRASIL
EM TEXTOS DO EXAME CELPE-BRAS

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal
Fluminense, na área de concentração Estudos da
Linguagem, subárea Estudos Lingüísticos, linha de
pesquisa Ensino de Línguas, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutor em Letras.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________________
Profª Drª Patrícia Maria Campos de Almeida
Universidade Federal do Rio de Janeiro

____________________________________________________________________
Profª Drª Beatriz Feres
Centro Universitário Plínio Leite

Profª Drª Lygia Maria Gonçalves Trouche


Universidade Federal Fluminense

Profª Drª Rosane Santos Mauro Monnerat


Universidade Federal Fluminense

____________________________________________________________________
Profª Drª Norimar Júdice – Orientadora
Universidade Federal Fluminense

NITERÓI
2008
À memória de meus pais e antepassados
AGRADECIMENTOS

• A minha orientadora e amiga, Profª Drª Norimar Júdice, pela competência, dedicação
e seriedade.

• À Universidade Federal Fluminense – UFF – e, em especial, ao Instituto de Letras e


ao Programa de Português para Estrangeiros.

• Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e ao


Programa de Pós-Graduação em Letras da UFF.

• À Secretaria de Educação Superior – SESu e aos membros da Comissão Técnica do


Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros – Celpe-Bras.

• Aos ex-membros da Comissão Técnica do Celpe-Bras, Prof. Dr. Francisco Gomes de


Mattos (UFPE), Profª Drª. Danielle Grannier (UnB) e Profª Drª Regina Dell’Isola
(UFMG), pela atenção e gentileza em fornecer as informações que solicitamos.

• Aos professores e coordenadores dos postos aplicadores do Exame Celpe-Bras, pela


gentileza em aplicar a questão de sondagem.

• À Profª Drª Deila Peres (Instituto de Letras da UFF) – minha primeira professora de
Língua Portuguesa na graduação em Comunicação Social –, pela amizade e
incentivo.

• À Profª Drª Lérida Maria Lago Povoleri (Faculdade de Economia da UFF), pela
inestimável atenção e ajuda.

• A todos os meus ex-professores que contribuíram e contribuem para a minha


formação em todas as escolas que freqüentei: Grupo Escolar Padre Manoel da
Nóbrega, Colégio Rodrigues Silva, Colégio São Gonçalo e Universidade Federal
Fluminense.

• À Profª Roseli Ferreira de Lima pelos já longos anos de amizade tão sincera. E
também por mais um “abstract”.

• A minha irmã, Sonia Regina Amorim Lima.

• A meus amigos Hilker Calheiros Azevêdo e Dr. Nilton Elethério da Silva pela
paciência e ajuda.

• A meus colegas e amigos dos bancos escolares.

• A meus alunos e ex-alunos.

• A todos os meus amigos e parentes.

• A meu país e a meu povo.


RESUMO

Este estudo focaliza as representações do Brasil e dos brasileiros configuradas em


230 textos da Parte Individual do Exame para obtenção do Certificado de Proficiência
em Língua Portuguesa para Estrangeiros – Celpe-Bras. Para tanto, baseia-se em
estudos da Teoria das Representações Sociais, recorrendo também a pressupostos
da Análise Crítica do Discurso, com base em van Dijk, e a estudos antropológicos de
DaMatta e de Almeida. Após a realização do levantamento do corpus e elaboração
de quadro de temas e tópicos para categorização dos textos analisados, procedeu-
se à prospecção das representações do Brasil e dos brasileiros neles configuradas,
cotejando-as com aquelas presentes em questionários respondidos por aprendizes
de PBE de nacionalidades diversas, com a finalidade de detectar convergências e
divergências. Concluiu-se que os textos selecionados para compor o quadro de
elementos provocadores da Parte Individual do Exame mostram a face desenvolvida
e moderna de nossa sociedade, enquanto as representações declaradas pelos
estudantes pesquisados refletem um discurso no qual o Brasil é configurado de
forma estereotipada como o país do futebol, do carnaval, das belezas naturais e das
pessoas cordiais.

Palavras-chave: Celpe-Bras. Representações sociais. Ideologia e discurso.


ABSTRACT

This study focuses on the representations of Brazil and the Brazilian people portrayed
in 230 texts of the individual part of the Portuguese as a Foreign Language (PFL)
Proficiency Exam – CELP-Bras. For this purpose, it draws on Social Representation
Theories, Van Dijk’s Critical Discourse Analysis as well as DaMatta’s and Almeida’s
anthropological Studies. After collecting the data and elaborating a framework of
themes and topics for the categorization of the analyzed texts, a deeper
understanding of the representations of Brazil and the Brazilian People was sought,
comparing them to those found in questionnaires previously applied to PFL learners
of several different nationalities, aiming at finding instances of divergence and
convergence. It was concluded that the texts selected as prompts for the individual
part of the exam sho w the developed and modern side of our society whereas the
representations found in the PFL learners’ compositions still reflect the image
portrayed by the means of communication, that is to say, the stereotyped image of
Brazil as, mainly, home to soccer, carnival, beautiful nature, and hospitable people.

Keywords: Celpe-bras. Social representations. Ideology and discourse.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 8
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .............................................................. 15
2.1 DISCURSO, IDEOLOGIA E CONTEXTO................................................ 15
2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 29
3 O BRASIL E OS BRASILEIROS: DUAS PERSPECTIVAS................... 40
3.1 A VISÃO DE DAMATTA.......................................................................... 42
3.2 A VISÃO DE ALMEIDA............................................................................ 47
4 O CERTIFICADO DE PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA
PARA ESTRANGEIROS – CELPE-BRAS.............................................. 52
4.1 IMPLANTAÇÃO E DIFUSÃO........................................................... ....... 52
4.2 FINALIDADE, FORMA E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA AVALIADOS....... 58
4.3 A COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO TÉCNICA DO CELPE-BRAS........... 62
4.4 A ELABORAÇÃO DE TAREFAS............................................................. 67
4.5 O COMPONENTE NÃO VERBAL NOS TEXTOS DOS EPS ................. 70
5 METODOLOGIA: COMPOSIÇÃO DO CORPUS E DINÂMICA DA
PESQUISA............................................................................................... 75
5.1 QUESTIONÁRIOS .................................................................................. 76
5.2 COLETA E CATALOGAÇÃO DOS EPS.................................................. 78
5.3 PROCEDIMENTOS PARA A DEPREENSÃO DAS
REPRESENTAÇÕES NOS TEXTOS DOS EPS..................................... 83
6 ANÁLISE, RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................. 90
6.1 ANÁLISE DOS TEXTOS DOS EPS......................................................... 90
6.1.1 Estrutura e fontes dos textos............................................................... 90
6.1.2 Temas, tópicos e subtópicos............................................................... 93
6.2 ANÁLISE DAS IMAGENS NOS QUESTIONÁRIOS................................ 118
7 CONCLUSÃO.......................................................................................... 123
8 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 129
9 ANEXOS.................................................................................................. 139
8

1 INTRODUÇÃO

O processo de ensino-aprendizagem de uma língua 1 estrangeira (LE), além de

ser influenciado pela cultura e língua de origem dos agentes sociais nele envolvidos,

é fortemente marcado pelas representações 2 da língua e da cultura -alvo que esses

agentes elaboram e reelaboram.

Nosso interesse pelas representações da língua e da cultura -alvo que

permeiam as ações de professores, alunos e demais agentes sociais (autores de

materiais didáticos, elaboradores de testes de proficiência, etc.) envolvidos no

processo de ensino-aprendizagem de uma LE surgiu no período de aprendizagem de

inglês – LE, crescendo e mudando de ângulo mais tarde, quando de nossa atuação

no ensino de Português do Brasil para Estrangeiros (PBE3), no Programa de

Portuguê s para Estrangeiros (PPE) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

1
Neste estudo, consideraremos língua como atividade social, histórica e cognitiva (MARCHUSCHI,
2003, p. 23) que, configurando discursos, permite ser e interagir no mundo.
2
Representação social constitui uma forma de conhecimento elaborada e compartilhada socialmente,
que tem um objetivo prático e contribui para a construção de uma realidade comum a um grupo social.
3
Toma-se aqui a sigla PBE tanto para o ensino de português para estrangeiros no Brasil (PL2) quanto
para o ensino do idioma nos países em que não se fala português como língua materna.
9

As ações dos professores e dos demais agentes sociais envolvidos com o

ensino dessas duas línguas e das culturas a elas vinculadas, bem como as atividades

dos aprendizes – permanentemente perpassadas pelas representações da língua e

da cultura-alvo por eles construídas e reconstruídas – sempre nos despertaram a

atenção e aguçaram nossa curiosidade.

Já atuando no ensino de PBE, o interesse pelas representações da língua e da

cultura-alvo acentuou-se ainda mais, fixando-se, por ocasião das comemorações dos

500 anos do Brasil, nas representações do Brasil e dos brasileiros presentes no

discurso de nativos e não nativos. Na época, circulavam permanentemente, pelos

textos da mídia, inúmeras tentativas de definição de nossa identidade, da(s) face(s)

de nosso povo e país, feitas por estrangeiros e brasileiros, e múltiplas abordagens de

nossas maneiras peculiares de expressão (música, literatura e arquitetura, entre

outras), que ofereceram para diversas oportunidades de configurar e reconfigurar

suas representações sobre o contexto cultural brasileiro.

Entendendo que ensinar uma língua e uma cultura é oferecer múltiplas

oportunidades para que os aprendizes compreendam e produzam textos de

diferentes gêneros 4 nessa língua e tendo consciência também de que textos verbais e

4
De acordo com Marcuschi (2003, p. 22), gênero refere-se aos textos materializados encontrados no
dia-a-dia e que apresentam características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica.
10

não-verbais autênticos 5 têm sido utilizados em número cada vez mais expressivo nas

diversas etapas do processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras,

contribuindo efetivamente para a construção/reconstrução de representações da

cultura-alvo pelos aprendizes, fomos focando nossa atenção nas representações de

nosso país configuradas em textos utilizados no processo de ensino-aprendizagem

de PBE.

Com a globalização 6 e o momento político-econômico atual vivido pelo país no

cenário mundial, além do visível aumento de interesse pela cultura brasileira, passou

a manifestar-se um crescente interesse de estrangeiros pela aquisição do Português

do Brasil, e pela obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para

Estrangeiros – Celpe-Bras, instituído oficialmente pelo Ministério da Educação em

1994 (Scaramucci, 1995) e aplicado, desde 1998, no Brasil e em vários outros países.

Tendo tido a oportunidade de aplicar e de, mais tarde, participar da elaboração

do Celpe-Bras, nosso interesse foi despertado pelas representações do Brasil e dos

brasileiros que o E xame fazia circular nos textos que integravam suas tarefas.

5
Utilizamos essa nomenclatura para designar textos “(...) extraídos de jornais, revistas e livros, não
necessariamente elaborados para o ensino de línguas (...)” (SCARAMUCCI, 1995, p. 80), embora
devamos alertar para o fato de esses textos, ao serem extraídos do contexto de unidades
comunicativas maiores e apresentados isoladamente, têm sua naturalidade forçosamente reduzida
enquanto discurso (WIDDOWSON, 1991, P. 113), tornando -se, portanto, um tanto artificiais.
6
Sem nos preocuparmos com os problemas que advêm do fenômeno, consideramos globalização
como um processo pelo qual a vida social e cultural nos diversos países do mundo é cada vez mais
afetada por influências internacionais em razão de injunções políticas e econômicas.
11

Esse conjunto de fatores levou-nos a decidir contemplar em nossa pesquisa as

representações do Brasil que circulam em textos da atualidade incorporados às

tarefas do Exame, e que podem, por sua vez, contribuir para a formação e

reformulação das representações dos que aprendem e ensinam o nosso idioma,

como língua não materna.

Optamos por analisar os textos dos Elementos Provocadores 7 (EPs) que

integram a Parte Individual8 (PI) das provas para obtenção do Certificado de

Proficiência em Português do Brasil, o Celpe-Bras, e que posteriormente são

utilizados como materiais de ensino em cursos que preparam candidatos para

realização dessa prova.

Nossa questão principal nesta pesquisa é a seguinte:

• Que componentes, que aspectos da realidade brasileira, das formas

brasileiras de perceber, estar e de se re lacionar no mundo – plasmadas

em diferentes discursos - os textos dos Elementos Provocadores, que

integram a Parte Individual do Exame Celpe-Bras, fazem circular entre

os candidatos estrangeiros e professores estrangeiros e brasileiros

envolvidos com o exame?

7
“Elemento provocador” é a terminologia adotada pela Comissão Técnica do Celpe-Bras para cada um
dos textos que são apresentados ao candidato na Parte Individual do Exame com o objetivo de
promover interação oral entre o examinando e o professor entrevistador. Este é o bloco do exame que
reúne o maior conjunto de textos, todos no mesmo tipo de suporte – impresso.
8
Ver item 4.2.
12

Partiremos da hipótese de que os tópicos abordados nesses textos do exame

oficial de Português do Brasil para Estrangeiros se inscrevam sobretudo num

universo em que preponderem representações do Brasil em sintonia com a

perspectiva da fração da sociedade brasileira denominada “moderna” por Almeida

(2005)9 e com a desconstrução de estereótipos sobre o país e seu povo .

Paralelamente, consideramos que seria também de interesse cotejar as

representações do Brasil nos textos do Celpe-Bras, exame elabora do por professores

brasileiros, com aquelas que aprendizes de Português do Brasil em diferentes

contextos culturais da América, Europa, Ásia e África traziam consigo, pois temos tido

a oportunidade de observar, em sala de aula, no Brasil e no exterior, diferentes

percepções por vezes bastante estereotipadas dos aprendizes em relação ao nosso

país.

Que representações do Brasil e dos brasileiros marcariam a relação desses

aprendizes estrangeiros de PBE com a língua e a cultura do Brasil? Que

convergências e divergências existiriam entre as representações do Brasil de

aprendizes estrangeiros de português e as representações do Brasil configuradas em

textos de autores brasileiros, selecionados e reunidos pelos professores de PBE

nativos que têm elaborado o exame? Que estereótipos se manifestariam nas

representações configuradas nos textos selecionados pelos elaboradores de tarefas

9
Ver seção 3.2
13

do exame e que estereótipos se configurariam no discurso dos candidatos e

aprendizes?

Para desenvolver esse estudo que enfocará as imagens e representações do

Brasil em 230 textos de Elementos Provocadores referentes a 13 aplicações do

exame Celpe -Bras realizadas no período de dezembro de 2000 a abril de 2007,

recorreremos a pressupostos da Teoria das Representações Sociais, com base em

Jodelet (2001) e da Análise Crítica do Discurso, com base em van Dijk (1997, 1998,

2003, 2005).

No Capítulo 2, abordaremos as noções de ideologia, discurso, contexto e

representações sociais.

No Capítulo 3, as perspectivas de DaMatta e Almeida sobre o modo ser, de

pensar e de agir dos brasileiros.

No Capítulo 4, daremos uma visão geral sobre o Celpe-Bras, sua implantação,

difusão, forma to, constituição da Comissão Técnica, elaboração das tarefas da Parte

Individual do exame e os componentes textuais nela privilegiados .

No Capítulo 5, abordaremos os procedimentos desenvolvidos para a

composição e o tratamento do corpus analisado.


14

No Capítulo 6, apresentaremos os resultados da análise dos textos dos EPs

enfocados na pesquisa, comentando-os com base nos pressupostos teóricos

explicitados nos capítulos 2 e 3, e cotejando as representações encontradas nos

textos dos EPs com as imagens do Brasil que aprendizes estrangeiros de Português

declaram ter em mente.


15

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Para empreender a análise dos textos de nosso corpus, com os objetivos

mencionados, recorreremos à Análise Crítica do Discurso (ACD), na perspectiva de

van Dijk (1997, 1998, 2003, 2005), e à Teoria das Representações Sociais, com base

em Jodelet (2001), procedendo a recortes das noções de ideologia, discurso,

contexto, representações e estereótipos relevantes para nosso estudo.

2.1 DISCURSO, IDEOLOGIA E CONTEXTO

De acordo com van Dijk (2003, p. 389-390), a ACD interessa-se

particularmente pelas relações entre discurso e sociedade, trabalha mais com temas

e problemas sociais que com paradigmas, atua numa linha interdisciplinar e se

integra a um amplo espectro de estudos na área das Ciências Sociais. Há que se

ressaltar, conforme afirma o autor, que muitos conceitos da área da ACD ainda

carecem de maior refinamento.


16

A ACD enfoca, no discurso (que tem uma inter-relação com a sociedade, uma

vez que a configura e por ela é configurado), as relações de poder, as estratégias

empregadas para sua produção e os possíveis discursos de resistência. A

compreensão da relação entre as estruturas do discurso e o contexto social constitui

um dos objetivos da ACD.

Constituindo uma forma de ação social, o discurso é uma atividade humana

intencional, controlada e com um objetivo.

Na produção do seu discurso, o sujeito procede como membro de

determinado(s) grupo(s) social(ais), elaborando e exibindo, ao mesmo tempo,

identidades e papéis sociais, em uma intrincada combinação. As práticas dos sujeitos

como atores sociais podem ser contraditórias e variar de acordo com sua menor ou

maior identificação, no momento da elaboração do discurso, com determinado grupo

e com a ideologia que a ele se vincula.

Por meio de seu discurso e de sua ideologia, o grupo detentor do poder busca

a defesa de seus interesses e a supremacia de suas idéias. O discurso e a ideologia

de um grupo têm existência paralela a de outros segmentos da sociedade, com os

quais ele disputa o poder em determinada época e lugar.


17

O termo ideologia teve origem, entre os séculos XVIII e XIX, nos textos do

filósofo francês Destutt de Tracy, em referência a uma ciência das idéias que tinha

por objetivo a “análise da percepção humana como uma subdisciplina da biologia”

(ANDREW; SEDGWIK, 2003, p. 172). Dessa época em diante, o tema passou a

despertar o interesse de estudiosos de outras áreas.

A concepção de ideologia de Marx (2007) é de que, em qualquer sociedade, as

idéias da classe que detém o poder são as idéias dominantes. O sociólogo tem como

foco a luta de classes, abordando a ideologia nessa perspectiva e destacando ser sua

função a de ocultar essa luta. A ideologia, segundo ele, daria às pessoas a impressão

de que sua situação social seria permanente, que não poderia ser alterada, o que

contribuiria para que elas se conformassem com seus papéis sociais.

Mannheim (apud Andrew e Sedgwick, 2003) tem uma visão diferente dessa

ligação da ideologia com as classes sociais e a dominação e postula que as pessoas

de diferentes setores sociais percebem o mund o de formas distintas - sendo todas

elas válidas. Também voltado para a questão da ideologia, Althusser (1983) faz uma

revisão da perspectiva marxista de ideologia e salienta a função dos aparelhos

ideológicos e dos aparelhos repressores do Estado para a manutenção do poder por

parte do grupo dominante. A ideologia, segundo o autor, relaciona-se com aspectos

da hierarquia social, dando uma interpretação e uma justificativa para seu sistema de

autoridade e fazendo recortes dos elementos da realidade, sob uma determinada


18

visão de mundo. De acordo com Althusser (1983), esse sistema de autoridade é

perenizado e reproduzido pelos aparelhos repressores (que funcionam

predominantemente através da força) e ideológicos (que atuam sobretudo através da

ideologia, via instituições distintas e especializadas, tais como a igreja, a escola, a

família, a mídia, os sindicatos etc.) do estado.

A partir da segunda metade do século passado, o tema ideologia passou a

receber atenção também dos estudiosos da linguagem, uma vez que o discurso

desempenha função significativa na elaboração, disseminação, legitimação e

contestação de ideologias. Dentre esses estudiosos, destaca-se van Dijk que,

interessando-se pelo estudo da ideologia, enfatiza a dificuldade para se estabelecer

uma definição e a necessidade de serem observadas criteriosamente, nas

sociedades, as características de seu funcionamento.

Tradicionalmente, acredita-se que as ideologias “são desenvolvidas por grupos

dominantes para reproduzir e legitimar sua dominação” (VAN DIJK, 2005, p. 51). Para

essa legitimação, um expediente utilizado seria o de apresentar a dominação como

algo inevitável, convencendo-se o grupo dominado a aceitá-la. Isso ocorrendo, o

grupo dominado elaboraria uma representação de seu próprio papel, mesmo em

desacordo com seus interesses. Por esse ângulo, o discurso seria fundamentalmente

um meio através do qual as ideologias se propagariam e, desse modo, daria sua


19

contribuição para a reprodução do poder e para a dominação de classes ou grupos

sociais10.

Van Dijk (2005) ressalta a característica que tem o poder de organizar relações

entre sociedade e discurso, e, referindo-se mais especificamente ao poder social,

afirma que esse tipo de poder se traduz no controle de um grupo sobre outros,

fazendo com que o(s) grupo(s) dominado(s) aja(m) de acordo com a vontade do

grupo dominador e nunca contra ele. Esse controle pode ser exercido por meio de

força, obrigando os membros do grupo dominado a atuarem de determinado forma,

por intermédio de pedidos e sugestões para que as pessoas se comportem da

maneira como o dominador deseja, ou ainda através da manipulação das mentes,

fazendo com que as pessoas acreditem estão atuando de uma certa maneira por sua

própria vontade. Aqueles que detêm o poder podem controlar o acesso tanto aos

recursos materiais quanto aos recursos simbólicos, e ainda ao discurso público,

através do controle do discurso e da fala.

Existe ainda um tipo de controle que se pode exercer sobre as características

do próprio discurso, por exemplo, quando o governo ou a mídia estabelecem o que se

pode ou não se pode dizer e como se pode dizer. Para tanto, os regimes autoritários

se utilizam da censura, enquanto as democracias se valem do controle dos discursos

10
De acordo com Vila Nova (1985, p. 71), grupos sociais são conjuntos de indivíduos em que “(...)
existem relações estáveis, em razão de objetivos e interesses comuns, assim como sentimentos de
identidade grupal desenvolvidos através de contato contínuo”.
20

públicos, em que quem elabora e publica textos acredita estar atuando livremente,

embora esteja escrevendo e publicando o que é de interesse para o grupo dominante.

Isso pode se constatar observando -se, por exemplo, a preferência por determinados

gêneros e temas.

Van Dijk (2005) enfatiza que a concepção clássica de ideologia é unilateral,

restringindo a ideologia a relações sociais de dominação e não levando em

consideração que os grupos dominados podem desenvolver suas próprias ideologias

de oposição. Sendo assim, para ele, as ideologias, além de instrumentos de

dominação, são também instrumentos de resistência e de competição.

O autor (1997) considera ainda a característica de a ideologia constituir um

sistema abstrato de crenças avaliativas, sistema este compartilhado por um grupo

social e com influência em suas atitudes. O pesquisador também sublinha a

necessidade de se desenvolver uma noção geral de ideologia aplicável a todos os

tipos de análise social. Posteriormente (VAN DIJK, 2003, p. 389-390), propõe uma

teoria multidisciplinar, ressaltando que a ideologia seria uma espécie de “arcabouço

de representações sociais compartilhadas por um grupo social”, que organiza as

atitudes desse grupo.

A análise das funções sociais da ideologia, segundo van Dijk (2005, p. 52), tem

implicações que merecem destaque. Para ele, a ideologia é compartilhada pelos


21

membros do grupo, sendo, por conseguinte, inerentemente social e funcionando tanto

no interior dos grupos como entre eles. A ideologia define tanto o grupo a que se

articula quanto sua posição em relação a outros grupos na sociedade, não

explicitando o procedimento que o indivíduo deve ter, mas servindo para que elabore

representações compartilhadas com outros membros do grupo em que se inscreve, o

que lhes permite organizar crenças sociais sobre o que é correto ou incorreto, em sua

visão, e agir de acordo com esse balizamento.

Van Dijk, em estudos dos anos 90, volta-se também para a noção de crença,

abordando-a, de uma forma geral, como relativa aos produtos da mente, que incluem

o pensar de e o pensar em. Para o autor, as crenças têm uma dimensão mental e

social, porque são adquiridas, elaboradas e alteradas em sociedade, através das

práticas sociais, do discurso e da interação em geral. Tece ainda o autor um pequeno

comentário sobre as emoções que podem ou não fazer parte das crenças, estando

articuladas à ideologia, que freqüentemente se associa ao ódio ou ao amor. Entre as

crenças estão os conhecimentos, considerados crenças verdadeiras levando-se em

conta os critérios de verdade compartilhados por determinado grupo social. Quando a

crença se refere a um juízo de valor (ruim/bom; falso/verdadeiro), na perspectiva do

autor, temos uma opinião. O pesquisador destaca que as ideologias incluem opiniões

sociais, que contribuem para formar atitudes e crenças pessoais.


22

As crenças sociais, comuns aos membros de determinado grupo e cultura,

armazenadas na memória social, não precisam ser explicitadas, podendo ser

pressupostas pelos membros desse grupo social. Dentre essas crenças sociais,

encontram-se conjuntos de crenças grupais adquiridas, compartilhadas e difundidas

pelos componentes de determinados conjuntos de pessoas – as ideologias. Essas

crenças grupais são diferenciadas pelo autor de outro tipo de crença social, as

crenças culturais, comuns aos membros de todos os grupos de uma cultura.

Van Dijk (1998, p. 58 e p. 63), em relação a crenças partilhadas por todos os

membros de uma cultura, destaca que esse conjunto de crenças é tomado como

verdadeiro, a partir de critérios de verdade que são também compartilhados. Assim, o

autor destaca que “as crenças culturais formam a base comum de (praticamente)

todas as crenças sociais de (praticamente) todos os grupos de uma cultura dada”.

Ressalta, porém, o estudioso que algumas crenças – relativas a

acontecimentos passados, experiências de vida, preferências individuais e

armazenadas na memória episódica – não são ideológicas.

Mais recentemente, van Dijk, em estudos posteriores ao ano 2000, continuou a

enfocar o tema ideologia, observando suas relações com conhecimento e discurso.

Com base nesse autor, passamos a comentar a diferença entre ideologia e


23

conhecimento, as articulações da ideologia com o discurso, e as vinculações entre

discurso e contexto.

O autor (2003) defende que as ideologias devem ser mais fundamentais que

os conhecimentos por representarem os princípios subjacentes da cognição social,

formando, desse modo, a base do conhecimento, das atitudes e de outras crenças

compartilhadas por um grupo. Sendo assim, elas constituiriam representações

mentais que formam a base da cognição social, ou seja, do conhecimento e das

atitudes compartilhadas por um grupo.

Porém nem todo conhecimento é ideológico, segundo o autor (2003, p. 390),

que aponta um conhecimento pré -ideológico, um alicerce comum compartilhado e

não contestado por todos aqueles que se inserem num dado contexto cultural.

A ideologia se difunde, de acordo com a identidade e os interesses do grupo,

por intermédio da compreensão, distribuição, abstração e difusão do discurso feita

pelos componentes desse grupo. Van Dijk (2005, p. 58) trata das relações entre

ideologia e discurso, destacando serem essas relações indiretas e envolverem

crenças gerais e também específicas e contextuais. Assim, o usuário da linguagem,

ao produzir sua fala ou escrita, encontra-se inscrito simultaneamente em diversos

grupos sociais, podendo exibir identidades conflitantes, dependendo do contexto.


24

Resumindo, as ideologias dos grupos organizam crenças grupais que se

relacionam com domínios, os quais, por seu turno, influenciam as crenças específicas

de seus membros e formam, por fim, a base do discurso.

Van Dijk (2005, p. 59) sugere também a observação de alguns critérios para o

estudo das manifestações discursivas da ideologia. Menciona as condições

contextuais, pois os usuários da linguagem devem se expressar como componentes

de grupos; as expressões discursivas de identidade, valores, posição, atividades e

recursos do grupo. São relevantes as representações da posição social dos grupos e

sua associação com o que definem como positivo e negativo. A ênfase nas

qualidades do grupo em que o sujeito enunciador se inscreve , bem como a negação

de suas imperfeições e das qualidades dos outros grupos, pode ser verificada em

estruturas discursivas de todos os níveis. As representações positivas e negativas

podem se dar, por exemplo, por meio da seleção e apresentação de temas, das

descrições positivas ou negativas das pessoas, fatos, situações, ações, da

organização esquemática do texto, das implicações e pressuposições, da ordem das

palavras, da lexicalização, dos contrastes, das metáforas e dos eufemismos. Todos

os níveis e propriedades estruturais do discurso e o contexto podem codificar as

ideologias dos usuários da linguagem como indivíduos pertencentes a um grupo.


25

Consideramos, neste trabalho, a ideologia como arcabouço de representações

sociais compartilhadas por um grupo humano, que o identifica, orienta as atitudes de

seus membros e interfere na produção de seu discurso.

O discurso é produzido e compreendido de acordo com as características do

contexto, portanto uma análise social do discurso deve concebê-lo como algo

situado, com o objetivo de interpretar sua relação com o contexto social.

A análise do contexto pode ser bastante complexa. De acordo com van Dijk

(2005, p 32), em linhas gerais, o contexto parece implicar algum tipo de entorno ou

circunstâncias para um acontecimento, ação ou discurso, constituindo-se em algo que

é necessário conhecer para compreender adequadamente esse acontecimento, ação

ou discurso.

O autor (2005, p. 32) acrescenta que o contexto pode envolver alguns

parâmetros, tais como participantes e seus papéis, propósito, e ainda propriedades

como tempo e lugar. O autor destaca, todavia, que nem todas as propriedades de

uma situação social fazem parte do contexto de um discurso, mas que os

participantes, seus papéis, tais como os de produtores ou receptores de textos, são

fundamentais para o contexto. Tem -se ainda como relevantes outras propriedades

dos participantes do contexto, destacando-se entre elas a etnia, a idade o gênero, a

classe social e os graus de instrução e de autoridade.


26

As propriedades mencionadas pelo autor como contextuais podem influenciar a

produção ou a compreensão do texto escrito ou falado. A escolha do tema e o

emprego de formas de tratamento constituem exemplos, entre muitos outros, de

como o discurso pode ser influenciado por esses fatores.

Van Dijk (2005, p. 33), considerando as propriedades de uma situação social,

define então contexto, provisoriamente, como conjunto de todas as propriedades da

situação social que são sistematicamente relevantes para a produção, compreensão

ou funcionamento do discurso. Aborda as relações entre discurso e contexto,

ressaltando que adaptamos o que dizemos e a forma como interpretamos o que os

outros dizem a alguns de nossos papéis ou identidades e também aos papéis de

outros participantes . Acrescenta que “as estruturas do discurso variam em função

das estruturas do contexto”, podendo ser explicadas em termos dessas últimas.

Arremata destacando que “os contextos podem estar determinados e ser modificados

em função das estruturas do discurso”.

Além de englobar dimensões como tempo, lugar e posição do falante, o

contexto também pode incorporar outras circunstâncias do ambiente físico, esfera

pública ou privada, do ambiente informal ou institucional. Estes últimos estão

fortemente ligados aos gêneros do discurso institucional, os quais interagem de várias

formas com as estruturas do texto escrito e do texto falado.


27

Considerando que muitos discursos só tenham razão de existir em

determinadas estruturas sociais e culturais, van Dijk (2005, p. 37) acredita que haja

sentido analítico em estabelecer a distinção entre contexto local ou interativo e

contexto global ou social, enfatizando que delimitar com exatidão esses contextos

constitui tarefa complexa. É comum que o discurso e o contexto local sejam

produzidos e interpretados inscritos em contextos globais, como partes funcionais.

O pesquisador prossegue ponderando que os discursos ao mesmo tempo em

que podem estar condicionados pelos contextos, também exercem influência sobre

eles, construindo-os. Chama a atenção para o fato de que os contextos, já que os

discursos não são objetivos, não se constituem de fatos sociais interpretados por

todos os participantes da mesma maneira. Os contextos são construídos ou

interpretados como fatos relevantes por e para os participantes. Com base no mesmo

autor e obra, é possível afirmar, então, em uma perspectiva mais cognitiva, que os

contextos são construções mentais dotadas de uma base social, isto é, são modelos

na memória. Os modelos mentais dos contextos, como representações subjetivas,

podem monitorar a produção e a compreensão do texto. Não fosse essa

subjetividade, todos os usuários da linguagem, quando se encontrassem diante de

um “mesmo” contexto, teriam a “mesma” percepção da realidade.


28

Koch e Elias (2006, p. 61) afirmam que, para que haja uma intercompreensão

entre duas ou mais pessoas, “(...) é preciso que seus contextos sociocognitivos11

sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes (...)”, isto é, os conhecimentos dos

indivíduos em interação “(...) devem ser, ao menos em parte, compartilhados, uma

vez que é impossível duas pessoas partilharem exatamente dos mesmos

conhecimentos”.

Acrescentam que quando os indivíduos entram em interação, cada um deles

traz consigo sua bagagem cognitiva (o que já é um contexto), que é alterado e

ampliado a cada momento. Isso faz com que os interlocutores tenham que se ajustar

aos novos contextos que surgem sucessivamente.

Sobre a relação dos usuários da linguagem com o contexto, van Dijk (2005, p.

22-23), ressalta que as pessoas produzem ou compreendem os textos como

membros de culturas, sociedades, comunidades, categorias sociais, grupos,

organizações, e profissões. No processo de produção ou de compreensão de um

texto, os indivíduos interagem como mulheres e homens, ricos e pobres, nativos ou

11
Para Koch (2006, p. 63-64) esses contextos reúnem “(...) todos os tipos de conhecimentos
arquivados na memória dos atores sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio
verbal”. São eles: “o conhecimento lingüístico propriamente dito; o conhecimento enciclopédico, quer
declarativo (conhecimento que recebemos pronto, que é introjetado em nossa memória ‘por ouvir falar’,
quer episódico (‘frames’, ‘scripts’) (conhecimento adquirido através da convivência social e
armazenado em ‘bloco’, sobre as diversas situações e eventos da vida cotidiana (...); o conhecimento
da situação comunicativa e de suas ‘regras’ (situacionalidade); o conhecimento superestrutural ou
tipológico (gêneros e tipos textuais); o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e sua
adequação às situações comunicativas); o conhecimento de textos que permeiam nossa cultua
(intertextualidade).
29

estrangeiros, professores e alunos, sacerdotes e seguidores, jovens e idosos, etc.,

geralmente, em complexas combinações desses papéis e identidades.

Prossegue o autor, declarando que a produção e a interpretação de textos pelo

indivíduo sofre interferência de diferentes marcos comunicativos, tendo como base

diversas formas de conhecimento social e cultural, com diferentes objetivos,

propósitos e resultados. O discurso geralmente revela essas características em

relação com seu contexto, manifestando e simultaneamente moldando as variadas

propriedades relevantes da situação sociocultural que se denomina contexto.

Neste estudo, com base nos autores citados, tomaremos contexto como uma

representação mental da estrutura de uma situação sociocultural que monitora a

produção e a interpretação do discurso.

2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

As pesquisas sobre representações sociais vêm despertando o interesse da

comunidade científica internacional há algumas décadas. Esse movimento, iniciado

por Serge Moscovici, em 1961, na França, no campo da Psicologia Social, tende a

ocupar posição central na área das Ciências Humanas (JODELET, 2001, p. 11-12).
30

Jodelet (2001, p. 12), em pesquisa sobre o campo de estudos das

representações sociais e suas linhas mestras, destaca que essas pesquisas

apresentam um caráter ao mesmo tempo fundamental e aplicado, recorrendo a vários

tipos de metodologia, tais como: experimentação de campo e em laboratório;

enquetes; questionários e técnicas de associação de palavras; observação

participante; análise documental e de discurso, etc. As pesquisas sobre

representações sociais abrangem, além do estudo de papéis e atores sociais

(crianças, mulheres, homens, diferenciação de gênero etc.), e das relações

intergrupais (nação, etnias, sexos, categorias sociais, identidade, etc.), estudos em

numerosos outros domínios, como: o domínio científico (teo rias e disciplinas

científicas, difusão de conhecimentos, didática das ciências, desenvolvimento

tecnológico, etc.); o cultural (cultura e religião); o social e o institucional (política,

movimentos sociais, economia, desvio e criminalidade, sistema jurídico, etc.); o da

produção (profissões, trabalho, desemprego, etc.); o ambiental (espaços construídos

e naturais, cidades, riscos ambientais, etc.); o biomédico (corpo, sexualidade,

esporte, saúde, doença, etc.); o psicológico (personalidade, inteligência, grupos, etc.);

o educacional (instituição escolar, papéis, formação, etc.)

Conforme relata Moscovici (2001, p. 47), Émile Durkheim foi o verdadeiro

criador do conceito, quando falou de representações coletivas no final do século XIX.

Para Durkheim, segundo Jodelet (2001, p.34), essas representações traduzem a

forma como um determinado grupo se pensa em suas relações com os objetos que o

afetam. Moscovici (2001, p. 47) destaca ainda que, na perspectiva de Durkheim, a


31

representação “designa, prioritariamente, uma ampla classe de formas mentais

(ciências, religiões, mitos, espaço, tempo), de opiniões e de saberes sem distinção”.

Moscovici (2001, p. 47) acrescenta:

Compreende-se que tal representação seja homogênea e vivida por


todos os membros de um grupo, da mesma forma que partilham uma
língua. Ela tem por função preservar o vínculo entre eles, prepará-los
para pensar e agir de modo uniforme. Ela é coletiva por isso e também
porque perdura pelas gerações e exerce uma coerção sobre os
indivíduos, traço comum a todos os fatos sociais.

Desse modo, assim como as línguas, as representações sociais são, ao

mesmo tempo construídas e adquiridas, tornando-se, como aquelas, elementos de

unidade e de identificação de cada grupo humano.

Por já ter uma trajetória de várias décadas, desde 1961, e por ter despertado o

interesse de inúmeros centros de pesquisa, o conceito de representações sociais

apresentado por Moscovici vem sofrendo inúmeras análises, críticas e reformulações.

O próprio pesquisador, conforme ressalta Semin (2001, p. 207), estaria aberto a

essas possibilidades de reformulação, afirmando que o conceito não está

perfeitamente estabelecido, uma vez que seu conteúdo é amplo, mal definido, não

sendo com facilidade apreendido intuitivamente e ganhando sentido apenas no seu

uso concreto.
32

Segundo Hewstone (2001, p. 218), Moscovici, em 1981, apresenta de modo

mais completo, a seguinte definição:

Por representações sociais designamos um conjunto de conceitos,


enunciados e explicações originado na vida cotidiana. Elas são o
equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e aos sistemas de crença
das sociedades tradicionais; poder-se-ia mesmo considerá-las como a
versão contemporânea do senso comum.

Uma outra definição que, de acordo com Semin (2001, p. 207), foi apresentada

pelo próprio Moscovici12, parece nos colocar mais próximos do mundo prático das

representações sociais:

(...) são entidades quase tangíveis. Elas circulam, entrecruzam -se e


cristalizam-se sem cessar por meio de uma fala, um gesto, um
encontro, em nosso cotidiano. A maioria das relações sociais
estabelecidas, dos objetos consumidos ou produzidos, das
comunicações trocadas estão impregnadas delas. Como sabemos, elas
correspondem, por um lado, à substância simbólica que entra na
elaboração e, por outro lado, à prática que produz a dita substância,
assim como a ciência e os mitos correspondem a uma prática científica
e mítica.

Doise (2001, p. 193), abordando o aspecto simbólico das representações

sociais, faz o seguinte detalhamento:

As representações sociais são sempre tomadas de posição simbólica,


organizadas de maneiras diferentes. Por exemplo: opiniões, atitudes ou
estereótipos, segundo sua imbricação em relações sociais diferentes.
De um modo geral, pode-se dizer que, em cada conjunto de relações

12
Moscovici, S. La psychanalyse, son image et son public. Paris: PUF, 1976.
33

sociais, princípios ou esquemas organizam as tomadas de posição


simbólicas ligadas a inserções específicas nessas relações.

Jodelet (2001, p. 22) apresenta uma caracterização de representação social

com a qual, segundo a estudiosa, a comunidade científica encontra -se de acordo:

(...) é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,


com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como
saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de
conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico.
Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este,
devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora
dos processos cognitivos e das interações sociais.

A mesma pesquisadora (JODELET, 2001), considerando as representações

sociais como construções mentais, que fazem parte do nosso cotidiano, enfatiza o

fato de que o homem, como ser social, precisa ajustar-se ao mundo em que vive,

principalmente para adequar-se a ele, no que se refere ao comportamento e à

sobrevivência, buscando continuamente informações sobre seu meio. Essas

informações são de suma importância para o dia a dia, já que elas propiciam os

instrumentos necessários para a convivência do indivíduo em sociedade.

A representação constitui, portanto, uma forma de saber prático que associa

um sujeito, inscrito em um contexto, a um objeto, não havendo representação sem

objeto. Apresentand o a marca do sujeito e de sua atividade, a representação

apropria-se desse objeto e lhe atribui significações, simbolizando-o, tornando-o


34

presente, e contribuindo para criar uma realidade. Circulando nos discursos, trazidas

pelas palavras e imagens, disseminadas pelos meios de comunicação, pelas

condutas, em organizações materiais e espaciais, podem ser observadas diretamente

ou reconstruídas por trabalho cientificamente orientado.

De acordo com Jodelet (2001, p. 22), as representações sociais, consideradas

como fenômenos cognitivos,

(...) envolvem a pertença social dos indivíduos com as implicações


afetivas e normativas, com as interiorizações de experiências, práticas,
modelos de condutas e pensamento, socialmente inculcados ou
transmitidos pela comunicação social, que a ela estão ligadas. Por isso,
seu estudo constitui uma contribuição decisiva para a abordagem da
vida mental individual e coletiva (...).

Isso significa que as representações sociais interferem no grupo social, nos

sentimentos e deveres de cada membro do grupo, e na construção do conhecimento

e do comportamento do indivíduo.

A pesquisadora prossegue (JODELET, 2001, p. 22), afirmando que as

representações sociais são abordadas como processo e produto de uma atividade de

apropriação de uma realidade exterior ao pensamento e de elaboração psicológica e

social dessa realidade. Podem, portanto, ser enfocadas pelos estudiosos sob seu

aspecto constituinte (os processos) e constituído (os produtos e conteúdos).


35

Jodelet (2001, p. 26) apresenta ainda alguns elementos -base na construção da

teoria das representações sociais. Estabelece a pesquisadora que:

As representações sociais devem ser estudadas articulando-se


elementos afetivos, mentais e sociais e integrando – ao lado da
cognição, da linguagem e da comunicação – a consideração das
relações sociais que afetam as representações e a realidade material,
social e ideativa sobre a qual elas têm de intervir.

Importante característica das representações sociais é seu caráter mutável, o

qual, segundo Palmonari e Zani (2001, p. 267), o próprio Moscovici ressalta, uma vez

que, ao deparar-se com um objeto social importante, embora desconhecido ou quase,

o indivíduo “inicia uma operação complexa de redefinição, a fim de tornar o objeto

mais compreensível e compatível com seu sistema simbólico”.

Jodelet (2001, p. 28) apresenta algumas questões básicas que fornecem

parâmetros de análise, busca de dados e construção das representações sociais. São

elas as seguintes: Quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe? Sobre o que

sabe e com que efeitos? A resposta para tais questões indica o caminho apresentado

por Jodelet para o pesquisador encontrar as representações sociais. A inter-relação

sujeito–objeto apresenta-se de forma ampla nessas questões, cabendo ao

pesquisador identificar quem é esse sujeito e o que é esse objeto.


36

Cabe também destacar as três etapas que caracterizam essa teoria: o pensar,

o sentir e o atuar. O pensar é o conhecimento prévio que se tem do objeto; o sentir

demonstra o sentimento que o sujeito tem em relação ao objeto e as atitudes

tomadas pelo sujeito de acordo com o conhecimento que ele tem sobre o objeto; o

atuar são as ações do sujeito face ao significado e ao significante do objeto.

Zarate (1995, p. 29) aborda a representação como uma forma de atribuição de

sentido, concebendo-a como “um modo de conhecimento” e não “como um

concentrado de verdade sobre a realidade”. A pesquisadora observa a ligação entre

as representações e as relações de poder, ressaltando a peculiaridades de aquelas

trazerem em si uma leitura dinâmica de um espaço social e das forças nele existentes

e de tentarem impor uma maneira ou outra de recortar esse espaço com recurso a

estratégias de classificação.

É importante destacar a existência de dois processos formadores das

representações sociais descritos por vários pesquisadores da área: a ancoragem e a

objetivação.
37

Ancoragem é a integração cognitiva do objeto representado (idéias,

acontecimentos, pessoas, etc.) a um sistema de pensamento social pré -existente e as

transformações implicadas. Ancorar, para Moscovici (1978, p. 289), significa

classificar e denominar objetos que não têm classificação e, portanto, são estranhos e

ameaçadores, ou seja, ancorar é encaixar aquilo que não é familiar ou estranho por

meio de um processo de classificação própria de cada um, criando um conforto para

o indivíduo na aceitação do estranho.

Objetivação é a passagem de conceitos ou idéias para esquemas ou imagens

concretas, os quais, pela generalidade de seu emprego, se transformam em

"supostos reflexos do real" (Moscovici, 1978, p.289). Trata-se de uma operação pela

qual se atribui uma forma específica ao conhecimento a respeito do objeto, tornando

concreto e quase tangível um conceito abstrato.

Silva (2000, p. 60) ressalta que a representação é concebida sobretudo em

uma dimensão de significante, isto é, como sistema de signos, como marca material,

traço visível exterior configurado, em um texto verbal, uma pintura, etc. A

representação constitui uma reconstrução do objeto representado por meio de

determinada ótica. Sendo assim, nesse processo de reconstrução, de acordo com

Jodelet (2001, 36-37) são esperadas distorções, suplementações e subtrações.


38

Na distorção, os atributos do objeto representado encontram-se presentes,

porém de modo acentuado ou atenuado. Isso nos leva de volta à questão da

ideologia e de seu uso pelo grupo dominante, quando nos referimos à ênfase nas

qualidades do grupo em que o sujeito se inscreve, assim como a negação ou

minimização das imperfeições do próprio grupo e das qualidades dos outros grupos.

As representações de grupos dominados são elaboradas tomando como

referência os grupos dominantes. Aqueles apresentam traços semelhantes a estes,

decalcados de duas formas: por mecanismo de redução (com as mesmas

características, embora atenuadas em qualidade) e por mecanismo de inversão (com

características inversas às do dominante).

Com relação à suplementação e à subtração, a primeira consiste em um

processo de conferir ao objeto representado atributos que não seriam próprios dele.

Já a subtração, que geralmente resulta de um efeito repressivo das normas sociais, é

a supressão de atributos do objeto.

A representação está associada à identidade e à diferença, uma vez que é por

intermédio da representação que as duas ganham existência. Para Silva (2000, p.

91), o ato de representar significa dizer “essa é identidade”, embora observe o autor

que a identidade não é homogênea e imutável. Ela, na realidade, é fragmentada,

mutante e fruto de determinado tempo. A identidade – significado social e


39

culturalmente atribuído – se estabelece por meio de representações, por vezes tão

recorrentes que passam a ter um estatuto de verdade.

Um caso particular de representação, de acordo com Zarate (1998, p. 9), é o

estereótipo, um processo redutor que pode ser enfocado em duas perspectivas: na

primeira, seria um ato de conhecimento equivocado (que deveria ser evitado por se

tratar de atividade discriminatória); na segunda, que pode ser considerada uma visão

mais positiva, o estereótipo seria um conhecimento sumário, ainda incipiente de um

dado objeto.

É por meio da representação que a identidade e a diferença se ligam a

sistemas de poder. Aquele que tem o poder de representar tem o poder de definir e

determinar a identidade. Desse modo, não é difícil perceberem-se as implicações que

isso pode ter tido nos textos que compõem o corpus desta pesquisa.

Finalizando, neste trabalho, consideraremos representações, tomando por

base Jodelet (2001), como formas de conhecimento elaboradas e compartilhadas

socialmente, com propósitos práticos, que contribuem para a construção de uma

realidade comum a um grupo social.


40

3 O BRASIL E OS BRASILEIROS: DUAS PERSPECTIVAS

Tomamos como ponto de partida dois pontos de vista sobre o Brasil e os

brasileiros, configurados em dois estudos: o de DaMatta – exposto no livro O que faz

o brasil, Brasil? (1989) – e o de Almeida13 – contido na obra A cabeça do brasileiro

(2007). Esses estudos são de natureza distinta, mas de certa forma complementares.

O primeiro contém criações conceituais, sem apresentar praticamente dados

quantitativos, e o segundo apresenta dados colhidos em 2363 entrevistas da

Pesquisa Social Brasileira (PESB), realizada por seu autor, com a colaboração de

Clifford Yo ung, no âmbito do Núcleo de Pesquisas, Informações e Políticas Públicas

da Universidade Federal Fluminense (DATAUFF) e depositada no Consórcio de

Informações Sociais da Universidade de São Paulo.

Os dois estudos sobre a essência do brasileiro apresentam convergências e

divergências. Confluem, por exemplo, no que diz respeito à representação do Brasil

como hierárquico, familista, patrimonialista e adepto de atitudes como o “jeitinho

13
A obra “A cabeça do brasileiro” apresenta como autor Alberto Carlos Almeida que teve a colaboração de
Clifford Young. Consideramos, entretanto, a autoria de Almeida, uma vez que é apenas esta que é apresentada na
ficha catalográfica da publicação.
41

brasileiro 14” e outros comportamentos similares, constituindo uma sociedade cindida

entre o arcaico e o moderno.

Divergem, por exemplo, em relação à idéia de mudança em nossa sociedade,

que, para DaMatta (1989), seria dificultada pela herança portuguesa em aspectos

relevantes da vida social, como o comportamento do brasileiro diante das leis. Para

Almeida (2007), por outro lado, mudanças no perfil do brasileiro poderiam advir

facilmente de uma futura elevação da taxa de escolaridade, que atenuaria as

diferenças internas de nossa sociedade e nos aproximaria de outros grupos

humanos, numa época em que as culturas15 nacionais coexistem com as de grupos

sociais transnacionais ligados pela escolarização formal.

14
Embora seja esta uma expressão de domínio público entre nós, brasileiros, do nosso tempo, cabe
explicar a expressão “jeitinho brasileiro”: trata-se, de acordo com DaMatta (1989), de um modo de
navegação social, de uma forma das pessoas burlarem normas e leis para conseguirem alguma
vantagem, favor, etc. Almeida (2007, p. 17) acrescenta ser o “jeitinho” uma forma de o indivíduo, ou
pela sua importância ou “(...) por meio de uma boa conversa, persuadir os demais de que se deve ser
tratado como exceção”, e ressalta que o problema se deve à forte hierarquização da sociedade
brasileira.
15
O termo “cultura”, como tantos outros na área das ciências, tem sido motivo de muita discussão e de
desencontro de opiniões entre pesquisadores. Se, por um lado, pode-se dar-lhe significado de
abrangência tal que o torna vago, por outro, pode-se atribuir-lhe tantos significados de tantas áreas
distintas que sua utilização pode trazer problemas de interpretação. De acordo com Viana (2003),
Kluckhohn e Kroeber, na década de cinqüenta do século passado, chegaram a reunir mais de
trezentas definições para o termo. Geertz (1989), ao comentar a obra de Kluckhohn (Mirror for Man ),
afirma que, em um capítulo de apenas 27 páginas, esse pesquisador apresentou 11 definições
diferentes para “cultura”. Marconi e Presotto (2005) referem -se a mais de 160 definições e afirmam
ainda não se ter chegado a um consenso a respeito do significado do termo. O levantamento das
pesquisadoras culmina com a colocação de Clifford Geertz, em 1973, que difere dos demais e propõe
que cultura seja um “mecanismo de controle do comportamento” (MARCONI; PRESOTTO, 2005, 43).
DaMatta (1989, p. 17) considera cultura como “um estilo, um modo e um jeito de fazer as coisas”,
estilo, modo e jeito estes “escolhidos” dentre elementos universais, advindos de “uma zona
indeterminada”, que condicionam a existência humana. Dentre as centenas de definições levantadas
pelos pesquisadores citados, para atingir os nossos propósitos, neste trabalho, e como fizemos dos
estudos de DaMatta um de seus pontos de partida, aceitamos a perspectiva de cultura apresentada
pelo antropólogo.
42

DaMatta destaca que o brasileiro lida mal com a igualdade e apresenta o Brasil

como um país hierárquico em que a posição e a origem sociais são fundamentais

para determinar o que se pode e o que não se pode fazer; e para se situar como

acima da lei ou a ela submetido. Almeida, por sua vez, julga que as relações sociais

verticais de nossa sociedade podem ser progressivamente substituídas, com a

escolarização dos brasileiros, por relações de poder mais horizontais. Aponta

(ALMEIDA, 2007, p. 19) a coexistência de uma população de brasileiros com

escolarização suficientemente elevada e pontos de vista “modernos” com uma outra

parcela da população que compartilha uma visão de mundo “arcaica”.

3.1 A VISÃO DE DAMATTA

DaMatta (1989), observando o brasileiro em espaços simbólicos como a casa e

a rua, em atividades de trabalho, em momentos de festa e de prazer, em sua

religiosidade, etc., faz uma análise do conjunto de características que formam o

retrato do que poderíamos chamar de identidade do povo brasileiro.

O trabalho de DaMatta desvela o universo social e cultural dos brasileiros

através de suas festas familiares e populares, das relações raciais, da sexualidade,

do trabalho, da postura diante das leis (o que é respeitado e o que não o é – o

jeitinho) e da religião, dos hábitos alimentares, etc.


43

A obra é dividida em oito capítulos, assim intitulados: 1 – O que faz o brasil,

Brasil? A questão da identidade; 2 – A casa, a rua e o trabalho; 3 – A ilusão das

relações raciais; 4 – Sobre comidas e mulheres; 5 – O carnaval, ou o mundo como

teatro e prazer; 6 – O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”; 7 –

Os caminhos que levam para Deus.

No primeiro capítulo, o autor explica o significado das duas formas de entender

o Brasil, sendo a primeira (escrita com letra minúscula) “nome de um tipo de madeira

de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer (...),

um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa morta e

não tem a menor condição de se reproduzir como sistema (...)”; enquanto segunda

(escrita com letra maiúscula) seria algo mais complexo:

(...) país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos


internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o
calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o
qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada.

DaMatta, juntando todos esses elementos, discorre sobre o que é identidade e

o que caracteriza a identidade de um povo.

O segundo capítulo mostra as relações do brasileiro no espaço da casa e da

rua, sendo o primeiro o espaço privado, o lugar das relações familiares e afetivas, de

onde se exclui a desordem e a competição da rua. É na rua onde se encontra o


44

trabalho que, na visão do pesquisador, corresponde , em nossa cultura, ao que, na

Roma Antiga, se designava tripaliu, ou seja, castigo.

No capítulo seguinte, partindo da assertiva de Antonil, no século XVIII – “O

Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para

os mulatos” –, o antropólogo comenta as relações raciais existentes no Brasil,

comparando-as com as de outros países. Nessas comparações, ele afirma que em

outras culturas o racismo é marcado por posições dualistas: alguém é branco ou é

negro. No caso brasileiro, entre o branco e o negro, existe “um conjunto infinito e

variado de categorias intermediárias” para identificar o indivíduo, o que faz existir no

Brasil um racismo “dissimulado e disseminado”, muito mais “contextualizado e

sofisticado” que aqueles existentes em outros países.

Em seguida, no quarto capítulo, apresenta a comida básica do brasileiro, o

feijão com arroz, como uma grande metáfora social, já que é costume a mistura entre

o preto e o branco, os direitos e deveres, o público e o privado, o certo e o errado,

diferentemente do que ocorre do que ocorre em outras culturas, em que cada coisa

tem o seu devido lugar, ou seja, pão é pão, queijo é queijo. O autor faz ainda uma

comparação entre a mulher – a dona de casa, imaculada, pura, fiel a um único

homem e a mulher da rua, prostituta, que se entrega a todos os homens – e a comida

– a de casa, preparada com carinho para ser servida para a família, e a de rua,

servida para todo aquele que se dispuser a comê-la e pagar por ela.
45

Os capítulos cinco e seis são dedicados, respectivamente, ao carnaval e às

festas da ordem. DaMatta comenta que, no carnaval, existe uma espécie de ruptura

entre as paredes que separam a casa da rua e do “outro mundo”, ou seja, do mundo

sobrenatural, parecendo ser o propósito básico dessa ocasião aquele de juntar os

homens, extinguindo todas as barreiras entre eles existentes. Já nas festas da ordem,

as muralhas sociais são mantidas e, nesses eventos, cada um sabe o papel que deve

desempenhar e o lugar em que deve ficar. Esses rituais da ordem caracterizam-se

por ter um centro, para o qual todas as atenções se voltam, podendo ser um evento,

um personagem, um objeto, etc. E acrescenta o pesquisador que é

de interesse (...) indicar que as pessoas estão distribuídas ao longo


desse centro que, ao contrário do carnaval (onde o mundo é
fragmentado e descentralizado, e muita coisa ocorre ao mesmo tempo),
possui um sincronismo, uma coordenação com o evento central (p. 90).

No capítulo sete, o autor estabelece uma espécie de território, delimitado pela

“obediência às leis que devem valer para todos” e uma rede de relações que só pode

funcionar para quem as tem. É nesse oceano que o brasileiro procede à sua

navegação social e onde se encontram sua malandragem , seu jeitinho para resolver

os problemas e seu autoritarismo. O mesmo indivíduo que, em um dado momento,

tem formas tão delicadas e humildes de solicitar um favor, no momento seguinte, é

capaz de perguntar: “você sabe com quem você está falando”. Nesse capítulo ainda,

DaMatta apresenta seu ponto de vista sobre a malandragem, acrescentando que

essa característica:
46

(...) não é simplesmente uma singularidade inconseqüente de todos


nós, brasileiros. Ou uma revelação do cinismo e gosto pelo grosseiro e
pelo desonesto. É muito mais que isso. De fato, trata-se mesmo de um
modo – jeito ou estilo – profundamente original e brasileiro de viver, e
às vezes sobreviver, num sistema em que a casa nem sempre fala com
a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver com as boas
regras da moralidade costumeira que governam a honra, o respeito e,
sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos, aos parentes e aos
compadres (...) (p.104).

O último capítulo mostra a religiosidade do povo brasileiro, em que o

sincretismo e a mistura de religiões prevalecem. Envolvido pela Igreja Cristã e pelas

diversas religiões africanas e indígenas, desde a colo nização, o brasileiro

desenvolveu diversas formas de se “comunicar” com o “outro mundo”16, ou mundo

sobrenatural que o protege. Desse modo, conforme explica DaMatta, é normal ir à

Missa do Galo, no dia de Natal, e, sete dias depois, no dia 31 de dezembro, vestir-se

de branco e ir à beira da praia para festejar os orixás e “receber os bons fluidos da

atmosfera de esperança que ali se forma” (p. 117).

DaMatta procura demonstrar que a sociedade brasileira não pode ser

entendida de um modo unitário. Os tópicos apresentados revelam para o autor a

existência de uma lógica relacional entre os grupos sociais de uma sociedade

“irremediavelmente” dividida. Para que essas relações se estabeleçam de maneira

harmônica, existiriam personagens intermediários que procedem no sentido de

conciliar posições antagônicas. Poderíamos supor que alguns desses personagens

16
Segundo o autor (DAMATTA, 1989, p. 109), esse “outro mundo” é o lugar “(...) onde, um dia, também
iremos habitar. Esse mundo habitado por mortos, fantasmas, almas, santos, anjos, orixás, deuses,
Deus, a Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde ninguém retorna... ou pelo
menos retorna com facilidade”.
47

seriam aqueles responsáveis pelo conhecido “jeitinho brasileiro” e outros seriam

aqueles responsáveis pelos nossos contatos com o que o antropólogo chama de “o

outro mundo”.

O pesquisador (DAMATTA, 1989, p. 120) afirma que a sociedade brasileira, ao

mesmo tempo moderna e tradicional, “combinou, no seu curso histórico e social, o

indivíduo e a pessoa, a família e a classe social, a religião e as formas econômicas

mais modernas”, o que gerou “um sistema com espaços internos bem divididos e que,

por isso mesmo, não permite qualquer código hegemônico ou dominante”. O

brasileiro é, então, segunda DaMatta, “uma pessoa em casa, outra na rua e ainda

outra no outro mundo”, transformando-se obrigatoriamente nesses espaços porque

em cada um deles se é submetido e valores e visões de mundo diferentes.

3.2 A VISÃO DE ALMEIDA

Almeida (2007) aborda, na obra focalizada, temas como ética, economia,

política, civismo, igualdade, família, sexualidade, raça, destino, punições, jeitinho,

apresentando estatísticas resultantes da PESB, desenvolvida em 2002, por meio de

2.363 entrevistas. Segundo o autor, na elaboração da amostra, foram utilizados os

dados da contagem de 1996 do IBGE e a divisão político-administrativa brasileira

(cinco regiões, 26 estados, Distrito Federal e 5.507 municípios), Consideraram-se na

pesquisa os dados das 26 capitais de estado e o Distrito Federal, considerados como

cidades auto-representativas e de outras 75 não auto-representativas.


48

Almeida (2007) tenta responder as seguintes questões: a) Até que ponto os

brasileiros mostram no cotidiano das relações interpessoais valores compatíveis com

a prática democrática? Como eles vêem as noções de igualdade, os princípios do

universalismo e a obediência às leis?

Após analisar os resultados dos cruzamentos dos dados obtidos na PESB,

apresentados na obra em inúmeros quadros, o pesquisador conclui que o antropólogo

Roberto DaMatta está certo em muitas das suas afirmações sobre o Brasil. Afirma

tratar-se de um país hierárquico, familista, patrimonialista, além de arcaico e

atrasado. Entretanto, continua, não é um bloco monolítico, mas uma sociedade

profundamente dividida.

O Brasil, para o autor, é, na verdade, dois países muito distintos em

mentalidades, separados por uma espécie de apartheid cultural, que vivem num

sistema de valores em conflito, tornando-se uma sociedade de paradoxos. As

camadas de nível econômico, social e educacional mais baixas, onde se encontra a

maior parte da população, defendem valores que tendem a morrer ou a se

enfraquecer lentamente, enquanto as classes diametralmente opostas mantêm-se

alinhadas a princípios sociais dominantes nos países desenvolvidos.

Não querendo entrar na questão do que é certo ou o que é errado em relação

aos valores de cada um dos lados, Almeida (2007, p. 25) afirma que:
49

Há, sim, um lado dominante em lenta erosão – o das classes baixas –,


e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à medida
que a escolaridade média da população aumentar. Sim, porque entre os
fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais
importantes é a escolaridade. É a educação que comanda a
mentalidade. Quem passou pelos bancos escolares de uma
universidade e obteve um diploma tende a ser uma pessoa moderna:
impessoal; contra o jeitinho brasileiro; contra punições ilegais, contra
linchamentos e o estupro, na cadeia, de condenados pelo mesmo
crime; refratária à crença de que o destino está completamente nas
mãos de Deus; e a favor de confiar mais nos amigos.

O autor prossegue, ressaltando ser possível que alguém que não tenha tido a

oportunidade de conseguir concluir um curso superior pense sobre as mesmas

questões por uma ótica diversa, “pré -modernista ou arcaica: personalista; a favor do

jeitinho brasileiro e do cumprimento da lei de Talião (...); e que defenda a crença de

que o destino dos homens está nas mãos de Deus”.

O fato de se ter ou não um diploma de curso superior somado a variáveis como

ser homem, jovem, residente em uma capital dos estados das regiões mais ricas e

desenvolvidas do país – o Sudeste e o Sul –, em oposição a outras variáveis como

não se ter nem mesmo completado o Ensino Fundamental, ser mulher, de faixa etária

mais elevada, residente em cidades do interior do Nordeste, faz com que o abismo

entre as mentalidades torne-se ainda maior e a distância entre a modernidade e o

arcaísmo, imensa. E, como a maior parcela da população brasileira tem baixa

escolaridade, é possível afirmar, segundo Almeida, que o Brasil é predominantemente

arcaico e a mentalidade da dessa parcela da população tende a apoiar o jeitinho


50

brasileiro, a ser hierárquica, patrimonialista, fatalista, contra o ilberalismo sexual, a

favor da censura e de mais intervenção do Estado na economia, a não confiar nos

amigos, a não ter espírito público e a defender a lei de Talião.

Embora sejam probabilidades relativas a um amplo leque de questões, que vão

“do sexo à corrupção, passando por uma crença fatalista no destino (...)”, Almeida

(2001, p. 26-27) afirma ser provável que alguém com diploma universitário

(...) seja a favor de práticas sexuais variadas, ou de sexo entre pessoas


do mesmo gênero, e se escandalize quando denúncias de corrupção de
políticos, muitas delas comprovadas, são ‘esquecidas’ pela população
que acaba reelegendo os denunciados”. [Enquanto isso], “(...) para a
população de baixa escolaridade que apóia a quebra de regras
patrocinada pelo ‘jeitinho brasileiro’, há também uma tendência em
mostrar-se tolerante com a corrupção. Para muitas dessas pessoas,
não há ‘esquecimento’ das denúncias; elas simplesmente não são
importantes. Da mesma forma, também é grande a probabilidade de
encontrarmos nesse grupo opiniões contrárias a quaisquer variações do
ato sexual, limitado ao sexo genital entre um homem e uma mulher.

Conclui-se que, de acordo com os estudos apresentados por Almeida, existiria

uma enorme distância separando os dois grupos sociais em que está dividida a

sociedade brasileira, em termos de visão de mundo, mentalidade e cultura. E, caso

esteja correta a visão de DaMatta – que debita o comportamento do povo brasileiro à

herança cultural recebida de Portugal –, o país continuará muito distante das culturas

dos países desenvolvidos, no que se refere “(...) a aspectos relevantes da vida social,

como o respeito a lei” e, mesmo com o aumento do nível de escolaridade da

população, “(...) as mudanças de visão de mundo, culturais e ideológicas, resultantes


51

seriam pequenas face ao legado ibérico (...)”. Entretanto, se estiverem corretas as

evidências apresentadas pela PESB, ocorrerá exatamente o oposto apregoado por

DaMatta: citando o exemplo da Coréia do Sul, Almeida (2007, p. 276) prevê que, caso

haja um forte aumento do nível de escolaridade do povo, a cultura dos brasileiros se

aproximará das culturas de países mais desenvolvidos.


52

4 O CERTIFICADO DE PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA


ESTRANGEIROS – CELPE-BRAS

4.1 IMPLANTAÇÃO E DIFUSÃO

O Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-

Bras), que teve como base o Exame de Proficiência em Português para Estrangeiros

(EPPE) criado pela Unicamp, foi desenvolvido e é concedido pelo Ministério da

Educação (MEC) com o apoio do Ministério das Relações Exteriores. O Exame para

obtenção do Celpe-Bras é aplicado em instituições brasileiras e estrangeiras em

países da América, África, Ásia e Europa.

De acordo com a página oficial da SESu/MEC17 na Internet:

O processo de implementação do Celpe-Bras teve início com a Portaria


n.º 101/93 (DOU de 11/06/93), da Secretaria de Educação Superior
(SESu) do Ministério da Educação (MEC), a qual constituiu uma
Comissão para "desenvolver as ações necessárias à elaboração de um
teste padronizado de português para estrangeiros". Posteriormente, a
Portaria Ministerial n.º 500/94 (DOU de 08/04/94) alterou e ampliou o
número de membros da Comissão Técnica, determinando que a
mesma teria a atribuição de concluir a padronização do teste e de
assessorar a SESu nas questões relacionadas ao ensino de português
para estrangeiros.

17
Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=436>
Acesso em 02/01/2006.
53

A Portaria Ministerial nº.1787/95 (DOU de 02/0195) instituiu finalmente


o CELPE-Bras, a ser conferido em dois níveis: parcial - Primeiro
Certificado; pleno - Segundo Certificado. Em 1998, foram publicadas a
Portaria Ministerial n.º 643 (DOU de 2/7/98) e a n.º 693 (DOU de
9/7/98), ambas alterando dispositivos da Portaria 1787/95. A primeira
trata da criação da Comissão ad hoc, responsável pela correção dos
exames, e, a segunda, da designação da Comissão Técnica do
CELPE-Bras pela Secretaria de Educação Superior, o que se deu por
intermédio da Portaria n.º 1591, de 9 de outubro de 1998.

Em sua implantação, o Certificado seria conferido aos candidatos que

comprovassem proficiência em nível intermediário ou avançado. Os candidatos que

estivessem nos níveis zero ou básico não receberiam certificação18.

As atividades do Projeto foram, entretanto, interrompidas em fins de 1995 e

retomadas em março de 1997, culminando, em outubro de 1997, com a assinatura do

Protocolo de Colaboração entre o MEC e as instituições de ensino superior

envolvidas na primeira aplicação do Exame.

Estabeleceu-se que o público-alvo do Celpe-Bras seriam os estrangeiros

nativos de países não-lusófonos, com idade superior a 16 anos, de escolaridade

equivalente ou superior ao ensino fundamental brasileiro, que quisessem comprovar

para fins educacionais e profissionais (SCARAMUCCI, 1995; SCHLATTER, 1999;

BRASIL, 2003a; 2003b; 2006a; 2006b), entre outros, a proficiência em PBE.

18
Os níveis de proficiência com certificação, atualmente, são intermediário, intermediário superior,
avançado e avançado superior.
54

A primeira aplicação do Exame ocorreu em abril de 1998 em cinco instituições

públicas brasileiras de ensino superior: Universidade de Brasília (UnB), Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ); além de três instituições localizadas nos três países associados

ao Brasil no Mercosul: na Fundação Centro de Estudos Brasileiros (Funceb) de

Buenos Aires; no Centro de Estudos Brasileiros (CEB) em Assunção e no Instituto

Cultural Uruguaio-Brasileiro (ICUB) de Montevidéu.

Entre 1998 e 2002, o exame teve definido o formato das Partes Individual e

Coletiva, tendo sido fixado o período mais adequado para sua aplicação (abril e

outubro). Nesses quatro anos, houve também o treinamento dos primeiros

aplicadores e avaliadores, a elaboração do primeiro Manual do Candidato e o Manual

do Aplicador, e a ampliação criteriosa do quadro de instituições aplicadoras,

credenciando-se mais 10 instituições no Brasil e 22 no exterior. Ainda nesse período,

foi examinada a equivalência de níveis do Celpe-Bras com o Sistema de Avaliação e

Certificação de Português Língua Estrangeira 19 de Portugal, foram organizadas e

entregues para arquivamento pela SESu as versões do exame até então elaboradas,

disponibilizando-as para pesquisa e elaborando normas para o acesso ao material.

19
O sistema português é composto por cinco certificações: o CIPLE – Certificado Inicial de Português
Língua Estrangeira; o DEPLE – Diploma Elem entar de Português Língua Estrangeira; o DIPLE –
Diploma Intermédio de Português Língua Estrangeira; o DAPLE – Diploma Avançado de Português
Língua Estrangeira; e o DUPLE – Diploma Universitário de Português Língua Estrangeira.
Disponível em: http://www.fl.ul.pt/unidades/centros/caple/principal.htm. Acesso em: 02/01/2008.
55

Entre os anos de 2002 e 2007 – período no qual fizemos parte da CT do

Celpe-Bras –, houve a revisão e reedição do Manual do Candidato e do Manual do

Aplicador em versão impressa e, posteriormente, a disponibilização do Manual do

Candidato na página do Celpe-Bras na Internet, o credenciamento de mais três

postos aplicadores, no Brasil, e de mais 13 no exterior. Nesse mesmo período, houve

apenas dois descredenciamentos de postos aplicadores: o da Namíbia, a Embaixada

Brasileira em Windhoek, e o da Alemanha, o Instituto Cultural Brasil–

Alemanha/ICBRA , tendo este último sido substituído pela Universidade de Jena.

Desde de sua implantação, o Certificado vem sendo alvo de crescente

interesse por parte de várias instituições em que se ensina PBE tanto no Brasil

quanto no exterior. Hoje, o Exame é aplicado em 20 20 universidades de 14 estados

brasileiros (incluindo-se o DF) e em 38 instituições localizadas em 27 países do

Continente Americano, da África, da Ásia e da Europa 21.

Foram realizadas, então, no período de 1998 até 2007, no Brasil e no exterior,

18 edições22 do Exame, inicialmente sem periodicidade fixa; a partir do ano de 2002,

20
Na Região Norte: UFAM, UFPA, UNIFAP e UFRR; no Centro-Oeste: UNB; no Sudeste: UFF, UFMG,
UFRJ, UMESP, UNICAMP e USP; no Nordeste: UFBA, UFPB e UFPE; no Sul: UFPR, UFRGS, UFSC,
UFSM, UNIJUÍ e URI.
21
Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Coréia do Sul, Costa Rica, El Salvador,
Equador, Espanha, Estados Unidos, Guiana, Inglaterra, Itália, Japão, México, Nicarágua, Nigéria,
Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Suíça, Suriname, Uruguai e Venezuela.
22
Na realidade, o Exame foi aplicado em 20 ocasiões, já que houve duas aplicações, no Brasil, para
atender, exclusivamente, a estudantes do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G)
e do Programa de Estudantes -Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) do MEC que dependiam do
resultado do Exame Celpe-Bras para garantirem suas bolsas de estudos em instituições de ensino
superior brasileiras, advindas de acordos internacionais do Brasil. A primeira dessas duas aplicações
56

estabeleceu-se que as aplicações ocorreriam nos meses de abril de outubro de cada

ano.

No quadro a seguir, encontram-se as aplicações do Exame com a numeração

na ordem oficial do MEC.

Quadro 1
Celpe-Bras: aplicações do Exame

Exame Mês/Ano
1 Abr/1998
2 Jul/1999
3 Nov/1999
4 Ago/2000
5 Dez/2000
6 Jul/2001
7 Abr/2002
8 Out/2002
9 Abr/2003
10 Out/2003
11 Abr/2004
12 Out/2004
13 Abr/2005
14 Out/2005
15 Abr/2006
16 Out/2006
17 Abr/2007
18 Out/2007
Fonte: MEC/SESu/DePES/DAI

O Exame já teve concluída sua décima-oitava edição e, até a segunda

aplicação do ano de 2007, contou com a inscrição de quase 19 mil candidatos. Na

ocorreu em dezembro de 2001 e a segunda, em janeiro de 2003. No entanto, essas duas aplicações
não fazem parte da contagem oficial do MEC – haja vista o número de ordem do último exame (18º).
57

primeira aplicação, houve inscrições de 127 candidatos; nas duas últimas, em 2007,

um total de 4.141. O quadro a seguir, que deixa clara a demanda pelo Certificado,

apresenta a relação ano/número de candidatos inscritos para todas as aplicações do

Celpe-Bras.

Quadro 2
Celpe-Bras – relação ano/número de candidatos

Ano Número
de candidatos
1998 127
1999 703
2000 1.115
2001 1.526
2002 2.920
2003 3.031
2004 3.447
2005 3.958
2006 4.359
2007 4.141
TOTAL 18.984
Fonte: MEC/SESu/DePES/DAI

Trata-se do único certificado brasileiro de proficiência em português como

língua estrangeira reconhecido pelo governo brasileiro. Internacionalmente, é aceito

em empresas e instituições de ensino como comprovação de competência na língua

portuguesa. No Brasil, é exigido pelas universidades para ingresso no Programa de

Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) e de Pós-Graduação (PEC-PG) da

Secretaria de Educação Superior (SESu) do MEC, além de fazer parte das condições

para credenciamento junto ao Conselho Federal de Medicina, ao Conselho Federal

de Estatística, entre outros.


58

4.2 FINALIDADE, FORMA E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA AVALIADOS

De acordo com o Manual do Candidato do Celpe-Bras (BRASIL, 2003b,


2006b),

o Exame tem como finalidade testar a habilidade de comunicação oral e


escrita em Português do Brasil em uma variedade de situações do
cotidiano. Por meio de um único exame, são avaliados quatro níveis de
proficiência, assim denominados: Intermediário, Intermediário Superior,
Avançado e Avançado Superior.

O Exame tem abordagem comunicativa 23 e, nele, a competência do candidato

é avaliada por meio de tarefas 24, que podem ser a redação de uma carta, de um e-

mail, de resposta a uma correspondência, preenchimento de um formulário,

compreensão de um artigo de jornal, de uma notícia de rádio, ou um programa de

televisão, etc. Não se busca aferir conhecimentos a respeito da língua, com questões

sobre gramática ou vocabulário, mas a capacidade de uso da língua, uma vez que a

competência lingüística se integra à competência comunicativa (BRASIL, 2003a,

2006a).

23
Almeida Filho (1996) estabelece que “Comunicativo é o termo que indica, de forma nuclear, (...) a
força apontada para a superação do formalismo/gramaticalismo reinante no ensino de forma
convencional. O ensino comunicativo aponta para o aprender para e na comunicação, focaliza o uso
real ou verossímil da língua-alvo, sublinha o que é relevante e existencialmente mais profundo para os
alunos aprendizes”.
24
De acordo com Scaramucci (1995), “Tarefa é um termo usado em Lingüística Aplicada para se
referir a uma atividade de ensino ou de avaliação diferente daquela usada nas abordagens
tradicionais. Ela tem um propósito comunicativo, e procura especificar, para a linguagem, usos que se
assemelham ou estão mais próximos daqueles que têm na vida real. Ela permite a apresentação de
conteúdos ‘autênticos’, ou seja, extraídos de jornais, revistas e livros, não necessariamente elaborados
para o ensino de línguas, e sempre dentro de um contexto maior de comunicação, para que o
candidato possa ajustar o registro de linguagem às necessidades da situação”.
59

O Exame, conforme aparece no quadro a seguir, é organizado em tarefas que

são divididas em dois módulos. O primeiro, denominado Parte Coletiva, avalia as

habilidades de compreensão oral, compreensão escrita e produção escrita de forma

integrada, e tem a duração de duas horas e trinta minutos; o segundo, Parte

Individua l, avalia a compreensão escrita, compreensão oral e produção oral, também

de forma integrada.

Quadro 3
Celpe-Bras – Módulos do Exame

Módulo 1 – Parte Coletiva (2 horas e 30 minutos)


• Duas tarefas integrando compreensão oral e produção escrita,
a partir da apresentação de uma gravação em áudio/vídeo (T1)
e de uma gravação em áudio (T2) 25.
• Duas tarefas integrando leitura e produção escrita, a partir de
textos impressos.

Módulo 2 – Parte Individual (20 minutos)


• Interação a partir de atividades e interesses mencionados pelo
candidato na ficha de inscrição.
• Conversa sobre tópicos do cotidiano, de interesse geral, com
base em elementos provocadores (fotografias, cartuns,
resultados de pesquisas, etc.).
Fonte: Brasil (2006a, 2006b)

A PC tem a duração máxima de duas horas e trinta minutos e é dividida em

quatro tarefas, em cada uma das quais, o candidato ao Celpe-Bras deve produzir um

25
A apresentação das tarefas do Módulo 1 (Parte Coletiva), discutida a partir de 2001, passou a ter
essa configuração, por decisão da Comissão Técnica do Celpe-Bras , no Exame de outubro de 2004.
Anteriormente, a apresentação do material em áudio fazia parte da T1 e a do material em áudio e
vídeo, da T2.
60

texto escrito. Atualmente, a primeira tarefa (T1) é iniciada com a apresentação de um

material em vídeo, a segunda (T2), de um material em áudio, e a terceira (T3) e a

quarta (T4) de textos escritos, que podem incluir ilustrações.

A PI tem a duração de 20 minutos e é dividida em duas partes, nas quais o

candidato participa de uma interação face-a-face 26 com o professor-aplicador, com a

assistência do professor-observador. Na primeira parte, que tem a duração de

aproximadamente cinco minutos, a interação se desenvolve a partir de interesses e

atividades mencionados pelo próprio candidato em questionário padrão respondido

quando de sua inscrição para o exame. Na segunda parte, com duração aproximada

de 15 minutos, três EPs distintos sobre tópicos do cotidiano, de interesse geral, são

apresentados ao candidato de modo a provocar uma conversa o menos tensa

possível. A PI é gravada para eventuais verificações e/ou reavaliações por parte da

CT, quando da avaliação das provas na SESu do MEC em Brasília – DF.

Em relação aos níveis de proficiência avaliados, a concessão dos certificados,

de acordo com o Manual do Aplicador do Celpe-Bras (BRASIL, 2003a, 2006a),

efetiva-se na forma e condições seguintes:

a) o Certificado Intermediário é conferido ao candidato que evidencia um

domínio operacional parcial da língua portuguesa, demonstrando

26
Entende-se “interação face-a-face” como uma espécie de entrevista – um discurso de interação
assimétrica, por ser o entrevistador aquele que escolhe sobre o que se fala e como e quando se deve
parar – que ocorre em um contexto de co-presença, em que os interlocutores partilham um mesmo
sistema referencial de espaço e tempo (OLIVEIRA, 2002).
61

capacidade de compreensão e de produção de textos orais e escritos sobre

assuntos limitados, em contextos conhecidos e situações do cotidiano;

trata-se de alguém que usa estruturas simples da língua e vocabulário

adequado a contextos conhecidos, podendo apresentar inadequações e

interferências da língua materna e/ou de outra(s) língua(s)estrangeira(s)

mais freqüentes em situações desconhecidas.

b) O Certificado Intermediário Superior é conferido ao candidato que preenche

as características descritas no nível Intermediário. Entretanto, as

inadequações e as interferências da língua materna e/ou de outra(s)

língua(s) estrangeira(s) na pronúncia e na escrita são menos freqüentes do

que naquele nível.

c) O Certificado Avançado é conferido ao candidato que evidencia domínio

operacional amplo da língua portuguesa, demonstrando capacidade de

compreensão e de produção de textos orais e escritos, de forma fluente,

sobre assuntos variados, em contextos conhecidos e desconhecidos. Trata-

se de alguém, portanto, que usa estruturas complexas da língua e

vocabulário adequado, podendo apresentar inadequações ocasionais na

comunicação, especialmente em contextos desconhecidos. O candidato

que obtém esse certificado tem condições de interagir com desenvoltura

nas mais variadas situações que exigem domínio da língua-alvo.


62

d) O Certificado Avançado Superior é conferido ao candidato que preenche

todos os requisitos do nível Avançado; porém, as inadequações na

produção escrita e oral são menos freqüentes do que naquele nível.

4.3 A COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO TÉCNICA DO CELPE-BRAS

Desde a sua composição inaugural até o presente, a Comissão Técnica (CT)

tem sido formada por professores da área de PBE, sendo todos pós-graduados em

nível de mestrado ou doutorado, atuantes em instituições de ensino superior onde o

ensino de PBE é desenvolvido, e situados na faixa etária superior a cerca de 25 anos.

Os professores que, oficialmente, já participaram ou que participam da CT totalizam

23 (17 do sexo feminino e seis do sexo masculino). Há que se observar que, desse

total, no período entre o ano de 2000 e o mês de julho de 2007, trabalharam na

seleção de textos e elaboração das tarefas do Exame 14 professoras e dois

professores.

No quadro a seguir, encontram-se as representações dos estados na CT, de

acordo com o ano de atuação.


63

Quadro 4
Celpe-Bras:
Representação das Unidades da Federação na CT de 1993 até julho de 2007

Ano AM BA DF MG PE RS RJ SP
1993 - - X X X X X
1994 - - X X X X X
1995
1996
1997
1998 - - X X X X X X
1999 - - X X X X X
2000 - - X X X X X
2001 - - X X X X X
2002 - - X X X X X
2003 - X X X X X
2004 - X X X X X
2005 X X X X X X X
2006 X X X X X X X
2007 X X X X X
Fontes: MEC/SESu/DAÍ, Portal do MEC na Internet e relatos pessoais de ex-membros
da CT do Celpe-Bras.

A CT do Celpe-Bras foi inicialmente composta por membros representantes de

cinco instituições públicas brasileiras de ensino superior:: Universidade de Brasília

(UnB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Nos anos de 1995, 1996 e 1997, as atividades relativas à implementação do

Exame estiveram paralisadas27.

27
Essa informação nos foi fornecida pelo Prof. Arsênio Canísio Becker, chefe da Divisão de Assuntos
Internacionais da SESu, órgão responsável pelo Celpe-Bras, durante o período de implementação do
Exame.
64

De 1998 a 2002, a CT era composta por professoras representantes do Distrito

Federal e dos estados de Minas Gerais, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, do

Rio de Janeiro e de São Paulo. Nessa etapa, definiu-se e consolidou-se a

configuração do perfil da Parte Coletiva e da Parte Individual do Exame e fixou-se o

período de aplicação em abril e outubro. Em 2002, a CT passou a ser composta por

representantes de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul (dois membros), do Rio de

Janeiro e de São Paulo (dois membros). Em 2004, um dos representantes do Rio

Grande do Sul foi substituído por um do Rio de Janeiro, passando este estado a ter

dois membros.

Em 2005, a estrutura da CT foi modificada e passou a contar com uma equipe

administrativa, composta por quatro membros – todos pertencentes aos quadros da

SESu/MEC –, e uma equipe pedagógica, composta por 10 membros, representantes

dos estados do Amazonas, da Bahia, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, do Rio

de Janeiro e de São Paulo, além do Distrito Federal. Todas essas unidades

federativas tinham um membro na CT, exceto o Rio de Janeiro que contava com

quatro .

A partir do segundo semestre de 2007, a CT voltou a contar com seis

membros, sendo cada um representante de uma unidade da federação distinta:

Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
65

Desse modo, as Unidades da Federação que se fizeram representados por

mais tempo na CT do Celpe-Bras são os estados de Minas Gerais, do Rio de Janeiro,

do Rio Grande do Sul e de São Paulo, os quatro estados mais ricos e mais

representativos politicamente, conforme destacamos adiante. Brasília tem mantido

representantes com freqüência. O Amazonas teve, até o primeiro semestre de 2007,

dois representantes, e Pernambuco e a Bahia tiveram, até aquele mesmo período,

um representante cada um deles.

Uma constatação importante no Quadro 4 é que, do universo das 27 unidades

federativas, apenas nove se fizeram representar na CT, que, entre essas nove, quatro

sempre estiveram presentes até o ano de 2007, e que três dessas unidades (MG, RJ

e SP) pertencem à Região Sudeste e a outra (RS) à Região Sul, sendo estas as duas

regiões mais desenvolvidas e ricas e com maiores concentrações urbanas do País.

Do total de componentes de CT, entre o ano 2000 e julho de 2007, 14

professoras e dois professores participaram da elaboração de tarefas, sendo esse

total constituído de representantes do Amazonas (1), da Bahia (1), do Distrito Federal

(2), de Minas Gerais (2), do Rio Grande do Sul (2), do Rio de Janeiro (6) e de São

Paulo (2). O grupo encontrava-se numa faixa etária acima dos 25 anos (e para

sermos mais exatos, apenas quatro dos componentes estavam na faixa dos 25 a

aproximadamente 35 anos; e os demais estavam entre os 40 e 70 anos).


66

De acordo com o IBGE28, no ano de 2004, as quatro unidades federativas com

maior Produto Interno Bruto (PIB), em ordem decrescente, eram os estados de São

Paulo (R$546.606.818.000,00), do Rio de Janeiro (R$222.563.502.000,00), de Minas

Gerais (R$166.586.326.000,00) e do Rio Grande do Sul (142.874.226.000,00).

Considerando-se que, naquele ano, o PIB nacional ultrapassava a casa de R$1,6

trilhão, o peso daqueles estados nesse total é de mais de sessenta por cento 29.

Segundo informações contidas no Portal da Câmara dos Deputados30, dos 511

vagas de parlamentares, o Estado de São Paulo possui 70 representantes, o Estado

de Minas Gerais, 53, o Estado do Rio de Janeiro, 46, e o Estado do Rio Grande do

Sul, 31, ou seja, esses quatro estados detêm, em conjunto, 39,13% do total das

vagas das 27 Unidades da Federação.

Essas informações comprovam que os membros da CT responsáveis pela

escolha de textos e elaboração de tarefas do Exame são representantes das

unidades mais ricas e mais representadas politicamente no País.

28
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rs&tema=pibmun2004&titulo=Produto%20Interno%2
0Bruto%202004%20. Acesso em: 12/12/2007.
29
Ainda segundo a mesma fonte e a título de ilustração, no mesmo período, o Distrito Federal – que é
a Unidade da Federação que tem sido mais representada depois das já mencionadas – teve, como PIB
per capita, um total de R$19.071,00, o que representa praticamente o dobro do da média nacional, que
foi de R$9.743,00.
30
Disponível em: http://www2.camara.gov.br/conheca/index.html. Acesso em: 30/01/2006.
67

4.4 A ELABORAÇÃO DE TAREFAS

Ao selecionarem textos de fontes brasileiras para as tarefas do Celpe-Bras, os

elaboradores do Exame, professores brasileiros, reúnem documentos que podem

contribuir para que os candidatos, professores e posteriormente alunos que usem

material de exames anteriores para sua preparação para o Celpe-Bras possam

(re)configurar, de sua perspectiva, suas representações do Brasil e dos brasileiros.

Zarate 31 (1995, p. 111), em pesquisa da área de ensino de línguas que enfoca

materiais didáticos e as imagens e representações que veiculam, destaca que a ação

aparentemente simples de seleção de um documento pelo autor de um material

didático é por si mesma portadora de sentido. Escolher um documento é

indiretamente dar um testemunho de sua rede de referê ncias.

Estendemos a afirmação de Zarate aos elaboradores de exames de

proficiência. Ao selecionarem, adaptarem e articularem textos de diversos domínios,

gêneros, tipos 32 e fontes, que configuram diferentes discursos e abordam

determinados temas, oferecem, a partir de suas próprias representações da língua e

da cultura-alvo, inscritas no contexto cultural e histórico que compartilham, elementos

que contribuem para que os candidatos e os demais agentes sociais envolvidos com

o exame (re)configurem as suas visões do Brasil e dos brasileiros.

31
Todas as citações retiradas de textos referenciados em língua estrangeira são traduções do autor.
32
Usamos a expressão ” tipo textual” com base em Marcuschi (2003, p. 22) que com ela designa uma
espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) e abarcando meia dúzia de categorias como
narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.
68

Nesse processo de seleção, adaptação e articulação de textos, os

elaboradores das tarefas do Exame atuam direcionados por suas perspectivas

profissionais e suas óticas individuais, inscritos no contexto cultural, político e social

em que se situam. Cada texto que selecionam, plasmado em determinado gênero,

com predomínio de determinado tipo e configurando determinado discurso, tem a

propriedade de refletir, em alguma medida, o contexto em que se inscreve e de

simultaneame nte constituir um instrumento de legitimação desse contexto.

Van Dijk (2005, p. 39) ressalta que os discursos “são uma parte estrutural de

seus contextos e suas estruturas respectivas se influem mutua e continuamente”, o

que corrobora nossa afirmação anterior.

No período abarcado pelo nosso corpus, de dezembro de 2000 a abril de 2007,

as tarefas do Exame eram elaboradas em reuniões da CT, especialmente

convocadas para tal, na cidade de Brasília – DF. Cada membro da CT reunia

materiais (gravações em áudio e em vídeo, publicações em revistas, jornais,

panfletos, fôlderes, etc.) que ele próprio encontrava e selecionava no seu cotidiano.

Todo o material era analisado, discutido, escolhido e articulado pela CT, em

conjunto, procurando-se sempre temas que fossem permeáveis e que não

causassem constrangimentos aos estrangeiros de diferentes culturas, candidatos ao

certificado, ou seja, maiores de 16 anos de qualquer nacionalidade e com

escolaridade equivalente ao nosso ensino fundamental.


69

Para elaborar os EPs, parte do Exame que compõe o nosso corpus, os

elaboradores procuravam escolher textos de fontes variadas, sobre temas universais

e instigantes, de gêneros que privilegiassem a imagem (tais como anúncios

publicitários, gráficos, fotografias, cartuns, etc.), segmentando e/ou articulando esses

materiais e, por vezes, criando novos títulos. Era também elaborada uma série de

perguntas para que o aplicador do Exame, caso desejasse, tivesse uma guia para

manter a interação com o candidato na hora da avaliação oral. Uma dessas

perguntas, obrigatória, antecedendo as demais e começando geralmente por um

“Comente...” deveria servir para a focalização do tema 33.

Uma vez decididas quais as possibilidades de cada material selecionado,

procedia-se à elaboração do esboço das tarefas do Exame.

Em encontros posteriores, as tarefas continuavam a ser discutidas e retocadas

pelos membros da CT, até que se chegasse ao produto final. Em seguida, o material

era encaminhado ao MEC para edição.

Ao selecionarem, adaptarem, articularem textos de diferentes fontes na

elaboração das tarefas do Celpe-Bras, os componentes da CT configuravam

representações do Brasil e dos brasileiros, que, por sua vez, eram oferecidas

oficialmente aos agentes sociais (estrangeiros e brasileiros) envolvidos com o Exame

33
No Anexo I, apresentamos o texto que acompanha o EP 2003 -1-05 (Vale a pena embarcar na
carreira da moda?), mas que é de uso exclusivo do aplicador.
70

e poderiam reforçar ou alterar suas próprias representações do país e do povo em

questão.

Vários são os vínculos que uniam, como grupo, os professores membros da

CT que elaboraram as provas do Celpe-Bras no período enfocado em nossa

pesquisa: o grau de escolarização, a atividade profissional desempenhada numa

área específica, a classe social, a inscrição em atividade da esfera pública, etc.

Contudo, evidentemente, cada um deles pertencia também a outros grupos, podendo

seguir uma ou outra religião, vincular-se a algum partido ou associação política,

praticar alguma atividade esportiva, etc.

Desse modo, a operação de seleção de textos para elaboração dos EPs foi

marcada pela ideologia e pelo contexto social em que se os membros da CT se

inscrevem.

4.5 O COMPONENTE NÃO VERBAL NOS EPS DO EXAME CELPE-BRAS

Na atualidade, alcançados em seu cotidiano por textos verbais e por imagens

de todo tipo e em todo tipo de suporte, elaboradores de testes de proficiência ao

tentarem buscar documentos representativos da língua e cultura que, de certa forma

difundem, se vêem diante de um desafio, porque, segundo Júdice (2007, p. 2):

(...) observar, recortar, articular e capsularizar o quotidiano


disperso por uma infinidade de textos em circulação em nosso
71

contexto para oferecê-lo a aprendizes e candidatos exige uma


boa dose de conhecimento, sensibilidade e habilidade. E, no
caso dos textos não-verbais, de uma habilidade de natureza
distinta - para perceber sua “gramática” específica, pois
diferentes meios semióticos (...) têm potencialidades e
limitações, implicando modos diversos de perceber e
representar.

Ainda segundo a autora, estudiosos da leitura de imagens, como Kress e van

Leeuwen (1996: p. 3), chegam a defender a existência de uma “gra mática do visual”,

que tenta descrever a forma pela qual representações de pessoas, lugares e coisas

se articulam em “enunciados visuais”, menos ou mais complexos. Abarcando desde

a tirinha de humor até o diagrama científico, essa gramática do visual, segundo seus

postuladores, consistiria em um inventário dos componentes e das regras

subjacentes a uma dada forma de comunicação visual culturalmente marcada.

Nas fotografias, por exemplo, os enunciados visuais são criados com a

combinação de determinados componentes, entre os quais Júdice (2005, p. 37)

destaca:

a) o enquadramento da imagem; b) os elemento(s) representado(s) e


suas peculiaridades; c) a captação de aspectos dinâmicos ou estáticos;
d) a maior ou menor definição de cada ângulo; e) a artic ulação dos
planos; f) o jogo de claro/escuro; g) a presença ou ausência de brilho;
h) escala cromática; i) a articulação da imagem à palavra (que pode
surgir em legenda ou título).
72

Observa Vanoye (1986: p. 190) que ”uma fotografia não veicula apenas uma

mensagem referencial; sua preparação (enquadramento, proporções respectivas dos

objetos, luminosidade, cores etc), sua montagem (relação eventual com outras

fotografias que a seguem ou precedem) carregam-se de conotações”.

Em relação ao conjunto das imagens impressas contidas nos EPs do Celpe-

Bras, podemos dizer que os elaboradores do Exame, com menor ou maior

conhecimento dessa gramática do visual, ao selecionarem, segmentarem, articularem

– ao recriarem – textos dessa natureza para apresentação ao candidato, fazem

circular representações do Brasil e dos brasileiros,carregadas de conotações, entre

os agentes sociais envolvidos com o Exame.

As imagens que integram os EPs, surgindo em combinação com o texto verbal,

têm em geral suas fontes explicitadas. Além da identificação do periódico de origem,

algumas têm autoria declarada (como tirinhas, quadrinhos, cartuns, fotos), embora

outras possam surgir sem autoria (algumas publicidades, fotografias, ilustrações,

quadros, gráficos, fotos). Mas, na realidade, ao ser reorganizado em um EP, esse

material passa a ter novos autores – os elaboradores do E xame.

Ao selecionarem (segmentando ou não, articulando ou não) textos não verbais,

de autoria declarada ou não declarada, acompanhados ou desacompanhados de

texto verbal, os elaboradores dos EPs criam novos textos, pelo simples fato de que o
73

novo produto (texto de um EP) tem função sociocomunicativa distinta daquela do(s)

texto(s) que lhe serviu/serviram de base.

A maior parte dos EPs de nosso corpus constitui o que vamos denominar

montagens: textos resultantes de seleção, recorte e articulação pelos elaboradores do

Exame de partes de texto(s) maior(es), recolhidos de um ou de mais de um periódico

brasileiro.

Nessas montagens , as fotografias têm peso significativo por constituírem o

gênero de texto não verbal mais utilizado. A fotografia é um recurso importante

nesses textos, pois pode captar flagrantes significativos da cultura -alvo (que palavras

escritas não traduziriam tão bem), levá-los aos candidatos e aprendizes, fazê-los

refletir sobre eles e levá-los criar e recriar suas representações sobre a realidade

relacionada à língua -alvo.

Principalmente para aqueles que estão em não-imersão, o acesso a imagens

desse tipo, reais e diversificadas, pode ser importante para a configuração dos muitos

brasis representados pela imagem.

Júdice (2007, p.4) menciona alguns parâmetros que devem ser levados em

conta para a seleção de textos com componentes não verbais para tarefas de

episódios de avaliação em LE, como o Celpe-Bras:


74

A seleção de textos não-verbais para episódios de avaliação


oral em LE deve levar em conta alguns parâmetros. Em relação
ao tema, por exemplo, é importante considerar seu interesse
para o aprendiz, sua permeabilidade a diferentes culturas e
lugares sociais, a possibilidade de oferecer abordagem por
múltiplos ângulos, desencadeando reflexão e interação. Em
relação à linguagem, merece atenção a questão da
acessibilidade dos signos não-verbais e verbais para o grupo de
estrangeiros ao qual o texto será oferecido e ainda as maneiras
pelas quais esses signos se articulam na construção do sentido.

Conscientes desses parâmetros, no processo de construção dos textos dos

EPs analisados nessa pesquisa, os elaboradores do Exame selecionaram, recortaram

e articulara m textos, com componentes não verbais e verbais, de diferentes autores,

órgãos da mídia, temas, discursos. Construíram, então, novos textos, que, validados

pela aprovação da CT como um grupo, trazem a marca da sua cultura, das

características compartilhadas pelo grupo inteiro (por exemplo: todos são professores

universitários), das características partilhadas por alguns membros do grupo (por

exemplo : alguns compartilham credos políticos, religiosos, etc.) e da experiência

pessoal de cada um.


75

5 METODOLOGIA: COMPOSIÇÃO DO CORPUS E DINÂMICA DA PESQUISA

Nossa pesquisa, que tem por objetivo estudar as representações do Brasil em

tarefas do Exame Celpe-Bras 34, mais especificamente nos textos dos Elementos

Provocadores da Parte Individual do Exame, confrontando-as com as representações

do Brasil e dos brasileiros que aprendizes de PBE declaram ter, em busca de

convergências e divergências entre esses dois grupos de representações, foi

desenvolvida em diversas etapas.

Primeiramente, recolhemos os questionários distribuídos, entre os anos de

2005 e 2006, a estrangeiros que, com diferentes níveis de conhecimento de PBE e

nacionalidades, e estudando em instituições aplicadoras do Celpe-Bras, no Brasil e

no exterior, haviam respondido, entre outras, à seguinte questão: Qual a primeira

imagem que relaciona ao Brasil? (com versões em espanhol, francês e inglês para

iniciantes).

34
Algumas pesquisas que contemplam outros ângulos do Exame Celpe-Bras já foram desenvolvidas.
Dentre elas, mencionamos: Sidi (2002), Nobre de Mello (2003), Schoffen (2003), Castro (2006),
Rodrigues (2006) e Sakamori (2006).
76

Em seguida, passamos à etapa de levantamento dos EPs e estabelecimento

do corpus, que apresentou muitas dificuldades, visto que tinha sido dissolvido o

arquivo organizado pela CT entre 1998 e 2002 (conforme já foi exposto). Depois de

constituído o corpus, composto por 230 EPs dos exames aplicados entre 2000 e abril

de 2007, elaboramos um quadro de Temas para a distribuição inicial dos EPS. Feita a

distribuição inicial dos EPS por esses Temas, procedeu-se à verificação, no interior

dos grupos relacionados a cada Tema, Tópicos e Subtópicos, dos textos que neles se

inscreviam. Como os EPs se apóiam fortemente no componente não verbal,

examinamos com interesse o material sob esse ângulo. Finalmente destacamos as

representações do Brasil configuradas nos textos do corpus - selecionados e/ou

reconstruídos pelos elaboradores dos exames para fins de sua utilização nos EPs,

confrontando-as com as imagens do Brasil que os estudantes estrangeiros

pesquisados declaravam, nos questionários, ter em sua mente, buscando

convergências e divergências entre elas.

5.1 QUESTIONÁRIOS

Com o objetivo de ter elementos para cotejar as representações do Brasil

configuradas nos textos dos EPs do Exame Celpe-Bras com representações do país

construídas por aprendizes estrangeiros de PB, solicitamos, via e-mail, aos postos

aplicadores do Exame, em que se ensina PBE, que fosse indagado aos seus
77

estudantes que imagem 35 do Brasil lhes vinha à mente quando ouviam a menção ao

nome do país. Solicitou-se que cada estudante respondesse a essa questão – que

era acompanhada por outras que indagavam nacionalidade, idade e sexo –

diretamente para nosso endereço eletrônico.

Obtivemos respostas de 132 estudantes de 27 países, sendo 79 de aprendizes

do sexo feminino e 53 de alunos do sexo masculino. Em relação aos países de

origem dos estudantes, temos a seguinte distribuição: Alemanha (10), Argentina (19),

Áustria (7), Bolívia (2), Chile (1). Colômbia (1), Congo (1), Coréia do Sul (5), Cuba (2),

Espanha (12), Estados Unidos (11), Gabão (1), Grécia (1), Guatemala (1), Haiti (2),

Honduras (1), Inglaterra (1), Itália (3), Japão (5), México (2), Nigéria (1), Peru (20),

Polônia (1), Porto Rico (1), Rússia (1), Senegal (1) e Uruguai (19).

No Anexo II, apresentamos o quadro completo com as respostas dos

estudantes.

Dentre os estudantes de PBE que nos encaminharam respostas, 55 citaram

uma imagem, 35 apresentaram duas, 22 responderam três e 20 informaram quatro.

Desse modo, obtivemos a apresentação de 271 imagens.

35
O termo “imagem” é utilizado aqui no sentido de representação mental.
78

5.2 COLETA E CATALOGAÇÃO DOS EPS

Sabendo-se que o exame é composto de duas partes, Parte Coletiva 36 e Parte

Individual, conforme já descrevemos, devemos, aqui, justificar a escolha dos textos

da Parte Individual para nossa pesquisa.

Na Parte Coletiva, preterida na formação de nosso corpus, o candidato, antes

de ser exposto a quatro textos – um em vídeo, um em áudio, e dois em material

impresso (em preto e branco e em geral matérias jornalísticas com extensão de uma

página ou página e meia), é instruído a ler, em tempo previamente determinado, as

propostas das quatro tarefas que sinalizam os componentes aos quais ele deverá

ficar atento e os quais ele deverá utilizar para a produção escrita de um determinado

gênero textual dirigida a um interlocutor cujo perfil é especificado. Acrescente-se que

até o ano de 2006, os textos em vídeo e áudio usados nessa parte do exame eram

devolvidos ao MEC pelas instituições aplicadoras após a realização das provas. Os

dois textos impressos nos cadernos de questões também eram devolvidos, ficando

nas instituições para posterior uso como material didático apenas oito exemplares

desses textos, os que haviam sido utilizados como ilustrações de tarefas nas

publicações Manual do Exame, Manual do Candidato e no Manual do Aplicador.

Na Parte Individual 37 do Exame, da qual foram retirados os textos de nosso

corpus, o candidato, depois de uma interação oral o mais distensa possível38 com o
36
Ver item 4.2.
37
Ver item 4.2.
79

professor entrevistador (desenvolvida sob a forma de conversação, a partir das

informações de caráter pessoal que o estrangeiro inseriu em sua ficha de inscrição,

tais como hobbies, família, profissão, etc.), sob a observação de um outro professor,

é solicitado, sem delimitação explícita de tempo, a ler e comentar livremente três ou

quatro textos curtos, os Elementos Provocadores (que abordam temas da atualidade

como educação, lazer, família, economia, trabalho, etc.), cuja função é desencadear

uma conversação entre candidato e entrevistador.

Esses textos, de gêneros muito variados, incluem material verbal e/ou não-

verbal (exemplos: cartuns, tirinhas, quadrinhos, fotografias, publicidades, capas de

revista, gráficos, notas, minitextos de periódicos, etc.), são impressos em cores39, em

papel de boa qualidade e são apresentados ao candidato para observação e com a

instrução inicial para que fale livremente sobre o tema do EP em foco. A partir desse

comentário inicial do candidato, vai se desenvolvendo, em torno do texto do EP

focalizado, um diálogo entre ele e o professor entrevistador.

Os EPs (cujo número variou de 9 a 18 até 2002, fixando-se em 20 a partir de

2003), após cada aplicação do Exame, passaram, a partir de 2006, a ser retidos nas

instituições de ensino aplicadoras, para uso como material didático, contribuindo,

38
É claro que, em situação de avaliação, chegar a essa distensão é difícil e por vezes impossível.
39
Alguns de nossos exemplares encontram-se em cópia em preto e branco porque não conseguimos
encontrar o material em cores com os membros da CT, e, apesar de todo o acervo ter sido arquivado
inicialmente na Divisão de Assuntos Internacionais/SESu/MEC, o material se dispersou quando de
uma reestruturação, redistribuição e reformulação dos escritórios da sede do Ministério.
80

dessa forma, para a preparação de futuros candidatos para a prova e indiretamente

para a difusão das representações do Brasil neles configuradas.

Diante do exposto e da impossibilidade de avaliar todos os textos do conjunto

de exames Celpe-Bras, em virtude do número elevado, das diferenças de suporte e

de tessitura, etc., julgamos que seria relevante investigar as representações do Brasil

que circulam nos textos dos Elementos Provocadores – mais numerosos e

impactantes (por seu formato, tipo de abordagem que propiciam e forma mais livre de

leitura). Esses textos, que já circulam há algum tempo em grande número, levam aos

candidatos (no momento da realização do exame) e a milhares de estudantes

estrangeiros (nas aulas que os preparam para o Celpe-Bras) imagens do Brasil e dos

brasileiros que contribuem para a construção/reconstrução de suas representações

de nosso país e de nosso povo.

O conjunto de textos utilizados como EPs na PI nos exames para obtenção do

Celpe-Bras foi levantado em nossos arquivos pessoais, em arquivos de antigos e

atuais membros da CT do Celpe-Bras e junto à Divisão de Assuntos Internacionais

(DAI) da Secretaria de Educação Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC).

Desde sua primeira aplicação em 1998 até a aplicação de abril de 2007, foram

utilizados aproximadamente 270 EPs. Não podemos afirmar com segurança esse

número, já que não conseguimos informações sobre a primeira edição do Exame, em

1998, a qual, dentro do período já citado, foi a única de que não participamos como
81

avaliador40. Acreditamos, entretanto, que a quantidade de EPs daquela aplicação

tenha sido em torno de 12, conforme a aplicação subseqüente.

Decidimos utilizar nesta pesquisa os EPs do período de 2000 até abril de 2007,

uma vez que entendemos ter sido a partir daquele ano que o Exame ganhou maior

difusão, tendo passado da casa dos mil candidatos. Em 2000, houve 1.115

candidatos inscritos, contra 127 da primeira aplicação em 1998, um crescimento de

quase 1.000%. Ou seja, no período em foco, os textos pesquisados, com as

representações do Brasil neles configuradas, passaram a circular entre um número

mais expressivo de estrangeiros.

O total de EPs dessas edições do Exame atinge 234.

40
Passamos a participar no processo de avaliação dos candidatos ao Celpe-Bras a partir do ano de
1999, quando a Universidade Federal Fluminense foi credenciada como posto aplicador do Exame. Em
2002, fomos convidados a compor a CT do Celpe-Bras, onde permanecemos como membro até o
primeiro semestre de 2007.
82

Quadro 5
EPs uilizados na pesquisa

EXAME41 TOTAL DE EPs TOTAL DE EPs


DO EXAME PESQUISADOS
2000-2 09 09
2001-1 11 11
2002-1 16 1442
2002-2 18 18
2003-1 20 20
2003-2 20 20
2004-1 20 20
2004-2 20 20
2005-1 20 20
2005-2 20 20
2006-1 20 20
2006-2 20 1843
2007-1 20 20
TOTAL 234 230

A codificação utilizada para identificação dos EPs consta de três números

separados por hífens na forma seguinte: XXXX-X-XX. O primeiro número, com quatro

algarismos, representa o ano da aplicação do Exame; o segundo, com apenas um

algarismo, traz a ocorrência do Exame naquele ano (primeira ou segunda); o terceiro,

com dois algarismos, indica o número de ordem do EP, de acordo com a numeração

estabelecida pela CT. Desse modo, o código 2004-2-05, por exemplo, representa um

EP de 2004, utilizado na segunda aplicação do Exame naquele ano, que recebeu o

número cinco.

41
A partir do ano de 2002, o Exame passou a ser oferecido duas vezes por ano em meses fixos: abril e outubro.
42
Dois EPs não foram encontrados .
43
Dois EPs não foram encontrados .
83

Outro procedimento que realizamos foi o levantamento dos periódicos de onde

foram retirados os textos utilizados nos EPs analisados e das unidades da Federação

em que estão sediados.

No Anexo III, apresentamos o quadro com a relação de todos os EPs que

compõem o corpus de nossa pesquisa, sua codificação, seus títulos, suas fontes de

origem (q uando identificadas), os temas em que se inserem.

5.3 PROCEDIMENTOS PARA A DEPREENSÃO DAS REPRESENTAÇÕES DOS


TEXTOS DOS EPS

Para a depreensão das representações do Brasil e dos brasileiros subjacentes

aos EPs da PI dos exames Celpe-Bras, primeiramente empreendemos a construção

de um quadro, tendo como referência categorizações de temas/tópicos elaboradas

para por pesquisadores da área de Português para estrangeiros (Quadro 7).

Buscamos, num primeiro momento, apoio nas publicações que enfocam a

questão do estabelecimento de temas/ tópicos para o ensino do português europeu e

brasileiro para falantes de outras línguas. Após analisar os temas e subtemas

apresentados na obra de Casteleiro e colaboradores (1988) – Nível Limiar para o

ensino/aprendizagem do português como língua segunda / língua estrangeira –,

inserida no âmbito do Projeto de Línguas Vivas do Conselho de Cooperação Cultural

do Conselho da Europa, observar o inventário de tópicos elaborado por Almeida


84

Filho, publicado no Brasil em 1989, em obra conjunta com Lombello, e finalmente

consultar o Manual do Aplicador do Exame Celpe-Bras (BRASIL, 2003a, 2006a), no

qual consta um inventário de tópicos elaborado, em 2002, pela Comissão Técnica,

elaboramos um quadro para a categorização dos temas e tópicos dos textos de nosso

corpus, fazendo adaptações. Também deram sua contribuição para a elaboração do

quadro o exame dos títulos das seções de periódicos brasileiros atuais de circulação

nacional44, Veja, IstoÉ e Época, haja vista serem essas fontes de grande parte dos

textos dos EPs da PI e por terem, em suas seções, os temas/tópicos abordados

nitidamente explicitados.

Segue-se quadro comparativo das categorias de temas/tópicos propostas

pelos autores mencionados e aquela que, com base nelas, construímos para fins de

nossa análise.

44
Solicitamos dos periódicos, por correio eletrônico, informações sobre a tiragem, público-alvo e
regiões em que circulam. A revista Veja tem uma tiragem média semanal de cerca de 1.250.000
exemplares, 68% leitores pertencentes às classes A e B e tem circulação nacional; a revista Época,
também circula nacionalmente e em alguns outros países, tem uma tiragem de 600.000 exemplares
por semana e se destina às classes A e B; a revista IstoÉ, alegando razões de sigilo, não nos informou
a qual público o periódico se destina.
85

Quadro 6
Quadro comparativo de temas/tópicos

Nossa proposta Casteleiro et al. Almeida Filho Celpe-Bras


Identidade e Identificação Indivíduo
Identificação caracterização pessoal
pessoal
Corpo e saúde Higiene e saúde Saúde e bem- Corpo e Saúde
estar
Ambiente Ambiente Lugares Clima e ecologia
Tempo
Posturas Percepções
Vida privada e Relacionamento
Família tempos livres com outras
pessoas
Habitação Casa Casa e lar Habitação
Alojamento e
alimentação
Alimentação Comida e bebida Alimentação

Trabalho Trabalho e
profissão Trabalho e
Educação Educação estudo
Educação
Língua estrangeira Língua estrangeira
Serviços Serviços Serviços Serviços

Viagens e Viagens Lazer, viagens e


deslocações artes
Lazer e turismo
Lazer e diversão

Artes e eventos Relações sociais

Meios de Comunicação e
comunicação e de transporte
transporte
Economia e Compras Compras Compras
negócios
Ciência e Atualidades Ciência e
tecnologia tecnologia

Obviamente não há uma correspondência exata entre os conjuntos de

temas/tópicos elaborados pelos diferentes autores que serviram de referência, mas


86

como acreditamos que nossa proposta abrange os elementos das outras, justificamos

sua utilização em nossa pesquisa.

O tema Serviços, posteriormente foi por nós descartado por julgarmos que

podia ser absorvido por outros como Trabalho e Meios de comunicação e de

transporte .

Os 14 temas por nós elencados, com especificação de alguns tópicos que

esperávamos encontrar nos textos que neles seriam incluídos, estão relacionados em

seguida na mesma ordem em se encontram no quadro comparativo:

• Identidade – dados pessoais, tais como idade, profissão, origem,

características, etc.

• Corpo e saúde – cuidados com o corpo e com a saúde física e/ou

mental

• Ambiente – ecologia, destruição/preservação da natureza, poluição,

reciclagem, fontes de energia, clima, superpopulação, etc.

• Posturas – comportamentos, hábitos, sentimentos, sensações,

emoções, estados, valores, crenças e atitudes, etc.

• Família – composição da família, papéis sociais de seus membros, etc.

• Habitação – tipo de habitação, compra ou aluguel de imóvel, divisão

interna, móveis e utensílios domésticos, etc.


87

• Alimentação – tipos de alimentos consumidos, compra e preparo de

alimentos, educação alimentar, etc.

• Trabalho – o mercado de trabalho, o homem e a mulher no trabalho,

profissões, etc.

• Educação – acesso à educação, educação formal e informal formal em

diferentes níveis, leitura, alfabetização, etc.

• Lazer e turismo – diversões, passeios, esportes, brincadeiras, viagens

turísticas, etc.

• Artes e eventos – música, cinema, exposições, shows, conc ertos,

dança, etc.

• Meios de comunicação e de transporte – telefonia, internet, rádio,

televisão, jornais, revistas, correspondência, transporte público,

transporte privado, rodovias, ferrovias, hidrovias etc.

• Economia e negócios – empresas, investimentos, lucro, despesas,

crédito, inflação, salário, dinheiro, economia doméstica, compras e

vendas etc.

• Ciência e tecnologia – desenvolvimento científico e tecnológico, novas

descobertas e invenções, etc.

Procedemos, em seguida, à distribuição dos 230 EPs pelo nosso quadro de

temas e tópicos, considerando sempre a possibilidade de um texto se inscrever, além

de em um tema principal, em outro(s) secundário(s). Podemos citar como um dos

muitos exemplos o EP 2005-1-17 – Mesada faz bem (Anexo IV) – que tem como tema
88

principal Posturas (abordando o comportamento do pai que quer educar os filhos para

administrarem bem seus gastos) e como temas secundários Família e Economia e

negócios.

Após a classificação, tendo em vista ser o material dos EPs retirado de

publicações que têm finalidades outras que não a de serem utilizadas para fins de

ensino e avaliação de línguas e, sendo assim, é manipulado, recortado, articulado e

montado pelos elaboradores do Exame, observamos se os textos pesquisados eram

integrais ou montagens, subdividindo esta última categoria em dois tipos.

Em nossa concepção, textos integrais são aqueles que foram retirados em

bloco de sua fonte (sem corte e articulações com outro(s) texto(s)), como, por

exemplo, o EP 2003-1-16 (Não deixe a natureza ir embora); montagens são aqueles

textos que não são integrais, apresentando duas modalidades: a) montagem tipo A –

texto adaptado com cortes, recortes e recomposição, por exemplo, EP 2004-1-08

(102 maneiras de economizar); b) montagem tipo B – além das características da

Montagem A, apresenta a articulação de diferentes textos, muitas vezes oriundos de

publicações diferentes, como o EP 2002-2-15 (Porque eu vou votar), que tem um

segmento do jornal O Globo e outro da revista Época. Esses exemplos encontram-se

no Anexo IV.

Após classificar o material considerando temas, tópicos e subtópicos, analisá-

lo segundo as diretrizes expostas, buscando as representações do Brasil e dos


89

brasileiros neles configuradas na reconstrução feita pela CT do discurso de textos da

mídia de diversas regiões do país, comentamos essas representações com base nas

noções teóricas apresentadas no segundo capítulo da tese e dos estudos de DaMatta

(1989) e Almeida (2007). Em seguida, confrontamos essas representações do Brasil

e dos brasileiros com as imagens que aprendizes estrangeiros declaram ter do país.
90

6 ANÁLISE, RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1. ANÁLISE DOS TEXTOS DOS EPs

6.1.1 Estrutura e fontes dos textos

No total dos 230 EPs, encontramos 99 textos integrais, 131 montagens, sendo

125 do tipo A e outras seis do tipo B. São elas: 2002-2-05

(Época/Superinteressante), 2002-2-12 (Hoje em Dia/Época), 2002-2-15 (O

Globo/Época), 2003-2-01 (FSP/Dietas), 2003-2-16 (FSP/Veja) e 2004-1-09

(Época/Jangada).

Dentre as publicações mais utilizadas pela CT para selecionar o material dos

EPs, as que sobressaem são o jornal Folha de São Paulo e as revistas Veja e Época

que, juntas, forneceram mais de 50% do material textual do conjunto de EPs

analisado. Vinte dos EPs não apresentam fonte de referência. O quadro a seguir

resume os achados em relação às fontes:


91

QUADRO 7
Fontes dos textos dos EPs analisados45
46
Fonte UF Nº de %
textos
Folha de São Paulo SP 42 17,72
Veja SP 41 17,29
Época SP 40 16,87
Sem identificação de fonte - 19 8,05
Estado de Minas MG 11 4,64
IstoÉ SP 9 3,79
Jornal da Pampulha MG 9 3,79
JB RJ 6 2,53
Zero Hora RS 6 2,53
Superinteressante SP 5 2,10
Galileu SP 4 1,68
Governo Federal DF 4 1,68
O Globo RJ 4 1,68
Marie Claire SP 3 1,26
Amanhã s/i 2 0,84
Cartacapital SP 2 0,84
Extra RJ 2 0,84
Ícaro SP 2 0,84
TAM Magazine SP 2 0,84
Terra SP 2 0,84
Você S.A. SP 2 0,84
A Tarde SP 1 0,42
Águas de Niterói RJ 1 0,42
Brasil Almanaque da Cultura Popular s/i 1 0,42
Câmara Municipal de Porto Alegre RS 1 0,42
Conexão Vocacional MG 1 0,42
Crescer SP 1 0,42
Dietas SP 1 0,42
Educação s/i 1 0,42
Governo do Estado de Goiás GO 1 0,42
Hoje em Dia s/i 1 0,42
Jangada s/i 1 0,42
LP&M RS 1 0,42
Negócios da comunicação SP 1 0,42
Pequenas Empresas Grandes Negócios SP 1 0,42
RDM MT 1 0,42
Scientific American Brasil SP 1 0,42
Site da UEBA BA 1 0,42
Site no.com.br s/i 1 0,42
Trip s/i 1 0,42
TOTAL 236

45
Identificamos aqui as unidades da Federação em que se sediam as publicações relacionadas no
quadro acima. Encontramos os seguintes dados: SP – A Tarde, Cartacapital, Crescer, Dietas, Época,
Folha de São Paulo, Galileu, Ícaro, IstoÉ, Marie Clarie, Negócios da Comunicação, Pequenas
Empresas & Grandes Negócios, Scientific American Brasil, Superinteressante, TAM Magazine, Terra,
Veja e Você S.A.; RS – Câmara Municipal de Porto Alegre, LP&M e Zero Hora; RJ – Águas de Niterói,
Extra, Jornal do Brasil e O Globo; MT – RDM; MG – Conexão Vocacional, Jornal da Pampulha e
Estado de Minas; GO – Governo do Estado de Goiás, DF – Governo Federal – BA – site da UEBA.
Tivemos ainda seis publicações, cuja origem não conseguimos encontrar. São elas: Amanhã, Brasil:
Almanaque da Cultura Popular, Educação, Hoje em Dia, Jangada, Trip e site no.com.br.
46
Percentuais aproximados.
92

Tais informações nos levam à construção do quadro adiante que demonstra a

quantidade de textos por Unidade da Federação47 em que se sedia o periódico do

qual foram extraídos:

Quadro 8
Localização das sedes dos periódicos-fonte

UF Quant.
SP 160
MG 21
RJ 13
RS 8
DF 4
BA 1
GO 1
MT 1
s/i 27
236

Como já esperávamos, entre os periódicos utilizados como fontes de textos

dos EPs, destaca-se a predominância dos estados da Região Sudeste e do Estado

do Rio Grande do Sul, o que não é surpresa tendo em vista a hegemonia econômica

e política desses mesmos estados na Federação, como já exposto, e por estarem a

maior parte das editoras instaladas na Região Sudeste, principalmente no Estado de

São Paulo.

47
Esse tipo de levantamento não indica que acreditemos na predominância de matérias referentes a
ocorrências dos locais em que estão as sedes dos periódicos, pois as fontes predominantes são de
circulação nacional.
93

6.1.2 Temas, tópicos e subtópicos

Com base no quadro de temas elaborado, observemos com que freqüência

cada tema nele proposto foi contemplado, como principal ou secundário, nos textos

dos EPs analisados:

Quadro 9
Temas contemplados no texto s dos EPs

Total de
Temas contemplados Principal Secundário ocorrências %48
Posturas 123 31 154 45,29
Corpo e saúde 20 15 35 10,17
Ambiente 17 6 23 6,68
Trabalho 12 11 23 6,68
Família 11 14 25 7,35
Economia e negócios 9 7 16 4,65
Educação 9 5 14 4,06
Ciência e tecnologia 8 10 18 5.23
Lazer e turismo 8 4 12 3,52
Alimentação 8 3 11 3,23
Habitação 3 3 6 1,74
Meios de comunicação 2 1 3 0,87
e de transporte
Identificação 0 0 0 -
Artes e eventos 0 0 0 -
TOTAL 230 110 340

Destacaram-se, em número total de ocorrências, como temas vinculados aos

textos dos EPs nos quais vamos rastrear as representações do Brasil: Posturas,

Corpo e saúde, Família, Ambiente, Trabalho. Os temas Identificação e Artes e

eventos não apresentaram ocorrências.

48
Percentuais aproximados
94

Os temas Família e Ciência e tecnologia tiveram textos a eles relacionados

mais como temas secundários que principais. No caso do tema Família, isso se deve

ao fato de que muitos textos relacionados à família abordam principalmente o

comportamento de seus membros, sendo por isso inseridos no tema principal

Posturas.

Após distribuir os textos do corpus em relação aos temas principais e

secundários a que se relacionam, fixamo -nos em sua categorização pelo tema

principal e examinamos esses textos para levantar os tópicos e subtópicos em que se

inscreviam. Obtivemos, então, os seguintes dados para compor o painel no qual

observaríamos as representações do Brasil configuradas nos textos dos EPs.

Temas, tópicos e subtópicos dos textos dos EPs

Posturas49 = 123

• Comportamentos50 = 82: comportamentos (da moda - 6, de quem mora

sozinho - 1, de quem recebe bem – 1, de organizar o quotidiano -1, de clientes

inconvenientes -1, de super-heróis – 1, contra a vida – 1, no trânsito – 2, nos

jogos da Copa – 1, por década – 1, por faixa etária – 1, não convencionais – 1;

relacionamentos (de/com adolescentes – 5, de/com crianças – 9, de nora e


49
Postura: modo de pensar, de proceder; ponto de vista, opinião, posicionamento. Tendo em vista a
dificuldade em estabelecer uma linha divisória entre comportamentos, hábitos e atitudes, entre
sentimentos, sensações e estados, assim como entre valores e crenças, já que mesmo os
pesquisadores da área de Psicologia Social não apresentam um definição clara, decidimos adotar o
termo “posturas” para nomear os três grupos. Marconi e Presotto (2005, p. 46) referem-se a alguns
elementos desse grupo como partes intangíveis da cultura, que não têm substância material e que
podem ser manifestados ou estar no íntimo das pessoas.
50
Comportamentos, relacionamentos, hábitos, atitudes, costumes, vícios, manias, etc.
95

sogra – 1, de casais – 5); convívio (no trabalho – 3; na cidade – 2, com animais

domésticos – 4); hábitos (mudança de hábitos – 12, hábito de ler e escrever –

3, de uso da internet – 3, de fazer fofocas – 2, de ver tevê -1, de ver novelas –

1, de beber – 1, de se lamentar – 1, de desenhar e cantar -1, de mentir – 1, de

fazer encomendas – 1; de comprar produtos–pirata); costumes (de dar

esmolas – 1, de perdoar – 1, de dar presentes – 1, de adiar compromissos – 1,

de dividir o trabalho por sexo – 3).

• Sensações, sentimentos e estados = 20: felicidade – 2, medo – 2, bem-

estar – 1, desconforto – 1, aconchego – 1, saudade – 1, atração -1, intolerância

– 1, egoísmo – 1, amor-próprio – 1, paixão – 1, amizade – 1, timidez – 2,

estresse – 1, bom-humor – 1, decrepitude – 1, irritação – 1.

• Valores, crenças, crendices, proibições, tradições51 = 21: cidadania

(direitos – 3, participação social – 2, solidariedade – 2, voluntariado – 2, ética

política – 1); crendices (amuletos – 1, simpatias – 1, astrologia - 1, sabedoria

popular - 1); proibição (de publicidades – 2; de jogos eletrônicos e filmes para

adolescentes – 1; do fumo – 1) ; busca da qualidade de vida – 1, amor ideal –

1, tradição do casamento – 1.

Corpo e saúde = 20

• exercícios físicos e postura corporal (equilíbrio físico e mental – 7, cuidados

com a coluna vertebral – 1)

51
Crenças , valores, crendices, tradições, etc.
96

• modismos e terapias (rejuvenescimento – 3, uso do piercing – 1, hidroterapia –

1)

• estresse – 2

• obesidade e dietas (emagrecimento – 2, luta contra a balança – 1)

• cuidados com a saúde (vacinação – 1, transplantes – 1)

Ambiente = 17

• preservação da natureza – 5

• água (escassez – 3, poluição – 1) – 4

• reciclagem – 3

• superpopulação – 3

• fontes de energia e de alimentos – 2

Trabalho = 12

• escolha da profissão – 1

• entrada no mercado de trabalho (primeiro emprego – 3, benefícios valorizados

– 1, inclusão de deficientes e de mulheres – 2)

• atuação no mercado de trabalho (trabalho temporário – 1, satisfação

profissional – 1, robotização – 1, sobrecarga de trabalho – 1, níveis de

confiabilidade em profissionais – 1)
97

Família = 11

• composição atual: alterações na estrutura tradicional – 1, pais e avós ao

mesmo tempo – 1, volta às raízes – 1, memória da família – 1

• casais: planejamento do casamento – 1, casais sem filhos – 1

• pais e filhos: papéis sociais de pai e de mãe – 2, realização dos sonhos dos

filhos – 1, filho único – 1, filhos adolescentes – 1

Economia e negócios = 9

• despesas cotidianas (dicas para economizar – 2, mercadorias consumidas por

faixa etária – 1, aluguel de imóveis – 1, crédito ao consumidor – 1, despesas

com lazer – 1; valor de antigüidades – 1) – 9

• empresas (formação de pequenos empresários – 1, responsabilidade social –

1)

Educação = 9

• universidade (universidade virtual – 1, inclusão de deficientes – 1, bolsas de

estudo para atletas – 1, escolha da carreira – 1, pós -graduação no exterior – 1)

• educação infantil – 2

• panorama da educação no mundo – 1

• educação para o povo – 1

Alimentação = 8

• refeições na rua – 3
98

• hábitos alimentares do brasileiro (alimentação ontem e hoje – 1, preferências

por classe social – 1; alimentação saudável – 1)

• educação alimentar (reflexo da alimentação no corpo – 1, dicas para

substituição de comidas brasileiras tradicionais – 1)

Lazer e turismo = 8

• lugares paradisíacos – 2, shopping center – 1, Rio de Janeiro – 1, Amazonas –

1, Ceará – 1, Goiás – 1, esportes radicais – 1

Ciência e tecnologia = 8

• informatização (informações pela Internet – 2, controle virtual – 2, ritmo da

evolução tecnológica – 1) – 5

• biociências (clonagem – 1, diferenças entre homens e mulheres – 1, ciência e

esporte – 1) – 3

Habitação = 3

• moradia – 2

• sem-teto – 1

Meios de comunicação e de transporte = 2

• expansão da telefonia – 1, revitalização das ferrovias – 1


99

Pode-se observar o predomínio (123 ocorrências) de textos incluídos na

categoria Posturas, como tema principal. Abarcados por esse tema, como já previsto,

encontramos os tópicos comportamentos, hábitos, sentimentos, sensações, emoções,

estados, valores, crenças e atitudes, aos quais, após o exame detalhado do corpus,

acrescentamos: relacionamentos, convívio, costumes, estados, crendices, proibições

e tradições.

Considerando a inclusão dos textos dos EPs na categoria Posturas, como

tema principal, e os três amplos conjuntos de tópicos a ela subordinados – a)

Comportamentos, relacionamentos, convívio, hábitos e costumes.; b) Sensações,

sentimentos, atitudes e estados; c) valores crenças, crendices, proibições e tradições

- observa-se uma maior concentração de textos em “a” (82 ocorrências).

No interior do tópico “a”, predominam Hábitos, em sua maior parte incluídos no

subtópico que denominamos Mudança de hábitos. Um grupo menos numeroso re úne

subtópicos relacionados a hábitos de uso de textos impressos, internet e tevê. Num

quadro negativo, figuram ainda hábitos relativos a subtópicos como beber, mentir,

reclamar e comprar produtos-pirata.

Ainda no tópico “a”, encontramos, em Relacionamentos, subtópicos como

relacionamento entre/com crianças e relacionamento com/entre adolescentes,

seguidos por relacionamentos de casais. Há uma ocorrência de texto sobre

relacionamento nora/sogra que também comentaremos em seguida.


100

Prosseguindo com a análise do grande tópico Comportamentos,

relacionamentos, convivo, hábitos e costumes, temos, em terceiro lugar em número

de ocorrências, depois dos já mencionados hábitos e relacionamentos, os

comportamentos propriamente ditos, entre eles predominando os relacionados à

moda. Merecem destaque também os comportamentos referentes a estereótipos de

motoristas jovens e idosos e às alterações no quotidiano brasileiro em dias de jogo de

Copa do Mundo.

Finalizando a descrição do amplo tópico Comportamentos, relacionamentos,

convivo, hábitos e costumes, mencionamos ainda dois conjuntos de textos menores

relativos a Convívio e a Costumes. No primeiro conjunto, ressaltamos textos relativos,

sobretudo, ao contexto urbano. No segundo, temos textos mais gerais que enfocam

costumes generalizados em largas faixas de nossa sociedade. Alguns desses

costumes ligados às nossas raízes cristãs – dar esmolas, perdoar – e também outros

como presentear os amigos (associado à tradicional generosidade do brasileiro e à

sociedade de consumo), como dividir o trabalho levando em conta a categoria sexo e

finalmente o costume de adiar compromissos, relacionado ao estereótipo do brasileiro

e do latino em geral, percebido por algumas culturas como adepto permanente do

carpe diem.

No que tange ao tema Posturas, representa-se o brasileiro pertencente à parte

da sociedade mais liberal rotulada por Almeida (2007) de “moderna”. Nos EPs 2003-
101

2-05 e 2006-1-07, por exemplo, estão representados novos comportamentos do

homem em busca da beleza, q ue antes eram tradicionalmente femininos.

Uma nova postura do brasileiro encontra-se também representada no EP

2004-1-01, que registra uma mudança de hábitos atual – os idosos comportando-se

como jovens. Novas posturas também são mostradas no que diz respeito ao

encurtamento da infância e ao prolongamento da adolescência, nos EPs 2004-1-20 e

2006-2-04.

Contudo, essa modernidade parece desaparecer quando se observa o EP

2001-1-06 que aborda o assunto de mulheres profissionais que abandonam o

mercado de trabalho para reassumirem os trabalhos domésticos. Todavia, isso

parece ser contrabalançado pelo assunto do EP 2001-1-08 – pertencente à mesma

edição do Exame – que traz o moderno comportamento do homem que cuida dos

afazeres domésticos.

No que se refere ainda ao tema Posturas, dois importantes estereótipos da

sociedade brasileira são encontradas nos EPs 2003-1-04 e 2004-2-02. No primeiro,

aborda-se a questão de “adiar compromissos”, mostrada, entretanto, não como hábito

exclusivamente brasileiro, mas típico de muitas sociedades. No segundo, o único em

que se observa a presença do “jeitinho brasileiro” (DAMATTA, 1989; ALMEIDA,

2007), enfoca-se o assunto “pirataria”. Conforme ressalta Almeida (2007), esse

hábito, mesmo que publicamente repudiado pelas classes mais informadas da


102

população, é procedimento comum em todas as classes. Ou não se fazem cópias

xerográficas de obras inteiras nas escolas e nas universidades? Ou não se copiam

programas, produções musicais e cinematográficas pela Internet?

Ainda e relação ao tema Posturas, o lado místico do brasileiro faz-se presente

em três EPs (2003-1-14, 2004-1-04 e 2004-2-12). Neles, é possível observarem-se

alguns artifícios que os brasileiros acreditam que podem mudar e controlar seu

destino: a consulta aos astros e a utilização de amuletos e objetos que trazem a

sorte.

O segundo tema em freqüência, tanto como tema principal quanto como tema

secundário, é Corpo e saúde, com um conjunto de 20 elementos. Destacam -se entre

eles os EPs que abordam exercícios físicos, postura corporal, equilíbrio físico e

mental (2002-2-08 52, 2004-1-16, 2005-1-10, 2005-2-13, 2006-1-15, 2006-1-20, 2006-

2-13 e 2007-1-04), estresse (2005-1-12 e 2007-1-03), dietas para emagrecer e luta

contra a balança (2003-2-01, 2003-2-09 e 2006-1-08) e o rejuvenescimento (2002-1-

08, 2003-2-17 e 2007-1-06).

A preocupação com a saúde física e mental, com o estresse, com a boa forma

física e com a conservação da juventude – que é notoriamente preocupação das

sociedades mais desenvolvidas – é uma característica sobretudo das classes média e

alta, como também das pessoas que estão na plenitude da fase adulta. Soma-se a
52
Daqui por diante, a identificação dos elementos provocadores, quando entre parênteses, será
apresentada apenas com sua codificação numérica, sem as iniciais EP.
103

essa preocupação, a importância na escolha de alimentos saudáveis (2003-1-01,

2005-2-15 e 2007-1-16) em detrimento daqueles não aconselháve is (2002-1-12,

2004-1-13, 2006-1-14 e 2007-1-16). É interessante comentar o EP 2007-1-16

(Combinações brasileiras) que apresenta conselhos para a substituição de pratos

tradicionais da mesa do brasileiro. Entre esses pratos, está o feijão. O texto indica a

substituição desse alimento – cuja tradição no cardápio dos brasileiros, DaMatta

(1989, p. 16) apresenta como uma das características da identidade do povo – pela

soja, que seria mais rica em proteínas.

A casa do brasileiro, segundo DaMatta (1989, p. 24, 26) é um espaço

exclusivo, em que os membros mais frágeis da família (crianças, mulheres, etc.) são

protegidos. Nesse espaço, existe uma tendência de se produzir um discurso

conservador, no qual os valores morais tradicionais são defendidos pelos mais velhos

e pelos homens. Isso pode explicar o porquê de, quando o tema é Família (terceiro

em número de ocorrências total e também como tema secundário) os textos dos EPs

(2002-2-03, 2003-1-19, 2006-2-03 e 2007-1-05) apresentarem ainda o pai como figura

central, sobretudo por meio do componente não verbal. Merece destaque aqui a

figura do pai como provedor, distribuindo mesadas para os filhos (2005-1-17). Porém

merece também realce uma face mais moderna de sua relação com os filhos, a de

pai “cuidador”, que pode ser observada em texto relativo a um pai mais velho (2007-

1-5) e em outros dois que enfocam, com recurso importante à imagem, pais bem

jovens (2003-1-19 e 2002-2-3). As fotografias dos pais jovens representam ambos

com bebês. Na foto do último EP citado, figura a face de um pai olhando embevecido
104

para o rosto de um bebê que traz ao colo, em pose clássica na qual, na tradição

imagética, costumam figurar mães com seus filhos pequenos. Isso revela que o pai,

embora ainda representado como figura central da família e como provedor, também

é configurado cuidando de bebês, desempenhando um papel social antes exclusivo

das mães.

A Família também aparece como tema secundário em vários outros EPs –

aliás mais do que como tema principal. Encontram-se esses EPs distribuídos pelos

subtópicos do tema Posturas e, dentre eles, destacamos: os EPs 2004-1-15 e 2006-

1-18, que retratam o comportamento de famílias reunidas para assistir à tevê; o EP

2005-1-20, que mostra um adolescente que devolve a chave do carro emprestado de

sua mãe; o EP 2005-1-15, que mostra um pai que deixa a diversão com os amigos

para ficar em casa brincando com seu filho; os EPs 2003-2-06, 2006-1-08, 2007-1-13

e 2007-1-17, que mostram as diversas relações (proteção, autoridade, etc.) entre pais

e filhos ainda na fase da infância.

A mulher só aparece representando o papel de mãe em algumas fotos e

ilustrações (2004-1-02, 2005-1-20, 2005-2-16, 2006-2-03), sendo o EP 2005-1-20 o

único em que o filho diz a palavra “mãe”. Curiosamente, a mulher surge nos papéis

de nora e sogra, quando se aborda esse tipo de relacionamento em uma

oportunidade (2004-2-11). A representação da sogra pela fotografia, que a configura

com um gesto autoritário diante da nora, se inscreve plenamente no estereótipo tão


105

difundido em nossa cultura e em outras culturas. Em contraponto com a foto, o título

propicia dupla leitura e confere ao texto um tom irônico.

O fato de a família estar presente, em diferentes perspectivas, em textos

agrupados sob vários temas e tópicos demonstra o que Almeida (2007) e DaMatta

(1989) chamam de lado familista da sociedade brasileira. Também deve-se destacar

que a escolha de tantos textos que envolvem a família pode ser creditada ao fato de

a maioria dos elaboradores do Exame Celpe-Bras ser composta por mulheres,

casadas e mães.

Sobre o tema Trabalho, o quarto tanto em número total de ocorrências quanto

como tema principal, embora DaMatta (1989) considere que este seja um castigo na

perspectiva dos brasileiros, os textos presentes nos EPs relacionados a esse tema

vão de encontro à afirmação do antropólogo. Nesse grupo de EPs, os tópicos que

encontramos relacionam-se à escolha da profissão e à entrada e atuação no mercado

de trabalho, abrangendo subtópicos como escolha de carreiras (2003-1-05), acesso

ao primeiro emprego (2004-1-19, 2005-2-10 e 2006-1-17), inclusão de mulheres e

deficientes (2003-2-15 e 2006-1-04), trabalho temporário (2003-2-11), obsessão pelo

trabalho (2001-1-05) e automatização (2005-1-11). Além disso, demonstra-se

estatisticamente o nível de satisfação dos trabalhadores brasileiros com suas

empresas (2003-1-07) e a busca de benefícios advindos do trabalho para melhoria na

qualidade de vida (2002-2-01).


106

O trabalho é sempre apresentado em espaços urbanos e, na maioria das

vezes, em empresas. Essa amostra representa a valorização do trabalho – através,

por exemplo, da preparação (2003-1-05, 2005-2-10 e 2006-1-17), da busca (2003-2-

11), da dedicação (2001-1-05) e da satisfação (2003-1-07) – que aproxima o Brasil

das sociedades industrializadas e rompe com o estereótipo de povo preguiçoso.

Duas das grandes preocupações atuais da humanidade, conforme previu

Jaguaribe (1996), são com o meio ambiente e com o crescimento populacional.

Essas preocupações são demonstradas em 17 EPs com o tema Ambiente, o terceiro

em número de ocorrências e como tema principal, nos quais assuntos como

preservação da natureza (2000-2-06, 2003-1-16, 2004-2-19, 2006-2-10 e 2007-1-07),

poluição (2006-1-11), escassez de água (2002-1-04, 2003-1-08 e 2007-1-15),

reciclagem de lixo (2003-1-20, 2003-2-10 e 2004-1-13), fontes de energia e de

alimentos (2003-1-15 e 2005-2-17) e superpopulação (2002-2-04, 2004-1-12 e 2005-

1-14) são apresentados. Não se pode deixar de comentar serem essas preocupações

de pessoas escolarizadas que se encontram antenadas com os grandes problemas

mundiais.

Comentamos em seguida outros temas que abarcaram um menor número de

textos.

Com relação às regiões do Brasil presentes nos EPs incluídos no tema Lazer e

turismo e rememorando aquelas citadas por aprendizes de EPB na nossa sondagem


107

inicial, apenas um EP (2000-2-09) refere-se ao Rio de Janeiro por meio de uma

ilustração estilizada do morro do Pão de Açúcar e do morro da Urca. Há ainda EPs

que mostram o rio Amazonas (2002-2-12), praias do Ceará (2005-2-16) e cidades

históricas de Goiás (2007-1-11).

Sendo o Rio de Janeiro a cidade mais conhecida do Brasil53, tanto por motivos

históricos quanto pelas suas belezas, e sabendo-se que, dentre os 16 professores

que participaram da elaboração do Exame, no período de dezembro de 2000 a abril

de 2007, os professores nativos e/ou habitantes daquela cidade ou de seu entorno,

era de se esperar que se destacasse a presença da cidade nos EPs. Entretanto, isso

só ocorreu em uma oportunidade (2000-2-09), por meio de desenho estilizado do Pão

de Açúcar. Há que se ressaltar que nenhuma outra cidade brasileira foi apresentada

em todo o corpus analisado.

Sob o tema Ciência e tecnologia, a face da vida moderna dos brasileiros

também é demonstrada. Dentre os EPs que apresentam o tema, destacam-se

aqueles que abordam a informatização, a Internet e as tecnologias de controle virtual

(2002-2-16, 2005-2-06, 2006-2-10, 2007-1-09 e 2007-1-20) e os que mostram a

biomedicina e os avanços que essa ciência têm trazido para a melhoria da qualidade

de vida da humanidade (2003-2-02, 2004-2-09 e 2004-2-14). Esses assuntos

configuram a sociedade brasileira em sintonia com a sociedade global moderna.

53
Pesquisa realizada pela Fundação Estudos Econômicos da Universidade de São Paulo, em 2006,
mostrou que o Rio de Janeiro é a cidade mais procurada pelos estrangeiros (44,1%) que vêm ao Brasil
em busca de lazer. Disponível em: http://jc.uol.com.br/2007/12/18/not_156846.php. Acesso em
28/02/2008.
108

Com relação ao tema Economia e negócios, no EP 2006-2-05, observamos a

grande fartura de crédito ao consumidor brasileiro, que hoje pode adquirir os mais

diversos tipos de mercadorias com grande facilidade; o EP 2006-2-17 traz a

preparação de pequenos empresários para o sucesso em seus negócios; o EP 2004-

1-17 ressalta a responsabilidade social das empresas; o EP 2001-1-10 apresenta um

quadro sobre o aumento de produção de mercadorias tendo em vista as preferências

de diversas faixas etárias; o EP 2003-2-07 mostra um quadro de antiguidades e seus

valores de mercado.

Sobre a Educação, dentre os sete EPs que abarcam o tema, cinco trazem

assuntos sobre cursos de graduação (2000-2-03, 2003-2-14, 2004-1-14 e 2004-2-03)

e de pós-graduação (2007-1-14), sendo dois referentes a cursos no exterior (2004-1-

14 e 2007-1-14). O EP 2000-2-03 apresenta a universidade virtual; o EP 2003-2-14, a

inclusão de deficientes físicos no ensino superior; o EP 2004-2-03, a escolha de

carreiras. O EP 2005-1-19 faz um panorama da educação no mundo e os EPs 2003-

2-08 e 2005-2-14 abordam da educação infantil.

Não há, portanto, nenhuma alusão ao Ensino Básico (Fundamental e Médio),

nem a campanhas de alfabetização, e também não são mostradas imagens de

escolas ou de salas de aula. Possivelmente, a ausência que se detectou se deva a

uma espécie de apagamento daquele ambiente, fruto das notórias dificuldades e

problemas por que tem passado o sistema educacional brasileiro, com as precárias
109

condições materiais e financeiras das escolas e a crescente desvalorização do

profissional de ensino.

Sobre a alimentação, DaMatta (1989, p. 30) faz um contraponto entre a comida

de casa e a comida da rua, afirmando ser esta “ruim e venenosa”, enquanto aquela é

“boa (ou deve ser assim) por definição”. Entretanto, em nenhum dos oito EPs

referentes ao tema Alimentação, a comida caseira é apresentada diretamente. Em

quatro dos EPs (2002-1-12, 2002-2-02, 2004-1-03 e 2006-1-14), a comida de rua é

que é enfocada pelos componentes verbais e não verbais dos textos, nos outros

quatro (2001-1-03, 2003-1-01, 2005-2-15 e 2007-1-16), trata-se de compra e

consumo de alimentos. Há que se destacar que, no único EP em que estão presentes

algumas comidas tipicamente brasileiras (2007-1-16), sugerem-se substituições

“recomendáveis” para elas.

Esses EPs mostram uma face da vida moderna no Brasil de que fala Almeida

(2007), caracterizada pelo fato de as pessoas disporem de pouco ou nenhum tempo

para fazer as refeições em casa, devido ao ritmo de vida que têm.

É baixa a ocorrência de EPs do tema Habitação. O primeiro deles (2000-2-02)

não apresenta uma casa, mas, ao contrário, mostra o que poderíamos chamar de

uma não-casa, uma vez que, neste caso, a foto revela pessoas em situação de

extrema pobreza que dormem amontoadas nas ruas – os sem-teto. Na verdade, é


110

esse o único EP que retrata e se refere diretamente às camadas mais pobres 54 da

população brasileira, o que , mesmo assim, é marcante em se tratando de material

utilizado para fins de exame de proficiência em LE, uma vez que não se espera que,

nesse meio, faces negativas da sociedade falante da língua-alvo sejam expostas.

O segundo (2003-1-09) demonstra a preocupação, no espaço da casa, com a

segurança de membros frágeis da família – os idosos. O terceiro (2006-1-02) traz a

ilustração do exterior de uma casa à venda, representando um dos grandes so nhos

dos brasileiros. Uma constatação importante é que o espaço interior da casa só é

mostrado, parcialmente, no EP 2003-1-09 – que se refere diretamente a habitação – e

muito raramente em outros EPs de outros temas, o que sugere ser ali o lugar que

DaMatta (1989, p. 24) afirmou ser “de um grupo fechado com fronteiras e com limites

(...) que todos do grupo sabem que importa resguardar e preservar...” É bem possível

que esse sentimento de proteção permeie os valores dos membros da CT quando

selecionem materiais sobre esse tema.

No que diz respeito a Meios de Comunicação e de Transporte, temos apenas

dois EPs (2002-1-06 e 2004-1-04) sobre o tema, que revelam o lado

desenvolvimentista do Brasil, apresentando a expansão e modernização da telefonia


54
Sobre esse assunto, cabe um pequeno comentário: a pobreza ou a desigualdade social de que fala
DaMatta (1989) é abordada diretamente, com imagem, apenas no EP 2000-2-02, conforme exposto.
Em um outro EP (2000-2-05), embora não explicitada por imagens, essa desigualdade é demonstrada
por meio de depoimento de brasileiros sobre o problema de crianças que pedem dinheiro nas rua.
Interessante é serem esses dois EPs pertencentes a uma mesma edição do Exame Celpe-Bras, a do
ano 2000, período em que o Brasil começava a viver sérios problemas econômicos e estava prestes a
passar por grandes mudanças em suas lideranças políticas. A partir de então, não se fez mais
nenhuma referência a essa face de nossa sociedade.
.
111

e a revitalização do transporte ferroviário. Na publicidade que mostra a expansão da

telefonia, índios representam os brasileiros alcançados por esse progresso, o que

significa inclusão social de minorias.

Considerando as ilustrações (fotografias e desenhos) que integram os textos

dos 230 EPs pesquisados, observamos que as representações de figuras humanas

superam em muito aquelas de outros componentes.

Essas representações de figuras humanas, além de terem sido examinadas

em relação ao gênero, foram também observadas no que se refere à sua posição

central ou periférica na imagem, inserção em determinado ambiente e enfoque (global

ou em detalhe) do corpo humano.

As figuras masculinas são mais freqüentes e centrais que as femininas,

destacando-se essa discrepância de número sobretudo nos textos agrupados em

torno do tema Trabalho e do tema Posturas, estes últimos referentes ao conjunto

relacionado a mudanças de comportamento.

As fotos e desenhos de figuras humanas dos EPs pesquisados, entre os quais

predominam te xtos de montagens, muitas vezes aparecem recortadas de seu entorno

original. Quando o entorno surge preservado na imagem do EP, observa-se um

predomínio de ambientes urbanos e internos (escritórios de empresas, fábricas,

metrô, shopping centers, supermercado, etc.).


112

Representações de contextos urbanos (panorâmica de conjuntos de edifícios,

praças de shopping centers, etc.) também são predominantes, se considerarmos as

imagens que não incluem o componente humano. As representações de espaços

naturais são raras nos textos de nosso corpus, surgindo apenas em textos referentes

a turismo e preservação do meio-ambiente, que remetem às nossas florestas – com

sua fauna (mico, tucano, serpente), flora (vitória-régia) e rios.

As representações de homens e mulhere s nas ilustrações pesquisadas, além

de focalizarem suas figuras por inteiro, em plano americano e, mais raramente, em

close, algumas vezes se fixam em detalhes: mãos masculinas e femininas. Essas

mãos, por vezes, surgem com funções diferentes (por exemplo: mãos masculinas

empunhando cronômetros e mãos femininas alimentando criança), e, em outras

oportunidades, são flagradas com funções idênticas (por exemplo, mãos masculinas

e femininas manejando mouses55).

Vale mencionar ainda as ilustrações de objetos que surgem como símbolos do

cotidiano moderno, perpassado pela pressa e pela tecnologia: além dos mencionados

cronômetros e mouses, observam-se, nos textos dos EPs, relógios, engrenagens,

calendários, computadores e câmaras eletrônicas.

55
Embora o plural da palavra “mouse” seja “mice”, adotamos a forma “mouses” por ser a mesma
difundida nos países cujos idiomas fazem a flexão de plural dos substantivos em “s” (português,
espanhol, francês, etc.), além de essa forma já estar registrada em um importante dicionário da língua
inglesa, o American Heritage (MORENO, C. Sua língua. Disponível em:
http://www.sualingua.com.br/01/01_soft.htm. Acesso em: 10/03/2008).
113

Uma observação que abrange as imagens de todos os EPs relativas a todos os

temas é que existe um predomínio de pessoas de pele clara.

Selecionamos ainda para exame um grupo de 16 te xtos56 que destacamos

para fins do estudo que empreendemos nesta seção. Nesses 16 textos de EPs que,

tendo por base enquetes 57, reúnem respostas e fotografias de brasileiros que se

posicionam sobre determinado tema58, fizemos um levantamento do perfil do

segmento da população ali representado. A quem se dá imagem e voz nesses EPs?

Esse perfil abarcou sexo, faixa etária, ocupação do entrevistado e seus

posicionamentos diante das questões apresentadas.

Nossa análise se prende aos textos verbais, visto que quase todas as

fotografias focalizam os entrevistados de muito perto, em plano americano, sem

enquadre do entorno.

Dos 52 brasileiros entrevistados, no que diz respeito a sexo, há equilíbrio: 27

são do sexo masculino e 25 do feminino. No tocante à faixa etária, predominam

brasileiros adultos: 34 estão na faixa etária situada entre 20 e 60 anos, havendo uma

menor proporção de jovens – seis entrevistados – e idosos – três. De nove

entrevistados , não se declara a idade.

56
Esses textos já haviam sido observados e contabilizados anteriormente no quadro de Temas ,
tópicos e subtópicos por nós estabelecido, porém nessa nova análise foram reagrupados para
observação sob ângulo diverso.
57
Coleta de testemunhos ou opiniões sobre determinado assunto promovida e publicada por órgão da mídia.
58
Ver, como exemplo, no Anexo IV, o EP 2000-01-05 (A criança lhe pede dinheiro na rua. E aí?), do qual só
dispomos de cópia em preto e branco.
114

Em relação às ocupações, temos mulheres brasileiras representadas como

vendedoras (4), empresárias (3), recepcionistas (2), estudantes (2), atrizes (2),

psicóloga (1), pedagoga (1), veterinária (1), farmacêutica (1), administradora (1)

auxiliar de contabilidade (1), ceramista (1), cineasta (1), crítica teatral (1), segurança

de banco (1) e pensionista (1). Há uma ainda, sem ocupação definida.

Predominam, portanto, representações de brasileiras profissionalmente ativas

em funções de atendimento ao público, mal ou medianamente remuneradas

(vendedoras e recepcionistas), havendo também alusão relevante a mulheres

empreendedoras (empresárias) e ligadas ao mundo artístico (atrizes, cineasta,

ceramista, crítica teatral). Merecem destaque ainda o registro de profissões ligadas à

área da saúde e à educação (psicóloga, farmacêutica, veterinária, pedagoga) e de

atividades ligadas a segurança bancária (1). Estão representadas também as

brasileiras que se preparam para entrar no mercado de trabalho (estudantes) e as

que, dele afastadas, dependem de pensão para viver. Não estão representadas

nesse grupo atividades que concentram um significativo número de brasileiras: donas

de casa e trabalhadoras rurais.

No que se refere às ocupações dos homens entrevistados, temos maior

diversidade: destaca-se um grupo ligado às artes, letras e ensino (ator, única

profissão masculina com duas ocorrências59, apresentador de tevê, artista plástico,

designer, escritor, jornalista, tradutor, professor). Registramos ainda outro grupo,

59
Todos as demais têm um a ocorrência.
115

formado por profissionais de carreiras tradicionalmente bastante procuradas nas

universidades, algumas com possibilidade de boa remuneração no mercado de

trabalho (advogado, economista, engenheiro) e mais um bloco formado por gerentes,

técnicos e auxiliares provavelmente desempenhando suas funções em empresas. No

quadro de atividades que costumam ter remuneração inferior em nosso meio,

encontramos entre os homens entrevistados: balconista, motorista, manobrista,

garçom, cabeleireiro, florista e adestrador de cães. Acrescentem-se um dono de

pizzaria e um segurança de banco. Destacam-se ainda um que é estagiário, ou seja,

que se prepara para entrada em mercado de trabalho, outro que é um

desempregado, desempenhando atividade no comércio informal, como camelô, e

finalmente um sem ocupação definida.

Resumindo, em termos de sexo, idade e ocupação os brasileiros

preferencialmente representados nos EPs em que figuram as enquetes analisadas,

são adultos, de ambos os sexos. As mulheres brasileiras representadas nesse grupo

de EPs trabalham sobretudo em atividades de atendimento ao público, geralmente

mal remuneradas em nosso meio, em atividades variadas ligadas ao mundo das

artes, e também como empresárias ou em profissões da área de saúde e educação.

Os homens, por sua vez, estão representados preferentemente em atividades ligadas

ao jornalismo, artes, letras e educação, seguidas por atividades diversas de baixa

remuneração, e por outras desempenhadas por brasileiros com diploma universitário,

como profissionais liberais ou funcionários de empresas.


116

Os poucos jovens representados surgem como estudantes, estagiários ou

trabalhadores. E os raros idosos, como profissionais de teatro, motorista e

engenheiro.

No que diz respeito às questões das enquetes e às respostas, temos

perguntas sobre dar ou não dar esmolas, sobre viver até os 100 anos, sobre algo de

que a pessoa sente saudade, sobre medo em relação a perdas, sobre atitudes

irritantes, sobre o que faz bem às pessoas, sobre organização da vida pessoal, sobre

o perdão, sobre situações desconfortáveis, sobre dar e receber presentes, sobre os

valores que se espera ver nos políticos, sobre o uso da Internet, sobre o que é

atraente em uma pessoa, sobre um possível vício, sobre aconchego e sobre o que

não se tolera.

Nos textos analisados, algumas respostas podem reforçar e outras podem

fragmentar imagens bastante difundidas dos brasileiros.

Por exemplo, em relação à tradicional imagem de generosidade de nosso

povo, a postura predominante dos entrevistados, no que diz respeito a esmolas, é a

de não dar, ou seja, não reforça o estereótipo do cristão generoso em todas as

circunstâncias. Mas as respostas referentes ao perdão o reforçam – todos os

entrevistados sobre esse assunto são unânimes em relação à necessidade perdoar o

próximo.
117

Ainda em relação à generosidade, indagados sobre a questão de dar e receber

presentes, os entrevistados representados nos EPs mencionam que gostam mais de

dar do que de receber, e que, quando recebem, valorizam mais o carinho de quem

oferece do que o presente propriamente dito.

Considerando outro estereótipo – o da simpatia do brasileiro – as respostas

dos entrevistados brasileiros reforçam esse traço, pois valorizam, nas pessoas, a boa

conversa, a comunicabilidade, o bom humor o bom convívio harmônico com todos.

Nos textos das enquetes, o repúdio de vários brasileiros à gente falsa, sua

irritação com a desonestidade, sua expectativa de que os políticos sejam sérios,

honestos e respeitadores de seu próximo, conflita, por exemplo, com o estereótipo do

brasileiro que faz vista grossa aos hoje denominados “desvios de conduta”.

O apego à terra natal, à família e às tradições pode ser observado em

depoimentos de vários brasileiros representados nessas entrevistas que circulam nos

EPs: trabalhadores das regiões norte e nordeste que declaram saudades de sua

terra, da família – “do cafuné e do colo da mãe” – e dificuldades de adaptação em

São Paulo; homens e mulheres que dizem sentir falta do carnaval de rua e das

antigas brincadeiras de rua.

Finalmente, nos textos desse grupo de EPs, imagens de brasileiros dos

grandes centros se projetam em respostas que registram desde a obsessão pela


118

Internet até o medo perder a vida diante da crescente onda de violência na cidade.

6.2 ANÁLISE DAS IMAGENS NOS QUESTIONÁRIOS

Conforme exposto em 5.1, dentre os 132 estudantes de PBE que nos

encaminharam respostas, 55 citaram uma imagem do Brasil, 35 apresentaram duas,

22 responderam três e 20 informaram quatro, o que nos deu um total de 271 imagens

para análise.

Baseando-nos em Pontual (1991), Séguin (1991), Bailby (1991), Moniot (1991),

entre outros, além de nossa própria experiência no convívio com estrangeiros das

mais diversas origens, tínhamos a expectativa de que três imagens brasileiras

estereotipadas – carnaval, futebol e mulheres bonitas –, estivessem presentes em

grande parte das respostas. O carnaval, pela grandiosidade dos desfiles das escolas

de samba do Rio de Janeiro; o futebol, pelos títulos mundiais conquistados pela

Seleção Brasileira e pelos inúmeros jogadores famosos que são exportados para

várias partes do mundo; as mulheres, pela beleza e pela exibição em trajes sumários,

nas praias e no carnaval, mostradas em imagens da mídia e turismo. Além dessas

três imagens, também esperávamos encontrar referências a outros clichês: a

exuberância da natureza tropical e a cordialidade do povo.

Na análise dos questionários, observamos que, ao formularem suas respostas,

muitos aprendizes utilizaram termos que remetem a mais de uma imagem. Por
119

exemplo, em uma resposta do tipo “carnaval do Rio”, temos a imagem do espírito

festivo e da alegria do povo, e da cidade do Rio de Janeiro como fundo.

Na tabulação das respostas, devendo-se lembrar que alguns itens remetem a

outros, destacamos os seguintes resultados:

• Meio ambiente: praia(s) 60, floresta (Amazonas, Amazônia, floresta, mata,

selva, verde), Corcovado, Fernando de Noronha, Pão de Açúcar, terra roxa,

paisagem (bonita, maravilhosa, etc.), natureza (exuberante, rica), calor, sol,

clima cálido palmeiras, fauna, montanha – 94 ocorrências (34,68%)

• Carnaval: carnaval, carnaval do Rio, folia, samba, sambistas e mulheres

sambando – 41 ocorrências (15,12%)

• “Espírito” do povo: sorriso, alegria, bom humor, folia, festa, diversão,

hospitalidade e energia, vida (tranqüila, feliz), gente (boa, brasileira, cordial,

feliz, alegre, sorridente, divertida, muito agradável) – 25 ocorrências

(9,22%)

• Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, Cristo/Corcovado, Pão de Açúcar, praias

(do Rio, de Copa, Copacabana), carnaval do Rio – 22 ocorrências (8,11%)

• Futebol: 14 ocorrências (5,16%)

• Música: música, bossa nova, melodia – oito ocorrências (2,95%)

• Mulheres: mulheres (bonitas, lindas, sambando) – 5 ocorrências (1,84%)

60
A imagem “praia” merece destaque pelo seu grande número de ocorrências – 51 (19,46%): praia(s),
praia de Copacabana, praia linda, praia nordestina, praias do Rio e mar.
120

• Alimentos: açúcar, café, manga, comida gostosa, caldo de cana na rua – 5

ocorrências (1,84%)

• Outras: 57 (21,02%)

Dentre a categoria Outras, encontramos referências a: superpopulação (4),

país grande, fantástico, bonito, interessante (4), bandeira (brasileira, do Brasil) (3),

magia, dança, moda, roupa ligeira, muitos contrastes, cores, mistura, energia,

pessoas, cultura, cultura gostosa, variedade cultural, variedade humana, limpeza,

liberdade, ordem, trânsito, ônibus, mapa do Brasil, férias de verão, etc.

Temos, então, o meio ambiente como a imagem mais presente para os

aprendizes de PBE, destacando-se a praia como componente de maior destaque. Em

seguida, apresenta-se o carnaval que, juntando -se à cordialidade, alegria e

festividade do povo, pode traduzir o espírito brasileiro.

Esses resultados estão de acordo com o ponto de vista de Silva (2000) que

destaca que a identidade se estabelece por meio de representações por vezes tão

recorrentes que passam a ter estatuto de verdade.

A região predominantemente citada é a do Rio de Janeiro, havendo,

entretanto, apenas uma referência direta à cidade; as outras referem-se a pontos

turísticos (praias do Rio de Janeiro, Copacabana, Corcovado, Pão de Açúcar) ou ao

carnaval da cidade. Os outros pontos do país apresentados são: Fernando de


121

Noronha (uma vez), Amazonas, Amazônia e floresta amazônica (quatro vezes), e,

como já dissemos anteriormente, Brasília (Congresso em Brasília). Tem-se ainda a

imagem do futebol que aparece em 14 respostas e da mulher, em cinco respostas.

Há que se acrescentar a essas imagens algumas poucas outras que revelam

faces negativas do país. São elas: favelas, pobreza, desigualdade econômica,

exagero, bandidos e violência. Favelas são mencionadas por um informante uruguaio

e outro alemão; pobreza , desigualdade econômica e violência são citadas por

alemães e por um espanhol; exagero, por um coreano do sul; bandidos, por um

aprendiz do Congo.

Encontrou-se uma menção ao Congresso em Brasília, a qual não podemos

considerar positiva ou negativa, pois não sabemos se o informante referiu-se à beleza

arquitetônica da construção ou aos problemas internos da Casa.

Com isso, concluímos que, pelo menos entre os aprendizes de PBE

pesquisados, as imagens do Brasil – as belezas naturais e a alegria, a cordialidade e

festividade do povo – são aquelas que circulam pelos meios de comunicação, com

exceção da imagem das mulheres brasileiras – que obteve uma freqüência muito

baixa, o que talvez possa ter ocorrido devido às condições formais em que se

solicitou a informação dos estudantes. Também há que se destacar a pouca

freqüência de imagens negativas – como a pobreza, a violência, etc. – apesar de

serem esses problemas constantemente apresentados pela mídia.


122

7 CONCLUSÃO

Neste estudo, analisamos textos de 230 Elementos Provocadores da Parte

Individual do Exame Celpe-Bras, para buscar tentar responder às questões “Que

representações do Brasil, que aspectos da realidade brasileira, das formas brasileiras

de perceber, estar e de se relacionar no mundo esses textos fazem circular? Em que

medida se aproximam e se distanciam das representações do Brasil declaradas por

aprendizes estrangeiros de PBE em preparação para o exame em instituições

credenciadas para tal finalidade?”

Nos textos dos EPs, elaborados pelos componentes da CT do Celpe-Bras, a

partir de textos autênticos que circulam em nosso contexto, predominam

representações do Brasil com acentuação de sua face moderna e não estereotipada.

Ao construírem os EPs, os membros da CT possivelmente pretenderam evitar o

lugar-comum e mostrar as faces de um país incluído na contemporaneidade,

ressaltando sua inserção em um contexto de desenvolvimento, prosperidade e

inclusão social, e destacando a preocupação do brasileiro em antenar suas posturas


123

com os novos tempos – mantendo a forma física e mental, produzindo sem destruir o

meio-ambiente, dividindo o trabalho em novos moldes e valorizando as relações

humanas.

Pela própria natureza dos textos analisados, observa-se o apagamento quase

total de características negativas do país. Talvez tenhamos como decorrências disso

a baixa concentração de textos sobre o tema Educação, que favoreceria a discussão

de aspectos com uma face altamente negativa no Brasil. Um outro dado que parece

apontar nesse sentido é a presença maciça, entre os EPs agrupados na rubrica

Corpo e Saúde, de textos que contemplam principalmente questões ligadas à

manutenção da saúde com um viés pessoal e com um apagamento do institucional.

Levando em conta o descaso com a saúde no Brasil, um viés diferente do adotado

poderia colocar em foco faces negativas do país .

Nos textos agrupados sob o tema Corpo e Saúde, segundo grupo em número

de ocorrências, também encontramos EPs que focalizam o rejuvenescimento,

evidenciando a questão do culto ao corpo, à beleza e à juventude na sociedade de

consumo.

Os EPs analisados se agrupam majoritariamente sob o tema Posturas,

mostrando ênfase em hábitos, comportamentos, sensações, sentimentos, valores e

crenças do brasileiro, o que revela uma dimensão especial dada ao componente

humano.
124

Entre os hábitos, predominam aqueles em processo de mudança em busca de

uma adaptação à modernidade, relativos principalmente ao homem brasileiro, jovem

ou idoso, na esfera da casa e do trabalho. Entre os comportamentos, destacamos

aqueles relacionados à moda, alguns dos quais se referem ao homem que hoje, para

melhorar a aparência se utiliza de recursos, antes, exclusivamente femininos. Entre

os costumes, destacamos, por um lado, a acentua ção de algumas características

positivas do brasileiro, com destaque para a generosidade, e por outro, a menção de

uma característica negativa na perspectiva da ideologia dominante nas sociedades

ocidentais industrializadas – a de postergar decisões.

Por outro lado, os textos sobre o tema Trabalho, o quarto em número de

ocorrências, valorizam grandemente esse tipo de atividade humana, promovendo o

apagamento do estereótipo do brasileiro e do latino em geral como amante do ócio.

Também trabalhando no sentido de apagar uma característica rotineiramente

atribuída aos brasileiros – a de serem “festeiros” – observamos uma reduzida

quantidade de textos enfocando, sob qualquer das rubricas temáticas, o assunto

festa.

A família está presente em vários EPs, tanto como tema principal, quanto como

secundário, o que nos revela uma das características da sociedade brasileira – a de

ser familista, ou seja, de serem os brasileiros fortemente ligados à família. Nesse

grupo, encontramos, em várias ocasiões, a figura do pai como núcleo, embora

algumas vezes assumindo o papel “normalmente” ocupado pela mãe. Esse tipo de
125

representação sugere que esteja ocorrendo, em nosso País, uma transição entre o

modelo tradicional e modelo moderno de família.

A presença de textos referentes à preservação do meio ambiente, bem como

ao desenvolvimento da ciência e aos avanços tecnológicos, parece mostrar a

preocupação da CT em demonstrar a inserção do Brasil no mundo moderno.

No que se refere às ilustrações dos EPs, há imagens de índios inseridos no

mundo moderno e de mulheres que alcançam postos no mercado de trabalho antes

só ocupados por homens. Isso pode significar que a CT teve a preocupação de

mostrar que existe no Brasil uma tendência à inclusão social de grupos antes

relegados a um segundo plano, embora tenhamos também constatado a rara

presença de pessoas de pela negra entre as imagens presentes no corpus de nossa

pesquisa.

As tensões do Brasil moderno estão representadas em desenhos e fotos de

pessoas estressadas e em símbolos como cronômetros, relógios e engrenagens,

sobretudo em contextos de trabalho. Também estão representados os progressos,

configurados em imagens de computadores, câmeras, celulares etc.

Ainda em relação ao componente não verbal, o Brasil de natureza

exuberante,só aparece representado em umas poucas fotos de textos de turismo e


126

de campanhas de preservação, incluindo imagens simbólicas de regiões tropicais e

exóticas.

Em termos de imagens femininas e masculinas, bastante diversificadas,

predominam fotos de homens adultos em contextos variados – domésticos e de

trabalho. Por vezes, mãos femininas e masculinas aparecem em primeiro plano em

algumas fotos, representando a mulher e o homem em atividades ora distintas, ora

compartilhadas

Nos textos das enquetes, que, depois de estudados no quadro de temas,

tópicos e subtópicos proposto, foram analisados em grupo separado em busca das

faces dos brasileiros neles configuradas, temos principalmente representações de

brasileiros adultos, de ambos os sexos, vivendo em contexto urbano e convivendo

com as facilidades e dificuldades que a vida nas cidades proporciona. Esses

brasileiros representados, valorizam, em seu discurso, a generosidade, o convívio

harmônico, a honestidade e o apego às raízes e às tradições.

Na análise dos questionários, observamos que nossos informantes, aprendizes

de PBE, podem ter sido influenciados pelas imagens que circulam por meios diversos

e conservam estereótipos do Brasil e dos brasileiros em suas memórias. A presença

de imagens como a do carnaval, do samba, do futebol, das praias e dos pontos

turísticos do Rio de Janeiro, somadas àquelas imagens estereotipadas que se


127

referem à alegria, à cordialidade, ao espírito festivo do povo brasileiro, são evidências

disso.

Concluindo, os textos e as imagens presentes nos EPs e aquelas citadas pelos

informantes convergem no que diz respeito à representação do brasileiro num quadro

de cordialidade e simpatia, mas divergem quanto a estereótipos como o carnaval, o

samba e o futebol, presentes nas imagens do Brasil declaradas pelos estudantes

pesquisados, porém ausentes no corpus formado pelos EPs analisados.


128

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138

9 ANEXOS
139
ANEXO I

• Perguntas que acompanham o EP 2003-1-05 – Vale a pena embarcar na

carreira da moda?
CELPE-Bras/Interação face a face
___________________________

Elemento provocador 5
___________________________

Vale a pena embarcar na carreira da moda?

O material servirá de elemento provocador de uma interação face a face entre o


aplicador e o candidato. O objetivo da tarefa é avaliar a produção oral, não havendo
apenas uma resposta correta.

Etapa 1
O aplicador diz ao candidato:

Por favor, leia este material. (O candidato lê silenciosamente.)

Etapa 2
Após aproximadamente um minuto (ou dois, dependendo da extensão do material), o
aplicador diz ao candidato:

Comente o quadro.

Observação: o aplicador pode auxiliar o candidato nessa parte, já que o objetivo é


incentivar o entrevistado a interagir oralmente.

Etapa 3
Para dar ao candidato oportunidade de prosseguir com sua produção de texto oral, o
aplicador faz perguntas tais como:

• Na sua opinião, vale a pena escolher uma carreira que está na moda?
• Quais as vantagens e as desvantagens que você pode ter ao proceder assim?
• A carreira que você escolheu está na moda? Em caso negativo: já esteve na
moda? Quando?
• Qual(is) a(s) carreira(s) que está(ao) na moda no seu país?
• Que carreiras têm mais prestígio no seu país?
• Que dados apresentados no quadro correspondem à realidade do seu país?
De que forma?
ANEXO II

• Quadro com respostas dos aprendizes de PBE ao questionário de


sondagem
Quadro com respostas1 dos aprendizes de PBE ao questionário de sondagem

País2 1ª IMAGEM 2ª IMAGEM 3ª IMAGEM 4ª IMAGEM


AR01 Praia Gente feliz
AR02 Descontração
AR03 Sorriso e alegria do povo Magia Energia do sol Praias

AR04 Praia Carnavais


AR05 Praia nordestina
AR06 Praia Muita gente Muito sol Mar
AR07 Praias Palmeiras Pessoas
AR08 Muita população Cultura gostosa
AR09 Praia Pessoas
AR10 Música
AR11 Praias Mar Palmeiras
AR12 Música Alegria Praias Sol
AR13 Povo lindo Cadeira na praia
AR14 Férias de verão
AR15 Praia
AR16 Festa Praia
AR17 Carnaval Praia Selva amazônica
AR18 Pessoas cordiais Natureza exuberante

1
Para fins de inclusão neste quadro, as respostas apresentadas foram reduzidas ao(s) seu(s) termo(s) essencial(is). Algumas dessas respostas redigidas
pelos estudantes pesquisados tiveram sua forma corrigida no que se refere à ortografia e à concordância. Todas aquelas que foram redigidas em espanhol,
francês ou inglês foram traduzidas.
2
Apenas para nosso controle, foram utilizadas as siglas internacionais dos países: AR (Argentina); AT (Áustria); AU (Austrália); BO (Bolívia); CL (Chile); CO
(Colômbia); CQ (Congo); CU (Cuba); DE (Alemanha); ES (Espanha); GA (Gabão); GB (Inglaterra); GR (Grécia); GY (Guatemala); HN (Honduras); HT (Haiti);
IT (Itália); JP (Japão); KR (Coréia do Sul); MX (México); NG (Nigéria); PE (Peru); PL (Polônia); PR (Porto Rico); RU (Rússia); SN (Senegal); US (Estados
Unidos); UY (Uruguai). Fonte: http://usuarios.lycos.es/jonangulo/.
AR19 Caldo de cana na rua Samba Paralelepípedo Terra roxa
AT01 Capoeira
AT02 Diversidade cultural Diversidade da natureza Diversidade social
AT03 Vida feliz Vida tranqüila
AT04 Futebol Mulheres sambando
AT05 Diversidade da natureza
AT06 Trânsito Superpopulação Praias Futebol
AT07 Vida feliz Vida tranqüila
BO01 Rio de Janeiro Carnaval do Rio
BO02 Futebol
CL01 Carnaval
CO01 Mapa do país
CQ01 Bandidos
CU01 Samba
CU02 Samba Carnaval Alegria
DE01 Amazonas Carnaval do Rio
DE02 Música
DE03 Violência Pobreza Carnaval Rio de Janeiro
DE04 Sol Pessoas negras
DE05 Melodia Sol Sorriso
DE06 Gente boa e alegre Calor Praia Mata
DE07 Copacabana
DE08 Futebol Samba Mulheres Bandeira brasileira
DE09 Desigualdade econômica
DE10 Samba Ônibus Favela Porteiros
ES01 Selva
ES02 País grande Beleza Muitos contrastes
ES03 Variedade na paisagem Variedade humana
ES04 Riqueza natural Variedade cultural
ES05 Praia Sol Alegria
ES06 Floresta
ES07 Cores Mistura Alegria Energia
ES08 Cristo Redentor
ES09 Bandeira do Brasil
ES10 Muita riqueza Muita pobreza Gente alegre
ES11 Alegria Beleza
ES12 Cristo Redentor do Rio
GA01 Liberdade
GB01 Rio Carnaval Samba
GR01 Cristo Redentor
GY01 Floresta do Amazonas Carnaval Praias
HN01 Samba Capoeira Mulheres bonitas Comida gostosa
HT01 Futebol
HT02 Futebol
IT01 Capoeira
IT02 Praias Futebol Música
IT03 Carnaval
JP01 Samba Praia
JP02 Alegria
JP03 Praia linda
JP04 Samba Carnaval Café Praia
JP05 Ordem Limpeza
KR01 Exagero Expressividade
exagerada
KR02 Carnaval Samba Amazônia Futebol
KR03 Futebol
KR04 Futebol
KR05 Samba Futebol
MX01 Carnaval Açúcar
MX02 Futebol Corcovado Carnaval
NG01 Moda Música
PE01 Praias do Rio
PE02 Praias
PE03 Praias do Rio de Janeiro
PE04 Praias Samba Cultura
PE05 Floresta Praias
PE06 Praias
PE07 Praias Gente muito agradável Clima muito cálido Roupa ligera
PE08 Praias Gente sorridente
PE09 Futebol
PE10 Carnaval do Rio Praias
PE11 Praia
PE12 Praias
PE13 Carnaval
PE14 Praias Mulheres
PE15 Praia de Copacabana Cristo de Corcovado Pão de Açúcar
PE16 Cristo de Corcovado
PE17 Carnaval
PE18 Praias
PE19 Praias
PE20 Praia de Copacabana Corcovado
PL01 Carnaval do Rio Sambistas Gente brasileira Fernando de Noronha
PR01 Rio de Janeiro Samba Paisagens maravilhosas Alegria
RU01 Calor Bom humor
SN01 Futebol Samba País onde é possível
realizar planos
US01 O Congresso em Brasília
US02 Capoeira Mangas
US03 Bandeira
US04 Hospitalidade e energia Música Dança Praias do nordeste
US05 Carnaval Capoeira
US06 Alegria Praia Riqueza da natureza
US07 Praia
US08 Praia Montanhas
US09 Praias Gente
US10 Praia
US11 Cristo Redentor
UY01 Corcovado
UY02 Bossa Nova
UY03 O Rio com o Corcovado
UY04 País fantástico
UY05 Paisagens bonitas
UY06 Alegria Festa Carnaval
UY07 Praia Mar
UY08 País muito alegre País interessante País bonito
UY09 Folia Praia Samba Carnaval
UY10 Praia Carnaval do Rio
UY11 Cristo Redentor
UY12 Praia Carnaval do Rio
UY13 Praias Favelas Diversão
UY14 Muitas pessoas
divertidas
UY15 Muito calor
UY16 Paisagem Verde Muita gente
UY17 Praia Calor Carnaval Diversão
UY18 Selva Calor Gente muito feliz
UY19 Gente muito alegre Selva Fauna Cores vivas
ANEXO III

• Quadro de EPs de dezembro de 2000 a abril de 2007


Quadro de EPs de 2000 a abril de 2007
1
CÓDIGO TÍTULO TEMA TÓPICO FONTE
(PUBLICAÇÃO)
2000-2-01 Jeito gostoso de comer fora Lazer e turismo Posturas s/f

2000-2-02 Cruel sobrevivência nas Habitação s/f


ruas
2000-2-03 Propaganda da Educação s/f
Universidade Virtual
2000-2-04 O menino maluquinho Posturas s/f

2000-2-05 A criança lhe pede dinheiro Posturas FSP2


na rua. E aí?
2000-2-06 Preservação da terra Ambiente Governo Federal

2000-2-07 Stress sem culpa Posturas Trabalho Ícaro

2000-2-08 Direitos humanos Posturas s/f

2000-2-09 Cartão postal Lazer e turismo JB3

2001-1-01 O que você ressuscitaria Posturas FSP

2001-1-02 Você tem medo de perder o Posturas FSP


quê?
2001-1-03 Chiclete com banana – Alimentação Posturas FSP
Angeli
2001-1-04 Brasileiros ainda brigam Posturas Economia e FSP
pouco por seus direitos negócios
2001-1-05 Uma doença chamada Trabalho Posturas Revista Amanhã
trabalho Economia &
Negócios
2001-1-06 Manifesto MTV: movimento Posturas Trabalho JB – Revista de
de volta ao tanque Família Domingo
2001-1-07 A espinha Posturas Época

2001-1-08 Um questionário antes de Família Posturas s/f


se casar
2001-1-09 Santo de casa Posturas Trabalho s/f
Família
2001-1-10 A idade da indústria Economia e Posturas Veja
negócios
2001-1-11 Receita da felicidade Posturas IstoÉ

2002-1-01 Em defesa da vida Posturas Governo Federal

2002-1-02 s/f
PERDIDO

1
Constam nessa numeração o ano do Exame, seguido de um ou dois (o que significa primeiro
ou segundo Exame daquele ano) e do número de ordem do EP apresentado no Exame.
2
Folha de São Paulo
3
Jornal do Brasil
2002-1-03 Motoristas Posturas JB

2002-1-04 Vende-se água Ambiente JB

2002-1-05 Medo Posturas LP&M

2002-1-06 Propaganda Telemar Meios de Posturas s/f


comunicação e de Ciência e
transporte tecnologia
2002-1-07
PERDIDO
2002-1-08 A idade real Corpo e saúde Veja

2002-1-09 Voluntariado Posturas Trabalho FSP

2002-1-10 O que deixa você mais Posturas FSP


irritado?
2002-1-11 O que faz bem para a Posturas FSP
alma?
2002-1-12 Que tipo de comida você Alimentação Posturas FSP
costuma consumir na
escola ou na rua?
2002-1-13 Por que preservar a história Família Posturas FSP
da família
2002-1-14 Você acredita em amor Posturas Marie Claire
ideal?
2002-1-15 Como você imagina a vida Posturas Corpo e saúde Marie Claire
aos 100 anos
2002-1-16 Homem de forno e fogão Posturas Trabalho Site no.com.br
Família
2002-2-01 Promessas do cheque Trabalho Veja

2002-2-02 O que o brasileiro pede ao Alimentação Veja


garçon?
2002-2-03 O maior sonho dos pais Família s/f

2002-2-04 Caos nas cidades grandes Ambiente Veja

2002-2-05 É proibido fumar Posturas Época /


Superinteressan
te
2002-2-06 O legal e o nem tanto da Posturas Veja
temporada
2002-2-07 Mandamentos de um bom Posturas Alimentação Veja
anfitrião
2002-2-08 Esqueceu o final da Corpo e saúde Veja
história?
2002-2-09 Como que os famosos Posturas Economia e Veja
cuidam do dinheiro negócios
2002-2-10 Como eles vivem Posturas Época

2002-2-11 O espírito de cada década Posturas Época


2002-2-12 Copa 2002 Posturas Hoje em dia
/Época
2002-2-13 Não conte para ninguém Posturas Veja

2002-2-14 As idades dos brasileiros Posturas Veja

2002-2-15 Porque eu vou votar Posturas O Globo/Época

2002-2-16 Tempos modernos Ciência e FSP/Veja


tecnologia
2002-2-17 Encolheram a infância Posturas Época

2002-2-18 Reciclagem para os pais Família Época

2003-1-01 Pirâmides alimentares Alimentação Scientific


American Brasil
2003-1-02 Você se orienta pela ética Posturas FSP
na hora de votar?
2003-1-03 Perdão foi feito pra gente Posturas FSP
pedir
2003-1-04 Adiar compromissos Posturas FSP

2003-1-05 Vale a pena embarcar na Trabalho FSP


carreira da moda?
2003-1-06 Pit bull na arena Posturas FSP

2003-1-07 O brasileiro e o trabalho Trabalho FSP

2003-1-08 Economizando água e Ambiente Economia Águas de Niterói


dinheiro
2003-1-09 A casa ideal Habitação Estado de Minas

2003-1-10 Existem lugares mágicos Lazer e turismo Época

2003-1-11 Os brasileiros gostam de ler Posturas Educação Época

2003-1-12 O que é felicidade? Posturas Zero Hora

2003-1-13 Uma onda muito furada Corpo e saúde Veja

2003-1-14 Na roda gigante do zodíaco Posturas Época

2003-1-15 Vai faltar Ambiente FSP

2003-1-16 Não deixe a natureza ir Ambiente s/f


embora
2003-1-17 A paquera no mundo Posturas FSP

2003-1-18 Tecla comigo, vai... Posturas Ciência e Veja


tecnologia
2003-1-19 Participação do pai Família Posturas s/f

2003-1-20 Ajude a mudar este Ambiente Posturas Câm. Municipal


cardápio de Porto Alegre
2003-2-01 Aline e dietas Corpo e saúde Alimentação FSP / Dietas

2003-2-02 Clonagem Ciência e s/f


tecnologia
2003-2-03 Médicos solidários Posturas Corpo e saúde Época

2003-2-04 Filho único Família Posturas Estado de Minas

2003-2-05 Vaidade masculina Posturas Corpo e saúde Veja

2003-2-06 Saiba dizer não Posturas Família Jornal da


Pampulha
2003-2-07 Mapa do tesouro Economia e Veja
negócios
2003-2-08 Adulto tem o dever de Educação Posturas FSP
liberar as brincadeiras
2003-2-09 Obesidade infantil Corpo e saúde Alimentação Veja
Educação
2003-2-10 Reciclagem Ambiente FSP

2003-2-11 Cara, cadê meu emprego? Trabalho FSP

2003-2-12 Amazonas Lazer e turismo Ambiente FSP

2003-2-13 Amiguinhos da onça Posturas FSP

2003-2-14 Deficientes Educação FSP

2003-2-15 O poder feminino na PM Trabalho FSP

2003-2-16 Informação demais Posturas Ciência e FSP


tecnologia
2003-2-17 12 regras para frear o Corpo e saúde Veja
relógio biológico
2003-2-18 Aldeia de todas as tribos Posturas Lazer e turismo FSP
Ambiente
2003-2-19 Cerveja só à noite Posturas Corpo e saúde Época

2003-2-20 Trabalho infantil Posturas Trabalho s/f

2004-1-01 Velho é a vovozinha Posturas Época

2004-1-02 A nova família Família Posturas Época

2004-1-03 Os vilões da hora do Alimentação Corpo e saúde Jornal da


recreio Pampulha
2004-1-04 Na trilha dos trilhos Meios de Jornal da
comunicação e de Pampulha
transporte
2004-1-05 Faça alguém nascer de Posturas Corpo e saúde Governo Federal
novo
2004-1-06 Fonte natural da vida Corpo e saúde Ambiente Estado de Minas
2004-1-07 A quantas andam suas Posturas FSP
amizades?
2004-1-08 102 maneiras de Economia e Posturas s/f
economizar negócios
2004-1-09 Simpatias de ano novo Posturas Época/Revista
Jangada
2004-1-10 Políticos em baixa Trabalho Posturas Época

2004-1-11 A revolução dos brinquedos Posturas Ciência e Galileu


tecnologia
2004-1-12 Atlas do Brasil Ambiente Zero Hora

2004-1-13 Reciclagem Ambiente Época

2004-1-14 Grátis para atletas Educação Veja

2004-1-15 Um retrato do telespectador Posturas Lazer e turismo Veja

2004-1-16 Corpo e mente em Corpo e saúde Estado de Minas


equilíbrio
2004-1-17 Bingos Economia e Trabalho s/f
negócios
2004-1-18 Correndo contra o tempo Posturas Amanhã

2004-1-19 Por que o primeiro emprego Trabalho Época


é difícil
2004-1-20 Adolescência sem fim Posturas Superinteressan
te
2004-2-01 Quando você se sente um Posturas FSP
peixe fora d’água
2004-2-02 Consumo na Internet Posturas Economia e Estado de Minas
negócios
2004-2-03 Escolha da profissão Educação Conexão
Vocacional
2004-2-04 Presentes Posturas FSP

2004-2-05 Mulher apaixonada Posturas FSP

2004-2-06 Ordem na casa, ordem na Posturas Veja


vida
2004-2-07 Cão e carteiro Posturas Governo Federal

2004-2-08 Gaiola Família Habitação Trip

2004-2-09 Eles X Elas Ciência e Posturas FSP


tecnologia
2004-2-10 Namoro na adolescência Posturas Zero Hora

2004-2-11 Amor de sogra Posturas Família Veja

2004-2-12 Adeus, olho gordo Posturas Veja

2004-2-13 Super-heróis Posturas Galileu


2004-2-14 Olimpíadas Ciência e Corpo e saúde Galileu
tecnologia Lazer e turismo
2004-2-15 Sabedoria das antigas Posturas Época

2004-2-16 Brega ou chique? Posturas Época

2004-2-17 Etiqueta no trabalho Posturas Trabalho FSP

2004-2-18 Faça o seu dinheiro render Economia e Posturas Época


negócios
2004-2-19 Green Peace Ambiente Posturas Terra

2004-2-20 Jovens brasileiros Posturas Veja

2005-1-01 Gostar de ler Posturas Educação Veja

2005-1-02 Mascotes perigosos Posturas Corpo e saúde Época

2005-1-03 Proibido para menores Posturas Ciência e Época


tecnologia
2005-1-04 Uma pracinha chamada Lazer e turismo Posturas Zero Hora
shopping
2005-1-05 Só meu e de mais ninguém Posturas Jornal da
Pampulha
2005-1-06 Movimento estudantil Posturas Época

2005-1-07 Segunda adolescência Posturas Família Época

2005-1-08 Eles não foram felizes para Posturas Família Veja


sempre
2005-1-09 Ninguém quer esses Posturas Economia e Zero Hora
clientes negócios
2005-1-10 Televisão demais faz mal à Corpo e saúde Posturas FSP
saúde e pode viciar Ciência e
tecnologia
2005-1-11 Vagas para robôs Trabalho Ciência e Estado de Minas
tecnologia
2005-1-12 Stress sob controle Corpo e saúde Época

2005-1-13 Timidez Posturas Época

2005-1-14 Cabe mais um Ambiente Galileu

2005-1-15 Paternidade Posturas Família Marie Claire

2005-1-16 Nada convencionais Posturas Estado de Minas

2005-1-17 Mesada faz bem Posturas Economia e Crescer


negócios
Família
2005-1-18 O valor do brasileiro Posturas IstoÉ

2005-1-19 Escola da vida Educação Educação


2005-1-20 Chave do carro Posturas Família s/f

2005-2-01 Qual é o seu vício? Posturas FSP

2005-2-02 O que chama a atenção em Posturas FSP


uma pessoa?
2005-2-03 O que o homem pode fazer Posturas Trabalho Veja
no trabalho e a mulher não
2005-2-04 Mortes no trânsito Posturas FSP

2005-2-05 Felizes e sem herdeiros Família Posturas Época

2005-2-06 Nem tudo que reluz é ouro Ciência e Educação FSP


tecnologia
2005-2-07 Você sabia? Posturas Família Jornal da
Pampulha
2005-2-08 Onde você procura Posturas FSP
aconchego?
2005-2-09 Transferência amorosa Posturas A Tarde

2005-2-10 O primeiro emprego Trabalho Família Veja


Posturas
2005-2-11 Morar sozinho é uma Posturas Habitação Época
escolha
2005-2-12 Encomendas de viagem Posturas Veja

2005-2-13 Fique bem Corpo e saúde Posturas Jornal da


Pampulha
2005-2-14 Dar mais uma chance Educação Zero Hora

2005-2-15 Dieta sadia Alimentação Corpo e saúde JB

2005-2-16 Tem um Ceará de emoções Lazer e turismo Cartacapital


à sua espera
2005-2-17 Antes de virar a página, dê Ambiente Cartacapital
uma virada na política
energética brasileira
2005-2-18 Não banque o big brother Posturas Ciência e Jornal da
tecnologia Pampulha
2005-2-19
O peso O peso do aluguel na Economia e Habitação O Globo
negócios
2005-2-20 Mundo dos pinóquios Posturas IstoÉ

2006-1-01 Casa própria Habitação Estado de Minas

2006-1-02 Planos Posturas Extra

2006-1-03 Compre com segurança Posturas Ciência e IstoÉ


tecnologia
2006-1-04 Procuram-se deficientes Trabalho s/f

2006-1-05 O que não dá para engolir? Posturas FSP


2006-1-06 Toda roupa revela uma Posturas Ícaro
identidade
2006-1-07 Metrossexualismo Posturas Veja

2006-1-08 Proteção na dose certa Posturas Família Jornal da


Pampulha
2006-1-09 O brasileiro engordou Corpo e saúde Alimentação Veja

2006-1-10 Os riscos do porre Posturas Corpo e saúde Época

2006-1-11 Você não quer contar esta Ambiente JB


história para seus filhos,
quer?
2006-1-12 Estamos ficando velhos Posturas Época

2006-1-13 O que cada um pode fazer Posturas Corpo e saúde TAM Magazine
para mudar o mundo? Ambiente
2006-1-14 Você é o que come Alimentação Corpo e saúde TAM Magazine

2006-1-15 Sobre duas rodas Corpo e saúde Meios de FSP


comunicação e
de transporte
2006-1-16 O desafio de mudar Posturas Ciência e Época
tecnologia
2006-1-17 Não há vagas Trabalho IstoÉ

2006-1-18 Por que somos loucos por Posturas Superinteressan


novelas? te
2006-1-19 Guerra de nervos Posturas Trabalho Veja

2006-1-20 Bem-estar Corpo e saúde Posturas Época

2006-2-03 Pai e avô ao mesmo tempo Família Posturas IstoÉ

2006-2-04 O adulto desmontado Posturas Superinteressan


te
2006-2-05 Fartura de crédito Economia e Época
negócios
2006-2-06 Muito a dizer Posturas Extra

2006-2-07 Idéias para desacelerar o Posturas Veja


ritmo de vida
2006-2-08 Timidez é atraso de vida Posturas Você S.A.

2006-2-09 Dez passos para a Posturas IstoÉ


felicidade
2006-2-10 Desmatamento separa Ambiente Brasil
famílias Almanaque da
Cultura Popular
2006-2-11 O novo manual da etiqueta Posturas Ambiente Época
urbana
2006-2-12 Somos todos piratas Posturas www.ueba.com.
br
2006-2-13 Como passar dos 100 Corpo e saúde Posturas Época

2006-2-14 Supermercado de órgãos Corpo e saúde Época

2006-2-15 Censura na publicidade Posturas Negócios da


comunicação
2006-2-16 Esportes radicais Lazer e turismo Posturas RDM

2006-2-17 Ensino a distância Economia e Educação Pequenas


negócios Empresas
Grandes
Negócios
2006-2-18 Politicamente correto por Posturas Ambiente Época
um ano
2006-2-19 Privacidade em público Ciência e Superinteressan
tecnologia te

2006-2-20 Academia de Letras da Posturas Época


periferia

2007-1-01 Escolha sua causa Posturas Trabalho Terra

2007-1-02 Fofocar melhora o humor e Posturas Corpo e saúde Estado de Minas


faz bem à saúde
2007-1-03 O prejuízo do stress Corpo e saúde Veja

2007-1-04 Seis vícios que detonam Corpo e saúde Posturas O Globo


(revista)
2007-1-05 Moro com meu pai Família Posturas Veja Rio

2007-1-06 Para retardar o Corpo e saúde Posturas Jornal da


envelhecimento Pampulha
2007-1-07 ???? 4 Ambiente s/f

2007-1-08 Uma biblioteca na estação Educação O Globo


do metrô
2007-1-09 Controle virtual Ciência e Posturas Estado de Minas
tecnologia
2007-1-10 Você é o humor que tem Posturas Veja

2007-1-11 Se as pedras falassem Lazer e turismo Governo do


Estado de Goiás
2007-1-12 Minidicas Posturas Você S.A.

2007-1-13 Compra, mamãe Posturas Família Veja


Economia e
negócios
2007-1-14 Pós-graduação no exterior Educação Veja

2007-1-15 O paradoxo da água Ambiente Veja

4
O título desse EP não foi encontrado.
2007-1-16 Combinações brasileiras Alimentação Corpo e saúde Veja

2007-1-17 Pais mandões, filhos Posturas Corpo e saúde IstoÉ


gorduchos
2007-1-18 Cultura no Brasil Economia e Lazer e turismo IstoÉ
negócios
2007-1-19 Vai sair de férias? Corpo e saúde Revista do
Minas
2007-1-20 Impacto e velocidade Ciência e Veja
tecnologia
ANEXO IV

• EP 2000-2-05 – A criança lhe pede dinheiro na rua. E aí?

• EP 2002-2-15 – Porque eu vou votar.

• EP 2003-1-16 – Não deixe a natureza ir embora.

• EP 2004-1-08 – 102 maneira de economizar

• EP 2005-1-17 – Mesada faz bem.


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