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REPRESENTAÇÕES DO BRASIL
EM TEXTOS DO EXAME CELPE-BRAS
NITERÓI
2008
L732 Lima, Ronaldo Amorim.
Representações do Brasil em textos do exame CELPE-BRAS /
Ronaldo Amorim Lima. – 2008.
166 f.
Orientador: Norimar Júdice.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Letras, 2008.
Bibliografia: f. 128-137.
1. Língua portuguesa – Compêndios para estrangeiros. 2.
Representações sociais. 3. Ideologia. 4. Discurso. I. Júdice, Norimar. II.
Universidade Federal Fluminense. III. Título.
CDD 469.0202
RONALDO AMORIM LIMA
REPRESENTAÇÕES DO BRASIL
EM TEXTOS DO EXAME CELPE-BRAS
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________________
Profª Drª Patrícia Maria Campos de Almeida
Universidade Federal do Rio de Janeiro
____________________________________________________________________
Profª Drª Beatriz Feres
Centro Universitário Plínio Leite
____________________________________________________________________
Profª Drª Norimar Júdice – Orientadora
Universidade Federal Fluminense
NITERÓI
2008
À memória de meus pais e antepassados
AGRADECIMENTOS
• A minha orientadora e amiga, Profª Drª Norimar Júdice, pela competência, dedicação
e seriedade.
• À Profª Drª Deila Peres (Instituto de Letras da UFF) – minha primeira professora de
Língua Portuguesa na graduação em Comunicação Social –, pela amizade e
incentivo.
• À Profª Drª Lérida Maria Lago Povoleri (Faculdade de Economia da UFF), pela
inestimável atenção e ajuda.
• À Profª Roseli Ferreira de Lima pelos já longos anos de amizade tão sincera. E
também por mais um “abstract”.
• A meus amigos Hilker Calheiros Azevêdo e Dr. Nilton Elethério da Silva pela
paciência e ajuda.
This study focuses on the representations of Brazil and the Brazilian people portrayed
in 230 texts of the individual part of the Portuguese as a Foreign Language (PFL)
Proficiency Exam – CELP-Bras. For this purpose, it draws on Social Representation
Theories, Van Dijk’s Critical Discourse Analysis as well as DaMatta’s and Almeida’s
anthropological Studies. After collecting the data and elaborating a framework of
themes and topics for the categorization of the analyzed texts, a deeper
understanding of the representations of Brazil and the Brazilian People was sought,
comparing them to those found in questionnaires previously applied to PFL learners
of several different nationalities, aiming at finding instances of divergence and
convergence. It was concluded that the texts selected as prompts for the individual
part of the exam sho w the developed and modern side of our society whereas the
representations found in the PFL learners’ compositions still reflect the image
portrayed by the means of communication, that is to say, the stereotyped image of
Brazil as, mainly, home to soccer, carnival, beautiful nature, and hospitable people.
1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 8
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .............................................................. 15
2.1 DISCURSO, IDEOLOGIA E CONTEXTO................................................ 15
2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............................................................... 29
3 O BRASIL E OS BRASILEIROS: DUAS PERSPECTIVAS................... 40
3.1 A VISÃO DE DAMATTA.......................................................................... 42
3.2 A VISÃO DE ALMEIDA............................................................................ 47
4 O CERTIFICADO DE PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA
PARA ESTRANGEIROS – CELPE-BRAS.............................................. 52
4.1 IMPLANTAÇÃO E DIFUSÃO........................................................... ....... 52
4.2 FINALIDADE, FORMA E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA AVALIADOS....... 58
4.3 A COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO TÉCNICA DO CELPE-BRAS........... 62
4.4 A ELABORAÇÃO DE TAREFAS............................................................. 67
4.5 O COMPONENTE NÃO VERBAL NOS TEXTOS DOS EPS ................. 70
5 METODOLOGIA: COMPOSIÇÃO DO CORPUS E DINÂMICA DA
PESQUISA............................................................................................... 75
5.1 QUESTIONÁRIOS .................................................................................. 76
5.2 COLETA E CATALOGAÇÃO DOS EPS.................................................. 78
5.3 PROCEDIMENTOS PARA A DEPREENSÃO DAS
REPRESENTAÇÕES NOS TEXTOS DOS EPS..................................... 83
6 ANÁLISE, RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................. 90
6.1 ANÁLISE DOS TEXTOS DOS EPS......................................................... 90
6.1.1 Estrutura e fontes dos textos............................................................... 90
6.1.2 Temas, tópicos e subtópicos............................................................... 93
6.2 ANÁLISE DAS IMAGENS NOS QUESTIONÁRIOS................................ 118
7 CONCLUSÃO.......................................................................................... 123
8 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 129
9 ANEXOS.................................................................................................. 139
8
1 INTRODUÇÃO
ser influenciado pela cultura e língua de origem dos agentes sociais nele envolvidos,
inglês – LE, crescendo e mudando de ângulo mais tarde, quando de nossa atuação
1
Neste estudo, consideraremos língua como atividade social, histórica e cognitiva (MARCHUSCHI,
2003, p. 23) que, configurando discursos, permite ser e interagir no mundo.
2
Representação social constitui uma forma de conhecimento elaborada e compartilhada socialmente,
que tem um objetivo prático e contribui para a construção de uma realidade comum a um grupo social.
3
Toma-se aqui a sigla PBE tanto para o ensino de português para estrangeiros no Brasil (PL2) quanto
para o ensino do idioma nos países em que não se fala português como língua materna.
9
ensino dessas duas línguas e das culturas a elas vinculadas, bem como as atividades
cultura-alvo acentuou-se ainda mais, fixando-se, por ocasião das comemorações dos
diferentes gêneros 4 nessa língua e tendo consciência também de que textos verbais e
4
De acordo com Marcuschi (2003, p. 22), gênero refere-se aos textos materializados encontrados no
dia-a-dia e que apresentam características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica.
10
não-verbais autênticos 5 têm sido utilizados em número cada vez mais expressivo nas
de PBE.
cenário mundial, além do visível aumento de interesse pela cultura brasileira, passou
1994 (Scaramucci, 1995) e aplicado, desde 1998, no Brasil e em vários outros países.
brasileiros que o E xame fazia circular nos textos que integravam suas tarefas.
5
Utilizamos essa nomenclatura para designar textos “(...) extraídos de jornais, revistas e livros, não
necessariamente elaborados para o ensino de línguas (...)” (SCARAMUCCI, 1995, p. 80), embora
devamos alertar para o fato de esses textos, ao serem extraídos do contexto de unidades
comunicativas maiores e apresentados isoladamente, têm sua naturalidade forçosamente reduzida
enquanto discurso (WIDDOWSON, 1991, P. 113), tornando -se, portanto, um tanto artificiais.
6
Sem nos preocuparmos com os problemas que advêm do fenômeno, consideramos globalização
como um processo pelo qual a vida social e cultural nos diversos países do mundo é cada vez mais
afetada por influências internacionais em razão de injunções políticas e econômicas.
11
tarefas do Exame, e que podem, por sua vez, contribuir para a formação e
7
“Elemento provocador” é a terminologia adotada pela Comissão Técnica do Celpe-Bras para cada um
dos textos que são apresentados ao candidato na Parte Individual do Exame com o objetivo de
promover interação oral entre o examinando e o professor entrevistador. Este é o bloco do exame que
reúne o maior conjunto de textos, todos no mesmo tipo de suporte – impresso.
8
Ver item 4.2.
12
contextos culturais da América, Europa, Ásia e África traziam consigo, pois temos tido
país.
9
Ver seção 3.2
13
aprendizes?
Jodelet (2001) e da Análise Crítica do Discurso, com base em van Dijk (1997, 1998,
2003, 2005).
representações sociais.
difusão, forma to, constituição da Comissão Técnica, elaboração das tarefas da Parte
textos dos EPs com as imagens do Brasil que aprendizes estrangeiros de Português
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
van Dijk (1997, 1998, 2003, 2005), e à Teoria das Representações Sociais, com base
particularmente pelas relações entre discurso e sociedade, trabalha mais com temas
ressaltar, conforme afirma o autor, que muitos conceitos da área da ACD ainda
A ACD enfoca, no discurso (que tem uma inter-relação com a sociedade, uma
como atores sociais podem ser contraditórias e variar de acordo com sua menor ou
Por meio de seu discurso e de sua ideologia, o grupo detentor do poder busca
O termo ideologia teve origem, entre os séculos XVIII e XIX, nos textos do
filósofo francês Destutt de Tracy, em referência a uma ciência das idéias que tinha
idéias da classe que detém o poder são as idéias dominantes. O sociólogo tem como
foco a luta de classes, abordando a ideologia nessa perspectiva e destacando ser sua
função a de ocultar essa luta. A ideologia, segundo ele, daria às pessoas a impressão
de que sua situação social seria permanente, que não poderia ser alterada, o que
Mannheim (apud Andrew e Sedgwick, 2003) tem uma visão diferente dessa
elas válidas. Também voltado para a questão da ideologia, Althusser (1983) faz uma
da hierarquia social, dando uma interpretação e uma justificativa para seu sistema de
receber atenção também dos estudiosos da linguagem, uma vez que o discurso
dominantes para reproduzir e legitimar sua dominação” (VAN DIJK, 2005, p. 51). Para
desacordo com seus interesses. Por esse ângulo, o discurso seria fundamentalmente
sociais10.
Van Dijk (2005) ressalta a característica que tem o poder de organizar relações
afirma que esse tipo de poder se traduz no controle de um grupo sobre outros,
fazendo com que o(s) grupo(s) dominado(s) aja(m) de acordo com a vontade do
grupo dominador e nunca contra ele. Esse controle pode ser exercido por meio de
fazendo com que as pessoas acreditem estão atuando de uma certa maneira por sua
própria vontade. Aqueles que detêm o poder podem controlar o acesso tanto aos
pode ou não se pode dizer e como se pode dizer. Para tanto, os regimes autoritários
10
De acordo com Vila Nova (1985, p. 71), grupos sociais são conjuntos de indivíduos em que “(...)
existem relações estáveis, em razão de objetivos e interesses comuns, assim como sentimentos de
identidade grupal desenvolvidos através de contato contínuo”.
20
públicos, em que quem elabora e publica textos acredita estar atuando livremente,
Isso pode se constatar observando -se, por exemplo, a preferência por determinados
gêneros e temas.
tipos de análise social. Posteriormente (VAN DIJK, 2003, p. 389-390), propõe uma
A análise das funções sociais da ideologia, segundo van Dijk (2005, p. 52), tem
no interior dos grupos como entre eles. A ideologia define tanto o grupo a que se
explicitando o procedimento que o indivíduo deve ter, mas servindo para que elabore
que lhes permite organizar crenças sociais sobre o que é correto ou incorreto, em sua
Van Dijk, em estudos dos anos 90, volta-se também para a noção de crença,
abordando-a, de uma forma geral, como relativa aos produtos da mente, que incluem
o pensar de e o pensar em. Para o autor, as crenças têm uma dimensão mental e
comentário sobre as emoções que podem ou não fazer parte das crenças, estando
autor, temos uma opinião. O pesquisador destaca que as ideologias incluem opiniões
pressupostas pelos membros desse grupo social. Dentre essas crenças sociais,
crenças grupais são diferenciadas pelo autor de outro tipo de crença social, as
membros de uma cultura, destaca que esse conjunto de crenças é tomado como
autor destaca que “as crenças culturais formam a base comum de (praticamente)
discurso e contexto.
O autor (2003) defende que as ideologias devem ser mais fundamentais que
não contestado por todos aqueles que se inserem num dado contexto cultural.
pelos componentes desse grupo. Van Dijk (2005, p. 58) trata das relações entre
relacionam com domínios, os quais, por seu turno, influenciam as crenças específicas
Van Dijk (2005, p. 59) sugere também a observação de alguns critérios para o
sua associação com o que definem como positivo e negativo. A ênfase nas
de suas imperfeições e das qualidades dos outros grupos, pode ser verificada em
podem se dar, por exemplo, por meio da seleção e apresentação de temas, das
contexto, portanto uma análise social do discurso deve concebê-lo como algo
A análise do contexto pode ser bastante complexa. De acordo com van Dijk
(2005, p 32), em linhas gerais, o contexto parece implicar algum tipo de entorno ou
ou discurso.
como tempo e lugar. O autor destaca, todavia, que nem todas as propriedades de
fundamentais para o contexto. Tem -se ainda como relevantes outras propriedades
Arremata destacando que “os contextos podem estar determinados e ser modificados
determinadas estruturas sociais e culturais, van Dijk (2005, p. 37) acredita que haja
contexto global ou social, enfatizando que delimitar com exatidão esses contextos
que podem estar condicionados pelos contextos, também exercem influência sobre
discursos não são objetivos, não se constituem de fatos sociais interpretados por
interpretados como fatos relevantes por e para os participantes. Com base no mesmo
autor e obra, é possível afirmar, então, em uma perspectiva mais cognitiva, que os
contextos são construções mentais dotadas de uma base social, isto é, são modelos
Koch e Elias (2006, p. 61) afirmam que, para que haja uma intercompreensão
entre duas ou mais pessoas, “(...) é preciso que seus contextos sociocognitivos11
conhecimentos”.
ampliado a cada momento. Isso faz com que os interlocutores tenham que se ajustar
Sobre a relação dos usuários da linguagem com o contexto, van Dijk (2005, p.
11
Para Koch (2006, p. 63-64) esses contextos reúnem “(...) todos os tipos de conhecimentos
arquivados na memória dos atores sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio
verbal”. São eles: “o conhecimento lingüístico propriamente dito; o conhecimento enciclopédico, quer
declarativo (conhecimento que recebemos pronto, que é introjetado em nossa memória ‘por ouvir falar’,
quer episódico (‘frames’, ‘scripts’) (conhecimento adquirido através da convivência social e
armazenado em ‘bloco’, sobre as diversas situações e eventos da vida cotidiana (...); o conhecimento
da situação comunicativa e de suas ‘regras’ (situacionalidade); o conhecimento superestrutural ou
tipológico (gêneros e tipos textuais); o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e sua
adequação às situações comunicativas); o conhecimento de textos que permeiam nossa cultua
(intertextualidade).
29
Neste estudo, com base nos autores citados, tomaremos contexto como uma
ocupar posição central na área das Ciências Humanas (JODELET, 2001, p. 11-12).
30
forma como um determinado grupo se pensa em suas relações com os objetos que o
Por já ter uma trajetória de várias décadas, desde 1961, e por ter despertado o
perfeitamente estabelecido, uma vez que seu conteúdo é amplo, mal definido, não
uso concreto.
32
Uma outra definição que, de acordo com Semin (2001, p. 207), foi apresentada
pelo próprio Moscovici12, parece nos colocar mais próximos do mundo prático das
representações sociais:
12
Moscovici, S. La psychanalyse, son image et son public. Paris: PUF, 1976.
33
sociais como construções mentais, que fazem parte do nosso cotidiano, enfatiza o
fato de que o homem, como ser social, precisa ajustar-se ao mundo em que vive,
informações são de suma importância para o dia a dia, já que elas propiciam os
presente, e contribuindo para criar uma realidade. Circulando nos discursos, trazidas
e do comportamento do indivíduo.
social dessa realidade. Podem, portanto, ser enfocadas pelos estudiosos sob seu
qual, segundo Palmonari e Zani (2001, p. 267), o próprio Moscovici ressalta, uma vez
elas as seguintes: Quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe? Sobre o que
sabe e com que efeitos? A resposta para tais questões indica o caminho apresentado
Cabe também destacar as três etapas que caracterizam essa teoria: o pensar,
tomadas pelo sujeito de acordo com o conhecimento que ele tem sobre o objeto; o
trazerem em si uma leitura dinâmica de um espaço social e das forças nele existentes
e de tentarem impor uma maneira ou outra de recortar esse espaço com recurso a
estratégias de classificação.
objetivação.
37
classificar e denominar objetos que não têm classificação e, portanto, são estranhos e
ameaçadores, ou seja, ancorar é encaixar aquilo que não é familiar ou estranho por
"supostos reflexos do real" (Moscovici, 1978, p.289). Trata-se de uma operação pela
uma dimensão de significante, isto é, como sistema de signos, como marca material,
ideologia e de seu uso pelo grupo dominante, quando nos referimos à ênfase nas
minimização das imperfeições do próprio grupo e das qualidades dos outros grupos.
processo de conferir ao objeto representado atributos que não seriam próprios dele.
91), o ato de representar significa dizer “essa é identidade”, embora observe o autor
primeira, seria um ato de conhecimento equivocado (que deveria ser evitado por se
tratar de atividade discriminatória); na segunda, que pode ser considerada uma visão
dado objeto.
sistemas de poder. Aquele que tem o poder de representar tem o poder de definir e
isso pode ter tido nos textos que compõem o corpus desta pesquisa.
(2007). Esses estudos são de natureza distinta, mas de certa forma complementares.
Pesquisa Social Brasileira (PESB), realizada por seu autor, com a colaboração de
13
A obra “A cabeça do brasileiro” apresenta como autor Alberto Carlos Almeida que teve a colaboração de
Clifford Young. Consideramos, entretanto, a autoria de Almeida, uma vez que é apenas esta que é apresentada na
ficha catalográfica da publicação.
41
que, para DaMatta (1989), seria dificultada pela herança portuguesa em aspectos
relevantes da vida social, como o comportamento do brasileiro diante das leis. Para
Almeida (2007), por outro lado, mudanças no perfil do brasileiro poderiam advir
14
Embora seja esta uma expressão de domínio público entre nós, brasileiros, do nosso tempo, cabe
explicar a expressão “jeitinho brasileiro”: trata-se, de acordo com DaMatta (1989), de um modo de
navegação social, de uma forma das pessoas burlarem normas e leis para conseguirem alguma
vantagem, favor, etc. Almeida (2007, p. 17) acrescenta ser o “jeitinho” uma forma de o indivíduo, ou
pela sua importância ou “(...) por meio de uma boa conversa, persuadir os demais de que se deve ser
tratado como exceção”, e ressalta que o problema se deve à forte hierarquização da sociedade
brasileira.
15
O termo “cultura”, como tantos outros na área das ciências, tem sido motivo de muita discussão e de
desencontro de opiniões entre pesquisadores. Se, por um lado, pode-se dar-lhe significado de
abrangência tal que o torna vago, por outro, pode-se atribuir-lhe tantos significados de tantas áreas
distintas que sua utilização pode trazer problemas de interpretação. De acordo com Viana (2003),
Kluckhohn e Kroeber, na década de cinqüenta do século passado, chegaram a reunir mais de
trezentas definições para o termo. Geertz (1989), ao comentar a obra de Kluckhohn (Mirror for Man ),
afirma que, em um capítulo de apenas 27 páginas, esse pesquisador apresentou 11 definições
diferentes para “cultura”. Marconi e Presotto (2005) referem -se a mais de 160 definições e afirmam
ainda não se ter chegado a um consenso a respeito do significado do termo. O levantamento das
pesquisadoras culmina com a colocação de Clifford Geertz, em 1973, que difere dos demais e propõe
que cultura seja um “mecanismo de controle do comportamento” (MARCONI; PRESOTTO, 2005, 43).
DaMatta (1989, p. 17) considera cultura como “um estilo, um modo e um jeito de fazer as coisas”,
estilo, modo e jeito estes “escolhidos” dentre elementos universais, advindos de “uma zona
indeterminada”, que condicionam a existência humana. Dentre as centenas de definições levantadas
pelos pesquisadores citados, para atingir os nossos propósitos, neste trabalho, e como fizemos dos
estudos de DaMatta um de seus pontos de partida, aceitamos a perspectiva de cultura apresentada
pelo antropólogo.
42
DaMatta destaca que o brasileiro lida mal com a igualdade e apresenta o Brasil
para determinar o que se pode e o que não se pode fazer; e para se situar como
acima da lei ou a ela submetido. Almeida, por sua vez, julga que as relações sociais
o Brasil, sendo a primeira (escrita com letra minúscula) “nome de um tipo de madeira
de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer (...),
não tem a menor condição de se reproduzir como sistema (...)”; enquanto segunda
rua, sendo o primeiro o espaço privado, o lugar das relações familiares e afetivas, de
negro. No caso brasileiro, entre o branco e o negro, existe “um conjunto infinito e
feijão com arroz, como uma grande metáfora social, já que é costume a mistura entre
diferentemente do que ocorre do que ocorre em outras culturas, em que cada coisa
tem o seu devido lugar, ou seja, pão é pão, queijo é queijo. O autor faz ainda uma
– a de casa, preparada com carinho para ser servida para a família, e a de rua,
servida para todo aquele que se dispuser a comê-la e pagar por ela.
45
festas da ordem. DaMatta comenta que, no carnaval, existe uma espécie de ruptura
entre as paredes que separam a casa da rua e do “outro mundo”, ou seja, do mundo
homens, extinguindo todas as barreiras entre eles existentes. Já nas festas da ordem,
as muralhas sociais são mantidas e, nesses eventos, cada um sabe o papel que deve
por ter um centro, para o qual todas as atenções se voltam, podendo ser um evento,
“obediência às leis que devem valer para todos” e uma rede de relações que só pode
funcionar para quem as tem. É nesse oceano que o brasileiro procede à sua
navegação social e onde se encontram sua malandragem , seu jeitinho para resolver
capaz de perguntar: “você sabe com quem você está falando”. Nesse capítulo ainda,
essa característica:
46
Missa do Galo, no dia de Natal, e, sete dias depois, no dia 31 de dezembro, vestir-se
16
Segundo o autor (DAMATTA, 1989, p. 109), esse “outro mundo” é o lugar “(...) onde, um dia, também
iremos habitar. Esse mundo habitado por mortos, fantasmas, almas, santos, anjos, orixás, deuses,
Deus, a Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde ninguém retorna... ou pelo
menos retorna com facilidade”.
47
outro mundo”.
mais modernas”, o que gerou “um sistema com espaços internos bem divididos e que,
brasileiro é, então, segunda DaMatta, “uma pessoa em casa, outra na rua e ainda
Roberto DaMatta está certo em muitas das suas afirmações sobre o Brasil. Afirma
profundamente dividida.
mentalidades, separados por uma espécie de apartheid cultural, que vivem num
aos valores de cada um dos lados, Almeida (2007, p. 25) afirma que:
49
O autor prossegue, ressaltando ser possível que alguém que não tenha tido a
questões por uma ótica diversa, “pré -modernista ou arcaica: personalista; a favor do
ser homem, jovem, residente em uma capital dos estados das regiões mais ricas e
não se ter nem mesmo completado o Ensino Fundamental, ser mulher, de faixa etária
mais elevada, residente em cidades do interior do Nordeste, faz com que o abismo
“do sexo à corrupção, passando por uma crença fatalista no destino (...)”, Almeida
(2001, p. 26-27) afirma ser provável que alguém com diploma universitário
uma enorme distância separando os dois grupos sociais em que está dividida a
herança cultural recebida de Portugal –, o país continuará muito distante das culturas
dos países desenvolvidos, no que se refere “(...) a aspectos relevantes da vida social,
DaMatta: citando o exemplo da Coréia do Sul, Almeida (2007, p. 276) prevê que, caso
Bras), que teve como base o Exame de Proficiência em Português para Estrangeiros
Educação (MEC) com o apoio do Ministério das Relações Exteriores. O Exame para
17
Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=436>
Acesso em 02/01/2006.
53
18
Os níveis de proficiência com certificação, atualmente, são intermediário, intermediário superior,
avançado e avançado superior.
54
de Janeiro (UFRJ); além de três instituições localizadas nos três países associados
Entre 1998 e 2002, o exame teve definido o formato das Partes Individual e
Coletiva, tendo sido fixado o período mais adequado para sua aplicação (abril e
entregues para arquivamento pela SESu as versões do exame até então elaboradas,
19
O sistema português é composto por cinco certificações: o CIPLE – Certificado Inicial de Português
Língua Estrangeira; o DEPLE – Diploma Elem entar de Português Língua Estrangeira; o DIPLE –
Diploma Intermédio de Português Língua Estrangeira; o DAPLE – Diploma Avançado de Português
Língua Estrangeira; e o DUPLE – Diploma Universitário de Português Língua Estrangeira.
Disponível em: http://www.fl.ul.pt/unidades/centros/caple/principal.htm. Acesso em: 02/01/2008.
55
interesse por parte de várias instituições em que se ensina PBE tanto no Brasil
20
Na Região Norte: UFAM, UFPA, UNIFAP e UFRR; no Centro-Oeste: UNB; no Sudeste: UFF, UFMG,
UFRJ, UMESP, UNICAMP e USP; no Nordeste: UFBA, UFPB e UFPE; no Sul: UFPR, UFRGS, UFSC,
UFSM, UNIJUÍ e URI.
21
Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Coréia do Sul, Costa Rica, El Salvador,
Equador, Espanha, Estados Unidos, Guiana, Inglaterra, Itália, Japão, México, Nicarágua, Nigéria,
Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Suíça, Suriname, Uruguai e Venezuela.
22
Na realidade, o Exame foi aplicado em 20 ocasiões, já que houve duas aplicações, no Brasil, para
atender, exclusivamente, a estudantes do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G)
e do Programa de Estudantes -Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) do MEC que dependiam do
resultado do Exame Celpe-Bras para garantirem suas bolsas de estudos em instituições de ensino
superior brasileiras, advindas de acordos internacionais do Brasil. A primeira dessas duas aplicações
56
ano.
Quadro 1
Celpe-Bras: aplicações do Exame
Exame Mês/Ano
1 Abr/1998
2 Jul/1999
3 Nov/1999
4 Ago/2000
5 Dez/2000
6 Jul/2001
7 Abr/2002
8 Out/2002
9 Abr/2003
10 Out/2003
11 Abr/2004
12 Out/2004
13 Abr/2005
14 Out/2005
15 Abr/2006
16 Out/2006
17 Abr/2007
18 Out/2007
Fonte: MEC/SESu/DePES/DAI
ocorreu em dezembro de 2001 e a segunda, em janeiro de 2003. No entanto, essas duas aplicações
não fazem parte da contagem oficial do MEC – haja vista o número de ordem do último exame (18º).
57
primeira aplicação, houve inscrições de 127 candidatos; nas duas últimas, em 2007,
um total de 4.141. O quadro a seguir, que deixa clara a demanda pelo Certificado,
Celpe-Bras.
Quadro 2
Celpe-Bras – relação ano/número de candidatos
Ano Número
de candidatos
1998 127
1999 703
2000 1.115
2001 1.526
2002 2.920
2003 3.031
2004 3.447
2005 3.958
2006 4.359
2007 4.141
TOTAL 18.984
Fonte: MEC/SESu/DePES/DAI
Secretaria de Educação Superior (SESu) do MEC, além de fazer parte das condições
é avaliada por meio de tarefas 24, que podem ser a redação de uma carta, de um e-
televisão, etc. Não se busca aferir conhecimentos a respeito da língua, com questões
sobre gramática ou vocabulário, mas a capacidade de uso da língua, uma vez que a
2006a).
23
Almeida Filho (1996) estabelece que “Comunicativo é o termo que indica, de forma nuclear, (...) a
força apontada para a superação do formalismo/gramaticalismo reinante no ensino de forma
convencional. O ensino comunicativo aponta para o aprender para e na comunicação, focaliza o uso
real ou verossímil da língua-alvo, sublinha o que é relevante e existencialmente mais profundo para os
alunos aprendizes”.
24
De acordo com Scaramucci (1995), “Tarefa é um termo usado em Lingüística Aplicada para se
referir a uma atividade de ensino ou de avaliação diferente daquela usada nas abordagens
tradicionais. Ela tem um propósito comunicativo, e procura especificar, para a linguagem, usos que se
assemelham ou estão mais próximos daqueles que têm na vida real. Ela permite a apresentação de
conteúdos ‘autênticos’, ou seja, extraídos de jornais, revistas e livros, não necessariamente elaborados
para o ensino de línguas, e sempre dentro de um contexto maior de comunicação, para que o
candidato possa ajustar o registro de linguagem às necessidades da situação”.
59
de forma integrada.
Quadro 3
Celpe-Bras – Módulos do Exame
quatro tarefas, em cada uma das quais, o candidato ao Celpe-Bras deve produzir um
25
A apresentação das tarefas do Módulo 1 (Parte Coletiva), discutida a partir de 2001, passou a ter
essa configuração, por decisão da Comissão Técnica do Celpe-Bras , no Exame de outubro de 2004.
Anteriormente, a apresentação do material em áudio fazia parte da T1 e a do material em áudio e
vídeo, da T2.
60
quando de sua inscrição para o exame. Na segunda parte, com duração aproximada
de 15 minutos, três EPs distintos sobre tópicos do cotidiano, de interesse geral, são
26
Entende-se “interação face-a-face” como uma espécie de entrevista – um discurso de interação
assimétrica, por ser o entrevistador aquele que escolhe sobre o que se fala e como e quando se deve
parar – que ocorre em um contexto de co-presença, em que os interlocutores partilham um mesmo
sistema referencial de espaço e tempo (OLIVEIRA, 2002).
61
tem sido formada por professores da área de PBE, sendo todos pós-graduados em
23 (17 do sexo feminino e seis do sexo masculino). Há que se observar que, desse
professores.
Quadro 4
Celpe-Bras:
Representação das Unidades da Federação na CT de 1993 até julho de 2007
Ano AM BA DF MG PE RS RJ SP
1993 - - X X X X X
1994 - - X X X X X
1995
1996
1997
1998 - - X X X X X X
1999 - - X X X X X
2000 - - X X X X X
2001 - - X X X X X
2002 - - X X X X X
2003 - X X X X X
2004 - X X X X X
2005 X X X X X X X
2006 X X X X X X X
2007 X X X X X
Fontes: MEC/SESu/DAÍ, Portal do MEC na Internet e relatos pessoais de ex-membros
da CT do Celpe-Bras.
27
Essa informação nos foi fornecida pelo Prof. Arsênio Canísio Becker, chefe da Divisão de Assuntos
Internacionais da SESu, órgão responsável pelo Celpe-Bras, durante o período de implementação do
Exame.
64
Grande do Sul foi substituído por um do Rio de Janeiro, passando este estado a ter
dois membros.
dos estados do Amazonas, da Bahia, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, do Rio
federativas tinham um membro na CT, exceto o Rio de Janeiro que contava com
quatro .
Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
65
do Rio Grande do Sul e de São Paulo, os quatro estados mais ricos e mais
federativas, apenas nove se fizeram representar na CT, que, entre essas nove, quatro
sempre estiveram presentes até o ano de 2007, e que três dessas unidades (MG, RJ
e SP) pertencem à Região Sudeste e a outra (RS) à Região Sul, sendo estas as duas
(2), de Minas Gerais (2), do Rio Grande do Sul (2), do Rio de Janeiro (6) e de São
Paulo (2). O grupo encontrava-se numa faixa etária acima dos 25 anos (e para
sermos mais exatos, apenas quatro dos componentes estavam na faixa dos 25 a
maior Produto Interno Bruto (PIB), em ordem decrescente, eram os estados de São
trilhão, o peso daqueles estados nesse total é de mais de sessenta por cento 29.
de Minas Gerais, 53, o Estado do Rio de Janeiro, 46, e o Estado do Rio Grande do
Sul, 31, ou seja, esses quatro estados detêm, em conjunto, 39,13% do total das
28
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rs&tema=pibmun2004&titulo=Produto%20Interno%2
0Bruto%202004%20. Acesso em: 12/12/2007.
29
Ainda segundo a mesma fonte e a título de ilustração, no mesmo período, o Distrito Federal – que é
a Unidade da Federação que tem sido mais representada depois das já mencionadas – teve, como PIB
per capita, um total de R$19.071,00, o que representa praticamente o dobro do da média nacional, que
foi de R$9.743,00.
30
Disponível em: http://www2.camara.gov.br/conheca/index.html. Acesso em: 30/01/2006.
67
que contribuem para que os candidatos e os demais agentes sociais envolvidos com
31
Todas as citações retiradas de textos referenciados em língua estrangeira são traduções do autor.
32
Usamos a expressão ” tipo textual” com base em Marcuschi (2003, p. 22) que com ela designa uma
espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) e abarcando meia dúzia de categorias como
narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.
68
Van Dijk (2005, p. 39) ressalta que os discursos “são uma parte estrutural de
panfletos, fôlderes, etc.) que ele próprio encontrava e selecionava no seu cotidiano.
materiais e, por vezes, criando novos títulos. Era também elaborada uma série de
perguntas para que o aplicador do Exame, caso desejasse, tivesse uma guia para
pelos membros da CT, até que se chegasse ao produto final. Em seguida, o material
representações do Brasil e dos brasileiros, que, por sua vez, eram oferecidas
33
No Anexo I, apresentamos o texto que acompanha o EP 2003 -1-05 (Vale a pena embarcar na
carreira da moda?), mas que é de uso exclusivo do aplicador.
70
questão.
Desse modo, a operação de seleção de textos para elaboração dos EPs foi
inscrevem.
Leeuwen (1996: p. 3), chegam a defender a existência de uma “gra mática do visual”,
que tenta descrever a forma pela qual representações de pessoas, lugares e coisas
a tirinha de humor até o diagrama científico, essa gramática do visual, segundo seus
destaca:
Observa Vanoye (1986: p. 190) que ”uma fotografia não veicula apenas uma
objetos, luminosidade, cores etc), sua montagem (relação eventual com outras
algumas têm autoria declarada (como tirinhas, quadrinhos, cartuns, fotos), embora
texto verbal, os elaboradores dos EPs criam novos textos, pelo simples fato de que o
73
novo produto (texto de um EP) tem função sociocomunicativa distinta daquela do(s)
A maior parte dos EPs de nosso corpus constitui o que vamos denominar
brasileiro.
nesses textos, pois pode captar flagrantes significativos da cultura -alvo (que palavras
escritas não traduziriam tão bem), levá-los aos candidatos e aprendizes, fazê-los
refletir sobre eles e levá-los criar e recriar suas representações sobre a realidade
desse tipo, reais e diversificadas, pode ser importante para a configuração dos muitos
Júdice (2007, p.4) menciona alguns parâmetros que devem ser levados em
conta para a seleção de textos com componentes não verbais para tarefas de
órgãos da mídia, temas, discursos. Construíram, então, novos textos, que, validados
características compartilhadas pelo grupo inteiro (por exemplo: todos são professores
tarefas do Exame Celpe-Bras 34, mais especificamente nos textos dos Elementos
imagem que relaciona ao Brasil? (com versões em espanhol, francês e inglês para
iniciantes).
34
Algumas pesquisas que contemplam outros ângulos do Exame Celpe-Bras já foram desenvolvidas.
Dentre elas, mencionamos: Sidi (2002), Nobre de Mello (2003), Schoffen (2003), Castro (2006),
Rodrigues (2006) e Sakamori (2006).
76
do corpus, que apresentou muitas dificuldades, visto que tinha sido dissolvido o
arquivo organizado pela CT entre 1998 e 2002 (conforme já foi exposto). Depois de
constituído o corpus, composto por 230 EPs dos exames aplicados entre 2000 e abril
de 2007, elaboramos um quadro de Temas para a distribuição inicial dos EPS. Feita a
distribuição inicial dos EPS por esses Temas, procedeu-se à verificação, no interior
dos grupos relacionados a cada Tema, Tópicos e Subtópicos, dos textos que neles se
reconstruídos pelos elaboradores dos exames para fins de sua utilização nos EPs,
5.1 QUESTIONÁRIOS
configuradas nos textos dos EPs do Exame Celpe-Bras com representações do país
construídas por aprendizes estrangeiros de PB, solicitamos, via e-mail, aos postos
aplicadores do Exame, em que se ensina PBE, que fosse indagado aos seus
77
estudantes que imagem 35 do Brasil lhes vinha à mente quando ouviam a menção ao
nome do país. Solicitou-se que cada estudante respondesse a essa questão – que
origem dos estudantes, temos a seguinte distribuição: Alemanha (10), Argentina (19),
Áustria (7), Bolívia (2), Chile (1). Colômbia (1), Congo (1), Coréia do Sul (5), Cuba (2),
Espanha (12), Estados Unidos (11), Gabão (1), Grécia (1), Guatemala (1), Haiti (2),
Honduras (1), Inglaterra (1), Itália (3), Japão (5), México (2), Nigéria (1), Peru (20),
Polônia (1), Porto Rico (1), Rússia (1), Senegal (1) e Uruguai (19).
estudantes.
35
O termo “imagem” é utilizado aqui no sentido de representação mental.
78
impresso (em preto e branco e em geral matérias jornalísticas com extensão de uma
propostas das quatro tarefas que sinalizam os componentes aos quais ele deverá
ficar atento e os quais ele deverá utilizar para a produção escrita de um determinado
até o ano de 2006, os textos em vídeo e áudio usados nessa parte do exame eram
dois textos impressos nos cadernos de questões também eram devolvidos, ficando
nas instituições para posterior uso como material didático apenas oito exemplares
desses textos, os que haviam sido utilizados como ilustrações de tarefas nas
corpus, o candidato, depois de uma interação oral o mais distensa possível38 com o
36
Ver item 4.2.
37
Ver item 4.2.
79
tais como hobbies, família, profissão, etc.), sob a observação de um outro professor,
como educação, lazer, família, economia, trabalho, etc.), cuja função é desencadear
Esses textos, de gêneros muito variados, incluem material verbal e/ou não-
instrução inicial para que fale livremente sobre o tema do EP em foco. A partir desse
2003), após cada aplicação do Exame, passaram, a partir de 2006, a ser retidos nas
38
É claro que, em situação de avaliação, chegar a essa distensão é difícil e por vezes impossível.
39
Alguns de nossos exemplares encontram-se em cópia em preto e branco porque não conseguimos
encontrar o material em cores com os membros da CT, e, apesar de todo o acervo ter sido arquivado
inicialmente na Divisão de Assuntos Internacionais/SESu/MEC, o material se dispersou quando de
uma reestruturação, redistribuição e reformulação dos escritórios da sede do Ministério.
80
impactantes (por seu formato, tipo de abordagem que propiciam e forma mais livre de
leitura). Esses textos, que já circulam há algum tempo em grande número, levam aos
estrangeiros (nas aulas que os preparam para o Celpe-Bras) imagens do Brasil e dos
Desde sua primeira aplicação em 1998 até a aplicação de abril de 2007, foram
utilizados aproximadamente 270 EPs. Não podemos afirmar com segurança esse
1998, a qual, dentro do período já citado, foi a única de que não participamos como
81
Decidimos utilizar nesta pesquisa os EPs do período de 2000 até abril de 2007,
uma vez que entendemos ter sido a partir daquele ano que o Exame ganhou maior
difusão, tendo passado da casa dos mil candidatos. Em 2000, houve 1.115
40
Passamos a participar no processo de avaliação dos candidatos ao Celpe-Bras a partir do ano de
1999, quando a Universidade Federal Fluminense foi credenciada como posto aplicador do Exame. Em
2002, fomos convidados a compor a CT do Celpe-Bras, onde permanecemos como membro até o
primeiro semestre de 2007.
82
Quadro 5
EPs uilizados na pesquisa
separados por hífens na forma seguinte: XXXX-X-XX. O primeiro número, com quatro
com dois algarismos, indica o número de ordem do EP, de acordo com a numeração
estabelecida pela CT. Desse modo, o código 2004-2-05, por exemplo, representa um
número cinco.
41
A partir do ano de 2002, o Exame passou a ser oferecido duas vezes por ano em meses fixos: abril e outubro.
42
Dois EPs não foram encontrados .
43
Dois EPs não foram encontrados .
83
foram retirados os textos utilizados nos EPs analisados e das unidades da Federação
compõem o corpus de nossa pesquisa, sua codificação, seus títulos, suas fontes de
elaboramos um quadro para a categorização dos temas e tópicos dos textos de nosso
quadro o exame dos títulos das seções de periódicos brasileiros atuais de circulação
nacional44, Veja, IstoÉ e Época, haja vista serem essas fontes de grande parte dos
nitidamente explicitados.
pelos autores mencionados e aquela que, com base nelas, construímos para fins de
nossa análise.
44
Solicitamos dos periódicos, por correio eletrônico, informações sobre a tiragem, público-alvo e
regiões em que circulam. A revista Veja tem uma tiragem média semanal de cerca de 1.250.000
exemplares, 68% leitores pertencentes às classes A e B e tem circulação nacional; a revista Época,
também circula nacionalmente e em alguns outros países, tem uma tiragem de 600.000 exemplares
por semana e se destina às classes A e B; a revista IstoÉ, alegando razões de sigilo, não nos informou
a qual público o periódico se destina.
85
Quadro 6
Quadro comparativo de temas/tópicos
Trabalho Trabalho e
profissão Trabalho e
Educação Educação estudo
Educação
Língua estrangeira Língua estrangeira
Serviços Serviços Serviços Serviços
Meios de Comunicação e
comunicação e de transporte
transporte
Economia e Compras Compras Compras
negócios
Ciência e Atualidades Ciência e
tecnologia tecnologia
como acreditamos que nossa proposta abrange os elementos das outras, justificamos
O tema Serviços, posteriormente foi por nós descartado por julgarmos que
transporte .
esperávamos encontrar nos textos que neles seriam incluídos, estão relacionados em
características, etc.
mental
profissões, etc.
turísticas, etc.
dança, etc.
vendas etc.
muitos exemplos o EP 2005-1-17 – Mesada faz bem (Anexo IV) – que tem como tema
88
principal Posturas (abordando o comportamento do pai que quer educar os filhos para
negócios.
publicações que têm finalidades outras que não a de serem utilizadas para fins de
bloco de sua fonte (sem corte e articulações com outro(s) texto(s)), como, por
textos que não são integrais, apresentando duas modalidades: a) montagem tipo A –
no Anexo IV.
mídia de diversas regiões do país, comentamos essas representações com base nas
e dos brasileiros com as imagens que aprendizes estrangeiros declaram ter do país.
90
No total dos 230 EPs, encontramos 99 textos integrais, 131 montagens, sendo
(Época/Jangada).
EPs, as que sobressaem são o jornal Folha de São Paulo e as revistas Veja e Época
analisado. Vinte dos EPs não apresentam fonte de referência. O quadro a seguir
QUADRO 7
Fontes dos textos dos EPs analisados45
46
Fonte UF Nº de %
textos
Folha de São Paulo SP 42 17,72
Veja SP 41 17,29
Época SP 40 16,87
Sem identificação de fonte - 19 8,05
Estado de Minas MG 11 4,64
IstoÉ SP 9 3,79
Jornal da Pampulha MG 9 3,79
JB RJ 6 2,53
Zero Hora RS 6 2,53
Superinteressante SP 5 2,10
Galileu SP 4 1,68
Governo Federal DF 4 1,68
O Globo RJ 4 1,68
Marie Claire SP 3 1,26
Amanhã s/i 2 0,84
Cartacapital SP 2 0,84
Extra RJ 2 0,84
Ícaro SP 2 0,84
TAM Magazine SP 2 0,84
Terra SP 2 0,84
Você S.A. SP 2 0,84
A Tarde SP 1 0,42
Águas de Niterói RJ 1 0,42
Brasil Almanaque da Cultura Popular s/i 1 0,42
Câmara Municipal de Porto Alegre RS 1 0,42
Conexão Vocacional MG 1 0,42
Crescer SP 1 0,42
Dietas SP 1 0,42
Educação s/i 1 0,42
Governo do Estado de Goiás GO 1 0,42
Hoje em Dia s/i 1 0,42
Jangada s/i 1 0,42
LP&M RS 1 0,42
Negócios da comunicação SP 1 0,42
Pequenas Empresas Grandes Negócios SP 1 0,42
RDM MT 1 0,42
Scientific American Brasil SP 1 0,42
Site da UEBA BA 1 0,42
Site no.com.br s/i 1 0,42
Trip s/i 1 0,42
TOTAL 236
45
Identificamos aqui as unidades da Federação em que se sediam as publicações relacionadas no
quadro acima. Encontramos os seguintes dados: SP – A Tarde, Cartacapital, Crescer, Dietas, Época,
Folha de São Paulo, Galileu, Ícaro, IstoÉ, Marie Clarie, Negócios da Comunicação, Pequenas
Empresas & Grandes Negócios, Scientific American Brasil, Superinteressante, TAM Magazine, Terra,
Veja e Você S.A.; RS – Câmara Municipal de Porto Alegre, LP&M e Zero Hora; RJ – Águas de Niterói,
Extra, Jornal do Brasil e O Globo; MT – RDM; MG – Conexão Vocacional, Jornal da Pampulha e
Estado de Minas; GO – Governo do Estado de Goiás, DF – Governo Federal – BA – site da UEBA.
Tivemos ainda seis publicações, cuja origem não conseguimos encontrar. São elas: Amanhã, Brasil:
Almanaque da Cultura Popular, Educação, Hoje em Dia, Jangada, Trip e site no.com.br.
46
Percentuais aproximados.
92
Quadro 8
Localização das sedes dos periódicos-fonte
UF Quant.
SP 160
MG 21
RJ 13
RS 8
DF 4
BA 1
GO 1
MT 1
s/i 27
236
do Rio Grande do Sul, o que não é surpresa tendo em vista a hegemonia econômica
São Paulo.
47
Esse tipo de levantamento não indica que acreditemos na predominância de matérias referentes a
ocorrências dos locais em que estão as sedes dos periódicos, pois as fontes predominantes são de
circulação nacional.
93
cada tema nele proposto foi contemplado, como principal ou secundário, nos textos
Quadro 9
Temas contemplados no texto s dos EPs
Total de
Temas contemplados Principal Secundário ocorrências %48
Posturas 123 31 154 45,29
Corpo e saúde 20 15 35 10,17
Ambiente 17 6 23 6,68
Trabalho 12 11 23 6,68
Família 11 14 25 7,35
Economia e negócios 9 7 16 4,65
Educação 9 5 14 4,06
Ciência e tecnologia 8 10 18 5.23
Lazer e turismo 8 4 12 3,52
Alimentação 8 3 11 3,23
Habitação 3 3 6 1,74
Meios de comunicação 2 1 3 0,87
e de transporte
Identificação 0 0 0 -
Artes e eventos 0 0 0 -
TOTAL 230 110 340
textos dos EPs nos quais vamos rastrear as representações do Brasil: Posturas,
48
Percentuais aproximados
94
mais como temas secundários que principais. No caso do tema Família, isso se deve
Posturas.
Posturas49 = 123
1, tradição do casamento – 1.
Corpo e saúde = 20
51
Crenças , valores, crendices, tradições, etc.
96
1)
• estresse – 2
Ambiente = 17
• preservação da natureza – 5
• reciclagem – 3
• superpopulação – 3
Trabalho = 12
• escolha da profissão – 1
confiabilidade em profissionais – 1)
97
Família = 11
• pais e filhos: papéis sociais de pai e de mãe – 2, realização dos sonhos dos
Economia e negócios = 9
1)
Educação = 9
• educação infantil – 2
Alimentação = 8
• refeições na rua – 3
98
Lazer e turismo = 8
Ciência e tecnologia = 8
evolução tecnológica – 1) – 5
esporte – 1) – 3
Habitação = 3
• moradia – 2
• sem-teto – 1
categoria Posturas, como tema principal. Abarcados por esse tema, como já previsto,
estados, valores, crenças e atitudes, aos quais, após o exame detalhado do corpus,
e tradições.
quadro negativo, figuram ainda hábitos relativos a subtópicos como beber, mentir,
Copa do Mundo.
sobretudo, ao contexto urbano. No segundo, temos textos mais gerais que enfocam
costumes ligados às nossas raízes cristãs – dar esmolas, perdoar – e também outros
carpe diem.
da sociedade mais liberal rotulada por Almeida (2007) de “moderna”. Nos EPs 2003-
101
como jovens. Novas posturas também são mostradas no que diz respeito ao
2006-2-04.
edição do Exame – que traz o moderno comportamento do homem que cuida dos
afazeres domésticos.
alguns artifícios que os brasileiros acreditam que podem mudar e controlar seu
sorte.
O segundo tema em freqüência, tanto como tema principal quanto como tema
eles os EPs que abordam exercícios físicos, postura corporal, equilíbrio físico e
A preocupação com a saúde física e mental, com o estresse, com a boa forma
alta, como também das pessoas que estão na plenitude da fase adulta. Soma-se a
52
Daqui por diante, a identificação dos elementos provocadores, quando entre parênteses, será
apresentada apenas com sua codificação numérica, sem as iniciais EP.
103
tradicionais da mesa do brasileiro. Entre esses pratos, está o feijão. O texto indica a
(1989, p. 16) apresenta como uma das características da identidade do povo – pela
exclusivo, em que os membros mais frágeis da família (crianças, mulheres, etc.) são
conservador, no qual os valores morais tradicionais são defendidos pelos mais velhos
e pelos homens. Isso pode explicar o porquê de, quando o tema é Família (terceiro
em número de ocorrências total e também como tema secundário) os textos dos EPs
central, sobretudo por meio do componente não verbal. Merece destaque aqui a
figura do pai como provedor, distribuindo mesadas para os filhos (2005-1-17). Porém
merece também realce uma face mais moderna de sua relação com os filhos, a de
pai “cuidador”, que pode ser observada em texto relativo a um pai mais velho (2007-
1-5) e em outros dois que enfocam, com recurso importante à imagem, pais bem
com bebês. Na foto do último EP citado, figura a face de um pai olhando embevecido
104
para o rosto de um bebê que traz ao colo, em pose clássica na qual, na tradição
imagética, costumam figurar mães com seus filhos pequenos. Isso revela que o pai,
embora ainda representado como figura central da família e como provedor, também
das mães.
aliás mais do que como tema principal. Encontram-se esses EPs distribuídos pelos
sua mãe; o EP 2005-1-15, que mostra um pai que deixa a diversão com os amigos
para ficar em casa brincando com seu filho; os EPs 2003-2-06, 2006-1-08, 2007-1-13
e 2007-1-17, que mostram as diversas relações (proteção, autoridade, etc.) entre pais
único em que o filho diz a palavra “mãe”. Curiosamente, a mulher surge nos papéis
agrupados sob vários temas e tópicos demonstra o que Almeida (2007) e DaMatta
que a escolha de tantos textos que envolvem a família pode ser creditada ao fato de
casadas e mães.
como tema principal, embora DaMatta (1989) considere que este seja um castigo na
perspectiva dos brasileiros, os textos presentes nos EPs relacionados a esse tema
1-14) são apresentados. Não se pode deixar de comentar serem essas preocupações
mundiais.
textos.
Com relação às regiões do Brasil presentes nos EPs incluídos no tema Lazer e
Sendo o Rio de Janeiro a cidade mais conhecida do Brasil53, tanto por motivos
era de se esperar que se destacasse a presença da cidade nos EPs. Entretanto, isso
de Açúcar. Há que se ressaltar que nenhuma outra cidade brasileira foi apresentada
biomedicina e os avanços que essa ciência têm trazido para a melhoria da qualidade
53
Pesquisa realizada pela Fundação Estudos Econômicos da Universidade de São Paulo, em 2006,
mostrou que o Rio de Janeiro é a cidade mais procurada pelos estrangeiros (44,1%) que vêm ao Brasil
em busca de lazer. Disponível em: http://jc.uol.com.br/2007/12/18/not_156846.php. Acesso em
28/02/2008.
108
grande fartura de crédito ao consumidor brasileiro, que hoje pode adquirir os mais
valores de mercado.
Sobre a Educação, dentre os sete EPs que abarcam o tema, cinco trazem
problemas por que tem passado o sistema educacional brasileiro, com as precárias
109
profissional de ensino.
de casa e a comida da rua, afirmando ser esta “ruim e venenosa”, enquanto aquela é
“boa (ou deve ser assim) por definição”. Entretanto, em nenhum dos oito EPs
que é enfocada pelos componentes verbais e não verbais dos textos, nos outros
Esses EPs mostram uma face da vida moderna no Brasil de que fala Almeida
não apresenta uma casa, mas, ao contrário, mostra o que poderíamos chamar de
uma não-casa, uma vez que, neste caso, a foto revela pessoas em situação de
utilizado para fins de exame de proficiência em LE, uma vez que não se espera que,
muito raramente em outros EPs de outros temas, o que sugere ser ali o lugar que
DaMatta (1989, p. 24) afirmou ser “de um grupo fechado com fronteiras e com limites
(...) que todos do grupo sabem que importa resguardar e preservar...” É bem possível
naturais são raras nos textos de nosso corpus, surgindo apenas em textos referentes
mãos, por vezes, surgem com funções diferentes (por exemplo: mãos masculinas
oportunidades, são flagradas com funções idênticas (por exemplo, mãos masculinas
cotidiano moderno, perpassado pela pressa e pela tecnologia: além dos mencionados
55
Embora o plural da palavra “mouse” seja “mice”, adotamos a forma “mouses” por ser a mesma
difundida nos países cujos idiomas fazem a flexão de plural dos substantivos em “s” (português,
espanhol, francês, etc.), além de essa forma já estar registrada em um importante dicionário da língua
inglesa, o American Heritage (MORENO, C. Sua língua. Disponível em:
http://www.sualingua.com.br/01/01_soft.htm. Acesso em: 10/03/2008).
113
para fins do estudo que empreendemos nesta seção. Nesses 16 textos de EPs que,
tendo por base enquetes 57, reúnem respostas e fotografias de brasileiros que se
Nossa análise se prende aos textos verbais, visto que quase todas as
enquadre do entorno.
brasileiros adultos: 34 estão na faixa etária situada entre 20 e 60 anos, havendo uma
56
Esses textos já haviam sido observados e contabilizados anteriormente no quadro de Temas ,
tópicos e subtópicos por nós estabelecido, porém nessa nova análise foram reagrupados para
observação sob ângulo diverso.
57
Coleta de testemunhos ou opiniões sobre determinado assunto promovida e publicada por órgão da mídia.
58
Ver, como exemplo, no Anexo IV, o EP 2000-01-05 (A criança lhe pede dinheiro na rua. E aí?), do qual só
dispomos de cópia em preto e branco.
114
vendedoras (4), empresárias (3), recepcionistas (2), estudantes (2), atrizes (2),
psicóloga (1), pedagoga (1), veterinária (1), farmacêutica (1), administradora (1)
auxiliar de contabilidade (1), ceramista (1), cineasta (1), crítica teatral (1), segurança
que, dele afastadas, dependem de pensão para viver. Não estão representadas
59
Todos as demais têm um a ocorrência.
115
engenheiro.
perguntas sobre dar ou não dar esmolas, sobre viver até os 100 anos, sobre algo de
que a pessoa sente saudade, sobre medo em relação a perdas, sobre atitudes
irritantes, sobre o que faz bem às pessoas, sobre organização da vida pessoal, sobre
valores que se espera ver nos políticos, sobre o uso da Internet, sobre o que é
atraente em uma pessoa, sobre um possível vício, sobre aconchego e sobre o que
não se tolera.
próximo.
117
dar do que de receber, e que, quando recebem, valorizam mais o carinho de quem
dos entrevistados brasileiros reforçam esse traço, pois valorizam, nas pessoas, a boa
Nos textos das enquetes, o repúdio de vários brasileiros à gente falsa, sua
brasileiro que faz vista grossa aos hoje denominados “desvios de conduta”.
EPs: trabalhadores das regiões norte e nordeste que declaram saudades de sua
São Paulo; homens e mulheres que dizem sentir falta do carnaval de rua e das
Internet até o medo perder a vida diante da crescente onda de violência na cidade.
22 responderam três e 20 informaram quatro, o que nos deu um total de 271 imagens
para análise.
entre outros, além de nossa própria experiência no convívio com estrangeiros das
grande parte das respostas. O carnaval, pela grandiosidade dos desfiles das escolas
Seleção Brasileira e pelos inúmeros jogadores famosos que são exportados para
várias partes do mundo; as mulheres, pela beleza e pela exibição em trajes sumários,
muitos aprendizes utilizaram termos que remetem a mais de uma imagem. Por
119
(9,22%)
60
A imagem “praia” merece destaque pelo seu grande número de ocorrências – 51 (19,46%): praia(s),
praia de Copacabana, praia linda, praia nordestina, praias do Rio e mar.
120
ocorrências (1,84%)
• Outras: 57 (21,02%)
país grande, fantástico, bonito, interessante (4), bandeira (brasileira, do Brasil) (3),
magia, dança, moda, roupa ligeira, muitos contrastes, cores, mistura, energia,
Esses resultados estão de acordo com o ponto de vista de Silva (2000) que
destaca que a identidade se estabelece por meio de representações por vezes tão
aprendiz do Congo.
festividade do povo – são aquelas que circulam pelos meios de comunicação, com
exceção da imagem das mulheres brasileiras – que obteve uma freqüência muito
baixa, o que talvez possa ter ocorrido devido às condições formais em que se
7 CONCLUSÃO
com os novos tempos – mantendo a forma física e mental, produzindo sem destruir o
humanas.
de aspectos com uma face altamente negativa no Brasil. Um outro dado que parece
Nos textos agrupados sob o tema Corpo e Saúde, segundo grupo em número
consumo.
humano.
124
aqueles relacionados à moda, alguns dos quais se referem ao homem que hoje, para
festa.
A família está presente em vários EPs, tanto como tema principal, quanto como
algumas vezes assumindo o papel “normalmente” ocupado pela mãe. Esse tipo de
125
representação sugere que esteja ocorrendo, em nosso País, uma transição entre o
mostrar que existe no Brasil uma tendência à inclusão social de grupos antes
pesquisa.
exóticas.
compartilhadas
de PBE, podem ter sido influenciados pelas imagens que circulam por meios diversos
disso.
8 REFERÊNCIAS
BAILBY, É. L’opinion publique em France a une image confuse du Brésil. In: Imagens
recíprocas do Brasil e da França. s.l.: IHEAL, 1991.
BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1990.
______ et al. Análisis estructural del relato. 8. ed. México: Premiá Editora de Libros,
1991.
______. Dialética da colonização. 4. ed. 3. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
______. O que faz o brasil, Brasil? 3. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
______. Textos verbais e não vebais no ensino e avaliação de português como língua
estrangeira . In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIN, V, 2007, Belo
Horizonte, FALE/UFMG, 2007.
132
______. O texto e a construção dos sentidos. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
______. Como aprender línguas positivamente. Revista Ave Maria. São Paulo: v. 95,
p. 17-18, fev., 1994.
PRADO, P. Retrato do Brasil. Ensaio sobre a tristeza brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympio Editora, 1962.
______. CELPE-Bras: um exame comunicativo. In: CUNHA e SANTOS (org .). Ensino
e pesquisa em português para estrangeiros. Brasília: Edunb, 1999.
SOBRAL, M.; AGUIAR, M. S. Para entender o Brasil. São Paulo: Alegro, 2001.
136
______. Les langues et leurs images. Quelques principes generaux. In: Actes du
Colloque: Pourquoi apprendre le portugais aujourd’hui? Comment l’introduire dans les
établissements scolaires en France? Union Latine, Amabassade du Brésil, Esha
France. 21jan1998.
138
9 ANEXOS
139
ANEXO I
carreira da moda?
CELPE-Bras/Interação face a face
___________________________
Elemento provocador 5
___________________________
Etapa 1
O aplicador diz ao candidato:
Etapa 2
Após aproximadamente um minuto (ou dois, dependendo da extensão do material), o
aplicador diz ao candidato:
Comente o quadro.
Etapa 3
Para dar ao candidato oportunidade de prosseguir com sua produção de texto oral, o
aplicador faz perguntas tais como:
• Na sua opinião, vale a pena escolher uma carreira que está na moda?
• Quais as vantagens e as desvantagens que você pode ter ao proceder assim?
• A carreira que você escolheu está na moda? Em caso negativo: já esteve na
moda? Quando?
• Qual(is) a(s) carreira(s) que está(ao) na moda no seu país?
• Que carreiras têm mais prestígio no seu país?
• Que dados apresentados no quadro correspondem à realidade do seu país?
De que forma?
ANEXO II
1
Para fins de inclusão neste quadro, as respostas apresentadas foram reduzidas ao(s) seu(s) termo(s) essencial(is). Algumas dessas respostas redigidas
pelos estudantes pesquisados tiveram sua forma corrigida no que se refere à ortografia e à concordância. Todas aquelas que foram redigidas em espanhol,
francês ou inglês foram traduzidas.
2
Apenas para nosso controle, foram utilizadas as siglas internacionais dos países: AR (Argentina); AT (Áustria); AU (Austrália); BO (Bolívia); CL (Chile); CO
(Colômbia); CQ (Congo); CU (Cuba); DE (Alemanha); ES (Espanha); GA (Gabão); GB (Inglaterra); GR (Grécia); GY (Guatemala); HN (Honduras); HT (Haiti);
IT (Itália); JP (Japão); KR (Coréia do Sul); MX (México); NG (Nigéria); PE (Peru); PL (Polônia); PR (Porto Rico); RU (Rússia); SN (Senegal); US (Estados
Unidos); UY (Uruguai). Fonte: http://usuarios.lycos.es/jonangulo/.
AR19 Caldo de cana na rua Samba Paralelepípedo Terra roxa
AT01 Capoeira
AT02 Diversidade cultural Diversidade da natureza Diversidade social
AT03 Vida feliz Vida tranqüila
AT04 Futebol Mulheres sambando
AT05 Diversidade da natureza
AT06 Trânsito Superpopulação Praias Futebol
AT07 Vida feliz Vida tranqüila
BO01 Rio de Janeiro Carnaval do Rio
BO02 Futebol
CL01 Carnaval
CO01 Mapa do país
CQ01 Bandidos
CU01 Samba
CU02 Samba Carnaval Alegria
DE01 Amazonas Carnaval do Rio
DE02 Música
DE03 Violência Pobreza Carnaval Rio de Janeiro
DE04 Sol Pessoas negras
DE05 Melodia Sol Sorriso
DE06 Gente boa e alegre Calor Praia Mata
DE07 Copacabana
DE08 Futebol Samba Mulheres Bandeira brasileira
DE09 Desigualdade econômica
DE10 Samba Ônibus Favela Porteiros
ES01 Selva
ES02 País grande Beleza Muitos contrastes
ES03 Variedade na paisagem Variedade humana
ES04 Riqueza natural Variedade cultural
ES05 Praia Sol Alegria
ES06 Floresta
ES07 Cores Mistura Alegria Energia
ES08 Cristo Redentor
ES09 Bandeira do Brasil
ES10 Muita riqueza Muita pobreza Gente alegre
ES11 Alegria Beleza
ES12 Cristo Redentor do Rio
GA01 Liberdade
GB01 Rio Carnaval Samba
GR01 Cristo Redentor
GY01 Floresta do Amazonas Carnaval Praias
HN01 Samba Capoeira Mulheres bonitas Comida gostosa
HT01 Futebol
HT02 Futebol
IT01 Capoeira
IT02 Praias Futebol Música
IT03 Carnaval
JP01 Samba Praia
JP02 Alegria
JP03 Praia linda
JP04 Samba Carnaval Café Praia
JP05 Ordem Limpeza
KR01 Exagero Expressividade
exagerada
KR02 Carnaval Samba Amazônia Futebol
KR03 Futebol
KR04 Futebol
KR05 Samba Futebol
MX01 Carnaval Açúcar
MX02 Futebol Corcovado Carnaval
NG01 Moda Música
PE01 Praias do Rio
PE02 Praias
PE03 Praias do Rio de Janeiro
PE04 Praias Samba Cultura
PE05 Floresta Praias
PE06 Praias
PE07 Praias Gente muito agradável Clima muito cálido Roupa ligera
PE08 Praias Gente sorridente
PE09 Futebol
PE10 Carnaval do Rio Praias
PE11 Praia
PE12 Praias
PE13 Carnaval
PE14 Praias Mulheres
PE15 Praia de Copacabana Cristo de Corcovado Pão de Açúcar
PE16 Cristo de Corcovado
PE17 Carnaval
PE18 Praias
PE19 Praias
PE20 Praia de Copacabana Corcovado
PL01 Carnaval do Rio Sambistas Gente brasileira Fernando de Noronha
PR01 Rio de Janeiro Samba Paisagens maravilhosas Alegria
RU01 Calor Bom humor
SN01 Futebol Samba País onde é possível
realizar planos
US01 O Congresso em Brasília
US02 Capoeira Mangas
US03 Bandeira
US04 Hospitalidade e energia Música Dança Praias do nordeste
US05 Carnaval Capoeira
US06 Alegria Praia Riqueza da natureza
US07 Praia
US08 Praia Montanhas
US09 Praias Gente
US10 Praia
US11 Cristo Redentor
UY01 Corcovado
UY02 Bossa Nova
UY03 O Rio com o Corcovado
UY04 País fantástico
UY05 Paisagens bonitas
UY06 Alegria Festa Carnaval
UY07 Praia Mar
UY08 País muito alegre País interessante País bonito
UY09 Folia Praia Samba Carnaval
UY10 Praia Carnaval do Rio
UY11 Cristo Redentor
UY12 Praia Carnaval do Rio
UY13 Praias Favelas Diversão
UY14 Muitas pessoas
divertidas
UY15 Muito calor
UY16 Paisagem Verde Muita gente
UY17 Praia Calor Carnaval Diversão
UY18 Selva Calor Gente muito feliz
UY19 Gente muito alegre Selva Fauna Cores vivas
ANEXO III
2002-1-02 s/f
PERDIDO
1
Constam nessa numeração o ano do Exame, seguido de um ou dois (o que significa primeiro
ou segundo Exame daquele ano) e do número de ordem do EP apresentado no Exame.
2
Folha de São Paulo
3
Jornal do Brasil
2002-1-03 Motoristas Posturas JB
2006-1-13 O que cada um pode fazer Posturas Corpo e saúde TAM Magazine
para mudar o mundo? Ambiente
2006-1-14 Você é o que come Alimentação Corpo e saúde TAM Magazine
4
O título desse EP não foi encontrado.
2007-1-16 Combinações brasileiras Alimentação Corpo e saúde Veja