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18. ARAÚJO, Gladston Fernandes de. Tribunal do júri: uma análise processual à luz da Constituição
Federal. Niterói: Impetus, 2004. p.13.
19. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 3. ed. São Paulo: RT,
2007. p.667.
20. STF – 2ª T. – HC 72.450/SP – Rel. Min. Maurício Corrêa – DJ 24/5/1996. p.17413.
20-A. SANTOS JÚNIOR, Rosivaldo Toscano dos. Constituição e sigilo das votações no júri: o resul-
tado unânime. In: Direitos Fundamentais na Constituição de 1988: estudos comemorativos aos
seus vinte anos. Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar (org.). Porto Alegre: Núria
Fabris, 2008. p. 301.
4.3. Características
a) Órgão heterogêneo: na Constituição de 1988, o júri popular é
reafirmado como órgão do Poder judiciário. Sua composição é formada
por um juiz-presidente e por vinte e cinco jurados, nos termos da nova
redação do art. 433, CPP, dada pela Lei n.º 11.689/2008 (antes o CPP
previa o número de vinte e um jurados), dos quais sete compõem o Con-
selho de Sentença. O juiz-presidente aplica o direito de acordo com os
fatos que são julgados pelos jurados. Aquele, o juiz do direito, estes, o
juiz dos fatos. Sobre aquele, não vigora o princípio da soberania dos
veredictos, pelo que o tribunal pode reformar sua sentença, para majorar
ou minorar a pena por ele aplicada. Já quanto ao julgamento dos fatos
pelos jurados, não cabe ingerência pelo órgão de segundo grau de ju-
risdição.
b) Órgão horizontal: não há de se falar em hierarquia entre o juiz pre-
sidente e os jurados. Têm funções diversas, e a conjugação de esforços
faz a harmonia do tribunal.
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contra a vida e foi denunciado também por outro crime àquele conexo,
o juiz declarará levados ao júri, por conseqüência, os delitos conexos. A
pronúncia é relativa ao delito contra a vida, suas qualificadoras e causas
de aumento. Não há menção a agravantes, atenuantes ou circunstân-
cias de privilégio: o magistrado admite a acusação e pronuncia o réu
pelo delito doloso contra a vida. Havendo delito conexo, declarará este
remetido ao júri, por decorrência. A inclusão de eventual circunstância
agravante é encargo do Ministério Público ou querelante, por ocasião
dos debates orais em plenário (não mais por ocasião do libelo-crime
acusatório, extinto que foi pela Lei n.º 11.689/2008).
Prolatada a pronúncia, devem ser dela intimados o Parquet, o acu-
sado e seu defensor, notadamente porque um dos efeitos da pronún-
cia, uma vez mantida a prisão com base na presença dos requisitos da
preventiva, é a superação da alegação de constrangimento ilegal. A
sistemática de intimação sofreu alteração em face do advento da Lei
n.º 11.689/2008. Agora a intimação da pronúncia será feita (art. 420,
CPP): (1) “pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Mi-
nistério Público” (inclua-se nesta epígrafe o defensor público, diante de
prerrogativa funcional); (2) “ao defensor constituído, ao querelante e
ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no § 1o do
art. 370”, CPP, ou seja, “por publicação no órgão incumbido da publi-
cidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade,
o nome do acusado”; e, (3) por edital ao acusado solto que não for
encontrado (Parágrafo único).
Pela importância histórica, um efeito da pronúncia que carece ser
mencionado era o de lançamento do nome do réu no rol dos culpados
(antigo art. 408, § 1º, CPP), constante de “disposição, anacrônica e até
injusta”, que, antes mesmo da reforma processual penal recente, tinha
sido tacitamente “revogada pelo artigo 5º, LVII, da Constituição Federal
de 1988, ao consagrar o princípio do estado de inocência”. No entanto,
outros efeitos fortes subsistem: a sentença de pronúncia, uma vez não
recorrida pelos interessados, “apresenta efeitos preclusivos de natureza
processual, ante a imutabilidade de sua afirmação sobre a admissibilidade
da acusação que encaminha para decisão final pelo tribunal do júri”. É
desse modo que o art. 421, CPP, deixa assentado que “preclusa a de-
cisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do
Tribunal do Júri”. De mais a mais, a sentença de pronúncia e a decisão
confirmatória de pronúncia proferida pelo tribunal em grau de recurso cau-
sam a “interrupção da prescrição da pretensão punitiva (art. 117, II, CP)”.
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4.6. Impronúncia
A decisão de impronúncia não julga o mérito da denúncia, tendo,
pois, conteúdo terminativo. É autêntica sentença porque encerra o pro-
cesso (ou, quando mais de um acusado, põe fim ao processo quanto ao
que foi impronunciado), embora não aprecie os fatos com profundidade
21. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.493.
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o que decidido primeiro pelo juiz do júri – e, se o caso pelo tribunal que
apreciou o [primeiro] conflito [eventualmente suscitado] –, simplesmente
devolver os autos ao juiz sumariante, com decisão fundamentada que
indique, verbi gratia, as razões que entendeu inexistente a subtração
tendente a colmatar o conceito do crime de latrocínio (art. 123, § 3º,
CP)”22.6Infere-se assim que há inversão do juiz que terá o ônus de, nessa
nova hipótese, instaurar o conflito: o juiz da vara do júri.
22. ALENCAR, Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de. Preclusão da decisão desclassificatória no rito
do júri: (im)possibilidade de argüição de conflito de competência. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 2006. p.61.
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4.10. Libelo
O estudo do libelo-crime acusatório tem importância histórica, mercê
de não ser mais previsto na legislação processual penal a partir do ad-
vento das modificações inseridas pela Lei n.º 11.689/2008. Com a visão
desse instituto, é possível entender, de um lado, os limites que a tese
de acusação encontra na segunda fase do rito do júri, bem como das
desvantagens do reconhecimento judicial de nulidades que poderiam ser
sanadas, sem a necessidade de se dar prevalência exagerada à forma
em detrimento do conteúdo do ato processual.
Com essa advertência, pode-se afirmar que o libelo era a peça inau-
gural do juízo de mérito (judicium causae). Era formulado consoante re-
gras legais estabelecidas no Código de Processo Penal. Sua forma não
era livre, tal como se dá na denúncia. Ao revés, o libelo devia ser feito
sob a forma de articulado, vale dizer, os fatos deviam ser relatados parte
por parte, a começar do fato principal, passando pelas qualificadoras e,
se houvesse, circunstâncias agravantes.
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dois libelos –, da mesma forma que para cada réu havia – e ainda con-
tinua existindo – uma quesitação específica; (3) o libelo era dividido em
tantas séries de quesitação quantos crimes conexos fossem imputados
ao acusado, obedecendo cada série à linguagem articulada, isto é, o
fato criminoso e suas circunstâncias deveriam ser desmembrados por
artigos, a começar do fato principal; (4) o libelo era o espelho fiel da pro-
núncia, não podendo incluir qualificadora ou crime conexo não reconhe-
cido na decisão de admissibilidade da acusação, sob pena de nulidade
(o Ministério Público que não recorreu da pronúncia, não pode discordar
dela depois de preclusa); (5) como na pronúncia o juiz não pode fazer
menção a circunstâncias agravantes, era no libelo que o Parquet deveria
cuidar para que as agravantes possíveis fossem incluídas, sob pena de
preclusão (agora, com a extinção do libelo-crime, o local próprio para
a alegação de agravantes é a sessão popular, durante os debates da
segunda fase do rito do júri, na esteira do entendimento prevalecente
de que era simples faculdade do promotor apresentar as agravantes no
libelo, pelo que podia sustentá-las apenas no plenário de julgamento; (6)
era no libelo que deveria ser apresentado rol de até cinco testemunhas,
oportunidade em que o membro do Ministério Público deveria requerer
as respectivas oitivas com caráter de imprescindibilidade, já que, se não
o fizesse, não poderia exigir suspensão do julgamento pela ausência de
uma delas ou condução coercitiva de eventual depoente faltoso residen-
te na comarca (caso se tratasse de testemunha militar deveria requerer a
requisição ao chefe do respectivo serviço); (7) deveriam ser requeridas,
no libelo, as diligências indispensáveis ao julgamento plenário, tal como
se dá com o pedido de apreensão de armas ou objetos que interessam
ao esclarecimento dos fatos; e, (8) ao final do libelo, o órgão acusador
deveria pedir a condenação do acusado nas penas do crime a ele impu-
tado, com as qualificadoras pertinentes, causas de aumento específicas
e agravantes, sempre de forma congruente com a pronúncia, não caben-
do, naquela oportunidade, incluir circunstância de privilégio, atenuante
ou mesmo a argumentação de continuidade delitiva (caso entendesse
existir circunstância minorante, de benefício ao acusado ou de excluden-
te de ilicitude, o promotor de justiça ou procurador da república deveria
mencioná-los por ocasião dos debates).
Ademais, necessário enfatizar que se o libelo fosse apresentado em
desconformidade com as regras do Código de Processo Penal – com
a potencialidade de causar nulidade do processo a partir dele, inclusi-
ve do julgamento plenário –, caberia ao juiz-presidente não recebê-lo,
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4.12. Desaforamento
Desaforamento é o deslocamento da competência do processo de
crime doloso contra a vida para a comarca mais próxima. Essa alteração
do foro do julgamento é de natureza excepcional, sendo necessário para
o seu deferimento, a incidência de um dos seus pressupostos específi-
cos. A idéia que norteia o desaforamento é a de que o júri não possa ser
realizado no local do cometimento do delito sem que haja risco para o
julgamento, seja no tocante à parcialidade do júri, seja quanto à segu-
rança do acusado. Permeia a interpretação/aplicação do art. 427, CPP,
a atenção para o clamor público e para a possível influência do poder
econômico ou político existente no foro competente.
O desaforamento, via de regra, só pode ocorrer após a preclusão da
pronúncia do Acusado. Não é o desaforamento admitido na pendência
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não podendo nenhum cidadão “ser excluído dos trabalhos do júri ou dei-
xar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão,
classe social ou econômica, origem ou grau de instrução” (§ 1º). De outra
parte, “a recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor
de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com
a condição econômica do jurado” (§ 2º). Também será imposta multa “ao
jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado
para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente” no
valor “de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo
com a sua condição econômica” (art. 442, CPP).
Sem embargo, algumas pessoas, em razão do exercício de cargo,
função pública, mandato eletivo ou por situações particulares justificá-
veis, são isentas do serviço do júri, quais sejam: (1) “o Presidente da
República e os Ministros de Estado”; (2) “os Governadores e seus res-
pectivos Secretários”; (3) “os membros do Congresso Nacional, das
Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais”; (4) “os
Prefeitos Municipais”; (5) “os Magistrados e membros do Ministério Pú-
blico e da Defensoria Pública”; (6) “os servidores do Poder Judiciário,
do Ministério Público e da Defensoria Pública”; (7) “as autoridades e os
servidores da polícia e da segurança pública”; (8) “os militares em servi-
ço ativo”; (9) “os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram
sua dispensa”; e, (10) “aqueles que o requererem, demonstrando justo
impedimento”.
A resusa do serviço do júri, quando fundada em convicção religiosa,
filosófica ou política, importará no dever de prestar serviço alternativo,
sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o
serviço imposto. Note-se que aqui o cidadão apresenta justificativa que
afasta a aplicação da multa do § 2º, do art. 436, CPP. Contudo, a ele é
imposta a prestação de serviço alternativo, que é “o exercício de ativida-
des de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produ-
tivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou
em entidade conveniada para esses fins” (art. 438, §1º, CPP), devendo
ser fixado pelo juiz em compasso com os princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade (§ 2º).
Outrossim, “o exercício efetivo da função de jurado constituirá ser-
viço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e
assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento
definitivo” (art. 439, CPP), passando a ter o direito de “preferência, em
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Após sua oratória, poderá haver réplica por parte do Ministério Pú-
blico, querelante e/ou assistente, pelo tempo de uma hora (não mais de
trinta minutos, como antes da vigência da Lei n.º 11.689/2008), elevado
esse tempo ao dobro se existirem mais de um réu. O tempo de réplica
será dividido conforme convencionarem os oradores. Havendo réplica, a
defesa poderá apresentar tréplica (resposta à réplica), pelo mesmo tem-
po de uma hora (se um acusado estiver sendo julgado), sendo duplicado
se o julgamento for de mais de um acusado.
Naturalmente, se não houver réplica do acusador, não será oportuni-
zada tréplica à defesa. Para tanto, quando o juiz-presidente ao indagar
se o Ministério Público deseja replicar, ele deve se limitar a dizer não.
Havendo manifestação do acusador no sentido de responder à sustenta-
ção oral da defesa, ainda que de forma singela, tal comportamento será
havido como réplica, dando lugar à tréplica. Durante os debates, o juiz-
presidente e os jurados não poderão se ausentar. Caso haja necessida-
de, o julgamento deve ser suspenso, inclusive o tocante à marcação do
tempo para a sustentação respectiva. Aos jurados e ao juiz-presidente
não é dado sinalizar favoravelmente a qualquer uma das teses. Havendo
dúvida por parte de algum dos membros do conselho de sentença, essa
pode ser dirigida ao orador por intermédio do juiz.
O juiz regulará os debates, tomando as providências para que sejam
os respectivos tempos registrados e para que seja mantida a ordem da
sessão. O magistrado tem o poder de polícia necessário para mandar
retirar as pessoas inconvenientes. O juiz também disciplinará os apartes
(intervenções de um orador na fala do outro) que, atualmente conta com
previsão expressa no inciso XII, do art. 497, CPP (com redação dada
pela Lei n.º 11.689/2008), quando a parte contrária estiver com a pala-
vra, pelo prazo máximo de até três minutos para cada aparte requerido,
acrescendo o tempo da parte que teve sua sustentação interrompida.
Encerrados os debates, o juiz indagará se os jurados estão aptos a
julgar os fatos. Nesse momento, o conselho de sentença pode pedir es-
clarecimentos. Tudo com o objetivo de que a conduta imputada e a tese
de defesa tenham sido bem compreendidas. Os jurados terão conheci-
mento, nessa altura, dos quesitos a que deverão responder. Serão eles
lidos em plenário, com explicação dos significados correspondentes. Os
debatedores também a eles terão acesso, podendo apontar incorreções
e a necessidade de ajustes consoante o desenvolvimento do que for
sustentado durante a sessão.
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23. SANTOS JÚNIOR, Rosivaldo Toscano dos. Constituição e sigilo das votações no júri: o resultado
unânime. In: Direitos fundamentais na Constituição de 1988: estudos comemorativos aos seus
vinte anos. Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de Alencar (org.). Porto Alegre: Núria Fabris,
2008. p.301.
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