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ACÓRDÃO N°494/2017
L Relatório
l.O Partido Socialista (PS), representado pelo respetivo mandatário no município de
Santa Maria da Feira, interpôs recurso para o Tribunal Constitucional, nos termos do
artigo 31.°, da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais, aprovada pela Lei Orgânica
n.° 1/2001, de 14 de agosto (referida adiante pela sigla «LEOAL»), da decisão do Tribunal
Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo Local Cível de Santa Maria da Feira, de 16 de agosto
de 2017, que indeferiu a reclamação apresentada pelo mesmo partido político do despacho
proferido pelo mesmo Tribunal em 8 de agosto de 2017.
O ora recorrente apresentou reclamação de tal despacho, nos termos do artigo 29.° da
LEOAL e impugnação à regularidade do processo de elaboração e apresentação da lista
MISJV, nos termos do artigo 25.°, n.° 2, do mesmo diploma legal.
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«I. A Lista apresentada pelo MISJV — Movimento Independente Por São João de Ver
nas declarações de propositura apresentadas, não emerge, nem sequer implicitamente — e
menos ainda da forma inequívoca que a lei exige — que os cidadãos subscritores tivessem
proposto a lista de candidatura de quaisquer cidadãos que não o ali referido Filipe José
Ferreira de Oliveira e Silva.
II. O artigo 19.°, n.° 3 da LEOAL pretende que inexista qualquer tipo de dúvida, no
que concerne às declarações de apoio e, assim, ou o nome dos candidatos consta do
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documento onde se encontra exarada a assinatura dos proponentes ou, então, este
documento deve remeter, de forma clara e expressa para a referida lista.
IH. Nada disso ocorreu na situação em apreço: nem os formulários padronizados
continham a lista de candidatos a apresentar ao ato eleitoral, nem nos mesmos havia
qualquer referência à sua existência anexa e que os proponentes dela tomaram conhecimento
no momento da assinatura da declaração de proposítura.
IV. Notificados da Reclamação apresentada o MISJV — Movimento Independente Por
São João de Ver veio apresentar uma nova Lista de Assinaturas, esta sem respeitar as
exigências legais mínimas de Declaração de proposítura, com 400 assinaturas em quanto a
entregue em Tribunal tem mais de 600 assinaturas, a ordem não é igual, apesar de dizerem
que a mesma é contemporânea à recolha das proposíturas, não tem datas, não tem os
mesmos subscritores, nem a mesma ordem de subscrição, nem o mesmo número de
subscritores, não representa outra coisa que uma tentativa de reparar o facto de não terem
apresentado a Lista de candidatos aos proponentes da Lista, tentando assim apresentar
declaração que comprove que as declarações de proposítura passem a estar em conformidade
com o disposto no artigo 19. °, n.° 3 da LEOAL, sendo 2. pior a emenda que o soneto.
V. Se da primeira declaração de proposítura não consta que a lista foi apresentada aos
subscritores, da segunda, tendo em consideração a exiguidade temporal, 48 horas, para
apresentar a resposta à reclamação apenas consta o número de eleitor e a assinatura, tendo
tais declarações em falta muitos dados legalmente obrigatórios dos proponentes.
VI. O que fica demonstrado, foi justamente demonstrado com tal atuação o MISJV —
Movimento Independente Por São João de Ver demonstrou que tinha perfeita consciência
da falta de apresentação da lista de candidatos aquando da assinatura das declarações de
proposítura.
VIL As declarações de proposítura da candidatura foram recolhidas sem a apresentação
da Hsta candidata aos proponentes.
VUL Até à data limite de entrega de listas candidatas às eleições no Tribunal competente
(7 de agosto de 2017), a candidatura do grupo de cidadãos MISJV — Movimento
Independente Por São João de Ver mantiveram inúmeras indefinições quanto à concreta
composição da referida Hsta, tendo recolhido declarações de aceitação para integrar a Lista
muito depois da recolha das declarações de proposítura, conforme se alça dos autos.
IX. Os grupos de cidadãos eleitores apresentam candidaturas aos órgãos autárquicos
propondo listas candidatas, em proposta que, na sua completude, é de todos e cada um dos
proponentes da mesma.
X. Do documento donde consta cada uma das declarações de proposítura tem de constar
a inequívoca vontade de apresentar a lista de candidatos dela constante, ou para a qual se
remete, lista que, obviamente, tem de ser apresentada aos proponentes para que a validem e
aceitem propô-la, apenas assim se cumprindo o disposto no artigo 19.°, n.° 3, da LEOAL.
XI. Neste caso concreto as declarações de propositura foram assinadas sem antes lhes ter
sido apresentada a Lista, tendo apenas a informação constante da declaração de Propositura.
XH. A norma constante do n.° 3, do artigo 19.°, da LEOAL, interpretada no sentido de
impor que as declarações de subscrição de candidaturas de grupos de cidadãos contenham
menção de concordância, ainda que por remissão, com a totalidade da lista candidata, não é
inconstitucional, nem colide com os direitos de participação política e 50 de sufrágio. Ao
invés, garante o pleno e esclarecido exercício desses direitos.
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Nestes termos e nos de direito que vossas excelências mais doutamente cuidarão de
suprir, deve o presente recurso ser julgado procedente, proferindo-se decisão de rejeição da
lista candidata à Assembleia de Freguesia de são João de Ver com a denominação MISJV —
Movimento Independente Por São João de Ver, por incumprimento do preceituado no n.°3
do artigo 19. ° Lei Orgânica n. ° 1/2001, de 14 de agosto.-»
II. Fundamentação
5. Como questão prévia, o recorrente começa por contestar a admissibilidade do
suprimento de irregularidades que afetera as declarações de propositura de uma candidatura
por grupos de cidadãos independentes, alegando que a existência desta tem. como
pressuposto a verificação de declarações de propositura por número de cidadãos eleitores
correspondente a 3% dos eleitores inscritos no respetivo recenseamento eleitoral, nos
termos definidos no artigo 19.° da LEOAL. Não se encontrando preenchida tal condição,
designadamente por insuficiência ou irregularidade das declarações de propositura, a
candidatura deve ser rejeitada.
Acrescenta ainda que, mesmo sendo de entender que a inobservância das exigências
impostas pelo artigo 19.° da LEOAL constitui uma nulidade sanável, as declarações
apresentadas pelo MISJV em tal momento não permitem tal sanação, na medida em que
não constituem novas declarações de propositura, nem contêm os elementos exigidos por
lei. Contesta ainda que tais declarações, juntas em resposta à reclamação, tenham
efetivamente sido subscritas de forma conjunta e simultânea com as declarações de
propositura juntas aos autos.
Embora apresentada como uma questão prévia, ou seja, uma questão autónoma,
prejudicial e logicamente anterior à questão principal, o certo é que a argumentação em que
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Trata-se de questão nova, que não foi suscitada perante o Tribunal de l.a instância e
que, por esse motivo, não foi objeto da decisão recorrida. Em qualquer caso, a
irregularidade verificada não afeta a legalidade da candidatura, devendo consíderar-se sanada
com a indicação de morada em consonância com o disposto no n.° 2 do artigo 22.° da
LEOAL.
LEOAL, que dispõe que «[o]s proponentes devem subscrever declaração de propositura da qual
resulte inequivocamente a vontade de apresentar a lista de candidatos dela constante»,
O recorrente alega que: (i) nem os formulários usados nas declarações de propositura
continham a lista de candidatos a apresentar ao ato eleitoral; (H) nem em tais declarações
existe qualquer referência à existência dessa lista em anexo e que os proponentes dela
tenham tomado conhecimento no momento da assinatura da declaração de propositura.
Cumpre apreciar.
Por ter sido confrontado com numerosas situações mais ou menos semelhantes à
presente, o Tribunal Constitucional tem vindo a articular linhas de orientação sobre os
pressupostos legais das declarações de propositura. O recente acórdão n.° 466/2017 contém
uma síntese dessa jurisprudência, que importa reproduzir:
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A Hteralidade da declaração em análise aponta para a existência de uma lista, que cada
um dos cidadãos proponentes declara, por sua honra, apoiar.
É certo que nenhuma lista foi, especificamente, anexada a cada uma das declarações ou
conjunto de declarações, aquando da sua apresentação ao tribunal.
Porém, tal apresentação ou anexação, no momento de apresentação perante o tribunal,
em rigor, não é condição essencial para demonstrar, sem quaisquer dúvidas, que os
proponentes tomaram Íntegra! conhecimento da específica lista de candidatos apresentada
nos termos do artigo 20.° da LEOAL, no momento em que subscreveram as declarações de
propositura.
O que releva, para efeitos de aferir a idoneidade de taís declarações, no sentido de
manifestarem uma vontade inequívoca de apresentar uma específica lista de candidatos, são
os elementos integrantes da própria declaração ou que com a mesma formem um todo
incindível, sendo tal conjugação incíndível necessariamente reportada ao momento da
declaração.
Assim, compreende-se que o tribunal et quo sustente que, para se poder categoricamente
afirmar que os proponentes subscritores revelaram a vontade de subscrever declaração de
propositura da qual resulta inequivocamente a vontade de apresentar a lista de candidatos
constante da folha anexa, seria necessário que, em anexo a cada folha de subscrição, os
respetivos proponentes subscritores rubricassem a lista de candidatos, que se refere estar
anexa. Tal ato permitiria reconstituir, com perfeição e completude, o "todo incindível e
contemporâneo" a que alude a decisão recorrida, por remissão para a decisão reclamada.
Todavia, uma leitura funcionalmente adequada da norma satísfaz-se com a conclusão de
que o subscritor da candidatura ficou inequivocamente ciente da lista que estava a
subscrever. E isso é o que resulta do caso em apreciação, como bem demonstra a declaração
de propositura assinada.
De resto, o Tribunal Constitucional tem seguido este entendimento. Não obstante a lei
estabelecer requisitos especiais, para permitir o exercício da faculdade de grupos de cidadãos
apresentarem candidaturas às eleições para os órgãos das autarquias, concretizando um
direito de participação política que lhes é expressamente conferido pela Constituição (artigo
239.°, n.° 4) - o que se compreende face à circunstância de, diferentemente do que acontece
relativamente às listas apresentadas por partidos políticos ou coligações de partidos, a
subscrição das propostas de listas de candidatos "não corresponde[r] a uma mera
manifestação de apoio ou concordância com um projeto político de um movimento ou
grupo que pretenda concorrer às eleições locais, antes consubstanciando] a própria escolha,
pelos cidadãos eleitores, dos candidatos a apresentar", como se refere no acórdão n.°
582/2013 -, há que ponderar que os grupos de cidadãos não dispõem do mesmo grau de
capacidade organízatória que se encontra - e, de resto, é exigível - nos partidos políticos,
facto notório que deve ser sopesado quando se avalia o cumprimento dos pressupostos
previstos no n.° 3 do artigo 19.° da LEOAL.»
O caso dos autos é, nesta parte, análogo ao apreciado no citado Acórdão n.° 446/2009,
na medida em que nas declarações de propositura apresentadas, os subscritores apenas
declararam «por sua honra, propor e apoia[r] a lista de cidadãos eleitores à eleição da Assembleia
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de Freguesia de São João de Ver, nas eleições autárquicas de 01 de outubro de 2017» pelo grupo
de cidadãos eleitores, a qual é identificada pela respetiva denominação e pelo nome do
primeiro candidato.
De acordo com a jurisprudência firme deste Tribunal, se é certo que os artigos 19.° e
23.° da LEOAL não impõem que a declaração de propositura das listas discrimine e
identifique, um a um, todos os candidatos, efetivos e suplentes, que integram a lista, já se
exige, para se dar por verificada uma vontade inequívoca de apresentar a lista de candidatos,
que da própria declaração ou de algum documento a ela anexo (com o qual a declaração
formasse um todo incindível), constasse alguma lista, o que não se verifica no caso vertente.
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designado de "MISJV - Movimento Independente por São João de Ver", em que é primeiro
proponente (cabeça de lista), Filipe José Ferreira de Oliveira e Silva [restantes elementos de
identificação], lhes foi exibida a respetiva lista de candidatos, sendo clara e inequívoca a vontade,
dos abaixo assinados, em propor/apresentar a aludida lista de candidatos».
Vejamos.
No já citado Acórdão n.° 466/2017, o Tribunal afirmou que «[o] que releva, para efeitos
de aferir a idoneidade de tais declarações, no sentido de manifestarem uma vontade inequívoca
de apresentar uma específica lista de candidatos, são os elementos integrantes da própria
declaração ou que com a mesma formem um todo incindível, sendo tal conjugação incindível
necessariamente reportada ao momento da declaração» (sublinhado nosso).
Significa isto que a aferição da vontade inequívoca dos proponentes de apoiarem uma
lista de candidatos não dispensa um certo grau de exigência formal, consubstanciado numa
declaração de propositura completa ou no conjunto formado por uma declaração de
propositura e outros elementos que com ela formem um todo incindível e contemporâneo.
Tal incindibilidade pressupõe, no mínimo, a referência recíproca entre os elementos do
conjunto, nomeadamente a referência, na declaração de propositura, a uma específica lista
de candidatos.
Ora, é evidente que as declarações que o recorrido veio juntar ao processo não formam
com as declarações de propositura um qualquer todo incindível. Não há qualquer
referência, nas declarações de propositura, a essas declarações adicionais. Acresce que estas
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não têm outra função que não a de suprirem a omissão naquelas de qualquer referência a
uma específica lista de candidatos, o que corresponde a uma admissão implícita de
insuficiência formal das declarações de propositura e constitui um indício relevante de que
essas declarações adicionais foram emitidas após a emissão daquelas e da própria
apresentação da lista de candidatos, nos termos do n.° l do artigo 20.° da LEOAL. Por
outras palavras, faltam os requisitos da incindibilidade formal e da contemporaneidade que
o Tribunal tem vindo reiteradamente a exigir na verificação do cumprimento do disposto
no n.° 3 do artigo 19.° da LEOAL.
Por tudo quanto fica exposto, conclui-se que as declarações de propositura não
cumprem as exigências legais, pelo que se justifica alterar o sentido da decisão recorrida.
III. Decisão
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