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Quatremère de Quincy (1755-1849)

História da vida e das obras dos


mais célebres arquitetos do s. XI ao fim do s. XVIII
publicado originalmente em 1830; traduzido por Gustavo Rocha-Peixoto
do original francês: QUATREMÈRE DE QUINCY, A.Ch. Histoire de la vie et des ouvrages des plus
célèbres architectes du XIe siècle jusqu’a la fin du XVIIIe . reprint Hacker Art Books, Nova
Iorque, 1970

Advertência.

O título dos mais célebres, que nós demos aos arquitetos cuja história está contida nesse
volume, exige talvez alguma explicação da nossa parte, isto é uma justificativa à dupla
repreensão que a crítica se acharia no direito de nos fazer.
Em primeiro lugar poder-se-ia perguntar por que não dissemos os mais hábeis; por que em
seguida, sob o titulo que preferimos, omitimos alguns nomes bem conhecidos, enquanto
admitimos outros que talvez sejam menos famosos.
A isso responderemos que uma escolha a fazer de uma pequena amostra entre
numerosos artistas, mesmo na região do passado, nunca está ao abrigo das controvérsias do
gosto nem das preocupações particulares, das rivalidades de escolas e das predileções locais de
cidades, regiões ou de nações; pois onde é que não se encontra a vaidade? Pareceu-nos pois
que ao dar por base à nossa escolha o motivo da celebridade, antes que a razão da habilidade,
corríamos menos o risco, tanto de ofender as opiniões contrárias, quanto de aumentar a
parcialidade sobre um ponto onde parece que a notoriedade patente deve produzir um acordo
mais geral.
Seria verdade, em seguida, que ao tomarmos por medida aparente da nossa escolha a
maior celebridade, nos estariamos efetivamente expondo a proclamar as contra-marchas das
prevenções locais ou contemporâneas? Admitiremos que se se tratasse de obras recentes e de
autores modernos, seria preciso estar fortemente armado contra certas famas efêmeras, fruto
de paixões ou de gostos do momento, que o momento seguinte desacredita. Mas haverá
celebridades que a sucessão dos séculos ratificou, que os mais numerosos paralelos aumentou?
Haverá assim homens cujos nomes, na maioria, recebeream, na constante admiração de suas
obras, a sanção da experiência e do tempo?
Não podemos então dizer que uma celebridade que não cessa de se perpetuar, é a mais
segura garantia da habilidade de um artista? E não é sobre a fé de semelhante tradição de
sufrágios, que nós consignamos ainda as primeiras fileiras nas artes da Grécia, a tantos homens
cujas obras nos são entretanto desconhecidas?
Mas aqui temos a vantagem de poder ainda comparar os títulos de celebridade às obras
ainda subsistentes dos artistas que nos reunimos nesta coleção. Para este fim, quer dizer, para
conferir autoridade aos julgamentos que nós proclamamos (mais que fizemos) que nos pareceu
conveniente colocar à frente da vida de cada arquiteto o desenho de um de seus principais
edifícios.
À vista dos monumentos que devem servir a constatar a superioridade de seus autores,
acreditamo-nos dispensados de justificar sua escolha. Só os nomes da maioria excluem toda
incerteza. A opinião associada ao lugar que eles nunca deixaram de ocupar no espírito dos
artistas e especialistas de todos os países, é incontestável demais para acreditarmos necessário
acrescentar novas provas. A nomenclatura ou tábua indicativa dos monumentos que nós
daremos desenhados poderia servir de índice cronológico às obras-primas da arquitetura
moderna.
Como somente reconhecemos como a verdadeira arte da arquitetura aquela que, dentre
todos os processos construtivos conhecidos, deve sua origem, seus progressos, seus princípios,
suas leis, sua teoria e sua prática aos Gregos, e que, propagada pelos Romanos, tornou-se a da
maior parte do mundo civilizado, devemos desde logo prevenir que não se encontrará em
nossa coleção nenhuma noção de nenhuma obra, de nenhum arquiteto do gênero chamado
gótico.
O final do s. XVIII que impusemos como termo, e que fecha a série de arquitetos que
reputamos os mais célebres, impediu-nos de incluir tanto obras como artistas posteriores a esta
época. Convém mesmo assinalar que nenhum arquiteto vivo tem lugar na série. Não devemos
dissimular, no entanto, que nem na França nem na Alemanha ou na Inglaterra não se
construiu depois da igreja de Sainte-Geneviève1 edifícios muito grandes ou belos, que
pudessem garantir a seus autores uma celebridade que a posteridade ratificará sem dúvida. Mas
é fácil compreender por que não prevenimos seus julgamentos. A crítica dos contemporâneos,
positiva ou negativa, é sempre suspeita de parcialidade. Legamos aos tempos futuros os
suplementos que nossa obra exigir.
[...]
[...ressalvadas as críticas cabíveis]desejamos que não se perca de vista o principal objeto a que
nos propusemos: traçar em resumo, pela história dos homens e de seus mais notáveis
monumentos, o caminho escolhido e seguido pela arte da arquitetura entre os modernos, desde
a sua renovação até o fim do século dezoito e, assim, apresentar rapidamente numa visada
breve, o quadro do gênio e do gosto dos principais arquitetos, no espaço de seis a sete séculos.

1
o Panthéon de Paris – N. do T.

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