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DISCINI, Norma. Corpo e estilo. Contexto: São Paulo, 2015.

DE FUNDAMENTOS
A quase presença

“O corpo, considerado uma organização depreendida das marcas da enunciação enunciada ao


longo de uma totalidade, apara-se nos componentes sintáxicos e semânticos relativos ao
percurso gerativo do sentido [...] Ampara-se também nas propriedades figurais, pressupostas
ao percurso gerativo de sentido e encerradas no que se nomeia nível tensivo. Assim acontece
para que se delineiem os dois perfis do ator no processo de aspectualização: o social, relativo
à participação ativa e ética do sujeito no mundo, e o pático, que, em equivalência ai que
chamamos costumeiramente de patêmico, é relativo aos desdobramentos do sentir ou do
sofrer.” (DISCINI, 2015, p. 16).

 Receptividade afetiva de um sujeito diante das coisas do mundo.

“No viés sensível, o corpo respalda-se nos componentes tensivos concernentes a uma
profundidade figural que, considerada pressuposta aos três níveis do percurso gerativo do
sentido (discursivo, narrativo e fundamental) opera no favorecimento desse mesmo viés,
nomeado também como pático” (DISCINI, 2015, p. 16)

“[...] Um conceito alargado, aludido em outras obras do Estagirita e até nas entrelinhas da
própria Retórica, remete o phátos a um lugar de compatibilidade com a noção de percepção,
que diz respeito, nos estudos discursivos, ao sujeito da enunciação, enunciador e enunciatário,
no encontro com o mundo percebido.”

 Corpo = sujeito no mundo


 Objeto = coisa no mundo (atravessa necessariamente o sujeito. Relação de
transitividade sujeito / objeto)

O corpo “não supõe uma presença soberana, encerrada numa subjetividade autossuficiente ou
plena em si mesma. Tal concepção de corpo, supomos convergir, do âmbito do discurso, para
a ‘visão objetiva’ referida por Castilho a qual acaba por indicar uma intervenção subjetiva
relativizada no processo verbal: menos consistente do que acontece com o modo verbal,
definido como ponto de vista sobre a ação. Estudar o aspecto relativo ao sujeito, pessoa
discursiva, supõe desconstruir a homogeneidade e o acabamento aparentes da presença
enunciativa, aquela e este reconhecidos como elementos decomponíveis nas fases próprias ao
processo de enunciação do ator” (DISCINI, p. 17).

 Certamente Discini e, talvez, Fontanille, concordam com o fato de que é preciso, para
usar as palavras de Discini, “desconstruir a homogeneidade e o acabamento aparentes
da presença enunciativa”. Em Discini, a saída é decompor o processo de construção do
ator, e verificar as diversas maneiras da “presença” desse ator em cada nível de
análise. Em Fontanille, pelo que me lembro do Corps et sens, a desconstrução vai no
sentido da cena enunciativa. Desconstrói-se a visão tradicional da enunciação
enquanto uma cena de categorias dêiticas e pessoais. Assume-se a postura de que
coordenadas anteriores a essas, aquelas relativas ao campo de presença, estabelecem-
se de antemão. O sujeito da enunciação, sujeito discursivo, é, antes de “ganhar corpo”,
um actante epstemológico que opera com categorias sensíveis numa anterioridade
pressuposta à enunciação.

“Examinado no processo discursivo que o respalda, tal corpo favorece a decomposição de si


no exame feito da enunciação segundo a hierarquia de lugares enunciativos que constitui a
pessoa discursiva: não só quanto ao sistema de delegação de vozes entre enunciador, narrador,
interlocutor, de um lado, e, de outro, enunciatário, narratário e interlocutário (Fiorin, 1996),
mas também quanto ao papel do actante-observador na constituição do ator como aspecto.
Aqui, a ‘marcha’ da constituição do corpo é recomposta, enquanto toma lugar determinada
orientação seguida pela aspectualização actorial” (DISCINI, 2015, p. 17).

“O aspecto, entendido como processo da construção actorial, incita a desmontar o corpo


‘daquele que diz’ a partir do que é dito, o que nos leva a procurar desvelar mecanismos
discursivos vinculados a um sujeito necessariamente contingente: menos ou mais contingente,
a depender da situação de comunicação” (DISCINI, 2015, p. 17).

“Examinar a pessoa como enunciação discursivizada e esta como estilo, enquanto se procura
trazer à luz o processo de construção de um corpo no conjunto de enunciados de onde ele
emerge, supõe uma prática analítica que busca apreender cada enunciado a partir de um
conjunto, que é numérico (relativo a um, dois, três ou mais textos) e integral (regido por um
princípio concernente a um todo subjacente). Cada enunciado é visto como parte de um todo,
este constituinte de cada parte, como princípio organizador. Essa orientação analítica procura
apreendera ‘marcha’ ou o desenvolvimento de experiências sensíveis e de julgamentos morais
que fundam o ator segundo um esquema – um esquema corporal, que corrobora a
possibilidade de comtemplação das partes sem que se perca o todo. Do interior de uma
totalidade, vem À tona o princípio unificador que respalda um estilo” (DISCINI, 2015, p.19).

“Partimos do pressuposto de que a enunciação, ao enunciar-se, institui-se no ato, por meio


dele e a partir dele, concebido, o ato, como depreensível do seu produto, o enunciado. Em se
tratando de estilo, as marcas da enunciação enunciada, imprimidas num conjunto de
enunciados, constituem-se como marcas da identidade que toma corpo. O ator toma corpo no
viés mais superficial da observação (nível discursivo) e no viés relativo às profundidades
figurais (nível tensivo). Este último, que concerne às chamadas precondições da geração do
sentido, prioriza mecanismos segundo os quais o que é da ordem do sensível, em correlação
com o inteligível, afeta o sujeito” (DISCINI, 2015, p. 18).

“No que tange a semiótica, em termos de uma narratividade entendida como subjacente a todo
texto, deduzimos que, no âmbito do esquema narrativo, a disposição sempre fundará o sujeito
de estado, contemplado antes da própria ação. Se cotejada em relação ao ato judicativo, que
tem um fim imanente, em si, que é fazer-crer, o que a confirma no nível discursivo como
feixe de argumentos e a apropriação ideológica dos valores que permeiam os níveis
fundamental e narrativo, a disposição ficará circunscrita ao perfil social do ator, assim
inclinado a uma aspectualização télica, tomando o télos como o próprio fim persuasivo. Télos
é um termo grego que nomeia o fim contido num processo, desde o início deste. O contrário
disso acontece em relação ao ato contemplado como expressão da percepção sensível, em que
é atenuada e minimizada a disposição do sujeito como reparação do ato voluntario, que supõe
tomada de posição na valoração ética. Passa então a valer a disposição como um estado
decorrente das afecções sofridas pelo sujeito diante dos objetos, coisas-do-mundo, enquanto o
ator inclina-se aspectualmente para a atelicidade” (DISCINI, 2015, p. 21).

“Dá a entender então um sujeito cotejado em suas disposições que, não voluntárias, vinculam-
se à coisa-do-mundo, o objeto, na medida em que a ‘situação’ afeta esse mesmo sujeito, ao
inspirar nele sentimentos distintos: um sujeito no mundo, passível de suportar o que lhe
sobrevém, conforme a visada que lança sobres os objetos” (DISCINI, 2015, p. 21).

“Parece, assim, esboçar-se um corpo à mercê do mundo que o habita. A partir daí entendemos
encontrar algum respaldo para a noção de sujeito ‘passivo’ componente da percepção
sensível, manifestada com prioridade em perfil próprio no processo de aspectualização
actorial. Referimo-nos ao perfil pático, que, na esfera da experiência afetiva, diz respeito ao
sujeito posto à mercê da incidência do sensível sobre o intelegível, o que o distingue do outro,
relativo à esfera das decisões judicativas. Aquele que está pressuposto a este, na contiuidade
estabelecida entre ambos, para que se processe a composição do corpo actorial” (DISCINI,
2015, p. 21).

“Por sua vez, o Pathos, concebido como sentimento, é também pressuposto à actorialização,
enquanto decorrente da formulação actancial de temas ou de percursos temáticos, o que
convoca as formações discursivas que organizam semanticamente o dito e o dizer. O páthos
articula-se à latência sensível do próprio lógos. Essa latência manifesta-se num enunciado e
em outro e no intervalo entre eles como conotação própria ao lógos de uma totalidade”
(DISCINI, 2015, p. 22).

“A voz do autor, depreensível de uma análise estilística, se definirá segundo a incorporação


daqueles recrudescimentos e atenuações, grandezas tensivas, que quantificam a conotação do
lógos como afetividade. O sensível, na organização do corpo do ator, está no perfil social e
está no perfil pático propriamente dito; oscila, em ambos os perfis, na incidência entre um
grau pequeno, minúsculo, até ínfimo, segundo o qual recai sobre a conotação; ou, num
processo de restabelecimento, oscila entre uma grande e até colossal incidência sobre a
conotação” (DISCINI, 2015, p. 22).

 Parece relacionar-se, de algum modo, com a questão da persistência de uma forma de


vida. Se a conotação, entendida como a “presença do todo nas partes e das partes no
todo”, pode ser mais ou menos intensa, ela reflete, de algum modo, o grau de
engajamento de um sujeito com uma forma de vida ou com um estilo?

“Na convencionalidade, entendemos haver um embrião da conotação” (DISCINI, 2015, p.


23).
 Lógos: razão, lógica, fala, discurso. Enunciado representativo?

“Entendido como signo posto sob um ponto de vista discursivo, o lógos é correlato ao
processamento do corpo do ator da enunciação” (DISCINI, 2015, p. 23).

“À arbitrariedade sígnica, considerada no âmbito da língua, equivale, no circuito dos estudos


sobre o discurso, as visadas de um ator da enunciação, apresentado em seu processo de
construção ao ser cotejado como aspecto” (DISCINI, 2015, p. 23).

“Por meio de ambos os perfis, interdependentes, já que correlacionados, dá-se a ver o éthos
que, como imagem de ‘quem diz’ dada por um modo sistematizado de dizer e depreensível de
uma totalidade de enunciados, vincula-se à concretização discursiva de um estilo. Ao
operarmos com a noção de duplo perfil, somos remetidos ao ator e a seus modos de
apresentação: modos de aparecimento como quase-presença. Retomamos à quase-presença,
que se instala em cada enunciado segundo os perfis constituintes do éthos. Instala-se também
no intervalo entre um enunciado e outro, para que se confirme a totalidade como determinado
conjunto de textos, ao qual subjaz u m princípio unificador. Esse princípio apresenta-se em
atualização e, a partir daí, realiza-se” (DISCINI, 2015, p. 23).

“O todo, que concerne a uma totalidade de discursos, é subjacente não só a cada texto
componente de determinado conjunto, mas é também subjacente às distintas fases da quase-
presença, por meio das quais se manifesta o princípio unificador de estilo. Esse princípio
desempenha um papel de sistematização do sentido no interior de cada um dos enunciados
assim reunidos. Desempenha ainda o pepal de orientação do que ocorre no intervalor entre um
enunciado e outro. Tal intervalo, disposto segundo a orientação imprimida às relações
estabelecidas entre as variadas fases da quase-presença, faz emergir as distintas densidades da
própria presença” (DISCINI, 2015, p. 23).

“Um observador, como actante que apara a discursivização da pessoa ao longo da totalidade,
garante o princípio unificador que respalda o estilo. Por meio desse actante, definido como
‘sujeito cognitivo’ (Greimas e Courtés, 2008: 347), o ator mostra-se segundo a categoria de
‘aspecto’ que, pensada discursivamente, diz respeito ao tempo e ao espaço [....]” (DISCINI,
2015, p. 23).
 A aspectualização da pessoa, ou seja, sua ‘colocada em processo’, supõe:

1. “Contemplá-la nas conversões sofridas pela significação, na passagem de um nível


para outro do percurso de geração do sentido [...]. Para isso, na dimensão interna ao
texto, é priorizada a semântica que respalda o ator, tal como preenchido por papeis
temáticos no nível discursivo. Os mecanismos de construção do sentido são pensados
aí, enquanto sustentam a quase-presença, efetivamente realizada no plano do
discurso” (DISCINI, 2015, p. 23-24)
2. “Contemplá-la, no interior de cada texto, no nível tensivo, considerado aquém do nível
fundamental e além dele. Está aquém, pois é pressuposto a todo o percurso gerativo, já
que respalda as movimentações sintático-semânticas orientadas para a argumentação
discursiva, e as respalda por trazer à luz a percepção, que subjaz ao juízo predicativo
realizado em cada enunciado. Está além, pois potencializa a quase-presença como
campo de presença, não só em todos os níveis do percurso gerativo e na passagem
entre eles, mas também no intervalo entre um texto e outro, para o que contempla
oscilações da própria percepção. A percepção oscila segundo um enforque que
concerne ao ‘acento de sentido’ de um olhar quantificado como mais ou menos intenso
e impactante no encontro com o mundo. Em correção à intensidade desse olhar, o
mundo é espacializado de modo mais (ou menos) concentrado e é temporalizado de
modo mais ou menos breve” (DISCINI, 2015, p. 24).

 Esse actante observador é quem PELO AMOR DE DEUS NORMA DISCINI?/???

 Recrudescimento: tornar intenso.

“Cada enunciado encerra em si o princípio unificador que rege a presença do todo nas
partes, para que tenhamos a totalidade estilística. A totalidade correspondente a um estilo
tem organização própria. No interior de cada enunciado e no intervalo entre eles, um
princípio unificador vincula-se à quase-presença, a qual se dá por meio de distintos estatutos
da própria densidade. A densidade da presença é correlata à semântica discursiva, enquanto
papeis temáticos canalizam julgamentos éticos; é correlata à percepção sensível, enquanto o
páthos manifesta-se conforme disposições de um sujeito exposto às afecções que o atingem
no encontro com o mundo. Aqui são levados em conta movimentos da percepção, tal como
detectáveis nas profundidades figurais do discurso (nível tensivo)” (DISCINI, 2015, p. 24).
“Assim, a quase-presença apresenta-se: ora na dêixes da ausência, em que, ainda virtualizada
e potencializada, é reconhecida como fraca e átona; ora na dêixes da presença, considerada de
densidade forte e tônica, o que corresponda às etapas relativas a uma presença realizada e
totalizada. Na dêixes da presença, mantém-se a totalidade integral (presença atualizada)e a
unidade integral (presença realizada, se pensarmos no conjunto de textos fundantes de um
estilo” (DISCINI, 2015, p. 24).

Detalhes sobre a metodologia:

“A orientação imprimida à construção do sentido, sustento para o processamento do corpo


actorial, é pensada em duas direções: a) na organização do sentido da totalidade, enquanto
encadeamento sintagmático entre os textos; b) na organização do sentido no interior de cada
texto, enquanto transformações no eixo paradigmático do percurso gerativo do sentido,
instrumento que contempla o plano do conteúdo de cada texto. O percurso gerativo do
sentido, tripartido em níveis, do mais abstrato ao mais concreto, organiza-se de tal modo que
um nível faz surgir outro, já que todos eles têm algo em comum. A conversão de um nível a
outro é garantida por mecanismos de aspectualização do ator da enunciação, processados no
interior de cada texto” (DISCINI, 2015, p. 24-25).

“Para a primeira orientação referida, valem as distintas densidades da presença no coteko de


um texto com outro, encadeados linearmente na totalidade; daí se depreende a emergência
do corpo actorial que, como estilo, é confirmado nas distintas etapas da própria consistência
(compacta, na dêixes da presença; difusa na dêixes da ausência), o que corrobora o
princípio unificador na sua alternância ao longo do todo, que radica as partes (cada parte
vista como um dos enunciados que compõem a totalidade). A partir daí, o estilo visto num
único texto corresponde a uma presença percebida sob o estatuto de realizada” (DISCINI,
2015, p. 25).

“A segunda direção da construção do corpo actorial, de acordo com as distintas densidades da


presença (de um lado, realização e atualização; do outro, virtualização e potencialização), diz
respeito àquilo que sucede internamente a cada texto, num plano do conteúdo pensado na
pressuposição recíproca com o plano da expressão. Trata-se dos mecanismos segundo os
quais a enunciação se enuncia, ou segundo os quais a enunciação se instala no seu lugar de
fato e de direito: o nível discursivo dos textos. Aí a enunciação, ao enunciar-se, instala-se
sintaticamente como pessoa e realiza-se semanticamente como ator, de acordo com um efeito
de identidade” (DISCINI, 2015, p. 25).

“A moralização permite entrever, no nível discursivo de cada enunciado, o ‘tema de sua


produção’, segundo a relação estabelecida entre aquilo que é tematizado e o modo como a
tematização se processa, o que confirma uma avaliação moral. Aqui fica esboçada a
formulação actancial dos temas ou dos percursos temáticos, a qual, para subsidiar o ‘tema da
produção’ pressuposto ao modo de dizer, radica, para o ator da enunciação, o papel de
avaliador” (DISCINI, 2015, p. 25).

“Por meio desses recursos, ao longo da totalidade, a enunciação se apresentará conforme um


sistema judicativo remete não a uma lista de temas próprios a um estilo, mas a um corpo ético
que, como esquema discursivo, subjaz, na sua invariância, a diversidade dos atos particulares
da enunciação, reunidos sob o princípio unificador que rege a totalidade” (DISCINI, 2015, p.
27).
 A noção de esquema veio de Hjelmslev, segundo nota da página 86.

“Ao discorrer sobre ‘a competência do sujeito da enunciação assim como sua performance’ e
confirmar o destinador manipulador como um ‘destinador sócio-histórico’, Barros (2002:
141) corrobora a função de um actante que, ao desempenhar actorialmente o papel temático
de produtor, constitui a orientação dos valores contextuais incorporados pelo texto.
‘Determinar os destinadores do sujeito da enunciação corresponde a inserir o texto no
contexto de uma ou mais formações ideológicas, que lhe atribuem, no fim das contas, o
sentido” (DISCINI, 2015, p. 27).

“No interior de cada enunciado, a enunciação projeta-se como quase-presença, em todos os


níveis do percurso gerativo do sentido. Considerada a partir do nível discursivo (presença
realizada), a enunciação atualiza-se no nível narrativo, para virtualizar-se no nível
fundamental. O movimento inverso também é legítimo engendramento do sentido” (DISCINI,
2015, p. 28).

 A potencialização da presença corresponde à sedimentação de temas e figuras e


valores.
 Conceito de potencialização, formulado por Tati: “potencializar significa passar de um
estado de realização para um estado ‘potencial’, latente, inativo, configurando uma
amenização do impacto da experiência para que esta possa durar na mente do
indivíduo” (2010, p. 156, apud DISCINI, 2015, p. 29).
 Tati ainda disintigue:
a) Potencialização átona: leva em conta a perda da densidade da presença.
b) Potencialização tônica: diz respeito “as crenças essenciais, assumidas e que,
provavelmente, serão incentivos para novas atualizações [...] Entretato, um
conteúdo que tenha sido presença marcante na experiência do sujeito
sempre conservará uma espécie de saudade da comoção, cujo valor tônico
incita as reatualizações e as futuras realizações em novas formas
semióticas”. (TATI, 2010, p. 156 apud DISCI, 2015, p. 29).

“Juntando as ‘crenças essenciais’ com a saudade da comoção, entendemos que a


potencialização tônica, quanto à densidade da presença, concerne a uma ‘saudade da
essência’: passa-se da fase potencializada para a fase virtualizada, em que é acolhido o corpo
como esquema: redução, abstração, essência. A potencialização tônica é, então, priorizada a
partir de uma foria considerada como ‘força que leva a diante’” (DISCINI, 2015, p. 29).

“Acontece que, para Greimas, o ser vivo não se relaciona com essas categorias
[integração/transgressão] sem nelas imprimir sua marca sensível. Assim, de acordo com o
contexto em exame, todo microuniverso semântico contém um índice axiológico, ou seja, é
portador de valores considerados atraentes ou repulsivos [...]. De fato, se tomarmos a foria
como uma força que transporta as categorias semânticas, torna-se plausível admitir que estas
últimas já surgem conformadas por modulações tensivas. A euforia opera com a passagem das
relações tensivas, caracterizadas por rupturas, às relações relaxadas, as que restabelecem os
elos contínuos entre os elementos. Contrariamente, a disforia compreende a passagem das
continuidades às descontinuidades que geram as tensões” (TATI, 2015, p. 199, in:
Introdução à linguística. Objetos teóricos. FIORIN, J. L. (Org.) 2015).

“Imbrica-se à enunciação, como semantização actorial, com a enunciação que, como quase-
presença, enuncia-se também por meio dos componentes tensivos, considerados num nível
aquém do próprio percurso: num nível que procura trazer à luz relações primordiais entre o
que afeta sensivelmente o sujeito e o modo como ele mostra-se afetado” (DISCINI, 2015, p.
29).

Nível fórico ou tensivo  “[...] concerne a um horizonte fluido, em que se recupera, para ser
desfeita, a cisão sujeito/objeto, ao ser levado em conta ‘o elo de atratividade que permanece
após a cisão, conduzindo o sujeito ao restabelecimento de sua identidade pela recuperação do
objeto (TATI, 1998, p. 16)’” (DISCINI, 2015, p. 29).

Um fluxo fórico “confirmado por Tati, de modo a sugerir algo que dura na percepção, a qual
contém sujeito que percebe e coisa percebida” (DISCINI, 2015, p. 29).

“A quase-presença para então a ser considerada mediante sua instalação no nível tensivo,
como presença potencializada. Enquanto isso, movimentos de potencialização da presença
percorrem todos os níveis do percurso gerativo, para ambientar seja a semantização que
prepara a formulação actancial dos temas, do que decorem os papéis temáticos do ator, seja a
protensividade do corpo” (DISCINI, 2015, p. 29).

“A presença como percepção concerne a um sujeito passivo, que recolhe as impressões


afetivas do mundo e as retém numa temporalidade que diz respeito à duração: ao modo como
a afecção dos objetos dura na percepção. Assim considerada, a presença confirma seu
território de instalação na deixes da ausência, no polo da potencialidade” (DISCINI, 2015, p.
30).

“Nas profundidades figurais, pressupostas à dimensão figurativa do nível discursivo,


confirma-se a enunciação que, como quase-presença, mostra-se na dêixes da ausência, tal
como instalada no nível tensivo-fórico, correlato à potencialização da própria presença. Esse é
o nível considerado aquém do plano do conteúdo de qualquer texto, na medida em que está
pressuposto a relações semânticas fundada no ato de moralizar o mundo, as quais se
respaldam nos valores axiológicos (nível fundamental), convertido em objeto de valor (nível
narrativo), este concretizado em valor ideológico (nível discursivo). Na dimensão temático-
figurativa do nível discursivo temos a densidade de presença realizada, a qual supõe a
narratividade enunciativa numa hierarquia de programas: o enunciador é o actante
performativo de um programa narrativo de base; o enunciador é também o destinador e
sancionador de um programa de uso” (DISCINI, 2015, p. 32).
 Conceito de presença no Dicionário: “2. Na perspectiva semiótica, a presença (o estar
aí) será considerada como uma determinação atribuída a uma grandeza, que a
transforma em objeto de saber do sujeito cognitivo. Tal acepção, essencialmente
operatória, estabelecida n quadro teórico da relação transitiva entre o sujeito do
conhecimento e o objeto cognoscível, é muito ampla: estão presentes, neste caso,
todos os objetos de saber possíveis e a presença identifica-se, em parte, com a noção
de existência semiótica. 3. A oposição categoria presença/ausência surge, então, como
uma possibilidade de distinguir dois modos de existência semiótica. Assim, o
reconhecimento de um paradigma, por exemplo, implica – ao lado de um termo
presente (in presentia) na cadeia sintagmática – uma existência ausente (in absentia)
dos outros termos constitutivos do paradigma. A existência in absentia,que caracteriza
o eixo paradigmático, corresponde a uma existência virtual, ao passo que a existência
in presentia, de ordem sintagmática, é uma existência atual (trata-se, evidentemente,
dos modos de existência das unidades e das classes sintagmáticas, e não dos modos de
existência de uma palavra-ocorrência ‘real’, pó exemplo, que não manifesta, sob a
forma de uma grafia, senão a substância de seu significado” (GREIMAS; COURTÉS,
2015, p. 382-383).

 Verbete “Existência semiótica”, do Dicionário: “1. Consagrando-se ao estudo da


forma, e não ao da substância, a semiótica não poderia permitir-se juízos ontológicos
sobre a natureza dos objetos que analisa.

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