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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia


Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Antropologia e Estado 2018.2
Profª. Drª. Ana Paula Comin de Carvalho &
Profª. Drª. Eliane Cantarino O'Dwyer

Uma Antropologia do Estado “fora do Estado”? Reflexões iniciais sobre os


desafios de etnografar canidatos à carreira policial no Rio de Janeiro

Aluno: Eduardo de Oliveira Rodrigues


1

Introdução

A relação da Antropologia com o Estado constitui-se enquanto uma relação estabelecida há


muito tempo. De diferentes maneiras, o saber antropológico foi comumente colocado a serviço do
Estado na conformação de diferentes espaços políticos delimitados por fronteiras nacionais ou
mesmo imperiais, sobretudo se pensarmos no contexto da Europa desde o século XIX. O exercício
político de submissão de sociedades e culturas ao domínio de estados ou impérios modernos acabou
por fomentar, ele próprio, o princípio da alteridade que imprime certo ritmo ao fazer etnográfico até
os dias atuais. Na leitura de L’Estoile, Neiburg e Sigaud (2002), este princípio normativo deu aos
antropólogos o caráter de “especialista” na descrição e classificação de grupos tidos como
“primitivos”, “subdesenvolvidos” ou “tribais”, notadamente a partir de estudos comparativos que
tomavam o universo dos antropólogos enquanto principal referencial de análise. Mesmo após as
mudanças teórico-metodológicas que levaram a Antropologia a se constituir enquanto ciência
interessada na compreensão da diferença (Boaz, 2004), o saber antropológico continuou a ser
colocado a serviço do Estado em prol de empreendimentos coloniais por todo o mundo. Diferentes
etnografias vistas hoje como “clássicas” foram produzidas neste regime, a exemplo dos trabalhos
realizados nas colônias do império britânico por Evans-Pritchard (1978), Firth (1998), Leach
(1998), Malinowski (1978), entre tantos outros.
Já na realidade brasileira, a submissão do Outro é um problema que aparece em outra escala
de análise. Ele emerge da relação entre o Estado e a Antropologia no empreendimento da integração
dos chamados “povos tradicionais” a diferentes projetos de “desenvolvimento” operados no campo
e na cidade desde pelo menos os anos 1950 (Lima, 2015). Para O’Dwyer (2018), o termo “povos
tradicionais” compreende uma diversidade de situações sociais alinhavadas por condições de
existência opostas às ideias de “modernidade”, “desenvolvimento” e “progresso” defendida pelos
poderes econômicos e políticos hegemônicos. A oposição entre o “tradicional” e o “moderno” foi
capaz não só de estruturar inicialmente a relação Estado-Antropologia no Brasil, como também de
construir práticas de representação de certas categorias como índios, quilombolas, camponeses ou
favelados enquanto empecilhos ao “desenvolvimento” imposto pelo Estado. Os antropólogos
passaram então a ser chamados para realizar a mediação dos conflitos surgidos na esteira de tais
projetos, através de uma espécie de “tradução” entre idiomas nativos oriundos do encontro entre
universos simbólicos estruturalmente opostos. Trabalhos como os de Carvalho (2010), Lima (2002),
Oliveira (2002), Pantaleon (2002), Santos (1981), Valladares (1978), Vaz (1994), Zhouri e Gesta
2

(2013), entre outros, lançam um olhar crítico sobre alguns dos problemas derivados deste encontro
no tocante à realidade brasileira.
Todavia, o fato da relação entre a Antropologia e o Estado ser algo estabelecido não significa
que esta mesma relação esteja, da mesma forma, consolidada. Como apontam novamente L’Estoile,
Neiburg e Sigaud (2002), desde pelo menos os anos 1950 ela foi objeto de inúmeras críticas sobre o
papel da Antropologia enquanto saber a serviço do colonialismo e da própria expansão do sistema
capitalista. O surgimento da chamada “antropologia militante”, colocada agora a serviço das
“minorias”, ou seja, das populações subjugadas por este mesmo Estado, é parte de todo um processo
que passou a tomar as dimensões políticas e éticas que sempre estiveram ligadas ao fazer
etnográfico enquanto problema. É interessante notar que, apesar das críticas, o recorte empírico dos
antropólogos tenha continuado a ser praticamente o mesmo de antes. Isto significa dizer, em outras
palavras, que embora a perspectiva pós-colonial tenha lançado novas luzes sobre a relação que o
antropólogo estabelece para com os seus “nativos”, estes mesmos “nativos” continuaram
delimitados por uma alteridade distante do próprio pesquisador, alimentada em grande medida pelo
estudo do “exótico” ou ainda do “subalterno”. A própria ideia do trabalho de campo no horizonte
antropológico, como argumentam Clifford (1997) e Gupka e Fergurson (1997), esteve ligada a
práticas como o estudo de tais categorias, via de regra empreendidas através de saída para um lugar
distante de casa, do encontro com línguas “diferentes”, com a ideia de residir entre “nativos”, etc.
Os autores concordam que, apesar das críticas hoje direcionadas ao referido problema, tais ideais
normativos ainda exercem uma poderosa força reguladora sobre a ideia do que seria um trabalho de
campo “real”, ou mesmo no desenho de certa hierarquia entre os “campos” que seriam mais ou
menos “antropológicos” do ponto de vista da experiência radical da diferença.
É neste sentido que o trabalho seminal de Nader (1972) tensiona o campo de estudos da
Antropologia para “cima”, em direção ao estudo de grupos ou classes politicamente dominantes e
atuantes em diferentes arenas. Tal perspectiva abre caminho também para pensarmos em uma nova
relação entre a própria Antropologia e o Estado, uma vez que ele passa a ser tomado também
enquanto categoria de análise, passível de ser apreendido em termos de relações, processos,
estruturas, funções, etc. O saber antropológico deixa de ser apenas um instrumento “a serviço do”
e/ou “de resistência ao” Estado, mas sim enquanto ferramenta importante para compreender o
conjunto de práticas que conformam aquilo que costumeiramente chamamos de “Estado” 1. Mesmo
1
Ao reconhecer a importância das críticas ao papel da Antropologia enquanto “saber a serviço do Estado”,
L’Estoile, Neiburg e Sigaud (2002) apontam também para a necessidade de superação dos limites decorrentes do uso
das lentes da denúncia e do engajamento. Para os autores, a compreensão da relação dos antropólogos e os Estados só é
possível ao se levar em conta o caráter simultaneamente estrutural e estruturante desta relação, para além das
3

diante desta nova perspectiva, os estudos para “cima” só se estabelecem no Brasil mais
recentemente, em especial pela inserção profissional dos antropólogos em certos segmentos do
mercado – ou, muitas vezes, pela sua inserção dentro do próprio Estado – que possibilitaram assim
o acesso privilegiado a dados e outras informações para pesquisas sobre o “poder” (Bronz, 2016,
Cid, 2005, Heredia, 2008, entre outros).
Toda essa mudança na perspectiva da relação entre Estado e Antropologia implica também
em novos desafios para o próprio antropólogo na realização do seu trabalho. Na visão de Lima
(2015), não se trata mais somente de abordar o ponto de vista dos afetados por certas ações do
governo, mas também de descrever e compreender a forma como pensam e atuam os formadores de
políticas e tomadores de decisão, ou seja, de construir outro olhar capaz de ampliar a “gama de
significados sociais do fazer político” (idem, p. 32). Ampliar os sentidos do “fazer político” exige
aplicar também novos investimentos analíticos sobre o que comumente definimos enquanto
“Estado”, ou mesmo a tomada de sua “ausência” enquanto objeto de conhecimento (Das e Poole,
2008), dado o universo de um país como o Brasil, onde a maioria das nossas etnografias são
realizadas. Na abordagem defendida por Fonseca et al (2016), alargar o horizonte analítico sobre o
Estado sugere tomá-lo enquanto uma “tecnologia de governo” voltada para o “bem-estar das
populações”, de maneira a possibilitar diagnósticos médicos, cadastros de gestores públicos,
burocracias policiais, políticas de segurança, formas de coordenação organizacional, etc. Em suma,
pensar em tecnologias de governo enquanto técnicas que animam os processos de formação do
próprio Estado, não necessariamente a partir e no Estado, mas em espaços que muitas vezes se
encontrariam, a princípio, fora dele.
Neste sentido, o presente trabalho propõe, a partir dos problemas colocados acima, refletir
sobre alguns desafios ligados à pesquisa junto a setores do Estado brasileiro. Ao propor etnografar
os candidatos ao concurso do ciclo das “praças” da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
(PMERJ), proponho compreender, em primeiro plano, tanto o horizonte simbólico que informa as
narrativas destes sujeitos sobre o “ser policial” (Muniz, 1999), quanto as expectativas que os levam
a querer ingressar nas fileiras da polícia militar fluminense. Como pano de fundo, meu interesse
também é compreender como os processos do “fazer Estado” se capilarizam de diferentes maneiras
pela própria sociedade, já que estamos a falar de sujeitos que pretendem se incorporar a um setor do
Estado brasileiro em específico. Devido aos limites de um trabalho neste formato, ele será dedicado
especificamente a um problema de ordem teórico-metodológica que pode ser colocado da seguinte

moralidades que informam certas formas de conceber e praticar a Antropologia como menores ou mesmo patológicas.
4

maneira: em que medida uma etnografia sobre os candidatos ao concurso do ciclo das “praças” da
PMERJ se constitui também enquanto uma Antropologia do Estado, dado o papel da polícia
enquanto tecnologia de governo no controle de populações de modo geral, mas que, todavia,
possui especificidades no tocante ao nosso país? O debate sobre o referido problema será
encaminhado em duas partes. Primeiramente, busco compreender, do ponto de vista teórico, como
uma etnografia sobre os candidatos à carreira de policial militar se constitui também em uma
etnografia sobre o próprio Estado. Em seguida, o debate segue com alguns apontamentos sobre os
desafios de pesquisar setores estatais da área de “segurança” no Brasil, em especial quanto ao
problema do controle social operado através da “gestão dos ilegalismos” (Foucault, 1994). A
bibliografia utilizada segue em grande medida as referências sugeridas pela disciplina
“Antropologia e Estado” oferecida no semestre 2018.2 pelas professoras Drª Ana Paula Comin de
Carvalho e Dr.ª Eliane Cantarino O’Dwyer.

Uma Antropologia do Estado fora do Estado?

Uma contribuição importante que a Antropologia trouxe para o campo das ciências sociais,
diz respeito ao alargamento do horizonte de estudos da “política” para além do Estado. Autores
como Bevilaqua e Leirner (2000), afirmam que um dos méritos dos primeiros estudos
antropológicos sobre sistemas políticos africanos foi, justamente, permitir outra leitura da
sociedade, capaz de enxergá-la sob o prisma do poder sem a mediação do Estado, ou ao menos do
Estado na acepção “moderna” do termo. De modo concordante, Kuschnir e Carneiro (1999)
mostram que tal empreendimento lançou novas luzes sobre a dinâmica geral da vida social, uma vez
que outros caminhos para compreender a política fora da presença de instituições baseadas nos
modelos da sociedade ocidental foram pavimentados. Grosso modo, a escola estrutural-
funcionalista britânica desenvolveu particular interesse pelo estudo dos modos de organização das
sociedades africanas. Houve todo um esforço no desenvolvimento de diferentes etnografias sobre
vários povos do continente, que contribuíram na fundação do que se convencionou chamar de
“Antropologia Política”. Trabalhos como os reunidos na coletânea organizada por Evans-Pritchard e
Meyer Fortes (1940), Firth (1998), ou mesmo a própria monografia de Evans-Pritchard (1978)
sobre os “Nuer” contribuíram nesta mesma direção. A presença do Estado não era mais vista
enquanto único elemento capaz de explicar a organização política de uma dada sociedade, nem
tampouco enquanto padrão universal de sofisticação da sua respectiva cultura.
5

Nesta mesma direção, Clastres (1982) radicaliza a problemática do poder quando argumenta
que a política estaria enraizada nos planos mais profundos da sociedade humana, dentro de uma
lógica diferente da associação entre poder e coerção, ou mesmo entre poder e violência 2. A própria
sociedade poderia se colocar “contra” o Estado, uma vez que o poder não possui necessariamente
um caráter coercitivo, que imprime legitimidade ao aparelho estatal em uma perspectiva weberiana.
A fundação do poder em outros contextos, como nas sociedades ameríndias (foco dos estudos
etnográficos de Clastres), ocorre através de um regime da coletividade, cuja finalidade repousa
sobre a manutenção do caráter solidário, indiviso e fortemente horizontal da vida social. No final
das contas, todos esses trabalhos culminaram em consolidar a ideia de que as relações de poder são
intrínsecas às relações sociais em nosso mundo, transformando tal assertiva em um fio condutor que
orienta os estudos antropológicos nas suas análises sobre a política (Kuschnir e Carneiro, 1999).
Deriva daí um ponto importante. Uma vez que a Antropologia sugere problematizar e
ampliar o horizonte de entendimento da política para “além do Estado”, a própria definição do que
seria o Estado passa a ser também colocada enquanto questão. De modo geral, se pensarmos de um
ponto de vista analítico, de que Estado estaríamos falando afinal? Um possível encaminhamento
para tal pergunta é suscitada por Kuschnir (2007) na sua análise dos pressupostos do campo da
“Antropologia da política”. Mesmo não tematizando o Estado enquanto problema, a autora defende
que uma Antropologia da política só faz sentido se a “política” ou o “mundo da política” não forem
tomados como um dado a priori, mas sim enquanto fenômenos que necessitam ser investigados e
definidos a partir das formulações e comportamentos de pessoas e contextos particulares. Em outras
palavras, a escala de análise do fenômeno da política só pode ser definida através do “fazer
etnográfico”.
Se direcionarmos este mesmo olhar para o problema do presente trabalho, poderíamos
reformular a pergunta feita anteriormente e indagar sobre os limites da definição do Estado
enquanto uma categoria analítica também a priori. Autores como Abrams (2006), Das & Poole
(2004), Foucault (2008), Lima (2015), dentre outros, apresentam um olhar crítico sobre o problema.
Mais do que um recorte institucional, o Estado pode ser lido também através dos seus processos de
formação, passíveis de serem apreendidos através de relações, estruturas, atores e funções que
imprimem um conjunto de significados compartilhados sobre o que seria este mesmo Estado.
Valorizar as dimensões de processo, fluxo e performance, para Lima (2015:35), exige que tais

2
Foge dos propósitos do trabalho uma análise pormenorizada do debate sobre as relações entre “poder”
(sobretudo o poder do Estado) e a violência. Para algumas dimensões do debate, ver Eisner (2003), Imbush (2003) e
Schinkel (2010).
6

estudos sejam operados no sentido “de baixo para cima”, de maneira a permitir “teorizar a partir das
etnografias e não etnografar comprovando teorias pré-estabelecidas”. Não seria possível, portanto,
estabelecer um recorte analítico preciso sobre o que seria o Estado de antemão.
A proposta conceitual de Abrams (2006) permite pensar em etnografias sobre setores estatais
a partir de duas categorias simultaneamente distintas e complementares: a primeira, denominada
“sistema-Estado” (state system), refere-se ao conjunto de instituições e agentes que conformam a
administração pública “em ação”. A segunda categoria, denominada “Estado-como-ideia” (ideia of
the state), diz respeito ao conjunto de representações, símbolos e significados que compõem o
“fazer Estado”. Pensar o “Estado-como-ideia” seria assim pensá-lo fundamentalmente enquanto um
exercício político permanente de tensionamento e legitimação, que ocorre através das práticas das
partes imediatamente presentes no “sistema-Estado”, ou seja, do próprio governo, da burocracia
administrativa, dos militares, da polícia, do judiciário, das assembleias governamentais e
parlamentares, entre outras esferas. (idem, p. 122). Trata-se de uma sugestão de leitura do Estado
não enquanto um objeto material dotado de racionalidade própria e de coerência, capaz de ser
claramente delimitado a partir de suas instituições e agentes públicos, mas sim enquanto um
processo dinâmico e inconcluso de formação sob uma perspectiva performativa, que opera na
construção e desconstrução permanente de realidades da vida cotidiana (Lima, 2015). Esta
operacionalização conceitual permite compreender, por exemplo, um programa na área da
“segurança” enquanto uma das partes de um processo maior ligado ao “fazer Estado”, que se afasta
de uma perspectiva uniformizada e racionalizada encontrada nas teorias clássicas sobre as políticas
públicas em geral3.
Esta perspectiva, por sua vez, se aproxima também da noção de “tecnologias de governo”
apresentada por Fonseca et al (2016), que percebe o Estado como resultado de tecnologias de poder
e não como um ente transcendente e autônomo em relação a estas. A ideia de governamentalidade
inscrita em Foucault (2008) anima tal noção. Para o autor o Estado não é a fonte, mas sim um efeito
ou resultante de processos que dizem respeito ao problema de como os indivíduos governam a si e
como eles são governados enquanto população. Se as sociedades modernas são simultaneamente
disciplinares e biopolíticas, ou seja, se o corpo e a população são tomados enquanto objeto de
normatização, é justamente porque o poder não se identifica com uma instituição ou um aparelho

3
Tal perspectiva está relacionada à tradição que Kuschnir e Carneiro (1999) apontam como hegemônica na
Ciência Política contemporânea, pautada pela perspectiva racionalista que reconhece a autonomia dos arranjos
institucionais e constitucionais em relação às características culturais de uma dada sociedade. Abrams (2006) não só
reconhece a importância de tal perspectiva, como aponta seus limites para compreender o Estado ao tomá-lo como uma
entidade autônoma e separada da sociedade.
7

em específico, mas porque ele é capaz de circular e atravessar todos eles. Neste sentido, tomar o
Estado enquanto “efeito” significa dispender especial atenção sobre as “técnicas, engenharias,
engrenagens, materialidades e mediações diversas em que as relações de poder funcionam e se
exercem” (Fonseca et al, 2016 p. 12). Tudo isso muito mais dentro de uma perspectiva que
privilegie os microespaços onde se operam a construção das subjetividades e formas de
assujeitamento indexadas no processo de “fazer Estado”, do que na alvorada dos discursos
“oficiais” sobre este mesmo processo. Trata-se de um esforço em lançar luzes sobre os espaços mais
obscuros das esferas que conformam o “sistema-Estado”, que diz respeito, no caso do presente
trabalho, à própria polícia fluminense.
Quando proponho etnografar candidatos à prova da PMERJ, meu esforço é de justamente
privilegiar certos espaços de construção simbólica do “ser policial” até agora pouco visitados.
Tradicionalmente, os trabalhos que pensaram diferentes problemas ligados à instituição “Polícia
Militar” e em seus agentes direcionaram o seu olhar para os espaços de formação e prática policial –
como as escolas de formação das “praças” e dos “oficiais”, os “Batalhões de Polícia Militar”
(BPM), grupamentos especiais como o “Batalhão de Operações Especiais” (BOPE), etc. Trabalhos
acadêmicos como os de Caruso et. alli (2005), Caruso, Patrício, Pinto (2010), Silva (2011), Storani
(2006), entre outros, sinalizam os percalços da formação fortemente militarizada da polícia nas
escolas de formação – além do saber prático dos policiais adquirido nas ruas – como indutores da
lógica da guerra na construção de práticas policiais beligerantes.
Os trabalhos mencionados acima conformam apenas uma pequena amostragem de um
universo maior, cujo fio condutor das análises afirma o papel lapidar que a formação policial,
enquanto “rito de passagem” (Van Gennep, 1978), exerce na construção do “ethos guerreiro” das
polícias. Este esforço em diagnosticar o problema possui importância não só do ponto de vista
acadêmico, pois ele gerou alguns desdobramentos também para fora das universidades. Desde pelo
menos os anos 2000, mudanças importantes nas escolas de formação foram feitas com a introdução
de disciplinas ligadas ao seara dos “Direitos Humanos” no ciclo das “praças” e principalmente dos
“oficiais” (Costa, 2015). No entanto, o balanço sobre as últimas políticas de segurança pública
fluminense realizado por Ramos (2016) mostra que tais mudanças não foram suficientes para
mitigar os problemas ligados à brutalidade e corrupção das práticas policiais no Rio de Janeiro. A
própria polícia e as políticas de segurança pública são, para a autora, os principais elementos para
explicar a variação da intensidade criminal na capital fluminense nas últimas três décadas.
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Apesar do esforço institucional de mudança, o diagnóstico negativo sobre o trabalho das


polícias abre caminho para a construção de uma perspectiva diferente de estudo sobre o problema.
Longe de negar os diagnósticos feitos até aqui, minha proposta busca problematizar os limites dos
espaços tradicionalmente apontados como o lócus da criação e operacionalização das práticas de
guerra e corrupção (ou seja, as escolas de formação, os “batalhões” e a própria “rua”) sobre a
formação e prática dos policiais militares. Compreender o conjunto de significados, valores e
expectativas que informam as narrativas construídas sobre a polícia por parte dos futuros “praças”
pode sugerir que muitos dos problemas diagnosticados na instituição podem estar presentes já no
próprio “mundo civil” anterior aos “rituais de passagem” onde a identidade militar dos quadros da
PMERJ é forjada.
Ademais, etnografar as práticas e discursos dos candidatos ao concurso da PMERJ enquanto
indivíduos que se propõem a “ser Estado”, em certo sentido, pode se configurar também em uma
maneira de perceber como o “fazer Estado” se capilariza pela vida social em seu cotidiano. Em
outras palavras, parto do pressuposto que a experimentação do Estado não se dá somente para
dentro dos seus limites formais, mas sim em direção a outras arenas que conformam processos ao
nível da construção das subjetividades dos sujeitos. Retomando Abrams (2006), se o “Estado-como-
ideia” diz respeito ao conjunto de representações, símbolos e significados que compõem o “fazer
Estado”, meu interesse é compreender como tais categorias aparecem no horizonte simbólico dos
futuros policiais, em especial do ponto de vista das “moralidades” que animam este processo. Se
pensarmos em tecnologias de governo como sugere Fonseca et al (2016:17), ou seja, enquanto uma
noção ampla e polissêmica que abarca “conjuntos de atividades práticas, produtos locais de
trabalhos coletivos de grupos heterogêneos de atores”, podemos pensá-las também enquanto
mecanismos de formação do próprio Estado, não necessariamente a partir e no Estado, mas em
espaços que muitas vezes se encontram também fora dele. Pensar em tais questões levando em
conta uma polícia circunscrita à realidade brasileira de modo geral, mas mais especificamente em
um estado como o Rio de Janeiro, todavia, exige algumas considerações sobre os desafios em
etnografar setores da área da “segurança” do ponto de vista da conformação da diferença,
particularmente considerando o papel do controle social a partir da “gestão dos ilegalismos”
(Foucault, 1994) operado pela polícia. A última parte do trabalho é dedicada a alguns apontamentos
preliminares sobre o problema.

O Leviatã e suas margens armadas: o problema dos “ilegalismos”


9

Pensar em etnografar a polícia fluminense é pensar em etnografar processos que redefinem


continuamente as dobras do legal e ilegal na cidade (Telles, 2010). O relato autobiográfico contido
Nogueira (2013), ex-policial militar preso desde novembro de 2009, corrobora tal assertiva ao
apresentar o cotidiano das práticas policiais por parte das “praças” e dos “oficiais” na cidade do Rio
de Janeiro. Inúmeros casos ligados a extorsão, roubo, sequestro, homicídio, latrocínio, estupro,
ameaça, tortura entre tantos outros crimes são relatados pelo autor como parte constituinte da
atuação das polícias – sejam nas ruas ou favelas cariocas. Tais narrativas, mais do que informar
situações que redefinem os limites entre o binômio “legal-ilegal”, representam também práticas e
discursos que conformam aquilo que Das & Poole (2004) chamam de “margens do Estado”. As
autoras, que se posicionam no mesmo campo epistêmico de crítica ao racionalismo e onisciência do
aparelho de Estado, propõem uma leitura da “ilegalidade” ou “ilegitimidade” das práticas estatais
não enquanto sintoma da sua “crise” ou mesmo “enfraquecimento”, mas sim como formas de
regulação que também conformam este mesmo Estado. Existem três perspectivas diferentes sobre o
que pode ser entendido enquanto “margem”: a) periferias que incluem pessoas que não foram
suficientemente socializadas na lei; b) questões ligadas à legibilidade e ilegibilidade das práticas do
Estado; c) um espaço entre corpos, lei e disciplina, de maneira que o controle estatal seja analisado
não somente no seu exercício sobre territórios, mas também sobre corpos que, enquanto população,
são o alvo privilegiado do biopoder (idem, p. 9-10). De maneira maior ou menor, as três dimensões
das “margens” sugeridas pelas autoras aparecem conjugadas quando pensamos nas práticas policiais
circunscritas ao recorte do Rio de Janeiro.
É importante perceber, entretanto, que não se trata aqui de qualquer “margem”. Como
argumenta Geertz (1989), perceber a singularidade daquilo que é comum num dado universo
simbólico faz parte do ofício da Antropologia. As práticas de controle social do Estado em suas
margens conformam uma diferença na maneira como ele lida, por exemplo, com o problema da
violência urbana nas favelas e periferias brasileiras. Isto não significa que tal diferença seja fruto do
seu “enfraquecimento” ou mesmo da sua “ausência”. Como dito anteriormente, tais práticas são
parte constitutiva daquilo que o conforma não só do ponto de vista material, mas também simbólico
enquanto o Estado que tais populações conhecem. É o que mostra a etnografia de Freitas (2014)
sobre a questão dos “autos de resistência” no Rio de Janeiro. De acordo com a autora, a
ilegibilidade de documentos produzidos pelo próprio Estado – como laudos cadavéricos que deixam
ausentes informações relevantes sobre a autópsia de vítimas letais de violência policial – são
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artifícios usados para encobrir execuções sumárias praticadas pela PMERJ. Em outro trabalho,
Lacerda & Beltrão (2014) apontam como a impunidade sobre crimes praticados por agentes
públicos no estado do Pará deriva do descaso do próprio Estado na investigação desses mesmos
crimes. Não é exagero afirmar que nas margens do Estado a relação entre categorias como “legal-
ilegal” ou “legitimidade-arbitrariedade” tornam-se absolutamente relativas:

“O ilegalismo não é um acidente, uma imperfeição mais ou menos inevitável. É um


elemento absolutamente positivo do funcionamento social, cujo papel é previsto na
estratégia geral da sociedade. Todo dispositivo legislativo tem poupado espaços protegidos
e lucrativos onde a lei pode ser violada, ou ainda ela pode ser ignorada, ou ainda, enfim,
onde as infrações são sancionadas. Em última análise, eu diria de bom grado que a lei não é
feita para impedir este ou aquele tipo de comportamento, mas para diferenciar as maneiras
de burlar (tourner) a lei em si mesma”. (Foucault, 1994, p. 718, tradução livre)

Pouco importa o papel “legal-ilegal” de tais práticas. É mais importante perceber, como
argumenta Telles (2010), os efeitos que tais ilegalismos trazem na configuração destes espaços, bem
como sobre a maneira pela qual o Estado é experienciado simbolicamente por tais populações. Tal
ponto é muito importante para a etnografia aqui proposta, uma vez que a origem dos candidatos ao
ciclo das “praças” da PMERJ é, em grande medida, periférica e favelada. Ao pesquisar sobre os
possíveis cursos onde poderia realizar minha etnografia, dois deles foram quase sempre citados por
colegas de trabalho professores que atuam no segmento de cursos preparatórios “pré-militares”. Os
cursos mais populares apontados para a prova da PMERJ foram o sistema “Educandus” e o curso
“Progressão”. O primeiro existe desde 2003 e compreende uma rede de ensino que atua nas áreas da
“educação básica” (Ensino Fundamental e Médio), “técnico” (Técnico em Informática e
Administração), pré-vestibular” e principalmente preparatórios para a carreira militar (Forças
Armadas, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar). O sistema possui três unidades de ensino na
metrópole carioca: Campo Grande, Madureira e Santa Cruz 4. Já o colégio e curso “Progressão”
existe há mais de vinte e dois anos. Ele é atuante também nos segmentos da rede básica e técnica de
ensino, bem como enquanto preparatório para o vestibular. E assim como o seu concorrente, ele tem
suas principais atividades voltadas para concursos na área militar – incluindo a polícia. Sua
distribuição espacial é mais abrangente, estando ele localizado em dezesseis unidades espalhadas

4
Informações colhidas no sítio do curso: https://www.sistemaeducandus.com.br/. Acesso em 02/05/2018.
11

pela capital e baixada fluminense, e nos municípios de Araruama e Cabo Frio na Região dos Lagos 5.
Chama atenção o caráter “suburbano” quanto à localização das unidades de ambos os cursos, todos
eles localizados em bairros ou municípios periféricos da capital e do seu entorno, com exceção da
Região dos Lagos. Ironicamente, os sujeitos que engrossam a fileira das patentes mais baixas das
Forças Armadas e da própria Polícia Militar (e que mais sofrem com os efeitos dos ilegalismos
expostos acima) são, sem dúvida, oriundos dos mesmos espaços que conformam as “margens do
Estado”. Diante deste cenário, perceber como a socialização dos futuros candidatos influencia nas
suas percepções e expectativas sobre o “ser policial”, bem como as moralidades que informam tal
processo, é fundamental na leitura da construção das subjetividades dos sujeitos como forma de
construção das próprias tecnologias de governo.

Considerações finais

O presente trabalho procurou realizar um pequeno exercício teórico sobre alguns desafios
que a pesquisa sobre setores do Estado brasileiro impõe ao antropólogo. Assim como tal reflexão
não se encerra com o presente texto – na verdade, ele marca o início das minhas considerações
sobre a questão – acredito que minha leitura sobre o Estado não se encerra nas salas de “cursinhos”
preparatórios para a prova da PMERJ. Tomo tais espaços somente como uma espécie de “porta de
entrada” para compreender os possíveis significados e expectativas sobre o “ser policial” por parte
dos candidatos. A partir dele, um caminho possível para a continuação da pesquisa é a análise da
trajetória de alguns interlocutores, de maneira que tais significados possam ser colocados em um
mosaico mais amplo sobre o problema. O uso de técnicas como a “história de vida” (Becker, 1993;
Bourdieu, 1996) pode ser empregada para este fim, mas as considerações metodológicas sobre esta
segunda etapa do campo transbordam os limites do presente texto.
De todo modo, o mérito da leitura antropológica sobre o Estado parece ter sido precisamente
captado por Bevilaqua e Leirner (2000), quando os autores afirmam a necessidade de compreender
os sentidos que as pessoas dão às suas próprias instituições – seja o Exército, os órgãos de defesa do
consumidor ou a própria polícia, no caso da proposta aqui defendida. O esforço de todos os autores
que defendem tal perspectiva parece sugerir um outro olhar que vislumbre a relação Estado-
sociedade através de uma perspectiva “desde abaixo”, ou seja, que tome o “fazer etnográfico” como
rudimento básico para a teorização, como afirma Lima (2015). Para além disso, o que me parece

5
Informações colhidas no sítio do curso https://www.colegioecursoprogressao.com.br/. Acesso em 02/05/2018.
12

claro é a importância de tais considerações durante todas as etapas de construção da tese, dentro do
permanente exercício de abertura ao Outro que pressupõe não somente compreender a diferença,
mas deixar-se ser afetado por ela no processo de construção de outros saberes e práticas de
pesquisa. Refletir criticamente sobre a produção de sentidos, no que toca aos processos de formação
de Estado, não foge aos interesses do presente trabalho.

Referências bibliográficas

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