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Escola de Artes – dar o corpo ao manifesto

Um corpo sem órgãos. Proposto pelo dramaturgo, poeta e ensaísta Antonin Artaud em 1948,
o conceito pode ser interpretado como constituindo uma crítica dos padrões de organização
que comprometem a intensificação da vida. É tipicamente um termo operativo, para quem
queira afirmar o mundo como lugar da existência, e que os nossos professores das teóricas
abordam nas suas aulas. Um corpo com órgãos. A ideia ocorre-me como soundbite
provocador quando penso na Escola como uma entidade viva – vivificante – em que cabe a
cada órgão – alunos, professores, funcionários, mas também ao edificado e às estruturas
organizacionais – continuamente reinventar a sua função para que o todo… funcione. Esta é
uma noção mais empírica e que as disciplinas de Projecto e teórico-prácticas levam às últimas
consequências, fazendo coisas novas.

Em quinze anos de docência, sempre senti que o meu papel no corpo da Escola seria o de
circular entre aqueles dois polos – a teoria e a prática – num registo de envolvimento na
agenda da cidade e da região. Pois acredito que uma Escola – um corpo no corpo maior que é
o mundo – se deve (des/re)construir continuamente com base na ideia de co-laboração. Os
hífens reforçam a dimensão laboratorial deste labor e um facto que às vezes esquecemos: a
escola deve ser um lugar produtivo que ajudamos a construir colectivamente através da
abertura não apenas aos pares, mas sobretudo aos anseios da sociedade, ouvindo-nos uns aos
outros, seja informalmente nos corredores, seja nas instâncias institucionais. A Escola torna-
se aí um corpo em fluxo que inspira, de que dá vontade fazer parte. E que por isso atrai
alunos.

Se o futuro é (ou não) risonho, disso depende o envolvimento diário de cada um de nós nas
coisas; para que os orgãos funcionem plenamente – a começar pela sala de aula (hoje sujeita à
pressão exterior – dispersiva e dessensibilizadora – das tecnologias digitais e das redes ditas
sociais). A verdade é que há sinais concretos que tornam esta comunidade de conhecimento
uma família, tantos são os alumni que têm levado a cultura de Escola mundo afora para os
mais diversos planos da vida-em-comum.

E voltamos ao princípio (‘cá dentro’). Correndo das oficinas paras as conferências, sonhando
projectos e concretizando iniciativas, os alunos – a alma do nosso corpo? – representam um
potencial de qualificação do meio onde se integrarão. Assim o seu labor se constitua como
factor de intensificação dessa vida ‘lá fora’. É neste quadro que urge estimular os discentes a
acreditar no mercado global como palco para a sua afirmação. Juntamente com os programas
de mobilidade docente e os projectos internacionais, é isso que leva o nome e a experiência
da Escola mais longe.

Nestes termos desconstruir e reconstruir a Escola continuamente – o que passa pela


dimensão da Investigação – é o inovador caminho que nos devemos comprometer a seguir,
um espaço-tempo de intuição e ética, provocação e responsabilidade, liberdade e ciência, em
processos de adaptação às circunstâncias e de evolução estratégica, sem abdicar do poder da
criatividade e da imanência. É dessa emergência contínua de um corpo que nos transcende
que a ‘Marca’ ESAD.CR se tem feito.

Mário Caeiro
Docente no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha.
Doutor em Artes Visuais e Intermedia pela Universidad Politecnica de Valencia.
Investigador do LIDA – Laboratório de Investigação em Design e Artes.

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