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ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL

ELISABETE SHINEIDR

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2017
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  elisabete shineidr

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  luís salgueiro

Revisão linguística  bernardo monteiro

Revisão de conteúdo  rosane de albuquerque costa

Imagem de capa  robert kneschke | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

S556o Shineidr, Elisabete


Orientação profissional / Elisabete Shineidr.
Rio de Janeiro: SESES, 2017.
176 p

ISBN: 978-85-5548-504-6.

1. Orientação profissional. 2. Orientação vocacional.


3. Escolha profissional. 4. Teorias psicológicas..
I. SESES. II. Estácio.
CDD 158.6

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 5

1. Escolher é preciso... 7
Conceituação e importância da Orientação Profissional 8
Conceitos de trabalho e vocação 11
O mundo do trabalho e suas transformações no tempo 14
A Orientação Profissional no Brasil 19
As relações humanas e as motivações para o trabalho 22
A realidade ocupacional da região onde o psicólogo atua 24
Reflexão Final 29
Vamos estudar? 31

2. Decidir é preciso... 33
As dificuldades inerentes ao processo de escolha profissional 34
Os conflitos na escolha 42
A escolha e a saúde mental 46
O papel da família no processo da escolha 49
Maturidade e adequação vocacional 54
Reflexão final 58
Vamos estudar? 59

3. Teorias psicológicas em Orientação Profissional 61


Concepções sobre o processo de Orientação Profissional 62
Teorias Psicométricas e Psicopedagógicas 67
O modelo clínico e a Orientação Profissional 78
Abordagem Sócio-histórica 87
As Teorias Humanistas e com ênfase na existência 89
Com base na Teoria Junguiana 96
Reflexão Final 100
4. O processo de orientação e a prática 105
A coleta das informações: um plano de ação 106
Entrevista 106

Instrumentalização 111

Diagnóstico e Prognóstico 119


Plano de Ação para trabalho em grupo 129
Reflexão Final 138

5. A escolha da profissão: do jovem ao adulto 145


Orientação profissional para todos 146
Contribuições do Psicodrama à Orientação Profissional 146
Adultos também precisam... 149
Reorientação profissional 151
Orientação profissional nas escolas públicas 159
A construção de um “diagnóstico” vocacional 161
A entrevista, a instrumentalização e a construção
de um diagnóstico vocacional 165
Reflexão Final 167
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

O Projeto Livro Didático Estácio objetiva fornecer aos alunos da instituição


um material didático que sirva de apoio e consagre o conteúdo programático dos
Planos de Ensino que constam do Projeto Pedagógico da universidade, que é de
âmbito nacional.
O presente livro didático tem como finalidade a apresentação e sistematização
dos conceitos inerentes ao processo da escolha profissional e das distintas abor-
dagens teóricas que influenciaram as estratégias de intervenção em Orientação
Profissional. Para tanto, buscamos esclarecer fatos e acontecimentos importantes
da Psicologia quanto ao mundo do trabalho, à importância da liberdade para a
escolha profissional e ao desafio da assertividade.
A disciplina insere o aluno no universo da Orientação Profissional, conside-
rando as amplas transformações no mundo produtivo e um novo desenho de rela-
ções do homem com o trabalho que exige do psicólogo uma atuação voltada para
a inserção ou reinserção e manutenção do indivíduo no universo ocupacional,
conjugando as oportunidades com os anseios e as características pessoais.
Apresentamos inicialmente conceitos importantes pertinentes ao mundo do
trabalho e à escolha profissional, no sentido de contextualizar a evolução das exi-
gências do mercado de trabalho no mundo das profissões, assim como à impor-
tância do desenvolvimento, orientação e acompanhamento do ingresso do jovem
egresso do meio acadêmico no mercado de trabalho.
No capítulo dois, apresentamos um panorama histórico da Orientação
Vocacional no Brasil: do ISOP à ABOP, revela-se o contexto político, social e
econômico daquele momento histórico e sua influência na produção científica
brasileira sobre o tema.
O terceiro capítulo apresenta e discute as diferentes teorias psicológicas para
Orientação Profissional e os métodos dos quais se utilizam a partir das três pers-
pectivas relevantes empregadas no Brasil: a psicométrica, a clínica e a psicossocial.
Na sequência, apresentamos no quarto capítulo as concepções sobre o pro-
cesso e as formas de intervenção em Orientação Profissional, levando em consi-
deração as necessidades, aspectos motivacionais, crenças e valores que envolvem
as escolhas.

5
Para finalizar, o capítulo cinco apresenta um panorama geral do processo de
orientação e reorientação profissional na prática, considerando a entrevista, a ins-
trumentalização e a construção de um “diagnóstico” vocacional.
Longe de ser um livro que apresente o passo a passo para o processo que en-
volve a escolha profissional, pretende-se elucidar e fazer emergir questionamentos
sobre quais os determinantes envolvidos, quais modelos se adequam mais a um ou
outro grupo, quais os pressupostos teóricos e técnicas são mais efetivas. Esperamos
que você, caro aluno, possa encontrar suas respostas a partir das leituras pertinen-
tes ao assunto e possa traduzir suas expectativas iniciais em um ponto de partida
para uma atuação profissional consciente e qualificada.

Bons estudos!
1
Escolher é preciso...
Escolher é preciso...

Conceituação e importância da Orientação Profissional

Caro aluno, a Orientação Profissional é uma das áreas de atuação do profis-


sional de Psicologia. Pretendemos apresentá-la de forma a resgatar o interesse do
jovem psicólogo para um envolvimento maior nesse espaço que consideramos de
extrema importância para o futuro da saúde ocupacional.
Este capítulo foi preparado para que você possa apreender os conceitos que
envolvem a escolha de um caminho profissional e o universo do trabalho, con-
textualizando na história momentos e fatos importantes que marcam a produção
científica relacionada ao tema e os métodos utilizados para esse fim.

OBJETIVOS
•  Compreender o conceito de Orientação Profissional e sua importância;
•  Refletir sobre aspectos que permeiam a eficácia do processo;
•  Reconhecer a evolução histórica da atuação do psicólogo no contexto da Orientação Profissional.

A prática do profissional que atua com a orientação pode ser considerada uma
atividade de maior importância na vida de um indivíduo adulto, pois, mesmo que
os interesses profissionais comecem a emergir na adolescência, é no início da vida
adulta que tendem a se resolver, concluindo uma etapa marcada por conflitos que
culmina em uma decisão que vai definir e permear todos os aspectos da sua vida
adulta. A escolha profissional passa por todo um processo que envolve questões
como identificações, aptidões e interesses, expectativas e influências familiares,
além das perspectivas que o jovem possui com relação ao futuro. Todos esses ele-
mentos devem ser considerados pelo profissional no momento da investigação.
É na Psicologia que encontramos os meios, os instrumentos adequados, que
levem o sujeito a uma reflexão e compreensão de si mesmo através da Orientação
Profissional, possibilitando uma escolha mais consciente e, portanto, com maior
possibilidade de assertividade. Sabemos que a função do psicólogo é promover
a saúde; assim, sendo o momento da escolha profissional imbuído de conflitos,
medos, ansiedades, nada mais adequado do que o profissional da área para auxiliar

capítulo 1 •8
o jovem a atingir de maneira mais correta, lúcida e ajustada o caminho a seguir.
Longe de ser uma tarefa fácil, há muito a compreender e muito a fazer para modi-
ficar os quadros estatísticos que apresentam a situação do jovem no Brasil.

CURIOSIDADE
EM 2005, estatísticas1 apontaram para um cenário em que:
•  Apenas 5% dos jovens se sentiam convictos de sua escolha profissional;
•  75% dos brasileiros sonhavam em mudar de profissão,
•  45% desistiram da universidade nos dois primeiros anos de curso;
•  70% não atuaram na sua área de formação.

Ainda hoje, encontramos cenário parecido, em que a problemática que envol


ve a escolha se traduz também na dificuldade para se manter no curso escolhido.
É comum encontrarmos no meio acadê-
mico o aluno que está na sua segunda ou
terceira escolha profissional; aquele que
fez um, dois ou mais períodos de uma fa-
culdade e depois desiste, tendo de iniciar
outra faculdade, permeando, assim, uma
série de tentativas para encontrar seu ca-
minho acadêmico e profissional. De acor-
do com dados do censo do Ensino
Superior, disponíveis no portal do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em
2011 o número total de matrículas nas
Instituições de Ensino Superior (IES) foi
de 6.739.689, enquanto em 1991 foram registradas cerca de 1.500.000. Em rela-
ção à quantidade de cursos oferecidos, o número saltou de 4.908, em 1991, para
30.420, em 2011. Dados informativos do INEP apresentam uma taxa de evasão
dos alunos que ingressaram no ensino superior no ano de 2005 de 33% a 38,8%
nas instituições públicas e de 44,7% nas instituições privadas. No Brasil, muitas
pesquisas e estudos buscam compreender as variáveis relacionadas à evasão com

1  Dados encontrados na Revista Direcional Escolas, S.P., 2005.

capítulo 1 •9
interesse em acompanhar o fenômeno e desenvolver estratégias para formular pla-
nos de ações institucionais de prevenção, além de pesquisas que possam aprofun-
dar o estudo do assunto na realidade brasileira.
Estamos diante de um perfil desanimador, e esse cenário faz suscitar no
estudante de psicologia, ciência que investiga o comportamento e os processos
mentais, os seguintes questionamentos: com tantas mudanças ocorridas desde
as últimas décadas, com a tecnologia trabalhando em função da qualidade de
vida, a era digital criando e fomentando novas formas de comunicação, com
a facilidade de acessibilidade dos alunos nas escolas via internet, que oferece
novas formas e condições para que o aluno supere suas limitações e possa
partilhar do conhecimento que é universal, por que tanta dificuldade em se
encontrar na escolha profissional?
O caro aluno já deve ter percebido que essa questão não é fácil de ser res-
pondida. Para Mello (2002), no trajeto entre o sucesso, a satisfação e a realização
pessoal, passamos por variáveis que compõem uma equação muito complexa, na
qual alguns fatores devem ser considerados, tais como: aptidões, conhecimentos,
interesses, valores, ideais, objetivos de vida, sentimentos, personalidade, família,
instituições, sociedade etc. Segundo Mello (2002):

(...) os programas de orientação vocacional-profissional encontram-se,


frequentemente,relegados a um segundo plano nas escolas de ensino
médio, na atenção de alguns psicólogos, na cabeça de certos pais, e
às vezes no pensamento dos próprios jovens. Todavia, essa orientação
vocacional, sendo orientação para uma vida de trabalho, é cada vez
mais necessária e (...) pode se constituir em uma das mais difíceis e
decisivas opções existenciais com que uma pessoa depara no decorrer
de sua vida (p.14,15).

Soares (2002) sinaliza que, ao escolher seu trabalho, o jovem percorre um lon-
go caminho de tomada de consciência de fatores que poderão se tornar barreiras
para a definição do seu trabalho. Para tanto, propôs que ele deve conhecer a si
mesmo, a família e o social, e o papel do orientador é alcançar, na sua proposta de
intervenção, os três eixos. Então o foco do psicólogo seria trabalhar com o jovem
o autoconhecimento, ou seja, a consciência de si mesmo e a realidade do mundo
ocupacional, o seu contexto sociopolítico. Antes, porém, de ingressarmos nessa
seara, vamos conhecer um pouco os conceitos e a trajetória histórica que envolvem
a orientação profissional.

capítulo 1 • 10
Conceitos de trabalho e vocação

Para compreendermos melhor o sentido do termo “Orientação Profissional”,


vamos começar apresentando o significado do termo “vocação” que foi utilizado
por muito tempo.

CONCEITO
Termo “vocação”
Segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 1986), “vocação” (do latim vocacione) é: “S.f. 1.
Ato de chamar. 2. Escolha, chamamento, predestinação. 3. Tendência, disposição, pendor. 4.
P.ext. Talento, aptidão”.
O dicionário Webster registra vocation como: “Um chamado ou impulsão para realizar
certa função ou ingressar em determinada carreira. A função ou carreira para a qual a pessoa
crê que foi chamada. Qualquer profissão, ocupação, trabalho”.
No dicionário Larousse Classic, de Claude Augé, lê-se a respeito de vocation (do latim vocare
= chamar): “Inclinação que se sente para: um estado, maneira de ser, situação, condição ou
profissão. Destinação”.

Mello (2002) ressalva que uma vocação individual possui componentes que
já nascem com a pessoa, mas que, para que se transformem em atributos pes-
soais, formadores de uma vocação precisam passar por um processo de desen-
volvimento ou maturação, não sendo, portanto, algo determinado por herança
genética ou preestabelecido desde o nascimento – e sim uma criação.

CONCEITO
Termo “orientação”
O dicionário Aurélio (Ferreira, 1986) define o termo como: “ato ou arte de orientar-se;
direção, guia, regra”.

capítulo 1 • 11
A orientação vocacional, conforme nos aponta Bohoslavsky (2003):

(...) compreende uma série de dimensões ou ramos que vão desde o


aconselhamento na elaboração de planos de estudo até na seleção
de bolsistas quando o critério é a vocação. Portanto, constitui uma
ampla gama de tarefas, que inclui o pedagógico e o psicológico, no
âmbito de diagnóstico, de investigação, de prevenção e a solução da
problemática vocacional (p. 1).

CONCEITO
Orientação Vocacional
É um dos campos de atividade dos cientistas sociais. Como tal, compreende uma série
de dimensões ou ramos, que vão desde o aconselhamento na elaboração de planos de estu-
do até a seleção de bolsistas, quando o critério seletivo é a vocação. Portanto constitui uma
ampla gama de tarefas, que inclui o pedagógico e o psicológico, em nível de diagnóstico, de
investigação, de prevenção e a solução da problemática vocacional. (BOHOSLAVSKY, 2003)
Na Coletânea de convenções e resoluções da OIT (caderno 1), encontramos a se-
guinte definição: “Orientação profissional, na perspectiva psicológica, significa a ajuda
prestada a uma pessoa com vistas à solução de problemas relativos à escolha de uma
profissão ou ao progresso profissional, tomando em consideração as características do
interessado e a relação entre essas características e as possibilidades no mercado de
emprego” (BRASIL, s/d).

Mello (2002) chama a atenção para o fato de que o orientador vocacional


orienta o processo, mas não o cliente, ou seja, ajuda o orientando a orientar-se a si
próprio, se informando, analisando e interpretando os dados e fatos em colabora-
ção com o psicólogo. O autor ainda acrescenta que:

(...) é ele, cliente que se posiciona, se direciona, escolhe e decide


uma preferência, uma carreira, numa opção responsável. O processo
vocacional é um procedimento dinâmico de autodeterminação gradual
e crescente por parte do cliente (p. 30).

capítulo 1 • 12
Para Bock (2002), a ideia de vocação é utilizada para esconder ou justificar as
desigualdades sociais:

Essas desigualdades, tão familiares a nós todos, são produzidas pela


estrutura social, que, para se manter, exige que existam indivíduos
trabalhando (vendendo sua força de trabalho) e outros acumulando
e administrando o capital. No entanto, essas desigualdades têm sido
justificadas pela concepção das diferenças individuais (p. 318).

Assim, a ideia de que o indivíduo escolhe sua ocupação ou profissão a partir das
condições sociais e de suas habilidades, aptidões, interesses e dons (vocação) é algo que
teve início quando se instalou na sociedade o modelo de produção capitalista; nele,
a ocupação era determinada por laços de sangue, vinha de berço. Foi no período do
capitalismo que o sujeito passou a vender sua força de trabalho para sobreviver, e o
destino está nas mãos de cada um e a escolha é colocada em questão. Surgem as teorias
e técnicas para que o homem certo esteja no local certo. (BOCK, 2002)
Já orientação profissional, na perspectiva psicológica, pode ser compreendida
por uma ajuda prestada a uma pessoa com a finalidade de solucionar problemas
relativos à escolha de uma profissão ou ao progresso profissional, considerando as
características da pessoa e o mercado de trabalho.
Para Liebesny & Ozella (2002), de acordo com a ótica sócio-histórica, a in-
tervenção a partir da Orientação Profissional é uma das formas de promover um
conjunto de ações que possibilitem colocar o jovem no papel de sujeito do seu
processo de individuação e construção de um projeto de vida, sendo o agente de
escolhas e sujeito de projetos, ações e transformações. Tais conjuntos de ações são
considerados a partir de promoção de saúde e objetivam a construção de possibi-
lidades para a constituição de um sujeito social.

capítulo 1 • 13
Nesse sentido, a OP, como outras atividades profissionais possíveis junto
aos jovens, é uma atividade promotora de saúde (...). Ao abrir ao jovem
um espaço para discussão da qualidade do conteúdo desse processo,
tal qual lhe é possível construir nas condições sociais dadas até essa
etapa de seu desenvolvimento, a OP pode propiciar a reflexão sobre a
relação entre indivíduo e meio, a mutualidade de suas responsabilidades
e sua individuação no pertencimento ao coletivo. Mais especificamente,
pensar por que se quer algo, quais suas consequências, que relações
envolve e se se quer concretizá-las são situações cujo encaminhamento
pode propiciar a reflexão na direção de um processo de escolha
saudável, um projeto de vida possível (p. 66).

Os termos orientação vocacional e orientação profissional são utilizados por


muitos profissionais como sinônimo, mas para o senso comum ainda se utiliza
o termo vocacional que se encontra, no imaginário da sociedade, ligado à apli-
cação de testes vocacionais. Porém, a escolha por uma carreira a ser seguida deve
levar em consideração bem mais do que os interesses e as aptidões do sujeito.
Precisa considerar uma análise do que a sociedade pode oferecer em termos de
oportunidades ao jovem ingressante no mercado de trabalho mediante suas ex-
pectativas ocupacionais.

O mundo do trabalho e suas transformações no tempo

Falar em Orientação Profissional é falar em trabalho, e mais uma vez vamos


recorrer ao dicionário para compreender o significado e o sentido da palavra.

CONCEITO
Trabalho
Em Aurélio, a palavra trabalho designa: 1. Aplicação das forças e faculdades humanas
para alcançar um determinado fim. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual,
necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. 3. Trabalho (2) remu-
nerado ou assalariado; serviço, emprego. 4. Local onde se exerce essa atividade. 5. Qualquer
obra realizada. 6. Lida, labuta.

capítulo 1 • 14
Nossa relação com o trabalho sofre influências de crenças passadas de geração
a geração, sendo muitas vezes empregada com uma conotação punitiva: “ganharás
o pão com o suor do teu rosto...”, “quem trabalha muito não tem tempo para ga-
nhar dinheiro...”, “somos escravos do trabalho...”. Assim, muitas vezes o trabalho
tem um caráter punitivo e de sofrimento.
Ao analisarmos a etimologia da palavra “trabalho”, descobrimos que vem do
latim tripalium, que era um instrumento composto de três paus que servia para
torturar réus e segurar cavalos por ocasião de ferrar. O tripalium era um instru-
mento romano de tortura para escravos que originou a palavra tripaliare, ou seja,
torturar alguém no tripalium. Ainda hoje, muitas pessoas consideram o trabalho
como um ato de sacrifício, castigo, desprazer.
O trabalho na Antiguidade representava punição, submissão, em que os tra-
balhadores eram os povos vencidos nas batalhas, os quais eram escravizados. O
trabalho não era dignificante para o homem. A escravidão era tida como coisa
justa e necessária. Para ser culto, era necessário ser rico e ocioso. (JORGE NETO
e CAVALCANTE, 2005, p. 3)
Geralmente, o trabalho carrega uma entonação de “labor”, do latim labore,
com um sentido de trabalhar para a sobrevivência. Os gregos e os latinos dife-
renciavam o trabalho criativo (opus) do trabalho braçal ou penoso (labor). Nesse
sentido insere-se também a antiga tradição bíblica do trabalho como castigo ao
condenar o homem comum expulso do paraíso (Adão) à labuta para ganhar o pão
de cada dia ("Tu comerás o teu pão, no suor do teu rosto").
Na época do feudalismo, que perdurou entre os séculos X e XIII, a escravidão
foi substituída pela servidão. O homem se submetia ao trabalho em benefício
exclusivo do senhor da terra, sendo que da terra retirava em proveito próprio a
habitação, a alimentação e o vestuário. Entretanto, a servidão nada mais foi do
que um tipo de escravidão, não exatamente no sentido estrito da palavra, mas em
medida semelhante, posto que o indivíduo naquelas condições não dispunha de
liberdade, estando sujeito às mais severas restrições, tal como a impossibilidade de
livre locomoção. Esse período caracterizou-se como sendo um sistema intermediá-
rio entre a escravidão e o trabalho livre.

capítulo 1 • 15
Foi durante o período da Revolução Industrial, precedida das revoluções libe-
rais, no início dos séculos XVII e XVIII,
que houve uma profunda mudança nas re-
lações de trabalho. Esse foi considerado um
período de terror para o trabalhador, sendo
as condições de trabalho desumanas, de ex-
ploração, com jornadas de trabalho entre
14 e 16 horas, sem repouso. (CERQUEIRA,
1961, p. 343)
Para Bock (2002), o modelo capita-
lista introduzido na sociedade a partir da
Revolução Industrial marca um momento
importante: o da escolha. Para ela, “antes
do capitalismo, o indivíduo tinha sua ocupação determinada pelos laços de san-
gue, sua ocupação vinha de berço. Os servos teriam seus filhos e netos sempre
servos; os senhores seriam sempre senhores” (p. 309).
De acordo com a crença trazida pela ideologia capitalista, o indivíduo é dono
do seu destino e tudo pode. Cabe a ele lutar, se esforçar, estudar, agir para atingir
seus objetivos. Nesse sentido, de acordo com Bock (2002, p. 309), a escolha da
profissão se coloca em questão.
A possibilidade de se escolher uma profissão é algo bem recente, pois durante
muito tempo essa escolha foi determinada pela posição social ou pela família a que
o indivíduo pertencia. Assim, até o século XVIII, os ofícios eram ensinados de pai
para filhos, mantendo nas relações familiares as tarefas necessárias para o trabalho
(WHITAKER, 1997). Foi no final do século XIX, ocasião em que emergia uma
nova realidade socioeconômica somada ao surgimento de novas formas de ocupa-
ção, que entra em cena a possibilidade de escolher o que fazer para obter lucro, a
oportunidade de decidir sobre seu meio de sobrevivência.
A raiz da teoria e da prática em Orientação Profissional no mundo surge, na
primeira década do século XX, através do estudo entre a relação do sujeito com
o emprego e da busca da melhor adequação do primeiro para com o segundo. A
Psicologia atende aí a uma demanda e a um espírito ideológico da época.
O início do século XVIII marca a eclosão da primeira Revolução Industrial
e decreta o final de toda uma era no mundo do trabalho. O artesanato, ramo no
qual o objetivo da relação entre mestre e aprendiz era o ensino de um ofício, dá lu-
gar à manufatura, ao salário e à divisão do trabalho. A partir desse momento, o ho-
mem passa a utilizar a palavra trabalho como sinônimo de emprego remunerado.

capítulo 1 • 16
Gatti (2006) esclarece que, com o aperfeiçoamento das tecnologias do
vapor, surgem as locomotivas mo-
vidas pela força das máquinas, e
um novo ciclo de revoluções dá
um novo impulso nas organiza-
ções do trabalho e na forma de
produção. A manufatura começa
rapidamente a ser substituída pela
forma industrial de produção.
Novas tecnologias, como o motor
de combustão interna e o telefone, modificam ainda mais as relações com o
tempo e espaço, não apenas no sentido de expansão ao redor do mundo, mas
também nas formas de regular o modo de produção. O sujeito é desapropriado
de sua íntima relação com o trabalho e ganha um grande aliado a partir do
Taylorismo, modelo de produção baseado nas ideias de Frederick Taylor que
conseguiu altos ganhos de produtividade apenas por meio de uma forma dis-
tinta de gerenciamento: a fragmentação das atividades em unidades de tempo
que permitia um maior rendimento, vindo a dissolver, cada vez mais, o aspec-
to humano presente na relação sujeito/trabalho, tratando o sujeito mais como
extensão do maquinário do que como ser humano.
Para Gatti (2006), isso quer dizer que, antes mesmo do advento do Fordismo,
criado por Henry Ford, baseado na
especialização da função e da pro-
dução em massa, e suas revoluções
no âmbito do processo produtivo,
a fragmentação da subjetividade e
o controle do trabalho já estavam
estabelecidos e apenas serviriam de
base para novos procedimentos de
desapropriação do trabalho por
parte do capital. Na década de 1970, surge um novo sistema de produção: o
Toyotismo, modelo japonês com base na tecnologia da informática e da robóti-
ca, redefinindo os processos de trabalho e os trabalhadores – e, portanto, o em-
prego e a estrutura ocupacional.
Nesse contexto, a Orientação Profissional tem seu nascimento diretamente
relacionado ao implemento da eficiência industrial. O berço de seu aparecimento

capítulo 1 • 17
foi no continente europeu, objetivando, nos primórdios do século XX, identificar
no processo industrial em franca expansão trabalhadores cujo comportamento se
mostrasse inadequado, ineficiente, para a realização de tarefas específicas, atuando,
assim, preventivamente na possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho.
A criação do Centro de Orientação profissional de Munique, no ano de
1902, configuraria o primeiro passo para o crescente aprimoramento dessa ver-
tente científica em vários países. O que aconteceria efetivamente entre os anos
de 1907 e 1909, com a inauguração do primeiro centro de orientação profissio-
nal norte-americano, a cargo de Frank Parsons, também autor de uma significa-
tiva bibliografia sobre o assunto, capaz de acrescentar à orientação profissional
importantes enfoques teóricos inerentes à pesquisa psicológica e pedagógica.
Agora, a preocupação, no âmbito das instituições, estendia-se do pano-
rama empresarial para o setor educacional, tornando latente o interesse e a
insegurança dos pais com a escolha profissional dos filhos. O que implemen-
tou o interesse de outras áreas de estudo, como a Psicologia diferencial e a
Psicomotricidade, pela realidade da Orientação Profissional no período de
1920 e 1930. No início de 1940, o psicólogo norte-americano Carl Rogers di-
vulgaria no meio científico as bases da chamada Terapia Centrada no Cliente,
valorizando a participação produtiva do cliente na dinâmica de intervenção
clínica, de forma não diretiva, o que aproximava os estudos da Psicoterapia e
do Aconselhamento Psicológico das práticas da Orientação Profissional, po-
tencializando seus resultados na sociedade.
A mudança de paradigma que viria a ocorrer a partir de 1950, graças à in-
clusão de muitas outras escolas de pensamento, daria margem ao surgimento da
Teoria do desenvolvimento vocacional, cuja abordagem interpretava a escolha
profissional não como algo isolado, específico, deflagrado em determinado ins-
tante de vida, mas simbolizando um processo evolutivo, de constantes e percep-
tíveis transformações, entre os últimos anos da infância e os primeiros da idade
adulta. Essa pesquisa psicológica teve desdobramentos teóricos que iriam se ex-
pandir dois anos depois com a teoria do desenvolvimento vocacional de Donald
Super; segundo a qual, a escolha profissional se apresenta como um processo
que transcorre na trajetória existencial compreendida da infância à velhice, obe-
decendo à dinâmica de estágios diferenciados do desenvolvimento vocacional
mediante a competência para exercer as mais variadas tarefas evolutivas.

capítulo 1 • 18
EXERCÍCIO RESOLVIDO
O aluno deve acessar o link abaixo e, após assistir ao filme, construir um relatório crítico
respondendo ao que se pede.
1.De que forma a crítica bem-humorada de Charles Chaplin em Tempos Modernos simboliza a
mecanização do trabalho humano, escravizando-o ao tempo impessoal e acelerado das máquinas.
Fonte: https://goo.gl/S1pg0l. Acesso em 04 maio 2017.

A Orientação Profissional no Brasil

Toda essa vasta cronologia evolutiva da orientação profissional promoveu


significativas influências no panorama institucional brasileiro desde a década
de 20, especialmente em razão da regulamentação dos cursos voltados à profis-
sionalização para a indústria, o comércio e a agricultura. A pioneira experiên-
cia de aplicação sistemática da psicologia à organização do trabalho aconteceu
do ponto de vista prático em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo,
contando com a direção do engenheiro suíço Roberto Mange. Consistia numa
seleção de alunos para o curso de mecânica prática da escola. Essa foi a pio-
neira experiência que impulsionou muitas outras, sendo relevante destacar
aquelas relativas às empresas ferroviárias.
A repercussão no setor trabalhista levou, em 1930, à criação do Curso de
Ferroviário de Sorocaba e o Serviço de Ensino e Seleção Profissional da Estrada
de Ferro Sorocabana. O alcance dessa conquista no ambiente empresarial levou
à aplicação das teorias psicológicas nos mais diversos cenários de organização do
trabalho, particularmente nos segmentos político e econômico.
Durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas (1930-1945), ficou mar-
cada a mudança do modelo de economia agrário-exportadora para o recente
paradigma econômico urbano-industrial. Até o governo do General Dutra
(1946-1950), a preocupação das diretrizes educacionais estava voltada para um
acentuado compromisso com o preparo das elites, tendo sido apenas a partir da
década de 40 que a atenção de cunho pedagógico se voltaria para o atendimento
dos contingentes que se formavam nos centros urbanos. Defender a educação
como direito de todos acabou encontrando sua contrapartida na hipótese de
que as pessoas não se encontravam igualmente dotadas pela natureza para se
beneficiarem da oportunidade concedida pelo Estado. A fim de justificar essa

capítulo 1 • 19
conclusão, os testes psicológicos, embasados por uma fidedignidade científica,
passaram a ser amplamente utilizados.
O ISOP, Instituto de Seleção e Orientação Profissional, criado em 1947, ob-
jetivava basicamente contribuir para o ajustamento entre o trabalhador e o traba-
lho, partindo de um acompanha-
mento científico voltado para o
estudo das aptidões e vocações do
trabalhador e dos requisitos psicofi-
siológicos exigidos pela modalidade
de trabalho. Em seus dez primeiros
anos, a instituição desenvolveu um
trabalho focado na implantação de
técnicas de seleção e orientação profissional; atendendo inicialmente à classe mé-
dia alta, visando orientar a futura elite dirigente.
A instalação do ISOP no Rio de Janeiro teve grande importância para a
implantação do Serviço de Orientação e Seleção Profissional (SOSP) em Belo
Horizonte. O principal objetivo do SOSP era o de orientar vocações no meio
escolar, delimitando critérios para a seleção de pessoal destinado à administração
pública, assim como também organizações particulares. Foi o primeiro instituto
no país sob responsabilidade governamental, tendo sido dirigido e supervisio-
nado pelo Professor Bessa, que era orientado pelo diretor do ISOP, o espanhol
Mira y Lopez (Goulart, 1985).
Ao exame dessa abordagem das origens da Orientação Profissional no Brasil,
é interessante observar que ela se constitui no início do século XX como uma
modalidade estritamente psicométrica. Seus mais comprometidos defensores
foram os empresários e os engenheiros, pioneiros nesse campo de atuação. Na
época, a formação de psicólogos se fazia nos cursos de Filosofia, Pedagogia e
Ciências Sociais. Os concluintes realizavam estágios em instituições especializa-
das com o intuito de habilitarem-se ao exercício profissional. O reconhecimento
legal da profissão de psicólogo só ocorreria no Brasil em 1962. O começo da
década de 60 seria marcado pelo modelo metodológico de diagnosticar e acon-
selhar, utilizando como instrumentos os testes psicológicos que auxiliavam na
busca do autoconhecimento, influência de Rogers nos Estados Unidos, bem
como a focalização da dinâmica do inconsciente, influência de Freud na Europa.
Somente ao final da década de 1970, início dos anos 1980, que surgiu uma litera-
tura voltada para a Orientação Profissional a partir de dissertações de mestrado e teses
de doutorado em Psicologia. Vale assinalar que apenas na década de 80 a orientação

capítulo 1 • 20
profissional foi discutida enquanto processo no qual a escolha é multideterminada,
em que a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico, e o coordenador, o papel de
informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos (Abade, 2005).
Em 1990, o ISOP foi extinto, e em 1993 foi criada a ABOP, Associação
Brasileira de Orientação Profissional, considerada um marco para a área que
consolida a identidade do orientado profissional em nosso país (Abade, 2005).
Entre as principais realizações da ABOP, podemos destacar a organização e o
apoio a eventos que mantenham relação com a orientação profissional, os cursos
de formação, de especialização e extensão, objetivando, em suas ações, o desen-
volvimento, a integração e a valorização do orientador profissional no Brasil.
Essa revisão histórica teve como principal foco identificar os elementos do
passado que influenciaram o momento presente e apontam para um caminho que
direciona e mobiliza as práticas futuras.

DÉCADA MARCO HISTÓRICO

O surgimento do Serviço de Seleção e Orientação Profissional


1920 para alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo;

Criação do ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissio-


1940 nal), da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro;

1960 A regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil;

Forte influência da Estratégia Clínica do psicólogo argentino


1960, 70 E 80 Rodolfo Bohoslavsky;

Criação da ABOP (Associação Brasileira de Orientadores


1990 Profissionais para unificação e desenvolvimento da Orientação
Profissional) no Brasil.

Tabela 1.1  –  Resumo do Desenvolvimento da OP no BrasilFonte: a própria autora.

capítulo 1 • 21
As relações humanas e as motivações para o trabalho

Ao debater o que motiva um comportamento humano, precisamos também


compreender suas necessidades. Segundo Maslow, necessidade é a privação de
certas satisfações. Você certamente já estudou a teoria de Maslow, aquele que
apresenta uma hierarquia de necessidades em uma pirâmide. A base da pirâmi-
de compreende as necessidades de níveis mais baixos, que são as fisiológicas e
de segurança, e seguindo ao topo estão as sociais, de estima e autorrealização.
Assim que uma necessidade é atingida, a próxima passa a ser dominante. As
necessidades de nível mais alto não são completamente satisfeitas, mantendo-se
como um reduto de força motivacional. Essa teoria, embora questionada atual-
mente quanto a sua validade, ainda é uma das mais conhecidas. (FERREIRA,
DEMUTTI e GIMENEZ, 2010)
Sobre a hierarquia das necessidades, Cohen e Fink (2003) afirmam que a
maioria das pessoas é motivada por um leque de necessidades que vão além da
sobrevivência e do pertencimento social.
Essas necessidades se manifestam desde
cedo, quando as pessoas buscam aprovação
e reconhecimento por parte das outras pes-
soas e esperam respeito pessoal pelo que es-
tão realizando. Os autores observam que,
para algumas pessoas, o caminho da autoes-
tima passa por serem produtivas; para ou-
tras, está em alcançar altos níveis de poder, responsabilidade e autoridade. Além
dessas necessidades, os seres humanos parecem querer o que se chama de autorrea-
lização ou individuação, necessidade que é satisfeita pelo próprio processo do su-
jeito, e não pela resposta dos outros. (COHEN & FINK, 2003, p. 149)
Esses autores propõem que, considerando ou não a hierarquia de necessida-
des, podemos afirmar que haja um leque de necessidades humanas que operam
no trabalho; por isso, torna-se necessário fazer um diagnóstico que determine as
necessidades mais importantes a fim de elaborar um sistema de recompensas ade-
quado. Eles consideram que:

1) Quanto maior for a adequação entre as necessidades das pessoas e as recom-


pensas organizacionais, mais alta será a produtividade.

capítulo 1 • 22
2) Quanto maior o nível das necessidades, mais variadas terão de ser as re-
compensas necessárias para alcançar a produtividade, satisfação e desenvolvimento
individual. (COHEN & FINK, 2003, p. 154.

Queremos chamar sua atenção, caro aluno, para a compreensão de que a satis-
fação, a realização e a felicidade tornam-se resultantes de uma complexa equação
cujas necessidades e motivação estejam atuando de forma imperativa.
De um modo geral, motivação é um impulso para a ação. Para Chiavenato
(1999), esse impulso pode ser provocado por um estímulo externo (ambiente)
ou interno (processos mentais). Segundo o autor, três suposições explicariam o
comportamento humano:

a) O comportamento humano é causado, ou seja, existe uma causalidade do com-


portamento. Tanto a hereditariedade como o meio ambiente influem decisiva-
mente sobre o comportamento das pessoas. O comportamento é causado por
estímulos internos ou externos.
b) O comportamento é motivado, ou seja, há uma finalidade em todo compor-
tamento humano. O comportamento não é causal nem aleatório, mas sempre
orientado e dirigido para algum objetivo.
c) O comportamento humano é orientado para objetivos pessoais. Subjacente a
todo comportamento existe sempre um impulso, um desejo, uma necessidade,
uma tendência, expressões que servem para designar os motivos do comportamen-
to (Chiavenato, 1998, p. 76-77).

Nesse sentido, os fatores motivacionais, as


atitudes que orientam o comportamento huma-
no, influenciam o seu desempenho. Maximiano
(1995) descreve o desempenho nas organizações
como uma manifestação do comportamento,
podendo ser motivado pelo próprio indivíduo
(motivos internos) ou pela situação ou ambiente
em que ele se encontra (motivos externos). Entre
os considerados internos, estão as necessidades,
aptidões, interesses e habilidades que permitem
ao ser humano sentir-se atraído por uma ou ou-
tra atividade que o torne capaz de realizar uma

capítulo 1 • 23
ou outra tarefa e o faça valorizar um comportamento em detrimento de outro.
Podem ser definidos ainda como os impulsos interiores, de natureza fisiológica e
psicológica, afetados por fatores sociológicos: necessidades, frustração, aptidão,
habilidades, atitudes e interesses. Os motivos externos são os estímulos ou incen-
tivos ofertados pelo ambiente ou objetivos que a pessoa persegue na intenção de
satisfazer uma necessidade. Assim, “a motivação se refere ao comportamento, que
é causado por necessidades de dentro do indivíduo e que é dirigido em direção aos
objetivos que podem satisfazer essas necessidades”. (MIRANDA, GUABIRABA,
DALSOQUIO, RODRIGUES e TADIN, 2005).

A realidade ocupacional da região onde o psicólogo atua

Soares (2002) considera o trabalho como qualquer atividade desenvolvida


pelo homem ao produzir algo de útil para a comunidade; ele, assim, está sempre
relacionado com algum benefício social, alcançado direta ou indiretamente. As
pessoas, de um modo geral, consideram o trabalho como forma de melhorar sua
condição de vida, obtendo-se dele condições para a sobrevivência pessoal e da
família. Sendo parte integrante da vida do indivíduo, sua inserção na sociedade se
dá por intermédio também da participação no trabalho.
O autor ressalta que:

Em cada sociedade, a inserção de indivíduos no processo produtivo


supõe a realização de um projeto social a ser elaborado tendo em
vista todo povo que dele participa. Em geral ele é elaborado poralguns
membros da sociedade, não levando em consideração as necessidades
de todas as pessoas (p. 99).

Sabemos que são poucos os que conseguem se manter financeiramente atuan-


do na área que escolheram e em carga horária que lhes garanta tempo para se
dedicar a outras realizações, gozando de plena satisfação e felicidade na sua vida
ocupacional. Bleger (1980) considera um manancial de felicidade quando o traba-
lho e o hobby coincidem, ou seja, quando ambos são fonte de ganho e de prazer.
A satisfação e a felicidade profissional são consideradas pontos importantes
para a saúde mental e emocional; por isso, as especificidades da relação estabeleci-
da entre trabalho e saúde envolvem um pensar e fazer diferenciados, pois incluem

capítulo 1 • 24
aspectos da organização, processo e condições de trabalho, a compreensão da vivên-
cia subjetiva no trabalho e das repercussões para a saúde mental dos trabalhadores.
Nesse sentido, devemos revisar o conceito de saúde na compreensão de Bleger
(1989) ao ressaltar que a saúde deve ser entendida "não só como a ausência de
doença, mas um aproveitamento mais eficiente de todos os recursos com que
conta cada grupo para mobilizar sua própria atividade na procura de melhores
condições de vida, tanto no campo material como no cultural, no social e no psi-
cológico" (1989, p. 106).
Mas como encontrar a receita para unir produtividade e qualidade de vida
se, desde o processo da globalização, com o advento do desenvolvimento de
novas tecnologias, operacionalizam-se mudanças extremas na forma de expe-
rienciar o mundo, no mercado de trabalho e nas relações estabelecidas entre
um e outro, revolucionando as bases materiais e morais do homem? Como
fruto do sistema capitalista, observamos transformações sociais e econômi-
cas que geram incertezas sobre o futuro dentro e fora do espaço de trabalho.
Novas áreas surgiram, outras deixaram de ter importância, desaparecendo
como campo de atividade e empregabilidade.
Não sabemos aonde os avanços nos levarão, mas seus efeitos já oferecem
sinais de profundas modificações na vida das pessoas, das empresas e do merca-
do de trabalho (Rodrigues & Ramos, 2000), além de evidenciarem um grande
impacto tanto no mercado de trabalho como nas exigências quanto às com-
petências estabelecidas para o cargo. Novas habilidades vão sendo exigidas e
percebidas como imprescindíveis. Essas habilidades são essenciais para que o
profissional possa realizar satisfatoriamente o seu trabalho dentro dessa nova
perspectiva. (FARAH & FRAFOSO, 2000)
Frente a essa nova realidade sociocultural e econômica, o papel do especialista
em Orientação Profissional passa a ser repensado. Para além das informações sobre
as carreiras profissionais, o autoconhecimento e as questões inerentes às escolhas,
deve fazê-lo levando em consideração o mercado de trabalho em suas especificida-
des e a realidade social da comunidade e/ou região que pretende atuar.
É necessário questionar e compreender seu complexo aparato teórico/metodo-
lógico, ético/político e técnico/operacional a fim de fazer com que possam emergir
todas as dimensões de suas práxis profissionais para que possa, de fato, intervir
junto aos sujeitos que, através de sua atuação, serão direcionados ao mercado.
Ao identificar os meios necessários para esse fim, deve buscar o conhecimento da
vida dos sujeitos naquele momento social e histórico para que, ao intervir na sua
realidade pessoal, abra espaço para a sua realidade social.

capítulo 1 • 25
Um dos elementos importantes acerca da metodologia a ser desenvolvida é
a definição dos instrumentos que o profissional irá utilizar na implementação de
seu trabalho interventivo, o que será traduzido na adequação e efetividade de suas
ações. Não se trata de adoção de modelos adequados às necessidades locais ou
regionais, mas da elaboração de um plano de ações que leve, de fato, em consi-
deração as especificidades, as atribuições e as demandas de uma realidade social,
privilegiando as necessidades e competências mais pertinentes, além de manter
um enfoque na promoção da saúde.
Nesse contexto, de acordo com Soares (2002, p. 111), está inserida a importância
do orientador profissional, sendo-lhe incumbida a função de orientar e informar, e não
simplesmente indicar qual a melhor direção a ser tomada por aqueles que procuram
aquele tipo de orientação. Conhecedores do quanto o mercado e as possibilidades
profissionais podem ser mutáveis, posicionando o futuro como o lugar da incerteza,
nós devemos chamar a atenção do jovem profissional sobre a importância de estar
em constante processo de reciclagem, acompanhando as transformações vividas pela
sociedade e as respectivas interferências produzidas no indivíduo.
Nossa intenção é formar profissionais da psicologia, seja na área da Orientação
Profissional ou não, em condições de
pensar criticamente a realidade social,
seu papel e sua responsabilidade junto
à população de toda e qualquer classe,
oportunizando um ingresso do jovem
cidadão em um mercado de trabalho
que reflita em ações as suas reais de-
mandas. Um profissional aberto às
novas possibilidades, que rompa com
as ações estereotipadas e fragmentadas
em busca de uma jornada enriquecedora e responsável, atuando ao mesmo tempo
como facilitador de um processo de descoberta individual e coletiva.
Para Soares (2002), o trabalho, como elemento imprescindível à construção
da identidade do sujeito, deve ser visto à luz das grandes transformações vividas
pelo mundo ocupacional na atualidade. O desemprego, os bicos como opção de
renda e forma de trabalho, a terceirização como soluções alternativas, são fenôme-
nos que revelam a desconstrução e reconstrução de novas identidades.

capítulo 1 • 26
Para Ciampa (1992):

(...) o processo de construção da identidade do indivíduo é


compreendido como um fenômeno histórico e social onde aquilo
que o indivíduo reconhece como sendo ‘’ele mesmo’’ é colocado pelo
contexto material e social onde ele está inserido e por ele internalizado.
Essa identidade que adquire aparência de coisa acabada, dada, na
verdade, necessita ser reposta (reafirmada) constantemente pelo
ambiente social e vai transformando-se num contínuo processo de
identificação do indivíduo (p. 152).

Se a doença profissional provoca desorganização na identidade do indivíduo


que, por sua vez, é influenciado pelas relações sociais que dele decorrem, quando
ocorre uma ruptura nesse processo em decorrência de uma doença ocupacional,
desemprego, acidente de trabalho ou qualquer outra adversidade que implique
num afastamento entre o trabalhador e o “seu” trabalho, há uma fragilização de
sua identidade, tanto em nível individual quanto em nível social.
Esse deve ser um campo de reflexão e atuação do orientador profissional.

LEITURA
A partir da leitura do texto abaixo, intitulado “A melhor escolha para o momento”, de
2002, faça uma reflexão crítica, comparando as mudanças ocorridas desde aquela época até
o momento presente no cenário da orientação profissional no Brasil.
Entrevista com a Profª. Dulce Helena Soares, Coordenadora do LIOP, para o Jornal Hoje em
Dia, 12/05/2002, de Belo Horizonte/MG.

“A melhor escolha para o momento”


A escolha da profissão é uma das decisões mais importantes na vida do jovem. Entretan-
to, nem sempre ele tem consciência disso na hora de optar por um curso superior. Para a psi-
cóloga, orientadora profissional e professora do Departamento de Psicologia da Universida-
de Federal de Santa Catarina, Dulce Helena Penna Soares, não existe uma escolha correta
da profissão; e, sim, a melhor escolha para aquele momento. No livro 'A Escolha Profissional
do Jovem ao Adulto', lançado pela Summus Editorial, a psicóloga cita as diversas mudanças
no contexto econômico e social do país ocorridas nas últimas décadas, para explicar que
também a orientação profissional precisa acompanhar os novos tempos.

capítulo 1 • 27
O crescente desemprego e, consequentemente, a necessidade de recolocação no
mercado; a extinção de algumas profissões, bem como o surgimento de outras como
resultado dos avanços tecnológicos são algumas transformações citadas por ela. Em
face disso, pondera a autora, tornou-se fundamental a reformulação e ampliação dos
conceitos que regem o trabalho de orientação profissional. Ela ressalta que a escolha da
profissão reflete tanto a possibilidade de realização pessoal quanto a de concretização
de um projeto de atuação na sociedade.
Na hora de escolher sua profissão, o adolescente deveria ter consciência de que o tra-
balho vai ocupar, pelo menos, metade de sua vida. Todavia, na realidade, isso nem sempre
acontece. O motivo, explica a psicóloga, é que o jovem brasileiro tem que escolher sua profis-
são muito cedo, entre os 16 e 18 anos de idade. "Nessa idade, a maioria dos jovens não tem
a maturidade necessária para para optar por determinada profissão", afirma.
A psicóloga destaca que a falta de amadurecimento do jovem é, em parte, culpa das
escolas brasileiras, que não preparam o aluno como deveriam. "A escola deveria fazer um
trabalho de amadurecimento com os alunos", avalia. Ela salienta que a escola não ensina o
aluno a se conhecer, a se comportar diante da vida e muito menos a ter uma avaliação crítica
diante das coisas. "As escolas do país são muito teóricas e estão mais preocupadas em en-
sinar conhecimento do que comportamento", critica.
A consequência disso é o abandono do curso superior e a passagem do adolescente
por diversos cursos. Além disso, a maneira 'obrigatória' como o estudo, através da escola, é
colocado na vida do jovem acaba por afastá-lo cada vez mais da sala de aula. Isso acontece,
justifica Dulce Penna, porque a escola, e muitas vezes a família, não explica à criança e ao
adolescente o sentido do estudo. "Se eles não sabem por que é importante estudar, o que
eles vão ganhar com isso, como é que vamos querer que o aluno goste da escola?", indaga.
Ela acrescenta que, se a escola fosse interessante para o aluno, ele não brigaria para não
estar na sala de aula.
Muitos adolescentes preferem deixar os estudos de lado, para o terror da família, para
trabalhar em lojas de shoppings. Muitos daqueles que concluem o ensino médio também não
chegam a tentar vestibular e optam pelo trabalho, para a tristeza da família. A psicóloga ob-
serva que, nesses casos, a família acaba tentando pressionar o jovem a terminar os estudos e
ingressar num curso superior. "Não concordo com essa pressão", afirma. Dulce explica que,
em muitos casos que atende, aconselha a família a deixar que o adolescente trabalhe, pois
essa é também uma maneira de fazer com que ele dê mais valor ao estudo e à vida que sua
família lhe proporciona. "Aconselho deixá-lo trabalhar até mesmo para que ele possa fazer
sua escolha profissional quando estiver mais maduro", justifica.

capítulo 1 • 28
Reflexão Final

A escolha profissional passa por todo um processo em que estão inseridas


questões como identificações, aptidões, interesses, expectativas e influências fami-
liares, incluindo as perspectivas desenvolvidas pelo jovem, em relação ao próprio
futuro. A Psicologia é o ramo científico capaz de oferecer os instrumentos mais
adequados para uma reflexão e compreensão de si mesmo através da prática da
Orientação Profissional.
Na atualidade, ainda é digna de nota uma problemática que cerca o alunado
há décadas. A dificuldade não apenas de escolher uma profissão mas também de
se manter no curso escolhido. Muitos alunos atravessam diferentes ciclos no meio
acadêmico, vivenciando sua segunda ou terceira escolha profissional, na tentativa
persistente de encontrar seu caminho vocacional e no mundo do trabalho. O
papel do orientador é o de alcançar, na sua proposta de intervenção, três eixos de
extrema relevância na vida do jovem: conhecer a si mesmo, a família e o social. Por
intermédio do autoconhecimento, ele adquire uma plenitude de sua consciência,
bem como da realidade do mundo ocupacional, em seu contexto sociopolítico.
Entre tantos conceitos sobre vocação, Fernando Achilles Mello enuncia uma
definição das mais precisas ao dizer que, apesar de uma vocação individual possuir
componentes oriundos do nascimento da pessoa, eles, para se transformarem em
atributos formadores de uma postura vocacional, precisam alcançar um desenvol-
vimento maduro, não sendo unicamente determinados pela herança genética, mas
sim resultado de uma criação. Quanto à natureza científica da orientação, Mello
(2002) enfatiza que cabe ao profissional orientar o processo, mas não o cliente; de-
ve-se ajudá-lo a investigar-se, propondo alternativas para si próprio, interpretando
os fatos em colaboração com o psicólogo.
A escolha por uma carreira a ser seguida deve levar em consideração bem mais
do que os interesses e aptidões do sujeito. Precisa levar em conta o que a socie-
dade pode oferecer em termos de oportunidades ao jovem destinado a ingressar
no mercado de trabalho mediante suas expectativas ocupacionais. Torna-se inte-
ressante observar que, antes da teoria e prática da orientação profissional surgir,
na primeira década do século XX, a visão que o mundo tinha sobre a relação do
homem com o trabalho era bem diferente, oscilando entre aspectos impositivos e
doutrinadores da conduta.
Geralmente, o trabalho carregava uma entonação de “labor”, do latim labore,
com um sentido de se dedicar com sacrifício a uma tarefa árdua visando a garantir

capítulo 1 • 29
a sobrevivência. Os gregos e os latinos diferenciavam o trabalho criativo (opus) do
trabalho braçal (labor). Na época do Feudalismo, a escravidão foi substituída pela
servidão. O homem trabalhava em benefício do senhor da terra, retirando para
ele apenas a chance de uma habitação, o direito à alimentação e algum vestuário,
porém com severas restrições a sua liberdade, inclusive de locomoção, se desejasse
sair daquelas terras. Durante o período da Revolução Industrial, as condições de
ambientação no trabalho eram terrivelmente desumanas, com a exploração da
jornada de trabalho entre 14 e 16 horas, sem repouso.
No entanto, foi a partir do modelo do Capitalismo, introduzido nessa épo-
ca, que o indivíduo pela primeira vez não teria sua ocupação definida pela ori-
gem familiar, ou seja, aquela conhecida máxima de que os filhos dos servos
seriam sempre servos, enquanto os dos senhores sempre estariam na liderança.
A crença trazida pela sociedade de orientação capitalista enfatizava que, mesmo
apesar das precárias condições de trabalho e das cruéis exigências de produtivi-
dade, com total desconsideração pelo fator humano, o indivíduo seria dono do
seu destino, dependendo apenas da sua capacidade de luta, esforço, estudo, para
atingir seus objetivos. Quando os fundamentos da Orientação Profissional ocu-
pam, tempos mais tarde, abrangente espaço no sistema social, a pesquisa sobre
o relacionamento entre o sujeito e o emprego, na busca para melhor adaptação
ao ambiente de trabalho, passa a atender às modernas propostas de uma etapa
civilizatória, comprometida com a velocidade da interatividade, a serviço da
diversificação dos meios produtivos.
A orientação profissional no Brasil também inicia suas atividades no Liceu
de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1924, tendo como experiência pioneira de
aplicação da psicologia à organização do trabalho a iniciativa de uma seleção de
alunos para o curso de mecânica prática da escola. O ISOP, Instituto de Seleção
e Orientação Profissional, foi criado em 1947, assumindo por objetivo contri-
buir para o ajustamento entre o trabalhador e o trabalho, a partir de um acom-
panhamento científico, voltado para o estudo das aptidões e vocações do traba-
lhador, bem como dos requisitos psicofisiológicos exigidos pela modalidade de
trabalho. Com a extinção do ISOP em 1993, a criação do ABOP, Associação
Brasileira de Orientação Profissional, teria, entre suas principais contribuições,
a organização e o apoio a eventos que estreitassem as relações com a orientação
profissional, incluindo a implementação de cursos de especialização e exten-
são; almejava-se nessas ações o desenvolvimento, a integração e a valorização do
orientador profissional no Brasil.

capítulo 1 • 30
No mundo contemporâneo, a importância do orientador profissional, conhecedor
do quanto o mercado e as possibilidades profissionais podem ser mutáveis, posicionan-
do o futuro como o lugar da incerteza, consiste em chamar a atenção do jovem sobre
a importância de estar em constante processo de reciclagem, acompanhando as trans-
formações vividas pela sociedade, assim como as respectivas interferências produzidas
no indivíduo. O orientador, nesse caso, estará cumprindo seu enquadro de trabalho,
informando, orientando, e não direcionando a melhor atitude a ser tomada, por acre-
ditar no discernimento desse jovem, culturalmente preparado para assumir as próprias
diretrizes, diante das permanentes mudanças que norteiam o mercado profissional.

Vamos estudar?

1. Por que a Orientação Profissional poderia ser considerada uma das práticas mais
importantes do psicólogo na atualidade?
2. Diferencie os termos “orientação vocacional” e “orientação profissional”.
3. Qual a importância do trabalho na construção da identidade social do sujeito?
4. Sintetize de maneira breve a história do surgimento da orientação profissional,
ressaltando sua importância no contexto de cada época.
5. Discorra sobre a seguinte assertiva: “Na atualidade, há uma enorme dificul-
dade em se encontrar a receita para uma perfeita união entre produtividade e
qualidade de vida”.
6. Que fatores orientam o comportamento humano, influenciando desempenho
do indivíduo?
7. Qual a importância do conceito de saúde, a partir de Bleger, para a compreen-
são da Orientação Profissional?
8. Do ISOP ao ABOP, como se deu a evolução da prática da Orientação
Profissional no Brasil?

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capítulo 1 • 32
2
Decidir é preciso...
Decidir é preciso...

As dificuldades inerentes ao processo de escolha profissional

A vida é a soma das suas escolhas


(Albert Camus1).

Escolher faz parte da nossa vida. O tempo inteiro temos de decidir por uma
ou outra coisa: o que comprar, o que comer, o que fazer, aonde ir. Sabemos que
decidir não é nada fácil, porque toda escolha implica em uma perda. Mas sabemos
que todas as escolhas implicam também em um bônus e um ônus.

OBJETIVOS
•  Compreender as dificuldades do processo de escolha e sua importância para a saúde
mental e emocional;
•  Refletir sobre aspectos que permeiam a tomada de decisões;
•  Reconhecer a evolução histórica da atuação do psicólogo no contexto da Orientação Profissional;
•  A importância da família no processo da escolha ocupacional.

Nas palavras da escritora Martha Medeiros2, “quando fazemos uma escolha,


qualquer escolha, estamos dizendo sim para um lado e não para o outro”. Então
algum sofrimento sempre vai haver. Se faço algo porque ganho uma coisa, perco
a outra coisa que não foi a escolhida. O que não podemos perder de vista é a
gênese dessas disposições, em que prazer e dor vivem em constante revezamento,
constituindo faces de uma mesma moeda; sendo que, simbolicamente falando,
a unidade monetária desse jogo consiste em nosso mecanismo de compensação
psíquica, capaz de nos impulsionar para a escolha, ainda que sabedor, consciente
ou inconscientemente, da perspectiva de consequências mais adiante.
Nesse sentido, procurar estabelecer um diálogo interior, o mais franco possí-
vel, entre metas que desejamos alcançar e o preço do sacrifício subjacente a elas

1  Albert Camus, frase retirada de considerações biográficas presentes na obra O mito de Sísifo. Lisboa, s/d.
2  Marta Medeiros é jornalista e escritora contemporânea, autora de vários livros de crônicas e poemas atuais.

capítulo 2 • 34
torna-se condição fundamental para que obtenhamos decisões cada vez mais sen-
satas e menos passionais.
Aqueles que tentam fugir do peso do compromisso que toda escolha re-
sulta, fatalmente estarão abandonando “o barco no meio do caminho”, con-
siderando que talvez tenham se equivocado na opção assumida, quando, na
verdade, a falha pode estar residindo na capacidade individual de manutenção
do processo de escolha.
Como bem enfatizou certa vez, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre3: “Viver
é isso; ficar se equilibrando o
tempo todo, entre escolhas e
consequências”. Costumo brin-
car com meus alunos sobre es-
tarmos em um momento no
qual ninguém quer “perder”
nada – e, por isso mesmo, evita-
mos as escolhas. A esse tempo
chamo carinhosamente de
“momento churrascaria”; é uma maravilha, lá encontramos de tudo: carne, peixe, fran-
go, sushi, macarrão e até camarão e pizza. De um modo geral, as pessoas põem no
prato um pouco disso, um pouco daquilo e comem de tudo. Ou seja, simples e fácil:
não há escolhas nem tomadas de decisão, tudo é bem-vindo!
A essa altura, você está com um largo sorriso e se pergunta: que mal há nisso?
O que tem a ver a escolha profissional com o que vou comer na churrascaria? De
fato, caro aluno, não me julgue introme-
tida, mas você já parou para refletir se
você escolhe de fato seus caminhos ao
tomar suas decisões ou empurra com a
barriga? Será que você escolhe de forma
consciente ou vai tentando ora o que o
amigo indicou, ora o que a família
orientou, ora fica literalmente esperan-
do que alguém decida por você? Ou,
ainda, aguarda a solução “mágica” que
venha do além e determine a sua melhor possibilidade?

3  Jean-Paul Sartre foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo.
Citação retirada do livro O que é o existencialismo (PENHA, J.. São Paulo: Brasiliense, 2004).

capítulo 2 • 35
O resultado do conflito instituído pela necessidade de escolher é, muitas ve-
zes, uma sensação de incapacidade, de incompetência.

REFLEXÃO
Vamos analisar com atenção trechos da música do conjunto Ultraje a Rigor4 que
demonstram a dificuldade de escolher para um debate em sala:

“A gente não sabemos escolher presidente


A gente não sabemos tomar conta da gente (...)
A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem para botar
A gente faz filho e não consegue criar (...)
A gente faz música e não consegue gravar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar.
Inútil
A gente somos inútil”

Bock (2002) afirma que nem sempre uma escolha é de fato do indivíduo, pois,
ao escolher entre o que é oferecido, existe a realidade impondo limites e possibi-
lidades, ou seja, ao escolher, o indivíduo pode sofrer influência da sociedade, do
grupo a que pertence, dos valores ditados por modismos, a televisão, o marketing,
e assim questiona-se se a pessoa realmente escolheu. Para ela, a tensão desse mo-
mento está ligada às pressões sociais (p. 319 - 321).
Chega, então, o momento de procurar o máximo de informações possíveis
para que se possa conhecer, avaliar e definir as possibilidades. Para isso, é necessá-
ria uma dose de paciência e vontade que nem sempre combinam com o período
da adolescência. Nesse sentido, para conhecer as coisas que quero e gosto, torna-se
necessário que eu me conheça também. É justamente o momento em que o jovem
precisa fazer a escolha profissional que ele também está se descobrindo, se encon-
trando consigo mesmo, promovendo seu autoconhecimento, pois, nesse período

4  Roger Moreira. “Inútil”. In: Ultraje a Rigor. Nós vamos invadir sua praia. L.P. São Paulo, RCA, 1985, 28.128. L.B.F.1.

capítulo 2 • 36
da vida, o adolescente não sabe exatamente quem é e está em um processo de
construção de sua identidade.
A escolha da profissão demarca um momento tão especial e muitas vezes sig-
nifica a entrada no mundo adulto. Outros questionamentos podem surgir, mas,
para trabalhar em orientação profissional, a melhor possibilidade é ter consciência
daquilo que nos determina e, a partir disso, escolher.
A tomada de consciência, que não acontece de forma abrupta ou súbita, pode
ser compreendida como uma construção advinda das relações do sujeito com o
objeto, conforme nos ensina Piaget (1977), sendo a mesma vista como uma con-
ceituação, isto é, uma passagem de uma assimilação prática (assimilação do objeto
a um esquema) a uma assimilação por meio de conceitos. Já a conceituação, que é
um nível superior de tomada de consciência, se dá através de regulações ou reações
a perturbações geradas por obstáculos à assimilação e à acomodação, e vão surgin-
do e se aperfeiçoando no decorrer do desenvolvimento do sujeito.
Mas Soares (2002) questiona: como se conquista a tomada de consciência?
E complementa: “a liberdade de escolha está diretamente relacionada ao nível de
resolução desse conflito, isto é, quanto menos ansiosa for a escolha, mais livre po-
demos dizer que ela é, pelo menos nos determinantes psicológicos”.
Uma escolha, mesmo que seja livre, sofre influências de fatores externos e in-
ternos; para tanto, há necessidade
então de se conhecer a realidade ex-
terior e a interior para que o proces-
so de avaliação e tomada de decisão
resulte numa probabilidade de ade-
quação e um determinado grau de
satisfação entre o escolhido e a rea-
lidade, o que situa a liberdade de
escolha num jogo constante entre
probabilidade e assertividade.
Porém, muitas vezes o problema da liberdade de escolha consiste em saber dei-
xar, saber perder, saber aceitar as limitações de não poder ter tudo, ao mesmo tempo
e com a mesma intensidade. Na escolha, deve estar consciente a necessidade de se
reconhecer que a liberdade humana é situada, enquadrada no real, condicionada
ou relativa. (BOHOSLAVSKY, 1998)
Soares (2002) apresenta uma relação de fatores que determinam a escolha
profissional e que, embora apresentados no quadro a seguir de forma separada,
sempre atuam juntos.

capítulo 2 • 37
Referem-se especialmente à política governa-
FATORES mental e seu posicionamento perante a edu-
1 POLÍTICOS cação, em especial o ensino médio, pós-médio,
ensino profissionalizante e universidade.

Referem-se ao mercado de trabalho, à glo-


balização e à informatização das profissões,
à falta de oportunidades, ao desemprego, à
FATORES
2 falta de planejamento econômico, à queda do
ECONÔMICOS poder aquisitivo da classe média e a todas as
consequências do sistema capitalista neoliberal
no qual vivemos.

Dizem respeito à divisão da sociedade em


classes sociais, à busca da ascensão social
3 FATORES SOCIAIS por meio do estudo (ensino superior), à in-
fluência da sociedade na família e aos efei-
tos da globalização na cultura e na família.

Compreendem o sistema de ensino brasileiro,


a falta de investimento do poder público na
FATORES
4 educação, a necessidade e os prejuízos do
EDUCACIONAIS vestibular, além da questão da universidade
pública e privada de uma forma mais geral.

Impõem à família uma parte importante no


processo de impregnação da ideologia vi-
FATORES gente. A busca da realização das expectati-
5 FAMILIARES vas familiares em detrimento dos interesses
pessoais influencia na decisão e na fabrica-
ção dos diferentes papéis profissionais.

Dizem respeito aos interesses, às motiva-


ções, às habilidades e às competências
FATORES pessoais, à compreensão e à conscienti-
6 PSICOLÓGICOS zação dos fatores determinantes versus
a desinformação à qual o indivíduo está
submetido.

Tabela 2.1  –  Fatores que determinam a escolha profissional. Fonte: Soares (2002, p. 45).

capítulo 2 • 38
EXERCÍCIO RESOLVIDO
Nada como ampliarmos nossa visão de mundo sobre o assunto recorrendo à inspiração
artística do saudoso poeta da música Renato Russo quando ele compôs a letra da canção
“Eduardo e Mônica”.
Ao acompanharmos a saga apaixonante do casal, descobrimos que muitas vezes as escolhas
feitas “pelo coração”, ou seja, a partir dos misteriosos desígnios do desejo e da compatibi-
lidade amorosa, sem passar pelo tradicional crivo da razão, podem também ser bastante
produtivas no avanço do processo de individuação, levando cada apaixonado a descobrir,
partindo de seus impulsos inconscientes, uma série de características adaptativas com as
quais jamais estaria familiarizado se mantivesse apenas o mero contato com suas escolhas
conscientemente estabelecidas.
Na composição, observamos o quanto Eduardo e Mônica influenciam-se mutuamente no
aspecto social, tendo por dispositivo interno um irresistível clamor emocional. E nenhum dos
dois será mais o mesmo depois de terem se escolhido, tornando-se muito mais completos
pela grata assimilação de suas diferenças, agora transmutáveis, em novos horizontes de vida.

Música: “Eduardo e Mônica” – Autoria: Renato Russo.

Quem um dia irá dizer que existe razão


Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar


Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
- Eu não estou legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar

capítulo 2 • 39
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
- É quase duas, eu vou me ferrar

Eduardo e Mônica trocaram telefone


Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica eram nada parecidos


Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
Do Caetano e de Rimbaud

E o Eduardo gostava de novela


E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação

E o Eduardo ainda estava


No esquema "escola, cinema, clube, televisão"
E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia


Teatro e artesanato e foram viajar

capítulo 2 • 40
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer


E decidiu trabalhar
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa
Que nem feijão com arroz

Construíram uma casa uns dois anos atrás


Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília


E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação

E quem um dia irá dizer que existe razão


Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?

- Agora que se familiarizou com a inusita-


da história de vida desse casal, procure bus-
car nas suas lembranças alguma situação de
mútua influência emocional, em que você e
o outro saíram modificados de alguma forma
dessa troca de experiências.

capítulo 2 • 41
Os conflitos na escolha

A escolha da profissão implica em uma dimensão temporal que precisa


ser integrada e percebida pelo jovem: o que se quer ser no futuro implica em
reconhecer o passado, as influências sofridas na infância. Para a autora, as
expectativas das pessoas quanto ao seu futuro estão carregadas de afetos, es-
peranças, medos e inseguranças; não somente seus, como dos familiares mais
próximos (Soares, 2002).
Moffatt (1982) fez um diagrama para esclarecer melhor a dimensão atem-
poral, conforme exposto no quadro abaixo:

Para o autor:

O futurar-recordações organiza em nós a sucessão histórica, pois,


quando essa recordação, “lançada” no futuro, chega a se tornar
presente, reconhecemo-nos os mesmos que a lançamos “lá adiante” e
temos, portanto, o sentimento de continuidade do eu, em que o eu sido
(passado), o eu (presente) e o eu por ser (futuro) pertencem ao mesmo
núcleo do eu que se desloca no tempo. Na contradição dialética entre
o passado e o presente, a síntese é o futuro. (MOFFATT, 1982)

capítulo 2 • 42
É interessante notar que o processo de submissão ao qual o jovem se encontra,
já que dificilmente precisa decidir coisas importantes de sua vida, como onde es-
tudar, por exemplo, deixa-o surpreso diante da necessidade de escolher. Sabemos,
também, que a escolha ocupacional está ligada à ideia de ser feliz e realizado. Mas a
necessidade de ser feliz e realizado na sua profissão pode ser um fardo bem pesado
e gera mais insegurança, além do medo de errar.

Soares (2002) ressalta que:

Esta dimensão da felicidade diretamente relacionada com o futuro


traz no momento da escolha um peso muito grande, e nem sempre o
jovem está em condições de avaliar.Relacionam-se a estas inúmeras
projeções feitas desde o seu nascimento, sugerindo que a felicidade
ainda não existe e só existirá a partir deste futuro (p. 25).

Outro elemento importante da escolha, informa Bock (2002), é que, diante


da dúvida ou de um conflito, a pessoa precisa se posicionar por um dos objetos.
Assim, toda escolha implica em uma perda, como já comentado no início deste
capítulo. Por isso, Bock (2002) afirma que “escolher é um ato de coragem”. Ao
escolher o que você vai obter, escolhe também aquilo que vai deixar de ter. Na
escolha ocupacional, também é assim. Mas essa é uma escolha que pode ser refeita,
retomada, modificada. Os critérios utilizados para uma escolha hoje podem ser di-
ferentes dos de amanhã. Geralmente, escolhemos o que é melhor nesse momento
da nossa vida e nem sempre acertamos. Mas quando temos consciência do nosso
projeto de vida e conseguimos ter a percepção que a escolha feita foi inadequada,
ainda podemos rever as possibilidades e formar novas escolhas.

ATENÇÃO
Como Escolher Minha Profissão5 (Graça Santos)

A cada dia surgem novas opções de carreiras e de oportunidades de trabalho. O que


fazer? Esse turbilhão de dúvidas não deve ser encarado como um problema grave. Espe-

5  Disponível em: https://goo.gl/cCWS3g. Acesso em: 27 fev. 2017.

capítulo 2 • 43
cialistas garantem que a insegurança diante da escolha profissional é um sintoma saudável
e produtivo. Com vários caminhos abertos à sua frente, o indeciso tem maiores chances de
escolher melhor do que quem apoia sua certeza em fantasias. Por isso, recomenda-se que
essa fase da vida seja enfrentada com tranquilidade pelos jovens e sua família. Afinal, toda
decisão pressupõe incertezas e uma dose de risco. E esse é o primeiro grande desafio do
jovem diante do novo e do desconhecido.
Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é ne-
cessariamente definitiva. Novos caminhos vão surgir durante a faculdade, o mercado
de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na carreira. "A faculdade
deve ser encarada como a escolha de uma plataforma, um alicerce para a construção da
vida profissional", afirma Rubens Gimael, especialista em desenvolvimento de carreira
da NeoConsulting. É comum encontrar engenheiros trabalhando na área de Finanças,
arquitetos se dedicando à Área Comercial, economistas cuidando de Marketing.
A mudança não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios
que a vida vai trazendo. Escolher uma profissão representa esboçar um projeto de vida,
questionar valores, as habilidades, o que se gosta de fazer, a qualidade de vida que se
pretende ter. E esse momento de reflexão pode render bem mais quando é compartilha-
do com a família. Mas, por excesso de liberalismo, muitos pais se omitem com a desculpa
de não querer interferir na vida dos filhos.
Um passo importante para o jovem indeciso é investigar, reunindo informações sobre
as profissões e cursos oferecidos pelas faculdades. Há ainda a opção de buscar apoio em
empresas de Orientação Vocacional.
As transformações econômicas que atingiram o mundo de forma global impulsionaram
novas e promissoras carreiras. São as profissões que envolvem inovações tecnológicas e
áreas de Inteligência e Conhecimento. As carreiras tradicionais, como Medicina, Direito,
Engenharia, Letras e Administração ainda são as mais procuradas nos vestibulares. Elas
se renovaram e ganharam áreas de atuação que prometem sucesso e bons rendimentos,
como o campo de Biotecnologia para os advogados e o de Meio Ambiente para engenhei-
ros. É bom também ficar antenado com o crescimento dos setores de Serviços, Lazer e
Entretenimento, Meio Ambiente e projetos sociais. Eles abriram oportunidades atraentes
de trabalho para os profissionais com formação em Biologia e Educação Física, que anda-
vam em baixa, e valorizaram cursos que antes eram considerados de segunda linha, como
Relações Internacionais, Turismo e Hotelaria.
Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas. A primeira
delas é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do desemprego e assegurar o
sucesso profissional. Uma boa escola pode até abrir portas no início da carreira, mas vale

capítulo 2 • 44
lembrar que existem muitos profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram de
cursos de primeira linha.
Para os especialistas em Recursos Humanos, o sucesso numa profissão depende 30%
de conhecimento e 70% de atitude. Uma paradinha para refletir sobre: quem você é na es-
cola? Como estuda? O que gosta de fazer?
Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta no mer-
cado normalmente é o caminho mais rápido para o abandono de uma profissão. "Quem não
leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer uma escolha fatalmente desistirá dela
quando a oferta de trabalho cair", afirma a Psicóloga Renata Mello, da equipe de Orienta-
ção Profissional do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado
deve ser redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito e que não possibili-
tam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como Oceanografia, Odontologia
e Telecomunicações.
No fim da década de 90, a expectativa de um mercado de trabalho promissor na área de
Telecomunicações levou à ampliação de vários cursos, como Engenharia de Telecomunica-
ções, que agora não conseguem preencher todas as vagas. Há trabalho para profissionais
de nível técnico e de manutenção, mas poucas vagas para cargos de direção e gerência. Ao
mesmo tempo, o jovem que já se decidiu por uma carreira não deve desistir dela por causa do
temor do desemprego – fantasma que ronda todas as profissões. "Quem faz a escolha certa
tem mais autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE.
Em 2006, o Ministério da Educação lançou o Catálogo Nacional de Cursos Superiores
de Tecnologia. Com esta iniciativa ganham os estudantes, os pais, os professores, as ins-
tituições de ensino, as empresas, enfim, a sociedade, por terem à disposição permanen-
te um instrumento que relaciona os cursos superiores de tecnologia. Com isto fornece
subsídios importantes para decisões vocacionais, matrizes curriculares e estratégias de
formação, além de favorecer ao exercício da cidadania no acompanhamento da quali-
dade dos cursos e ainda induz o desenvolvimento de perfis profissionais amplos, com
capacidade de pensar de forma reflexiva, com autonomia intelectual e sensibilidade ao
relacionamento interdisciplinar.

capítulo 2 • 45
A escolha e a saúde mental

A insatisfação no trabalho pode ser uma fonte de sofrimento para o ser hu-
mano. Segundo Dejours (1987), tal insatisfação pode ser decorrente de senti-
mentos de indignidade pela obrigação de realizar uma tarefa desinteressante e
sem significado; de inutilidade por desconhecer o que representa o trabalho no
conjunto das atividades na empresa;
de desqualificação tanto em função
de questões salariais como aquelas li-
gadas à valorização do trabalho em
aspectos como responsabilidade, ris-
co ou conhecimentos necessários.
Satisfação no trabalho tem sido
associada à saúde do trabalhador, em
que indivíduos mais satisfeitos com
suas atividades apresentam melhor
qualidade de saúde e menor ocor-
rência de doenças, tanto no que se
refere à saúde física como à mental.
(LOCKE, 1976; ROCHA, 1996;
ZALEWSKA, 1999a, 1999b apud
MARTINEZ & PARAGUAY, 2003)
A satisfação no trabalho também tem sido apontada como um fator associado
à longevidade. (FRASER, 1983; LOCKE, 1976; MINISTÉRIO DA SAÚDE,
1999 apud MARTINEZ & PARAGUAY, 2003).
Sendo o papel da satisfação no trabalho um elemento importante da pre-
venção de doenças e na promoção da saúde, ele também é visto como um dos
principais componentes para a satisfação geral com a vida e se encontra associado
à saúde mental ocupacional. Portanto, uma escolha assertiva pode ser responsável
pelo índice de satisfação e de felicidade no futuro.
Então vamos convidá-lo, caro aluno, a refletir profundamente sobre as esco-
lhas dos jovens acerca da importância exercida pelas influências e expectativas dos
pais e familiares quanto ao futuro profissional de seus adolescentes. Para tanto,
expomos abaixo a poesia “O louco”, de Khalil Gibran.

capítulo 2 • 46
REFLEXÃO
Poesia “O louco”, de Khalil Gibran.

No pátio de um manicômio encontrei um jovem com rosto


pálido, bonito e transtornado.
Sentei-me junto a ele sobre a banqueta e lhe perguntei:
-Por que você está aqui?
Olhou-me com olhar atônito e me disse:
-É uma pergunta pouco oportuna a tua, mas vou respondê-la.
Meu pai queria fazer de mim um retrato dele mesmo,
e assim também meu tio.
Minha mãe via em mim a imagem de seu ilustre genitor.
Minha irmã me apontava o marido marinheiro
como o modelo perfeito para ser seguido.
Meu irmão pensava que eu devia ser idêntico a ele:
um vitorioso atleta.
E mesmo meus mestres, o doutor em Filosofia,
o maestro de música e o orador eram bem convictos:
cada um queria que eu fosse o reflexo de seu vulto em um espelho.
Por isso vim para cá.
Acho o ambiente mais sadio.
Aqui pelo menos posso ser EU mesmo.

De acordo com Dias (1995), a hora da escolha por uma profissão é permeada com as
visões e pressões da família tanto de forma concreta quanto de modo internalizado pelo
sujeito, em que a escolha profissional pode se desenvolver como um artifício imaginário
para a “solução” de conflitos que podem não ter nada a ver com a profissão. Para ela:

Em alguns momentos, a escolha profissional, influenciada pelos dilemas


familiares, poderá, mesmo, transformar-se em sintoma de grupo –
expressão de ansiedades e conflitos compartilhados. (...) se aderida
à escolha encontra-se sempre uma rede de afetos, o tipo de escolha
pode estar, por vezes, visando reparar vivências dolorosas anteriores
que permanecem como um tipo de “machucado intrapsíquico” (p. 78).

capítulo 2 • 47
Bohoslavsky (1998) já apontava para a necessidade de se analisar os vínculos
com o “outro”, posto que a escolha sempre se relaciona com os outros (reais e
imaginados), afirmando que:

O futuro nunca é pensado abstratamente. Nunca se pensa numa


carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será sempre essa
carreira ou essa faculdade ou esse trabalho, que cristaliza relações
interpessoais passadas, presentes e futuras. Deve-se examinar as
relações com os outros com os quais se estabelecem relações primárias
(membros da família, do mesmo ou do outro sexo como, por exemplo,
o casal) e aqueles outros com os quais se mantém uma relação de
natureza secundária (fundamentalmente professores, psicólogos
ou técnicos, desde o bedel que atende numa faculdade, a primeira
pessoa que conhece, desse mundo, em que se quer ingressar, até o
responsável pelas bolsas de uma instituição, que pode determinar ou
influir diretamente sobre o futuro de quem escolhe) (p. 27-28).

O autor complementa que, para um adolescente definir o futuro, não é


apenas definir o que fazer, mas também quem ser e quem não ser; portanto, é
necessário encontrar sua identidade ocupacional que acontece quando há um
perfeito ajustamento entre estudo e trabalho, ambos vistos como forma de
ascender a papéis sociais adultos.

capítulo 2 • 48
Bohoslavsky (1998) acrescenta que:

(...) a identidade ocupacional será considerada não como algo definido,


mas como um momento de um processo submetido às mesmas leis e
dificuldades daquele que conduz à conquista da identidade pessoal.
Esta colocação elimina a ideia de que vocação é algo definido, um
“chamado” ou destino preestabelecido, que se deve descobrir (p. 30).

O papel da família no processo da escolha

O que você vai ser quando crescer? Em geral,


esse questionamento assombra os jovens desde
muito cedo. Embora a escolha profissional seja um
tema especialmente abordado no período da ado-
lescência, desde muito antes, na infância precoce,
ouvimos pais e amigos questionando, construindo
sonhos e até mesmo determinando a profissão dos
filhos e parentes ainda crianças.
O fato é que a escolha profissional passa pelo
desejo dos pais e familiares mesmo antes de ser o
ponto alvo do pensamento juvenil. Não raro, o jo-
vem encontra no desejo dos pais a própria escolha
profissional. Diante de um momento no qual a in-
decisão impera, como saber se a escolha está isenta
das pressões externas? Como saber qual melhor caminho a seguir? Como identifi-
car se a escolha feita vai retornar em sucesso profissional e satisfação pessoal?

EXEMPLO
Meu pai é dentista, minha mãe é dentista... Também vou ser dentista.
Minha mãe queria muito ser bailarina... Eu também faço balé.

No período da adolescência, ocasião em que impera a necessidade de


fazer as escolhas que influenciarão toda a história futura, é muito comum

capítulo 2 • 49
encontrar dúvidas e expectativas quanto ao futuro. Muitas vezes os pais ou
modelos, fontes de inspiração do jovem, acabam por imprimir seus anseios
e expectativas, as próprias aspirações, como uma possibilidade para seus fi-
lhos. Uma mãe que queria ser bailarina e não pôde deseja que sua filha seja,
um pai que não conseguiu ser músico ou jogador de futebol espera ver seus
sonhos realizados na figura do filho. Não queremos insinuar que um jovem
não deva ou possa seguir a carreira dos pais, claro que pode e deve caso tenha
sido uma escolha consciente!
Com relação à identidade ocupacional, afirma Bohoslavsky (1998), podemos
conhecer qual a resultante de uma identifica-
ção, mas fica muito difícil descobrir o que de-
termina as identificações. Se o pai do adoles-
cente é advogado e o filho quer fazer Direito,
podemos supor que haja uma identificação,
mas não explica para que e por que ele se iden-
tificou com esse aspecto e não com outros. Por
outro lado, a escolha da profissão não remete
necessariamente a uma identificação com seu
progenitor e tampouco é uma má escolha.
“Pode ser uma boa escolha se realizada com
autonomia dos motivos originais que deram
lugar à identificação com determinada pessoa
que desempenha um papel profissional” (p. 31).
Dias (1995) afirma que, para compreendermos esses processos, precisamos da
presença dos pais em algum momento do trabalho com o jovem, advertindo que
essa inclusão não significa os ter concretamente nas entrevistas. No geral, o jovem
vem à primeira entrevista acompanhado dos pais; mesmo quando maior de idade,
sugerimos a presença dos mesmos na primeira entrevista. Mesmo quando os pais
não participam concretamente do processo, a família é considerada, pois, a partir
do discurso trazido pelo jovem, buscamos uma rápida avaliação sobre a psicodi-
nâmica do grupo familiar, elucidando suas expectativas, sonhos e sua percepção
sobre os filhos e sua escolha profissional.
No geral, todo jovem anseia por um referencial de identificação capaz de me-
diar sua interpretação do mundo exterior, seu diálogo projetivo perante os próprios
conflitos internos, bem como sua tomada de atitude com relação às decisões ine-
vitáveis que lhes são suscitadas em sua rotina diária, possibilitando a estruturação

capítulo 2 • 50
de uma persona comportamental, suficientemente atraente e confiável diante dos
grupos sociais nos quais se encontra inserido: família, vizinhança, escola e am-
bientes diversos. Mesmo onde seja novato, não se percebe ele necessariamente
deslocado devido à flexibilidade adaptativa, valendo-se de recursos emocionais e
cognitivos, facilitadores do processo de empatia, conseguindo, em pouco tempo,
estabelecer produtivos vínculos interativos.
Torna-se necessário, no entanto, para facilitar esse delicado percurso da identi-
ficação familiar para a diferenciação de valores, que os pais exercitem a capacidade
de se colocarem no lugar dos filhos, abandonando momentaneamente o solitário,
e muitas vezes involuntário, pedestal da autoridade carismática ou até mesmo
coercitiva para observar com o olhar forasteiro, de quem tirou férias de sua habi-
tual e quase imperceptível postura sugestiva, até que ponto seus modelos de vi-
vência estão reforçando nos filhos a dificuldade de reciclar seus valores e posturas,
buscando o natural desejo de contestação e mudança.
A não observância dessa conformação do jovem em simplesmente repro-
duzir a matriz das crenças familiares pode convertê-lo em impostor de suas
reais disposições de personalidade, levando à sabotagem de uma libertadora
identidade madura.
Torna-se, portanto, de grande importância estudar o dinamismo familiar sem
esquecer a historicidade em que ele é construído, porque a escolha da profissão
e os projetos para o futuro dos filhos se constroem no seio da família e são parte
integrante da mesma e devem ser estudados. (SOARES, 2002)
Segundo Soares (2002), no projeto profissional do jovem:

Pode apresentar-se a dificuldade de autonomia em relação às


influências familiares, e as consequentes implicações de concordâncias
e contradições em relação às expectativas dos membros da família.
Entre o compromisso de realizar o projeto familiar e a oposição a ele,
a internalização pelo jovem dos projetos dos pais é fruto de uma luta,
seja ela aberta ou latente, mais ou menos viva, de acordo com o caso,
mas sempre presente (p. 94).

A escolha por uma profissão representa muito nesse momento, pois é sinôni-
mo de realização profissional, econômica e pessoal. O reconhecimento por todo

capítulo 2 • 51
esforço e dedicação costuma ser o troféu almejado e pode ser um peso muito gran-
de para um momento da vida em que quase tudo se reflete em dúvidas.

REFLEXÃO
Vamos repensar as relações familiares a partir da composição “Como nossos pais”, de Belchior.

Não quero lhe falar


Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar


Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar seu irmão


E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço
O seu lábio e a sua voz

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção

capítulo 2 • 52
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber


Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer


Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando

capítulo 2 • 53
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem

Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando o vil metal

Minha dor é perceber


Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

Maturidade e adequação vocacional

Mello (2002) compreende a maturidade vocacional como sendo um grau de


desenvolvimento vocacional que esteja de acordo com a idade cronológica e bio-
lógica do indivíduo (p. 101).
Para Balbinotti & Tétreau (2006), maturidade vocacional é a capacida-
de de enfrentar tarefas de desenvolvimento com as quais se é confrontado

capítulo 2 • 54
como consequência do próprio desenvolvimento social e biológico e das
necessidades da sociedade em relação às pessoas que alcançam esse estado
de desenvolvimento.
A maturidade vocacional, para Mello (2002), pode ser ajuizada de dois
modos, segundo dois critérios. Considerando o critério externo, a análise deve
ser feita em relação ao seu grupo etário ou em relação a qualquer grupo de
referência (educacional, profissional, socioeconômico etc.); considerando o
critério interno, a análise se dá em relação ao seu repertório comportamental,
a suas ações e atividades.

Saber quais são suas características


CONHECIMENTO principais relacionadas com a problemática
vocacional: inteligência geral, tipos de inteli-
1 REALISTA DE SI gência ou de raciocínio, aptidões, interesses,
PRÓPRIO necessidades, valores, aspirações e traços
relevantes de sua personalidade.

Possuir informações relevantes e exatas


sobre as alternativas profissionais, ocupa-
cionais ou educacionais disponíveis para
sua consideração (atual e futura), conse-
guindo discriminar as principais diferenças
CONHECIMENTO entre elas, isto é, quanto a: atividades pre-
2 REALISTA DA dominantes; requisitos formais; habilidades,
SITUAÇÃO EXTERNA aptidões e educação necessárias; condi-
ções típicas de trabalho; especialidades
dentro de cada uma; níveis máximo, médio
e mínimo de remuneração; características
do mercado de trabalho para cada uma
delas; perspectivas de carreira.

capítulo 2 • 55
Ter bem presente que precisa se preparar
para a entrada na vida adulta e que isso impli-
ca ter informações realistas sobre as próprias
CONSCIÊNCIA DA capacidades e limitações, pontos fortes e
pontos fracos, aspirações, valores e persona-
NECESSIDADE
3 lidade; ter conhecimento realista da situação
DE ESCOLHER E externa; certamente, saber relacionar essas
DECIDIR duas informações de modo realista; com
base nesse diagnóstico realista, traduzir, em
prognósticos também realistas, as probabili-
dades de escolhas mais acertadas.

É necessário que a pessoa apresente um grau


esperado de nitidez e clareza sobre quais são
NITIDEZ E suas características relevantes para o processo
ESTABILIZAÇÃO de diagnóstico e prognóstico que leva à escolha
4 DAS vocacional. E, ainda, que essas características
CARACTERÍSTICAS tenham alcançado um nível de estabilização,
uma constância em sua definição, de modo
PESSOAIS a permitir um bom grau de probabilidade de
acerto na escolha da carreira ocupacional.

Em parte, é consequência do item anterior,


mas refere-se especificamente a um foco
mais nítido das preferências do indivíduo,
em que ele já elege, prioritariamente, uma
CONSISTÊNCIA DAS área de escolha vocacional. Nesse caso, as
5 PREFERÊNCIAS outras possibilidades de escolha passam
VOCACIONAIS a um plano secundário, tornando-se quase
irrelevantes. As profissões que compõem
esse campo preferencial devem apresentar
boa correlação ou coerência entre si – não
podem ser categorias heterogêneas.

DELINEAMENTO Ter claramente em mente que a escolha de


uma profissão implica desejavelmente – já
DE UMA CARREIRA
6 no momento da escolha – imaginar realisti-
A PARTIR DA camente o prosseguimento numa caminha-
ESCOLHA da ocupacional, projetada para o futuro.

capítulo 2 • 56
Em coerência com a escolha vocacional e
com o delineamento de uma carreira, prever
os passos educacionais desejáveis para a
PLANEJAMENTO concretização desse projeto. Cogitar das
EDUCACIONAL- diferenças existentes entre os cursos pro-
7 PROFISSIONAL DE fissionalizantes disponíveis; por que preferir
uns e não outros; se há gratuidade ou não e,
CARREIRA caso não haja, como pagar, bolsa de estudo,
monitoria, crédito educativo; se há processo
seletivo para o ingresso.

VISÃO REALISTA DE A partir de sua escolha profissional, tem o


8 SUA SUBSISTÊNCIA jovem uma visão realista de como irá garantir
ECONÔMICA sua subsistência, desde já e daí em diante?

Na visão externa do orientador ou psicólogo


vocacional, baseado no diagnóstico-prog-
nóstico feito colaborativamente entre ele e
seu cliente, a escolha que o cliente pretende
REALISMO fazer parece adequada, realista, com um bom
grau de probabilidade de acerto, prefigurando
9 DA ESCOLHA ajustamento, sucesso e satisfação do cliente?
PROFISSIONAL Como esse é o critério final da OV, caso
o orientador tenha dúvida a respeito, será
conveniente não concluir nem fechar o pro-
cesso, abrindo o tempo necessário para uma
melhor avaliação dos fatores pertinentes.

Tabela 2.2  –  Condições para avaliação da maturidade vocacional. Fonte: Mello, F. A. F. O


desafio da escolha profissional. Campinas: Papirus, 2002, p. 101-104.

Entende-se maturidade vocacional como sendo um grau necessário e convenien-


te de desenvolvimento vocacional que esteja de acordo com a idade cronológica e
biológica do indivíduo, enquanto o ajustamento vocacional é entendido como a har-
monização vocacional de uma pessoa: se situações e comportamentos são adequados,
conforme um critério de eficiência e eficácia.

capítulo 2 • 57
Sendo assim, o ritmo e o nível de desenvolvimento vocacional resultam no grau de
maturidade vocacional que, por sua vez, propicia uma adequação profissional: quanto
mais maduro vocacionalmente for o jovem, maior será a probabilidade de que faça
uma adequada escolha vocacional.
Para Minarelli (1995), adequação vocacional, competência profissional, idonei-
dade, saúde física e mental, reserva financeira e fontes alternativas e relacionamen-
to são os seis pilares que sustentam a empregabilidade; funcionando como base, a
união de todos dá segurança profissional, capacidade de gerar trabalho e de ganhar.
A adequação vocacional eficaz - adequação dos comportamentos e ações - assegura
sobrevivência, sentimentos de bem-estar e satisfação pessoal, bom desempenho, res-
ponsabilidade e harmonização exterior em relação ao meio em que vive.

Reflexão final

Neste capítulo, vimos o quanto o ato de decidir caracteriza-se por uma inicia-
tiva controvertida, delicada, uma vez que a todo processo de escolha correspon-
dem perdas e ganhos. Aprender a navegar por esse oceano de possibilidades pode
ser tão fascinante quanto perigoso, amedrontador, ao sentirmos a iminência do
desapego, do inevitável abandono de modelos de relacionamento mais protetores,
provenientes da esfera familiar, substituindo-os progressivamente pela iniciativa
de lutar por aquilo que acreditamos ser o nosso caminho. Nessa aventura pelo des-
conhecido, arriscamos apostar na incógnita consequência da avaliação do outro,
capaz de favorecer ou adiar o alcance de nossos objetivos.
Inserido nessa dinâmica decisória, não podemos deixar de considerar os con-
flitos inerentes à escolha que se encontram subordinados a três linhas temporais,
mobilizadas em distintos momentos da estrutura psicológica do jovem. Ele terá
de buscar um relativo equilíbrio entre as influentes reminiscências de sua história
familiar, a perspectiva atual de desbravar novos horizontes tanto no plano interno
quanto no âmbito da realização social e ainda vislumbrar o que imagina esperar
de si mesmo num futuro tão próximo quanto incerto. Se conseguir manter um
diálogo sincero entre essas realidades psíquicas, tentando equacionar as diferenças
entre elas, estará apto a demonstrar um eficiente poder de adaptação diante das
inesperadas adversidades que pairam sobre o processo de escolha, preparando-se,
assim, para os futuros impasses do cotidiano profissional nas organizações.
Quando o profissional se mostra insatisfeito com o ambiente e as condições
de trabalho, o sofrimento provocado pode afetar sua saúde física e mental. Uma

capítulo 2 • 58
eficiente e satisfatória adequação à proposta de trabalho pode alcançar uma be-
néfica repercussão para além do circuito profissional, estendendo-se para a vida
particular das pessoas, tornando-as mais assertivas, confiantes, ao se dedicarem a
outras atividades em que também desejam a autorrealização, seja na interatividade
familiar ou simplesmente na entrega criativa proporcionada pelas horas de lazer.
Considerar a extrema relevância dos sonhos dos pais em relação ao destino
dos filhos também é um significativo indicador das dificuldades levadas ao campo
da orientação profissional. A sutil influência inconsciente das aspirações familiares
de natureza projetiva durante o desenvolvimento da infância acarreta determina-
dos compromissos simbólicos, sujeitos a despertar culpa e frustração na mente
de muitos jovens, incapazes de se desvincular inteiramente do projeto de vida de
seus pais. A partir da clássica indagação sobre o que você vai ser quando crescer, se
esconde, inicialmente de forma discreta e mais tarde com uma objetividade quase
visceral, a vontade latente de certos pais em resgatar, de maneira compensató-
ria, através dos filhos, algum nível de compensação pelo abandono consentido de
apaixonantes roteiros existenciais; procurando, por assim dizer, “terceirizar” suas
escolhas interrompidas ou frustradas por intermédio do vigor produtivo e das po-
tencialidades criativas de seus descendentes. Saber lidar com essa e muitas outras
variáveis no complexo contexto dos conflitos familiares será uma árdua tarefa para
esse jovem ao longo da conquista de uma diferenciada identidade pessoal: único e
precursor caminho para a sondagem de possibilidades futuras durante a constru-
ção de sua identidade ocupacional.

Vamos estudar?

1. De acordo com sua experiência pessoal, como se relacionou com as expectativas


dos seus pais frente a seu futuro profissional?
2. Por que toda escolha pode ser considerada também uma não escolha?
3. Discuta a seguinte afirmativa: em toda escolha está inserido um ônus.
4. Qual a diferença entre maturidade e adequação vocacional?
5. Por que a participação da família é fundamental para que o trabalho do orien-
tador profissional seja produtivo em relação às dúvidas e inseguranças do jovem?
6. Por que, segundo Bohoslavsky, a vocação não pode ser considerada como algo
definido, uma espécie de “chamado” ou destino preestabelecido para o jovem?
7. De que forma a escolha profissional pode se desenvolver como artifício imagi-
nário para a “solução” de conflitos?

capítulo 2 • 59
8. Por que, para Bohoslavsky, o processo de escolha sempre se relaciona com os
outros (reais e imaginários)?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALBINOTTI, M. A. A.; TÉTREAU, B. Níveis de Maturidade Vocacional de Alunos de 14 A 18 Anos do
Rio Grande do Sul. In: Psicologia em Estudo, v. 11, n. 3, set./dez. 2006, p. 551-560.
BOCK, A. M. B. & colaboradores. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São
Paulo: Saraiva, 2002.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
DEJOURS, C. Que sofrimento?. In: A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São
Paulo: Cortez e Oboré, 1987, p. 48-62.
DIAS, M. L. Família e escolha profissional. In: BOCK, A.M.B. et all. A escolha profissional. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1995.
MARTINEZ, M. C.; PARAGUAY, A. I. B. B. Satisfação e saúde no trabalho - aspectos conceituais e
metodológicos. In: Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 6., dez. 2003.
MELLO, F. A. F. O desafio da escolha profissional. Campinas: Papirus, 2002.
MINARELLI, J. A. Empregabilidade: o caminho das pedras. São Paulo: Gente, 1995.
MOFFATT, A. Terapia de crise: teoria temporal do psiquismo. São Paulo: Cortez, 1982.
PIAGET, J. A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1977.
SARTRE, J. P. In: PENHA, J. O que é o existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
SOARES, D. H. P. A escolha profissional: do jovem ao adulto. São Paulo: Summus, 2002.

capítulo 2 • 60
3
Teorias psicológicas
em Orientação
Profissional
Teorias psicológicas em Orientação Profissional

Concepções sobre o processo de Orientação Profissional

A orientação profissional é reconhecida como uma atividade exercida por um


especialista, psicólogo ou pedagogo que objetiva orientar uma pessoa que se en-
contra indecisa rumo à descoberta da melhor escolha profissional assertiva, levan-
do em consideração as referências de sucesso e satisfação.
Desde o seu surgimento, a orientação vocacional/profissional passou por al-
gumas fases distintas no que se refere à forma de reconhecimento do sujeito que
escolhe a sua profissão e a melhor maneira de fazer emergir, a partir de suas ques-
tões internas em contato com seu mundo externo, o “melhor” ou mais adequado
caminho para a vida profissional.
Inicialmente, acreditava-se que essa resposta seria obtida a partir da perfeita
correspondência en-
tre as características
mensuradas dos in-
divíduos e de gru-
pos ocupacionais.
Nesse sentido, os
escores das mensu-
rações seriam capa-
zes de predizer a
melhor profissão
para cada indivíduo.
Nesse contexto, a
grande preocupação
estava na colocação do sujeito no mercado de trabalho. (SILVA, 1995)
Na sequência, outro momento é demarcado pelo surgimento de novos
instrumentos capazes de aferir com certo rigor as aptidões, interesses, inte-
ligência, entre outras características. Sendo um período marcado por maior
disseminação da informação sobre ocupações e mercado de trabalho, a função
do orientador era fazer um prognóstico contendo as probabilidades de suces-
so, para uma ou outra carreira, baseado nos resultados obtidos nos diversos

capítulo 3 • 62
instrumentos, já demonstrando, então, uma preocupação maior quanto à es-
colha direcionada para o futuro.
A partir do aperfeiçoamento da psicometria e dos instrumentos de
mensuração e a aproximação da orientação profissional com a psicologia
clínica, surge uma combinação de ações entre o orientador profissional
e o psicoterapeuta, integrando a abordagem psicométrica com a aborda-
gem psicodinâmica.
Atualmente, muitas críticas são direcionadas tanto aos testes como tam-
bém às diversas abordagens. A diversidade me parece surgir mais no intuito
de promover uma adequação à prática da orientação profissional à luz da
forma como se dá a compreensão do sujeito em uma ou outra abordagem
teórica do que para questionar a assertividade nos resultados do trabalho nas
diferentes abordagens.
Silva (1995), ao discutir as diversas teorias vocacionais que pretendem explicar
a escolha profissional a partir dos determinantes que privilegiam, afirma que:

De modo geral, o que se pode constatar do exame das teorias


psicológicas, e que é corroborado por sua origem histórica, é que
estas foram elaboradas à guisa de fundamentos para as técnicas de
orientação vocacional de tal forma que se caracterizam por um aspecto
normativo, visando, em última instancia, a otimização da escolha de
uma opção profissional consciente, adaptada, ajustada, conforme
a terminologia adotada por cada teoria. Nesse sentido, tais teorias
situam-se no âmbito restrito das condições que as tornaram possíveis:
o ideal liberal da escolha. (p. 22-27)

Para Ferreti (1988), as teorias ditas psicológicas fundamentam-se na ideolo-


gia liberal ao aceitar sem questionamento os princípios da individualidade, da
liberdade e da igualdade de oportunidades, mas, de acordo com Bock (1995),
debruçam-se mais sobre a individualidade para explicar o fenômeno da escolha,
ora reconhecendo as aptidões naturais, ora vendo as mesmas como fruto do
desenvolvimento, e a divergência entre essas teorias seria quanto à gênese dessas
características individuais.

capítulo 3 • 63
Conclui ele que:

(...) a orientação acaba reforçando os princípios do liberalismo,


pois admite implicitamente que existem falhas no processo de
escolhas profissionais, que estas falhas são do indivíduo e que,
portanto, para resolver o problema, basta habilitá-lo a realizar
escolhas mais adequadas. Ou seja, todos têm liberdade de escolher
e igual oportunidade para fazê-lo, de acordo com suas aptidões
e características pessoais, respeitadas as limitações impostas
pela realidade. As opções inadequadas são de responsabilidade
individual e devem ser creditadas unicamente ao indivíduo que
escolhe. Ao atuar dessa forma, a Orientação Profissional acaba
comprometendo-se duplamente: de um lado, por não examinar as
causas ultimas e por aceitá-las como naturais, mistifica os fatores de
realidade que constituem obstáculos ou impedimentos às escolhas
individuais. De outro lado, ajuda a manter as discriminações
sociais, por admitir, sem questionamento, o potencial individual,
deixando, ao mesmo tempo, de abrir crítica às condições de vida
que influenciaram marcadamente esse potencial. (FERRETI, 1988)

Pimenta (1979) acentua que “a liberdade de decidir é da classe dominan-


te”, e a certeza deixada no sujeito que ele realmente escolheu contribui para
o aumento da mais-valia da classe dominante, que é a que detém o controle
da produção. (p. 124)

Como sugestão ao impasse, a autora sugere aos orientadores vocacionais que:

(...) pouco adianta trabalhar em nível da decisão individual se não


for libertada a liberdade de decidir... a orientação vocacional estará
libertando a liberdade de decidir na medida em que o indivíduo
proceder a uma revisão radical de si mesma, enquanto profissão”.
(1979, p. 125)

capítulo 3 • 64
Já alguns autores, como Bock (1995), trabalham com a ideia da multide-
terminação do humano, combatendo a ideia tanto do homem natural como
do homem abstrato. Para ele, o que forma o ser humano são um suporte
biológico, o trabalho e os instrumentos, as relações sociais e uma subjeti-
vidade caracterizada pela consciência e identidade, sentimentos e emoções
além do inconsciente.
Sparta, Bardagi e Teixeira (2006) consideraram dois grandes modelos
distintos de avaliação psicológica dentro do processo de orientação. O pri-
meiro deles, que demarca o início próprio da Orientação Profissional, está
ligado às abordagens do Traço e Fator e da Tipológica, ao qual denominaram
de “Modelo de Avaliação Psicológica Centrado no Resultado”, enquanto
o segundo, surgido a partir da segunda metade do século XX, eles chamaram
de “Modelo de Avaliação Psicológica Centrado no Processo”.

capítulo 3 • 65
Os autores ressaltam que:

Cada modelo enfatiza diferentes aspectos da escolha profissional, sugere


um papel distinto para o orientador e estabelece objetivos diferentes
para o uso de instrumentos de avaliação. Deve-se salientar, contudo, que
a proposição e descrição destes dois modelos, conforme apresentados
neste artigo, não têm a pretensão de ser uma taxonomia fundamental
da avaliação psicológica em Orientação Profissional. Trata-se, antes
disso, de um esquema conceitual útil para refletir acerca da evolução
histórica da Orientação Profissional e do modo como diferentes modos
de entender a orientação repercutem na prática profissional. (SPARTA,
BARDAGI & TEIXEIRA, 2006, p. 19-20)

Enquanto o modelo centrado no resultado mantém um foco direcio-


nado para a definição de uma escolha a partir de resultados consistentes da
análise das características individuais e ocupacionais, fazendo, para tanto,
uso dos testes psicológicos, o modelo centrado no processo parte do pressu-
posto de que a avaliação psicológica pode fazer uso ou não de instrumentos.
O orientador planeja o procedimento para cada indivíduo, preocupando-se,
sobretudo, com o momento do diagnóstico. “Aqui, o processo é não diretivo
e a ênfase é dada na aprendizagem da escolha que a orientação profissional
pode fornecer ao orientando”. (p. 24)
O primeiro modelo, na divisão dos autores, retrata o período histórico que
marca o início da orientação profissional, referenciando uma abordagem psicomé-
trica e o modelo da Teoria de Traço e Fator. O segundo marca o momento da va-
lorização da Psicologia Clínica que acompanhou o período da abordagem clínica
de orientação profissional de Rodolfo Bohoslavsky.
Nossa intenção, nesse capítulo, é apresentar ao caro leitor um resumo
das várias teorias e modelos de trabalho em orientação profissional. Sem
pretender esgotar toda diversidade entre tantas possibilidades de aborda-
gens científicas tampouco criticar seus fundamentos ou métodos de atuação,
nosso desejo é estimular o jovem leitor, a partir das leituras assimiladas, a
se dispor a investigar detalhadamente a temática que mais atender às suas
inclinações teórico-metodológicas.

capítulo 3 • 66
OBJETIVOS
•  Repensar o homem como ser social e sujeito de escolhas;
•  Refletir sobre a especificidade que envolve a teoria e a prática da orientação profissional;
•  Compreender a diversidade teórica que serve como embasamento para a atuação na
orientação profissional;
•  Conhecer as diferentes abordagens em orientação profissional.

REFLEXÃO
O aluno deve acessar o link https://goo.gl/gEaEJB e realizar a leitura do artigo “Modelos e
Instrumentos de Avaliação em Orientação Profissional: Perspectiva Histórica e Situação no
Brasil”, dos autores Sparta, Bardagi e Teixeira, com o objetivo de complementar os conteúdos
abordados neste capítulo.

Teorias Psicométricas e Psicopedagógicas

Abordagens Psicométricas

A teoria do Traço-Fator, de Frank Parsons1, que parte de uma abordagem psi-


cométrica, surge na primeira década do
Século 20. A orientação profissional era
vista como um processo diretivo com o
objetivo de definir uma escolha. Para tan-
to, baseava-se no diagnóstico de algumas
características do indivíduo coletadas a
partir dos testes aplicados: entre eles, as
baterias de aptidões múltiplas e os inven-
tários de interesse. Por esse viés, os resul-
tados dos testes comparados ao perfil das profissões seriam plenamente capazes de

1  Frank Parsons foi considerado o “pai” da orientação vocacional, profissional e de carreira, em função de seu
pioneirismo na sistematização teórico-técnica dos primeiros trabalhos da área realizados em Boston, nos Estados
Unidos. Apesar da importância, não existe na literatura brasileira nenhum artigo ou livro dedicado a ele; nem mesmo
seus escritos estão traduzidos para a língua portuguesa, gerando uma lacuna para os estudiosos da Orientação
Profissional no Brasil.

capítulo 3 • 67
predizer a profissão mais adequada para a adaptação do sujeito. Construía-se então
um perfil profissiográfico.
Parsons (2007) considerava que o desempenho de uma ocupação em harmo-
nia com as aptidões, habilidades e interesses tornaria o trabalho mais agradável,
com uma maior produtividade e eficiência, resultando em uma boa remuneração:
“eficiência e sucesso são extremamente dependentes da adaptação”. (p. 4)
A Teoria do Traço e Fator, segundo Ferretti (1988), sugere um procedimento
racional e objetivo para a escolha e pressupõe que:

99 Os indivíduos diferenciam-se entre si em termos de habilidades, aptidões,


interesses e características pessoais;
99 As ocupações se diferenciam entre si, cada uma exigindo que o profissional
apresente características requeridas pela profissão;
99 É possível conduzir à compatibilização ideal dessa dupla, uma ordem de
fatores, através de um processo racional de escolha.

Assim, perpetua-se a ideia do homem certo no lugar certo. O modelo do Traço


e Fator não é considerado uma teoria da escolha profissional, já que geralmente
não está preocupada com o processo da escolha em si; é o orientador o detentor
do papel de definir qual a melhor opção a ser seguida pelo jovem.

Porém, de acordo com o pensamento de Sparta, Bardagi e Teixeira (2006):

(...) este modelo abarca um conjunto de práticas que possuem


princípios comuns que norteiam o processo de orientação
profissional: a ideia de que o indivíduo possui uma série de
características (inteligência, aptidões, interesses e personalidade)
que podem ser avaliadas com o uso de testes e de que determinados
conjuntos de características apontam a adequação do indivíduo a
áreas profissionais específicas. O objetivo do processo de orientação
profissional é definir as áreas profissionais mais adequadas para
o indivíduo, ou seja, aquela nas quais suas chances de sentir-se
adaptado e produtivo são maiores. (p. 21-22)

capítulo 3 • 68
O modelo baseado no resultado ou que se utiliza da abordagem psicométrica e dos
testes para obter os resultados da escolha profissional foi o primeiro a ser utilizado na
orientação vocacional no Brasil, e, até hoje, os instrumentos de aferição das aptidões e
interesses são privilegiados durante o processo. O surgimento de novos paradigmas de
orientação profissional não levou ao desaparecimento das teorias e práticas baseadas nas
ideias de traço e fator, especialmente no contexto internacional. Essas abordagens evoluí-
ram e revestem seus modelos teóricos com uma visão mais dinâmica do desenvolvimento
vocacional. (SPARTA, BARDAGI & TEIXEIRA, 2006)
A partir da segunda metade do século XX, com o declínio dos testes psicoló-
gicos e com o surgimento de novas teorias, como a “Teoria do Desenvolvimento
Vocacional”, de Donald Super, e do “Aconselhamento psicológico não diretivo”,
de Rogers, a orientação profissional passa a ser menos orientada pelos testes
e dedica um enfoque maior ao trabalho com o autoconhecimento. Os testes
psicológicos não foram totalmente excluídos do trabalho em orientação profis-
sional; novos testes foram construídos, e sua aplicabilidade foi mais direcionada
aos momentos iniciais da investigação e coleta de informações e ao momento
do diagnóstico. Ainda hoje, os testes de aptidões e interesses são considerados
importantes e fazem parte da grade curricular nos cursos de Psicologia.

Segundo Sparta, Bardagi e Teixeira (2006):

(...) o uso de instrumentos de medida de inteligência, aptidões, interesses


e personalidade com o intuito de descobrir uma profissão que se ajuste a
um determinado perfil individual perde o sentido. Não que o uso desses
instrumentos tenha sido abandonado, mas modificou-se sua função:
eles passaram a fornecer informações iniciais sobre o sujeito, não sobre
sua opção. Por outro lado, criou-se a necessidade de conhecer outras
características do indivíduo, como seu contexto de desenvolvimento
familiar, seu nível de informação profissional, suas condições emocionais
no momento da escolha, seus valores e expectativas de futuro. A
importância da avaliação psicológica não diminuiu, pelo contrário,
permaneceu como ponto central do processo de orientação, mas o
objetivo e os recursos utilizados para essa avaliação sofreram um
redirecionamento. A avaliação enfoca, com maior ênfase, as condições
gerais do indivíduo para a tomada de decisão, ou seja, o próprio processo
de escolha. (p. 24)

capítulo 3 • 69
Porém, percebe-se uma dificuldade e certo descompromisso dos profissionais
atuantes com a preocupação quanto a construção e adaptação de instrumentos
psicológicos ou quanto à promoção de estudos que garantam a validade e a atua-
lização de suas normas para a população brasileira.

Torna-se necessário que os psicólogos da área lancem esforços para


a produção de estudos e pesquisas. Que os jovens psicólogos iniciem
sua jornada, despidos de todo preconceito quanto à medida ou a
mensuração, e permita descortinar o mundo dos testes, desenvolvendo
interesse na construção e validação de instrumentos mais atuais e, ao
mesmo tempo, a contento para nossa população, permitindo, então, que
a testagem possa realmente dar sua contribuição a essa importante
área social. (SHINEIDR, 2016, p. 91-92)

Assim, apresentamos abaixo um quadro que pretende ilustrar alguns dos ins-
trumentos utilizados no Brasil para aferição das aptidões e interesses.

TESTES DE APTIDÕES E INVENTÁRIOS DE INTERESSE

A Matriz de Habilidades e Interesses Profissionais


é uma ferramenta que oferece a possibilidade de
articular e visualizar níveis de competência e de
motivação percebidos em relação a um conjunto
de 72 habilidades de trabalho relacionadas para
MATRIZ DE HABILIDADES E esclarecer e priorizar preferências por habilidades
INTERESSES PROFISSIONAIS e áreas ocupacionais; identificar competências
estratégicas para o sucesso na carreira; e definir
AUTOR: MAURO DE OLIVEIRA
MAGALHÃES metas de treinamento, desenvolvimento e educação
de competências profissionais. Esse modelo propõe
que as pessoas e os ambientes de nossa cultu-
ra podem estar descritos por meio de seis tipos:
Realista (R)/; Investigativo (I)/; Artístico (A)/; Social
(S)/; Empreendedor (E)/; Convencional (C).

capítulo 3 • 70
O AIP (Avaliação dos Interesses Profissionais)
surgiu da necessidade de oferecer aos psicólo-
gos que trabalham com orientação vocacional um
instrumento eficaz e atualizado na avaliação dos
interesses profissionais.
Elegeram-se para o AIP dez campos de interesses
AIP (AVALIAÇÃO DOS INTERES- que, se percebidos em conjunto, poderão remeter
SES PROFISSIONAIS) a uma série de profissões a serem consultadas no
manual do teste. São eles: A – CFM - Campo Físico
AUTOR: ROSANE SCHOTGUES LEVEN- / Matemático; B – CFQ – Campo Físico / Químico;
FUS E DENISE RUSCHEL BANDEIRA C – CCF – Campo Cálculos / Finanças; D – COA
– Campo Organizacional / Administrativo; E –
CJS – Campo Jurídico / Social; F – CCP – Campo
Comunicação / Persuasão; G – CSL – Campo
Simbólico / Linguístico; H – CMA – Campo Manual
/ Artístico; I – CCE – Campo Comportamental /
Educacional; J – CBS – Campo Biológico / Saúde.

A Escala de Aconselhamento Profissional (EAP)


se propõe a disponibilizar aos psicólogos um
EAP (ESCALA DE ACONSELHAMEN- instrumento que poderá auxiliá-los no processo de
TO PROFISSIONAL) busca por alternativas para a opção profissional de
pessoas que busquem por essa ajuda, aconselhan-
AUTOR: ANA PAULA PORTO, FER-
MINO SISTO E ACÁCIA SANTOS do-as melhor para a identificação com uma carreira,
deixando transparecer que há alternativas e não
uma diretriz de mão única.

O Teste das Dinâmicas Profissionais (TDP) foi


desenvolvido com base nos princípios semelhan-
tes aos de Kuder, classificando-se as profissões
em grandes áreas de interesse. Utilizou-se das
TDP (TESTE DAS DINÂMI- mesmas 10 áreas do inventário de interesses de
CAS PROFISSIONAIS) Kuder, sendo acrescidas mais duas áreas: Reli-
giosa e Militar. Ficava composto, assim, por doze
AUTOR: GUSTAVO LISBOA BRAGA E
ÂNGELA MARIA FONTES DE ANDRADE áreas, cada qual abrangendo atividades e traba-
lhos específicos que serão, numa segunda etapa,
analisados, explorados, questionados e discutidos
em dinâmicas de grupo, visitas a locais de traba-
lho e a universidades, entre outras atividades.

capítulo 3 • 71
A Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5) está
organizada em duas formas: A (de 6ª a 8ª série do
ensino fundamental) e B (de 1ª a 3ª série do ensi-
no médio e nível superior). É composta por cinco
BPR-5 (BATERIA DE PROVAS subtestes: Prova de Raciocínio Abstrato – RA;
DE RACIOCÍNIO) Prova de Raciocínio Verbal – RV; Prova de Racio-
cínio Espacial – RE; Prova de Raciocínio Numérico
AUTOR: RICARDO PRIMI E LEAN- – RN; e Prova de Raciocínio Mecânico – RM.
DRO S. ALMEIDA A BPR-5 auxilia os psicólogos a tomarem decisões
sustentadas na avaliação das aptidões e raciocínio
geral em diversos segmentos, tais como: orientação
profissional, avaliação das dificuldades de aprendi-
zagem e seleção de pessoal.

A Bateria TSP é um instrumento do tipo lápis e


papel, composto de nove testes objetivos que
avaliam diferentes aptidões. Para avaliação de:
resolução de problemas em termos de raciocínio
lógico (JULGAMENTO); memorização de nomes,
fisionomias e detalhes (MEMÓRIA); rapidez e
precisão no manejo e na compreensão de siste-
mas numéricos, cálculos e códigos - habilidade
BATERIA TSP numérica (NÚMEROS); aptidão para distinguir
rapidamente semelhanças e diferenças de
AUTOR: ATUALIZAÇÃO: DRª
natureza não verbal - habilidade perceptual /
CARMEM E. FLORES E DRª
ELIZABETH NASCIMENTO concentração e perseverança (PRECISÃO e
PERCEPÇÃO); relação espacial envolvida em
aspectos de motricidade - habilidade espacial
(DIMENSÃO); aptidão para visualizar tamanhos,
formas e a relação do todo com as partes -
percepção espacial (PARTES); aspectos de rela-
ções espaciais ligados à capacidade de estimar
quantidades - habilidade espacial (BLOCOS); e
fluência vocabular simples (FLUÊNCIA).

capítulo 3 • 72
A Escala de Autoeficácia para Escolha Profis-
sional (EAE-EP) é um instrumento de avaliação
psicológica nacional, criado e desenvolvido para a
população brasileira, sendo sua aplicação indi-
cada para ocorrer em situações de orientação
profissional no âmbito clínico e escolar. A EAE-EP
auxilia os psicólogos a tomarem decisões sus-
tentadas na avaliação da autoeficácia por meio
de quatro fatores: - Autoeficácia para Autoavalia-
EAE-EP (ESCALA DE AUTOEFICÁ- ção; - Autoeficácia para Coleta de Informações
CIA PARA ESCOLHA PROFISSIO- Ocupacionais; - Autoeficácia para Busca de
NAL) - 2ª EDIÇÃO Informação Profissional Prática; - Autoeficácia
para Planejamento de Futuro. Além desses quatro
AUTOR: RODOLFO A.M. AMBIEL E fatores, a avaliação do EAE-EP se dá por meio
ANA PAULA PORTO NORONHA de um Escore Geral, que fornece uma estimativa
geral da crença da pessoa em sua capacidade
para se engajar em tarefas relacionadas à escolha
profissional. Tais tarefas envolvem aptidão para
avaliar suas características pessoais, habilidades
e interesses; coletar informações sobre profissões
em diferentes meios; buscar informações sobre o
mundo do trabalho por meio de relacionamentos
interpessoais; e planejar o futuro profissional, com
foco em questões financeiras.

O Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI),


dirigido à população brasileira e à sua cultura, é
um instrumento investigativo baseado na teoria
Junguiana e em sua tipologia. Pretende definir
QUATI (QUESTIONÁRIO DE AVALIA- estilos cognitivos e de comportamento indivi-
ÇÃO TIPOLÓGICA) dual, classificando semelhanças e diferenças em
determinados grupos, auxiliando na organização
AUTOR: JOSÉ JORGE DE MORAES
de grupos de trabalho, na detecção e solução de
ZACARIAS
conflito nas organizações, no treinamento empre-
sarial e remanejamento de pessoal, na criação de
programas de ensino-aprendizagem, na orienta-
ção de pais e professores, na orientação vocacio-
nal e aconselhamento familiar.

Informações obtidas no site https://goo.gl/3LklhJ.

Tabela 3.1  –  Testes utilizados no Brasil

capítulo 3 • 73
Abordagens Psicopedagógicas

Outros modelos trouxeram contribuições importantes ao processo da


Orientação Profissional, como os baseados na Teoria do Desenvolvimento
Vocacional, de Donald Super, e o Modelo de Ativação do Desenvolvimento,
de Pelletier e colaboradores. As duas abordagens possuem um caráter psicope-
dagógico e têm por objetivo central a aprendizagem da escolha.

A Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super não conside-


ra a escolha vocacional como um evento único que ocorre em dado momen-
to possível ou ideal, mas como um processo dinâmico que ocorre ao longo
da vida, estando, portanto, passível de mudanças no decorrer do tempo. Esse
processo é permeado por um acúmulo de informações e reações emocionais
que se cristalizam em crenças e escolhas que podem ser simplistas e super-
ficiais, sendo, portanto, importante que as escolhas sejam feitas de forma
consciente. (MELLO, 2002, p. 85)
Super e colaboradores (MELLO, 2002) sintetizam o processo de Orientação
Vocacional em 11 proposições, que posteriormente foi acrescido de mais uma
proposição, resumidas no quadro abaixo. Os autores chamam a atenção para as

capítulo 3 • 74
diferenças entre os sexos, como no caso dos homens, por exemplo, que parecem
mais voltados para aspectos da carreira, enquanto as mulheres seriam mais vol-
tadas para as pessoas. Os autores advertem, ainda, que há necessidade de mais
pesquisas que comprovem os resultados citados.

1 O desenvolvimento vocacional é evolutivo, contínuo e geralmente irreversível;

2 É ordenado, possui certos padrões, sendo previsível;

É um processo dinâmico, de síntese, de múltipla causalidade e envolve


3 interação e integração de fatores psicológicos e sociais;

O autoconceito começa a se formar antes da adolescência e se traduz em


4 termos ocupacionais na adolescência;

Fatores de realidade têm um papel de crescente importância com o


5 aumento da idade;

A identificação com os pais ou seus substitutos influi nas escolhas dos


6 papéis sócio-ocupacionais que o jovem considere adequados para si;

O direcionamento e a movimentação entre os níveis ocupacionais estão


relacionados com inteligência, nível socioeconômico, necessidades
7 de status, valores, interesses, habilidades interpessoais e ofertas e
demandas do mercado;

capítulo 3 • 75
O campo ocupacional que o indivíduo ingressa está relacionado com
interesses, valores, necessidades e identificações com características de
8 seus pais ou figuras substitutas, recursos da comunidade, nível educacional
e condições da sua comunidade (oportunidade, mercado, tendências);

Embora cada ocupação requeira um padrão de habilidades, há tolerâncias


9 que permitam variações possíveis de ocupações para cada indivíduo;

O nível de satisfação no e com o trabalho depende da conexão que se


10 consegue fazer entre as habilidades, aptidões, interesses, valores e sua
aplicabilidade no trabalho;

11 O grau de satisfação é proporcional ao grau de realização pessoal e profissional;

Trabalho e ocupação se constituem em um foco para a organização


12 da personalidade.

Material retirado do livro: MELLO, F. A. F. O desafio da escolha profissional.


Campinas: Papirus, 2002, p. 86-88.

Tabela 3.2  –  Processo de Orientação Vocacional

Já a Metodologia de Ativação da Aprendizagem apoia-se nos referen-


ciais teóricos do modelo de ativação dos processos cognitivos propostos por
Pelletier e Colls, nas teorias desenvolvimentistas de D. Super, na compreen-
são da estrutura do intelecto de J. P. Guilford, no Construtivismo de J.
Piaget e P. Freire, no trabalho de R. Bohoslavsky e E. Pichón-Rivière e nos
princípios da Gestalt Terapia. Essa base teórica surge em consequência da
necessidade da criação de procedimentos e técnicas que integrem a concep-
ção metodológica e operacional.

capítulo 3 • 76
Fundamentos básicos da abordagem psicopedagógica:

Figura 3.1  –  Obs: A autora construiu o modelo esquemático a partir das informações extraídas
do plano de curso da disciplina elaborado pela professora Angie Pique Alboreda de Magalhães.

Em diversas escolas de ensino médio, em geral do ensino privado, os serviços


de Orientação Profissional oferecidos caracterizam-se pela oferta de informações
sobre as profissões por meio de palestras, visitas a feiras de profissões e orientação
realizada em grandes grupos. No âmbito escolar privado, na maioria das vezes, é o
psicólogo quem realiza tal orientação.

capítulo 3 • 77
Nas escolas públicas, raramente encontramos a figura do psicólogo, o que nos
faz crer que seja esse o motivo para a dificuldade na implementação do processo
de orientação profissional na rede pública de educação. Seria muito importante
se as políticas públicas lançassem um olhar para essa direção e pudessem, de fato,
avaliar a importância do profissional de psicologia em um contexto que é funda-
mentalmente apropriado para um cenário multidisciplinar. Algumas prefeituras
municipais admitem psicólogos através da criação de cargos para esses profissio-
nais em Programas específicos ou em Secretarias da Educação, mas esses casos
ainda são raros, sendo considerados iniciativas pontuais e sujeitas a interrupção
devido a mudanças de governos.

O modelo clínico e a Orientação Profissional

A orientação de carreira, influenciada pela perspectiva taylorista, objetivava,


em seu espírito de época, reduzir a vasta incidência de acidentes de trabalho e
intensificar os mecanismos produtivos a partir da adoção de uma simples me-
todologia que pretendia combinar as aptidões individuais com as exigências da
função exigida pelas especificidades de determinado cargo. Historicamente, a
instauração de um modelo considerado clínico tem sua introdução através das
ideias e experiências psicanalíticas de Rodolfo Bohoslavsky, que trouxe para o
painel da orientação profissional a experiência pregressa do jovem e toda sua
potencialidade subjetiva a partir de um novo enquadramento que valorizava as
experiências do modelo clínico.

A estratégia Clínica de Rodolfo Bohoslavsky para Orientação Vocacional

Nascido na Argentina em 1942, Rodolfo Buhoslavsky, durante a infância, foi


uma criança que precocemente demonstrou seu
fascínio pela Literatura, vindo a dominar a leitura
ainda muito cedo, entregando-se a um universo
emocional muito mais rico do que o que viven-
ciara na vida familiar. Enquanto pensador, de li-
vre mentalidade questionadora, desde a juventu-
de preocupava-se em compreender a diversidade
de nuances psicológicas da natureza humana bem
como as sutilezas dos relacionamentos interpessoais inseridos no contato com um

capítulo 3 • 78
mundo de conflitantes paradigmas. Tendo a Psicologia como foco de investigação
científica, tornou-se pioneiro nos estudos da Orientação Vocacional, precisando
ser bastante impositivo no direito a divulgar os resultados de suas pesquisas, cujo
embasamento teórico e prático provinha da Psicologia Clínica, numa época de
intenso conservadorismo dos psicólogos argentinos que centralizavam seu traba-
lho no levantamento operacional dos dados fornecidos pelo exercício metodológi-
co da Psicometria.
Ao aventurar-se pela sondagem e interpretação clínica das características sen-
timentais e valorativas da afetividade humana, Bohoslavsky começou a apontar
inovadoras diretrizes para além dos objetivos econômicos estudados até então,
privilegiados pela abordagem psicométrica em vigor, a qual mantinha num plano
inferior a consideração pelos objetivos humanos. Sendo assim, ao interpretar o
indivíduo como pessoa e não exclusivamente como profissional, ele expandiu o
alcance da visão vocacional, permitindo-lhe vislumbrar o cidadão não apenas du-
rante a execução da tarefa de trabalho mas também procurando fixar suas observa-
ções em como poderiam se mobilizar os sentimentos dele no decorrer do trabalho
realizado. Para Bohoslavsky (2003), entre as maiores mudanças na forma como
se pensava a temática vocacional, poderíamos destacar importantes verificações:
- A diferenciação entre duas vertentes de orientação vocacional referentes à
contextualização dos problemas e das problemá-
ticas. No caso do primeiro, é interessante notar
como diferentes indivíduos apresentam sérias li-
mitações para vencer obstáculos quando necessi-
tam atuar com autonomia e consciência em rela-
ção a seus objetivos, mostrando-se indecisos ao
precisarem optar entre continuar vinculados ao
ensino conciliado ao trabalho ou investir unica-
mente na expectativa profissional naquele mo-
mento de vida. No segundo caso, comum ao ter-
reno das problemáticas, precisamos ter em mente
que a questão não se resume apenas a uma constatação de aptidões mensuradas a
partir de testes psicológicos que avaliarão a especificidade controlada de resultados
voltados para capacitação técnica. Essa é apenas uma das etapas a ser considerada.
O que se precisa investigar com especial atenção é a capacidade de as pessoas esco-
lherem o que pretendem dimensionar para suas vidas futuras a partir da maior li-
berdade que possam experimentar na comunicação de suas metas ambicionadas.

capítulo 3 • 79
Nessa etapa de conscientização, as variáveis de subjetividade envolvidas podem ir
desde o plano psicológico até passarem a convergir também questionamentos
ideológicos ou da ética filosófica, transmitindo para a pessoa a impressão simboli-
camente inquietante de se deparar com uma encruzilhada onde suas perspectivas
e incertezas serão colocadas à prova, provocando ambivalentes posicionamentos
em relação a um mesmo objetivo;
-Precisamos levar em conta que o plano individual e o social interagem cons-
tantemente, articulando incertezas, duplicidade de intenções, quando avançamos
pelo discurso e paralelamente nos sabotamos pelas atitudes, embora também pos-
sam conspirar a favor do processo decisório quando, cientes da dicotomia sinto-
mática deflagrada pela angústia, buscamos solucionar as situações conflitantes que
bloqueiam nosso caminho. A escolha, em seu perfil de múltiplas determinações,
sofrendo influência tanto da estrutura do aparelho psíquico como da engrenagem
social, nos evidencia o quanto somos impactados subjetivamente pela dialética
de aspirações, identificações e pressões sociais de toda natureza impostas, velada-
mente ou não, pelo convívio familiar, pelo ambiente escolar e também pela ação
periódica e subliminar das mais variadas mídias;
- Novas técnicas vêm sendo adicionadas à estratégia clínica ao mesmo tempo em
que a proposta individual de orientação vem sendo acrescida às experiências com
grupos, obtendo prósperos resultados com uma diversidade de instituições, poden-
do expandir-se para propostas inclusivas de comunidades, visando à elaboração de
estratégias de cunho pre-
ventivo capazes de mobi-
lizar o interesse dessas
pessoas por intermédio
de dinâmicas grupais en-
volvendo exercícios de
interação lúdica, psico-
dramática, de discussão,
de laboratório, entre ou-
tros exemplos. Contudo
é importante reiterar que, independente do sucesso das técnicas implementadas bem
como dos enquadramentos de trabalho propostos, a formação de todo profissional
interessado em lidar com essa realidade exige o compromisso de se submeter a uma
“orientação profissional didática”, buscando que temáticas particulares, pertinentes
às próprias inquietações do orientador, não venham a interferir por meio da indução

capítulo 3 • 80
involuntária de equívocos de relacionamento inspirados pela contratransferência do
profissional, propiciando desvirtuamentos perceptivos, o que é prejudicial ao enten-
dimento motivacional dos candidatos.

MODALIDADE CLÍNICA MODALIDADE ESTATÍSTICA

O jovem é capaz de decidir se irá elabo- O jovem em conflito não consegue


rar os conflitos e a ansiedade; decidir por si mesmo;

As potencialidades não podem ser defi- O psicólogo deve conhecer as aptidões


nidas a priori nem mensuradas; e os interesses do jovem;

O teste é o instrumento fundamental para


A entrevista é o principal instrumento;
se conhecer as aptidões e interesses;

Utilização de técnicas não Técnica influenciada pelo progresso


diretivas (ROGERS); da psicometria;

Recebe influências da Apresentam descrições quantitativas


teoria psicanalítica; cada vez mais rigorosas.

Não se pode predizer o sucesso, mas


Pode-se predizer um desempenho futu-
ele é uma possibilidade a partir da supe-
ro a partir das aptidões;
ração dos obstáculos;

O jovem deve desempenhar um O psicólogo deve desempenhar um


papel ativo. papel ativo.

Quadro construído a partir das propostas retiradas de Bohoslavsky. (2003, p. 3-5)

Tabela 3.3  –  Diferenças entre as modalidades clínica e estatística

capítulo 3 • 81
Tudo que Bohoslavsky enfocava em suas aulas para um público ávido de
alunos consistia em evitar a dissociação dos conceitos estudados da objetividade
dos problemas da vida. Procurava abordar um tema específico numa consistente
diversidade de leituras que não se restringiam ao aprendizado da psicologia,
abordando aspectos filosóficos, políticos, científicos, sociais, ideológicos ou téc-
nicos de uma mesma problemática, sempre procurando simplificá-lo e desmisti-
ficá-lo aos olhos de seus discípulos.
Seus versos favoritos do poeta Fernando Pessoa em “Tabacaria” parecem sinte-
tizar bem seus sentimentos perante o mundo:

“Não sou nada


Nunca serei nada
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos
Os sonhos do mundo”.

Aspectos da teoria psicanalítica direcionados à Orientação Profissional

O saber psicanalítico difundiu-se por todos os segmentos culturais do século


XX, constituindo uma das maiores conquistas do pensamento contemporâneo em

capítulo 3 • 82
relação à investigação dos autênticos desígnios da personalidade humana ocultos
na subjetividade do inconsciente. Sigmund Freud, tal como um “arqueólogo” das
realidades psíquicas, dedicou a
vida à interpretação e à reconsti-
tuição imaginária dos conteúdos
mnêmicos, fazendo uso da análi-
se da palavra, lapidando-a de
suas defesas e revelando-a na
multiplicidade de seus significa-
dos vivenciais de modo que pu-
desse “cavar” cada vez mais fun-
do rumo aos mais recônditos
segredos da criatura humana. Grande parte do vocabulário psicanalítico, com o
tempo, passou a fazer parte do senso comum da sociedade, infiltrando-se no coti-
diano das instituições, especialmente em função do viés artístico, assíduo propa-
gador da temática e terminologia freudiana. Palavras como recalque, fixação, com-
plexo, transferência, ego, superego, entre outras, passaram a se integrar ao discurso
urbano, popularizando e aproximando o enfoque psicanalítico de vários campos
de trabalho, demonstrando, especialmente na orientação profissional, como o his-
tórico familiar, somado às disposições constitucionais do indivíduo, pode influen-
ciá-lo, ainda que involuntariamente, no clamor vocacional.
A prática da Orientação Profissional nos mostra a complexidade subliminar
existente no histórico individual, familiar e social das decisões humanas. A leitu-
ra psicanalítica da questão pode oferecer interessantes contribuições capazes de
favorecer a compreensão desse delicado processo, que normalmente passa desa-
percebido pelo senso comum, no contexto das instituições. Habitualmente, para
o senso comum, os conceitos de vocação e escolha costumam ser postos em um
mesmo sentido, e o estudo psicanalítico oferece uma visão destas terminologias,
identificando-as a partir da compreensão das questões inconscientes subjacentes
aos conflitos da juventude.
Entendendo-se a vocação como a iminência impulsiva de uma necessidade
interna, que objetiva a satisfação numa espécie de “chamado” ou conclamação
intuitiva, imbuída de todo conteúdo imaginário ou mítico capaz de suscitar, per-
cebemos, ao longo do discurso do jovem, o quanto de seu histórico afetivo no âm-
bito familiar e social repercute nas inclinações motivacionais futuras, concernentes
a expectativas psicológicas de compensação e reparação emocional.

capítulo 3 • 83
A escolha, por sua vez, caracteriza a “ponta do iceberg” de múltiplas influên-
cias ambientais e decodificações interiores, ou seja, ao escolher uma carreira espe-
cífica, entre tantas outras possibilidades igualmente instigantes, o jovem denuncia
simbolicamente o núcleo de sua falta, de sua carência, passando a comunicar, de
forma verbal ou não, uma série
de eventos interligados no seu
processo decisório no qual se
sente envolvido. Entre eles, po-
deríamos destacar a tentativa de
consolidação de um status social
que o exercício de tal ocupação
lhe favoreceria; as nuances de
personalidade, suscitadas no
atendimento ao perfil profissio-
nal mais adequado; bem como anteriores mecanismos de defesa inconscientes,
acionados pela natureza de suas experiências. Nesse ponto, em relação à aborda-
gem psicanalítica, nada melhor do que rememorarmos conceitos fundamentais de
sua linguagem específica para melhor observarmos como o ser humano que pro-
cura a orientação profissional pode se comportar em relação a manifestações do
cotidiano interpessoal.
Todo indivíduo é regido pela dinâmica reguladora dos relacionamentos gru-
pais desde a família, na qual existem princípios repressores dos impulsos mais
particulares, submetendo-os ao controle de uma escuta e aprovação majorita-
riamente coletiva como se pudéssemos considerar a prevalência de um superego
cultural fiscalizando a preservação dos códigos civilizatórios. O recalque seria o
primordial e principal mecanismo de defesa do ego, responsável por não deixar
a pessoa demover seu compromisso com a comunidade sob pena de liberar a
angústia resultante de dívidas espectrais do passado, elaboradas pelo sentimento
de culpa inconsciente.
Devido à sua vital influência nos destinos defensivos do ego, Freud conside-
rava “a teoria do recalque a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura
da psicanálise (...)”. (FREUD, 1996, p. 26) Esse caráter primordial do recalque,
na dinâmica do inconsciente, poderá encontrar no processo da sublimação um de
seus possíveis destinos no mundo do trabalho e dos intercâmbios profissionais.
A sublimação, segundo Freud, caracteriza-se como um mecanismo de defesa
do ego, eminentemente comprometido com o bem social; uma vez que podemos

capítulo 3 • 84
ressaltar o fato de que os grandes feitos da história da humanidade sofreram in
fluência constante do processo sublimatório, tanto no indivíduo como na identi-
dade das instituições sociais. Na sublima-
ção, a catexia da libido se afasta do objeto
sexual, voltando-se para outra modalidade
de satisfação sem negar ao indivíduo certo
grau de satisfação sexual, ainda que camu-
flada pelo desvio da energia de suas metas
originais para outras fontes de compensa-
ção simbólica, como através de realizações
nas mais diversificadas esferas do trabalho
que o façam se sentir extremamente integrado e útil no espaço comunitário.
Em resumo, a sublimação é uma estratégia de reconciliação psíquica entre
as exigências sexuais e as da cultura, visando à integração social. Sendo assim, de
acordo com a fundamentação freudiana, Brabant (1973) postula:

(...) a sublimação de uma pulsão implica que esta possa se satisfazer


com os objetos de substituição e também que uma satisfação
imaginária ou simbólica possa se igualar com uma satisfação real. O
resultado da sublimação é o desvio da energia libidinal de suas metas
originais e investimento em realizações culturais, ou em realizações
individuais, úteis ao grupo social (...). (p. 54-55)

O mecanismo da reparação também constitui determinante influência no am-


biente da orientação profissional. Para a pesquisadora Hanna Segal (1983), por
exemplo, quando finalidades impulsivas, sejam de origem libidinosa ou agressiva,
conseguem ser inibidas, cria-se a disponibilidade sublimatória para a criação do
símbolo, cuja meta será substituir o objeto original, para onde canalizávamos nos-
sa fonte de satisfação, no intuito não de desconsiderar o impacto afetivo de perdas
vivenciadas, mas sim de superá-las pela eleição de uma matriz capaz de congregar
todas as nossas antigas representações psíquicas em relação ao objeto.
Nas palavras de Hanna Segal (1983), “o símbolo propriamente dito, disponí-
vel para a sublimação e propiciador de desenvolvimento do ego, é sentido como
representando o objeto”. O diálogo possível com o mundo externo se configu-
ra pela possibilidade de construção simbólica, podendo gozar de uma liberdade

capítulo 3 • 85
associativa que seria inviável caso a necessidade primordial continuasse vinculada
ao objeto de origem, impedindo assim a viabilidade do processo de identificação.
Tendo por base esse raciocínio, podemos compreender que a razão da curiosida-
de infantil pela realidade externa é determinada pelo grau de afetos e objetivos
deslocados do foco primordial para outros focos ou objetos que se apresentem
como novidades ao seu reconhecimento psicológico. Assim, a ocupação profis-
sional, fruto do interesse do indivíduo, irá espelhar-se na repetição de episódios
carregados de afetividade, experienciado nos primeiros modelos de relação objetal.
Podemos testemunhar no cotidiano das empresas relações transferenciais em que
o superior pode ser visto como figura persecutória ou tirânica, protetora e, ao
mesmo tempo, inacessível, pelo valor inalcançável de sua experiência, reeditando
assim, simbolicamente, o modelo de seus relacionamentos parentais.
Quanto ao comportamento frente à oportunidade de episódios reparató-
rios, na orientação profissional pode-
mos destacar que a elaboração do
luto e da angústia, implementada
pela culpa e sustentada pela presença
da ambivalência, indica uma madura
relação estabelecida entre passado e
presente, sinalizando que esses pro-
fissionais têm considerável probabili-
dade de uma serena adaptação à obje-
tividade de suas tarefas futuras,
obtendo mais espaço no contexto
institucional para a expansão de seu
potencial criativo bem como de suas
metas de promoção na carreira. No
panorama profissional, temos a opor-
tunidade de nos reconfigurarmos como sujeito a partir da evolução da progres-
siva elucidação interna de nossas disposições psicológicas através da explora-
ção de incontáveis meios de reparação diante das fantasias inconscientes,
simbolizando-as e ressignificando-as em seus dimensionamentos afetivo, so-
cial e histórico. Como bem ressaltou Sigmund Freud, “Encontrar o objeto é,
de fato, reencontrá-lo”. (FREUD, 1905. p. 1225)
Entre as dificuldades mais comuns na prática da orientação profissional,
é interessante mencionar que dificuldades no processo de reparação existem
e podem se expressar em obstáculos de duas naturezas: interna e externa. No

capítulo 3 • 86
caso da primeira dificuldade, estão englobados os casos de pessoas regidas
por disposições melancólicas, que nunca estão satisfeitas com seu rendimento,
com sua capacidade de integração à atividade proposta ou ao grupo de traba-
lho, ou seja, coexiste a predominância de um conteúdo danificado ao seu pro-
cesso de reparação, não deixando que se liberte de suas próprias amarras. Um
segundo caso poder ser o de uma pessoa consciente de seu grande potencial
para atividades profissionais desafiadoras, mas que prefere se fixar na neutrali-
dade de ocupações que não evidenciem tanto seus méritos individuais, como
se o superego travasse seu caminho natural para escolhas de maior ousadia
em função de um paralelo edípico em sua história familiar capaz de bloquear,
interditar seu real objetivo. Quanto às dificuldades de natureza externa, po-
demos ressaltar os entraves de ordem econômica, causando sérios obstáculos
para que uma pessoa possa direcionar seus esforços, a médio prazo, para a
conquista das qualificações técnicas necessárias ao desempenho profissional.
Muitas vezes, apesar de todo engajamento inicial, o que vemos é uma alter-
nância de caminhos não desejada, apenas para enquadrar-se numa profissão,
que se afastam de sua liberdade de opção. É dentro desse panorama de avanços
e retrocessos que poderá ou não acontecer o processo reparatório. Contudo,
desde que as condições de progresso social não sejam inteiramente inacessíveis
e que as chances psicológicas de reintegração do ego a partir do ímpeto pes-
soal de elaborar e superar os lutos, estruturando-se para enfrentar e tolerar as
circunstâncias dolorosas da vida, repletas de ambivalência e culpa, encontrem
meios de expressão, o ser humano poderá, com o auxílio do enquadramento
de orientação profissional, reposicionar-se frente à sua incompletude, trilhan-
do seus autênticos caminhos.

Abordagem Sócio-histórica

A abordagem conhecida como sócio-histórica é uma modalidade de


Orientação Profissional baseada na Psicologia Social. Surge como alternativa à
aplicação dos testes vocacionais, considerados ultrapassados, intencionando faci-
litar a compreensão do processo de escolha profissional a partir da elaboração dos
conflitos que deram origem à situação de dúvidas e ansiedades na qual se encontra
o jovem no momento da escolha profissional, além de trabalhar o conhecimento
dos cursos, das profissões e do mercado de trabalho. (BASTOS, 2010)
Nessa perspectiva, a orientação profissional não se resume a um conjunto
de estratégias e de atividades. É fundamental a discussão do "como fazer".

capítulo 3 • 87
Uma discussão que envolve a prática e os processos que nele ocorrem, bem
como uma reflexão sobre os pressupostos que orientam tal prática, revelando
a ética nela contida.
A Psicologia Sócio-histórica surgiu na União Soviética, no início do sé-
culo XX, embasada na concepção materialista histórica e dialética da teoria
marxista que concebe o homem como um produto histórico-cultural. Ele é
interpretado como
um produto do so-
cial, da cultura cons-
truída historicamen-
te. Dessa maneira,
essa concepção é to-
talmente oposta à li-
beral, uma vez que a
última refere-se à vi-
são de um indivíduo
vocacionado, autônomo e independente das relações sociais, políticas, eco-
nômicas da sociedade em que está inserido.
Para Bock (2006), essa abordagem não vê o homem como um ser autô-
nomo da sociedade, capaz de realizar suas escolhas de maneira isolada, mas
também não o vê como um simples reflexo dessa sociedade, sem participação
nas escolhas. Como não há dicotomia entre indivíduo e sociedade, parte-se
do pressuposto de que homem e sociedade vivem numa mediação em que um
expressa e contém o outro, sem perderem, no entanto, suas singularidades.
(OLIVEIRA & ANJOS, 2011)
Ao desconsiderar a vocação, deixa de utilizar os testes e promove um pro-
cesso de reflexão grupal com o intuito de promover o desenvolvimento de
habilidades que são construídas ao longo do tempo. Como seu objetivo é
trabalhar tanto os fatores internos quanto os externos, faz uso de técnicas para
o autoconhecimento e a reflexão, impulsionando o sujeito a um maior enten-
dimento de suas escolhas, além de também promover o conhecimento amplo
sobre as profissões a fim de que não haja dúvidas a partir de estereótipos. Nesse
sentido, adota as técnicas de dinâmica de grupo, de troca de experiências, pes-
quisas e visitas às Instituições de Ensino Superior.
Considerando uma sociedade em constante transformação, em que
as profissões mudam de características e surgem constantemente novas

capítulo 3 • 88
especializações, o orientador profissional com bases sócio-históricas constrói,
junto com os educadores, uma proposta de facilitação na escolha da profissão
que propicie a compreensão dos determinantes pessoais e sociais das opções
profissionais para que o jovem possa se inserir no mundo do trabalho com
uma postura crítica e mais consciente.
Bastos (2010) ressalta que essa proposta de trabalho objetiva:

99 Ampliar os conhecimentos dos educadores sobre as teorias e práticas em


orientação profissional de base sócio-histórica;
99 Oportunizar, a partir de dinâmicas de grupo, discussões sobre a escolha da
profissão, a ética, o trabalho em uma sociedade globalizada, preconceitos e este-
reótipos das profissões, assim como as reais possibilidades de escolha;
99 Promover discussões sobre a atuação profissional e o mercado de trabalho;
99 Facilitar a percepção de motivações e interesses envolvidos na escolha;
99 Revelar as influências atuantes na escolha profissional;
99 Criar oportunidades para que o jovem expresse seus sentimentos e ex-
pectativas em relação ao vestibular; facilitar a escolha consciente em direção à
realização profissional.

Se a escolha de uma profissão é o resultado de toda a bagagem histórica


e cultural do indivíduo, ela, então, está permeada por todo o conjunto do
histórico pessoal do sujeito em suas relações familiares e sociais desde muito
cedo e na forma como constituiu sua individualidade. Portanto, a escolha
profissional sempre remete à condição social do indivíduo e serve como
subsídio para reforçar no jovem sua identidade e posição social. Assim, “a
melhor escolha profissional é aquela que consegue dar conta do maior nú-
mero de determinações para, a partir delas, construir esboços de projeto de
vida profissional e pessoal”. (BOCK, 2002)

As Teorias Humanistas e com ênfase na existência

A partir de 1940, importantes mudanças começaram a ocorrer no cenário


da Orientação Profissional com a influência de Carl Rogers, que pregava a te-
rapia não diretiva. Essa terapia, conhecida como “centrada no cliente”, trouxe
uma nova concepção de atuação que não mais se preocupava com diagnósti-
cos. Nessa abordagem, o jovem é levado a uma melhor compreensão de si, ou

capítulo 3 • 89
seja, ao autoconhecimento e a uma tomada de escolha consciente. Dessa for-
ma, o foco da Orientação Profissional transferiu-se da produção para o sujeito
de escolha, sendo a eficiência e a produtividade tomadas como consequências
naturais de uma escolha adequada, centrada nos sentimentos de satisfação do
indivíduo. (CARVALHO, 1995; LASSANCE & SPARTA, 2003)
Carl Rogers, um dos fundadores da Psicologia Humanista, detém uma
vasta bibliografia, na qual costumava relatar suas experiências clínicas, peda-
gógicas e filosóficas, enfatizando, em uma de suas obras mais reconhecidas
e polêmicas, Tornar-se Pessoa, as conclusões obtidas tanto em sua prática
no campo da psicoterapia como no da educação. Destacou que o principal
agente responsável pelo processo de contínua reavaliação e transformação
interior é a própria pessoa que experimentou seu sofrimento e do qual pôde
se manter refém por uma inadequação ao silencioso diálogo mental com
suas perdas, sua solidão, sua incapacidade de tolerar a frustração, caracterís-
ticas tão comuns à manifestação de uma incongruência perceptiva. Ou seja,
quando não nos comportamos com fidedigna aliança aos nossos verdadeiros
sentimentos, estamos compromissados com a congruência que não emite
juízo de valor diante da espontaneidade de nossas emoções, sejam elas edi-
ficantes ou corrosivas de nossa autoestima, contrárias ou beneficiadoras das
aspirações de nossa consciência.
Esse ponto de vista constituía a ideia básica de uma de suas obras mais
controvertidas, naquele espírito de época, na comunidade científica, intitu-
lada Terapia Centrada no Cliente. Sua repercussão no meio acadêmico causou
estranheza, perplexidade e resistência por parte de seguidores de outras esco-
las de pensamento, cuja motivação hostil baseava-se na afirmativa de Rogers
quanto à autonomia reativa do cliente, capaz de comunicar ao terapeuta os
melhores atalhos para trilharem em conjunto a tortuosa e conflitante estrada
de suas vivências.
Segundo o autor, “começou a me ocorrer que, a menos que eu tivesse ne-
cessidade de mostrar minha própria inteligência e aprendizagem, seria melhor
confiar no cliente para a direção do movimento no processo”. (ROGERS, 1969,
p. 359) Quanto à exagerada reverência de jovens universitários e profissionais

capítulo 3 • 90
recém-formados aos ditames teóricos, bem como ao enquadramento de trabalho
de seus mestres e supervisores, Rogers assim discorreu:

Gratifiquei-me muitas vezes com o fato de que, em épocas em que


sentia uma terrível necessidade de ajuda pessoal, treinei terapeutas
que eram pessoas que agiam por sua própria conta, não dependentes
de mim, capazes de me oferecer o tipo de ajuda de que eu necessitava.
(ROGERS, 1969, p. 367)

A crescente indignação de Carl Rogers, não só pelo poder absoluto investido


na autoridade do terapeuta, que desprestigiava a capacidade implícita de orienta-
ção do cliente na troca de expe-
riências no ambiente clínico, es-
tendia-se também para o
conservadorismo do mundo aca-
dêmico, incapaz de reconhecer
no aluno o potencial de questio-
namento e criatividade necessá-
rios a uma consistente leitura
crítica das teorias e técnicas, al-
vos de seu conhecimento. Alguns
pressupostos recusados veementemente por Rogers dizem respeito às seguintes
inferências pseudoeducacionais: “Não se pode confiar que o estudante busque sua
própria aprendizagem profissional e científica (...) ou aprendizes passivos podem
se tornar estudantes criativos”. (ROGERS, 1969, p. 165-174)
Tal posicionamento desconsiderava no ser humano a existência de um self
autônomo, mutável, porém organizado, mantendo a fluidez adaptativa a no-
vos aprendizados e a livre construção de parâmetros críticos, o que levava
Rogers a denunciar o totalitarismo ideológico que não deveria acontecer no
ambiente de ensino, refletindo a intolerância encontrada em vários segmentos
da sociedade. Posturas dessa natureza, por parte dos orientadores, reforçava no
âmbito institucional a continuidade impostora de um self ideal na sutil

capítulo 3 • 91
política dos relacionamentos, fazendo do jovem aprendiz em qualquer campo
de atuação a vítima perfeita do jogo de interesses na organização informal das
empresas, onde proliferam falsas personas, condicionadas a atender a uma
expectativa impessoal e ilusória, subordinada a uma hierarquia de poder.
A primazia de um self ideal, na
dinâmica da sociedade, faz com que
nos afastemos do eu real, congruen-
te, capaz da humildade de reaprender
com os próprios erros, para enclau-
surar os profissionais no embuste
de suas vaidades, artificializando a
autoimagem, doutrinando-a a uma
equivocada incongruência pela busca
compulsiva de aprovação social.
Rogers mostrava-se convicto de que o primeiro passo em direção à saúde psi-
cológica residia no fato de o indivíduo reconhecer-se em seus desajustamentos,
que sempre o impeliram a uma condição de passivo sofrimento. Quando obtemos
ainda que o vislumbre dessa consciência, podemos lutar contra essa apatia trau-
mática, transmutando-a em reavaliações de nossa autoimagem, buscando relações
interpessoais comprometidas com a independência de valores, com a vontade de
nos reposicionar no eixo harmonizador da congruência, em sintonia com reais
expectativas para o futuro.
Transpondo essa experiência de base humanista para o panorama da Orientação
Profissional, podemos constatar o quanto os ensinamentos de Rogers, bem como
a crescente abordagem fenomenológica, contribuíram para a abertura de novos
horizontes na prática das entrevistas e das dinâmicas grupais, possibilitando aos
candidatos a liberdade de encarar suas aptidões e limites com a desenvoltura ade-
quada ao desafio voluntário da superação emocional e cognitiva.
A fenomenologia existencial desenvolve como objeto de estudo a interiorida-
de e exterioridade, construídas a partir do contato do analisando com o terapeuta,
focando a magnitude desse encontro como ponto de partida para que o candidato
possa expor livremente suas ideias, dúvidas, articulando-se perante a própria an-
siedade deflagrada pela necessidade de decidir, expondo inclusive as razões que
sustentam a convivência com aquele impasse. A tentativa de intervenção nesse
caso, ao contrário de outros enfoques filosóficos, não permanece centrada no exa-
me de pressupostos de uma essencialidade constitucional do indivíduo, na qual

capítulo 3 • 92
residiriam verdades ocultas a serem desvendadas, ou na apreciação investigativa de
um duelo ontológico entre a individualidade e o coletivo social, capaz de justificar
a problemática daquele jovem que busca a orientação.
Nessa linha de atuação, é no movimento fenomenológico que se instaura o
processo de análise interessado nas situações que surgiram no momento presente,
na dificuldade atual, sem que se precise remontar a uma perspectiva diagnóstica
voltada para as significações psíquicas de uma história individual anterior como
se esses fatos fossem os grandes responsáveis pela mobilização de objetivos atuais
desse jovem. Sendo assim, o orientador, em sua fundamental disponibilidade clí-
nica, ao demonstrar domínio conceitual e técnico de seu enquadramento de tra-
balho, pode ser o elemento catalisador da fluidez de possibilidades existenciais do
analisando, permitindo, através de sua postura, que a liberdade desse jovem possa
ser compartilhada pela confiança dele na legitimidade daquele espaço interativo.
Durante a intervenção de natureza fenomenológica, análise e escolha envol-
vem o fazer e desfazer de tramas sociais que se revelam de acordo com a demanda
afetiva do jovem. Segundo Matar (2008),

Analisar não significa somente decompor um todo em suas partes, o


que pode ser feito apenas com representações conceituais, no sentido
de desfazer uma trama e libertar. Analisar implica um modo de atenção
ou lembrança, da própria presença ou do ser, de si mesmo e do que lhe
vem ao encontro. (...). (p. 7).

Quanto ao processo de escolha, ele


está intimamente relacionado à liberdade
do analisando em esclarecer suas dúvidas,
ampliando conhecimentos para constru-
ção ou reciclagem dos próprios pontos de
vista, rompendo as amarras dos estereóti-
pos, dos estigmas sociais e históricos, des-
fazendo a teia de todas as promessas po-
lítico-ideológicas, cujo marketing nunca
se aproximou de suas reais necessidades.

capítulo 3 • 93
Em sua proposta de Análise de Escolha Profissional, Magman & Feijo (2013)
ressaltam que:

Em nossa atuação, temos o interesse de que a pessoa possa escolher


por meio dos sentidos, em virtude do que assume como significativo de
sua existência. A decisão cinde para abrir um campo de desvelamento
de sentidos, abrindo-se um sentido para que a pessoa possa escolher
em meio a um conjunto de opções. (p. 93)

Devido ao processo de escolha ser algo em periódico movimento de aspi-


rações e também de desencantos, a ocorrência do arrependimento em relação a
uma carreira pretendida anteriormente é bastante comum e não significa fracasso
da iniciativa decisória, uma vez que na época ela atendia satisfatoriamente aos
planos de vida do candidato. Eis aí o pleno exercício da autenticidade do self tão
enfatizado por Carl Rogers; sobrepujando as impostoras ficções de um self ideal,
mostra àquele jovem profissional em permanente estruturação de valores o quanto
a defesa de sua liberdade pode colaborar para um amadurecimento seguro diante
da possibilidade da mudança.

MULTIMÍDIA

capítulo 3 • 94
ANÁLISE DE FILME: Tendo como referência cinematográfica o filme Advogado do diabo,
procure relacioná-lo à manifestação inflacionada de um self ideal, dominado pelo que pode-
ríamos chamar de “fogueira das vaidades”.
Filme disponível em: https://goo.gl/FqnyTP. Acesso em 05 maio 2017.

REFLEXÃO
A partir da letra da canção “Epitáfio”, do grupo musical Titãs, abaixo descrita, relacione a te-
mática dos versos com as noções de congruência, incongruência, self e liberdade de escolha
presentes no texto.

“Epitáfio”
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier

capítulo 3 • 95
O acaso…

Com base na Teoria Junguiana

A vida, em diferentes fases, oferece inúmeras possibilidades de trajetória exis-


tencial. Todas costumam ser reguladas e avaliadas por uma instância decisória re-
presentada pela consciência. Ela é submeti-
da a uma complexa teia de opções, que
podem ou não atender ao preenchimento
de nosso clamor vocacional. Só que, para
alcançar uma tomada de decisão frente ao
rumo que pretendemos seguir, precisamos
aprender a lidar com a consequência implí-
cita de qualquer processo de escolha, no
qual a todo ganho corresponde uma perda
iminente. E a possibilidade de perder im-
plica na consideração real de enfrentarmos o preço do sacrifício inerente à seletivi-
dade de todo caminho almejado.
Na mentalidade ocidental, sacrifício nos lembra a ideia de morte, de
perda consentida, na dimensão mais melancólica e improdutiva do termo.
Embora saibamos, pelo senso comum, tanto no aspecto intuitivo como no
racional, que vida e morte são polos distintos, porém complementares, in-
dissolúveis, e que essa dualidade aparentemente paradoxal não rivaliza com
a busca pela Unidade, pelo Todo, ainda assim relutamos habitualmente a

capítulo 3 • 96
travar contato e aceitar o diálogo com nossas experiências mais sofridas, re-
pletas de medo, incertezas, derrotas e incontornáveis limitações, isolando-as
no obscuro e inexplorado território do inconsciente.
Somos ainda muito influenciados por certos pressupostos míticos, intima
mente relacionados à história das religiões, cujo discurso ao longo dos tempos
sempre privilegiou o domínio da cons-
ciência como lugar da vida, da estabilida-
de de propósitos que conduziriam à ex-
pansão espiritual, enquanto o lugar da
morte, ou seja, de tudo que duvida, que
desafia as vaidades humanas e que preferi-
mos esquecer, está destinado ao incons-
ciente. Somente quando aprendemos a
nos desvincular do princípio dogmático
do estereótipo cultural, passamos a avan-
çar no processo de crescimento e contínua diferenciação de nossos valores psí-
quicos, tornando perceptível e enriquecedora a experiência da harmonização
entre os opostos, única alternativa do processo de individuação capaz de nos
conduzir à reintegração da estrutura da personalidade. O psicólogo analítico
Carl Gustav Jung enfatizava que não devemos temer os conteúdos mais inferio-
res, imaturos, de nossa personalidade, que rotulamos negativamente como com-
plexos. Eles normalmente atuam como bússolas norteadoras do caminho para a
evolução dos valores psíquicos, sugerindo que situações do passado merecem ser
revisitadas com o olhar diferenciado do progressivo amadurecimento existen-
cial. Sendo assim, não devemos lutar por extinguir os complexos, mas sim ape-
nas evitar que eles tomem o controle da personalidade justamente por serem
ignorados. Afinal, como Jung tão bem enfatizou:

Cada vida é um desencadeamento psíquico que não se pode dominar,


a não ser parcialmente, (...) Nossa consciência não se cria a si
própria. Emana de profundezas desconhecidas. Na infância, desperta
gradativamente e, durante a vida, desperta pela manhã, emerge das
profundezas do sono, em um estado de inconsciência. É como uma
criança que nasce cotidianamente do ventre materno do inconsciente.
(JUNG, 1986, p. 73, 75)

capítulo 3 • 97
E quantas vezes pessoas de diferentes idades e vivências evitam fazer escolhas,
seja no âmbito particular ou profissional, por se sentirem prisioneiras do próprio
desconhecimento de suas expectati-
vas de vida, que representam o so-
matório de suas inquietações emo-
cionais, filosóficas, assim como da
secreta clandestinidade de seu po-
tencial criativo? A Orientação
Profissional, em seu enfoque clíni-
co, pode ajudar na investigação da
subjetividade humana, tornando
latente uma série de simbolismos de
natureza individual ou coletiva capazes de camuflar suas intenções na dinâmica
psicológica, interferindo na autenticidade de nossas decisões.
Na abordagem da Psicologia Analítica, Jung desenvolveu uma técnica inova-
dora, a qual denominou “imaginação ativa”, cujo surgimento tem uma ligação
direta com o período de seu traumático rompimento científico e emocional em
relação a Freud. Durante sua autoanálise, Jung dedicou-se à livre expressão artís-
tica através de desenhos, poemas, modelagens, esculturas, pinturas, sem nenhu-
ma preocupação estética, apenas compromissado com a espontaneidade lúdica
de seu material inconsciente, entregando-se ao saudável devaneio como na época
de infância, observando, assim, o quanto conseguia se aproximar das imagens do
inconsciente no decorrer do exercício de suas fantasias em vigília, principalmente
quando se concentrava em suas construções artesanais na areia.
Empolgado com os resultados em algumas semanas, passou a incentivar a
prática no convívio terapêutico com seus clientes. O analisando passava tam-
bém, através da prática do brincar, a explorar as dimensões mnêmicas tanto
do inconsciente pessoal como das representações arquetípicas do inconsciente
coletivo sem se sentir alvo de qualquer pressão por parte do psicoterapeuta no
decorrer de sua individuação.
Na Orientação Profissional, que pretende seguir a proposta junguiana de
interpretação do momento de escolha, o uso da técnica de Sandplay (Caixa de
Areia) tem apresentado resultados muito satisfatórios. A técnica desenvolvida
pela analista junguiana Dora Kalff, de origem suíça, se baseou em pesquisas
da psicanalista inglesa Margareth Lowenfield, que identificou em seus estudos
como crianças reagiam com total espontaneidade quando elegiam e manuseavam

capítulo 3 • 98
brinquedos no interior de uma caixa de areia, permitindo emergir daquele es-
paço de fantasia toda uma diversidade de simbolismos. Kalff mudou-se para
Londres, aliando-se cientificamente a Margareth, com quem ampliou seus estu-
dos, retornando depois para a Suíça, onde deu início à sua prática clínica com
crianças. (GIMENEZ, 1995, p. 98-100)
O símbolo assume um papel fundamental na técnica da Caixa de Areia. Com
dimensões bem restritas, o espaço
apresentado precisa limitar a imagi-
nação infantil, forçando o apareci-
mento de uma instância reguladora
e protetora. O interior da caixa pre-
cisa estar preenchido com areia pela
metade. A cor azul pode ocupar o
fundo da caixa, passando a ideia de
água, sendo que a estrutura do obje-
to deve ser impermeável, uma vez
que água será utilizada para umede-
cer a areia. Uma variedade de uten-
sílios será disponibilizada, nas mais
diferentes formas, sendo capazes de
evocar figuras e situações da vida co-
mum que façam parte do cotidiano
do analisando (árvores, peixes, con-
chas, aviões, pássaros, pessoas etc.).
Em relação a essa vida em miniatu-
ra, serão comunicadas orientações a serem seguidas. O cliente distribui livremente
as figuras escolhidas na areia, atuando também na montagem do cenário, elabo-
rando uma espécie de cena teatral representativa de aspectos relevantes de sua
atual condição psíquica, configurando, assim, um mosaico tridimensional de seus
conflitos interiores.
O terapeuta, então, passa a interpretar para o cliente a emergência das repre-
sentações simbólicas concernentes à dramatização. Dessa forma, a compreensão
pelo profissional da história de vida apresentada reforça o vínculo clínico, pro-
piciando uma ação curadora que, muitas vezes, dispensa palavras para ser trans-
mitida. Depois de configurado o cenário, o terapeuta pode solicitar que a pessoa
divague diante das impressões percebidas da cena montada, propondo instigantes

capítulo 3 • 99
indagações ou estabelecendo associações dignas de ampliarem as referências sim-
bólicas trazidas à tona. Diante do cliente, a caixa nunca é desconstruída, fotogra-
fando-se os vários níveis de aproveitamento simbólico do cenário.
Na prática de Orientação Profissional, a aceitação dos clientes pela técnica da
caixa de areia tem demonstrado boa aceitação por evocar o contato com o lúdico
numa ambientação aparentemente tão formal. Quando a técnica é introduzida
logo nas primeiras semanas, ocorre uma facilitação no estabelecimento do vínculo
de confiança, o que se torna muito produtivo numa abordagem de caráter breve
como o da Orientação Profissional.
Com isso, o profissional tem a oportuna chance de explorar, logo nas sessões
iniciais, um vasto conteúdo simbólico representativo das camadas mais profundas
da psique, auxiliando o cliente a reorganizar seus valores, dentro de uma perspectiva
crítica, sem que necessariamente coloque em questão sua capacidade de reparação
diante de conflitos do passado, estimulando seu comprometimento com o prosse-
guimento da técnica rumo à ressignificação de suas descobertas existenciais.

Reflexão Final

A escolha pode ser compreendida como a “ponta do iceberg” de múltiplas in-


fluências ambientais e decodificações interiores; ou seja, ao escolher uma carreira
específica, entre tantas outras possibilidades igualmente instigantes, o jovem revela
simbolicamente o núcleo de sua falta, de sua carência, passando a comunicar, de
forma verbal ou não, uma série de eventos interligados no seu processo decisório.
Para Hanna Segal, quando finalidades impulsivas, seja de origem libidinosa ou
agressiva, conseguem ser inibidas, cria-se a disponibilidade sublimatória para a
elaboração de um símbolo cuja meta será substituir o objeto original para onde
canalizávamos nossa fonte de satisfação no intuito não de desconsiderar o impacto
afetivo das perdas vivenciadas, mas sim de superá-las pela eleição de uma matriz
capaz de congregar todas as antigas representações psíquicas em relação ao objeto.
Quanto ao comportamento frente à oportunidade de episódios reparatórios
na Orientação Profissional, podemos destacar que a elaboração do luto e da an-
gústia mobilizados pelo sentimento de culpa inconsciente pode ser ressignificada
em sua ambivalência afetiva, o que indica uma madura relação estabelecida entre
passado e presente pelo analisando, demonstrando uma serena adaptação dele à
objetividade de planos futuros no ambiente de trabalho pela natural expansão
de seu potencial criativo. Essa característica é fruto do diálogo e da interpretação
individual dos processos inconscientes.

capítulo 3 • 100
Rodolfo Buhoslavsky, o pioneiro da Orientação Vocacional, em sua leitura
clínica, trilhou novos enfoques para além dos objetivos econômicos de estudo pri-
vilegiado pela abordagem psicométrica que, apesar de ser considerada de grande
valia até os dias de hoje, mantinha num nível inferior a valorização dos motivos
humanos. Em suas pesquisas, Buhoslavsky interpretava o indivíduo como pessoa:
sem restringi-lo à observação limitada do exercício profissional, considerava a mo-
bilização de sentimentos advinda da relação simbólica e interpessoal no trabalho.
Precisamos levar em conta que o plano pessoal e social interage o tempo todo,
articulando incertezas, duplicidade de intenções, manifestando ambivalências, na
medida em que avançamos no discurso ao mesmo tempo em que o sabotamos
pelas atitudes, tornando a postura incompatível com os objetivos. Ou, por outro
lado, quando cientes da inegável dicotomia, não recuamos na tentativa de equa-
cionar os conflitos.
No cotidiano da organização profissional, o conceito de self, desenvolvido por
Carl Rogers, nos mostra os benefícios vividos pelo indivíduo quando se recon-
cilia psicologicamente com sua autenticidade perdida, atendendo à necessidade
de congruência no roteiro de suas atitudes consigo mesmo e com o ambiente
social durante o processo decisório. O self ideal, que representa o que gostaríamos
de pensar e sentir em relação a nós mesmos, bem como diante do olhar crítico
da sociedade, acaba por nos converter em impostores de nossa própria história.
Quando adquirimos a consciência de nossas derrotas e vitórias, isentas do prote-
cionismo ilusório das vaidades, somos capazes de consegui galgar os degraus da
crescente maturidade pessoal e profissional.
No movimento fenomenológico é que se instaura o processo de análise, in-
teressando-se pelas situações que surgiram no momento presente, na dificuldade
atual, sem a necessidade de remontar aos antecedentes etiológicos do analisando.
Sendo assim, o processo de escolha está intimamente relacionado à liberdade do
jovem em esclarecer suas dúvidas, ampliar conhecimentos, rompendo com este-
reótipos sociais de toda natureza.
Na abordagem da Psicologia Analítica, Jung desenvolveu uma técnica pio-
neira de sondagem dos simbolismos individuais e coletivos, a qual denominou
Imaginação Ativa. Após o rompimento científico e pessoal em relação a Freud, ele
se dedicou, durante a autoanálise, à livre expressão de suas potencialidades cria-
tivas através da linguagem artística, seja através de poemas, esculturas, pinturas,
modelagens, incluindo a comunicação lúdica advinda das construções imaginárias
na superfície da areia. Observou o quanto a espontaneidade dos processos in-
conscientes, na diversidade de suas representações arquetípicas, manifestava-se por

capítulo 3 • 101
essas atividades artesanais enquanto estava em vigília relacionando-se com seus
devaneios; passou, então, a sugeri-las posteriormente aos seus clientes, aprimo-
rando, assim, o conhecimento das imagens psíquicas do inconsciente coletivo. Na
Orientação Profissional, que pretende seguir a proposta junguiana de interpreta-
ção do momento de escolha, a utilização da técnica de Sandplay (Caixa de Areia)
tem apresentado resultados muito promissores.
Muitos psicólogos que atuam com a orientação profissional compreendem
que, na sua maioria, as abordagens não são incompatíveis e, por isso, não podem
ser vistas como excludentes.

EXERCÍCIO
1. De acordo com a proposta humanista de Rogers, como diferenciar atitudes congruentes e
incongruentes em seu roteiro de vida?
2. Em que se distinguem as definições de Self e Self Ideal no contexto dos relacionamen-
tos sociais?
3. Qual sua opinião sobre a eficácia da abordagem junguiana no que se relaciona ao uso da
técnica chamada Sandplay (Caixa de Areia)?
4. De que forma os mecanismos de defesa da sublimação e da reparação podem colaborar
no processo da orientação profissional?
5. Em que consistia a visão clínica de Bohoslavsky sobre a orientação vocacional?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. A formação profissional na política de emprego: Coletânea de convenções e resoluções
da OIT (Caderno 1). São Paulo: Ministério do Trabalho, Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT),
Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado de Relações do Trabalho, Sistema Nacional de
Emprego - São Paulo (SINESP), s/d.
BASTOS, J. C. Orientação vocacional / profissional de abordagem sócio-histórica: uma proposta
de concretização da orientação para o trabalho sugerida pelos parâmetros curriculares nacionais.
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BOCK, S. D. Concepções de indivíduo e sociedade e as teorias em Orientação Profissional. In:
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BOCK, A M. B. & colaboradores. A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
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BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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capítulo 3 • 104
4
O processo de
orientação e a
prática
O processo de orientação e a prática

A coleta das informações: um plano de ação

OBJETIVOS
•  Compreender a importância da coleta de informações;
•  Compreender a função da entrevista no processo de orientação profissional;
•  Refletir sobre o papel do entrevistador;
•  Considerar a diversidade de instrumentos utilizados na orientação;
•  Refletir sobre o diagnóstico e prognóstico na orientação profissional.

Sendo a orientação profissional um processo com objetivos muito específicos


e com um limite temporal, há uma necessidade de...

Entrevista

A entrevista é uma das principais técnicas para fins de avaliação em psicologia.


Para o processo de orientação profissional, é considerada como o principal instru-
mento para coleta de informações. Segundo Bleger (1998), a entrevista consiste
em uma relação humana na qual um dos integrantes deve procurar saber o que
está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento. A condução do proces-
so de entrevista é orientada pelo enfoque teórico do entrevistador.
Para Cunha (2000), a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de
investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado,
que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o
objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (in-
divíduo, casal, família, rede social) em um processo que visa a fazer recomen-
dações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício
das pessoas entrevistadas. (p. 45)
Mello (2002) ressalta que a primeira entrevista com a finalidade de orientação
profissional deve ser aberta, com um mínimo (ou nenhuma) estruturação, sem in-
terrogatórios que interrompam o fluxo de palavras e silêncios do cliente. Quanto
menos estruturada for a primeira entrevista, mais o cliente imprimirá sua feição

capítulo 4 • 106
pessoal no vazio. O orientador dever ouvir mais do que as palavras: deve perceber
o diálogo constante do som de sua voz com os movimentos de seu corpo.
Bohoslavsky (2003) confirma que o entrevistador precisa converter-se em um
bom observador participan-
te que, a par de estar com-
prometido com a situação,
possa tomar distância dela e
observar não só o entrevista-
do mas também fundamen-
talmente a relação que existe
entre entrevistador e entre-
vistado. (p. 134)
Sabemos que a entrevis-
ta psicológica é um instru-
mento poderoso e, por suas características, é capaz de adaptar-se à diversidade de
situações e fazer emergir particularidades que poderiam escapar a outros instru-
mentos. É no decorrer dela que podemos capturar as informações conflitantes,
confirmar as hipóteses já levantadas a partir das observações e do discurso advin-
do da própria entrevista; por isso, devemos dar maior destaque a essa técnica no
contexto da orientação vocacional. Cada tipo de entrevista possui características,
peculiaridades que geram uma complexidade e a necessidade de maior conheci-
mento e experiência do entrevistador tanto nos aspectos inerentes ao domínio da
técnica em si quanto naqueles necessários para o estabelecimento de uma relação
interpessoal capaz de garantir a devida coleta de informações necessárias ao bom
desempenho do seu trabalho.

O papel do entrevistador

O entrevistador deve estabelecer um clima adequado nas relações com o en-


trevistado. Sua postura, no decorrer do processo, deve ser a de buscar o máximo
de neutralidade sem, no entanto, permitir que as relações se estabeleçam de modo
frio e pouco acolhedor; vamos lembrá-lo de que quem está do outro lado é um jo-
vem cheio de dúvidas e precisa de um contato que lhe permita sentir-se confiante
nessa relação. Por isso, é importante deixar bem claro para o orientando no come-
ço do processo que não somos juízes, não julgamos nada, que toda e qualquer in-
formação que ele possa trazer será bem-vinda e ouvida com toda a naturalidade, já
que nosso interesse é registrar a maior quantidade possível de dados a seu respeito.

capítulo 4 • 107
Nesse sentido, uma entrevista, na prática, deve ser vista como um contato
social entre duas ou mais pessoas, e seu sucesso dependerá da qualidade geral do
contato social, sobre o qual se apoia enquanto técnica. Para De Almeida (2004),

Desse modo, a execução da técnica é influenciada pelas habilidades


interpessoais do entrevistador. Essa interdependência entre habilidades
interpessoais e o uso da técnica é tão grande que, muitas vezes, é
impossível separá-las. O bom uso da técnica deve ampliar o alcance das
habilidades interpessoais do entrevistador e vice-versa.

Para levar uma entrevista a termo de modo adequado, é preciso desenvolver


a sensibilidade para entrevistar, ser empático, saber lidar com a própria subjetivi-
dade e com a subjetividade do outro, para que as informações que precisarmos
colher por seu intermédio sejam de fato descortinadas livremente de qualquer
pressão ou medo.
Ser empático e desenvolver um bom rapport é sempre o primeiro passo.

capítulo 4 • 108
CONCEITO
Rapport é o estabelecimento de uma sintonia, um grau de empatia. Essa palavra tem
origem no termo em francês rapporter que significa "trazer de volta".
Na aplicação de testes, o rapport se refere aos esforços do examinador para despertar o
interesse dos testandos, obter sua cooperação. (ANASTASI, 2000)
LEMBRE-SE:
Empatia é sentir o que o outro sente, MAS não viver o que o outro vive!

O entrevistador precisa adquirir as habilidades que o capacitem a entrar


no universo do outro sem juízo de valor, sem preconceito, permitindo que o
orientado possa se perceber, se revelar nesse contato, sem medo de se perder e
trazer sua experiência interna para sua realidade do contexto. O entrevistador,
então, de posse de sua bagagem técnica, pode, a partir de suas observações,
ponderações e considerações, desenhar o caminho que levará o jovem a des-
bravar as próprias descobertas.
Segundo Tavares (2002), o entrevistador deve ser capaz de:

Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro


1 naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais;

Ajudar o entrevistado a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança


2 de trabalho;

Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada


3 ou a buscar ajuda;

4 Buscar esclarecimento para colocações vagas ou incompletas;

5 Gentilmente, confrontar esquivas e contradições;

capítulo 4 • 109
6 Tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;

Reconhecer defesas e modos de estruturação do sujeito, especialmente


7 quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador
(transferência);

8 Compreender seus processos contratransferenciais;

9 Assumir a iniciativa em momentos de impasse;

10 Dominar as técnicas que utiliza.

Quanto à estruturação, Souza (2002) e Mello (2002) consideram a entrevista


aberta a mais indicada, posto que nela o entrevistador tem liberdade para pergun-
tar ou intervir de acordo com cada caso em particular. Como no decorrer do pro-
cesso são necessárias várias entrevistas, consideramos que a primeira seja bem livre
de estruturação para que possam emergir as características do sujeito avaliado,
seus traços latentes, assim como suas expectativas, medos, conflitos, sentimentos,
valores, aspirações e aversões. Sem dúvida, contamos que o psicólogo tenha for-
mado uma excelente aliança de trabalho através do rapport inicial e que, ao final
dessa primeira entrevista, possa estabelecer o “contrato” verbal, o enquadramento,
para que se consiga minimamente manter constantes algumas dessas variáveis.
Lembramos que é na primeira entrevista o momento ideal para estabelecer os
caminhos que serão traçados, determinar as “regras do jogo”, ou seja, o horário,
local, preço, papéis, que são variáveis que devem se manter constantes para garan-
tir a funcionalidade do trabalho.

ATENÇÃO
Vamos recordar?
“Para se obter o campo particular de entrevista, devemos contar com um enquadra-
mento rígido, que consiste em transformar um conjunto de variáveis em constantes (...)
o enquadramento funciona como uma espécie de padronização da situação estímulo

capítulo 4 • 110
que oferecemos ao entrevistador; com isso não pretendemos que essa situação deixe
de atuar como estímulo para ele, mas que deixe de oscilar como variável para o entre-
vistado”. (BLEGER, 1998, p. 10)

Uma das grandes preocupações ao jovem profissional é quanto à possibilidade


do cliente se manter calado,
tímido... provavelmente isso
vai gerar angústia e uma certa
ansiedade ao psicólogo.
Lembre-se: se ele não falar es-
pontânea e livremente nesse
primeiro encontro ou se falar
apenas o mínimo, sem expor
maiores detalhes impedindo
que você possa compreendê-lo
suficientemente para levantar
suas primeiras hipóteses, você terá de fazer perguntas. Certamente você estará
preparado para essa possibilidade e formulará perguntas adequadas e pertinentes à
coleta das primeiras informações básicas, mas que sejam suficientes para: conhecer
um pouco daquele jovem; seus conflitos; suas expectativas; seus sonhos; e ter con-
dições mínimas para traçar um plano de ação com as táticas e procedimentos
adequados à coleta de maiores informações sobre aquele sujeito e perceber quais
os instrumentos mais adequados para essa tarefa com essa pessoa.

Instrumentalização

Para além da entrevista, que é considerada um elemento essencial, no caminho


para a Orientação Profissional encontramos uma série de outros instrumentos que
podem ser utilizados a fim de facilitar este processo. Cabe ao psicólogo que atua na
área o conhecimento dos mesmos, sua qualificação para a utilização dos mesmos
e o discernimento para reconhecer quais os melhores ou mais indicados para seu
trabalho. Ou seja, como aponta Mello (2002):

capítulo 4 • 111
O psicólogo vocacional deve ter à sua disposição os instrumentos que
julgue necessários para sua atividade, constituindo sua própria bateria
instrumental, projetada ad hoc para atender ao seu conceito de abordagem
estratégica, às táticas que poderá adotar no trabalho específico com seus
clientes e ao roteiro de levantamento de dados necessários ao diagnóstico
e prognóstico do processo de O. V. (p. 210).

Entre o repertório de instrumentos que o psicólogo pode utilizar para


desempenhar seu trabalho na orientação profissional, os testes são consi-
derados de grande valor para a aferição de algumas características daquele
sujeito que está sendo avaliado. Porém, alguns psicólogos que atuam em sua
prática, a partir da estratégia clínica de forma mais ortodoxa, em uma abor-
dagem especificamente psicodinâmica, não aceitam a utilização dos testes
psicológicos, desprezando toda uma instrumentação que poderia ser muito
útil. (MELLO, 2002, p. 212)
É de grande importância reconhecer os limites na utilização dos testes e a
importância da responsabilidade do psicólogo que faz uso desse material para que
ele, de fato, possa ter seu valor no trabalho com a orientação profissional. Souza
(2002) reitera que:

(...) os testes podem assumir um papel instrumental, ou seja, não


devem substituir a função do psicólogo, mas somar-se a esta. O
processo não pode ter início a partir dos testes, mas estes devem vir
para enriquecer as informações e hipóteses já conhecidas através da
entrevista psicológica. (p. 139)

Porém, a produção científica dos últimos anos revela uma pequena quantida-
de de estudos voltados à construção e/ou validação de instrumentos, o que explica
a carência de testes psicológicos disponíveis com estudos apropriados para a orien-
tação profissional, denunciado por autores diversos. (ALMEIDA & CAMPOS,
1986; JAPUR & JACQUEMIN, 1989; PRIMI & COLABORADORES, 2000;
OKINO & COLABORADORES, 2003)
Pesquisa recente sobre os problemas mais graves e mais frequentes no
uso dos testes psicológicos aponta a falta de reciclagem após a formação e

capítulo 4 • 112
a preparação pouco adequada para a utilização dos testes e treinos durante
a graduação; quanto ao preconceito quanto à utilização dos testes, embo-
ra em sua maioria acreditassem no valor da testagem, as ressalvas parecem
sempre voltadas ao instrumento em si e a problemas quanto à formação do
profissional. “Muitas vezes a ’culpa’ da avaliação psicológica inadequada e
do diagnóstico incorreto é atribuída ao próprio instrumento padronizado”.
(CUSTÓDIO, 1996)
Noronha (2002), em sua pesquisa, aponta para um certo descompromisso do
profissional de psicologia quanto à realização de trabalhos e pesquisas que envol-
vam a validação e a utilização da testagem no Brasil, enfatizando que:

No que diz respeito aos instrumentos psicológicos mais utilizados na prática


profissional dos psicólogos, observou-se que grande parte dos sujeitos não
os utiliza, enquanto outra parte deixou a questão em branco, o que revela
o pequeno compromisso dos sujeitos com o desenvolvimento de sua
profissão, considerando que pesquisas científicas promovem o avanço de
qualquer área de conhecimento. (p. 141)

No geral, os testes psicológicos são utilizados para a definição das caracte-


rísticas individuais (inteligência, aptidões, interesses e personalidade) com a
finalidade de combiná-las
com as características e os
ambientes ocupacionais. O
objetivo da avaliação psico-
lógica é o de traçar um perfil
detalhado do orientando que
permita encontrar e indicar
quais as áreas profissionais
mais adequadas a ele.
(SPARTA, BARDAGI &
TEIXEIRA, 2006)
Embora a utilização de
testes de personalidade, de inteligência e de habilidades sociais sejam ainda uti-
lizados com o intuito de obtenção de informações preliminares do orientando,
tais como características pessoais, valores e condições emocionais, as baterias de

capítulo 4 • 113
aptidões e os inventários de interesse são considerados, até os dias de hoje, como
sinônimos de orientação vocacional.
Além das entrevistas e dos testes, o psicólogo poderá fazer uso de questionários
e da técnica do completamento de frases para exploração da identidade vocacio-
nal, conforme quadro abaixo apresentado por Bohoslavsky (2003).

TESTE DE FRASES INCOMPLETAS PARA EXPLORAÇÃO


DA IDENTIDADE VOCACIONAL:

1 Sempre gostei de.....................................................................................................

2 Acho que, quando for maior, poderei........................................................

3 Não consigo me ver fazendo...........................................................................

4 Meus pais gostariam que eu...........................................................................

5 Se estudasse...............................................................................................................

6 Escolher sempre me fez.....................................................................................

7 Quando era criança queria................................................................................

8 Os rapazes da minha idade preferem......................................................

9 O mais importante na vida é............................................................................

10 Comecei a pensar no futuro............................................................................

11 Nesta sociedade vale mais a pena..................do que..........................

capítulo 4 • 114
12 Os professores acham que eu.......................................................................

13 No curso secundário sempre..........................................................................

14 Quanto às profissões, a diferença entre moças e rapazes é........................

15 Minha capacidade............................................................................................................................

16 As garotas da minha idade preferem...............................................................................

17 Quando fico em dúvida entre duas coisas..................................................................

18 A maior mudança na minha vida foi...................................................................................

19 Quando penso na Universidade...........................................................................................

20 Sempre quis....................mas nunca poderei fazê-lo.....................................................

21 Se eu fosse.....................poderia....................................................................................................

22 Minha família.........................................................................................................................................

23 Meus colegas pensam que eu...............................................................................................

24 Estou certo de que..........................................................................................................................

capítulo 4 • 115
25 Eu...................................................................................................................................................................

Tabela 4.1  –  Teste de Frases Incompletas. Teste retirado do livro Orientação Vocacional:
estratégia clínica, de R. Bohoslavsky, p. 94-95.

Mello (2002) apresenta um questionário de valores e objetivos de vida que


pode ser muito eficaz para o processo da avaliação profissional. Veja sua reprodu-
ção no quadro abaixo:

QUESTIONÁRIO
VALORES E OBJETIVOS DE VIDA
Abaixo estão alguns dos valores e objetivos de vida mais frequentemente
considerados. Leia atentamente cada definição. Ao lado da definição de cada valor
ou objetivo de vida, coloque um número, numa escala de zero a dez, que corresponda
à importância ou relevância que esse valor ou objetivo tem em sua vida atual ou
futura. Zero significará “nenhuma importância”; dez significará que você dá a maior
importância a esse valor ou objetivo para nortear toda sua vida pessoal.

Tornar-se um líder influente; organizar e con-


trolar as atividades de pessoas para atingir os
1 LIDERANÇA
objetivos da sua coletividade, sua organização
ou seus objetivos pessoais.

Ser uma autoridade em sua área de conhecimen-


tos. Desenvolver-se profissionalmente de modo a
2 COMPETÊNCIA
alcançar grande renome. Atingir o mais elevado
possível nível de capacitação e desempenho.

Ser uma pessoa poderosa e de grande influên-


cia na sociedade e na comunidade. Atingir ele-
vada posição social, recebendo demonstrações
3 PODER
de fama e prestígio. Ser uma pessoa de quem
os outros dependem, a quem eles procuram
para pedir proteção, favores etc.

capítulo 4 • 116
Ganhar muito dinheiro, ser bastante rico. Ter ou
obter fortuna, ser dono de muitos bens materiais
(imóveis, automóveis, barco, dinheiro em bancos
4 RIQUEZA
etc.). Poder comprar tudo o que deseja, para si
e/ou sua família, sem nenhuma preocupação de
gastos e despesas.

Gozar a vida, mesmo sem ter muito dinheiro.


Viver feliz e satisfeito, sem preocupações. Obter
prazer nas coisas simples da vida, nas pequenas
5 PRAZER
coisas do dia a dia. Desfrutar aquilo de que gos-
ta de fazer, mesmo que sejam coisas simples,
baratas ou gratuitas.

Contribuir para o bem-estar das pessoas em ge-


ral. Ser útil a seu país, sociedade, comunidade,
6 BEM COMUM
grupo social etc., ajudar os que precisam, os que
merecem melhores condições de vida.

Desenvolver-se como pessoa, como ser humano,


REALIZAÇÃO isto é, mesmo sem poder, sem liderança, prestigio
7 HUMANA ou riqueza. Buscar sua elevação cultural, espiri-
tual ou moral, ética, humanística, existencial.

Obter e compartilhar amizade, carinho e afei-


ção de outras pessoas em vários ambientes
8 AFEIÇÃO
(trabalho, lar, sociedade). Compreender e ser
compreendido, amar e ser amado.

Sentir-se a salvo e protegido contra as incertezas


e ameaças da vida. Conseguir razoável estabili-
9 SEGURANÇA dade e segurança no trabalho e na vida em geral,
de modo a sentir que terá um futuro tranquilo e
que seus familiares não ficarão desamparados.

capítulo 4 • 117
Sentir-se livre e independente. Ter liberdade
de pensamentos e de ações. Ser o chefe de si
10 INDEPENDÊNCIA próprio, sem ter de se submeter a ordens alheias
ou obedecer a regras impostas pelos outros. Não
ser empregado nem subordinado de ninguém.

Tabela 4.2  –  Questionário de Valores e Objetivos de Vida. Questionário retirado do livro


O desafio da escolha profissional (MELLO, 2002, p. 233-234).

O genoprofissiograma consiste em um levantamento de informações acerca


dos membros da família do jovem orientando e de seus relacionamentos. Esse
modelo foi criado tendo por base as teorias sistêmicas de terapia familiar e tem
um compromisso com a leitura genealógica e sua influência na opção profissio-
nal. A meta principal consiste em explicitar o relacionamento entre a trajetória
social e as interações nela ocorridas. Segundo Lucchiari e Bonneaud (1995), o
genoprofissiograma consiste na construção de uma árvore genealógica, confe-
rindo principal importância às profissões da família nas últimas três gerações,
dando especial relevância às dimensões vertical (pais, avós e bisavós) e horizontal
(irmãos, primos e tios).
O genograma elaborado com um tema (neste caso, as profissões dos familia
res) pode ser denominado também de genograma temático. Já o chamado ge-
nossociograma tem por finalidade
aprofundar as análises em um con-
texto bem mais amplo, podendo re-
construir o passado familiar por pe-
ríodos muito mais longos, chegando
a dois séculos.
A aplicação é feita obedecendo
às seguintes etapas: o jovem é con-
vidado a construir uma árvore ge-
nealógica da família; em seguida,
é incentivado a descrever cada um
dos familiares, relatando o nome,
idade, interesses, profissão e até
mesmo a ocorrência de casamentos, separações, assim como a descrição de
uma característica que considere a mais marcante daquele familiar. A escolha

capítulo 4 • 118
das figuras parentais envolvidas pode ser inteiramente aleatória, e a interven-
ção do psicólogo sofrerá variações de acordo com cada caso que se apresente.
É procedida uma análise das escolhas profissionais do grupo familiar em
que algumas questões devem ser respondidas, tais como: ter o conhecimento
das escolhas profissionais dos familiares das três últimas gerações auxilia, de
fato, ao melhor entendimento de sua opção? Que tipo de influência você
recebe dos interesses motivacionais de seus avós? Ao conhecer e analisar as
escolhas familiares, como você se imaginaria no momento presente e futuro
inserido no próprio projeto de vida profissional? Tais possibilidades permiti-
riam, então, ao final do processo uma visão diversificada e abrangente acerca
da família em questão e de sua inserção, como também sujeito de escolha,
nesse âmbito familiar.

Diagnóstico e Prognóstico

A compreensão e a avaliação das características que apontam para a definição do


conflito sobre a escolha vocacional e ocupacional são construídas ao longo do processo.
Após a entrevista inicial, já dis-
cursada neste capítulo, o orien-
tador agora consegue as bases
para tecer as primeiras hipóteses
diagnósticas a respeito do sujei-
to avaliado e oportuniza o esta-
belecimento de um plano de
ação, uma espécie de tática de
atuação, considerando quais as
melhores técnicas para a coleta
das informações necessárias para o prosseguimento da investigação em curso. Essas
táticas incluem testes, questionários, inventários, novas entrevistas, jogos e pesquisas de
acordo com a disponibilidade temporal e a forma de atuação do psicólogo. Os resulta-
dos dessas primeiras etapas, a partir da entrevista inicial e do levantamento das primei-
ras hipóteses diagnósticas, nos servirão de subsídio para começar a compor uma espé-
cie de “quadro” de características do orientando, além dos atributos importantes que
influenciariam suas escolhas e decisões.
O primeiro diagnóstico ou pré-diagnóstico é a base para a compreensão inicial do
orientando e para a formulação das primeiras hipóteses sobre o trabalho a ser desenvolvi-
do com ele. Não se intenciona formular um diagnóstico abrangente sobre a personalidade

capítulo 4 • 119
daquela pessoa, mas da sua “personalidade” e das suas problemáticas vocacionais. Esse
primeiro momento busca responder às perguntas iniciais sobre quem é a pessoa em busca
da orientação, quais as dificuldades ao escolher a carreira profissional, os conflitos, quais
são suas expectativas, entre outras. De acordo com Bohoslavsky (2003):

Da resposta a estas perguntas dependerá a decisão do psicólogo de


ajudar ou não a quem lhe pede e, ao mesmo tempo, dar a primeira
definição dos obstáculos que deverão ser eliminados (...) Portanto, do
primeiro diagnóstico surge um prognóstico relativo à “orientabilidade”
do entrevistado e é através dele que o psicólogo poderá formular uma
estratégia relativa à tarefa que empreenderão juntos. (p.72)

É, portanto, uma busca inicial para compreender a dinâmica de sua situação


atual e os conflitos relacionados à identidade vocacional em uma tentativa de siste-
matizar fatos importantes da experiência pessoal a respeito de conflitos relaciona-
dos a desejos internos e realidade externa: uma síntese das características do sujeito
e um balanço sobre seus atributos e potencialidades, assim como suas dificuldades
e limitações. O diagnóstico inicial em orientação vocacional é apenas o começo do
processo e não acontece em um único dia; ao contrário, é um processo de busca
contínua, e todas as informações levarão a uma hipótese que será confirmada ou
não a partir dos próximos passos.

CONCEITO
Identidade vocacional
Identidade vocacional é a visão que o cliente tem a respeito de si próprio, no momento,
em termos de suas respostas a perguntas que ele mesmo se faça ou que o orientador possa
fazer, tais como: Quem sou eu e como sou eu (num sentido psicológico amplo e inespecífico
e no sentido especificamente vocacional)? O que quero ser e quem quero ser em termos de
minha vocação? Por que quero (ou não quero) ser isso ou aquilo? E, detalhando, quais são
minhas aptidões, meus interesses, minhas aspirações, meus desejos, meus pontos fortes e
pontos fracos? (MELLO, 2002, p. 217)

capítulo 4 • 120
Identidade ocupacional
Identidade ocupacional é a visão que o cliente tem de seu futuro ocupacional como res-
postas a perguntas, tais como: o que é ser isso ou aquilo, exercer tal ou qual profissão, seguir
essa ou aquela carreira ocupacional? O que farei nessa ou naquela profissão e seguindo tal
carreira? Como me vejo nessa profissão a curto, médio ou longo prazos? Que funções deve-
rei exercer? Que tarefas desempenharei? Como me desenvolverei na carreira? Por que me
vejo assim? Por que me sentirei assim? O que terei de estudar? Por que e para que terei de
estudar? (MELLO, 2002, p. 217)

No diagnóstico vocacional, devemos considerar aspectos como a história pes-


soal do jovem orientando, considerando as questões familiares, sociais e educacio-
nais; os atributos pessoais, como aptidões, interesses, valores, objetivos de vida,
aspirações; visão da carreira e os estudos para conseguir chegar lá; se observa com
realismo o mercado ocupacional; percepção de sua autoimagem e sua identidade
vocacional e ocupacional; os critérios considerados para as escolhas; as identifica-
ções com as figuras profissionais; influências externas sobre o processo decisório;
medos, resistências e conflitos; características da personalidade; visão e perspectiva
de tempo: como se vê em termos de passado, presente e futuro; grau de maturida-
de vocacional; e hobbies e interesses extraprofissionais. (MELLO, 2002)
Quando o resultado de um teste ou de uma determinada atividade aponta
para uma evidência concreta que é compartilhada com o orientando, o psicó-
logo deve estar atento para a necessidade de trabalhar tal questão com o jovem.
Portanto, não se trata de trabalhar apenas as escolhas e a problemática vocacional,
mas também as questões de ordem emocional que estão inseridas nela. Para Mello
(2002), não se limita apenas a uma compreensão racional por parte do cliente,
somente desatando os nós que perpassam as dificuldades da escolha: trabalhando
no plano do emocional é que realmente encontraremos uma compreensão total da
situação vocacional. Nesse sentido, esse pode ser o momento em que percebemos
a necessidade da indicação de um trabalho terapêutico para esse jovem.

capítulo 4 • 121
É chamado “prognóstico de orientabilidade” aquele procedimento efetuado
após o resultado do diagnóstico que serve como base para a definição da estraté-
gia de trabalho. Ou seja, com base no primeiro diagnóstico, o orientador elabora
um prognóstico para o processo de
orientação do adolescente, consideran-
do os seguintes critérios: a estrutura de
sua personalidade; o manejo da crise
adolescente; o histórico escolar; a histó-
ria familiar; a identidade vocacional e
ocupacional; e a maturidade para esco-
lher. Através do prognóstico, o orienta-
dor escolhe quais estratégias utilizará em
seu trabalho com o orientando nas entrevistas subsequentes.
O prognóstico vocacional é o resultado de um trabalho em conjunto e não
ocorre em um determinado momento: ele vai acontecendo de forma gradual e cola-
borativamente nessa relação em que os dados são coletados e levantados, depois ana-
lisados de forma compreensiva, pois todas as possibilidades são avaliadas cautelosa-
mente e ajustadas às necessidades e expectativas do sujeito avaliado, sempre levando
em consideração seu nível de aspiração para o sucesso e satisfação pessoal. Torna-se
importante considerar que as análises diagnósticas e as sínteses prognósticas levam
a decisões sobre uma vida de trabalho. Para Mello (2002), “prognosticar, optar en-
tre alternativas profissionais e de carreira, escolher rumos atuais com uma visão de
futuro – isso é arte, mais arte que ciência”. Como toda arte, nela deve ser impressa
uma dose de paciência e amor, pois o período da escolha vocacional e ocupacional
ocorre em uma fase da vida do jovem caracterizada por grandes transformações. Ele
é chamado a definir o que quer ser com mais ou menos 10 anos de antecedência. Tal
poder de prognóstico, de previsibilidade, nem a ciência, com todos os seus recursos
metodológicos, tem condições de fazê-lo sem margem de erro.
A proposta da orientação profissional em grupo estabelece um espaço de tro-
ca entre pessoas que vivem o conflito da escolha profissional. Sendo assim, há
muitos profissionais que atuam com grupos, posto que a troca de experiências e a
oportunidade de crescimento em conjunto com o outro podem servir de grande
estímulo, facilitando a tomada de decisão profissional.
Nesse contexto específico, algumas técnicas de dinâmicas são muito apropria-
das para coleta de informações necessárias ao processo de orientação, assim como
para a dissolução de determinados conflitos de caráter emocional que surgirem no
decorrer dos encontros.

capítulo 4 • 122
Citaremos, abaixo, algumas técnicas utilizadas em trabalhos com grupos.

TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO

TÍTULO: Escrever o nome de cada participante em papeizinhos


APRESENTAÇÃO que serão dobrados e sorteados entre os membros
1 OBJETIVO:
do grupo que deverão conversar com o sorteado.
Após a conversa, cada componente apresentará para
TORNAR OS MEMBROS DO
GRUPO CONHECIDOS. o grupo aquele com quem conversou.

Distribuir papéis coloridos no chão e solicitar que


TÍTULO: cada um se levante e escolha um para si. Todos que
APRESENTAÇÃO possuem papel da mesma cor devem formar um
2 OBJETIVO:
grupo. Cada grupo deverá criar uma forma de apre-
sentar-se de maneira que todos sejam contemplados.
TORNAR OS MEMBROS DO
GRUPO CONHECIDOS. Ao se apresentarem, devem estar falando de todos ao
mesmo tempo. Ao final, cada um diz o seu nome.

TÉCNICAS DE AUTOCONHECIMENTO

TÍTULO:
GOSTO E FAÇO Em uma folha de papel, fazer um quadro das ativi-
dades que realiza em seu cotidiano:
OBJETIVO:
1 LEVAR O JOVEM A SE g o s to e fa ço gosto e não faço
CONHECER MELHOR POR
MEIO DE UMA CONSCIÊN- não gosto e faço não gosto e não faço
CIA DO SEU COTIDIANO.

capítulo 4 • 123
(Esta dinâmica é mais apropriada para os grupos que já
estão relativamente familiarizados)
O coordenador inicia comentando que, no cotidiano, as
pessoas percebem muito mais facilmente os defeitos
do que as qualidades das pessoas, e, nesse momento,
TÍTULO: COMO
SOU VISTO? todos terão a oportunidade de enaltecer uma qualidade
de um colega. Distribua, então, uma folha de papel em
OBJETIVO: branco e caneta para todos, solicitando que escrevam
PARA O JOVEM PERCEBER uma qualidade ou característica da pessoa que estiver
2 COMO É VISTO PELOS
OUTROS E COMO SUAS
à sua esquerda. As folhas devem ser entregues sem
identificação e dobradas. Serão embaralhadas pelo
QUALIDADES PODEM SER coordenador e redistribuídas; a seguir, solicita-se, a
PERCEBIDAS partir da pessoa à sua direita, que leiam em voz alta a
POR OUTROS. qualidade escrita, procurando entre todos os presentes
aquele que acha que pode receber essa qualidade e
tendo de dizer o porquê dessa escolha. Ao final, todos
devem dizer qual foi a qualidade que escreveu para
quem e por quê.

TÉCNICA SOBRE AS INFLUÊNCIAS FAMILIARES

TÍTULO:
REUNIÃO DE PAIS Solicitar aos integrantes do grupo que façam uma
reunião de pais. Cada jovem deve assumir o papel
1 OBJETIVO: de um de seus pais e, juntamente com os colegas,
COLOCAR-SE NO LUGAR passar a discutir a questão da escolha profissional do
DOS PAIS E PERCEBER seu filho e sua própria escolha.
SEUS SENTIMENTOS.

TÉCNICAS PARA TRABALHAR A REALIDADE SOCIAL

Apresentar revistas e fotos diversas, folha de


TÍTULO: papel, lápis e cola. Solicitar que cada um faça
ATIVIDADES PROFISSIONAIS uma colagem de um lado, contendo profissionais
satisfeitos com suas atividades, e, do outro lado,
1 OBJETIVO: os profissionais insatisfeitos. Justificar por escrito
PENSAR SOBRE QUAIS cada uma das figuras coladas. Ao final, apresentar
ATIVIDADES SE SENTIRIA a sua colagem e discutir no grupo todas as ques-
BEM DESEMPENHANDO. tões que podem levar à satisfação ou insatisfação
profissional.

capítulo 4 • 124
O psicólogo pede que imaginem que o planeta Terra
esteja sendo destruído e que você está dentro de
uma nave que irá povoar um novo planeta. Você faz
TÍTULO: a viagem interplanetária e chega ao novo planeta.
A NAVE DE NOÉ Que profissão você gostaria de ter para auxiliar na
construção desse novo mundo? Vamos nos imaginar
OBJETIVO:
2 TRABALHAR OS POSSÍVEIS
nesse novo planeta, e cada um vai assumir o papel do
profissional que escolheu ser. Faz-se a dramatização.
PRECONCEITOS E VALORES
EM RELAÇÃO Ao final, deve-se debater sobre as profissões esco-
ÀS PROFISSÕES. lhidas, sobre o que faltou nesse novo planeta e como
essa falta irá repercutir, discutindo os preconceitos e
as funções sociais, assim como sua importância para
o novo mundo.

TÉCNICAS SOBRE A ESCOLHA DA PROFISSÃO

Todos devem se acomodar de forma confortável.


TÍTULO: O psicólogo solicita que todos fechem os olhos
EMOÇÃO EM COR e se concentrem, refletindo acerca dos próprios
sentimentos desse momento que estão vivendo
OBJETIVO: a escolha profissional. Em seguida, solicita que
CRIAR UM VÍNCULO cada um, em silêncio, escolha um cartão com
1 EMOCIONAL ENTRE OS
a cor que se relacione em sua percepção com
ADOLESCENTES QUE VIVEM
O MOMENTO DA ESCOLHA o sentimento despertado no momento anterior.
PARA FACILITAR A INTEGRA- São divididos em grupos de cores onde vão
ÇÃO E UMA RELAÇÃO relatar e debater os sentimentos vivenciados. Ao
DE CONFIANÇA. final, forma-se um único grupo para discutir e
comentar essa vivência.

O psicólogo entrega uma folha e lápis para cada


participante. Depois solicita que todos fiquem em uma
TÍTULO: posição confortável, pensem sobre quais seriam as
TÉCNICA DA DECISÃO decisões mais importantes que devem tomar no tocante
à escolha profissional e escrevam isso na folha de papel;
OBJETIVO:
2 TRABALHAR A TOMADA
depois, devem marcar com um X aquela que esteja
sendo a mais difícil de resolver. Após um tempo, o psi-
DE DECISÕES A PARTIR
DE ALGUNS FATORES cólogo recolhe as folhas e entrega para outros colegas
DETERMINANTES. que deverão se colocar no lugar daquele que escreveu,
tendo de propor diferentes alternativas para a solução
daquela dificuldade marcada.

capítulo 4 • 125
TÉCNICAS SOBRE A INFORMAÇÃO PROFISSIONAL

(Esta técnica é bem apropriada quando feita após


TÍTULO: as pesquisas sobre as diversas profissões)
O PAPEL PROFISSIONAL O psicólogo avisa que vai atirar uma almofada para
uma pessoa e dizer o nome de uma profissão. A
OBJETIVO: pessoa deve imaginar-se no lugar desse profis-
TRABALHAR A VIVÊNCIA E
1 AS SENSAÇÕES DO PAPEL
sional e se apresentar para o grupo dizendo quem
é, o que faz, onde trabalha etc. Todos participam
PROFISSIONAL; PERMITIR A
TOMADA DE CONSCIÊNCIA fazendo perguntas que devem girar em torno da
DO QUE SABE E NÃO SABE atividade profissional. Quando o assunto se esgo-
SOBRE AS PROFISSÕES. tar, a almofada passa para outra pessoa do grupo,
atribuindo-lhe outra profissão.

TÍTULO:
MÍMICA DAS PROFISSÕES O psicólogo divide o grupo em dois. Cada
subgrupo deve escolher cinco profissões que
OBJETIVO: serão apresentadas ao outro grupo que deverá
2 TRABALHAR A INFOR- adivinhar quais são. As apresentações serão
MAÇÃO PROFISSIONAL E em forma de mímica, sem utilização da lingua-
SEUS ESTEREÓTIPOS. gem verbal.

TÉCNICAS PARA TRABALHAR A ANSIEDADE E O MEDO

O psicólogo solicita que todos caminhem pela


TÍTULO: sala em sentidos diversos e, ao passarem por
O GUIA E O CEGO seus colegas, observem-nos. Ao toque do
coordenador, todos param e escolhem a pessoa
OBJETIVO:
1 TRABALHAR OS SENTIMEN-
diante de si. Um será o cego que deverá fechar
os olhos e pôr a mão no ombro do guia e se
TOS DO GUIAR E SER GUIA-
DO, ALÉM DE SUA RELAÇÃO deixar ser guiado por ele. Depois de um tempo,
COM AS ESCOLHAS. ao aviso do coordenador, os papéis são trocados
e o cego passa a ser guia e vice-versa.

capítulo 4 • 126
Todos devem encontrar uma posição confortável
para realizar uma viagem imaginária na qual o
TÍTULO: jovem é levado a lembrar momentos importantes
REFLETINDO AS NOS- de sua vida. O coordenador solicita que todos
SAS CONQUISTAS fechem os olhos e ouçam a música (de relaxa-
mento). Em seguida, fala suavemente:
2 OBJETIVO: “Agora você vai se imaginar em uma situação
TRABALHAR A AUTOESTI- escolar em que se sentiu vitorioso (como tirar 10
MA E O SENTIMENTO DE em uma prova, um trabalho elogiado ou algum
CONQUISTA PESSOAL. prêmio recebido). O que você precisou fazer para
receber esse prêmio? Como você se sentiu? Você
esperava ou foi uma surpresa? Como seus pais
reagiram? Valeu a pena o seu esforço?”.

TÍTULO: O grupo faz um círculo, um participante pega a


O VESTIBULAR almofada que está ao centro e fala sobre suas
angústias e medos quanto ao vestibular; os outros
OBJETIVO: fazem sugestões de como aliviar ou enfrentar
3 LEVANTAR MEDOS, esses sentimentos. Quando ele terminar, passa
PRESSÕES E ANSIEDADES a almofada para outro que começa a expressar
QUE INCOMODAM OS suas angústias e medos – e assim sucessivamen-
VESTIBULANDOS. te. Ao final, todos debatem sobre a vivência.

capítulo 4 • 127
O grupo faz um círculo, um participante pega a
almofada que está ao centro e fala sobre suas
angústias e medos quanto ao vestibular; os outros
fazem sugestões de como aliviar ou enfrentar
esses sentimentos. Quando ele terminar, passa
a almofada para outro que começa a expressar
suas angústias e medos – e assim sucessivamen-
te. Ao final, todos debatem sobre a vivência.
O coordenador deve ler o texto chamado “Como o
milho para a pipoca” encontrado no livro O Amor
que acende a lua, de Rubem Alves. Depois da
leitura, solicitará que o jovem se coloque no lugar
da pipoca e escreva sobre si mesmo como se
fosse um milho, comparando o processo que está
vivenciando de preparação para o vestibular com
TÍTULO:
METÁFORA DO MILHO PARA a transformação da pipoca.
A PIPOCA A transformação do milho duro em pipoca macia
é o símbolo da grande transformação pela qual
OBJETIVO: devem passar os homens para que eles venham a
4 A ESCRITA PERMITE O ser o que devem ser.
CONTATO COM SEUS O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve
PENSAMENTOS E AMPLIA ser aquilo que acontece depois do estouro. O
A POSSIBILIDADE DE milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes,
COMPREENSÃO SOBRE O impróprios para comer.
MOMENTO VIVENCIADO. Pelo poder do fogo, não continua a ser milho
de pipoca para sempre. Assim acontece com a
gente. As grandes transformações só acontecem
quando passamos pelo fogo. Quem não passa
pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São
pessoas de uma mesmice e uma dureza assom-
brosas. Sem que elas percebam, acham que o
seu jeito de ser é o melhor.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a
vida nos lança numa situação que nunca imagi-
namos. Pode ser fogo de fora: perder um amor,
perder um filho, ficar doente, perder o emprego
ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico,
medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cujas
causas ignoramos.

capítulo 4 • 128
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E, com isso, a
possibilidade da grande transformação. Imagino
que a pobre pipoca fechada dentro da panela fi-
cando cada vez mais quente, pensa que sua hora
chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura,
fechada em si mesma, ela não pode imaginar
destino diferente. Não pode imaginar a transfor-
mação que está sendo preparada. A pipoca não
imagina aquilo que ela é capaz. Aí, sem aviso pré-
vio, pelo poder do fogo a grande transformação
acontece: PUM! – e ela aparece como outra coisa
completamente diferente que ela mesma nunca
havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a es-
tourar. São aquelas pessoas que, por mais que o
fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham
que não pode existir coisa mais maravilhosa do
que o jeito de elas serem. A sua presunção e o
medo são a dura casca de milho que não estoura.
O destino delas é triste. Ficarão duras a vida intei-
ra. Não vão se transformar na flor branca e macia.
Não vão dar alegria para ninguém. Terminado
o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela
ficam os piruás que não servem para nada. Seu
destino é o lixo.

Tabela 4.3  –  Técnicas para trabalhos com grupos

Plano de Ação para trabalho em grupo

Compreendemos, caro aluno, que não existe uma receita para delinear o tra-
balho com perfeição e exatidão, tampouco uma que ainda nos garanta sucesso ab-
soluto em nossa tarefa de orientar uma escolha profissional. Porém, alguns mode-
los podem servir de base para que você compreenda o “fazer” na sua prática e possa
refletir sobre ela, evidenciando, de forma crítica, as fragilidades e potencialidades
em rumo a novas construções desse “fazer”. Sendo assim, nas próximas páginas,
apresentaremos de forma sucinta a proposta de orientação profissional desenvol-
vida por Wainberg (1997). A referida autora apresenta um modelo de atuação
com grupos baseado no método clínico-operativo, cujas principais fontes teóricas

capítulo 4 • 129
advêm da psicanálise e da psicologia social. Afirma que seu modelo é adaptável às
caraterísticas específicas de cada grupo.
Deixamos claro que os procedimentos abaixo descritos configuraram apenas
um modelo que, em sua época, foi considerado uma novidade na forma de se
trabalhar a orientação profissional que usualmente utilizava-se dos testes vocacio-
nais. Parece-nos interessante que o caro aluno e futuro psicólogo possa analisá-lo
e opinar quanto à sua eficácia para os dias atuais.
O processo proposto por essa autora é configurado por pequenos grupos, en-
tre 8 e 10 participantes que estejam cursando o segundo ou terceiro ano do se-
gundo grau. Esse modelo tem duração de dois meses, considerando em média 8
encontros semanais com a duração de uma hora e meia cada encontro.

1º Encontro

Objetivos:
a) Apresentação e integração no grupo;
b) Trabalhar as expectativas;
c) Estabelecimento do contrato de trabalho (enquadramento).

Tarefas:
a) Conhecimento e integração
•  Distribuição de crachás de identificação;
•  Apresentação pessoal com breve relato de sua história pessoal, inclusive o
coordenador do grupo.

b) Expectativas
•  Distribuição de folhas de papel cartaz, papel colorido, revistas, canetas,
cola, fita adesiva, tesoura;
•  Solicita-se que, utilizando o material, representem suas expectativas em re-
lação ao processo de orientação profissional (pode ser feito em pequenos grupos
– dar liberdade de escolha).

c) Estabelecimento do contrato, em que deve ficar claro:


•  Número de sessões, horário, duração de cada encontro, a dinâmica do tra-
balho (tarefas individuais, grupais e de casa), regras de sigilo, regras de funciona-
mento (atrasos, faltas);

capítulo 4 • 130
•  Responsabilidade individual na decisão;
•  Possibilidade de que a escolha possa não ser concluída até o final do programa.
Obs: Todo conteúdo do contrato será decidido pelo grupo.

d) Tarefa de casa:
•  Relacionar os interesses, hobbies, coisas que gosta de fazer nos momentos li-
vres e listar disciplinas escolares pelas quais tem maior ou menor interesse e maior
ou menor facilidade.

Para Wainberg (1997), esse primeiro encontro tem por objetivo causar um
impacto positivo no grupo quanto ao processo utilizado. Esclarece a autora que,
no geral, as expectativas dos jovens e familiares é a utilização de testes de apti-
dões e interesses como instrumentos mágicos que possam definir as escolhas do
jovem. Assim, busca-se no grupo um sentimento mais real de responsabilidade
sobre suas escolhas.

2º Encontro

Objetivos:
a) Discussão sobre características e interesses individuais;
b) Favorecimento das relações interpessoais.

Tarefas:
a) Preenchimento individual do material “Frases para Completar”1 , conforme
quadro apresentado abaixo.

ANEXO DO SEGUNDO ENCONTRO: “FRASES PARA COMPLETAR”


Este material o ajudará a conhecer-se melhor, a pensar mais em você mesmo e nas
coisas que fazem parte do seu mundo. Por isso, é importante que você seja sincero e
espontâneo ao realizá-lo.
Complete as frases no espaço em branco. Se necessário, use o verso da folha.

1  Descrita inicialmente por Bohoslavsky (1979) e adaptada por Dulce Helena P. S. Luchieri.

capítulo 4 • 131
1. Eu sempre gostei de...
2. Me sinto bem quando...
3. Se estudasse...
4. Às vezes, acho melhor...
5. Meus pais gostariam que eu...
6. Me imagino no futuro fazendo...
7. No segundo grau, sempre...
8. Quando criança, queria...
9. Quando penso no vestibular...
10. Meus professores pensam que eu...
11. No mundo em que vivemos, vale mais a pena....
12. Se não estudasse...
13. Prefiro....do que...
14. Comecei a pensar no futuro...
15. Não consigo me ver fazendo...
16. Quando penso na universidade...
17. Minha família...
18. Escolher sempre me fez....
19. Uma pessoa que admiro é... por....
20. Minha capacidade...
21. Meus colegas pensam que eu...
22. Estou certo de que....
23. Se eu fosse... poderia...
24. Sempre quis... mas nunca poderei fazer....
25. Quanto ao mercado de trabalho...
26. O mais importante na vida...
27. Tenho mais habilidades para... do que...
28. Quando criança, meus pais queriam....
29. Acho que poderia ser feliz se...
30. Eu...

Tabela 4.4  –  Quadro copiado do livro Como trabalhamos com Grupos. (ZIEMERMAN, D.E.
et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 377)

Obs: O quadro acima é uma adaptação do quadro já apresentado nas páginas


7 e 8 deste livro que está sendo revisitado, com suas modificações, para evidenciar
o projeto da autora na sua íntegra.

capítulo 4 • 132
b) Distribuição do grupo em pares para discussão com a apresentação da tarefa
feita em casa, integrando-a com o resultado obtido no “Frases para Completar”.

c) Apresentação dos perfis individuais ao grande grupo. Os pares escolhem a for-


ma da apresentação.

d) Tarefa de casa
•  Elaboração de uma árvore genealógica profissional de sua família, podendo
ser incluídos pessoas significativas como amigos da família.

3º Encontro

Objetivos:
a) Informação ocupacional

Tarefas:
a) Listagem das profissões existentes, partindo-se das levantadas pela história fami-
liar vocacional (tarefa de casa) e complementação com profissões apontadas pelo
grupo e coordenador.

b) Escolha individual das que despertam maior interesse.

c) O coordenador apresenta arquivo com fichas sobre profissões existentes em


nível de 3º grau, contendo os seguintes dados em cada ficha:
•  Nome da profissão;
•  Universidade onde existem os cursos;
•  Currículo de cada curso;
•  Características das atividades desenvolvidas pelo profissional;
•  Áreas de atuação;
•  Qualidades pessoais exigidas pela profissão;
•  Mercado de trabalho;
•  Perspectivas profissionais;
•  Fontes de maior informação sobre a profissão.

d) Consulta individual ou grupal, conforme interesse, do arquivo profissio-


nal apresentado.

capítulo 4 • 133
e) O grupo todo comenta e avalia o trabalho realizado, ressaltando caracterização
das profissões, semelhanças e diferenças, condições de trabalho, perspectivas de
mercado e sentimentos presentes.

f ) Tarefa de casa:
•  Entrevistar profissionais ou visitar locais de trabalho referentes aos respecti-
vos interesses manifestados.

Nesse encontro, o coordenador, além de assessorar as informações profissio-


nais e sua prática, auxilia na correção das imagens distorcidas que o grupo possa
ter sobre o mundo profissional, desmistificando fantasias que podem ser precon-
ceituosas e aproximando as práticas à realidade.

4º Encontro

Objetivos:
a) Transmissão de informações e esclarecimentos dos vínculos do adolescente com
as carreiras profissionais e ocupacionais futuras;
b) Reconhecimento dos conflitos do adolescente;
c) As perspectivas profissionais.

Tarefas:
a) Relato de cada membro do grupo da tarefa feita em casa.

b) Comentário e avaliação geral sobre o trabalho realizado;

c) Adaptação da técnica R.O.2 (Rol das Ocupações):


•  Distribuição de 5 cartões com o nome de uma profissão em cada um para
todos os membros do grupo;
•  Explicar que cada cartão representa uma pessoa e que deverá estabelecer
relações entre as pessoas como se fossem famílias com nome e sobrenome.

d) Apresentação de cada família ao grupo, descrevendo o que fazem, onde vivem,


como vivem, a que aspiram, a que se dedicam etc.;

2  Técnica adaptada pela autora da técnica R.O. de R. Bohoslavsky (1987, p. 167).

capítulo 4 • 134
e) O coordenador informa que o jovem oferecerá uma festa para a qual não po-
derá convidar todos os seus “parentes”. Ele deve, então, determinar quais os que
convidaria com certeza, quais os que não convidaria e quais os que teria dúvida
entre convidar ou não, devendo justificar a colocação de cada “pessoa” em uma
das listas;

f ) Tarefa para casa:


•  Informar que “em um determinado momento da festa será feita uma fo-
tografia. Distribua os convidados do modo que achar melhor para que apareçam
na foto”. Entrega-se a cada elemento do grupo um cartão em branco onde deverá
apresentar os convidados graficamente.

Esse encontro permite a liberação da fantasia criativa, da imaginação e do


jogo, sem perder a perspectiva da relação entre a realidade objetiva, as aspirações
futuras, a crise de identidade e o conflito “querer ser, dever ser”. O coordenador,
com seu olhar atento, percebe as contradições suscitadas pela vivência.

5º Encontro

Objetivos:
a) Reforçar os objetivos do quarto encontro.

Tarefas:
a) Retomada da tarefa de casa.
•  Imagine uma conversa entre vários profissionais convidados para a festa da
semana anterior e que estão presentes na “fotografia”;
•  Dramatize uma conversa entre os convidados, cada um assumindo o papel
de um profissional.

b) Tarefa de casa
•  Distribuem-se folhas em branco e solicita-se que cada um descreva um dia
de trabalho “perfeito” para aquele profissional com quem mais se identificar.
Nesse quinto encontro, através da elaboração e da representação dos papéis
sugeridos nas tarefas, os interesses tendem a mostrar-se mais claros e definidos.

capítulo 4 • 135
6º Encontro

Objetivos:
a) Facilitar a projeção do futuro profissional.

Tarefas:
a) Retomada da tarefa de casa;

b) Aplicação da técnica Visão de Futuro3:


•  “Tratem de imaginar-se, por um momento, numa cena do futuro. Tratem
de ver-se nesta cena, fazendo algo, uma atividade ocupacional onde tenham suces-
so. Quando tiverem essa imagem, desenhem-na na folha”;
•  Apresentação oral dos desenhos, com explicação das atividades e sentimentos;
•  Discussão no grupo.

c) Tarefa de casa: Desiderativo Vocacional4.


Indagar sobre identificações nas escolhas vocacionais ou ocupacionais.
•  Quem gostarias de ser se não fosses quem é? Por quê?
•  Que pessoa da antiguidade gostarias de ser? Por quê?
•  Que pessoa do sexo oposto gostarias de ser? Por quê?
•  Que pessoa gostarias de ser dentro de cinquenta anos? Por quê?

O sexto encontro estimula a imaginação do grupo em relação às suas ambi-


ções, além de trabalhar seus temores, preferências, expectativas e a imagem de si
mesmo. A tarefa de casa possibilita fantasiar o futuro por identificação com mode-
los atuais. Nesse ponto, a autora propõe uma avaliação técnica:

•  Identificações realistas ou fantasiosas (tipo);


•  Identificações benignas ou aterrorizantes (qualidade);
•  Identificações normativas e culturais;
•  Identificações egóicas: distância entre o real e o possível;
•  Identificações com o grupo familiar: papéis e modelos específicos;
•  Identificações com grupos de casais: modelos atuais;
•  Identificações pelo contrário: com respeito ao grupo pertinente;
3  Técnica descrita por Silvia Gelvan de Veinstein.
4  Adaptação feita por Haydée Hermaez, Hilda M. de Scalese e outros.

capítulo 4 • 136
•  Pseudoidentificação: aspectos parciais ou excessivos do objeto;
•  Mecanismos de defesa e suas características;
•  Identidade sexual.

7º Encontro

Objetivos:
a) Avaliação do processo de orientação vocacional;
b) Propiciar a expressão da fantasia em relação ao afastamento do grupo e à reso-
lução de seu problema de escolha.

Tarefas:
a) Aplicação da técnica do aeroporto5.
•  “Imaginem que o grupo se encontra em um aeroporto, onde cada pessoa
está saindo de viagem para um lugar. Cada um vai contando para onde vai, o que
fará, como está se sentindo em partir e despedindo-se das pessoas que encontra”.

b) Avaliação do trabalho realizado, buscando a manifestação dos sentimentos ex-


perienciados nos diferentes momentos do processo;

c) Exame da colagem realizada no primeiro encontro.

A técnica do aeroporto permite ao grupo trabalhar a separação de forma lúdi-


ca. A viagem simboliza o projeto que cada um está construindo e a necessidade de
separação para permitir a sequência de seu projeto individual.

8º Encontro

Objetivos:
a) Avaliação individual do processo mediante exame dos aspectos pessoais que não
foram abordados no grupo;
b) Exame da escolha profissional propriamente dita, envolvendo perfil profissional.

Tarefas:
a) Entrevista individual;
5  Descrita por Dulce Helena P. S. Luchieri (1992).

capítulo 4 • 137
b) Análise do material individual;
c) Exame do desiderativo vocacional feito no sexto encontro;
d) Avaliação final.

De acordo com a autora, nesse último encontro integram-se os momen-


tos vivenciados nos anteriores. Se o trabalho não atingiu seu objetivo com
a definição profissional, é reforçado o processo de escolha individual. Em
alguns casos, é necessária a participação dos pais que deverá ser combinada
previamente com o jovem.

Reflexão Final

Para o processo de Orientação Profissional, a entrevista pode ser considera-


da o principal instrumento para coleta e armazenamento de informações sobre
o cliente. O enfoque clínico da entrevista utiliza-se de uma multiplicidade de
conhecimentos psicológicos aplicados a um tempo de investigação delimitado,
objetivando a descrição e a avaliação das características pessoais, inseridas numa
variedade de interações sistêmicas, envolvendo indivíduo, casal, família, rede so-
cial, por exemplo. A análise deste ser humano, indissociável da coletividade, leva o
entrevistador a fazer recomendações, encaminhamentos, ou mesmo propor algum
tipo de intervenção que possa beneficiar as pessoas entrevistadas.
Entre as boas recomendações para uma primeira entrevista, poderíamos des-
tacar o fato de ela ter de ser aberta, minimamente estruturada, procurando não
se concentrar em interrogatórios desnecessários, capazes de interromper o fluxo
da expressão verbal, ou ainda dos silêncios pontuais e significativos do cliente.
Na primeira entrevista, quanto menos estruturada, maior será a contribuição do
cliente no ato de imprimir sua feição pessoal no vazio. O entrevistador, nesse
ínterim, deve se comportar, segundo a orientação de Bohoslavsky, como um “ob-
servador participante”.
O papel do entrevistador é o de agir com especial neutralidade, ou seja, per-
mitir que as relações se estabeleçam com uma postura acolhedora, evitando o
artificialismo do distanciamento frio, impessoal, que poderá ser interpretado pelo
jovem como indiferença ao contexto de suas dúvidas e conflitos. Ele precisa sentir
confiança na construção do relacionamento clínico, a partir do esclarecimento
do entrevistador, de que está ali não para proceder qualquer tipo de julgamento
ideológico no que concerne ao discurso do cliente, mas sim para saber receber e

capítulo 4 • 138
valorizar naturalmente toda informação que esse jovem deseje compartilhar, arma-
zenando a maior quantidade possível de dados a seu respeito.
Desenvolver a sensibilidade, visando a proporcionar uma atmosfera psico-
lógica favorável ao fenômeno da empatia, torna-se fundamental no desenvol-
vimento de uma entrevista. O estabelecimento dessa sintonia é denominado
rapport, termo de origem francesa, cujo significado consiste em “trazer de volta”.
O entrevistador deve aprimorar sua habilidade de ir ao encontro do conteúdo
das vivências e sentimentos do orientando, captando as nuances psicológicas
daquela experiência, sem se envolver impulsivamente com elas, transmitindo ao
jovem o entendimento de suas questões, dispensando qualquer insinuação de
que esteja a emitir juízo de valores, focando seu interesse em apenas demonstrar
estar capacitado a decodificar a verdade simbólica contida nas expressivas formas
de linguagem de seu interlocutor.
A primeira entrevista é o momento mais propício para traçar os caminhos
que serão seguidos, transparecendo, assim, o que chamaríamos de “regras do
jogo”, ou seja, estabelecer local, horário, preço, papéis: variáveis que precisam se
manter constantes para garantir a funcionalidade do trabalho.
Uma das grandes preocupações do profissional recém-saído do ambiente
acadêmico tem relação com a presença constrangedora do silêncio intencional,
prolongado, do entrevistado no ambiente clínico. Na verdade, tanto a postu-
ra calada, tímida, como a compulsiva verborragia podem esconder intenções e
trapacear com a realidade dos fatos, precisando o entrevistador saber lidar com
a própria ansiedade vinculada ao aparecimento dessas situações. Embora a cul-
tura ocidental não nos prepare para enfrentar o peso emocional do silêncio em
nossas vidas, o entrevistador precisa buscar, em sua autoanálise, uma forma de
confrontá-lo com madura serenidade, transmitindo essa segurança ao seu clien-
te. Se o jovem falar o mínimo possível ou se recusar a comunicar seus dilemas,
suas inquietações, impedindo o profissional de compreendê-lo suficientemente,
a fim de levantar suas primeiras hipóteses, ele terá de realizar perguntas diretas,
porém adequadas e pertinentes à necessária coleta de informações básicas, que
possibilitem conhecer a natureza conflitante e as expectativas daquele jovem.
Entre os instrumentos que o psicólogo pode se utilizar no desempenho da
orientação profissional, os testes merecem uma considerável atenção por contri-
buírem no mapeamento e na verificação das características concernentes ao his-
tórico comportamental do cliente. No entanto, alguns psicólogos de orientação
clínica mais ortodoxa rejeitam essa contribuição científica fornecida pelos testes
psicológicos, abolindo-os de sua prática especificamente psicodinâmica.

capítulo 4 • 139
Além das entrevistas e dos testes, o psicólogo poderá instrumentalizar o
uso de questionários e a técnica do complemento de frases para exploração da
identidade vocacional proposta por Bohoslavsky. Ou, ainda, podemos viabilizar
a utilização do questionário de valores, proposto por Mello, no qual, a partir de
uma listagem contendo valores e objetivos a serem alcançados na vida, o jovem
poderá escolher um número, na escala de zero a dez, colocando sua opção nu-
mérica ao lado, nas colunas estabelecidas, de maneira que isso corresponda ao
grau de importância ou relevância dedicado às definições apresentadas.
O primeiro diagnóstico ou pré-diagnóstico é a base para a compreensão
inicial do orientando, bem como para a formulação das hipóteses preliminares,
a respeito do trabalho a ser desenvolvido com ele. Esse diagnóstico não pretende
ter um aspecto abrangente da personalidade do jovem, o que tornaria o proces-
so mais extenso e de maior complexidade, com num tratamento clínico, mas
sim de suas problemáticas vocacionais, procurando se concentrar em quem é a
pessoa que busca a orientação, quais as dificuldades ao escolher a carreira profis-
sional, analisando a natureza dos conflitos e as expectativas desse jovem no que
se refere à sua identidade vocacional e ocupacional.
Identidade vocacional consiste na visão que o cliente possui a respeito de si pró-
prio naquele momento de vida em termos de suas respostas a questionamentos que
ele mesmo faça ou que o orientador possa fazer. Já a identidade ocupacional está re-
lacionada com a ideia construída pelo cliente de seu futuro ocupacional, procurando
imaginar-se no papel que irá assumir, abrangendo desempenho funcional e postura
emocional que poderá desenvolver a curto, médio e longo prazo ao projetar-se men-
talmente no exercício das atividades de trabalho.
Durante o transcorrer do encontro com o orientador, determinada informação vi-
vencial pode surgir, motivada pelo resultado de um teste ou de uma atividade associativa
espontânea, inerente ao processo da entrevista; nesse momento, o psicólogo deve estar
atento à necessidade de um acompanhamento contínuo de conteúdos emocionais que
também estejam envolvidos nos critérios particulares da escolha vocacional e que extra-
polem qualquer reducionismo a uma problemática apenas de ordem racional. Quando
constatamos a necessidade desse olhar terapêutico, mais próximo de tal realidade emo-
cional, a indicação do procedimento denominado “prognóstico de orientabilidade” de-
monstra se tornar necessário.
Tendo por base o primeiro diagnóstico, o orientador possui condições de
elaborar um prognóstico para o processo de orientação do adolescente que será
muito útil para a fundamentação de seu enquadro de trabalho, levando em

capítulo 4 • 140
consideração os seguintes aspectos em relação a este jovem: estrutura de perso-
nalidade, manejo da crise adolescente, histórico escolar, histórico familiar, iden-
tidade vocacional e ocupacional, bem como a maturidade para escolher. Através
desse mapeamento globalizante, o profissional poderá tecer estratégias a serem
utilizadas com o orientando durante entrevistas posteriores.
O jovem se depara com a tarefa de escolher um caminho vocacional e profissional
muito cedo, quando ainda está procurando se diferenciar das influências familiares, esco-
lares e sociais de um modo geral, na luta interna intuitiva por construir uma identidade,
capaz de servir de continente, em meio à infinidade de influências condicionadoras que
o cercam e que podem deflagrar sérias inibições de desenvolvimento em sua individua-
lidade. Nesse sentido, a proposta da orientação profissional em grupo, fazendo com que
os jovens dividam entre si as realidades muito próximas e promotoras de tais angústias,
estimula a oportunidade de crescimento pela troca de experiências, facilitando, durante a
evolução do amadurecimento, o processo de decisão profissional. Nesse contexto especí-
fico, algumas dinâmicas têm se mostrado muito apropriadas para a coleta de informações
assim como para o enfrentamento e superação de determinados conflitos de natureza
emocional debatidos durante os encontros. Entre essas dinâmicas amplamente propos-
tas, poderíamos destacar as técnicas de apresentação; técnicas para trabalhar a realidade
social; técnicas para a escolha da profissão; técnicas sobre a informação profissional; assim
como as técnicas voltadas para trabalhar a ansiedade e o medo.

ATIVIDADE
1. A partir do material já estudado neste capítulo, faça uma adaptação do modelo de
trabalho grupal acima descrito, considerando a possibilidade de ampliar ou reduzir o
número de encontros, assim como possíveis mudanças nas técnicas apresentadas,
com ou sem inserção de testes;
2. Construa o seu Plano de Ação para um processo de Orientação Profissional individual
levando em consideração sua abordagem.

EXERCÍCIO
1. Comente a seguinte afirmativa de Bohoslavsky: “O entrevistador deve se comportar como
um ’observador participante”;
2. Por que a entrevista é considerada uma das principais técnicas para a avaliação do orientando?

capítulo 4 • 141
3. Para Tavares (2002), que tipo de habilidades o entrevistador deve desenvolver no
exercício profissional?
4. Quais as vantagens e desvantagens, na sua opinião, em relação ao processo de orientação
profissional individual e grupal?
5. Esclareça a diferença entre diagnóstico e prognóstico no processo de orientação profissional;
6. Qual a importância do prognóstico de orientabilidade?
7. Qual a sua opinião a respeito da utilização dos testes para fins de coleta de informações
no processo de orientação e/ou reorientação profissional?
8. Faça um relatório crítico a respeito da atuação do psicólogo na orientação profissional
na atualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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Mais Graves e Mais Frequentes no Uso dos Testes Psicológicos. In: Revista Psicologia: Reflexão e
Crítica, 15 (1), 2002, p. 135-142.
DE ALMEIDA, N. V. A entrevista psicológica como um processo dinâmico e criativo. Disponível
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LUCCHIARI, D. H. P. S. et all. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo:
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– Question d’Orientation. Bulletin de l’Association des Conseillers d’Orientation de France, 1995.
MELLO, F. A. F. O desafio da escolha profissional. Campinas: Papirus, 2002.
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SPARTA, M.; BARDAGI, M. P.; TEIXEIRA, M. A. P. Modelos e instrumentos de avaliação em
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capítulo 4 • 142
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profissional: do jovem ao adulto. São Paulo: Summus, 2002.
TAVARES, M. A entrevista clínica. In: CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico - V. Porto Alegre: Artmed, 2002.
WAINBERG, A. K. Grupos de Orientação Profissional com Alunos Adolescentes. In: Ziemerman, D. E. et
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capítulo 4 • 143
capítulo 4 • 144
5
A escolha da
profissão: do jovem
ao adulto
A escolha da profissão: do jovem ao adulto

Orientação profissional para todos

OBJETIVOS
•  Compreender a importância do psicodrama como método interventivo aplicado às dinâmi-
cas de Orientação Profissional;
•  Refletir sobre o quanto o procedimento pode ser eficaz à população adulta;
•  Compreender a conceituação e a importância da reorientação profissional;
•  A reorientação como processo interventivo;
•  Refletir a entrevista e o diagnóstico vocacional na prática clínica.

Contribuições do Psicodrama à Orientação Profissional

A subjetividade humana, em todas as suas possibilidades de interpretar a ver-


dade individual, pode ser alcançada não apenas através do simbolismo das pala-
vras, das imagens mnêmicas ou da involuntária linguagem corporal, mas também
através da ação, da dramaturgia
espontânea, que envolve a comu-
nicação dos sentimentos desde os
primeiros momentos da infância.
Jacob Levy Moreno tinha for-
mação como médico, psicólogo e
dramaturgo; ele, de forma experi-
mentalista, começou, a partir da
experiência com uma equipe de
atores, a utilizar recursos de uma
teatralização naturalista, espontânea, descobrindo seu incrível poder de atuação
terapêutica. Essas encenações logo se converteriam numa técnica por ele intitula-
da Psicodrama. Como tantos outros saberes da Psicologia direcionados à área da
orientação profissional, o psicodrama também demonstrava uma expressiva con-
tribuição à diversificação das metodologias de dinâmica de grupo, especialmente
entre jovens adolescentes.

capítulo 5 • 146
O Psicodrama, ao acompanhar as mais variadas fases de adaptação do ser hu-
mano ao ambiente externo e interno, contribui com suas observações para as futu-
ras práticas interativas no contexto do trabalho. Desde a criança, em contato com
sua primeira matriz de identidade, ou seja, a mãe, em relação à qual vivencia uma
sensação de continuidade indiferenciada, passando posteriormente a um reconhe-
cimento estável das pequenas diferenças assimiladas pelo ego em estruturação,
testemunhamos essa evolução perceptiva. Após o reconhecimento e a aceitação
do pai nesse triângulo de relacionamento, a criança passa a conceber o espaço de
importância de cada um no compartilhamento de suas vivências; estando apta a
avançar para uma próxima etapa, prepara-se para dividir o ambiente com mais
pessoas, estabelecendo laços interativos com amigos da vizinhança, da escola, en-
tre outros, caracterizando, assim, seu período de socialização.
Nessa época da infância, é muito comum a lúdica experiência da inversão de
papéis, em que a criança poderá se aventurar,
experimentando viver o ponto de vista do ou-
tro ao colocar-se em seu papel social; seja, por
exemplo, fingindo ser o professor, o irmão
mais velho, o melhor amigo, o rival do colé-
gio, o pai ou a mãe. Esses papéis são agora
vividos com um experimental distanciamento
de identidade, ainda que em desenvolvimen-
to, possibilitando confrontar atitudes, viver o
oposto daquilo que se pensa e deseja.
De acordo com a abordagem do psiquiatra
Içami Tiba1, o Núcleo do Eu pode ser alterado
em termos qualitativos e quantitativos com a che-
gada da puberdade, quando as modificações no
corpo e no pensamento, pela capacidade de lidar com abstrações, se torna mais evidente.
Passando a interpretar o ambiente de maneira própria, o jovem sente a motivação de
questionar valores preestabelecidos, normalmente enfatizados na dinâmica familiar e so-
cial, possibilitando que o Núcleo do Eu possa ter a oportunidade de ser redimensionado.
Esse será um fator fundamental para o amadurecimento da subjetividade desse jovem,
tornando a sua futura identidade individual e profissional, numa formação progressiva,
capaz de se reciclar a partir do poder do autoconhecimento. (LUCCHIARI, 1993)

1  Içami Tiba (1941-2015) foi um médico psiquiatra, psicodramatista, colunista, escritor de livros sobre Educação,
família e escola, além de palestrante contemporâneo brasileiro.

capítulo 5 • 147
Um enfoque muito significativo desenvolvido pelo Psicodrama, segundo
Luchiari (1993, p. 19), refere-se à Teoria dos Papéis, ou seja, à capacidade que os
indivíduos em sociedade possuem para se articular tanto na representação parcial
do eu (aquele que aparece aos olhos do mundo), como na aceitação dos papéis
que venham a ser sugeridos ou impostos pelo ambiente externo, tornando-os ex-
perientes intérpretes dessas versões de si mesmo. Afinal de contas, isso não é novi-
dade para nós, uma vez que sempre representamos papéis. Somos intuitivos atores
por natureza. Desde a mais tenra idade, quando expressamos simplesmente neces-
sidades fisiológicas, como comer, dormir, defecar, comunicando o que sentimos
numa linguagem psicossomática, até o esperado rompimento pela criança entre as
coisas que pertencem ao terreno do sonho, do imaginário, e aquelas que integram
o mundo da realidade objetiva. Essa percepção interna permite que ela assuma
duas novas modalidades de papéis: os considerados sociais (fazendo parte de um
sistema mais amplo de relacionamento, em que, para cada papel, existe uma com-
plementação, ou seja, só teremos a figura do mestre se tivermos o discípulo, ou, no
caso do médico, se tivermos quem inspire cuidados) e aqueles considerados psico-
dramáticos, advindos da criatividade do indivíduo, abrangendo tanto as personas
já estabelecidas socialmente como as oriundas do lado imaginativo, fantasioso da
pessoa, que dará diferentes nuances a papéis que não fazem parte de sua realidade.
Essa vivência é muito estimulada nas técnicas de Orientação Profissional, em
que grupos de jovens são orientados a elaborar uma cena, contando com o maior
número de profissionais interagindo,
cada um deles personificando as caracte-
rísticas formais e informais de sua fun-
ção que esses candidatos serão capazes
de forjar, com autenticidade e credibili-
dade, na estrutura do próprio eu. Dessa
maneira, ao observar sua múltipla habi-
lidade de ocupar diferentes papéis, colo-
cando-se com desenvoltura no lugar do
outro, o jovem demonstrará estar apto a
discernir e escolher, entre os perfis profissionais com os quais mais se identifica,
avaliando seu maior grau de contentamento e segurança.
Quando aplicamos a leitura do psicodrama ao modelo de uma entrevista
de orientação profissional, é proposto em primeiro lugar ao jovem a configu-
ração imaginária de um cenário onde os acontecimentos irão transcorrer. Ele

capítulo 5 • 148
deve reconhecer a postura emocional em relação ao papel que escolheu desem-
penhar, estando predisposto a trocar eventualmente de “máscara” funcional e
comportamental com o colega de grupo a fim de assumir a diversidade dos
pontos de vista propostos. Esse remanejamento cênico o auxilia a conhecer e
assumir suas dúvidas e conflitos inerentes ao processo de escolha. Depois de fi-
nalizada a cena, seguem-se os comentários, dando oportunidade a cada pessoa
do grupo tecer suas considerações individuais sobre como se relacionou com a
experiência, analisando sua importância no grau de amadurecimento de suas
conclusões para uma iniciativa decisória.

Adultos também precisam...

Sempre que pensamos em orientação profissional, nosso imaginário nos revela um


grupo de jovens ansiosos para
desvendar os meandros do fu-
turo ocupacional, porém cabe
aqui, neste ponto, pensarmos
a respeito de quantos adultos
atuam em uma profissão que,
muito embora tenha sido es-
colhida ou não por eles, lhes causa desconforto e até mesmo mal-estar. Muitas vezes a
pessoa está insatisfeita de modo geral, e o trabalho apenas reflete essa insatisfação, mas
as pesquisas apontam para um alto índice de insatisfação no trabalho.

Segundo Riccardo Oliveira2,

A insatisfação com o trabalho é um problema que a cada dia afeta


mais profissionais. Falta de concentração e de foco, produção
reduzida e distração são algumas das características dos profissionais
insatisfeitos. Pesquisa da Isma Brasil (International Stress Management
Association) mostrou que 72% das pessoas estão insatisfeitas com
o trabalho. "Geralmente a insatisfação com o trabalho é silenciosa,
e apenas quando algum problema ou conflito aparece é que as
reclamações surgem e as insatisfações são expostas”.

2  Texto encontrado em: http://migre.me/wCwHM

capítulo 5 • 149
Devemos considerar o nível de satisfação no trabalho como um fenôme-
no atual, tendo em vista que, na história do trabalho já discutida neste livro,
percebemos que ao longo das décadas passadas o mesmo era visto apenas
como fonte de renda.
Nesse sentido, é notável a compreensão de que a orientação profissional seja
uma prática de aconselhamento psicológico visivelmente relacionada com as cir-
cunstâncias socioculturais daquele momento específico. Percebemos, ao longo do
tempo, a demanda crescente de adultos que nos visitam à procura por ajuda para
conflitos de ordem vocacional/profissional. Suas queixas geralmente variam entre
a dificuldade de adaptação profissional, a falta de realização no trabalho, as difi-
culdades de inserção no mercado traduzidas por um suposto erro de escolha. Tal
contexto nos faz refletir sobre a necessidade da psicologia se debruçar sobre esse
movimento com profundidade para compreendê-lo e ponderar sobre as interven-
ções possíveis. Segundo a experiência de Celia Maria Mota Amaral, supervisora
de estágio em Orientação Vocacional em uma instituição de ensino,

(...) a disponibilidade para viver um processo de orientação está


associada à consciência das próprias necessidades (o que muitas
vezes não ocorre com o adolescente, que é conduzido ao serviço pelos
pais, por sugestão de colegas ou professores, sem ter clareza de suas
reais necessidades). (AMARAL, 1995, p. 158)

Para esse grupo, a autora utilizou as mesmas etapas dos grupos de jovens que
incluíam o autoconhecimento, o conhecimento da realidade e o próprio processo
da escolha. Ao final, percebe que o trabalho feito com o grupo de pessoas mais
maduras, com a faixa etária entre 21 a 40 anos, foi de grande valia. Por isso, ela
pondera sobre a necessidade, já assinalada neste texto, de maiores estudos sobre o
fenômeno e enfatiza:

(...) o aumento da procura de adultos por Orientação Profissional


exige uma re-leitura do mundo do trabalho e das rápidas mudanças
sociais, que podem estar na origem das insatisfações e inseguranças
do homem com seu trabalho... corremos atrás do futuro e, na pressa,
perdemos de vista o outro, aquele que, existindo diferente de mim,
permite que eu seja “eu mesmo”. (p. 159)

capítulo 5 • 150
Não é incomum que o adulto, diante de sua insatisfação profissional,
desenvolva e apresente um diagnóstico de depressão ou ansiedade. Muitos
estudos têm confirmado relações estreitas entre depressão, ansiedade e in-
decisão vocacional. (HAWKINS, BRADLEY & WHITE, 1977; JONES &
WINER, 1991 In: LASSANCE, 2005)
De acordo com o DSM-V (American Psychiatric Association), a depressão
está associada a cognições negativas acerca do indivíduo mesmo, do mundo e do
futuro. Cognições negativas levam a pas-
sividade, fraco senso de autoeficácia, bai-
xa autoestima, sentimentos de desespe-
rança, dificuldade de concentração e
tomada de decisão. Tanto em indivíduos
portadores de transtornos depressivos
quanto os de ansiedade, o papel das cog-
nições negativas na desadaptação profis-
sional é central na medida em que cria
um escopo de autoconceito disfuncional e inadequado às regras sociais para o
trabalho. (LASSANCE, 2005)
Para alguns estudiosos, o grau de depressão e ansiedade, associado a um lo-
cus de controle externo, a uma identidade vocacional frágil ou a pensamentos
confusos quando acompanhadas da indecisão, pode exacerbar o problema voca-
cional, sugerindo ao orientador profissional certo cuidado e uma atenção para,
em primeiro lugar, organizar o afeto e depois organizar o processo de escolha.
(SAUNDERS & COLABORADORES, 2000)

Reorientação profissional

Quando ouvimos falar em reorientação, pensamos imediatamente que o ter-


mo se refere a uma orientação feita “novamente”, pressupondo, para tanto, que já
tenha sido aplicada outra anteriormente; tal si-
tuação nos faria supor também que já tenha
acontecido uma escolha anterior e um suposto
desejo de mudança.
Esse discurso impõe muitas dúvidas; entre
elas, uma em especial insere o questionamento:
se reorientar seria escolher de novo? Mais um

capítulo 5 • 151
ponto entra em discussão: será que de fato a escolha ocorreu? Será que escolher
novamente implica necessariamente uma insatisfação? Certamente, escolher de
novo significa começar tudo novamente, e essa não parece ser uma tarefa fácil. No
entanto, uma nova possibilidade de escolha vocacional pode ser apropriada em
outras situações, como, por exemplo, quando um jovem ou adulto se encontra
insatisfeito na carreira escolhida ou pode fazer alguma mudança quando seguir
sua pós-graduação; quando o adulto já atua em sua profissão e, embora satisfeito,
queira ampliar seus horizontes e explorar novas possibilidades; por insatisfação
com a função ou com o salário e, ainda, por situação de desemprego; quando a
pessoa já construiu sua vida profissional e está em processo de aposentadoria, mas
precisa continuar trabalhando ou possui agora a possibilidade de realmente exer-
cer a profissão que sonhara e não podia realizar, entre outros exemplos.

Concordamos com Soares-Lucciari (1997) ao esclarecer o termo:

Reorientar é facilitar o processo de adaptação profissional frente


às mudanças exigidas pela modernização e pela globalização. O
objetivo maior da reorientação profissional é trabalhar a relação
homem-trabalho, a vivência no desempenho da profissão, os
sentimentos experimentados e as mudanças exigidas. E permitir ao
indivíduo de progredir em suas sucessivas "escolhas" auxiliando-o a
ver a relação existente entre as diversas decisões que vai tomando
ao longo de sua vida profissional.

capítulo 5 • 152
Para Soares (2002), a reorientação, no sentido de busca de uma “nova” orien-
tação, vem sendo cada vez mais solicitada desde a década de 90 devido às grandes
transformações sociais que acabaram impondo um novo modelo de mercado e
de atuação profissional. A reorientação seria uma nova oportunidade de buscar a
felicidade? Qual seria, então, o papel do reorientador profissional em meio a um
universo permeado por tantas mudanças?
Soares (2002, p. 146) aponta para algumas possibilidades:
•  Auxiliar no processo de readaptação a novas carreiras;
•  Desenvolver novas capacidades pessoais exigidas pelas novas ocupações,
como: espírito empreendedor, criatividade, flexibilidade, espírito de equipe, entre
outras. Auxiliar também na identificação e no desenvolvimento de outras capaci-
dades pessoais;
•  Buscar a compreensão das relações existentes entre as diferentes ocupações
vivenciadas pela pessoa e seus aspectos psicológicos (background psicológico) a fim
de preservar a unidade e a integridade de sua identidade pessoal e profissional.
Trabalhar a estrutura psicológica requerida nessa mudança.

Segundo Garcia, a reorientação profissional tem por objetivo:

(...) resgatar os projetos profissionais daquele que, em um momento


da sua vida, engajou-se numa escolha sem ter passado por
questionamentos, ou importou-se apenas em viver aquele momento, ou
ainda considerou apenas o futuro, sem levar em conta todo o processo
decisório pelo qual estava passando. (LISBOA & SOARES, 2000)

O fato é que o processo de reorientação profissional pode causar mudanças


positivas no sujeito ao iluminar o complexo ca-
minho entre os seus conflitos perante as suas es-
colhas e seu processo decisório, levando-o a des-
pertar em si a coragem necessária para encontrar
suas habilidades, contrapô-las com as expectati-
vas das pessoas que a rodeiam e seguir de encon-
tro às suas reais necessidades. Nesse sentido, o
reorientador tem o papel de contribuir reflexivamente com aquele sujeito que se
encontra no processo de busca para que, a partir do reconhecimento de seu

capítulo 5 • 153
mundo, de si próprio e de suas relações com o trabalho, possa construir seu proje-
to de vida pessoal e profissional de modo que seja satisfatório para si e para a so-
ciedade em que vive.

Para Canedo:

(...) fica claro que a meia-idade pode ser uma etapa de reconstrução
e mesmo de construção de formas mais integradas e positivas de
viver. A busca por uma nova inserção profissional é o ponto de partida
para a manutenção da vitalidade, e a vivência do “estar aposentado”
pode permitir a retomada dos sonhos esquecidos ou abandonados,
ou, ainda, a renovação, no sentido da vida por meio de novos projetos.
(LISBOA & SOARES, 2000)

O papel do reorientador profissional é de auxiliar o orientado a compreender


a lógica do novo modelo de mercado que se descortinou para a modernidade,
a encontrar as habilidades que serão potencialmente utilizadas em sua atuação
nesse mercado e a percepção que uma escolha não pode ser considerada estática,
mas detentora de uma maleabilidade que se amolda e se define no decorrer do
seu projeto de vida.
O trabalho de orientação ou reorientação profissional com adulto se asseme-
lha ao feito com os adolescentes em que um dos pontos principais é o foco na
escolha (nesse caso específico, uma segunda es-
colha, localizando a insatisfação da primeira).
Muitas vezes há uma necessidade de desmistifi-
car a ideia de que o processo vai milagrosamen-
te fazer emergir a “verdadeira vocação” daquele
sujeito que não foi identificada na ocasião da
primeira escolha. O processo pode ser feito de
forma individual ou grupal, de acordo com a
proposta do profissional.
De acordo com alguns estudiosos, podemos distinguir as semelhanças e diferen-
ças entre orientadores e reorientadores profissionais (KRAWULSKI, SIQUEIRA,
CAETANO, CACAES e SOARES, 2000) reproduzidas no quadro a seguir:

capítulo 5 • 154
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS

Urgência de uma decisão - a Grau de maturidade e idealização da


necessidade e urgência em fazer uma escolha profissional - o jovem orien-
escolha profissional está presente tando, na maioria das vezes, vivenciou
em ambos os grupos, sendo que o poucas oportunidades de escolha, e o
que difere é a motivação para fazê-la, momento que se apresenta, de optar
envolvendo, em ambos os casos, um por um futuro profissional, lhe é novo,
processo decisório para o qual concor- trazendo junto a necessidade de tornar-
rem vários fatores de influência. -se responsável por tal escolha. Como
nesse momento a maturidade ainda é
incipiente, ocorrem, com frequência,
escolhas idealizadas. Já para os reorien-
tandos, em sua maioria pessoas com um
pouco mais de maturidade, o processo
de re-escolha funda-se mais nas expe-
riências anteriores de sucesso/frustra-
ção e menos na idealização.

Presença de ansiedade e dúvida - Motivação para fazer a escolha


os sujeitos, quando vêm a OP e REO, profissional - os motivos que levam
apresentam-se extremamente ansiosos os sujeitos de cada grupo a fazer sua
frente ao futuro profissional, trazendo escolha são inerentes à etapa de vida
também muitas dúvidas, configurando- de cada um. Para o jovem orientando,
-se essas como resultado da pressão a resolução do conflito envolvido no
exercida pela família, bem como do processo de escolha torna-se urgente
medo de errar na escolha ou re-escolha. em função do vestibular. Para os reo-
rientandos, por sua vez, que já contam
com uma escolha feita anteriormente,
observa-se que as dúvidas, ansiedade e
medo vêm acrescidos da experiência de
frustração pelo erro da última escolha, e
que a insatisfação de estarem fazendo
o que não gostam é que torna mais
premente a resolução do conflito da
escolha profissional.

capítulo 5 • 155
Necessidade de informação profis- Nível de exigências e questionamentos
sional - há uma expectativa muito gran- - o nível de exigências e questionamentos
de em obter informação profissional, dos sujeitos, quanto às proposições e
sendo esse um dos maiores objetivos, trabalhos levantados no grupo, conforme
principalmente dos jovens de grupos de temos constatado, é diretamente propor-
OP, que imaginam que a detenção de cional às suas experiências de vida e grau
tais informações, por si só, definirá sua de maturidade. Quanto mais experiência
escolha profissional. vital possuem, mais "dados" ou elementos
são buscados para questionar o momento
de vida pelo qual estejam passando. É
perceptível essa diferença entre os grupos
de OP e REO, havendo neste último muito
mais polêmica, discussão e aprofundamen-
to de questões. Não que os jovens ado-
lescentes não questionem. Eles discutem
e questionam igualmente, mas o teor das
discussões tem por base o aqui e agora, o
que estão vivendo no momento, pois detêm
uma "bagagem" menor de conhecimentos
e experiências de vida, sem muito aprofun-
damento de suas discussões acerca do
futuro. Em relação aos grupos de REO, o
nível de exigência e questionamento é bem
maior também porque, conforme ressalta-
mos anteriormente, sua "bagagem" de vida
vem acrescida de uma frustração pelo erro
da primeira escolha, ou seja, pelo fato de
estarem cursando ou já serem formados
num curso que não lhes está interessando
ou não lhes satisfaz.

capítulo 5 • 156
Presença de complicadores pes-
soais - nas entrevistas iniciais individuais,
que precedem os trabalhos em grupo,
detectamos, além das dúvidas quanto
ao futuro profissional, conflitos nas vidas
pessoais, podendo eles serem ou não um
complicador para o processo de OP ou
REO, dependendo de como cada indivíduo
lida com esses problemas e qual o grau
de consciência alcançado a respeito. A pre-
sença de complicadores pessoais também
é constatada durante o processo grupal, ou
ainda somente no final do processo, duran-
te as entrevistas devolutivas. De qualquer
modo, é importante essa detecção, porque
nos permite compreender, por exemplo,
casos de impossibilidade temporária de
realizar escolhas, respondendo ao porquê
da dificuldade de fazê-lo.

Pressão no sentido de atender ex-


pectativa familiar - percebemos como
é forte a pressão da família sobre os
sujeitos de ambos os grupos para que
atendam às suas expectativas. Para o
adolescente orientando, essa pressão
é exercida no sentido de que faça a
escolha certa para mais tarde não ter
que re-escolher e, ao mesmo tempo,
que coincida com as escolhas já feitas
pela família. Algo não muito diferente
ocorre para os reorientandos, que são
pressionados para que permaneçam na
escolha familiar, dificultando, e às vezes
impedindo, que busquem suas próprias
escolhas em casos de insatisfação com
escolhas anteriores.

Tabela 5.1  –  Semelhanças e diferenças entre orientação e reorientação profissional. Quadro


construído a partir das informações obtidas no artigo “Reorientação profissional, orientação e
o processo de escolha: notas sobre experiências vividas”. (Florianópolis, 2000)

capítulo 5 • 157
Da mesma forma que no processo com o jovem, o orientador deverá es-
tar atento às dificuldades inerentes a pressões internas que o adulto pode
estar sofrendo, impossibilitando-o de fazer a escolha, assim como aquelas
pessoas que estão desem-
pregadas e, por isso mes-
mo, encontram-se em de-
pressão, ou passam por
uma separação, ou, ain-
da, se entregaram ao al-
coolismo. Podemos tam-
bém citar aqueles que,
embora sejam adultos,
sentem-se pressionados
pela família a manterem-se naquela escolha que pode ter sido familiar.
Muitas vezes a bagagem de vida daquele sujeito vem acrescida de frustrações
marcadas por erros passados.
Apesar da vasta experiência de vida, o adulto em reorientação pode ter
muitas dificuldades em seu proces-
so de escolha; essa decisão depende
de como a pessoa lida com seus
conflitos e como vivenciou suas es-
colhas até o momento, indepen-
dentemente do tipo de escolha fei-
ta. E, ainda, como cada um
consegue perceber e lidar com os
fatores e consequências que influem
e estão envolvidos no processo de-
cisório. (SOARES, 2002, p. 159)
Para que o trabalho seja bem-sucedido, tanto na orientação como na reo-
rientação profissional, devemos ser cautelosos quanto aos objetivos e às técni-
cas que delineiam o procedimento. É fundamental também que o psicólogo
tenha uma estratégia de ação assim como um referencial teórico como refe-
rência, pois não há sentido em aplicar técnicas sem uma visão de homem e
mundo ancorada em uma ética profissional.
No diagrama abaixo, elaborado por Soares (2002), encontram-se os objetivos
gerais e específicos para o processo de orientação profissional.

capítulo 5 • 158
Figura 5.1  –  Diagrama para Orientação Profissional . Diagrama retirado do livro A escolha
profissional: do jovem ao adulto. (Soares, 2002, p. 164)

Orientação profissional nas escolas públicas

A necessidade da criação de programas específicos de orientação profissional


para a camada menos favorecida da sociedade é uma realidade já discutida ampla-
mente na literatura atual, já que os serviços voltados para a orientação profissional
sempre foram mais acessíveis aos jovens da elite.

Segundo Costa (2007):

A prática da orientação profissional em escolas públicas permite


analisar os mitos em torno do êxito e do fracasso daqueles alunos,
favorecendo o exercício das escolhas dos sujeitos a fim de que
desenvolvam uma postura ativa em busca de informações, ideais e
objetivos (p. 80).

capítulo 5 • 159
É reconhecidamente importante o acompanhamento dos jovens na constru-
ção do seu futuro, e a orientação promove uma abertura para a análise das condi-
ções socioeconômicas existentes para a realização de uma escolha satisfatória.
Muitas vezes o jovem de
uma escola pública não
tem acesso às informações
sobre o mundo do trabalho
profissional e suas diversas
possibilidades. Em muitos
casos, o jovem não acredita
que é possível escolher en-
tre uma carreira ou outra,
tendo já predeterminado o caminho que é um espelho do ofício dos pais, ou não
se encontra motivado por uma busca que acredita ser inatingível.
Pesquisa feita com alunos de uma escola pública do Rio Grande do Norte evi-
denciou que 41,66% deles, entre aqueles que iniciaram o processo de orientação,
desistiram de participar no decorrer do trabalho, índice apontado como inferior
a outros programas semelhantes. Dados apontam que 61,53% dos participantes
foram favorecidos com a tomada de decisão da escolha profissional, enquanto
19,3% terminaram as oficinas ainda em processo decisório e 19,23% perma-
neceram com dúvida quanto à carreira a seguir. (DANTAS, NASCIMENTO,
OLIVEIRA E SOBRINHO, 2014)
Segundo os autores da oficina:

A possibilidade de refletir em relação às questões do mundo do


trabalho contemporâneo propiciou a mediação entre esses jovens e
suas perspectivas de futuro, favorecendo a aprendizagem da tomada de
decisão a ser empregada em outras ocasiões. Em consequência disso,
proporcionou-lhes a oportunidade de fazerem escolhas conscientes e
seguras em relação ao futuro profissional. (p. 186)

Algumas pesquisas como a de Alwin (2011) ressaltam que as escolas públicas,


apesar de atribuírem valor à Orientação Profissional, realizam poucas ações volta-
das a esse âmbito. As escolas relatam a dificuldade em encontrar um psicólogo que
viabilize a realização do trabalho de orientação profissional, de caráter voluntário,
uma vez que a escola não tem condições financeiras de pagar esse profissional.

capítulo 5 • 160
Pimenta (1981) sinaliza a contradição da Lei 5692/71, art. 10, que institui a
obrigatoriedade da Orientação Educacional, nela incluindo aconselhamento vo-
cacional; na prática, o cumprimento dessa lei não acontece em todas as escolas,
principalmente nas públicas.
Muitas vezes, a escola pública, amputada dessa prática, só oferece aos seus
alunos palestras informativas que, por sua vez, objetivam divulgar uma atua-
ção fora do contexto interno da escola pública ou atribuem ao corpo docente
a tarefa de auxiliar seus alunos no processo de escolha, prática defendida ou
criticada como uma ação que pode ser efetuada no ambiente escolar, mas que
pode se mostrar ineficaz, já que não possibilita ao aluno nem o autoconheci-
mento, nem a análise crítica das profissões e demandas do mercado.
Sendo bastante expressivas as dificuldades encontradas pelas escolas pú-
blicas quanto ao processo de orientação profissional, se torna de suma impor-
tância que o psicólogo possa se debruçar sobre essas questões com intuito de
compreender as dificuldades e promover planejamento de ações mais eficazes
para essa parcela da população.

A construção de um “diagnóstico” vocacional

Até aqui, caro aluno, percorremos uma trajetória que procurou apresentar os
conceitos e as teorias que embasam a orientação profissional. Devemos considerar
que as teorias, conforme nos aponta Giacaglia (2003),

Podem ser úteis se tomadas, não como verdades absolutas, mas


como paradigmas sujeitos a pequenos ou grandes erros, a que
Kuhn chama de “anomalias”. As teorias geralmente aceitas pela
comunidade científica em um dado momento não são nem certas nem
erradas, mas devem constituir o melhor apoio de que a comunidade
dispõe naquele momento... a OV tem por principal apoio teórico a
Psicologia. (p. 8-9)

Para deixar mais claro o trajeto que envolve a escolha profissional, apresentamos
um quadro de referência para que o estudioso do assunto possa orientar suas pes-
quisas no campo teórico.

capítulo 5 • 161
TEORIAS PSICOLÓGICAS

Teorias de Traço-Fator – Parsons


É considerada a mais antiga e se baseia nos traços de personalidade do sujeito orien-
tado. Frank Parsons propõe traçar um perfil psicológico da pessoa para então indicar
a profissão mais adequada. Para tanto, divide a escolha profissional em três etapas:
(1) um entendimento claro do próprio indivíduo, incluindo suas atitudes, habilidades,
interesses, ambições, pontos fortes e fracos e suas causas; (2) conhecimento dos re-
quisitos e condições para o sucesso, vantagens e desvantagens, remuneração e opor-
tunidades; (3) o que considerou de “verdadeiro raciocínio” e relações entre o primeiro
e o segundo itens. O emprego de testes é essencial nessa teoria para descortinar os
traços de personalidade do sujeito que está em processo de orientação.

Teorias Psicodinâmicas
Essas teorias estão preocupadas em compreender a dinâmica da personalidade e
podem ser divididas em psicanalíticas, de necessidades e do “Eu” (Self).
Nas de base psicanalítica, trabalha-se a escolha vocacional dentro da lógica que
embasa a escola psicanalítica, em que a escolha seria uma busca para a sublimação
de impulsos. Tais escolhas estariam relacionadas a experiências de frustração ou sa-
tisfação de necessidades de cada etapa de desenvolvimento durante a infância, sendo
importante, para alguns autores como Mackelvie (1979), as lembranças da infância.
Aquelas classificadas como Teorias das Necessidades (Need) trabalham as esco-
lhas em relação à satisfação de desejos e de necessidades psicológicas do sujeito.
Com base nas teorias de Maslow e estudos feitos com pessoas bem-sucedidas, nessa
abordagem trabalha-se com listas de necessidades e compreende-se que, de acordo
como cada pessoa aprendeu a satisfazer suas necessidades e levando em considera-
ção o seu ambiente familiar, poderá determinar seus interesses, atitudes e habilidades.
Já as Teorias do “Eu” (Self) também são conhecidas por teorias do ego. Para seus
teóricos, como Super (1951), a interação do “Eu” com o mundo, por meio de experiên-
cia vivida nos ensaios vocacionais, leva ao autoconceito, uma percepção de si mesmo,
e a escolha profissional precisa ser congruente com ele.

Teorias Desenvolvimentais
Os profissionais que atuam nessa linha de pensamento procuram a compreensão
das escolhas a partir da superação dos estágios e da maturação no desenvolvimento
humano, elaborando hipóteses relacionadas para o desenvolvimento vocacional.

capítulo 5 • 162
Teorias Decisionais
Para seus teóricos, o sujeito possui liberdade de escolha entre uma série de
possibilidades, o que impõe a necessidade de uma análise dos mecanismos
empregados para a tomada de decisões. São teorias ilustradas por gráficos
e esquemas sequenciais, e leva em consideração o conceito de dissonância
cognitiva. Os passos propostos para a tomada de decisões são: (1) estudo dos
dados disponíveis; (2) procura de informações; e (3) confronto com a realidade.
Para os autores que a estudam, a pessoa, ao tomar sucessivas decisões, acaba
afunilando as alternativas de escolha.

Outras Teorias Psicológicas


Algumas teorias surgiram baseadas em outras categorias de teorias psicológicas,
como a baseada na teoria topológica de Kurt Lewin; outras, baseadas na teoria de
aprendizagem social e na teoria de autoeficácia de Bandura; outras, na teoria de ajus-
tamento e na de aprendizagem social.

TEORIAS NÃO PSICOLÓGICAS

Teoria de Escolhas Devidas ao Acaso


Nesse caso, não há escolha, já que a pessoa é direcionada por alguma razão que
pode até ser alheia à sua vontade a um trabalho ou ocupação sem o planejamento
prévio, como, por exemplo, ter de assumir um negócio depois do falecimento do pai. A
satisfação é impulsionada pelo envolvimento e interesse no decorrer do próprio trajeto.
No Brasil, há outro fator, ligado ao conceito do acaso, que pode ser determinante na
suposta escolha ocupacional: o famoso Quem Indica.

Teorias Econômicas
Para esse tipo, o que mais importa é o conhecimento do mercado de trabalho, e não
o conhecimento do próprio sujeito. Ter a vantagem econômica como critério para
escolha pode levar ao considerado prestígio social, mas também necessita de uma
adequação às características pessoais de quem escolhe.

capítulo 5 • 163
Teorias Culturais e Sociais
São aquelas que dão maior relevância aos papéis do meio social e cultural do que aos
traços individuais na escolha profissional. Tais fatores estão ligados a valores, atitudes,
democracia e costumes da sociedade em que se insere o sujeito, assim como as
influências dos grupos no processo de interações sociais.

Tabela 5.2  –  Teorias Psicológicas e Não psicológicas. Para maiores informações, o aluno
pode consultar Giacaglia (2003, capítulo 4 e 5).

Quanto às diversas teorias que envolvem e sustentam a prática de Orientação


Profissional, muitas são as críticas, porém devemos considerar que os mesmos
teóricos que criticam também evidenciam os pontos positivos de cada uma delas,
o que serve, inclusive, de ponto de partida para o desenvolvimento das próprias
teorias, o que nos sugere a compreensão de que a diversidade teórica se justifica
ao se pensar o seu objetivo, a finalidade e a população para qual foi pensada e
experimentada. Além disso, as teorias são conflitantes entre si exatamente porque
possuem verdades em todas. (GIACAGLIA, p. 99)
Assim, de acordo com Giacaglia (2003), a coexistência de inúmeras teorias
pode indicar que nenhuma se mostra totalmente satisfatória: todas possuem uma
verdade e nenhuma pode ser ignorada ou descartada; portanto, o fenômeno a que
se referem é tão complexo que não pode ser explicado por meio de uma única teo-
ria. Assim, propõe uma teoria holística, geral, que não deve ser considerada como
um ecletismo acrítico e de aceitação de tudo. Sua proposta engloba uma teoria da
medida e orientação vocacional que consideram variáveis, como interesses, apti-
dões e a interação entre ambos; valores; e, ainda, outras variáveis de personalidade
que são considerados traços relevantes, como introversão/extroversão ou domi-
nância e estabilidade emocional.
Para a autora, embora haja muita discussão sobre a utilização, a eficácia ou
não dos testes psicológicos, e reconhecendo que não existe um kit ou pacote de
testes vocacionais que sejam considerados adequados e perfeitos ao processo, eles,
ainda assim, são interessantes. Mas, em sua proposta, procurou-se substituir os
testes psicológicos por atividades de avaliação que, embora se assemelhem a testes
existentes, não são considerados como testes. Cada atividade proposta intenciona
o conhecimento de informações que serão fontes para a construção das hipóteses
que serão ou não corroboradas por atividades subsequentes.

capítulo 5 • 164
A entrevista, a instrumentalização e a construção de um diagnóstico vocacional

Tendo em vista a diversidade de teorias e técnicas para a avaliação das capaci-


tações vocacionais e profissionais, chamamos a atenção do caro aluno para a ob-
servação e a entrevista
como fontes importantes
para a coleta das informa-
ções necessárias à constru-
ção das hipóteses iniciais,
assim como para a impor-
tância da instrumentaliza-
ção, seja ela produzida a
partir da aplicação de testes
psicológicos ou atividades
que visem à extração de informações complementares, igualmente necessárias para
elaboração de hipóteses pertinentes ao processo de orientação.
Ao considerarmos que a conclusão do procedimento busca predominante-
mente uma melhor compreensão do sujeito avaliado a respeito de si mesmo e
do mundo ocupacional do que uma resposta específica sobre qual atividade que
melhor se enquadra de acordo com as avaliações produzidas, podemos pensar e
promover uma orientação que, independentemente dos suportes e aportes téc-
nicos e teóricos, culmine no desenvolvimento de habilidades que favoreçam o
processo da escolha.
Devemos levar em consideração a realidade muito comum de que tanto o
jovem quanto o adulto nos procurem para o processo de orientação profissional
com expectativas fantasiosas sobre obter, ao final do mesmo, uma resposta que
lhes garanta magicamente um futuro de satisfação profissional e pessoal. Para que,
ao final do trabalho, na entrevista devolutiva, não haja surpresa dessa natureza, o
psicólogo deve explicitar bem claramente na entrevista inicial quais os objetivos
do processo e relacioná-los, em uma comunhão de pensamentos, às expectativas
daquele cliente. Caso haja incongruência entre as duas, a mesma deve ser explici-
tada e resolvida antes mesmo do início do processo como um todo.
O termo diagnóstico, muito utilizado na orientação profissional clínica, as-
sim como nas demais áreas da psicologia que se utilizam da avaliação psicológica,
carrega o peso de “ter o poder” de definir algo que se busca compreender, seja em
termos de uma classificação ou de uma orientação final, que pode, muitas vezes,

capítulo 5 • 165
incidir em um rótulo. Portanto, deve ficar evidenciado que o diagnóstico na clíni-
ca que desenvolve a orientação profissional é apenas uma etapa do processo cuja
principal intenção é a de identificar uma identidade profissional capaz de se ade-
quar à identidade pessoal, acomodando gostos, aspirações e estilo pessoal que pos-
sam estar também identificados aos vários tipos de estudos, trabalhos e profissões.
A tarefa diagnóstica na clínica, de maneira geral, possui uma orientação dinâ-
mica que se encontra bem delineada desde sua definição explicitada por Mowrer
e Kluckhorn, em 1944:

a) O comportamento humano é funcional e que, portanto, a análise do


comportamento humano deve incluir sua finalidade;
b) O comportamento sempre implica conflito ou ambivalência, o que vale
dizer que o conflito é inerente à vida humana, mas não necessariamente
como patologia, e sim, possivelmente, como a expressão – em nível
humano – da contradição que existe na natureza;
c) O comportamento só pode ser entendido em relação ao contexto no
qual se produz, ou melhor, que sua significação transcende os limites da
pessoa e inclui os contextos situacionais, entre os quais tem primazia
hierárquica a relação inter-humana;
d) E que o ser humano orienta seu comportamento no sentido de uma
integração ou harmonia interna progressiva, que está submetida a
vicissitudes vitais, das quais a escolha do futuro – a escolha de carreira
- não é a mais importante.

Em síntese, todo processo que implica a orientação profissional é também um


processo de orientar para a vida.
Portanto, caro aluno, na visão de orientação profissional proposta neste livro,
não há espaço para a “onipotência”, não sendo possível encontrar nela uma técnica
ou um ritual a ser seguido. Ao contrário, consideramos que, ao entrar no mundo
do orientado, devemos acompanhá-lo como quem propõe a um amigo um pas-
seio, de mãos dadas, em que essa cumplicidade permita que o façamos vislumbrar
percepções de si mesmo, as quais ele não conseguiria acessar solitariamente; assim,
ele estará mais confiante ao revisitar a própria história na companhia de alguém
disposto a escutá-lo como sua própria voz interior, rumo ao conhecimento pessoal

capítulo 5 • 166
e profissional que não se encerra no momento final, apenas demarcando a abertu-
ra de uma possibilidade.

Reflexão Final

A prática das técnicas do Psicodrama presta expressivas contribuições à


Orientação Profissional. Durante o desenvolvimento da chamada “Teoria dos
Papéis”, é avaliado o indivíduo inserido pela família nos ditames sociais, na sua
capacidade de assimilar os papéis que venham a ser sugeridos ou impostos pela
ação externa, permitindo ao próprio visualizar-se dramaturgicamente, no exer-
cício fictício de uma ou outra postura decisória, a fim de que possa revisitar seus
pontos de vista, discutindo-os com a figura do orientador profissional. Dessa
maneira, ao observar sua flexível possibilidade de assumir diferentes papéis, co-
locando-se com desenvoltura no lugar do outro, o orientando, seja ele jovem ou
adulto, demonstrará estar apto a discernir e escolher, entre perfis profissionais,
aqueles pelos quais tem maior interesse e identificação mediante o esperado grau
de comprometimento e segurança.
É muito comum, na atualidade, a observação de adultos em situação de des-
contentamento, frustração, ausência de perspectiva existencial, em relação ao tra-
balho que exercem, seja porque fizeram uma opção insatisfatória no passado em
função de pressões externas ou simplesmente pelo fato de perceberem, com o
passar do tempo, que suas metas de vida sofreram consideráveis alterações, em face
das transformações emocionais e cognitivas, ao longo dos anos. O resultado dessa
contínua inadequação a um enquadre de trabalho que parecia já assimilado come-
ça a se revelar em episódios cotidianos que envolvem desde a falta de concentração
e ânimo na realização das tarefas até a redução da produtividade, a partir de um
desempenho funcional apático, equivocadamente ligada no “piloto automático”,
podendo provocar inevitavelmente situações de negligência profissional.
Existe uma demanda crescente de adultos que procuram aconselhamento psi-
cológico no setor de Orientação Profissional para expressar as variadas origens de
seus conflitos no ambiente de trabalho, remetendo tanto ao momento sociocultu-
ral que está atravessando quanto ao arrependimento por suas escolhas vocacionais
do passado. Esse grau de insatisfação, na maior parte dos casos, é silencioso, irra-
diando-se sorrateiramente para pequenas sabotagens ao processo organizacional
capazes de parecer irrelevantes à percepção do próprio funcionário até a emer-
gência de algum problema de considerável proporção resultante dessa prática,

capítulo 5 • 167
aflorando tanto contradições da vida pessoal como indisposições de relaciona-
mento, no plano hierárquico e informal, com os próprios colegas de trabalho.
Tal contexto nos faz perceber o quanto a intervenção de uma análise psicológica,
familiarizada com a natureza dessas dificuldades, pode se tornar imprescindível no
intuito de clarificar e equacionar a real dimensão desses conflitos.
Em grande parte dos casos, o adulto insatisfeito em seu trabalho é capaz de
desenvolver um quadro de ansiedade exacerbada, desestabilizadora, tornando
propício o surgimento de um terreno emocional suscetível a uma sintomatolo-
gia depressiva que acaba por influenciar imperícias e indecisões profissionais. O
comportamento depressivo tende a desencadear cognições negativas acerca de
si mesmo, da sociedade e do futuro. Cognições negativas levam à passividade,
ao frágil senso de eficiência individual, à baixa autoestima e a sentimentos de
desesperança. Para alguns estudiosos, a morbidez da ansiedade e o grau dessa
depressão tornam latente uma fraca identidade vocacional, associada a pensa-
mentos imprecisos, e uma indecisão funcional, fatores que estarão acentuando o
problema da inadaptação institucional, levando assim o orientador a implemen-
tar um cuidado especial na tarefa de procurar organizar esses afetos bem como o
processo de escolha do cliente.
Reorientar consiste em facilitar o processo adaptativo do plano profissional
às mudanças exigidas pela modernização, pela globalização. A diretriz mais foca-
lizada pela reorientação profissional se traduz em potencializar a relação homem-
-trabalho no que se refere à vivência no desempenho funcional das atividades
bem como nos sentimentos experimentados no decorrer das mudanças exigidas.
Essa realidade irá possibilitar ao indivíduo progredir em suas sucessivas “escolhas”,
viabilizando que consiga vislumbrar o relacionamento existente entre as diversas
decisões assumidas ao longo da vida profissional.
A reorientação profissional pode causar positivas modificações no trabalhador,
norteando e clareando a complexa jornada entre seus conflitos perante as escolhas
experimentadas e o caráter cíclico do processo decisório, levando-o a despertar
para a iniciativa empreendedora, conhecendo e aprimorando novas habilidades,
além de criar condições para expressar sua contraposição em relação às pessoas que
o rodeiam, a fim de seguir ao encontro das suas necessidades. Para Canedo, por
exemplo, “a busca por uma nova inserção profissional é o ponto de partida para
a manutenção da vitalidade; e a vivência do ‘estar aposentado’ pode permitir a
retomada dos sonhos esquecidos, abandonados, ou, ainda, a renovação no sentido
da vida, por meio de novos projetos”. O papel do reorientador profissional está

capítulo 5 • 168
concentrado no sentido de conduzir o orientando a compreender a lógica do atual
modelo de mercado, que ele poderá descortinar em meio à modernidade, possibi-
litando a esse adulto identificar habilidades das quais será capaz de dispor, quali-
ficando, assim, sua atuação nesse mercado. Ele terá a capacidade de perceber que
uma escolha se torna ineficiente quando mantida estática, desconsiderando seu
potencial de maleabilidade, característica fundamental para se amoldar e se rede-
finir, de acordo com a necessidade produtiva, no decorrer de um projeto de vida.
Similar ao processo com o jovem, o orientador precisa estar atento às dificul-
dades que envolvem o adulto, referentes às pressões internas vivenciadas quando
o indivíduo é confrontado com problemas, tais como: desemprego; processo de
separação conjugal; lutos familiares; alcoolismo; ou ainda aqueles que, apesar de
estarem na idade madura, ainda podem se sentir manipulados pela família em sua
postura decisória, permanecendo insatisfatoriamente fiéis a escolhas equivocadas
do passado. Todas essas situações são inevitavelmente acompanhadas por episó-
dios de depressão. Sendo assim, para que o trabalho seja bem-sucedido tanto na
orientação como na reorientação profissional, devemos ser cautelosos quanto aos
objetivos e às técnicas que irão delinear o procedimento clínico.
Na construção do diagnóstico vocacional, precisamos levar em conta que não
existem teorias absolutas cuja equivocada onipotência seja capaz de dispensar ou-
tros níveis de investigação científica. O grande acerto de uma construção teórica é
justamente sua probabilidade de erro, de limitação frente a realidades inusitadas,
em relação às quais o cientista previamente não se preparou. Portanto, acolher
a diversidade de pontos de vista fundamentados a partir de um contato real e
produtivo com seu público-alvo possibilita que todos os embasamentos teóricos
tenham ampla validade e sejam bem-vindos dentro de uma abordagem holística
extremamente útil ao progresso da pesquisa científica.

ATENÇÃO
Publicado em https://goo.gl/ffnr1Q.

A hora da escolha
Ainda engatinhando no Brasil, orientação profissional vai muito além dos testes voca-
cionais.
Prestar Artes Cênicas ou Medicina no vestibular? Optar pela carreira mais rentável ou
correr atrás daquela que trará mais realização pessoal? Seguir a mesma profissão dos pais

capítulo 5 • 169
ou mudar completamente de área? As dúvidas são muitas – e costumam pipocar com mais
força na cabeça dos jovens justamente no final do Ensino Médio, quando muitos precisam
escolher um curso na ficha de inscrição do vestibular. A indecisão é grande: 54% dos alunos
do terceiro ano de escolas particulares ainda não decidiram qual carreira seguir, segundo
levantamento realizado em 2010 pelo Portal Educacional.
Na reta final do Ensino Médio, Mariana Louro da Silva, 18 anos, tinha muitas dúvidas
quando o assunto era sua futura vida profissional. Cansada de ler guias de profissões e de
fazer testes de múltipla escolha, ela procurou por conta própria uma orientadora profissional
no fim do ano passado. “Eu não queria fazer cursinho e estudar para uma coisa que eu nem
sabia se queria”, lembra. Ao fim de quatro sessões com uma psicóloga, decidiu prestar ves-
tibular para Arquitetura e para Design de Interiores. “Foi muito válido, não sei se chegaria a
uma decisão por conta própria”, avalia.
Apesar de positiva, a experiência de Mariana é uma exceção. Na maioria das escolas
brasileiras, a presença de um orientador profissional é coisa rara. Em geral, os estabeleci-
mentos de ensino lançam mão de recursos como visitas a feiras de profissões e palestras
com profissionais de diferentes áreas ou adota testes massivos de múltipla escolha, esses
últimos considerados pouco eficazes pelos especialistas. Além disso, a contratação de um
profissional particular é salgada, podendo chegar a 1,4 mil reais. Apesar da lacuna, um estu-
do qualitativo dirigido pela ONG Ação Educativa em cinco escolas públicas da zona leste de
São Paulo indicou a demanda dos jovens por uma melhor preparação para realizar escolhas
profissionais e construir suas trajetórias de vida.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional, Silvio
Bock, a escolha da profissão é um tema ausente nas salas de aula brasileiras. “Está mais em
pauta preparar o aluno para o Enem e para o vestibular do que essa etapa anterior, que é
ajudá-lo a escolher a profissão”, explica o pedagogo. Segundo Bock, existe nas escolas um
pressuposto de que a escolha profissional do aluno acontece de forma espontânea e que
apenas indivíduos problemáticos não conseguem decidir suas futuras carreiras.
Especialista em psicologia escolar e orientadora profissional há 20 anos, Giselle Welter
explica que o jovem de hoje é muito bombardeado com expectativas a respeito do mundo do
trabalho. Para a orientadora profissional, a escola poderia ajudar o adolescente com a deci-
são, principalmente ao criar espaços de experimentação em sala de aula.
Na rede pública, praticamente só existem experiências isoladas, em geral realizadas por
voluntários, de orientação profissional. “A escola pública retoma a questão da orientação pro-
fissional agora, com a inserção dos programas de incentivo à ida na universidade, mas a dis-
cussão da escolha ainda está muito longe dos alunos”, explica Silvio Bock. Para o psicólogo
do Serviço de Orientação Profissional da USP Fabiano Fonseca da Silva, as políticas públicas

capítulo 5 • 170
brasileiras para a orientação profissional são incipientes quando comparadas às existentes
em outros países. “Experiências sistemáticas de orientação profissional são raras”, afirma.
No Reino Unido, a educação para a carreira faz parte do currículo obrigatório para alu-
nos entre 14 e 16 anos desde 1997. Países como Canadá, Alemanha e Espanha também
incluem a orientação profissional nos currículos escolares. Na província canadense da Co-
lúmbia Britânica, educação para a carreira e planejamento pessoal fazem parte das aulas de
educação infantil. No Brasil, a própria Associação Brasileira de Orientação Profissional existe
há menos de 20 anos e a profissão não é regulamentada.
Uma das maiores políticas públicas para orientação profissional brasileira aconte-
ceu entre 1978 e 1982, no estado de São Paulo. Batizada de Programa de Informação
Profissional (PIP), a iniciativa surgiu em um contexto de profissionalização do antigo
segundo grau, em que as escolas ofereciam obrigatoriamente formação técnica vincula-
da aos três setores da atividade econômica: primário, secundário e terciário. A disciplina
era oferecida aos alunos do primeiro ano e deveria ser ministrada por pedagogos com
habilitação em orientação educacional.
O projeto, porém, não foi adiante. A própria contestação, por parte da comunidade esco-
lar, do conceito de segundo grau voltado para o trabalho contribuiu para o fracasso do PIP.
Outros fatores como a falta de embasamento teórico do projeto de lei e o pouco preparo de
pedagogos e professores também contribuíram para o fim do programa, em 1982. De lá para
cá, não houve iniciativas significativas na área.
Atualmente, a educação para a carreira vai muito além dos testes vocacionais de
múltipla escolha. A maioria dos atendimentos modernos envolve discussões sobre a es-
colha, questões como o autoconhecimento do adolescente e informações sobre eco-
nomia e mercado de trabalho. O trabalho pode ser feito individualmente ou em grupos.
Geralmente, psicólogos e pedagogos alternam-se na função, apesar de não existirem
mais matérias sobre orientação vocacional na grade de formação de Pedagogia. Para
Silvio Bock, antes de tudo, o trabalho de orientação profissional exige estudo e preparo:
“Por algum tempo, imaginava-se que bastava aplicar técnicas. Hoje, o educador precisa
conhecer um pouco de economia, precisa saber como funciona o mercado e, inclusive,
fornecer dados ao estudante”.
Dentro dos muros das escolas, encontrar tempo na grade curricular para discutir educa-
ção para a carreira e sensibilizar alunos e professores para a questão da escolha são alguns
dos desafios encontrados pelos orientadores profissionais. “Ele (o professor) é um orientador
profissional mesmo que não queira. Os alunos olham para ele e pensam sua vida profissional
a partir do que acontece em sala de aula. Instrumentalizar o professor para isso às vezes é
complicado”, analisa Fabiano Fonseca da Silva.

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Na pesquisa realizada pelo Portal Educacional, 23% dos adolescentes afirmaram que
costumam recorrer aos professores para tirar dúvidas e pedir conselhos a respeito das pos-
sibilidades de carreira. Seja psicólogo, pedagogo ou professor, é importante que o orientador
profissional tenha em mente que, no fundo, as escolhas devem ser feitas pelo estudante. “O
orientador é um mediador entre as pessoas e as possibilidades”, conclui Giselle Welter.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
1. A partir da análise do quadro comparativo de semelhanças e diferenças entre orientação
e reorientação profissional, elabore dois casos cujo histórico de vida, submetido à entrevista
clínica, seja representativo tanto de uma atividade de orientação para o jovem quanto de
reorientação para o adulto, de acordo com suas especificidades.
2. Qual o grande impasse sociocultural, responsável pelo ato de travar o progresso das inicia-
tivas de orientação vocacional e profissional, nas instituições públicas de ensino?
3. Faça uma análise crítica a respeito do conteúdo do texto complementar, tecendo suas
considerações pessoais sobre o tema.

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