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serie Baa FRIEDA LILIANA MORALES BARCO- 1A PAPALEO FICHTNER ry ICIA GOULART PEREIRA REGO VERA TEIXEIRA DE AGUIAR (Coord.) Era vma vez... na escola Formando educadores para formar leitores ak c HeLa 6 = Sumario IAS EM PRATICA. 6 1 AS VOLTAS COM A LITERATURA INFANTIL. 14 2 PERCORRENDO A HISTORIA 22 5 DESCOBRINDO O LEITOR 35 4 ADAPTAR PARA LER . 61 § OS CONTOS INFANTIS POR EXCELENCIA 6 6 A ARTE DE NARRAR . 85 7 A ARTE DE FAZER VERSOS 108 § PARA UMA ESTANTE DE LITERATURA INFANTIL. .. 133, 9 LEITORES E LIVROS EM AGAO. . . 144 10 UMA PALAVRA FINAL PARA COMEGAR . . 157 ENCIAS BIBLIOGRAFICAS 161 BANCO DE TEXTOS 169 LEITURA E ENSINO 169 ATURA INEANTIL E EI SINO, RIANGA E JOGO. ec). O final do século vé essas tendéncias Descobrindo CAPITULO 3 uzdas, 20 lado de uma extensa produgio de li- 4 : ‘ o leitor vros destinados a todas as éreas do conhecimento, que se escrevem de acordo com os parimetros dita- em todo 0 percurso da crianga no Brasil, € a ten- sio entre dois polos: pedagogismo ¢ proposta eman- cipatétia, massificagio ¢ liberdade expressiva. Hoje, le © qualidade coexistem na literatura in- grande producio de textos estereoti- pados compete com sucesso no mercado de bens cul- turais. Contudo, a emergéncia de autores criativos € criticos garante a exceléncia de bras. A si- or, que se salvar do bombardeio dos livros mera- e comerciais para chegar ao bom texto, MONTEIRO LOBATO%C SOO PAULO la, em data combinada. ete @ muitos significados. Por exemplo, jue Pedro Alvares Ca- mundo j& ouviu dizer ibe que o Brasil sempre esteve aq tes de os portugueses tomarem posse da terra... proporcdes, 0 mesmo pode indo o leitor, ser afirmado sobre a pressio de © leitor, de alguma forma, j& esté al » adultos, nos papéis de pro jotecdrios ou agentes culturais, fazernos um comp: agem da crian ndet o desenvolvimento ¢ a nar um leitor competente Nesse sentido, a psicologia vem em nosso socorro. Para o pensador russo Liew Vygotsky e outros estu- gem, do pensament: teragio social, isco € io € 0 processo de com 0s vizinhos, com 0 amigos, com os familiares e, claro, com o profes- \garem com uciliz fas palavras 0 Vygotsky nportiincia de os adultos ctianga, mesmo quafide o vocab Jo ; porque s6 ouvindo as ode se apropriar delas! a ceianga se apr inamente, isolar da to- a de palavras, a crianga organiza 0 mundo a consciéncia do que sab AY VOCE SABIA Que. que cipo de linguagem, nao tem os pensament nizados? Logo, é importante que ela ten! sa e sente. sm que ajuda a crianga 2 Ou seja, uma crianga também » da crianga porque o pequeno leitor esti .cipalmente com 0 adulto que faz as vezes do narrador on do poeta? ‘bui para o desenvolvimen- 1985. = Assim como Vygotsky, 0 cientista suico Jean Piaget também é um estudioso do desenvolvi- mento cognitivo da crianga, Curiosamente, os dois nasceram no ano de 1896 e trabalharam, portan- hist6rico. Piaget ve ma conseqi sua obra € mais exten Outro dado importante diz. respeito ao contexto nvolveram su isas: Piaget, a, ¢ Vygotsky, na Russia Talvez por isso, em que num pais estavel, a Su s pesq! concepgies rimeiro bus- tem aspectos divergentes: 9s fatores universais do desenvolvimento huma- is da aprend’ do em seu Noe ximados porque, se P nto, os dois pensadores poclem ser apro- wget _descreve estigios do seus mecanismos internos, Vygotsky atenta para os fato- res ambientais que interferem nesse processo. Se 988), de Hans Chris pélos bem-d pensar em uma psicossociologia da leit conto O patinho fein (1 Andersen, cemos esses do podemo ra. De um lado, ocorrem a maturacio do organismo gem até ela constituir sua identidade. De outro, as, m ingerénci s grupais propi as experiéacias que a encontrar seus com o real que ela , pois, na interag uma tepresentagio de si mesma e do .do, Nessa linha de raciocinio, podemos atentar ra o ato de ler como mobi aliada aos estimulos oferecidos aciio dos mecanismos incernos do s ito pelas condigées do ambiente em que ele vive. No jet dedica-se a explorar as exp vamento do u pergunca que geral- ‘A representagio do mundo real na crianga, nbora?” é um 2 € para a qual inventa algumas respos- \ém indaga a um pré-escolar 0 que € um le pode dar, como resposta, que € tudo 0 \¢ se move ou caminha por cont propria, Portan- to, na mente de uma crianga pequena, o vento pode na coisa viva ¢ no simplesmente um fenéme- natureza. Certa vez, um menino de seis anos ndeu: “A Lua esté viva porque vol e". Na verdade, Piaget faz aos meninos, podemos observar nga como um pequeno acompanhando as perguntas compreende a c tista que busca entender ou explicar as leis do get niio cem inceresses. ped \co se preocupa com o ensino de literatura, mas, que a crianga 1 e descrever as explica nenos da natureza (0 que é a chuva, 0 T, 1973, noite), ele nos faz ver que, antes de pen- a, com a légica que carac- tetiza a mente do adulto, a crianga produz muitos mitos, Esses mitos aparecem a partir do momento em que ela se pergunta pela origem das coisas ou responde as perguntas que o adulto lhe faz. Por exemplo, segundo pensamento espontineo crianga pré-escolar, 0 sol no sé depende dos homens, mas também foi fabricado por de uma pedra ou de um fésforo. Se a dessa faixa etdria, € pos- izagbes ram em torno da idéia de que “a natureza é herdeira do homem e fabrica as coisas como se fosse um operirio ou artesio". Logo, a crianga é uma grande fabuladora le mitos, e isso esclarece por que a sua mente e a sua forma de perceber intuitivamente 0 mundo combi- nam tio bem com a literatura. Os ensinamentos de Piaget nfo escaparam as sutis ¢ precisas observagées que Bruno Bettelheim faz sobre a necessidade infantil de magica em seu livro A psicandlise dos contos de fadas: “Como Piaget ‘mostrou” —argumenta o autor —“o pensamento da crianga permanece animista até a puberdade”’. Nesse sentido, quando fala dos contos de fadas como as exemplares, Bettelheim estreita os 76. p60. 1. Observe nas justamente estar © pensamento da crianga «. as hist6ri Descobrin ndo ressaltar yproximadamente os sete anos ca pensa ¢ vé do mesmo modo como tetor a das pr aa part em. 69. p.L6L rimeiras figuras que a crianga aproximadamente, dos trés anos. seu liveo O deienbo infantiP ram- dam a en- a nfo &, de modo as coisas reais tém a ver com um m, primeiro existe um rea- para ser ele representa, deve ser como fe reproduzir os pormenores re tiramos a fotografia palavra, o objeto Nesse ¢: ‘aso, 0 ‘0 do desenhista. © trabalho de uma passou a viver com importante nel RY, 1976. expressa sua ver que os ad faco de que endo seg |GET, 1967. toda a certeza, se enquadraria no grupo de desenhos cis ou sete anos usa palavras como “por- de que poucos professores poderiam gos do segundo grupo. g RABISCOS FIA Recome oexpcito ou wom das questdes colo no capitulo As voltas com a literatura infant ‘como adulto que também jé foi criang mente 0 qui lando-as corretamente, Jo”, “mas”, arti i, COMO 08) indo a elas outros significados. iderando que a crianga leva um tempo para or- 1 em sua mente essas relagdes, uma das maiores sracivas infantis ¢ exatamente a de aju- ueno leitor a ordenar seus sentimentos ¢ a indet mundo a parcir de uma linguagem que E importance ressalear que a m L6gica apli- pela crianga ao desenho se encontra presente ‘no uso € na compreensio que ela tem da lingua- tivel com sua légica. Nesse sentido, José nes entende de uma forma perspicaz o pensa- infantil. Observe 0 poema Metamorfose, apre- cad gem. Igualmente, como o desenho evolui e passa Fea Apostle wo lh: por diferentes fases até chegar, enfim, ao realismo nda voce visual, a linguagem infancil também evolui. Pia- 1 ce um sabichao: get, no livro O raciocinio na crianga®, estada como se dé a evolugio da Linguagem a partir do uso das con- jungBes. Ble se interessa pelo emprego que as crian- as fazem das conjunsées, porque so elementos do discurso que unem as palavras e as oragées entre si Ao propor uma analogia entre o processo de \sformagao da lagarta em borboleta com o do ‘avira borboleta we trem ndo vira avido? a partir de relagoes de sentido como causa e efeito, conseqiiéncia, tempo, oposiciio, etc em avid, Paes constr6i seu poema a partir da Piaget observou que, assim como a crianca leva um da ctianga, que faz relagdes sem a légica que , costumamos empregar para justificar nos da natureza, parcindo de explicagdes azem parte do senso comum ou da propria ia. O poeta sabe que as criangas nao pensam a ir de relagées de causa ¢ efeito, mas por super- tempo para juntar com coeréncia as partes de um de- senho (pense em um quebra-cabeca), ela também ne~ cessita de um tempo paca usar as con tuico de estabelecer as relagies 16, \gdes com 0 in- que a graméti- ca pressupée. Isso quer dizer que, muitas vezes, a 5, 1996. sip. im, na obra citada, chama a atengio para o fato de qu io de desenvolvimento emocional. Isso ocorre a histé os internos da descreve e fantil por meio de imagens ¢ de aces: nta que, assim como na vida idade ¢ a mé; uém esti chorando, também 0 cont felicidade de alguém. indo a mie de Cinderela morre, 0 se expande no sentido de descrever situa~ ra que se Ita da m met , abandona~ perda sozi undo © autor, o texto sim- jente a mu- a concretizag materno € chorav: que Ou s orma de nari i » desenho. Por exe ntetiza os fatos’ do cotid 1 uma o retrato da 9 creto, eri Jo em sua mente uma imagem literal do que esta sendo dito. Ziri capta essa carac~ terfstica do pensamen com muita pro- priedade, mostrando que esta aberto ao jogo e a0 brinquedo. Veja esta Menino Malu kb ho c sala de jue voc’ identificou que ocorremt esses 3" na comunicagio entre o professor ¢ © dizer uma coisa © percebeu que as clang estavam entendendo o que ele dizia ao pé da letra. Anote todas as situagdes recuperadas ¢ faga com ‘um lbum, que pode se chamar Histérias = PONTO DE VISTA 1 Discuta com seus colegas sobre sieuagdes d “mal-entendi uno. de criangas. Essa caracterfstica concreta ¢ animista do pen- samento i ncil, ¢ € observada ¢ com- preendida pelo ad to, pode gerar muitos prob! o entre pais ¢ filhos, entre pro- nos. Aos olhos do adulto, pode pare- essores ctianga nio respeita o que foi combina- exe no fogo, cuidado com escada...") icriada € desobediente ctianga no esté en- Isso nem. pre € verdad; as vezes do dito em termos de cau- ndo o que esté s seqiiéncias ("se voc® borar 0 dedo no ma-se”), porque ainda nfo esté pronta 1 compreender o sentido Iégico de frases ou avras que o adulto emprega. Ela lhe desobede- , mas por Por isso, Vygotsky chama a atengio para a essidade de 0 adulto conve com a crianga, a que ela possa desenvolver mais o pensamen: lo o significado das palavras as re- ), aprenden s possiveis entre el: sse sentido, este livro tem a intengio de fe: fato de que também é possivel se aproximar do ido avengio ao desenvol- nio crianga pres 10 de sua linguagem a ura, Perceba, a seguir, como Monteiro Loba- ) descreve o jogo de Emilia, considerando o ritmo boneca ingua. O brinquedo ¢ sonoridade da palavra retrata os jogos infantis com a lingua- n. Com hoje, ao brincar com os sacri a seguir! CARA DE GORUJA. Séa DE CORUJISSIMA me pregou um liscabao, Bel Narizinh dei quando 0 doutor CARA pportante que te desenvolvimento da linguagem. et descreve os wemas dois mei (08 st Ving a fala da Emilia ainda 10s, diz. que eles de ze semiverbai proptios de u 1, 00 pe- ica, remetendo, portante no desen- desenvolvimen simbéli- linguagem da crianga. Vinicius de Mo- tizando 0 aspecto sonoro, le ge ético lo de uma forma pelos estigios '5, entre outros au idulto converse com a crianga por exemplo, para que 15. VYGOTSKY, 1 p24 ae 52 torna adolescente, a linguagem ¢ o pensamento luem. Uma fase prepara e, de forma simuleinea, deste capitulo, des- fase do pensamento pré-conceitual (ou pré- , porque € nessa etapa do desenvolvimento »gnitivo que se encontra o pré-escolar e, inclusive, a parte dos estudantes que freqiientam as sézies Cabe a ressalva de que € importante com- preender tal estgio, pois muitos casos d estio rel (apa t6tio concreto, no que diz respeito As aprendizagens matemitica, a leit e sig do pensamento pré-operatério a0 operatéri repeténcia ‘onados as dificuldades que a crianga enfren- passar do pensamento pré-operat6rio ao opera- formais, quer dizer, eAescrita Para cimensionarmos oq a essa passagem concreto no processo de letramento, € importante entrar em ‘© com as publicagdes de Emilia Ferreiro ¢ Ana ‘Teberosky. Em A psioginese da lingua ecrita!?, as aucoras con s criangas criam hipéteses sobre a mente infantil, um ele- m que a de tal forma que e de verdade deve ser grafado com uma le como a linguagem representa o rund at é que a crianga aprende © uso do simbolo caracteriza 0 pensamento peratério, € 0 do signo, a abercura da mente | ao pensamento operatério em geral, que Wve 0 pensamento operatério concteto (sete a como um siste- « cle ja esta percebendo a lingu arbierario de signos. Por exemplo, quando a a um pensamento \ca no se restringe m ico ou pré-conceitual, ela aceita escrever ate ou formiga usando as regeas ou o codigo ngua escrita, independencemente do tamanho ado do dominio do sim- 10s poucos, cons- imal. Assim, pass: ao do signo, o leitor vai, \do as nogdes do sistema formal, que caracte- rita como um jogo de convengdes, pptes~ indo a compreensiio € 0 uso de regras I6gicas © bser or exemplo, Isso leva perdura, praticamente, por todo 0 pe odo de escolarizacio, que visa & aq} io ¢ a0 aperfeigoamen rae de isso ocorre aj ase pré-escolar. Observe, através Lob 0 jogo da crianga nessa descober- Montei tO, como 0 escri- a das convengdes c regras da escri .. 0 PANTASMA DA OPERA Phantasma, Emilia, corrigin Narizinho, PH & igual a P (,..) — Sei disso muito bem — replicon a boneca. Mas quero que seja Pantasma (...) Pan la tem a ver com fantasma, Pantasnta é sea ad muito te Tem olbos m retra- nem plena nos, dos sete aos 16 LOBATO, 1 56) 0 simbélico a0 pen- io da estrutu- Monteiro Lobato, em 4 vex um rei um principe, « uma fada, que moravem juntos 0 mais azul de todos. Uma Bra sta ym lindo pakdcio de cristal, na beira do t cheio de fios de of id, E quando dava 0 uma tontura ¢ precisava que quando dava 0 vento 2 paldcio, tod ae vinhant quem olbava sentia te sol, os cvistais e ros p ihavam tanto que 4 qualquer coisa para nda cain. sistema formal nsercio do escolar n ica m »s € um exemplo, permanega em ele permite ao ar os sig lo imaginari gica formal que caracteriza o dominio da escrita. icados do mundo a partir de que nfo se restringem & Quando dé conta de um texto como esse, rico em magens, ele jé est bem inserido no sistema formal da escrita, Nesse momento, comeca a construir um outro jogo simbélico, que no é mais o faz-de-con- ta da crianga pequena, mas que se apéia também nos processos do imaginério. Lendo, preenche sig- nificados e recria 0 mundo através do conhecimen- to ¢ da emogio. Nesse sentido, 0 contato com a teratura é importante para que 0 desenvolvimento da personalidade, no que diz respeito ao crescimen- to intelectual e afetivo da cr ménico € equi Vimos, que 0 educador vol til, pa se sentido, 0 interesse que a crianca pode mani- festar pelo ato de ler esta, sem diivida alguma, re- lacionado ao fato de que a literatura deve estar nto € importante visio abrangente do infan- que possa adequar o texto ao leitor. Nes- “de acordo” com sua fase de desenvolvimento. Importam, por isso, 0 constante uso de uma lin- guagem simbélica como manifestagao do mundo afecivo da crianga e do préprio imaginario na teracura ¢, também, a escolha de textos com es- crnturas lingiifsticas adequadas ao estagio cogni- tivo do leitor. durante o processo de alfaberizacio, a crian~ esti aprendendo a simbolizar ou significar 0 odo ap juista dos cédigos da leicura © da escrita. Em termos do desenvolvimento inte- ir da cor get mostra-nos que ela passa do pensa- ao pensamento operatério perfodo muito longo e, ao final agora adolescente tem o dominio | da leitura e da escrita. Portanto, passar do contacto com textos qe possuem indlincia de ilustragdes a textos em que a forca do pacto ficcional se sustenta na mente wés da palavra. operacées formais, que corresponde a adolescén- ao redor dos doze anos, a tiltima do desenvolvi- nto da crianga, que delimita o final da infincia. Segundo Piaget, nese momento, a crianga € capaz nar na base dos objetos, mas tam- e em hipéteses © proposigées. Por mplo, ela pode criar uma situagio possivel e ra- em termos de suas conseqiiéncias. Em ou- lavras, usa 0 condicional, podendo pensar em ia em determinado momento se, por hi- ‘ese, tal fato acontecesse. Levar em conta todo desenvolvimento infantil até chegar a essa fase 6 tarefa de codos nés, que nos envolvemos com a for- fio do leitor. MAOS A OBRA = Pai leitores que vocé tem a frente, sou assim. A seguir, exponha la. Vocé terd um quadro revelador dos Adaptar para ler CAPITULO 4 DESENHOS pr EDGAR KOETZ

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