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Segurança Eterna

- por Dave Hunt - 1º de Junho de 1989

A questão da segurança eterna daqueles que crêem é sempre levantada nas cartas que
recebemos. Esse assunto tem sido a causa de muitas controvérsias na igreja por séculos e
ainda cria confusão e dificuldades para muitos cristãos. Seria muito esperar acabar com este
problema completamente para todos em um breve estudo, mas, talvez, consigamos, ao
menos, ajudar nesta direção.

Aqueles que acreditam em ''cair da graça'' acusam aqueles que acreditam na ''segurança
eterna'' de promover ''graça barata''. Esta última é, em si mesma, uma expressão antibíblica.
Chamá-la de ''barata'' é uma negação da Graça, já que isso implica que um preço muito baixo
foi pago. Graça, na verdade, precisa ser absolutamente grátis e sem qualquer preço da parte
do homem, enquanto, da parte de Deus, o preço que Ele pagou tem que ser infinito. Deste
modo, quando o homem pensa que suas obras podem fazer parte de [ambos] merecimento ou
manutenção de sua salvação é que ''barateia'' a Graça e desvaloriza esse presente infinito ao
nível do esforço humano.

Falar de ''cair da graça'' envolve o mesmo erro. Desde que nossas obras não têm poder para
merecermos a Graça, não há nada que possamos fazer que nos ajude a entrar nela e, do
mesmo modo, a ''cair'' dela. Obras determinam recompensa ou punição, não a salvação de
alguém, que vem da graça de Deus. O ''x'' da questão é a confusão entre graça e obras.

Primeiro de tudo, precisamos ter absolutamente claro que as duas não se misturam. Paulo
declara: "...se é pela graça, então não é mais por obras; de outra forma, graça não é mais
graça. Mas, se é por obras, então não é mais pela graça, de outra forma, obra não é mais obra"
(Rm 11.6). A salvação não pode ser parte por obras e parte pela graça.

Em segundo lugar, precisamos estar absolutamente certos que obras não têm nada a ver com
salvação. Pausa. A Bíblia claramente afirma: "Pela graça sois salvos...não de obras..." (Ef 2.8-9).
Tanto é verdade isso nas Escrituras, que os evangélicos firmemente declaram que não
podemos ganhar, em troca de obras, ou merecer a salvação de forma alguma. A vida eterna
precisa ser recebida como um presente gratuito da Graça de Deus, ou não podemos tê-la.
Em terceiro lugar, a salvação não pode ser adquirida, nem mesmo, em parte por nós, porque
isso requer o pagamento da penalidade pelo pecado, um pagamento que nós não podemos
fazer. Se alguém recebe uma multa por excesso de velocidade, não vai adiantar dizer ao juiz:
"Eu dirigi um tempão abaixo do limite de velocidade. Certamente, meus muitos bons atos me
livrarão de um mau ato". Nem adiantará dizer: "Se o Sr. me liberar desta vez, eu prometo que
nunca mais transgredirei a lei outra vez". O juiz poderia responder: "Nunca mais transgredir a
lei outra vez é apenas o que a lei determina a fazer. Você não ganha um crédito extra por isto.
A penalidade por infringir a lei é um problema separado e precisa ser paga". Assim, Paulo
escreve: "pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele;" (Rm 3.2).

Em quarto lugar, se a salvação da penalidade por quebrar as leis de Deus não pode ser
adquirida através de bons atos, então ela também não pode ser perdida por maus atos. Nossas
obras não tomam parte em adquirir ou manter a salvação.

Em quinto lugar, a salvação só pode nos ser concedida como um presente gratuito se a
penalidade tiver sido totalmente paga. Nós violamos a Justiça infinita, requerendo uma
penalidade infinita. Nós somos seres finitos e não poderíamos pagá-la. Estaríamos separados
eternamente de Deus. Deus é infinito e poderia pagar uma penalidade infinita, mas isto não
seria justo, porque Ele não é um membro da nossa raça. Por isto Deus, em amor e graça,
através do nascimento virginal, tornou-se homem e, assim, Ele poderia pagar o débito do
pecado por toda a raça humana!

No grego, o choro de Cristo na cruz "Está consumado!" é um termo exato, significando que a
dívida foi totalmente paga. A Justiça foi satisfeita pelo pagamento total da penalidade e, assim,
Deus poderia "ser o justo e o justificador daquele que crê em Jesus" (Rm 3.26). Baseado nisto,
Deus oferece perdão e vida eterna como um presente gratuito. Ele não pode forçar isto a
ninguém, ou isto não seria um presente. Nem seria justo perdoar uma pessoa, que rejeitasse a
reta base do perdão, e oferecer, em vez disto, a esperança de um pagamento inadequado - ou
oferecer suas obras como um "pagamento parcial".

Salvação é o perdão total, pela graça, da penalidade de todo pecado, passado, presente ou
futuro; a vida eterna é o bônus dela. Negando esta verdade primordial, todos os praticantes de
cultos como os das Testemunhas de Jeová, Mórmons e Católicos, por exemplo, rejeitam a
salvação pela graça e insistem que ela precisa ser conquistada pelas boas obras das pessoas.
Eles acusam os evangélicos de ensinarem que tudo o que precisamos é dizer que acreditamos
em Cristo e, então, podemos viver do modo que nos agradar, independentemente dos
pecados, agora certos de chegar ao céu.
Na verdade, os evangélicos não ensinam assim. E uma declaração parecida é feita por aqueles
que acreditam em "cair da graça". Eles dizem que "uma vez salvo, sempre salvo" encoraja as
pessoas a viverem em pecado, porque, se sabemos que não podemos perder a salvação, não
temos incentivo para viver uma vida santificada. Ao contrário, o amor por Aquele que nos
salvou é o maior e único motivo aceitável para vivermos uma vida santificada. Assim, saber
que se está seguro pela eternidade dá um motivo maior para viver uma vida piedosa do que o
medo de se perder a salvação caso venha a pecar.

Enquanto aqueles que acreditam em ''cair da graça'' estão conscientes que boas obras não
podem levar à salvação, eles ensinam que a salvação é mantida por boas obras. Assim, alguém
é salvo pela graça, mas, depois disto, a salvação pode ser perdida pelas obras. Ensinar que boa
obra mantém a salvação é quase o mesmo erro que dizer que boa obra leva à salvação. Dizer
que uma vez salvo pela graça eu ainda preciso manter-me salvo pelas obras, é negar a graça.

Se aqueles que são salvos pudessem perder sua salvação, então eles precisariam, por suas
próprias ações, manterem-se salvos. Se isso é verdade, então aqueles que permanecem salvos
e vão para o céu, estariam aptos a gabarem-se por terem desempenhado um papel chave em
sua salvação: " Cristo nos salvou, mas nós mantivemo-nos salvos". Pelo contrário, nenhum
homem pode levar nenhum crédito por sua salvação. Nós somos "...guardados pelo poder de
Deus..." (1Pe 1.5), não por nossos esforços.

A doutrina do "cair da graça", diz Hb 6.4-9, ao invés de glorificar a Cristo, novamente O leva à
vergonha e ao ridículo diante do mundo, por duas razões: se pudéssemos perder nossa
salvação, então (1) Cristo teria que ser crucificado novamente, para salvar-nos novamente; e
(2) Ele seria ridicularizado por providenciar a salvação, mas não providenciar adequadamente
sua preservação - por ter dado um presente de valor muito baixo para aqueles que,
inevitavelmente, iriam perdê-lo. Se Cristo morreu em nosso lugar, pelos nossos pecados, e Sua
ressurreição não foi suficiente para manter-nos salvos, então Ele, bobamente, gastou Seu
tempo à toa. Se não podíamos viver uma vida boa o suficiente para obter a salvação, é
evidente que não podemos viver uma vida boa o suficiente para mantê-la! Fazer dependente
de nossas obras vacilantes a salvação que Ele, de uma vez por todas, conseguiu, seria a maior
tolice.

A doutrina do "cair da graça" nos coloca em pior situação após a nossa salvação do que antes
dela. Afinal, antes da nossa conversão, podemos ser salvos. Mas depois que fomos salvos e
perdemos nossa salvação (se pudéssemos), não podemos ser salvos novamente, mas estamos
perdidos para sempre. Hebreus 6.6 (tradução King James - N.T.) declara: "Se [não quando] eles
caírem...é impossível...renová-los novamente para arrependimento". Que "caírem" é
hipotético está claro (v.9): "Mas, amados, nós estamos persuadidos de coisas melhores sobre
vós, coisas associadas à salvação, assim como vos falamos". Então, "cair da graça" não está
"associado à salvação". O escritor está nos mostrando que, se pudéssemos perder nossa
salvação, não poderíamos jamais recebê-la de volta sem que Cristo morresse novamente sobre
a cruz. Isto é tolice! Ele teria que morrer um número infinito de vezes (i.e., toda vez que uma
pessoa salva pecasse e ficasse perdida e precisasse ser "salva novamente")! Assim, aqueles
que rejeitam a afirmação "uma vez salvo, para sempre salvo" podem, apenas, substituí-la por
"uma vez perdido, para sempre perdido"!

João nos assegura: " Essas coisas escrevi para vocês que acreditam no nome do Filho de Deus;
para que saibais [conhecimento presente] que tendes [posse presente] a vida eterna..." (1Jo
5.13). Chamá-la de vida eterna, se a pessoa que a tivesse pudesse perdê-la e sofrer morte
eterna, seria uma zombaria. Ao contrário, a vida eterna está ligada à promessa de que
ninguém pode perecer - uma clara afirmação da "segurança eterna" ou "uma vez salvo, para
sempre salvo". João 3.16 promete para aquele que crê em Jesus Cristo que ele "não pereça,
mas tenha a vida eterna". João 5.24 diz de novo: "tem a vida eterna e não cairá em
condenação...". E ninguém pode querer afirmação mais clara ou maior do que as palavras de
Jesus: "Eu lhes [Suas ovelhas] dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da
minha mão" (Jo 10.28).

Se, tendo recebido a vida eterna, pudéssemos perdê-la e perecer, isto faria de Cristo um
mentiroso. E este ainda é o ensino do catolicismo romano. Por esta razão a missa é declarada
como o sacrifício da carne e do sangue de Cristo, através da qual Deus perdoa os pecadores.
Assim, o sacrifício definitivo de Cristo na cruz não foi suficiente. E a idéia de que uma pessoa
uma vez salva pudesse perder-se, assim como no catolicismo romano, também nega a
suficiência da morte de Cristo na cruz há 2000 anos.

Se o pecado causa a perda da salvação, que tipo ou quantidade de pecado isso necessitaria?
Não há um versículo na Bíblia que nos diga isso. Nos é dito que, se confessamos nossos
pecados, Ele é misericordioso e justo para nos perdoar e nos limpar de toda iniqüidade (1Jo
1.9) - assim, aparentemente todo pecado pode ser perdoado. Até aqueles que ensinam o "cair
da graça", raramente ou nunca, dizem que foram "salvos novamente". Antes, eles confessaram
seus pecados e foram perdoados. Hebreus 12.3-11 nos diz que todo o cristão peca e isto, ao
invés de causar a perda da salvação, traz a disciplina de Deus sobre nós, como Seus filhos. Se,
quando pecamos, deixamos de ser filhos de Deus, Ele não teria ninguém para açoitar - no
entanto, Ele "açoita a todo filho a quem recebe" (v.6). Na verdade, a disciplina é um sinal de
que somos filhos de Deus, não de que perdemos nossa salvação: "...se estais sem correção, de
que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos".

Alguns ensinam que é necessário ser batizado para ser salvo; outros, que é necessário falar em
"outras línguas". Ambas são formas de salvação pelas obras. Algumas pessoas duvidam da
salvação porque não falaram em línguas, outras se sentem seguras da salvação porque
pensam que falaram. Ambas são como aquelas que dizem: "...Senhor, Senhor! Porventura, não
temos nós...e em Teu nome não fizemos muitos milagres?" (Mt 7.21-23). Elas estão se
baseando em suas obras para provarem que estão salvas, ao invés de se basearem na graça de
Deus. E Jesus não disse: "vocês estavam salvos, mas perderam sua salvação!". Ele disse: "Eu
nunca vos conheci".

Aqui há uma importante distinção. Aqueles que acreditam em "cair da graça" diriam de um
cristão professo, que tivesse negado a fé e estivesse vivendo em um pecado sem
arrependimento, que ele "caiu da graça" e que "perdeu sua salvação". Em contraste, aqueles
que acreditam na "segurança eterna", embora não mais tolerantes com essa conduta, diriam
sobre essa pessoa que, provavelmente, Cristo "nunca a conheceu" - ela nunca foi cristã. Nós
precisamos dar o conforto e a segurança das Escrituras para aqueles que são salvos; mas, ao
mesmo tempo, não podemos dar um conforto falso e não-bíblico para aqueles que
meramente dizem que são salvos e negam, com suas vidas, aquilo que professam com seus
lábios.

Então não somos salvos pelas nossas obras? Realmente não! Em 1Co 3.13-15 todas as obras
dos cristãos são provadas pelo fogo, no "tribunal de Cristo", perante o qual "importa que todos
nós compareçamos" (2Co 5.10). Boas obras trazem recompensa; a falta delas não causa perda
da salvação. Aquele que não tiver nem mesmo uma boa obra (todas as suas obras foram
queimadas), é "salvo, todavia, como que através do fogo" (v.15). Nós não pensaríamos que
esse tipo de pessoa estaria salva, afinal. Porém, alguém que externamente não pareça ser um
cristão, que não tenha boas obras evidentes, se tiver verdadeiramente recebido ao Senhor
Jesus Cristo como seu Salvador, é, então, "salvo como que através do fogo" e nunca perecerá,
a despeito de sua falta de obras.

Então nós, baseados em "uma vez salvo, para sempre salvo", devemos encorajar os cristãos a
pecarem, para que a graça seja abundante? Com Paulo dizemos: "Deus proíbe!". Não
oferecemos conforto ou segurança para aqueles que vivem no pecado. Não dizemos para as
pessoas que está tudo bem com elas porque um dia fizeram uma "decisão por Cristo". Pelo
contrário, nós advertimos: "Se, agora, vocês não estão prontas para viver totalmente para
Cristo como Senhor de suas vidas, como vocês podem dizer que foram realmente sinceras
quando, supostamente, se comprometeram a Ele em algum momento no passado?" E a todos,
declaramos com Paulo: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a
vós mesmos" (2Co 13.5).

Nossa confiança na eternidade repousa em Sua imutável graça e amor e a suficiência da


provisão de Deus em Cristo - não em nosso mérito ou performance. Somente quando isto
estiver claro é que teremos verdadeira paz com Deus. Só então podemos verdadeiramente
amá-Lo e viver para Ele sem obrigações para a vida eterna que Ele nos deu como um presente
gratuito de Sua graça, um presente que Ele não tomará de volta e que Ele dá a certeza que
nunca pode ser perdido!

Traduzido por René Burkhardt

Extraído de http://www.thebereancall.org/node/5918

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