Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BELO HORIZONTE
2017
PEDRO AUGUSTO OLIVEIRA MELO
BELO HORIZONTE
2017
RESUMO
A edição da súmula 382 pelo STF provocou uma série de questionamentos quando à sua aplicação,
se a coabitação seria ou não um requisito para o reconhecimento da união estável. Assim, este artigo
tem como objetivo identificar, no tempo, a mudança do entendimento jurisprudencial a respeito da
súmula, explanando os precedentes que influenciaram sua edição. Metodologicamente este trabalho
adotou, inicialmente, a pesquisa bibliográfica, e, em um segundo momento, a pesquisa
jurisprudencial, baseada na análise dos julgados do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal
de Justiça e do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Os resultados levantados apontaram para uma
ampla utilização da súmula no sentido de afastar o requisito da coabitação, more uxorio, para a
configuração da união estável. Ainda, a crítica final levantada procura questionar as diferenças entre
o mero namoro prolongado e a união estável.
The release of the precedent n. 382 by the STF court provoked a lot of questionings about its
application, if the cohabitation would be or not a requirement to recognize the stable union. Therefore,
this article has the goal to identify, in time, the change of understanding in case law regarding the
precedent, and clarifying the previous cases that influenced its release. Methodologically, this essay
adopted, in the first place, the bibliographic research, and, second, the jurisprudential research, based
in the analysis of cases from the courts: Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça and
Tribunal de Justiça de Minas Gerais. The outcomes of the research indicated to a wide use of the
precedent in order to take away the cohabitation`s requirement, more uxorious, to configure the stable
union. Furthermore, the final critic seeks to question the differences between the mere dating and the
stable union.
1. Introdução..............................................................................................................06
2. A coabitação como requisito para a união estável.................................................07
3. A súmula 382 do STF: seus precedentes e a aplicação pelo STF........................13
3.1. Precedentes........................................................................................................13
3.2. Aplicação da súmula pelo STF............................................................................16
4. Aplicação da súmula pelo STJ...............................................................................18
5. Aplicação da súmula pelo
TJMG.............................................................................21
6. Conclusão...............................................................................................................24
7. Referências............................................................................................................27
7
1. INTRODUÇÃO
1
Azevedo, Álvaro Villaça. Dever de coabitação. Inadimplemento, São Paulo, José Bushatsky Editor,
1976, p. 14.
2
Ibid., p. 15-16.
3
Ibid., p. 197.
10
Embora não catalogada na Lei nº 9.278/1996, art. 2º, como um dos deveres
dos conviventes, nem tão pouco disciplinada no art. 1.723, caput, do Código
Civil, entende a doutrina que a coabitação, por meio da interpretação
histórica e sistemática da lei, é da essência da união estável. Aliás, quando
no art. 1.723 alude a “convivência duradoura [...]”, nada mais quis o
legislador do que consagrar a coabitação.5
4
SANTOS, Regina Beatriz Tavares da Silva Papa dos. Direito de Família – aspectos constitucionais,
civis e processuais, p. 236.
5
CORDOIL, Verônica Ribeiro da Silva. Pontos Críticos da Sucessão dos Companheiros no Novo
Código Civil frente às Leis 8.971/1994 e 9.278/1996. In: Revista IOB de Direito de Família, v. 11, n.
53, abril-maio de 2009, p. 15-43.
6
MALHEIROS, Fernando. A União Estável e a Súmula n. 382 do Supremo Tribunal Federal. Revista
da AJURIS, n. 70, julho de 1997, p. 282-289.
11
Os conviventes, hoje, optam por tal estado não mais são compelidos a ele
por restrições legais ou injunções religiosas. Optam precisamente porque
não querem casas, porque não acham necessário casar, afastam-se. Assim,
de pelo menos um dos deveres conjugais que o matrimônio lhes iria impor,
a coabitação sob o mesmo teto. Em face desta voluntariedade, é
contraditório que a jurisprudência, a doutrina ou, o que seria pior, a lei,
tragam um dever próprio do matrimônio para a união livre estável, erigindo-o
à condição para que se configure uma entidade familiar. 7
É claro que ao eliminar uma solução absoluta - de que a união estável não
depende de coabitação - não se há de recair no absoluto contrário, ou seja,
erigir a coabitação como condição sine qua non e impostergável, em todos
os casos, à união estável. Se é verdadeiro que, na imensa maioria das
situações não se haverá de divisar união estável onde não está presente a
coabitação, há exceções que justificam e dão plenitude à regra. Não se trata
de abraçar o entendimento liberal, segundo o qual os padrões modernos de
comportamento humano dispensam a coabitação como elemento
constitutivo da família, pois nisso não há qualquer modernidade,
considerando que os casais atuais que se negam à coabitação procuram
justamente é evitar os efeitos que dela resultariam e, principalmente, manter
a liberdade individual, a opção pela variedade sexual e de humores,
absolutamente incompatível com a noção de congraçamento familiar, onde
todos cedem em nome da convivência e dos conhecidos benefícios que
dela resultam.8
12
Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Vol. 6: Direito de família, 9 a Ed. São Paulo.
Saraiva, 2012. p.528.
13
13
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, Vol. 5. Direito de Família, 18ª Ed. São Paulo.
Saraiva, 2002. p. 120.
14
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 6.
p. 548.
15
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito de Família. 36. ed. São Paulo:
Saraiva, 2001. p. 121.
14
3.1. PRECEDENTES.
Os filhos ilegítimos de pessoas que não caibam no Art. 183, I a VI, têm ação
contra os pais, ou seus herdeiros, para demandar o reconhecimento da
filiação:
I - se ao tempo da concepção a mãe estava concubinada com o pretendido
pai;
II - se a concepção do filho reclamante coincidiu com o rapto da mãe pelo
suposto pai, ou suas relações sexuais com ela;
III - se existir escrito daquele a quem se atribui a paternidade,
reconhecendo-a expressamente.
16
BRANT. Cássio Augusto Barros. A União Estável e a inaplicabilidade da súmula 382 do STF. Fonte
Universitária, v. 1, n. 1, ago/dez de 2010.
16
A autora, porém, não funda a sua acção na posse do estado, mas no facto
de haver sido concebida e nascida durante o concubinato de seus paes
Manoel Alves do valle Quaresma Junior e Catharina Carolina Amelia
Lambert, e sendo ambos solteiros, por occasião de sua concepção, não
incidindo no art. 183, os 1 a 6, do Código Civil. (...)
“É verdade que alguns civilistas, dando ao concubinato uma significação
profundamente restricta, sustentam que só há concubinato quando duas
pessoas de sexo differente vivem e habitam juntas ou sob o mesmo tecto
materialmente, sem que a sua união haja sido legalisada com as
formalidades do casamento, vivendo maritamente, ou more uxorio,
apparecento ao publico com as signaes exteriores do casamento.
Esta, porém, não é a signiicação que se deve dar á expressão
“concubinato”, nem o Código Civil a suffraga, tanto que é o próprio Codigo
que, no art. 1.1173, proibe o homem casado de fazer doação á concubina.
Donde se conclue que o homem casado pode ter concubina, se estabelecer
o lar conjugal; e, portanto, concubinarios não são só os que vivem more
uxorio. E até muito commum ver-se amantes solterios em concubinato,
tendo domicílios differentes.”17
17
BRASIL, STF. Disponível em ‹http://www.stf.jus.br/porta l/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?
s1=382.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas›. Acesso em: 03/01/2017.
17
20
STF. AR 1244/MG. 1a T., Rel. Min. Octavio Gallotti, j. 09/06/1999. DJ 30/06/2000.
20
21
ALMEIDA, Maria Christina de. A prova do DNA: uma evidência absoluta. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande,
II, n. 6, ago 2001. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5534>. Acesso em nov. 2016.
22
22
STJ. REsp 1.096.324/RS, 4ª T., Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro, j. 02/03/2010, DJ
10/05/2010.
23
23
STJ. REsp 1.157.908/MS, 4ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/04/2011, DJ 01/09/2011.
24
24
TJMG. AC 1.0428.03.900056-0/001, 2ª Câmara Cível., Des. Brandão Teixeira, j. 31/08/2004, DJ
17/09/2004.
25
menor foi relegado (art. 395, inc. II, do Código Civil), e, indiretamente,
provocar o abalo nas relações pessoais entre companheiros, causando
ruptura da união, diante do desaparecimento de um requisito, como a
affectio maritalis.27
27
Ibid., p.248.
28
TJMG. AC 1.0024.01.054344-5/001, 5ª Câmara Cível., Des. Dorival Guimarães Pereira, j.
05/06/2008, DJ 29/07/2008.
27
6. CONCLUSÃO
29
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o Novo Código Civil, Ed. DeI Rey, Belo
Horizonte, 2002, p. 209.
28
30
TJRJ. AC 0007739-78.2012.8.19.0008. 18a Câmara Cível. Des. Eduardo de Azevedo Paiva, j.
13/05/2015, DJ 15/05/2015.
31
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/noticias/5496/Namorar+com+ex-companheiro+n
%C3%A3o+caracteriza+nova+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+para+fins+previdenci%C3%A1rios>.
Acesso em: 03/01/2017.
32
PESSOA, Cláudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato. São Paulo: Saraiva, 1997.
p. 51.
30
REFERÊNCIAS
SANTOS, Regina Beatriz Tavares da Silva Papa dos. Direito de Família – aspectos
constitucionais, civis e processuais.
VELOSO, Zeno. Código Civil Comentado, v. 17, 1a Ed., p. 114. São Paulo. Atlas,
2003.
CZAJKOWSKI, Rainer. União livre: à luz das Leis 8.971/94 e 9.278/96. Curitiba:
Juruá, 1996.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito de Família. 36. ed.
São Paulo: Saraiva, 2001.
31
ALMEIDA, Maria Christina de. A prova do DNA: uma evidência absoluta. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, II, n. 6, ago 2001. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5534>.
Acesso em nov. 2016.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família e o Novo Código Civil, Ed. DeI Rey,
Belo Horizonte, 2002.