Contexto histórico
A importância que o petróleo assumia no cenário mundial fez com que, no Brasil, a
Constituição de 1934 adotasse princípios nacionalistas e intervencionistas com relação ao tema.
Com a descoberta do primeiro poço de petróleo em 1939 em Lobato, na Bahia, foi intensa a
discussão a respeito do modelo a ser adotado no país para regulação da exploração, tendo a
Constituição de 1946, editada após a queda de Getúlio Vargas, conferido tratamento mais
liberal ao tema, a partir do momento que delegou à legislação ordinária essa regulação.
Como visto no tópico anterior, a alta demanda pelo petróleo não representava um
grande problema nas contas públicas, tendo em vista a abundância do produto no mercado
mundial e seu baixo preço durante toda a década de 60. Esse quadro, contudo, teve uma
profunda modificação na década de 70 com os chamados “choques do petróleo”, fato que
ensejou um aumento bastante significativo no preço da comercialização do produto.
Por ocasião do governo de Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada a lei 9.478/97,
que, apesar de ter mantido o monopólio da União sobre os depósitos de petróleo, gás natural e
outros hidrocarbonetos fluidos, autorizou a abertura de mercado à outras empresas
interessadas para competirem com a Petrobras.
Essa mesma lei deu ensejo a criação da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que tem
por atribuição exercer atividades regulatórias ao longo de toda a cadeia da indústria do
petróleo e do gás natural. Cabe à ela delimitar as áreas ofertadas e submetê-las à aprovação do
Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o qual autoriza a realização de rodadas de
licitações para áreas de exploração e produção de petróleo e gás.
Por ser o petróleo considerado um bem da União, não vigora a ideia de livre iniciativa.
Ou seja, para ter direito de explorar o petróleo no Brasil, tem-se que necessariamente contratar
com a União. Há no país dois sistemas regulatórios principais: o contrato de concessão e o
contrato de partilha de produção.
No regime de concessão (que remontam a maior parte dos contratos até 2007), cabe
à empresa concessionária assumir o risco exploratório, arcando com todos os custos
necessários às operações. Aqui, caso seja descoberto petróleo ou gás, a empresa terá o direito
de comercializar a produção, pagando as devidas participações governamentais (como, por
exemplo, os royalties). Além disso, nesse modelo, vence o consórcio ou empresa que conseguir
melhor pontuação em bônus de assinatura (valor a ser pago à União como condição para
assinatura do contrato) e no Programa Exploratório Mínimo (segundo os critérios definidos no
edital).
Já para as áreas localizadas no polígono do pré-sal (que abordaremos com maior
detalhamento em outra passagem da presente exposição) ou em áreas consideradas
estratégicas, o CNPE decide se realizará licitações ou se a Petrobras será contratada
diretamente, visando à preservação do interesse nacional e ao atendimento dos demais
objetivos da política energética. Em ambos os casos, são celebrados contratos no regime de
partilha.
Em resumo, nas licitações de partilha promovidas pela ANP, a empresa vencedora será
aquela que oferecer ao Estado brasileiro a maior parcela de petróleo e gás natural (ou seja, a
maior parcela do excedente em óleo). No entanto, caso o CNPE decida realizar licitações, ele
oferece primeiramente à Petrobras a preferência de ser operadora dos blocos a serem
contratados, e quando esta manifesta interesse em atuar na condição de operadora, ela deve
informar em quais áreas deseja exercer esse direito, indicando sua participação no consórcio
(junto com o vencedor), que não poderá ser inferior a 30%.
A cada mês a ANP calcula o total de royalties de cada campo produtor (terra ou
plataforma continental marítima) que as empresas devem pagar com base na produção, preços
de referência e alíquotas estabelecidas em contrato. Sua distribuição é feita necessariamente
com base nos critérios previstos em lei.
Essa lei passou a prever também novas regras de distribuição dos royalties do
petróleo, aumentando a arrecadação dos Estados e Municípios não produtores em detrimento
das unidades da federação produtoras. Todavia, essa alteração teve sua eficácia suspensa
diante da decisão liminar conferida na ADI 4917 pela então Presidente do STF, Ministra Carmen
Lúcia, que entendeu tal alteração das regras relativas ao regime de participação no resultado da
exploração de petróleo e gás natural ou da compensação pela exploração, sem mudança
constitucional do sistema tributário, afetaria o frágil equilíbrio federativo nacional e desajustaria
o regime financeiro dos entes federados.
Enquanto os Estados e Municípios não produtores alegam ser correta uma
distribuição mais equalitária dos royalties, tendo em vista que a exploração do petróleo e gás
natural é de competência exclusiva da União, os Estados e Municípios produtores afirmam que
tal alteração geraria enormes prejuízos a eles, uma vez que teriam uma significativa queda de
arrecadação, além de ter que destinar recursos que hoje são alocados nas funções primordiais,
como educação e saúde, para atividade de prevenção dos impactos ambientais que - pelo
menos de forma direta - apenas eles sofrem.
Em que pese a relevância dos argumentos trazidos pelos entes federativos não
produtores, tendo em vista que de fato o petróleo é um bem da União e que os Estados e
Municípios, de forma indissolúvel, a integram, a redistribuição dos royalties provocará uma
irreversível crise fiscal nos entes federativos produtores, que, de certa forma, já incorporaram
aos seus orçamentos essas receitas.
Além disso, não restam dúvidas de que os impactos ambientais proporcionados pela
atividade exploratória - riscos estes longe de serem desprezíveis - impactam primordialmente
os Estados e Municípios produtores, que, invariavelmente, serão ao menos os primeiros a
sofrerem com as consequências de um acidente no curso da exploração.
O problema é que o petróleo leve é mais caro que o pesado e, dessa forma,
acabamos ganhando menos com a exportação e gastando com importação. Nesse contexto,
objetivando amenizar essa situação, a Petrobras realizou nos últimos anos uma série de
investimentos para ampliar a capacidade do refino de petróleo pesado, a fim de diminuir a
necessidade do óleo leve.
Além disso, a exploração do pré-sal, que consiste em uma província composta por
grandes acumulações de óleo leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial, nos
colocará em uma posição estratégica frente à grande demanda de energia mundial, permitindo
o refinamento do petróleo e reduzindo a dependência da importação, uma vez que o Brasil se
tornará auto-suficiente com relação à produção do petróleo de melhor qualidade.
Tal circunstância, em várias ocasiões, acabam por causar uma instabilidade muito
grande, uma vez que poucos são os países que detém reservas de petróleo - cerca de 60% das
reservas petrolíferas encontra-se no Oriente Médio - e muitos são aqueles que dependem
dessa fonte de energia.
Assim, ficou decidido que do total arrecadado, uma parte será usada para pagar
dívida com a Petrobras, e o restante do dinheiro será repartido entre os três entes federativos.
Dessa forma, a União terá direito a 70%, cedendo, por meio de acordo, 3% aos Estados
produtores de petróleo; Municípios dividirão 15% e Estados dividirão os outros 15%. O acordo
beneficia, de forma imediata, o Rio de Janeiro, uma vez que o próximo leilão será de blocos
localizados no Estado.
Por outro lado, a riqueza provenientes do chamado “ouro negro” traz consigo sérias
implicações ambientais, diante da possibilidade latente de ocorrerem acidentes tanto no
processo de exploração e produção de petróleo, bem como no transporte de seus derivados,
além da inevitável poluição causada pelos gases emitidos com a queima do combustível.
Conclusão
O petróleo é um bem finito. Apesar de ser ainda ser considerada a fonte energética
mais importante do mundo, estimativas apontam que as reservas de petróleo (ao menos as
conhecidas) se esgotarão em cerca de 30 anos.
É sabido que novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas de modo a substituir essa
fonte finita e poluente de energia. Preocupações como as externadas pelo Greenpeace são
extremamente relevantes. Devemos sim caminhar para a chamada “energia limpa”. No entanto,
tal fato não pode significar que as questões envolvendo a produção e o consumo de bens
derivados de petróleo sejam relegados ao segundo plano.
Dois mil e dezenove tem tudo para ser um marco na consolidação da indústria
petrolífera no país. Não temos o direito de perder essa oportunidade. O Brasil que, como visto,
é um país rico, precisa propiciar aos seus cidadãos o usufruto desta riqueza. Contudo, esse
desenvolvimento não pode ser a qualquer custo: todo e qualquer governante tem o dever de
garantir ao seu povo um meio ambiente ecologicamente equilibrado. A consciência ambiental
não tem ideologia.
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