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Maringá-PR
2019
SAMUEL RODRIGUES SIQUEIRA AMARO
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Prof. Dr. Marcus Alessi Bittencourt
Universidade Estadual de Maringá
____________________________________
Prof. Dr. Rael Bertarelli Gimenes Toffolo
Universidade Estadual de Maringá
____________________________________
Prof. Dr. Alexandre Gonçalves
Universidade Estadual de Maringá
RESUMO
O presente trabalho visa, através de estudos a respeito de dois estilos musicais argentinos, a vidala e
a vidalita, propôr a criação de duas obras, uma para orquestra de violões, e outra eletroacústica. A
criação e o desenvolvimento das músicas se basearam em recursos e técnicas desenvolvidas por
pioneiros da música eletrônica, como Pierre Schaeffer, Pierre Henry e Vladimir Ussachevsky, bem
como no uso da citação e metalinguagem. Além disso, o trabalho tem como objetivo fomentar a
pesquisa em relação a estes dois estilos musicais, tendo em vista que trabalhos envolvendo estes
elementos são escassos.
A fim de estabelecer uma contextualização para que fique clara a proposta deste projeto,
primeiramente faz-se necessária uma breve introdução ao objeto de pesquisa. O presente trabalho
envolverá um estudo dos ritmos folclóricos musicais argentinos vidala e vidalita, bem como a
implementação de um processo criativo composicional de duas obras, uma para orquestra de
violões, e outra eletroacústica, a qual trabalhará com técnicas clássicas elaboradas por pioneiros da
música eletrônica, tais como Pierre Schaeffer, Pierre Henry e Vladimir Ussachevsky.
Ademais, o estudo dos processos de hibridação cultural, processos os quais são de relevância
para o entendimento do resultado do projeto de pesquisa, também serão levados em consideração ao
longo deste projeto. No entanto, é estritamente importante ressaltar que o presente trabalho de
conclusão de curso possui um cunho muito mais composicional do que musicológico ou
etnomusicológico.
No que diz respeito ao estilos musicais, é sabido que no noroeste da Argentina, dentre todos
os diversos ritmos que coexistem nas regiões de Tucumán, Santiago del Estero e Catamarca, a
vidala e a vidalita predominam.
1
Pasamos ahora a considerar una vidalita. La vidalita es una expresión criolla surgida en la colonia tardía, cuya
área de dispersión inicial era el noroeste argentino. Más tarde, entre fines del siglo XIX y principios del xx, como
consecuencia de la revitalización que el movimiento tradicionalista le impregnó a las prácticas y representaciones del
campo, y de la utilización de diversos géneros de la música popular para la ambientación sonora y costumbrista de los
escenarios teatrales y circenses, el área de dispersión de la vidalita sea amplió significativamente a otras áreas del
territorio argentino y a amplias zonas de Chile y Uruguay (CHICOTE, 2010, p. 36).
foram uniformizadas… Esse fermento, quase sempre cromático, qualifica as
espécies de hierarquia indo-europeias e as classifica de um modo especial e
conhecido no vasto repertório crioulo amplamente conhecido. É assim que a
vidala personifica a veia subjetiva e um certo modelo de canto lírico na
música popular argentina. Proceder a sua filiação supõe uma busca de
antecedentes de ordens diversas que exigem a preeminência de fatos
históricos (LAVÍN, 1952, p. 68, tradução nossa). 2
Segundo Carlos Lavín, no que diz respeito às suas características, apesar de serem parecidas,
a vidala e a vidalita se diferem. Ambas possuem fórmula de compasso ternário simples,
instrumentação caracterizada, principalmente, pelo violão, voz e percussão e não são ritmos
dançantes, por mais que estejam presentes em diversos eventos festivos e celebrações. Na vidala é
constante a presença do acompanhamento em terças. É um ritmo melancólico, assim como a
vidalita, e tratam de temas do cotidiano, são basicamente trovas, onde regularmente nota-se que a
música se desenvolve em função das letras, que retratam situações amorosas, tristes, alegres, mas
sempre na tonalidade menor, o que provoca no ouvinte a uma sensação melancólica, “triste”. A
vidalita se difere da vidala por ser mais lenta e por apresentar versos octosilábicos, e não
hexassilábicos como na vidala. Outra característica da vidalita é a presença da palavra “vidalita”
entre os versos da música, onde comumente é acentuada a última sílaba da palavra tornando-a
“vidalitá”.
2
Es sorprendente la insistencia con que se encara su origen en el exclusivo plan literario, tratándose de una
creación específicamente musical; y, como es lógico no se consiguen uniformar las incontables opiniones y
disertaciones que sobre el particular han abundado en 10 que va del siglo… Ese fermento, casi siempre cromático,
matiza la especie de jerarquía indoeuropea y la clasifica en un tipo especial y bien destacado en todo el vasto repertorio
criollo sobremaneramente conocido. Es así como la vidala personifica la vena subjetiva y un determinado modelo de
cantar lírico en la música popular argentina. Proceder a su filiación supone una rebusca de antecedentes de diversos
ordenes que reclaman la preeminencia de hechos históricos (LAVÍN, 1952, p. 68).
3
La forma poética más recurrente, la cuarteta hexasilábica con asonancia o consonancia en los versos pares. El
estribillo, que habitualmente aparece después de los versos primero y tercero, suele estar constituido por una sola
palabra: "vidalita'', ''Ay, vidalita'', "palomita''. Entre los temas que aborda, el del amor no correspondido o infortunado,
se presenta como el más asiduo, aunque también desarrolla temáticas patrióticas, políticas, filiales y festivas
(CHICOTE, 2010, p. 36, 37).
Figura 1: padrão rítmico notável na vidalita
Aqueles que estão lendo este trabalho, a essa altura já devem estar se perguntando a respeito
da relação entre os processos de hibridação com os ritmos em questão. Pois bem, antes de descrever
a relação entre esses objetos de pesquisa, há de se abordar o funcionamento e os “porquês” da
ocorrência da hibridação. Primeiramente, é importante ressaltar que o processo em questão é algo
que atua em todas as culturas do planeta há muito tempo, porém, apenas nos anos 90 do século XX
foi que se procedeu com a análise acerca desse processo. “É um processo usado para descrever
outros processos como globalizadores, interétnicos, viagens e cruzamentos de fronteiras, fusões
artísticas, literárias e comunicacionais”(CANCLINI, 2008, p. XXIII, tradução nossa). Ainda de
acordo com Canclini:
A ênfase na hibridação não enclausura apenas a pretensão de estabelecer
identidades “puras” ou “autênticas”. Além disso, põe em evidência o risco de
delimitar identidades locais autocontidas ou que tentem afirmar-se como
radicalmente opostas à sociedade nacional ou à globalização. (CANCLINI,
2008, p. XVIII, tradução nossa).
Portanto, segundo Canclini (2008, p. XIX), define-se o termo hibridação por “processos
socioculturais nos quais estruturas e práticas discretas, que antes agiam separadamente, se
combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”.
Além disso, é possível afirmar que fronteiras são contextos que condicionam os formatos,
estilos e as contradições específicas da hibridação, sejam elas fronteiras locais ou internacionais, e é
nesse ponto que começamos estreitar os laços desse trabalho, justamente por colocarmos em
evidência a existência de gêneros musicais que atuam em determinadas regiões da Argentina.
Poucas culturas podem ser consideradas estáveis pois suas fronteiras são, na maior parte das vezes,
infestadas de brechas, as quais dão abertura para a fusão de diversas práticas, mesmo as mais
rígidas. Diante desta situação, o intuito de um processo híbrido é gerar algo novo, seja através de
uma prática individual ou coletiva e, no caso desse projeto, o resultado visa a construção de duas
obras musicais utilizando a citação e metalinguagem como recursos fundamentais no decorrer do
processo criativo.
Objetivos
– Gerais
Compôr uma obra para orquestra de violão a partir do estudo dos gêneros argentinos vidala
e vidalita nos quesitos: rítmicos, melódicos, estruturais e estilísticos; bem como uma obra
eletroacústica visando a mesma abordagem técnica dos pioneiros da música eletrônica.
– Específicos
Justificativa
O projeto em questão tem por consistência propor a interculturalidade, a fusão de culturas
musicais existentes nas regiões do norte da Argentina com tendências brasileiras e fomentar o
conhecimento a respeito dos ritmos mencionados, tendo em vista que é escassa a quantidade de
trabalhos de pesquisa envolvendo tais ritmos.
Este trabalho também visa resguardar a tradição argentina por meio de duas composições
musicais com traços característicos de uma vidalita tradicional argentina, o “El Paisano”.
Primeiros Contatos
Como já mencionado, tal obra emergiu-se a partir de minha imersão em dois dos muitos
estilos musicais do folclore argentino, especificamente a vidala e a vidalita. Após o contato com tais
estilos, vi ali, neste singelo ambiente folclórico, o desejo e a possibilidade de criar uma composição
musical que objetivamente tivesse traços estilísticos que remetessem a estes estilos musicais, ou
seja, fazer uso da metalinguagem e da citação de elementos estruturadores para a criação de uma
canção, recurso vastamente utilizado por compositores. Gosto de citar como exemplo uma das obras
de Willy Corrêa de Oliveira, “Recife, Infância; Espelhos…”, peça para piano solo de 1989, na qual
o compositor elenca e “re-musicaliza” uma série de canções que aprendeu na infância:
Em minhas buscas e escavações por essas características da vidala notei que nada do que
estava contido naquela informação era real. Com o intuito de elocubrar a ideia de que esse estilo
pudesse ser bimodal, gosto de pensar que, talvez, diante do fato de boa parte do repertório da vidala
conter melodias com acompanhamento de terças, isso possa ter acarretado, erroneamente, em uma
ideia de pensamento bimodal.
Vários grupos de melodias se distinguem segundo suas determinadas escalas,
os antigos modos: de Ré e Fá, a escala bimodal, com quarta aumentada, com
quarta justa, ou com ambas alternadas, com a tetrafônica e pentatônica, ou
escalas híbridas com mesclas destas últimas com europeias, modernas e
antigas. A mais corriqueira é a com acompanhamento de terças paralelas,
(exceto nas vidalas tetratônica e pentatônica)4 (VIDALA, 2019, tradução
nossa).
Acontece que, se não fosse pelo curioso fato de que uma (e apenas uma) informação não
estivesse equivocada, talvez eu já não estivesse tão interessado em criar, a partir dali, nada que
tivesse relação com esses estilos musicais argentinos. Essas procuras pela tal característica
“bimodal” da vidala não foram supérfluas (e nem deveriam ser); pelo contrário, me renderam
diversas horas de pesquisa, nas quais pude notar, além da escassez de informações sobre este estilo 5,
outras várias características e variantes do estilo. Por “variantes do estilo” quero dizer que entrei em
contato com a vidalita, e que nela também notei características similares às da vidala. No entanto,
foi na procura de temas do folclore argentino que estivessem dentro desse contexto que conheci “El
Paisano”, uma vidalita tradicional, cujo tema um tanto quanto comum me chamou a atenção, não
por possuir algo de extraordinário em relação à sua harmonia, mas que ao passar por um olhar e
uma escuta clínica, notei um perfil melódico charmoso, além de perfil rítmico constante durante a
peça, que fortemente estabelece-se como uma das características da mesma. A partir disto, me
afeiçoei por tal melopeia, coisa que me instigou a criar, a partir da metalinguagem e da citação, uma
obra que pudesse remeter a tal estilo.
É necessário ressaltar que não há nada na obra tida como base, em termos harmônicos, que
seja incomum ou complexo; longe disso, é uma canção que faz pouco uso de tríades que não
exerçam outras funções harmônicas que não sejam tônica ou dominante (ver figura 2). Isto, apesar
de parecer algo trivial, carece de atenção, pois o tema principal da mesma se configura justamente
pela alternância entre Dominante e Tônica, ou seja, seria necessário tomar cuidado para não obter
um resultado final que fugisse desta característica em questão. A fim de resolver tal obstáculo,
decidi inicializar a primeira peça com o próprio tema principal tocado em quartas justas paralelas, o
que além de engrossar a textura musical e providenciar uma harmonia mais intensa, de certa forma
já corrobora com a proposta do projeto.
Diversos encontros com meu orientador, professor Marcus Alessi Bittencourt, foram de
extrema importância para o encaminhamento da composição da primeira peça, já que nessas sessões
eu apresentava vários esboços da mesma e em contrapartida Bittencourt me atentava para possíveis
obstáculos e alternativas para se proceder com os mesmos, além de sugerir caminhos alternativos
para se chegar em trechos específicos e conselhos sobre questões estruturais.
“El paisano” utiliza compasso ternário durante toda sua extensão, e isso se torna um desafio
um tanto quanto divertido, pois, como todo aprendiz de compositor (e assim como todo compositor
“veterano” gosta de inovações) utilizar uma peça ternária e não fazer uso de mudanças de fórmula
de compasso para tornar a obra final “apimentada”, ou no mínimo “diferenciada”, seria
considerado, pelo menos de um ponto de vista pessoal, ignorar que há uma infinidade de maneiras
de se explorar capacidades e caminhos composicionais dentro de um contexto em que a proposta é
justamente abordar a citação e a metalinguagem. Em outras palavras, até que ponto seria possível
deformar e elaborar exageros de uma obra com compasso ¾ sem que a mesma perdesse seu charme
e fisionomia?
Como compositor, seria necessário que eu construísse uma obra com traços que
contextualizassem e fizessem jus à época em que vivo, e à maneira de se lidar com experimentações
tendo em vista as vivências e experiências musicais guarnecidas em mim.
Já a minha obra para orquestra de violões, Mimesis, esquematizada para o presente trabalho
de conclusão de curso consiste em uma introdução seguida de uma parte A. Este fragmento de
Mimesis brinca, por meio da citação, com o tema principal de “El Paisano” reafirmando e
prolongando-se através perguntas e respostas que correspondem ao trecho A da peça original, além
de providenciar uma sonoridade mais colorida através de contracantos.
Garantindo o swing adequado e tendo influências no jazz (esta afirmação se deve ao fato de
uma cama harmônica estabelecida pelo “walking bass” dos violões 4 e pelo acordes ritmados dos
violões 3), o trecho B de Mimesis refere-se ao mesmo de “El Paisano”, no entanto aqui serve de
estribilho por ser um trecho vivaz.
A transição, parte C, de Mimesis é enérgica e caminha para uma região harmônica que não
existe em “El Paisano”, evoca agitação sonora e possui textura espessa em relação aos trechos A e
B. No entanto, tal sessão retoma a tonalidade original da peça com uma cadência conclusiva, a qual,
novamente, através de uma citação ao tema principal de “El Paisano” já providencia uma amálgama
para a próxima sessão de Mimesis, o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento (D) de Mimesis caminha, a princípio (período antecedente), no campo
harmônico da tônica, no entanto, o segundo período de seu todo (período consequente) alonga-se na
região de subdominante. Este trecho de Mimesis, se comparado ao restante da obra, é o que mais se
distancia no que diz respeito à semelhança musical, que até então era nítida nas outras sessões.
Porém ainda mantém um traço estilístico de “El Paisano”, o ritmo melódico de alguns contracantos.
Seu período consequente não se resolve e é finalizado em uma dominante, a qual atrai novamente o
estribilho da peça, neste caso, B'.
6
Uma cópia da grade completa de Mimesis está incluída neste trabalho como Anexo I.
Figura 3: estrutura formal e análise harmônica funcional de "El Paisano", vidalita do folclore argentino
Figura 4: diagrama da estrutura formal de Mimesis
O desenvolvimento da peça “Purge”
Com a primeira etapa deste trabalho concluída, após a montagem da peça acústica para
orquestra de violões, o próximo passo tomado neste processo composicional foi a construção de
uma peça eletroacústica moldada a partir de trechos de uma gravação da primeira obra, tendo como
objetivo destrinchar o que seria uma música acústica e recombiná-la eletroacusticamente para obter
um resultado sonoro distinto do anterior, mas ainda compartilhando algum tipo de relação através
de estruturas musicais motívicas.
Tendo isto em vista, tive como modelos de referência obras como “Suíte 14”, de Pierre
Schaeffer (1910-1995), pioneiro da “Musique Concrète” francesa, produzida em 1949
eletroacusticamente a partir da gravação de uma obra para orquestra de câmara, na qual Schaeffer
desmonta, modela, reestrutura, desconstrói a peça acústica até atingir um resultado sonoro que faça
jus ao propósito da peça. De acordo com Schaeffer:
Isto posto, foi necessário estruturar a peça eletroacústica dividindo-a em sessões, as quais
passaram por técnicas de montagem específicas. Tais técnicas foram, nas décadas de 50 e 60,
descritas como “Tape Techniques”. De acordo com Vladimir Ussachevsky (1911-1990), pioneira da
“tape music” norte-americana, “Tape Techniques” são métodos de preparo de material sonoro a
serem usados em composições em fita magnética, ou seja, técnicas composicionais da música
concreta.
Ademais, é interessante comentar que Purge vaga no limiar da saturação auditiva que é
estabelecida por uma quase monotonia de elementos sonoros que, muitas vezes, aparecem e se
intensificam, o que causa a impressão de que a obra encontrará seu clímax, quando, no entanto, não
chega a encontrar.
Purge possui pedaços claros de Mimesis, o que além de assegurar uma similaridade entre
ambas as obras, também cria uma amálgama através do discurso musical. No entanto, estas
citações, quando presentes em determinados trechos de Purge se apresentam reestruturados e
carregados de efeitos.
Podemos elencar alguns destes termos levando em consideração o texto “In Search Of A
Concrete Music”, de Pierre Schaeffer, publicado em 1952, onde o autor expõe vinte e cinco termos
iniciais da música concreta e constrói breves explicações sobre estes. Dentre os termos
mencionados no texto listaremos aqui aqueles que estão dentro do universo criativo composicional
de Purge.
A. Extrato:
Qualquer ação que produza um som que é gravado em uma faixa de disco ou
em uma fita é um extrato. Os extratos pode, portanto, ser gravações de som
“ao vivo”, ou gravações de sons produzidos de registros preexistentes 10
(SCHAEFFER, 1952, p. 191, tradução nossa).
Ou seja, desta forma, Purge é constituída, indubitavelmente, de um extrato sonoro, Mimesis;
B. Sample (amostra):
C. Fragmento:
D. Elemento:
E. Estruturas:
10
Any action producing a sound that is then recorded on a track of a disc or a tape is an extract. Extracts can
therefore be either "live" sound recordings or sound recordings produced from preexisting recordings
(SCHAEFFER,1952, p. 191).
11
A sample is an extract of any duration (for example, from several seconds to a minute) that is not chosen for
any welldefined center of interest (SCHAEFFER,1952, p. 191).
12
A fragment is a sound object of about one to several seconds in which a "center of interest" can be identified,
providing it does not display development or repetition. If it displays these, the fragment should be limited to the
portion that does not include any "redundancy" (SCHAEFFER,1952, p. 191).
13
If the analysis is taken even further, to the point of isolating one of the components of a sound object (a
component that, furthermore, the ear can hear only with difficulty when it is isolated, and which in any case cannot be
analyzed directly from sound), we say that the fragment has been broken down into elements. Examples of elements are
an attack, a decay, and a piece from the continuation of a complex note (SCHAEFFER,1952, p. 191).
A totalidade do material que um compositor escolhe desde o início recebe o
nome “estruturas”. Podem ser células ou notas complexas. Elas também
podem ser notas comuns, preparadas ou não, de instrumentos não mediados,
clássicos, exóticos ou experimentais14 (SCHAEFFER, 1952, p. 192, tradução
nossa).
F. Manipulações:
G. Transmutação:
H. Transformação:
I. Modulação:
14
The totality of the material a composer chooses at the outset is given the name "structures." These may be cells
or complex notes. They can also be ordinary notes, prepared or not, from unmediated, classical, exotic, or experimental
instruments (SCHAEFFER, 1952, p. 192).
15
Any technique that changes structures before any attempt at composition is called a manipulation.
Manipulations may be transmutations, transformations, or modulations (SCHAEFFER, 1952, p. 192).
16
Any manipulation that exerts its main effect on the matter of the structure without perceptibly altering its form
is called a transmutation (SCHAEFFER, 1952, p. 192).
17
Any manipulation that is intended to change the form of the structure rather than its matter is a transformation
(SCHAEFFER, 1952, p. 192).
18
If, without particularly aiming for a transmutation ora transformation, the intention is to selectively vary one of
the parameters of a structure, or, more generally, if the intention is to develop the given sound in one of the three planes
of reference of all areas of sound (tessituras, dynamic, and timbre), there will by definition be a modulation of the given
sound, or the structure under consideration, in tessitura, dynamic, or timbre(SCHAEFFER, 1952, p. 193).
Agora que já nos familiarizamos com tais termos, fica perceptível o uso dos quatro últimos
itens da lista acima. Ou seja, Purge é esculpida por meio de manipulações sonoras. Ademais, dentro
dessas manipulações sonoras, trechos da obra foram submetidos à aplicação de efeitos de áudio, que
são distribuídos através dos famosos plug ins. Esses efeitos são gerados através de hardwares ou
softwares que modificam o sinal de áudio, o que implica em modificação de parâmetros sonoros
como drive, feedback e rate.
A. Delay;
B. Flanger;
A. Phaser;
B. Chorus;
C. Reverb;
D. Pitch Shifting/Harmony;
E. Amplitude.
Tendo em vista essa relação de categorias é relevante indicar como cada um dos efeitos atua.
A. Delay
Delays são literalmente, ao pé da letra, atrasos. Tal efeito replica um sinal de áudio e o
reproduz juntamente ao original criando, assim, um efeito de retardo sonoro. Tendo como base o
livro “The Audio Programming Book”, de Richard Boulanger e Victor Lazzarini (2011), é possível
fazer a seguinte citação:
O delay é relativo. Para que um delay tenha efeito em um som, deve-se ser
ouvido em conjunto com o original, o som não retardado. Existem duas
maneiras de isso ocorrer. Um único som pode chegar ao ouvinte através de
dois diferentes percursos de comprimento, como um som direto e um som
refletido ou dois sinais com atrasos diferentes podem ser adicionado
19
Delay lines are the basic component of all the processing techniques discussed here. Their basic function is to
delay a signal by a certain amount of time, which can be set in seconds, milliseconds, or samples (taking the sampling
rate in consideration) (BOULANGER & LAZZARINI, 2011, 491).
eletricamente e depois ouvido em um único local 20 (MCMANUS, 2008, p.
805, tradução nossa).
O delay utiliza como parâmetros o delay time – responsável por controlar o tempo que o
áudio será atrasado pelo buffer eletrônico – o feedback – que controla a quantidade de sinal com
latência que será reinserido no efeito – o filtro passa-baixa, de acordo com Iazetta (2019), “em
ambientes acústicos reais, as frequências mais altas são atenuadas nos sons atrasados, e essa
atenuação aumenta proporcionalmente ao número de repetições. Para simular esse efeito, usa-se um
filtro passa-baixa a cada repetição do sinal”.
Efeitos como o flanger, chorus e phase utilizam como base a defasagem dos períodos de
oscilações de uma sonora audível (20Hz e 20kHz), que podem variar entre 50ms e 0,05ms. Essa
defasagem interfere nas oscilações de frequências periódicas causando o cancelamento de fases
entre as ondas sonoras. O que diferenciará esses efeitos é o tempo de delay aplicados a eles.
B. Flanger
C. Phaser
D. Chorus
Um dos principais efeitos utilizados em Purge.
E. Reverb
Além de tê-lo utilizado em Purge, o reverb também foi utilizado em larga escala na
gravação de Mimesis.
amount of phase shift introduced by each allpass filter. The outputs of the filters are mixed at unity gain with the
original signal. As in flanging, a kind of sweeping comb filter effect results (ROADS,1995, p. 439).
23
The quest for chorus effects has long fascinated musicians and musical engineers. Given an instrument with
one voice (which can be any electronic timbre), is there a way to process this signal so that it becomes as full as a
chorus of like voices? Such an effect requires that there be small differences between the various voices of the
simulated ensemble, including slight delays, alterations of fundamental frequency (resulting in beating effects), and
asynchronous vibrato. (ROADS, 1995, p. 439).
24
Reverberation is the result of many reflections of the original sound. The general pattern of events, as shown
in Fig. 24-8 is that there is first a direct sound, followed by a short gap, referred to as the initial time gap (ITG). Next
come the first distinct early reflection echoes caused by sound bouncing off surfaces near either the source or the
listener. Thereafter the reflected sounds start to generate their own second, third and higher-order reflections and the
energy level settles down to a constant decay rate. This decay rate is related to the distances traveled and the amount of
absorption in the room (MCMANUS, 2008, p. 808).
consideração na síntese de uma boa reverberação, são eles: distância da fonte sonora, room size,
brilho, caráter e envelope.
G. Efeitos de Amplitude
Além dos efeitos até então descritos, também é possível citar o panning como um dos
protagonistas da criação de ambas as obras. Responsável pela espacialização sonora, o panning diz
respeito à reprodução de um som estéreo, ou seja, com no mínimo dois canais, um esquerdo e um
direito, e funciona direcionando mais ou menos sinais de áudio pra cada um desses canais
permitindo ao ouvinte a sensação de movimentação sonora e a capacidade de identificar a
localização do som no espaço. É interessante ressaltar que há plug ins que permitem a
implementação deste efeito, mas também é possível efetuar tal efeito através da automação, ou seja,
o controle automatizado através de predeterminações do som. Os escritos de Roads afirmam que:
26
Some sound transformations are combinations of time and frequency-domain manipulations. This includes a
pair of related techniques called time compression/expansion and pitch-shifting. Since these techniques are usually used
together, this section conjoins them under the term time/pitch changing. These techniques have two sides. On the one
hand, the duration of a sound can be stretched or shrunk while the pitch remains constant. On the other hand, the pitch
of the sound can be shifted up or down while the duration remains constant (ROADS, 1995, p. 440).
reverberação, banhamos os ouvintes em seu ambiente exuberante. A
espacialização do som tem dois aspectos: o virtual e o físico. Na realidade
virtual do estúdio, os compositores espacializam sons impondo atrasos,
filtros, pan e reverberação, criando a ilusão de sons que emergem de
ambientes imaginários. Às vezes, esses espaços virtuais assumem
características que seriam impossíveis de realizar arquitetonicamente, como
um padrão de eco em constante mudança. No mundo físico das salas de
concerto, os sons podem ser projetados sobre um sistema de som multicanal a
partir de uma variedade de posições: ao redor, acima, abaixo e dentro da
plateia. A arquitetura ou espacialização do som evoluiu para um aspecto
importante da composição. Uma tendência para o uso “cinematográfico” do
espaço é vista em composições que apresentam aposições dramáticas entre
sons que são proximamente microfonados com sons reverberados à distância.
Alguns compositores usam técnicas de microfone e processamento espacial
de maneira semelhante ao uso cinematográfico do ângulo da câmera,
perspectiva da lente (largura) e profundidade de campo27 (ROADS, 1995, p.
451, tradução nossa).
Ainda há que se acrescentar no resultado sonoro deste trabalho o uso de filtros e
equalizadores que também foram adicionados aos processos de montagem de Purge. Por definição,
filtros são, do ponto de vista de McManus:
Um loop permite que o mesmo sinal de áudio seja tocado repetidamente sem
a necessidade da interrupção do gravador de fita para que seja rebobinada. O
comprimento de um loop varia de algumas polegadas a muitos pés 30
(USSACHEVSKY, 1964, tradução nossa).
Não obstante esta explicação é possível ainda denominar um loop pela utilização dos termos
em francês sillon fermé (e em inglês closed groove), os quais pelas suas respectivas traduções
literais significam “sulco fechado”, “ranhura fechada”, ou seja, uma alusão ao processo de se repetir
constantemente uma fração de um disco de vinil. Schaeffer afirma que:
Tendo isto em vista, vale ressaltar que a metodologia que foi aqui aplicada desenvolveu-se
em um ambiente artificial, ou seja, longe do local de origem dos gêneros musicais em questão,
devido à distância e à falta de recursos que possibilitariam o contato direto com tais eventos. Além
31
Before becoming a method it appeared as a "gimmick," a sound "effect." But from being an effect, it can
become a cause and a means of discovery. The latter arises from a symbolic difference: the difference between a spiral
and a circle. It turns out that the disc cutter is a machine that draws its own symbol (fig. 3). The cutter's spiral is not
only the material realization but also the affirmation of time going by, time gone by, which will never come again. If the
cutter closes its magic circle in on itself, one of two things can happen: either it is an accident, and, when the inattentive
operator notices it, he finds the machine damaged because the cutter has scratched the record right to the heart (for
every record has a metallic "heart" that is easily harmed when the thin layer of lacquer is pierced); or he has done it
deliberately, and, skilfully raising the cutter once the groove has "bitten its tail," he has isolated a "sound fragment" that
has neither beginning nor end, a sliver of sound isolated from any temporal context, a clean-edged time crystal, made of
time that now belongs to no time (fig. 4)— when played, the closed groove can start at A, B, C, or D. But where it
began is soon forgotten and the sound object appears in its entirety, with neither beginning nor end (SCHAEFFER,
1952, p. 31 & 32).
disso, boa parte do processo de criação se constituiu na busca e elenco de possíveis obras do
repertório de vidalas e vidalitas argentinas.
A partir do conhecimento prévio deste material musical, foi necessário estabelecer qual a
instrumentação a ser utilizada, assim como o segmento estilístico de tais obras. A princípio, o intuito
era realizar apenas uma composição. Contudo, devido a influências externas, me decidi por compôr
duas obras, uma acústica e outra eletroacústica. No entanto, vale ressaltar que uma obra
complementa a outra, já que o esqueleto de Purge foi estruturado a partir da gravação de Mimesis.
Estabelecer um cronograma com prazo de conclusão certamente foi um dos primeiros passos
para que o resultado sonoro se concretizasse. A primeira metade do cronograma deste processo
composicional constavam períodos de escolha da instrumentação, de dedicação exclusiva à criação
de esboços, de decisões musicais, amálgamas entre os excertos estabelecidos, e de conclusão, de
fato, da obra acústica, assim como sua análise, revisão, gravação, mixagem e masterização em
homestudio.
A segunda parte do cronograma, aquela referente à obra eletroacústica, possuía etapas que
envolviam a dedicação exclusiva ao repertório eletroacústico, ao estudo das técnicas utilizadas neste
segmento musical, estéticas deste repertório, criação de esboços a partir de trechos da gravação da
obra acústica, definição de uma ossatura que buscasse principalmente estabelecer uma relação com
a obra acústica, amálgama entre trechos, análise do resultado sonoro, revisão, mixagem e
masterização.
Foram utilizados como locais de montagem, gravação, masterização e mixagem das obras o
Laboratório de Pesquisa e Produção Sonora (LAPPSO) da Universidade Estadual de Maringá e um
homestudio pessoal. Através da DAW (digital audio workstation) REAPER, software destinado à
captação, mixagem e masterização de áudio, foi desenvolvida a captação do áudio, bem como os
demais procedimentos já mencionados (mixagem e masterização).
2. Seleção de traços estilísticos (possíveis “cacoetes”) que seriam capazes de serem inseridos
em uma obra composicional de minha autoria sem que se perdesse a essência do gênero
musical tido como referência;
7. Gravação da obra;
Ademais, os processos aqui descritos garantiram que eu me aprofundasse mais nas técnicas
tanto composicionais como operacionais de recursos criados para esta finalidade. Nesta afirmação
incluem-se a estruturação de hábitos que estimulam o hábito da criação musical de modo geral,
além da manipulação de um software de edição de áudio.
Referências
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2008, Oxford, 2008. 4 ed, p.805-816.
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Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, XVII – XL, 2008.
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<http://www2.eca.usp.br/prof/iazzetta/tutor/audio/efeitos/effx.html>. Acesso em: 4 novembro
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LAVÍN, Carlos, La vidalita argentina y el vidalay chileno, Revista Musical Chilena, Santiago, vol.
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