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RESUMO:
1. INTRODUÇÃO
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Assistente Social da Defensoria Pública do Estado do Paraná - sede de Ponta Grossa. Graduada
pela UEPG. Especialista em Práticas Interdisciplinares Junto à Família pela UEPG e em Saúde Pública
com ênfase em saúde da família pela Uninter.
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Assistente Social da Defensoria Pública do Estado do Paraná - sede de Ponta Grossa. Graduada
pela UEPG. Integrante do Grupo de Estudos em Justiça Restaurativa do Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG.
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Psicóloga da Defensoria Pública do Estado do Paraná - sede de Ponta Grossa. Graduada pela
Unicentro. Pós-graduanda em Psicologia Forense e Jurídica pela AVM - Faculdade Integrada.
Integrante do Grupo de Estudos em Justiça Restaurativa do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais Aplicadas da UEPG.
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“Este projeto consiste em proporcionar aos envolvidos, adequado atendimento especializado com
fundamento nos princípios da Justiça Restaurativa, através de métodos autocompositivos, intrínsecos
de uma cultura de paz, para o enfrentamento da violência doméstica e familiar, por meio do diálogo,
empatia, empoderamento da vítima e responsabilização dos ofensores” (Projeto Piloto “Circulando
Relacionamentos”).
necessidade de manter, aprimorar e despertar atuações que identifiquem, denunciem,
apoiem e assistam as vítimas da violência e suas famílias.
Neste sentido, diante da necessidade emergente de atuar com esta demanda cada
vez mais recorrente em nossa sociedade e de integralizar o atendimento jurídico prestado
pela DPE, justifica-se o desenvolvimento do projeto. Esse atendimento é preconizado pela Lei
Maria da Penha (BRASIL, 2006), grande marco no combate a violência doméstica contra
mulheres, que depositou na Defensoria Pública o encargo de garantir à vítima o acesso ao
Juizado de Violência Doméstica, através de um atendimento específico e humanizado.
De acordo com a Lei Complementar nº 136, de 19 de maio de 2011, que estabelece a
Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado do Paraná, é função institucional da DPE,
dentre outras:
Assim, ressalta-se que, além de atuar juridicamente nos casos envolvendo violência
doméstica, a DPE tem a competência de realizar trabalhos extrajudiciais, através do CAM5,
em demandas que se apresentem como relevantes e de maior vulnerabilidade.
A equipe responsável pela elaboração e execução deste projeto é composta por duas
assistentes sociais e uma psicóloga e foi capacitada em Justiça Restaurativa pela Escola de
Magistratura do Paraná, por meio do Cejusc de Ponta Grossa. O curso proporcionou a
sensibilização e a apropriação de conhecimentos que se tornaram indispensáveis para a
atuação da equipe técnica com as demandas que são apresentadas a DPE, trazendo maior
resolutividade e eficiência para os atendimentos de maneira geral.
Conforme o autor Howard Zehr,
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O Centro de Atendimento Multidisciplinar constitui órgão auxiliar da Defensoria Pública e tem por
finalidade promover o atendimento interdisciplinar, por meio de órgãos ou servidores das diferentes
áreas que o compõe, em casos que a demanda pretendida pelo usuário ultrapasse o plano judicial
(PARANÁ, 2014).
e a restauração de segurança e dignidade dos envolvidos no conflito. As vítimas costumam
sentir que foram privadas do controle sobre sua própria vida, e esse trabalho pode restaurar
esse senso de poder (ZEHR, 2012). Neste sentido, o empoderamento das mulheres que
vivenciaram situações de violência doméstica se torna o foco principal do projeto.
A Justiça Restaurativa traz uma resposta inovadora às necessidades não atendidas
de vítimas e ofensores, fazendo da justiça um processo mais efetivo e consequentemente
mais transformador (ZEHR, 2012). Esta disciplina se torna uma importante aliada para o
trabalho com mulheres que sofreram violência doméstica na medida em que propicia a
reflexão sobre sua condição, não somente de vítima, mas como autora da sua própria história
e com capacidade de mudança.
Além disso, o trabalho com o ofensor torna-se fundamental na medida em que a
Justiça Restaurativa tem como maior foco, depois das necessidades da vítima, a
responsabilidade do ofensor.
2. METODOLOGIA
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O processo judicial digital, também chamado de processo virtual ou de processo eletrônico, pode ser definido como um
sistema de informática que reproduz todo o procedimento judicial em meio eletrônico, substituindo o registro dos atos
processos realizados no papel por armazenamento e manipulação dos autos em meio digital. Fonte:
https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/
20 a 74 anos. Nos relatos constantes nos boletins de ocorrência, nos quais encontram-se os
últimos fatos que desencadearam a denúncia, percebeu-se as seguintes situações: violência
física 42,42%; violência psicológica (ameaças, intimidação, perseguição) 93,93%; violência
moral (ofensas) 48,48%; violência patrimonial (invasão de domicílio, depredação de objetos
pessoais) 18,18%. Notou-se também violência, seja ela física ou psicológica, envolvendo os
filhos (15,15%). Em relação ao consumo de álcool pelo ofensor, foram apontados em 3
relatos contidos nos processos (9,09%). Dos 33 pedidos de medida protetiva, 26 foram
concedidas (78,78%), 6 ainda estavam para decisão da juíza (18,18%) e apenas 1 (3,03%) foi
indeferido.
De todos esses processos conseguiu-se contato telefônico com 18 mulheres
(54,54%), porém muitas não demonstraram interesse por diversos motivos, dentre eles:
mudança de cidade, não desejar retomar o assunto, trabalhar o dia todo, ter medo de que o
ofensor possa vir a saber, entre outros. Através do contato telefônico 12 mulheres agendaram
horário para o pré-círculo, mas somente 6 compareceram, sendo que não foi possível contato
posterior com as ausentes. A partir destes primeiros encontros, tomou-se conhecimento da
história mais detalhada de cada uma.
Muitas destas mulheres sofreram algum tipo de violência desde o início do
relacionamento e não tiveram condições de se desvencilhar dele. Importante ressaltar que
não foi possível identificar, por meio dos processos, o tempo decorrido entre o fato e a
denúncia. Em relação a isso, salienta-se que muitos casos se referem a situações de
violência contínua, sendo que, muitas vezes, o fato que motivou a denúncia não foi o episódio
mais grave de agressão, mas, por motivos particulares de cada caso e que não podem ser
identificados pelo processo, foi o estopim para a realização da denúncia.
Isso deve produzir reflexões sobre o tempo que muitas mulheres permanecem
convivendo com a violência rotineiramente, sem conseguir empoderar-se ao ponto de tomar
uma atitude que possa livrá-las desse sofrimento. Essa informação é corroborada pelos
dados do Balanço Central de Atendimento à Mulher (2015), que apontam que 55,87% das
mulheres que relataram violência doméstica convivem com o agressor há mais de 05 anos.
Além disso, a mesma pesquisa demonstra que a violência ocorre diariamente em 38,72% dos
casos e semanalmente em 33,86% das situações. Os dados ainda trazem a informação de
que em 13,68% das situações a violência se iniciou já no primeiro ano de relacionamento do
casal e, em 30,45% dos casos, entre um e cinco anos de convivência.
Somente 4 mulheres aceitaram participar do projeto, o que foi considerado um número
aquém das expectativas. Notadamente algumas mulheres têm receio de falar sobre o que
vivenciaram, algumas indicaram medo do ofensor, que apesar da medida de afastamento
ainda mantém algum contato e sabem seu endereço e local de trabalho, ou temem pelos
filhos que mantêm contato com o genitor. Em relação a isso, Saffioti (2004 apud MARTINS e
CARVALHO, 2012) destaca que a violência doméstica acontece dentro da vida privada e
íntima da mulher e, por isso, tem-se espaço para os sentimentos de vergonha e medo em
expor sua situação, ferindo sua identidade pela humilhação a que são submetidas.
Duas situações foram peculiares na realização dos pré-círculos e impediram a
participação das mulheres interessadas: a primeira relacionada a uma questão no processo e
a outra devido ao receio da participante de que o ofensor, ao ser intimado para participar, a
responsabilizasse e ela sofresse alguma retaliação.
Além das 4 mulheres que foram contatadas através dos processos enviados, uma
outra participante chegou até o CAM por meio do atendimento realizado pelos assessores
jurídicos da DPE. Ela foi encaminhada após o reconhecimento da demanda e realizou-se o
pré-círculo, a partir do qual ela demonstrou interesse e aceitou participar do projeto. Chegou-
se então ao total de 5 mulheres participantes.
Analisando os processos e através dos relatos de algumas mulheres foi possível
identificar situações em que estas foram mal atendidas pelos órgãos de proteção, como
Polícia Militar e Delegacia da Mulher. Alegaram que não receberam orientação adequada,
que a forma de atendimento foi considerada agressiva e até mesmo que foram culpabilizadas
pela situação em que se encontravam. Essas situações podem ser compreendidas pela
ausência de compromisso do Estado perante o tema, deixando de investir na capacitação dos
profissionais e nos próprios serviços de atendimento às vítimas, o que acaba gerando a
sobrecarga de trabalho e emocional para as equipes, limitando a resolutividade das situações
(SILVEIRA, 2003?).
Algumas dificuldades obstaram a elaboração dos círculos com as mulheres pelo fato
de algumas delas não possuírem habilidade com a leitura e escrita, sendo assim as
atividades previamente elaboradas foram reorganizadas e adaptadas, visando não causar
qualquer desconforto e obter melhores resultados.
Com o objetivo de facilitar o acesso dos participantes no projeto, o Cejusc realizou
uma parceria com a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, que viabilizou vale-transporte para
todos os encontros em grupo que serão realizados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
MARTINS, Cláudia Cristina Rodrigues; CARVALHO, Maria Cristina Neiva de. O papel da
mulher na perpetuação do conflito doméstico no âmbito da justiça: realidade e
superação. In CARVALHO, Maria Cristina Neiva de. Sistemas de justiça e direitos humanos.
Curitiba: Juruá, 2012.
PRANIS, Kay. Processos Circulares. Trad.: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena,
2010.
ZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. Trad.: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena,
2012.