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FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL1
Resumo:
Este artigo tem como intuito apresentar os embasamentos filosóficos e metodológicos da
psicoterapia fenomenológico existencial: a filosofia existencialista e o método fenomenológico,
destacando sua particularidade no modo de encarar a existência humana e de proceder o processo
psicoterapêutico. O existencialismo oferece um olhar sobre a condição humana enquanto algo não
definido, livre para fazer escolhas e em constante transformação, que se constitui em seu existir
concreto por meio de sua experiência singular, imerso no mundo e na relação com as pessoas,
espaços e consigo mesmo. O método fenomenológico oferece uma abertura para o entendimento das
singularidades da existência em seus modos próprios de se manifestar, buscando compreender as
distintas características e disposições de cada indivíduo, evitando pressuposições ou conceitos prévios
sobre a pessoa, buscando captar o modo como se revela a cada encontro.
Introdução
O presente trabalho pretende oferecer uma breve revisão dos fundamentos filosóficos
da psicoterapia fenomenológico existencial, expondo seus norteamentos teóricos, iniciando
com a filosofia existencialista e seu entendimento sobre a existência humana, e o método
fenomenológico, que indica atitudes para se aproximar da existência em seus distintos modos
de ser e se expressar.
Existencialismo é uma filosofia contemporânea que compreende a existência em sua
manifestação concreta, singular e afetiva, entendendo o ser humano como livre para fazer
escolhas e responsável por elas, porém sempre aberto a novas possibilidades e escolhas. A
1
Artigo aprovado como conclusão da Pós-graduação em Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica, pela
Faculdade Venda Nova do Imigrante, em abril de 2020.
2
Psicoterapeuta existencial e professor, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em
Ensino de Filosofia, especializado em Psicoterapia Fenomenológico Existencial.
fenomenologia se apresenta como um método para acessar a subjetividade e singularidades,
do modo como cada um se apresenta, partindo da captação pré-reflexiva de mundo.
O intuito desta pesquisa é explorar os pressupostos filosóficos e o entendimento sobre
as teorias que servem de embasamento para a prática da psicoterapia fenomenológico
existencial. Pretende-se, portanto, responder algumas questões partindo do existencialismo e
da fenomenologia sobre o entendimento de ser humano, e sobre o modo como proceder a
análise da existência humana, de acordo com estas vertentes.
As psicoterapias fenomenológico existenciais dispõem uma maneira específica de olhar
para a existência humana, entendendo esta como um processo e não enquanto algo fixo, mas
sempre aberto à transformações, constantemente afetada pela relação com as outras pessoas
e objetos, presente no mundo, aberta a novos entendimentos de mundo e de si mesmo. O
método fenomenológico se coloca como um meio para acessar a subjetividade e a relação
afetiva da pessoa com o mundo, com os outros e consigo mesma, se aproximando de seus
modos de ser, de sua consciência de mundo e de si.
O trabalho se iniciará com a descrição dos fundamentos teóricos, filosóficos e
conceituais da psicoterapia fenomenológico existencial, para depois apresentar a psicoterapia
fenomenológico existencial. Deste modo, espera-se possibilitar uma introdução sobre esta
vertente de psicoterapia, que por ser pouco conhecida, acaba sendo erroneamente
confundida com a Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers, a Gestalt-Terapia, de Fritz
Perls, ou a Psicoterapia Existencial Humanista, de Rollo May.
Para a pesquisa foram utilizados alguns dos livros mais relevantes publicados sobre
existencialismo e fenomenologia, juntamente com artigos sobre os temas abordados. Essa
necessidade de voltar aos fundamentos é justamente com o intuito de oferecer um breve
entendimento sobre as bases para que se possa compreender melhor a prática.
1. Existencialismo
Toda pessoa pode, em certo sentido, e de acordo com suas possibilidades e condições
externas, escolher o que fazer de si mesma, a todo momento de sua existência. O que não é
possível, segundo Sartre (2014), é não escolher. É neste sentido que ele declara que “o
homem está condenado a ser livre” (Sartre, 2014, 24p.), ou seja, a liberdade não é uma
opção, mas uma condição da existência humana. Enquanto condição implica em estarmos
sempre escolhendo o que vamos fazer de nossa existência.
Como não há uma essência prévia que determine nossa existência e nossos modos de
viver, não há também um sentido previamente estabelecido sobre como viver a vida. Essa
constatação pode parecer por demais angustiante, mas é também libertadora. Segundo o
existencialismo, o sentido da vida pode ser acolhido, abraçado ou criado.
A escolha que cada um faz sobre sua existência é acompanhada, segundo Kierkegaard,
pelo temor e por uma falta de tranquilidade, pois apesar de todas as nossas avaliações e
deduções racionais sobre o que iremos escolher, nunca teremos certeza de que uma de
nossas escolhas será tal como desejamos ou esperamos, ou mesmo que será melhor do que a
outra que não escolhemos. Neste sentido, toda escolha que fizermos será sempre um risco, e
cada escolha implica na negação de outras possibilidades de escolha.
2. Fenomenologia
O termo ‘fenomenologia’ foi utilizado por diversos autores, com intenções distintas.
Etimologicamente significa o estudo ou a ciência dos fenômenos, sendo os fenômenos aquilo
que aparece. Seu estudo se iniciou entre o final do século XIX e início do século XX, com o
filósofo e matemático Edmund Husserl (1859-1938), tendo sido continuado e transformado
por filósofos como o alemão Martin Heidegger (1889-1976), os franceses Jean-Paul Sartre
(1905-1980), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), entre outros.
Apesar da existência de autores anteriores a Husserl que utilizaram este termo, como
Hegel ou Kant, é com Husserl que a fenomenologia segue um novo caminho, que irá
influenciar boa parte da filosofia, da psicologia e do modo de se praticar ciências humanas no
século XX em diante, partindo do entendimento de que “o sentido do ser e o do fenômeno
não podem ser dissociados” (Dartigues, 2008, 11p.)
Partindo de um questionamento sobre a ciência positivista e sobre a filosofia idealista,
criticando o uso do método das ciências naturais na psicologia e nas ciências humanas, a
fenomenologia surge como um contraponto e uma nova perspectiva de se fazer ciência que
começa a aparecer entre o final do século XIX e início do século XX.
Uma das críticas da fenomenologia está relacionada ao uso dos métodos das ciências
naturais para os estudos das ciências humanas. A constatação da fenomenologia pode ser
exemplificada na relação que ocorre quando olhamos para um objeto qualquer, como uma
pintura, o que vemos não são as moléculas e ondas de luz que atingem a nossa retina, mas
estabelecemos uma consciência intencional com este objeto, de modo que nos abrimos para
a percepção deste, onde o capturamos enquanto belo ou feio, interessante ou
desinteressante, alegre ou triste, e assim por diante.
Esta percepção é sempre intencional, pois resulta da relação entre a nossa consciência,
do modo como esta se direciona para um objeto, e o objeto, do modo como este se apresenta
a uma consciência. Porém, nunca captamos um objeto em sua totalidade, pois sempre o
observamos partindo de um ângulo, de modo que há sempre muitos ângulos e variações que
podem alterar a nossa percepção das coisas e do mundo.
Considerações finais
Por meio desta pesquisa foi possível constatar que a filosofia existencialista somada à
fenomenologia na psicoterapia possibilita um processo muito valioso para se reconhecer as
singularidades e os afetos da pessoa atendida. Diferente dos modelos tradicionais de
psicoterapia, esta não busca resolver um “problema” ou interpretar os significados “ocultos”,
mas permitir que a existência se apresente do modo como cada um se sente e se percebe.
Trata-se de uma alternativa às tendências mais convencionais e presentes no cenário
da psicologia na atualidade, tais como as abordagens psicanalíticas e comportamentais,
oferecendo uma compreensão mais aprofundada sobre as questões subjetivas e existenciais
do indivíduo, possibilitando uma maior autoconsciência, autonomia e aumento no potencial
de escolha sobre sua própria vida.
Por fim, a psicoterapia fenomenológico existencial entende que grande parte das
dificuldades emocionais se desenvolvem por conta de uma relação inautêntica consigo
mesmo e com os outros. Por isso, sua prática pretende possibilitar o contato da pessoa com
sua própria existência de modo a proporcionar uma vivência mais autêntica, alinhada com
seus afetos, livre para fazer escolhas e ir de encontro ou criar o que faça sentido para si.
Para tanto, o psicoterapeuta necessita de um grande preparo teórico e prático. É
necessário um profundo embasamento para se dedicar a este modo de fazer psicoterapia,
que não é nada simples, pois parte muito da filosofia. Além de conhecer os pressupostos, é
necessária também uma postura própria de abertura e disposição para a prática.
Referências
CERBONE, David. Fenomenologia. Tradução: Caesar Souza. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia? Tradução: Maria José de Almeida. 10ª ed. São
Paulo: Centauro, 2008.
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. Tradução: J. Guinsburg. 3ª ed. São Paulo: DIFEL, 1975.
PENHA, João da. O que é Existencialismo. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2014.
PENNA, Antonio. Introdução à psicologia fenomenológica. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. Tradução: Caesar Souza. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Tradução: João Kreuch. 4ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2014.
Contato
Bruno Carrasco
Psicoterapeuta existencial
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Pouso Alegre, MG
Abril de 2020.