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8-A GERAL MANTIQUEIRA-POÇOS DE CALDAS, QUINTA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2020

Blocos dão espaço à diversidade e


ao feminismo no carnaval de Poços
FOTO NANY ABRAHÃO
Delma Maiochi contra a violência, o as- do Coletivo Mulheres pela
delmaiochi@hotmail.com sédio, os feminicídios, os Democracia.
retrocessos que impactam Ela conta que foi mara-
diretamente na vida das vilhoso ver a soma de pau-
Poços de Caldas, MG mulheres. Foi importante tas, de lutas na avenida.
– Levar para as ruas o ver as pessoas que fazem “Juntar o carnaval com
feminismo, a diversida- parte do movimento LGB- consciência de classe, con-
de, o respeito e as lutas TQIA+, e ficam à margem, seguir entender que o que
contra a violência foi a se sentirem valorizadas. É me atinge, atinge a todos.
proposta do bloco das a característica do bloco Foi um movimento muito
Fridas e do bloco da Tine das Fridas, que não po- importante, e foi lindo.
(Fridas+Tine), que se jun- demos perder. Lembrando É um bloco que cresce a
taram para levantar pau- que nossa participação cada ano, atraindo gente
tas sérias, mas também no Carnaval só é possí- de outras cidades tam-
brincar nas festividades vel com a participação bém. Agradeço a todos
de Momo. De acordo com de todos, não temos re- que contribuíram com o
os participantes, duran- cursos, vamos fazendo bloco de alguma forma.
te as apresentações foi vaquinha e contando com Infelizmente, ainda so-
possível criar espaços de a solidariedade. Este ano mos atacadas, mas vamos
afetividade e de luta entre também tivemos, além do resistindo e seguindo em
mulheres e pessoas do bloco da Tine, a soma das marcha pelo carnaval e
Movimento LGBTQIA+. caixeiras do Maracatu, em outros eventos”, pon-
“O bloco das Fridas foi, que é um movimento so- tua ela. Blocos deram espaço para o movimento LGBTQIA+ e para manifestações contra violência
como em todos os anos, cial e artístico, que busca Também do mesmo Co-
marcante. São cinco anos manter uma tradição”, letivo, Cacá D’Arcadia de gente que se gosta. Foi que o Fridas+Tine é a existir e carnavalizar com
nas ruas com nossas pau- diz Edna Leite Ramos, abriu o desfile com o es- muito válido. A rua é um agremiação mais demo- nossos corpos. É um bloco
tas políticas e de protesto que também é militante tandarte do bloco das grande abraço humano, o crática e fundamental do muito pautado e calcado
Fridas. “Pelo segundo carnaval é oportunidade carnaval poços-caldense. na luta de gênero e de
ano consecutivo saí no de demonstrar para Poços “É o bloco que reúne as classe, mas que abraça
bloco e é uma sensação de Caldas que por aqui pessoas que são margi- todos, que é alegre, que
maravilhosa poder levar existem minorias e elas nalizadas socialmente, é divertido, que vai da
nossa mensagem, nossas querem espaço e respeito. como trans, drag queens, ópera ao funk em suas
pautas, para tantas pes- Foi gratificante, correu LGBTQIA+, mulheres, músicas e que contesta o
soas. É um momento de tudo bem, muita gente no gordos, negros e eviden- autoritarismo dos nossos
confraternização, mas desfile, brilhamos e nos cia pautas como desmonte governos com felicidade e
também de luta. A aceita- divertimos”, pontua ela. da cultura e educação, alegria, estas armas quen-
ção do público foi muito A jornalista Jéssica racismo e preconceitos tes. É o momento em que
positiva e houve adesão Balbino, que participou outros. É um bloco em nos sentimos à vontade
durante o circuito, o que da apresentação dos blo- que nos sentimos livres pra sermos quem somos
é muito importante tam- cos levando o estandarte para sermos quem somos e celebrarmos isso”, co-
bém”, diz ela. contra a gordofobia, diz e, o mais importante, para memora ela.
“A atuação dos blocos
foi muito boa. Muitas pes-
soas participaram desde
os ensaios da batucada,
coreografia, arrecadação
de dinheiro pra pagar o
carro de som. Isso mos-
trou que muitos se sentem
representados pelas pau-
tas que a gente levanta, e
é gratificante ver o grande
número de pessoas parti-
cipando do nosso cortejo”,
complementa a também
integrante do Coletivo
Paula Montenegro.
“Cantar novamente
frente a um bloco de car-
naval, que leva nossas
pautas pra rua, foi emo-
cionante, foi um dos mo-
mentos mais importantes
da minha vida. Senti toda
a energia, alegria, força
e a coragem dessa gente
que sonha com um mun-
do melhor, que sonha
com uma sociedade com
equidade de gênero, uma
sociedade que não seja tão
violenta com as mulheres.
Foi a luta dessa gente que
sonha e batalha por uma
sociedade que respeite
as diferenças, as plurali-
dades e que entenda que
toda forma de amor é lin-
da. Enfim, eu e todas essas
pessoas fomos pras ruas
pular carnaval e levar
nossa luta com esperança
que o futuro seja melhor.
Almejo que o bloco cresça
ainda mais e que mais
pessoas venham ajudar
a construir essa semente
de esperança no próxi-
mo ano”, comenta outra
participante do Coletivo
Adeline Silva Santos.
Tine Taga, criadora do
bloco da Tine, diz que a
junção dos blocos e a par-
ticipação no carnaval fo-
ram fantásticas. “Saímos
no carnaval não só com
o brilho das festividades,
mas também com ban-
deiras de lutas. Ao longo
do trajeto fomos fazendo
apresentações de drag
queens, do “ele não”, de
pautas feministas, entre
outras. Estar na rua é
um modo de ser político,
de demonstrar alegria e
respeito, estar no meio

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