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ciência+saúde
Sexta-Feira, 3 De Março De 2017
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Rio Castanha-
mesticadas de árvores. Rio Branco do-Pará com o fruto da pupunha, que
O manejo habilidoso des- pode ser selecionado para ser
u
ing
Rio X
250 km
tanha-do-pará. que sofreram grandes modifi-
Esses são os exemplos Os alimentos em branco Já a castanha-do-pará tem cações graças à seleção pro-
mais famosos, mas a lista são as espécies dois centros de origem movida pelo homem e que ho-
completa é bem mais exten- agrícolas domesticadas prováveis (em branco); sua je dependem da nossa espé-
sa: 85 espécies de árvores fo- na Amazônia, cada uma distribuição atual é marcada cie para se propagar.
ram domesticadas em algum marcada na área que pelo símbolo , de árvores O arqueólogo Eduardo Gó-
grau na floresta, calculam os seria o centro de plantadas ou carregadas es Neves, da USP, que tam-
autores de um estudo inter- origem da espécie pela ação humana bém assina a pesquisa, cal-
nacional que acaba de ser pu- Floresta com espécie domesticada na chamada terra preta cula que esse grande proces-
blicado na revista “Science”. so de “engenharia florestal”
Em alguns lugares da ba- amazônica começou há pelo
cia do Amazonas, as espéci- toras da pesquisa, que está cies arbóreas amazônicas. zem parte dessa lista das hi- tudos genéticos mostram que menos 6.000 anos, mas pode
es selecionadas e alteradas concluindo seu doutorado no perdominantes — cinco vezes muitas dessas plantas do- ter se intensificado de uns
pela atividade humana che- Inpa (Instituto Nacional de HIPERDOMINANTES mais do que o esperado, mesticadas hoje florescem 2.500 anos para cá. É quando
gam a ser as mais comuns da Pesquisas da Amazônia) e na Usando esses dados, um quando se considera o núme- em lugares muito distantes a região fica repleta de sítios
mata, apesar da gigantesca Universidade de Wageningen dos colaboradores da nova ro total de espécies arbóreas de seu ambiente original. com a chamada terra preta —
diversidade natural de vege- (Holanda). pesquisa, o holandês Hans da região. Outro detalhe im- E, de fato, na maioria das um solo muito fértil produzi-
tais da região. No estudo, Levis e dezenas Ter Steege, já tinha mostrado portante é que essas plantas áreas, a concentração de es- do pela ação humana, em
“A gente está falando de de outros colegas do Brasil e que a Amazônia abriga algu- domesticadas hiperdominan- pécies moldadas pelo uso hu- parte graças à queima contro-
sistemas sofisticados de pro- do exterior conseguiram tra- mas árvores “campeãs”, co- tes são muito comuns na mano aumenta nas proximi- lada de restos de vegetais.
dução de alimentos, mas que çar o mais completo mapa da nhecidas como hiperdomi- Amazônia: ao menos algu- dades de sítios arqueológicos “Nossos dados mostram
são muito diferentes dos de presença dessas plantas na re- nantes. São 227 espécies que, mas delas estão presentes em e dos rios —ou seja, áreas que que a linha separando caça-
hoje porque a diversidade em gião. O ponto de partida para somadas, são muito mais co- 70% da região, enquanto as foram ocupadas por pessoas dores-coletores de agriculto-
si era algo importante. Você essa tarefa foram os dados da muns que a média das de- outras espécies hiperdomi- no passado ou que serviam (e res na Amazônia foi muito tê-
não tem o manejo de uma chamada ATDN (sigla inglesa mais plantas, corresponden- nantes (as não domesticadas) ainda servem) como as prin- nue”, diz. Para ele, o estudo
única espécie agrícola, mas de Rede de Diversidade de Ár- do a uns 50% de todas as ár- só ocorrem em 47% da bacia. cipais estradas. Para onde os mostra que as florestas da re-
de várias, mantendo a flores- vores da Amazônia), que reú- vores amazônicas. Isso sugere que a ação hu- antigos indígenas iam, as gião também são um patrimô-
ta em pé”, explica a bióloga ne informações sobre a distri- Ocorre que, das 85 árvores mana é que as espalhou Ama- plantas iam junto —e esse pro- nio cultural, por sua ligação
Carolina Levis, uma das au- buição de quase 5.000 espé- domesticadas, 20 espécies fa- zônia afora, uma vez que es- cesso foi fazendo com que elas com a intervenção humana.
Elefantes africanos
estreia coluna no site da Folha dormem pouco e em
pé, mostra estudo
Diretor do Impa quer mostrar que disciplina não e ‘assunto chato’ DE SãO PAuLO - Mamíferos gran-
des normalmente precisam de
de sÃo Paulo sunto chato, difícil ou sem diretor desde 2016. menos horas de sono, já que a
graça”. “Quero fazer as pes- O matemático fez pós-dou- busca por comida acaba ocu-
O matemático Marcelo Via- soas se sentirem bem com a toramento em Princeton e na pando muito tempo. Agora,
na, 54, diretor do Impa (Insti- matemática”, afirma. Universidade da Califórnia, um novo estudo publicado na
tuto Nacional de Matemática Em seu primeiro texto, Via- em Los Angeles (EUA) e tam- revista “Plos One” mostra que
Pura e Aplicada), no Rio, pas- na abordará o peso direto e in- bém já dirigiu a Sociedade os elefantes africanos —os mai-
sa a publicar semanalmente, direto da matemática na pro- Brasileira de Matemática. ores mamíferos terrestres— se
a partir desta sexta (3), uma dução de riqueza de um país. Viana recebeu em 2016 o satisfazem com apenas duas
coluna no site da Folha Viana nasceu no Rio de Ja- Prêmio Louis D., maior hon- horas de sono por dia.
(folha.com/marceloviana). neiro, cresceu e estudou em raria científica da França, em Curiosamente, os cientistas
Um dos objetivos da colu- Portugal e voltou ao Brasil reconhecimento por suas re- descobriram que esses animais
na, diz Viana, é “desmistifi- para fazer doutorado no Im- alizações na área de sistemas dormem em pé e só se deitam
car a matemática como as- pa, onde ocupa o cargo de dinâmicos e teoria do caos. Elefante africano macho, que dorme em pé e por duas horas de vez em quando.