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Júri
Presidente: Prof. Doutor Augusto Martins Gomes
Orientador: Prof. Doutor Pedro Gameiro Henriques
Vogal: Prof. Doutor Manuel Correia Guedes
Outubro de 2011
i
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, as minhas palavras de agradecimento terão de ir para a minha família, pai,
mãe e irmã, pelo profundo carinho, paciência e apoio que me transmitiram ao longo de todo o
meu percurso académico e, em especial, durante a realização deste trabalho.
Aos meus queridos avós, Zé e Lourdes, não poderei, de igual forma, deixar de exprimir a minha
gratidão e apreço pelo amor e apoio incondicionais, assim como pelo legado que me deixaram,
os valores, o interesse pelo saber e os métodos de estudo que me incutiram desde criança, os
quais foram fundamentais em toda a minha vida académica. Neles penso todos os dias e a
eles dedico esta dissertação.
Agradeço aos meus queridos amigos e colegas de curso, Nuno Teodoro e Álvaro Pereira, pela
amizade, apoio e por acreditarem sempre em mim, dando-me força para levar este trabalho a
“bom porto”.
Aos meus amigos, Filipa, Carlos e Pedro, pela amizade e ajuda que me deram na realização
desta dissertação.
Ao Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico, em especial
ao Professor Doutor Pedro Gameiro Henriques, pelo apoio e incentivo na realização do artigo e
do poster intitulados “O contributo de sistemas construtivos no desempenho da
sustentabilidade na construção”, apresentados na Conferência Nacional iiSBE 2011:
“Sustentabilidade na Reabilitação Urbana – o novo paradigma do mercado da construção”, os
quais tiveram como base esta dissertação.
Ao Professor Doutor Pedro Gameiro Henriques, orientador da dissertação, agradeço o apoio, a
disponibilidade e a partilha de conhecimentos. Acima de tudo, obrigada por me continuar a
acompanhar nesta jornada e por estimular o meu interesse pelo conhecimento e pela vida
académica.
A todos, que de forma directa ou indirecta, contribuíram para a concretização desta
dissertação, o meu profundo e sentido agradecimento.
ii
RESUMO
iii
ABSTRACT
The construction sector is associated with significant environmental impacts, being a major
consumer of raw materials and energy, and generating a lot of pollution. Therefore, it is
essential to move towards a more sustainable construction.
The selection of building materials is a relevant factor in sustainability, nevertheless seems to
be more important to focus on aspects such as speed of construction and cost reduction, rather
than a careful choice of materials, through life cycle assessment, as that all stages introduce
environmental, social or economic impacts.
As building materials, both steel and soil, have undeniable environmental advantages.
This document focuses especially on the residential building sector, since this is a sector that
produces great impact on the environment, society and economy, as well as having a high
weight in the construction industry nationwide.
Given the appropriate choice of building materials, in this study are gathered a few examples of
construction systems more sustainable as an alternative to the traditional system, describing the
construction systems in Light Steel Framing and the earth construction systems. In both cases
is carried out an analysis of its sustainability over the lifecycle of a building, listing the attributes
of the systems allocated to the different phases - design, construction, operation and end-of-life
- and its contribution to the "sustainable culture". Finally, the limiting factors associated to the
construction systems under study are described, factors which can influence and constrain the
implementation of these systems in the construction industry nationwide.
iv
ÍNDICE
Introdução ..................................................................................................................................... 1
Enquadramento do tema ......................................................................................................................... 1
Objectivos da dissertação ........................................................................................................................ 2
Estrutura e organização do trabalho ........................................................................................................ 3
vi
ÍNDICE DE FIGURAS
viii
ÍNDICE DE QUADROS
ix
LISTA DE ABREVIAÇÕES
x
RCD Resíduos de Construção e Demolição
RGCE Regulamento de Gestão do Consumo de Energia
RPE Revestimento Plástico Espesso
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
UE25 União Europeia (25 estados membros)
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
UNFPA United Nations Population Fund (Fundo da População das Nações Unidas)
xi
INTRODUÇÃO
Enquadramento do tema
Desde sempre, o Homem tem modificado o seu meio para o adaptar às suas necessidades.
Para tal, tem feito uso de todo o tipo de materiais naturais que, com o passar do tempo e o
desenvolvimento da tecnologia, se foram transformando em diferentes produtos, mediante
processos de fabrico de crescente sofisticação. Os primeiros materiais utilizados pelo Homem
foram a pedra, a madeira e o barro.
A construção é uma actividade que sempre esteve presente na evolução do Homem, visto que
este sempre procurou protecção da agressividade do meio envolvente (condições climatéricas,
animais, etc.), com vista à sua sobrevivência.
No entanto, à medida que as exigências de melhores condições de vida foram aumentando,
passando a dar-se uma maior ênfase ao conforto em detrimento da sobrevivência, mais
complexos se foram tornando os processos de transformação das matérias-primas, gerando,
por sua vez, maiores consumos de energia e de recursos naturais.
A expansão da presença humana fez aumentar o nível de emissões de dióxido de carbono
para valores muito elevados, através da destruição de florestas, queima de lenha, e
posteriormente a queima de carvão e de petróleo para obtenção de energia.
Segundo um relatório recentemente realizado pela UNFPA (United Nations Population Fund),
em 2007 as emissões de dióxido de carbono a nível global aumentaram 3,2%
comparativamente ao ano anterior, o que representa um aumento de 35% em comparação com
o nível de emissões em 1990. Tal crescimento é insustentável e aumenta ainda mais o risco de
efeitos profundos e adversos sobre o sistema climático global. Assim, o fortalecimento da
acção internacional sobre as alterações climáticas continua a ser pertinente e urgente. [1]
No mesmo relatório, refere-se ainda que a taxa de desflorestação a nível mundial diminuiu,
contudo ainda se encontra a um nível alarmante. Durante a última década, cerca de 13 milhões
de hectares de floresta em todo o mundo foram convertidos para outros usos ou perdidos por
causas naturais a cada ano. [1]
As emissões de gases, os processos industriais, a produção de resíduos e o uso de pesticidas
e fertilizantes, estes últimos resultantes da intensificação da agricultura para fazer face ao
contínuo aumento da população mundial, são exemplos de acções humanas potenciadoras da
poluição ambiental.
Todas estas questões contribuem para o problema das alterações climáticas, contaminação da
água, poluição do ar e riscos químicos, pondo em causa a conservação da biodiversidade e a
saúde humana, assim como, a manutenção dos recursos naturais.
É, então, necessário criar uma consciencialização, por parte de todos, para estes problemas de
forma a encontrar alternativas eficazes que permitam uma diminuição dos impactes na
natureza infligidos pela actividade humana.
1
A indústria da construção é um dos maiores e mais activos sectores da Europa, representando
28,1% e 7,5% do emprego, respectivamente na indústria e em toda a economia europeia. Além
disso, a nível mundial a indústria da construção consome mais matérias-primas
(aproximadamente 3000 milhões de toneladas anuais, quase 50% em massa) que qualquer
outra actividade económica. [2]
Por outro lado, o parque edificado consome cerca de 42% da energia produzida.
Desta forma, e com o aumento das preocupações ambientais, a abordagem da
sustentabilidade na construção assume um papel preponderante.
Assim, torna-se necessário o aparecimento de novas alternativas aos sistemas construtivos
convencionais, que permitam uma diminuição dos impactes na natureza, em cada uma das
fases do ciclo de vida de uma construção.
É nesta temática, da sustentabilidade na construção, que se insere o objecto deste trabalho de
dissertação – “Estudo da aplicabilidade de sistemas construtivos no desempenho da
sustentabilidade na Engenharia Civil”.
Objectivos da dissertação
2
maior impacte sobre o ambiente, sociedade e economia, além de ter um elevado peso na
indústria da construção nacional.
3
1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Tal como se referiu na secção 0, o Planeta Terra está actualmente sujeito a fortes agressões
provocadas pelas mais variadas actividades humanas, enfrentando hoje um desafio ambiental
para o qual é de extrema importância que haja uma consciencialização global.
Um dos maiores problemas com que se depara o Planeta Terra diz respeito ao aumento da
temperatura média do ar, o qual está directamente relacionado com o aumento do nível de
concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
De facto, segundo dados publicados pelo IPCC (Intergovernamental Panel on Climate
Change), os últimos onze anos figuram entre os mais quentes nos registos da temperatura
global média à superfície desde 1850. [3]
A subida do nível do mar, provocada pela dilatação térmica da água, é uma das consequências
da referida subida da temperatura do ar. Segundo o IPCC, nos últimos 100 anos o nível do mar
já aumentou entre 10 cm e 20 cm. O mesmo IPCC prevê para 2080 um aumento do nível do
mar que pode ir até 70 cm, num cenário de emissões elevadas. Isto poderá vir a comprometer
inúmeras áreas costeiras e ilhas por todo o mundo. Por outro lado, o avanço da água do mar
também pode levar à contaminação da água doce e inviabilizar actividades de produção e até a
sobrevivência em algumas regiões. [3]
Uma outra consequência da subida da temperatura (aquecimento global) é a ocorrência de
fenómenos atmosféricos cada vez mais extremos como longos períodos de seca, potenciando
a acção de incêndios, mas também chuvas torrenciais, provocando inundações, e mesmo
furacões. [4]
Outro grave problema ambiental diz respeito à perda de biodiversidade devido à acção
humana. Alguns dos factores que podem pôr em risco a preservação da biodiversidade são: as
alterações climáticas, os elevados índices de urbanização, a exagerada exploração de
recursos e a consequente produção de resíduos.
Foi a pensar na dimensão crescente das marcas deixadas pela humanidade e numa forma de
quantificá-las, que os especialistas William Rees e Mathis Wackernagel [5] desenvolveram, em
4
1966, o conceito de “pegada ecológica”. Esta não pretende ser uma medida exacta, mas sim
uma estimativa dos impactes ambientais provocados pela actividade humana sobre o Planeta.
A figura seguinte (Figura 1.1) ilustra graficamente a “pegada ecológica” e a biocapacidade,
diferenciadas por região à data da avaliação (2003), conceito que mede a superfície do Planeta
Terra necessária para gerar recursos e absorver os resíduos de uma unidade (neste caso, por
pessoa). A diferença entre cada pegada ecológica regional (barras a cheio) e a sua respectiva
biocapacidade (linha tracejada) demonstra se essa região possui reserva ecológica (valor
positivo) ou se apresenta défice (valor negativo).
A exigência de uma região sobre a biosfera é igual ao total da sua população vezes a sua
pegada ecológica por pessoa.
Assim, é evidente a existência de padrões de consumo e de geração de resíduos, que
reflectem consumidores/poluidores de primeira categoria (América do Norte), de segunda
categoria (Europa) e de terceira categoria, onde se incluem os restantes. É paradigmático que
somente os países de África, América Latina e do Caribe e aqueles países da Europa que até à
data não pertenciam à UE25, ainda não tivessem esgotado a biocapacidade disponível do seu
território, mas não será surpresa que a curto ou mesmo médio prazo o venham a fazer. [4]
Perante o estado actual do planeta e as previsões realizadas para anos próximos, torna-se
crucial adoptar uma atitude diferente e conceitos inovadores. É necessário colocar em prática
medidas ambientais que visem a redução do consumo de recursos, a redução da produção de
resíduos e a preservação da função e biodiversidade dos sistemas naturais. Sob esta
perspectiva, o objectivo é que o consumo de água, energia e materiais ocorra a um nível
passível de ser renovado.
5
1.2 Evolução histórica do conceito de desenvolvimento sustentável
6
no âmbito da Agenda 21. Este documento é constituído por um conjunto de acções
coordenadas com o objectivo de assegurar um crescimento económico sustentável, uma maior
coesão social e integrando a protecção e valorização do ambiente.
Em síntese, o desenvolvimento sustentável é um conceito muito mais amplo do que o da
protecção do ambiente, abrange diversas áreas, assentando essencialmente num ponto de
equilíbrio entre o crescimento económico, a equidade social e a protecção do ambiente.
Objectivos Económicos:
Crescimento
Equidade
Eficiência
8
2 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
9
É no seguimento destas preocupações que, em 1994, se realiza em Tampa, na Florida, a
Primeira Conferência Internacional sobre Construção Sustentável - The First International
Conference on Sustainable Construction - patrocinada pelo CIB (Conseil International du
Bâtiment pour la Recherche l’Etude et la Documentation) onde se fizeram diversas propostas
no sentido de definir o conceito de construção sustentável e onde foi discutido o futuro da
construção, no contexto da sustentabilidade.
É nesta conferência que surge a primeira definição do conceito de construção sustentável e a
mais aceite, apresentada por Charles Kibert, que a caracteriza como a “criação e gestão
responsável de um ambiente construído saudável, tendo em consideração os princípios
ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos”. [10]
No âmbito da mesma Conferência, Charles Kibert estabeleceu desde logo os seguintes seis
princípios básicos da construção sustentável [11]:
10
Figura 2.1 – Abordagem integrada e sustentável às fases do ciclo de vida das construções [12]
No ano de 1996, é realizada na Turquia a conferência da ONU Habitat II. Esta conferência
focou-se essencialmente em dois temas, nos quais o ser humano é o centro das
preocupações, “abrigo adequado para todos” e “desenvolvimento sustentável dos aglomerados
humanos num mundo em urbanização”.
Esta agenda surge como um guia importante para a habitação nos países em vias de
desenvolvimento e também nas sociedades industrializadas.
O CIB publica, em 1999, a Agenda 21 para a Construção Sustentável (CIB Agenda 21 for
sustainable construction), procurando fazer uma ponte entre as Agendas internacionais e as
Agendas nacionais e locais.
Neste documento conclui-se que os maiores desafios que a construção civil tem que enfrentar
são:
Hoje em dia, para além dos avanços significativos que têm vindo a ser feitos, a construção
sustentável é ainda um conceito recente na indústria da construção sofrendo constantes
actualizações e existindo mesmo várias correntes que a definem.
No Quadro 2.1, apresentam-se as áreas de intervenção relevantes no sentido de obter uma
construção mais sustentável.
11
Quadro 2.1 - Aspectos relevantes da construção sustentável (adaptado de [8])
do solo
Aumento da utilização Criação de zonas de boa acessibilidade aos transportes
de transportes públicos na proximidade dos edifícios
públicos
12
Área Problemas principais Estratégias
Nos últimos anos, a nível nacional e internacional, foram desenvolvidas várias ferramentas
informáticas dirigidas especificamente à avaliação da sustentabilidade da construção que
procuram seguir os diversos princípios da construção sustentável.
Ao nível internacional destacam-se:
Ao nível nacional também se tem evoluído neste sentido, destacando-se o sistema LiderA, o
qual é utilizado em Portugal desde 2005. Esta ferramenta de avaliação da sustentabilidade da
construção (inspirada no sistema LEED), tem já adquirido uma aceitação relativamente elevada
no mercado. Actualmente está já em vigor uma segunda versão desta ferramenta LiderA 2.0.
13
2.2 Novo paradigma da construção sustentável
Qualidade
Custo Tempo
Figura 2.2 - Factores de competitividade na construção tradicional [12]
14
Consumo Emissões
de nocivas,
recursos Qualidade saúde
Custo Tempo
Biodiversidade
Figura 2.3 - Construção eco-eficiente [12]
Qualidade de vida
Qualidade do ambiente construído
Consumo Emissões
Qualidade
de nocivas,
recursos saúde
Tempo Custo
15
Nesta perspectiva, o papel dos vários agentes é fundamental, incluindo o sector da extracção
dos materiais, o da construção, os clientes das estruturas edificadas, os gestores e os
responsáveis pela manutenção. Pode, assim, dizer-se que este novo modo de conceber a
construção procura satisfazer as necessidades humanas, protegendo e preservando
simultaneamente a qualidade ambiental e os recursos naturais. [8]
a) Fase de concepção
Os impactes ambientais da fase de concepção (projecto) são muito reduzidos e quase não
apresentam significado quando comparados com as restantes fases, estando principalmente
relacionados com os consumos de:
b) Fase de construção
A fase de construção, correspondente à execução do projecto (obra em si), induz impactes
ambientais importantes, que incluem nomeadamente:
17
Em zonas de ambientes naturais, ao serem intrusivas, as actividades construtivas
provocam interferências na fauna e na flora e alterações na dinâmica dos
ecossistemas.
c) Fase de operação
Esta fase corresponde ao período de utilização do edifício construído, podendo incluir, também,
as operações de manutenção e renovações pontuais.
Os impactes mais significativos decorrentes da operação de um edifício resultam de: consumo
de energia, de água e de materiais, produção de resíduos, de efluentes e de emissões
atmosféricas.
Como exemplo de impacte ambiental, pode referir-se que grande parte da água consumida,
isto é, mais de 80%, é depois descarregada sob a forma de efluentes líquidos, que exigem
tratamento adequado, obrigando a dispor de ETAR’s, o que por sua vez leva ao consumo de
energia e reagentes e à produção de lamas. [8]
d) Fase de fim-de-vida
No que respeita à fase de fim-de-vida ou desactivação de um edifício, esta resulta na mesma
tipologia de impactes anteriormente descritos para a construção, sendo de destacar que,
consoante a forma de eliminação ou desconstrução, pode traduzir-se num importante
acréscimo, do ponto de vista da produção de resíduos.
Quanto aos restantes impactes são, geralmente, menores e referem-se ao consumo de
materiais, existindo, porém, importantes impactes relativos ao consumo de energia e às
emissões de ruído, vibrações e poeiras.
18
Como anteriormente se referiu, a evolução do sector da construção no sentido da
sustentabilidade apela a um novo paradigma, passando do tradicional triângulo qualidade –
custo – tempo, para incluir também o consumo dos recursos – emissões e saúde –
biodiversidade e qualidade do ambiente construído e equidade social – herança cultural.
A durabilidade é um aspecto de grande relevância no caminho para a sustentabilidade,
baseando-se em aumentar o ciclo de vida da construção, obtendo assim um maior tempo de
utilização do edificado e reduzindo substancialmente a procura de materiais e os impactes
ambientais.
Da mesma forma, para caminhar para a construção sustentável, é importante que desde a fase
inicial da obra, ou seja, desde a fase de planeamento e concepção, se tenha em conta a
redução do consumo e a reutilização dos recursos, incluindo o próprio planeamento da
desconstrução, assim como o uso eficiente do solo e o ordenamento do território. Além disso,
deve apostar-se na eficiência energética e na utilização preferencial de recursos renováveis, tal
como na procura de soluções que resultem em menores emissões de CO2.
Uma vez que se vive actualmente, em média, de 80 a 90% do tempo nos edifícios, outros
aspectos relevantes são as condições do ambiente interior e a qualidade do ar interior, quer no
sentido de evitar a toxicidade e os riscos de inalação de microrganismos, quer no sentido de se
proceder à renovação do ar natural. [8] Como tal, a escolha dos materiais e tecnologias
construtivas a utilizar tornam-se pontos fundamentais da construção sustentável, questões que
se abordam nos capítulos seguintes.
Na União Europeia a indústria da construção é um dos sectores económicos mais importantes,
continuando, no entanto, a basear-se excessivamente em sistemas construtivos convencionais
e na utilização de mão-de-obra não qualificada, sendo caracterizada pela utilização ineficiente
dos recursos naturais e de energia não renovável e pela excessiva produção de resíduos. [14]
Dado à sua importância na sociedade actual, cada vez mais, a indústria da construção terá um
importante papel no fomento de uma dinâmica de mudança, constituindo este um desafio
fundamental para atingir um desenvolvimento sustentável.
19
3 SUSTENTABILIDADE DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
3.1 Enquadramento
Quadro 3.1 - Número estatístico de anos esperado até à exaustão das fontes de matéria-prima
associadas a alguns dos materiais de construção mais utilizados [15]
Duração
Material
(anos)
1
Nota: Para alguns materiais, é difícil estimar o número de anos até à sua exaustão pois as suas fontes
são ainda abundantes ou porque existem factores dificilmente quantificáveis que influenciam a sua
duração.
20
Duração
Material
(anos)
1
Argila (telhas cerâmicas) (-)
1
Argila (tijolo cerâmico) (-)
1
Betão (-)
1
Gesso (-)
Lã mineral 390
Tela asfáltica 40
1
Vidro (-)
Apesar de ser importante perceber que não existem matérias-primas inesgotáveis, não está
comprovado que a duração das mesmas seja a apontada por Berge [15].
Além desta questão, como já se referiu, é necessário ter em conta que os materiais de
construção resultam da extracção das matérias-primas, posterior processo de fabrico e
transporte até aos locais de aplicação em distâncias que podem chegar a ser intercontinentais.
Todo este processo envolve o consumo de energia proveniente de fontes não renováveis. Do
mesmo modo, não se podem esquecer os resíduos gerados durante as actividades de
extracção das matérias-primas (Quadro 3.2), assim como a destruição da biodiversidade do
local de extracção.
Ferro 25503 40
Cobre 11026 1
Alumínio 869 30
Estanho 195 1
Manganês 745 30
2
Nota: Mton significa milhões de toneladas.
21
Como se pode constatar, o aproveitamento de matérias-primas resultante da actividade de
extracção é muito baixo face à quantidade de material extraído, resultando em vastas
quantidades de resíduos minerais, cuja deposição constitui um risco ambiental em termos de
preservação da biodiversidade, bem como de poluição de fontes de água potável. Como
consequência, desde a década de 70 ocorreram 30 acidentes ambientais graves em minas,
tendo 5 ocorrido na Europa. [4]
Além disso, não pode ser ignorado o perigo que determinados materiais apresentam para a
saúde dos utilizadores dos edifícios e para os ecossistemas, devendo-se analisar previamente
a toxicidade de cada um dos materiais a utilizar.
Considera-se que é na fase de projecto/concepção que se tomam as decisões mais
importantes no que respeita à selecção dos materiais com vista à sustentabilidade.
No entanto, até à actualidade, os materiais são frequentemente seleccionados tendo em conta
essencialmente parâmetros estéticos e funcionais, privilegiando aspectos como a rapidez de
construção e a redução de custos. Para além destes critérios, a selecção deverá ainda
compreender os seguintes critérios [4]:
Toxicidade do material;
Energia incorporada no material;
Potencial de reutilização e reciclagem dos materiais;
Reaproveitamento de resíduos de outras indústrias (materiais obtidos a partir de
resíduos);
Materiais que provenham de fontes renováveis;
Materiais que estejam associados a baixas emissões de GEE;
Materiais duráveis;
Materiais cuja escolha seja levada a cabo mediante uma análise do seu ciclo de vida.
22
Irritações da pele, olhos e vias respiratórias;
Distúrbios cardíacos, digestivos, renais ou hepáticos;
Dores de cabeça e mal-estar generalizado;
Distúrbios do sistema nervoso, como perturbações da memória, de atenção,
concentração e da fala, stress e ansiedade;
Perturbações do sistema hormonal (problemas fetais e de reprodução);
Desenvolvimento de cancros das fossas nasais, dos seios frontais e pulmões, quando
presentes em elevadas concentrações.
23
Ftalatos – grupo de compostos químicos derivados do ácido ftálico, utilizado como
aditivo para reduzir a rigidez dos materiais plásticos. São vários os estudos que
comprovam a toxicidade destes compostos para a saúde humana.
Compostos orgânicos voláteis (COV) – poluentes atmosféricos libertados por
materiais de construção contendo solventes orgânicos, como é o caso das tintas,
vernizes, colas e outros. A redução da ventilação no interior das habitações (para se
minimizarem gastos energéticos) pode contribuir para aumentar o volume destes
poluentes e para agravar os seus efeitos sobre a saúde. Além disso, os COV’s
contribuem para a formação de ozono troposférico, um gás que provoca efeito de
estufa.
Além destes, existem ainda tintas e vernizes contendo metais pesados, os materiais que
libertam fumos tóxicos em caso de incêndio, os materiais contendo substâncias radioactivas,
as situações de toxicidade relacionadas com a presença de amianto em materiais de
construção e também de chumbo em canalizações de abastecimento de água.
No caso das tintas e vernizes utilizados na construção, estas além de libertarem COV’s, podem
ainda conter metais pesados com elevado poder cancerígeno (Quadro 3.3).
Cádmio Pigmentos
Benzeno Solventes
Níquel Pigmentos
Outro caso é o da madeira, que apesar de ser um material com grandes potencialidades de ser
utilizado numa construção mais sustentável, possui uma baixa resistência à degradação por
agentes biológicos, fungos e insectos (carunchos e térmitas).
Até muito recentemente, a preservação das madeiras implicava a sua impregnação com
insecticidas ou fungicidas, produtos como o creosote ou outros à base de sais metálicos como
o cobre, crómio e arsénico (CCA). Estes sais metálicos são bastante tóxicos, além de que são
bioacumuláveis. Quando em contacto com a água da chuva ou outra, grande parte destes sais
acaba por ser lexiviada contaminando o meio ambiente. [17]
Outra fonte de toxicidade reside nos plásticos, que representam actualmente uma parte
substancial dos materiais utilizados pela indústria da construção.
24
Quase todos os plásticos contêm diversos tipos de aditivos como plastificantes, redutores de
rigidez, corantes estabilizadores de radiação solar, redutores de fumo, anti-estáticos, redutores
de ignição e outros, que implicam a utilização de uma vasta gama de produtos, onde se
incluem ftalatos e metais pesados. [17]
Como se pode compreender, a toxicidade dos materiais de construção é um tema
extremamente complexo, não se pretendendo no âmbito deste trabalho realizar um estudo
exaustivo acerca deste tema, pelo que se deram apenas alguns exemplos que se consideram
pertinentes.
Em suma, cabe aos projectistas a responsabilidade da selecção de materiais e componentes
de baixa toxicidade, procurando evitar que a sua utilização afecte a saúde dos habitantes dos
edifícios e das pessoas responsáveis pela construção e manutenção dos mesmos.
Assim, devem analisar-se rigorosamente as fichas técnicas dos diversos materiais e
componentes de construção (por exemplo isolamentos, revestimentos, pinturas e vernizes)
com o objectivo de reduzir a presença de substâncias tóxicas prejudiciais no edifício, como é o
caso dos formaldeídos, COV’s e outros produtos químicos que se encontram correntemente na
constituição dos materiais de construção, os quais apresentam riscos para a saúde dos
ocupantes dos edifícios.
Para esse efeito, na fase de projecto dever-se-ão ter em conta, entre outros, os aspectos
seguintes [12]:
Seleccionar tintas de água à base de látex e sem chumbo, em vez de tintas de óleo
com diluentes tóxicos como o benzeno, o xileno e o tolueno;
Preferir sempre que possível madeiras no seu estado natural aos aglomerados de
madeira, visto que nestes é utilizado o formaldeído como aglomerante e conservante.
Este problema também é comum no mobiliário, pelo que é conveniente a realização de
ensaios que comprovem a possível presença deste químico;
Seleccionar materiais e sistemas que não apresentem clorofluocarbonetos (CFC) e
hidroclorofluocarbonetos (HCFC), pois cerca de 50% dos clorofluocarbonetos
produzidos são utilizados na construção. Estes componentes apresentam diversos
riscos quer à escala local (riscos para a saúde dos ocupantes), quer à escala global
através da destruição da camada de ozono;
Assegurar que no edifício não é utilizado amianto ou qualquer outro material que o
contenha;
Evitar o uso de adesivos, selantes, pinturas, vernizes e revestimentos que possuam
elevadas quantidades de COV’s.
25
3.3 Energia incorporada nos materiais
Moagem de clinquer 11
Cal hidráulica 33
Telhas de barro 60
Pavimentos de barro 60
3
Nota: Kgep significa quilogramas de petróleo equivalente
Para converter a unidade tep (toneladas de petróleo equivalente) para kwh, a DGEG [19] refere que:
-6
1kwh (energia eléctrica) = 290×10 tep
26
3
Material Kgep/ton
No que se refere à parcela da energia consumida em transporte, esta varia consoante o modo
de transporte utilizado seja marítimo, aéreo, rodoviário ou ferroviário.
Berge [15] refere valores para o consumo de energia no transporte de materiais que se
apresentam no Quadro 3.5.
Transporte MJ/ton Km
Avião 33-36
Barco 0,3-0,9
27
3
Material MJ/Kg MJ/m
BTC 0,42 -
Aço 32 251.200
Zinco 51 364.140
Contraplacado 10,4 -
Poliuretano 74 44.400
PVC 70 93.620
28
quantidade de matéria reciclada utilizada. Assim sendo, o valor da energia incorporada não é
constante, variando de país para país, e mesmo dentro de cada país, de região para região, e
também de autor para autor, dependendo das variáveis consideradas. [12]
Em 2008, Hammond & Jones [20] apresentam um inventário de valores de energia incorporada
e de carbono incorporado para cerca de 200 materiais de construção, numa abordagem “cradle
to gate”. Segundo estes autores, esta abordagem permite um apuramento mais rigoroso dos
consumos energéticos relativos ao transporte dos materiais para cada caso específico.
De acordo com Thormark [21], uma escolha adequada dos materiais de construção pode
significar uma redução de 17% na energia gasta na construção do edifício.
Assim, uma escolha cuidada dos materiais pode contribuir decisivamente para a redução da
quantidade de energia necessária à construção de um edifício.
Em síntese, de maneira a reduzir a energia incorporada nos edifícios através dos materiais de
construção, deve obedecer-se aos seguintes critérios na selecção dos mesmos:
Até recentemente pensava-se que a quantidade de energia incorporada num edifício era
pequena em comparação com a energia consumida na operação do edifício durante a sua
vida. Em consequência, realizou-se um maior esforço para reduzir o consumo de energia
operacional através da melhoria da eficiência energética dos edifícios.
De facto, nos edifícios pouco eficientes de um ponto de vista energético e com elevados
consumos, a energia incorporada nos materiais era de apenas 10% a 15% da energia
operacional. Contudo, à medida que a eficiência energética dos edifícios e equipamentos
aumenta, a parcela referente à energia incorporada nos materiais vai-se tornando cada vez
mais importante. [4]
29
Thormark [22] estudou um dos edifícios com menor consumo energético na Suécia, concluindo
que a energia incorporada nos materiais, para uma vida útil de 50 anos, pode representar 45%
da energia total.
O nível de energia incorporada nos materiais reduzirá à medida que a eficiência energética das
indústrias que os produzem aumentar. Contudo, também é necessário haver uma procura por
materiais com baixa energia incorporada, já que esta será uma parcela cada vez mais
significativa.
Na selecção dos materiais de construção deve ter-se como critério o potencial de reciclagem e
de reutilização dos mesmos. Depois de esgotada a vida útil do material, este possui um
determinado potencial de reciclagem e reutilização, ou seja, uma determinada capacidade de
vir a gerar outros materiais (reciclagem) ou de ser novamente utilizado (reutilização). Esta é
uma questão importante que pode contribuir para a diminuição do impacte das construções
sobre o meio ambiente, reduzindo o consumo de recursos naturais. Nesta óptica, um produto
que é facilmente reciclável apresenta vantagens perante um produto inicialmente “verde”, mas
que não pode ser reciclado. Da mesma forma, devem preferir-se materiais que possuem
maiores potencialidades de reutilização face a outros com apenas algumas potencialidades de
reciclagem, já que a reutilização directa envolve menor consumo de energia, apesar de ambas
evitarem a descarga de produtos no meio ambiente.
Por outro lado, na selecção dos materiais, é preferível dar ênfase à sua capacidade de
reutilização e reciclagem em detrimento da energia incorporada, já que quanto mais vezes se
utiliza um material ou componente, menor será o custo de energia incorporada, pois este acaba
por ser amortizado no número de utilizações do material. No entanto, existem custos
energéticos associados è reutilização e reciclagem dos materiais que não devem, de forma
nenhuma, ser ignorados nesta análise.
Na indústria da construção, muitos dos produtos ou materiais têm baixo potencial de
reciclagem. Porém, existem produtos que podem ser reciclados várias vezes apesar de que,
hoje em dia, raramente se tire partido deste potencial. Na Suécia, em 1992, o nível de produtos
reciclados era de 5% e na Alemanha, em 1990, foram reciclados 29% dos produtos. Para o ano
2000, ambos países têm o objectivo de atingir os 60%. [23] Na Holanda, a legislação exige que
80% dos materiais provenientes de demolições sejam reciclados para serem utilizados em
novas construções, seja em edifícios ou na construção de estradas. Além disso, as empresas
de demolição, na fase de concurso, têm que declarar a quantidade de material que será
vendido para reciclagem, juntamente com uma apresentação de como irão publicitar esta
situação. [15]
30
Apresentam-se de seguida algumas soluções para a reciclagem de metais, plásticos, vidro,
madeira, betão e materiais cerâmicos. Na realidade, existem muitas outras soluções e
constantemente surgem novas investigações científicas, permitindo avanços neste domínio.
Uma das formas para atingir a sustentabilidade dos materiais de construção passa pela
incorporação de resíduos de outras indústrias nos mesmos. Os materiais obtidos a partir de
matérias recicladas ou reutilizadas contribuem para a diminuição dos problemas relacionados
31
com a deposição de resíduos sólidos, diminuição dos consumos energéticos e conservação
dos recursos naturais.
Sendo o betão o material mais utilizado na indústria da construção a nível mundial (cerca de
2000 Mton/ano) [23] e com um ritmo de crescimento exponencial (Figura 3.1), tem nos últimos
anos merecido especial atenção por parte da comunidade científica.
Como exemplo dos avanços já realizados nesta área, refira-se a utilização de resíduos em
betões: com características pozolânicas, cinzas volantes, escórias de alto forno, sílica de fumo,
cinzas de resíduos vegetais, cinzas de resíduos sólidos urbanos e resíduos de vidro. Existe,
também, investigação sobre a incorporação de resíduos em betões, como agregados ou filler, a
saber: resíduos da indústria automóvel, de plástico, têxteis, pó de pedra da indústria das
rochas ornamentais, de extracção de agregados e da indústria cerâmica, e os resíduos de
construção e demolição (RCD). [23]
32
Quadro 3.7 - Produção e reaproveitamento de alguns resíduos na Europa [28]
Produção
Resíduo Reaproveitamento anual (%)
(Mton/ano)
Convém referir que os RCD constituem uma parte significativa do total de resíduos produzidos,
representando cerca de 1/3 dos resíduos produzidos no espaço Europeu (excluindo as cinzas
de RSU). [4]
Em Portugal, os resíduos de origem mineral constituem a maioria dos resíduos produzidos
(Figura 3.2), representando aproximadamente 30 milhões de toneladas. [4] Estes resíduos têm,
ainda, a desvantagem de estarem depositados em aterros por todo o território nacional,
constituindo um entrave à preservação da biodiversidade.
9%
4% Minas e pedreiras
5%
Têxtil
5% Madeira e papel
Agricultura
9%
58% Térmicos
Construção e demolição
11% Outros
Na Europa, a taxa média de reciclagem de RCD é de 50%, já na Dinamarca essa mesma taxa
de reciclagem de resíduos é de cerca de 89%, muito por força das taxas de deposição e de
extracção de recursos não renováveis. A incorporação de resíduos industriais em betões
constitui, assim, e no caso concreto de Portugal, uma forma eficaz para se alcançar a meta
prevista no âmbito do 3º objectivo do ENDS 2015 de reduzir em 12,1% o valor dos resíduos
industriais relativamente aos valores do ano de 2001. [23]
É, ainda, relevante referir que a legislação sobre os RCD em Portugal (Decreto-Lei nº 46/2008
de 12 de Março) entrou em vigor em Junho de 2008 e estabelece uma mudança importante na
forma como este tipo de resíduos são agora encarados, tendo especial destaque as seguintes
medidas:
Quanto mais durável for um material, maior será também a sua vida útil e por consequência
menor será o seu impacte ambiental.
Esta noção é bem expressa por Mora [31], quando refere, como exemplo, que se se
aumentasse a durabilidade do betão de 50 para 500 anos, isso reflectir-se-ia numa redução do
seu impacte ambiental de um factor de 10 vezes.
Durante a fase de processamento dos materiais, os consumos energéticos são elevados,
portanto um material que seja durável ou que tenha menores necessidades de manutenção,
contribui, em geral, para uma poupança de energia. De igual modo, materiais mais duráveis
contribuem também para a diminuição dos problemas relacionados com a produção de
resíduos sólidos.
É, assim, evidente que os materiais de baixa durabilidade impliquem frequentes operações de
conservação, reabilitação ou mesmo substituição integral, consumindo materiais e energia.
Assim sendo, poderá ser mais vantajoso, em termos ambientais, um material de elevada
energia incorporada mas com uma elevada durabilidade comparativamente a um material com
uma menor energia incorporada mas com uma durabilidade bastante menor.
Embora a utilização de materiais reciclados ou materiais obtidos a partir de resíduos de outras
indústrias constitua um bom critério na procura de maior sustentabilidade, deve ser estudada a
possibilidade da durabilidade desses materiais sair afectada, reduzindo ou mesmo anulando a
aparente vantagem ambiental.
34
O betão armado surge, hoje em dia, como o material de construção mais utilizado na
construção em Portugal. No entanto, este material, que de início se julgava económico e
eterno, revela uma durabilidade limitada e muito dependente de onerosas intervenções de
manutenção e reabilitação. Na realidade, são inúmeros os casos de deterioração precoce de
estruturas de betão armado (Figura 3.3).
Figura 3.3 – Destacamento da camada de recobrimento em viga de betão devido à formação de produtos
de corrosão
A durabilidade deste material deve-se muito ao facto do material ligante (cimento Portland)
apresentar uma elevada quantidade de cal, facilmente susceptível de ataque químico, pelo que
a utilização de betões com materiais pozolânicos é um passo fundamental para o aumento da
durabilidade dos betões correntes. Também a utilização de ligantes alternativos ao cimento
Portland com uma durabilidade superior à deste material, como é o caso dos ligantes activados
alcalinamente, constitui um passo no sentido da sustentabilidade da construção [23].
Hoje em dia, projecta-se dando maior importância à resistência dos materiais em detrimento da
sua durabilidade. Esta situação deve mudar, ambos os aspectos devem ser conciliados, pois
com pequenos investimentos nas fases de concepção e construção é possível alargar bastante
o ciclo de vida dos edifícios. Neste sentido, devem utilizar-se materiais de construção e
sistemas construtivos que sejam duráveis, não esquecendo que as construções devem ser
flexíveis de forma a permitirem ajustes a novas utilizações. Quanto maior for o ciclo de vida de
um edifício, maior vai ser o período de tempo, durante o qual, os impactes ambientais
produzidos durante a fase de construção serão amortizados.
A análise de ciclo de vida (ACV), conhecida internacionalmente por Life Cycle Assessment
(LCA), é uma metodologia de avaliação dos impactes ambientais causados por um
35
determinado material ou produto durante todo o seu ciclo de vida. Esta metodologia foi utilizada
primeiramente nos Estados Unidos em 1990.
A análise de ciclo de vida “inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou actividade,
ou seja, a extracção e o processamento de matérias-primas, a fabricação, o transporte e a
distribuição, a utilização, a manutenção, a reciclagem, a reutilização e a deposição final” [32].
Internacionalmente, a aplicação de análises de ciclo de vida encontra-se regulamentada, desde
1996, pelas normas ISO 14040, ISO 14041, ISO 14042 e ISO 14043. Porém, as ACV possuem
um grande inconveniente, o de implicarem a existência de vastas quantidades de dados sobre
os impactes ambientais dos materiais em cada uma das fases do seu ciclo de vida.
As metodologias de ACV têm como base diversas categorias de impactes, cada qual com o
seu peso. É, portanto, compreensível que as ponderações das categorias de impacte possam
variar consoante a realidade ambiental de cada país.
As categorias de impactes ambientais habitualmente utilizadas para as ACV podem abranger
as seguintes:
Actualmente, existem diversas ferramentas informáticas que utilizam a ACV e que permitem
fazer uma avaliação do impacte ambiental de produtos e materiais de construção (Quadro 3.8):
37
4 SISTEMAS CONSTRUTIVOS
4.1 Introdução
Como se referiu anteriormente, neste capítulo vão reunir-se alguns exemplos de sistemas
construtivos que se consideram uma alternativa sustentável ao sistema tradicional – estrutura
em betão armado e alvenaria de tijolo cerâmico – considerado neste estudo como a solução de
referência no sector dos edifícios em Portugal.
Entenda-se por sistema construtivo a combinação das soluções construtivas utilizadas na
definição dos principais elementos de construção: pavimentos, paredes e coberturas. Por sua
vez, denomina-se por solução construtiva a combinação de materiais utilizados na
materialização dos diversos elementos de construção de um edifício.
Com a evolução da investigação científica, assistiu-se tanto ao aparecimento de novas
tecnologias construtivas mais compatíveis com o equilíbrio ambiental, como ao reaparecimento
38
de certas tecnologias utilizadas há já muitos milhares de anos e que acabaram por ser
abandonadas na maior parte do globo, como por exemplo, a taipa e o adobe.
De facto, com o evoluir da ciência aplicada à construção, aliada a uma crescente
consciencialização ecológica, o Homem passou a compreender melhor o comportamento de
alguns sistemas construtivos do passado e a corrigi-los de forma a torná-los mais eficientes.
Neste campo destaca-se a tecnologia BTC, que é uma solução relativamente recente.
Os sistemas construtivos em terra – taipa, adobe, e BTC – serão abordados nesta secção.
Em termos de novos sistemas construtivos, focar-se-á um exemplo que é já amplamente
utilizado noutros países, mas que em Portugal é ainda pouco conhecido: o sistema construtivo
em estrutura de aço leve (Light Steel Framing – LSF).
Na selecção dos sistemas construtivos mais adequados é necessário ter em conta alguns
factores importantes [33]:
Durabilidade das soluções em comparação com a vida útil projectada para o edifício;
Análise dos custos económicos ao longo do ciclo de vida;
Consumo energético ao longo do ciclo de vida;
Impacte ambiental de todos os materiais e componentes de construção utilizados;
Disponibilidade de materiais e de técnicos e empresas de construção com a adequada
formação para lidarem com a solução construtiva pretendida;
Requisitos de manutenção;
Flexibilidade da solução e o seu potencial de reutilização/reciclagem;
Distância de transporte prevista para cada material e componente.
Desde que o Homem constrói cidades, há cerca de dez mil anos, que existem construções em
terra crua. Este material foi um dos primeiros a ser utilizado pelo Homem na construção das
suas habitações, muito devido à abundância deste recurso na natureza.
Na antiguidade, este material foi largamente utilizado na Mesopotâmia e no Egipto (junto ao rio
Nilo). Foi, também, uma prática construtiva das civilizações Romana e, mais tarde, da
Muçulmana. Na Ásia, a terra foi muito utilizada pelos hindus e monges budistas e, na América,
pelas civilizações Maia e Inca. No continente Africano, a continuidade é assegurada pelas mais
diversas culturas em países como Marrocos, Nigéria, Mali ou Gana. [34]
Ao contrário do que se possa supor, a terra não foi apenas utilizada em edificações de
pequena escala, como habitações, mas também na construção de edifícios de maior escala,
como monumentos de grande importância militar e religiosa. Exemplos disso são grandes
troços da Muralha da China (Figura 4.1), o palácio de Potala no Tibete (Figura 4.2), as
39
pirâmides de Saqqarah no Egipto ou as ruínas de Chan Chan no Peru, com uma superfície de
2
14 km .
A primeira cidade da história foi edificada em Jericó, na Palestina. As casas foram construídas
em terra e a cidade rodeada por uma muralha maciça, erguida em blocos de terra [34]. Foi, de
facto, no Médio-Oriente que teve origem a construção em terra crua, bem como o conceito de
cidade.
Na Mesopotâmia, as planícies aluvionares junto aos rios Tigre e Eufrates, ricas em depósitos
de argila, eram uma excelente fonte de matéria-prima para este tipo de construção.
Entre as construções mais antigas com uso de terra, está também o Povoado de Taos, no
estado do Novo México, que foi erguido entre 1000 e 1500 D.C., com paredes de argila seca
ao sol e reforçada com fibras vegetais (Figura 4.3). [35]
40
Figura 4.3 - Edificações em terra (Taos, Novo México)
Efectivamente, são muitas as cidades que, hoje em dia, testemunham ainda o uso ancestral da
terra. Exemplo disso é a cidade histórica de Shibam, no Iémen, que ainda hoje é habitada e
teve origem no século III, embora a maioria dos edifícios que persistiram até hoje sejam do
século XVI (Figura 4.4). A cidade possui as mais altas construções do mundo erigidas em terra
crua, sendo constituída por edifícios que possuem entre 5 e 11 andares. Estes são construídos
com paredes exteriores em adobe cuja espessura vai diminuindo em altura para aligeirar o seu
peso e melhorar a estabilidade. [35]
Na Europa, as habitações rurais em terra fazem parte da paisagem de vários países, tais
como: Dinamarca, Suécia, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha e Portugal. Foi com o
Império Romano que se deu uma enorme expansão da construção em terra pela Europa.
Já na Península Ibérica, a construção em terra surge por influência de diversos povos, não só
os Romanos, mas também os Fenícios, Cartagineses e, principalmente, pelos Muçulmanos. De
facto, foram estes últimos que mais divulgaram este tipo de construção, existindo ainda alguns
41
exemplos de arquitectura militar islâmica em taipa no nosso país, como o Castelo de Paderne
ou o de Silves (taipa forrada a pedra vermelha grés). [35]
Em Portugal, a construção em terra data de há várias centenas de anos. Contudo, no início do
século XX este tipo de construção sofreu um declínio, dando lugar à construção em tijolo de
barro cozido. Já no final do mesmo século, assiste-se ao início de um movimento edificatório
no Sul do país com o fim de retomar as técnicas ancestrais da construção em terra crua.
Actualmente, podem ainda observar-se espalhados por quase todo o território nacional, vários
edifícios antigos que ilustram as diversas técnicas tradicionais de construção em terra.
Na zona do Alentejo e Algarve, ainda hoje se podem encontrar exemplares construídos em
taipa (Figura 4.5a), técnica que consiste na execução de paredes auto-portantes in situ.
Já na zona Centro do país, numa faixa que se estende de Sul para Norte e que abarca os
distritos de Setúbal, Évora, Portalegre, Santarém, Leiria, Coimbra e Aveiro, predominam os
edifícios de paredes construídas com recurso a blocos de terra (adobe) (Figura 4.5b).
A Norte do país, na zona das Beiras (Alta e Baixa), Trás-os-Montes e entre Douro e Minho,
encontram-se com maior incidência exemplares da construção em tabique, em que as paredes
dos edifícios são constituídas por um engradado de madeira e preenchidas por terra (Figura
4.5c).
Figura 4.5 - Distribuição geográfica das construções tradicionais Portuguesas em terra: a) Taipa; b)
Adobe; c) Tabique [36]
Na actualidade, estima-se que cerca de 50% da população mundial vive em habitações feitas
com terra crua, algo como 3.000 milhões de pessoas. [35]
Em síntese e de modo a permitir uma visualização mais abrangente da expansão e distribuição
da construção de terra a nível mundial, apresenta-se a Figura 4.6.
42
Figura 4.6 – Mapa-mundo – Zonas com elevada densidade de construção em terra [35]
Hoje em dia, a tradição da construção em terra crua mantém-se em cidades de África e Médio
Oriente, onde se encontram, por exemplo, Kano na Nigéria, Tombouctou no Mali ou Shibam no
Iémen (como atrás já foi referido). [34]
4.2.2 O material
No método de estabilização pela adição de fibras, a palha continua a ser hoje em dia a fibra
mais utilizada. No entanto, são também utilizadas redes de fibra de vidro ou aço.
A utilização de fibras permite diminuir e evitar a fissuração nos processos de secagem das
paredes, permitindo distribuir as tensões de retracção da argila por toda a massa. A utilização
da palha, em específico, permite diminuir a massa volúmica do material e aumentar a
resistência mecânica. No entanto, a palha apresenta a desvantagem de se degradar quando
exposta por períodos prolongados a ambientes húmidos.
Hoje em dia, o cimento é o estabilizante mais utilizado. A adição de cimento à terra apresenta
duas reacções principais: a aglomeração das partículas estáveis e uma reacção com a argila,
tornando-a mais estável.
No que diz respeito à adição de cal, a reacção pozolânica é a principal de várias reacções que
esta estabelece com a terra. Verifica-se uma dissolução dos minerais argilosos num ambiente
alcalino, produzido pela cal e a combinação da sílica e do alumínio das argilas com o cálcio,
para formar silicatos de alumínio e cálcio, que aglutinam as partículas. [37]
A utilização de betume pode ser feita através da mistura com solventes, disperso numa
emulsão ou aquecido. O betume aumenta a resistência da terra à água, melhorando a coesão
de solos pouco colantes. Para uma distribuição eficaz e homogénea do betume, é necessária
muita água, pelo que o adobe é a técnica que mais convém a este material de estabilização.
A construção monolítica pode ser executada de variadas formas. A taipa, por exemplo, a
técnica mais conhecida em Portugal, consiste basicamente na execução de grandes blocos de
terra moldada in situ, compactada com pisões, dentro de cofragens de madeira (taipal).
44
Quanto à construção por unidades, ou seja, a execução de paredes em alvenaria de terra, são
utilizados diferentes tipos de unidades pré-fabricadas, como o adobe, o bloco de terra
comprimido (BTC), os blocos de terra recortada ou terra extrudida.
O adobe é um bloco produzido mediante a moldagem de terra plástica, por um processo de
fabrico manual ou mecânico, que é depois seco ao sol.
Já o BTC produz-se pela prensagem da terra no seu estado húmido, podendo ter um processo
de fabrico mecânico ou hidráulico.
Por último, entre as técnicas de construção por enchimento e revestimento encontra-se o
tabique, também designada por taipa de mão, pau-a-pique ou barro armado no Brasil, torchis
em França, ou por wattle and daub no Reino Unido. Esta técnica consiste na execução de um
engradado de madeira, cana ou vime, que é preenchido com terra argilosa, podendo conter
fibras vegetais (Figura 4.7).
A construção em terra recorre actualmente a uma grande variedade de técnicas, desde as mais
rudimentares até aos procedimentos mais sofisticados, industriais, mecanizados e
automatizados.
Os parâmetros de produção têm uma influência considerável na qualidade do produto, sobre os
rendimentos e sobre a economia da solução. A optimização da produção pode ser decisiva
para a aceitabilidade e fiabilidade económica do produto.
Actualmente, são empregues essencialmente três técnicas construtivas em terra: a taipa, o
adobe e o BTC, as quais se irão abordar nos capítulos seguintes.
4.2.3.1 Taipa
45
Esta técnica, também designada por pisé em França e tapial em Espanha, encontra-se
disseminada a nível mundial e muitas dessas construções já fazem parte do património
mundial da UNESCO.
Este método requer pouca quantidade de água e por essa razão esta técnica encontra-se com
mais frequência em regiões secas, onde a água não abunda.
Na sua utilização tradicional, este processo implicava prazos de obra muito longos.
Actualmente, o processo agilizou-se através da aplicação de cofragens metálicas deslizantes e
sistemas mecânicos de compactação da terra. Para este processo, recorre-se quase sempre a
adições de cimento ou cal à terra.
Esta forma de construir exige alguma perícia e formação na área, uma vez que são
necessários alguns cuidados. As principais dificuldades estão em reunir uma terra adequada e
garantir boas condições de humidificação, para obter uma compactação eficaz.
Nesta técnica, a terra é colocada nas paredes em camadas sucessivas de cerca de 60 cm de
altura e 2 m de comprimento. Em geral, as fundações tradicionais eram executadas em
alvenaria de pedra, de forma a evitar a ascensão de humidade nas paredes de taipa.
Actualmente, este processo tradicional ainda se aplica em pequenas obras. A compactação da
terra é realizada em camadas de aproximadamente 10 cm, até se preencher todo o taipal,
sendo este posteriormente removido e recolocado para a camada seguinte.
Na Figura 4.9 apresenta-se um taipal tradicional constituído por dois taipais laterais, duas
comportas e quatro costeiros que junto com as agulhas fazem o travamento do molde.
46
Taipal
Comporta
Costeiros
É fundamental garantir que os elementos de cofragem tenham uma elevada rigidez de forma a
suportar tensões elevadas, bem como os impactos de vibração da compactação. Também
neste processo, à semelhança da descofragem de paredes de betão, pode utilizar-se um óleo
descofrante na face interior dos painéis.
Outra fase crucial do processo de construção em taipa diz respeito à compactação. Esta
operação é realizada manualmente com recurso a pilões, também designados por maços ou
malhos. Embora os equipamentos utilizados variem muito de país para país, considera-se
como peso óptimo para uma ferramenta de compactação cerca de 5 a 9 Kg [38]. Este processo
de apiloamento requer rapidez para que a compactação seja realizada com a terra na
humidade correcta de maneira a obter a coesão desejada (Figura 4.10).
Figura 4.10 – Diferentes tipos de pilões ou maços utilizados na taipa tradicional [38]
Os autores Maniatidis e Walker [39] referem que apesar da actividade de compactação ser
3
muito morosa, uma equipa de 3 trabalhadores pode executar 1,5 a 3 m de taipa diariamente
com recurso a compactação manual.
Tradicionalmente, a construção em taipa obedecia a um ciclo que se relacionava com as
estações do ano. Assim, a construção iniciava-se na Primavera. Durante o Verão a terra
secava, adquirindo maior dureza. No Outono e Inverno, os agregados de maior dimensão
“migravam” para junto da parede exterior, por acção da chuva, produzindo uma superfície com
47
boa aderência para o reboco, que só era executado na Primavera seguinte, junto com a
caiação, ou conferindo esta última, por si só, uma boa protecção da parede. [37]
Hoje em dia, através das novas tecnologias, já é possível agilizar todo o processo da
construção em taipa, num processo a que se dá o nome de taipa mecanizada. Esta técnica
difere da taipa tradicional apenas na qualidade e dimensões da cofragem e no meio de
compactação.
No processo actual (taipa mecanizada), é prática comum recorrer-se a painéis de cofragem
deslizantes, painéis integrais e, no caso da parede ficar oculta, também se podem utilizar
sistemas de cofragem perdidos.
A escolha dos materiais para a cofragem e dimensões dependem da textura que se pretende
obter na parede de taipa, utilizando-se hoje em dia cofragens de diversos materiais, tais como
contraplacado, alumínio, aço e fibra de vidro (Figura 4.11).
48
Figura 4.12 - Compactação de terra por meios mecânicos (compressor pneumático) [40]
A terra utilizada na taipa é normalmente arenosa, rica em pedras e pouco argilosa. A terra
depositada em zonas aluvionares é habitualmente aproveitada para as paredes em taipa.
Muitas vezes, para aumentar a resistência mecânica à tracção da terra, é adicionada uma fibra
vegetal (palha) ou sintética, como se referiu anteriormente. A argila funciona como elemento
aglutinador, a areia confere rigidez à estrutura e a gravilha proporciona resistência mecânica.
Em termos gerais, a granulometria de uma terra destinada a taipa deve conter,
aproximadamente [41]:
Argila: 15-25%;
Silte: 20-35%;
Areia: 40-50%;
Gravilha: 0-15%.
Normalmente, só deve ser preparada a terra que se vai utilizar diariamente, de forma a evitar
que a terra esteja susceptível a uma humidificação excessiva durante a noite ou à chuva.
4.2.3.2 Adobe
O adobe é uma técnica de construção de paredes com tijolos maciços de terra crua,
preparados em moldes e secos ao sol. Esta é uma das técnicas mais antigas de construção em
terra, permitindo além da construção de paredes, a edificação de arcos, abóbadas e cúpulas.
O termo adobe deriva do árabe attob que significa tijolo seco ao sol. Esta técnica foi
implementada na Península Ibérica aquando da ocupação árabe.
Esta técnica consiste na moldagem de pequenos blocos, normalmente utilizando moldes em
madeira, desmoldados ainda no estado fresco e colocados a secar à temperatura ambiente
(Figura 4.13).
49
Figura 4.13 - Produção manual de adobes [38]
As dimensões e formatos dos blocos de adobe são diversas, podendo ser fabricados blocos
simples ou com encaixe do tipo macho-fêmea para melhorar o travamento da parede.
Para o fabrico dos blocos de adobe, a terra é misturada com água e, por vezes, reforçada com
fibras vegetais (geralmente palha) ou sintéticas, de forma a obter um bloco consistente.
Esta forma de construir é muito semelhante à colocação do tijolo convencional formando uma
alvenaria. O assentamento dos adobes realiza-se com argamassas à base de terra de forma a
obter um melhor comportamento de conexão entre os materiais, mantendo assim o mesmo
nível de retracção e evitando o aparecimento de fissuras ou destacamento do material.
Actualmente, à semelhança do que se verifica no caso da taipa, também a construção em
adobe faz uso da tecnologia actual utilizando máquinas semelhantes às agrícolas, o que
permite um fabrico mecanizado e mais rápido dos blocos (Figura 4.14).
A composição da terra é um aspecto fundamental. Não se devem utilizar solos com argilas
expansivas. As terras utilizadas no fabrico dos adobes podem ter maior teor em argila do que
no caso da taipa. De seguida indica-se a composição granulométrica de referência da terra
destinada a incorporar blocos de adobe [42]:
Argila: 15-18%;
50
Silte: 10-28%;
Areia: 55-75%.
4.2.3.3 BTC
O BTC – bloco de terra comprimido – é um dos métodos de construção em terra mais utilizados
actualmente. Esta técnica surge de uma evolução do adobe por estabilização do solo através
de meios mecânicos, consistindo da prensagem do solo confinado num molde, o que permite
obter blocos de terra prensada com melhores características que os blocos de adobe.
Efectivamente, quando comparados com os blocos tradicionais de adobe, os blocos de BTC
têm formas e dimensões mais regulares e densidades superiores, oferecendo assim uma
melhor resistência à compressão, bem como a resistência à erosão e à degradação através do
contacto com a água.
Esta é uma técnica relativamente recente, desenvolvida nos anos 50, no âmbito de um
programa de pesquisa sobre habitação rural na Colômbia [37]. Nesse mesmo âmbito, foi
desenvolvida, pelo Engenheiro Raul Ramirez, a primeira prensa manual para compactar blocos
de terra, denominada prensa CINVA-Ram. Na Figura 4.15 pode observar-se a execução de um
BTC com a prensa CINVA-Ram.
51
a) b)
d)
c)
Figura 4.15 - Execução de BTC com a prensa CINVA-Ram: a) Enchimento da câmara com terra; b)
confinamento da mistura; c) elevação do BTC; d) retirada do BTC [35]
Estes blocos compactados com recurso a prensas manuais requerem mais mão-de-obra e
tempo de fabrico. Por outro lado, têm a vantagem de ser mais económicos em termos de
consumo energético e facilidade de transporte para o local de obra.
Actualmente existe equipamento adaptado a diferentes escalas de produção, os blocos de BTC
são produzidos tanto em pequenas oficinas locais, para a execução de uma obra específica,
como em produções semi-industriais e industriais. Como tal, além da prensa manual, pode
ainda ser utilizada uma prensa hidráulica.
O bloco de terra compactado em prensa hidráulica não requer força manual, tornando-se num
processo de fabrico mais rápido, sobretudo em máquinas com capacidade de compactar
diversos blocos ao mesmo tempo. Além disso, também torna o processo bastante fiável, uma
vez que não depende tanto do operador.
Estes blocos apresentam resistências mecânicas substancialmente superiores em relação aos
prensados manualmente. Tendo ainda uma maior resistência ao contacto com a água uma vez
que existe uma menor quantidade de vazios. [35]
As prensas hidráulicas podem ser fixas ou móveis (Figura 4.16). Estas últimas permitem uma
maior mobilidade, podendo os blocos ser executados no local da obra à semelhança das
prensas manuais, utilizando a terra do local e permitindo uma maior rapidez de fabrico. Assim,
52
é possível atingir-se uma maior sustentabilidade deste tipo de construção, evitando-se o
transporte economicamente desvantajoso dos blocos.
a)
b)
Figura 4.16 - Prensa hidráulica para fabrico de BTC: a) Fixa; b) Móvel [43]
Na construção em BTC, os limites para a constituição do solo não diferem muito dos que se
referiram para o caso do adobe, recomendando-se os seguintes valores [44]:
Argila: 1-20%;
Silte: 10-20%;
Areia: 50-70%.
Este método de construção em terra (BTC) é aquele que implica prazos de construção mais
curtos, pois praticamente não exige tempo de espera entre a produção e a aplicação do
material. A produção pode ser assegurada todo o ano, independentemente das condições
climatéricas. [37]
53
4.2.4 Sustentabilidade da construção em terra
A utilização de solo para a construção em terra não pode propriamente considerar-se como a
utilização de um recurso renovável. Contudo, este tipo de construção em muito difere dos
impactes ambientais provocados pela actividade extractiva de materiais para o fabrico de
cimento, para o fabrico de tijolos cerâmicos ou mesmo do aço, os quais produzem grandes
depósitos de escombreiras e lagos de lamas, pois regra geral o solo utilizado na construção em
terra localiza-se imediatamente abaixo da camada de terra vegetal. Efectivamente, a utilização
de solo para a construção em terra envolve em termos gerais e basicamente a remoção da
camada superficial de terra vegetal e não tem impacte significativo em termos energéticos dado
que é uma tarefa que pode ser efectuada manualmente.
Segundo o autor Houben [45], a produção de betão consome cerca de 100 vezes mais energia
que um material natural como a terra.
Como tal, a terra é um material ecológico pois não utiliza recursos escassos, não é poluente e
não carece de processos de transformação da matéria-prima que recorram a meios
energéticos dispendiosos.
Além disso, esta é uma matéria-prima abundante, estando disponível em praticamente todas
as localizações. Isto significa que, em muitos casos, é possível a construção em terra a partir
de solo extraído do próprio local da obra, ou perto, reduzindo-se o consumo de energia e
emissões de gases poluentes causados pelo transporte deste material. Já a utilização de
alvenarias de tijolos cerâmicos ou de betão cuja produção é muito localizada e raramente
54
próximo das zonas de construção dos edifícios de habitação implicam sempre elevadas
distâncias de transporte com os consequentes impactes em termos de emissões de poluentes
gasosos. [35]
No que diz respeito à geração de resíduos, a construção em terra praticamente não gera
resíduos, excepto aqueles decorrentes da utilização de outros materiais. Os desperdícios da
construção em terra (não estabilizados) podem simplesmente ser objecto de deposição no local
da sua extracção sem qualquer perigo ambiental envolvido. Mesmo quando é objecto de
estabilização com cal ou cimento, o solo pode voltar a ser reutilizado neste tipo de construção.
[35]
A construção em terra, por utilizar um material natural e, portanto, não tóxico, não está, regra
geral, associada aos efeitos nocivos da contaminação do ar interior com COV’s, pelo que não
apresenta qualquer efeito pernicioso à saúde dos ocupantes destes edifícios.
Uma outra vantagem da construção em terra diz respeito à sua capacidade de regular o nível
de humidade relativa no ar interior. [38]
Arundel et al [46] referem que níveis de humidade relativa acima de 70% são responsáveis
pelo aparecimento de bolores, os quais podem desencadear reacções alérgicas. Valores de
humidade relativa acima de 60% estão associados à presença de ácaros e doenças do foro
asmático [38].
Por outro lado, valores de humidade relativa abaixo de 40% estão ligados ao síndrome dos
“edifícios doentes”, típico de ambientes muito secos. A exposição prolongada a este tipo de
ambiente dá lugar a uma secagem da mucosa respiratória, propiciando o aparecimento de
doenças do foro respiratório como amigdalites, faringites e bronquites. [47]
A partir destas considerações, conclui-se que, para efeitos de saúde humana, o teor de
humidade relativa do ar interior deve manter-se entre 40% e 60%. Sendo que a construção em
terra consegue manter os níveis de humidade relativa neste intervalo. [48]
Em termos de comportamento térmico, a construção em terra é caracterizada por possuir uma
elevada massa por unidade de superfície. Os edifícios que empregam esta tecnologia possuem
assim elevada inércia térmica, o que a torna adequada a zonas climáticas com grandes
amplitudes térmicas. Este facto permite grande economia de energia durante a fase de
operação, já que os edifícios em terra consomem menos energia em aquecimento e
arrefecimento.
Também devido à sua elevada massa, as paredes em terra apresentam-se como um excelente
isolante acústico, o que contribui para o conforto no interior das habitações.
No que respeita ao comportamento ao fogo, o facto da terra crua ser incombustível contribui
para a protecção do ambiente da poluição atmosférica e da desflorestação.
Em termos de durabilidade, a construção em terra é uma tecnologia utilizada há milhares de
anos, existindo exemplos de edifícios com vários séculos de existência, que ainda se
55
encontram em perfeito estado de conservação. De facto, as construções em terra têm uma
elevada durabilidade, desde que devidamente protegidas contra as condições climatéricas
mais severas – por exemplo, devido à porosidade da terra, esta deve ficar protegida da chuva e
não deve ficar exposta a longos períodos de humidificação. É essencial proteger o topo da
parede da humidade da chuva e a sua base da humidade do terreno. Assim sendo, este tipo de
construção necessita de adequada manutenção e conservação.
Na fase de fim-de-vida os materiais de terra crua podem ser devolvidos à natureza com maior
facilidade do que qualquer outro material. De facto, a terra, quando utilizada sem aditivos, pode
ser reutilizada um número ilimitado de vezes, não constituindo, portanto, um resíduo nocivo
para o ambiente após a sua demolição. Mesmo quando é objecto de estabilização com cal ou
cimento, o solo pode voltar a ser reutilizado neste tipo de construção.
56
Tendo em conta os padrões de qualidade actuais, a utilização apenas de terra e dos meios
tradicionais é praticamente impossível, sendo necessário recorrer pontualmente ao betão e a
outros materiais correntes.
Uma construção em terra deverá ter em conta as suas limitações e fragilidades durante os
processos de concepção e construção para que possa ter sucesso. Assim, são normalmente
tidos em especial consideração aspectos como [49]:
57
4.3 Sistemas construtivos em estruturas de aço leve – Light Steel
Framing
4.3.1 Enquadramento
58
construção, diminui a quantidade de mão-de-obra e equipamento pesado necessários, melhora
as condições de higiene e segurança em obra e diminui a quantidade de desperdícios.
4.3.2 Constituição
4.3.2.1 Estrutura
Figura 4.17 - Perfis "C" utilizados na estrutura de sistemas construtivos LSF [51]
Estas peças variam tanto na secção, como na espessura, consoante o tipo de soluções
adoptadas e as cargas a que o edifício estará sujeito.
Na estrutura das paredes é comum usarem-se perfis com alturas da secção variáveis entre os
80 e os 150 mm, e espessura da chapa compreendida entre os 0,8 e os 2 mm. [52]
Na estrutura das lajes, a altura mínima da secção dos perfis é de 150 mm e a máxima pode
atingir os 300 mm, com espessura da chapa variável entre 1,5 e 4 mm.
Nos sistemas LSF, a ligação dos diversos elementos estruturais é, geralmente, mecânica, feita
por aparafusamento. Outra alternativa é a ligação ser feita por soldadura, a qual implica
maiores tempos de construção e torna mais complexo o desmantelamento do edifício no final
da sua vida útil, pelo que é pouco utilizada.
Os parafusos utilizados na ligação das peças metálicas são de aço galvanizado, auto-
perfurantes e auto-roscantes (Figura 4.18), isto porque os parafusos abrem o seu próprio
orifício no perfil, não sendo necessária furação prévia e, por outro lado, não necessitam de
porca. De igual modo, os materiais que revestem a estrutura, tanto pelo interior, como pelo
exterior, são fixos por parafusos. São utilizados vários géneros de parafusos, consoante o tipo
59
de elementos que se pretendem ligar, diferindo essencialmente em comprimento, espessura,
formato da cabeça e tipo de broca.
As paredes exteriores do sistema LSF são compostas por diversas camadas que
desempenham funções diferentes, de modo a satisfazer as várias exigências – estruturais,
térmicas, acústicas, etc. (Figura 4.19).
INT. EXT.
Painel OSB
Rodapé
Membrana betuminosa
Piso térreo
Viga de fundação
Figura 4.19 - Representação esquemática de uma possível solução construtiva para as paredes
exteriores no sistema LSF [12]
4
Também conhecido por ETICS – do inglês “External Thermal Insulation Composite Systems”
60
Na Figura 4.20 poderá observar-se, com maior pormenor, uma representação esquemática do
ETICS.
Figura 4.20 – ETICS - Sistema de Revestimento e Isolamento Térmico pelo Exterior [53]
As paredes interiores do sistema LSF são do tipo sanduíche, revestidas com painéis de gesso
cartonado em ambas as faces, sendo o seu interior preenchido com material absorvente
acústico, em geral lã de rocha, como se referiu anteriormente (Figura 4.21).
Figura 4.21 - Representação esquemática da solução construtiva das paredes interiores dos sistemas
LSF: 1 – painel de gesso cartonado; 2 – lã de rocha; 3 – estrutura da parede [12]
Existem várias soluções construtivas para as lajes de piso. Estas relacionam-se com o tipo de
revestimento estrutural e o tipo de perfis estruturais utilizados – neste caso, perfis C - que
62
poderão ser laminados caso a laje esteja sujeita a sobrecargas significativas. Na Figura 4.22
podem observar-se duas possíveis soluções construtivas para as lajes de piso.
Figura 4.22 - Representação esquemática de laje do sistema LSF. a) com revestimento estrutural em
painéis OSB; b) com revestimento estrutural em chapas de cofragem colaborante [12]
Em geral, o revestimento estrutural das lajes de piso é realizado através de painéis de OSB,
podendo, em alternativa, optar-se pela aplicação de painéis de aglomerado de madeira e
cimento ou painéis metálicos de cofragem colaborante com laje de betão armado de pequena
espessura. Esta última solução, apesar de apresentar um fraco potencial em termos de
reutilização e reciclagem dos materiais utilizados, é aquela que tende a ser mais eficaz em
termos térmicos, especialmente em zonas climáticas de grande amplitude térmica, já que a sua
superior massa produz um impacto positivo na inércia térmica deste tipo de construção –
normalmente baixa. [12] Sobre o revestimento estrutural pode ser aplicado qualquer tipo de
pavimento/acabamento.
O revestimento estrutural, na face inferior da laje (tecto), é, geralmente, executado através de
painéis de gesso cartonado.
O comportamento térmico e acústico da laje pode ser melhorado através da interposição de
mantas de lã de rocha nas cavidades entre os perfis, ou seja, entre o tecto e o revestimento
estrutural superior.
4.3.2.5 Cobertura
63
fim, a solução de impermeabilização, geralmente uma tela de PVC com fixação mecânica e
vulcanização [53].
Na cobertura inclinada, a estrutura é composta por asnas de aço galvanizado. A
impermeabilização da cobertura pode ser efectuada pela aplicação de telha cerâmica, metálica,
asfáltica, PVC, entre outros. No caso de se optar pela aplicação da telha cerâmica, a
impermeabilização deve ser reforçada através da aplicação de uma sub-telha ou, em
alternativa, telas de impermeabilização. O tecto é suspenso e realizado por painéis de gesso
cartonado, sobre os quais assenta a solução de isolamento térmico, geralmente em lã de
rocha.
4.3.3.1 Fundações
4.3.3.2 Estrutura
64
edifício convencional é construído com blocos de alvenaria transportados da fábrica para a
obra, também neste caso os perfis metálicos são transportados para a obra, onde
posteriormente são cortados e montados.
As paredes são o elemento de suporte vertical. Para evitar a degradação dos materiais pela
humidade ascensional do terreno, deve-se interpor entre as fundações e as paredes uma tela
betuminosa de impermeabilização. [12]
De seguida procede-se à montagem da estrutura das paredes através da ligação dos vários
elementos que a compõem. A este processo chama-se “painelização”. A painelização é
realizada na horizontal, numa bancada de montagem (Figura 4.24), sendo os painéis
posteriormente colocados em obra e fixados às fundações através de buchas de ancoragem
(Figura 4.25).
Figura 4.25 - Exemplo de ancoragem entre estrutura metálica e fundação em betão armado [53]
65
realizada viga a viga, aparafusando-as aos perfis das paredes do piso inferior. Quando os vãos
tiverem dimensões relativamente pequenas, pode recorrer-se ao processo de painelização, já
referido para a construção estrutural das paredes.
Em último lugar, realiza-se a estrutura da cobertura. Esta estrutura é, também, totalmente
constituída por elementos metálicos – vigas e/ou asnas. As asnas são montadas na horizontal
em fábrica ou em estaleiro e, posteriormente, colocadas em obra com o espaçamento definido
no projecto. Na Figura 4.26 pode observar-se a sequência de construção de uma cobertura
LSF em asnas.
Em comparação com uma solução tradicional de cobertura inclinada, este sistema, mais leve,
permite criar coberturas com as mais diversas formas e tirar partido de vãos maiores.
Concluída, a estrutura de um edifício LSF assemelha-se a uma enorme gaiola de peças
metálicas todas interligadas através de parafusos auto-roscantes (Figura 4.27).
66
Figura 4.28 - Abertura estrutural de vão de janela em superfície de parede exterior [53]
Figura 4.29 - Aspecto visual de uma construção LSF em fase de aplicação de revestimento estrutural
(painéis OSB) [52]
Figura 4.30 - Exemplo de aspecto final de um edifício construído com o sistema LSF [52]
68
4.3.3.6 Revestimento interior
O revestimento do interior das paredes exteriores e das paredes interiores realiza-se através
de painéis de gesso cartonado, que são aparafusados directamente à estrutura metálica.
Geralmente, no revestimento do paramento interior das paredes exteriores sobrepõem-se pelo
menos duas camadas de painéis, enquanto que no revestimento das paredes interiores utiliza-
se apenas uma camada [12].
Antes da colocação dos painéis de gesso cartonado, procede-se ao preenchimento da
cavidade, entre os dois paramentos, com lã de rocha.
As juntas entre os painéis e o local dos parafusos são devidamente tratadas de forma a obter
uma superfície uniforme, sem descontinuidades, ficando pronta para receber qualquer tipo de
revestimento final (pintura, azulejos, papel de parede, etc.).
Quadro 4.1 - Resumo dos atributos da construção em aço como construção sustentável (adaptado de
[54])
Atributos Descrição
69
Atributos Descrição
Os capítulos seguintes abordam os atributos mais importantes atribuídos a cada fase do ciclo
de vida das construções em LSF.
70
Quadro 4.2 - Atributos sustentáveis da construção em LSF na fase de concepção (adaptado de [54])
Atributos Descrição
A industrialização inerente ao sistema LSF permite uma maior eficiência em relação ao tempo,
custo, consumo de materiais e de recursos, sendo este um caminho para a construção
sustentável.
No Quadro 4.3 podem observar-se os atributos sustentáveis do sistema LSF na fase de
construção.
71
Quadro 4.3 - Atributos sustentáveis da construção em LSF na fase de construção (adaptado de [54])
Atributos Descrição
Projectar edifícios para uma vida útil longa e para o mínimo de encargos operacionais são
aspectos-chave da construção sustentável. Como tal, prolongar a vida útil dos edifícios,
utilizando sistemas construtivos baseados no aço, maximiza a valorização do investimento em
recursos financeiros e materiais. A necessidade de recurso a frequentes reconstruções, não só
é um desastre económico, como também é ambientalmente adverso.
No Quadro 4.4 estão listados os atributos sustentáveis do sistema LSF na fase de operação.
72
Quadro 4.4 - Atributos sustentáveis da construção em LSF na fase de operação (adaptado de [54])
Atributos Descrição
73
Atributos Descrição
Nos casos em que não é possível, ou é indesejável, prolongar a vida útil do edifício através da
adaptação ou reabilitação e, portanto, a desconstrução torna-se inevitável, é importante que os
impactes em fim-de-vida sejam minimizados. Esta questão envolve, principalmente, minimizar a
poluição e a geração de resíduos, assim como, garantir que os materiais são recuperados,
reutilizados e reciclados.
No Quadro 4.5 apresentam-se os atributos sustentáveis do sistema LSF na fase de fim-de-vida.
Atributos Descrição
74
4.3.5 Factores limitadores
Um dos inconvenientes do sistema LSF diz respeito à sua fraca inércia térmica e às
consequências que este facto pode ter em termos de desempenho térmico. No entanto, como
já se referiu anteriormente, através da aplicação de materiais de elevada qualidade em
soluções adequadas consegue-se obter um desempenho térmico muito satisfatório.
Outra questão diz respeito às dificuldades em oferecer preços competitivos com os preços
aplicados na construção tradicional, já que é um sistema que ainda se encontra em fase inicial
de implementação. Certamente que um preço reduzido seria um factor aliciante à
experimentação deste sistema.
Por outro lado, verifica-se uma resistência cultural à aplicação de novas soluções construtivas,
não só pelos investidores, como também por parte dos construtores e, ainda, por parte dos
próprios utilizadores finais. Isto deve-se sobretudo à falta informação acerca da tecnologia, ao
risco de não aceitação associado e à falta de mão-de-obra especializada.
A construção rápida e seca efectuada maioritariamente por aparafusamento dos elementos, a
ausência de aplicação de materiais “pesados” e mesmo o som de parede oca que se ouve ao
bater nas paredes interiores, são questões que podem estabelecer uma relação imediata com
soluções “pré-fabricadas” às quais está associada a noção de construção temporária, pouco
durável, efémera, a que os portugueses nunca aderiram. [53]
Em conclusão, o sistema LSF, apesar das suas limitações e dificuldades de implementação no
sector nacional, apresenta grande potencial de resposta às exigências actuais da construção,
como se viu anteriormente através das inúmeras vantagens que caracterizam o sistema.
75
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Conclusões
Os desafios ambientais que o Planeta Terra enfrenta são muito graves e a sua solução requer
medidas urgentes e significativas.
O sector da construção, pela magnitude dos seus impactes ambientais, é um daqueles no qual
importa quanto antes agir no sentido de se reduzirem os consumos de materiais e de outros
recursos e de se minimizarem as emissões poluentes e a geração de resíduos.
Como se viu, os materiais de construção podem ter um contributo importante para a
sustentabilidade da indústria da construção. Materiais produzidos a partir de resíduos, não
tóxicos, com elevado nível de reciclagem, mais duráveis, que incorporem menos energia ou
que sejam escolhidos mediante uma análise do seu ciclo de vida, constituem soluções
inequívocas de contributos para uma construção sustentável.
A análise de ciclo de vida, embora seja a forma cientificamente mais adequada para avaliar o
desempenho ambiental de um determinado material, trata-se de uma metodologia muito
morosa e que padece de algumas incertezas, como se referiu no quarto capítulo deste
trabalho. Outra questão de que depende o sucesso da ACV diz respeito à necessidade de
existirem, em cada país, bases de dados exaustivas sobre os impactes ambientais associados
ao fabrico dos diferentes materiais e também aos diferentes processos construtivos. Isto é algo
que dificilmente pode ser extrapolado a partir de estudos realizados noutros países, devido a
diferenças óbvias que se prendem com contextos tecnológicos e económicos.
Após a abordagem da sustentabilidade dos materiais de construção e tendo como base todos
os conceitos abordados nessa óptica, no quinto capítulo desta dissertação, reuniram-se alguns
exemplos de sistemas construtivos que possuem inegáveis vantagens em termos de
sustentabilidade: os sistemas construtivos em terra – a taipa, o adobe e o BTC – e os sistemas
construtivos em estruturas de aço leve – Light Steel Framing.
No que diz respeito à construção em terra, no panorama nacional, ao contrário do que já
acontece noutros países, não tem havido infelizmente um forte movimento em torno da
recuperação destas técnicas ancestrais, o que é um facto bastante contraditório tendo em
conta as condições climatéricas favoráveis de Portugal e o facto deste tipo de construção fazer
parte do património edificado nacional. Contudo, deve referir-se que nos últimos anos se tem já
verificado um interesse crescente pela construção em terra. De facto, denota-se o
aparecimento de uma dinâmica formativa e um interesse das novas gerações de arquitectos
por este tipo de construção, que aliás se explica pelo crescente reconhecimento destas
construções como possuidoras de maior sustentabilidade, apesar de ainda não se encontrar
uma correspondência ao nível do sector da construção civil, se não exemplos pontuais.
76
Ao nível da pesquisa e estudos técnicos e tecnológicos, caminha-se para responder ao desafio
da renovação das técnicas de construção em terra crua, adaptadas às tecnologias e exigências
actuais de funcionalidade, de conforto e de segurança.
As principais técnicas de construção em terra crua evoluíram de uma utilização tradicional,
para passarem a recorrer aos actuais meios tecnológicos, permitindo isto obter melhores
resultados em termos de qualidade do produto final e rapidez dos processos produtivos,
principais factores que ao longo dos tempos acabaram por desmotivar a sua utilização.
Em relação ao adobe e ao BTC, existem hoje máquinas que através de simples processos
mecânicos ou hidráulicos podem permitir uma produção de blocos mais rápida e uniforme, com
custos relativamente baixos.
No caso da taipa, também se assistiram a alterações e melhorias, como a compactação da
terra através de compressores pneumáticos, o que permite maiores densidades e uma maior
uniformidade.
Os processos mecanizados possuem apenas a desvantagem de consumirem mais energia no
processo de fabrico face às técnicas de construção em terra tradicionais, no entanto continua a
ser uma construção vantajosa, mais eco-eficiente e saudável comparativamente à construção
convencional em betão armado.
Por outro lado, a estabilização da terra com cimento e/ou cal é um processo já bem dominado
e conhecido, sendo já utilizado correntemente na construção em terra crua. A utilização de
terra estabilizada poderá ser uma forma eficaz de aumentar a resistência mecânica do material,
assim como a sua resistência à água. Estes, a susceptibilidade à acção da água e a fraca
resistência mecânica, são precisamente os principais problemas da utilização da terra crua na
construção. Além disso, é fundamental para o sucesso deste tipo de construção, uma correcta
utilização da matéria-prima em obra e a adopção de processos construtivos eficazes. Uma
correcta utilização da terra como matéria-prima não dispensará a necessidade de uma
pormenorização minuciosa dos sistemas construtivos.
Neste trabalho, apresentaram-se ainda os atributos sustentáveis da construção em terra ao
longo do ciclo de vida de um edifício, pois se julga importante que esta análise se faça sob uma
perspectiva de abordagem a todas as fases do ciclo de vida de uma construção, como aliás se
abordou no capítulo 4 – “Sustentabilidade dos materiais de construção” – quando se refere a
importância das ACV, já que todas as fases acrescentam impactes ambientais, sociais e
económicos que devem ser cuidadosamente analisados pelos intervenientes.
Como sistema ambientalmente sustentável, a construção em terra apresenta vantagens claras:
os processos produtivos são ambientalmente eficientes, a matéria-prima é reutilizável, baseia-
se em processos simples e pouco dispendiosos em termos energéticos. Neste sentido, a
construção em terra apresenta inegáveis vantagens em relação às técnicas correntes, as quais
implicam processos de reciclagem e reutilização complexos e muito dispendiosos do ponto de
vista energético, podendo por vezes inverter todo o sentido da reciclagem e reutilização.
77
Depois de se abordarem os atributos sustentáveis e as limitações da construção em terra,
considera-se que esta possui vantagens competitivas face à construção corrente que lhe
podem trazer um futuro promissor.
Quanto ao outro sistema construtivo abordado neste trabalho – o sistema construtivo em
estruturas de aço leve (LSF) – como se viu, não são razões tecnológicas que dificultam a sua
implementação no sector da construção nacional, mas sim razões culturais e económico-
financeiras que neste momento impedem o avanço e implementação mais evidente do sistema
LSF em Portugal.
Contudo, as qualidades inerentes ao aço e à construção em aço conferem-lhe todas as
condições para que o mesmo se afirme no sector da construção nacional, principalmente ao
nível de edifícios de pequeno porte, para os quais está vocacionado, oferecendo uma
construção de qualidade.
O sistema LSF apresenta, também, excelente vocação para o segmento da reabilitação, graças
ao baixo peso dos elementos estruturais em aço e dos restantes materiais utilizados. Este
sistema apresenta-se como solução ideal em certas zonas urbanas de difícil acesso, como nos
centros históricos das cidades, devido à utilização de materiais mais leves que facilitam o
transporte e elevação. A elevada relação resistência-peso do aço, muitas vezes elimina a
necessidade de reforçar a estrutura do edifício, tornando-se muitas vezes o LSF na única
alternativa possível para dividir espaços ou acrescentar um novo piso. Além disso, este sistema
não necessita de uma extensa área de estaleiro, pois vem de fábrica pronto a instalar e é
entregue em obra apenas no momento da instalação, resultando assim em menores
perturbações na envolvente da obra, factor determinante em zonas de acessibilidade reduzida.
O sector construtivo nacional atravessa uma fase crítica de estagnação, em termos evolutivos,
sendo necessário o desenvolvimento e divulgação de soluções inovadoras que não só
imprimam dinamismo e avanço tecnológico como também minimizem os impactes ambientais.
Devido às características naturais do aço, as estruturas metálicas permitem a optimização dos
recursos naturais e proporcionam um ambiente construído mais racional e eficaz. Aqui inserido,
o sistema LSF oferece uma efectiva possibilidade de evolução no que respeita à qualidade das
soluções construtivas e eficiência dos materiais empregues, contribuindo simultaneamente
para uma construção mais sustentável.
78
evidenciar aqueles que são realmente mais sustentáveis. Caso contrário, o conceito será
totalmente descredibilizado e a indústria da construção dificilmente conseguirá contribuir
positivamente para o desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, a aplicação generalizada de ACV aos materiais e sistemas de construção será
o próximo passo. Como tal, uma sugestão para trabalhos futuros, recai na realização de uma
análise de ciclo de vida, em termos quantitativos, procurando comparar os dois sistemas
construtivos abordados neste trabalho com o sistema convencionalmente utilizado em Portugal.
Para tal, será necessário utilizar uma metodologia adequada à realidade nacional, contudo em
Portugal ainda se está numa fase embrionária neste campo.
Relativamente à construção em terra, esta caracteriza-se por baixos consumos de energia e
emissões de gases poluentes e ainda por ser responsável por níveis de humidade interior
benéficos em termos de saúde humana, possuindo assim vantagens competitivas face à
construção corrente que lhe fazem adivinhar um futuro promissor.
Ao nível nacional, o futuro da construção em terra passa em primeiro lugar, pela credibilização
da sua utilização, através de regulamentação própria. Em segundo lugar, passará pelo fomento
de uma política de formação nesta área, suas especificidades técnicas e científicas, através de
acções de sensibilização para uma construção mais sustentável, de forma a potenciar o
número de possíveis clientes e entusiastas da construção em terra crua. Além disso, é
fundamental o apoio à investigação nesta área, no sentido de estudar novas soluções para
melhorar as características deste material e fazer face às suas limitações, quer em termos de
resistência mecânica, quer no comportamento à acção da água.
Actualmente, a construção em terra passa ainda por estrangulamentos ao seu
desenvolvimento que lhe dificultam a implementação de forma mais evidente no sector
nacional, como sejam:
79
credíveis e metodologias apropriadas, como é o caso das análises de ciclo de vida, que
permitem evidenciar as vantagens das estruturas metálicas, nomeadamente o potencial de
reutilização e de reciclagem do aço.
Para garantir um nível adequado de competitividade, o sistema construtivo em estrutura de aço
leve, exige uma correlação precisa com as indústrias a montante em termos de qualidade,
flexibilidade e rigor. Algumas das condicionantes ao sucesso deste sistema prendem-se, entre
outros, com o poder negocial dos fornecedores, a fiabilidade das entregas e a garantia de
qualidade dos materiais, exigindo, também, equipas de projectistas e mão-de-obra
especializados e equipamento específico. Neste sentido, será necessário um fomento à
formação de profissionais especializados em estruturas metálicas. Por sua vez, a optimização
de resultados adquire-se através da experiência.
A imagem ecológica associada à tecnologia empregue no sistema LSF, a enorme flexibilidade
arquitectónica, a inegável rapidez de construção e uma real possibilidade de poupança de
custos, numa óptica de custo global da construção – associada às poupanças energéticas ao
nível da climatização (na fase de operação), devido a uma elevada eficácia térmica da
construção – são algumas das vantagens que tornam possível acreditar na possibilidade de ver
este sistema construtivo vingar no sector da construção nacional, tal como já acontece noutros
países da Europa e do Mundo.
Depois de uma abordagem aos conceitos de “desenvolvimento sustentável” e de “construção
sustentável”, um estudo acerca da sustentabilidade dos materiais de construção, uma
descrição dos sistemas construtivos em terra e do sistema LSF e depois de feita uma análise
da sustentabilidade e das limitações destes sistemas construtivos, consideram-se alcançados
os objectivos inerentes a esta dissertação e dá-se o trabalho por concluído.
80
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