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Cultura Afro-Brasileira
Apresentação
Este material é resultado do projeto de extensão Valorização da História e Cultura Afro-
Brasileira, cujo objetivo principal foi articular ensino, pesquisa e extensão de modo a promover um
aprofundamento do conhecimento da comunidade interna e externa do câmpus Chapecó do Instituto
Federal de Santa Catarina (IFSC) sobre essa temática. Obrigatória pela lei 10.639/2003, a inserção da
história e da cultura africana e afro-brasileira nos currículos de todos os níveis de ensino nas escolas
públicas e particulares ainda enfrenta muitas dificuldades, relacionadas à visão eurocêntrica que
predomina nas Ciências Humanas e nas Linguagens; ao racismo estruturante e, muitas vezes,
invisibilizado que perpassa a sociedade brasileira e à formação deficitária da maioria dos professores
quanto a esse aspecto. Em Santa Catarina, essa situação é agravada pelo fato de que a presença
africana e afrodescendente foi reiteradamente invisibilizada neste estado, que preferiu construir uma
memória atrelada aos imigrantes europeus (açorianos, alemães, italianos), escondendo e
menosprezando as contribuições africanas e indígenas.
De modo geral, os africanos e afrodescendentes se veem pouco representados no currículo
escolar. Aparecem estereotipados principalmente como escravos, seres igualados por sua cor de pele,
submissos e inferiores, quando deveriam ser apresentados como pessoas escravizadas, diversificadas
em suas origens culturais, crenças e línguas, que resistiram e ocuparam diversas funções e espaços na
construção da América. Como afirma o antropólogo Kabengele Munanga, “Parece que os negros
não têm passado, presente e futuro no Brasil. Parece que sua história começou com a escravidão,
sendo o antes e o depois dela propositalmente desconhecidos.” No entanto, a sua história e cultura é
variada e rica e, mesmo no Brasil escravocrata, não é feita apenas de submissão, mas também de
resistências, lutas e vitórias.
A própria lei 10.639/2003 é uma vitória do Movimento Negro, tanto quanto o estabelecimento
do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Marca uma conquista na luta antirracista,
contra as intolerâncias e as discriminações sociais, culturais e religiosas, bem como se configura como
uma transformação na política educacional brasileira. Compreende-se que essa temática é
fundamental para a construção da cidadania e de uma educação inclusiva e que vise à tolerância e ao
respeito ao “outro”, fortalecendo a percepção de que o mundo é plural, as pessoas são diferentes e as
culturas, diversas. Valorizar a cultura, a história e a luta da população negra é uma forma de reduzir
os preconceitos sociais, combater o racismo (ainda muito presente) e estimular um comportamento
ético, consciente e inclusivo.
Para tanto, percebe-se necessário que mais materiais sobre a temática estejam disponíveis
aos professores, principalmente porque os estudos que acompanham a aplicação da lei têm
demonstrado que sua abordagem em sala de aula ainda depende mais da iniciativa pessoal do
professor do que de ações promovidas pelas secretarias municipais e estaduais de educação. Diante
deste cenário, o projeto de extensão Valorização da História e Cultura Afro-Brasileira, dentre outras
ações, pretendeu compilar e fornecer algum material didático, na forma de jogos, que pudesse servir
de apoio para o ensino desse conteúdo em sala de aula, fugindo da imediata associação de africanos
com escravos e demonstrando uma variada gama de personagens que participaram ativamente da
construção da história, da identidade e da cultura brasileiras, em diversos momentos e condições.
Esse projeto só foi possível pelo financiamento do Edital APROEX n.02/2016 da Pró-
Reitoria de Extensão do Instituto Federal de Santa Catarina e pelo empenho da bolsista Laura
Rodrigues Fialho dos Santos. Esperamos que esse material, composto pelas biografias, as cartas
do jogo da memória e as perguntas do jogo das personalidades possa ser útil aos professores e aos
alunos. E que sirva à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Mesmo que tenha sido um dos maiores artistas do Brasil, restam apenas
fragmentos biográficos da vida do Aleijadinho, a maioria deles envolta em
lendas. Antônio Francisco da Costa Lisboa nasceu em Ouro Preto, Minas
Gerais, em 1730, filho da escrava Isabel com seu senhor, o mestre de obras
português Manuel Francisco Lisboa. Aprendeu a ler e escrever, noções de
música e latim, além de empenhar-se desde cedo na oficina do pai e do tio,
onde praticava desenho, arquitetura e ornamentos, demonstrando especial
interesse por escultura e entalhes. Lá aprendeu o ofício que o imortalizou com
o pai, o tio Antônio Francisco Pombal e outros profissionais como o desenhista
João Gomes Batista e o escultor José Coelho de Noronha. Na ocasião do
falecimento do pai, ele já era um profissional reconhecido na sociedade.
Seu trabalho era disputado entre as várias irmandades religiosas da
região. Aleijadinho fazia projetos de igrejas, imagens, púlpitos, portas e vários
outros trabalhos, alguns mais complexos, contando com o auxílio de operários.
Destacou-se principalmente nas esculturas com pedra-sabão.
Em 1777, a misteriosa doença degenerativa, da qual foi vítima, começou a se manifestar. Os médicos
de então supunham tratar-se de escorbuto, sífilis ou da propalada zamparina. Sem diagnóstico preciso na época,
hoje existem apenas hipóteses sobre a terrível enfermidade. Em 1929, o médico Renê Laclette optou por "lepra
nervosa" como diagnóstico "menos improvável", visto que no quadro clínico do escultor se encontravam
também sintomas específicos da hanseníase. Outra hipótese citada com frequência é a da zamparina (doença
advinda de um surto gripal que irrompeu no Rio em 1780, responsável por alterações no sistema nervoso). As
demais especulações, citadas em mais de 30 estudos, incluem escorbuto, encefalite e sífilis. Outros médicos
que estudaram sua vida e as características de suas lesões consideram tratar-se de tromboangeíte obliterante.
Como resultado da doença misteriosa, aos poucos, o artista perdeu o vigor físico, os dedos das mãos e
dos pés, teve deformações na face, ficou quase cego no fim da vida, além de sofrer dores terríveis. Por conta
delas, ele mesmo amputou partes de seus dedos em momentos de crise. Andava de joelhos ou carregado, mas
mesmo assim não deixou de trabalhar e passou a utilizar estratégias para continuar esculpindo, como reforços
de couro nos joelhos e adaptações para prender o cinzel e o martelo no punho. O mal lhe rendeu o apelido pelo
qual é conhecido até hoje.
Devido às deformações, Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de madrugada
e só voltava para casa com a noite alta. Quando viajava para longe, usava um burro; quando ia para perto, ia
nas costas de seu escravo Januário. Havia três escravos que o auxiliavam em sua enfermidade – no transporte,
cuidados pessoais e adaptação das ferramentas aos seus membros deformados.
A doença dividiu em duas fases nítidas a obra do Aleijadinho. A fase inicial, de Ouro Preto, se
caracterizou pela serenidade equilibrada. Após ser vitimado pela doença, surgiu um sentimento mais gótico e
expressionista. O ressentimento tomou a expressão de revolta social contra a exploração da metrópole. As
figuras de "brancos", "senhores" e "capitães romanos" são deformadas. Ele vivenciou o período histórico
turbulento da Conjuração ou Inconfidência Mineira em Vila Rica (atual Ouro Preto), transformando-a em arte.
Atualmente, Aleijadinho é considerado um dos maiores expoentes do Barroco Mineiro e o maior artista
brasileiro do século XVIII. Foi escultor, arquiteto e entalhador. Sua obra se distribui por cidades como Ouro
Preto, São João del Rey, Mariana, Tiradentes e Congonhas do Campo. Seus mais importantes trabalhos – como
os 12 profetas esculpidos em pedra sabão e as 66 figuras em cedro que reproduzem os passos da Paixão de
Cristo, ficam na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.
Apesar de não ter se casado, teve um filho a quem deu seu nome. Foi sua nora Joana que cuidou dele no
fim de sua vida. Aleijadinho faleceu em 18 de novembro de 1814, em Ouro Preto, com 84 anos.