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Arqueologia confirma Ellen G.

White

Rodrigo P. Silva

Desde que me tornei adventista, quedei-me impressionado diante do


fenômeno chamado Ellen G. White. Tanto a profundidade exposta em
seus livros quanto a facilidade com que ela trata assuntos tão diversos
que vão desde a medicina até a religião é algo deveras surpreendente
para uma mulher que não concluiu o curso primário. Contudo, isso
poderia ser reputado como mero "genialismo" daquele tipo que levou
Da Vinci e Pascal a aprenderem tantas coisas por auto-didática e
escreverem em áreas amplamente diversificadas que, como ela,
também o fizeram. Algo, porém, diferencia a "frágil mulher americana"
de qualquer outro gênio que a humanidade já produziu: ela escreveu o
futuro. Falou de coisas "absurdas" em princípio, mas que seriam
"certezas científicas" nas pesquisas concluídas depois de sua morte.
Daí, a admiração da mulher gênio vê-se obrigada a ceder lugar para
uma certeza religiosa de que esta foi uma verdadeira profetisa de Deus
para os tempos modernos. Sua pesquisa não se limitou a livros e
revistas. Ela tinha à sua disposição um banco de dados que nenhum
outro gênio destituído de dom profético poderia ter; ela tinha o Espírito
Santo.

De modo remissivo, este breve artigo pretende apresentar um


interessante exemplo de confirmação indireta do dom profético de
Ellen White conforme visto numa recente descoberta que está
sacudindo o mundo da arqueologia bíblica. Trata-se de um achado
relativo à conquista histórica de Davi e os primórdios da Jerusalém
hebréia - algo deveras apropriado para o ano em que a cidade
comemora os 50 anos da independência israelita.

A História Bíblica

Dois textos bíblicos (II Samuel 5:1 - 10 e I Crônicas 11:1 - 9) narram a


tomada da cidade que até a conquista davídica pertencia aos Jebuseus.
De modo objetivo, é-nos dito que Davi partiu contra a cidade em meio
aos insultos de que até mesmo coxos e cegos poderiam expulsá-lo dali
- uma autêntica demonstração de auto-segurança daquela que se
considerava uma fortaleza inexpugnável. Mas, em pouco tempo, a
estratégica cidade montanheza viria a ser domínio de Davi e capital de
seu reino então caracterizado pela prosperidade e crescimento. Mas,
como foi que Davi tomou a fortaleza? Esta pergunta toca um delicado
problema de tradução que temos em II Samuel 5:8. O verso, conforme
a tradução ARA, assim traz a ordem do rei: " todo o que está disposto a
ferir os jebuseus suba pelo canal subterrâneo e fira os cegos e os coxos
a quem a alma de Davi aborrece." Ocorre, no entanto, que a palavra
hebraica tsinnor, aqui vertida por "canal subterrâneo" é de significado
duvidoso conforme admitido pelos principais eruditos em língua semita.
Alguns crêem que ela pode significar "gancho", "adaga" ou até
"valado". Mas, a preferência por "canal" foi reforçada pela descoberta
feita por Charles Warren em 1867 de um canal d'água subterrâneo
que, segundo se creu, levaria a água desde a fonte de Gihon até dentro
da cidade. Por esta entrada, portanto, Joabe teria passado com seus
homens e surpreendido os jebuseus ao surgir dentro da fortaleza tal
qual fizera Ciro na conquista de Babilônia. Assim, despeito de algumas
vozes isoladas como do famoso arqueólogo Albright que mantinha uma
opinião muito pessoal sobre o modo como Davi conquistou a cidade, o
consenso marcante dos eruditos era que os hebreus conquistadores
haviam alcançado Jebus entrando pela abertura do canal. Esta posição,
aliás, pode ser encontrada em vários comentários bíblicos do livro de II
Samuel que temos em português.

O que dizia Ellen White?

Estranhamente ao contrário dos grandes comentários bíblicos de seu


tempo e da efervescência causada pelo achado de Warren, Ellen White
insistia em omitir a tão "evidente" história do ataque subterrâneo,
preferindo dizer que Joabe e seus homens sitiaram a cidade.
Enfatizando a posição fortificada da Tel Cananita (como se denomina
em arqueologia), sua declaração, conforme publicada no livro
Patriarcas e Profetas, assim reza textualmente: "[Jebus] ocupava uma
posição central e elevada no território, e era protegida por uma
vizinhança de colinas ... A fim de conseguir este local, os hebreus
tinham de desapossar um resto de cananeus, que mantinham uma
posição fortificada nas colinas de Sião e Moriá. ... Durante séculos
Jebus fora considerada inexpugnável; mas foi sitiada e tomada pelos
hebreus sob o comando de Joabe". Esta afirmação, contraditória
daquilo que estava quase unanimemente convencionado pelos
historiadores e teólogos, fora escrita 13 anos após a descoberta do
canal por Warren. Ora, é estranho que uma mera "pesquisadora
autodidata" (eufemismo usado pelos cépticos para não dizerem
"plagiadora") não tenha utilizado esta conhecida informação nem
seguido o rumo dos comentários nesta história particular apresentada
em seu livro então recentemente publicado. Nisto, porém, ela
simplesmente avançou em mais de um século as conclusões que
seriam tomadas sobre a conquista da cidade e como ela ocorreu.

Novos Achados Arqueológicos

Recentes descobertas arqueológicas próximas à fonte de Gihom ou


fonte da Virgem (antiga principal fonte d'água de Jerusalém), têm
demonstrado que alguns dos sofisticados sistemas de água até agora
atribuídos à conquista Israelita antecedem ao período davídico em pelo
menos oito séculos. Ellen White também apresenta a cidade como
sendo um poderoso centro oitocentos anos antes da coroação de Davi,
sob o comando de Melquisedeque. A novidade maior, porém, surge em
relação aos contornos do muro da cidade. Ocorre que alguns
arqueólogos do Israel Antiquities Authority começam a crer que o
famoso canal de Warren (assim conhecido no mundo acadêmico) era
apenas uma fissura natural e não uma passagem subterrânea
construída para levar água da fonte para dentro da cidade sem o risco
de expor os habitantes à mercê do inimigo. Escavações realizadas a
poucos meses têm exposto um túnel que contorna o canal e faz supor
que este estivesse dentro dos limites da cidade e não fora dela como
até então se cria. No início, a falta de cerâmicas que pudessem ajudar
na datação do sistema de água, fez pensar que este seria uma
construção do período israelita como acreditara o Dr. Yigal Shiloh que
escavou a área e limpou o sistema do túnel. Porém, no começo do mês
de julho deste ano, vários pedaços de pote foram encontrados
demonstrando que as pesadas fortalezas e muralhas em torno da fonte
e o próprio sistema de águas precedem oitocentos anos ao rei Davi e já
estavam dentro da cidade quando ele ali chegou. Jebus, portanto, seria
pelo menos duas vezes maior do que até então se acreditava e torna-
se inviável supor que Joabe alcançara a cidade invadindo-a pelo
arqueduto subterrâneo que estava totalmente dentro de seus limites.
Assim, numa entrevista dada ao The Jerusalem Post o Dr. Ronny Reich,
que dirigiu as escavações juntamente com Eli Shuikrun, declarou
enfaticamente: "Nós teremos que repensar todos os nossos conceitos
acerca da Cidade de Davi que foram formados desde o século
passado". Isto faz do Patriarcas e Profetas, o mais atualizado
comentário bíblico de II Samuel até que os demais tenham tempo para
retificar suas notas após as publicações científicas que já estão
começando a aparecer em revistas especializadas de arqueologia. Mas,
esta antecipação da Sra. White não é a única. Também na Medicina,
Psicologia, Pedagogia e outras áreas encontramos o mesmo processo
que acabo de exemplificar. Desta feita, é meu pensamento que hoje,
mais do que nunca, os intelectuais adventistas devem enfatizar seu
apreço racional pelos escritos desta pioneira. Ela não deve substituir a
Bíblia, nem mesmo tornar desnecessária a leitura de material
especializado, mas, no papel de "luz menor", ser motivo de alegria e
gratidão ao povo do advento que foi agraciado com este presente do
céu, a saber, o Espírito de Profecia.

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