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Rute 1.1-5
INTRODUÇÃO
David Atkinson tem razão em afirmar que em um mundo dominado por “crises” e
“desafios”, no qual cada pequeno acontecimento é transformado em notícia, contanto que haja
nele uma “história interessante” é um alívio abrir e estudar um livro de caráter redentor e
consolador como o de Rute1.
Nesse livro, podemos ver a mão misericordiosa e invisível de Deus. Podemos
contemplar a sua graça e bondade num período de trevas espirituais e afastamento do Deus
pactual, mesmo entre o povo de Deus.
Nesse livro, encontramos muitos aspectos sombrios, é bem verdade. E veremos esses
aspectos com largueza, porquanto são importantes para entendermos o texto. Mas, acima de
tudo encontramos o que nos referimos acima: a mão graciosa e oculta de Deus em cada
momento da história de Rute. Acima de tudo, como veremos no próprio texto, esse livro
infunde esperança no nosso coração. Enche-nos de fé e esperança no Deus bendito que pode
todas as coisas.
Talvez você esteja pensando que isso é um contraste grande para se mostrar num livro
só! E é verdade. Mas, é uma verdade que será encontrada no livro. E não é raro encontrarmos
verdades que parecem antagônicas ocupando o mesmo espaço nas Escrituras. Perceba que eu
disse que “parecem” antagônicas. Mas, de fato, não são.
Pode parecer difícil para nós, mas a simples leitura do texto nos mostrará a verdade
estampada ali.
Esse livro é escrito quando parece que Deus está silente quando as tragédias estão se
seguindo uma à outra na vida de Rute, bem como tragédias estão acontecendo ao nosso redor.
Esse texto, entretanto, nos lembra de que Deus não está longe, não está distante, não
está inerte, parado, silente, ou mesmo indiferente ao nosso sofrimento. Este texto nos ajudará
a interpretar a vida olhando firmemente para o Deus do pacto; olhando firmemente para o
autor e consumador da fé: Jesus Cristo que sofreu por nós.
Nós sofremos não é porque Deus está distante, mas porque muitas vezes não
escolhemos confiar no Senhor no nosso sofrimento.
1
ATKINSON, David. A mensagem de Rute. São Paulo: ABU, 2005, p. 31.
Nós é que por muitas vezes escolhemos tomar caminhos próprios. Nós é que muitas
vezes não refletimos nas decisões que tomamos. Nós é que por muitas vezes, nos avexamos, e
ignorantes que somos, andamos por caminhos que parecem bons aos nossos olhos, mas
podem ser, ao final, caminhos de morte.
E que pena é isso! E quanto sofremos com isso! Mas Deus é misericordioso e sempre
opera em nosso favor.
Vamos analisar o texto de Rute, passo a passo, rogando ao Senhor que nos auxilie
enquanto estamos avançando no processo.
Um aviso antes de continuarmos.
Você perceberá uma diferença entre o livro de Juízes e narrativa de Rute. Enquanto no
livro de Juízes vemos
2
DAVIDSON, F. Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2ª. Edição, 1980, p. 512.
O texto começa dizendo: “Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na
terra...”.
Certamente precisamos entender a razão do autor – que não sabemos que é, apesar de
tanta especulação3 – para começar o seu texto, dando-nos uma localização, digamos, histórica
de quando este livro foi escrito.
E esse é um dado importante porque ao entender o contexto em que esse livro foi
escrito estaremos mais apto a entender e julgar vários temas teológicos e detalhes também
desse texto de Rute como por exemplo: as decisões tomadas por Elimeleque e seus filhos; a
amargura do coração de Noemi; a falta clara da menção do Senhor nas tomadas de decisões
dessa família; bem como a Providência oculta de Deus por intermédio das ações humanas.
Assim, fica claro que é importante fazermos uma análise do livro de Juízes aqui tendo
em vista que precisamos de uma acurada análise para fazermos um julgamento adequado do
que estamos vendo nesse livro.
Esses eventos não podem ser vistos fora do seu contexto.
3
Quanto à questão de autoria e data do livro, Robert Hubbard oferece algumas sugestões interessantes, porém
inconclusivas. Do meu ponto de vista a questão é interessante do ponto de vista acadêmico, mas pouco interfere
na interpretação do texto. Dessa forma, para o que me proponho nesse curso, deixo o assunto relegado a segundo
plano. Ver: HUBBARB, Robert L. Comentários do Antigo Testamento – Rute. São Paulo: Vida Nova, pp. 44-66.
4
DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 132.
Hernandes Dias Lopes afirma que nesse tempo “o povo alternou sua vida oscilando
entre sua rebeldia contra Deus e a volta para Ele. A instabilidade política, o colapso moral e
infidelidade espiritual foram as marcas distintivas desse tempo”.5
E claro, o contexto do pacto, é o contexto da redenção. Não podemos deixar passar
isso de largo.
Esse é um assunto por demais importante. E por que é importante? Porque em todo o
tempo, Deus está agindo em toda a história de Juízes e Rute mesmo quando não conseguimos
enxergar claramente a mão dele na história.
Mas, ela está ali.
O livro de Rute nos apresenta
“por meio de uma história bem pessoal... de maneira mais ampla como
Deus está guiando a história em todos os momentos. O Deus que opera em grandes
ações cósmicas é o mesmo que dirige os detalhes de nosso tempo. Ele comanda o
movimento das galáxias e sabe o que se passa na sua agenda. No meio desse
contexto de confusão, surge essa história curta de amor, de drama, de beleza e de
redenção”.6
5
LOPES, Hernandes Dias. Rute – Uma perfeita História de Amor. São Paulo: Hagnos, 2007, pg.14.
6
GAROFALO, Emílio. As Boas Novas em Rute – Redenção nos campos do Senhor. Brasílio: Monergismo,
2017. p. 18-19.
7
Sobre o assunto, há um curso do MINTS intitulado Teologia do Pacto.
8
HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 135ss.
que a sua descendência seria peregrina em uma terra alheia e seria reduzida à escravidão, mas
que Deus julgaria aquela nação (Gênesis 15.13-14).
Na continuidade da história do primeiro livro vemos os descendentes de Abraão descer
para o Egito. No início tudo estava bem, mas logo eles começaram a amargar a escravidão e a
possibilidade da morte (Êxodo 1). A essas alturas aquelas 70 pessoas que desceram ao Egito
no final do livro de Gênesis já se tornaram uma grande nação.
Assim, o povo de Israel passou 400 anos num ambiente que lhe era hostil. Além disso,
esse ambiente também era tão idólatra quanto era possível. Praticamente os egípcios tinham
um Deus para cada coisa. Um estudo das dez pragas mostrará uma faceta disso (Êxodo 7-12).
Então, conforme vemos no livro de Êxodo, Deus suscitou um libertador, e com mão
forte libertou o povo de Israel. “Por meio de um ato sem precedente na história, e que
igualmente não foi duplicado até então, aquele povo foi subitamente transformado do estado
de servidão para o estado de nação independente”9.
Então, depois de tirá-lo do Egito, Deus reiterou o pacto com o Seu povo no Sinai,
dando a ele leis e estatutos (Êxodo 20), para que Israel fosse uma nação para a Sua glória.
Deus requeria santidade do Seu povo, e Ele mesmo determinou o modo como aquele
povo deveria viver para a glória dele.
Nesse pacto, Moisés em vários outros textos, mas especialmente em Deuteronômio,
avisa ao povo que o pacto tem bênçãos e maldições.
Devo enfatizar que essa também é uma parte importante para entender o texto de Rute.
Quando Deus estabeleceu o pacto com o seu povo, ele estabeleceu as bênçãos e as
maldições do pacto.
Quais eram as maldições? As maldições podiam vir de duas formas.
1. Juízo na natureza. Nesse aspecto o mundo se tornaria um lugar para com o povo de
Deus. Eles teriam de enfrentar seca, pestilência, fome, enfermidades, animais selvagens, etc.
2. Juízo na guerra. Nesse outro o povo sofreria derrota; suas cidades seriam sitiadas; os
inimigos ocuparão a terra; haveria morte e destruição; e poderia vir até a pior das maldições
para o povo de Deus: o exílio, ser retirado da terra que havia sido dado como herança a eles
pelo Deus do pacto. (Deuteronômio 4:25-28; Deuteronômio 28:15-68; Deuteronômio 29:16-
29; Deuteronômio 32:15-43; Levítico 26:14-39).
9
SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1995, 5ª.
Reimpressão. p. 57.
Então, entendamos. O livro de juízes nos mostra que o Deus do pacto estava sendo
desprezado (é o que veremos agora). Assim, podemos afirmar que se esse livro está dentro da
doutrina do pacto, podemos afirmar também, embora alguns queira negar, que a fome que o
texto aponta no verso 1, faz parte do desagrado de Deus sobre a forma como o Seu povo está
atuando.
Uma das maldições da quebra do pacto era precisamente a fome. Voltaremos a esse
assunto.
10
GAROFALO, Emílio. As Boas Novas em Rute – Redenção nos campos do Senhor. Brasílio: Monergismo,
2017. p. 19.
11
LASOR, William S. e outros. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 166.
com os moradores desta terra; antes, derribareis os seus altares; contudo, não
obedecestes à minha voz. Que é isso que fizestes?” (Juízes 2.1-2).
Não é repetitivo lembrar que isso fazia parte do pacto que Deus havia feito com o
povo. Esse pacto exigia exclusividade ao Deus dos céus. Exigia que eles adorassem apenas ao
Deus Javé. Exigia que eles não fizessem aliança com os moradores da terra, como veremos no
próximo ponto. Exigia que eles derrubassem seus altares. Mas eles preferiram seguir seus
próprios caminhos. O coração humano age dessa forma. Age achando que encontra um
caminho melhor que o de Deus.
Mas além da idolatria há um aspecto ainda pior, por assim dizer: o sincretismo
religioso, a mistura da adoração ao Deus verdadeiro com deuses pagãos. Eles misturararam as
abominações dos povos ao seu redor com o que Deus havia ordenado a eles.
Ilustração
Vamos a um exemplo em Juízes 17.7-13
O que temos nesse texto é um homem que faz um ídolo com o dinheiro da mãe e “veio
a ter uma casa de deuses, fez uma estola sacerdotal e ídolos do lar e consagrou a um de seus
filhos, para lhe fosse por sacerdote” (vs. 4).
Mas, o texto posteriormente, nos avisa da chegada de um levita de Belém de Judá que
se presta por causa de dinheiro e comida, a servir como sacerdote naquela “casa de deuses” no
lar de Mica.
A situação é tão tenebrosa, idolatra e sincrética que termina a cena com Mica dizendo
“Sei agora, que o Senhor, me fará bem, porquanto tenho um levita, por sacerdote”.
Posteriormente ele vai servir a uma tribo, encantado com a possibilidade de ser
sacerdote de um povo inteiro que negou a missão que Deus lhe deu: ser uma lembrança
viva de Deus no meio do povo. E ser um sacerdote de uma religião segundo a imagem de
Mica.
Perceba a ênfase que estamos dando aqui. O povo estava em completo afastamento do
Senhor. Em apostasia e sincretismo religioso. Não é só que eles se afastavam de Deus. Eles
misturavam as coisas. Achavam que adoravam a Deus por meio de coisas que Deus nunca
ordenara. Eles se negavam a reconhecer a soberania de Deus. Esse era o tempo dos juízes
onde cada um fazia o que achava melhor. E esse era o tempo em que se encaixa o livro de
Rute.
Os capítulos finais de Juízes destacam-se me mostrar esse círculo vicioso. A nação
havia perdido o rumo em todos os aspectos, tornando-se tão ímpia quanto as nações
pagãs ao seu redor.
Devemos olhar para o livro desse prisma. Não de outro jeito.
1.3. Dias de guerras com guerras como instrumento de provação da parte de Deus
Os acontecimentos narrados em Juízes abrangem um período de cerca de 400 anos,
como já dissemos, desde a conquista de Canaã com Josué até antes de Samuel ungir o
primeiro rei de Israel, Saul.12 Se você consultar, Juízes 1.1, ficará claro que a nossa história
começa quando Josué morre.
A leitura de Juízes 2.6-12 nos dará também uma visão ainda mais clara. Durante este
período Israel foi oprimido internamente pelos cananeus, pois Israel não os havia expulsado
da terra, e externamente pelos moabitas, midianitas e vários outros povos.
Uma leitura rápida do livro de Juízes vai nos mostrar que o povo de Israel foi oprimido
por muitos povos ao seu redor.
O escritor Samuel Schultz nos mostra que nesse tempo, o povo de Israel teve de lutar
em várias frentes13.
Nos capítulos 3.7-16.31, vemos que Israel teve de lutar com algumas nações, a saber:
Mesopotâmia. Moabe. Filístia. Canaã. Midiã. Abimeleque. Amom. Eram muitas guerras e
muitos juízes que foram levantados para libertá-los dessas nações.
Mas, ao avançarmos no livro percebemos que houve também, por causa do
afastamento de Deus uma guerra civil entre o povo de Israel por causa do distanciamento de
Deus.
E por que aconteceu isso? Aconteceu por causa de um crime sexual em Gibeá (Juízes
19). Um levita teve a sua concubina estuprada e morta em Gibeá, que era uma cidade
benjaminta.
O levita esquartejou a mulher e mandou pedaços para todas as tribos de Israel. E isso
gerou uma guerra civil.
Ver SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1995, 5ª.
13
Reimpressão. p. 102.
É bem verdade que “a história de Rute, nos provê um vislumbre numa era mais
pacifica dos dias em que governavam os juízes”14. Mas, o contexto é esse que estamos vendo
é bem outro.
1.4. Dias em que uma divisão importante e significativa entre a semente do Messias
e a semente do maligno foi desconsiderada
Esse era outro aspecto do tempo do livro de Rute: o casamento misto. A
desconsideração de uma importante e significativa divisão que percorre todo o livro de
Gênesis e toda a Bíblia: a divisão entre a semente do Messias e a semente do Maligno.
Vamos a outro texto em Juízes que comprova que o casamento misto apesar de
proibido era uma prática constante entre o povo de Israel nesse período. O texto é Juízes 3.5-
9.
Nesse texto vamos perceber três coisas.
1º. O povo de Deus mistura a linhagem santa com a semente do maligno.
2º. O povo adora, bem provavelmente por causa disso, aos deuses desses povos.
3°. O resultado disso é a ira de Deus contra aqueles que transgridem seus
mandamentos.
Os israelitas “participam de casamentos mistos com estrangeiros, e depois servem aos
deuses pagãos (vs. 5ss). Essa mistura maligna acende a ira de Javé contra o povo”. 15
Isso vamos ver ao longo do Livro. Mas John Piper nos avisa:
Aplicações
16
CUNDALL, Arthur E. Juízes e Rute – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 13.
17
PIPER, John. Estudos no livro de Rute. E-book. Sem Editora. Pg. 5.
Precisamos considerar a voz do Espírito nesse período em Rute.
Somos frágeis.
As circunstâncias podem agir contra nós e facilmente nos fazer esquecer de Deus.
Facilmente agir contra nós.
Mas, ela também pode agir em nosso favor, se nos lembrarmos de que somos pessoas
chamadas por Deus a agir em fé e não olhando as circunstâncias apenas.
Isso aqui, atente, por favor, não é um chamado à irresponsabilidade, não é um
chamado a gracejos, como diz Calvino explicando, no salmo 46 como o cristão, lida com as
dificuldades e provações. É antes um chamado a vivermos uma vida de fé e confiança no
Senhor.
Quando o texto fala que “cada um fazia achava mais reto”, está falando de cada um de
nós. Aquele povo tinha muito o que aprender. Nós também temos muito o que aprender.
“...essas pessoas estavam fazendo o que consideravam correto. Mas obviamente tinham
muito que aprender; por meio dos profetas e dos apóstolos, Deus demonstra
abertamente sua disposição de continuar ensinando seu povo”.18
É por isso que Deus levantou profetas para o povo. É por isso que Deus levantou
os apóstolos. É por isso que Deus deixou as Escrituras. É por isso que Deus nos deu o
Seu Espírito. É por isso que Deus deixou oficiais. Para que nós pudéssemos aprender
cada vez mais.
Não despreze nada disso meu irmão.
18
LASOR, William S. e outros. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 174.
19
CUNDALL, Arthur E. Juízes e Rute – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 13.
Você conhece algum ser humano que não seja falho?
Você conhece algum ser humano ao seu redor que consiga viver uma vida perfeita, em
que você não se decepcione em nada com ele? Conhece?
Apenas um foi, é e sempre será perfeito.
Ele não é um libertador que peca.
Ele é um libertador perfeito. Alguém que não cometeu pecado. Mas, Deus o fez
pecado por nós. Alguém que foi levado à cruz do Calvário por causa dos nossos pecados,
depois de ter vivido uma vida que não era possível a nós.
Lawson diz que “apesar da anarquia espiritual do homem durante esse tempo, o
homem rebelde não pode frustrar as operações soberanas de Deus na terra.
Independentemente do invasivo pecado de Israel, Deus estava livre e desimpedido para agir
como desejasse. Em conformidade com seus propósitos, Deus muitas vezes decidiu abandonar
os pecadores e fazê-los seguir em os seus interesses pecaminosos. No período dos juízes,
Deus fez justamente isso. No meio da extrema iniquidade de Israel, o Senhor, em sua
soberania, reagiu com juízo”21.
Ele continua dizendo que há alguns aspectos em que podemos ver a soberania de Deus
aqui no tempo dos juízes:
1. Disciplinando crentes
20
Lawson. Steven. Fundamentos da Graça – Volume 1. São José dos Campos: Fiel, 2012, pg. 150.
21
Lawson. Steven. Fundamentos da Graça – Volume 1. São José dos Campos: Fiel, 2012, pg. 150.
Deus entregou seu povo à nações pagãs. Com isso ele estava causando a derrota do seu
povo mostrando sua santa e justa ira (Juízes 2.14-15).
Deus queria trazê-los ao arrependimento. “A chocante realidade era que o real inimigo
deles era Deus”. Eles eram confrontados por Deus quando se entregavam aos seus pecados.
2. Dirigindo descrentes
Se você olhar o texto de Juízes 3.12-13 verá que Deus no exercício da sua soberania
exerce controle sobre os poderosos homens e “sobre os interesses e as atividades humanas”. E
isso até sobre reis maus.
Então vemos que todas essas coisas eram controlas pela soberania de Deus.22
3. Dirigindo o Mal
Juízes 9.22-23. Deus dirige o mal para punir os homens.
22
Sobre o assunto ver: Lawson. Steven. Fundamentos da Graça – Volume 1. São José dos Campos: Fiel, 2012,
pg. 150-152.
Texto: Rute 1.1-5
INTRODUÇÃO
De fato, é preciso reafirmar que ao lermos o texto estamos presenciando, no próprio
texto, uma crise. Crise de fome; de escassez de alimento. Necessidade de migração para outro
país. Mortes. Retorno.
A vida em Israel nesse período, conforme podemos ver no verso 1, se passa nos
tempos dos juízes. Temos de rejeição ao Deus do pacto, tempos de apostasia e sincretismo
religioso, tempos de casamento misto, tempos de guerra.
Depois de termos falado de todos os assuntos que envolve a nação de Israel e sua
interação em crises políticas e guerras com várias nações, vemos agora a história de Israel
de uma forma menor em uma família.
“...O livro de Rute, embora não fique totalmente esquecido do significado nacional, e
até mesmo global, dos seus personagens, trata de um homem, sua família e seu destino.
Lembra-nos de que o Deus das nações também está interessado nas coisas comuns
relacionadas a “um homem”23.
É sumamente importante pensarmos sobre o assunto porque Deus, o que precisamos
ver e pregar, e ouvir e aplicar é que Deus não apenas se importa com acontecimentos
mundiais, mas ele se importa com pessoas, com nomes. E esses foram registrados para a
nossa instrução.
ELUCIDAÇÃO
De fato o autor não nos dá mais detalhes sobre a fome, em que tempo, se todos
estavam com fome, se apenas os mais pobres, se alguém morreu de fome nesse período.
Apenas temos a menção da fome.
1. A falta de fé que não nos deixa ver claramente a soberania do Senhor como
causa determinante sobre os eventos da história
A falta de fé foi determinante para a decisão equivocada de Elimeleque
É importante pontuarmos, de novo, que a fome era resultado da infidelidade do povo
de Israel ao pacto que Deus havia feito com Ele.
Repito aqui que é verdade que o texto não diz isso. Mas, o contexto inteiro indica isso,
mesmo que o queiramos negar. A indicação do período de intensas e terríveis trevas
espirituais nos dias dos juízes junto com a indicação da fome, nos dá ampla tranquilidade e
lastro teológico para tal afirmação.26
Mas, é preciso perguntar: o que estamos afirmando é que Elimeleque e sua família
estão passando fome por causa do seu pecado pessoal ou familiar? Não necessariamente!
Mas, o fato é que Deus enviou a fome a Belém – percebam a ironia – à Casa do Pão –
para disciplinar o seu povo e fazer eles se voltarem para Ele.
Então, como podemos ver, quando falamos do pacto, Deus está em cada detalhe do
livro. A fome não está aí como uma obra do acaso. A fome é uma das maldições do pacto. O
texto não aponta isso claramente, porque o próprio contexto – o de Juízes – já o faz.
Hubbarb nos dá duas importantes diretrizes para interpretarmos adequadamente o livro
de Rute teologicamente.27
25
Hernandes Dias Lopes. Pg. 17.
26
Duguid faz uma rápida referência a isso numa nota de rodapé do seu livro. DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos
Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 133.
27
HUBBARB, Robert L. Comentários do Antigo Testamento – Rute. São Paulo: Vida Nova, pp. 103ss
Diretriz #01 – Deus é a causa oculta dos eventos da história
O Senhor está presente, embora invisível ao olho humano.
Concordo com Lasor quando diz que “De modo marcante, porém em Rute, a direção
de Deus assume uma forma singular. Em boa parte da Bíblia, Deus intervém de maneira direta
e sobrenatural nos assuntos dos homens para concretizar os propósitos da redenção. Mas em
Rute não há nenhuma orientação por meio de sonhos, visões, mensageiros angelicais ou vozes
do céu. Nenhum profeta se levanta para anunciar: ‘assim diz o Senhor’ Antes, Deus está em
toda parte – mas totalmente escondido em coincidências e em planos puramente humanos. A
providência firme e bondosa de Deus oculta-se por trás do ‘acaso’ que faz Rute encontrar-se
com Boaz (2.3-4), e do plano arriscado de Nomei (3.1-5). Resumindo, o livro demonstra que
Deus age nos bastidores por meio dos atos de pessoas fiéis como Rute, Noemi e Boaz”28.
O Senhor é que vai moldando toda a história de Rute. Enviando a fome. Retirando a
fome. Dando a Rute um filho que será um herdeiro para Noemi (4.13).
“...sua [do Senhor] atividade é oculta atrás das ações de agente humanos, contudo
infere-se que ele é a causa implícita, imanente dos eventos... Portanto, ele é a causa de até
mesmo os menores detalhes “acidentais” da vida”29.
28
LASOR, William S. e outros. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 573.
29
HUBBARB, Robert L. Comentários do Antigo Testamento – Rute. São Paulo: Vida Nova, pp. 104.
escolheu o pior. Ele provavelmente pensou... “Devo cuidar de minha vida, minha esposa,
meus dois filhos”.
O que havia de errado em proteger sua família? Nada.
O que estava errado era tomar decisões que eram proibidas por Deus. E
Elimeleque tomou decisão proibida por Deus.
30
DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 134.
31
HUBBARB, Robert L. Comentários do Antigo Testamento – Rute. São Paulo: Vida Nova, pp. 125.
32
GAROFALO, Emílio Neto. AS Boas Novas em Rute. Brasilia: Monergismo, pg. 24.
33
GAROFALO, Emílio Neto. AS Boas Novas em Rute. Brasilia: Monergismo, pg. 25.
Talvez Elimeleque tenha levantado situações hipotéticas na sua mente, do que seria
dele e da família dele, se acontecesse isso ou aquilo.
Elimeleque não errou em querer proteger sua família. Ele errou quando
possivelmente presumiu que sua esposa e filhos morreriam de fome e que a única forma
de evitá-lo era indo para outra terra.
Em lugar algum, a promessa e a proteção de Deus são levadas em consideração. E
é aí que seu coração é desvendado.
NÓS SOMOS COMO ELIMELEQUE
Os PROBLEMAS vêm, e nós entramos automaticamente no modo de
sobrevivência. Nós planejamos, prognosticamos, andamos pelo meio dos “e se...” e
reforçamos nossa posição, empilhamos comida e fazemos tudo quanto preciso para tomar o
controle em nossas mãos. E Deus? Aí sim. Pedimos-lhe que abençoe nossos caminhos. Mas,
só depois de tomarmos as decisões. NÓS SEQUER O CONSULTAMOS.
1.2. Perceba que a falta de fé, determinante para a decisão de Elimeleque, leva-o
ao esquecimento das promessas de Deus
Acompanhe o raciocínio comigo.
Aquela era a terra prometida
No pacto de Deus um aspecto sempre presente era a possessão de uma terra. Isso
começou com o chamado de Abraão e foi sempre reiterado ao longo dos tempos com os
profetas que vieram depois de Moisés.
“A terra garantida a pai Abrãao e seus muitos filhos, dos quais Elimeleque é um deles,
Noemi também, e os dois filhos que eles têm. A terra pela qual ansiaram por quatrocentos
anos enquanto viviam no Egito, e pela qual peregrinaram por quarenta anos no deserto. A
terra que custou o sangue de muitos deles em batalhas contra filisteus, amorreus, amalequitas
e tantos outros. O lugar onde sonhavam viver e finalmente sair da desolação do deserto.
Assim, não era razoável que Elimeleque deixasse a terra da provisão de Deus para ir para
outra terra. Mas, apesar disso, ele saiu da terra da promessa e foi para outro lugar”34.
E que lugar era esse? Moabe.
Quem era Moabe?
“Em Israel Moabe era conhecida por muitas coisas, nenhuma delas positiva.
1. Moabe era o povo resultante da relação incestuosa entre Ló e a filha mais velha.
(Gênesis 19.30-38);
34
GAROFALO, Emílio Neto. AS Boas Novas em Rute. Brasilia: Monergismo, pg. 25.
2. O rei deles, Balaque, tinha contratado Balaão para amaldiçoar Israel quando o povo
saiu do Egito (Números 22-24);
3. As mulheres moabitas tinham sido uma pedra de tropeço para Israel no deserto,
seduzindo os homens a adorar falsos deuses (Números 25);
4. Pouco tempo antes disso, eles tinham oprimido os israelitas nos dias de Eglom
(Juízes 3).
Será que esse lugar parece ser uma boa escolha para se criar uma família piedosa?” 35
(Colocar tudo em um parágrafo e retirar os números).
O significado do nome de Elimeleque
O próprio significado do nome “meu Deus é rei”, deveria ter feito ele refletir antes de
sair da terra prometida, da terra que mana leite e mel.
Elimeleque era seu próprio rei. Ao procurar o caminho de maior possibilidade deixou
para trás o caminho da fé e obediência a Deus e expôs o seu coração incrédulo.
...a reação apropriada do povo judeu diante de Deus pesando a mão sobre eles em
Belém deveria ser a de se voltarem, como povo, para Deus em arrependimento. Mas eles são
tentados a seguir o caminho aparentemente mais fácil, ir para Moabe. Na cabeça deles, talvez
seja melhor estar nos campos verdejantes e sem o bom pastor, do que no vale da sombra da
morte com o bom pastor”.36
Elimeleque tomou uma decisão com base na falta de fé e não em confiança em Deus.
2. A falta de fé sempre nos leva mais longe do que queremos ir, e nos cobra mais
caro do que queremos pagar (vs. 3-5)
35
DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 134.
36
GAROFALO, Emílio Neto. AS Boas Novas em Rute. Brasilia: Monergismo, pg. 29.
37
DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 135.
Ah sim. Eu sei. Você já ouviu essa frase muitas vezes. Mas essa é uma verdade bem
clara nesse texto.
E tenho absoluta certeza de que se Elimeleque tivesse visto o que aconteceria; se ele
tivesse visto um filme do que aconteceria na sua frente, ele não teria ido “passar um tempo”
em Moabe.
Mas isso era terminantemente proibido pela Lei de Deus (Deuteronômio 7.1-3).
Afinal, a quem eles poderiam escolher?
Progressão do pecado: Primeiro é a ida para Moabe, depois o casamento proibido,
depois a esterilidade das mulheres. Mas mesmo assim não percebemos, ou fechamos os
olhos.
Aplicação #03 -
“O juízo de Deus sobre os nossos pecados não são tão graves como foi nessa época do
pacto mosaico sobre o qual eles viviam. Afinal, vivemos no pacto da graça onde Cristo
cumpriu perfeitamente a Lei de Deus por nós.
No entanto, as realidades espirituais para as quais esses sinais apontam permanecem as
mesmas. A ESTRADA DA INFIDELIDADE A DEUS CONTINUA A SER A ESTRADA
DA MORTE”.40
Se não fosse a misericórdia do Senhor todos acabaríamos como Elimeleque e seus
filhos; mortos e enterrados, sem vestígio e sem memória, VÍTIMAS DAS NOSSAS
PRÓPRIAS DECISÕES ERRADAS E ESCOLHAS INSENSATAS.
Há esperança para nós.
“Mesmo quando escolhemos o caminho da rebelião e persistimos por um longo
caminho nesse tempo, ainda há um caminho de volta para casa. Na graça de Deus, o caminho
para lugar nenhum ainda pode ser tornar o primeiro passo da longa jornada de volta para
casa.”
CONCLUSÃO
Nós tomos somos como Noemi e sua família.
Achamos que os campos de Moabe são mais verdes que o nosso.
A tentação de abandonar a provisão do céu pelas provisões desse mundo é muito forte.
Muitas vezes demonstramos uma falta de confiança fundamental na bondade de Deus,
E nessa desconfiança reclamamos do emprego que Deus nos deu, da pessoa com quem nos
casamos, ou da família (ou falta dela) que temos, que Deus em sua providência nos concedeu.
Ficamos fantasiando em como seriam os campos vizinhos.
40
DUGUID, Iain. Estudos Bíblicos Expositivos em Ester e Rute. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 138.
E talvez precisamos confessar que voltamos as coisas ao Senhor à procura de um
suposto pão melhor. Mas, o Senhor sempre nos faz ver que estamos errados e nos
reconcilia com ele.
O amor de Deus nos atrai, nos conduz a ele e não nos abandona. Louvado seja
Deus.
Transição Cristocêntrica
Noemi e Elimeleque deixaram a terra prometida em rebeldia e em busca da falsa
bênção do pão de Moabe. Jesus deixou as glórias do céu para nos trazer as verdadeiras
bênçãos na terra.
Noemi voluntariamente saíra da terra da promessa para o exílio, tentando construir seu
próprio reino em vez de esperar pelo reino de Deus. Jesus, no entanto, saiu da presença do Pai
para o exílio a fim de nos resgatar da construção do nosso próprio reino e nos assegurar um
futuro vivo e verdadeiro no reino dele.
O Deus que nos esvazia e despoja, ainda que dolorosamente, daquelas coisas preciosas
nas quais confiamos, sabe o que é ser despojado das suas possessões e glórias, ser deixado
sozinho, abandonado pelos seus amigos e pendurado numa cruz. Cada lágrima resultante das
perdas que Deus infringe a nós é uma lágrima cujo custo ele mesmo compreende.
Portanto, o sofrimento da obra purificadora de Deus nunca é severo; nunca é mais do
que o absolutamente necessário para nos fazer voltar para ele.
É a medida destinada a nos mostrar o vazio dos nossos caminhos e nos fazer voltar
para Ele.
Ele é um Deus maravilhoso. Sua graça e misericórdia são grandes e tremendas.
Aplicação
(5) Quando a nossa fé falta... Deus não falta. Nossa fé, como a de Abrão, vai faltar.
Mas a verdade abençoada da Palavra de Deus é que quando ela falta, Deus não falta
Em face da fome, Abrão preferiu duvidar da presença e do poder de Deus. Suas
atitudes demonstraram que ele estava disposto a sacrificar seus princípios pela
autopreservação. Apesar da sua falta de fé, Deus o preservou e até o fez prosperar.
Finalmente, Deus o levou ao lugar onde ele deveria ter ficado.
Não recorra aos seus próprios recursos. Deus não precisa dele para cumprir as suas
promessas. Apenas creia.