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Cuidador principal é aquele que assume a maior parte dos cuidados, ou seja, é
responsável pela supervisão, orientação, acompanhamento e cuidados directos para
com a pessoa.4
Cuidador principal ou primário é definido operacionalmente como aquele que mais tempo
passa em contacto com pessoa doente e assume maior parte dos cuidados (sendo geralmente o
mais envolvido do ponto de vista emocional).
Neste caso, torna-se importante compreender os estilos de confronto (coping) adoptados pelas
pessoas quando se confrontam com o stress. Para os autores referidos, o processo de coping
pode ser entendido como o conjunto dos esforços assumidos pelos indivíduos perante
situações que são avaliadas como ameaçadoras e passíveis de gerar mal-estar.
Pelo contrário, estilos de confronto mais activos (coping proativo), centrados na resolução
do problema, representam habitualmente formas mais ajustadas e saudáveis do trabalhador se
adaptar às exigências laborais, principalmente nos casos em que este tem efectivamente
possibilidade de alterar a situação em que se encontra, podendo exercer controle sobre as
fontes de tensão que o rodeiam (Folkman & Lazarus, 1980).
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v14n3/a08v14n3.pdf
O cuidador enfrenta diversas situações e fatores no ambiente de trabalho que afetam a sua
integridade física, psíquica e emocional.
Além da importante influência que o substrato simbólico da doença oncológica imprime nos
sentimentos dos profissionais da especialidade, certas peculiaridades da natureza do trabalho
na área de saúde também são fatores relevantes a serem considerados.
Labate e Cassorla (1999) consideram que o profissional de saúde defronta-se no seu cotidiano
com situações que mobilizam o emocional, por vezes de uma forma bastante intensa. Isso não
só dificulta seu trabalho, como o confunde diante dos aspectos técnicos, acarretando-lhe um
grau considerável de sofrimento pessoal. Afirmam que podem ocorrer processos de
identificações patológicas com o sofrimento do paciente ou com sua doença, tornando o
trabalho do profissional de saúde insalubre do ponto de vista psicológico. Os profissionais se
defendem de sua impotência e fragilidade através de fantasias de onipotência. E, quando
essas defesas falham, a descompensação, por vezes vista como vergonhosa, costuma ser
atribuída a outros factores. Assim, a situação fica mascarada, o sofrimento não é levado em
conta e tampouco providências são tomadas no sentido de encontrar mecanismos que
proporcionem a salubridade no trabalho.
Em relação a esta última característica, Santos (2003) argumenta que na relação com o
câncer, o profissional vê-se invadido por sentimentos ambivalentes, uma vez que a formação
profissional visa à cura e muitas vezes os casos que atendem não possuem esta perspectiva.
Sem a perspectiva do curar, o que é muito freqüente em oncologia, resta-lhe a difícil tarefa de
cuidar. Mas, contrariado em suas expectativas, o profissional recorre ao pensamento mágico
em busca de soluções impossíveis, levando-o a uma atividade frenética e muitas vezes
irracional.
Oliveira (2002) considera que os profissionais que lidam com pacientes graves, ao
perceberem que estão lidando com seres humanos como eles, parecem experimentar uma
vivência de extrema angústia. É difícil defrontar-se com pacientes adultos utilizando-se de
fraldas, imobilizados, conectados a aparelhos, chorando, às vezes inconscientes, além de
outras situações constrangedoras. O profissional se vê diante da precariedade da existência
humana. Aproximar-se do paciente que está morrendo, lembra-o de que ele também é mortal.
O que estes estudos nos levaram a concluir é que estando constantemente diante da
fragilidade e vulnerabilidade humanas, os profissionais de saúde que atuam na atenção ao
paciente oncológico estão expostos com mais freqüência e mais intensidade diante de sua
própria fragilidade e vulnerabilidade enquanto seres existentes. É no contato com o outro que
o eu se constrói, se diferencia e se reconhece, e saber da dor do outro, da finitude do outro é
saber da própria dor, da própria finitude. E nesta identificação humana com o doente, o
profissional se reconhece como um ser aberto ao sofrimento porque também se reconhece
frágil e vulnerável, passível de todas as possibilidades que a vida apresenta, sendo a morte a
possibilidade mais certa.
Algumas considerações
Realmente, é complicado ser frágil e vulnerável numa sociedade como a nossa que estimula e
enfatiza o ser poderoso, forte e inatacável. E o fato de que a crescente incorporação
tecnológica à medicina permite, por exemplo, a estabilização de muitas doenças terminais,
como no caso de doentes que podem ser indefinidamente mantidos artificialmente em vida
durante longos períodos, nos leva a esquecer da possibilidade sempre presente da morte. Por
mais que façamos, a morte, como diz Schramn (2002), é um fato irrefutável perante nossos
sentidos imediatos; todos os seres vivos, inclusive os humanos, morrem.Entretanto, a morte é
muito mais que um fenômeno biológico, e como assevera o autor, não acreditamos nos
nossos sentidos.
O fenômeno da morte institui um vazio interacional que dói e faz sofrer, pois mais que o
término de um processo biológico, a morte é a destruição de um ser em relação. E quando se
lida diariamente com algo que faz lembrar a natureza finita do ser, o confronto com a
iminência do não-ser denuncia tudo o que somos de precário e provisório. É diante desta
questão do não-ser que os profissionais de saúde se vêem constantemente e confrontar-se
quase que ininterruptamente com um fenômeno tão fundamental na compreensão do ser do
homem, é angustiante.
Criar espaços de escuta em grupo nas instituições de formação e atuação desses profissionais
pode ser uma alternativa para que o sofrimento seja compartilhado, acolhido e elaborado.
Cuidar para que a formação dos profissionais de saúde contemplem estudos sobre a morte nas
suas várias dimensões também contribui em preparar melhor o futuro profissional que, pelo
dever do ofício, estará lidando constantemente com a angústia fundamental e inarredável da
precariedade do existir humano.
Refletir sobre estes aspectos não é importante somente para o desenvolvimento de recursos
que possam trabalhar em favor da saúde mental do profissional, mas contribui também para
melhorar a atenção prestada ao paciente e seus familiares, pois não devemos nos esquecer
que as representações e sentimentos a respeito de algo, orientam atitudes, ações e relações.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2009000100007