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E depois da fun Panelas, fogdes, geladeiras, fornos de microondas, microcompu- tadores, automéveis, maquinas agricolas, trens, navios, vides, naves espaciais, satélites.. Desde 0 produto mais simples até 0 mais sofisticado, todos dependem de processos de fabricacdo mecdnica para existir. E eles sdo muitos. E se encadeiam para que 0 produto seja fabricado. Por mais simples que a pega seja, é sempre necessério usar m quinas realizar mais de uma operagdo para produztla. Come- gando pela fundigdo, seguindo pelos processos de conformacao mecdnica como a laminagdo e a trefilaggo, passando pelo tomne- ‘amento, pela usinagem, as pecas vo sendo fabricadas e reuni- das para formar os conjuntos mecnicos sem os quais a vida mo- derma seria impensavel E pensando na fundigéo coma inicio dessa cadeia, a etapa se- guinte 6, na maioria dos casos, a laminagdo, um processo de con- formag&o mecdnica, que é 0 assunto desta nossa aula Uma grande ajud: : as propriedades dos materiais Embora sem saber, voc ja deve ter conformado um metal em algum momento da sua vida. Ai vem a pergunta: “Mas, como?!” E simples. Ao dobrar um pedago de arame, um fio de cobre, ou um pedago de metal qualquer, ao martelar um prego, vocé aplicou esforgos sobre o material e, desse esforco, resultou uma mudan- ga de forma n Em um ambiente industrial, a conformagao mecdnica é qualquer operago durante a qual se aplicam esforgos mecanicos em me- tais, que resultam em uma mudanga permanente em suas dimen- sées Para a producdo de pecas de metal, a conformaggo mecdnica inclui um grande niimero de processos: laminagdo, forjamento, trefilagdo, extrusdo, estampagem...Esses processos tém em co- mum 0 fato de que, para a produgdo da pega, algum esforgo do tipo compressdo, tragdo, dobramento, tem que ser aplicado sobre o material A segunda pergunta que vocé certamente fara é: “Mas, como é possivel que materiais tdo rigidos como 0 ago, ou o ferro, possam ‘ser comprimidos, puxados e dobrados para adquirirem os forma- tos que o produto necesita?” Bem, voc deve se lembrar de que, quando estudamos as propri- edades dos materiais, citamos suas propriedades mecénicas dentre elas, falamos da elasticidade e da plasticidade. Dissemos que @ elasticidade & a capacidade que o material tem de se de- formar, se um esforgo é aplicado sobre ele, e de voltar a forma anterior quando o esforgo para de existir A plasticidade, por sua vez, permite que 0 material se deforme e mantenha essa defor- mago, se for submetido a um esforgo de intensidade maior mais prolongada. Essas duas propriedades so as que permitem a existéncia dos processos de conformacao mecanica Eles também s&o ajudados pelo reticulado cristalino dos metais. que esté associado ao modo como os atomos dos metais esto agrupados, Como vocé jé estudou, materiais que t8m estrutura CFC, ou seja, cuibica de face centrada, t8m uma forma de agrupamento atémico que permite o deslocamento de camadas de atomos sobre outras camadas. Por isso, eles se deformam mais facilmente do que os que apresentam os outros tipos de arranjos. Isso acontece por- que, nessa estrutura, os planos de escorregamento permitem que 3 camadas de atomos “escorreguem" umas sobre as outras com mais facilidade planos de esizamento Como exemplo de metais que apresentam esse tipo de estrutura apés a solidificagdo, temos 0 cobre ¢ 0 aluminio, Por isso, esses metais so mais faceis de serem trabalhados por conformacao mecdnica. A prova disso é que o aluminio pode ser laminado até ‘a espessura de uma folha de papel. Esse é 0 caso daqueles rolos de folhas de papelaluminio que voc8 compra no supermercado Pare! Estud Responda! Exercicio 1. Responda as seguintes perguntas. a) Quais so as propriedades que permitem que os metais sejam conformados mecanicamente? b) De que forma o reticulado cristalino contribui para a de- formag&o dos metais? ¢) Dé um exemplo de material metalico com estrutura CFC que no esteja citado no texto ) Voc8 acha que o material metalic que voc citou pode ser conformado mecanicamente? Por qué? Conformagao por laminagao A laminago & um processo de conformagao mec@nica pelo qual um lingote de metal é forcado a passar por entre dois cilindros que giram em sentidos opostos, com a mesma velocidade. Assim consegue-se a reducdo da espessura do metal a cada passe de laminago, que é como se chama cada passagem do metal pelos cilindros de laminaco. 4 Ao passar entre os cilindros, o material sofre deformagao plastica. Por causa disso, ele tem uma redugdo da espessura e um au- mento na largura e no comprimento. Como a largura é limitada pelo tamanho dos cilindros, 0 aumento do comprimento ¢ sempre maior do que o da largura ‘Se voc8 quer saber como isso funciona, pare numa pastelaria € veja como o pasteleira estica a massa. Observe como, a cada passada, ele reajusta a distancia entre os cilindros. Veja que a massa fica cada vez mais comprida e mais fina. Aproveite e coma um pastel e tome um caldo de cana geladinho. Nao existe nada mais gostoso Alaminacao pode ser feita a quente ou a frio. Ela é feita a quente quando 0 material a ser conformado é dificil de laminar a frio ou quando necesita de grandes redugdes de espessura. Assim, 0 ‘aco, quando necessita de grandes redugées, ¢ sempre laminado ‘a quente porque, quando aquecido, sua estrutura cristalina apre- senta a configurago CFC que, como jé vimos, se presta melhor 4 laminagao. Além disso, nesse tipo de estrutura, as forgas de coe- ‘80 so menores, 0 que também facilita a deformacdo. Encruamento ¢ 0 resultado de uma mudanga na estrutura do metal, associada a uma deformagdo permanente dos gros do material, quando este & submetido 4 deformagdo a frio, © encru- ‘amento aumenta a dureza e a resisténcia mecénica A laminac&o a frio se aplica a metais de facil conformagao em temperatura ambiente, o que é mais econdmico. & 0 caso do co- bre, do aluminio ¢ de algumas de suas ligas. 15 A laminagdo a frio também pode ser feta mesmo em matais cuja resisténcia 4 deformagao 4 maior. Séo passes répidos e brandos cuja finalidade € obter maior preciso nas dimensdes das chapas Em alguns casos, a dureza e a resisténcia do material melhoram ja que, nesse caso, ele fica “encruado”. Quando se necessita de preciso dimensional e ductiidade, a chapa laminada a frio passa por um tratamento térmico chamado recozimento Sendo a quente ou a frio, a laminagdo parte dos lingotes que, passando pelos laminadores, pode se transformar em produtos de uso imediato como trilhos, vigas ¢ perfis. Pode se transformar ‘também em produtos intermediérios que sero usados em outros processos de conformagéo mecénica E 0 caso de tarugos que passargo por forjamento, extrusdo e tre- filagdo e das chapas que sero estampadas para a fabricacao de automéveis, énibus, fogdes, geladeiras. Pare! Estude! Responda! Exercicio 2. Responda as seguintes questées, a) que € laminacao? b) Qual a diferenga entre um produto final © um produto in- termediario? D8 exemplos. €) Por que 0 ago é sempre aquecido para ser laminado? 16 ‘A maquina de laminar chama-se... Isso mesmo, caro aluno, laminador. © laminador é 0 equipamen- to que realiza a laminacdo. Mas, ndo é s6 de laminadores que a laminagao & composta. Um setor de laminagao ¢ organizado de tal modo que a producao é seriada e 05 equipamentos so dispostos de acordo com a se- quéncia de operagdes de produgo, na qual os lingotes entram e, 420 sairem, ja estéo com o formato final desejado seja como pro- duto final, szja como produto intermediario. As instalagdes de uma laminagéo séo compostas por fornos de aquecimento © reaquecimento de lingotes, placas e tarugos, sis- temas de roletes para deslocar os produtos, mesas de elevacdo basculamento, tesouras de corte e, principalmente, o laminador. Ele & um conjunto mecénico bem parecida com a maquina do pasteleiro E composto de + cadzira - é 0 laminador propriamente dito e que contém a gaio- la, os cilindros e os acessérios. + gaiola- estrutura que sustenta os cilindros. Os cilindros so as pegas-chave dos laminadores, porque so eles que aplicam os esforcos para deformar o metal. Eles podem 7 ser fundidos ou forjados; so fabricados em ferro fundido ou aco especial, dependendo das condicdes de trabalho a que eles sao submetidos. Podem ser lisos, para a producdo de placas © cha- as, ou com canais, para a producdo de pertis. Ts6 tipos de ciindro pescoro ane canal Os laminadores podem ser montados isoladamente ou em gru- pos, formando uma sequncia de varios laminadores em série, Esse conjunto recebe 0 nome de trem de lat ago. Junto a esse conjunto, trabalham os equipamentos auxiliares, ou seja, os empurradores, as mesas transportadoras, as tesouras, as mesas de elevacdo. Os laminadores podem ser classificados quanto ao nimero de cilindros que eles apresentam. Assim temos: Duo - composto de dois cilindros de mesmo didmetro, que giram em sen- tidos opostos, na mesma velocidade Trio - trs cilindros dispostos uns sobre os outros. Quando o material passa pela primeira vez, ele passa entre 0 cilindro inferior e médio. Quando ele retorna, passa pelo cilin- dro médio e superior. LLL 78 Quadruo - apresenta quatro cilindros: dois internos (de trabalho) e dois externos (de apoio). cilindro ‘de apoio cilindro de trabalho Universal - apresenta quatro cilindros com- binados: dois horizontais e dois verticais. Ele 6 utiizado para a laminagdo de trilhos. Sendzimir - apresenta seis cilindros dos quais dois so de trabalho e quatro so de apoio. clindros de trabalho clindros de apoio Alaminagao nunca é feita de uma 6 vez. Assim como o pastelet- ro passa a massa pela maquina varias vezes até que ela tenha a espessura desejada, o metal também ¢ passado diversas vezes pelo laminador a fim de que o perfil ou a chapa adquiram ou 0 formato, ou a espessura adequada para o préximo uso. Nessas passagens, voc obtém inicialmente a laminagao de des- baste, cuja fungdo é transformar os lingotes de metal em produtos intermedidrios ou semi-acabados como blocos, placas e tarugos. Esses produtos passam depois pelos laminadores acabadores onde so transformados em produtos acabados como perfilados, trilhos, chapas, tiras, 1a Pare! Othe! Responda! Exercicio 3. Responda as seguintes questées. a) Qual é a fungdo do laminador? b) Cite as partes de um laminador. ©) Preencha os espacos em branco com o nome dos lamina- dores a seguir: Apresenta quatro cilindros: dois horizontais e dois verti- cai: Apresenta dois cilindros_ de mesmo —didmetro’ Apresenta seis cilindros: dois de trabalho © quatro de a poi: Nesse laminador, o material passa pelos cilindros inferior & médio e retorna pelo médio e superior: Tem quatro cilindros: dois internos (de trabalho) @ dois externas (de apoio): Laminando um produto plano Como ja dissemos, para obter um produto laminado, ele tem que passar diversas vezes pelos laminadores. Na verdade, esse pro- cesso tem varias etapas, porque além da passagem pelos cilin- dros, algumas coisas vo acontecendo a medida que o produto vai sendo laminado. Essas etapas so, em geral, as sequintes: 1. 0 lingote, pré-aquecido em fornos especiais, passa pelo lami- nador de desbaste ¢ se transforma em placas. 2. A placa & reaquecida e passa entéo por um laminador que quebra a camada de éxido que se formou no aquecimento. Nessa operacdo usa-se também jato de agua de alta pressao. 3. Por meio de transportadores de roletes, a placa é levada a um outro laminador que diminui a espessura e também aumenta a largura da placa original. Na saida dessa etapa, a chapa tam- bém passa por um dispositive que achata suas bordas e por uma tesoura de corte @ quente. 80 Finalmente, a placa ¢ encaminhada para 0 conjunto de lami- nadores acabadares, que pode ser formado de seis laminado- res quadruos. Nessa etapa ela sofre redugdes sucessivas, até atingir a espessura desejada e se transformar finalmente em. uma chapa Quando sai da ultima cadeira acabadora, a chapa ¢ enrolada em bobina por meio de bobinadeiras. Para a obtenggo de espessuras ainda menores, a laminacdo prossegue, porém a frio. Para isso, as bobinas passam por um proceso de limpeza da superficie chamado de decapagem Apés a laminagdo a frio, que dé a superficie da chapa um acaba- mento melhor, ela ¢ rebobinada. A bobina resultante passa por um processo de tratamento térmico que produz a recristalizagdo do material e anula o encruamento ocorrido durante a deformacao afi. Além da grande variedade de produtos de aco que se pode fabri car por laminagdo, esse processo de conformacdo mecdnica também é aplicavel ao cobre e suas ligas, a0 aluminio e sua ligas, 4 borracha e ao papel Pare! Estud ! Respondal Exercicio 4. Coloque na ordem correta de execucdo as etapas de lamina- 40 descritas a seguir a) (.) Acchapa sai da cadeira acabadora e ¢ enrolada na bobinadeira b) (.) Aplaca é reaquecida e acontece a quebra da carepa no laminador duo, ©) (.) As extremidades da placa so cortadas em uma te- soura rotativa ) () O lingote pré-aquecido passa pelo laminador de des- baste e se transforma em uma placa e) (.) Aplaca passa por um laminador duo universal 2, em. seguida por duas cadeiras do laminador quadruo. at 1) () Aplaca é levada a um laminador quddruo onde sua espessura é diminuida e a largura, aumentada 9) (.) Aplaca é encaminhada para os laminadores acaba- dores. Caracteristicas e defeitos dos produtos laminados Cada produto industrial tem caracteristicas que o diferenciam dos outros. Nao é diferente com relagdo aos produtos laminados. Por exemplo, as formas desses produtos sdo muito simples: bar- ras, perfis, chapas. Seu comprimento ¢ sempre muito maior que sua largura e, na maioria dos casos, as espessuras também sao reduzidas, Os produtos laminados so empregados tanto na construgdo civil (casas, apartamentos, prédios industriais, pontes, viadutos) quanto na indistria mecnica, na usinagem para a produggo em série de grandes quantidades de pecas como parafusos, brocas, pinos, eixos, barras de segdes diversas e chapas trabalhadas (furadas, cortadas, fresadas, retificadas). Em geral, 0 formato adequado do produto laminado, préximo do produto final usinado, aumenta muito a produtividade dos setores de usinagem. Além das caracteristicas, os produtos laminados apresentam de- feitos que, geralmente, originam-se dos defeitos de fabricagao do préprio lingote. Assim, os defeitos mais comuns dos produtos laminados séo + Vazios - podem ter origem nos rechupes ou nos gases retidos durante a solidificaggo do lingote. Eles causam tanto defeitos de superficie quanto enfraquecimento da resisténcia mecnica do produto, + Gotas frias - séo respingos de metal que se solidificam nas paredes da lingoteira durante o vazamento, Posteriormente, e- les se agregam ao lingote © permanecem no material até o produto acabado na forma de defeitos na superficie «+ Trincas - aparecem no proprio lingote ou durante as operagdes de redugo que acontecem em temperaturas inadequadas 82 + Dobras - so provenientes de redugdes excessivas em que um excesso de massa metélica ultrapassa os limites do canal e so- fre recalque no passe seguinte «+ Inclusées - so particulas resultantes da combinagdo de elemen- tos presentes na composi¢ao quimica do lingote, ou do desgaste de refratérios © cuja presenca pode tanto fragilizar o material du- rante a laminaggo, quanto causar defeitos na superficie. + Segregacées - acontecem pela concentragdo de alguns ele- mentos nas partes mais quentes do lingote, as iltimas a se so- lidficarem. Elas podem acarretar heterogeneidades nas propri- edades como também fragilizaco © enfraquecimento de se- ges dos produtos laminados. Além disso, 0 produto pode ficar empenado, retorcido, ou fora de segdo, em conseqdéncia de deficiéncias no equipamento, e nas condigSes de temperatura sem uniformidade ao longo do processo. A aula sobre laminago termina aqui. Se voc8 quiser saber mais, consulte a bibliografia no final deste livro. Vocé vai descobrir que hé ainda muito o que estudar e aprender! Pare! Estude! Responda! Exercicio 5. Relacione a coluna A (defeito) com a coluna B (caracteristica do defeito) Coluna A Coluna B a) () vazio 1. particulas resultantes da combinagdo de elementos b) () gota tia presentes na composi¢ao quimica ©) () trinca 2. otigina-se nos rechupes ) () dobra 3. alguns elementos concentrados nas partes mais e) () incluso quentes do lingote f) (.) segregacdo 4. aparecem no lingote ou durante as operacdes de redugdo, 5. respingo de metal que se solidifica na parede da lin- goteira 6. excesso de massa metélica que é recalcada na ope- ragdo seguinte 83

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