Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O “Raqs Sharqi” egípcio ou estilo egípcio da dança do ventre, também conhecida como
Oriental, Cabaret ou Clássica, é o estilo com o qual a maioria dos ocidentais está
familiarizada. Em sua forma moderna, se desenvolveu no Cairo na década de 1920 e foi
um gênero de dança híbrida desde o início.
As origens do estilo egípcio residem tanto nas tradições egípcias quanto nos elementos
transculturais provenientes de países do Oriente Médio, da Europa e das Américas.
1. Dança Baladi
Baladi no Egito pode significar muitas coisas. Literalmente, significa do país, portanto,
local (os egípcios). No entanto, baladi também se refere à “classe trabalhadora ou autêntica”. É
um termo que pode ser traduzido aproximadamente como “tradicional”, mas que também retém
uma rica infusão do local e do autêntico.
Baladi também tem conotações morais, com as pessoas baladi sendo consideradas
orgulhosas, hospitaleiras, rústicas. Pode implicar um tipo de pureza ou autenticidade, sem mácula
por influência externa (ocidental).
As mulheres baladi são descritas como fortes, confiantes e despachadas. Ser “Bint il
balad”, significa literalmente "garota do campo", é um status elogiado: refere-se a uma mulher
que personifica o ideal egípcio.
Esses sentimentos são refletidos na dança baladi, que é a dança folclórica tradicional e o
ritmo musical principal do Egito, Líbano, Síria e muitas outras culturas da região. O baladi é uma
dança improvisada e vinculada a um tipo de música que é descrita como 'um gênero urbano
improvisado usando o acordeon, o violino e instrumentos de sopro'.
O sentimento da dança baladi reflete as conotações geralmente associadas às pessoas
baladi: é uma dança raíz (dançada com os pés no chão), forte, mas sedutora e atrevida. O Baladi é
emotivo e introspectivo, mas também é sensual e divertido.
2. Dança Ghawazee
Os Ghawazee são ciganos Sinti do Egito. Os mais famosos estavam em Luxor e Soumboti.
A dança Ghawazee é uma dança alegre, espontânea, muito animada e carismática. Caracteriza-se
por rápidos e contínuos shimmies de quadril, marcações com os pés, pequenas subidas e descidas
de peito, ondulações de abdômen, travadas, encaixes e desencaixes, cambrés e trabalhos de
chão, além do uso de sagat. A dança é em parte improvisação e em parte coreografia.
Muitos ritmos podem ser ouvidos nas músicas próprias para dança ghawazee, mas os
principais são o maksum, o fallahi e o saidi. Por ser oriunda de uma cultura cigana a música para
dança ghawazee é muito variada e difícil de diferenciar. Isso porque, muitas vezes, o que torna
claro que uma determinada música é ghawazee são as letras e sotaques.
As maiores representantes da dança Ghawaze no Egito foram as Banat Mazin (filhas de
Mazin ou Meninas Mazin), ciganas da tribo Nawar que desenvolveram um estilo familiar e único,
o estilo Ghawaze Mazin: elas moviam seus quadris muito rapidamente com movimentos laterais,
sem figuras de oito ou círculos, tão comuns na dança do ventre, e seus braços eram mantidos em
posições fixas enquanto tocavam sagat. Por viverem no Alto Egito essas bailarinas tornaram-se
muito íntimas do povo Said e se inspiraram nos passos masculinos de Said e Tahtib para criar uma
versão feminina da dança do bastão.
Já o estilo Ghawaze Soumboti, das dançarinas da região de Soumboti, no Cairo, é muito
sensual, forte e natural. Quadris soltos, pernas mais afastadas, joelhos flexionados e pés no chão.
O quadril trabalha num frenesi constante. Utiliza-se passos com muitos breaks, contrações
pélvicas, batidas, twists e tremidos, e conta com a presença de sagat. As bailarinas de Soumboti
foram as primeiras a executarem a dança feminina com roupas de duas peças.
4. Danças Folclóricas
No final da década de 1950 no Egito, após a revolução de 1952, o governo incentivou um
interesse renovado na cultura egípcia. Foi nesse ambiente político e cultural que o Ministério da
Cultura estabeleceu, em 1957, o Centro de Artes Folclóricas com o objetivo de manter e reviver as
tradições folclóricas de dança e música do Egito.
Já em alguns filmes da década de 1940 havia algumas cenas de dança folclórica. Com o
renascimento folclórico na década de 1950 mais pesquisas foram realizadas sobre danças egípcias
tradicionais, criando-se grupos folclóricos. Estes incluíam:
Leil Ya Ain, ao qual Naima Akef se juntou;
Nelly Mazloum Trupe Árabe de Dançarinos, grupo criado em 1956 por Nelly Mazloum; e
Reda Troupe, financiada por Mahmoud Reda, que foi a figura mais influente no campo da
dança folclórica egípcia.
Mahmoud Reda criou um novo gênero de Dança-Teatro como resultado de sua pesquisa
sobre danças folclóricas. O seu objetivo era legitimar a dança como uma forma de arte, em vez de
uma atividade considerada de má reputação. Assim, ele usou as tradições folclóricas egípcias
como recursos para ajudá-lo a criar suas próprias visões artísticas inovadoras.
Temos, portanto, duas formas de danças folclóricas, as que se baseiam na tradição, têm
movimentos que representam crenças e costumes de cada região do Oriente Médio, com
vestimentas típicas, gestuais específicos e regrados; e as danças-teatro inventadas por Mahmoud
Reda, em meados do século 20, que são danças inspiradas no folclore tradicional, mas
desenvolvidas em função da licença poética de seu criador.
As coreografias criadas por Reda não eram reproduções exatas de danças folclóricas, seu
objetivo era criar uma nova forma de dança teatral tipicamente egípcia. Seus trabalhos nunca
foram imitações diretas ou reconstruções precisas. Eles eram sua própria visão das qualidades de
movimentos dos egípcios: a postura, o comportamento e o gesto dos homens e mulheres de seu
país, seja na dança ou nas atividades cotidianas.
Mahmoud Reda fez adaptações na dança do ventre para torná-la mais refinada, ele
alterou os movimentos que considerava sexualmente sugestivos, mudando a maneira como eles
haviam sido executados originalmente. Ele também codificou e aperfeiçoou alguns movimentos,
como: shimmie de quadril, movimentos de braço (ele identificou diferentes alcances dos braços -
médio e próximo - e como os braços se moviam em relação a outras partes do corpo, para
desenvolver um estilo fluido), giros deslocando e relevé (introduziu o relevé - movimentos
executados na ponta dos pés - em alguns giros, no arabesque e em alguns movimentos de
quadril).
As danças teatrais criadas por Reda resultaram em uma “herança egípcia”, uma herança
que pode ter começado como uma tradição inventada, mas que se estabeleceu e influenciou a
história da dança do ventre e da dança folclórica egípcia.
Ao longo do tempo as danças locais passaram por uma transformação gradual tornando-
se o que agora é chamado de dança do ventre. Na década de 1920 a dança vista nas salas
era muito semelhante à dança das Ghawazee, ou seja, foi realizada solo, com o mínimo
de trabalho com os pés e muitos isolamentos do tronco, e as dançarinas, que às vezes
tocavam sagat, eram acompanhadas por músicos tradicionais e um cantor.
Em vez disso, na década de 1930: as dançarinas usavam mais espaço, trabalho de pés
variado e diferentes posições dos braços; a dançarina principal era apoiada por uma linha
de dançarinas de coro e os conjuntos musicais que acompanhavam a dança eram muito
maiores, com uma mistura de instrumentos musicais tradicionais e ocidentais.
A própria Badia Masabni comentou em uma entrevista como mudou a dança e como
foram trazidas novas influências transculturais: “no passado, a dança era toda no
abdômen. Eu fiz variações na dança - adicionei dança latina, turca e persa a ela, para que
não fosse entediante”. A ideia de que a dança não deve ser “entediante” é resultado de
sua transformação de participativa em apresentacional.
Masabny empregou coreógrafos ocidentais como Isaac Dixon, Robbie Robinson e Christo,
que adicionaram elementos de outras tradições da dança, por exemplo, os giros e os
deslocamentos das formas de dança ocidental, como balé e dança de salão. O falecido
mestre e coreógrafo Ibrahim Akef, que também trabalhou com Masabny, identificou
"shimmies", movimentos ondulantes (incluindo o que chamamos de "camelos"), círculos
e "oitos", além de vários movimentos de quadril como sendo o "Sharqi" original ou
movimentos orientais.
O primeiro detalhe que chama atenção é a interpretação. É raro encontrar uma bailarina
egípcia com este ponto fraco. Normalmente elas sofrem e ficam alegres de acordo com
letra e melodia da canção, este é um traço muito característico da bailarina Dina.
Isto tudo enquadra movimentos pequenos, mas bem marcados de quadril, poucos
deslocamentos e uma técnica de tremidinhos bastante caprichada. Como o quadril ganha
destaque, braços e mãos ficam mais delicados e sutis. Em geral, possuem uma dissociação
corporal apurada e uso de contrações musculares secas para gerar movimentos pequenos
e intensos. Na música, costumam acompanhar mais o ritmo do que a melodia, sendo que
os folclóricos, como o Saidi, são mais comuns.
Referências:
https://www.worlddanceheritage.org/birth-raqs-sharqi/