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Franzine da Casa Comum das Tertulias

Junho 06
Fotografia de Fernanda Mateus n.4
Franzine da Casa Comum das Tertúlias * http://franzinetertuliando.blogspot.com
fundador e director _Luís Noberto Lourenço * edições Casa Comum das Tertúlias

Tertúlia Ciudad Rodrigo Tertúlia de Vila Nova de Paiva

Apresentação do livro de Daniel Sampaio-Castelo Branco Exposição Silvía Felix Trindade

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pub.
Cidadania, Cultura, Castelo Branco Poema “Aos nossos queridos
e Beira Baixa irmãos portugueses”
por_ Luís Norberto Lourenço por_ Ricardo Vicente Martín

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Toxicodependência: terapêuticas Fotografia de Fernanda Mateus
sociais ou terapêuticas clínicas
por_ Carlos Casaquinha

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Franzine da Casa Comum das Tertulias

AOS NOSSOS QUERIDOS IRMÃOS PORTUGUESES*

Luís Norberto Lourenço Belo dia começava


No canto mais bonito
Resumo das iniciativas até hoje realizadas Editorial Que oferece Ciudad Rodrigo
(da 59.ª à 75.ª de 125): Às dez da manhã
Cidadania, Cultura, Castelo Branco
59. APRESENTAÇÃO DO FANZINE “CADERNOS PERIFÉRICOS”, N.º 3, DEDICADO À e Beira Baixa
Que fácil é conseguir
ARQUITECTURA, POR VASCO CÂMARA PESTANA – 9 de Janeiro de 2003 – 21h, Café/
Bar “O Foral”, Penamacor Podia bem ser um trocadilho, uma graçola, Um agradável convívio
no entanto, é o nosso programa. Quando intercede a amizade
60. TERTULIANDO SOBRE A RECICLAGEM, com José Janela e Samuel Infante (QUER- A apologia: duma cidadania participativa; O apreço e a lealdade
CUS) – 17 de Janeiro de 2003 – 21h 30m, Atelier do Grupo Evasão, Castelo Branco duma cultura de qualidade, acolhendo to-
dos os públicos; a defesa da nossa cidade, Caros amigos, IRMÃOS, portugueses:
61. TERTÚLIA “A COOPERAÇÃO ENTRE AS BIBLIOTECAS”, com Ilda Lopes (Bibl. Mun. Castelo Branco, charneira do desenvolvi-
Penamacor) e Joana Lopes Dias (Bibl. Geral da UBI) - 31 de Janeiro de 2003 - 21h 30m, Partilhámos proezas
mento regional de toda uma região que é
AGE, Castelo Branco Partilhámos glórias
a Beira Baixa, inserida numa Beira Interior,
com problemas comuns e potencialidades Partilhámos história 103ª Iniciativa da CCT – Visita cultural a Ciudad Rodrigo no âmbito da TERTÚLIA
62. EXPOSIÇÃO DE PINTURA “Explorações II” de Fátima Almeida - Fevereiro de 2003, “CENTRO SANITARIO TRANSFRONTERIZO”
ora semelhantes ora complementares. E, tantas vezes de costas voltadas!
Bar X-Terna, Portalegre convidados: Dr. José María Francia, Dr.Carlos Manuel Almeida e Dr.ª Rita
O nosso Arquivo Tertuliano continua a tra- Diana Moreira e moderadores: Dr. Luís Gutierrez Barrio e Dr. Luís Norberto
63. SAÚDE PARA TODOS Um paradigma em crise? - 13 de Fevereiro de 2003, 21h, Sala zer para à luz “fanzínica”: poesia, fotos, Agora peço e rogo a Deus Lourenço, Centro Cultural e Recreativo “El Porvenir” de Cidade Rodrigo, 17
de Conferências do Hospital Dr. José Maria Grande, Portalegre conclusões de tertúlias, opinião, resenha Que quando o Douro e o Águeda de Abril de 2004, 17h, org. Tertúlia “Los Escudos IV” e “Casa Comum das
Se juntarem num abraço Tertúlias”.
de imprensa, resumo de iniciativas e divul-
64. O ESTADO DAS ARTES EM PORTUGAL, com: arquitecto Joaquim Bonifácio, pintor gação de próximas actividades… de tudo Seja um símbolo de amor
Alexandre. F. Correia, poeta Vasco C. Pestana, músico Nuno Rufino, fotógrafo Nuno Mar- isto é feito a Tertuliando e em todos esses Entre os povos irmãos
ques e escritor Lopes Marcelo-14 de Fevereiro de 2003-21h 30m, AGE, Castelo Branco documentos está bem presente o nosso
programa. Não, não é um programa político E assim para toda a vida
65. PROVA DE VINHOS, ADEGA COOPERATIVA DE PORTALEGRE - 18 Fevereiro de Em fraterna comunhão
2003 -18h, Portalegre
(que não é para cumprir!), é, isso sim, um
conjunto de princípios que estão presentes E que assim o Pai Douro
em cada iniciativa, o que resulta numa ac- Pai seja dos dois
66. O VINHO E O TEMPO - 18 de Fevereiro de 2003-21h, Café Tarro, Portalegre
ção cultural e cívica, com agenda própria
67. A POESIA DO ROMANTISMO PORTUGUÊS: José Maria du Bocage, Almeida Garrett e Ouve querido amigo
FICHA TÉCNICA TERTULIANDO
António Feliciano de Castilho - 28 Fevereiro 2003 - 21h, AGE, Castelo Branco Nunca chegaste a pensar
Fanzine da Casa Comum das Tertúlias
Que o Pai Douro e o Águeda
68. A ASTRONOMIA, com o Prof. Máximo Ferreira - 21 Março 2003 - 21h 30m, AGE,
Fundador e Director:
Luís Norberto Lourenço Após tanto caminhar
Castelo Branco (e-mail: luis.lourenco@portugalmail.pt)
Não se teriam conhecido
Colaboradores:
Ana Fonseca Se não existisse Portugal?
69. ENCONTRO COM O ESCRITOR E POETA JOSÉ LUÍS PEIXOTO, no âmbito da “I António Jacinto Pascoal
Carlos Casaquinha
Feira do Livro Juvenil” organizada pela BMP inserida nas actividades da “Semana da Fernanda Mateus
Hoje regresso a Salamanca
Hernâni Cajado
Juventude” promovida pela CMP - 26 de Março de 2003 - 10h, Biblioteca Municipal de Jorge Manuel Costa
Cheio vou de emoção
Lopes Marcelo Tertúlia “LAS TERTULIAS A NÍVEL LOCAL Y LOS ‘BLOGS’ A NÍVEL MUNDIAL,
Penamacor. Magda Nisa
Maria João Capelo Lá tens outra casa ÚLTIMOS Y ÚNICOS ESPACIOS DE LIBERTAD”
Nuno Alexandre Barbosa
Mas, nunca esqueças, peço-te org. Tertúlia de “Los Escudos IV”, café “LosEscudos IV”, Salamanca,
70. APRESENTAÇÃO DA REVISTA AÇAFA (N.º 5) DA AEAT, com Jorge Gouveia (AEAT) e moderada pelo Luis Gutiérrez Barrio e Luís Norberto Lourenço (organiza-
Francisco Henriques (AEAT) - 28 de Março de 2003 - 21h 30m, AGE, Castelo Branco
Design e Paginação
Loop Design, Lda (272 325 202) Que vais levar para sempre dor da CCT) como convidado.
Propriedade: Uma parte do meu coração
Casa Comum das Tertúlias
71. TERTÚLIA “EMIGRAÇÃO, IMIGRAÇÃO E MIGRAÇÃO”, com Nazar Gushpit, Estala- (e-mail: casa_comum_tertulias@portugalmail.pt)

gem da Vila Rica, Penamacor – 3 de Abril de 2003, 21h, actividade inserida da “Feira do Edição: Mas volta logo, amigo meu,
Livro” organizada pela BMP Edições Casa Comum das Tertúlias
Passa e entra sem chamar
Local:
Castelo Branco Pois eu juro-te, querido.
72. TERTÚLIA “A GUERRA NO IRAQUE: INVASÃO OU LIBERTAÇÃO?” - 11 de Abril de Impressão: Que não há portas pub.
2003 - 21h, AGE, Castelo Branco Loop Design,
Entre Espanha e Portugal.
Comunicação e Multimédia, Lda.

Periodicidade:
73. EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE VASCO DA CÂMARA PESTANA – de 25 de Abril a 10 mensal Ricardo
de Maio de 2003, Estalagem da Vila Rica Penamacor Tiragem deste nº: (Ciudad Rodrigo, Abril de 2004)
200 exemplares

*Poema declamado em Castelo Branco, por Ricardo Vicente Martín, amigo de La Tertúlia de Los
74. APRESENTAÇÃO DA REVISTA PALAVRA EM MUTAÇÃO (N.º 2), com António Teixeira Publicidade:
Contactar o Tlm. 966417233 Escudos IV (hoje Rona Dalba) de Salamanca, durante o almoço-convívio a 25 de Abril de 2004, no
e Castro (dir.) - 25 de Abril de 2003, AGE, Castelo Branco âmbito das Comemorações dos 30 anos da “Revolução dos Cravos”, na 104.ª tertúlia: “O 25 DE
Sítio: ABRIL VISTO DE ESPANHA”, Biblioteca Municipal de C. Branco, 15h. A 2.ª de duas tertúlias con-
http://casacomumdastertulias5out2001.planetaclix.pt
juntas, este poema recorda a 1.ª iniciativa, a tertúlia sobre um “Centro de Saúde Transfronteiriço”,
75. APRESENTAÇÃO DA REVISTA LER (N.º 58), com Mafalda Lopes da Costa (dir.) - 10 Blogs: 17 de Abril, 17h, Centro Cultural e Recreativo “El Porvenir” de Cidade Rodrigo.
http://republicalaica.blogspot.com * http://cctertulias.blogs.sapo.pt *
Maio de 2003 - 16h, Biblioteca Municipal de Castelo Branco http://casacomumdastertulias.blogspot.com * http://fanzinetertuliando.blogspot.com

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e alheia a outras orientações. Na CCT só os espíritos pouco dos quais entrega à Biblioteca Municipal local; outros são
Franzine da Casa Comum das Tertulias
livres se podem sentir desenquadrados. guardados para serem oferecidos em várias ocasiões; alguns
estarão à venda na Tesouraria de cada autarquia, outros no
Hora de balanço na próxima tertúlia Posto de Turismo local e alguns ainda poderão ser postos à
As tertúlias são notícia ... A fanzine chega ao nº 4, cinco incluindo o nº 0. venda em livrarias, papelarias e quiosques locais.
Não é um número “gordo” nem “redondo”, certamente que Eventualmente, serão feitas apresentações públicas das obras,
não basta para entrar para a História… ainda! num tom solene (o que agrada aos ilustres, mas afasta os po-
Esta revolução gráfica permanente (3 grafismos em apenas 5 tenciais e reais leitores).
números) é fruto duma procura constante e sistemática para Na Biblioteca Municipal de Beja, na sua recepção é possível
melhor fazer passar uma mensagem que permanece, indepen- adquirir algumas obras locais! Claro, já sabemos que Beja é
dentemente da imagem. outra história, habitada por marcianos, cuja capacidade cra-
É hora dum primeiro balanço. Por isso realizaremos uma tertú- niana ultrapassa a de qualquer terrestre luso, como toda a
lia para a apresentação deste número no Museu de Francisco gente sabe!
de Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, instituição cul- Os locais de venda, em regra: Posto de Turismo e Tesouraria
tural que em 4 anos de Casa Comum das Tertúlias acolhe pela Municipal, são serviços que estão abertos com horários (o PT
segunda vez uma iniciativa nossa. Fica aqui o nosso Bem-haja de Castelo Branco está aberto à hora de almoço, grande con-
ao MFTPJ, em especial à sua Directora, a Dra. Aida Rechena quista) que não servem a maior parte dos cidadãos, tendo, o
e também à Maria João Capelo, tertuliana de sempre, a quem primeiro, normalmente um espaço exíguo (o de Marvão e o de
entreguei a responsabilidade de apresentar este projecto, que Seia são excepções positivas), sendo, o segundo, tudo menos
também é seu, pelo carinho que lhe tem votado. um local apelativo e nada promotor da cultura. Logo, as recei-
tas não cobrem minimamente o que foi pago, indirectamente,
Desculpem, sou beirão! por todos nós, através dos impostos.
O sentimento de pertença a uma região, a um qualquer espa- Contudo, autarquias com uma política cultural estruturante e
ço, surge porque aí se nasceu, aí fomos criados ou porque de uma política, economicamente e financeiramente inteligente
alguma maneira fomos levados a adoptá-lo como nosso. (lembre-se o leitor da pergunta inicial) foram mais longe e cria-
Esse sentimento é alheio a modas, a conjunturas. Não somos ram Livrarias Municipais, espaços dinamizados culturalmente,
algarvios só porque o Algarve é uma região turisticamente in- onde as obras apoiadas são tratadas como merecem: foram
ternacional, não passamos a ser lisboetas só para ser da Ca- pagas porque mereciam, então que sejam amplamente divul-
pital, não renegamos à Beira Baixa só porque é uma região gadas, vendidas, oferecidas ou integradas numa política de
tradicionalmente pobre. permutas culturais entre municípios.
Somos da Beira Baixa… apesar das modas. Se uma obra apoiada por um organismo público é mal divulga-
Pobreza, interioridade, desertificação? Dizemos presente para da e não se encontra em quase lado nenhum, conclui-se que o
que assim não continue, fundamentaremos a nossa opinião, investimento foi mal feito e não se optimizaram recursos!
propondo, criticando, agindo cultural e civicamente. O que interessa a um autor quando publica um texto, um livro?
Ser lido! Para isso deverá ser publicado. Sem encargos, de pre-
Livrarias municipais em Portugal ferência e se ainda ganhar alguma coisa tanto melhor.
Questão meramente cultural? Talvez não! Publicar por publicar tem um interesse muito relativo. Se a
Que politica cultural autárquica? Como promover a leitura e obra não for divulgada e lida, vendida ou oferecida é empenho
que meios se afectam para a sua devida promoção? que se perde.
Dependendo das respostas a estas perguntas, assim haverá a É preferível fazer uma tiragem de 50.000 exemplares, desses,
opção ou não, pela existência duma livraria municipal. 45.000 ficam encaixotados e vender-se apenas 500? Ou será
Quantas existem e onde? Para que servem? O que fazem os preferível publicar 10.000 exemplares, 9.500 serem coloca-
municípios às obras que editam e que apoiam? dos em postos de venda e vender 9.000?
Da investigação que fiz, encontrei as livrarias municipais que Política cultural: passiva ou activa?
se seguem, é possível que existam mais: Guarda, Lourinhã, A primeira, na medida do possível, tenta dar resposta cultural
Albergaria-a-Velha, Aveiro, Cascais, Coimbra, Évora, Lisboa, à procura cultural.
Loures, Matosinhos, Oeiras, Ovar, Sintra e Vila Nova de Gaia. A segunda, antes que se manifeste uma necessidade, vai de
Todas as Câmaras Municipais editam e subsidiam ou apoiam encontro aos vários públicos, ouve os agentes culturais e pro-
a publicação de livros e revistas. cura antecipar necessidades e dar a melhor oferta cultural, não
Esse investimento, é dinheiro público, proveniente dos nossos tendo que significar isso um avultado investimento na área da
impostos. Logo, o que se faz com esse investimento, diz res- cultura, antes, através duma aposta na diversificação da oferta
peito a todos os cidadãos. cultural e pensando nos vários níveis etários, criar e surpre-
Essas obras ao serem apoiadas destinam-se a vários fins: as ender os públicos, apostando na qualidade, não esperando
autarquias adquirem um n.º importante de exemplares, alguns sentados que os leitores, os espectadores, apareçam.
pub.
Proxima tertúlia ...

Apresentação de
“Tertuliando - Fanzine da Casa Comum das Tertúlias”
Nº 4, Junho/2006 e balanço deste projecto editorial
com Dra. Maria João Capelo
(Licenciada em História, tertuliana e colaboradora da fanzine)

Museu de Francisco Tavares Proença Júnior-Castelo Branco

10 de Junho de 2006-16h

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Franzine da Casa Comum das Tertulias Franzine da Casa Comum das Tertulias

pulação portuguesa apresenta graves incapacidades ligadas vinculação laboral - qual o lugar e o valor que o trabalho tem
ao álcool constituindo estas um fardo económico para o país na nossa sociedade - e como é que esses elementos podem
– 2% a 6% do PIB); embora o tabagismo signifique um notá- contribuir para as toxicodependências;
“As conclusões das tertúlias” Carlos Casaquinha vel consumo financeiro subtraído ao rendimento das famílias e • Sobre a organização da sociedade sob o ponto de vista urba-
Licenciado em Saúde na Comunidade esteja na origem de, pelo menos, uma quarta parte das mortes nístico e qual a relação com as toxicodependências;
por cancro, na região europeia (com a proporção a aumentar • Sobre a organização das comunidades locais e como é que
(Conclusões da TERTÚLIA: TOXICODEPENDÊNCIAS: TERAPIAS SO- de sentimentos de omnipotência carregando o nos últimos anos). Designamos a questão de paradoxal porque essa organização pode contribuir para as toxicodependências;
CIAIS OU TERAPIAS isolamento e a solidão na outra face, que se coloca a questão quando interrogamos as pessoas acerca da sua reacção tão • Sobre a organização das associações desportivas e como é
CLÍNICAS, organizada pelo “Espaço Tertúlia”, LIVRARIA 8.6, POR- do prazer. Não o prazer construído, conquistado, fruto da rela- emocional às toxicodependências, elas justificam-na no fac- que essa organização pode contribuir para as toxicodependên-
TALEGRE, 21h, 17 ção entre os sentidos, da fantasia, da construção ilusionante to de haver imensos riscos no consumo de droga, de haver cias;
de Abril de 2002) na relação envolvente com a vida, com o sonho. muitas pessoas toxicodependentes e de a toxicodependência, • Sobre o exercício do poder local e como é esse exercício
Não! Esta sociedade inventou um outro prazer que dispensa o muitas vezes, provocar a morte. A reacção emocional não é pode contribuir para as toxicodependências.
TOXICODEPENDÊNCIAS: envolvimento, a relação, que dispensa os sentidos e a fantasia, explicável por estes factores, é-o antes pelo facto de a socie- Terão estas questões sido equacionadas quando se traçam li-
TERAPÊUTICAS SOCIAIS OU TERAPÊUTICAS CLÍNICAS* o sonho, e que vai afastando o indivíduo de si próprio, dos dade se sentir nhas de prevenção da toxicodependência, tratamento e rein-
outros, da realidade. Chegando a este momento, parece-nos traída, insultada, ameaçada nos seus alicerces pela proble- serção social dos toxicodependentes?
“O 7º planeta foi, portanto, a terra. A terra não é um planeta redundante a pergunta: que sociedade foi necessário construir mática da toxicodependência. Como se o comportamento do Quando se concebem medidas tão marginalizantes como:
qualquer. Conta com cento e onze reis (…), sete mil geógrafos, para que as drogas se afigurem tão atractivas? Como abordar o toxicodependente fosse um comportamento acusatório ao fun- Salas de Injecção Assistida. Baseando-nos na realidade da
novecentos mil homens de negócios, sete milhões e meio de problema? Respondendo à questão central “Toxicodependên- cionamento, à organização social; às desigualdades que a so- ineficácia das terapêuticas individuais e, por outro lado, no
bêbedos, trezentos e onze milhões de vaidosos, ou seja, cerca cias: terapêuticas sociais ou terapêuticas clínicas?”, não há ciedade promove. Esta questão sensível coloca em evidência conhecimento dos factores protectores em relação aos com-
de dois biliões de pessoas grandes”. dúvida séria sobre a resposta – trata-se de uma doença social o conflito permanentemente vivido pela sociedade: a entre- portamentos adictivos, parece-nos ser tempo de iniciar um
e pessoal. Contudo, as medidas tomadas, regra geral, quer em ajuda e a solidariedade, a tolerância, o esforço e o trabalho na trabalho de prevenção, tratamento e reinserção que possa con-
“O Principezinho”, de Saint-Exupéry termos de prevenção, quer em termos de tratamento, quer em procura de realização pessoal, a construção de um objecto de tar com a colaboração de vários parceiros: das autarquias, das
termos de reinserção, são medidas dirigidas ao doente, como interesse e a sua projecção no futuro, a democratização dos escolas, das instituições colectivas, das associações culturais
“O Principezinho”, de Saint-Exupéry, ilustra, de forma notável se fosse apenas uma doença pessoal, individual. Autores justi- recursos e do conhecimento e - o outro lado do conflito - a pro- e sociedades recreativas, dos clubes desportivos, das pessoas
o universo confuso e instável da sociedade actual, incapaz de ficam esta atitude devido ao facto de a experiência clínica, até moção do individualismo, da intolerância e intransigência face individuais e, do governo, na promoção de politicas familiares
dar segurança. Um universo que induz um sentimento básico ao início da década de 60, ser de doença individual, no entan- às diferenças individuais, do dinheiro fácil, do trabalho pre- e laborais que permitam ao homem viver bem, pois como já
de vazio, incompletude, e insatisfação consigo próprio e com to, após a década de 60/70, começou a ser cada vez mais cário e desemprego, do imediatismo pela impossibilidade de então, advogava São Tomás de Aquino, “não basta que os ho-
os outros, a falta de confiança ou a exibição compensatória, a difícil manter esse entendimento acerca do consumo de dro- projecção no futuro que é de precariedade laboral, económica, mens vivam, é preciso que vivam bem”. Regressando ao Prin-
dependência ou a super-independência, a incapacidade de gas, por um lado porque a epidemia das toxicodependências afectiva, da ausência de um currículo escolar que contenha cipezinho, importa saber que numa outra leitura, mais reflecti-
usufruir o prazer em geral, incapacidade aprendida pela inte- permitiu entender que algo estava em jogo que não era ex- conteúdo ideológico e ético, do analfabetismo. É na reflexão da, o rei, o vaidoso, o acendedor de candeeiros, o homem
riorização de modelos que, quais vírus parasitas, a sociedade plicável através de factores individuais mas sim por questões sobre esta pluralidade de questões que talvez encontremos os de negócios, o bebedor e o geógrafo mais não são do que
vai inculcando no jovem, durante a sua caminhada pela ado- sociais - dificuldades económicas, desemprego, crise de ha- factores predisponentes para os comportamentos aditivos e, algumas facetas sociais da multiplicidade do ser humano úni-
lescência – uma caminhada rumo à descoberta do mundo ob- bitação, crise dos próprios paradigmas sociais; por outro, de- nomeadamente, para a toxicodependência. A auto-estima, o co e irrepetível, dessas pessoas grandes - os cidadãos - mol-
jectal, uma descoberta que espanta, que assusta, que convi- vido ao relativo fracasso das intervenções que abordavam o prazer nas relações interpessoais, o prazer na comunicação dadas pela sociedade, essa sociedade que, aos vários níveis,
da, que ilusiona. Ilusiona a capacidade de ultrapassar limites, problema individualmente, quer as de aconselhamento quer afectiva, a realização profissional, o divertimento, a organiza- é urgente responsabilizar, pois cada um de nós participa na
a ânsia de bater recordes, de ir mais longe, de ser mais alto, as de tratamento. ção e construção de um projecto de vida ilusionante e centrado construção da sua própria saúde e da sua própria doença,
de ter mais força de ser mais veloz, de alterar de controlar, de A 2ème Conférence Européenne des Intervenants en Toxico- no futuro, o exercício de uma cidadania activa, constituem fac- reproduzindo os modelos que aprendeu.
subjugar. Existir é um acto comunitário, contudo a vivência manie que teve lugar em Paris (Fevereiro de 1996), aprovava tores protectores em relação aos comportamentos adictivos, Nota:Publicado na íntegra no blog: http://cctertulias.blogs.sapo.pt

comunitária, a coesão familiar, a relação família/bairro/escola/ a Proclamação de Paris (Proclamação). Este documento orien- sabendo-se que a sua ausência é predisponente para estes.
BARRIAS, J. – O Passado e o Presente na Política do Álcool, in: Tempo
trabalho, enfim, toda a ritualistica social estruturante, fomen- tador, já então referia que o abuso das drogas não é uma ques- Medicina, 31/12/2001
tadora de laços afectivos, tem vindo a ser desvalorizada em tão conjuntural e passageira, está enraizado na evolução das Com base neste conhecimento, podemos questionar-nos: MILHEIRO, J. – Loucos São os Outros, Edições Asa, SA, Lisboa, 2000
CATITA, P. – A Vida Incomparável, Comunicação apresentada no VII Encontro das
prol de um individualismo que leva ao isolamento. Que impli- nossas sociedades, com a renovação constante das substân- • Sobre o valor da relação familiar na nossa sociedade e como Taipas, 1994
DOMINGOS, H. – Tabaco, Publicidade e Seus Malefícios Para a Saúde,
cações, questiona Pedro Catita, terá este aspecto no crescente cias de abuso e das suas formas de consumo, com a extensão é que a relação in:Enfermagem em Foco, SEP- Ano VI, Novembro/Janeiro, Lisboa 1996
sentimento de que os outros são dispensáveis, de que cada dos consumos a todas as classes sociais, com as crises sociais familiar contribui para as toxicodependências; CHAVES, R. – Filhos Herdam Vícios dos Pais - Toxicodependência e Alcoolismo
dos progenitores reflecte-se nas crianças, in: Correio da Manhã – Sociedade,
um se pode, ou deve, bastar a si próprio? O psicólogo ensina que ampliam a desorganização e as hesitações. Os objectivos • Sobre a qualidade da escola que temos, sobre a natureza Lisboa, 2002
SAINT-EXUPERY, A. – O Principezinho, 16ª edição, Editora Caravela, Lisboa 1987
que, diariamente, as crianças e os jovens vão passando por das políticas públicas na Europa, refere ainda a Proclamação, da educação entre nós, e como é que a escola e a educação DIAS, C. A. – Volto Já - Ensaios Sobre o Real, Edições Fim de Século, Lisboa
três sistemas responsáveis pela sua formação, que pretende devem ser redefinidos e articulados através de intensos esfor- podem contribuir para as toxicodependências; 2000
DIAS, C. A. – Ascensão e Queda dos Toxicoterapeutas ou a Democracia da
ser um todo global e coeso: a família, a escola e a comunidade ços de partilha e de concertação. De tais objectivos depende- • Sobre a importância do trabalho na nossa sociedade, quais Mentira, Editora Fenda, Lisboa, 1995

alargada. Contudo, como poderá essa formação ser um todo rão a credibilidade das instituições sociais e das sociedades as perspectivas de trabalho, qual a estabilidade conferida pela
global e coeso se as relações entre estes sistemas são pro- democráticas. A abordagem ao problema das toxicodependên-
fundamente deficitárias? Como poderá sê-lo se à família resta cias não deverá ser centrada nos produtos em si mas nas pes-
pouco tempo para estar junta após resolução dos aspectos soas e nas suas relações sociais, e deve apoiar-se em laços de
funcionais (comida, higiene)?; como poderá sê-lo se à escola, solidariedade existentes nas suas comunidades de origem. A
cada vez mais, é pedido que tudo faça, sobretudo que passe hora é de cooperação, apela desde 1996 a Proclamação. Uma Tertúlia : AS ALMINHAS NA RELIGIOSIDADE POPULAR
conhecimentos e que normalize “formate”?; como poderá sê- das questões paradoxais em torno dos comportamentos aditi-
lo se se vive numa comunidade demitida e anónima, em que vos é a reacção selectiva dos cidadãos à toxicodependência: a
cada um se desresponsabiliza pelo que acontece ao seu sociedade reage de forma mais emocional à toxicodependência com o Prof. Florentino Vicente Beirão
semelhante? É pois, nesta sociedade geradora de confrontos e do que à problemática do alcoolismo, do que à epidemia do 5 Maio de 2006
oposições, de lucro fácil e de miséria, de arranha-céus e bair- tabagismo. Embora o problema do alcoolismo, refere Barrias, Clube de Castelo Branco
ros-de-lata, de obesidade e de fome, de novelas e realidades, seja mais importante, em termos nosológicos (10% da po-

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