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Resumo
Introdução
Pressupostos teóricos
O conceito de narrativa será aqui tomado tendo presente que, apesar do paradigma
narrativista ter sido objeto de discussão entre filósofos e historiadores, especialmente a partir
da segunda metade do século XX, entendo que o pensamento histórico possui uma lógica
narrativa, pois, como diz Rüsen (2001, p.149-150), no debate teórico recente não se conhece
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contar histórias, mas também pedir aos alunos que as recontem; submetê-las a um
exame crítico, criando um sentido da sua 'naturalidade', assim como da sua lógica.
Envolve uma dúvida cética implícita sobre o caráter das histórias que contamos.
Significa relacionar histórias àqueles 'princípios organizadores' – as idéias de causa,
continuidade, mudança – do complexo discurso histórico (HUSBANDS, 2003,
p.51).
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No período de 28 de março a 05 de dezembro, realizei 24 (vinte e quatro) observações.
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– 2ª Etapa. Pude observar que a professora adotou uma rotina em suas aulas. Iniciou-as,
habitualmente, com a leitura da narrativa do manual didático, na maioria das vezes de forma
individual, pelo aluno ou pela professora; apresenta explicações após a leitura de cada parágrafo
ou alguns parágrafos; seleciona algumas atividades propostas no manual; propõe outras atividades,
como: cópia de mapas históricos, trabalho de pesquisa, produção de história em quadrinhos e
produção de narrativas. Durante o ano a professora trabalhou conteúdos da História do Brasil
e Paraná. O foco de minhas análises centrou-se nas narrativas históricas do Paraná: A
ocupação portuguesa do espaço paranaense; Espanhóis, nossos primeiros colonizadores; Os
bandeirantes atacam as reduções; Os espanhóis no Paraná: encomiendas e reduções;
Emancipação Política do Paraná; Revolução Federalista; A Questão do Contestado;
Imigrantes no Paraná.
O material empírico coletado durante as observações forneceu elementos para
identificar em que medida as narrativas presentes em aulas de história, difundidas pelo
manual didático e pelas aulas da professora, possibilitam a aprendizagem histórica que se
evidencia nas narrativas produzidas pelos alunos. Nessa comunicação priorizo a análise
realizada em relação às explicações da professora a partir das narrativas do manual didático
usado em aulas de história. Após a análise das narrativas da professora surgiram as seguintes
categorias:
A professora explica:
Narrativa que apresenta a noção de que todo presente tem sua origem no passado
E, ainda acontece, o branco vai fazendo a cultura do índio desaparecer. Hoje, o índio
ainda sofre. O índio tem os mesmos direitos que temos...
Quando vimos [em aula anterior] a quantidade de índios que existem hoje, mais ou
menos 100 mil... o declínio começou com o desaparecimento dos índios na época
das reduções.
A professora explica:
bandeirantes queriam fazer aqui? Com esse comentário ela expressa o seu ponto de vista
sobre a questão. Por um lado, diz que a ação dos bandeirantes – a de escravizar os índios – foi
errada, mas, por outro, aponta que nessa ação houve um lado "bom", porque "eles abriram
caminhos". Nesse caso, de acordo com a perspectiva de Rüsen (1993, p.7-8; 1992, p.31), a
professora está tomando a "história" como "uma lição para o presente"; a "história" passa a ter
um cunho didático: historiae vitae maestrae.
Aqui [em Curitiba] nós temos uma linha de ônibus que se chama Antônio Raposo
Tavares.
É o nome de uma rodovia no Estado de São Paulo.
Esta rodovia recebeu o nome em homenagem a esse bandeirante.
O que este bandeirante fez para ter o nome de uma rodovia?
Ele era um bandeirante em busca de pedras preciosas e escravizar os índios [...].
Será que ele foi um herói? Ele fez coisas boas, mas [...].
Neste caso, levei em conta o segmento da narrativa em que a professora, ao fazer sua
explicação, recupera ideias canonizadas pela historiografia paranaense, mas que não foram
enfatizadas pela narrativa do manual didático. Excerto da narrativa Revolução Federalista:
A professora explica:
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O Barão do Cerro Azul e amigos foram levados para a estrada de ferro e foram
mortos. O que eles queriam era evitar a desordem. Eles foram fuzilados, levados de
trem na estrada de Paranaguá... e lá foram mortos... fuzilaram o Barão do Cerro
Azul [...]
A professora faz sua explicação a partir da narrativa do manual didático, mas destaca a
morte do Barão do Cerro Azul. A narrativa do manual apenas cita o fato, mas a professora
complementa sua análise narrando alguns detalhes deste acontecimento:
O Barão do Cerro Azul e amigos foram levados para a estrada de ferro e foram
mortos. O que eles queriam era evitar a desordem. Eles foram fuzilados, levados de
trem na estrada de Paranaguá... e lá foram mortos... fuzilaram o Barão do Cerro
Azul [...].
Todo o mundo conhece o morticínio mais repugnante, do qual foram vítimas o barão
do Cerro Azul e outros! Conjuntamente, foram bárbara e traiçoeiramente vitimados mais
doze brasileiros, alguns, sou informado, pertencentes às melhores famílias do
Paraná, e bons cidadãos. O negro atentado deu-se na estrada de Curitiba a
Paranaguá! (POMBO, 1980, p.95).
Considerações Finais
Após análise das narrativas pude fazer algumas considerações, entre elas, a de que as
narrativas da professora seguem, de modo geral, a lógica da narrativa do manual didático, em
que predomina uma dimensão linear dos acontecimentos, sem relações entre diferentes
segmentos. Em relação ao modelo historiográfico, de modo geral, as narrativas do manual
didático podem ser consideradas modelos de narrativa, que ficam entre o tipo descritivo, isto é,
mostram "o que" aconteceu, e "como" aconteceu e o tipo descritivo-explicativo, ou seja,
narrativas que procuram fazer uma relação entre "causas e consequências" do que aconteceu.
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Geschichten der romanischen und germanischen Völker von 1414 bis 1514 (RANKE, 1885, apud SCHAFF,
1977, p.131).
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alunos. Neste caso, uma consciência histórica tradicional, com alguns momentos de reflexões
que propiciaram, ainda que de forma tênue, uma consciência histórica exemplar e, em alguns
momentos, uma consciência crítica.
REFERÊNCIAS
BOIX-MANSILLA, Verónica. Historical Understanding: Beyond the past and into the
present. In: STERNS, P.; SEIXAS, P.; WINEBURG, S. Knowing, teaching and learning
history. New York and London: New York University, 2000. p.390-418.
LEE, Peter. Putting principles into practice: understanding history. In: BRANSFORD, J. D.;
DONOVAN, M. S. (Eds.). How students learn: history in the classroom. Washington (DC):
National Academy Press, 2005.
MARTINS, Romario. História do Paraná. Curitiba: Travessa dos Editores, 1995. (Coleção
Farol do Saber).
POMBO, Rocha. Para a história: notas sobre a invasão federalista no estado do Paraná.
Curitiba: Setor de Editoração da Fundação Cultural de Curitiba, 1980.
_____. Razão histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Trad. Estevão
de Rezende Martins. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
SANTOS, Carlos Roberto Antunes. Por uma nova leitura da revolução: pensar a revolução
fora da revolução. In: WESTPHALEN, C. M. (Org.). Revolução federalista. Curitiba:
Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, 1997. p.79-82.