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Montessori para

Famílias e Lares
Descubra como educar crianças
conscientes e com o máximo de
suas potencialidades desenvolvidas.

Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Luise Rabelo | 2019


Sumário

Introdução 01
Para quem é este livro? 02
Quem foi Maria Montessori? 04
Sua filosofia 05
A escola na vida da criança 08
Por que conhecer o método Montessori? 10
O método Montessori 11
A vida pela perspectiva da criança 12
Criança equilibrada 14
A criança e a sua missão 16
O adulto consciente 20
Períodos sensíveis 23
Curiosidade e exploração 26
O movimento e as mãos 28
Trabalho 31
Concentração 32
Autonomia 35
Vida prática 37
Escolhas, liberdade e responsabilidade 39
Birras 41
O elogio exagerado 43
Prêmios e castigos 45
Ambiente preparado 47
O quarto 50 Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

A cozinha 53
O banheiro 55
A sala 57
Brinquedos 59
O controle do erro que leva à perfeição 63
Próximos passos 64
INTRODUÇÃO

01
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Para quem é este livro?
O método Montessori é uma educação para a paz e para a cooperação. Vive-
mos em uma sociedade tão competitiva e tão agressiva que até esquecemos
como é educar para a paz. O incentivo exagerado à competição pode, inclusi-
ve, resultar em crianças desesperadas, que só acham que são boas quando
vencem.

Este livro é para pais, mães, educadores e qualquer outra pessoa que conviva
com crianças. É para quem ama sua criança. É para quem quer mudar o
mundo!

Montessori é uma educação que muda a vida, que transforma as pessoas, que
faz a criança ter o máximo das suas potencialidades desenvolvidas, estimula- Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

das e valorizadas. Ela dizia que, quando os pais mudam, as crianças também
mudam. Muitas vezes os problemas que as crianças demonstram vêm da
nossa incapacidade e falta de preparo em lidar com elas.

Este livro, assim como todo meu trabalho, tem como objetivo disseminar essa
filosofia tão linda para famílias com crianças na primeira infância. Mas, beneficia
a todos os tipos de famílias, pois muda o adulto e sua maneira de se rela-
cionar com as pessoas, não só com suas crianças.

02
03
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Quem foi Maria Montessori?
Maria Montessori (1870-1952) foi a primeira mulher a se formar em medicina na
Itália. Se especializou em Psiquiatria e, ao observar como eram tratadas as
crianças, passou a dedicar-se à Educação, em uma busca por melhor compre-
ender as crianças e seu desenvolvimento.

Iniciou seu trabalho atuando com crianças especiais. Obteve tanto sucesso no
resultado da aprendizagem dessas crianças, que se convenceu de que méto-
dos similares aplicados às crianças ditas “normais” iriam desenvolver ou libertar
a personalidade delas de uma maneira surpreendente.

Tal convicção levou Maria Montessori a dedicar-se a observar a criança e


buscar meios de desenvolver plenamente todo seu potencial pelo resto da
vida. Assim, resumiu sua vida em uma frase: “eu descobri a criança”.

Foi também uma das primeiras pessoas a criar mobiliário infantil, mandando
cortar os pés das mesas e cadeiras de sua primeira sala de aula, para que se
adequassem à altura das crianças.

Devido a sua formação inicial em medicina, combinado com sua formação pos-
terior em educação e suas observações às crianças, Maria Montessori teve
uma visão bastante completa e inovadora do desenvolvimento da criança.
Hoje em dia, a neurociência já comprova diversos pontos do seu
método, que foram trazidos por ela há mais de 100 anos. Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

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Sua filosofia

A DULTO CONSCIENT E

+
A MBI E NT E P REPARAD O

=
C RI A NÇA EQUILIBRADA

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Este é o tripé base da filosofia de Maria Montessori. Para ela, toda a criança tem
uma natureza perfeita, equilibrada, que lhe permite a autoaprendizagem.

05
A criança equilibrada possui uma vontade e curiosidade natural de
explorar o mundo, aprender com ele e se desenvolver em busca de
sua missão de vida. Uma criança equilibrada é feliz, tranquila, tem
uma socialização saudável e obediência consciente, ou seja, sabe as
consequências dos resultados, diferente de obedecer cegamente
por medo ou castigo. Elas são muito boas, ordenadas, comportadas.
Qualquer coisa diferente disso se deve a interações equivocadas
com os adultos e o ambiente ao seu redor.

O adulto consciente tem dois papéis principais: observar as necessi-


dades da criança e não obstaculizar seu desenvolvimento. O primei-
ro, para poder preparar o ambiente e deixar disponíveis materiais que
ela esteja necessitando no seu período de desenvolvimento. O
segundo, para deixá-la livre para explorar as necessidades e vonta-
des que vêm de dentro dela, proporcionando autoconhecimento,
independência e autonomia.

O ambiente preparado deve ser simples, belo, ordenado, para que


assim a criança cresça. Deve ter coisas interessantes para ela em
todos os cômodos da casa, na altura de seus olhos e de possível
acesso, sem necessitar do adulto. Essas coisas não precisam ser brin-
quedos. Montessori dizia que a criança gosta da vida real, quer fazer Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

o que os adultos fazem, logo, objetos da própria casa, apropriados e


seguros, podem ser ótimos materiais de desenvolvimento para a
criança.

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Quando nasce uma criança, pensamos em tudo que ela precisa fisicamente:
quarto, carrinho, roupas, brinquedos. Mas muitas vezes nos esquecemos de
pensar no que ela realmente precisa: a simplicidade da presença, do aconche-
go, do colo, do afeto e do respeito. Hoje se fala em humanização de parto, por
exemplo, como se tivéssemos nos esquecido que somos humanos.

Maria Montessori veio justamente para isso: humanizar os pais, mães e


professores da educação infantil e propor uma nova forma de olhar a
criança.

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07
“Todos somos gênios, mas se você julgar um peixe pela sua
habilidade de escalar uma árvore, ele passará toda
sua vida acreditando que é burro.”

Albert Einstein

A escola na vida da criança


O método tradicional de educação que estamos habituados surgiu na época
da revolução industrial e foi criado para formar as pessoas de acordo com a cul-
tura da época, onde se acreditava que em cada etapa da vida tínhamos que
colocar os conhecimentos dentro da cabeça da criança.

Essa educação forma pessoas para que sejam todas do mesmo jeito. A grande
maioria destas escolas prepara os alunos para decorar, fazer provas e passar de
ano.

O método Montessori defende que cada criança é um ser único, com suas par-
ticularidades, então, permite diferenças no momento de aprendizagem, a partir
do interesse de cada criança. As crianças buscam o tempo todo descobrir qual

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sua missão de vida, por isso o método Montessori repeita, observa e descobre
as crianças. Permite que cada uma aprenda no seu próprio tempo e com seus
próprios interesses. Em Montessori, a educação vai além da educação intelec-
tual, é uma educação para a vida.

Segundo Sir Ken Robinson, especialista em criatividade e educação, as escolas


tradicionais matam a curiosidade da criança enquanto esta deveria ser tão
valorizada quanto a alfabetização. A criatividade é o que você vai ter dentro de
você para enfrentar o mundo lá fora no futuro.

08
Para que sua criança nasceu? Para que ela existe? Às vezes nem nós adultos
sabemos qual é nossa missão de vida, pois não tivemos acesso a uma educa-
ção que busca saber o essencial de cada criança. A educação deveria se pres-
tar para ajudar crianças e jovens a descobrirem sua missão de vida, seu talento,
sua contribuição para o mundo.

Com isso, fica a questão: como preparar crianças para o futuro com a mesma
metodologia do passado?

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Infelizmente não temos acesso a um grande número de escolas alternativas,
como as montessorianas. Mas é importante lembrar que, mesmo que tivésse-
mos centenas dessas escolas, o principal trabalho é em casa, com a família. Por
isso escrevo esse livro para os pais, para que comecem com essas transforma-
ções dentro de casa.

Valores, princípios e caráter se formam em casa.

09
"Se houver para a humanidade uma
esperança de salvação e de ajuda,
esta ajuda só pode vir da criança, porque é
nela que se constrói o homem."

Maria Montessori

Por que conhecer


o método Montessori?
Como diz Isa Minatel, psicopedagoga Montessori com quem aprendi muito
sobre educar filhos, estudamos sobre os mais diversos assuntos nessa vida,
mas não para a nossa missão mais importante: ser pais e mães.

Quando criamos uma criança, somos educadores e devemos estudar. Muitas


vezes estamos repetindo ou fazendo novos equívocos por falta de informação
e conhecimento. É preciso estarmos conscientes dessa responsabilidade tão
importante.

O método criado por Montessori é mais que um método, é uma filosofia de

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vida. Quanto mais entendermos sobre os seres humanos, mais chances de
sucesso teremos, não só na relação com nossas crianças. Esse é o papel dos
educadores, pais e mães: conhecer o ser humano.

Parabéns por iniciar essa jornada. Boa leitura!

10
O MÉTODO
MONTESSORI

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“Corresponder às necessidades do ser imaturo,
adaptando-se a elas e renunciando às próprias
necessidades – eis o que deve fazer o adulto.”

Maria Montessori

A vida pela perspectiva da criança


Empatia não é fazer ou não fazer para o outro o que você gostaria que fizessem ou
não com você. Nesse caso, o foco ainda está em você. Empatia é fazer para o
outro o que esse outro, sendo ele como é, gostaria que fizessem para ele.

Muitas vezes achamos que temos empatia com a criança, mas às vezes nos
equivocamos. Se nos abaixarmos na altura dela, podemos ver que muitas
coisas que achávamos que ela estava vendo e entendendo, na verdade não
está. Quantas vezes uma criança chora no carrinho e não entendemos por
quê? Às vezes, ela pode estar simplesmente querendo enxergar o que esta-
mos enxergando.

Um pedido da criança pode ser a coisa mais importante para ela naquele mo-
mento e, quando podemos parar, ouvir e atender, devemos fazê-lo. Isso mostra
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que ela é ouvida e respeitada e que seus sentimentos são validados. Perceber
isso é entrar realmente no mundo da criança.

Mudar um brinquedo de lugar por solicitação da criança ou voltar para pegar


algo que ela esqueceu, pode ser muito para ela, dentro daquele seu pequeno
universo de poucos anos de idade. O mesmo vale para quando a criança faz
pequenos machucados e dizemos que não foi nada. Não foi nada para nós,
mas para ela pode ter sido muito. Muitas vezes ela só quer um carinho, uma
atenção e não sabe como expressar.

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Isso não quer dizer que o mundo deve girar em torno da criança, mas também
não somente em torno do adulto, sem se preocupar com o que a criança pensa
ou sente. É preciso chegar em um equilíbrio onde o adulto considera a crian-
ça e a criança considera o adulto.

O maior desafio do adulto quando conhece a filosofia montessoriana é mudar


sua visão e passar a olhar com os olhos da criança e sob a perspectiva da crian-
ça. A criança tem uma visão da vida diferente da nossa, algo importante para
nós pode não ser importante para ela - e vice e versa. Quando conseguimos
olhar pela perspectiva da criança e respeitamos suas vontades, proporciona-
mos um desenvolvimento mais saudável e criamos vínculo, item tão em falta
entre pais e filhos.

Montessori dizia que, da mesma maneira que uma criança com fome
fica irritada, uma criança que não puder exercitar o espírito com ativida-
des que necessita para se desenvolver, ficará intratável.

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Experimente por alguns dias fazer o máximo de coisas com sua criança na
altura dela (sentado ou de joelhos) e observe o que ela consegue ver. Após
esse exercício, quando sua criança estiver chorando sem um motivo aparente
ou pedindo colo, atenda e permita que ela fique na sua altura e possa ver o que
você vê. Aproveite também para atender ao máximo suas solicitações, mesmo
que para você pareçam bobas, e observe se há alguma mudança de comporta-
mento dela.

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“Uma das provas da necessidade de
correção do processo educacional é
a felicidade da criança.”

Maria Montessori

Criança equilibrada
A felicidade da criança deve ser o termômetro. A criança tem por natureza a
capacidade de ser feliz. Essa e outras características constituem o equilíbrio
natural da criança.

A criança equilibrada é aquela que mantém suas características naturais. São


elas:

Interesse e curiosidade pelas coisas e por aprender


Vontade de agir, ajudar, colaborar
Espontaneidade
Respeito ao próximo
Capacidade de concentração Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Capacidade de fazer escolhas


Indiferença a prêmios e castigos, pois tem satisfação pelas conquistas em si
Disciplina e organização
Amor pela natureza
Alegria e tranquilidade

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Crianças que não puderam crescer em seu equilíbrio natural, onde suas neces-
sidades não foram respeitadas, não tiveram adultos conscientes e um ambien-
te preparado ao seu redor, acabam desviadas da sua normalidade e precisam
passar pelo processo que Montessori chamava de normalização.

Mas como fazer isso?

A atividade que prende a atenção da criança é o instrumento da norma-


lização. Aquilo que a criança realmente se interessa por fazer, deve ser permiti-
do que faça até que fique satisfeita. Sem interrupções, sem intervenção de ma-
neira equivocada. Isso resgata na criança seu equilíbrio natural, esse é o pro-
cesso de normalização.

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“A infância constitui o elemento mais importante da
vida do adulto: o elemento construtor. O bom ou o
mau do homem na idade madura está estreitamente
ligado à vida infantil na qual teve origem. Sobre ela
recairão os nossos erros, que sobre ela repercutirão
de maneira indelével. Morremos, mas nossos filhos
sofrerão do mal que lhes terá deformado para
sempre o espírito.”

Maria Montessori

A criança e a sua missão


A primeira infância poderia ser comparada à estrutura de um prédio: o que
fazemos com a criança nesse período deixará marcas na sua estrutura física
e psíquica que poderão ser sentidas por toda a vida.

Quantas pessoas você conhece que não são felizes com o que fazem, que não
são realizadas, ou que fizeram uma graduação e acabaram atuando em outra
área? São pessoas que não encontraram sua missão de vida, que passam os
dias esperando pelos finais de semana e feriados e que não dão todo seu
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potencial. No entanto, essa necessidade de realização é necessária ao ser
humano e o que o diferencia dos animais.

O método Montessori busca descobrir o talento de cada criança, o seu diferen-


cial, a sua essência, o que ela faz com facilidade, que a emociona, que a deixa
feliz e realizada. Nem sempre é o que a gente gostaria que fosse, mas precisa-
mos estar preparados e sensíveis para auxiliar a criança na busca de sua
missão, seja ela qual for.

16
x
O que atrapalha a busca da missão de vida da criança:

x Preocupar-se mais com os objetos, sujeira e bagunça do que


com o desenvolvimento da criança;
x Acreditar que se sabe o que é o certo e melhor para a criança sem observá-la;
x Obstaculizar a exploração do ambiente por parte da criança;
x Acreditar que o cuidado mais importante é com o
que se vê e não com o interior da criança;
x Fazer interação desnecessária, quando a criança está
concentrada ou acha que pode fazer sozinha.

O que ajuda na busca da missão de vida da criança:

Incentivar a conexão da criança com a sua missão;

Respeitar os interesses da criança; Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Corresponder às necessidades indicadas pela criança;

Saber que existe e respeitar as diferenças entre as crianças;

Criar condições adequadas para o desenvolvimento da autonomia;

Permitir que explore e se concentre no que lhe interessa.

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Quando temos uma criança, devemos rever a hierarquia dos nossos valores.
Será que é mais importante ter uma casa extremamente organizada ou o
desenvolvimento pleno da nossa criança? O que podemos limpar e organizar
depois não deveria ser um obstáculo para seu desenvolvimento.

Devemos nos preocupar com o psicológico da criança. Devemos cuidar da


mente e da alma dela, pois quando mal cuidadas, também causam doenças. É
importante acolher a criança, dar possibilidade de pausas, de tranquilidade e
conexão adulto-criança (seja mãe, pai ou algum outro cuidador).

Às vezes, aquilo que a criança tem de talento e se realiza, não tem valor para a
sociedade ou para a escola. Cabe a nós, adultos conscientes, ajudar a criança
a descobrir para que existe. De nada vale a criança cumprir com seus papéis
sociais e abandonar seus interesses e sonhos. O grande perigo é a criança se
convencer de que precisa se moldar aos padrões da sociedade e se tornar
um adulto frustrado. Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Agora, pare um pouquinho e reflita: Você já tem uma pista de qual é a missão
de vida da sua criança? Do que ela gosta? Em que se destaca? Quais são seus
interesses? Aquilo que ela se sobressai e que fica diferente do padrão, pode
justamente estar revelando para que existe.

O problema de escola da sua criança pode revelar a missão de vida dela!

18
Veja este exemplo inspirador:

Gillian Lynne, coreógrafa dos famosos espetáculos da Broadway Cats e Fantasma


da Ópera, teve uma história linda. Adulta extremamente realizada e profissional de
sucesso, teve ao seu redor, durante sua infância, adultos conscientes que soube-
ram enxergar sua missão de vida.

Quando criança, não conseguia alcançar resultados satisfatórios na escola - que


chegou a sugerir a seus pais um possível transtorno de aprendizagem. Sua mãe a
levou a um especialista e relatou a ele a sua preocupação pela falta de atenção da
filha e incapacidade de manter-se quieta em aula. O médico, um adulto consciente,
convidou a mãe para se retirar da sala, onde tocava uma música, e ficaram ao lado
de fora observando a criança. Gillian dançou lindamente. Era capaz de prestar
atenção na música e concentrar-se no ritmo e nos movimentos. O médico, então, Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

recomendou a sua mãe que a matriculasse em uma escola de dança.

Gillian declarou, anos depois: “Foi maravilhoso me encontrar com tanta gente que,
assim como eu, necessitava se mover para pensar. ”

Espero que, baseados neste exemplo lindo, tenhamos como missão criar crianças
que descubram a sua missão. Que mundo melhor teremos!

19
“Para tratar a criança de um modo diferente do atual,
para salvá-la dos conflitos que colocam em perigo
sua vida psíquica, é necessário modificar o adulto.”

Maria Montessori

O adulto consciente
Na metodologia montessoriana, o adulto é um observador e um guia. Deve seguir,
orientar e conduzir a criança. Deve estar sensível aos interesses dela para perce-
ber a fase em que se encontra e as necessidades que tem. O guia também é
aquele que presta ajuda somente quando é necessário ou solicitado. Não faz as
coisas pela criança, orienta-a como fazer.

Nos métodos tradicionais de educação, o adulto tem uma necessidade de controle


da criança: ele manda e ela obedece. No método Montessori, ao invés de controle,
há orientação e confiança na capacidade da criança. A criança tem uma capaci-
dade muito maior do que imaginamos e, por cultura, estamos acostumados a
subestimar essa capacidade.

O adulto consciente entende que mexer, explorar e repetir são necessidades da Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

criança para se desenvolver no seu tempo e prepara o ambiente para permitir que
a criança fique livre para manifestar sua curiosidade natural, desde que ela:

Não se coloque em risco;


Não coloque em risco outra pessoa;
Não danifique o ambiente ou objetos do ambiente onde se encontra.

20
Características do adulto consciente:

Estuda e busca informações sobre o desenvolvimento infantil, para estar


preparado para atender sua criança.

É preparado para ajudar e permitir a criança a encontrar sua missão de


vida, sem preconceitos ou julgamentos, conforme falado no
capítulo anterior.

Ajuda a criança a agir, querer e pensar por si mesma e,


consequentemente, devolver a autoconfiança e a autodisciplina.

Prepara os ambientes físico e espiritual favoráveis para satisfazer as


necessidades da criança, pois observa e reconhece a evolução
da sua criança.

Entende as diferenças entre as crianças e respeita a individualidade de


cada uma.

Protege a concentração da criança e respeita o ritmo de cada uma.

Respeita a criança como um indivíduo. O que não faria ou não falaria


para um adulto, não faz com a criança. Assim já se ensina o respeito
ao próximo, ponto considerado tão importante no método.

Não fornece recompensas ou punições, pois entende que a satisfação


é interna e vem do trabalho pessoal da criança.

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Ensina como se faz através da demonstração, ao invés de corrigir.

Observa quando a criança está pronta para mais desafios e


apresenta novos materiais.

Ouve, valida o sentimento e orienta a criança.

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Enfim, o adulto consciente é aquele que estuda, internaliza e aplica o método
com as crianças ao seu redor. Portanto, todo este livro traz conteúdos para que
os adultos se tornem mais conscientes. É necessário que nós, educadores, nos
transformemos e consigamos olhar a criança de uma maneira mais respeitosa
e com sabedoria.

É preciso estratégia e flexibilidade. Quanto mais saudáveis formos, inclusive


psicologicamente, mais saudáveis ajudaremos nossas crianças a serem. A ma-
ternidade/ paternidade é uma oportunidade que a vida nos dá de
sermos pessoas melhores.

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22
“Existe uma especial vitalidade interior que
explica os milagres das conquistas
naturais das crianças.”

Maria Montessori

Períodos sensíveis
Montessori chamou a primeira infância, dos 0 aos 6 anos, de Mente Absorvente,
pois nesse período a criança absorve o ambiente ao seu redor. E quando ela fala
em ambiente, não é somente físico, mas inclui os adultos que a cercam. A primeira
infância ainda é subdividida em dois grupos: Mente Absorvente Inconsciente (de
0 a 3 anos) e Mente Absorvente Consciente (de 3 a 6 anos).

Há quem diga que o cérebro da criança é como uma esponja. No entanto, a espon-
ja tem um limite de absorção, o cérebro da criança não.

Dentro destes seis anos existem os períodos sensíveis de desenvolvimento, que


são períodos essenciais para alguns aprendizados. Se a criança não é exposta a
experiência e estimulação neste momento, a oportunidade de aprendizagem pas-
sará. Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Ao perder a oportunidade de um período, o aprendizado não fica impossibilitado,


mas se torna mais penoso, e o resultado pode jamais alcançar a mesma qualidade
que teria caso tivesse sido aprendido durante o período sensível.

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Idade (em anos) 1 2 3 4 5 6

Movimento

Linguagem

Objetos Pequenos

Ordem

Música

Gratidão e Cortesia

Impressões Sensoriais

Interesse pela Escrita

Interesse pela Leitura

Relações Espaciais

Matemática

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Quando uma nova habilidade é adquirida, a natureza entende que ela precisa
ser utilizada, então a criança repete, repete, repete. Uma nova habilidade con-
quistada precisa ser colocada em prática. Se não estamos conscientes dessa
necessidade, podemos interromper esse processo. A repetição faz parte do
processo de aprendizado da criança. Por isso, uma criança que está no perío-
do sensível do movimento pode querer subir e descer uma mesma escada
várias vezes, a outra abre a mão e deixa o objeto cair no chão repetidas vezes
e assim por diante.

A melhor maneira de saber se uma criança está em algum período sensível é

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observá-la, identificar seus interesses e deixá-la livre para explorar, descobrir
e repetir o que ela quiser, quando ela quiser e por quanto tempo ela quiser,
mesmo que para nós não faça sentido. Assim como falado em outro capítulo,
devemos ver a vida pela perspectiva da criança.

As crianças não necessariamente seguem regras e padrões. O importante é


observar a sua criança e os sinais que ela dá e permitir que ela repita
até estar satisfeita!

25
“A curiosidade é um impulso para aprender.”

Maria Montessori

Curiosidade e exploração
No método Montessori, a curiosidade da criança é valorizada e estimulada. Costu-
mamos dizer para as crianças que se tivessem interesse, aprendiam. E é exata-
mente isso que a educação Montessori respeita: o interesse. Não temos interesse
na maioria das coisas que aprendemos na escola, por isso não aprendemos. Se a
criança puder escolher, ela tem amor por aprender. Quando respeitamos os inte-
resses e as curiosidades da criança, ela brinca mais quando menor e estuda e se
dedica mais quando maior.

Se a criança é obrigada a fazer coisas que não lhe interessam, além de perder o
interesse por aprender, passa a ficar confusa internamente, pois já não sabe mais
do que gosta, vai perdendo a conexão com seu interior.

É comum chamarmos uma criança de curiosa em tom pejorativo. Em Montessori, Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

criança curiosa é criança exploradora.

Essa curiosidade natural das crianças se manifesta desde muito cedo. Um bebê
nasce tão pequeno e com tão pouca informação sobre o mundo, que tudo que ele
mais quer é explorar e descobrir. E mesmo quase sem se movimentar, já explora
com o olhar e com os sons.

26
A medida que vai crescendo, começa então a explorar o ambiente engatinhan-
do, se arrastando, rolando, tocando, pegando, em busca de descobrir tudo o
que está ao redor.

Permitir que a criança faça essa exploração no mundo físico, abrindo gavetas e
portas, colocando tudo para fora e colocando tudo de volta (ou não), conhecen-
do e mexendo nos objetos da sala, entre outros, é a raiz da exploração do
mundo intelectual no futuro.

Portanto, sempre que for dizer um não para sua criança, passe um filtro na sua
cabeça: Por que não? Se a resposta for porque vai sujar ou bagunçar, opte por
deixar a criança viver e aproveite para ensinar outro valor e habilidade: limpar e
organizar depois!

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27
“O adulto que ainda não compreendeu a atividade da mão
infantil como uma necessidade vital e não reconhece
nela a primeira manifestação de um instinto de trabalho,
impede a criança de trabalhar.”

Maria Montessori

O movimento e as mãos
No método Montessori as mãos são sagradas. E na nossa cultura vivem levando
tapas... O adulto deve reconhecer na atividade da mão infantil a raiz do trabalho, da
produção, da ação e da curiosidade. Tudo que fazemos, fazemos com nossas
mãos. É importante estimular e permitir o desenvolvimento da habilidade das mãos
da criança. Exploração e manipulação são tendências humanas e devem ser res-
peitadas. Quando obstaculizamos essas tendências na infância, corremos o risco
de ter adolescentes e adultos preguiçosos e desinteressados.

Portanto, quando for dizer para sua criança: “olha com os olhos” ou “não toca em
nada”, pare e pense se não é possível ensinar como mexer e permitir a manipula-
ção. Até nós adultos muitas vezes precisamos tocar para sentir o objeto.

Montessori dizia que o movimento é fator essencial para a elaboração da inteli- Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

gência e que é através dele que se dá o aprendizado. E nesse caso vai além das
mãos, seria o movimento do corpo em geral. O desenvolvimento se dá através da
exploração e, para explorar, é necessário se movimentar. Quanto mais possibilida-
des a criança tem de se movimentar, mais aprendizados ela desenvolve.

28
E também na nossa cultura queremos que as crianças fiquem quietas. Ao
invés de conter o movimento, devemos orientar, mostrar os riscos e a
maneira certa de fazer ou usar determinada coisa.

Em uma sala de aula montessoriana, por exemplo, as crianças são livres para se
movimentarem o quanto quiserem e são orientadas de como fazer. Logo, se
movimentam conscientemente e estragam muito pouco. Inclusive são ensina-
das a usar copos de vidro. Claro que acidentes podem acontecer, mas se as
crianças forem orientadas, é muito menos provável.

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Quando a criança está fazendo um barulho em local indevido, temos que
entender que é a expressão de uma energia e devemos direcionar essa ener-
gia a uma situação adequada ao ambiente onde se encontra. Por exemplo,
levar um quebra cabeça, onde direciona atenção, movimento e ação para algo
silencioso. É preciso adequar os contextos às necessidades da criança sem
limitar, mas conduzindo o fluxo de ação e energia dela. Isso preserva, incentiva
e estimula a vontade na criança.

29
É comum também escutarmos as pessoas dizerem que a criança é teimosa
quando quer mexer em tudo. A criança não é teimosa, ela quer conhecer
o mundo. E ela o faz através das mãos, do movimento e da interação
com as pessoas e o ambiente.

A função do adulto é não deixar a criança se colocar em risco, mas sem deses-
pero. Existem pessoas que ficam tão preocupadas com acidentes que obstacu- Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

lizam o desenvolvimento da criança. Precisamos criar um ambiente seguro e


proteger a criança, mas precisamos confiar na competência dela e saber que
pequenos acidentes sem grandes consequências podem acontecer e é inte-
ressante para a criança ir aprendendo o que consegue fazer e o que ainda pre-
cisa desenvolver de habilidade motora.

30
“O homem constrói-se trabalhando. O instinto infantil
confirma que o trabalho é uma tendência intrínseca da natureza
humana, o instinto característico da espécie.”

Maria Montessori

Trabalho
A brincadeira, para Montessori, é o trabalho da criança e deve ser respeitado. A
criança se interessa por aquilo que ela precisa devolver em si mesma, ou seja, tem
um professor interno. Aquilo que para nós é uma simples brincadeira, para a crian-
ça é o seu real trabalho de autodesenvolvimento.

O adulto trabalha para aperfeiçoar o ambiente, a criança trabalha para aperfei-


çoar-se. O trabalho do adulto é consciente e busca o menor esforço com o máximo
de produtividade. O da criança é inconsciente, demanda um enorme esforço e tem
a missão de produzir o homem.

Montessori dizia que as crianças, após um período de intensa concentração em um


trabalho, não se mostravam cansadas, mas satisfeitas, felizes e relaxadas. É este
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trabalho que devemos proporcionar à nossa criança. É assim que ela vai desco-
brindo sua missão de vida e é esse o processo de normalização, que res-
gata o equilíbrio natural da criança.

O trabalho é uma tendência humana e aparece claramente na infância. As crianças,


se permitirmos, nos ajudam com o maior prazer. Sentir-se útil é fonte de conquistas
e orgulho para elas. Quando nós, adultos, não gostamos de trabalhar, já tivemos
alguma associação equivocada com o trabalho em nossa vida, já nos desconecta-
mos com nosso interior e com nossa missão de vida. Mas nunca é tarde!

31
“Nunca ajude uma criança numa tarefa
em que ela se sente capaz de fazer.”

Maria Montessori

Concentração
Costumamos dizer que criança quieta está aprontando. Para Montessori, criança
quieta é criança concentrada.

A concentração é uma condição para a aprendizagem e deve ser protegida pelo


adulto. Às vezes, o que a criança está fazendo pode parecer uma bagunça para
nós, mas para ela é um novo movimento ou uma nova experiência que está sendo
aprendida.

Muitas vezes, sem querer e na melhor das intenções, o adulto interrompe a con-
centração da criança. Um simples elogio, chamar para fazer outra coisa ou pergun-
tar o que está fazendo já pode quebrar essa concentração, pois muda o foco. Logo,
tudo ao redor deve contribuir para sua concentração, inclusive os adultos. Busque
primeiro observar a criança e, se ela estiver concentrada, espere acabar a Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

tarefa para então interagir.

Quantos adultos você conhece que não leem porque não conseguem se concen-
trar? Assim como um músculo, se não exercitarmos a concentração, não desenvol-
vemos. E isso, como tantas outras coisas, tem sua origem na infância.

32
E mais, quando interrompemos o trabalho de uma criança, estamos transmitin-
do a mensagem de que o que ela está fazendo não é tão importante quanto o
que eu tenho para falar ou fazer. Claro que existem questões de urgência,
onde pode haver necessidade de interrupção mas, sempre que possível, deve-
mos deixar que a criança siga fazendo aquilo que ela escolheu fazer. A criança
aprende, cresce e se desenvolve muito mais quando tem a possibilidade de
dar sequência ao trabalho que escolheu fazer.

Mas e se a criança não se concentra em nada?

Bem, minha primeira sugestão é que ela não tem brinquedos, objetos ou ativi-
dades ao seu redor que lhe despertem interesse e também pode ser que preci-

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se passar pelo processo de normalização, já comentado em capítulos anteriores.

O primeiro passo é observar a criança (aliás, este é sempre o primeiro passo,


mas nossa vida é tão corrida e nós muitas vezes tão agitados, que não paramos
para observá-la). Observar mais e falar menos. Observar o que desperta seu
interesse, o que gosta de mexer, o que escolhe primeiro. Muitas vezes não é
um brinquedo e, sim, algum objeto da casa.

33
Depois, proporcione um ambiente, objetos e atividades que atendam esses
interesses.

E então, permita a exploração e o trabalho, sem interromper, e, aos poucos


(bem aos poucos, dependendo da idade da criança) a criança vai desenvolven-
do a concentração.

Aqui vale uma observação sobre a TV e eletrônicos de tela em geral: há muitas


pessoas que dizem que a criança, quando em frente a algum deles, está con-
centrada. Na verdade, está hipnotizada. Como vimos no capítulo sobre movi-
mento, Montessori dizia que o movimento é o meio para o desenvolvimento
completo da criança. Na frente da TV, ela fica imóvel. Claro que não podemos
nem devemos proibir totalmente, pois faz parte do nosso cotidiano, mas
enquanto bem pequenos, principalmente até os três anos, período em que a
criança ainda não distingue fantasia da realidade, deve ser evitado ao máximo.
Sugiro usá-los como um último recurso, quando os demais não forem possíveis
ou em alguma situação de emergência, mas não como uma atividade que faça
parte da rotina. E a medida que forem ficando maiores, daí sim, pode ser inseri-
do na rotina, mas sempre com equilíbrio.

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34
“Devemos ajudar a criança a agir por si mesma,
querer por si mesma, pensar por si mesma.”

Maria Montessori

Autonomia
Um dos objetivos do método Montessori é fazer com que as crianças alcancem o
maior grau de independência física e mental.

A independência física seria vestir-se, comer sozinha, lavar-se, etc. As crianças


sentem dignidade de estar fazendo algo por elas mesmas. A independência
mental seria pensar por ela mesma. A consequência desta independência é
formar cidadãos críticos que absorvem informações, mas não sem pensar e ques-
tionar.

Montessori dizia que boa mãe é aquela que ensina a criança a fazer por ela
mesma ao invés de fazer tudo por ela.

Quando queremos desenvolver a autonomia da criança, precisamos dar tempo Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

para ela. Quando temos pressa, fazemos pela criança, para ser mais rápido, e não
deixamos que faça por si mesma. Para isso, temos que reajustar a nossa vida e
começar antes cada processo.

Há quem diga que filho não muda a vida, mas quando queremos dar uma educa-
ção mais consciente, que desenvolva a autonomia, muda e muito. Simplesmente
não é possível fazer as coisas no mesmo tempo que sempre fizemos quando
temos uma criança exercitando sua autonomia.

35
Importante lembrar que o foco do adulto é o resultado. O da criança é a aqui-
sição da habilidade, por isso demora mais tempo.

Para desenvolver a independência mental, devemos pedir a opinião da criança,


ouvir a criança, permitir reflexão, raciocínio e questionamento, ao invés de
querer crianças simplesmente obedientes. Importante ter com a criança uma
relação recíproca de respeito e escuta. Assim, a criança vê o adulto como
alguém confiável e este conquista respeito e admiração da criança, além de
criar vínculo. Quando a criança admira o adulto, ela obedece por respeito e
consciência, não por medo ou por obediência cega.

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Quando a criança tem uma exagerada necessidade de aprovação do adulto,
pode ser que não esteja conseguindo desenvolver sua independência mental.

Quanto mais desnecessários formos, mais estamos promovendo a indepen-


dência das nossas crianças. Toda a ajuda desnecessária é um obstáculo ao
desenvolvimento da criança. Deixe que sua criança faça por ela mesma e
aceite o resultado que vier!

36
“Então, compreendi que os brinquedos talvez fossem
algo inferior para a criança e que esta só recorria
a eles na falta de coisa melhor.”

Maria Montessori

Vida prática
As atividades de vida prática são aquelas atividades da vida real, que nós adultos
fazemos e podemos inserir aos poucos na vida da criança. Elas proporcionam os
maiores desenvolvimentos da criança: permitem concentração, desenvolvimento
da coordenação motora e outras habilidades e preparam para o convívio social,
além de promover independência e autonomia e criar vínculo entre adulto e crian-
ça.

As crianças adoram participar das tarefas domésticas. É importante apresentar os


objetos e tarefas aos poucos, de acordo com o que a criança está pronta para rece-
ber (e aceitar o resultado que ela conseguir, sem corrigir). E ainda mais importante:
sempre com muita segurança. Seja um adulto consciente!

Coisas que para nós já são automáticas, como abotoar, tirar uma peça de roupa, Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

abrir e fechar um zíper, lavar-se, pentear-se, etc, para as crianças são as primeiras
vezes. É como quando aprendemos a dirigir, temos tantos detalhes a pensar, mas
depois se torna automático. Precisamos permitir que a criança passe por esse pro-
cesso com tranquilidade.

37
Montessori dizia que a vida real já é fantástica o suficiente para a criança e
quando ela tem acesso a essas atividades e quando pode imitar o adulto,
não precisa de brinquedos, pois se diverte com isso.

Importante salientar que não é fazer porque não tem quem faça, é fazer para
aprender e se tornar uma pessoa autônoma e independente. Por exemplo, se a

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criança derruba comida no chão e quando volta está tudo limpo, sem participar do
processo de limpeza, por que vai se preocupar em não derrubar mais?

Lembrando que sempre devemos orientar primeiro. Não é simplesmente deixar


que a criança faça sozinha, é necessário mostrar e explicar, com menos palavras e
mais gestos. E novamente, aceitar o resultado que vier, o processo deve ser agra-
dável. Não é fácil e não estamos acostumados, mas como tudo na vida, com muito
treino, conseguimos!

38
“A criança que não aprende a atuar por si mesma, a dirigir seus
atos, ou a governar suas vontades, se transforma em um adulto
fácil de governar e que sempre necessita de apoio dos outros.”

Maria Montessori

Escolhas, liberdade
e responsabilidade
No método Montessori a criança é incentivada a tomar pequenas decisões e elas
são respeitadas. Na educação tradicional, não deixamos a criança escolher nada e
quando termina o colégio, queremos que saiba escolher o que quer fazer da vida.

No processo de tomada de decisão é necessário estarmos conectados com nosso


interior para fazer a melhor escolha. Permitir que a criança, desde pequena, possa
fazer pequenas escolhas, entre dois ou três objetos, desenvolve seu autoconheci-
mento e autoconfiança.

Se a criança pode decidir, ela é livre e a liberdade ensina responsabilidade. Uma

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criança que não tem liberdade não precisa ser responsável, pois ela só está obede-
cendo. Se algo der errado, a responsabilidade não é dela, e sim de quem mandou
ela fazer. Se a criança é livre para tomar decisões, então precisa arcar com as con-
sequências dessas decisões.

39
Por isso, quanto mais liberdade a criança tiver para tomar decisões, mais responsá-
vel será. Há famílias que, inconscientemente, não desenvolvem essa responsabili-
dade na infância e depois querem, sem sucesso, um adolescente responsável.

É claro que essas escolhas estão dentro de uma estrutura criada pelos adultos.
São micro decisões, que não afetam a família. Existe uma estrutura familiar
macro e, dentro dela, pequenas coisas que a criança pode escolher, como por
exemplo: escolher entre dois pares de tênis, entre duas opções de blusa, inicial-
mente, depois ter acesso à gaveta das roupas e escolher o que quer vestir (previa-
mente selecionadas pelo adulto conforme estação do ano). Escolher a fruta do
lanche, entre duas ou três sugeridas pelo adulto no dia. E assim por diante, aumen-
tando o grau de dificuldade com o passar do tempo. Experimente!

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“Os primeiros caprichos da infância são as
primeiras doenças do espírito.”

Maria Montessori

Birras
Montessori chamava as birras de caprichos. Essas manifestações que incomodam
tanto a nós adultos, são, na verdade, necessidades não atendidas. Esses seres tão
imaturos ainda não conseguem expressar de outra maneira senão chorando,
gritando, esperneando. E nós, pais, além de não estarmos atentos e observando as
necessidades dos pequenos, ainda reclamamos quando eles, da maneira que
conseguem, clamam por ajuda!

Aprendi, inclusive, ao longo dessa minha jornada de mãe, que não existe choro
sem motivo. Mesmo que o motivo para nós seja ínfimo, para a criança pode ser a
coisa mais importante da vida dela naquele seu pequeno mundo de poucos anos
de vida. E elas só tem a nós para atendê-las.

As birras podem acontecer por falta de ordem e rotina, por falta consistência no Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

comportamento dos adultos (um dia dizem uma coisa, no outro dia outra ou o pai
diz uma coisa, a mãe diz outra), por falhas de comunicação entre adultos e criança
(adulto não entende o que a criança quer), por falta de oportunidades de escolha e
independência da criança, entre outros.

41
Cabe novamente ao adulto observar a necessidade da criança e seu próprio com-
portamento. Simplesmente chamar de “birra” é entregar para a criança a
responsabilidade sobre um problema que geralmente é causado pelos
adultos.

Isso não quer dizer que devemos fazer tudo o que a criança quer sempre, mas que
devemos sim fazer tudo o que a criança quer sempre que possível. Como já falado
aqui anteriormente, a criança tem um professor interno e quando ela clama por
algo, é sua natureza pedindo para desenvolver alguma habilidade.

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“Quando uma criança se sente segura de si mesma,
deixa de buscar aprovação a cada passo que dá.”

Maria Montessori

O elogio exagerado
Para a maior parte das pessoas, elogio é sempre algo positivo. Mas, em Montesso-
ri, há momentos que pode ser negativo.

O excesso dele pode gerar uma necessidade de aprovação externa e elimina a


capacidade de autocrítica e automotivação, levando a mediocridade. Se tudo que
a criança faz dizemos que está lindo, maravilhoso, perfeito, por que ela vai se esfor-
çar para melhorar?

A capacidade de percepção é desenvolvida na criança a partir da possibilidade


que ela tem de fazer algo e observar se aquilo ficou a contento.

Portanto, quando a criança vem nos mostrar o resultado de um trabalho, devemos


primeiro demonstrar interesse e reconhecer e, então, dar espaço para ela falar. Ao Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

invés de elogiar deliberadamente, podemos perguntar o que a criança achou do


resultado, se gostou, se ficou satisfeita.

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Para uma criança normalizada, a sua própria conquista já é um grande ganho. O
excesso de elogio faz com que o principal objetivo da criança não seja mais realizar
um trabalho por sua própria satisfação e sim pela sensação de receber um elogio.

Quando a criança se esforçou bastante ou conseguiu algo que estava tentando há


bastante tempo, a sugestão é elogiar a atitude, a determinação e a força de vonta-
de, ao invés de elogiar a inteligência ou o resultado final. Há estudos que mos-
tram que elogiar o esforço faz a criança se esforçar ainda mais. Elogiar a
inteligência inibe a busca de novos desafios para não perder o status con-
quistado.

Há também maneiras de elogiar não elogiando. É uma sutil diferença que faz toda
a diferença. Por exemplo: Você conseguiu, parabéns! Está contente com o resulta-
do? Como você aprendeu? Gostei, pode me ensinar? Assim estamos validando a
criança e o processo, sem elogiar desesperadamente.

Quando não permitimos que a criança aprenda a ser autocrítica, corre o risco de
crescer com necessidade de afirmação externa e se tornar um adulto dependente
da opinião dos outros, ao invés de protagonista da sua vida. Incentive a autocrítica
na sua criança! Vai ser muito benéfico para sua vida adulta.

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Prêmios e castigos
Prêmios e castigos não existem no método. Montessori defendia que a criança
deve ser educada a agir de dentro para fora. Só assim ela estará apta a encontrar
e desenvolver sua missão de vida.

Assim como o elogio exagerado, quando aplicamos um castigo ou prêmio, esta-


mos ensinando a criança a buscar fora dela o motivo da sua ação, consequente-
mente, temos crianças condicionadas, ao invés de educadas. A criança faz ou não
algo pelo castigo ou recompensa que vai receber, não porque entendeu, internali-
zou e refletiu sobre a melhor forma de fazer ou não alguma coisa.

A criança conectada consigo está preocupada com o resultado de suas ações e


pela atividade em si. Aplicar recompensas faz com que a criança perca a satisfação
pelo seu trabalho e passe a se preocupar com o que ganhará. Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

Mas então como fazer?

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Ao invés de castigo, usamos consequências diretas da ação. Apesar de muito simi-
lar, passam uma mensagem bem diferente. O castigo nem sempre tem a ver com
o fato em si. Já as consequências são os porquês, o que acontece se a criança tem
alguma atitude inadequada. Então ela entende que ter aquela atitude gera aquela
consequência e por isso, talvez fosse melhor ter outra atitude. E sim, as crianças
têm essa e muitas outras capacidades, nós é que não damos espaço para elas!

Castigos nós colocamos e é arbitrário, ou seja, o adulto está no controle. Na con-


sequência, é a própria criança quem decide.

Um exemplo que acontece bastante aqui em casa, é com as tampas das caneti-
nhas. Podemos dizer que se a criança não tampar após usar, não deixaremos mais
ela usar (castigo). Mas também podemos dizer que se não tampar após usar, elas
vão secar (consequência).

Importante é deixar que a consequência realmente aconteça. Se, como no exem-


plo acima, a canetinha secar, deixe que a criança fique sem ela, pelo menos por um
tempo, para sentir a consequência, ao invés de ir correndo comprar uma nova.
Também é importante que não seja em tom de ameaça, a ideia é conversar com a
criança. Talvez ela não saiba das consequências de cada ato, por isso nós, adultos
conscientes, devemos orientar.

O mesmo vale para os prêmios. Se dissermos que, se a criança entrar agora no

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banho, teremos tempo de ler na cama antes de dormir, é uma consequência. Se
dissermos que, se a criança entrar agora no banho, vamos deixar ela ler na cama
antes de dormir, é um prêmio. Sutil, mas grande diferença.

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AMBIENTE
PREPARADO

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“É sobre o ambiente que se torna necessário agir para
libertar as manifestações infantis: a criança encontra-se
num período de criação e expansão.”

Maria Montessori

Uma planta só cresce se o ambiente proporcionar o que ela necessita (terra, sol,
água). A semente já traz dentro de si tudo o que precisa para, em um ambiente
adequado, se transformar em uma planta. Ninguém questiona a capacidade da
planta e sim o que estamos oferecendo a ela.

Montessori comparou a criança a uma semente. Assim como a semente, a criança


precisa crescer em um ambiente adequado para o seu desenvolvimento, tem suas
necessidades específicas e já traz dentro de si o que precisa para se desenvolver.
Se a criança não está se desenvolvendo adequadamente, é necessário verificar o
ambiente, os estímulos e as interações com os adultos. A criança na primeira infân-
cia está absorvendo o seu entorno diretamente na estrutura do seu cérebro.

Um adulto consciente tem a capacidade de preparar um ambiente adequado, que


convide a criança à ação, bastante diferente do que percebemos na educação
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tradicional, onde o adulto preserva só o ambiente: “não mexe nisso”, “não toca
naquilo”...

Importante salientar que não adianta ter um ambiente preparado se o adulto não
estiver consciente e, por exemplo, quando a criança vai explorar, é reprimida com
um tapa na mão. O tripé adulto consciente + ambiente preparado = criança equili-
brada deve ser sempre levado em consideração.

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Há também um grande equívoco em achar que Montessori se aplica apenas no
quarto da criança, quando na verdade, deve ser aplicado em toda a casa. A criança
vive na casa como os adultos, logo, deve ser incluída como um novo morador e ser
tratada como um indivíduo que também merece ter seu espaço em todos os am-
bientes da casa.

Isso não quer dizer que você precisa modificar toda a casa. O desafio é pensar
como tornar cada ambiente acessível, confortável e proporcionador de
autonomia para a criança, com coisas interessantes para ela e ao alcance

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dela e que acolha ao mesmo tempo adultos e crianças.

Em um ambiente Montessori, a criança toma decisões e faz o que precisa sem ter
que pedir permissão ou ajuda aos adultos o tempo todo, pois é livre, autônoma e
independente neste ambiente. Claro que existem limitações físicas e da idade, a
independência é gradativa, mas o importante é não subestimar as crianças, elas
são mais capazes do que imaginamos!

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O quarto
O quarto montessoriano é um assunto em moda e, portanto, tem quem conheça o
quarto sem conhecer o método em si. O risco pode ser gastar um dinheiro excessi-
vo achando que está fazendo um ótimo quarto montessoriano, quando na verda-
de, o quarto, e qualquer ambiente montessoriano, é da simplicidade e da economia. Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

O quarto deve estar a serviço da criança. No método Montessori não se faz um


quarto de bebê para que todos achem lindo e sim para que sirva como instrumento
para o desenvolvimento da criança, para que ela tenha condições de se mover e
agir livremente, vivenciar, manipular, explorar.

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A criança não tem que ficar cuidando ou ser cuidada enquanto utiliza o seu espaço.
Ele deve estar preparado para receber os movimentos da criança e para que ela
possa escolher o que fazer, como agir, como viver ali. O que tem dentro do quarto
da criança deve ser para ela e todos os objetos devem estar acessíveis a ela. Em
um quarto montessoriano, o ponto de vista valorizado é o da criança.

Para Montessori, menos é mais! Pouca decoração, cores claras, sem excesso de
estímulos e que inspire tranquilidade. Um quarto seguro, organizado e calmo per-
mite que a criança cresça segura, organizada e calma.

Todo o quarto Montessori, ou qualquer outro ambiente da casa que você escolher,
precisa de um espelho, pois a criança gosta do rosto humano e é importante que
ela reconheça o seu próprio rosto. Existem espelhos de acrílico, mas o de vidro
também pode ser usado se instalado de maneira adequada e segura. Quando a
criança ainda não fica em pé, o espelho deve ser colocado na horizontal e, depois,
quando começa a caminhar, na vertical, acompanhando seu crescimento.

A barra, também tão conhecida, serve para que a criança possa se abaixar e se
levantar sozinha, sem depender de um adulto. É útil para a criança que ainda não
sabe andar e, quando em frente ao espelho, ajuda também na formação da consci-
ência corporal. A barra permite que a criança possa fazer uma série de exercícios
que vão facilitar o seu processo de desenvolvimento do andar e do correr.

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Montessori defendia o uso de um colchão no chão, pois entendia que, assim como
cercadinhos, os berços deixam as crianças presas e elas precisam estar livres
também para entrar e sair da sua cama quando quiserem. Para ela, o choro pedin-
do para sair do berço é um estresse desnecessário e se a criança tiver a liberdade
de entrar e sair da sua cama quando quiser, dentro de um ambiente preparado e
seguro, você pode ter a deliciosa surpresa de encontrá-la já acordada brincando
fora da cama.

Claro que se você já tem berço ou acha isso muito esquisito, sem desespero! O
método deve se adequar a cultura familiar.

O mobiliário também deve ser adaptado à criança, de modo que ela seja capaz de
acessar o que precisa e o que deseja. Mas também não se desespere se o quarto
já está pronto ou você não quer ou não pode comprar móveis baixos. Separe as
gavetas ou prateleiras inferiores para as roupas ou sapatos que a criança pode
acessar e exercitar sua capacidade de escolhas.

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Ilustrações e imagens nas paredes embelezam e ajudam a cultivar o apreço pela arte.
Mas se não estiverem até meia parede, são para os adultos, não para a criança.

A dica ao montar o quarto da criança é se colocar na altura dela, assim você


terá um quarto para ela e não para os adultos.

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A cozinha
No método Montessori a cozinha pode e deve ser um lugar onde a criança é
bem-vinda. Geralmente focamos nos riscos que a cozinha oferece e esquecemos
a infinidade de possibilidades de exercícios de vida prática que criança pode ter
naquele ambiente. Sem falar que as crianças amam participar das tarefas da cozi- Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

nha.

Lembrando que em Montessori seguimos o interesse da criança, então se na cozi-


nha ela tem curiosidade e interesse despertados, significa que ali é um ótimo am-
biente de aprendizagem e desenvolvimento. É muito mais seguro orientar o
uso do que tirar do alcance. Se orientamos e mostramos como usar e seus

53
riscos, quando a criança entrar em contato novamente com o objeto sem a nossa
presença, vai saber dos riscos e ter cuidado, ou talvez nem pegue, pois a curiosida-
de sobre aquele objeto já foi satisfeita.

Por outro lado, se a criança ficou curiosa sobre o objeto e simplesmente não permi-
timos que ela chegue perto, quando entrar em contato com ele novamente, sem
nossa presença, corre um risco maior de se machucar, pois não teve orientação de
como usá-lo. Quando instruímos corretamente, as crianças são muito cuidadosas.
Além de todos os aspectos de vida prática que a cozinha oferece, podemos traba-
lhar aspectos matemáticos através de quantidades em receitas, científicos através
da mistura de alimentos, sensoriais através das texturas e dos cheiros, e a criança
aprende brincando.

Ter um banco ou uma cadeira onde a criança possa subir com segurança e ficar no
nível da pia e da bancada, é muito bem-vindo. Você pode também disponibilizar as
prateleiras e gavetas mais baixas para as coisas que a criança pode mexer (potes,
panelas e etc) e servir-se livremente (água e frutas).

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Foto: www.howwemontessori.com 54
O banheiro
O banheiro também pode ser uma excelente fonte de desenvolvimento e autono-
mia. No método tradicional, a gente usa o banheiro e a criança espera fazermos
tudo por ela. No método Montessori, a gente adapta o banheiro para que a criança
possa ir aprendendo e assumindo as responsabilidades de fazer em si mesma Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

tudo que precisa ser feito e comece a exercer o cuidado com o próprio corpo.

Foto: www.howwemontessori.com 55
Para isso devemos adaptar, assim como a cozinha, com um banco ou algo que per-
mita a criança acessar a pia quando quiser e então pode começar a escovar seus
próprios dentes, lavar as suas mãos, pentear-se. Adaptadores de vaso sanitário
também são importantes. No banho, que pode ser um momento de grande apren-
dizagem, permita que a criança se lave e depois cuide dos detalhes finais.

Lembrando que o papel do adulto é orientar como se faz, observar e permitir


que a criança faça do seu jeito, dentro dos limites de risco já comentados ante-
riormente, claro. Por muito tempo faremos juntos, para que a higiene fique comple-
ta, mas sem corrigir ou dizer que está mal feito. O importante é que a criança
desenvolva habilidades e autonomia.

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Foto: www.howwemontessori.com 56
A sala
A sala é o local onde as famílias tendem a passar mais tempos juntas, logo, deve ter
espaço para todos, acomodando adultos e crianças.

Geralmente as casas não têm na sala um espaço que receba bem as crianças. Elas Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

às vezes têm dificuldades de acessar sofá ou a mesa de jantar e quando chegam


perto de algum objeto, são reprimidas. Tenha em mente a seguinte pergunta:
como vou tornar essa sala acessível, confortável, gostosa e proporcionado-
ra de autonomia para essa criança?

Foto: www.howwemontessori.com 57
Não estou dizendo que a sala precisa ficar cheia de brinquedos, bem pelo contrá-
rio, Montessori não prezava por muitos brinquedos. O que quero dizer é que a
criança deve poder usar a sala, ou uma parte dela, com liberdade e autonomia,
junto com a família.

O importante é começar a mudar a cabeça do adulto para que esteja cada vez
mais consciente para preparar o ambiente da criança. Seja criativo e, ao seu tempo
e ao seu bolso, vá fazendo as adaptações e as mudanças que julgar prioritárias.

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Brinquedos
Poucos e bons brinquedos – é assim que devemos pensar quando estamos pre-
parando o ambiente da nossa criança.

Exercitar a habilidade de escolha na criança é importantíssimo e ponto chave no Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

método Montessori, mas ela ainda não tem maturidade para escolher entre muitas
opções. Por isso é importante que os ambientes tenham poucos brinquedos.
Poucos mesmo, cinco ou seis por ambiente já está ótimo.

Quando a criança tem que escolher entre muitos objetos, pode ficar confusa e
optar por não escolher. Então não desenvolve sua capacidade de escolha, muito
menos de concentração. O importante não é a quantidade, mas a qualidade.

Foto: www.howwemontessori.com 59
Os adultos tendem a se preocupar com o valor monetário do presente, mas a crian-
ça valoriza a diversão e a possibilidade de desenvolvimento. Inconscientemente,
busca e se interessa pelo que ela está na fase de desenvolver. Por isso a impor-
tância de observar a criança e ver o que ela está interessada no momento e pro-
porcionar brinquedos ou objetos que atendam essa necessidade.

Para a criança, quase tudo pode ser brinquedo: tampas e potes da cozinha, macar-
rão cru, prendedores de roupa e diversas outras coisas que já temos em casa
podem ser mais interessantes do que os brinquedos que compramos. O impor-
tante é se desconectar do consumismo exacerbado e se conectar com as
coisas simples da vida. É disso que a criança precisa e ela nos mostra.

Mas como escolher um brinquedo?

Os brinquedos mais recomendados são feitos de materiais naturais, como madeira


e tecido, pois os de plástico já existem em abundância em todas as casas e escolas

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infantis. Quanto mais diferentes materiais a criança tiver acesso, mais diver-
sidade de estímulos sensoriais ela terá.

Brinquedo bom é aquele que tem mistério, suscita a curiosidade e desafia a imagi-
nação da criança. São aqueles que permitem que a criança permaneça concentra-
da por um bom tempo, pois está se sentindo desafiada e está desenvolvendo
alguma habilidade, e que, durante e após brincar com ele, fica alegre, tranquila,
satisfeita.

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Brinquedos que a criança ainda não brinca, que a deixam irritada ou que depen-
dem do adulto para brincar, podem ainda não estar adequados à sua fase de
desenvolvimento e devem ser guardados.

Já brinquedos que deixam a criança agitada demais ou que não a convidam à


ação, como brinquedos a pilha que brincam sozinhos, não são bons brinquedos,
pois não proporcionam desenvolvimento para a criança.

Brinquedos que a criança já brincou bastante, mas que não despertam mais o inte-
resse, devem ter sido esgotados de desafio para ela. Podem ser guardados por um
tempo, para ver se ao retornar ao ambiente trazem algum novo desafio. Caso
negativo, hora de doar.

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Aliás, essa deve ser uma prática recorrente que muitos pais já fazem intuitivamen-
te: recolher alguns brinquedos e reapresentá-los depois de um tempo. Quando o
brinquedo só é interessante no dia em que reaparece ou quando o adulto convida
a criança para brincar, pode voltar para o armário ou ser doado (depende se já se
esgotou de desafio ou se ainda é muito cedo, como explicado acima).

Importante salientar que o ambiente montessoriano não é fixo, ele muda com a
criança. Portanto, esteja sempre atento aos brinquedos que não estão sendo
usados e retire de cena, deixando à disposição aqueles que a criança realmente
quer, não o que os adultos querem que ela brinque... Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

O nosso desafio é perceber e disponibilizar brinquedos, objetos ou ativida-


des que permitam o equilíbrio entre as habilidades da criança e os desafios
do brinquedo. Assim, veremos a criança concentrada, alegre, tranquila e,
como dizia Montessori, normalizada!

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O controle do erro
que leva à perfeição

É muito importante deixar que a criança perceba os seus próprios erros, pois corri-
gir pode desmotivar ao invés de ensinar. Montessori dizia que devemos ensinar
ensinando e não corrigindo.

Em uma sala de aula montessoriana, quando um material é apresentado pela


primeira vez, a professora demonstra a maneira adequada de usar e deixa a crian-
ça livre para usar como quiser, desde que não estrague o material nem se coloque
em risco, e observa. Caso a criança esteja fazendo o uso inadequado, em uma pró- Transaction: HP10515558530310 e-mail: renatosous@gmail.com

xima oportunidade a professora mostra novamente, mas não diz que a criança
errou, nem corrige, deixa a criança perceber o erro.

Se a criança ainda não encontrou o erro, é porque acha que o jeito que está
fazendo está adequado. Quando ela mesma percebe, ela mesma se corri-
ge e isso muda a relação da criança com sua autoestima e auto avaliação.

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PASSOS
PRÓXIMOS

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Por que é tão difícil fazer diferente?
Por que repetimos até aquilo que não gostamos?

A pressão da maioria e da cultura faz com que a gente acabe fazendo igual
aos outros. Nadar contra a corrente é muito desafiador, por isso precisamos estar
muito seguros no que acreditamos para não sermos levados por ela.

Lembre-se de ver sua criança como um indivíduo muito capaz e de olhar a


vida com a perspectiva dela.

Converse e converse muito com a criança, como se tudo ela entendesse.


Você vai se impressionar como realmente entende! Sempre em tom de ensina-
mento, não de ameaça.

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Escute sempre que a criança falar. Muitas vezes o assunto não é interessante
para nós, mas se é interessante para nossa criança, devemos ouvir e nos mostrar
interessados. Assim, criamos um vínculo que permanece para a vida toda.

Observe a criança por alguns minutos todos os dias, sem intervir. Como ela
está? Mais alegre, mais triste, mais irritada? O que gosta de fazer? Pelo que se inte-
ressa?

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Busque as razões dos problemas no ambiente e nos adultos ao redor. A
criança é apenas o reflexo, nunca o motivo.

Diga mais sim do que não. Além de ser comprovado pela neurociência que
nosso cérebro tem dificuldade de entender o não, ele bloqueia o processo em
andamento internamente na criança. Mas o mais importante: quanto mais sim você
fala, mais chance de ser atendido quando disser um não. Sempre que for dizer um
não, pare e pense em como a criança pode fazer e mostre para a criança. Troque
o “não pode” pelo “como pode” e deixe o não para momentos de emergência.

Montessori é uma filosofia de vida: é pensar diferente, é sentir diferente, é


agir diferente com todos. Não adianta aplicarmos com a criança, mas não aplicar-
mos com as outras pessoas do nosso convívio. Seja um exemplo para sua criança
sempre.

Sempre que possível, busque contato com famílias que pensem como você,
para manter forte suas crenças nessa maneira mais humana de educar.

Seja persistente e não desanime quando parecer não estar funcionando. As


coisas não mudam de uma hora para a outra e no início pode parecer difícil, mas
tudo é difícil antes de ser fácil!

E, claro, não pare jamais de estudar para essa missão importantíssima de criar um

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ser humano.

Boa jornada!

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Luise Rabelo
Apaixonada por educação infantil

Estudiosa e propagadora do método Montessori,


aplicado em casa com o filho de 2 anos

Mãe do Nicolas

Arquiteta

Pós graduanda em Neuropsicopedagogia

Em curso de formação de professores de classe Montessori

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LUISE RABELO
Montessori para Famílias e Lares
Fontes e referências:

Curso Montessori em Casa, por Isa Minatel, em Mundoemcores.com


Blog Lar Montessori, por Gabriel Salomão
Livro A Criança, de Maria Montessori
Livro Método Montessori, de Paula Polk Lillard
Curso de formação de professores Montessori 0 a 3 anos CEMJ
Experiência própria com o filho de 2 anos

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