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ESPERANDO JESUS

– Maria. Recolhimento. Espírito de oração.

– A nossa oração. Aprender a relacionar-nos com Jesus. Necessidade da oração.

– Humildade. Relacionamento com Jesus. Jaculatórias. Recorrer a São José, mestre de vida
interior.

I. PELAS ENTRANHAS de misericórdia do nosso Deus, visitar-nos-á o Sol


que nasce do alto, a fim de iluminar os que estão sentados nas trevas e nas
sombras de morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz 1. Jesus é o Sol
que ilumina a nossa vida. Se queremos que todas as nossas coisas tenham
sentido, devem referir-se a Ele.

De modo muito especial e extraordinário, a vida da Virgem Maria está


centrada em Jesus, particularmente nesta véspera do nascimento do seu Filho.
Mal podemos imaginar o recolhimento da sua alma. Assim esteve sempre, e
assim devemos aprender a estar nós, que andamos habitualmente tão
dispersos e nos distraímos por coisas de tão pouca monta! Uma só coisa é
verdadeiramente importante na nossa vida: Jesus, e tudo o que se refere a Ele.

Maria guardava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração2.Sua


mãe considerava todas estas coisas no seu coração3. Por duas vezes o
evangelista menciona esta atitude da Virgem perante os acontecimentos de
que participava.

A Virgem Maria conserva e medita. Pratica esse recolhimento interior que


lhe permite avaliar e guardar os acontecimentos, grandes ou pequenos, da sua
vida. Na sua intimidade, enriquecida pela plenitude da graça, reina aquela
primitiva harmonia em que o homem foi criado. Nenhum lugar melhor para
guardar e ponderar essa excepcional acção divina no mundo de que Ela é
testemunha.

Depois do pecado original, a alma perdeu o domínio dos sentidos e a


orientação natural para as coisas de Deus. Mas na Virgem não foi assim.
Tendo sido preservada da mancha original, tudo n’Ela era harmonia, como no
começo do mundo. Mais ainda, estava embelezada pela presença, totalmente
singular e extraordinária, da Santíssima Trindade na sua alma.

Maria está sempre em oração, porque faz tudo por referência ao seu Filho:
quando fala com Jesus, faz oração (a oração é isso: é “falar com Deus”); e faz
oração de cada vez que o olha (isso também é oração, como quando olhamos
com fé para Jesus Sacramentado, realmente presente no Sacrário), e quando
lhe pede alguma coisa ou lhe sorri (tantas vezes!), ou quando pensa n’Ele. A
sua vida esteve determinada por Jesus, e para Ele se orientavam
permanentemente os seus sentimentos.
O seu recolhimento interior foi constante. A sua oração fundia-se com a sua
própria vida, com o trabalho e a atenção aos outros. O seu silêncio interior era
riqueza, plenitude e contemplação.

Nós lhe pedimos hoje que nos dê esse recolhimento interior, necessário para
podermos ver e relacionar-nos com Deus, que também está muito próximo das
nossas vidas.

II. HOJE SABEREIS que o Senhor vem, e amanhã contemplareis a sua


glória4.

Maria incita-nos nesta véspera do nascimento do seu Filho a não abandonar


nunca a oração, o trato com o Senhor. Sem oração, estamos perdidos; e com
ela, somos fortes e levamos para a frente as nossas tarefas.

Entre muitas outras razões, “devemos orar também porque somos frágeis e
culpados. É preciso reconhecer real e humildemente que somos pobres
criaturas, cheios de ideias confusas [...], frágeis e débeis, continuamente
necessitados de força interior e de consolo. A oração dá forças para acometer
os grandes ideais, para manter a fé, a caridade, a pureza, a generosidade; dá
ânimos para sair da indiferença e da culpa, se por desgraça se cedeu à
tentação e à fraqueza; dá luz para ver e julgar os acontecimentos da própria
vida e da história a partir da perspectiva de Deus e da eternidade. Por isso, não
deixem de orar! Não passe nenhum dia sem que tenham orado um pouco! A
oração é um dever, mas é também uma alegria, porque é um diálogo com
Deus por meio de Jesus Cristo”5.

Temos que aprender a ganhar intimidade com o Senhor através da oração


mental, em momentos como este, em que nos dedicamos a falar-lhe
silenciosamente dos nossos assuntos, a agradecer-lhe, a pedir-lhe ajuda..., a
estar com Ele. Ao longo da nossa vida, não encontraremos ninguém que nos
escute com tanto interesse e com tanta atenção como Jesus; nunca ninguém
levou tão a sério as nossas palavras. Ele nos olha, presta-nos atenção, escuta-
nos com extremo interesse quando fazemos a nossa oração.

A oração é sempre enriquecedora, mesmo nesse diálogo “mudo” diante do


Sacrário em que não articulamos palavras: basta-nos olhar e sentir-nos
olhados. Como isso é diferente do palavreado de tantos homens, que não
dizem nada porque não têm nada que comunicar! Da abundância do coração
fala a boca. Se o coração está vazio, que poderão dizer as palavras? E se está
doente de inveja, de sensualidade, que conteúdo terá o diálogo? Da oração, no
entanto, saímos sempre com mais luz, com mais alegria, com mais força.
Poder fazer oração é um dos maiores dons do homem: falar e ser escutado
pelo seu Criador! Falar com Ele e chamá-lo Amigo!

Na oração, temos que falar com o Senhor com toda a simplicidade. “Pensar
e entender o que falamos e com quem falamos, e quem somos os que
ousamos falar com tão grande Senhor, pensar isto e outras coisas semelhantes
sobre o pouco que o temos servido e o muito que estamos obrigados a servi-lo,
é oração mental; não penseis que é outra algaravia nem vos espante o nome”6.

Alguns podem pensar que é extraordinariamente difícil fazer oração, ou que


é para pessoas especiais. No Evangelho podemos ver uma grande variedade
de tipos humanos que se dirigem ao Senhor com confiança: Nicodemos,
Bartimeu, as crianças – com as quais o Senhor se alegra especialmente –, uma
mãe, um pai que tem um filho doente, um ladrão, os Magos, Ana, Simeão, os
amigos de Betânia... Todos eles, e agora nós, falamos com Deus.

III. NA ORAÇÃO, são importantes as boas disposições; entre elas, a fé e a


humildade. Não podemos chegar à oração como o fariseu daquela parábola
dirigida a alguns que confiavam em si mesmos e desprezavam os outros7. O
fariseu, em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus! Dou-te graças por não
ser como os demais homens, ladrões [...]. Jejuo duas vezes por
semana... Percebemos imediatamente que o fariseu entrou no Templo sem
amor. Ele próprio é o centro dos seus pensamentos e o objecto da sua estima.
E, consequentemente, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo. Não há
amor na sua oração, nem sequer caridade; não há humildade. Não necessita
de Deus.

Pelo contrário, podemos aprender muito da oração do publicano, pois


devemos procurar ter uma oração humilde, atenta – com a mente concentrada
na Pessoa com quem falamos –, confiante; procurando que não seja um
monólogo em que damos voltas a nós próprios, em que recordamos situações
sem referi-las a Deus ou deixamos a imaginação à solta, etc.

O fariseu, por falta de humildade, foi-se embora do Templo sem ter feito
oração. Até nisso se pôs de manifesto a sua oculta soberba. O Senhor pede-
nos simplicidade, que reconheçamos as nossas faltas e lhe falemos dos
nossos assuntos e dos d’Ele. “Escreveste-me: «Orar é falar com Deus. Mas de
quê?» – De quê? D’Ele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições
nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e acções de graças e pedidos; e
Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar
intimidade!”8

“«Et in meditatione mea exardescit ignis». – E na minha meditação se ateia o


fogo. – Para isso vais à oração: para tornar-te uma fogueira, lume vivo, que dê
calor e luz.

“Por isso, quando não souberes ir mais longe, quando sentires que te
apagas, se não puderes lançar ao fogo troncos aromáticos, lança os ramos e a
folhagem de pequenas orações vocais, de jaculatórias, que continuem a
alimentar a fogueira. – E terás aproveitado o tempo”9.

Sobretudo a princípio, e em certas temporadas, ser-nos-á de muita ajuda


servir-nos de um livro – como o coxo se serve das suas muletas – para irmos
adiante na nossa oração. Assim fizeram também muitos santos. Diz Santa
Teresa: “A não ser quando acabava de comungar, jamais ousava começar a
oração sem um livro, pois a minha alma temia tanto estar sem ele como se
fosse lutar com muita gente. Com este remédio, que era como uma companhia
ou escudo em que aparava os golpes dos muitos pensamentos, andava
consolada”10.

Habitualmente, a nossa oração deve encerrar-se com propósitos precisos de


melhora pessoal. Perguntaremos com sinceridade ao Senhor: Que desejas de
mim, Senhor, neste assunto que acabo de considerar? Como posso progredir
agora nesta virtude? Que devo propor-me para cumprir a tua Vontade tendo
em vista os próximos meses?

Nenhuma pessoa deste mundo soube tratar Jesus como a sua Mãe e,
depois de sua Mãe, São José, que devia passar longas horas olhando-o,
falando com Ele, tratando-o com toda a simplicidade e veneração. Por isso,
“quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome este glorioso Santo
por mestre e não errará de caminho”11.

Ao terminarmos a nossa oração, contemplemos José muito perto de Maria,


cheio de atenções e delicadezas para com Ela. Jesus vai nascer. Ele preparou
o melhor que pôde aquela gruta. Nós lhe pedimos que nos ajude a preparar a
nossa alma, para que não estejamos dispersos e distraídos, agora que Jesus
está para chegar.

(1) Lc 1, 78-79; Evangelho da Missa do dia 24 de Dezembro; (2) Lc 2, 19; (3) Lc 2, 51;
(4) Antífona do Invitatório do dia 24 de Dezembro; (5) João Paulo II, Audiência com os jovens,
14-III-1979; (6) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 25, 3; (7) Lc 18, 9 e segs.; (8) São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 91; (9) ibid., n. 92; (10) Santa Teresa, Vida, 4, 7; (11) ibid., 6,
3.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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