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Eliane Kuvasney
Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/confins/10524
DOI: 10.4000/confins.10524
ISSN: 1958-9212
Editora
Hervé Théry
Refêrencia eletrónica
Eliane Kuvasney, « O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por ocasião da Revolta Liberal de
1842. Contexto e usos atuais. », Confins [Online], 25 | 2015, posto online no dia 07 novembro 2015,
consultado o 02 maio 2019. URL : http://journals.openedition.org/confins/10524 ; DOI : 10.4000/
confins.10524
Confins – Revue franco-brésilienne de géographie est mis à disposition selon les termes de la licence
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4.0 International.
O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por ocasião da Revolta Liberal ... 1
Eliane Kuvasney
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1842. O Exmo Snr Barão de Caxias mandou Executar pelo Engenheiro da Columna José Jacques da
Costa Ourique - Fortificador da Capital, Para uma melhor visualização acesse o site http://
www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1842-download.jpg
Fonte: Arquivo Histórico Municipal (São Paulo).
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Contextualizando o mapa
9 Bryan Harley (2005) nos informa que a regra básica do método histórico é que só podemos
interpretar os documentos em seu contexto. Essa norma se aplica também aos mapas e é
necessário entendermos que o contexto é um conjunto complexo de forças que interagem
e que é fundamental para a estratégia de interpretação. Ele afirma que para analisar um
mapa antigo é necessário levar em consideração três aspectos do contexto que
influenciam a leitura dos mapas como textos:
10 1) o contexto do cartógrafo: aqui pode-se fazer uma analogia com os artistas pintores: uma
pintura era sempre uma relação social. De um lado estava o pintor que pintava o quadro
ou ao menos o supervisionava. De outro, estava alguém que encomendava, que
proporcionava os fundos necessários e uma vez terminado decidia usar de uma maneira
ou de outra, o que implicava na criação de novas relações. Ambas as partes trabalhavam
dentro de instituições e convenções (comerciais, religiosas, etc.) diferentes das nossas
contemporâneas, e influíam sobre as formas do que tinham feito juntos. O cartógrafo, do
mesmo modo, não pode ser avaliado em si: ao longo da história o cartógrafo foi um títere
vestido com uma linguagem técnica, cujos fios eram manejados por outras pessoas
(Harley, 2005, p. 63-67).
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15 Luiz Alves de Lima e Silva tem sua primeira grande campanha militar em 1839, quando
debela a rebelião dos Balaios, no Maranhão, sendo ao mesmo tempo agraciado com o
título de “Barão de Caxias” (nome da cidade locus da revolta dos Balaios) e promovido a
General Brigadeiro. “A um só tempo ingressa no grupo de oficiais generais – o mais alto
escalão do exército – e na nobreza brasileira”, como bem observou Souza (2001). Essa
mesma autora nos lembra que é a experiência como Comandante dos Municipais
Permanentes da Corte (o equivalente a atual polícia militar), entre 1833 e 1839, e depois
na repressão aos balaios, que fez de Caxias o homem certo para a “pacificação” de São
Paulo e Minas Gerais. Eric Horner, em sua tese de doutoramento, traça um perfil do
“Pacificador”:
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19 Designado pelo gabinete conservador, governava São Paulo o baiano José da Costa
Carvalho, o Barão de Monte Alegre4, que sucedera Rafael Tobias de Aguiar, um dos chefes
mais populares do partido liberal paulista. Como desdobramento dos atos dos
conservadores, em Sorocaba, com o apoio da Câmara Municipal e do ex-regente e padre
Diogo Feijó, Tobias de Aguiar é aclamado presidente interino da província, em 17 de maio,
quando nomeou comandantes militares, despachou emissários, suspendeu a «lei das
reformas» e declarou nulos os atos praticados em virtude dela. Sob seu comando militar,
foi constituída a chamada Coluna Libertadora, com aproximadamente mil homens, para
marchar até a capital paulista onde iriam depor o Barão de Monte Alegre.
20 É nesse contexto que o Barão de Caxias é chamado a intervir e Ourique deve produzir o
mapa da fortificação da capital. Nesse contexto, as forças imperiais partem do Rio de
Janeiro, a bordo de um vapor, desembarcando em Santos em 21 de maio. No dia seguinte
chegam a São Paulo, acabando com os planos dos revoltosos de conquistar a cidade. Eric
Horner narra esse período dessa forma:
21 É importante observar que Horner ignora o mapa de Ourique como documento a ser
incorporado em suas análises, o que faz com que trate o armamento disposto pela cidade
e as fortificações – objeto principal do mapeamento – somente como “entusiasmo
jornalístico”, inclusive demonstrando incredulidade quanto à existência das fortificações,
ao coloca-las entre aspas em sua análise.
22 A ironia que envolve tal mapa é que todo o cenário de batalhas ocorre fora do território
mapeado. A fortificação que – apesar da incredulidade de alguns – a documentação
levantada mostra que de fato foi feita, mostrou-se inútil, pois tudo aconteceu a alguns
quilômetros dali (escaramuças aconteceram entre o Córrego Pirajussara e a Ponte do Rio
Pinheiros). Independente deste fato, o mapa – como documento – nos mostra a rapidez
com que as forças nacionais se organizaram. Nos mostra também que a escolha de um
segundo tenente vindo do Rio de Janeiro, que desconhecia a capital paulista, para
substituir o marechal Daniel Pedro Muller na direção do Gabinete Topográfico se mostrou
acertada para as forças conservadoras num momento de exceção.
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25 Mas é importante denotar que a planta de Bresser – que encontrava-se inacabada – era
útil para a empreitada de Ourique que necessitava mapear urgentemente a cidade e a
mesma havia sido elaborada no ano anterior, ou seja, era o levantamento mais recente
dos equipamentos urbanos existentes.
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28 Esse mesmo autor, para explicar a razão da técnica empregada pelos militares, cita o
manual de Buchotte, intitulado Regras do desenho e da aguada para os planos particulares e
obras..., de 1722, que compara paisagens em plano e em perspectiva:
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Fonte: Arquivo Histórico Municipal (São Paulo). Para uma melhor visualização acesse o site: http://
www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1810-download.jpg
31 Se compararmos este mapa ao mapa em análise, este em muito difere daquele: não
observamos ali as relações entre plano e paisagem características do mapa da capital, mas
apenas o traçado dos rios, canais e ilhas e sua nomenclatura. Desconhecemos também os
motivos da cópia, mas identificamos o proprietário do original: o então governador da
Província do Pará, João Antonio de Miranda, o que pode indicar uma teia de relações mais
ampla.
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O mapa exerce sua influência tanto pela sua força de representação simbólica
quanto pelo que ele representa abertamente. A iconologia do mapa, no
tratamento simbólico do poder, é um aspecto negligenciado da história
cartográfica (Harley, 2009, p.24).
Mapa elaborado por Cid Afonso Rodrigues com base no mapa de José Jaques da Costa Ourique. In:
Toledo, Benedito Lima de. São Paulo. Três cidades em um século. São Paulo, CosacNaify/DuasCidades,
1981, p.20-21.
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dedicadas ao século XIX (até a implantação da estrada de ferro em 1870). Sobre ele são
feitos cinco diferentes desenhos ou intervenções, pois ele “nos dá uma precisa
representação do sítio e do assentamento da cidade” (De Bem, 2006, p.15). Aqui, notamos
que o autor ignorou o fato de Ourique ter utilizado a planta incompleta de Bresser, de
1841. Se tivesse optado pela planta enfim acabada do mesmo autor, de 1844, intitulada
Mappa da Cidade de São Paulo oferecido a Sua Magestade, o Imperador pelo Presidente da
Província Manoel da Fonseca Lima e Silva, talvez tirasse conclusões diferentes das que tirou:
35 In: De Bem, José Paulo, São Paulo Cidade/Memória e Projeto. Tese de Doutoramento
apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2006,
p.17.
36 Em nenhum momento o autor faz alusão ao fato deste mapa tratar-se de peça militar. No
entanto, a partir dele generaliza para a cidade o que Ourique quer ressaltar naquele
momento de exceção: os pontos a serem cuidados/fortificados, os lugares estratégicos:
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37 Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842. In: De Bem, José Paulo, São Paulo
Cidade/Memória e Projeto. Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2006, p.18.
38 Em outra tese de doutoramento em Arquitetura, de Fabiano Lemes de Oliveira, intitulada
Modelos urbanísticos modernos e Parques Urbanos: as relações entre urbanismo e paisagem em São
Paulo na primeira metade do século XX, defendida na Universidade Politécnica da Catalunha,
em 2008, o mapa de Ourique aparece no item “São Paulo, crescimento e primeiros
planos”, incluído em um conjunto de mapas que busca mostrar o lento crescimento da
cidade até o final do século XIX.
39 Aqui, o uso que se faz do mapa está ligado à necessidade de observar o relevo e a
vegetação, ausentes das plantas cadastrais - mais completas em termos de edificações e
vias - porém euclidianamente estéreis já que nelas não associamos plano e paisagem como
o faz Ourique. Mas, é preciso ter claro que o objetivo de Ourique em apresentar as colinas,
os tanques e a várzea era militar, pois pressupunha fundamentar sua linha de fortificação
e os pontos de artilharia. Aqui, novamente, se o autor tivesse optado pela planta do
cadastramento completo de Bresser, de 1844-47, observaria um crescimento mais
expressivo em relação a 1810 sem, contudo, ter a visão da topografia.
40 Por último, na dissertação de mestrado de Carolina Celestino Giordano, intitulada Ações
sanitárias na Imperial Cidade de São Paulo: mercados e matadouros, de 2006, o mapa de Ourique
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é utilizado para indicar as “saídas para o sul” da cidade de São Paulo e os pousos indicados
em bibliografia auxiliar. Diz a legenda da imagem abaixo:
Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842. In: Giordano, Carolina Celestino. Ações
sanitárias na Imperial Cidade de São Paulo: mercados e matadouros. Dissertação (mestrado) – Centro de
Ciências Ambientais e Tecnologia da PUC- Campinas. Campinas, 2006, p. 65.
• Nota-se que trabalha sobre o mapa de Ourique, novamente sem indicar seu real objetivo,
negando a presença da artilharia em diferentes pontos e as linhas de tiro em direção ao
caminho de Santos, ou as linhas da fortificação.
• Interessante observar que, juntamente com os mapas que utiliza exclusivamente para
localizar os pousos (de vários do período, sem indicar o porquê da escolha, posto que contém
as mesmas informações, ou seja, edificações e caminhos), a autora associa a iconografia
existente sobre o lugar (fotografias, aquarelas, óleos), associando, dessa forma, plano e
paisagem.
Considerações finais
41 O objetivo deste trabalho era analisar o mapa de José Jacques da Costa Ourique a partir da
metodologia proposta por Brian Harley, que é entender o mapa em seu contexto de
produção, incluindo ai as razões que levaram quem o encomendou e quem o fez a
produzi-lo. Mas, o mais interessante, sem dúvida, foi analisar o contexto da sociedade em
que foi produzido, o momento histórico que o gerou e como esse momento aparece
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impresso no mapa. Talvez, por isso, tenha faltado aqui um olhar mais atento ao produto,
objeto de nossa análise. O fato de o mapa conter o lugar da forca, por exemplo, ausente
dos demais mapas do período, ou o fato de a linha de fortificação desviar-se da
propriedade de Rafael Tobias de Aguiar, um dos líderes da revolta, ou mesmo a intrigante
constatação de que a maioria das posições de tiro está voltada para os caminhos de Santos
e da Mooca e não para o caminho de Sorocaba, que é por onde os revoltosos
possivelmente entrariam, são questões levantadas que não foram analisadas através da
metodologia utilizada. Muito há, ainda, a se descobrir a partir desse documento da revolta
liberal de 1842. O que analisamos aqui foi somente o contexto em que foi produzido e
utilizado. Buscamos compreender as forças que interagiam no momento de sua produção,
fundamentais para sua interpretação, mas não um fim em si mesmas.
42 Fundamental para entendemos a força de representação simbólica do mapa, é também o
uso que ainda se faz dele na atualidade. Nos casos estudados – e aqui retomamos Brian
Harley ao criticar o uso comum que se faz dos mapas históricos - parece ser
essencialmente como “um levantamento inerte da paisagem morfológica, um reflexo
passivo do mundo dos objetos” (Harley, 2009, p. 2). Ou seja, nos trabalhos analisados, o
mapa foi utilizado como forma de visualizar o fenômeno urbano do período estudado,
como se o mesmo mostrasse a realidade apreendida naquele momento e não somente o
que seu autor visava mostrar.
43 Mas, porque usar um mapa de uso militar para analisar a estrutura urbana do período?
Nesse sentido, o que fica da escolha desse mapa e não de outro é o fato deste aguçar os
sentidos do observador. Ao escolher o mapa de Ourique em detrimento da planta mais
completa de Bresser (de 1844), o pesquisador visava chamar a atenção do leitor para outro
fato, ausente de uma planta cadastral (geométrica, euclidiana, plana): a relação entre
plano e paisagem.
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Documentos:
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In: Provincial Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://www-
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Discurso recitado pelo ex.mo presidente, Raphael Tobias de Aguiar no dia 7 de janeiro de 1841
por occasião da abertura da Assembléa Legislativa Provincial. S. Paulo, Typ. de Costa Silveira,
1841. In: Provincial Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://www-
apps.crl.edu/brazil/provincial/s%C3%A3o_paulo> Acesso em : 19/10/2015.
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Discurso recitado pelo ex.mo presidente, Miguel de Souza Mello e Alvim, no dia 7 de janeiro de
1842 por occasião da abertura da Assembléa Legislativa da provincia de S. Paulo. S. Paulo, Typ.
Imparcial de Silva Sobral, 1842. Disponível em: <http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/s%
C3%A3o_paulo> Acesso em : 20/10/2015.
Diário Oficial da União – DOU. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial do Estado, 1843. Ver: <http://
legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?
id=84186&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB> Acesso em 11/10/2013.
Ex-integrantes da Escola Militar do Rio Grande do Sul que se destacaram nos cenários municipal,
estadual e nacional. Disponível em: <http://www.cmpa.tche.br/arquivos/colegio2/
ex_integrantes_cmpa.pdf> Acesso em: 11/10/2013
NOTAS
1. Ourique é nomeado Diretor do Gabinete Topográfico após a morte de Muller, em 1841. A vinda
de um militar com sua formação para o Gabinete já estava prevista desde a publicação de seu
regulamento de 01 de agosto de 1840, quando o então Presidente da Província, Manoel Machado
Nunes, criou “mais dois empregos no gabinete, o ajudante do Diretor e um servente... os quaes o Marechal
Muller, Director nomeado, julga indispensáveis para a regularidade dos trabalhos do gabinete”, lembra o
sucessor de Machado Nunes, Raphael Tobias de Aguiar, em seu discurso por ocasião da abertura
da assembleia legislativa no dia 07 de janeiro de 1841. (p.6-7) In: Provincial Presidential Reports
(1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1083/000001.html>
2.
A afirmação de que o mapa foi pedido pelo então Barão de Caxias pode ser refutada, já que é usual
que tal demanda seja feita pelo presidente da província. Porém, há duas hipóteses: 1) O
presidente da província é parte integrante do grupo conservador e um dos conselheiros de
estado, podendo sim ter dado a ordem para a confecção do mapa, antes da deflagração da revolta,
o que indicaria que tal rebelião por parte dos liberais já era esperada. 2) trata-se de situação de
exceção e o tenente Ourique é subordinado ao chefe das forças imperiais. Aqui, optou-se por
analisar o mapa em seu contexto e a afirmação, no cartucho, de que o mapa foi pedido pelo Barão
é a que foi levada em conta nas análises.
3. Ourique é um dos “dois officiaes subalternos do Corpo d’Engenheiros” pedidos ao governo imperial
desde a presidência de Machado Nunes, em 1840 e novamente na presidência de Tobias de
Aguiar, em 1841, desta vez com sucesso, como lembra Mello Alvin, seu sucessor, em seu discurso
de janeiro de 1842, por ocasião da abertura da Assembleia Legislativa, p.6 [In: Provincial
Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: < http://brazil.crl.edu/bsd/
bsd/976/000001.html>]. Isso não significa afirmar que foi Tobias de Aguiar quem escolheu
Ourique para a direção do Gabinete Topográfico, posto que este seria o ajudante do diretor, como
previsto no regulamento de 1840 (nota 1). Ele se torna diretor do Gabinete somente em 1842, já
na presidência de Mello Alvin, passado um ano do falecimento de Muller, e após pedido de “
restauração do Gabinete topographiico” feito por este no discurso citado (p.6). É preciso lembrar
também que quem escolheu Ourique para vir à São Paulo como “oficial subalterno” foram seus
superiores nos quadros da academia militar e do governo imperial. A análise documental dessa
escolha nos revelaria mais sobre este momento, mas não cabem em um artigo.
4. Presidente da Província de São Paulo, de 20 de janeiro a 16 de agosto de 1842, sucedeu Miguel
de Souza e Mello Alvin, também designado pelos conservadores, que ficou no cargo de 15 de julho
de 1841 a 20 de janeiro de 1842, este sim, sucessor do liberal Raphael Tobias de Aguiar. É
importante salientar que Costa Carvalho, antes de ser nomeado presidente da província, recebeu
o título de Conselheiro de Estado, por decreto imperial de 18 de julho de 1841, o que significa que
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fazia parte do “núcleo duro” dos conservadores. Sua nomeação indica que a revolta em São Paulo
era, senão esperada, ao menos temida por estes.
5. Os levantamentos feitos indicam que o engenheiro Ourique produziu muitos mapas em seu
trabalho diário na Diretoria de Obras, mas estes não sobreviveram. Quanto ao único mapa de sua
autoria encontrado, apesar de cópia, merece ser citado, por revelar sua teia de relações, posto
que o original da cópia aludida pertencia a um político importante do império – João Antonio de
Miranda. Também revela sua busca por aceitação no meio em que está inserido e a doação ao
Instituto Histórico e Geográfico, com a publicação do feito indicam isso.
RESUMOS
Este trabalho parte da abordagem metodológica e analítica dos mapas existentes por meio de
seus contextos, desenvolvida por Brian Harley (1932-1991). Nesse sentido, o mapa da capital da
então Província de São Paulo, de 1842, foi produzido em virtude das ameaças de invasão da
capital da província por um grupo – os liberais – que se opunha às decisões do grupo no poder
naquele momento – os conservadores. O tenente José Jacques da Costa Ourique, recém empossado
diretor do Gabinete Topográfico de São Paulo é chamado a confeccionar um mapa que desse
conta de apresentar uma proposta de fortificação da cidade para o então Barão de Caxias, líder da
empreitada militar situacionista. Outro enfoque observado é a descontextualização desse objetivo
inicial do mapa – militar, de fortificação – ao observarmos seus usos na atualidade. Nas análises
atuais observou-se sua constante negação (das barreiras, das linhas de fortificação, da artilharia),
ou até sua supressão em algumas cópias.
Abstract: This work comes from the methodological and analytical approach of the existing maps
through their contexts, developed by Brian Harley (1932-1991). In this sense, the map of the
capital of the former Província de São Paulo, from 1842, was produced under the threat of an
invasion of the province’s capital by a group – the liberals – who opposed the decisions of the
group in power at the time – the conservatives. The lieutenant José Jacques da Costa Ourique,
newly vested head of the Topographical Bureau of Sao Paulo, is required to draw a map that
would present a proposal for the fortification of the city to the then Baron of Caxias, leader of the
situationist military contract. Another observed approach is the decontextualization of the map’s
initial goal - military fortification - to observe its uses today. In nowadays analysis it’s observed
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the constant denial (of the barriers, the lines of fortification, artillery), or even its suppression in
some copies.
ÍNDICE
Índice geográfico: São Paulo
Palavras-chave: Cartografia Histórica, Província de São Paulo, Revoltas Liberais, Mapa da
Fortificação.
Keywords: Historical Cartography, São Paulo, Liberal Revolts, fortification map.
Mots-clés: Cartographie historique, São Paulo, Révoltes libérales, Carte de la fortification.
AUTOR
ELIANE KUVASNEY
Doutoranda em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, ekuvas@gmail.com
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