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Confins

Revue franco-brésilienne de géographie / Revista


franco-brasilera de geografia
25 | 2015
Número 25

O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por


ocasião da Revolta Liberal de 1842. Contexto e usos
atuais.
La carte de la fortification de la ville de São Paulo à l'occasion de la Revolte
Libérale de 1842. Contexte et utilisations actuelles.
The fortification's map of the São Paulo city during the Liberal Revolt of 1842.
Context and current uses.

Eliane Kuvasney

Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/confins/10524
DOI: 10.4000/confins.10524
ISSN: 1958-9212

Editora
Hervé Théry

Refêrencia eletrónica
Eliane Kuvasney, « O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por ocasião da Revolta Liberal de
1842. Contexto e usos atuais. », Confins [Online], 25 | 2015, posto online no dia 07 novembro 2015,
consultado o 02 maio 2019. URL : http://journals.openedition.org/confins/10524 ; DOI : 10.4000/
confins.10524

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O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por ocasião da Revolta Liberal ... 1

O mapa da fortificação da cidade de


São Paulo por ocasião da Revolta
Liberal de 1842. Contexto e usos
atuais.
La carte de la fortification de la ville de São Paulo à l'occasion de la Revolte
Libérale de 1842. Contexte et utilisations actuelles.
The fortification's map of the São Paulo city during the Liberal Revolt of 1842.
Context and current uses.

Eliane Kuvasney

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O mapa da fortificação da cidade de São Paulo por ocasião da Revolta Liberal ... 2

Carta da capital de São Paulo

1842. O Exmo Snr Barão de Caxias mandou Executar pelo Engenheiro da Columna José Jacques da
Costa Ourique - Fortificador da Capital, Para uma melhor visualização acesse o site http://
www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1842-download.jpg
Fonte: Arquivo Histórico Municipal (São Paulo).

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1 Este trabalho parte da abordagem


metodológica e analítica dos mapas
existentes por meio de seus contextos,
desenvolvida por Brian Harley (1932-1991).
Nesse sentido, a partir do mapa da capital
da então Província de São Paulo, de 1842,
do tenente José Jacques da Costa Ourique,
autointitulado "o fortificador da capital"
analisamos os contextos do cartógrafo, da
sociedade da época, das técnicas
disponíveis naquele momento histórico, e dos demais mapas produzidos naquele recorte
temporal, dentre outras contextualizações.
2 O mapa em questão foi criado para orientar a fortificação da cidade de São Paulo frente à
ameaça de invasão pela chamada “Coluna Libertadora” – nome dado a parte dos
revoltosos que se opunham às forças imperiais em 1842, e cujas ações - que ocorreram em
vários pontos das Províncias de São Paulo e Minas Gerais, em especial - foram
denominadas de “Revoltas Liberais”.

Características físicas do mapa:

3 Original pertencente ao Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro.


4 Original manuscrito a nanquim e aquarela.
5 Dimensões do mapa original: 91,5 x 68 cm
6 Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.
7 Dimensões da cópia: 64,8 x 87,7 cm
8 Escala: 200 braças (1 braça =10 palmos = 2,2 m).

Contextualizando o mapa
9 Bryan Harley (2005) nos informa que a regra básica do método histórico é que só podemos
interpretar os documentos em seu contexto. Essa norma se aplica também aos mapas e é
necessário entendermos que o contexto é um conjunto complexo de forças que interagem
e que é fundamental para a estratégia de interpretação. Ele afirma que para analisar um
mapa antigo é necessário levar em consideração três aspectos do contexto que
influenciam a leitura dos mapas como textos:
10 1) o contexto do cartógrafo: aqui pode-se fazer uma analogia com os artistas pintores: uma
pintura era sempre uma relação social. De um lado estava o pintor que pintava o quadro
ou ao menos o supervisionava. De outro, estava alguém que encomendava, que
proporcionava os fundos necessários e uma vez terminado decidia usar de uma maneira
ou de outra, o que implicava na criação de novas relações. Ambas as partes trabalhavam
dentro de instituições e convenções (comerciais, religiosas, etc.) diferentes das nossas
contemporâneas, e influíam sobre as formas do que tinham feito juntos. O cartógrafo, do
mesmo modo, não pode ser avaliado em si: ao longo da história o cartógrafo foi um títere
vestido com uma linguagem técnica, cujos fios eram manejados por outras pessoas
(Harley, 2005, p. 63-67).

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11 O autor do mapa em questão é o tenente do corpo de engenheiros do exército José Jacques


da Costa Ourique, nomeado naquele mesmo ano – 1842 – para o cargo de diretor do
Gabinete Topográfico - primeira tentativa de organização do serviço de estradas
provinciais paulistas - em substituição ao também engenheiro Daniel Pedro Muller,
falecido em 1841. Segundo Campos (1997) Ourique é originário do Rio de Janeiro.
Consequentemente, formado pela Academia Militar do Rio de Janeiro, que, conforme destaca
Beier (2013) fora, desde sua origem, em 1810, destinada ao “ensino de oficiais artilheiros e
engenheiros geógrafos e topógrafos a serem aproveitados na direção dos trabalhos de minas e obras
públicas”. Este autor nos informa ainda que o currículo escolar completo tinha duração de
sete anos, para os quais haveria onze professores titulares e cinco substitutos, sendo que
os oficiais de engenharia e artilharia deveriam fazer o curso completo, portanto, sete
anos, o que qualifica Ourique para o cargo ao qual foi nomeado1. Ainda segundo
levantamentos de Beier, Ourique nasceu em 1815, portanto, neste momento está com 27
anos. Ele parte para São Paulo para exercer esse cargo ainda como 2º tenente, só sendo
nomeado a 1º tenente em dezembro de 1842 (conforme o DOU de 16/01/1843).
12 As informações sobre a atuação de Ourique em São Paulo, junto ao Gabinete Topográfico
são analisadas por Campos (1997) e Beier (2013). O primeiro nos informa que o curso
proposto por ele para os alunos do Gabinete Topográfico se resumia a um curso rápido
aproximando-se de um curso de “agrimensores” e que os mesmos seriam “engenheiros
práticos”. Já Beier se baseia em documentos para traçar os rumos do Gabinete
Topográfico antes, durante e depois da direção de Ourique, nos esclarecendo que em 1844
é criada a Diretoria de Obras públicas, tornando a escola dirigida por Ourique anexa a essa
diretoria e seus alunos não mais remunerados para estudar, o que promove seu
esvaziamento. Quanto ao Gabinete Topográfico, o mesmo foi extinto pela lei nº 27, de 23
de abril de 1849. Quanto ao seu diretor, Beier lembra que “o artigo 18 da dita lei
determina que, se assim o quisesse, poderia lecionar na cadeira de geometria e mecânica
do liceu de Taubaté ou de Curitiba, ou ainda ser empregado na inspeção de obras
públicas”.
13 Sabemos que Ourique optou por permanecer como engenheiro de obras na Diretoria de
Obras Públicas, através da pesquisa de Ganelie e Salgado (2011) no Relatório Geral do
Conselho dos Engenheiros, de 1852, onde localizamos Ourique como chefe da 2ª Seção do
Sul da Diretoria de Obras Públicas, “compreendendo a 5ª Comarca com exceção dos
municípios de Guaratuba, Paranaguá; e Antonina”, tratando de obras nas estradas de
Santo Amaro e São Bernardo, relativas ao ano anterior – 1851 - e já com a patente de
capitão. Após, o localizamos novamente como “primeiro comandante da Escola Militar
(curso de Infantaria e Cavalaria) da Província do Rio Grande”, entre 1851 e 1853, quando,
em julho do mesmo ano, “faleceu durante uma experiência com hidrogênio no laboratório
da escola”, conforme informa o Relatório sobre os ex-integrantes ilustres da escola
militar, do Comando Militar de Porto Alegre. É importante lembrar que a escola militar da
província do Rio Grande foi fundada “por empenho do Barão de Caxias junto à Corte”, em
1851 (Bento, 2001), o mesmo que determina a confecção do mapa em análise.
14 Como expresso no cartucho do mapa: “O Exmo Snr Barão de Caxias mandou Executar pelo
Engenheiro da Columna José Jacques da Costa Ourique Fortificador da Capital” 2. Eudes Campos
afirma que

as circunstâncias sob as quais foi executada esta planta permitem-nos datá-la


com precisão. Como o nomeado comandante do Exército Pacificador da
Província de São Paulo, Barão de Caxias, chegou à Capital em 22 de maio de

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1842, provém seguramente dos dias imediatamente subsequentes, a


realização dessa peça gráfica castrametadora [que define o lugar da
fortificação]. Decerto, para cumprimento da tarefa urgente o autor teve de se
basear em planta já executada, provavelmente usou a de Bresser, datada
entre 1840 e 1841 como argumenta o Prof. Reis Filho (2004, p.120) (Campos,
1997, p.69).

15 Luiz Alves de Lima e Silva tem sua primeira grande campanha militar em 1839, quando
debela a rebelião dos Balaios, no Maranhão, sendo ao mesmo tempo agraciado com o
título de “Barão de Caxias” (nome da cidade locus da revolta dos Balaios) e promovido a
General Brigadeiro. “A um só tempo ingressa no grupo de oficiais generais – o mais alto
escalão do exército – e na nobreza brasileira”, como bem observou Souza (2001). Essa
mesma autora nos lembra que é a experiência como Comandante dos Municipais
Permanentes da Corte (o equivalente a atual polícia militar), entre 1833 e 1839, e depois
na repressão aos balaios, que fez de Caxias o homem certo para a “pacificação” de São
Paulo e Minas Gerais. Eric Horner, em sua tese de doutoramento, traça um perfil do
“Pacificador”:

À frente dos Municipais Permanentes, um corpo de polícia formado por


cidadãos alistados, o jovem oficial aprendeu a lidar com as diferentes classes
sociais, tropas indisciplinadas, oficialato de fidelidade incerta e métodos não
ortodoxos, como a espionagem. Deixando o ambiente urbano, Lima e Silva
testou seus conhecimentos no Maranhão e comandou as tropas de 1ª e 2ª
linha em um cenário até então desconhecido, evitando se envolver na
política local e pondo em prática uma “guerra civilizadora”. Foi esta a
bagagem que o recém condecorado Barão trouxe para São Paulo em 1842
(Horner, 2010, p.140).

16 2) O contexto da sociedade: se o cartógrafo é um agente individual, então a sociedade é a


estrutura mais ampla. A leitura e interpretação do texto cartográfico implicam um
diálogo entre esses dois contextos. Todos os mapas estão relacionados com a ordem social
de um período e um lugar específicos (Harley, op.cit.p.72). A análise do contexto social
implica em tentar perceber qual a relação de poder instaurada no mapa.
17 As circunstâncias que requerem a presença do Barão de Caxias na cidade são claras e,
provavelmente, a escolha de Ourique para o cargo de diretor do Gabinete Topográfico
também está ligada a elas3: as chamadas revoltas liberais, que vem no rastro de outras
revoltas que ocorrem no período regencial. Mas essa, em especial, é fruto da insatisfação
com o domínio do partido conservador que, com a antecipação da maioridade de D. Pedro
II em 23 de julho de 1840 (garantida pelos liberais), promove a criação de um Conselho de
Estado, de membros vitalícios, instituindo uma tutela sobre o jovem monarca. José de
Souza Martins lembra também que

Além disso, reformou o governo o Código de Processo Criminal, suprimindo


inovações dos liberais. Criava-se um quadro de dominação reacionária sobre
o País. Pela boca dos conservadores, falavam as tendências absolutistas
centralizadoras herdadas de Portugal (Martins, 2006).

18 Nesse contexto de disputas,

grupos provinciais se fortaleceram e ganharam espaço político na Província


de São Paulo entrando em choque, mesmo que a princípio apenas dentro das
instituições legais, com outros grupos há mais tempo estabelecidos. De modo

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semelhante, o mesmo ocorreu em Minas Gerais, Pernambuco e Maranhão


(Horner, 2010, p.83).

19 Designado pelo gabinete conservador, governava São Paulo o baiano José da Costa
Carvalho, o Barão de Monte Alegre4, que sucedera Rafael Tobias de Aguiar, um dos chefes
mais populares do partido liberal paulista. Como desdobramento dos atos dos
conservadores, em Sorocaba, com o apoio da Câmara Municipal e do ex-regente e padre
Diogo Feijó, Tobias de Aguiar é aclamado presidente interino da província, em 17 de maio,
quando nomeou comandantes militares, despachou emissários, suspendeu a «lei das
reformas» e declarou nulos os atos praticados em virtude dela. Sob seu comando militar,
foi constituída a chamada Coluna Libertadora, com aproximadamente mil homens, para
marchar até a capital paulista onde iriam depor o Barão de Monte Alegre.
20 É nesse contexto que o Barão de Caxias é chamado a intervir e Ourique deve produzir o
mapa da fortificação da capital. Nesse contexto, as forças imperiais partem do Rio de
Janeiro, a bordo de um vapor, desembarcando em Santos em 21 de maio. No dia seguinte
chegam a São Paulo, acabando com os planos dos revoltosos de conquistar a cidade. Eric
Horner narra esse período dessa forma:

O ‘clima de guerra’ a que estavam sujeitos os habitantes da Província é


fartamente documentado tanto por periódicos como cartas de seus
habitantes. Segundo o redator de O verdadeiro Paulista [de 13 de junho de
1842], ‘(...) somos testemunhas oculares de todos os preparativos, de todas as
medidas que se tem tomado, vemos a Cidade toda em armas, vemos as fortificações
que se estão fazendo para coloca-la ao abrigo de qualquer surpresa ou invasão de
rebeldes’ Poder-se-ia considerar estas palavras fruto do entusiasmo
jornalístico típico de quem escreve no calor do conflito e imbuído do desejo
de motivar seus leitores (...) [mas] houve um esforço de guerra de dimensão
considerável, assinalado também por José Antonio Saraiva. O jovem comenta
que diante da eclosão da ‘revolução’ em Sorocaba já em maio eram
perceptíveis os efeitos do movimento: iniciava-se um período de ‘carestia de
víveres e dinheiro’. (...) Esta carestia, ou antes, racionamento, devia ser
consequência das ‘fortificações’ que o jornal relatou. De acordo com
referências encontradas na Ordem do dia do Comandante Militar da Capital,
a cidade ficou entrincheirada por pelo menos 2 meses, até 23 de julho, data
do documento (Horner, 2010, p.141-142).

21 É importante observar que Horner ignora o mapa de Ourique como documento a ser
incorporado em suas análises, o que faz com que trate o armamento disposto pela cidade
e as fortificações – objeto principal do mapeamento – somente como “entusiasmo
jornalístico”, inclusive demonstrando incredulidade quanto à existência das fortificações,
ao coloca-las entre aspas em sua análise.
22 A ironia que envolve tal mapa é que todo o cenário de batalhas ocorre fora do território
mapeado. A fortificação que – apesar da incredulidade de alguns – a documentação
levantada mostra que de fato foi feita, mostrou-se inútil, pois tudo aconteceu a alguns
quilômetros dali (escaramuças aconteceram entre o Córrego Pirajussara e a Ponte do Rio
Pinheiros). Independente deste fato, o mapa – como documento – nos mostra a rapidez
com que as forças nacionais se organizaram. Nos mostra também que a escolha de um
segundo tenente vindo do Rio de Janeiro, que desconhecia a capital paulista, para
substituir o marechal Daniel Pedro Muller na direção do Gabinete Topográfico se mostrou
acertada para as forças conservadoras num momento de exceção.

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23 3) o contexto dos outros mapas: “Uma pergunta interpretativa fundamental acerca de


qualquer mapa se refere à sua relação com outros mapas. Este questionamento deve ser
enfocado de diversas maneiras. Como exemplo, poderíamos perguntar “qual é a relação
do conteúdo de um mapa em particular (ou de algumas de suas características) com
outros mapas contemporâneos da mesma área? “qual é a relação desse mapa com outros
do mesmo cartógrafo, ou da mesma companhia de produtores?” qual é a relação com
outros mapas do mesmo gênero (de uma visão aérea, por exemplo, com outras visões
aéreas)? Qual é a relação do mapa com a produção cartográfica geral do período?”
(questionamentos de Harley, 2005, p. 68-69, tradução nossa).
24 Em virtude das circunstâncias que envolvem o mapa em questão, parece claro que se trata
de cópia da Planta da Cidade de São Paulo de Carlos Abraão Bresser, de 1841. Esta era uma
planta cadastral, conforme nos relata Eudes Campos:

na sessão camarária do dia 5 de novembro de 1840, foi lida uma portaria do


governo provincial ordenando que, por um edital a Câmara Municipal
convidasse os paulistanos a franquear os pátios e jardins de suas casas, cujos
exames fossem necessários ao engenheiro Bresser, encarregado pelo governo
de levantar uma planta da Capital e seus subúrbios, planta essa, já se vê, de
natureza cadastral (Campos, 2008).

25 Mas é importante denotar que a planta de Bresser – que encontrava-se inacabada – era
útil para a empreitada de Ourique que necessitava mapear urgentemente a cidade e a
mesma havia sido elaborada no ano anterior, ou seja, era o levantamento mais recente
dos equipamentos urbanos existentes.

Planta da Cidade de São Paulo – 1841 Por C.A. Bresser

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Fonte: Arquivo Histórico Municipal (São Paulo). Para uma melhor


visualização acesse o site: http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/
img/1841b-download.jpg

26 É importante denotar que o mapa de Ourique inclui também um levantamento primário,


pois o mesmo mapeou as vertentes, a vegetação e demarcou as fortificações a partir de
informações de campo – o texto explicativo da legenda nos informa que “a linha negra que
contórna a cidade é o projecto do recinto a fortificar-se e o caminho mais activado das rôndas
nocturnas”.
27 Além dessa relação com o mapa de Bresser, é importante salientar que a técnica de
Ourique se diferencia da de Bresser, por usar o plano e a perspectiva em seu mapa. Vemos
no mapa de Ourique uma relação entre plano e paisagem, quando – sobre a planta de
Bresser – desenha as encostas, os morros, os tanques, as matas. Essa técnica é mais
comum em mapas militares, segundo Nicolas Verdier:

Um dos lugares onde se constitui uma tentativa de conciliação entre o visível


sobre o terreno e o figurado sobre o mapa é aquele da aprendizagem da
cartografia ao uso dos militares (Verdier, 2010, p. 10, tradução nossa).

28 Esse mesmo autor, para explicar a razão da técnica empregada pelos militares, cita o
manual de Buchotte, intitulado Regras do desenho e da aguada para os planos particulares e
obras..., de 1722, que compara paisagens em plano e em perspectiva:

o autor [Buchotte] determina que, no caso de um plano geométrico ou um


plano específico, ‘como estes planos são considerados em vista aérea, não
devem, a rigor, ter nenhuma luz de flanco [...] Contudo, os Engenheiros fixam
um lado para dar algum alívio a esses tipos de planos, para que apreciem a
vista...’ É provavelmente aí, nessa questão da projeção das sombras que a
proximidade com a pintura de paisagem é mais nítida (Verdier, 2010, p.11,
tradução nossa).

29 Se compararmos o mapa de Ourique com outros do mesmo período, observamos que a


escolha da representação em plano e em perspectiva já não era tão usual no período,
prevalecendo representações planas àquelas em perspectiva. Tal fato se deve à
prevalência de engenheiros estrangeiros (e civis) que atuavam na capital. Do conjunto de
mapas históricos disponíveis no Arquivo Histórico Municipal (de São Paulo), por exemplo,
apenas se coaduna com esta técnica a Planta da Cidade de São Paulo, produzida entre 1807 e
1810, pelo Engenheiro militar Rufino José Felizardo da Costa.

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Planta da cidade de São Paulo - 1810

Fonte: Arquivo Histórico Municipal (São Paulo). Para uma melhor visualização acesse o site: http://
www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1810-download.jpg

30 Ourique foi diretor do Gabinete Topográfico e também professor de sua escola de


Engenharia, o que nos leva a buscar outros mapas por ele produzidos. Após levantamento5
, observamos a existência de um segundo mapa feito por ele, porém anterior à sua
chegada ao Gabinete. Trata-se da Carta geográfica da parte da Costa do Norte que compreende a
foz do Rio das amazonas desde um até quatro graus de latitude boreal– Copiado no Archivo Militar
– 1840 – por José Jacques da Costa Ourique – 2º tenente de Engenharia, localizado na Mapoteca do
Arquivo Histórico do Exército. Tal mapa é cópia de outro, desconhecido, como indica o
título, e foi doado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo próprio autor,
conforme publicado na Revista do Instituto, em abril de 1841:

O sócio correspondente o Sr. José Jacques da Costa Ourique ofereceu um


grande e bello mappa do Rio Amazonas, copiado de outro pertencente ao Sr.
Dr. João Antonio de Miranda.

31 Se compararmos este mapa ao mapa em análise, este em muito difere daquele: não
observamos ali as relações entre plano e paisagem características do mapa da capital, mas
apenas o traçado dos rios, canais e ilhas e sua nomenclatura. Desconhecemos também os
motivos da cópia, mas identificamos o proprietário do original: o então governador da
Província do Pará, João Antonio de Miranda, o que pode indicar uma teia de relações mais
ampla.

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Os “usos” do mapa da fortificação, hoje.

O mapa exerce sua influência tanto pela sua força de representação simbólica
quanto pelo que ele representa abertamente. A iconologia do mapa, no
tratamento simbólico do poder, é um aspecto negligenciado da história
cartográfica (Harley, 2009, p.24).

32 O mapa em análise continua despertando interesse entre aqueles que necessitam de um


instrumento de análise do período em que foi feito. Porém, ao observar alguns trabalhos
onde o mesmo é citado, percebemos uma descontextualização do objetivo inicial do mapa
– militar, de fortificação. Em analises atuais observou-se a negação das barreiras, das
linhas de fortificação, da artilharia, ou até sua supressão em algumas cópias. Ao mesmo
tempo pudemos observar sua não utilização em trabalho de história social relativo ao
período estudado, conforme citado acima.
33 O primeiro exemplo da sua descontextualização está em São Paulo- três cidades em um sécul
o de Benedito Lima de Toledo, de 1981, para ilustrar a “cidade de taipa” onde o mapa em
questão aparece redesenhado, suprimindo os “pormenores militares e identificados
edifícios e pontos de interesse” (Toledo, 1981, p. 20-21). Interessante observar que os
“pontos de interesse” são parte da legenda do original de 1841 de Bresser. É fato porém,
que o autor informa o conteúdo do mapa e as supressões.

Carta da Capital de São Paulo – 1842.

Mapa elaborado por Cid Afonso Rodrigues com base no mapa de José Jaques da Costa Ourique. In:
Toledo, Benedito Lima de. São Paulo. Três cidades em um século. São Paulo, CosacNaify/DuasCidades,
1981, p.20-21.

34 Na tese de doutoramento de José Paulo De Bem, intitulada São Paulo Cidade/Memória e


projeto, de 2006, o mapa de Ourique é utilizado para ilustrar o item “as transformações do
centro histórico e a construção do vetor sudoeste”, incluído em um conjunto de cartas de
1766 a 1930. Neste conjunto, o mapa de Ourique tem papel importante nas análises

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dedicadas ao século XIX (até a implantação da estrada de ferro em 1870). Sobre ele são
feitos cinco diferentes desenhos ou intervenções, pois ele “nos dá uma precisa
representação do sítio e do assentamento da cidade” (De Bem, 2006, p.15). Aqui, notamos
que o autor ignorou o fato de Ourique ter utilizado a planta incompleta de Bresser, de
1841. Se tivesse optado pela planta enfim acabada do mesmo autor, de 1844, intitulada
Mappa da Cidade de São Paulo oferecido a Sua Magestade, o Imperador pelo Presidente da
Província Manoel da Fonseca Lima e Silva, talvez tirasse conclusões diferentes das que tirou:

É, portanto, este mapa de 1842, com uma estrutura urbana muito


simplificada se comparada a de hoje, que a clareza de poucos componentes
nos demonstra que a função de seus acessos perfeitamente definidos se
dispõe a estrutura do tecido urbano, ruas e largos, que acolhe os movimentos
internos nesta cidadela sobre a colina. A arquitetura define o espaço desta
estrutura, calhas de ruas e largos, balizando posições com as edificações
religiosas, constituindo um todo coerente entre topografia, percursos,
espaços e edificações (De Bem, 2006, p. 17).

Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842

35 In: De Bem, José Paulo, São Paulo Cidade/Memória e Projeto. Tese de Doutoramento
apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2006,
p.17.
36 Em nenhum momento o autor faz alusão ao fato deste mapa tratar-se de peça militar. No
entanto, a partir dele generaliza para a cidade o que Ourique quer ressaltar naquele
momento de exceção: os pontos a serem cuidados/fortificados, os lugares estratégicos:

Mas, o que o mapa de 1842 ressalta, sobretudo, é a cidade mais antiga,


compacta e defensiva sobre a colina, cercada pelos rios, com suas pontes/
portas. Os conventos, maiores massas construídas, pontuam, em lugares
estratégicos a linha periférica de ocupação da colina, o triangulo (De Bem,
2006, p. 17-18).

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37 Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842. In: De Bem, José Paulo, São Paulo
Cidade/Memória e Projeto. Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2006, p.18.
38 Em outra tese de doutoramento em Arquitetura, de Fabiano Lemes de Oliveira, intitulada
Modelos urbanísticos modernos e Parques Urbanos: as relações entre urbanismo e paisagem em São
Paulo na primeira metade do século XX, defendida na Universidade Politécnica da Catalunha,
em 2008, o mapa de Ourique aparece no item “São Paulo, crescimento e primeiros
planos”, incluído em um conjunto de mapas que busca mostrar o lento crescimento da
cidade até o final do século XIX.

O conjunto de mapas do período imperial mostra-nos como esse crescimento


foi lento até o final do século XIX. Da confrontação das plantas antigas da
cidade, verifica-se que em 1810 o núcleo urbano se concentrava na área entre
o Colégio dos Jesuítas e os conventos de São Bento, São Francisco do Carmo, e
do outro lado do Anhangabaú encontravam-se chácaras e algumas
construções às margens das estradas. Analisando a ‘Carta da Capital de São
Paulo’, de 1842 não se nota um crescimento expressivo, mas sim como a
topografia é fator determinante na ocupação do território. Nela apresentam-
se as colinas em ambos os lados do rio Anhangabaú e, ao redor, as áreas de
várzea claramente demarcadas com a presença de vegetação (Oliveira, 2008,
p.92).

39 Aqui, o uso que se faz do mapa está ligado à necessidade de observar o relevo e a
vegetação, ausentes das plantas cadastrais - mais completas em termos de edificações e
vias - porém euclidianamente estéreis já que nelas não associamos plano e paisagem como
o faz Ourique. Mas, é preciso ter claro que o objetivo de Ourique em apresentar as colinas,
os tanques e a várzea era militar, pois pressupunha fundamentar sua linha de fortificação
e os pontos de artilharia. Aqui, novamente, se o autor tivesse optado pela planta do
cadastramento completo de Bresser, de 1844-47, observaria um crescimento mais
expressivo em relação a 1810 sem, contudo, ter a visão da topografia.
40 Por último, na dissertação de mestrado de Carolina Celestino Giordano, intitulada Ações
sanitárias na Imperial Cidade de São Paulo: mercados e matadouros, de 2006, o mapa de Ourique

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é utilizado para indicar as “saídas para o sul” da cidade de São Paulo e os pousos indicados
em bibliografia auxiliar. Diz a legenda da imagem abaixo:

Carta da Capital de São Paulo executada pelo engenheiro José Jacques da


Costa Ourique em 1842 com destaque para a Saída de Santos e Pouso do
Lavapés, e Saída para Santo Amaro e Pouso do Bexiga. O Pouso do Bexiga
atendia os viajantes de três importantes saídas da cidade: para Campinas,
Sorocaba e Santo Amaro (Giordano, 2006, p. 65).

Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842.

Desenho sobre a Carta da Capital de São Paulo, 1842. In: Giordano, Carolina Celestino. Ações
sanitárias na Imperial Cidade de São Paulo: mercados e matadouros. Dissertação (mestrado) – Centro de
Ciências Ambientais e Tecnologia da PUC- Campinas. Campinas, 2006, p. 65.

• Nota-se que trabalha sobre o mapa de Ourique, novamente sem indicar seu real objetivo,
negando a presença da artilharia em diferentes pontos e as linhas de tiro em direção ao
caminho de Santos, ou as linhas da fortificação.
• Interessante observar que, juntamente com os mapas que utiliza exclusivamente para
localizar os pousos (de vários do período, sem indicar o porquê da escolha, posto que contém
as mesmas informações, ou seja, edificações e caminhos), a autora associa a iconografia
existente sobre o lugar (fotografias, aquarelas, óleos), associando, dessa forma, plano e
paisagem.

Considerações finais
41 O objetivo deste trabalho era analisar o mapa de José Jacques da Costa Ourique a partir da
metodologia proposta por Brian Harley, que é entender o mapa em seu contexto de
produção, incluindo ai as razões que levaram quem o encomendou e quem o fez a
produzi-lo. Mas, o mais interessante, sem dúvida, foi analisar o contexto da sociedade em
que foi produzido, o momento histórico que o gerou e como esse momento aparece

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impresso no mapa. Talvez, por isso, tenha faltado aqui um olhar mais atento ao produto,
objeto de nossa análise. O fato de o mapa conter o lugar da forca, por exemplo, ausente
dos demais mapas do período, ou o fato de a linha de fortificação desviar-se da
propriedade de Rafael Tobias de Aguiar, um dos líderes da revolta, ou mesmo a intrigante
constatação de que a maioria das posições de tiro está voltada para os caminhos de Santos
e da Mooca e não para o caminho de Sorocaba, que é por onde os revoltosos
possivelmente entrariam, são questões levantadas que não foram analisadas através da
metodologia utilizada. Muito há, ainda, a se descobrir a partir desse documento da revolta
liberal de 1842. O que analisamos aqui foi somente o contexto em que foi produzido e
utilizado. Buscamos compreender as forças que interagiam no momento de sua produção,
fundamentais para sua interpretação, mas não um fim em si mesmas.
42 Fundamental para entendemos a força de representação simbólica do mapa, é também o
uso que ainda se faz dele na atualidade. Nos casos estudados – e aqui retomamos Brian
Harley ao criticar o uso comum que se faz dos mapas históricos - parece ser
essencialmente como “um levantamento inerte da paisagem morfológica, um reflexo
passivo do mundo dos objetos” (Harley, 2009, p. 2). Ou seja, nos trabalhos analisados, o
mapa foi utilizado como forma de visualizar o fenômeno urbano do período estudado,
como se o mesmo mostrasse a realidade apreendida naquele momento e não somente o
que seu autor visava mostrar.
43 Mas, porque usar um mapa de uso militar para analisar a estrutura urbana do período?
Nesse sentido, o que fica da escolha desse mapa e não de outro é o fato deste aguçar os
sentidos do observador. Ao escolher o mapa de Ourique em detrimento da planta mais
completa de Bresser (de 1844), o pesquisador visava chamar a atenção do leitor para outro
fato, ausente de uma planta cadastral (geométrica, euclidiana, plana): a relação entre
plano e paisagem.

BIBLIOGRAFIA
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Documentos:

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occasião da abertura da Assembléa Legislativa Provincial. S. Paulo, Typ. de Costa Silveira, 1840.
In: Provincial Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://www-
apps.crl.edu/brazil/provincial/s%C3%A3o_paulo> Acesso em : 19/10/2015.

Discurso recitado pelo ex.mo presidente, Raphael Tobias de Aguiar no dia 7 de janeiro de 1841
por occasião da abertura da Assembléa Legislativa Provincial. S. Paulo, Typ. de Costa Silveira,
1841. In: Provincial Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://www-
apps.crl.edu/brazil/provincial/s%C3%A3o_paulo> Acesso em : 19/10/2015.

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Discurso recitado pelo ex.mo presidente, Miguel de Souza Mello e Alvim, no dia 7 de janeiro de
1842 por occasião da abertura da Assembléa Legislativa da provincia de S. Paulo. S. Paulo, Typ.
Imparcial de Silva Sobral, 1842. Disponível em: <http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/s%
C3%A3o_paulo> Acesso em : 20/10/2015.

Diário Oficial da União – DOU. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial do Estado, 1843. Ver: <http://
legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?
id=84186&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB> Acesso em 11/10/2013.

Ex-integrantes da Escola Militar do Rio Grande do Sul que se destacaram nos cenários municipal,
estadual e nacional. Disponível em: <http://www.cmpa.tche.br/arquivos/colegio2/
ex_integrantes_cmpa.pdf> Acesso em: 11/10/2013

NOTAS
1. Ourique é nomeado Diretor do Gabinete Topográfico após a morte de Muller, em 1841. A vinda
de um militar com sua formação para o Gabinete já estava prevista desde a publicação de seu
regulamento de 01 de agosto de 1840, quando o então Presidente da Província, Manoel Machado
Nunes, criou “mais dois empregos no gabinete, o ajudante do Diretor e um servente... os quaes o Marechal
Muller, Director nomeado, julga indispensáveis para a regularidade dos trabalhos do gabinete”, lembra o
sucessor de Machado Nunes, Raphael Tobias de Aguiar, em seu discurso por ocasião da abertura
da assembleia legislativa no dia 07 de janeiro de 1841. (p.6-7) In: Provincial Presidential Reports
(1830-1930): São Paulo. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1083/000001.html>
2.
A afirmação de que o mapa foi pedido pelo então Barão de Caxias pode ser refutada, já que é usual
que tal demanda seja feita pelo presidente da província. Porém, há duas hipóteses: 1) O
presidente da província é parte integrante do grupo conservador e um dos conselheiros de
estado, podendo sim ter dado a ordem para a confecção do mapa, antes da deflagração da revolta,
o que indicaria que tal rebelião por parte dos liberais já era esperada. 2) trata-se de situação de
exceção e o tenente Ourique é subordinado ao chefe das forças imperiais. Aqui, optou-se por
analisar o mapa em seu contexto e a afirmação, no cartucho, de que o mapa foi pedido pelo Barão
é a que foi levada em conta nas análises.
3. Ourique é um dos “dois officiaes subalternos do Corpo d’Engenheiros” pedidos ao governo imperial
desde a presidência de Machado Nunes, em 1840 e novamente na presidência de Tobias de
Aguiar, em 1841, desta vez com sucesso, como lembra Mello Alvin, seu sucessor, em seu discurso
de janeiro de 1842, por ocasião da abertura da Assembleia Legislativa, p.6 [In: Provincial
Presidential Reports (1830-1930): São Paulo. Disponível em: < http://brazil.crl.edu/bsd/
bsd/976/000001.html>]. Isso não significa afirmar que foi Tobias de Aguiar quem escolheu
Ourique para a direção do Gabinete Topográfico, posto que este seria o ajudante do diretor, como
previsto no regulamento de 1840 (nota 1). Ele se torna diretor do Gabinete somente em 1842, já
na presidência de Mello Alvin, passado um ano do falecimento de Muller, e após pedido de “
restauração do Gabinete topographiico” feito por este no discurso citado (p.6). É preciso lembrar
também que quem escolheu Ourique para vir à São Paulo como “oficial subalterno” foram seus
superiores nos quadros da academia militar e do governo imperial. A análise documental dessa
escolha nos revelaria mais sobre este momento, mas não cabem em um artigo.
4. Presidente da Província de São Paulo, de 20 de janeiro a 16 de agosto de 1842, sucedeu Miguel
de Souza e Mello Alvin, também designado pelos conservadores, que ficou no cargo de 15 de julho
de 1841 a 20 de janeiro de 1842, este sim, sucessor do liberal Raphael Tobias de Aguiar. É
importante salientar que Costa Carvalho, antes de ser nomeado presidente da província, recebeu
o título de Conselheiro de Estado, por decreto imperial de 18 de julho de 1841, o que significa que

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fazia parte do “núcleo duro” dos conservadores. Sua nomeação indica que a revolta em São Paulo
era, senão esperada, ao menos temida por estes.
5. Os levantamentos feitos indicam que o engenheiro Ourique produziu muitos mapas em seu
trabalho diário na Diretoria de Obras, mas estes não sobreviveram. Quanto ao único mapa de sua
autoria encontrado, apesar de cópia, merece ser citado, por revelar sua teia de relações, posto
que o original da cópia aludida pertencia a um político importante do império – João Antonio de
Miranda. Também revela sua busca por aceitação no meio em que está inserido e a doação ao
Instituto Histórico e Geográfico, com a publicação do feito indicam isso.

RESUMOS
Este trabalho parte da abordagem metodológica e analítica dos mapas existentes por meio de
seus contextos, desenvolvida por Brian Harley (1932-1991). Nesse sentido, o mapa da capital da
então Província de São Paulo, de 1842, foi produzido em virtude das ameaças de invasão da
capital da província por um grupo – os liberais – que se opunha às decisões do grupo no poder
naquele momento – os conservadores. O tenente José Jacques da Costa Ourique, recém empossado
diretor do Gabinete Topográfico de São Paulo é chamado a confeccionar um mapa que desse
conta de apresentar uma proposta de fortificação da cidade para o então Barão de Caxias, líder da
empreitada militar situacionista. Outro enfoque observado é a descontextualização desse objetivo
inicial do mapa – militar, de fortificação – ao observarmos seus usos na atualidade. Nas análises
atuais observou-se sua constante negação (das barreiras, das linhas de fortificação, da artilharia),
ou até sua supressão em algumas cópias.

Ce travail s'inscrit dans la démarche méthodologique et analytique des cartes existantes,


développée par Brian Harley (1932-1991). Dans ce sens, la carte de la capitale de la Province de
São Paulo, de 1842, a été produite à la suite de menaces d'invasion de la capitale de la province
par un groupe – les libéraux – que s'opposait aux décisions du groupe de pouvoir au ce moment –
les conservateurs. Le lieutenant José Jacques da Costa Ourique, directeur assermenté du Cabinet
Topographique de São Paulo est appelé à confectionner une carte qu'il donnerait compte de
présenter une proposition de fortification de la ville pour le Baron de Caxias, chef de l'entreprise
militaire situationniste. Une autre approche est la décontextualisation de cet objectif initial de la
carte – militaire, de fortification – et d'observer leurs utilisations dans l'actualité. Dans les
analyses actuelles est observée la constante négation (des barrières, des lignes de fortification, de
l'artillerie), jusqu'à sa suppression dans quelques copies.

Abstract: This work comes from the methodological and analytical approach of the existing maps
through their contexts, developed by Brian Harley (1932-1991). In this sense, the map of the
capital of the former Província de São Paulo, from 1842, was produced under the threat of an
invasion of the province’s capital by a group – the liberals – who opposed the decisions of the
group in power at the time – the conservatives. The lieutenant José Jacques da Costa Ourique,
newly vested head of the Topographical Bureau of Sao Paulo, is required to draw a map that
would present a proposal for the fortification of the city to the then Baron of Caxias, leader of the
situationist military contract. Another observed approach is the decontextualization of the map’s
initial goal - military fortification - to observe its uses today. In nowadays analysis it’s observed

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the constant denial (of the barriers, the lines of fortification, artillery), or even its suppression in
some copies.

ÍNDICE
Índice geográfico: São Paulo
Palavras-chave: Cartografia Histórica, Província de São Paulo, Revoltas Liberais, Mapa da
Fortificação.
Keywords: Historical Cartography, São Paulo, Liberal Revolts, fortification map.
Mots-clés: Cartographie historique, São Paulo, Révoltes libérales, Carte de la fortification.

AUTOR
ELIANE KUVASNEY
Doutoranda em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, ekuvas@gmail.com

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