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Apartheid: saiba tudo sobre o

regime segregacionista!
by Beatriz Abrantes | ago 24, 2018 | Dicas de estudo | 0 comments


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Veja o que foi o Apartheid e como ele pode cair na sua


prova!
O século XX foi marcado por grandes acontecimentos
históricos nos quatro cantos do mundo, com impactos
econômicos e sociais — muitos deles com um viés triste e
injusto, como foi o Apartheid na África do Sul.
É muito comum que assuntos como esse
sejam cobrados na prova do Enem e de outros
vestibulares. Pensando nisso, desenvolvemos esse artigo
para que você saiba tudo sobre esse regime
segregacionista. Confira!

O que significa apartheid?


O termo apartheid, em africânes, significa “vidas
separadas” e dá nome a um dos regimes mais racistas do
século XX. Ocorrendo a partir de 1948 na África do Sul, o
Apartheid privilegiava a elite branca do país, com origens
holandesas (da época da colonização).
Apesar de ter seu início apenas na metade do século
passado, o regime foi o ápice de uma série de
acontecimentos e políticas adotados desde o século XIX
pelos colonizadores europeus. Em 1892, por exemplo, o
sufrágio dos negros foi limitado, levando em consideração
o nível de instrução e, principalmente, os recursos
financeiros de cada cidadão.
A guerra entre os bôeres e os ingleses, que comandavam a
colônia do Cabo até o início do século XX, deu origem à
“União Sul-Africana”, o que abriu espaço para a instalação
do regime do Apartheid já em 1910, apesar de o tratamento
oficial ter sido atribuído apenas em 1948.
Unindo o preconceito de indianos, que tiveram seu direito
ao voto excluído, à segregação total dos negros do país,
em 1905 (ano em que o direito de voto também foi
eliminado), o Apartheid teve sua homologação na década
de 1940 quando, via legislação, os habitantes foram
segregados em grupos raciais (“negros”, “brancos”,
“indianos” e “de cor”).
Essa prática excludente e extremamente racista não
poderia ter, como outro resultado, senão os vários
protestos e ondas de violência que foram recorrentes nas
décadas seguintes. Além da resistência interna da
população, várias consequências internacionais foram
impostas contra a África do Sul, que sofreu com um longo
embargo comercial.
Em 21 de março de 1960, por exemplo, ocorreu o icônico
protesto contra as Leis do Livre Trânsito que, marcado por
extrema violência por parte do governo, acarretou na
morte de 69 manifestantes, além dos 180 feridos. Esse
protesto resultou na Resolução 1761, aprovada pela
Assembleia Geral da ONU, que reprovava todas as práticas
racistas do governo da África do Sul e demandava que todo
e qualquer país que fosse signatário da Organização das
Nações Unidas cortasse relações com o país africano,
fossem elas militares ou econômicas.
Já entre os anos de 1978 a 1983, fortes bloqueios
econômicos pressionavam o país, que via a rejeição de
empresários, multinacionais e empreendedores, impedindo
qualquer tipo de investimento na África do Sul. Além disso,
qualquer equipe esportiva do país estava proibida de
participar de competições internacionais.
Apesar das reformas introduzidas pelo governo de 1984, a
opressão contra os “não-brancos” só aumentou, com
eventos recorrentes sendo escondidos pelas leis de
censura do país.
Durante os anos de vigência do regime do Apartheid,
negros não podiam votar, se relacionar com brancos e nem
mesmo estar nos mesmos locais. Foi um regime cruel e
extremamente segregador, que trouxe graves
consequências para a população sul-africana, sentidas até
hoje.
Enquanto brancos ocupavam cargos de poder no governo e
no parlamento, sendo ainda os proprietários das terras
produtivas, aos negros eram reservadas as funções de mão
de obra barata, como nas fazendas, indústrias e minas.
Negros eram proibidos de adquirir terras e a própria
circulação dentro do país era altamente controlada.
Já a burocracia do regime foi uma grande aliada do
governo, que exigia várias documentações, passes e salvo-
condutos para que negros pudessem se locomover dentro
do território da África do Sul. Ônibus, calçadas, praças,
parques e bibliotecas públicas tinham espaços delimitados
onde negros não podiam estar.

Nelson Mandela e o Apartheid


Embora o regime segregacionista fosse altamente
equipado e violento, a população sul-africana jamais
tolerou passivamente o que lhe foi imposto. Pelo contrário,
foram vários os protestos e reações ao regime
do Apartheid, e a década de 1960, marcada por grandes
movimentações da resistência, trouxe à tona sua maior
figura: Nelson Mandela.
Envolvido nos movimentos de estudantes que
protestavam contra o regime na universidade, Mandela
deixa a faculdade antes de terminar o curso e se muda
para a capital Joanesburgo. Ao encontrar na cidade grande
um regime ainda mais forte e totalitário, Mandela resolve
voltar a estudar Artes, na Universidade da África do Sul, e
Direito, na Universidade de Witwatersrand, além, é claro,
de continuar sua luta contra a repressão racista.
E é nesse contexto que Mandela começou a atender às
reuniões do Congresso Nacional Africano (CNA),
importante movimento de luta contra o Apartheid,
fundando, em 1944, a Liga Juvenil do CNA, juntamente
com Walter Sisulo e Oliver Tambo.
O ano de 1960 ficou marcado pelo Massacre de
Sharpeville, quando em um protesto pacífico contra o
regime, a polícia disparou contra as mais de 5 mil pessoas
negras, matando 69 delas. Esse acontecimento foi decisivo
no envolvimento de Nelson Mandela na militância contra o
Apartheid.
Mandela tornou-se, então, o comandante da vertente
armada do CNA. Entretanto, essa liderança durou muito
pouco, já que, em 1962, ele foi condenado à prisão
perpétua. Cumpriu 27 anos de sua pena na Ilha Robben,
sendo solto apenas em 1990.
A prisão de Nelson Mandela foi o estopim da indignação
internacional com o regime do Apartheid. Na Europa e nos
Estados Unidos, vários foram os protestos que exigiam a
libertação do líder da resistência negra na África do Sul.
Mesmo trancafiado em péssimas condições de isolamento
e trabalho compulsório, Nelson Mandela jamais deixou de
escrever e militar pela causa negra. Winnie Madikizela,
segunda esposa de Mandela, manteve a luta do marido e
os protestos que pediam sua liberdade.
Ao longo dos anos, os presidentes sul-africanos
recorrentemente rejeitavam pedidos nacionais e
internacionais pela libertação de Nelson Mandela, até
1984. Nesse ano, recebeu uma proposta indecorosa, na
qual seria libertado apenas se jurasse se afastar da
política. O resultado? Mandela recusou a proposta e
continuou preso por mais seis anos.
Somente após mais seis longos ano é que o presidente da
África do Sul na época, Frederik de Klerk, liberou Nelson
Mandela, no dia 11 de fevereiro. Além disso, retira da
ilegalidade o CNA, acabando oficialmente com a lei do
apartheid. Três anos após a decisão, tanto Mandela quanto
de Klerk foram premiados com o Nobel da Paz pela luta
pelos direitos civis na África do Sul. Nelson Mandela ainda
foi intitulado o “Pai da Pátria” do agora renovado país.
Ao sair da prisão, Mandela proferiu um icônico discurso,
chamando seu país para a reconciliação e a paz:
“Eu lutei  contra a dominação branca, e lutei contra a
dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma
sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas
possam viver juntas em harmonia e com iguais
oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que
eu espero alcançar. Mas, caso seja necessário, é um ideal
pelo qual eu estou pronto para morrer.”
Um ano depois, em 1994, Nelson Mandela foi eleito o
primeiro presidente negro da história da África do Sul,
governando o país até o ano de 1999. Admirado e amado no
mundo todo, o ícone da resistência contra o regime racista
do Apartheid faleceu no dia 5 de dezembro de 2013, em
Joanesburgo, aos 95 anos.
Em 2010, a Organização das Nações Unidas definiu o
dia 18 de julho, dia do nascimento de Mandela, como o
“Dia Internacional de Nelson Mandela” (ou Mandela Day,
em inglês), para relembrar e comemorar o legado de sua
vida e de sua luta.

Leis do apartheid
Várias foram as leis criadas pelo governo que,
explicitamente, praticava a segregação entre brancos e os
chamados “não-brancos” (incluindo negros e indianos).
Algumas delas são:
·        1913 – Lei de Terras Nativas, responsável
pela divisão da posse de terra na África do Sul por grupos
raciais;
·        1918 – Lei sobre Nativos em Áreas Urbanas.
Essa lei obrigava os negros sul-africanos, maioria absoluta
da população, a viverem em locais específicos e muito
restritos.
·        1949 – Lei de Proibição dos Casamentos Mistos.
Assim como o próprio nome sugere, torna ilegal o
casamento entre pessoas de diferentes raças,
considerando a prática um crime;
·        1950 – Lei de Registro Populacional. Essa foi a
lei responsável pela segregação legal da população,
classificando e documentando cada habitante, que recebia
um cartão de identidade diferenciado por raças;
·        1950 – Lei de Áreas de Agrupamento.
Semelhante à Lei sobre Nativos em Áreas Urbanas,
essa lei determinava onde cada cidadão viveria, de acordo
com sua raça;
·        1951 – Lei de Autodeterminação dos Bantu.
Responsável por criar arcabouços governamentais
diferenciados para os cidadãos negros. Os bantustões,
“países” dentro da própria África do Sul, como a região
Soweto, foram o resultado dessa lei;
·        1953 – Lei de Reserva dos Benefícios Sociais.
Determinava quais os locais públicos poderiam e seriam
reservados para as diferentes raças.
Como é possível observar, muitas leis já pregavam o
proposto pelo Apartheid mesmo antes de sua oficialização.
Isso significa que, na prática, a segregação racial existia
há décadas antes de se tornar lei em 1948.
Na prática, alguns fatos se destacavam, seja com a
aplicação das leis citadas acima, seja com a própria
cultura racista existente no país:
 cidadãos não-brancos tinham suas candidaturas
recusadas pelo governo e eram proibidos de votar;
 negros não podiam empregar brancos e estavam
proibidos de exercerem vários cargos, geralmente aqueles
de maior remuneração;
 as terras designadas aos cidadãos negros eram, em
sua maioria absoluta, muito improdutivas, impedindo até
mesmo a subsistência da população;
 o sistema educacional, que era colocado à disposição
da população negra, era de péssima qualidade, voltado
para a criação de mão-de-obra barata, destinada a
trabalhos braçais;
 trens, ônibus, praias, praças, cinemas, bibliotecas e
diversos outros espaços públicos eram delimitados e
segregados, ficando sempre os negros com os piores
lugares;
 qualquer relacionamento inter-racial era
completamente proibido, passível de duras penas. A
determinação era muito semelhante à lei anti-
miscigenação do regime nazista alemão.

Fim do Apartheid e suas


consequências
Após praticamente um século de repressão, o Apartheid
teve seu fim em 1990, com a saída de Nelson Mandela da
prisão. Apesar de todas as leis terem sido revogadas e,
oficialmente, a segregação racial não existir mais, a África
do Sul ainda convive atualmente com um cenário de
miséria, desigualdade e injustiça social.
O regime do Apartheid privilegiou, por quase meio século,
todo e qualquer interesse da minoria branca do país, o que
resultou em completa negligência em relação à maioria da
população sul-africana. Ainda que muitas das questões
tenham sido resolvidas com a inclusão de negros na
política e economia, além de programas sociais de
inclusão, o país ainda encontra um contexto atual muito
problemático. Isso porque a maioria da população pobre e
negra ainda encontra péssimas condições de vida, sem
contar o crescente aumento das desigualdades
econômicas, sociais, culturais e até mesmo do
desemprego.
Esse cenário, resultante de anos de segregação e
discriminação racial, é semelhante ao que vemos em boa
parte do Brasil, onde a população menos favorecida é,
majoritariamente, negra. Nos últimos 24 anos, desde a
libertação de Mandela, as tentativas de inclusão social
ainda não foram suficientes para igualar as condições de
vida para todos.
O sonho de Mandela era criar uma sociedade igualitária na
África do Sul, sem manter a segregação, invertendo os
papéis entre negros e brancos. Isso ainda não foi
alcançado, sendo necessária a manutenção de políticas
sociais ainda por muitos outros anos.
Nas provas de vestibular, é muito comum que o tema seja
cobrado de um viés histórico e social, sendo importante
entendê-lo como um todo, além de conhecer a relevância
internacional da figura de Nelson Mandela. Conforme
ressaltado, existem diversos paralelos que podem ser
feitos entre o regime do Apartheid na África do Sul e
a herança escravagista no Brasil. Questões bem
elaboradas costumam abordar esse tipo de temática,
trazendo o assunto para próximo do aluno. Ou seja, um
bom nível de interpretação é altamente necessário!

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