Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2016 / 2019
Vice-Presidente
Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva
Secretário
Gustavo Arantes Rosa Maciel
Membros
Andrea Prestes Nácul
Bruno Ramalho de Carvalho
Daniela Angerame Yela
Edmund Chada Baracat
Ionara Diniz Evangelista Santos Barcelos
José Maria Soares Júnior
Laura Olinda Bregieiro Fernandes Costa
Mario Vicente Giordano
Poli Mara Spritzer
Sebastião Freitas de Medeiros
Técia Maria de Oliveira Maranhão
Síndrome dos ovários policísticos
Descritores
Síndrome dos ovários policísticos/terapia; Anovulação; Infertilidade; Hirsutismo
CID
E28.2
Como citar?
Soares Júnior JM. Síndrome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Ginecologia, no. 39/ Comissão
Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina).
Introdução
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a endocrinopatia mais
comum da mulher no período reprodutivo,(1) manifestando-se des-
de a adolescência com distúrbio menstrual e hiperandrogenismo
cutâneo, em geral, com infertilidade na idade adulta e risco de de-
senvolvimento de doenças cardiometabólicas, incluindo o diabetes
melito antes e após a menopausa.(1-4) Em geral, é definida como
anovulação crônica associada à hiperandrogenismo. Contudo há
mulheres que podem eventualmente ter ciclo menstrual regular.
Portanto, a definição dessa síndrome ainda é tema de grande dis-
cussão e o seu diagnóstico é feito com base em critérios de especia-
listas.(1-4) A incidência da SOP varia de 4% a 20% no período repro-
dutivo.(5) O critério diagnóstico mais abrangente é o Consenso de
*Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina
e referendado pela Diretoria Executiva como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de
Ginecologia nº 39, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos
Etiologia
A etiologia da SOP ainda é desconhecida. Vários investigadores
postulam que seria uma desordem genética durante a evolução hu-
mana,(4) sendo considerados genes candidatos para esta síndrome
GTF2A1L, LHCGR, THADA e DENND1A.(7)Repetições de nucleo-
tídeos CAG no gene do receptor de androgênio(AR)parece ser um
fator protetor contra o desenvolvimento da SOP, ou pelo menos
contra o hirsutismo.(8)Para outros, essa afecção poderia ser resulta-
do de uma adaptação epigenética ao meio ambiente. Nesse sentido,
crianças com baixo peso ao nascimento (menor que 2.500g ou me-
nor que o percentil 10% do peso esperado para idade gestacional)
ou macrossômicas (mais de 4.500g) ao nascimento têm maior risco
de desenvolver a síndrome na vida adulta.(9,10)
Fisiopatologia
O hiperandrogenismo é marcante em muitas mulheres com SOP
e pode interferir com o sistema reprodutor, tanto em nível cen-
tral (eixo córtico-hipotalámico-hipofisário), como perifericamen-
te (ovários), levando à perda da ciclicidade funcional ovariana por
retroalimentação inadequada. Haveria maior produção de andro-
gênios, o que perpetuaria a anovulação, bem como a inadequa-
ção endometrial.(11,12) No hipotálamo, os androgênios parecem
Protocolos Febrasgo | Nº39 | 2018
5
Síndrome dos ovários policísticos
Diagnóstico
O diagnóstico da SOP é eminentemente de exclusão, uma vez que é
imprescindível descartar outras causas de anovulação e de hiperan-
drogenismo. O diagnóstico pode ser dificultado nos extremos da
vida reprodutiva.(14)Sabe-se ainda que a hiperandrogenemia e/ou o
Diagnóstico diferencial
Como parte dos critérios diagnósticos é necessário excluir outras
causas de hiperandrogenismo e/ou anovulação (Quadro 2).
Fenótipos da SOP
As pacientes com SOP podem ser classificadas de acordo com seus
fenótipos, a saber:
A. DM + HA + OP (distúrbio menstrual + hiperandrogenismo +
ovários policísticos)
B. DM + OP (distúrbio menstrual + ovários policísticos)
C. HA + OP (hiperandrogenismo + ovários policísticos)
D. DM + HA (distúrbio menstrual + hiperandrogenismo)
Tratamento
O primeiro passo no tratamento da SOP é a mudança de estilo de
vida, ou seja, diminuir o sedentarismo e adequar a dieta. Uma revi-
são sistemática mostrou que mudanças de estilo de vida,em médio e
longo prazo, resultaram em perda de peso, que se associou com me-
lhora em características-chave da síndrome como na diminuição da
obesidade abdominal, melhora do hiperandrogenismo clínico e labo-
ratorial e melhora dos marcadores de resistência insulínica. Sugere-se
aumentar a atividade física para, de preferência, diária ou pelo me-
nos três vezes na semana, com atividades anaeróbicas e aeróbicas.
Concomitantemente, há a necessidade de acompanhamento por nu-
tricionista para redução calórica. Recomenda-se, ainda, acompanha-
mento psicológico de suporte para diminuir o estresse, bem como a
ansiedade/depressão nas mulheres com baixa estima.(16,17) Quando a
resposta à mudança do estilo de vida for inadequada (sem perda de
peso ou piora da resistência insulínica ou intolerância à glicose), está
indicado o uso de fármacos, principalmente às mulheres com into-
Protocolos Febrasgo | Nº39 | 2018
9
Síndrome dos ovários policísticos
Recomendações finais
• A SOP deve ser considerada uma afecção multifatorial com
repercussão metabólica, que necessita da atuação sinérgica de
uma equipe multiprofissional para que se tenha sucesso.
Referências
1. Ehrmann DA. Polycystic ovary syndrome. N Engl J Med. 2005;352(12):1223–36.
2. Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS consensus workshop group. Revised 2003
consensus on diagnostic criteria and long-term health risks related to polycystic ovary
syndrome (PCOS). Hum Reprod. 2004;19(1):41–7.
3. Soares Junior JM, Sa MF, Baracat EC. Should insulin resistance be always treated in
polycystic ovary syndrome?. Rev Bras Ginecol Obstet. 2014;36(2):47–9.
4. Azziz R, Carmina E, Dewailly D, Diamanti-Kandarakis E, Escobar-Morreale HF, Futterweit
W, et al.; Androgen Excess Society. Positions statement: criteria for defining polycystic
ovary syndrome as a predominantly hyperandrogenic syndrome: an Androgen Excess
Society guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(11):4237–45.
5. Legro RS, Kunselman AR, Dodson WC, Dunaif A. Prevalence and predictors of risk for
type 2 diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in polycystic ovary syndrome:
a prospective, controlled study in 254 affected women. J Clin Endocrinol Metab.
1999;84(1):165–9.
6. Stein IF, Leventhal ML. Amenorrhea associated with bilateral polycystic ovaries. Am J
Obstet Gynecol. 1935;29(2):181–91.
7. McAllister JM, Legro RS, Modi BP, Strauss JF 3rd. Functional genomics of PCOS: from
GWAS to molecular mechanisms. Trends Endocrinol Metab. 2015;26(3):118–24.
8. Lin LH, Baracat MC, Maciel GA, Soares JM Jr, Baracat EC. Androgen receptor gene
polymorphism and polycystic ovary syndrome. Int J Gynaecol Obstet. 2013;120(2):115–8.
9. Melo AS, Vieira CS, Barbieri MA, Rosa-E-Silva AC, Silva AA, Cardoso VC, et al. High
prevalence of polycystic ovary syndrome in women born small for gestational age. Hum
Reprod. 2010;25(8):2124–31.
10. Mumm H, Kamper-Jørgensen M, Nybo Andersen AM, Glintborg D, Andersen M. Birth
weight and polycystic ovary syndrome in adult life: a register-based study on 523,757
Danish women born 1973-1991. Fertil Steril. 2013;99(3):777–82.
11. de Melo AS, Dias SV, Cavalli RC, Cardoso VC, Bettiol H, Barbieri MA, et al. Pathogenesis
of polycystic ovary syndrome: multifactorial assessment from the foetal stage to
menopause. Reproduction. 2015;150(1):R11–24.
12. Baracat MC, Serafini PC, Simões RS, Maciel GA, Soares JM Jr, Baracat EC. Systematic review
of cell adhesion molecules and estrogen receptor expression in the endometrium of
patients with polycystic ovary syndrome. Int J Gynaecol Obstet. 2015;129(1):1–4.
13. Legro RS. Type 2 diabetes and polycystic ovary syndrome. Fertil Steril. 2006;86 Suppl
1:S16–7.
14. Escobar ME, Pipman V, Arcari A, Boulgourdjian E, Keselman A, Pasqualini T, et al.; Comité
Nacional de Endocrinología. [Menstrual cycle disorders in adolescence]. Arch Argent
Pediatr. 2010;108(4):363–9.
15. Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS Consensus Workshop Group. Revised 2003
consensus on diagnostic criteria and long-term health risks related to polycystic ovary
syndrome. Fertil Steril. 2004;81(1):19–25.
16. Curi DD, Fonseca AM, Marcondes JA, Almeida JA, Bagnoli VR, Soares JM Jr, et al. Metformin
versus lifestyle changes in treating women with polycystic ovary syndrome. Gynecol
Endocrinol. 2012;28(3):182–5.
17. Moran Lisa J, Hutchison Samantha K, Norman Robert J, Teede Helena J. Lifestyle changes
in women with polycystic ovary syndrome. Cochrane Database of Systematic Reviews. In:
The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD007506.
18. Jensterle M, Salamun V, Kocjan T, Vrtacnik Bokal E, Janez A. Short term monotherapy
with GLP-1 receptor agonist liraglutide or PDE 4 inhibitor roflumilast is superior to
metformin in weight loss in obese PCOS women: a pilot randomized study. J Ovarian
Res. 2015;8(1):32.
19. Maciel GA, Soares Júnior JM, Alves da Motta EL, Abi Haidar M, de Lima GR, Baracat EC.
Nonobese women with polycystic ovary syndrome respond better than obese women to
treatment with metformin. Fertil Steril. 2004;81(2):355–60.
20. Inge TH, Courcoulas AP, Jenkins TM, Michalsky MP, Helmrath MA, Brandt ML, Harmon
CM, Zeller MH, Chen MK, Xanthakos SA, Horlick M, Buncher CR; Teen-LABS Consortium.
Weight Loss and Health Status 3 Years after Bariatric Surgery in Adolescents. N Engl J
Med. 2016;374(2):113-23.21.
21. Soares Júnior JM, Baracat EC. The use of combined oral contraceptives in the polycystic
ovary syndrome. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010;32(11):523–4.
22. Iwata MC, Porquere L, Sorpreso IC, Baracat EC, Soares Júnior JM. Association of oral
contraceptive and metformin did not improve insulin resistance in women with
polycystic ovary syndrome. Rev Assoc Med Bras (1992). 2015;61(3):215–9.
23. Sorpreso IC, Soares Júnior JM, Baracat EC. Sexually vulnerable women: could reversible
long-lasting contraception be the solution?. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015;37(9):395–6.
24. Lakryc EM, Motta EL, Soares JM Jr, Haidar MA, de Lima GR, Baracat EC. The benefits of
finasteride for hirsute women with polycystic ovary syndrome or idiopathic hirsutism.
Gynecol Endocrinol. 2003 ;17(1):57–63.
25. Somani N, Turvy D. Hirsutism: an evidence-based treatment update. Am J Clin Dermatol.
2014;15(3):247–66.
26. Diri H, Karaburgu S, Acmaz B, Unluhizarci K, Tanriverdi F, Karaca Z, Kelestimur F.
Comparison of spironolactone and spironolactone plus metformin in the treatment of
polycystic ovary syndrome. Gynecol Endocrinol. 2016;32(1):42-5.
27. Karakurt F, Sahin I, Güler S, Demirbas B, Culha C, Serter R, et al. Comparison of the clinical
efficacy of flutamide and spironolactone plus ethinyloestradiol/cyproterone acetate in
the treatment of hirsutism: a randomised controlled study. Adv Ther. 2008;25(4):321–8.
28. Sanchez LA, Perez M, Azziz R. Laser hair reduction in the hirsute patient: a critical
assessment. Hum Reprod Update. 2002;8(2):169–81.
29. Wang R, Kim BV, van Wely M, Johnson NP, Costello MF, Zhang H, et al. Treatment strategies
for women with WHO group II anovulation: systematic review and network meta-
analysis. BMJ. 2017;356:j138.