Você está na página 1de 114

Chagas – DEE/UFCG

Universidade Federal de Campina Grande


Centro de Engenharia Elétrica e Informática
Departamento de Engenharia Elétrica

Distúrbios de Tensão em Redes Elétricas


Notas de Aula

Francisco das Chagas Fernandes Guerra

Campina Grande - PB

1
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo I

Sobretensões em Redes Elétricas

Define-se sobretensão como toda tensão que excede o valor da tensão nominal em um
sistema elétrico. Dependendo de sua amplitude e forma de onda, elas podem produzir severas
solicitações nos isolamentos, acarretando em danos a equipamentos e interrupções no
fornecimento de energia. Durante o projeto de redes elétricas, devem-se avaliar as diversas
formas de solicitações a que os isolamentos poderão estar submetidos, de modo a permitir o
estabelecimento de especificações corretas dos equipamentos.

1. Classificação e Causas das Sobretensões

As sobretensões são classificadas, basicamente, em três tipos:

▪ sobretensões atmosféricas;
▪ sobretensões de manobra;
▪ sobretensões sustentadas ou temporárias.

As sobretensões atmosféricas são causadas por raios que incidem diretamente sobre linhas
de transmissão ou subestações, ou em regiões próximas à rede elétrica. Possuem caráter
impulsivo, com valores de pico máximos de 6 pu. e duração de alguns microsegundos a até 1
milisegundo.
As sobretensões de manobra originam-se de operações de chaveamento, as quais
promovem mudanças na configuração do sistema, como a energização ou desenergização em
carga de elementos indutivos e/ou capacitivos (linhas de transmissão, transformadores, bancos
de capacitores e de reatores, etc.). Essas operações acarretam em transferências abruptas de
energia entre campos elétricos e magnéticos, resultando em sobretensões de caráter
oscilatório, com altas frequências, forte amortecimento e duração de vários milisegundos a até
vários ciclos. Normalmente, apresentam valores de pico máximos em torno de 4 pu.
As sobretensões sustentadas ou temporárias são causadas principalmente pelas seguintes
ocorrências:
▪ curtos-circuitos fase-terra em sistemas trifásicos com neutro isolado ou aterrado através de
impedância;
2
Chagas – DEE/UFCG

▪ abertura de terminal receptor de linha de transmissão que apresentam considerável valor de


capacitância distribuída em derivação, como em linhas de transmissão aéreas longas ou em
linhas de cabo isolado (efeito Ferranti);
▪ fenômenos não lineares de ferroressonância, causados pela interação de capacitâncias
distribuídas do sistema e indutâncias de magnetização de transformadores de potência ou
de potencial;
▪ fenômenos não lineares de correntes de inrush que ocorrem durante energização de
transformadores localizados em subestações de corrente contínua, os quais produzem
ressonância em frequências múltiplas da fundamental, envolvendo a indutância de
magnetização do transformador e as capacitâncias dos filtros de supressão de harmônicos;
▪ fenômenos de ressonância linear;
▪ perda súbita de carga em geradores (rejeição de carga).

As sobretensões sustentadas apresentam fraco amortecimento, duração de vários ciclos,


vários segundos ou mais e valores de pico máximos de 1,5 pu. Ocorrem à frequência industrial,
harmônica, sub-harmônica ou interarmônica.
A Fig. 1.1 mostra características das três categorias de sobretensão citadas.

Fig. 1.1. Representação dos diferentes tipos de sobretensão (D’AJUZ et al., 1987).

É importante observar que as intensidades das sobretensões atmosféricas são determinadas


por elementos externos ao sistema elétrico, o que não ocorre com os demais tipos de
sobretensão.
3
Chagas – DEE/UFCG

2. Caracterização das Sobretensões Segundo a ABNT

Na Fig. 1.1 são apresentados detalhes sobre as classes e formas das solicitações de tensão,
definidas pela norma ABNT - NBR 6939 (2000) - Coordenação do Isolamento – Procedimento.

4
Chagas – DEE/UFCG

Sobretensões de Frente Lenta

São sobretensões transitórias, usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que 20
µs < T1 ≤ 5000 µs, e tempo até o meio valor (na cauda) T2 ≤ 20 ms. Podem se originar de faltas,
operações de chaveamento ou descargas atmosféricas diretas nos condutores de linhas aéreas.

Sobretensões de Frente Rápida

Sobretensão transitórias, usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que 0,1 µs <
T1 ≤ 20 µs, e tempo até o meio valor (na cauda) T2 ≤ 300 µs. Podem ser causadas por operações
de chaveamento, descargas atmosféricas ou faltas.

Sobretensões de Frente Muito Rápida

Sobretensão transitórias, usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que T1 ≤ 0,1
µs, duração total Tt ≤ 3 ms, e com oscilações superimpostas de frequências 30 kHz < f < 100
MHz. Podem ser causadas por faltas ou operações de chaveamento em subestações isoladas a
gás (GIS).

Há também as sobretensões combinadas (temporária, frente lenta, frente rápida e frente


muito rápida), as quais consistem em duas componentes de tensão simultaneamente aplicadas
entre cada um dos terminais de fase de uma isolação fase-fase (ou longitudinal) e a terra. É
classificada pela componente de maior valor de crista.

5
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo II

Sobretensões Atmosféricas

1. Introdução

Este capítulo trata das sobretensões atmosféricas, classificadas como de origem externa,
pois são causadas por raios que incidem diretamente sobre edifícios, linhas de transmissão ou
subestações. A descarga também pode agir de forma indireta. Neste caso, a interação entre o
meio externo e o sistema atingido se dá por indução eletrostática. Assim, há propagação de
ondas de tensão em direções opostas, a uma velocidade próxima à da luz, produzindo solicita-
ções nos isolamentos da linha e em equipamentos instalados nos terminais. Devido à extensão
física e ao nível de exposição, as linhas de transmissão aéreas são os elementos mais atingidos.

2. Causas e Consequências

Diferentes teorias explicam o carregamento das nuvens. O consenso é que em cerca de 90%
dos casos há grande concentração de cargas negativas na parte inferior da nuvem, induzindo
cargas positivas na terra, como é ilustrado na Fig. 2.1. A rigidez dielétrica do ar seco é de 30
kV/cm, reduzindo-se com a umidade. Assim, há uma descarga piloto em degraus de 15 a 50 m,
cada um. Os degraus são retos, tomando nova direção a cada avanço. Como é mostrado na Fig.
2.2, quando a descarga piloto atinge a terra, há a descarga de retorno, com grande
movimentação de cargas através do canal ionizado, brilho intenso e estrondo. Também pode
haver descarga de retorno antes da descarga piloto alcançar a terra.

Fig. 2.1. Mecanismo de ocorrência das descargas atmosféricas.


6
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.2. Flagrante de ocorrência de uma descarga atmosférica.

Normalmente, essas descargas se repetem. Cerca de 80% dos raios apresentam no mínimo 2
descargas e 20% apresentam 3 a 5. Há registro de até 40 descargas. Felizmente, maior parte
das descargas ocorre dentro da nuvem.
Em consequência dos raios, verifica-se injeção de correntes de descarga de até 200 kA, com
tempos de crescimento de 1 µs a 10 µs, e surgimento de ondas de tensão relacionadas ao surto
de corrente através da impedância característica do sistema. O caráter das ondas é impulsivo
(não oscilatório) e os valores de pico máximos são de 6 pu, com polaridade negativa em 90%
dos casos. Elas se propagam para os dois terminais da linha com velocidade próxima à da luz,
com reflexões e refrações nos pontos onde há mudança na impedância característica.
Em caso de surto atmosférico, se o nível de suportabilidade de tensão da linha for excedido,
há a formação de arco através do ar ou de uma cadeia de isoladores, o que normalmente não
produz dano ao sistema por causa da atuação dos relés de proteção e da abertura do disjuntor.
Neste caso, o isolamento é autoregenerativo, podendo o religamento ser feito alguns ciclos
após, de forma automática e rápida. Nos transformadores, máquinas elétricas e outros
equipamentos, a ruptura do isolamento é um dano permanente, pois não há regeneração.

3. Mapa Ceráunico

O termo índice ceráunico refere-se ao número de dias de trovoada de um determinado lugar


por ano. Curvas isocerúnicas são linhas que ligam pontos (localidades) que têm o mesmo nível
ceráunico. O conjunto de curvas isoceráunicas de cada região geográfica denomina-se mapa
ceráunico. Abaixo, na Fig. 2.3 e na Fig. 2.4, os mapas ceráunicos do Brasil e mundo.

7
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.3. Mapa ceráunico do Brasil.

Fig. 2.4. Mapa ceráunico do mundo.

8
Chagas – DEE/UFCG

4. Atenuação das Sobretensões Atmosféricas

4.1. Considerações Gerais

A atenuação das sobretensões atmosféricas é feita por sistemas de aterramento associados


aos seguintes elementos:

▪ hastes captoras ou para-raios tipo Franklin (prédios);


▪ gaiola de Faraday (prédios, galpões);
▪ cabos-guarda ou cabos para-raios (linhas de transmissão);
▪ descarregadores de surtos ou para-raios (linhas de transmissão, subestações).

Tanto a gaiola de Faraday como as hastes captoras recebem a designação de SPDA (Sistemas
de Proteção contra Descargas Atmosféricas).

4.2. Sistemas de Aterramento

Consistem em eletrodos enterrados no solo, os quais facilitam o escoamento do surto,


atenuando o impacto da descarga. São compostos por

▪ hastes verticais (casas, prédios);


▪ hastes verticais interligadas por condutores em malha (prédios, usinas, subestações);
▪ cabos contrapeso (linhas de transmissão).

Os cabos contrapeso são cabos de aço galvanizado, enterrados horizontalmente a certa


profundidade do solo, próximo a linhas de transmissão, como é mostrado na Fig. 2.5.

Fig. 2.5. Vista superior de cabos contrapeso - (a) arranjo paralelo; (b) arranjo radial.

A descrição, caracterização e especificações detalhadas dos sistemas de aterramento


constituem matéria extensa. Além disso, modelagem matemática apresenta considerável grau
de complexidade. Uma boa referência é o livro Aterramento Elétrico (KINDERMANN &
AMPAGNOLO, 1995).

9
Chagas – DEE/UFCG

4.3. Hastes Captoras

Esse tipo de proteção é mostrado na Fig. 2.6. O princípio de operação das hastes captoras é
baseado no poder das pontas. Por interação eletrostática entre a nuvem e o captor (conjunto
de pontas metálicas) existente na extremidade superior de uma haste instalada no alto do
prédio, há concentração de cargas no captor, de modo a ocasionar uma descarga elétrica que é
escoada para a terra mediante um cabo de descida e uma haste de aterramento ou malha.

Fig. 2.6. Configuração usual de um sistema de proteção de edifícios baseado em haste captora.

O cabo de descida é geralmente de cobre (seção ≥ 35 mm2) com o mínimo de curvas com
raio de curvatura mínimo de 20 cm, sem emendas, exceto para o conector próximo ao solo.
A regulamentação do uso das hastes captoras é feita pela norma ABNT - NBR 5419 (2001) -
Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas.

4.4. Gaiola de Faraday

Esse sistema consiste em uma malha de condutores envolvendo a edificação, ligada a hastes
de aterramento, como é mostrado na Fig. 2.7 (o campo elétrico no interior de uma gaiola

10
Chagas – DEE/UFCG

condutora é nulo). Apresenta custo relativamente elevado. Regulamentação também é feita


pela norma ABNT NBR 5419 (2001) - Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas.

Fig. 2.7. Configuração usual de um sistema de proteção baseado na gaiola de Faraday.

4.5. Cabos-guarda

Cabos-guarda são condutores de aço instalados acima dos condutores de fase das linhas de
transmissão, os quais proporcionam uma blindagem contra a queda de raios. Na Fig. 2.8 são
mostradas duas linhas de transmissão, uma com um cabo guarda (linhas de 69 kV, usualmente)
e com dois cabos-guarda (linhas de tensões nominais superiores).
O desempenho desse sistema é descrito pelo modelo eletrogeométrico descrito na Fig. 2.9.
Este modelo é baseado no conceito de raio de atração, o qual corresponde à maior distância rs
abaixo da qual, considerando uma descarga piloto com corrente I, esta atingirá diretamente os
cabos para-raios, os condutores de fase ou o solo. Assim, se uma descarga atmosférica penetrar
na região BC, ela incidirá sobre o condutor de fase. Para cada valor de corrente de descarga,
novas regiões são definidas.
A relação entre rs e I é a seguinte:

rs  9 I 0 , 65 (2.1)

I - Corrente do raio (kA).


rs - Raio de atração (m).

Se uma descarga atinge diretamente uma das fases da linha, há injeção de uma onda de
corrente de amplitude I no condutor, de modo que essa onda se divide em duas, de amplitudes
I / 2, as quais se propagam em sentidos opostos a uma velocidade próxima à da luz. A essas
ondas de corrente estão associadas ondas de tensão proporcionais, as quais são dadas por:

11
Chagas – DEE/UFCG

I
U  Zc (2.2)
2
onde Zc é a impedância característica da linha.

Fig. 2.8. Linha de transmissão com (a) um cabo guarda e (b) dois cabos-guarda.

Fig. 2.9. Modelo eletrogeométrico.

12
Chagas – DEE/UFCG

Supondo uma corrente de descarga de 30 kA incidindo sobre um condutor de uma linha com
impedância de surto de 400 , tem-se diferenças de potencial fase-terra de 6000 kV. Tais
tensões ultrapassam os limites de suportabilidade dos isolamentos das linhas, ocasionando
curtos circuitos por formação de descargas através de isoladores ou mesmo a destruição de
isolamentos não regenerativos em equipamentos terminais (ARAÚJO & NEVES, 2005).
Atualmente têm sido utilizados os cabos OPGW (Optical Ground Wire), mostrados na Fig.
2.10, os quais são cabos para-raios que apresentam estrutura composta por camadas de fios de
aço e tubo de alumínio no interior do qual há uma ou mais fibras óticas. As partes metálicas
funcionam como blindagem dos condutores de fase contra as descargas atmosféricas. A parte
ótica é usada para transmissão de sinais de voz, teleproteção, telemedição e telecomando.

Fig. 2.10. Cabos OPGW (Optical Ground Wire).

4.6. Descarregadores de Surtos

São dispositivos ligados em paralelo ao equipamento protegido, entre fase e terra, como é
mostrado na Fig. 2.11. É desejável que eles apresentam as seguintes características:

▪ apresentar impedância muito alta durante as condições normais de serviço, com correntes
de fuga praticamente nulas;
▪ apresentar baixa impedância durante a ocorrência de surtos de tensão, limitando as
sobretensões a valores admissíveis;
▪ dissipar a energia associada ao surto de tensão sem sofrer dano;
▪ retornar às condições de circuito aberto após a passagem do surto, interrompendo a
corrente subsequente de 60 Hz na sua primeira passagem por zero.

13
Chagas – DEE/UFCG

▪ nunca atuar em caso de sobretensão sustentada (longa duração), pois suas propriedades
térmicas não permitem um regime de condução em longa duração.

Fig. 2.11. Cabos OPGW (Optical Ground Wire).

Os principais tipos de descarregadores de surto são os seguintes:

▪ para-raios tipo haste;


▪ para-raios de carboneto de silício (SiC);
▪ para-raios de óxido de zinco (ZnO).

Para-raios Tipo Haste

Como é indicado na Fig. 2,12, apresentam um gap formado por duas hastes entre fase e
terra, com distância definida e com valor de tensão de disrupção inferior ao valor mínimo capaz
de causar dano ao sistema.

Fig. 2.12. Para-raios tipo haste.

14
Chagas – DEE/UFCG

Esses dispositivos são simples e baratos, mas têm os seguintes inconvenientes:


▪ Ao atuarem, forma-se um arco que se mantém enquanto o sistema fornecer corrente, o qual
só se extingue quando o fusível ou o disjuntor abre, havendo interrupção de serviço.
▪ Fatores ambientais como poluição, umidade causam variações na tensão de disrupção.
▪ Em cada disrupção o arco causa erosão e aumento do gap; assim, ocorre aumento da tensão
de disrupção.

Para-raios de Carboneto de Silício (SiC)

Como mostram a Fig. 2.13 e a Fig. 2.14, são compostos por um resistor não linear (varistor)
em série com vários gaps de material isolante com determinada tensão de ignição (múltiplos
gaps facilitam a extinção da corrente). Tais elementos são colocados em invólucro de porcelana
bem vedado e contendo gás inerte. O funcionamento dos mesmos é descrito a seguir.

▪ Em condição normal, o sistema é isolado da terra pelo gap. A resistência é elevada.


▪ Ocorrendo a sobretensão, há ignição e o contato se estabelece através do resistor,
descarregando o surto para a terra (resistência baixa).
▪ Quando a sobretensão cessa, a resistência volta a ser elevada, passando a circular apenas
uma corrente subsequente de 60 Hz (≤ 250 A), interrompida na primeira passagem por zero,
sem reacendimento do arco. Assim, a normalidade é restabelecida.

Fig. 2.13. Para-raios de Carboneto de Silício (SiC).

15
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.14. Para-raios de carboneto de silício (SiC).

Esses para-raios são aplicados principalmente em sistemas distribuição e de subtransmissão.

Na Fig. 2.15 são mostradas as variações da tensão e da corrente durante a operação de um


para-raios de SiC.

Fig. 2.15. Variações da tensão e da corrente durante a operação de um para-raios de SiC.

uS - Sobretensão sem descarregador.


uI - Tensão residual.
uR - Tensão da rede.
iD - Corrente de descarga do para-raios.
iS - Corrente subsequente.
tD - Instante da descarga.
tR - Instante de restabelecimento do isolamento para a terra.

16
Chagas – DEE/UFCG

Para-raios de Óxido de Zinco (ZnO)

Desenvolvidos mais recentemente (Matsushita Electrical Co., Japão, 1977). Não possuem
gaps, como é mostrado na Fig. 2.16 (tipo usado em média tensão). São compostos por
elemento cerâmico (pastilhas de óxido de zinco com adição de pequenas porções de outros
óxidos metálicos). Usados em sistemas de baixa até extra-alta tensão.

Fig. 2.16. Para-raios de óxido de zinco (ZnO).

As propriedades dos para-raios de ZnO são as seguintes:

▪ Simplicidade de construção, o que aumenta a confiabilidade.


▪ Nível de proteção bem definido (redução da margem de segurança para o isolamento).
▪ Valores de corrente subsequente em 60 Hz desprezíveis.
▪ Maior capacidade de absorção de energia e dissipação de calor.
▪ Em condições normais, apresenta resistência extremamente alta, com correntes de fuga da
ordem de A e perdas de poucos watts.
Na Fig. 2.17 são mostradas as variações da tensão e da corrente durante a operação de um
para-raios de ZnO. Na Fig. 2.18 é mostrada a comparação entre os para-raios de ZnO e de SiC.
Pode-se observar que o nível de proteção do para-raios de ZnO é mais bem definido que o de
SiC, ou seja, a transição da zona de não operação para a zona de operação é bem mais nítida, o
que acarreta em redução da margem de segurança para o isolamento.
17
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.17. Para-raios de óxido de zinco (ZnO).

Fig. 2.18. Comparação entre as características dos para-raios de ZnO e de SiC.

São mostrados na Fig. 2.19 e na Fig. 2.20 para-raios usados em sistemas tensões nominais,
desde baixa até extra-alta tensão.

Fig. 2.19. Para-raios usados em sistemas de baixa tensão.

18
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.20. Para-raios usados em sistemas de diferentes tensões nominais (média a extra alta tensão).

Valores de Tensão de Para-Raios

Define-se tensão nominal de um para raios como a máxima tensão na frequência industrial
em que ainda é possível evitar a condução para a terra da corrente normal do sistema,
imediatamente após a condução para a terra de uma corrente causada por um surto de tensão.
É importante observar que, na frequência industrial, o para raios pode ser submetido a um
valor de tensão superior a sua tensão nominal sem que haja condução para a terra através
dele. O valor máximo para que isso ocorra é denominado tensão disruptiva na frequência
industrial. Assim, em um tempo prolongado, o máximo valor de tensão na frequência industrial
a qual um para raios é submetido não pode exceder a sua tensão nominal; se isso ocorrer,
poderá ocorrer queima por ultrapassagem do limite térmico.
Define-se tensão de reseal de um para raios como a máxima tensão de surto para a qual o
para raios pode interromper a corrente subsequente. Assim, se o para raios conduzir devido a
um surto de tensão, além de interromper a corrente de surto, ele também deve ser capaz de
interromper a corrente subsequente.
A tensão nominal de um para raio deve ser especificada de acordo com a forma de
aterramento do neutro; assim, tem-se:

19
Chagas – DEE/UFCG

▪ Sistemas com neutro isolado – São utilizados para raios com tensão nominal igual a 105% da
tensão fase-fase, pois a tensão fase-terra pode alcançar a tensão fase-fase.
▪ Sistemas com neutro solidamente aterrado – São utilizados para raios com tensão nominal
igual a 84% da tensão fase-fase, pois a tensão fase-terra não atinge 80% da tensão fase-fase.

Normas de Especificação de Para-Raios

As normas brasileiras que tratam de especificações de para-raios são citadas a seguir.

▪ ABN - NBR 5287 (1988) - Para-raios de resistor não linear a carboneto de silício (SiC) para
circuitos de potência de corrente alternada.
▪ ABNT - NBR 5424 (2011) - Guia de aplicação de para-raios de resistor não linear em sistemas
de potência — Procedimento.

5. Coordenação de Isolamento

5.1. Coordenação de Isolamento

O termo coordenação de isolamento refere-se ao processo de correlação entre as possíveis


solicitações causadas por sobretensões nos isolamentos dos componentes de um sistema
elétrico e as características dos dispositivos de proteção utilizados (cabos-guarda, descarrega-
dores de surto, etc.). Os procedimentos devem ser tomados de modo a preservar ao máximo a
integridade do sistema e a continuidade de serviço, observando-se as limitações de custo. Na
Fig. 2.21 é indicado que deve haver uma margem de segurança entre a tensão de operação do
para-raios e a máxima tensão de impulso suportável pela isolação do elemento protegido.

Fig. 2.21. Curvas tensão-tempo do elemento protetor e do elemento protegido.

20
Chagas – DEE/UFCG

Deve ser observado que seria economicamente muito dispendioso construir um sistema
elétrico que suportasse todas as sobretensões possíveis. Deste modo, a escolha dos
isolamentos deve ser realizada de forma que os custos sejam minimizados, assumindo-se
determinada probabilidade de desligamento da linha para cada evento transitório, expressa
como um risco de falha aceitável.
Na Fig. 2.22 é mostrada de forma simplificada a coordenação de isolamento dos
componentes em uma subestação de alta tensão.

Fig. 2.22. Coordenação de isolamento dos componentes em uma subestação de alta tensão.

Assim, fica evidente que o desenvolvimento e a aplicação adequada de para-raios na


limitação de sobretensões proporciona projetos mais econômicos de coordenação de isola-
mento. Observa-se que a máxima tensão suportável pelo transformador é inferior à máxima
tensão de impulso a qual o mesmo pode ser solicitado, de modo que o para raios constitui uma
proteção efetiva contra os possíveis danos ocasionados por uma descarga atmosférica.
Até 345 kV, o nível de isolação dos elementos do sistema elétrico é determinado pelas
sobretensões atmosféricas. Além desse valor, as sobretensões de manobra passam a ser
determinantes.

5.2. Ensaios de Impulso

A norma ABNT- NBR 6936 (1992) - Técnicas de Ensaios Elétricos de Alta Tensão - estabelece
uma onda de tensão padrão para reproduzir em laboratório as tensões impostas pelos raios, a
qual é mostrada na Fig. 2.23.

21
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.23. Onda de tensão padrão para ensaio de laboratório em isolamentos.

S – Parte crescente, denominada frente.


R – Parte decrescente, denominada cauda.
M – Ponto de máximo, denominado crista.
Up – Tensão máxima, denominada tensão de crista.
Tn – Início convencional para contagem dos tempos.
Ts’– Tempo entre os instantes em que a onda alcança 30% e 90% de Up.
Ts – Duração convencional da frente de onda, tomada como 1,67 x Ts’.
Td – Tempo para a cauda alcançar 50 % de Up, ou tempo de descida.

Os tempos Ts e Td são respectivamente iguais a 1,2 s e 50 s.


As solicitações sobre os isolamentos aumentam com a amplitude do surto e com a inclinação
da frente de onda (du/dt).
A norma ABNT NBR 6939 (2000) - Coordenação do Isolamento – Procedimento - fornece
valores de tensão suportáveis de impulso atmosférico (crista) para valores RMS de tensão
máxima de equipamentos.

5.3. Nível Básico de Isolamento (NBI)

NBI ou BIL (do inglês Basic Insulation Level) é o máximo valor de crista da onda padronizada
de impulso atmosférico (1,2 x 50 s ) que pode ser suportado sem que haja falha na isolação. A
Tabela 2.1 fornece valores de NBI adotados pelo IEEEE. Os valores reduzidos referem-se a
sistemas com neutro solidamente aterrado, onde os surtos são mais facilmente dissipados.
22
Chagas – DEE/UFCG

Tabela 2.1. Valores de NBI adotados pelo IEEE.


TENSÃO NOMINAL DO NBI PADRÃO NBI REDUZIDO
SISTEMA (kV, RMS) (kV, PICO) (kV, PICO)
15 110
34,5 200
69 350
138 650 550
230 1050 825-900
345 1550 1175-1300
500 1300-1800

23
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo III

Sobretensões de Manobra

1. Introdução

As sobretensões de manobra ocorrem quando são inseridos ou removidos elementos da


rede de energia, de modo a provocar mudanças súbitas no estado elétrico e magnético do
circuito. Isso ocasiona transferência de energia armazenada nos campos elétricos e magnéticos
associados aos diversos elementos capacitivos e indutivos que compõem a rede (linhas de
transmissão, transformadores, bancos de capacitores e de reatores, etc.). A consequência é o
surgimento de surtos de tensão em forma de oscilação amortecida de alguns kHz, com duração
de vários milisegundos a até vários ciclos e valores de pico máximos de 4 pu. Para tensões
superiores a 400 kV, são as sobretensões de manobra que determinam os níveis de isolamento.
À medida que cresce a tensão de operação dos sistemas, os surtos de manobra também
tendem a aumentar de intensidade. As principais causas que dão origem aos mesmos são:

▪ interrupção de correntes de defeito;


▪ interrupção de correntes capacitivas;
▪ interrupção de pequenas correntes indutivas;
▪ energização ou religamento rápido de linhas de transmissão de tensão nominal elevada;
▪ chaveamento em condições assíncronas.

Esses transitórios são usualmente analisados através dos seguintes métodos:

▪ testes de campo;
▪ simulações em TNA (Transient Network Analyser);
▪ simulações em computadores digitais.

Nos testes de campo são obtidos oscilogramas de tensão e de corrente relativos ao


fenômeno de interesse, apresentando resultados mais confiáveis que os demais métodos. Eles
são indispensáveis para a validação dos resultados obtidos pelos demais métodos.
O TNA consiste em um modelo reduzido de sistema elétrico de potência no qual elementos
de parâmetros concentrados (resistores, capacitores, indutores, etc) são ligados de modo a
representar os vários componentes do sistema considerado. Os fatores que determinam a

24
Chagas – DEE/UFCG

aplicabilidade do TNA na simulação de transitórios eletromagnéticos dependem


essencialmente do número de componentes envolvidos bem como da habilidade do operador.
Assim, o uso do TNA sofre limitações quanto ao tamanho do sistema a ser simulado, sendo
aplicável aos casos onde não se conhece com exatidão o mecanismo do fenômeno a ser
estudado. Deste modo, o TNA é usado para identificar o fenômeno.
O computador digital é a ferramenta mais aplicada no cálculo de transitórios em sistemas de
potência. O comportamento desses transitórios é descrito através de modelos matemáticos
que são resolvidos através de métodos de integração numérica em passos de integração da
ordem de microssegundos. Com o desenvolvimento de computadores e de técnicas
computacionais cada vez mais eficientes, grandes quantidades de dados passaram a ser
processados em tempos cada vez menores. No momento, existem diversos programas
destinados ao cálculo de transitórios. Os mais conhecidos são: ATP (uso aberto) bem como
MICROTRAN, EMTP-RV, PSCAD/EMTDC e NETOMAC (comerciais).
Neste estudo é feita uma análise simplificada das sobretensões de manobra com objetivo de
proporcionar entendimento dos fundamentos do fenômeno, sem maior preocupação com a
precisão dos resultados obtidos. Na maioria dos casos são considerados circuitos monofásicos
equivalentes, sendo as equações diferenciais a eles associadas resolvidas pelo método
convencional ou por transformada de Laplace.

2. Sobretensões Causadas por Interrupção de Correntes de Defeito

2.1. Defeito nos Terminais do Disjuntor

Na Fig. 3.1 é mostrado um gerador alimentando um sistema elétrico. Em relação à Fig. 3.2,
são considerados os seguintes eventos:

a. Em t = 0 ocorre um defeito fase-terra no ponto P próximo ao disjuntor e a corrente i assume


elevado valor. A tensão u entre os terminais do disjuntor permanece nula até t = t1.
b. Em t = t1 o disjuntor atua. Há a formação de um arco de temperatura da ordem de alguns
milhares de graus Celsius, assegurando a continuidade de corrente até t = t2. Entre t1 e t2, u
é igual à queda de tensão no arco, o qual possui característica puramente resistiva; assim, u
e a corrente i se acham em fase.
c. Em t = t2, quando a corrente passa por zero, o arco se extingue. A partir desse instante surge
uma tensão transitória amortecida de alta frequência entre os contatos do disjuntor, a qual
impõe severa solicitação ao meio extintor. Essa tensão é denominada tensão de
25
Chagas – DEE/UFCG

restabelecimento transitória (TRT). Caso o meio extintor não se recomponha rapidamente e


a TRT apresente uma taxa de crescimento elevada, poderá haver reignição do arco (não
considerada neste caso).
d. Em t = t3, devido às perdas resistivas, cessa a oscilação de alta frequência e o processo de
interrupção da corrente é bem sucedido.

Fig. 3.1. Defeito fase-terra próximo aos terminais do disjuntor.

Fig. 3.2. Interrupção de uma corrente no caso de falta em ponto próximo aos terminais de um disjuntor.

Assim, verificam-se duas etapas nesse processo: a etapa térmica e a etapa dielétrica,
descritas a seguir.

Etapa Térmica

Entre t1 e t2 os contatos do disjuntor se afastam, o arco se alonga e a tensão u aumenta.


Contudo, u é sempre desprezível em relação ao valor nominal da tensão nominal da rede,
exceto nos sistemas de baixa tensão. Nesse intervalo, os mecanismos de extinção do arco
procuram retirar o calor gerado pelo arco através de vários meios, dependendo do tipo de
26
Chagas – DEE/UFCG

disjuntor (alongamento e/ou divisão do arco, sopro magnético, sopro de ar, etc). Assim, a
condutividade do arco é reduzida e o mesmo é extinto no primeiro instante de passagem da
corrente por zero. Entretanto, devido à condutividade residual associada à inércia térmica do
meio extintor, a corrente não é completamente extinta, persistindo uma pequena corrente
residual entre os contatos do disjuntor, como é mostrado na Fig. 3.3.
Se o mecanismo de extinção do disjuntor conseguir retirar calor a uma taxa maior que o
processo de geração de calor acima descrito, a condutância do meio irá totalmente a zero e a
corrente será definitivamente interrompida. Caso contrário, ocorre reignição do arco causada
por efeito térmico, configurando um processo malsucedido de interrupção de corrente.

Fig. 3.3. Corrente de defeito e corrente subsequente entre os contatos de um disjuntor.

Este fenômeno é representado com razoável precisão pelo modelo de Mayr (SINDER, 2007),
cuja formulação é:

dg g  u. i 
   1 (3.1)
dt   P0 
g - Condutância instantânea ou dinâmica do arco.
 - Constante de tempo térmica do arco.
u.i - representa a potência dissipada através do arco.
P0 é a potência retirada do arco pelo meio extintor.

Etapa Dielétrica

Esta etapa é a mais difícil de todo o processo, pois o meio extintor do arco ainda não está
totalmente recomposto e surgem severas solicitações dielétricas impostas pela TRT, como é
mostrado na Fig. 3.1. Assim, a taxa de crescimento da tensão de restabelecimento transitória
(TCTRT), dada por du/dt, passa a determinar o sucesso ou o fracasso do processo de interrupção
da corrente de defeito. Se du/dt for menor que a recomposição da rigidez dielétrica entre os
27
Chagas – DEE/UFCG

contatos do disjuntor, a corrente estará definitivamente interrompida. Caso contrário, ocorre


reignição do arco causada por efeito dielétrico, com restabelecimento da corrente de curto-
circuito. O mecanismo de formação da TRT é descrito a partir do circuito da Fig. 3.4, em que R e
L e são, respectivamente, a resistência e a indutância em série equivalente entre fonte e
disjuntor e C é a capacitância para a terra (buchas, TCs, transformador e capacitores de
equalização do disjuntor).

Fig. 3.4. Curto-circuito nos terminais de um disjuntor.

Em condições normais de funcionamento (60 Hz) a corrente em C é desprezível. Porém, com


o início da abertura do disjuntor, a energia armazenada no campo magnético de L irá ser
transferida para o campo elétrico do capacitor, ocorrendo uma oscilação de energia em
frequência elevada. As equações desse circuito são:
di (t )
L  R i (t )  uC  U m cos t (3.2)
dt
du C (t )
i (t )  C (3.3)
dt
Substituindo (3.3) em (3.2) e fazendo 0 = LC:
d 2 u C (t ) R du C (t )
   02 u C (t )   02 U m cos t (3.4)
dt 2 L dt
Para facilitar a análise, a resistência R é desprezada; aplicando transformada de Laplace:
1 s s
uC ( s )  2
u ' (0)  2
2 C
u (0)  02U m 2
2 C
(3.5)
s  0 s  0 ( s  0 )( s 2   
2

No domínio do tempo:

uC' (0) 2
u C (t ) 
0 0  

sen0 t  uC (0)cos0t  2 0  U m cost  cos0 t  (3.6)

Para o estabelecimento das condições iniciais, deve-se considerar que a corrente é limitada
apenas pela impedância da fonte. Como a resistência foi desprezada, a passagem da corrente
por zero (instante inicial da extinção do arco) ocorre quando a tensão da fonte alcança

28
Chagas – DEE/UFCG

praticamente o valor de pico, Um. A tensão inicial no capacitor é igual à tensão no arco formado
entre os contatos do disjuntor, que é desprezível no caso de disjuntores de tensão nominal
elevada. Assim, as condições iniciais são as seguintes: uC(0)  0 e uC’(0)  iC(0)/C = 0.
20
u C (t ) 
02   

U m cost  cos0t  (3.7)

A frequência de oscilação 0 depende dos parâmetros L e C do circuito, possuindo valores


muito superiores à frequência  da fonte. Assim, como 0 >> , tem-se:

u C (t )  U m cos t  cos  0 t  (3.8)

Como a oscilação de alta frequência é amortecida pela resistência R (inicialmente despre-


zada), sua duração ocorre quando a tensão da fonte acha-se assumindo o valor máximo, Um.
Assim, pode-se assumir em (3.8) que o termo cos t  1, resultando:

u C (t )  U m 1  cos0 t  (3.9)

A Fig. 3.5 mostra as variações de tensão e de corrente nos terminais do disjuntor.

Fig. 3.5. Curto-circuito nos terminais de um disjuntor.

Valor máximo da TRT é:


uC 0   uC , max  2U m (3.10)

Se 0 é alta, a tensão nos contatos aumenta rapidamente, podendo exceder a rigidez


dielétrica do meio extintor, havendo reignição do arco.

2.2. Defeito a Curta Distância do Disjuntor

Este tipo de defeito, também denominado defeito quilométrico, impõe solicitações térmicas
e eletromecânicas menos intensas que um defeito próximo, uma vez que a corrente é menor.
Entretanto, o mesmo não ocorre em relação às solicitações dielétricas provenientes da TRT que
surge entre os contatos do disjuntor, após a interrupção da corrente de defeito. Através de
29
Chagas – DEE/UFCG

medições feitas em testes de campo, foi constatado que um defeito ocorrido a alguns quilô-
metros de um disjuntor pode causar maiores solicitações no seu meio extintor que um defeito
mais próximo aos seus terminais. Isto pode ser entendido a partir do circuito da Fig. 3.6.

Fig. 3.6. Curto-circuito a curta distância de um disjuntor (defeito quilométrico).

De (3.6), para 01 = (L1C1), tem-se para a parte 1 do circuito:

uC' 1 (0) 2
uC1 (t ) 
01 01  

sen01t  uC1 (0) cos01t  2 01  U m cost  cos01t  (3.11)

Para a parte 2 do circuito, a expressão é a mesma, com a simplificação de que o termo


relacionado à excitação é nulo; assim, para 02 = (L2C2) (D’AJUZ et al., 1987):

uC' 2 (0)
uC 2 (t )  sen02t  uC 2 (0)cos02t (3.12)
02

Como as correntes em C1 e C2 são desprezíveis em t = 0, tem-se:


L2
u C 1 ( 0)  u C 2 ( 0)  Um (3.13)
L1  L2

Também pode-se escrever:


u C' 1 (0)  u C' 2 (0)  0 (3.14)

L2
u C 1 (t ) 
L1  L2

U m cos01t  U m 1  cos01t  (3.15)

L2
u C 2 (t )  U m cos02 t (3.16)
L1  L2

A tensão entre os contatos do disjuntor é dada por:

 L2 
u (t )  u C1 (t )  uC 2 (t ) U m 1  cos01t 
L1  L2
 
cos01t  cos02 t  (3.17)
 
Considerando 01 < 02, são mostradas na Fig. 3.7 as variações de uC1, uC2 e u, sendo
considerados os amortecimentos causados pelos elementos resistivos.

30
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.7. Variações de uC1, uC2 e u para um defeito quilométrico.

A severidade dessas sobretensões devem-se às maiores taxas de crescimento da tensão de


restabelecimento transitória (TCTRT) nos instantes iniciais, dada por du/dt.
Na Fig. 3.8 acha-se indicada a curva que indica a recomposição da rigidez dielétrica do meio
extintor, bem como diferentes formas de variação da TRT no caso de defeitos quilométricos, as
quais determinam o sucesso ou o fracasso da interrupção de corrente. Observa-se que no
tempo t0 poderá haver reacendimento do arco, mesmo para valores mais baixos da TRT.

Fig. 3.8. Variações da TRT e da rigidez dielétrica um defeito quilométrico.


31
Chagas – DEE/UFCG

2.3. Efeito de Abertura Não Simultânea das Fases em um Circuito Trifásico

Até agora, somente foram considerados circuitos monofásicos equivalentes. Nos circuitos
trifásicos, em regime normal, as correntes se acham defasadas de 120o. Considerando a Fig.
3.9, a interrupção da corrente Ia ocorre na sua passagem por zero. Nesse instante, as correntes
Ib e Ic apresentam valores não nulos, as quais se mantêm através de arcos durante algum
tempo, o que provoca desequilíbrio momentâneo no circuito. Isto faz com que a TRT no
disjuntor da fase a e a tensão de 60 Hz pós-falta apresentem valores superiores às tensões fase-
neutro nas fases b e c.

Fig. 3.9. Circuito equivalente relativo à interrupção de corrente em circuito trifásico.

Inicialmente, não será considerado o transitório de alta frequência. A tensão pós-falta de 60


Hz entre os contatos do disjuntor da fase a vale:
U  U a  Ub  Z I (3.18)

Além disso:
Ub  Uc
I (3.19)
2Z
Substituindo (3.19) em (3.18), resulta:
Ub  Uc
U  Ua  (3.20)
2
Ainda mais:
U a  Ub  Uc  0 (3.21)

Ub  Uc U
 a (3.22)
2 2
Substituindo (3.22) em (3.20), resulta:
U  1,5U a (3.23)

32
Chagas – DEE/UFCG

Assim, tanto a componente de tensão de 60 Hz como a componente de alta frequência da


tensão entre os contatos do disjuntor da fase a sofrerão acréscimos de 50% em relação às
tensões das outras fases, até que a corrente seja interrompida nas mesmas.

2.4. Caracterização de TRTs

Dependendo do tipo de circuito, a tensão de restabelecimento transitória apresenta grande


variedade de formas de onda. Para aquelas que apresentam forma semelhante à mostrada na
Fig. 3.10, são considerados como de maior relevância o primeiro pico e o pico máximo.

Fig. 3.10. Forma de onda típica da TRT e diferentes taxas de crescimento da tensão (TCTR).

Em relação à TCTRT, são adotadas quatro definições, de acordo com as retas tracejadas da
Fig. 3.10, como é explicado a seguir.

a. Taxa média de crescimento de zero ao pico máximo da TRT.


b. Taxa média de crescimento de zero ao primeiro pico da TRT.
c. Máxima taxa média de crescimento, correspondente à tangente à curva da TRT que passa
pela origem.
d. Máximo valor da TCTRT.
Para disjuntores a óleo, as definições a e b são as mais apropriadas.
Para disjuntores a ar comprimido e a SF6, recomenda-se usar as definições c e d (ALVES,
2006).

33
Chagas – DEE/UFCG

3. Sobretensões Causadas por Interrupção de Pequenas Correntes Indutivas

Essas sobretensões são causadas por interrupção de corrente em transformadores em vazio


ou reatores em derivação. Se o disjuntor possui mecanismo de extinção de arco muito
eficiente, as pequenas correntes indutivas são interrompidas antes de sua passagem natural
por zero, de modo a contrariar a propriedade fundamental dos indutores, que consiste em se
opor a variações abruptas de corrente. Isto é ilustrado através do circuito da Fig. 3.11, onde Lm
é a indutância de magnetização do transformador ou reator e C é a capacitância em derivação
equivalente do sistema (cabos, buchas, enrolamentos, etc).

Fig. 3.11. Circuito associado à interrupção de pequena corrente indutiva (chopping current).

Com a interrupção, a energia armazenada no campo magnético do indutor é transferida para


o campo elétrico do capacitor e vice-versa, com frequência de oscilação 0 = (LmC). Porém,
surge um problema: como a corrente é pequena, o disjuntor poderá interrompê-la prematura-
mente, logo que os contatos começam a se separar. Com uma pequena separação, o dielétrico
não suporta a solicitação. Assim, o corte forçado da corrente pode causar múltiplas reignições
do arco. Isso ocasiona o surgimento de uma tensão com formato aproximado de dente de serra
nos terminais do disjuntor, como é mostrado na Fig. 3.12. Essa sequência corte-condução
sugere a denominação de chopping (fatiamento, picotamento).
Desprezando os efeitos dissipativos das resistências, do arco e da histerese do núcleo
magnético, a energia armazenada total no instante do chopping é dada por:
 
WT  CU 02  Lm I 02 (3.24)
 
O máximo valor de uC ocorre quando toda a energia é armazenada no campo elétrico de C, a
qual, neste instante, é dada por:

   L
2
WCm  CU Cm  CU 02  Lm I 02  U Cm  U 02  m I 02 (3.25)
   C

34
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.12. Formas de ondas relacionadas à interrupção de pequena corrente indutiva.

As sobretensões são menores que no caso de não haver reignição, pois estas permitem
retorno de parte da energia para o resto do circuito, amortecendo as oscilações.
Exemplo: Para um transformador de 1 MVA, 13,8 kV, a corrente de magnetização típica é
3,5%; assim, tem-se:
3,5 1000
Im  x  1,5 A ( RMS )
100 3 x13,8

U 138000 / 3
Lm   14 H
ωI 377 x1,5

Assumindo um fator de forma de 1,7 para a corrente, tem-se o seguinte valor de pico:
I 0  1,7 x 1,5  2,5 A

Transformadores desse porte apresentam capacitância shunt equivalente com valores


típicos de 1 a 7 nF; assumindo C = 5 nF, resulta:
Se o chopping ocorre no pico da corrente de magnetização:

Lm 2 14
U Cm  U 02  I 0  02  9
x 2,52 132287,6
C 5 x10

Na prática, esse valor não é alcançado, devido às perdas ôhmicas. Além disso, apenas uma
fração da energia armazenada no núcleo magnético é liberada, devido às perdas causadas pelo
efeito de histerese.
35
Chagas – DEE/UFCG

4. Sobretensões Causadas por Interrupção de Correntes Capacitivas

Essas sobretensões são causadas por desligamento de bancos de capacitores ou linhas de


transmissão aéreas longas em vazio ou linhas a cabo. No circuito da Fig. 3.13 considera-se que o
disjuntor interrompe uma corrente fornecida a um elemento de capacitância equivalente C. O
sistema alimentador é representado por uma fonte de tensão em série com uma indutância L.

Fig. 3.13. Circuito associado à interrupção de corrente capacitiva.

É mostrado na Fig. 3.14 que, antes da abertura do disjuntor, i acha-se adiantada de 900 em
relação a u, pois predomina o efeito capacitivo. Como a interrupção ocorre no instante em que
i = 0, a tensão nos terminais de C se mantém constante e igual ao valor de pico de da tensão da
fonte, Um. Assim, a tensão nos contatos do disjuntor, uD = u – uC, pode alcançar 2 Um.

Fig. 3.14. Formas de ondas relacionadas à interrupção de corrente capacitiva.

36
Chagas – DEE/UFCG

Após a extinção do arco, se a velocidade de afastamento dos contatos não for suficiente-
mente elevada, poderá haver reignição para uD = 2 Um, ocorrendo um transitório de alta
frequência quando a tensão da fonte acha-se no valor de pico, como é mostrado na Fig. 3.15.

Fig. 3.15. Formas de ondas relacionadas à interrupção de correntes capacitivas, com reignição do arco.

Isto pode ser explicado pelo seguinte equacionamento do circuito da Fig. 3.12:
di
L  u C  U m cos t (3.26)
dt
du C
i C (3.27)
dt
Combinando (3.26) e (3.27), obtém-se:
d 2uC
2
   u C    U m cos t (3.28)
dt
A fonte oscila em 60 Hz e a oscilação relacionada ao processo transitório é da ordem de kHz,
com forte amortecimento; assim, é permitido fazer a seguinte aproximação:

d 2 uC
2
  uC   U m (3.29)
dt
As condições iniciais são: uC (0)   U m , uC' (0)  i (0) / C  0 .

Aplicando transformada de Laplace, obtém-se a seguinte solução:


uC (t )  U m  1  2 cos t  (3.30)

O processo de reignição pode se repetir a cada pico de tensão da fonte, ocasionando


tensões elevadas nos terminais do capacitor e do disjuntor.
37
Chagas – DEE/UFCG

5. Atenuação das Sobretensões de Manobra

Para esta finalidade, são utilizados descarregadores de surtos (para-raios de ZnO), estudados
no capítulo anterior. Porém, outras técnicas são empregadas, as quais fazem uso dos seguintes
procedimentos ou dispositivos: seccionamento da linha, chaveamento controlado, resistores de
pré-inserção, circuitos ressonantes e outras.

Seccionamento da linha

Consiste na instalação de disjuntores intermediários. Assim, a sobretensão produzida no


trecho de linha de menor comprimento é reduzida.

Chaveamento controlado

A técnica de chaveamento controlado consiste em promover o comando para fechamento


do disjuntor em um instante tal que a tensão entre seus contatos seja nula (CARDOSO, 2009).
Essa sincronização é feita por meio de um controlador que toma como sinal de referência a
referida tensão. Na energização de uma linha de transmissão inicialmente descarregada, o
instante ótimo para fechamento dos disjuntores é a passagem pelo zero do sinal de tensão da
fonte. Como a tensão da linha é zero, considera-se que a tensão entre os contatos do disjuntor
é a própria tensão da fonte, a qual é o sinal de referência para o dispositivo de controle. Os
possíveis instantes ótimos estão em destaque na Fig. 3.16.

Fig. 3.16. Instantes ótimos para energização de linhas de transmissão (CARDOSO, 2009).

38
Chagas – DEE/UFCG

Resistores de pré-inserção

O resistor de pré-inserção é instalado na câmara do disjuntor para reduzir a sobretensão


durante o fechamento, como é mostrado na Fig. 3.17.
Durante o deslocamento do contato móvel, ele é inserido durante 6 a 10 ms, sendo
posteriormente posto em curto-circuito quando os contatos se fecham. Em geral, esses
resistores possuem resistências da ordem do valor da impedância característica da linha (250 a
450 ).

Fig. 3.17. Resistor de pré-inserção usado no amortecimento de sobretensões de manobra.

Circuitos Ressonantes

Este método consiste na utilização de circuitos como o mostrado na Fig. 3.18, no qual a
frequência de ressonância da associação LC é sintonizada em 60 Hz, de modo que o resistor R
não seja percorrido por corrente em condições normais de funcionamento. Entretanto, durante
a ocorrência de uma falta, as oscilações transitórias decorrentes são amortecidas pelo resistor.
Este método tem como desvantagem o fato de requerer emprego de indutores e capacitores
de grande porte.

Fig. 3.18. Circuito ressonante usado no amortecimento de sobretensões de manobra.

39
Chagas – DEE/UFCG

6. Sobretensões de Manobra em Subestações a SF6

As sobretensões de manobra em subestações aéreas são de alguns kHz. Em subestações


abrigadas e isoladas a SF6, a frequência situa-se na faixa de 0,2 a 2 MHz (solicitações mais
severas). Isso se deve ao fato de que os parâmetros L e C da subestação a SF6 são bastante
diferentes, pois eles dependem da geometria dos elementos e do meio isolante. À pressão
atmosférica normal, o SF6 tem rigidez dielétrica 2,5 vezes maior que a do ar. De 3 a 5 vezes a
pressão atmosférica (condição usual), a rigidez dielétrica é 10 vezes a do ar. Isto permite a
construção de componentes muito mais compactos (barramentos, disjuntores, TCs, TPs, chaves
seccionadoras, etc).
Apesar de serem mais caras, as GIS (Gas Insulated Substations) constituem uma solução para
os grandes centros urbanos, onde há falta de espaço físico e necessidade de preservação do
aspecto paisagístico.
As subestações isoladas a SF6 possuem um aspecto típico mostrado na Fig. 3.19.

Fig. 3.19. Aspecto típico de uma subestação isolada a SF6.

40
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo IV

Sobretensões Sustentadas

1. Introdução

As sobretensões sustentadas ou temporárias apresentam fraco amortecimento, duração de


vários ciclos, vários segundos ou mais e valores de pico máximos de 1,5 pu. Ocorrem à
frequência industrial e harmônica; em alguns casos raros, podem estar presentes componentes
sub-harmônicas. Os para-raios não devem operar, pois a capacidade térmica será excedida em
períodos longos de condução.
As causas mais frequentes dessas sobretensões são:

▪ curtos-circuitos fase-terra em sistemas trifásicos;


▪ perda súbita de carga em geradores;
▪ efeito Ferranti;
▪ ressonância linear;
▪ ferroressonância.

Cada um desses fatores é descrito a seguir.

2. Curtos-circuitos Fase-Terra em Sistemas Trifásicos

Para entender o problema das sobretensões sustentadas, três casos são inicialmente
analisados em um sistema elétrico: neutro isolado da terra, neutro solidamente aterrado e
neutro aterrado através de impedância.

Neutro Isolado da Terra

Para o sistema da Fig. 4.1 é mostrado o diagrama fasorial correspondente ao regime normal
de funcionamento: As correntes de defeito fase-terra apresentam valores desprezíveis e são
limitadas pelas capacitâncias fase-terra. O neutro se acha no mesmo potencial da terra.
Na Fig. 4.2 é ilustrado um caso de defeito fase-terra. Observa-se o deslocamento dos
potenciais das fases sãs em relação à terra, sendo estes aumentados pelo fator √3. Nesses
sistemas é difícil a detecção e localização do defeito, não sendo aplicáveis os relés de terra.
Para esses sistemas, os para-raios são especificados com 105% da tensão nominal da linha.
41
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.1. Sistema com neutro isolado e diagrama fasorial de tensões e correntes fase-neutro.

Fig. 4.2. Deslocamento dos potenciais do neutro e das fases sãs em um sistema com neutro isolado
durante a ocorrência de um defeito fase-terra.

Nos sistemas com neutro isolado há um fenômeno denominado falta intermitente (em
inglês, arcing fault ou arcing ground), qual pode ser explicado de modo simplificado através dos
diagramas fasoriais da Fig. 4.3, relacionados à sequência de eventos a seguir.

a. O sistema opera em condições normais. Em seguida, há um defeito fase a – terra, causado


por contato momentâneo com um galho de árvore, descarga através de isolador poluído ou
disrupção de atmosfera com vapor metálico.
b. O neutro é deslocado de um valor igual a Uan em relação à terra. Assim, o arco é extinto
quando a corrente If = 0. A carga armazenada na capacitância faz com que o triângulo fique
deslocado, na mesma posição.
42
Chagas – DEE/UFCG

c. Após meio ciclo de tensão, as tensões se apresentam defasadas de 180°. O potencial da fase
a aumenta de 0 até cerca de 2 Uan, fazendo com que o arco restabeleça a conexão fase a –
terra. O potencial desta fase tende a cair subitamente para o potencial da terra. Devido à
indutância em série do circuito, há uma oscilação entre + 2 Uan e -2 Uan, com frequência de
20 a 100 vezes 60 Hz. Ocorre uma série de oscilações transitórias devido às múltiplas
reignições do arco, com tensões de elevados valores de pico e possíveis danos ao sistema.

Fig. 4.3. Ocorrência de terra intermitente em sistema com neutro isolado.

Neutro Solidamente Aterrado

Nesse tipo de sistema o neutro é aterrado mediante condutor de impedância desprezível.


Caso haja um defeito envolvendo uma fase e a terra, as tensões fase-terra das outras fases não
crescem além da tensão nominal fase-terra. Um sistema com neutro solidamente aterrado e os
respectivos diagramas fasoriais são mostrados na Fig. 4.4. Nesses sistemas as correntes de
defeito fase-terra são altas e os defeitos são facilmente detectados, sendo a proteção de terra
sensível seletiva e facilmente ajustável. Praticamente não há deslocamento dos potenciais das
fases sãs e o deslocamento do neutro é pequeno. Porém, os esforços eletromecânicos são
elevados e arcos são intensos.

43
Chagas – DEE/UFCG

Também não ocorrem as faltas intermitentes. Assim, os sistemas sejam projetados com
isolamentos mais econômicos. Ao contrário dos sistemas com neutro isolado, não ocorrem
sobretensões sustentadas em caso de defeito fase-terra. Para esses sistemas, os para-raios são
especificados com tensão nominal de 84% da tensão nominal da linha.

Fig. 4.4. Defeito fase-terra em um sistema com neutro solidamente aterrado.

Neutro Aterrado por Impedância

Será considerado um defeito fase-terra em um sistema cujos circuitos de Thévenin de


sequência positiva, negativa e zero são mostrados na Fig. 4.5. Uma observação importante é
que as impedâncias indicadas incorporam não apenas as resistências e indutâncias em série
do sistema como também as capacitâncias em derivação.

Fig. 4.5. Circuitos de Thévenin de sequência positiva, negativa e zero de um sistema com neutro aterrado
através de impedância.

Assim, pode-se escrever:

Z  Z 1  Z2  Z0 (4.1)

U
Ia0  (4.2)
Z
Z 2  Z0
U a1  U (4.3)
Z
44
Chagas – DEE/UFCG

Z2
U a 2   Z2 I a 0   U (4.4)
Z
Z2
U a 0   Z0 I a 0   U (4.5)
Z
Considerando o operador de Fortescue, a = 1 e j 120° = 1 120°, tem-se pela teoria das
componentes simétricas (STEVENSON, 1974):
U b  a 2 U a1  a U a 2  U a 0 (4.6)

U c  a U a1  a 2 U a 2  U a 0 (4.7)

Considerando Z1  Z2 e combinando as equações acima, obtém-se:


Ub 1  Z 0 / Z1
 a2  (4.8)
U 2  Z 0 / Z1

Uc 1  Z 0 / Z1
a  (4.9)
U 2  Z 0 / Z1
Ademais, são feitas as seguintes simplificações: R0 = R1 = R2 = 0; assim:
Z0  j X 0 , Z1  j X1 , Z 2  j X 2 (4.10)

Os módulos de Ub e Uc, em pu de U, são, respectivamente:

1 X 0 / X1
U b, pu  a 2  (4.11)
2  X 0 / X1

1 X 0 / X1
U c, pu  a  (4.12)
2  X 0 / X1

Analisando (4.11) e (4.12), constata-se que se X0 / X1 = 1, então Ub,pu = Uc,pu = 1. Isto implica
que não há sobretensões nas fases sãs.
Entretanto, se o neutro for isolado ou aterrado por alta impedância, tem-se X0 / X1 >> 2 e,
então, Ub,pu = Uc,pu  √3. Isso corresponde ao máximo valor de sobretensão sustentada
decorrente de um defeito fase-terra.
É mostrado na Fig. 4.6 o modo de variação das tensões nas fases sãs, Ub,pu e Uc,pu, em função
de X0 / X1, para R1 = R2 = 0.

Coeficiente de Aterramento

Define-se coeficiente de aterramento como a relação, em percentagem, entre a maior


tensão fase-terra em uma fase sã e a tensão fase-fase nominal do sistema, durante uma falta
para a terra em uma ou mais fases. Assim, esse coeficiente acha-se situado entre 0 e 100%.
45
Chagas – DEE/UFCG

Curvas de Coeficientes de Aterramento

Com base em (4.11) e (4.12), há curvas que fornecem os coeficientes de aterramento para
sistemas com neutro aterrado por impedância, como as mostradas na Fig. 4.7, em que é
suposto R1 = R2 = 0. Há gráficos semelhantes para R1 = R2 = 0,1 X1, R1 = R2 = 0,2 X1,, etc. Essas
curvas são usadas na seleção de para-raios.

Fig. 4.6. Modo de variação das tensões Ub e Uc em função de X0/X1 para R1 = R2 = 0.

Fig. 4.7. Curvas de coeficientes de aterramento para R1 = R2 = 0.

Sistema Efetivamente Aterrado

Num sistema efetivamente aterrado o neutro é ligado à terra por uma impedância de valor
tal que o coeficiente de aterramento não exceda 80%; assim:

46
Chagas – DEE/UFCG

TENSÃO FASE  TERRA NAS FASES SÃS


 0,8
TENSÃO FASE  FASE NOMINAL

Tomando como base a tensão fase-neutro nominal do sistema:

TENSÃO FASE  TERRA NAS FASES SÃS  0,8 x 3  1,4 pu

As sobretensões nas fases sãs não ultrapassa 40%. Nesses sistemas, tem-se
aproximadamente: R0/X1 ≤ 1 e X0/X1 ≤ 3; assim, são feitas as observações a seguir.
▪ Nessa categoria também podem estar incluídos sistemas onde há resistências ou reatâncias
ligadas entre neutro e terra.
▪ Os para-raios podem ser especificados para 84% da tensão fase-fase.
▪ As correntes de defeito fase-terra têm valores apreciáveis, sensibilizando a proteção de
sobrecorrente (fusíveis ou relés).
▪ As correntes de defeito fase-terra próximos aos pontos de aterramento podem atingir
valores superiores às correntes de defeito trifásico.

Sistema Não Efetivamente Aterrado

Esses sistemas apresentam R0/X1 > 1 e X0/X1 > 3, de modo que o coeficiente de aterramento
é maior que 80%; neles, pode-se afirmar que:

▪ As correntes de defeito fase-terra são menores que as de defeito trifásico.


▪ À medida que R0/X1 e X0/X1 aumentam, crescem os problemas de detecção de defeitos fase-
terra. Assim, é cada vez mais difícil o ajuste dos dispositivos de proteção contra
sobrecorrente e a obtenção de boa seletividade.
▪ Os coeficientes de aterramento se aproximam do valor 100%.
▪ Os para-raios são especificados para 105% da tensão fase-fase nominal do sistema, pois não
devem conduzir em caso de sobretensão sustentada.

Formas de Operação do Neutro de Equipamentos

Os geradores nunca operam com neutro solidamente aterrado. O neutro é aterrado por
resistor, reator, transformador de distribuição com resistor no secundário ou bobina de
Petersen.
Nos sistemas de transmissão e de distribuição aéreos, os transformadores operam com o
neutro solidamente aterrado. Em subestações industriais, o neutro é solidamente aterrado
quando a tensão nominal do secundário é baixa. Em sistemas com tensão nominal entre 2,4 a
15 kV, o neutro é aterrado através de resistor.
47
Chagas – DEE/UFCG

3. Perda Súbita de Carga em Geradores

Considera-se na Fig. 4.8 um caso de perda súbita de carga num gerador (rejeição de carga).
Para o sistema, pode-se escrever:

U  E - R I  jX I (4.13)

Fig. 4.8. Caso de perda súbita de carga num gerador (rejeição de carga).

Os diagramas fasoriais correspondentes a antes e a depois da rejeição de carga são


mostrados na Fig. 4.9.

Fig. 4.9. Diagramas fasoriais correspondentes a antes e a depois da rejeição de carga (E’ > E, I’ < I).

Com rejeição de carga, haverá sobretensão temporária no sistema. Isso se explica da


seguinte forma:

▪ Antes da rejeição, o gerador recebe potência mecânica da turbina e fornece potência


elétrica à rede. O torque mecânico é igual ao torque de reação de armadura, que se anula
após a rejeição. Assim, há aceleração e aumento da tensão gerada E, pois ela é proporcional
à velocidade do rotor. Em turbogeradores, a sobrevelocidade chega até 10%, em menos de
1s. Em hidrogeradores, a sobrevelocidade pode chegar a 40%, em 3 a 4 s. Isto permanece

48
Chagas – DEE/UFCG

até que os reguladores de velocidade e de tensão atuem. Assim, de acordo com (4.13) e com
a Fig. 4.9, como a tensão E aumenta, haverá aumento de U.
▪ Com a saída da carga, a corrente diminui. Assim, a queda de tensão através das impedâncias
se reduzirá, contribuindo também para o aumento de U, como pode ser visto na Fig. 4.9.

4. Efeito Ferranti

Este efeito deve-se à capacitância em derivação distribuída das linhas de transmissão. A


operação da linha em vazio (ausência de carga) causa elevação de tensão, principalmente no
extremo receptor, com solicitações excessivas nos isolamentos. Isto se agrava quando o
comprimento da linha aumenta. Nas linhas com cabo isolado (subterrâneas, submarinas) este
efeito é mais intenso que nas linhas aéreas, considerando um mesmo comprimento e tensão
nominal, devido à maior capacitância shunt.

Análise por Diagramas Fasoriais

A seguir, é mostrada na Fig. 4.10 e nos diagramas fasoriais da Fig. 4.11, Fig. 4.12 e Fig. 4.13 a
influência da capacitância em derivação e do carregamento da linha na queda de tensão
através da mesma. Considera-se a tensão no receptor (UR) fixa.

Fig. 4.10. Linha de transmissão e carga no extremo receptor.

Fig. 4.11. Diagrama fasorial com S fechada – Linha muito carregada - UR << US.
49
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.12. Diagrama fasorial com S fechada – Linha pouco carregada - UR > US.

Fig. 4.13. Diagrama fasorial com S aberta – Receptor em vazio - UR >> US.

Observando os diagramas fasoriais, verifica-se que quanto menos carregada estiver a linha,
maior será o aumento de tensão no sentido fonte-carga.

Análise por Equações de Onda

Outra análise do efeito Ferranti é feita a partir das equações de onda, considerando a linha
de transmissão mostrada na Fig. 4.14, cujos parâmetros por unidade de comprimento são:

▪ r - Resistência em série, em /km;


▪ l - Indutância em série, em H/km;
▪ g - Condutância em derivação, em S/km;
▪ c - Capacitância em derivação, em F/km.

Fig. 4.14. Linha de transmissão com parâmetros distribuídos.

Assim, tem-se:
z  r  j l (4.14)
y  g  j c (4.15)

As equações que descrevem a propagação das ondas de tensão e de corrente na linha são as
seguintes (STEVENSON, 1974):
50
Chagas – DEE/UFCG

d 2U
 y zU (4.16)
dx 2

d 2I
yzI (4.17)
dx 2
As soluções dessas equações correspondem às expressões a seguir:
U  U R cosh x  Z c I R senh x (4.18)

UR
I  I R cosh x  senh x (4.19)
Zc

z r  j l
Zc   (4.20)
y g  j c

  z y   j  (4.21)

As constantes complexas Zc e  chamam-se impedância característica e constante de


propagação, respectivamente. O parâmetro  é a constante de atenuação, expresso em
nepers/m;  é a constante de fase, em rad/m.
Na linha sem perdas, r = g =  = 0; assim, fica:
U  U R cos  x  Z c I R sen  x (4.22)

UR
I  I R cos  x  sen  x (4.23)
Zc
Zc  lc (4.24)

  j   j l c (4.25)

Com o terminal receptor em aberto, tem-se:


U  U R cos  x (4.26)

Neste caso, para x = a (tensão no extremo emissor):


U S  U R cos  a (4.27)

Combinando (4.26) e (4.27):


cos  x
U US (4.28)
cos  a

Medindo as distâncias a partir do terminal emissor, tem-se:


cos  (a  y )
U US (4.29)
cos  a
A constante  produz uma defasagem  na tensão ao longo da linha ( =  x). Um ciclo de
tensão corresponde a 2 radianos de defasagem, ou seja,   = 2 ; assim:

51
Chagas – DEE/UFCG

2 2
   (4.30)
 c/ f

A constante c é a velocidade de propagação da onda (c  300000 km /s). Para f = 60 Hz:


2
  0,00126 rad / km
3 x105 / 60

Em linhas de 230 kV a 1100 kV,  varia pouco (0,00127 a 0,00130 rad/km); assim:

U cos 0,00126 ( a  y ) 

US cos 0,00126 a 

O perfil de tensões ao longo de uma linha de 600 km com receptor em aberto é mostrado na
Fig. 4.15, no qual a tensão alcança 1,37 pu (valor muito alto). Linhas com esse comprimento só
podem operar com compensação (reatores shunt e/ou capacitores série).

Fig. 4.15. Perfil de tensão ao longo de uma linha sem perdas de 600 km de comprimento.

O comprimento de onda em 60 Hz é:

  c / f  300000/ 60  5000 km
Uma linha de comprimento a = /4 = 1250 km com o receptor aberto apresentaria
sobretensões tendendo a infinito. Exemplo: para a = 1246 km:

U R cos 0,00126 (1246  1246)


  1195,7 pu ( !)
US cos 0,00126 x1246
52
Chagas – DEE/UFCG

5. Ferroressonância

5.1. Definição de Ferroressonância

O termo ferroressonância nomeia um fenômeno de caráter oscilatório que resulta da


transferência de energia entre capacitores, indutores com núcleos magnéticos saturáveis e
fontes de alimentação. O exemplo mais simples consiste em uma associação em série de um
transformador com secundário em aberto, um capacitor e uma fonte de tensão senoidal.
Durante a ocorrência da ferroressonância, ao ser atingido o regime de saturação, há uma
variação rápida e descontínua nas amplitudes e fases da corrente e das tensões, surgindo ondas
com formas acentuadamente não senoidais, as quais apresentam altos valores de pico, de
modo a haver risco à integridade dos equipamentos. Nas redes elétricas, os valores máximos de
tensão alcançados situam-se na faixa de 2 a 3 pu. As ondas podem conter componentes de
frequências múltiplas ou submúltiplas da frequência de excitação (harmônicas e sub-
harmônicas). Também ocorre sobrefluxo no núcleo do transformador, fato este que causa
aquecimento em decorrência do aumento das perdas magnéticas.
Inicialmente, é assumido que as correntes e tensões não-senoidais podem ser substituídas
por equivalentes senoidais de mesmo valor RMS (RUDENBERG, 1950; BESSONOV, 1973). É
importante ressaltar que esse método, denominado método RMS, serve apenas para facilitar o
entendimento do fenômeno, uma vez que a aproximação das grandezas por equivalentes
fasoriais acarreta em um erro cada vez maior à medida que aumenta o grau de saturação do
indutor não linear.
O circuito considerado e o diagrama fasorial correspondente são mostrados na Fig. 4.16 e na
Fig. 4.17, respectivamente. Neste caso, pode-se escrever para os módulos das tensões:
1
U L  U  UC  U  I (4.31)
C

Fig. 4.16. Circuito com indutor saturável Fig. 4.17. Diagrama fasorial do circuito da Fig. 4.17.

53
Chagas – DEE/UFCG

Com base nesta equação, pode-se construir o gráfico da Fig. 4.18, onde é mostrado o ponto
de operação inicial, P1. Este ponto corresponde à intersecção da reta descrita por (4.31),com a
curva de magnetização do indutor, para uma tensão da fonte U = U 1.
Neste ponto de operação estável, o circuito assume um comportamento indutivo (UL > UC).
Se houver aumento de U ou redução da frequência  ou da capacitância C, o ponto de
trabalho tende a se deslocar para cima. Porém, como P1 acha-se próximo ao joelho da
característica do indutor, pode ocorrer que as duas curvas não se interceptem no primeiro
quadrante. De acordo com a Fig. 4.19 e com a Fig. 4.20, o novo ponto de operação passa a ser
P3, situado no terceiro quadrante. Pode-se observar que ocorre grande aumento nos valores
das tensões, corrente e fluxo. Como o ponto P3 se situa numa região de intenso grau de
saturação, as grandezas apresentam caráter acentuadamente não senoidal.

Fig. 4.18. Condição de operação estável de um circuito RLC em série não linear.

Fig. 4.19. Comportamento de um circuito LC série não linear com aumento de U.


54
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.20. Comportamento de um circuito LC não linear com redução de C ou de .

É considerado agora o circuito da Fig. 4.21. As características tensão-corrente do resistor,


capacitor e indutor são dadas, respectivamente, por UR = R I, UC = (1/C) I e UL = f ( I ). As
curvas correspondentes a essas expressões são mostradas na Fig. 4.22, com traço pontilhado.
Para cada valor de I, a tensão resultante da associação capacitor–indutor é dada pela diferença
entre UL e UC. A curva correspondente à característica resultante da associação, U = f (I ) é
mostrada com traço cheio.

Fig. 4.21. Circuito RLC não linear. Fig. 4.22. Curvas tensão-corrente do circuito da Fig. 4.22.

A curva U= f (I ) da Fig. 4.22 é mostrada separadamente na Fig. 4.23. Se a tensão U for


aumentada gradualmente a partir de zero, o trecho 0-1-2 da curva é percorrido até o ponto 2.
Nesse ponto, qualquer acréscimo em U resultará em um salto para o ponto 4, percorrendo-se o
trecho 4-5. Se U sofrer uma redução, ao se atingir o ponto 3, qualquer redução adicional
causará um salto para o ponto 1, e daí para 0. Assim, a ferroressonância se estabelece de modo
que uma pequena variação da tensão de entrada ocasiona uma mudança súbita denominada
salto ressonante entre dois diferentes estados de operação estável do sistema.
55
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.23. Curva tensão-corrente resultante para o circuito da Fig. 4.21.

Nos sistemas elétricos, a ocorrência da ferroressonância é determinada não apenas pela


variação no valor de uma grandeza associada à fonte de alimentação (tensão ou frequência),
mas principalmente pela mudança de um parâmetro ou configuração do sistema.

5.2. Modos de Ferroressonância

Em condição de estado estacionário, a ferroressonância pode ser classificada em três


diferentes categorias, descritas a seguir (FERRACCI, 1998).

▪ Modo fundamental. As tensões e correntes apresentam forma de onda acentuadamente não


senoidal e com período igual ao da fonte de excitação. O espectro de linhas dos sinais é
discreto e contém a frequência de operação do sistema, f0, além de harmônicas de
frequências k f0, k = 1, 3, 5, .... Isto é mostrado na Fig. 4.24.

Fig. 4.24. Ferroressonância de modo fundamental.

▪ Modo sub-harmônico. As tensões e correntes apresentam forma de onda acentuadamente


não senoidal e com período igual a nT, onde n é um múltiplo inteiro e T é o período da fonte
de excitação. O espectro de linhas dos sinais é discreto e contém uma componente
56
Chagas – DEE/UFCG

fundamental de frequência f0 / n, além de suas harmônicas (a componente de frequência f0


também faz parte do espectro), conforme é ilustrado na Fig. 4.25.

Fig. 4.25. Ferroressonância de modo sub-harmônico.

▪ Modo quase periódico. Esse modo de oscilação não tem periodicidade, como é mostrado na
Fig. 4.26. O espectro é descontínuo e apresenta frequências que podem ser expressas
segundo a forma n f1+ m f2, sendo n e m inteiros e f1 / f2 um número irracional.

Fig. 4.26. Ferroressonância de modo quase periódico.

▪ Modo caótico. Neste caso, o comportamento do sinal não é periódico, mas irregular e
imprevisível. O espectro de frequências é contínuo, como é mostrado na Fig. 4.27.

Fig. 4.27. Ferroressonância caótica.


57
Chagas – DEE/UFCG

5.3. Casos Notáveis de Ferroressonância

A ocorrência da ferroressonância nas redes elétricas depende de certas configurações e


modos de operação dos circuitos. Existem situações bem características que aumentam o grau
de susceptibilidade do fenômeno, as quais são ocasionadas pelos elementos não lineares
descritos a seguir (FERRACCI, 1998).

Transformadores de Distribuição

Um possível caso de ferroressonância em sistemas de distribuição é descrito na Fig. 4.28.


Considera-se a abertura de uma fase de uma linha ligada a um transformador operando com
secundário em vazio, com o primário ligado em estrela com neutro aterrado.

Fig. 4.28. Situação de ferro-ressonância causada por abertura monopolar.

As capacitâncias indicadas representam as capacitâncias distribuídas dos condutores da linha


e demais elementos da rede. Após a abertura de um disjuntor ou fusível, ocorre uma mudança
na configuração do circuito equivalente do sistema, de modo que uma capacitância em série é
introduzida, propiciando o surgimento do fenômeno de ferroressonância. Para isto, duas
condições são necessárias: haver um cabo com comprimento e capacitância suficiente, bem
como perdas resistivas pequenas (DE JESUS et al., 2003).
Outro exemplo é mostrado no circuito da Fig. 4.29, onde ocorre uma abertura de duas fases
do circuito.

Fig. 4.29. Situação de ferro-ressonância causada por abertura bipolar.


58
Chagas – DEE/UFCG

Transformadores de Potencial

A ferroressonância pode ocorrer em redes elétricas que contêm transformadores de


potencial indutivos (TPIs). Uma situação propensa à ocorrência desse fenômeno é ilustrada na
Fig. 4.30.

Fig. 4.30. Ferroressonância causada por capacitância entre duas linhas e indutância de TPI.

A linha A possui maior tensão nominal que a linha B. Esta última acha-se desligada e tem
conectado no seu início um TPI. Pode ocorrer uma interação entre a capacitância distribuída
entre as duas linhas e a indutância saturável do TPI, ocorrendo ferroressonância.
Pode também ocorrer ferroressonância em circuitos de média e alta tensão sem conexão do
neutro para a terra, como é mostrado na Fig. 4.31. Quando ocorre um defeito no lado de alta
tensão, o potencial do neutro se eleva. Assim, o efeito capacitivo entre os enrolamentos causa
uma sobretensão no lado de média tensão, a qual ocasiona a ferroressonância.

Fig. 4.31. Ferroressonância causada por acoplamento capacitivo entre circuitos de alta e média tensão.

Outra situação em que se pode observar ferroressonância é mostrada na Fig. 4.32. Os


disjuntores de alta tensão possuem mais de uma câmara de extinção, ligadas em série. A fim de
distribuir de maneira uniforme a tensão nas mesmas, são colocados capacitores em paralelo
com os contatos (capacitores de equalização). Isto é feito para que, quando o disjuntor estiver
aberto, as solicitações nos meios extintores das câmaras sejam iguais. Assim, poderá ocorrer
ferroressonância em caso de abertura do disjuntor, pois os capacitores estarão agora ligados
em série com o TPI.
59
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.32. Ferroressonância causada por abertura de disjuntor próximo a um TPI.

5.4. Consequências da Ferroressonância

Como consequências da ferroressonância, pode-se citar (FERRACCI, 1998; DE JESUS, 2003):

▪ Danos a equipamentos em geral por elevação excessiva dos níveis de tensão e de corrente.
▪ Elevado sobreaquecimento e ruído no transformador em face do aumento de fluxo
magnético no núcleo e circulação excessiva de correntes parasitas.
▪ Deterioração da qualidade de energia ocasionada pela distorção das formas de onda de
tensão e de corrente, com surgimento de harmônicos e de sub-harmônicos.
▪ Destruição de descarregadores de surto (para-raios) em face da ultrapassagem de seus
limites de suportabilidade às solicitações térmicas.
▪ Perda de coodenação e atuação indevida de dispositivos de proteção, em alguns casos.
▪ Flutuação de tensão nas unidades consumidoras, causando cintilação em pontos de
iluminação (flicker).

5.5. Prevenção e Mitigação da Ferroressonância

Para evitar ou atenuar a ferroressonância, as seguintes práticas são comumente adotadas:

▪ Alteração de procedimentos operacionais ou de proteção para evitar a condição


desequilibrada que causa a ferrorressonância. Por exemplo, a abertura monopolar realizada
por fusíveis ou disjuntores no primário de transformadores de distribuição trifásicos pode
ser evitada utilizando-se disjuntores que promovam abertura tripolar.
▪ Manutenção da capacitância fora da faixa susceptível a ferroressonância, sendo este
parâmetro estabelecido por chaveamento em local próximo do terminal do transformador.
▪ Melhoria no projeto do núcleo do transformador. São mostradas na Fig. 4.33 duas possíveis
características tensão – corrente para o circuito da Fig. 4.16. Comparando as duas caracte-
rísticas, é observado que, quando se utiliza a característica 2, é necessário uma tensão
transitória bem mais elevada para forçar um salto para o estado de ferroressonância, uma
vez que U2 > U1.

60
Chagas – DEE/UFCG

▪ Escolha adequada de conexões de enrolamentos e geometria do núcleo do transformador,


bem como a forma de aterramento do neutro do sistema. A avaliação desses fatores
apresenta considerável grau de complexidade, principalmente no caso de transformadores
trifásicos com núcleo de três e de cinco colunas, requerendo o emprego de programas
computacionais como os do tipo EMTP e outros.

Fig. 4.33. Ferroressonância causada por abertura de disjuntor próximo a um TPI.

▪ Estabelecimento de condições para que a energia fornecida pela fonte não seja suficiente
para manter o fenômeno, introduzindo perdas para reduzir seus efeitos. Isso pode ser feito
pela inserção de resistência de amortecimento no circuito.
▪ No caso dos transformadores de potencial indutivos, uma maneira comum de eliminar a
ferrorressonância é inserir resistências de amortecimento da forma indicada na Fig. 4.34.

Fig. 4.34. Eliminação da ferroressonância por inserção de resistor de amortecimento.

61
Chagas – DEE/UFCG

A resistência R e a potência nominal PR do resistor são dadas pelas expressões a seguir


(FERRACCI, 1998), onde U2 é a tensão nominal do secundário do TPI, em volts, e PR é a potência
térmica nominal do TPI, em VA.

3 3U 22
R (4.32)
Pe

PR 
3U 
2
2

(4.33)
R

5.6. Ferroressonância – Um Estudo de Caso

O caso analisado refere-se a um caso de ferroressonância em um transformador de


potencial indutivo (TPI) instalado numa subestação de 230 kV cujo diagrama unifilar
simplificado é mostrado na Fig. 4.35, no qual são mostrados os seguintes componentes:
▪ Duas linhas de transmissão operando em 230 kV (LT1, LT2).
▪ Dois disjuntores de linha (DJ1, DJ2).
▪ Um disjuntor de transferência, normalmente desenergizado (DJ3).
▪ Dois barramentos, um principal e outro de transferência (B1, B2).
▪ Duas chaves seccionadoras de by-pass, normalmente desenergizadas (1B, 2B).
▪ Um transformador de potencial ligado à barra B2 (TPI).
A condição de operação analisada corresponde a DJ1 fechado, DJ2 e DJ3 abertos e 1B e 2B
abertas. Neste caso, tem-se o circuito equivalente mostrado na Fig. 4.36.

Fig. 4.35. Diagrama unifilar simplificado de uma subestação de 230 kV.


62
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.36. Circuito equivalente da subestação de 230 kV da Fig. 4.36.

Os parâmetros u, R e L se relacionam ao equivalente de Thévenin do sistema alimentador;


R1 e L1 representam a resistência e a indutância em série compreendidas entre o disjuntor e o
TPI, inclusive a resistência e a reatância de dispersão do enrolamento primário do TPI; C1 é a
capacitância de equalização do disjuntor; C2 é a capacitância fase-terra equivalente do
barramento e equipamentos a ele ligados; Rp é a resistência linear de perdas no núcleo
magnético; Lm é a indutância de magnetização do TPI; R2 e L2 representam os valores de
resistência a indutância da carga refletidos para o lado do primário.
Considerando u =  2U cos t e aplicando a lei de Kichhoff das malhas no circuito da Fig.
4.36, tem-se:

di
L  R i  u1  u 2  u (4.34)
dt
di1
L1  R1 i1  u3  u 2 (4.35)
dt
du 2
C2  i  i1 (4.36)
dt
u3
i1  im  (4.37)
Rp

dim
Lm  u3 (4.38)
dt
di2
L2  R2 i2  u3 (4.39)
dt
du1
C1 i (4.40)
dt
  f im  (4.41)

A função f de (4.41) descreve a curva de saturação do TPI ou o modelo de histerese,


conforme seja a forma de representação do efeito de magnetização do núcleo do TPI.
63
Chagas – DEE/UFCG

Considerando um degrau de tempo h, têm-se as seguintes equações discretizadas:

ik  ik 1
L  R ik  u1,k  u 2,k  u k  0 (4.42)
h
i1,k  i1,k 1
L1  R1 i1,k  u 2,k  u3,k  0 (4.43)
h
u 2 ,k  u 2 ,k 1
C2  i1,k  ik  0 (4.44)
h
u3,k
i1,k  im,k  0 (4.45)
R p ,k

im ,k  im ,k 1
Lm  u 3,k  0 (4.46)
h
i2 ,k  i2,k 1
L2  R2 i 2 , k  u 3 , k  0 (4.47)
h
u1,k  u1,k 1
C1  ik  0 (4.48)
h
 k  f i m , k   0 (4.49)

Esse sistema não linear pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson, considerando-
se um degrau de tempo h = 1 s.

Dados do Sistema

Um valor típico de potência de curto-circuito em uma subestação de 230 kV é de 16 GVA


(COPEL, 2007), o que corresponde a uma impedância igual a:

2300002
Z  3,3 Ω
16 x109

A impedância do sistema alimentador apresenta caráter fortemente reativo, com ângulos de


fase típicos no entorno de 88o; assim, tem-se:
R  3,3 x cos 88 o  0,115 Ω

3,3 x sen 88o


L  8,750 x 10-3 H
120 π

Os barramentos B1 e B2 possuem condutores de alumínio com alma de aço (ACSR) de bitola


954 MCM, o qual apresenta resistência ôhmica igual a 0,0705 /km a 50 oC. Para um trecho de
barramento de 100 m, a resistência é de 7,05 m, valor que pode ser desprezado. O mesmo
ocorre com a indutância do barramento e com a reatância de dispersão do TPI. Assim, L1  0 e

64
Chagas – DEE/UFCG

o valor de R1 é praticamente igual à resistência do enrolamento primário do TPI. Os TPIs típicos


usados em 230 kV apresentam resistência do enrolamento primário muito elevada, pois este é
composto por dezenas de milhares de espiras de fio fino, o que implica em um valor de
resistência da ordem de algumas dezenas de milhares de ohms.
O TPI considerado apresenta os seguintes dados (RIBAS, 2000):
▪ Relação de espiras (primário, secundário): 1200 : 1.
▪ Número de espiras do enrolamento primário: 53897.
▪ Área de seção reta do núcleo: 101 cm2.
▪ Comprimento médio da trajetória magnética: 1,1 m.
Supõe-se que o enrolamento primário é constituído de fio de bitola 28 AWG, com resistência
ôhmica 0,214 /m e que o comprimento médio de espira igual a 0,60 m; assim, tem-se:
R1  53897 x 0,60 x 0,214  6920,4 
Assume-se que o núcleo magnético é constituído por liga Fe-Si de grãos orientados, com
perdas magnéticas específicas de 1,28 W/kg a 60 Hz, com 1,5 T de indução de pico (GUERRA,
2007). Como a densidade do ferro é 7,88 x 103 kg/m3, tem-se para as perdas magnéticas totais:
P  101 x 10 4 x 1,1 x 7,88 x 10 3 x 1,28  112,06 W

A resistência de perdas no núcleo pode ser estimada fazendo-se:

Rp 
230000/ 3  
2

R p  157 M Ω
112,06
A característica de magnetização considerada para o TPI é a curva de saturação mostrada na
Fig. 4.37, a qual fornece o fluxo de enlace no enrolamento primário em função da corrente de
excitação, em valores de pico. A curva de saturação é aproximada pelo método de linearização
por partes, sendo usadas coordenadas (im, ) de uma sequência de pontos levantados
experimentalmente, com valores de im crescentes ou decrescentes. Assim, as coordenadas de
um ponto situado entre dois pontos consecutivos fornecidos são determinadas através de
rotina de busca em tabela ordenada (PRESS et al., 1986), empregando-se também o método de
interpolação linear. Os pontos da referida curva são fornecidos na Tabela 4.1.
Foi considerada no enrolamento secundário do TPI a carga P75, de 75 VA, padronizada pela
ABNT (NBR 6855 – ABNT, 2009). A mesma possui resistência de 163,2  e indutância de 0,268
H. Refletindo-se esses valores para o primário:
R2  1200 2 x 163,2  R2  235 MΩ

L2  12002 x 0,268  L2  385,92 kH


65
Chagas – DEE/UFCG

1000.00

800.00

Fluxo de Enlace ( V.s )


600.00

400.00

200.00

0.00

0.00 4.00 8.00 12.00 16.00 20.00


Corrente ( A )

Fig. 4.37. Curva de saturação do TPI.

Tabela 4.1. Pontos da curva de saturação do TPI (valores de pico).

CORRENTE ( A ) FLUXO DE ENLACE CORRENTE ( A ) FLUXO DE ENLACE


(V.s) (V.s)
0,00 0,00 1,00 755
0,01 550 2,00 773
0,03 600 4,00 795
0,08 650 8,00 822
0,20 700 15,0 850
0,50 735 25,0 870

Os valores totais de capacitância dos capacitores de equalização dos disjuntores de uma


subestação de 230 kV situam-se na faixa de 325 pF a 7500 pF (JACOBSON, 2000). No caso
analisado, é considerado C1 = 1200 pF. A capacitância C2 é igual à capacitância para a terra do
trecho do barramento B2 compreendido entre o disjuntor DJ3 e o TPI (CB2) mais a capacitância
para a terra do TPI (CT) e demais equipamentos ligados ao barramento (CD), ou seja:
C2  C B 2  CT  C D (4.50)
A capacitância para a terra do barramento B2 é fornecida pela expressão a seguir, onde D é
distância entre os condutores do barramento e r é o raio do condutor (STEVENSON, 1974):
002425
CB 2  μF / km (4.51)
log D / r 

66
Chagas – DEE/UFCG

Considerando D = 4 m e r = 15,2 mm, tem-se o valor CB2 = 501 pF para um trecho de


barramento de 50 m de comprimento. A capacitância para a terra de um transformador de
potencial típico de 230 kV varia entre 600 e 810 pF (GREENWOOD, 1971). Neste caso, adota-se
o valor CT = 700 pF. Para os demais equipamentos ligados ao barramento, assume-se CD = 2300
pF. Assim, tem-se C2  3500 pF.

Simulações Usando o Método de Newton-Raphson

O oscilograma da tensão no primário do TPI é mostrado na Fig. 4.38. Em regime transitório,


observa-se uma sobretensão máxima de 310,51 kV (1,64 pu). Em regime permanente, ocorrem
picos de tensão de 224,62 kV (1,20 pu). Nos terminais do disjuntor (Fig. 4.39), esses valores
correspondem a 444,12 kV (2,36 pu) e 375,76 kV (2,00 pu), respectivamente.
A corrente no enrolamento primário apresenta forma acentuadamente não senoidal (Fig.
4.40), atingindo o valor de 5,06 A em regime transitório e se estabilizando com valor de pico de
3,06 A.
O fluxo de enlace no enrolamento primário do TPI (Fig. 4.41) se estabiliza no valor de 785,7
V.s (1,58 pu).

400.00

200.00
Tensão ( kV )

0.00

-200.00

-400.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )

Fig. 4.38. Tensão nos terminais do TPI.

67
Chagas – DEE/UFCG

800.00

400.00

Tensão ( kV )

0.00

-400.00

-800.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )

Fig. 4.39. Tensão nos terminais do disjuntor.

8.00

4.00
Corrente ( A )

0.00

-4.00

-8.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )

Fig. 4.40. Corrente no enrolamento primário do TPI.

68
Chagas – DEE/UFCG

1000.00

500.00

Fluxo de Enlace ( V.s )

0.00

-500.00

-1000.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )

Fig. 4.41. Fluxo de enlace no enrolamento primário do TPI.

6. Ressonância

Há ressonância quando circuitos que contêm capacitâncias e indutâncias são excitados por
tensões de frequência  próxima ou igual à sua frequência natural de oscilação, 0 = 1/(LC) (L
e C são os parâmetros equivalentes do sistema). Isto não é comum nos circuitos aéreos de
distribuição e transmissão, pois 0 >> 377 rad/s (frequência angular da rede).
Em sistemas industriais, a presença de cargas não lineares causa o surgimento de harmô-
nicos. Fenômenos de ressonância em frequência harmônica podem ocorrer, principalmente
devido à presença de capacitâncias de cabos isolados e aplicação indevida de capacitores para
correção do fator de potência. A utilização de filtros de harmônicos, além de outras medidas,
pode resolver o problema.
A ressonância também pode ocorrer entre linhas paralelas de alta e extra-alta tensão
compensadas por reatores em derivação, em face do acoplamento capacitivo existente entre as
mesmas. Quando uma delas é aberta em ambos os extremos, a tensão nela induzida pode
alcançar altos valores. O mesmo fenômeno pode ocorrer em uma fase aberta de linhas onde o
religamento monopolar é praticado.

69
Chagas – DEE/UFCG

7. Considerações sobre o PRODIST – Módulo 8 - ANEEL

A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, através do PRODIST - Módulo 8 – Qualidade


da Energia Elétrica - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional (2014), estabelece os limites adequados, precários e críticos para os níveis de tensão
em regime permanente, os indicadores individuais e coletivos de conformidade de tensão
elétrica, os critérios de medição, de registro e dos prazos para compensação ao consumidor,
caso as medições de tensão excedam os limites dos indicadores.
Os valores de tensão medidos devem ser comparados à tensão de referência, a qual deve ser
a tensão nominal ou a contratada, de acordo com o nível de tensão do ponto de conexão. As
tabelas de 4.2 a 4.6 fornecem as faixas de classificação de tensões em regime permanente,
considerando sistemas de diferentes tensões nominais..

Tabela 4.2. Pontos de conexão em tensão nominal igual ou superior a 230 kV.

Tabela 4.3. Pontos de conexão em tensão nominal igual ou superior a 69 kV e inferior a 230 kV.

Tabela 4.4. Pontos de conexão em tensão nominal superior a 1 kV e inferior a 69 kV.

Tabela 4.5. Pontos de conexão em tensão nominal igual ou inferior a 1 kV (220/127).

70
Chagas – DEE/UFCG

Tabela 4.6. Pontos de conexão em Tensão Nominal igual ou inferior a 1 kV (380/220).

Em relação à frequência, o sistema de distribuição e as instalações de geração conectadas ao


mesmo devem, em condições normais de operação e em regime permanente, operar dentro
dos limites de frequência situados entre 59,9 Hz e 60,1 Hz.
Os geradores ligados ao sistema de distribuição devem garantir que a frequência retorne
para a faixa de 59,5 Hz a 60,5 Hz, no prazo de 30 (trinta) segundos após sair desta faixa, em
distúrbios no sistema de distribuição, para permitir a recuperação do equilíbrio carga-geração.
Havendo necessidade de corte de geração ou de carga para permitir a recuperação do
equilíbrio carga-geração, durante os distúrbios no sistema de distribuição, tem-se os seguintes
limites estabelecidos para a frequência:
▪ não pode exceder 66 Hz ou ser inferior a 56,5 Hz em condições extremas;
▪ pode permanecer acima de 62 Hz por no máximo 30 (trinta) segundos e acima de 63,5 Hz
por no máximo 10 (dez) segundos;
▪ pode permanecer abaixo de 58,5 Hz por no máximo 10 (dez) segundos e abaixo de 57,5 Hz
por no máximo 5 (cinco) segundos.

71
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo V

Outros Distúrbios de Tensão

1. Introdução

Além do que foi citado nos capítulos anteriores, existem vários outros distúrbios de tensão
que afetam o funcionamento das redes elétricas, notadamente as de baixa tensão. Os
principais distúrbios são listados a seguir.

▪ Distorções harmônicas, sub-harmônicas e interarmônicas.


▪ Afundamentos momentâneos de tensão (sags).
▪ Elevações momentâneas de tensão (swells).
▪ Desequilíbrios de tensões.
▪ Picos de tensão (spikes).
▪ Recortes de tensão (notches).
▪ Flutuações de tensão.
▪ Ruídos elétricos.

As distorções harmônicas, sub-harmônicas e interarmônicas são causadas por componentes


não lineares (cargas ou equipamentos) existentes no sistema. Essas distorções não são
abordadas neste capítulo, sendo matéria estudada em tópico posterior.

2. Afundamentos Momentâneos de Tensão

Esses afundamentos de tensão (sags) consistem em reduções no valor nominal da tensão da


rede elétrica por determinado tempo. Isto é mostrado na Fig. 5.1.

Fig. 5.1. Afundamento momentâneo de tensão (voltage sag).

72
Chagas – DEE/UFCG

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), na Resolução n° 505, de 26/11/2001, artigo


segundo, define nos incisos I e IX um afundamento momentâneo de tensão como “um evento
em que o valor eficaz da tensão do sistema se reduz, momentaneamente, para valores abaixo
de 90% da tensão nominal de operação, durante intervalo inferior a 3 s”.
Os sags são causados por raios, vendavais, falhas em equipamentos e contato de animais ou
galhos com os condutores da rede. Também podem ser causados por surtos de corrente devido
à energização de transformadores, bancos de capacitores e partida de motores potentes, com
durações de até 30 ciclos.
Sags podem travar programas de computadores e causar perdas de dados armazenados em
memórias voláteis, devido à baixa capacidade de armazenamento de energia que os
capacitores de algumas fontes de alimentação apresentam, não passando de 3 ciclos de rede.
Sags podem ainda provocar abertura indevida de contactores e relés.

3. Elevações Momentâneas de Tensão

A ANEEL, através da Resolução 505 (citada no item anterior) define elevações momentâneas
de tensão (voltage swells) como eventos em que o valor eficaz da tensão do sistema se eleva
momentaneamente para valores acima de 110% da tensão nominal de operação, durante
intervalo inferior a 3 s, como é mostrado na Fig. 5.2. Os swells são menos comuns que os sags.

Fig. 5.2. Elevação momentânea de tensão (voltage swell).

Essas elevações podem ser causadas por perda ou súbita mudanças da referência de terra,
interrupções ou queda no consumo de corrente por cargas indutivas e manobra de grandes
bancos de capacitores. Os efeitos podem ser mais destrutivos que os produzidos pelos sags,
podendo ocorrer degradação ou queima dos componentes de equipamentos eletrônicos, ou
também queima de descarregadores de surtos aplicados sem a devida tolerância em relação às
sobretensões.

73
Chagas – DEE/UFCG

Na redução dos efeitos dos sags e swells, são utilizados estabilizadores de tensão, no-breaks
e restauradores de tensão dinâmicos de diversos tipos, alguns baseados no uso de técnicas e de
processadores digital de sinais (DSPs).

4. Desequilíbrios de Tensão

São variações desiguais em amplitude e/ou fase das tensões trifásicas. Na transmissão, a
causa mais importante de desequilíbrios está relacionada com a distribuição das fases ao longo
de grandes trechos das linhas com irregularidades na sua transposição. Na distribuição, têm
como causa a conexão desbalanceada de cargas monofásicas ou bifásicas em sistemas
trifásicos. Cargas trifásicas não lineares de grande porte também podem produzir desequilíbrio,
como os fornos a arco elétrico. Tensões desequilibradas podem também ser resultados da
queima de fusíveis em uma fase de um banco de capacitores trifásicos, ocasionando injeção de
diferentes potências reativas nas fases.
A alimentação trifásica desequilibrada se manifesta principalmente no mau aproveitamento
da potência disponibilizada nos processos de conversão eletromecânica, bem como na
operação inadequada de equipamentos. Desequilíbrios acentuados podem comprometer
drasticamente desempenho operacional de muitos equipamentos, podendo ocorrer danos
progressivos ou imediatos. Nos motores trifásicos, ocorre o aparecimento de correntes de
sequência negativa adicionais circulando no rotor, aumentando as perdas devido ao aumento
da temperatura.
No caso dos retificadores, quando estes operam em condições equilibradas, correntes
harmônicas características (de ordem 5, 7, 11, 13,...). Entretanto, quando o sistema
alimentador acha-se desequilibrado, os retificadores também passam a gerar harmônicas
triplas (3, 9, 15,...), as quais possibilitam manifestação de ressonâncias não previstas, causando
danos a uma série de equipamentos.
Segundo a ANEEL - PRODIST - Módulo 8 (2014) que trata dos procedimentos de distribuição
de energia elétrica no sistema elétrico nacional, o desequilíbrio de tensão é analisado com base
no fator de desequilíbrio, FD%, calculado por:
U2
F D%  100 x (5.1)
U1

U1 – Componente de sequência positiva da tensão.


U2 – Componente de sequência negativa da tensão.

74
Chagas – DEE/UFCG

O PRODIST - Módulo 8 estabelece com limite um índice de desequilíbrio de tensão de 2%,


calculado pela expressão (5.1).

5. Picos de Tensão

Os spikes são picos de tensão superpostos à onda senoidal da rede, como é mostrado na Fig.
5.3. Estas variações rápidas do sinal elétrico podem ser causadas pela energização de motores
elétricos, transformadores, acionamento de interruptores de luz e ferramentas elétricas. Em
casos mais graves (maiores valores de pico), elas são provocadas por descargas atmosféricas,
chaveamento de grandes cargas e curtos-circuitos na rede. Neste caso, há risco de danos nos
equipamentos, principalmente os eletrônicos.

400.00

200.00
TENSÃO ( V )

0.00

-200.00

-400.00

0.00 0.02 0.04 0.06


TEMPO ( s )

Fig. 5.3. Picos de tensão (spikes).

Na mitigação dos efeitos desses distúrbios são usados supressores de surto (varistores) e
aparelhos diversos para condicionamento de sinais, como circuitos RC.

6. Recortes de Tensão

Os recortes de tensão ou notches são deformações na onda de tensão durante a comutação


de tiristores (SCRs) em conversores controlados, como é mostrado na Fig. 5.4.

75
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.4. Ponte retificadora trifásica controlada.

A comutação ocorre quando um SCR de uma fase entra em condução (ligado) e um SCR em
outra fase entra em bloqueio (desligado). Devido à indutância do circuito alimentador, a
transferência de corrente de um tiristor em uma fase para o próximo em outra fase não é
instantânea. Neste processo, há um período de sobreposição (ou comutação) durante o qual os
dois dispositivos estão conduzindo simultaneamente. Durante a comutação, um curto-circuito é
criado entre as duas fases, o que causa aumento da corrente e queda da tensão. A redução na
tensão é definida como um notch de linha. O curto-circuito é interrompido pela corrente
reversa no dispositivo que entra em bloqueio. Os efeitos sobre as tensões fase-neutro e fase-
fase são mostrados na Fig. 5.5.

Fig. 5.5. Notches de tensão numa ponte retificadora trifásica controlada.

76
Chagas – DEE/UFCG

Para eliminar ou reduzir os notches de tensão é necessário que a fonte de comutação seja
isolada de outros equipamentos sensíveis que usam o mesmo sistema de distribuição. Isso
pode ser feito através do uso de transformadores de isolamento.
Os métodos de redução dos notches constituem matéria do curso de Eletrônica de Potência.

7. Flutuações de Tensão

Flutuação de tensão é a variação repetitiva, aleatória ou esporádica do valor eficaz da


tensão, normalmente compreendidas na faixa de 0,95 pu a 1,05 pu. Isso pode ser causado por:

▪ cargas não lineares em equipamentos a arco, como fornos industriais e máquinas de solda;
▪ cargas intermitentes em eixos de motores de baixa rotação, como os de moedores de
rochas, bombas, compressores e máquinas de lavar roupa, que provocam aumentos e
diminuições cíclicas e relativamente lentas na corrente da rede;
▪ laminadores usados em indústrias;
▪ equipamentos usados em ferrovias.

Na Fig. 5.6 é mostrado um tipo de oscilação a qual consiste em uma sub-harmônica de


amplitude 5 V, 10 Hz, superposta a uma tensão de 220 V (RMS), 60 Hz.

400.00

200.00
TENSÃO ( V )

0.00

-200.00

-400.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50


TEMPO ( s )

Fig. 5.6. Sub-harmônica de amplitude 5 V, 10 Hz, superposta a uma tensão de 220 V (RMS), 60 Hz.

Na Fig. 5.7 são mostradas as variações aleatórias no valor eficaz da tensão causadas pela operação
de um forno a arco, as quais denotam a presença de harmônicas, sub-harmônicas e inter-harmônicas.

77
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.7. Variações aleatórias no valor eficaz da tensão causadas pela operação de um forno a arco.

Os principais efeitos das flutuações de tensão são os seguintes:

▪ oscilações de torques em motores;


▪ vibrações e afrouxamento de conexões parafusadas ou rebitadas;
▪ oscilações eletromecânicas;
▪ redução na produtividade de fornos e estufas;
▪ incômodo causado pela cintilação luminosa em lâmpadas incandescentes ou de mercúrio
(cintilação ou flicker).

Cintilação é um fenômeno que se manifesta mediante variação do fluxo luminoso causado


por modulação da tensão na faixa de 0 a 30 Hz, o que ocasiona um tremeluzir contínuo em
lâmpadas de mercúrio e, principalmente, em lâmpadas incandescentes. Os monitores de
computador e televisores também são afetados. Sua ocorrência prolongada pode provocar dor
de cabeça, cansaço, irritabilidade, crises epilépticas, etc.
Na frequência de 8,8 Hz o olho humano apresenta sua máxima sensibilidade ao flicker,
sendo capaz de identificar variações na tensão de 0,1%.
As principais soluções para a redução das flutuações de tensão são as seguintes:

▪ aumento da potência de curto-circuito na barra;


▪ instalação de filtro ativo, compensador estático ou banco de capacitores controlados por
tiristores.

A ANEEL através do PRODIST - Módulo 8 (2014) estabelece a terminologia, a metodologia de


medição, a instrumentação e os valores de referência para a flutuação de tensão. Os
procedimentos para medição de flicker são estabelecidos pela norma IEC 61000-4-15 (2010).

78
Chagas – DEE/UFCG

8. Ruídos Elétricos

O ruído elétrico é um sinal da alta frequência (quando comparado com os 50 ou 60 Hz da


rede) que se soma à senóide de tensão normal, alterando suas características. Os ruídos
elétricos podem ser motivados por inúmeros fatores como interferências de radares,
radiotransmissores e linhas de alta e extra-alta tensão, loops de aterramento, conversores
estáticos, motores, lâmpadas fluorescentes, etc. Eles podem causar mau funcionamento de
computadores e outros equipamentos eletrônicos. Porém, o risco de dano permanente é
pequeno. Na Fig. 5.8 é mostrado um ruído com amplitude de 10 V, 4,5 kHz superposto a uma
tensão de 220 V, 60 Hz.

400.00

200.00
TENSÃO ( V )

0.00

-200.00

-400.00

0.00 0.02 0.04 0.06


TEMPO ( s )

Fig. 5.8. Ruído com amplitude de 10 V, 4,5 kHz superposto a uma tensão de 220 V, 60 Hz.

Os ruídos podem ser reduzidos ou eliminados mediante utilização de filtros,


transformadores de isolamento e equipamentos de condicionamento de sinais, assim como
blindagem das estruturas por onde passa o cabeamento e, principalmente, o cuidado com o
aterramento.
Outros cuidados consistem em não ligar aparelhos sensíveis na mesma fase onde estão
ligados aparelhos de maior potência (ar condicionado, geladeiras, fornos elétricos, lâmpadas
incandescentes com dimmers, máquinas de lavar, etc).

79
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo VI

Controle de Tensão em Redes Elétricas

1. Introdução

O problema do controle de tensão nas redes elétricas está diretamente associado ao


balanço da potência reativa na rede. Para entender o problema, será considerado o sistema da
Fig. 6.1, no qual uma carga de potência ativa P e potência reativa Q é alimentada por um
alternador através de uma linha de transmissão de impedância em série Z = R + j X. Por
simplicidade, considera-se desprezível a capacitância em derivação, hipótese válida no caso de
linhas de transmissão aéreas de comprimento inferior a 80 km e de alimentadores de
distribuição. Para o circuito, tem-se:
U R  U R 0 o (6.1)

U S  U S  (6.2)

U S  U R  ( R  jX ) I (6.3)

Fig. 6.1. Alimentador monofásico de resistência R e reatância L em série suprindo uma carga.

O diagrama fasorial das grandezas do circuito é mostrado na Fig. 6.2.

Fig. 6.2. Diagrama fasorial do circuito da Fig. 5.1.


80
Chagas – DEE/UFCG

Assim, a partir desse diagrama, pode-se escrever:


U S  U R  ( R  jX )( I cos   j I sen  (6.4)

U S  U R  R I cos   X I sen   j ( X I cos   R I sen ) (6.5)

Ainda no diagrama fasorial da Fig. 6.2, pode-se desprezar a parte imaginária de US, de modo
que U  U’; assim:
U  U S - U R  I ( R cos   X sen  (6.6)

Pode-se também escrever:


R U R I cos   X U R I sen 
U  U S - U R  (6.7)
UR

RP X Q
U  (6.8)
UR
Essa expressão mostra que a queda de tensão através da linha não depende apenas da
potência ativa absorvida pela carga, mas também da potência reativa transmitida. Linhas com
tensões nominais elevadas apresentam X >> R, de modo que termo XQ de (6.8) tende a ser
cada vez mais significativo.
A conclusão a que se chega é a seguinte: o transporte de potência reativa através da linha
exerce drástica influência sobre a queda de tensão através da mesma. Caso a carga requeira
potência reativa, o ideal é que ela seja fornecida no local da instalação, e não transportada a
partir de um terminal remoto.
Regulação de tensão de um alimentador é definida pela seguinte expressão:
U RO  U RL
R%  x 100 (6.9)
U RL
URO - Tensão no extremo emissor com o extremo receptor em aberto.
URL - Tensão no extremo emissor com o extremo receptor em plena carga, com fator de
potência especificado.
No caso de cargas distribuídas ao longo do alimentador, os métodos de cálculo são mais
elaborados. Tal assunto é matéria dos cursos de Análise de Sistemas Elétricos e de Distribuição
de Energia Elétrica. Um bom tratamento dedicado ao tema é proporcionado por SOUZA (1997)
e KUNDUR (1993).
A matéria subsequente trata dos métodos adotados para se efetivar o controle de tensão
nas redes elétricas, no sentido de manter a tensão nos limites especificados pelas agências
reguladoras dos serviços de fornecimento de energia.
81
Chagas – DEE/UFCG

2. Controle de Tensão em Sistemas de Distribuição

2.1. Subtensões Sustentadas em Alimentadores

O controle de tensão em sistema de distribuição é normalmente feito no sentido de mitigar


as quedas de tensão temporárias em alimentadores. São classificados como subtensões
sustentadas os distúrbios caracterizados por um decréscimo no valor eficaz da tensão alternada
correspondentes a valores inferiores a 0,9 pu, na frequência da rede, e com período de duração
maior que 1 minuto. As subtensões são causadas, principalmente, pelos seguintes fatores:

▪ Carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são submetidos a valores de


corrente que dão origem a quedas de tensão elevadas nas impedâncias em série da rede.
▪ Excesso de potência reativa transportado pelos circuitos de distribuição, o que limita a
capacidade do sistema no fornecimento de potência ativa e ao mesmo tempo eleva a queda
de tensão.
A fim de reduzir o problema das subtensões, são utilizados métodos que dizem respeito a
mudanças no projeto do sistema elétrico original, os quais são listados a seguir.

▪ Aumento da seção dos condutores da linha.


▪ Aumento do número de fases da linha.
▪ Balanceamento das cargas nos alimentadores primários.
▪ Transferência de carga para novos alimentadores.
▪ Instalação de novas subestações e alimentadores.

Entretanto, existem dispositivos que são comumente empregados com o intuito de reduzir
as quedas de tensão, os quais são listados a seguir.

▪ Capacitores.
▪ Auto-boosters.
▪ Reguladores de tensão.

2.2. Utilização de Capacitores

Considerações Gerais

A utilização de capacitores tanto pode ser feita ao longo de alimentadores como em


instalações de consumidores. No primeiro caso, essa prática visa essencialmente aumentar os
níveis de tensão e reduzir as perdas. No segundo caso, além dos objetivos citados, os

82
Chagas – DEE/UFCG

capacitores promovem outros benefícios, como liberação de capacidade de transformadores e


não pagamento de multas por excessivo consumo de reativos (baixo fator de potência).
A instalação de capacitores junto às instalações de consumidores é uma prática conhecida
como correção do fator de potência. Os elementos típicos que compõem as cargas nos sistemas
elétricos são lâmpadas, equipamentos de aquecimento e motores de indução domésticos e
industriais. Assim, as cargas apresentam características que podem ser atribuídas a uma
combinação de resistência e indutância. Logo, a solução mais simples e barata para evitar
circulação de potência reativa na rede consiste em instalar bancos de capacitores junto à carga,
no sentido de compensar o efeito indutivo da mesma, levando o circuito à ressonância, ou a
uma condição próxima dela. Em ressonância não há troca de potência reativa entre a fonte e o
resto do circuito, o que torna cos  = 1.
Na prática, não é necessário fazer cos  = 1 (compensação total). O artigo 64 da Resolução
456 de 29/11/2000, da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), estabelece o seguinte: “o
fator de potência de referência, indutivo ou capacitivo, terá como limite mínimo permitido para
instalações elétricas ou unidades consumidoras, o valor 0,92”.
Caso a instalação apresente cos  < 0,92, o consumidor terá sua conta de energia acrescida
de acordo com o estabelecido no artigo 65 da citada resolução.

Causas de Queda no Fator de Potência

Considerando tensões e correntes senoidais, os principais fatores que contribuem para a


queda do fator de potência são listados a seguir.

▪ Motores funcionando em vazio. O consumo de potência reativa é o mesmo, tanto para


operação em vazio quanto com carga. Porém, o consumo de potência ativa é diretamente
proporcional à carga no eixo.
▪ Motores superdimensionados. Se um motor é substituído por outro de potência nominal
maior, o consumo de potência ativa cresce, permanecendo inalterada a carga no eixo e o
consume de potência ativa.
▪ Transformadores operando em vazio ou com carga reduzida. Nesses casos, a corrente de
magnetização do transformador está associada a consumo de reativos.
▪ Lâmpadas de descarga convencionais operando com reatores de baixo fator de potência.
Nesse caso, recomenda-se a utilização de reatores compensados, os quais contêm
capacitores para correção do fator de potência.

83
Chagas – DEE/UFCG

Quando a rede opera em regime não senoidal, o conceito do fator de potência é mais
abrangente, pois devem ser consideradas a influência das distorções das formas de onda das
tensões e corrente. Assim, o fator de potência sofre uma queda tanto maior quanto maior for a
taxa de distorção harmônica das grandezas elétricas na rede.

Capacitores em Derivação

A forma de correção de fator de potência mais utilizada é mostrada na Fig. 6.3, na qual é
mostrada uma linha alimentando uma carga, além de um banco de capacitores em derivação.

Fig. 6.3. Banco de capacitores instalado em derivação.

Os parâmetros R e X são a resistência e a reatância da linha. Com a chave S aberta, tem-se:


U S  U R  R I  jX I (6.10)
Com S fechada, resulta:
U 'S  U R  R I  I C   jX I  I C   U R  R I '  jX I ' (6.11)
Para esse circuito têm-se os diagramas fasoriais da Fig. 5.4 (antes e após a correção).

Fig. 6.4. Diagramas fasoriais do circuito da Fig. 6.3 ( a ) S aberta; ( b ) S fechada.

A análise desses diagramas mostra que:


▪ Há melhoria no fator de potência da instalação (cos ’ > cos ). Caso cos  < 0,92 e cos ’ ≥
0,92, o consumidor deixa de ser penalizado por apresentar baixo fator de potência.

84
Chagas – DEE/UFCG

▪ A queda de tensão ao longo da linha torna-se menor (US’ – UR < US – UR).


▪ A corrente requerida pela carga torna-se menor ( I’ < I ), ocorrendo menores perdas na linha
ou evitando-se sobredimensionamento dos condutores e equipamentos.
▪ Há possibilidade de instalação de cargas adicionais no sistema (liberação de capacidade
instalada), sem necessidade de aumento das potências nominais dos equipamentos
existentes no sistema (gerador, linha de transmissão, etc).
▪ Adiamento de dispêndio de capital para melhoria e expansão do sistema.
São mostrados na Fig. 6.5 os triângulos de potências correspondentes às situações de antes
e de após a correção.

Fig. 6.5. Triângulos de potências antes (S, P, Q) e após a correção (S’, P, Q’).

A potência ativa P permanece constante. A potência reativa cai de Q para Q’, de modo que a
potência reativa e a capacitância do banco de capacitores são dadas por:
QC  Q  Q '  P tan  - tan  ' (6.12)

U N2
QC    C U N2 (6.13)
XC

QC
C (6.14)
2 f U N2
As grandezas f e UN são, respectivamente, a frequência e a tensão nominal do sistema.
A principal vantagem do uso de capacitores em derivação são o baixo custo e a flexibilidade
de instalação e operação, podendo ser aplicados em diversos pontos do sistema. A principal
desvantagem é o fato de que a potência reativa a eles associada, QC, é proporcional ao
quadrado da tensão, como é mostrado em (6.13). Assim, em caso de tensão baixa, a potência
reativa é reduzida a baixos valores quando deveria ser maior.

85
Chagas – DEE/UFCG

Vários fatores determinam a localização dos capacitores, podendo ser citados o tipo e
comprimento dos circuitos, tipos de motores, assim como variação e distribuição das cargas.
Assim, os bancos de capacitores podem ser instalados da seguinte forma:

▪ no primário do transformador;
▪ no secundário do transformador;
▪ no quadro de distribuição das cargas;
▪ junto às cargas.

O ideal é que os capacitores sejam localizados o mais próximo possível das cargas, ou nas
extremidades dos circuitos, de modo a reduzir as perdas ôhmicas, melhorar os níveis de tensão
nas cargas e melhorar o nível de aproveitamento da capacidade dos transformadores.
Entretanto, a dispersão das unidades capacitivas requer maior custo de instalação, em face da
necessidade de quadros de instalação e equipamentos de proteção e manobra. Essa
observação indica a necessidade de observação da relação custo-benefício pretendida.
Em circuitos trifásicos, os capacitores podem ser ligados em delta ou em estrela (aterrada ou
não). Recomendações e detalhes acerca de formas de ligação, de dimensionamento e de
proteção de bancos de capacitores em derivação são fornecidos em MAMEDE FILHO (2005).

Capacitores em Série

A instalação de capacitores em série com a carga, como ilustra a Fig. 6.6, também causa
aumento do fator de potência. Isto se explica pelo fato de que a instalação tem parte de sua
reatância indutiva cancelada, aproximando-se de um circuito em condição de ressonância.

Fig. 6.6. Banco de capacitores instalado em série com a carga.

Os diagramas fasoriais da Fig. 6.7 ilustram as situações correspondentes ao banco de


capacitores desligado (S fechada) e ao banco ligado (S aberta). Observa-se que, com S aberta,
cos ’ > cos  , e também que US’ < US (redução na queda de tensão ao longo da linha).

86
Chagas – DEE/UFCG

Na Fig. 6.7(b), como o fasor -jXC I acha-se em oposição a jX I, o capacitor funciona como um
regulador de tensão, pois produz uma redução na queda de tensão quando a carga aumenta.
Isto fica claro ao lembrar que a potência reativa gerada pelo capacitor é dada por XC I2.

Fig. 6.7. Diagramas fasoriais do circuito da Fig. 5.6; ( a ) S fechada; ( b ) S aberta.

Entretanto, a instalação de capacitores em série para correção de fator de potência pode


trazer problemas devido ao fato de que há propensão para o surgimento de ferroressonância e
de oscilações subsíncronas em instalações com motores elétricos.

Exemplo: Um transformador trifásico de 250 kVA, 13800 V – 380 / 220 V, delta-estrela


aterrada, está funcionando a plena carga com fator de potência igual a 0,85 em atraso. (a) Qual
a capacitância necessária para corrigir o fator de potência para 0,98 atrasado? (b) Se o primário
do transformador é ligado a uma linha de impedância em série igual a 4 + j 5 , quais os valores
das quedas de tensão ao longo da linha antes e após a correção? (c) Quais os valores das perdas
ôhmicas ao longo da linha antes e após a correção? (d) Após a correção, é instalada outra carga
em paralelo à carga existente, com fator de potência igual a 0,85 em atraso. Qual o máximo
valor de potência ativa dessa nova carga, sem que haja sobrecarga no transformador?

Solução – ( a ) Considerando o triângulo de potências da Fig. 6.5, tem-se:

cos  0,85 ,   31,8o , sen  0,53


P  S cos  250x 0,85 212,5 kW
Q  S sen  250x 0,53132,5 kvar
cos  '  0,98 ,  '  11,5o , sen  '  0,20

Q'  P. tan  '  212,5. tan 11,5o  43,2 kvar


P 212,5
S'    216, 8 kVA < 250 kVA
cos  ' 0,98

87
Chagas – DEE/UFCG

Assim, há liberação de carga no transformador.


QC  Q  Q'  132,5  43,2  89,3 kvar (Potência total dos capacitores, trifásica).

Supondo o banco ligado em estrela, a capacitância equivalente por fase é dada por:
QC / 3 89,3/3
C   1,6 mF
2 f U N 2 x 60 x 220 2
2

( b ) Antes da instalação do banco, a corrente era:


S 250000
I   10,4 A
US 3 x 13800

Depois da correção, a corrente passa a ser:


S' 216800
I'   9,1 A
US 3 x 13800

Da expressão (6.6), as quedas de tensão antes e depois da correção são, respectivamente:


U  10,4 x (4 x 0,85  5 x 0,53   62,9 V
U'  9,1x (4 x 0,98  5 x 0,2   44,8 V
Em percentagem de UR (13800/3 V), tem-se:
 U %  0,79 % ,  U %'  0,56 %

( c ) As perdas antes e depois da correção valem, respectivamente:


PL  R I 2  4 x 10,4 2  432,6 W , PL'  R I '2  4 x 9,12  331,2 W
Assim, a redução percentual das perdas é:
432 ,6  331 , 2
 PL ,%  100 x  23 , 4 % W
432 ,6

( d ) Com o banco de capacitores e as cargas em paralelo, tem-se os triângulos de potência


da Fig. 6.8. Para a carga adicional, tem-se:
cos A  0,85   A  31,8o

Fig. 5.8. Triângulos de potências das cargas.


88
Chagas – DEE/UFCG

Neste caso, S’’ = S = 250 kVA, pois o transformador volta a operar a plena carga. Para o
triângulo maior, tem-se:
( P  PA ) 2  (Q'  QA ) 2  S 2  (212,5  PA ) 2  (43,2  PA tan 31,8 o ) 2  2502
PA = 29,8 kW
É importante observar que, mesmo com a instalação da nova carga, o fator de potência
continua maior que 0,92, ou seja:
P  PA 212,5  29,8
cos"    0,97
S 250

2.3. Utilização de Auto-Boosters

O auto-booster consiste em um transformador de distribuição cujo enrolamento secundário


é ligado em série com a linha, como é mostrado na Fig. 6.9. Com esse arranjo, a tensão do lado
da carga pode ser aumentada ou diminuída, conforme a polaridade do enrolamento em série. A
vantagem apresentada por esse equipamento em relação aos demais é o baixo custo.

Fig. 6.9. Diagrama esquemático de um auto-booster.

2.4. Utilização de Reguladores Automáticos de Tensão

Os reguladores automáticos de tensão são equipamentos usados em subestações ou linhas


de distribuição longas, principalmente as rurais. Consiste em um autotransformador com várias
derivações no enrolamento em série, como é mostrado na Fig. 6.10, as quais podem ser
comutadas com o equipamento em carga. Uma chave de reversão de polaridade permite somar
ou subtrair a tensão no enrolamento em série, de modo a estabelecer variações de até ±10%,
em 32 degraus.
O comutador de derivações tem por finalidade manter a tensão num valor predeterminado
em certo ponto da linha, o qual é denominado ponto de regulação. Na prática, os comutadores
apresentam-se mais complexos. Entretanto, para fim de compreensão do princípio básico de
funcionamento do equipamento, este modelo é satisfatório.
89
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 6.10. Diagrama básico de um regulador de tensão.

O regulador de tensão da Fig. 5.10 é associado a um circuito de controle automático como o


mostrado na Fig. 6.11, qual é alimentado por um transformador de potencial e um
transformador de corrente.

Fig. 6.11. Diagrama básico de um regulador de tensão.

Esse circuito é composto pela associação em série do resistor e indutor indicados, além de
um relé regulador automático de tensão (conhecido como relé de regulação de tensão ou relé
90), que monitora a tensão do secundário do transformador e comanda as operações de
comutação de tape como é desejado. A tensão aplicada ao relé, U, é igual à tensão no
secundário do TP (proporcional é tensão no início do alimentador) mais a queda de tensão na
associação em série RX (U´, que é proporcional à queda de tensão na linha), ou seja:
UP U I
U  U'  P  Z P (6.15)
KP KP KC
Os valores da impedância Z no relé são ajustados de modo a corresponder diretamente à
impedância ZL do sistema. Assim, em caso de queda de tensão causada por aumento de carga,
a tensão U varia, o relé 90 compara a tensão de entrada com o valor de ajuste. Caso a diferença
de tensão for maior que certa tolerância, é emitido um sinal de saída para comutação
automática de tape, a qual é realizada por motores que respondem ao comando do relé para
ajustar a tensão dentro de um nível especificado. O sinal na saída do relé é dado por:

90
Chagas – DEE/UFCG

U erro  U  U ref (6.16)


A tensão Uref é a tensão do ponto de regulação do sistema.
É conveniente que se estabeleça um retardamento Td entre os instantes de ocorrência da
queda de tensão e do envio do sinal do relé para o comutador. Para isso, é usado um relé
auxiliar de tempo. Assim, para variações transitórias de tensão com duração inferior a Td o
comutador não atua. Outra função desse retardamento consiste em permitir a coordenação de
reguladores em série, de modo que o regulador mais próximo da fonte opere mais rápido,
poupando o subsequente de operação desnecessária. Valores típicos de Td acham-se situados
na faixa de 30 s a 60 s.
É mostrado na Fig. 6.12 o diagrama de blocos do circuito de controle do regulador auto-
mático de tensão.

Fig. 6.12. Diagrama de blocos do circuito de controle do regulador automático de tensão

Os reguladores de tensão podem ser monofásicos ou trifásicos. Para prevenir o consumo


prematuro dos contatos do comutador em caso de sobrecarga, alguns reguladores apresentam
uma função adicional que bloqueia o funcionamento do comutador, caso a corrente da linha
esteja acima do de certo valor.

3. Controle de Tensão em Sistemas de Transmissão

3.1. Considerações Gerais

O controle de tensão em partes do sistema próximas a unidades geradoras é realizado pelos


reguladores automáticos de tensão, que controlam a corrente de excitação nos enrolamentos
de campo das máquinas, de modo a manter a tensão dentro dos limites estabelecidos. Nas
demais partes da rede, existem maneiras alternativas de controlar a tensão. Os dispositivos
mais comumente empregados para essa finalidade podem ser classificados do seguinte modo:

91
Chagas – DEE/UFCG

▪ dispositivos de fornecimento ou consumo de potência reativa (reatores em derivação,


capacitores em derivação, compensadores síncronos, compensadores estáticos);
▪ compensadores de reatância da linha, como os capacitores em série;
▪ transformadores com mudança de derivação em carga.

Esses métodos são descritos a seguir.

3.2. Dispositivos de Fornecimento ou Consumo de Potência Reativa

Reatores em Derivação

Reatores em derivação são usados para compensar o efeito da capacitância distribuída das
linhas que operam em carga leve (efeito Ferranti), produzindo abaixamento da tensão ao longo
da mesma para valores dentro dos limites permissíveis, mediante consumo de reativos. São
usados em linhas aéreas com mais de 200 km de comprimento. No caso de linhas a cabo
isolado, onde a capacitância distribuída é maior, os reatores são usados para linhas bem mais
curtas. Formas de ligação típicas são mostradas na Fig. 6.13.

Fig. 6.13. Formas possíveis de compensação de uma linha por reator em derivação.
(a) Conexão direta; (b) conexão no terciário de transformador.

Linhas de extra-alta tensão com comprimento inferior a 200 km também podem requerer
compensação no caso em que o terminal emissor for de fraca alimentação. De acordo com a
Fig. 6.14, se o disjuntor da barra receptora é aberto, além de ocorrer elevação de tensão na
barra C (efeito Ferranti), também é observado aumento da tensão na barra B. Nesse caso, a
compensação é feita em ambos os terminais, como é mostrado na Fig. 6.15.

Fig. 6.14. Linha de transmissão ligada a um terminal de fonte fraca.


92
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 6.15. Reatores ligados a linha de transmissão com terminal de fonte fraca.

Esses reatores normalmente apresentam núcleo de ferro imerso em óleo com entreferro
não magnético. Podem ser monofásicos ou trifásicos. Alguns possuem enrolamentos providos
de tapes, proporcionando diferentes valores de reatância.

Capacitores em Derivação

Os capacitores em derivação são usados para reduzir as perdas na transmissão e as quedas


de tensão em condições de carga pesada, mediante injeção de reativos na rede. Os bancos de
capacitores podem ser distribuídos ao longo do sistema, sendo ligados diretamente às barras
de alta tensão ou a enrolamentos terciários de transformadores, como é mostrado na Fig. 6.16.
Eles podem ser chaveados manualmente ou de modo automático.

Fig. 6.16. Formas de ligação de bancos de capacitores a uma linha de transmissão.

Compensadores Síncronos

Na Fig. 6.17 é mostrada uma máquina síncrona ligada a uma barra infinita. Desprezando as
perdas, pode ser escrito para a potência complexa fornecida à barra:
S U I*  P  j Q (6.17)

Fig. 6.17. Gerador ligado a uma barra infinita.

93
Chagas – DEE/UFCG

A variável  é o ângulo de torque da máquina e E é a tensão interna da máquina, que


depende no nível de excitação imposto pela corrente de campo.
Além disso, tem-se:
E U
I (6.18)
j Xd
Substituindo (6.18) em (6.17), pode-se tirar para as potências ativa e reativa:
EU
P sen  (6.19)
Xd
U
Q E cos   U  (6.20)
Xd

O controle do fluxo da potência ativa P é realizado através de variação no ângulo de torque,


, aumentando-se ou diminuindo-se o conjugado mecânico exercido pela turbina sobre o
gerador, ou pelo motor sobre a carga mecânica acoplada ao eixo. Assim, de (6.19):

▪ se  > 0, então P > 0; assim, a máquina funciona como gerador, fornecendo potência;
▪ se  < 0, então P < 0; assim, a máquina funciona como motor, recebendo potência;
▪ se  = 0, então P = 0; assim, a máquina funciona com rotor livre.

Da expressão (6.20), vê-se que se  for pequeno (caso mais comum na prática), a potência
reativa é pouco sensível a variações de cos . Assim, a principal forma de controlar Q consiste
em variar E, alterando-se a corrente de excitação no enrolamento de campo da máquina.
A conclusão a que se chega é que a máquina síncrona pode ser usada para compensação de
reativos. Para isto, são empregados motores síncronos girando sem carga mecânica no eixo, de
modo a absorverem apenas uma pequena quantidade de potência ativa, necessária para suprir
as perdas internas. Mediante controle da corrente de campo, eles podem absorver ou gerar
reativos. Através de um regulador de tensão, é possível ajustar automaticamente a potência
reativa no sentido de manter a tensão constante no seu ponto de ligação. São geralmente
ligados ao sistema através de enrolamentos terciários de transformadores.
Uma vez que o compensador opera absorvendo uma potência ativa desprezível, a expressão
(6.20) indica que U e E estão aproximadamente em fase e  = 0o; assim, pode-se escrever:
 E U 
Q U  (6.21)
 X 
Conclui-se, pois, que se E > U (máquina superexcitada), há injeção de reativos no sistema.
Se E < U (máquina sub-excitada), o sistema fornece reativos ao motor.

94
Chagas – DEE/UFCG

Uma forma de ligação usual de um compensador síncrono é mostrada na Fig. 6.18.

Fig. 6.18. Compensador síncrono ligado a um barramento.

Além do fluxo de reativos poder se verificar nos dois sentidos, ele pode ser variada de modo
contínuo e suave, ao contrário dos capacitores e indutores em derivação. Outra vantagem é
que a potência reativa absorvida ou gerada não depende da tensão do sistema.
Porém, os compensadores síncronos apresentam as seguintes desvantagens:

▪ são relativamente caros;


▪ têm partes rotativas e sistema de excitação adicional, o que requer manutenção frequente;
▪ contribuem para aumentar o nível de curto-circuito, funcionando como um gerador, pois
durante a ocorrência da falta a inércia do rotor faz com que haja um efeito semelhante ao
de uma turbina, enquanto que o campo permanece excitado;
▪ podem perder o sincronismo em caso de variação brusca da tensão.

Compensadores Estáticos

Existem diversos tipos de compensadores estáticos. Aqui serão vistos dois tipos: o de reator
saturável e o de reator controlado por tiristor (RCT).
O compensador de reator saturável consiste na associação em paralelo de um indutor não
linear com um banco de capacitores, como é mostrado na Fig. 6.19
As características tensão-corrente dos elementos individuais e a característica resultante do
compensador estático são mostradas na Fig. 6.20. Como os elementos se acham em paralelo,
para um mesmo valor de tensão, as correntes que neles circulam se somam. Observa-se que no
primeiro quadrante a característica do compensador é predominantemente indutiva; já no
segundo quadrante, a característica torna-se capacitiva.

95
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 6.19. Compensador de reator saturável.

Fig. 6.20. A característica tensão-corrente de um compensador estático de núcleo saturável.

Considerando um valor de tensão de referência no barramento, Uo, se há uma queda de


tensão, o ponto de operação move-se para o segundo quadrante e o compensador passa a
funcionar como um capacitor, injetando reativos na barra. Se ocorrer um aumento de tensão, o
ponto de operação move-se para o primeiro, e o compensador passa a retirar reativos da rede,
funcionando como um indutor.
Na Fig. 6.21 é mostrado o esquema básico de um compensador estático com reator
controlado a tiristores.
Mediante variação do ângulo de disparo dos tiristores, é possível controlar a corrente no
reator, cujo valor eficaz varia de zero até um valor máximo. Na Fig. 6.22, verifica-se que:

▪ se o ângulo de disparo for 90o, os tiristores conduzem plenamente uma corrente I90 e o
reator controlado tem o comportamento de um reator convencional; assim, predomina o
efeito indutivo na associação LC em paralelo da Fig. 6.21;
▪ se o ângulo de disparo for 180o, os tiristores são bloqueados; logo, a associação LC em
paralelo assume caráter capacitivo;

96
Chagas – DEE/UFCG

▪ entre 90o e 180o, os tiristores ficam em estado de bloqueio durante parte do ciclo,
conduzindo correntes não senoidais em outra parte (por exemplo, I120 e I150).

Fig. 6.21. Compensador estático com reator controlado por tiristor (RCT).

Fig. 6.22. Princípio de funcionamento de um compensador estático com RCT.

A característica tensão-corrente de um compensador com RCT pode ser entendida quando


se imagina que o controle por tiristor funciona como a reatância do reator fosse variada, com é
mostrado na Fig. 6.23.
O desempenho de um RCT é analisado tomando-se o circuito equivalente de Thévenin visto
da barra a qual se acha ligado o compensador, o qual é mostrado na Fig. 6.24. Considerando a
impedância de Thévenin e a impedância equivalente do compensador, XTH e XSL, têm-se:

U  U TH  X TH I (6.22)

U  U o  X SL I (6.23)
97
Chagas – DEE/UFCG

Assim, a forma de operação do compensador é descrita na Fig. 6.25. A tensão de referência


do barramento é Uo e o ponto de operação é A (cruzamento das duas características).

Fig. 6.23. Composição da característica de um compensador estático com RCT.

Fig. 6.24. Circuito de Thévenin de um compensador estático com RCT ligado a uma barra.

Fig. 6.25. Descrição da operação de um compensador estático com RCT.

98
Chagas – DEE/UFCG

Se ocorrer aumento de tensão, o ponto de operação passa a ser B, no primeiro quadrante;


assim o compensador retira reativos da rede e a tensão retorna ao valor Uo. Se ocorrer queda
de tensão, o ponto de operação passa a ser C, no segundo quadrante; assim o compensador
injeta reativos da rede e a tensão Uo é restabelecida.
Os compensadores estáticos têm substituído os compensadores síncronos com diversas
vantagens (não possuem partes móveis, não contribuem para aumentar os níveis de curto-
circuito, são mais facilmente controláveis, entre outras). A desvantagem é a introdução de
harmônicos na rede, requerendo o uso de filtros.

3.3. Capacitores em Série

Inicialmente, será considerado UR = UR 00 no sistema mostrado na Fig. 5.26. Em seguida, é


traçado o diagrama fasorial da Fig. 6.27.

Fig. 6.26. Linha de transmissão ligada a uma barra infinita.

A partir desse diagrama, pode-se escrever:


U S senθ  X I cos  (6.24)

U S cosθ  U R  X I sen  (6.25)

Fig. 6.27. Diagrama fasorial de corrente e tensões do circuito da Fig. 5.26.

De (6.24) e (6.25), considerando as definições de potência ativa e reativa em condições


senoidais, chega-se a:
UR US
P senθ (6.26)
X
U R U S cos θ  U R2
Q (6.27)
X
99
Chagas – DEE/UFCG

Considerando a expressão (6.26), se UN é a tensão nominal da linha, pode-se escrever para a


potência ativa transmitida através da mesma:
U N2
P sen θ  PMAX s en θ (6.28)
X
Na Fig. 6.28 é mostrada a variação de P em função do ângulo de abertura da linha, .
Observa-se que o controle do fluxo de potência entre as duas barras é controlado mediante
variação de , aumentando-se a potência mecânica Pm fornecida ao gerador pela turbina, a
qual é convertida na potência elétrica P. Essa potência mecânica corresponde à reta horizontal
indicada.

Fig. 6.28. Potência ativa transmitida através de uma linha em função do ângulo de carga, .

Observa-se que a máxima quantidade de potência ativa que teoricamente pode ser
transmitida, PMAX, corresponde ao valor  = 90o. Caso a potência mecânica aumentasse além
desse valor, resultaria Pm > P, de modo que o gerador tenderia a acelerar, perdendo
estabilidade. Assim, teoricamente, a máxima potência ativa que a linha pode transmitir é:
U N2
PMAX  (6.29)
X
Recomenda-se operar com uma margem de segurança, ou seja, com  < 90o. Assim, se  =
70o, a linha transmite cerca de 94% de sua capacidade máxima de transporte teórica.
De (6.29), é possível ver que a máxima capacidade de transporte de uma linha aumenta com
o quadrado de sua tensão de operação. Outra constatação é que essa capacidade é
inversamente proporcional à sua reatância indutiva em série. Assim, para uma determinada
tensão nominal, a forma de aumentar a capacidade de transporte de uma linha é instalar
capacitores em série, tal como é mostrado na Fig. 6.29.

100
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 6.29. Linha compensada por capacitores em série – (a) no meio de linha; (b) nos extremos.

O percentual de compensação em uma linha de reatância indutiva em série XS é dado por:


XC
P%  100 (6.30)
XS

A compensação de 100% (integral, com XC = XS) nunca é empregada, sendo recomendado


não se ultrapassar 80%, para evitar problemas de estabilidade no sistema, assim como
problemas no desempenho de relés de proteção da rede.
Um problema causado pela compensação por capacitores em série é a ressonância sub-
síncrona (JUSAN, 2007). Nos geradores o sistema de eixos acoplados do conjunto turbina-
gerador pode ser avaliado como um sistema elástico massa-mola equivalente com frequências
naturais de torção que variam entre 10 e 40 Hz. O fenômeno da ressonância subsíncrona ocorre
quando a diferença entre a frequência de operação da rede e a frequência natural do sistema
elétrico é próxima de uma das frequências torcionais do eixo turbina-gerador, resultando em
forte acoplamento entre os sistemas elétrico e mecânico. O resultado pode ser a produção de
torques de elevada intensidade no eixo turbina-gerador, o que pode causar fadiga mecânica e
dano. Tal situação pode ocorrer no caso de geradores ligados a linhas com compensação por
capacitores em série, uma vez que estes produzem drástica variação na frequência natural do
sistema elétrico. Para entender isto, é considerado o sistema da Fig. 6.30.

Fig. 6.30. Linha de transmissão com compensação por capacitor em série ligada a uma barra infinita.

Com a compensação em série, a frequência natural de oscilação do sistema é dada por:


1
n  (6.31)
LC

Multiplicando pela frequência da rede, , tem-se:

 XC
n   (6.32)
L ) (C ) XL

Para as frequências em Hz, resulta:

101
Chagas – DEE/UFCG

XC
fn  f (6.33)
XL

Como XC< XL, a frequência natural de oscilação do sistema é menor que a frequência da
rede, também denominada frequência síncrona, (fn < f ), o que explica a expressão oscilações
subsíncronas.

3.4. Transformadores com Mudança de Derivação em Carga

Praticamente todos os transformadores usados nos sistemas de transmissão - e muitos nos


sistemas de distribuição - possuem derivações em um ou mais enrolamentos para mudança na
relação de espiras, com o objetivo compensar as variações de tensão do sistema. Em muitos
transformadores a comutação de derivações pode ser feita com ele fornecendo energia a uma
carga. Essa variação pode ser de 10% ou 15% da tensão nominal do enrolamento
considerado.
O processo de comutação de derivação em condição de carga é realizado por um circuito de
controle automático idêntico ao apresentado pelos reguladores automáticos de tensão usados
em circuitos de distribuição, descritos no item 2.4.

4. Estabilidade de Tensão

4.1. Considerações Gerais

Define-se estabilidade de tensão como a capacidade de um sistema elétrico em manter


valores de tensão aceitáveis e estáveis em todas as barras do sistema, tanto em condições
normais de operação como após a ocorrência de um distúrbio, aumento de demanda de carga
ou alterações na configuração do sistema (KUNDUR, 1993). Em determinadas situações, tais
eventos podem causar progressiva e incontrolável queda de tensão. Normalmente, a causa
principal do problema é a queda de tensão provocada pela circulação de potência ativa e
reativa nas indutâncias das linhas da rede. Assim, o sistema torna-se incapaz de atender à
demanda de potência reativa da carga.
Assim, uma rede elétrica funcionando em uma determinada condição de operação e sujeito
a uma perturbação é dito estável sob o ponto de vista de tensão se as tensões nos terminais das
cargas assumem valores estáveis e dentro dos limites admissíveis após a perturbação. Caso
ocorra o contrário, a rede sofre um colapso de tensão.
Os fenômenos de instabilidade de tensão são quase sempre aperiódicos (não oscilatórios).
102
Chagas – DEE/UFCG

4.2. Formulação Básica

Para se ter uma visão introdutória do problema é considerado o sistema da Fig. 6.31, no qual
se considera a tensão da fonte fixa e a tensão na carga variável. A variação da potência
transmitida é estabelecida através de mudança no valor do módulo da impedância da carga, ZR.

Fig. 6.31. Sistema utilizado para ilustrar a instabilidade de tensão.

O módulo da corrente é dado por:


US
I (6.34)
( Z L cos θ  Z R sen φ ) 2  ( Z L sen θ  Z R sen φ ) 2

Dividindo o numerador e o denominador por ZL, após algumas manipulações algébricas,


pode-se escrever:
1 US
I (6.35)
 Z  ZL
2
Z
1  2 R cos θ - φ    R 
ZL  ZL 
A corrente de curto-circuito nos terminais da carga é:
US
I CC  (6.36)
ZL

Assim, tem-se:
I 1
 (6.37)
I CC Z Z 
2

1  2 R cos θ - φ    R 
ZL  ZL 
A tensão nos terminais da carga é;
1 ZR
U R  ZR I  US (6.38)
 ZR  ZL
2
ZR
1 2 cos θ - φ    
ZL  ZL 
UR 1 ZR
 (6.39)
US Z  Z  ZL
2

1  2 R cos θ - φ    R 
ZL  ZL 
103
Chagas – DEE/UFCG

A potência ativa fornecida à carga é nula para duas condições extremas: ZR = 0 e ZR = 


(curto-circuito e circuito aberto). Para ZR = ZL, a potência transmitida será máxima; assim, são
obtidas as curvas normalizadas de corrente, tensão e potência da Fig. 6.32.

Fig. 6.32. Curvas normalizadas de corrente, tensão no receptor e potência transmitida


para o sistema da Fig. 6.31.

Observa-se que a potência transmitida aumenta rapidamente a partir de zero á medida que
ZR diminui, sendo a taxa de aumento reduzida antes de o valor máximo ser atingido (ZR = ZL). A
condição de funcionamento crítico correspondente à potência máxima representa o limite de
funcionamento satisfatório. Para uma demanda de potência superior, o controle da potência
por variação da carga é instável, ou seja, uma diminuição na impedância da carga reduz a
potência. A tensão cai progressivamente e o sistema começa a tornar-se instável, dependendo
das características da carga. Com uma carga representada por impedância constante, o sistema
estabiliza em níveis de potência e tensão mais baixos que o desejado. Por outro lado, com uma
carga do tipo potência constante, o sistema torna-se instável através do colapso da tensão nos
terminais da carga. Se a carga é alimentada através de transformadores com mudança de
derivação em carga, a ação deverá ser no sentido de tentar aumentar a tensão na carga. Isto
implica na redução de ZR vista do sistema, o que diminui ainda mais UR, levando a um
progressivo abaixamento da tensão. Assim, tem-se uma situação de instabilidade de tensão no
sistema.
104
Chagas – DEE/UFCG

4.3. Curvas P-U

Um dos métodos de análise de estabilidade de tensão mais usados baseia-se na utilização


das curvas P-U. Este método determina os limites de carregamento em regime permanente
relacionados à estabilidade de tensão, podendo ser usado juntamente com programas de fluxo
de potência para realização de estudos de redes elétricas em regime permanente.
No sistema da Fig. 6.31 é agora considerado ZL = j X, sendo a tensão US ainda mantida
constante. Para a potência complexa na linha, pode-se escrever:
S  U R I *  U R I  (6.40)

S  U R I (cos  j sen )  P( 1 j tan ) (6.41)

Eliminando  de (6.26) e (6.27) mediante a identidade sen2  + cos2  = 1, obtém-se:


2 2
 U2  U U 
 P tan   R    S R   P 2 (6.42)
 X   X 
Rearranjando, obtém-se a seguinte equação biquadrada:
   
U R4  2 tan  PX - U S2 U R2  1  tan 2  P 2 X 2  0 (6.43)

A solução de (6.43) é dada por:

U S2 U S4
UR 
2
 PX tan  
4

 PX PX  tan  U S2  (6.44)

Esta expressão fornece duas soluções para um mesmo valor de potência ativa transmitida,
como pode ser visto nas curvas da Fig. 6.33, traçadas para diferentes valores de cos .

Fig. 6.33. Curvas P – U para diferentes valores de fator de potência.


105
Chagas – DEE/UFCG

Em relação às curvas da Fig. 6.33, são feitas as considerações a seguir.

▪ Para certo valor de potência transmitida abaixo do máximo carregamento possível há duas
soluções: uma para tensão mais elevada e corrente baixa, e outra para tensão mais baixa e
corrente elevada. A primeira solução é a aceitável, pois corresponde a valores de tensão
próximos ao valor da tensão nominal do sistema.
▪ Quanto maior for a compensação capacitiva na carga, mais elevada é a capacidade de
transporte da linha. Também é observado que as tensões são mantidas em limites mais
estreitos, ou seja, elas assumem valores próximos do valor da tensão nominal do sistema.
Isso corrobora a afirmação de que é importante suprir a potência reativa no local da carga,
ao invés de transportá-la através da linha.

Bibliografia
ABNT - NBR 5287 (1988). Para-raios de resistor não linear a carboneto de silício (SiC) para
circuitos de potência de corrente alternada.
ABNT- NBR 6936 (1992). Técnicas de ensaios elétricos de alta tensão
ABNT - NBR 6939 (2000) - Coordenação do isolamento – Procedimento
ABN - NBR 5419 (2001). Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas.
ABNT - NBR 5424 (2011). Guia de aplicação de para-raios de resistor não linear em sistemas de
potência — Procedimento.
ANEEL (2000). Agência Nacional de Energia Elétrica - Resolução N.º 456, de 29/11/2000.
ANEEL - PRODIST - Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica (2014). Procedimentos de
Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional.
ARAÚJO, A. E. A., NEVES, W. L. A. (2005). Cálculo de Transitórios Eletromagnéticos em Sistemas
de Energia, Editora UFMG, Belo Horizonte – MG.
BESSONOV, L. (1972). Applied Electricity for Engineers, Mir Publishers, Moscou.
CARDOSO, G. A. (2009). Chave Controlada para Redução de Sobretensões de Manobra em
Linhas de Transmissão, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande,
Campina Grande - PB.
COPEL (2007). Fornecimento de Energia Elétrica nas Tensões de 69 kV, 138 kV e 230 kV,
Companhia Paranaense de Energia Elétrica, Manual Técnico, Curitiba, maio de 2007.
D’AJUZ, A. et al. (1987). Transitórios Elétricos e Coordenação de Isolamento – Aplicação em
Sistemas de Potência de Alta Tensão, FURNAS/UFF, Rio de Janeiro –RJ.
106
Chagas – DEE/UFCG

DE JESUS, N. C., EIDT, N., COGO, J. R., DOMMEL, H. W. (2003). Investigação e diagnóstico da
queima de para-raios em sistemas de distribuição: um caso de ferrorressonância, Seminário
Brasileiro sobre Qualidade de Energia Elétrica (V SBQEE), Aracaju – SE, 17-20/08/2003.
FERRACCI, P. (1998). Ferroresonance, Cahier Technique no 190, Schneider Electric.
GREENWOOD, A. (1971). Electrical Transients in Power Systems, Wiley-Interscience, New York.
IEC 61000-4-15 (2010). Electromagnetic compatibility (EMC) - Part 4-15: Testing and
measurement techniques - Flickermeter - Functional and design specifications.
JACOBSON, D. A. N. (2000). Field testing, modelling and analysis of ferroresonance in a high
voltage power system, Doctor Thesis, Department of Electrical and Computer Engineering
The University of Manitoba, Winnipeg, Manitoba, Canada.
JUSAN, F. C. (2007). Análise Linear de Oscilações Subsíncronas em Sistemas Elétricos de
Potência, Dissertação de Mestrado, UFRJ, Rio de Janeiro – RJ.
KINDERMANN, G., CAMPAGNOLO, J. M. (1995). Aterramento Elétrico. Porto Alegre: 3ª ed.,
Sagra DC Luzzato.
KUNDUR, P. (1993). Power System Control and Stability, McGraw-Hill, New York.
MAMEDE FILHO, J.(2005). Manual de Equipamentos Elétricos – 3ª ed., LTC, Rio de Janeiro – RJ.
PRESS, W. H., FLANNERY, B. P., TEWKOLSKY, S. A., WETTERLING, W. T. (1986). Numerical
Recipes – The Art of Scientific Computing, Cambridge University Press, New York.
RUDENBERG, R. (1950). Transient Performance of Electrical Power Systems, McGraw-Hill, New
York.
SOUZA, B. A. (1997). Distribuição de Energia Elétrica (apostila), DEE/CCT/Universidade Federal
da Paraíba - UFPB, Campina Grande – PB.
STEVENSON Jr., W.D. (1974). Elementos de Análise de Sistemas de Potência, Editora McGraw-
Hill do Brasil Ltda, São Paulo – SP.

107
Chagas – DEE/UFCG

Apêndice 1 – Questões Teóricas

1. Cite as causas e características das sobretensões atmosféricas.


2. Em caso de surto atmosférico, explique o que poderá ocorrer nos isolamentos auto-regene-
rativos caso a máxima tensão de suportabilidade dos mesmos seja excedida.
3. Diga o que significa índice ceráunico, curvas isoceráunicas e mapa isoceráunico.
4. Descreva de modo sucinto os sistemas de aterramento usados em prédios, usinas,
subestações e linhas de transmissão.
5. Cite os principais cuidados que se deve ter em reação ao cabo de descida dos para-raios.
6. Diga o que são e para que servem os cabos OPGW (Optical Ground Wire).
7. Cite as vantagens e desvantagens dos para-raios tipo haste, de SiC e de ZnO.
8. Explique de modo sucinto o que é coordenação de isolamento.
9. O que é nível básico de Isolamento (NBI)?
10. Cite as causas e características das sobretensões de manobra.
11. Explique o que é tensão de restabelecimento transitória e descreva de modo sucinto suas
formas de solicitação sobre o meio de extinção do arco de um disjuntor.
12. Explique o que é corrente subsequente, a qual surge durante o processo de interrupção de
corrente por um disjuntor.
13. Explique o que é defeito quilométrico. Por que ele pode provocar solicitações dielétricas
mais intensas que um defeito próximo ao disjuntor?
14. Explique as consequências da abertura não simultânea das fases em um disjuntor num
circuito trifásico.
15. Explique o que é TCTRT e cite as quatro formas de definição dessa grandeza.
16. Explique o que são chopping currents e diga por que elas podem causar grandes estresses
no meio dielétrico de um disjuntor.
17. Descreva as principais formas de atenuação das sobretensões de manobra.
18. Como as sobretensões de manobra ocorrem nas subestações isoladas a SF6?
19. Cite as causas e características das sobretensões sustentadas.
20. O que são faltas intermitentes (arcing faults ou arcing grounds)?
21. Na especificação de um para-raios, cite a precaução a ser tomada em relação às sobre-
tensões sustentadas.
22. Em relação à forma de aterramento do neutro, como se deve dimensionar os para raios?

108
Chagas – DEE/UFCG

23. O que é tensão nominal, tensão disruptiva na frequência industrial e tensão de reseal de um
para raios.
24. Em relação à forma de aterramento do neutro, como operam os geradores e os sistemas de
distribuição de concessionárias e os sistemas industriais?
25. O que é fator de aterramento num sistema trifásico?
26. Descreva o que ocorre quando um gerador perde carga subitamente. Qual a forma de
atenuar os efeitos decorrentes?
27. O que é efeito Ferranti? Em que caso o mesmo ocorre de forma mais pronunciada? O que
normalmente é feito para evita-lo?
28. O que é ferroressonância e quais as principais causas e consequências da ferroressonância?
29. Quais as principais formas de prevenção e de mitigação da ferroressonância?
30. Comente acerca da susceptibilidade do fenômeno de ressonância linear nos sistemas de
distribuição de concessionárias e de indústrias.

109
Chagas – DEE/UFCG

Apêndice 2 - Simulações Computacionais Usando o Simscape/Matlab

As simulações a seguir devem ser realizadas através do toolbox Simscape/Matlab. É


conveniente que o aluno explore ao máximo as potencialidades do aplicativo mediante análise
e comentários dos resultados obtidos, variando as condições de operação do sistema.
O osciloscópio do Simscape apresenta algumas limitações para impressão dos resultados.
Nas simulações onde o multímetro não é usado, o aluno deverá usar no espaço de trabalho o
comando plot(variável), onde variável são as correntes e tensões de saída, Ia, Ib, Ic, Va, Vb ou
Vc, a fim de imprimir os gráficos em formato Matlab.

1. Considere o circuito da Fig. 1, o qual representa o equivalente monofásico de um sistema


trifásico de 138 kV. O fenômeno analisado é a sobretensão provocada pela interrupção de
corrente de um curto-circuito trifásico nos terminais do disjuntor. Os dados são os seguintes:
▪ Um = 112,7 kV,  = - 90o (tensão de pico e ângulo de fase da tensão da fonte).
▪ R = 0,8 Ω, L = 12,6 mH (resistência e indutância da fonte).
▪ C = 1 µF (capacitância distribuída total do sistema).
▪ Tempo transcorrido para a abertura do disjuntor: 2 ms.
▪ Tempo total de simulação: 0,16 s.

2. Considere o circuito da Fig. 2, o qual representa o equivalente monofásico de um sistema


trifásico de 230 kV. O fenômeno a ser analisado é a sobretensão provocada pela interrupção
de corrente de um curto-circuito trifásico que ocorre a curta distância do disjuntor (defeito
quilométrico). Uma observação importante nessa simulação se refere à forma serrilhada da
onda de tensão nos terminais do disjuntor. Os dados são os seguintes:
▪ Um = 187,8 kV,  = - 90o (tensão de pico e ângulo de fase da tensão da fonte).
▪ R1 = 0,28 Ω, L = 19,5 mH (resistência e indutância do sistema alimentador).
▪ C1 = 8 µF (capacitância distribuída da seção 1 do sistema).
▪ R2 = 0, 06 Ω, L2 = 1,59 mH (resistência e indutância do trecho de linha).
▪ C2 = 24 nF (capacitância distribuída do trecho de linha).
▪ Tempo transcorrido para a abertura do disjuntor: 0,02 ms.
▪ Tempo total de simulação: 20 ms.

3. O circuito da Fig. 3 ilustra o processo de energização de uma linha de 230 kV e 100 km de


comprimento, a qual é solicitada por uma sobretensão causada por energização realizada
mediante chaveamento do disjuntor no lado de baixa tensão do transformador de 100 MVA,
110
Chagas – DEE/UFCG

69/230 kV, o qual é do tipo núcleo de três colunas, com o primário ligado em delta e o
secundário em estrela com neutro solidamente aterrado, com núcleo magnético linear
(representado sem saturação). Os dados são os seguintes:
▪ U = 69 kV,  = 0o (tensão RMS fase-fase e ângulo de fase da tensão da fonte).
▪ RT = 0,18 Ω, XT = j 2,64 Ω (resistência e reatância do sistema alimentador).
▪ R1 = 0,098 Ω/km, X1 = 0,510 Ω/km, Y1 = 3,252 µS/km (resistência, reatância e admitância de
sequência positiva da linha, por km).
▪ R0 = 0,532 Ω/km, X0 = 1,541 Ω/km, Y0 = 2,293 µS/km (resistência, reatância e admitância de
sequência zero da linha, por km).
▪ Rpri = 0,01523 pu, Lp = 0,1977 pu (resistência e indutância do primário do transformador).
▪ Rsec = 0,00508 pu, Ls = 0,0659 pu (resistência e indutância do secundário do transformador).
▪ Rm = 636,7 pu (resistência de perdas no núcleo de ferro do transformador).
▪ Lm = 1,77 pu (indutância de magnetização).
▪ L0 = 0,5 pu (indutância de sequência zero do transformador).
▪ ts = 16,67 ms (tempo de abertura do disjuntor, Ron = 0,01 Ω, Rs = ∞, Cs = 0).
▪ Tempo total de simulação: 0,3 s.

4. Repetir a simulação 3, considerando ainda o transformador linear, e agora, o modelo de linha


trifásica em pi, de parâmetros concentrados, existente no Simscape.

5. Repetir a simulação 3, considerando a linha de parâmetros distribuídos e, agora, o


transformador não linear, cuja curva de saturação é descrita pelas coordenadas fornecidas a
seguir (corrente excitação de pico – fluxo de enlace de pico), em (pu).
[ 0, 0; 0.0739, 0.1309; 0.0983, 0.1964; 0.1205, 0.2618; 0.1405, 0.3273; 0.1597, 0.3928;
0.1767, 0.4582; 0.1938, 0.5237; 0.2093, 0.5891; 0.2248, 0.6546; 0.2404, 0.7200; 0,2589,
0.7855; 0.2885, 0.8510; 0.3395, 0.9164; 0.4282, 0.9819; 0.6177, 1.0473; 1.1673, 1.1128;
3.5766, 1.1783; 7.5889, 1.2110 ]

6. Repetir a simulação 5, considerando ainda o transformador não linear e, agora, o modelo de


linha trifásica em pi, de parâmetros concentrados, existente no Simscape.

7. No circuito da Fig. 4 é mostrado um trecho de 300 m de comprimento de uma linha de


distribuição de 75 kVA, 13,8 kV/220 V, no extremo receptor da qual acha se instalado um
transformador trifásico ligado em delta-estrela com neutro aterrado e com secundário em
vazio. É suposta a abertura da fase a, o que ocasiona o fenômeno de ferroressonância. O

111
Chagas – DEE/UFCG

sistema alimentador de 13,8 kV possui potência de curto-circuito de 800 MVA e relação X/R
(reatância/resistência) igual a 7. Os dados são os seguintes:
▪ R1 = 0,6726 Ω/km, X1 = 0,1793 Ω/km, C1 = 0,224e-6 µF/km (resistência, reatância e
capacitância de sequência positiva da linha, por km).
▪ R0 = 1,6793 Ω/km, X0 = 0,6332 Ω/km, C0 = 0,124 µF/km (resistência, reatância e capacitância
de sequência zero da linha, por km).
▪ Rpri = 59.417 Ω, Lpri = 0,31673 H (resistência e indutância do primário do transformador).
▪ Rsec = 0,005 Ω, Lsec = 2,68 x 10-5 H (resistência e indutância do secundário do transformador).
▪ Rm = 2 x 106 Ω (resistência de perdas no núcleo).
▪ L0 = 10,103 H (indutância de sequência zero do transformador).
▪ Conjunto de ordenadas da curva de magnetização linear, em termos de valores de pico de
corrente e fluxo, expressas em A e V.s, respectivamente: [ 0, 0; 0.0038199, 36.29; 0.01515,
41.93; 0.029709, 46.95; 0.0589, 51.918; 0.11395, 56.94; 0.2374, 62.588 ].
▪ ts = 33,33 ms, (tempo de abertura do disjuntor, Ron = 0,01 Ω, Rs = ∞, Cs = 0).
▪ Tempo total de simulação: 0,3 s.

8. Repetir a simulação do item anterior, considerando agora a abertura das fases a e b.

9. O circuito da Fig. 5 refere-se ao exemplo do item 5.6. O mesmo trata de uma situação de
ferroressonância ocasionada pela abertura de um disjuntor próximo a três transformadores
de potencial indutivos de 75 VA, 230/√3 kV / 115 V, ligados em estrela/estrela, com neutros
aterrados, numa subestação de 230 kV. Neste caso, é possível obter resultados realísticos
mediante representação por um circuito monofásico equivalente. Os dados são os seguintes:
▪ Um = 187,8 kV,  = - 90o (tensão de pico e ângulo de fase da tensão do sistema alimentador).
▪ R = 0,115 Ω, L = 8,75 mH (resistência e indutância do sistema alimentador).
▪ C1 = 1,2 nF (capacitância de equalização equivalente do disjuntor).
▪ C2 = 3,5 nF (capacitância distribuída total do sistema).
▪ Rpri = 6920,4 Ω, Lp  0 (resistência e indutância do enrolamento primário do TPI).
▪ Rsec = 5,77 Ω, Ls =  0 (resistência e indutância do enrolamento secundário do TPI).
▪ R2 = 163,2 Ω, L2 = 0,268 H (resistência e indutância da carga no secundário do TPI).
▪ Conjunto de ordenadas da curva de saturação do TPI, em termos de valores de pico de
corrente e fluxo, expressos em A e V.s, respectivamente: [0, 0; 0.02, 500; 0.05, 590; 0.1, 650;
0.18, 680; 0.3, 700; 0.6, 728; 1, 745; 1.5, 760; 2, 770; 3, 785; 4, 798; 6, 815; 10, 835; 20, 863].
▪ Resistência de perdas no núcleo Rm = 157 x 106 Ω.
112
Chagas – DEE/UFCG

▪ ts = 33,33 ms, (tempo de abertura do disjuntor, Ron = 0,01 Ω, Rs = ∞, Cs = 0)


▪ Tempo total de simulação: 0,4 s.

Figuras relacionadas às simulações

Fig. 1

Fig. 2

Fig. 3
113
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4

Fig. 5

114

Você também pode gostar