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Economia
Política II
Bibliografia:
NUNES, António José Avelãs, Economia Política – A Produção – Mercados e Preços, Coimbra
NUNES, António José Avelãs, Sistemas Económicos, Coimbra
Os bens podem ser obtidos de diversas formas: ou através da apropriação de coisas que, embora
escassas, a natureza espontaneamente oferece, ou através da produção. Porém, os próprios bens que a
natureza ofereceu já não são permutados hoje no seu estado primitivo, sendo bens parcialmente produzidos.
Este conceito de produção, prende-se com a criação de bens, isto é, de coisas úteis. Se admitirmos,
porém, que o que interessa não é a qualidade das coisas, mas a sua utilidade, produção pode ser entendida
como criação de utilidades.
Bens são objetos do mundo externo que servem para satisfazer necessidades. Podem ser de várias
espécies, podendo, porém, ser repartidos em classes homogéneas pondo em destaque as suas principais
características que tenham particular relevância económica.
Bem Material: São os que têm realidade física, que são coisas corpóreas, isto é, objetos do mundo
sensível. Ex: lápis.
Bem Imaterial: Ações dos homens que satisfazem imediatamente necessidades de outros homens.
Também chamados de serviços. Não têm, de facto, qualquer realidade física ou material.
Bens indiretos ou instrumentais: Bens utilizados na obtenção de outros bens. Não são aplicados
diretamente para satisfazer as nossas necessidades de consumo, sendo um mero instrumento para a
obtenção/produção de outros bens. Os bens que servem para produzir outros bens são os bens de produção.
Bens diretos ou de consumo: Bens que não se utilizam para a obtenção de alguma coisa, mas que se
destinam, eles mesmos, a satisfazer as nossas necessidades de consumo. São, portanto, bens que
satisfazem diretamente as necessidades dos consumidores.
Esta distinção é meramente funcional, pois agrupa os bens segundo o uso que deles se faz. Assim,
certos bens podem funcionar simultaneamente como bens diretos ou indiretos.
Bens Duradouros: Os bens que não desaparecem como bens da sua espécie pelo facto da sua
utilização, podendo ser utilizados, como bens de consumo ou como bens de produção durante um período de
tempo mais ou menos longo.
Bens Consumíveis: São aqueles que desaparecem, como bens da mesma espécie, em resultado de uma
única utilização.
Alguns bens indiretos ou diretos são oferecidos pela natureza sob a forma de matérias primas ou
matérias subsidiárias.
Matérias-primas: São bens que, não tendo sofrido qualquer transformação por parte do homem, se
destinam, todavia, a ulteriores transformações.
Matérias Subsidiárias: São bens que, podendo ser utilizados tal como a natureza no-los apresenta, não
se destina m a ser transformados, mas apenas a ajudar à transformação de outros bens.
Bem Final: São aqueles que já sofreram todo o processo produtivo que lhes estava adstrito. Todos os
bens de consumo são, por regra, finais. Já com os de produção não se verifica o mesmo.
Subprodutos: Restos ou resíduos da transformação.
Bens substituíveis / Bens substitutos/ Bens Rivais: Bens que, na satisfação de uma determinada
necessidade ou no decurso do processo produtivo, se podem utilizar como alternativos.
Quando o nível de satisfação proporcionada é igual: Bens fungíveis.
Quando o nível de satisfação proporcionada é inferior, não satisfazendo tão completamente as
necessidades como os bens substituídos: Bens Sucedâneos. Estes bens são muito importantes
pois eles são como que uma defesa do consumidor, permitindo atenuar em certa medida os
efeitos de uma alta de preços ou a carência de certos produtos.
Bens Complementares: São aqueles que só satisfazem as necessidades quando associados a outros.
Esta é muito importante, pois quando aumenta o consumo de um dos bens complementares, aumenta o
consumo do outro.
2. Elementos de produção
Os bens são total ou parcialmente produzidos, sendo que um homem não pode produzir bens sem se
servir de outros bens.
Para produzir determinado bem, são necessários vários recursos oferecidos pela natureza que o trabalho
humano vai ajudar a transformar. Porém, para esta transformação é necessário um conjunto de objetos que
não são bens dados pela natureza, nem são esforço do homem. Estes resultam do esforço do homem
exercido sobre a natureza ou combinado com ela, dando origem ao capital. São estes os três elementos da
produção: natureza, capital e trabalho.
Outros autores ainda falam de outros fatores de produção como o risco e a incerteza (Fazem parte da
atividade do empresário, mas não devem ser vistos como elementos de produção.), as instituições sociais
(condicionam a produção, mas não devem ser considerados como elementos de produção, da mesma
natureza que o trabalho ou o capital) e a organização ou capacidade organizativa (Defendida por Marshall
deve ser incluída no trabalho, como trabalho de direção.).
Até a própria natureza não se encontra no seu estado puro devido às sucessivas transformações do
homem, podendo hoje referir-se a natureza como algo que o homem produziu. Assim, entende-se a natureza
como uma condição geral para a atividade produtiva, um fator que favorece/complica a atividade produtiva,
mas não um fator de produção como o trabalho ou o capital.
2.1. O Trabalho
2.1.1. Suas espécies. A produtividade e a organização do trabalho.
Trabalho é todo o esforço do Homem destinado à produção. É, assim, um esforço que se desenvolve
consciente e ordenadamente, com vista à obtenção de um resultado, objetivo que justifica se aceite o
esforço despendido e a própria disciplina do trabalho organizado implica.
Há várias formas de esforço:
Trabalho de execução: Tarefas simples, realizadas sob direção alheia. Não se confunde com
o trabalho manual (este último caraterizado por exigir, essencialmente, esforço físico.)
Trabalho de administração/direção: Coordenação e orientação das atividades de outros
trabalhadores. Este é inseparável das formas coletivas de trabalho.
Trabalho de invenção: Qualquer descoberta útil – um bem, propriedades de um bem, novo
processo produtivo, etc…
Carácter penoso do trabalho: Quando as pessoas trabalham unicamente para viver, ou seja, para
ganharem a sua subsistência. A fadiga e o constrangimento não lhes permitem trabalhar por prazer. Marx
defende que este caráter penoso do trabalho só terminará numa “fase superior da sociedade comunista (…)
quando o trabalho não for apenas um meio para viver, mas for, em si mesmo, a primeira necessidade vital.
(…)[É necessário que] o trabalho produtivo, em vez de ser um meio de escravização, seja um meio de
libertação dos homens.”. Para tal é necessário que o trabalho tenha um carácter social e científico. E a
condição essencial deste desenvolvimento é a redução da jornada de trabalho.
B
A
C D
Desde o século XIX que a jornada de trabalho tem vindo a diminuir por questões de evolução
tecnológica, convenções coletivas do trabalho e até outras questões de higiene no trabalho. Considera-se
mesmo que esta redução é necessária para garantir a criação de uma sociedade de consumo e como saída
para os problemas de desempego estrutural. Fala-se hoje, em direito a férias pagas e regalias para os
trabalhadores como forma de recuperar a capacidade de trabalho.
Taylorismo:
Criado por Frederick Taylor no séc. XIX. Este acreditava que a origem da riqueza é o trabalho e só o
aumento da produtividade levaria a uma cumulação do capital.
Consiste na supressão dos movimentos dos trabalhadores que são inúteis para procurar a
maximização dos resultados. Assenta na parcelização do processo produtivo em um número mais ou
menos grande de movimentos simples e uniformes.
Desvantagens: monotonia e cansaço dos operários, automatização das funções humanas no
processo produtivo, aumento brutal da intensidade de trabalho, redução de salários, desvalorização da
qualificação técnica,etc…
Fordismo:
Criado por Henri Ford, durante um período de monopolização das economias capitalistas e
massificação da produção de bens de consumo duradouros.
Procura a produção em grandes séries que exigia a estandardização. Este era o objetivo das normas
de qualidade, da unificação da dimensão de produtos e das tolerâncias dos componentes.
Os trabalhadores eram vistos como consumidores, sujos salários deviam ser utilizados na compra de
bens de consumo.
Truck system: Pagamento em espécie, isto é, em produtos cujo preço era determinado arbitrariamente
pelo patrão, que utilizava ainda muitas vezes em seu favor a prática de deteriorar a qualidade dos produtos
com que pagava aos trabalhadores.
Salário à peça ou à tarefa: O trabalhador recebe, mais ou menos, consoante a quantidade de bens por
ele produzidos. Procura aumentar a produtividade. Permite iludir a legislação social ao defender a duração do
trabalho, mas não a sua intensidade. Este sistema é enganador, já que a definição dos salários é feita
através da produtividade média.
Salário ao Tempo: Toma-se por base o tempo de trabalho, fixa-se um salário-hora e os trabalhadores
recebem anual, quinzenal ou mensalmente, em função do número de horas de trabalho. Pode ser
compensado com prémios de salário.
População ativa: Conjunto de indivíduos que constituem mão-de-obra disponível para a produção de bens e
serviços económicos.
Critérios de análise: Critério do Sexo e Critério da Atividade profissional (Setor primário, secundário e
terciário. – Deslocação dos trabalhadores do setor primário e secundário para o terciário).
População não-ativa: Conjunto de indivíduos que, de um modo geral, não exercem uma atividade
remunerada.
Taxa de atividade: Relação entre a população ativa e a população total (número de pessoas ativas por cada
cem pessoas da população total). Depende da estrutura etária da população, da idade média da entrada no
mercado de trabalho, duração da escolaridade, idade de aposentação, etc…
População Ótima: A população que, com o estoque de terra, capital e conhecimentos existente, permite obter
a produção máxima per capita. Não é um conceito estático já que o desenvolvimento tecnológico e o estoque
de capital estão sujeitos a alterações constantes.
2.3. O Capital
2.3.1. Noção
A palavra capital pode ter vários sentidos, mas vamos trata-la como elemento de produção. A noção
teórica de capital como elemento da produção começou a elaborar-se com a categoria dos “avances” de
Cantillon. Assim o capital era entendido (por Adam Smith e outros autores) como fundo de bens, em stock.
Mas tal stock não abrangia todos os bens existentes em um dado momento. Excluíam-se, assim, os bens já
existentes como recursos naturais e os bens de consumo.
David Ricardo: Capital é a parte da riqueza de um país que se utiliza na produção e que consiste em
alimentos, vestuário, ferramentas (…) necessário para realizar o trabalho.
Marx: Capital Constante (A parte do capital convertida em matérias primas, materiais auxiliares e meios
de trabalho não altera a grandeza do seu valor no processo de produção.) e Capital Variável (A parte do
capital investida em força de trabalho muda o seu próprio valor de produção. Transforma-se, assim, uma
grandeza constante em grandeza variável.) Marx considera que os instrumentos de produção não são, em si,
capital. O capital são os equipamentos que são apropriados por uma classe exploradora e que os utiliza para
explorar o trabalho assalariado de forma a apropriar-se depois da mais-valia.
No curso, tratamos da definição de capital como o conjunto de bens de produção produzidos que existem
numa economia num determinado momento. Associamos esta definição ao conceito de capital produtivo. Por
outras palavras, este assume-se como o conjunto de bens de produção produzidos. Esta teoria é defendida
por Böhm Bawerk. Os bens produzidos que se destinam a uma produção ulterior são chamados de bens
capitais. [Exemplo do Homem da Cabana de Bawerk]. Conclui-se que os bens capitais resultam de desvios
introduzidos na produção de bens diretos. Um dos aspetos deste processo indireto de produção e o aumento
do rendimento de trabalho após um necessário alongamento do processo produtivo marcado por uma ideia
de abstinência.
A sociedade não substitui todos os processos diretos de produção por processos indiretos já que o
interesse em fazer tal coisa é anulado pela desvantagem inicial de se ter renunciado aos bens de consumo
imediato ao desviarem-se recursos da produção atual para utilizações que só dão rendimentos algum tempo
mais tarde.
Para se verificar a criação de capital e a sua acumulação é necessário haver aforro e poupança,
renunciando-se ao consumo imediato. Considera-se que nas sociedades progressivas, sacrifica-se uma parte
do consumo atual a favor da formação líquida do capital, com vista a aumentar a produção futura.
Assim, pode-se dizer que a condição necessária para a produção de bens capitais é o aforro de bens
diretos. O aforro é a parte do rendimento líquido que não se destina ao consumo corrente. Fala-se ainda de
investimento que se traduz na aplicação do aforro à produção de bens capitais. O aforro pode ser real ou
monetário.
Distingue-se ainda, aforo voluntário e aforro forçado. Este aforro forçado verifica-se em três casos
distintos:
Na constituição de reservas de sociedades comerciais. Se uma assembleia geral de uma sociedade
anónima decidir constituir reservas, os sócios que não tenham concordado com esta reserva, têm de
renunciar na mesma a parte dos lucros e são obrigados a forrá-los através da sociedade.
No pagamento de impostos. Os contribuintes têm de renunciar à utilização do seu rendimento que
entregam ao estado a título de impostos.
Sempre que se verifica inflação (Fenómeno monetário resultante do aumento de quantidade de
moeda em circulação a um ritmo superior ao do aumento da produção.) A inflação significa a subida
dos preços e não a subida dos preços de todos os bens e serviços. Assim, nem todos os preços
sobem, nem sobem na mesma proporção. Os vendedores das mercadorias cujos preços não sobem
sofrem de aforro forçado porque o rendimento que recebem representa um poder de compra menor,
tendo de sacrificar parte do consumo que faziam antes. Ex: trabalhadores por conta de outrem cujos
salários não sobem ou sobem menos que a inflação.
Qualquer aforro pode ser posto de lado como reserva de bens, para utilização futura, ou pode ser
empregado na produção de bens capitais, pelo próprio aforrador ou outrem. O aforro pode destinar-se,
assim: para o entesouramento (conservação do dinheiro em saldos líquidos) ou para o investimento
(utilização do dinheiro poupado na produção de bens capitais.)
É importante entender as diferenças da lógica do aforro e do investimento nas sociedades capitalistas e
socialistas, sendo que o que se pretende demonstrar quanto as relações sociais por detrás do aforro e do
investimento é mais nítido nos países onde uma grande maioria de pobres tem de sacrificar o seu consumo
para que uma elite de ricos possa aforrar e investir, criando riqueza que só mais tarde será distribuída
(Sociedades capitalistas). Já nas sociedades socialistas, podemos falar do exemplo de Robinson Crusoe, já
que, graças à propriedade coletiva dos meios de produção e à planificação da economia, cabe à mesma
entidade a qualidade de consumidor ou aforrador.
Pode, ainda, referir-se o surgimento de um capital lucrativo – bem que dá ao seu possuidor rendimento
sem trabalho. Ex: juros e rendas.
A produção também pode ser organizada por quem não seja dono de todos os elementos produtivos.
Assim, estamos perante um produtor que não possui todos os elementos produtivos (podendo, em casos
extremos, não possuir nenhum). Já não é um produtor autónomo, pois a sua produção já depende do
concurso de elementos alheios. Temos o caso da empresa e a quem toma a iniciativa de reunir os elementos
produtivos que não são todos seus – o empresário. Na generalidade dos casos, é o empresário que é dono
de parte do dinheiro com que adquire os bens capitais.
Principais diferenças:
Uma empresa (isto é, uma unidade de produção organizada por quem não é dono de todos os elementos
produtivos) que apresenta várias características especifica:
Combinação dos elementos produtivos em ordem aos preços da sua utilização. Na verdade, esta
combina os preços da força de trabalho (salários), da natureza (rendas) e do dinheiro (juros),
ambicionando a combinação económica, em termos de preços.
Produção para o mercado. Trabalha para satisfazer a procura de um mercado, e não para
autoconsumo.
Recurso substancial ao trabalho assalariado de outem.
Assim, empresa capitalista é a empresa que procede à combinação económica dos elementos de
produção, labora para o mercado e utiliza sobretudo a mão-de-obra assalariada.
O empresário não distingue os elementos de produção pelas suas características próprias, mas pelos
seus preços. A empresa capitalista considera o capital ´valor monetário dos bens destinados à produção, e
que correspondem ao dinheiro com que os adquiriu, ou se propõe adquiri-los, mais o dinheiro com que teria
de comprar os bens fornecidos pelo próprio empresário.
Capital da empresa é o capital, enquanto dinheiro, gasto ou por gastar, ou ficticiamente gasto. Surge
sob a forma de capital lucrativo, porque é dinheiro que permite rendimentos sem trabalho.
Capital fixo: valor monetário dos bens que entrem em vários atos da produção. [Bens duradouros]
Capital circulante: valor monetário dos bens que se consomem num único ato de produção. [Bens
Consumíveis] Este capital é circulante porque de fato circula ao seu utlizado para a obtenção de matérias-
primas, força de trabalho, mas o seu valor transfere-se integralmente para o valor do produto obtido pela
empresa.
Tal não acontece com o capital fixo, já que o seu valor não transita integralmente para o valor de
cada produto, mas sim, por parcelas/frações. Isso é a amortização.
A amortização é necessária para reconstruir os capitais fixos, já que esses bens, apesar de
duradouros, vão sofrendo degradações que lhes diminuem o seu valor. É a realização do valor perdido pelos
bens duradouros da empresa que constitui a amortização dos capitais fixos. Como calcular a amortização?
1) Calcula-se a duração da máquina, isto é, o número de anos que esta presumivelmente estará em
laboração. Número de anos cujo máximo é a vida física, mas que tende a ser mais baixo, já que
a duração física excede normalmente a duração económica. À empresa só interessa a duração
económica.
2) Esta duração económica traduz-se no período durante o qual se julgue que a máquina esteja em
condições de laborar em concorrência com as máquinas das outras empresas.
3) Se a máquina vale 1000 euros e dura economicamente dez nos, correspondem 100 euros a cada
ano. Estes 100 euros são distribuídos pela produção total da máquina nesse ano.
A amortização é, de certa forma, arbitrária, assentando numa previsão muito incerta. Tende-se a
calcular a amortização por defeito, o que leva a que se transfira para o valor das mercadorias produzidas em
cada ano uma quota maior de capital fixo, aumentando o custo de produção.
3 Grandezas fundamentais:
Produção: Pode ser uma grandeza física (conjunto de bens produzidos) ou monetária (valor da produção
social/ nacional)
Despesa: Valor de todas as despesas feitas nma determinada economia num determinado período de
tempo.
Rendimento: É o valor acumulado pelas famílias ao longo de um ano.
Qualquer destas óticas levará sempre ao mesmo resultado, já que se fala num equilíbrio do sistema
derivado da equivalência dos agregados da contabilidade nacional.
Despesa = Produto (Despesa não pode ser maior que o produto)
Despesa = Rendimento (Os particulares gastam o dinheiro que recebem, sem lugar para aforro.)
Rendimento = Produto (Rendimento resulta do produto, tal como o produto – valor dos bens- resulta da
soma dos salários, rendas, juros e lucros, distribuídos na sequência da sua produção.
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2) As empresas podem também, utilizar matérias-primas compradas a outros países. Estas não podem
ser incluídas no PNB do nosso país, mas apenas no do seu país de origem.
Assim, Produto Nacional Bruto é o valor dos bens finais obtidos durante determinado período, menos o
valor dos bens intermédios utilizados nesse período e provindos de períodos anteriores ou importados, e
mais o valor dos bens intermédios produzidos durante o período e existentes no fim dele.
PNB = preço de cada um dos bens finais ou acabados x quantidade produzida durante o período
considerado
Esses bens finais, são bens de consumo ou bens de produção. Para considerarmos os bens de
produção, estes não podem sofrer mais transformações materiais ou económicas, tendo de tratar-se de bens
de produção duradouros. Quando aos bens de produção consumíveis, são necessariamente bens
intermédios.
PNB ao preço de mercado = Valor dos bens finais = valor dos bens finais de consumo + valor dos bens
finais de produção
Alguns autores consideram que não devíamos incluir os bens finais de produção duradouros, já que
ninguém os quer por si mesmos e estes são utilizados para produzir outros bens finais. Este ponto de vista
ganharia mais peso, segundo Ackley, caso ocorressem duas condições:
1) Se a ‘morte económica’ dos bens de capital duradouros existente ocorresse uniformemente ao longo
dos anos.
Esta correspondência é difícil de se verificar. Para anular os efeitos da dupla contagem que se
reconhece nesta grandeza, é necessário deduzir a cada ano, a título de quota de amortização, o
montante correspondente ao desgaste efetivo das máquinas, obtendo-se o produto nacional líquido.
2) Se a produção de novos bens de capital acompanhasse o ritmo da ‘morte económica’ dos bens de
capital em uso e fosse apenas o bastante para substituir os bens de capital fora de uso.
As economias vão produzindo bens de capital duradouros em maior quantidade do que o necessário
para assegurar a substituição do capital que vai ficando fora de uso. Em condições normais, a
capacidade de produção vai aumentando. Só o poderemos saber, se soubermos o montante do
saldo líquido da produção de capitais fixos, isto é, se contabilizarmos a produção de bens finais de
capital no cálculo do produto bruto de cada ano, deduzindo depois a quota anual de amortização,
para obter o produto líquido.
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As amortizações são, porém, a única base para o cálculo do valor dos bens capitais que se esgotaram
durante o período.
Trata-se do desgaste efetivo dos recursos e não de uma amortização contabilística. A relação
capital/produto é a relação entre o valor do capital fixo necessário para produzir, em cada ano, bens de
determinado valor e o valor destes bens, em cada ano. Se o investimento em novo capital fixo aumenta em
termos líquidos, o aumento da produção que dele pode esperar-se será necessariamente maior.
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Rendimento dos habitantes = Soma das grandezas representativas do rendimento produzido num país
- rendimentos produzidos internamente que revertem a favor do estrangeiro
+ rendimentos produzidos no estrangeiro que revertem a favor nacional.
A distinção das grandezas faz-se, não a nível da nacionalidade dos agentes produtivos, mas em termos
de residência.
Mas o valor do produto nacional não se reduz ao valor dos bens finais. Há que ter em atenção o conjunto
de bens intermédios utilizados nesse período e provindos de períodos anteriores (e subtrai-los) e os bens
intermédios produzidos no próprio período e existentes no seu fim ( e somá-los). Esses bens intermédios são
bens de produção consumíveis. E o valor liquido desses bens reflete-se na ótica das despesas, numa
despesa, não de consumo, mas de investimento. É o chamado investimento em estoques/variação das
existências – que são sempre uma grandeza líquida.
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Ao computarmos o valor da produção nacional pela ótica das despesas, chegaremos a uma grandeza
tomada a preços de mercado. Para transformar esse rendimento num rendimento a custos de fatores basta
subtrair os impostos de consumo e somar os subsídios do estado à produção.
No investimento bruto em capital fixo não se deduz as quotas de amortização. Os valores de despesa
nacional correspondem ao PNB. Se lhe somarmos o saldo dos rendimentos com o resto do mundo, obtemos
o produto nacional bruto a preços de mercado.
PN = C + I + Exportações
Quando o consumidor nacional importa, estamos perante despesa nacional a que não corresponde
produto nacional. Assim:
Quanto à estrutura:
Importações:
- Um grande número é função do rendimento, como as importações de bens de consumo, sobretudo os
não duradouros.
- Estabilidade
Exportações:
- Vendas de materiais primários são muito instáveis em volume e preços.
- Grande estabilidade de outras.
- Outras instáveis, consoante as flutuações da atividade económica nos grandes países importadores.
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inverso pode acontecer caso as empresas procurem um aumento da cotação das suas ações na bolsa,
deflacionando as quotas de amortização. Por isso, os economistas usam em regra grandezas em termos
brutos, até porque, por vezes, só estas estão disponíveis.
Mas o PNL tem sempre de ser confrontado com o volume de produção de um país. Por isso, muitas
vezes, se usam os dados do produto per capita ou por família: grandeza que se obtém dividindo o produto
nacional pelo número de habitantes do país. (Ex: China e Suíça)
Os números índices
Segundo Teixeira Ribeiro, são números que exprimem as relações entre dois estados de uma
grandeza susceptivel de variar no tempo. O índice de preços é uma média ponderada de preços, uma
medida do preço médio de um cabaz selecionado de bens e serviços. O cálculo de um índice de preços seria
fácil se todos os preços variassem de acordo com a mesma percentagem. O problema complica-se quando o
preço de alguns bens sobe e o de outros baixa, podendo gerar-se uma ilusão monetária que supõe constante
o valor da moeda.
É necessária uma espécie de média das variações dos preços de vários bens, sendo cada um
ponderado de acordo com a sua importância económica aproximada. Os principais índices de preços para
medir a inflação são: o deflator de PNB; o índice de preços no produtor; o índice de preços no consumidor.
- Deflator de PNB
PNB nominal: medir o PNB para um ano em particular usando preços de mercado correntes desse
ano.
PNB Real: mede o PNB num conjunto de preços constantes e invariáveis, dividindo o PNB nominal
por um deflator de PNB (média ponderada dos preços de todas as mercadorias cujo valor constitui o PNB,
sendo o peso de cada mercadoria igual à percentagem da sua importância total no PNB.)
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amostra das famílias; acompanhamento da evolução dos preços de um número suficientemente elevado de
bens e serviços; análise correta da estrutura das despesas de unidades de consumo; ponderação dos pesos
relativos dos vários bens e serviços na despesa total das unidades de consumo.
Mesmo para um índice bem elabora, há certas vicissitudes: refere-se à família média (o que pode
não coincidir com a família concreta); a alteração do nível de rendimentos e das modas provoca alterações
no padrão das despesas de consumo das famílias; A mesma exigência resulta de inovações tecnológicas
que levam a novas despesas e anulam outras; etc…
Este índice é muito utilizado no nosso país, sendo muito utilizado pelo INE e pelo Banco de Portugal
nas análises feitas à inflação.
7.2.5. Dificuldades de comparação dos níveis de bem-estar dos vários países através do PNL
A dificuldade que provém da necessidade de exprimir os valores calculados nas moedas
nacionais em uma única moeda através da taxas de câmbio. [Processos de correção: criar um
cabaz de compras internacionais ou criar um único sistema de preços]
Ligações entre outros indicadores não monetários e os agregados das contas nacionais.
Comparação dos níveis de bem-estar dos vários países com base no PNL per capita pode
induzir em erro por outras razões:
(a) Veja-se um país em que o PNL per capita atinge certo nível porque se produzem bens
de consumo duradouros para uma pequena minoria. Estes bens necessitam de
atividades económicas, aumentando o PNL global. Mas a poluição gerada pelas
indústrias desse país pode exigir a produção de dispendiosos equipamentos que
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aumentam, ainda mais, o PNL global. Não podemos dizer que o bem-estar destas
populações é maior que o de um país com um PNL mais baixo, porque neste último não
são precisos desses bens, já que o desenvolvimento não lhes provocou as
‘deseconomias’ que eles visam compensar.
(b) Nos países do Terceiro Mundo, pode dar-se o caso de o crescimento gerar
‘deseconomias’ que não são compensadas porque se trata de países pobres ou
dominados. Tais ‘deseconomias’ podem dever-se à poluição, esgotamento dos solos,
repressão politica, etc… Se países nestas condições tiverem um PNL per capita
semelhante ao de outros países onde não se verificam estas ‘deseconomias’, nunca
podemos achar idêntico o bem-estar destas populações.
(c) Acrescem ainda as diferenças entre países capitalistas e socialistas.
Externalidade: Uma atividade que influencia terceiros, positiva ou negativamente, sem que esses terceiros
tenham de pagar ou ser indemnizados por essa atividade. (Ex: Poluição)
Se for uma influência positiva, os benefícios sociais têm de ser superiores aos custos privados. – Economias
Externas – Caso de viver perto de uma esquadra
Se for uma influência negativa, os custos sociais ultrapassam os custos privados. – Deseconomias Externas
– Viver ao pé de uma fábrica poluidora.
2. Mercados e Preços
1
+ Preço / - Procura
- Preço / + Procura
+ Preço / + Oferta
- Preço / - Oferta
1
Há casos em que o aumento do preço, pode levar a um aumento da procura, mas tal é muito
excecional, por exemplo, quando se encaminham produtos para o mercado dos produtos de luxo.
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+ procura / + preço
- procura / - preço
+ oferta / - preço
- oferta / + preço
2. A Procura
Procura é a quantidade que os compradores estão dispostos a adquirir aos vários preços possíveis, ao
longo de um certo período de tempo. Há uma relação funcional entre a procura e o preço: o preço é a
variável ativa e a procura a variável passiva.
Mas as quantidades procuradas não variam só em torno do preço. Vejamos outros casos importantes: as
necessidades, os rendimentos, os preços de outros bens, a expetativa acerca da evolução futura dos preços
e o preço dela própria. Este último pode variar mais rapidamente e exercer mais influência em curto prazo.
As necessidades, os rendimentos e o nível dos preços são variáveis, à partida, constantes, sendo
chamadas de parâmetros da função-procura.
Diz-se que a lei da procura é uma falsa verdade, já que as quantidades procuráveis variam no sentido
inverso do preço (mas nem sempre isso acontece).
Mas porque a quantidade que eu procuro tende a descer à medida que o preço sobe?
Efeito Substituição: Quando o preço sobe, tendo, naturalmente, a substituir esse bem por outro.
(que podem ser bens fungíveis/ sucedâneos próximos ou afastados.]
Efeito Rendimento: Quando o preço sobe, fico efetivamente mais pobre do que antes dessa
subida, reduzindo o meu consumo de bens correntes quando sinto que estou mais pobre (e
tenho menos poder de compra) ou que o meu rendimento real é menor.
Efeito Volume de Produção: É uma espécie de efeito de rendimento para a procura de capital. Se
os salários subissem, os custos de produção subiriam, aumentando o preço dos produtos. Isso
conduz a uma menor procura, o que leva a uma menor produção e menos oferta de emprego.
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A – Representa uma curva da procura absolutamente inelástica, uma linha vertical, já que as quantidades
procuradas são absolutamente insensíveis às variações do preço do bem em causa.
B – Representa uma curva da procura de elasticidade perfeita, uma linha horizontal, já que, ao preço corrente
do mercado, se procuram quaisquer quantidades do bem em causa. (ao preço dado, D= )
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C – Representa uma curva de elasticidade igual a um, uma curva perfeita, já que a receita total será sempre
constante ao longo da curva DD. Verifica-se uma hipérbole retangular.
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elasticidade-rendimento da procura negativa. Diz-se que esta é igual a zero quando a quantidade procurada
não varia, qualquer que seja a variação do rendimento.
a) Os bens de primeira necessidade são, em regra, objetos de uma procura cuja elasticidade-
rendimento é negativa, isto é, inferior a um. Com o aumento dos rendimentos, tende a diminuir a
despesa em bens de primeira necessidade no conjunto da despesa total das famílias enquanto
unidades de consumo.
b) Os bens de luxo, são, em regra, objetos de uma procura cuja elasticidade rendimento é positiva,
isto é, superior a um. Verificada a condição coeteris paribus, a quantidade procurada destes bens
tende a aumentar com o aumento do rendimento.
A curva acima estudada reporta-se à indústria que fornece esse produto, dizendo-nos quais as diferentes
quantidades desse produto que poderão ser vendidas no mercado aos vários preços suscetiveis de ser
praticados. Mas os vendedores preocupam-se com a curva da procura no que toca à sua empresa, isto é,
aquela que lhes mostra a produção que ele venderá a cada preço no mercado.
Assim, a curva da procura à empresa reflete as deslocações da procura de um vendedor para outro no
seio da indústria. Depende, imenso, das relações de concorrência.
A curva da procura à empresa é comandada pelas características da curva da procura à indústria que
podem ser reduzidas a quatro fundamentais.
a) O número de vendedores que pertencem à indústria, determinando a medida em que os vendedores
individuais podem influenciar o comportamento global da indústria e dos seus rivais.
b) A diferenciação do produto no seio da indústria, determinando em que medida a empresa goza de
uma certa independência na fixação do preço do seu produto.
c) O grau de concentração da produção entre os vendedores.
d) O número de compradores que se dirigem à indústria.
A curva da procura à empresa não é mais que uma curva de vendas da empresa e a sua curva de recita
média.
1- Curva de Receita total mostra o montante das receitas da empresa a diversos níveis das suas
vendas.
2- Curva da receita média deduz-se da curva precedente, indicando a receita por unidade de produto ou
o preço da unidade de produto.
3- Curva da receita marginal mostra a adição à receita total proveniente da venda de uma unidade
suplementar do produto.
3. Oferta
3.1. A noção de oferta e da curva da oferta
Podemos, também aqui, distinguir oferta da empresa e oferta da indústria. O interesse de cada
vendedor em vender pode representar-se por um quadro que indique as quantidades que ele está disposto a
vender a vários preços possíveis – é a escala da oferta. Também aqui podemos apelar ao efeito-substituição
e ao efeito-rendimento para tentar explicar o comportamento da oferta.
Assim, o que explica a curva da lei da oferta será o bom senso, alguns raciocínios marginalistas e o
efeito-substituição e efeito-rendimento. Quanto ao efeito-substituição estamos a referir-nos a uma estocagem
de produtos, substituindo-se os produtos à venda por outros armazenados. Quanto ao efeito-rendimento
justifica alguns casos excecionais, havendo casos em que o preço baixa e a oferta sobe pela necessidade,
p.e. de certo montante de rendimentos. Geralmente, é o efeito-substituição que tem maior influência.
A escala da oferta pode representar-se por uma curva da oferta orientada de baixo para cima e da
esquerda para a direita. A oferta global no mercado exprime a vontade de vender de todos os participantes
nesse mercado. Representa-se por uma curva da oferta no mesmo sentido que a precedente. A curva da
21
oferta mostra a relação entre o preço de uma mercadoria e a quantidade de mercadoria que a indústria está
disposta a vender no mercado, claro está, em condições coeteris paribus, variando a oferta no mesmo
sentido dos preços.
Em certas situações, a oferta varia em sentido inverso ao dos preços, podendo falar-se de um efeito-
rendimento negativo que se exprime através de uma curva da oferta atípica. Esta situação pode verificar-se
em situações em que a oferta apresenta, para o vendedor, caráter de primeira necessidade. Esta situação
também se pode verificar no mercado de trabalho, sendo a força de trabalho a única fonte de rendimento
daqueles que a vendem. Esta situação traduz-se numa diminuição da oferta quando o preço do salário
aumenta.
A noção e o traçado da curva da oferta (que indica as quantidades de um produto que os vendedores
estão dispostos a lançar no mercado aos vários preços possíveis) pressupõe certas condições:
a) Os custos de produção são dados: se diminuíssem, os produtores aceitariam oferecer as mesmas
quantidades que anteriormente a preços mais baixos ou oferecer mais aos preços praticados.
b) Os preços dos substitutos do produto são dados.
c) Uma determinada variação do preço é considerada como a única possível pelos produtores.
Quando não se verifica a condição coeteris paribus, as variáveis consequentes da oferta traduzem-se
numa deslocação da curva da oferta: se se deslocar para baixo e para a direita estamos perante novas
condições de mercado em que os vendedores estão dispostos a vender mais quantidades do bem a cada um
dos preços possíveis; se se desloca para cima e para a esquerda, estamos perante condições de mercado
em que os vendedores só aceitam vender, a cada um dos preços possíveis, quantidades inferiores ás que
estariam dispostos a vender.
Há vários casos excecionais de oferta infinitamente elástica (quando ao preço dado, os vendedores
dispõem-se a oferecer quaisquer quantidades ou a oferta totalmente ou absolutamente rígida quando a
variação do preço deixa a oferta insensível.
22
A elasticidade da oferta tende a ser mais elevada consoante vamos avançando para cada período.
23
economias internas de escala: maior especialização da mão-de-obra, melhor utilização do capital técnico. A
elevação dos custos posteriormente verificada deve-se às deseconomias de direção e administração.
A baixa do custo total médio, numa primeira fase, deve-se ao fato de a empresa só poder utilizar os
elementos da produção indivisíveis ou em grandes unidades no caso de a produção ser suficientemente
importante para permitir a plena utilização desses fatores. Numa fase posterior, o custo total médio eleva-se
na razão do aumento dos custos de direção e administração da empresa, já que a dimensão das suas
operações cresce.
Podem repartir-se os bens pelos mecanismos do preço, já que este consiste numa quantidade de
moeda que cada um dispõe de forma limitada. Fica limitada pelo preço a procura de bens que cada um fará.
Os bens serão distribuídos por quem pagar mais preço por eles. Assim, o mecanismo do preço não
assegura uma repartição conforme necessidades, mas de acordo com o poder de compra de cada um.
O preço forma-se no mercado e são duas as forças que o integram: a procura e a oferta. A procura
varia no sentido inverso ao do preço (lei da procura) e a oferta varia no mesmo sentido que o preço (lei da
oferta). A lei dos preços diz-nos como se forma o preço no mercado em função das variações na oferta e na
procura.
24
Mas, como situação de equilíbrio de mercado, significa que ele é o único par de situações que entre
si se pode conjugar, dando lugar a uma posição realizada, efetiva, de entre todas as possíveis
unilateralmente.
Como se afirma que a igualdade da oferta e da procura determina uma dado preço de equilíbrio se a
quantidade que uma pessoa vende é precisamente a que a outra compra? A quantidade comprada há-de
sempre igualar a vendida, seja qual for o preço. Porém, é certo que as grandezas medidas pela estatística da
Q comprada e da Q vendida têm de ser iguais. Mas a que preço P se igualará a quantidade que os
compradores desejam continuar a comprar e a quantidade que os produtos desejam continuar a vender? A
tal preço em que há igualdade entre os montantes planeados que os vendedores e os compradores desejam
continuar a vender e a comprar, e só a tal preço P, não haverá qualquer tendência para a alta ou a baixa dos
preços.
A qualquer outro preço, também as quantidades vendidas e compradas se vão igualar. Mas esta
igualdade estatística não nega de modo nenhum que, a preço tão alto, os vendedores estejam ansiosos por
vender mais do que os compradores que desejam continuar a comprar e que este excesso da oferta
planeada sobre a procura planeada exercerá uma pressão descendente sobre o preço até que este atinja por
fim o nível de equilíbrio em que as curvas se intersetam.
Assim, a lei da oferta e da procura considera que os preços variam no sentido inverso ao da
oferta e no mesmo sentido da procura.
Esta lei dá-nos indicações da deslocação da curva da oferta ou da deslocação da curva da procura de
certo bem sobre o preço de mercado desse bem, desde que verificada a condição coeteris paribus.
25
Esta lei dá-nos indicações seguras sobre o grau de variação do preço em consequência da alteração
das disposições de vendedores e compradores, desde que se verifique a condição coeteris paribus.
Número de Empresas Dimensão da empresa Tipo de Produto Comportamento da Domínio sobre o preço Condições de entrada
a Vender Empresa no mercado
Muitíssimas Pequeníssima Homogéneo Ajustamento de Nulo Fácil
quantidade
Período Infra-Curto
A produção não pode aumentar nem diminuir, e portanto a oferta dos vendedores há-de ser feita com
os bens que já se produziram. A alternativa é vendê-los ou estocá-los. Já sabemos que, pelo efeito
substituição os vendedores se dispõem a oferecer maiores quantidades a preços considerados altos do que
a preços baixos, isto é, que a sua oferta vai aumentando À medida que o preço sobe. Neste período é dada
a oferta total da mercadoria. Neste período também não se alteram as necessidades e rendimentos dos
compradores, sendo que a procura é feita com os rendimentos que possuem. A alternativa é gastá-los ou
entesourá-los. Tanto pelo efeito substituição, como pelo efeito rendimento, os compradores dispõem-se a
adquirir menores quantidades a preços considerados altos do que a preços considerados baixos, isto é, que
a sua procura vai diminuindo À medida que o preço sobe. Também nos é dada a procura total da mercadoria.
Lei da indiferença de Stanley Jevons: no mesmo mercado e no mesmo momento não pode haver mais do
que um preço para a mesma mercadoria. Se os bens são homogéneos, é indiferente adquiri-os a um ou
outro vendedor. Mas por que preço? Pelo preço de equilíbrio entre as quantidades que os vendedores estão
dispostos a oferecer e as quantidades que os compradores estão dispostos a comprar. Neste período, o
preço é único traduzindo o equilíbrio da oferta e da procura: preço de equilíbrio momentâneo ou preço
corrente.
Questão das rendas: Por virtude da unicidade do preço, os compradores economizam a diferença
entre o preço que estavam dispostos a pagar e aquele que efetivamente compram. Esta diferença, que é um
benefício, chama-se a renda dos consumidores. Os vendedores ganham a diferença entre o preço por que
estavam dispostos a vender a aquele que efetivamente vendem: rendas dos vendedores. A renda do
26
consumidor é fugaz e efémera, enquanto que na renda dos vendedores o preço mínimo é determinado com
base num elemento objetivo – custos de produção. É, assim, duradoura. Porém, o aumento da produção
pode conduzir a uma descida do preço e a uma diminuição da renda dos vendedores.
Assim, o preço de equilíbrio realiza o equilíbrio do mercado, mas apenas momentaneamente.
Período Curto
Neste período as empresas podem aumentar ou diminuir a produção através de várias maneiras.
Este período é suficiente para a variação da produção, mas demasiado breve para a variação de
equipamento. Assim, a oferta e a procura de cada vendedor e de cada comprador são tão diminutas que, se
qualquer um abandonar o mercado, o preço não se modifica. Assim, o preço é encarado como um dado, isto
é, algo independente da ação dos vendedores e compradores.
Assim, neste período os vendedores e compradores contam com uma oferta infinitamente elástica,
ao preço dado, para a oferta e a procura de cada um. Cada empresa conta com este tipo de procura, o que
significa que qualquer das empresas presentes sabe que pode contar com uma procura que, ao preço de
mercado, absorverá todas as quantidades que a empresa consegue produzir. Assim, não faz sentido baixar o
preço nem subi-lo. Para maximizar o lucro, as empresas vão desenvolver a produção até ao ponto em que o
custo despendido na produção adicional (custo marginal) seja igual ao preço de mercado, que é a receita
média. Assim, a regra da maximização do lucro pode enunciar-se da seguinte forma: custo marginal = receita
marginal = preço de mercado.
A partir de que volume de produção arbitrário vale ou não produzir mais uma unidade? Mais uma
unidade trará um certo custo marginal adicional, mas também uma receita suplementar. Como a receita
marginal é superior ao custo marginal, a empresa tem interesse em produzir mais uma unidade, adquirindo
lucro adicional ou marginal. Porém, quanto o custo marginal das sucessivas unidades produzidas é superior
à receita marginal, surge um prejuízo marginal que aumenta com a produção de unidades suplementares.
Também o lucro global é afetado e vai diminuindo. Assim, a posição ótima da empresa é a que se alcança
quando a empresa produz as quantidades que obtêm a um custo marginal igual ao preço de mercado.
E quanto à oferta da empresa? A igualação do custo marginal ao preço só interessa quando
trabalham a custos médios crescentes. Nenhuma empresa pretenderá igualar o custo marginal ao preço
enquanto o custo marginal for inferior ao custo médio, pois, nesta situação, venderia os artigos fabricados a
preço igual ao custo marginal, mas inferior ao custo médio. O custo marginal só se torna superior ao custo
médio na fase dos custos médios crescentes. Toa a empresa quer produzir de forma a que os custos
marginais sejam iguais ao preço, logo a produção das empresas é maior a preços altos do que a preços
baixos.
Assim, os períodos custos oferecerão aquela quantidade de mercadorias cujo custo marginal se
parifica com cada preço. Assim, a oferta das empresas aumenta com a subida do preço. Falamos de uma
curva dos custos marginais.
Período Longo
A empresa atingirá a posição de equilíbrio quando a curva da receita média for tangente à curva do
custo total médio, num ponto de intersecção da curva do custo marginal e da curva do custo total médio.
A empresa realiza apenas lucros normais, isto é, os indispensáveis para decidir qualquer empresa a
continuar a laborar, na expetativa de que a situação seja passageira, procurando integrar o número das
empresas intramarginais, isto é, aquelas que auferem lucros anormais. A empresa marginal é aquela que tem
os custos suportados integralmente pelas receitas, numa quase limiar de subsistência. A indústria é atrativa
quando as outras indústrias que produzem a custos de produção mais baixos vendem ao preço praticado
pela empresa marginal.
Assim, nos períodos longos, os preços que acabam por se estabelecer nos mercados de
concorrência são preços de equilíbrio entre a procura e aquela oferta cujo custo marginal se parifica não só
com tais preços mas com o custo médio da empresa marginal. Este mecanismo de reajustamento até se
atingir a posição de equilíbrio só ganha sentido a longo prazo, falando-se de uma posição de equilíbrio
estável. (Se todas as empresas parificam o custo marginal e a receita marginal e se desaparece a tendência
27
para a entrada/saída da indústria, porque todas as empresas realizam lucros normais e funcionam no ponto
mínimo da sua curva de custo total médio.
Número de Empresas Dimensão da empresa Tipo de Produto Comportamento da Domínio sobre o preço Condições de entrada
a Vender Empresa no mercado
Uma única Enorme Homogéneo ou Monopolistica Total Difícil
Diferenciado
A noção de monopólio obtém-se com uma distinção essencial entre monopólio puro e monopólio
isolado: Monopólio puro é aquele que teria a possibilidade de obter todo o rendimento dos consumidores,
qualquer que fosse o seu nível de produção. Na realidade, este não existe, pois todo o produtor está em
concorrência graças à limitação do rendimento dos consumidores (por isso existem os monopolistas
isolados). Este torna-se um caso meramente teórico. Só acontece quando a curva da receita média da
empresa monopolista possuir uma elasticidade igual a um e se acharmos que todos os consumidores gastam
o seu rendimento total na compra de produtos dessa empresa, seja qual for o seu preço. Este monopolista
puro não pode, porém, de deixar de fixar simultaneamente o preço e o volume de produção. Sendo constante
a receita total em todos os níveis de produção, a receita marginal é sempre zero.
O monopolista é aquele que controla a oferta de um produto, que não tem sucedâneos próximos. A
elasticidade cruzada da procura entre o seu produto e os outros é muito fraca. Assim, o monopolista decide o
preço ou a quantidade, tendo em conta as reações de procura. A distinção entre empresa e indústria
desaparece na situação do monopólio, pois a empresa abrange toda a indústria e a curva da receita média
surge como imperfeitamente elástica.
Monópsonio é quando um único comprador pode controlar a procura de um produto, criando-se
monopólios de compra. Esta situação é difícil de se verificar porque os compradores são muitos e falta-lhes o
estímulo profissional para se associarem.
Monopólio Legal: Têm origem na lei que atribui a certa empresa o exclusivo da venda de
determinada mercadoria.
Monopólio Natural: por virtude da escassez natural de certos elementos, como matérias-primas, só
uma empresa é vendedora deste ou daquele produto.
Monopólio de Facto: deriva do funcionamento do próprio mercado, havendo uma empresa que
consegue eliminar todas as demais, ficando sozinha em campo. Ou porque uma empresa se dedica
à criação de um novo artigo e, enquanto só ela o produzir, detém o monopólio.
A empresa monopolista dispõe da oferta total e pode, aumentando-a ou diminuindo-a, fazer baixar ou
subir o preço, surgindo este como elemento a determinar. O preço depende da oferta e da procura.
Simplesmente, perante a curva da procura, a empresa monopolista pode estabelecer no mercado o preço a
que corresponda uma procura igual à sua oferta. E como esta é senhora das quantidades oferecidas, então,
conhecendo a procura, fica árbitro do preço.
Mas qual o preço ótimo? A empresa monopolista tem um espirito capitalista de obtenção do máximo
lucro, escolhendo o preço que lhe deixe maior excesso das receitas sobre as despesas totais. O lucro é igual
ao produto das quantidades vendidas pela diferença entre o preço e o custo total médio de cada unidade. O
preço vai fixar-se em função de dois elementos: procura e custo. Contudo, à medida que baixa ou sobe o
preço, aumentam ou diminuem as quantidades procuradas. Por isso, o monopolista não pode controlar os
dois indicadores simultaneamente. O princípio de Cournot diz-nos que o monopolista não é simultaneamente
senhor das quantidades e preços. É por isso que o preço ótimo não coincide com o preço máximo.
28
O monopolista, para a determinação do preço ótimo, tem de ter em conta, além da reação da
procura, o custo maior ou menor por que produz as várias quantidades. Na concorrência, qualquer empresa
desenvolve a produção até que o seu custo marginal se pariique com o custo de mercado. E o preço do
mercado é o que a empresa recebe a mais para colocar nele uma unidade adicional. É assim porque a oferta
de qualquer empresa é tão pequena que, por muito que aumente ou diminua, não provocará abixa ou alta de
preços. A receita marginal é a diferença entre a receita obtida pela venda de n unidades e a obtida pela
venda de n+1. Em concorrência perfeita, essa diferença é sempre igual ao preço, pois a venda de mais
unidades faz-se ao preço porque se vendiam as anteriores. A empresa monopolista tem interesse em
desenvolver a produção enquanto o custo marginal for inferior à receita marginal. Como a oferta da empresa
monopolista coincide com a oferta total, o aumento é muito maior, provocando a descida do preço e afetando
as unidades vendidas a mais e as restantes. A receita marginal é sempre inferior ao preço. Porquê? Porque a
descida do preço afeta não apenas as unidades que se vendem a mais, mas também as que anteriormente
se vendiam. Assim, a curva da receita marginal situa-se abaixo da curva da procura, porque o produto das
unidades vendidas a mais pelo respetivo preço, que nos é dado por esta curva, excede sempre aquela
receita. A empresa monopolista vai desenvolver a produção até que o custo marginal se parifique com a
receita marginal.
Preço ótimo de monopólio é o preço de equilíbrio entre a procura e aquela oferta cujo custo marginal
iguala a receita marginal.
29
Serviços diretos são aqueles que só podem ser prestados às pessoas que deles imediatamente se
aproveitam. Não podem ser prestados através de intermediários.
O preço múltiplo permite ao monopolista aumentar os lucros, mas também pode surgir como fonte de
benefício social. (ex. monopólio legal)
Número de Empresas Dimensão da empresa Tipo de Produto Comportamento da Domínio sobre o preço Condições de entrada
a Vender Empresa no mercado
Muitas Pequenas Diferenciado Polipolistico Reduzido Fácil
Este fenómeno da diferenciação carateriza o comportamento deste tipo de empresas que tentam
fugir à concorrência das restantes, procurando criar preferências relativas aos compradores. Assim, cada
empresa terá uma certa posição de monopólio para o seu produto que se acentua com a existência de marca
registada. Na empresa monopolista torna-se necessário que cada empresa tenha em conta não só a
elasticidade da procura relativamente ao preço do seu produto mas também a elasticidade cruzada da
procura, pelo facto de que os bens concorrentes pertencem à mesma indústria, integrando o mesmo produto.
No mercado monopolista e no mercado de concorrência perfeita, só há publicidade institucional para tentar,
como um todo, aumentar a procura total do produto.
Na concorrência monopolista, cada comprador detém uma clientela que manifesta preferência pela
variante do produto que este apresenta e este detém o poder de fazer variar o preço desta variedade do
produto. Mas este tem de prestar atenção ás reações desta clientela, pois sabe que venderá mais ou menos
consoante o preço que fixar for mais baixo ou mais elevado – a curva de cada empresa torna-se
30
imperfeitamente elástica, surgindo como curva de vendas decrescente, embora não afastada da horizontal:
uma pequena variação no preço, leva a uma grande alteração das vendas esperadas.
A publicidade é, assim, muito importante para a determinação da procura neste tipo de empresas, já
que este é um elemento a determinar em função do preço praticado pela empresa considerada e dos preços
dos bens que concorrem com o seu. Porém, ainda se contabiliza a política das empresas para criar razões
de escolha dos bens por ela vendidos em detrimento dos outros. As despesas dessa politica acrescem no
custo de produção do produto, sendo tanto mais pesadas quanto o grau de sucedaneidade dos bens
produzidos pelas empresas concorrentes. Distingue-se:
(1) Custos de Produção: despesas que é necessário suportar para criar a mercadoria, para a
encaminhar até ao comprador e pô-la à sua disposição, apta para satisfazer as necessidades.
(2) Custos de venda: existência de políticas de venda, dependentes da política de informação do
consumidor e de políticas de persuasão ou sugestão, fornecendo ao consumidor uma razão para
escolher certo bem, em detrimento dos bens concorrentes com este. Custos de venda são
aqueles que a empresa suporta para criar, ampliar ou segurar a procura de um produto.
A ineficiência social da concorrência monopolista deve-se: aos custos de produção que acrescem os
custos de venda; e o próprio custo de produção que virá já aumentado em consequência da diferenciação do
produto. Esta acarretará prejuízo social quando: (1) a elevação de custos e preços provocada por se estar a
31
trabalhar longe da plena capacidade for muito grande, (2) os custos vierem sobrecarregados com encargos
de venda inúteis, (3) subsistirem preços exagerados em comparação com os custos.
Número de Empresas Dimensão da empresa Tipo de Produto Comportamento da Domínio sobre o preço Condições de entrada
a Vender Empresa no mercado
Poucas Grandes Homogéneo ou Oligopolistico Grande Difícil
Diferenciado
32
Destacam-se ainda fatores de ordem pessoal baseada na tentativa da administração das empresas
facilitar a coexistência pacífica. Os acordos podem ser expressos ou tácitos. A concorrência entre
oligopolistas verifica-se através da publicidade, condições de venda, acesso ás fontes de matérias primas,
controlo as redes de distribuição, inovação técnica e ocupação de posições em todo o espaço disponível.
33
2º LIVRO
OS SISTEMAS ECONÓMICOS – GÉNESE E EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO
2. As soluções
2.1. A Teoria dos “Estádios Económicos”
A análise dos Estádios de evolução surge como a preocupação fundamental da Escola Histórica
Alemã que recusam à economia política a natureza de ciência teórica, reduzindo-a a uma ciência histórica.
Passaram a operar com critérios históricos defendendo a sucessão dos sistemas ao longo da história e do
seu processo evolutivo.
a) Friedrich List propôs o critério da atividade dominante, considerando que a vida económica se
desenvolveria em quatro fases: pastorícia; agricultura; agricultura e indústria; agricultura, indústria e
comércio. Esta última corresponde à nação normal.
b) Bruno Hildebrandt atende aos instrumentos de troca: economia natural (troca direta – produtos por
produtos); economia monetária (troca monetária – moeda como intermediário geral das trocas);
economia creditícia (recurso ás vendas a crédito e ao empréstimo bancário.)
c) Karl Bücher destaca o âmbito territorial, sendo o critério essencial a relação existente entre a
produção e o consumo de bens ou, para ser mais exato, a extensão do caminho que os bens
percorrem, na passagem do produtor ao consumidor. Teríamos três fases:
a. Economia Doméstica: confinada a um âmbito territorial muito restrito – família, domínio
senhorial, etc…
b. Economia Urbana: Centrada na atividade artesanal das cidades, que entravam em relações
de troca com as populações agrícolas vizinhas.
c. Economia Nacional: Resultante do desenvolvimento das relações de troca entre os vários
núcleos urbanos.
d. Economia Mundial (Schmöller): novo período de trocas entre as comunidades nacionais.
34
2) Meios de produção pertencem a outra pessoa diferente do produtor direto, permitindo que o
proprietário dos meios de produção assuma o controlo produtivo, contratando trabalhadores e
apropriando-se do sobreprodutos social. (Capitalismo)
3) Não há propriedade privada dos meios de produção e estes pertencem a toda a comunidade,
cabendo a esta a direção do processo produtivo, revertendo o produto social para a coletividade dos
produtores. (Socialismo)
Meios de Produção: tudo aquilo sobre que vai incidir a força de trabalho do Homem.
Meios de trabalho: todos os objetos de que os homens se servem para transformarem a realidade
física sobre a qual atuam. Destacam-se os instrumentos de produção dos quais depende o domínio do
Homem sobre a natureza.
Forças produtivas: conjunto de instrumentos de produção, dos objetos de trabalho e do próprio
homem, com a sua força de trabalho, os seus conhecimentos e técnica. Para o marxismo, as forças
produtivas são o elemento mais dinâmico da produção, embora as relações de produção entre os homens
exerçam influência ativa sobre elas.
Relações de produção: São as relações que os homens mantêm entre si no quadro do processo
produtivo, as quais se manifestam na relação entre os sujeitos ou agentes económicos e os meios de
produção, e que têm a sua expressão jurídica nas formas de propriedade dobre os meios de produção. É a
natureza da propriedade sobre os meios de produção que determina a posição relativa dos homens no
sistema de produção social, marcando a divisão da sociedade em classes. A natureza das relações sociais
de produção é que determina a titularidade do poder de direção do processo produtivo, explicando o critério
em que preside essa direção, no qual se opera á distribuição do produto social, etc…
Toda a produção pressupõe qualquer tipo de propriedade, sendo que a distribuição do produto social
depende da forma como se apresenta essa apropriação dos meios de produção, embora se reconheça que
as formas de distribuição, troca e consumo, atuam sobre a produção, estimulando-a ou entravando-a. Marx
carateriza os sistemas económicos pelos modos de produção e distingue cada modo de produção pela
natureza das relações de produção: comunismo primitivo, esclavagismo, feudalismo, capitalismo e
socialismo.
O Marxismo é uma visão económica da história, mas também visão histórica da economia que faz da
luta de classes o motor da história e de sucessão dos vários sistemas económicos e sociais. Marx torna a
história uma histoire raisonee ao trazê-la para o seio da teoria económica. Marx defende que as categorias e
leis económicas são históricas que só ganham significado em relação a certo sistema historicamente
localizado, negando o seu caráter ahistórico e natural.
A construção teórica de Marx procura explicar o processo global da evolução social que resulta da
interação dialética de fatores de várias ordens, traduzindo um movimento dialético não linear em que cada
estádio do processo evolutivo é superior ao estádio que o antecede e em que cada novo modo de produção
encontra o seu fundamento e sua explicação no desenvolvimento histórico das contradições inerentes ao
anterior.
À luz da teoria marxista, a estrutura política faz parte da superestrutura, sendo esta determinada pela
base económica, a infraestrutura. (Explicação: A estrutura política goza de uma autonomia relativa. Porém,
não faltam trechos em que se faz repassar uma conceção economicista em que há uma determinação
absoluta da superestrutura pela infraestrutura.) Á visão economicista estreita opõe-se a conceção
35
voluntarista, que atribui autonomia e eficácia absolutas á ação política e à luta de classes. Estes são os dois
polos extremos dentro dos quais se tem desenvolvido a discussão no quadro do pensamento marxista.
3. Apreciação crítica
3.1. Escola Histórica
Estes denunciaram a construção da economia clássica em trono do homo Oecunomicus, provando a
sua fuga à realidade. Puseram, também, em causa certas leis absolutas, eternas e universais – leis naturais
reguladoras da vida económica – defendendo que os estudos económicos devem ser encarados numa
perspetiva histórica, sendo vistas como produtos históricos.
Estes defendem que a economia passa por um processo produtivo idêntico ao crescimento de um corpo
orgânico, reconhecendo uma evolução histórica, mas que é feita por fases, procurando leis que só seriam
válidas para determinada fase. Estas surgiam como critérios meramente descritivos, exteriores ao processo
evolutivo, incapazes de compreender os fatores que explicam a passagem de um sistema para outro.
Os critérios de List, Hildebrandt e Bücher, atendendo apenas a elementos da estrutura económica da
sociedade, somente dão conta da evolução das forças produtivas, mas não apreendem o processo de
evolução da economia nem explicam a sua dinâmica. Esta só resulta quando se tem em conta a relação
dialética entre o desenvolvimento das forças produtivas e a natureza das relações sociais de produção no
36
seio das quais aquelas se desenvolvem e com as quais entram em contradição. É esta contradição que
conduzirá a um novo estádio superior de desenvolvimento.
As limitações do seu método impediram de ir além da mera acumulação de dados relativos à atividade
económica. A Escola Histórica negou a possibilidade de qualquer teoria de história. O método histórico
genético renuncia à elaboração teórica, criando-se fases independentes entre si pelas quais deviam passar
todas as sociedades. Limitam-se a uma história dos factos económicos.
37
económica no seio da qual se desenvolvem as relações sociais de produção a partir da qual se desenvolvem
as superestruturas.
Conclusões a alcançar:
(1) Transição de um sistema para outro é fruto de um processo contínuo de transformação.
(2) Cada sistema económico que a história regista é produto da evolução dialética do sistema que o
precedeu.
(3) Há uma racionalidade na ordem cronológica de sucessão.
(4) A evolução se verifica de tal modo que nenhum sistema consegue substituir integralmente o anterior,
falando-se apenas da existência de elementos definidores dominantes que não afetam a
sobrevivência de elementos de sistemas anteriores.
1. Comunismo Primitivo
A qualidade de produtor que cria os instrumentos de trabalho para produzir certos produtos a partir
da natureza para satisfazer as suas necessidades é exclusiva do ser humano. Durante séculos, as forças
produtivas eram muito rudimentares, pois a produção quase não chegava para a subsistência dos seres
humanos. Começou a confecionar instrumentos muito simples, tornando-se coletor. As tarefas eram levadas
a cabo em pequenas comunidades para caçar e se defenderem mutuamente, sendo a necessidade do
trabalho coletivo inerente às condições de vida próprias das comunidades primitivas que explicam a
propriedade comum da terra.
Não havia propriedade privada ou diferenciação social. A organização coletiva e a disciplina do
trabalho resultavam da força do costume, prestigio e poder de que gozavam certos membros, não havendo
lugar para o estado enquanto aparelho de poder. No período coletor, a única divisão do trabalho conhecida
era em função do sexo: os homens na caça e as mulheres nas colheitas. A lenta acumulação de invenções
aumentou a produtividade do trabalho e o homem começou a trabalhar os seus produtos, começando a
fixarem-se as tribos, abandonando-se o nomadismo. O sedentarismo ajuda ao aumento da produtividade,
começando a surgir excedente que se traduzia em reservas de alimentos, possibilitando uma divisão do
trabalho mais avançada e um aumento populacional.
Estas condições conduziram á revolução neolítica, com o aumento da agricultura, domesticação e
criação de animais. O excedente social tem grande importância, assim como a capacidade de o produzir de
forma regular e permanente, pois potenciou a capacidade de produção de alimentos e lançou as bases da
civilização. Nenhuma sociedade se podia desenvolver sem a existência de excedente, pois as pessoas
estariam ocupadas a tempo inteiro para garantir a sua subsistência. Assim, o desenvolvimento implica a
criação de excedente social, isto é, de uma produção superior ao que é necessário para renovar a produção
em períodos seguintes.
Com a sedentarização começaram as famílias a reservar as terras particulares para a agricultura,
embora a sua posse continuasse a ter como pressuposto a existência de uma comunidade e a propriedade
coletiva da terra. A agricultura desenvolve-se, com sementeiras, irrigação… O trabalho de metais deu origem
ao artesanato. O desenvolvimento dos instrumentos de trabalho e da técnica aumentaram a produtividade.
Assim, começa a ganhar sentido a exploração do homem pelo homem, começando a surgir os escravos que
eram obrigados a trabalhar para os senhores se apoderarem do excedente criado. Cada vez mais surge uma
divisão da sociedade em classes e o aparecimento do estado como instrumento de domínio de um grupo
social sobre outro.
2. O Esclavagismo
Assenta na produção do trabalho forçado de mão-de-obra escrava: os senhores alimentam os
escravos e aproveitam-se do produto do seu trabalho. Surge o estado esclavagista como aparelho de
coerção e de domínio, obrigando a maioria da população a trabalhar para uma maioria dona dos meios de
produção e do seu trabalho. O trabalho escravo criou grandes excedentes e acumulação de riquezas.
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Mas era a conquista de novos territórios capazes de fornecer novos escravos e mais impostos ao
fisco que aumentou as riquezas. As conquistas militares de Toma enriqueceram os grandes donos de
escravos e de grandes propriedades, porém arruinaram os pequenos proprietários livres e os artesãos das
cidades que eram entretidos na miséria com pão e circo. Os conflitos no seio dos homens livres começaram
a abalar as estruturas da sociedade romana, chegando a verificar-se movimentos de revolta dos escravos
contra os seus senhores.
Com Caracala, deixa de ser a aristocracia a classe dominantes, para passarem a ser os cobradores
de impostos que respondiam diretamente perante o imperador e cuja autoridade se transmites
hereditariamente. Diocleciano generaliza o pagamento em espécie aos funcionários, começando os grandes
proprietários a constituir economias fechadas, colocando-se os pequenos proprietários sob a sua proteção.
Para facilitar a cobrança de impostos, institui-se o regime de colonos, enquanto regime de grande
propriedade, mas sem bases técnicas capazes de proporcionar índices razoáveis de produtividade do
trabalho agrícola. O colonato não passou de um sistema próximo do esclavagismo e com os seus problemas.
Em virtude das suas contradições, o modo de produção esclavagista tornou-se incapaz de progredir,
deixando as relações de produção de acompanhar o desenvolvimento das forças produtivas. Uma crise
enorme no seio do estado romano foi-se desenvolvendo e os povos bárbaros começaram lentamente a
infiltrar-se pelo império ou perto das suas fronteiras. A invasão bárbara ajuda à destruição do sistema
esclavagista, conduzindo progressivamente ao feudalismo – primeiro com a criação de comunidades de
aldeia, baseadas no campesinato livre organizado em comunidades rurais; depois, com a criação de uma
aristocracia fundiária que vai ser sustentada pelos camponeses livres ameaçados pelo clima de insegurança
que, com um compromisso de fidelidade pessoal, passam a integrar as terras dos senhores e a prover o seu
sustento. Assim, surgem os servos e regressa-se a uma atividade económica quase exclusivamente rural.
Com as invasões normandas no século IX, os delegados de administrações reais constroem
fortificações a cuja proteção se acolhem as populações indefesas e que se tornam quase independentes do
poder real, considerando-se apenas vassalos a quem os reis concedem poderes sobre uma parte do seu
domínio, concedendo eles, por sua vez, direitos idênticos aos seus subordinados. Assim se constitui a
sociedade feudal e se desmembra o estado.
3. O feudalismo
3.1. Caraterização geral
Toda a vida pessoal era marcada pela dependência pessoal que caraterizava todo o tecido da
sociedade feudal, independentemente da natureza jurídica exata do vinculo de distinção de classes. No grau
inferior, as relações de dependência encontraram o seu enquadramento natural no senhorio rural, onde o
vínculo de dependência pessoal tinha uma aspeto económico. Feudalismo é um regime jurídico-politico que
assenta na agricultura e onde o poder político é exercido por uma classe de proprietários de terras. As terras
estavam divididas em:
(1) As terras que o senhor reservava para si e que explorava utilizando o trabalho não pago dos
servos e colonos obrigados à corveia.
(2) As terras à disposição dos camponeses para eles as cultivarem para satisfazer as susas próprias
necessidades.
(3) As terras comunais, utilizadas pelos camponeses e pelo senhor, para fornecer lenha, madeira,
etc…
Os proprietários tinham o domínio direito da terra pois decidiam que porção atribuir aos produtores
diretos e podiam exigir uma renda pelo uso da terra, não contando com outros poderes, como impor ou
proibir culturas, reservar para si moinhos, etc… Os camponeses tinham apenas o domínio útil das terras. Os
servos não podem abandonar as terras, tendo deveres de servidão. A propriedade feudal surge como
propriedade imperfeita, pois os proprietários não podem expulsar os servos das terras que lhe garantem o
sustento. Há, assim, uma relação de servidão pessoal, com direitos e deveres de ambas as partes. A força
de trabalho não é uma mercadoria autónoma, pois os homens não são livres de vender a sua própria força
de trabalho. O estatuto jurídico político da servidão faz com que nem a força de trabalho, nem o produto do
trabalho servil sejam mercadorias, pois não podem ser trocadas ou vendidas. E isto torna-se respeitado pois
os senhores assim o determinam, complementando a ideologia dominante.
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A exploração dos produtores é feita através de compulsão político-legal direta, por coerção
extraeconómica. A propriedade da terra surge como fundamento do poder económico e politico – que surgia
como descentralizado e fragmentado, não deixando, porém, de existir estado e a natureza política da sua
classe existe exercida pelas classes dominantes para garantir a apropriação do sobreproduto criado pelos
servos.
O excedente social foi apropriado pelos senhores sob a forma de rendas. As trocas eram
essencialmente internas e diretas entre os produtores. A economia feudal era bastante fechada, já que o
domínio senhorial era a unidade de produção e de consumo, produzindo-se o que se consome. A
inexistência de mercado leva a que os bens só tenham valor de uso, dando-se acumulação de valores de
uso.
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3.2.5. Síntese
Perante a fuga dos servos, os senhores tiveram de lhes conceder mais liberdades, transformando as
rendas em dinheiro, as prestações de trabalho e as rendas em espécie. A maior liberdade trouxe a
separação dos produtores diretos dos meios de produção. A emancipação dos servos levou à libertação dos
proprietários fundiários que não tinham de respeitar os direitos dos servos e prover à sua subsistência,
passando a recorrer a contratos de arrendamento de duração curta, para poderem aumentar periodicamente
a renda. A renda em dinheiro continua a ser uma renda feudal, permitindo aos senhores beneficiar da maior
produtividade do trabalho não compulsório, através do aumento das rendas no momento de renovação do
contrato.
O pagamento das rendas trouxe a necessidade dos camponeses venderem os seus produtos no
mercado, surgindo as crescentes relações de comércio e surgindo uma produção para venda. A exploração
agrícola servil foi substituída pela exploração agrícola feita pelo rendeiro Surgia o embrião das relações
capitalistas. O desenvolvimento do comércio e artesanato gerava novos produtos e vontade de os adquirir, o
que explica as crescentes necessidades de rendimentos monetários por parte da classe dos senhores
feudais. O pagamento das rendas em dinheiro facilitou o acesso ao mercado e a realização de grandes
despesas.
Por fim, o desenvolvimento do comércio e a expansão e consolidação das cidades agravaram os
conflitos no seio da sociedade feudal e permitiram a cumulação de capitais que serão aplicados na produção,
mediante a contratação de trabalhadores assalariados – modo de produção capitalista.
Tese de Paul Sweezy Desagregação da sociedade feudal tem a ver com a afirmação progressiva
de um sistema de valores de troca em detrimento de um sistema baseado em valores de uso.
Tese do Dr. Avelãs Nunes (Marxista) A mudança de sistema verifica-se quando se mudam as
relações sociais de produção de uma forma massiva. Tal deve-se a fatores de ordem interna (fuga dos
servos para as cidades, diminuição da absorção do sobreproduto pelos senhores, crescimento da classe dos
trabalhadores duplamente livres) e fatores de ordem externa (desenvolvimento do comércio e da indústria
artesana).
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enriquecer. Porém, há trabalhadores que são frugais e parcimoniosos, capazes de gerir o dinheiro que
ganham. Fala-se de uma previous acumulation que depende da atividade económica e da parcimónia que
surge como característica endógena da burguesia, havendo tendência desta enriquecer.
O Dr. Avelãs Nunes segue esta marxista que defende duas condições que tornaram possíveis as
relações de produção capitalista:
- A acumulação de capitais nas mãos de uma nova classe social;
- A separação dos produtores dos meios de produção e a emergência de uma nova classe social de
trabalhadores livres.
Um conjunto de diversos fatores históricos tiveram influência crucial para a afirmação do capitalismo
como novo sistema. Destacamos:
Acumulação de Capital
Cruzadas: Desenvolveram um intenso tráfego comercial entre a Europa e o próximo Oriente,
enriquecendo mercadores com avultadíssimos lucros que permitiram a acumulação de capital. Um
grande conjunto de várias riquezas aflui à Europa.
Capital usurário: Séc. XIV e XV verifica-se o enriquecimento de usurários, banqueiros,
especuladores, etc… A acumulação de dinheiro provinha dos empréstimos a juros elevados aos
camponeses e nobres.
Especulação com os preços dos produtos, perante os frequentes períodos de penúria. A
especulação comercial também se foi afirmando pelo tráfego que, a partir da Península Ibérica se
estabeleceu com o Oriente e a América. Os produtos europeus eram pagos por enormes
quantidades de ouro e prata.
Viagens atlânticas de portugueses e espanhóis abriram novos mercados e trouxeram novos
produtos para a europa. Criou-se um mercado mundial, com grandes oportunidades de lucro que
foram sugadas pelas grandes sociedades com atributos próximos da soberania. A mundialização do
comércio foi o primeiro passo em torno da globalização.
Grande período de invenções que foi o século XV, com a invenção de fornos, progressos na
metalurgia, refinação, ciência náutica, etc… Grande desenvolvimento de conhecimentos
astronómicos, cartográficos, marítimos e de novas técnicas utilizadas na arte de navegar.
A exploração colonial que trouxe para a europa riquezas dos povos autóctones que foram gastas
em despesas sumptuárias e militares, caindo nas mãos dos grandes mercadores e banqueiros,
poderosos intermediários dos negócios coloniais. Os povos colonizados foram dominados com a
coerção, tornando o fluxo de ouro e prata para a Europa enorme.
O valor do ouro e da prata em relação ao valor dos outros bens era menor, assistindo-se a uma
fase de inflação crescente, devendo-se os lucros desta subida de preços à exploração das riquezas
mineiras do Novo Mundo e do trabalho das suas populações. A subida do custo do ouro no século
XVI conduziu a uma revalorização, baixa dos preços e diminuição da acumulação de capital.
Desenvolvimento da classe da burguesia comerciante, em desfavor da nobreza rural e das classes
trabalhadoras. A nobreza vê-se arruinada com as rendas fixas a longo prazo. A riqueza passa a
residir nas ações das sociedades, nos títulos representativos de hipoteca,etc...
Proletarização dos camponeses pobres
Enclosures: A sorte das massas camponesas havia de sofrer as consequências do afluxo de
capitais À agricultura. Os campos foram ocupados por gado lanígero, especializando a agricultura
com vista à produção para o grande comércio, proletarização dos camponeses, enfim, em moldes
capitalistas. A nobreza entendia a riqueza como fonte de prestígio e de poder, constituindo
unidades agrícolas de grande dimensão, até ai dispersas por pequenos camponeses. Os grandes
proprietários de terras apropriaram-se das terras comunais e dão origem às enclosures. A
usurpação pela força da propriedade comunal e a apropriação privada dos domínios do estado
foram acompanhadas da transformação de terras de cultivo em terras de pastagem. As terras caem
nas mãos de uma aristocracia fundiária, transformando-se em objeto de comércio, como convinha à
burguesia. Com a Reforma, muitos camponeses foram separados das terras, passando a viver na
miséria, procurando trabalho como assalariados. A prática das enclosures teve vários efeitos:
acabou com o livre acesso ás terras comunais; reduziu as terras de cultivo; privou os camponeses
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4.2. A Reforma
A Igreja Católica, enquanto proprietária de terras era pedra angular na sociedade e economia
feudais. A derrota do feudalismo, passou também pela derrota do poder da Igreja Católica. O
desenvolvimento da ciência conduz a um questionamento da fé. A burguesia, das universidades e comércio,
revoltavam-se contra a igreja católica e os seus dogmas. O protestantismo ajudou a dar espirito ao
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capitalismo, deixando de se condenar o comércio como modo de vida, aceitando-se o desejo de enriquecer
como moral, permitindo-se o empréstimo de dinheiro a juros. Estas permissividades devem-se, em grande
parte, ao desenvolvimento do comércio. O trabalho passa a ser considerado como instrumento da realização
do plano divino. Os homens passam a esforçar-se para ser ricos, já que a riqueza é entendida como sinal da
bênção de deus Surge um self-made-man, conquistando a vida económica autonomia e à valorização de
capitais.
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É de destacar a indústria têxtil inglesa, onde a produtividade foi extrema, principalmente com o
surgimento da máquina de fiar e a abundância de matérias-primas. É também de destacar o desenvolvimento
do setor mineiro, graças à força do vapor, permitindo a diminuição dos custos da extração de carvão utilizado
nas linhas de caminho-de-ferro crescentes. Amplia-se, assim, o mercado dos bens de consumo e dos bens
de capital em geral. A penetração de capital na esfera da produção, a introdução de máquinas na produção e
nos transportes marcam o triunfo do capitalismo centrado na fábrica e na separação definitiva e total do
produtor e dos trabalhadores assalariados.
As novas estruturas económicas do capitalismo obrigavam a uma constante valorização do capital,
tornando o sistema capaz de progredir em todas as direções. O excedente social assume a forma monetária
e é apropriado pelos proprietários dos meios de produção que podem contratar mão-de-obra, conseguindo
converter o dinheiro em capital. O excedente é destinado à acumulação e a concorrência das empresas e
lutas laborais transforma parte desse excedente em capital adicional. A concorrência obrigava a vender-se
em preços baixos e a falta de trabalhadores mantinha os salários altos. Surgem novas técnicas de produção,
aumentando exponencialmente a produtividade.
Só por volta de 1830, começam a surgir sindicatos gerais e modernos que abrangiam membros de
todo o país. Rapidamente o movimento associativista se vai desenvolvendo em torno do socialismo e do seu
apoio à classe trabalhadora. Foi a Reform Bill de 1832 que permite a alteração do xadrez das forças políticas,
acabando com o monopólio político da aristocracia e da burguesia financeira, outorgando à nova classe
dirigente industrial o direito de representação no Parlamento. Esta reforma leva, porém, a uma reação dos
parte dos assalariados, criando-se um grande sindicato geral que, através de guerras e lock-outs, tenta fixar
um horário máximo de trabalho – só em 1840-1850, é que surge a Tem Hours Bill e a chamada Semana-
inglesa, começando a doutrina da época a defender que o bom desempenho do capitalismo poderá carecer
de uma intervenção do estado. Concluindo, afirma-se o poder da burguesia industrial e a defesa do
livrecambismo.
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internas. Começaram, assim, a surgir os primeiros capitalismos nacionais do século XIX. Até aos nossos dias
assistimos a várias alterações no seio do capitalismo que importa caraterizar e explicar.
1. O Capitalismo de Concorrência
1.1. A economia, esfera de ação exclusiva dos particulares
O capitalismo de concorrência, liberal ou individual, utiliza-se para referir a realidade económica
característica dos países onde se verificou a revolução industrial. Carateriza-se por:
(1) Existirem um grande número de pequenas empresas, muitas vezes individuais ou familiares,
gozando os empresários de absoluta liberdade de iniciativa com vista à obtenção do máximo
lucro tendo em conta o preço formado no mercado.
(2) Há uma livre concorrência entre as empresas, já que nenhuma consegue exercer influência
sensível sobre a oferta e, sendo elas muito numerosas em cada indústria, é difícil estabelecer
acordos entre elas com vista ao controlo de preços e do mercado.
(3) Os bens vendidos são homogéneos e, por isso, a clientela não era segura, considerando-se
existir uma plena transparência no mercado. (compradores e vendedores dispõem das mesmas
informações sobre as condições dos mercados)
(4) A concorrência desenrola-se de forma a surgir um mecanismo pelo meio do qual os
consumidores orientam a produção. Assim, considera-se que o consumidor era o último detentor
do poder económico: soberania do consumidor. O mercado era um instrumento automático de
controlo e direção da economia. Como as empresas eram pequenas, os capitais necessários
para abrir uma nova fábrica não eram muito avultados e como o mercado era aberto, sempre
apareciam novas empresas no mercado enquanto a indústria fosse lucrativa para s investidores.
O aumento das empresas, conduz a uma maior oferta e consequente diminuição dos preços,
exigindo um constante esforço de inovação técnica.
(5) Nas condições de concorrência perfeita, o mercado e o mecanismo dos preços eram tidos como
garantes de eficiência social do sistema, sendo que o mecanismo dos preços forneceria aos
agentes económicos a informação necessária para que eles pudessem decidir racionalmente. O
respeito pelos princípios de cálculo económico garantiria que as empresas que permanecessem
no mercado produzissem a maior quantidade de mercadorias ao menor preço possível. Só assim
se satisfariam as necessidades e são os comportamentos errados das pessoas que conduzem a
crises no capitalismo.
(6) A economia funcionaria por si, segundo as suas próprias leis e à margem da política. A economia
é uma esfera totalmente particular e separada do estado. Defendia-se a tese da mão invisível de
Adam Smith, defendendo que se cada individuo procurasse prosseguir o seu bem-estar, as leis
naturais da economia e o livre jogo dos mercados conduziriam a um bem-estar social e á
eficiência e equilíbrio da economia.
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que o fizesse esporadicamente. Devia apenas manter-se neutro e defender o capitalismo, garantindo
também a separação estado/economia.
2. O Capitalismo Monopolista
Surge no último quartel do século XIX e fica marcado pela concentração capitalista e consequente
monopolização da economia. Esta nova fase do capitalismo fica marcada pela alteração das estruturas
económicas do sistema, caraterizadas por poucas grandes empresas, à volta das quais existem pequenas
empresas sem capacidade de influenciar o mercado, substituído pela mão visível das empresas
monopolistas. Fala-se de concentração oligopolista já que a indústria é controlada por um pequeno número
de grandes empresas com condições de impor preços aos consumidores. Estas grandes empresas vieram
conferir um caráter social à propriedade dos meios de produção.
As novas técnicas implicariam a compra de equipamentos muito caros e as grandes empresas exigem
investimentos elevadíssimos, estando esta questão na base da expansão das sociedades dos ações,
começando a surgir as sociedades. As características deste período do capitalismo ficam marcadas pela
concentração monopolista ao nível das empresas privadas em vários dos mais importantes setores da
economia; exportação de capitais privados e recrudescimento do colonialismo e afirmação da importância do
capital financeiro, tanto no processo de concentração, como no movimento de exportação de capitais e na
exploração de colónias.
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Nos primeiros tempos de revolução industrial, a burguesia liberal era apoiante do livre-cambismo
externo. Sem terem de enfrentar grande concorrência externa, os países industriais procuraram novos
capitais para a produção. Conforme a concentração se afirma, a fome de capitais dá origem a um excesso de
capitais e carência de campos de investimento. Afirmam-se os territórios coloniais já que a expansão colonial
abria novos mercados e propiciava campos de ação, onde podiam ser construídas grandes empresas
exploradoras das matérias-primas e mão-de-obra baratas.
As potências europeias empenharam-se na grande campanha ideológica para apresentar o
imperialismo como uma espécie de desígnio nacional, capaz de resolver os problemas sociais das
metrópoles e reduzir a tensão entre as classes sociais. Foi o período da segunda revolução industrial, que
lançou as bases de uma segunda onda de industrialização, estabelecendo o capitalismo como sistema
mundial, facilitando a internacionalização do capital. Destaca-se a descoberta de novas fontes de energia
como a eletricidade e o petróleo que permitiram a racionalização e o melhoramento do trabalho
nomeadamente com a produção em série e a estandardização.
As novas indústrias surgiram a partir de grandes empresas, aquelas que melhor respondem às
exigências da amortização de enormes somas de capitais fixos, em período de acelerado desenvolvimento
tecnológico.
Desenvolve-se também a organização científica do trabalho e a investigação técnica e tecnológica.
Foi o incremento dos meios de transporte e as comunicações que se unificou definitivamente o mercado
mundial. As crises cíclicas tornam-se mundiais. Esta unificação do mercado mundial traz problemas às
potências capitalistas, pois são concorrentes umas das outras nos vários tipos de mercados. Assim, a
exportação de capitais não fez esquecer a exportação de mercadorias. Aquela é um meio para impulsionar
esta. Umas vezes, condicionam-se os empréstimos a conceder a governos ou a empresas privadas
estrangeiras à compra dos produtos necessários no país exportador de capitais. Outras vezes, a exportação
efetua-se sempre através do expediente da constituição de filiais que comprarão à empresa mãe ou a outras
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da metrópole a tecnologia e maquinaria de que careçam e até os bens de consumo para o seu pessoal.
Exemplo de tal são as relações entre a Inglaterra e a India.
Num contexto de um sistema mundial do capitalismo assente em economias nacionais com
interesses conflituantes, a concorrência entre as várias indústrias nacionais obrigou a adotar medidas
protecionistas do mercado interno e ainda a defender as empresas nacionais da invasão de capitais e
mercadorias estrangeiras nos territórios coloniais. Mais uma vez, o papel dos estados nacionais é
determinante. A corrida ás colónias no século XIX foi marcante pelos conflitos que gerou entre as potências
capitalistas e pela situação que criou aos territórios dominados, sejam ou não formalmente independentes no
plano político. Este regime colonial trouxe a divisão do trabalho à escala mundial que irá fazer dos países
dominados produtores de bens primários e meros exportadores de matérias primas, ficando totalmente
dependentes das metrópoles que absorvem a sua independência económica. Surgem os países
subdesenvolvidos e consigo uma civilização de desigualdades.
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fordismo diminui grandemente os custos de produção. Recorre-se á compra e venda de ações e a livre
concorrência dá lugar á luta oligopolistica. A concentração monopolista torna-se indisfarçável.
As atividades oligopolisticas favoreceram a concentração económica e as práticas oligopolistas.
Ficava, contudo, descoberta a instabilidade estrutural da economia capitalista.
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