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D E P R E 4I ^ ,

imHOR
J E M f

O que você
precisa saber sobre
o arrebatamento

Charles C. Ryrie
o que você
precisa saber sobre
o arrebatam ento

Charles C. Ryrie
Autor dos comentários da Bíblia  notada

O b ra
M íssionãría

: Chamada da Meia-Noite=
Caixa Postal, 1688 • 90001-970 Porto Alegre-RS ■Brasil
Fone: (051) 241-5050 • FAX: (051) 249-7385
Traduzido do original em inglês:
"C om e Q uikty, Lord Jesus"

Edição revisadcj do livro anteriormente intitufadoi


"Whal You should Know About the Rapture"
Copyright © 1996 by
Charles C. Ryrie
publicado por
Harvest House Publishers
Eugene, Oregon 97402
EUA
Tradução: Ebenezer Bittencourt
Ana Ruth Bittencourt
Revisão: Ingo Haake
Ingrid H. L. Beitze
Capa e Layout: Reinhold Federolf
Todos os direitos reservados
para os países de lingua portuguesa
© 1997 O bra M issionária
C ham ad a d a M e ia -N o ite
R. Erechim, 973 - B, Nonoaí
90830-000 - PORTO ALEGRE - RS/Brasil
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Composto e impresso em oficinas próprias
"Mas, Q meia-noite, ouviu-se um grito:
Eis 0 noivo! sai ao seu encontro" (Mt 25.6).

A "Obra Missionário Chamada da Meia-Noite"


é uma missão sem fins lucrativos, que crê em
toda a Bíblia como infolível e eterna Palavra de
Deus [2 Pe 1.21). Suo tarefa é alcançar todo o
mundo com a mensagem de solvação em
Jesus Cristo e aprofundar os cristãos no conhe­
cimento da Palavra de Deus, preparando-os
I nc I í c c
Prefácio............................................................................ 7
1. Quais São as Perguntas?........................................ 9
2. As Perguntas São Im portantes?........................... 19
3. O Que é o Arrebatamento?................................... 25
4. Dois Futuros?.......................................................... 31
5. O Vocabulário da Segunda Vinda........................ 39
6. Segunda TessaJonicenses 1 ................................... 45
7. Onde Es lá a Igreja cm Apocalipse 4 a 18?....... 53
8. Onde se Originou o Ponto de Vista
Pré-Tribulacionista?................................................. 61
9. A População do Reino M ilenai'.......................... 6^i
10. O Dia do Senhor.................................................... 87
11. Ira ou Arrebatamento?........................................... 105
N otas...............................................................................] 19
N • \4'Hf (hptfwii^ Srnht*! J/'sus

finliii riiiiii iiiiju)iliiiiU' .iK';i d;i tuolügia. 1’écnico sem sei'


111111,'iiiiir, til» snn ser cansaíivo, “Vem Depressa,
Nriilini l(’siis" c imui contribuição valiosa ao campo da
IiM nossa Ifngua.

1'. L'om giaiidc alegria que recomendo “Vem Depres­


sa, Senhor Jesus" à Igreja de fala portuguesa.

(2cí^%loé- P-Uzící>-
Reiior
Seminário BMitro Palavra da Vkiu
1
Quais São as
Perguntas?
Alguém pode predizer o futuro?

Muita gente espera que alguém possa, e alguns até ten­


tam prever o futuro. Os milhões que lêem o horóscopo to­
dos os dias, e o dinheiro gasto em consultas com médiuns
são evidências claras. Evidentemente, as pessoas têm um
desejo profundo de saber o que o futuro reserva para elas,
para sua.s famílias, e para o próprio mundo.

Eventos mundiais são motivos profundos de preocupa­


ção para muitas pessoas, e por boas razões. Nos últimos
anos temos visto uma desordem violenta afetando Los
Angeles, ataques com gás venenoso a passageiros japo­
neses nas estações de metrô, antigos funcionários des­
contentes em tumultos armados, e a trágica bomba em
Oklahoma City que matou cerca de 200 pessoas, lunto
Hl * Vem Depressa, Senhor Jesus

com essey atos irracionais e iJcgíiis, a crise econômica


tem preocupado muita genie. Corporações estão reduzin­
do süas forças de trabalho sem muito aviso antecipado, e
a recente crise econômica no México tipifica muitas eco­
nomias nacionais instáveis ao redor do mundo.

E existem incertezas políticas globais que perturbam


as pessoas. O esfacelamento da União Soviética tem ge­
rado conflitos terríveis nos vários Estados independen­
tes. A Guen-a do Golfo e as tensões contínuas entre o
Ocidente e Bagdá causara profunda preocupação. Pes­
soas estão pensando a respeito da venda de componentes
paia a fabricação de armas nucleares. I^miiores são rela­
tados quase diaiiamente pelos Jornais. Quem está ven­
dendo; quem está comprando? A Coréia do Norte tem
bomba atômica? O Iraque? Há também os eventos cm
contínua mudança na Bosnia e no Oriente Médio. Será
que algum dia haverá paz nessas piu’tes do mundo? ü tê­
nue tratado de paz do Oriente Médio é quebrado quase
todos os dias por mortes de um lado ou de outro. E as­
sim vai. Não é de se surpreender que pessoas comuns
estejam preocupadas com a sociedade, com o futuro do
mundo e com os seus próprios futuros pessoais.

Hoje, até mesmo em círculos acadêmicos, profecias


estão sendo discutidas c analisadas. A Transforming
Faith (Urna Fé Transformadora) de David Harrington
Watt, e When Time Shall Be No More (Quando o Tempo
Não Mais Existir) de Paul Boyer são apenas dois dos li­
vros recentcs nos EUA que ilustram essa tendência.

Mas quem tem as respostas? Quem faz predições ver­


dadeiramente precisas? Políticos? Videntes? Astrólo­
Quais São as Perguntas? * 11

gos? Adivinhos? Colunistas? Pregadores? Somente a


Bíblia tem as respostas verdadeiras. Somente a Bíblia
profetiza com precisão. Eia revela que somente quando
Jesus Ciisto voltar à terra o mundo experimentará paz e
segurança, e isso acontecerá debaixo do Seu governo. A
Bíblia também revela que antes de Jesus voltar os tem­
pos se tornarão cada vez piores; na verdade, piores co­
mo nunca. E então a hora do terrível período de Tribu­
lação chegará.

A Grande Tribulação preocupa muitos crentes. Eles


terão que passar pela Tribulação? Alguns dizem que
sim. Estes acreditam que o Arrebatamento da Igreja não
acontecerá senão até o fim da Tribulação. Outros dizem
que não. Eles acreditam que os cristãos serão arrebata­
dos antes que a Tribulação comece. Este livro examina
estas duas perspectivas. Mas antes de considerar a épo­
ca do Arrebatamento, nós precisamos examinar os vá­
rios pontos de vista milenistas.

A Questão Milenista

A questão milenista se refere a que tipo de Milênio


vai haver, É claramente ensinado em Apocalipse 20.1­
6 que haverá algum tipo de Milênio. Mas o tipo de
Milênio que vai existir tem sido fortemente debatido
através dos anos. Os cristãos primitivos esperavam o
breve retorno de Jesus Cristo para estabelecer um rei­
no literal nesta terra, sobre o qual Ele reinaria por mil
anos. Essa visão pré-milenista da volta de Cristo loi
ensinada por quase todos os pais da Igreja dos dois
primeiros séculos.
12 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Quando Cristo não voltou, o conceiio da Igreja sobre


o Milênio rnudou para um outro não-literal chamado
“amilenismo”. Agostinho (354-430) enshiou as pessoas
a buscarem um Milênio que deveria ser dc caráter total­
mente espiritual durante a dispensação crislã. Nos anos
medievais e na época da Reforma, a idéia de um reino
de verdade não era ensinada pelos grupos mais proemi­
nentes, alguns dos quais consideravam tal ensinamento
uma heresia. No século XVTT surgiu um novo ensina­
mento milenista chamado pós-milenismo. Ele afirmava
que antes da volta de Cristo haveria uma experiência
mundial de paz e justiça graças aos esforços da Igreja.

Desde então tem havido um reavivamento do pré-mi-


lenismo, uma continuação do amilenismo, e, mais re­
centemente, um ressurgimento do pós-milenismo.

Esses pontos dc vista, pré-, pós- e amilenistas, refe­


rem-se à relação entre a vinda de Jesus Cristo e o Milê­
nio, 0 Seu reino de mil anos.

A Questão do Arrebatamento

No século XIX, ensinamentos a respeito do Arrebata­


mento da Igreja começaram a ser amplamente dissemi­
nados. Isso levantou questionamentos do tipo: se a Se­
gunda Vinda de Cristo envolveria certos estágios; a re­
lação desses estágios com o período da Tribulação; e a
diferença entre a Igreja c Israel no programa de Deus.
Portanto, uma das questões escatológicas principais
deste século é a questão da época do Arrebatamento e
suas ramificações para a visão total do futuro.
I I • Ih jitiWMt, Si níior Jesus

1'iiNi tiHi [\\ntU'iii\Uts, u fViMJlo linico da Segunda Viii


ilit il l ( l í t . l i i i' (Ic i i i i i a ressurreiçSo geral juí/.n
I' 1'li-Mitilinlf 1'jiia os pús-milenislas, não há iim Arreba
l i i i i i i M i l i i f d i n n L í v c n i o separado; uma Segunda Vinda dc-
l i i i l v ( l o M i l c n i o j;í l e r á sido efetivada pela Igreja, e d e ­
p o i s disso vcin a eternidade. Os prc-milenistas concor­
d a mi q u e o Arrebalamentü e a Segunda Vinda s ã ü
c v c D l o s distintos, apesar dc não concordarem entre si a
respeito de quanto tempo os separa.

Pré-tribulacionismo e Pós-tribulacionismo

A principal discordância hoje reside entre os pré-tri-


bulacionistas e os pós-tribulacionistas, sendo qiie ambos
são pré-milenistas. Os pré-trihuíacionislas ensinam qiie
a vinda de Cristo para a Sua Igreja - o Arrebatamento -
acontecerá antes da Tribulação (toda a septuagésima se­
mana de Daniel) começar. Os pón-trihidacionista:i ensi­
nam que o Arrebatamento e a Segnnda Vinda são aspec­
tos de um ünico evento que acontecerá no fim da Tribu­
lação. Ambos concordam que a Segunda Vinda de
Cristo será seguida pelo Milênio na rerra. Essas são as
principais visões que discutiremos neste livro.

Midi-tribulacionismo e Arrefiatamento
Parcial

Há pelo menos mais dois pontos de vista sobre a épo­


ca do Arrebatamento. Um deles é o midi-rribulacionis-
mo. Este ensina, cumo diz o nome, que a Igreja será le­
vada para o céu (arrebatada) no meio do período da Tri-
Visõ es P ré -IMilcnistas
Nolii t“a Kpoca cio Arrebatamento
l'i i'*'l l ihiilacioni.smo
M o i tu 0 ressu rreição A rre b a ta m e n to
i l f C tislo
Retorno d e Cristo

Eternidade
1000 anos

M idi- IVibulacionism o
M o rte e ressu rreição A rre b a ta m e n io
d e C rislo ^ R etorno d e Cristo

E te rn id ad e
3h I 3/2 I 1000 a n o s '
P ós-T ribulacionism o
M o rte e re s s u rre içã o A rre b a to m e n to
d e Cristo — , ^ ^,
■ Retorno d e Cristo

E te rn id ad e
I 7 anos

A rrebatam ento Parcial


M o rte e ressu rreição Retorno d e Cristo
de Cristo

* ( Eternidade
7 anos lOOO anos
16 * Vcni Depressa, Senhor Jesus

bülação. Como a Tribulação durará sete anos, isto signi­


fica que a Igreja estará na terra nos primeiros três anos
em meio,

Como os pré-tribulacionistas, os midi-tribulacioniS“


tas ensinam que o Arrebatamento e a Segunda Vinda
são separados por um período de tempo: sete anos para
os pré-tribuiacionistas e três anos e meio para os midi-
tribulacionistas, Ambos ensinam que a Igreja será li­
berta da fúria do período de Tribulação. Outros aspec­
tos da visão midi-tribulacionista incluem a identifica­
ção da última trombeta de 1 Coríntios 15.52 com a
sétima trombeta dc Apocalipse 11.15, e a interpretação
das duas testemunhas de Apocalipse 11 como símbolos
do grupo maior de pessoas arrebatadas no meio da Tri­
bulação. A maioria dos argumentos que sustentam a vi­
são midi-tribulacionista se opõem ao ponto de vista
pós-tribulacionista.

Enquanto pré-, midi-, e pós-tribulacionismo enfocam


a época do Arrebatamento, a visão do Arrebaíamento
parcial enfoca as pessoas a serem an'ebatadas, Ele ensi­
na que somente os crentes que estiverem “vigiando” e
“aguardando” a volta do Senhor serão dignos dc esca­
par da Tribulação através do Arrebatamento.

Na verdade, o Arrebatamento parcial ensina que ha­


verá vários arrebatamentos. Como os pré-tribulacionis­
tas, os proponentes do Arrebatamento parcial ensinam
que haverá um an-ebataniento no começo da Tribulação
para levar os santos espiritualmente maduros. Então,
várias vezes duraiite os sele anos dc Iribuiação, outros
an-ebatamentos irão remover os santos que estavam des­
Quais São as Perguntas? • 17

preparados no conieço da Tribulação, mas que se mos­


traram merecedores nesse meio tempo. Também haverá
um arrebatamento no final do Milênio.

Em geral, o ensinamento do arrebatamento parcial


quase nem atingiu os Estados Unidos, exceto o movi­
mento da Igreja Local de Witness Lee. Esse grupo en­
tende que versículos como Lucas 21.36 e Apocalipse
3.10 distinguem dois tipos dc santos; aqueles que serão
arrebatados e aqueles que serão deixados na provação.'

As quatro respostas dadas à questão pelos pré-mile-


nistas aparece esquematizada na página 15.

Resumindo, este capítulo nos mostrou que a Igreja


tem perguntas sobre o Milênio e o Arrebatamento. Nas
próximas páginas estaremos discutindo principalmente
o Arrebatamento e a sua relação com o período de Tri­
bulação. Não estaremos discutindo muito a respeito da
visão milenista, exceto como o pré-milenismo se rela­
ciona com pré e pós-tribulacionismo. Mas antes de co­
meçarmos precisamos perguntar: “Tais perguntas são
realmente tão importantes assim?”
2
As Perguntas
São
Importantes?
Realmente íaz alguma diíerença sabermos quando o
Senhor vai volUu'? Será que só o füto de que Ele vai vol­
tar não é mais importante do que quando?

Todas as doutrinas bíblicas têm importância igual?


De um certo ponto de vista, sim; mas de outio, não. O
fato de Deus haver decidido revelar alguma coisa torna
esta coisa importante - até genealogia. Portanto, todo
na Bfblia é de igual importância da perspectiva da reve­
lação de Deus.
20 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Por outro lado, uma pessoa pode ser salva sem saber
muita coisa sobre a revelação de Deus na Bíblia.

Verdades a respeito de salvação e sobre a precisão e


autoridade da Bíblia obviamente estariam no começo de
qualquer lista de doutrinas impoilantes. No entanto, is­
so não quer dizer que ensinamentos bíblicos a respeito
do fuluro ou de demônios ou sobre a Igreja não sejam
importantes. Mas quando comparadas com o meio pelo
qual uma pessoa é salva, tais doutrinas não são tão im­
portantes quanto o Evangelho.

A Questão do Final dos Tempos

Quão importante é a escatologia? Até mesmo a men­


sagem da salvação inclui alguma coisa sobre vida eter­
na, algo sobre o juízo futuro, e um Juiz que irá intervir
nos assuntos da humanidade (At 17.31). No entanto, a
questão principal deste livro, a época do Arrebatamen­
to, não precisa ser estabelecida nem sequer compreendi­
da para que pessoas possam ser salvas.

Porém, existem várias razões que tornam essa ques­


tão importante.

Profecia
Profecia é importante para a revelação bíblica. Afir­
ma-se que um quarto da Bíblia era profecia quando ela
foi escrita (claro que muitas dessas profecias já se cum­
priram), e que um em cada cinco versículos dos escritos
de Paulo dizem respeito a profecia. Passagens sobre o
_______________ Aá' Perguntas São Importantes? • 21

Arrebatamento formam uma parte importante deste ma­


terial referente à escatologia. Uma parte da instrução
sobre o Arrebatamento vem dos ensinamentos de Paulo
(1 Co 15.51-58; 1 Ts 4.13-5.11); outra parte dos ensina­
mentos de Cristo {Jo 14.1-3; Ap 3.10).

Além disso, o Senhor fez uma promessa aos discípu­


los e a nós a respeito do ministério de ensino do Espíri­
to Santo nesta dispensação. Ele prometeu que o Espírito
Santo iria “vos [anunciar] as cousas que hão de vir”
(Jo 16.13). A frase “cousas que hão de vir” parecc se
referir a uma área específica da verdade dentro da pro­
messa mais abrangente de que o Espírito “vos guiará a
toda a verdade,” Em outras palavras, é prometida uma
atenção especial à profecia. Algumas pessoas acreditam
que estas coisas por vir não se referem aos eventos do
fintil dos tempos, mas à revelação sobre o período da
Igreja Cristã (que era futuro quando Cristo falou). Mes­
mo que essa interpretação seja correta, “cou.sas que
hão de vir” não podem excluir os eventos do final do
período da Igreja, portanto a frase ainda envolve verda­
des proféticas, incluindo o Arrebatamento.

O Senhor, então, espera que entendamos as profecias,


incluindo as profecias sobre o Arrebatamento. Essa
doutrina, claramente, não pode ser ignorada se entrar­
mos a fundo no cumprimento da promessa de Cristo
(veja I Ts 5.6; Tt2.13).

Iminência
A questão da época do Arrebatamento está relacionada
ao conceito de iniinência, que significa “uma ameaça.
22 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

pendente sobre a cabeça da pessoa, próxima a acontecer.”


Um evento iminente é algo que está sempre próximo a
acontecer. Os pré-tribiilacionisla.s reconhecem que algu­
ma coisa pode acontecer antes que um evento iminente
ocoira, mas eles não insistem que algo deva acontecer
antes que este oeorra; senão não seria iminente. Os pós-
tribulacionistas aplicam iminência “a um evento que está
próximo e não pode, a essa altura (no tempo) ser precisa­
mente datado, mas que não irá acontecer até que alguns
eventos preliminares necessários aconteçam,”*

Porém, certamente alguns crentes vivendo na terra


diuante a Tribulação poderiam “datar precisamente” o
tempo do arrebatamento pós-tribulacionista simples­
mente determinando quanto tempo falta nos sete anos.
Portanto, mesmo pela definição pós-tribulacionista de
iminência, é difícil de enxergar como um arrebatamento
pós-tribulacionista poderia ser iminente, No conceito
pré-tribulacionista, nenhum evento tem que acontecer
antes que o Arrebatamento ocorra; portanto, o Arrebata­
mento e iminente e o tem sido por séculos. Os pré-tri­
bulacionistas também argumentam que se a Igreja esta­
rá na terra durante a Tribulação e não será aiTebatada
até o seu fmal, então o Arrebatamento não pode estar
“próximo de acontecer” até que estes eventos preditos
para durante a Tribulação aconteçam primeiro. Somente
então (no fmal da Tribulação) o Arrebatamenio seria
iminente, A necessidade de que alguma coisa aconteça
antes que ocorra o Arrebatamento enfraquece o concei­
to de iminência.-

Logo que comecei a lecionar, não conhecia muitas


pessoas que tinham claras convicções pós-tribulacionÍs-
_______________ As Perguntas São Importantes? * 23

tas. Isso era parcialmente devido ao fato de que eu an­


dava principalmente em círculos pré-tribulacionistas.
Mas também era porqiTC a visão pós-tribulacionista não
era popular, Nas víírias décadas desde então, alguns
cristãos têm mudado da posição pré-tribulacionista para
a pós-tribulacionisla. Mais literatura tem sido publica­
da. A doutrina hoje não é considerada tão importante
quanto a experiência. Cooperação entre evangélicos,
com o propósito de atrair a maior audiência possível,
normalmente exclui a proclamação de diferenças esca-
tológicas. O espírito dos nossos tempos tem aversão a
dogmatismo, mesmo a respeito da verdade.

De bom grado, respeito opiniões diferentes, espe­


cialmente quando elas são mantidas inteligentemente.
Um dos maiores valores do cristianismo nos Estados
Unidos tem sido a liberdade de manter posições dife­
rentes e de estabelecer igrejas e escolas que as prom o­
vam. Nossas diferenças a respeito da questão do Arre­
batamento não precisam existir prejudicando a causa
de Cristo. Nós deveríamos querer estudar a questão não
para dividir a Igreja, mas porque é parte da revelação
de Deus, porque está englobada na promessa de Cristo
em João 16.13, e porque ela forma nosso conceito de
iminência,

Todo o P lano

Mas há mais uma razão. A questão é importante para


a proclamação de todo o plano de Deus com exatidão.
Percebo atualmente um espírito de agnosticismo escato­
lógico que não 6 saudável para a Igreja. Alguns estão
dizendo que nós não podemos saber (agnosticismo) as
24 « Vem Depressa, Senhor Jesus

lespostas dessas questões escatológicas menores, por­


tanto, deveríamos simplesmente ignorá-las. Eles nos as­
seguram que a igreja não irá perder muito com isso.

Mas SC nós perdemos qualquer coisa da revelação de


Deus, perdemos algo importante. Precisamos ter con­
vicções a respeito das verdades escatológicas para que
possamos proclamar toda a verdade de Deus. O Arreba­
tamento é Lima parte vital da escatologia. É uma questão
que vale a pena estudar, uma verdade que vale a pena
proclamar.

Sofrim en to

Finalmente, note que as razões que tornam o Arreba­


tamento uma questão impoitante, não incluem o desejo
de evitar o sofrimento, se o mesmo for da vontade de
Deus para nós.

Os pré4rÍbulacionistas não mantêm sua visão como


um mecanismo de escape. Nosso Senhor avisou que
crentes em cada geração sofreriam tribulação nesle
mundo (Jo 16.33). Paulo disse que é norma] para o cris­
tãos viverem debaixo de uma sentença de morte (Rm
8.36). A questão do Arrebatamento não se refere às tri­
bulações cristãs no geral; refere-se à relação dos cris­
tãos com o período ainda futuro de tribulação.

Se a Sua vmda for pré-tribulacional, então nós O lou­


varemos porque escapamos dessa época terrível. Se for
pós-tribulacionaL então alegremente sofreremos por
Ele. De qualquer forma, ainda teremos a bendita espe­
rança dc Sua volta.
3
O Que é o
Arrebatamento ?
o conceilo moderno de arrebatamento tem pouco ou
nada a ver com mn eveiito escaroJógico. Mas a palavra é
usada conetamente para designar esse eventO;

Arrebatamento é um estado ou experiência de ficar ex­


tasiado. Somos arrebatados pela beleza de um pôr-do-sol.
Dizemos que é um completo arrebatamento escutar uma
certa peça musical. Quando íalamos tais coisas queremos
dizer que ficamos extasiados com a experiência.

Essa palavra vem do latim rapio, que significa “cap­


turar ou ser removido no espírito” , ou a própria remo-
26 ■ Vem Depressa, Senhor Jenus

ção de nm lugar pca ourro. Em outras palavras, significa


ser removido seja no espírito on no corpo. Portanto, o
Arrebatamenio da Igreja significa a remoção da igreja
da terra para o céu.

.çMas este é um termo bíblico? Sim. A pailavra gre­


ga de onde retiramos o termo ArrebaLamento apa­
rece em 1 Tessalonicenses 4.17 e é traduzida como
“a rre b a ta d o s.” A tradução iatina desse versículo
usa a palavra m pturo, de onde se deriva a nossa
palavra rapto. Portanto, é um termo bíblico que veio
a Jiós através da tradução latina de 1 Tessalonicen­
ses 4.17.

A palavra grega original neste versículo é harpazo.


Como a palavra latina, ela também significa “an-ancar”
ou “levar embora” , e ocorrc 13 vezes no Novo Testa­
mento. Ela descreve como o Espírito arrancou Filipe de
perto de Gaza e o levou para Cesaréia (At 8.39). Paulo
a usava para descrever a experiência de ler sido levado
ao terceiro céu, seja dentro ou fora de seu próprio cor­
po (2 Co 12.2-4). Portanto, não pode haver dúvida de
que ela está descrevendo uma verdadeira remoção de
pessoas da terra para o céu quando é iisada em 1 Tessa-
lonicenses 4.17 em referência ao Arrebatamento da
Igreja.

Cinco Aspectos do Arrebatamento

Como será esse evento? Paulo responde a essa per­


gunta com detalhes em 1 Tessalonicenses 4.13-18 des­
crevendo cinco aspectos do Arrebatamento.
o Que é o Arrebatamento? ■ 27

A volta de Jesus

Haverá uma volía de Cristo (versículo 16). O próprio


Senhor virá para o Seu povo, acompanhado por todo o
esplendor que Sua presença merece. Haverá um grito',
um comando tai como o de um oficial que dá ordens às
suas tropas. O texto não diz se o Senhor ou um arcanjo
irá gritar, apesar de que será ouvida a voz de um arcan­
jo. Miguel é o único arcanjo nomeado na Bíblia (Jd 9),
mas é possível que haja outros arcanjos (veja Dn
10.13); e note que Paulo escreveu '‘um arcanjo”, e não
“o arcanjo”, na língua original de 1 Tessalonicense.s
4.16). A trombeta de Deus irá chamar os mortos em
Cristo para a sua ressurreição, e ao mesmo tempo ela
será um aviso para aqueles que rejeitaram a Cristo de
que agora é tarde demais para participar do Arrebata­
mento. O Arrebatamento, claramente, não será um
eventO -silencioso.

R essurreição

Haverá uma ressurreição (versículo 16). Nesse ponto


da história somente os mortos em Cristo .subirão (ou se­
ja, somente cristãos). Mesmo havendo maitos crentes
desde Adão, nenhum crente foi colocado “em Cristo”
até o dia de Pentecostes, quando o batismo do Espírito
Santo aconteceu pela primeira vez (At 2). Portanto,
aqueles levados no Arrebatamento incluem todos os
crentes desde o dia de Pentecostes até o Arrebatamento.
Será dada prioridade aos mortos, que subirão logo antes
dos vivos serem transformados. Mesmo assim ambos os
grupos experimentarão suas transformações “num mo­
mento, num abrir e fechar dolhos” (1 Co 15.52). To­
28 » Vem Depressa, Senhor Jesus

do o procedimento será instantâneo, e não gradual. A


palavra grega para “momento” vern da palavra átomo.
Quando o átomo foi descoberto, pensava-se que cie era
indivisível, motivo por que foi chamado de “átomo”.
Mesmo depois de o átomo ter sido dividido, a palavra
ainda significa “indivisível”. O Arrebatamento aconte­
cerá em um instante indivisível de tempo, como um pis­
car de olhos.

Arrebatamento
Haverá um Arrebatamento (versículo 17). Os crentes
vivos serão levados à presença do Senhor .sem a expe­
riência de morte física. No passado, outros dois foram
ao céu sem morrer: Enoque e Elias. Foi por isso que
Paulo chamou de mistério essa trasladação da vida na
teira para a vida no céu, sem experimentar a morte (1
Co 15.51). O uso que Pauio faz da palavra mistério é o
seu modo de nos dar um sinal para que saibamos que
ele está prestes a dizer alguma coisa que nunca foi reve­
lada antes. A ressurreição não era desconhecida, pois o
Antigo Testamento já mencionara a res.surreição dos
mortos (Jó 19.25; Is 26.19; Dn 12.2). E Cristo também
(Jo 5.26-29). Mas em nenhum lugar Deus tinha revela­
do que um grande grupo de pessoas não teria que mor­
rer, mas iria diretamente desta vida para a presença de
Deus. Enquanto as experiências de Enoque e Elias ilus­
travam isso, eles não prometeram esta experiência para
mais ninguém.

Em I Coríntios 15.51-54 Paulo nos conla como isto


irá acontecer. Os corpos daqueles que morreram antes
do Senhor vohar terão experimentado corrupção; por­
o One é 0 Arrebatamento? • 29

tanto cies terão que receber a incorrupção na hora da


ressurreição. Mas os corpos de crentes vivos não terão
experimentado a corrupção da morte; eles serão mor­
tais. Portanto eles serão revestidos de ijnortalidade atra­
vés de algum processo inexplicado que substituirá cor­
pos sujeitos à morte (mortais) por corpos que jamais
morrerão (imortais).

Estritamente falando, a palavra arrebatamento se re­


fere apenas à experiência de crentes vivos que são leva­
dos à presença do Senhor. No entanto, teologicamente
falando, arrebatamento é usado para denominar todo
esse eventü, incluindo a ressurreição dos crentes que já
tenham m onido assim como a trasladação dos crentes
que estiverem vivos.

Encontro
Haverá um encontro (versículo 17), primeiro com
pessoas queridas e depois com o Senhor. Naquele ins­
tante de ressurreição e trasladação, haverá incontáveis
encontros com pessoas queridas. Mas o entusiasmo des­
ses encontros será ofuscado pelo brilho do que será ver
0 próprio Senhor.

Onde Ele nos levará então? Para as moradas celes­


tiais que Ele está preparando agora para os que são Seus
(Jo 14.1-3). De acordo com a visão pré-tribulacionista,
a Igreja será julgada e recompensada no céu enquanto
estarão acontecendo os sete anos de Tribulação na terra;
então Cristo e Sua Igreja retornarão em grande glória
para a terra no fmal da Tribulação para executar outros
juízos e para estabelecer o Seu reino milenar.
30 ‘ Vem Depressa, Senhor Jesus

C onfiança R enovada

Esta doulrina dá uma confiança renovada (versículo


18). Paulo disse: “Consolai-vos, pois, uns aos outros
coni estas palavras.” A palavra consolai também signi­
fica “encorajar’. A doutrina do Arrebatamento consola
a todos os que perderam entes queridos. Os crentes não
precisam süfrer como aqueles que não têm esperança
eterna. A vercíade tio An'ebatamento nos encoraja com
um ccrlo conhecimenLo e uma esperança firrne quanto
ao futuro. Entes queridos serão Jevados ressurretos e os
vivos serão transfoniicidos quando o Senhor vier.

Essas verdades cor^soladoras e encorajadoras são vá­


lidas, sejamos pré-, midi- ou pós-tribulacionistas. Mas
o conceito de arrebatamento parcial diminui os aspec­
tos de consolo e encorajamento da doutrina. Dc acor­
do com essa teoria existem vários arrebatamentos, e
todos eies são recompensas para os vencedores. Por­
tanto, a Tribulação se torna uma espécie de purgató­
rio, e os arrebatamentos se tornam tempos de liberta­
ção do purgatório.

Além disso, ambas as descrições de Paulo sobre o


Arrebatamento em 1 Coríntios 15, c em 1 Tessaloni­
censes 4 discordam com o ponto de vista do arrebata­
mento parcial. Paulo disse que seria num momento, e
não durante sete anos ou mais, que “transformados
seremos todos”, e não somente os espirituais (I Co
15.51). E ele escreveu estas palavras de confiança aos
coríntios, muitos dos quais quase nunca poderiam ser
chamados dc vencedores como definido pelo arrebata-
menío parcial!
4
Dois Futuros?
Antes de examinar passagens específicas que os pré-
e pós-tribulacionistas usam para sustentar suas posi­
ções, seria útil descrever a ampla cronologia que cada
ponto de vista defende quanto ao futuro.
Obviamente, netn todos os seguidores de cada visão
concordam exitre si em iodos os detalhes. Por seu iado,
os pré-tribulacionistas projetam uma cronologia bem
mais detalhada do futuro que os pós-tribLílacionistas,
que, no geral, se concentram mais em se opor aos argu­
mentos pré-tribulacionistas do que em organizar sua
cronologia própria do futuro.

O futuro pré-tribulacionista

O ponto de vista pré-tribulacionista vê o Arrebata­


mento como o próximo evento no programa de Deus.
32 * Vent Depressa, Senhor Jesus

Ele irá ocorrer antes que a Tribulação comece, ten­


do como sinal de seu início o pacto entre Israel e o
líder do Império Romano reavivado, governado pelo
homem do pecado. Este evento inicia a septuagésima
semana de Daniel (9.25-27), o período de sete anos
da Tribulação, durante o qual a Igreja estará ausente
da terra em cumprimento da promessa de Apocalip­
se 3.10. A Tribulação também dá início ao Dia do
Senhor, o qual mclui totalmente aquele período e os
julgamentos da Segunda Vinda de Cristo e o Milê­
nio. No início dos sete anos, 144.000 judeus são se­
lados, salvos e protegidos a fim de servirem a Deus
durante aquele tempo. Também, a igreja mundial ga­
nhará grande poder político antes de ser destruída no
meio da Tribulação. Os julgamentos dos selos em
Apocalipse 6 (ou, no mínimo, a maioria deles) serão
derramados sobre a terra como parte da ira durante
a primeira metade da Tribulação.

Neste ponto intermediário, as duas testemunhas de


Apocalipse 11 serão mortas e ressuscitadas. A igreja
ecumênica será fechada. Satanás será atirado do céu pa­
ra iniciar uma perseguição ainda mais intensa contra o
povo judeu (Ap 12.9,13). O homem do pecado quebrará
sua aliança com Israel e procurará estender o seu domí­
nio tanto político quanto religioso. Ele exigirá que o
mundo o adore.

Mas na última parte da Tribulação, outros julgamen­


tos horríveis cairão sobre a terra (Ap 8-9,16). O Egito
cairá, a grande Aliança do norte da Palestina atacará,
exércitos do Oriente virão à Palestina, e a campanha do
Armagedom terminará com a volta de Cristo.
Dois Futuros? • 33

Ponto de Vista Prc-Tribulacionista

1. 0 Arrebatamento ocorre antes da Tribulação.


2. A Igreja experimenta Apocalipse 3.10 antes da
Tribulação.
3. 0 Dia do Senhor começa com a Tribulação.
4. Primeira Tessalonicenses 5.2-3 ocorre no início
da TribulaçÕo.
5. Os 144.000 são redimidos no início da Tribula­
ção.
6. 0 Arrebatamento e a Segunda Vinda são even­
tos separados por 7 anos.
7. Os israelitas vivos serão julgados na Segunda
Vinda.
8. Os gentios vivos serão julgados na Segunda
Vinda.
9. Os pais da população milenar virão dos sobre­
viventes dos julgamentos dos judeus e gentios
vivos.
10. Os crentes da era da Igreja serão julgados no
céu, entre o Arrebatamento e a Segunda Vin­
da.
34 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Então os julgamentos cairão sobre os judeus que te­


rão sobrevivido à Tribulação (Ez 20.33-44) e sobre os
gentios .sobreviventes (Mt 25.31-46). Os únicos a serem
liberados des.ses julgamentos serão aqueles que aceita­
ram a Cristo, e eles entrarão no reino milenar com cor­
pos terrenos não ressuscitados para se tornarem os pais
da população do Milênio.

Cristo então estabelecerá o Seu Reino e reinará nesta


terra por mil anos. No fmal, Satanás será libertado e li­
derará uma revolução final sem sucesso. Todos os incré­
dulos de todos os tempos serão ressuscitados, aparece­
rão no julgamento do grande trono branco e então serão
jogados no lago de fogo para sempre.

O Futuro Pós-Tribulacionista

O ponto de vista pós-tribulacionista também vê a


septuagésima semana de Daniel ainda no futuro. Mas
do seu ponto de vista, a Igreja não será arrebatada antes
do início da septuagésima semana. Ao invés disso, a
Igreja estará na terra durante todo o período de sete
anos de Tribulação. Não haverá um arrebatamento para
sinalizar a assinatura iminente de um pacto entre o lio-
mem do pecado e Israel. Ao invés disso, este acordo se­
rá assinado, e a Tribulação começará, no deconer nor­
mal do curso dos assuntos políticos do mundo. Os ju l­
gamentos dos selos, trombetas e taças acontecerão
durante aquele tempo (ocorrendo paralelamente e não
seqüencialmente). No entanto, esses julgamentos não
são a manifestação da ira de Deus, mas sim da ira de
Satanás e do homem. A ira de Deus não será derramada
Dois Futuros? • 35

Ponto de Vista Pós-tribulacionista


1. 0 Arrebatamento acontece depois da Tribula­
ção.
2. A Igreja experinnenta Apocalipse 3.10 no final
do Tribulação.
3. 0 Dia do Senhor começa no final do Tribulação.
4. Primeira Tessalonicenses 5.2,3 ocorre perto do
final da Tribulação.
5. Os 144.000 são redimidos na conclusão do Tri­
bulação.
6. 0 Arrebaíamento e a Segunda Vindo são o
mesmo único evento.
7. Não existe julgamento dos israelitas vivos na
Segunda Vindo,
8. Os gentios vivos serão julgados depois do Milê­
nio.
9. Os pais da população do Milênio serão os
144.000 judeus.
10.Os crentes da era da Igreja são julgados de­
pois do Segunda Vindo ou na conclusão do Mi­
lênio.
36 * Vem Depressa, Senhor Jesus

senão até o fmal da Tribulação. Os 144.000 serão prote­


gidos por Deus para não morrerem durante aquele pe­
ríodo, mas eles não serão salvos senão no momento da
Segunda Vinda. Alguns pós-tribulacionistas consideram
os 144.000 corno representantes simbólicos da Igreja e
não como um número específico de judeus.

No final da Tribulação, o Dia do Senhor terá início,


precedido por urna calmaria de paz em meio aos eventos
horríveis que estarão acontecendo (o que será o cumpri­
mento de 1 Tessalonicenses 5.2-3). Então, a Igreja expe-
.rimentará o cumprimento de Apocalipse 3.10 e emergirá
do período da Tribulação no seu instante fmal, logo an­
tes da batalha de Armagedom. Assim, o Arrebatamento
será um evento único que acontecerá junto com a Segun­
da Vinda, com a Igreja encontrando o Senhor nos ares e
imediatamente voltando e descendo à terra.

Quando o Senhor retornar não haverá julgamentos


formais dos sobreviventes da Tribulação. Os 144.000
serão salvos naquele momento (assumindo que eles, na
verdade, são judeus, e não representantes da Igreja) e
entrarão no Milênio em seus corpos não ressuscitados.
O julgamento dos gentios vivos de Mateus 25.31-46
não acontecerá senão no fim do Milênio, na mesma
época do julgamento dos incrédulos no grande trono
branco.

Onde os Dois Pontos de Vista Concordam

Note os pontos de concordância enlre os dois pontos


de vista.
Dois Futuros? • 37

1. A septuagésima semana de Daniel ainda está no futu­


ro e começará com a assinatura de um acordo entre
Israel e o homem do pecado.

2. A terra literalmente experimentará os julgamentos


descritos no livro de Apocalipse (ainda que alguns
pós-tribulacionistas tendam a considerar alguns deles
como não sendo literais).

3. A Segunda Vinda dará início ao reino milenar de


Cristo.

4. O julgamento dos incrédulos no grande trono branco


acontecerá depois do Milênio.

Percebemos então que temos pontos de concordância


e de discordância entre estas duas cronologias. Agora
estamos prontos para examinar as Escrituras sobre as
quais cada um desses pontos se fundamenta.
5
O Vocabulário
da Segunda
Vinda
As palavras usadas no Novo Testamento em rela­
ção à Segunda Vinda indicam que ela será um úni­
co evento (ponto de vista pós-tribuhicionista), ou dois
eventos separados por sete anos (ponto de vista pré-
tribulacionista)?

Os pós-tribulacionistas dizem: “A parousia, o apoca­


lipse, e a epífania parecem ser um evento ünico. Qual­
quer divisão da vinda de Cristo eni duas partes é uma
inferência para a qual não há provas.'”
40 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Coloquemos o argumento de outra forma: já que os


escritores do Novo Testamento usam várias palavras pa­
ra a Segunda Vinda, se o Arrebatamento e a volta de
Cristo são eventos separados, porque eles não reserva­
ram um termo específico para o Ariebatamenlo e outro
para a volta, ao iuvés de aparentemente usar essas pala­
vras intercambiavelmente?-

Parousia

Parousia, significando “vinda”, “chegada”, ou “pre­


sença” , é usada era relação ao Arrebatamento em 1 Tes­
salonicenses 4.15. O termo também descreve a Segunda
Vinda de Cristo em Mateus 24.27. Esse uso da palavra
permite duas conclusões possíveis: (1) Parousia descre­
ve o mesmo evento, dando a entender que o Arrebata­
mento e a Segunda Vinda são um evento único no final
da Tribulação, ou (2) Parousia descreve dois eventos se­
parados, ambos caracterizados pela presença do Senhor,
mas eventos que não acontecem ao mesmo tempo.
Qualquer uma dessas conclusões é válida.

Aqui está uma ilustração. Vamos supor que avós


muito orgulhosos dissessem aos seus amigos: “Nós es­
tamos esperando ansiosamente a oportunidade de go­
zarmos a presença (parousia) de nossos netos na próxi­
ma semana.” Então, mais tarde, cm uma outra conversa,
eles acrescentariam: “Sim, nós estamos esperando nos­
sos netos para a celebração de nossa.s bodas de ouro.”
Se ouvisse tais afirmações, você poderia chegar a duas
possíveis conclusões: (I) Os netos estão vindo na próxi­
ma semana para a celebração das bodas de ouro. Ou se­
o Vocabulário da Segunda Vinda * 41

ja, os avós estão falando da vinda e do aniversário como


Liin evento único, sobre fatos que ocorrerão ao mesmo
tempo. (2) Os netos estarão fazendo dnas viagens para
ver os seus avós - uma na próxima semana (como parte
de suas férias, por exemplo), e outra mais tarde para a
celebração das bodas de ouro.

Da mesma forma, desde que a presença (parousia) do


Senhor caracterize a ambos, tanto o Arrebatamento
quanto a Segunda Vinda, a palavra em si mesma não in­
dica se esses eventos acontecerão separadamente ou se­
rão um evento único. Concluindo, o vocabulário usado
não prova necessariamente nem um nem outro dos pon­
tos de vista (pós- e pré-tribiilacioaista).

Âpokalupsis

Uma segunda palavra usada para a vinda do Senhor é


apokalupsis, que significa “revelação”. Ela ocorre refe­
rindo-se ao Arrebatamento em passagens como 1 Co-
ríntios 1.7, e I Pedro 1.7 e 4.13 porque, quando Cri,sto
vera para a Sua Igreja, Ele se revelará a Si Mesmo para
ela. Na Sua vinda, a Igreja O verá como Ele é. O ternio
também apaiece em passagens que descrevem Sua vin­
da à terra, no ilnal da Tribulação (2 Ts 1.7), porque na­
quele evento Cristo também se revelai'á ao mundo.

Duas conclusões são possíveis:

( 1 ) 0 ArrebaLamento e a Segunda Vinda são o mes­


mo e único evento. Desde que ambos são chamados
de “a revelação de Cristo”, eles devem ocorrer ao rnes-
42 * Vem Depressa, Senhor Jesus

mo lempo e ser parte de um mesmo eveiiLo no final


da Tribulação.

(2) Tanto o Arrebatamento quanto a Segunda Vinda


revelarão a Cristo, mas não ao mesmo tenipo, nem sob
as mesmas circunstâncias. Assim, o Arrebatamento e a
Segunda Vinda podem estar separados, como o ponto
de vista pré-tribulacionista ensina.

A primeira conclusão usa a palavra revelação como


uma palavra de catalogação-, ou seja, em todas as pas­
sagens onde o termo é usado ele cataloga todos os fatos
como pertencendo ao mesmo evento. A segunda con­
clusão vê a palavra revelação como uma palavra de ca­
racterização: ou seja, cia é usada para caracterizar
eventos diferentes de uma mesma maneira, como uma
revelação.

Torna-se então ainda mais óbvio que o vocabulário


usado no Novo Testamento não parece provar nem o
ponto de vista pré-tribulacionista, nem o ponto de vis­
ta pós-tribulacionista. Mas vamos nos aprofundar no
assunto.

Epiphaneia

A terceira palavra principal para a Segunda Vinda é


epiphaneia^ a qual significa “manifestação.” Na Segun­
da Vinda, Cristo destruirá o Anticristo pela simples
manifestação de Sua vinda (2 Ts 2.8). A palavra tam­
bém é usada em referência à esperança do cristão
quando ele contemplar o Senhor (2 Tm 4.8; Tt 2.13).
_____________ o Vocabulário da Segunda Vinda ■ 43

Devemos concluir que esle lermo está classificando es­


sas referências de forma a atribuí-las ao mesmo e único
evento? Ou podemos concluir que ele está caracteri­
zando dois eventos diferentes, ambos envolvendo a ma­
nifestação de Cristo, mas que não ocorrem ao mesmo
tempo? A resposta pode ser qualquer uma das duas,
mas não am bas!

Claramente, então, o vocabulário não prova que o Ar­


rebatamento é pré- ou poS“lrib u la cio n a l. Por que, então,
esse vocabulário continua sendo usado? Simplesmente
porque os pós-tribulacionistas continuam acreditando
que ele fornece uma sustentação válida para seu ponto
de vista. Eles até argumentam que o vocabulário “subs­
tancia” seu ponto de vista.'*

Mas a pressuposição dos pós-tribulacionistas que os


faz continuarem a usar esse argumento é que essas pala­
vras classificam ao invés de caracterizarem. O vocabu­
lário talvez até pudesse caracterizar; mas, na verdade,
ele não o faz.

Vejamos a palavra motor. Nossa máquina de lavar


roupa tem um motor. Nosso ventilador tem um motor.
Minha câmara fotográfica tem um motor que avança au­
tomaticamente o filme. Será que o motor é uma caracte­
rística de todos estes produtos? Ou será que motor é
unia forma de classificá-los, o que nos forçaria a con­
cluir que tudo que tiver um motor é a mesma coisa? A
resposta é óbvia.

Será que “presença”, “revelação” e “manifestação”


caracterizam diferentes eventos ou classificam o mesmo
44 » Vem Depressa, Senhor Jesus

evento? O pré-tribulacionista diz que caracteriza; o pós-


tribulacionista conclui que classifica.
6
Segunda
Tessalonicenses 1
Alguns pós-tribulacionistas dizem encontrar um ar­
gumento importante para a sua posição no texto de 2
Tessalonicenses 1.5-10:

“Sinal evidente do reto juízo de Deus, para que se­


jais considerados dignos do reino de Deus, pelo qual,
com efeito, estais sofrendo; se de fato é justo para
com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos
atribulam, e a vós outros que sois atribulados, alívio
juntamente conosco, quando do céu se manifestar o
Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama
de fogo, tomando vingança contra os que não conhe­
46 * Vem Depressa, Senhor Jesus

cem a Deus e contra os que não obedecem ao evan­


gelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penali­
dade de eterna destruição, banidos da face do Se­
nhor e da gloria do seu poder, quando vier para ser
glorificado nos seus santos e ser admirado em todos
os que creram, naquele dia (porquanto foi crido en­
tre vós o nosso testemunho).”

Pós-tribulacionistas entendem que esta passagem diz


que “Paulo coloca o livramento da perseguição dos cris­
tãos como algo que acontece no retorno pós-tribulacio­
nai de Crislo para julgar os incrédulos, enquanto que,
dc acordo coin os pré-lribulacionistas, esse livramento
ocorrerá sele anos antes.” ‘ Em outras palavras, desde
que o livramento aconteça na época da Segunda Vinda,
e o livramento esteja conectado cora o Arrebatamento,
o Arrebatamento deve acontecer ao mesmo tempo que a
Segunda Vinda. Este ponto de vista é diferente do ponto
de vista pré-tribulacionista.

Pontos de Vista Conflitantes

Vejamos porque esta posição pós-tribulacionista de 2


Tessalonicenses 1 conflita com o ponto de vista pré-tii-
bulacionista. O conflito afeta principalmente três áreas
dessa passagem bíblica: o grupo de pessoas a que se re­
fere, o tempo do livramento, e o assunto do apóstolo.

As P essoas

Se nos perguntarmos que grupo de pessoas experi­


mentará esse livramento, os pós-tribulacionistas respon-
Segunda Tessalonicenses / * 47

dcrão: somente aqueles cristãos que sobreviverem à Tri­


bulação e que esLarão vivos no Arrebatamento (pós-lri-
bulacionista). Conseqüentemente, a passagem somente
se refere ao livramento dos cristãos que estarão vivos
no fim da Tribulação.

Se isso for verdade, porque Paulo aparentemente ig­


nora os tessalonicenses que já haviam sofrido persegui­
ção e que já haviam morrido? A morte seria a maneira
pela qual Deus os libertou. Por que então ele não men­
ciona essa forma de livramento, qae alguns de seus lei­
tores ainda poderiam experimentar? Certamente o Ar­
rebatamento dos vivos trará livramento da perseguição,
mas somente uma porcentagem relativamente pequena
de crentes é que experimentará esse tipo de livramento,
já que a maioria terá morrido antes do Arrebatamento.
Se livramento é o assunto principal de Paulo neste tex­
to, e se este livramento virá no Arrebatamento pós-tri­
bulacionista, então Paulo está oferecendo esta esperan­
ça de livramento para um grupo muito pequeno de
crentes.

O Tem po

Dessa linha pós-tribulacionista devemos também


concluir que o livramento dos cristãos está previsto
para acontecer no tempo do julgamento flamejante
dos incrédulos. Esse livramento não está sendo des­
crito em termos do encontro com o Senhor nos ares
e do estar com Ele para sempre, ou em termos da
ressurreição daqueles que já morreram, como outras
passagens sobre o Arrebatamento a descrevem. Ob­
viamente se o inimigo de alguém está sendo punido.
4S « Vem Depressa, Senhor Jesus

então há livramento da perseguição. Mas o ponto é


0 seguinle: onde 6 que o Arrebatamento está sendo
descrito nessa passagem? O aspecto da Segunda Vin­
da que está recebendo proeminência aqui é o aspec­
to do juízo. De acordo com o pós-tribulacionisrao,
mesmo que o Arrebatamento fosse parte inicial da
Segunda Vinda, essa parte inicial está totalmente au­
sente desta discussão.

Se Pauio tão claramente cria num Arrebatamento


pós-tribulacionista, então por que ele não o mencio­
na, pelo menos de passagem, já que é o momento do
Arrebatamento que traz livramento, não o julgam en­
to posterior dos inimigos de Deus? Os cristãos que
sobreviverão à Tribulação (se é que o ponto de vis­
ta pós-tribulacionista está correto) serão definitivamen­
te libertados da perseguição no instante em que fo­
rem arrebatados, independentemente do fato de Cris­
to estar Julgando ou não os Seus inimigos naquele
mesmo momento.

Note algumas das palavras dessa passagem que


enfatizam o julgam ento de Deus sobre Seus inim i­
gos: “reto ju ízo” (v. 5), “justo” (v. 6), “paga” (v.
6). “tribulação” (v. 6), “chama de fogo” (v. 8),
“vingança” (v, 8). Esse vocabulário está estranha­
mente ausente das passagens sobre o Arrebatamen­
to, tais como João 14.1-13, 1 Coríntios 15.51-58, e
1 Tessalonicenses 4.13-18. O Arrebatamento será en­
contrado nessa passagem de 2 Tessalonicenses so­
mente se 0 esquema escatológico usado sobrepuser
os dois eventos. A exegese não mostra o Arrebata­
mento nessa passagem.
Segunda Tessalonicenses i * 49

O A ssunto

O ponto de vista pós-tribulacionisla tem se confundi­


do a respeito dessa passagem porque ele erra ao defmir
o assunto do apóstolo. O pós-lribulacionisla vê o assun­
to principal como sendo o livramento da perseguição
dos cristãos.

No entanto, o assunto aqui não é livramento, mas vin­


gança. Paulo não enfatiza quando ou como os tessaloni­
censes perseguidos serão livrados da perseguição; ao in­
vés disso, ele lhes assegura que Deus julgai‘á Seus ini­
migos e conseqüentemente vingai'á aqueles que
sofreram.

Uma das mais espetaculares demonstrações do julga­


mento de Deus ocoirerá na Segunda Vinda de Cristo,
quando os exércitos do mundo, congregados em Arma­
gedom, serão derrotados por Ele e todas as pessoas vi­
vas terão que vir á Sua presença (Ez 20.33-44; Mt
25.31-46). E sobre essas pessoas vivas daquele tempo
que a vingança cairá. Os moitos que rejeitaram a Cristo
não serão julgados senão até depois do Milênio, no
grande trono branco. Olhando para trás, sabemos que
nenhum dos não salvos que na verdade perseguiram os
tessalonicenses serão julgados na Segunda Vinda, mas
somente no grande trono branco.

Desde que o assunto é vingança, isso explica porque


Paulo não menciona o Arrebatamento nessa passagem.
O Arrebatamento não é o tempo da vingança de Deus.
É um tempo de livramento, de esperança, de encontro
com 0 Senhor. Alguns tessalonicenses encontraram li­
50 * Vem Depressa, Senhor Jesus

vramento através da morte, mesmo antes dessa carta de


Paulo. No seu devido Lempo, todos eles encontraram li­
vramento dessa maneira. Desde o primeiro século, mui­
tos cristãos perseguidos encontraram o mesmo livra­
mento através da morte. Alguns acharão o seu livra­
mento no Arrebatamento pré-tribulacionista. Mas
somente aqueles crentes que estarão vivendo no final da
Tribulação é que encontrarão livramento, então, não
porque o Arrebatamento acontecerá naquele momento,
mas porque eles passarão livres pelos julgamentos e ve­
rão seus inimigos condenados.

Mas se a vingança na Segunda Vinda cai sobre urn


grupo relativamente pequeno de inimigos de Crislo
(pense, por comparação, em tantos que se opuseram a
Ele durante todos os séculos), por que então essa época
específica de vingança deveria receber tal proeminên­
cia? Simplesmente porque o fim da Tribulação traz a
longa rebelião da humanidade ao seu clímax, rebelião
esta que será aniquilada pela intervenção pessoal do Se­
nhor. Nem todos os inimigos do Senhor serão julgados
naquele evento, mas somente aqueles que representam a
rebeldia em sua forma mais concentrada. Mesmo que a
perseguição dos tessalonicen.ses tenha sido impressio­
nante, e mesmo que as subseqüentes perseguições de
cristãos possam ter sido horríveis, elas não poderão ser
comparadas com a perseguição que acontecerá durante
o período da Tribulação.

Talvez uma analogia possa ajudar. Anticristos sem­


pre estiveram presentes durante o primeiro século ( 1 Jo
2.18), e anticristos têm aparecido através de todos os
séculos. Mas um grande Anticristo ainda surgirá, e ele
Segunda Tessalonicenses / • 51

aglutinará em si mesmo toda oposição contra Deus.


Outros anticristos estão neste momcnlo no Hades, es­
perando o julgamento no fim do Milênio que os lançará
no lago de fogo para sempre. Mas o grande Anticristo
será julgado na Segunda Vinda; e quando ele for julga­
do, Deus será vingado de todos os demais anticristos,
mesmo que os seus julgamentos específicos ocorram
rnais tarde.

Todos os per.scgLiidores de crentes também serão ju l­


gados mais tarde. O julgamento daqueles que estarão
vivos na Segunda Vinda vingará a justiça de Deus com
respeito a eles e também com respeito a todos os perse­
guidores que morreram antes deles.

Se a morte e o Arrebatamento trazem livramento da


perseguição pessoal, por que os crentes deveriam estar
preocupados com essa futura vingança? Porque o caso
contra os perseguidores não estará encerrado até que
Cristo seja vingado e a justiça vença. Perseguição pode
cessar quando a morte ocorre, mas o caso contra os per­
seguidores não estará acabado até que eles sejam julga­
dos. Por isso crcntes se interessam não somente em li­
vramento, mas também em vingança.

Um exemplo bíblico dessa situação é encontrado nos


mártires da Tribulação no céu. antes do fim da Tribula­
ção, que clamam a Deus por vingança (Ap 6.9-1 I).
“Até quando, ó Soberano Senhor, sanlo e verdadei­
ro, não julgas nem vinga.s o nosso sangue dos que
habitam sobre u terra?” Claro, eles já obtiveram livra­
mento através da morte física c estão no céu; no entan­
to, ainda estão interessados na vingança. E o Senhor
52 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

responde que eles terao que esperar ura pouco mais pela
vingança até que outros sejam martirizados na terra.

A conclusão do assunto está clara em 1 Tessalonicen­


ses 1.10 e 5.9 onde Paulo confirma a esperança e certe­
za de livramento da ira através do Arrebatamento pré-
tribulacionista. Em 2 Tessalonicenses 1, ele declara aos
seus leitores que os inimigos do Senhor serão julgados.

Segunda Tessalonicenses 1 não ensina que o livra­


mento da perseguição ocorrerá necessariamente ao mes­
mo tempo que a Segunda Vinda. Na verdade, ele nem
menciona o AiTebaíamento; ele enfoca o julgamento
dos ímpios e a vingança de Cristo que ocorrerá na Se­
gunda Vinda. Esta vingança dá certeza aos santos de to­
das as eras que a justiça finalmente prevalecerá.
7
Onde Está a
Igreja em
Apocalipse
’ 4 a 18?
Pré-tribulacionistas consideram que o seu ponto de
vista é sustentado pelo fato da Igreja não ser menciona­
da em Apocalipse 4-18, capítulos estes que descrevem a
Tribulação iia terra. Por contraste, a palavra igreja ocor­
re 19 vezes nos capítulos 1, 2 e 3, uma vez no capítulo
22, e a frase “esposa do Cordeiro” uma vez no capítulo
21. No emanto, nos capítulos 4 a 18, há um silêncio to-
54 * Vem Depressa, Senhor Jesus

tal a respeito da Igreja, o que indica aos pré-tribulacio­


nistas que a Igreja não estará presente na terra duranle
anos da Tribulação.

Pós-tribulacionistas discordam dessa tese por três ra­


zões: (1) SC a Igreja deve estar no céu durante os even­
tos registrados nos capítulos 4-18, por que então ela não
é mencionada como estando lá? (2) A ocorrência da pa­
lavra santos em Apocalipse 13.7,10; 16.6; 17,6; 18.24
mostra que a Igreja na verdade estará na terra durante a
Tribulação. (3) Outras descrições de crentes na Tribula­
ção podem ser apropriadamente aplicadas aos crentes
da era da Igreja; conseqüentemente, os crentes da Tri­
bulação serão a última geração da era da Igreja, e esta
última geração passará pela Tribulação.

Identidades Verdadeiras

A Igreja no Céu

Os pré-tribulacionistas são capazes de responder à


primeira dessas razões pós-tribulacionistas usando argu­
mentos de qualquer uma das duas linhas de raciocínio
seguintes:

1. A maioria identifica os 24 anciãos como represen­


tantes da Igreja, e desde que eles são vistos no céu em
Apocalipse 4.4 e 5.8-10, a Igreja é mencionada como
estando no céu. Alguns pensam que esse argumento não
é bom porque o texto de Apocalip.se 5.9-10, bastante
crítico, mostra os anciãos cantando sobre a redenção na
terceira pessoa da conjugação verbal, como se a reden-
_______ Onde Está a Igreja em Apocalipse 4 a IH * 55

çãü não fosse a sua própria experiência (neste caso, eles


não poderiam representar a Igreja, a qual já estaria redi­
mida). Mas este argumento é fraco; afinal de contas,
Moisés cantou sobre a redenção na terceira pessoa, logo
após havê-la experimentado (Êx 15.13,16-17).

2. Os pré-tribulacionistas também lembram que os


costumes do casamento hebreu consliliiem um bom ar­
gumento para a Igreja estar no céu antes da vinda de
Cristo no final da Tribulação. O casamento judaico in­
clui vários estágios: em primeiro lugar, o noivado (o
que inclui a viagem do futuro noivo da casa de seu pai
para a casa da futura noiva, pagando o preço do resgate,
e assim estabelecendo o pacto matrimonial); em segun­
do lugar, a volta do noivo à casa de seu pai (o que signi­
fica que ele permaneceria separado da noiva durante 12
meses e que, 'durante aquele tempo, ele prepararia as
acomodações para sua futura esposa na casa de seu
pa^; em terceiro lugar, a vinda do noivo para a sua noi­
va, numa hora desconhecida e inesperada para a noiva;
em quarto lugar, a volta com ela para a casa do pai do
noivo, a fim de consumai' a união e celebrar a festa de
casamento durante os próximos 7 dias (durante os quais
a noiva permaneceria trancada no seu quarto nupcial).

Em Apocalipse 19,7-9, a festa do casamento é anun­


ciada, a qual, se a analogia do casamento hebreu tem a
ver com isso, assume que o casamento já aconteceu pre­
viamente na casa do pai. Floje a Igreja é descrita como
uma virgem esperando pela vinda do noivo (2 Co 11.2).
Em Apocalipse 21.9 ela é denominada de esposa do
Cordeiro, o que indica que ela foi previamente levada
para a casa do pai do noivo. Pré-tribulacionistas dizem
56 * Vem Depressa, Senhor Jesus

que isso requer um intervalo de tempo entre o Arrebata­


mento e a Segunda Vinda. Concordíunos que não se
exige um período de 7 anos, mas certamente es.se fato é
um argumento contra o ponto dc vista pós-tribulacionis­
ta, o qual não coloca nenhum período de tempo entre o
Arrebatamento e a Segunda Vinda.

A Palavra “Santos”

A menção da palavra santos nos capítulos 4-18 não


prova nada ate que definamos a que santos ela se refere.
Havia sanlos (bem piedosos) no Velho Testamento (SI
85.8); existem santos hoje (1 Co 1.2); haverá santos du­
rante os anos da Tribulação (Ap 13.7). A questão é a se­
guinte; esses santos da era da Igreja são diferentes dos
santos do período da Tribulação (posição pré-tribulacio-
nista) ou não (posição pós-tribulacionista)? O uso do
termo, por si só, não responde satisfatoriamente essa
pergunta.

Outras Frases Descritivas


Essas frases são “morrem no Senhor” (Ap 14.13;
comparar com “morreram em Cristo” em 1 Tessaloni­
censes 4.16-18), e “aqueles que guardam os manda­
mentos de Deus” (Ap 12.17; 14.12; compare com
Apocalipse 1.9). Usar essas semelhanças para provar
que a Igreja estará presente na Tribulação requer que
essa semelhança signifique uniformidade (uma pressu­
posição significativa). Por outro lado, alguém poderia
esperar que grupos distintos de santos (santos da Igreja
e santos da Tribulação) fossem descritos dc forma se­
melhante já que eles são todos santos.
_______ Onde Está a Igreja em Apocalipse 4 a 18 * 57

O mesmo € verdadeiro para o uso das pülüvrüs eleito,


011 escolhido. Alguns têm concluído que, já que os elei­
tos são mencionados como estando na Tribulação em
Maleiis 24.22,24 e 31, então a Igreja passará pela Tribu­
lação. Mas a que povo eleito o autor se refere? O rei Ci­
ro, que era pagão, foi chamado de messias (“ungido”)
(Is 45.1). Da mesma forma, Crislo foi chamado dc mes­
sias (SI 2.2). Israel foi chamado de eleito de Deus, mes­
mo quando a nação era uma mistura de gente redimida
com incrédulos (Is 45.4). Cristo também é o eleito de
Deus (Is 42.1). O mesmo se dá com a Igreja (Cl 3.12) e
alguns dos anjos (1 Tm 5.21). Todos os eleitos não são
os mesmos. Assim, os escolhidos da Tribulação não
precisam necessanamente scr os mesmos eleitos da
Igreja simplesmente porque o mesmo termo é usado pa­
ra ambos os grupos.

Quão diferente é a Igreja?

Na verdade, a questão toda se resume em se a


Igreja é ou não é uma entidade distinta no progra­
ma de Deus. Aqueles que enfatizam a distinção da
Igreja gerahnentc são pré-tribulacionistas, e aqueles
que não enfatizam a distinção normalmente são pós-
tribulacionistas. Distinção nesse caso significa ser di­
ferente de Israel. A Igreja é realmente diferente de
Israel? Se for, então a Igreja não participará da Tri­
bulação, porque durante aquele período Deus estaiá
tratando em primeiro lugar com Israel novamente.
Se a Igreja é uma continuação de Israel, então nós
poderíamos concluir rapidamente que ela experim en­
tará a Tribulação.
58 * Vem Depressa, Senhor Jesus

0 caráter “misterioso” da Igreja é um bom argumen­


to contra o fato de ser ela identificada com Israël, e a fa­
vor do fato dc ser ela uma entidade totalmente distinta
no programa de Deus. A obra de Deus em incluir, nesta
era, judeus e gentios em um mesmo corpo, é um misté­
rio que não era conhecido nas eras passadas (Ef 3.3-6;
Cl 1.26). Mas a Tribulação foi revelada no Velho Testa­
mento (Is 24). Além disso, a profecia das 70 semanas
de Daniel se refere especificamente ao “seu povo e sua
santa cidade” (Dn 9.24). Todas as 70 semanas referem-
se a Israel. A Igreja não teve qualquer parte nas 69 se­
manas já cumpridas e não terá qualquer parte na septua­
gésima semana da futura Tribulação. Isso requer um
Arrebatamento pré-tribulacionista.

É óbvio que outros mistérios na Bíblia se referem a


outros períodos dc tempo (tal como o mistério de Deus
em Apocalipse 10.7, o qual será consumado no período
da Tribulação; e o mistério da encarnação, 1 Timóteo
3.16). No entanto, é errado usá-los como prova de que o
mistério do corpo de Cristo não pode estai' circunscrito
somente ao período entre Pentecostes e o Arrebatamen­
to. É óbvio que nem todos os mistérios bíblicos estão
relacionados com o período da Igreja, mas isto não pro­
va que um deles não esteja.

A Ressurreição em Apocalipse 20.4

Algumas vezes a menção da ressurreição cm Apoca­


lipse 20.4 é usada como argumento para o ponto de vis­
ta pós-tribulacionista da seguinte forma: o versículo diz
que haverá uma ressurreição no fim da Tribulação; o
_______ Onde Está a Ifíreja em Apocalipse 4 a 18 • 59

Arrebatamento envoJve a ressurreição de mortos; por­


tanto, o Arrebatamctito acontecerá no lim da Tribula­
ção. Um pós-tritaniacionista declara que esta é a linica
passagem que indica a época do Arrebatamento; todas
as outras passagens são somente inferências.'

Douglas Moo também usa Apocalipse 20.4 para sus­


tentar 0 Arrebatamento pós-trÍbulacionista:

Por esfas razões, é provável [ênfase acrescenfada] que


Apocalipse 20.4 nos dê um quadro da ressurreição de to­
dos os justos - incluindo o santos da Igreja, Já que o A r­
rebatamento acontece ao mesmo tempo que o ressurrei­
ção [uma pressuposição, já que o texto não menciona a
transformação dos vivos], e a primeira ressurreição é cla­
ramente pós-tribulacional, o Arrebatamento também deve
ser considerado pós-tribulacional."^
Existem dois problemas com esta argumentação. Em
primeiro lugar, será que a presença de algumas caracte­
rísticas em dois fatos diferentes prova que eles formam
o mesmo evento? Claro que não. E, era segundo lugar,
Apocalipse 20.4 fala somente da ressurreição dos mor­
tos, mas não fala sobre a translação dos vivos, a qual c
uma parte proeminente e vital das outras descrições do
Ari-ebatamento era i Tessalonicenses 4.13-18 e 1 Corín-
tios 15.51-58.

Concluímos, portanto, que nem o uso de termos co­


mo igreja ou sanws, nem frases que descrevem os
crcntes, nem Apocalipse 20.4 definem a época do Ar­
rebatamento. Por outro lado, o caráter distinto e miste­
rioso da Igreja, especialmente em relação à profecia
60 * Vem Depressa, Senhor Jesus

das 70 semanas de Daniel 9. argumenta a favor do Ar­


rebatamento pré-tribulacionista. Os argumentos que os
pós-tribulacionistas apresentam não provam que o cor­
po de Cristo estará na terra no período descrito em
Apocalipse 4 a 18.
8
Onde se
Originou o
Ponto de
Vista Pré-
Trihulacionista ?
Não é incomum as pessoas pcnsai'em que por uma
doutrina ser mais antiga é mais verdadeira que doutri­
nas mais recentes. Bem, é clai-Q que a história de uma
doutrina é importante. Mas sua importância reside prin-
62 * Vem Depressa, Senhor Jesus___________ Onde se

cipalmente eni descobrir como a pessoas a formularam,


a discutiram ou a perverteram. Se uma doutrina come­
çou com a Igreja primitiva, então toda esta história pas­
sada em relação a nós deveria nos ajudar a expressá-la
com mais precisão hoje em dia. vSe uma doutrina come­
çou em séculos recentes, então podemos esperar que al­
guma formulação c discussão ainda deverá estar aconte­
cendo hoje. Mas, para ser verdadeira, uma doutrina de­
ve estar de acordo com a Bíblia, não simplesmente com
a história da Igreja - passada ou recente.

Alguns dos pais da Igreja no passado ensinaram a re­


generação batismal, mas isso não torna essa doutrina
verdadeira. A igreja primitiva também não mencionou
um arrebatamento pré-tribulacionista, mas isso não o
torna uma doutrina falsa.

A igreja primitiva creu na Tribulação, no retorno imi­


nente de Cristo e em um Milênio que o seguiria. A igre­
ja primitiva era claramente pré-milenista, mas não foi
nem claramente pré-tribulacionista, nem claramente
pós-tribulacionista quando comparada com os desenvol­
vimentos atuais dos ensinos pós e pré-tribulacionistas.

Desenvolvimentos em escatologia realmente não


atmgiram preeminência até o período moderno da histó­
ria da Igreja, o qual começou depois da Reíorma. Du­
rante esse período, o pós-niilenismo foi a primeira teo­
ria a aparecer; depois perdeu seu vigor, mas mais recen­
temente tem havido um rcavivamento dessa proposta,
sendo que alguns antigos amilenistas clamam agora ter
se convertido a ela. Durante esse mesmo período, o
amilenismo floresceu, e depois o pré-milenismo. So­
Originou o Ponto ãe Vista Pré-Tribulacionista? « 63

mente nos séculos dezenove e vinte é que os pontos de


vista pré- e pós-tribulacioiiistas têm sido sistematica­
mente desenvolvidos.

A sistematização do ponto de vista pós-tribulacionis­


ta aparentemente se desenvolveu quando as pessoas co­
meçaram a rejeitar a miluência crescente do ponto de
vista pré-ti ibulacionista. Isso não quer dizer que todos
os proponentes do pós-tribulacionismo tenhtun sido pré-
tribulacionisías antes de abandonarem essa posição. Pe­
lo contrário, quando um esquema pré-tribulacionista
mais detalhado se desenvolveu, alguns reagiram e co­
meçaram a expor um esquema detalhado pós-tribu!acio-
nista.‘

Sem dúvida alguma, J.N. Darby (1800-1882) foi


quem deu o maior ímpeto inicial à sistematização do
ponto de vista pré-tribulacionista como nós o conhece­
mos hoje. Darby, um inglês, estava muito preocupado
com a pureza da Igreja, pureza es La que ele não podia
encontrai’ na Igreja da Inglaterra por causa de sua alian­
ça com o Estado. Isso o levou a começar a se reunir
com um grupo já existente e de igual sentimento, e que
se reunia para comunhão e estudo bíblico mais profun­
do. Eventualmente, ele concluiu que a Igreja era uma
obra especial de Deus, distinta do Seu programa para
Israel. Essa verdade, integrada com sua escatologia pré-
milenista, levou-o a crer que o Arrebatamento poderia
ocorrer antes da Tribulação e que, durante a Tribulação,
Deus se voltaria para tratar especialmente com Israel,
Essas perspectivas foram aceitas e promovidas por ou­
tros, e um sistema pós-tribulacionista se desenvolveu
como reação contra eles.
64 • Vem Depressa, Senhor Jesus___________ Onde se

Edward Irviiig

Tentativas tem sido feitas para desacreditar o pon­


to de vista prc-tribulacionista de Darby, dizendo que
ele não o tirou da Bíblia mas sim de algum herege
ou místico.

O herético seria Edwaid Irving (1792-1834), o qual


foi expulso da Igreja da Escócia em 1833 com a acusa­
ção de crer na pecaminosidade da natureza humana de
Cristo. Antes disso, manifestações de línguas e curas
apareceram em sua igreja em Londres, e sua congrega­
ção havia se tornado ponto de encontro daqueles com
expectativas milenistas.

Uma coisa é reconhecer que os seguidores de Irving


estavam vitalmente interessados em profecia; outra coi­
sa é afirmar que eles ensinaram o An-ebatamento pré-
tribulacionista; e ainda é coisa muito diferente implicar
que Darby foi influenciado por eles.

Na melhor das hipóteses, a escatologia de Irving não


é clara. Um dos componentes do grupo fez uma distin­
ção entre a época da epifania (a aparição de Cristo e o
Arrebatamento) e a época da parousia (a volta do Se­
nhor à terra), mas não colocou um período de 7 anos
entre elas. Outro participante do grupo colocou o Arre­
batamento junto com o julgamento da última taça de
Apocalipse 16 (a qual é o último julgamento do perío­
do da Tribulação) e depois da formação da federação
das 10 nações. Ainda outro escreveu que o Arrebata­
mento acontecerá quando o Senhor estiver vindo em
Originou o Ponto de Vista Pré-Tribulacionista? * 65

direção à terra, o que é uma posição tipicamente pós-


tribulacionista.-

Os seguidores de Irving obviamente não ensinaram


iminência, ou qiie a septuagésima semana de Daniel se­
ria um intervalo enlre o Arrebatamento e a Segunda
Vinda. Estas eram doutrinas que Darby claramente ensi­
nou na Conferência de Powerscourt em 1833. Um histo­
riador coloca o assunto na perspectiva correia:

Os oponentes de Darby argumentaram que o doutrina


[do Arrebatamento] se originou em alguma das torrentes
de línguas da igreja de Edward Irving em 1832. Esta pa­
rece ser uma acusação perniciosa e sem base. Nem Ir­
ving nem qualquer membro do grupo de Albury defendeu
qualquer doutrina que se assemelhasse a um Arrebata­
mento secreto. Como já temos visto, eles eram todos esca-
tologistas históricos, procurando por cumprimentos de
uma ou outra profecia do Apocalipse como o próximo
passo da agenda divina, antecipando a Segunda Vinda
de Cristo para logo, mas não imediatamente.^
Não há conexão entre o pré-tribulacionismo de Darby
e o ensino de Irving.

Margaret Macdonald

A mística mencionada foi uma adolescente chamada


Margaret Macdonald (aproximadamente 1815-1840)
que vivia em Fort Glasgow, na Escócia, e que, segundo
se alega, influenciou tanto os seguidores de Irving como
Darby, a respeito do Arrebatamento pré-tribulacionista.
66 ’ Vem Depressa, Senhor Jesus___________ Onde se

Esta acusação é feita por Dave MacPherson no livro


The hicredible Cover-Up (O Incrível Disfarce}.'^ Mac­
Pherson foi além e disse que Darby não somente rece­
beu seu conceito dc um Arrebatamento pré-tribulacio-
nista de Macdonald (quando ela tinha apenas 15 anos
de idade), mas que ele deliberadamente escondeu sua
fonte de seus seguidores, já que ela também eslava en­
volvida em falar em línguas e receber visões.’

Permita-me citar alguns trechos do relato de M ac­


Pherson sobre os manuscritos de Margaret Macdonald a
respeito da sua revelação pré-tribulacionista, recebida
em 1830, para que possamos ver se ela de fato ensinou
o Arrebatamento pré-tribulacionista:

...o templo espiritual deve ser e será reerguido, e a ple­


nitude de Cristo derramada em Seu corpo, e então nós
seremos tomados poro encontrá-IO... A tribulação da
Igreja vem do Anticristo, E será pela plenitude do Espirito
que nós seremos guardados... Oh! não é conhecido o si­
nal do Filho do homem... eu o vi, e era o próprio Senhor
descendo do céu com grande vozerio... Agora O INÍ­
QUO será revelado, com todo poder e sinais e maravi­
lhas mentirosas, de tal forma que, se fosse possivel, os
próprios eleitos seriam enganados - Esta é a dura tribula­
ção que virá tentar a todos nós.'^
Três coisas me preocupam aqui.

1. Essa adolescente fez ama distinção entre crentes


espirituais e outros crentes, e viu somente os espirituais
participando do Arrebatamento. MacPherson conclui
erradamente, a partir desse fato, que Macdonald quis
Originou o Ponto de Vista Pré-TrihulacionisUi? • 67

ensinar a vinda secreta fde Cristo]. Na realidade, ela


estava ensinando o ponto de vista do arrebatamento

2. Ela viu a Igreja {“nós” ) sendo purificada pelo An-


ticristo. MticPlierson entende isso como sendo qiie a
Igreja será arrebatada antes que o Anticristo surja, igno­
rando o “nós”.' Na verdade, Macdonald viu a Igreja su­
portando a perseguição do Anticristo durante os dias da
Tribulação.

3. Macdonald identificou o sinal da vinda do Filho do


Homem (Mt 24.30), o quai claramente aparece no fim
da Tribulação, como que acontecendo ao mesmo tempo
que o Arrebatamento. MacPherson diz que Macdonald
cria ou em um período muito curto de Tribulação, ou,
tal como ele, ela entendeu que o sinal seria visto so­
mente pelos crentes cheios do Espírito antes que o iní­
quo fosse revelado.'* Na verdade, Macdonald se mostra
totalmente confusa ao fazer tais afirmações. No niá.xi-
mo, sua visão equacionaria o sinal do fim da Tribulação
com 0 Arrebatamento, o que dificilmente seria o ponto
dc vista pré-tribulacionista!

Quanto a essa jovem e cronicamente enferma Mtii'ga-


ret Macdonald, temos que classificá-la como uma “de­
fensora confusa do Arrebatamento”. Ela defendeu ele­
mentos de Arrebatamento parcial, pós-, talvez midi-,
mas nunca pré-tribulacionista.

Pelo próprio te.stemunho de Darby, suas idéias vie­


ram da Bíblia, particularmente da sua compreensão da
distinção entre a Igreja e Israel (por volta de 1826-
68 • Vem Depressa, Senhor Jesus

1828). Sua crença de que o Arrebalaracnto aconteceria


um bom tempo antes da Segunda Vinda só foi desenvol­
vida em 1830, e 0 conceito de um parênteses entre a se­
xagésima nona e a septuagésima semana de Daniel s6
se lornou claro para ele lá por 1833. Ele parcce não es­
tar tão seguro sobre o aspecto secreto do Arrebatamento
senão até por volta de 1840.^

Estes são os fatos essenciais a respeito da história do


ponto de vista pré-tribulacionista moderno. Na verdade,
a sistematização de ambos os pontos de vista (pré- e
pós-tribulacionistas) são desenvolvimentos recentes, já
que a Igreja não estudou muito o campo da escatologia
senão depois da Reforma.“’
9
A População do
Reino Milenar
Quando o Milênio começar, algumas pessoas deverão
estar vivendo em corpos não ressurretos, de tal forma
que sejam capazes de gerar lilhos, a população do reino.
Todos os pré-milenistas concordam com isso.

O Milênio não envolve somente o reino de Jesus


Cristo com o Seu povo, os quais terão corpos ressusci­
tados. Ele também inclui o Seu reinado sobre todos os
povos da terra que não terão coipos ressuscitados. Se
houvesse somente sanlos ressuscitados no reino mile­
nar, então não haveria morte, nem aumento de popula­
ção, e nem diferenças de idades entre os cidadãos mile­
70 * Vem Depressa, Senhor Jesus

nares (coisas estas que estão indicadas como caiacteri-


zando o reino - Is 65.20; Zc 8.5; Ap 20.8). Uma vez
que pessoas ressuscitadas não geram íiilios, não haveria
então uma maneira de fazer crescer a população do rei­
no, a menos que algumas pessoas não ressuscitadas en­
trem no Milênio. Por causa disso, todos os pré-milenis-
tas vêem a necessidade de termos adultos que sobrevi­
vam à Tribulação. Eles não serão levados para o céu no
final da Tribulação, e entrarão no Milênio com corpos
não ressuscitados a fim dc se tornarem os primeiros pais
da população milenai'.

A População Prc-Tribulacionista

A compreensão que os pré-tribulacionistas têm dos


eventos futuros satisfaz facilmente essa necessidade. O
Arrebatamento ocorrerá antes da Tribulação, retirando
todos os redimidos que estarão vivendo na terra naquela
época. Mas muitas pessoas serão salvas durante a Tribu­
lação (Ap 7.9,14), incluindo um grupo específico de
144.000 judeus (Ap 7.4). Destes salvos durante aquele
período horrível, alguns serão martirizados (Ap 6.11;
13.15), mas alguns sobreviverão para entrar no Milênio
(Mt 25.34; Zc 14.11). O grupo inicial que entra no Mi­
lênio entrará não somente com seus corpos naturais;
eles também serão pessoas redimidas que de boa vonta­
de se submeterão ao senhorio do Rei. Eventualmente,
bebês nascerão e crescerão. Alguns receberão a Cristo
nos seus corações; outros, não. Mas todos serão obriga­
dos a serem leais ao governo do Rei ou serão punidos.
Lá pelo fim do Milênio, haverá muitos rebeldes que te­
rão dado obediência externa e aparente ao Rei, e que.
________________ A População do Reino Milenar • 7 1

quando tiverem a oportunidade de se rebelar logu após


a soltura de Satanás, se ajuntarão a ele na revolução
contra Cristo (Ap 20.7,9).

Assim, na compreensão prc-tiibulacionista desses


eventos futuros, os pais originais no reino milenar serão
sobreviventes redimidos (mas não ressuscitados) da Tri­
bulação, as “ovelhas” dc Mateus 25.34 e os fiéis judeus
sobreviventes de Ezequiel 20.38,

A População Pós-Tribulacionista

Em contraste com a posição anterior, temos a pers­


pectiva pós-tribulacionista. Nesse ponto de vista, a Igre­
ja passará pela Tribulação. Mesmo que alguns sejam
martirizados, muitos serão protegidos e sobreviverão.
Os 144.000 judeus e a grande multidão de Apocalip.se 7
estão todos incluídos na Igreja. No fmal da Tribulação,
todos os crentes vivos serão arrebatados, receberão cor­
pos ressurretos, e retornarão imediatamente para a terra
em um único evento que inclui Arrebatamento e Segun­
da Vinda. Isso parece que eliminaria todas as pessoas
redimidas, as não ressuscitadas na terra naquele ponto
da história, de tal forma que não haveria nenhuma delas
para formar a população do reino. Já que os ímpios so­
breviventes serão mortos ou designados para o Hades
ao ünal da Tribulação, não haverá ninguém com corpo
não ressu-scitado para entrar no Milênio.

Assim, o pós-tribulacionista deve encontrar algumas


pessoas que não serão salvas no início do Arrebatamen­
to mas que serão salvos no evento instantâneo dc Arre-
72 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

batamentü/Segunda Vinda; ou, ele deve permitir que os


pais iniciais no Milênio sejam pessoas não salvas que,
de alguma forma, não foram mortas ou julgadas na hora
ou depois do Armagedom. Essas são as duas únicas op­
ções que o pós-tribulacionista tem para encontrar pais
para a população do Milênio.

A Primeira Geração do Milênio

Precisamos lembrar outro detalhe. A população do


Milênio inclui tanto judeus quanto gentios (Is 19.24-25).
Conseqüentemente, a primeira geração deve ser compos­
ta por pessoas de ambas as categorias. Mas a posição
pós-tribulacionista remove qualquer possibilidade de ter­
mos pais redimidos de todas as raças no Milênio. E os
julgamentos da Segunda Vinda removem quaisquer pos­
sibilidades de termos pais não redimidos de todas as ra­
ças no Milênio. De onde então virão esses pais?

A maioria dos pós-tribulacionistas não tenta respon­


der a esta pergunta. A razão para isso pode ser porque
eles geralmente não organíZ£ini todos os detalhes do seu
sistema escatológico. Eles pintam o futuro apenas com
grandes pinceladas e não com detalhes. Pós-tribulacio-
nistas não promovem conferências sobre profecia nas
quais se espera que seus palestrantes descrevam especi­
ficamente o sistema que promovem. O resultado disso é
que alguns pós-ti‘ibulacionistas nunca pensaram sobre
essa questão.

Robert Gundry é uma exceção.' Suas respostas têm


dois aspectos: os progenitores judeus da população do
A População do Reino Milenar • 73

Milênio virão dos 144.000 que serão salvos durante ii


Tribulação e não no final dela.- Os pais genlios serão
ímpios que dc alguma forma escaparam da inorte e/ou
do julgamento no final da Tribulação.’ Esses ímpios são
aqueles “deixados” cin Mateus 24.40-41 (em contraste
com aqueles que foram “tomados” no Arrebatamento
pós-tribulacional). Ele diz assim: “...uma destruição
parcial deixará os restantes dos não salvos para serem
os habitantes da terra no Milênio.”“* Agora, vejamos
bem, se o grupo separado para o julgamento inclui ape­
nas parte dos ímpios, talvez o grupo dos separados para
0 Arrebatamento também incluirá somente parte dos re­
dimidos. Essa comparação nos daria uma nova teoria: o
Arrebatamento parcial pós-tribulacionista.

Além disso, se a posição pós-tribulacionista e,stá cor­


reta, precisamos fazer um ajustamento sobre a época em
que ocorre o julgamento das ovelhas e cabritos de Ma­
teus 25.31-46. A razão é simples: se o Arrebatamento
ocorre depois da Tribulação, então todas as ovelhas (os
redimidos) deverão ser removidas da teiTa; logo, não ha­
verá ovelhas para serem paite daquele julgamento, já
que ele ocorre somente na Segunda Vinda, a qual é um
evento único com o Arrebatamento. Não há jeito do Ar­
rebatamento remover as ovelhas e ainda tê-las presentes
na terra imediatamente depois do An'ebatamento, a fim
dc serem julgadas. Assim, ou o Arrebatamento não pode
ser pós-tribulacional, ou o julgamento das ovelhas e ca­
britos deve acontecer depois da Segunda Vinda (Gundry
o coloca como ocorrendo após o Milênio).

Precisamos examinar três coisas que são necessárias


para a teoria pós-tribulacionista: (1) a conversão dos
74 * Vem Depressa, Senhor Jesm

144.000; (2) a idenlificação dos grupos mencionados


em Mateus 24.40-41; e (3) a época do julgamento das
ovelhas e cabritos de Mateus 25.31-46.

Os 144.000 Judeus

Alguns pós-tribulacionistas consideram os 144.000


judeus como sendo “o Israel espiritual, ou seja, a Igre­
ja.”^ Se isso for verdade, então o selo que eles recebem
acontecerá no início da Tribulação e tem a ver tanto
com sua salvação espiritual quanto com a sua proteção
física. Gundry reconhece que os 144,000 talvez perten­
çam à Igreja (e, conseqüentemente, devem ser salvos
no início),

Mas ele prefere considerá-los como não salvos du­


rante a Tribulação, e identificá-los com o grupo que
irá olhar para Cristo quando Ele retornar (Zc 12.10),
ou com o Israel que será salvo na Segunda Vinda
(Rm 11.26-27).

Sua preferência é bastante lógica. Se os 144.000 fos­


sem salvos durante qualquer período dos anos da Tribu­
lação (seja no início, no meio ou no fim), eles seriam le­
vados no Arrebatamento pós-tribulacionista, receberiam
corpos ressuscitados naquele momento, e então retorna­
riam na mesma hora para reinar com Cristo no reino.
Mas corpos ressuscitados impediriam que eles fossem
pais de qualquer pessoa durante o reino. Por outro lado,
se eles não fossem salvos ate o fim definitivo da Segun­
da Vinda, eles teriam “escapado” do Arrebatamento,
permanecido convertidos, mas ainda teriam corpos não
________________ A População do Reino M ileimr • 75

ressuscitados, o que os tornaria capazes de sereiu os


pais das crianças do Milênio,

Na verdade, pré-tribulacionistas acreditam que liavc"


rá um grupo de judeus converlidos lá pelo fim do perío­
do da Tribulação, os quais se tornarão pais do grupo j u ­
daico da população do Milênio. Eles surgirão do povo
judeu sobrevivente da Tribulação, mesmo sendo não
salvos durante aquele período. Quando o Senhor voliar,
eles serão reunidos e julgados; os rebeldes (possivel­
mente dois terços, Zc 13.8) serão excluídos do reino, c
aqueles que crerem nEle quando O virem, entrarão nu
reino (Ez 20.33-44). Esses sobreviventes crentes consti­
tuem o “todo” de “todo Tsrael” que será salvo na Segun­
da Vinda (Rm 11.26). Mas eles não receberão corpos
ressurretos naquele momento; pelo contrário, eles entra­
rão no reino com seus coipos materiais com a capacida­
de de gerarem filhos.

Por que os pós-tribulacionistas não podem permitir


que esse grupo seja os pais do Milênio? F^or que esse
grupo somente crerá quando vir o Senhor vindo no Ar­
rebatamento pós-tribulacionista. Assim, eles seriam
também airebatados, levados ao céu, receberiam corpos
ressuirectos, e estariam eliminados da possibilidade de
serem pais. O Arrebatamento, independentemente do
seu momento histórico, será a maior separação entre
crentes e incrédulos jamais imaginada; então, se haverá
de existir um grupo de judeus que crerá quando virem o
Senhor em Sua vinda, e se esta vinda é o Arrebatamen
to/Segunda Vinda pós-tribulacionista, eles serão tam­
bém arrebatados porque se tornarão crentes naquele
momento. Dessa forma, o pós-Lribulacionista precisa ter
76 * Vem De}7ressa, Senhor Jesus

um grupo que é selado no estado de incredulidade por


tempo suficiente para perder o Arrebatamento mas não
por tanto tempo a ponto dc perder a entrada no Milênio
eni seus corpos materiais. Conseqüentemente, como po-
dcríamos já esperar, Gundry comenta Ezequiel 20 di­
zendo que “esta passagem não mostra de forma alguma
um julgamento.”'’ De fato, não pode mesmo, no sistema
pós-tribulacionista.

Podemos considerar os 144.000 como não converti­


dos durante os anos da Tribulação? Sim, podemos. Ca­
da um pode escolher sua interpretação favorita, A per­
gunta não é SE é possível interpretar o texto dessa for­
ma, A pergunta é se é razoável fazê-lo, O que o texto de
Apocalipse 7.1-S diz?

Esse texto faz duas afirmações importantes: os


144,000 tem “o selo do Deus vivo” (v. 2), e eles são
“servos do nosso Deus” (v. 3). O texto não diz espe­
cificamente qual é seu .serviço, mas diz a quem. eles
servem, Eles servem a Deus, não ao Anticristo. Pode­
mos imaginar um grupo de 144.000 pessoas não sal­
vas que são denominadas servos de Deus? Pós-tribu­
lacionistas dão uma explicação muito fraca para essa
questão dizendo que essa designação é uma antecipa­
ção do seu serviço durante o Müênio, quando eles en­
tão deverão estar convertidos. Essa explicação é pos­
sível, mas será isso que o texto realmente quer dizer?
Eu acho que não.

Mesmo que a designação “servos dc Deus" não fosse


aplicável aos 144,000 durante a Tribulação, mas somen­
te durante o Milênio, a afirmação do versículo 2 é de di-
________________ A Popiilaçao do Reino Milenar * 77

fícil harmonização com o ponio de vista pós-íribiilacio-


nista. O texto diz que o grupo c selado anles que o jul
gamento da Tribulação comece (versículo l). Para en­
caixar isso com a perspectiva pós-tribülacionista, preci­
saríamos ter um outro grupo de judeus não convertidos
em cujas frontes Deus tivesse colocado o Seu selo. Co­
mo pessoas não salvas, eles (ou certamente alguns de­
les) seguiriam o Anticristo, que colocaria a sua marca
em suas frontes ou mãos. E o destino dos seguidores do
Anticristo já tem sido determinado: eles serão atormen­
tados para sempre com fogo e enxofre (Ap 14.9-11).
Nenhum destes seguidores será salvo, nem mesmo
144.000 deles.

Para resumir, os pós-tribulacionistas precisam ter um


grupo de judeus não convertidos sobreviventes da Tri­
bulação que, pelo fato de serem não convertidos, não
serão arrebatados, mas que estarão convertidos no mo­
mento em que o Milênio tiver início para que possam
entrar no Milênio com seus corpos não ressurretos e ge-
ríir filhos. O único grupo que se qualifica para isso são
os 144.000, mas aí temos que assumir que eles podem
ser descritos como servos de Deus não convertidos, que
têm o selo de Deus em suas Irontes antes mesmo do iní­
cio da Tribulação, e que não seguirão o Anticristo de
forma a não terem a sua marca. Será que tudo isso é
realmente possível?

Quem é “Tomado”, e Para Onde?

Não somente os 144.000 precisam ser identificados


de lorma específica, mas também os grupos citados em
78 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Mateus 24.40-41 devem ser identificados de tal forma


que possam se encaixar na interpretação pós-tribula-
cionista.

De acordo com a com preensão pós-tribulacionis-


ta, Mateus 24.40 ensina o seguinte: “Então [no
A rrebatam ento/Segunda Vinda pós-tribulacionalj es­
tarão dois no cam po, um [salvo, represeníaiido a
Igreja] será tom ado [no Arrebatam ento pós-lribu-
lacional], e deixado [para julgam ento, ainda que
nem todos serão julgados porque alguns serão dei­
xados para se tornarem pais da população gentíli­
ca do Milênio] o outro [não salvo, representado os
ímpios].” E o mesm o é vei'dade para o versículo
41: aquele ‘‘tom ado” é arrebatado, e aquele “d ei­
xado” será julgado.

Já o pré-tribulacionista, em contraste, vê esses versí­


culos como uma afirmação genérica dos resultados de
julgamentos específicos sobre os judeus e gentios so­
breviventes da Segunda Vinda. Aqueles que são toma­
dos são ievados para o julgamento e condenados. Aque­
les que são deixados escapam do julgamento e são dei­
xados para as bênçãos do reino.

O pós-tribulacionista deve ainda acrescentar a


condição de que nem todos os que são deixados
serão julgados e condenados, para que possam res­
tar pessoas para povoar a terra. Mas aqui há um a
inconsistência: o A rrebatam ento levará todos os re­
dim idos, mas o julgam ento não incluirá todos os
não redim idos. Som ente uma parte dos ímpios se­
rá julgada.
A População do Reino Milenar ■ 79

As duas intei-pretaçoes comparadas ficam assim:

Interpretação Pré- Interpretação Pós-


Tribulacionista Tribulacionista
'T om ado" P ara ju lg a m e n to P ara o cé u , no
A rre b a ía m e n to pós-
trib u la c io n is ía .

"Deixado" Para as b ê n ç ã o s d o P a ra ju lg a m e n to
re in o [em c o rp o s n ã o (m as som e nte u m a
ressurrectos a fim d e p a rte se rá ju lg a d a
g e r a r filh o s) p o rq u e o resto d e ve rá
e n tra r no re in o com
seus c o rp o s n ã o
ressurretos)

Os pré-tribulacionistas sustentam seu ponto de vista


mostrando que, de acordo com o versícido 39, o Dilú­
vio levüLi o povo do tempo de Noé a julgamento; conse­
qüentemente, aqueles que forem tomados na Segunda
Vinda serão também levados a julgamento.

Os pós-tribulacionistas observam que um termo é


usado no versículo 39 para “levou” e outro termo para
“tomado”, nos versículos 40-41, o que indica dois tipos
diferentes de levar - no versículo 39, levar a julgamen­
to, mas nos versículos 40-41, levar para o céu no Arre­
batamento. Eles reforçam seu argumento mostrando
que o termo nos versículos 40-41 é a mesma palavra
usada para descrever o Arrebatamento em João 14.3:
“vos receberei para mim mesmo”.

Os pré-tribulacionistas contra argumentam mostran­


do que, em João 19.16, a mesma palavra usada em Ma­
80 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

teus 24.40-41 (supostamente referindo-se ao Ai-rebata-


mento, de acordo com os pós-tribulacionistas) é usada
para levar o Senhor a julgamento. Assim, obviamente,
ela também poderia significar julgamento em Mateus
24.40-41, como os pré-tribulacionistas ensinam. De no­
vo, como vimos em anteriormente, as discussões inter­
mináveis sobre algumas palavras não são conclusivas.

No entanto, o debate tem imia solução. Podemos re­


solver a questão ao olharmos para a passagem paraleJa
em Lucas 17.34-37, onde o mesmo aviso sobre aqueles
deixados e levados é dado pelo Senhor. Mas Lucas
acrescenta uma pergunta feita pelos seus discípulos:
“O nde será isso. Senhor?” Eles ihe perguntaram para
onde aqueles tomados seriam levados. Eles não pergun­
taram sobre onde os deixados seriam deixados. Se o Se­
nhor tivesse a intenção de fazer-nos entender que eles
foram tomados no Arrebatamento (como os pós-tribula­
cionistas ensinam), Ele teria respondido a pergunta re­
ferindo-se ao céu, ou à casa do Pai, ou teria usado outra
expressão parecida. Mas a Sua resposta mostra que eles
serão tomados para um lugar que nada tem a ver com
bem-aventurança. Sua resposta foi; “O nde estiver o
corpo, aí .se ajuntarão também os abutres.” A respos­
ta de Cristo é um provérbio sobre abutres que aparecem
quando um animal morre. Para onde eles serão levados'?
Onde há morte e corrupção, não onde há vida e imorta­
lidade. A referência não é ao céu, mas ao julgamento.
Assim, de acordo com Lucas 17.37, a interpretação pré-
tribulacionista sobre a identidade daqueles que são to­
mados e daqueles que são deixados está correta. O Ar­
rebatamento pós-tribulacionista não se encontra nesses
versículos.
________________ A Pupiilação do Reino Milenar * 8X

As Ovelhas c os Cabritos
(Mateus 25.31-46)
O julgamento das ovelhas e cabritos, colocado na
cpoca da Segunda Vinda pelos pré-tribulacionislas, pre­
cisa ser movido para mais taide, para t|iic o ponto de
vista pós-tribulacionista seja consistente. A razão é que
se o Arrebatamento o c o i T e r no fim da Tribulação - ou
seja, na Segunda Vinda - e se todas as ovelhas serão le­
vadas para o céu naqiiele Arrebatamento, como haverá
outras pessoas para serem reunidas antes que Cristo ve­
nha? Todas já terão sido levadas. Vamos dizer isso de
outra forma: o Arrebalaraenlo/Segunda Vinda separará
os redimidos dos ímpios; no entanto, esse julgamento
na Segunda Vinda lanibém fará a mesma separação - só
que não haverá nenhum justo na terra para ser separado,
uma vez que todos eles foram arrebatados.

A transferência desse julgamento para mais tarde


também provê a possibilidade de sobreviventes da Tri­
bulação e Segunda Vinda não salvos para entrarem no
Milênio em corpos não ressurretos. Gundry admite:
“Nós somos forçados a colocar o julgamento das nações
para depois do Milênio.”'' Forçados? Por que? Porque
não pode haver somente uma condenação parcial dos
cabritos: o texto diz que “Iodos” serão julgados. Em sua
interpretação daqueles que serão deixados em Mateus
24.40-41, Gundry diz que eles se referem apenas a
“uma destruição parcial”,m a s aqui todos estão especi­
ficamente envolvidos (Mt 25.32).

Nenhum texto exige que haja não salvos entrando no


Milênio. Depois de alguns poucos anos, haverá pessoas
82 ■ Vem Depressa^ Senhor Jesus

nascidas durante os primeiros dias do Milênio que, ao


crescerem como adultos, rejeitarao o Salvador-Rei em
seus corações (ainda que obedecendo-Lhe em seus atos
exteriores). Mas nenhum texio exige que haja pessoas
não salvas entre os sobreviventes da Tribulação que en­
trarão no Milênio. Zacarias 14.16 (algumas vezes usado
para apoiar essa idéia) refere-se à primeira geração dos
cidadãos do Milênio que passarão pelos julgamentos
como redimidos, não como rebeldes, e que voluntaria­
mente irão a Jerusalém para adorar o Rei. Mas os versí­
culos 17-21 começam a descrever as condições perma­
nentes dnrante todo o Milênio, e não somente no seu
início. Com o passar do tempo, alguns não irão obede­
cer ao Rei, e eJes deverão ser punidos.

Talvez a razão mais irresistível para o pós-tribulacio-


nista mover esse julgamento para o fim do Milênio não
é tanto conseguir cabritos entrando no Milênio quanto
para conseguir ovelhas entrando no próprio julgamento.
Mais uma vez: se o julgamento acontece na Segunda
Vinda, e SC o Arrebatamento acontece como parte da
Segunda Vinda, e se o Arrebatamento já levou todas as
ovelhas (como levaria), então de onde virão as ovelhas
que estarão presentes no julgamento?

Se, no entanto, o julgamento pode ser adiado até o


fím do Milênio, então é óbvio que haverá ambos, justos
e ímpios, vivendo na conclusão do Milênio. Mas então,
como podemos reconciliar as diversas características de
Mateus 25.31-46 com aquelas características que des­
crevem 0 que, supostamente, é o mesmo julgamento no
trono branco, mencionado cm Apocalipse 20.11-15?
Veja alguns dos contrastes entre o julgamento das ove­
________________ A População do Reino Milenar • 83

lhas e cabritos com o julgameiito no grande trono bran­


co.

Gundiy chama o julgamento das ovelhas e cabritos


de “um padrão geral de julgarnenU) para o fmi dos tem­
pos.”"^ Evidentemente, passagens que descrevem o mes­
mo evento não têm de conter ambas todos os mesmos
detalhes, mas essas duas passagens parcccm ser inteira­
mente diferentes nos seus detalhes.

Se o julgamento das ovelhas c cabritos deve ser trans­


ferido para o fim do MiJênio, então, obviamente, Ma­
teus 25.31 deve ser e n t e n d i d o como se r e f e r i n d o à Se­
gunda Vinda, e o versículo 32 como referindo-se ao fmi
do Milênio, 1000 anos mais tarde. Em outras palavras,
o intei'valo de 1000 anos (o Milênio) deve estar entre os
versículos 31 e 32. Pré-milcnistas reconhecem que esse
tipo de intervalo aparece nas Escrituras (Ts 9.6 e Jo
5.28-29, por exemplo). Ou seja, essa interpretação não é
impossível, mas seria ela a correta?

Os versículos 35-40 nos dão a resposta. Será que es­


ses versículos realmente descrevem as condições eni vi­
gor durante o Milênio? Eles têm que descrevê-las se es­
se julgamento deve ocorrer depois da conclusão do Mi­
lênio. Se essas são as condições durante o Milênio,
então esse deverá ser um período qutmdo Cristo e Seus
seguidores deverão estar famintos, sedentos, nus, enfer­
mos e aprisionados. Aqueles que desobedecem ao Rcl
durante o Milênio deverão realmente ir para a prisão,
mas 0 texto diz que durante aquele período que precede
0 julgamento, os seguidores de Cristo estarão na prisão.
Ora, tão certo como essa opção não poderá ser verda-
84 * Vem Depressa, Senhor Jesus

deira diiranLe o Milênio, cia será verdadeira durante a


Tribulação. Os seguidores de Cristo estarão iamintos,
sedentos, luis, enfermos e na prisão durante os anos da
Tribulação, mas não durante o Milênio, quando Cristo
estará reinando com toda a justiça.

Ovelhas e Cabritos Grande Trono Branco


N ã o há ressu rreiçã o (m esm o R essurreição dos m ortos.
q u e os santos do V e lh o Testa­
m ento ressuscitem na S egunda
V in d a , eles n ã o fa rã o p a rte d o
ju lg a m e n ío )

N e n h u m liv ro é a b e rto . Livros são abertos.

A p a la v ra nações é usa d a (e o A p a la v ra m o rto é usada.


te rm o nunca é usa d o p a ra os
mortos),

O ve lh a s estão presentes. O s justos n õ o são m e n c io n a ­


dos, nã o estão presentes.

Três g ru p o s são m e n cio n a d o s: Só um g ru p o é m e n c io n a d o :


ove lh as, c a b rito s e irm ãos. os m ortos.

A recom pensa é o re in o e a v i­ N ã o há m en ção de re co m ­


da eterna. pensa, som ente de c o n d e n a ­
ção,

O c o rre no lu g a r em q u e C risto A terra fug iu.


vem (ou seja, na te rra ).
________________ A População do Reino M ilenar ■ 85

Fica claro, então, que os versículos 35 u 40 tornam


impossível estabclecer um intervalo de 1000 anos entre
os vcrsículos 31 e 32. O julgamento acontecerá imedia­
tamente após a vinda dc Cristo, e Ele avaliará as pes­
soas com base na reação de seus corações às condições
vigentes na Tribulação - condições que não estarão pre­
sentes nem afetarão os seguidores de Cristo durante o
Milênio.

Então, para onde essa discussão nos conduz? Ela nos


leva a concluir que o ponto de vista pós-tribulacional
não pode responder à pergunta; quem serão os pais da
população do Milênio? No máximo, os pós-tribulacio­
nistas oferecem alguns pensamentos interessantes sobre
0 assunto, mas é só isso. Eles pensam que os 144.000
serão os pais judeus; mas para que eles possam real­
mente ser esses pais, precisarão permanecer incrédulos
durante toda a Tribulação, o Arrebatamento e a Segun­
da Vinda, e somente então, se converter. Eles pensam
que alguns dos deixados na separação de Mateus 24.40­
41 deverão ser os pais gentios (os demais gentios serão
condenados ao inferno). Mas isso distorce o significado
de “tomado” e “deixado”, fazendo com que o tomado
para o céu no Arrebatamento queira dizer algo contrário
ao claro significado de “tomado” em Luca.s 17.36. E pa­
ra tornar todas essas idéias consistentes, o julgamento
das ovelhas e cabritos deve ser colocado no fim do M i­
lênio, e Mateus 25.35-40 deve descrever as condições
existentes durante o Milênio,

É muito mais simples não ter que colocar o Arrebata­


mento no fím da Tribulação! Isso permite que as pes­
soas aceitem ou rejeitem a Cristo durante a Tribulação.
86 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Algumas dessas pessoas (as quais não serão arrebatadas


porque o Arrebatamento já terá acontecido) irão sobre­
viver e serão julgadas na Segunda Vinda (tanto os ju ­
deus quantü os gentios vivos). Aqueles que consegui­
rem passar pelo julgamento - como pessoas redimidas -
entrarão no reino com seus corpos terrenos a fim de se
tornarem a primeira geração da população milenar, os
pais da próxima geração.
10
o Dia do Senhor
Pré e pós-lribulacionistas concordam que a questão
do Dia do Senhor está diretamente relacionada com a
época do Arrebatamento. Mais especificamente, o cerne
da questão é sobre quando o Dia dc Senhor tem início.
Se ele começa na Segunda Vinda de Cristo, então o Ar­
rebatamento (o qual deve preceder o Dia do Senhor) po­
deria (mas não tem que) ser pós-tribulacional. Se o Dia
do Senhor começa no meio da Tribulação, então o Arre­
batamento precisa ser midi-tribulacional, Mas se o Dia
do Senhor começa no início da Tribulação, então o Ar­
rebatamento deve preceder a Tribulação.

O Dia do Senhor, na Bíblia, sempre envolve um con­


ceito bastante abrangente da intervenção especial de
Deus na história humana. Esse conceito inclui três la-
88 « Vem Depressa, Senhor Jesus

dos: (1) Lirn lado histórico referente à Sua intervenção


nos assuntos de Israel (.11 1.15; Sf 1.14-18) e nos assun­
tos das nações pagãs (Is 13.6; Jr 46.10; Ez 30.3); (2) um
lado ilustrativo, no qual um incidente histórico da inter­
venção de Deus também ilustra uma futura intervenção
(Is 13.6-13; II 2.1-11); (3) um lado c.scatológico sobre a
intervenção de Deus na história humana no futuro (Is
2.12-19; 4.1; 19.23-25; Jr 30.7-9). Somente esse tercei­
ro ponto, 0 lado escatológico, faz parte da nossa discus­
são sobre o tempo do Arrebatamento.

Todos os pré-milenistas concordam que o Dia do Se­


nhor inclui os eventos da Segunda Vinda e os 1000 anos
literais do Milênio que seguem logo após. Pré-milenis-
tas não debatem sobre quando o Dia do Senhor termi­
nará, somente sobre quando é o seu início.

O esquema pós-tribulacionista é o seguinte: o Dia do


Senhor não começará ate que sejam derramados os ju l­
gamentos do Armagedom, no fim da Tribulação. O Ar­
rebatamento, que precede o Dia do Senhor, ocorrerá no
fim da Tribulação, logo antes do Annagedom, livrando
a Igreja da ira de Deus que cairá no Armagedom.

Duas questões se levantam agora. Primeira: como po­


de 0 Arrebatamento preceder o Armagedom e mesmo
assim ser um evento Cínico com a Segunda Vinda, que
encerrará o Armagedom'.' O Armagedom não é uma ba­
talha única e local; é uma guerra (Ap 16.14). Para a
Igreja estar ausente no Armagedom, o Arrebatamento
não pode ser um evento íinico e acontecer ao mesmo
tempo que a Segunda Vinda. Ele deveria acontecer se­
parado da Segunda Vinda pelo menos por um pouco de
o Dia do Senhor • 89

tempo. E se for separado por um lapso de tempo, seja


ele qua! for, então não existe um Arrebatamento pós-tri-
bulacional. Segunda pergunta: se o Dia do Senhor co­
meça com o julgamento do fim da Tribulação, então co­
mo pode ele começar com um tempo de paz e seguran­
ça (1 Ts 5.2-3)? Até mesmo um conhecimento
superficial da Tribulação nos dá a impressão de que não
haverá qualquer tempo de paz e segurança, exceto tal­
vez logo no seu início; certamente não no seu final.

Com o objetivo de aliviar as tensões que se levantam


dessas duas perguntas, os pós-tribulacionisías (1) pro­
põem uma ceita cronologia dc julgamentos descritos em
Apocalipse, e (2) sugerem uma interpretação muito in-
comum de 1 Tessalonieen.ses 5.2-3 (“paz e segurança”).

Os Julgamentos de Apocalipse

As três séries de julgamentos descritas em Apocalip­


se acontecerão durante os anos da Tribulação. Eles são
revelados sob os títulos de sete selos (capítulo 6), sete
trombetas (capítulo 8-9) c sete taças (capítulo 16). Os
comentaristas discordam em seu entendimento sobre a
relação que esses julgamentos têm entre si. Alguns
acreditam que eles são consecutivos; ou seja, as trombe­
tas ocorrem logo após os selos e as taças logo após as
trombetas. Em outras palavras, o primeiro selo aconte­
cerá logo após o início da Tribulação, e a última taça
acontecerá no final da Tribulação. Entretanto, isso não
quer dizer que todos os demais julgamentos que ficam
no meio estão distribuídos em espaços iguais de tempo
através dos sete anos. As seíe taças, por exemplo, apa­
90 » Vem Depressa, Senhor Jesus

rentemente se sucedem rapidamente uma atrás da outra.


Mas no geral, os julgamentos são consecutivos.

Outros crêem que os julgamentos serão de alguma


forma paralelos. Ou seja, o sétimo selo descreveria o
fim da Tribulação; desse modo, a sétima trombeta e a
sétima taça aconteceriam também no fim.

Há pré-tribulacionistas que tomam qualquer das duas


posições, mas os pós-tribulacionistas estão melhor ser­
vidos ao tomarem a segunda. A razão; a Igreja, de acor­
do com o ponto de vista pós-tribulacionista, escapará da
ira de Deus, a qual acontecerá somente bem no fmal da
Tribulação. O sexto selo e a sexta e sétima taças predi­
zem a ira de Deus, conseqüentemente elas devem acon­
tecer no fmal. “Assim, a ira de Deus não se demonstrará
através de toda a Tribulação. As passagens de Apocalip­
se que falam da ira divina tratam do final da Tribula­
ção.”'

Os pós-tribulacionistas não somente limitam a ira dc


Deus para a época fmal da Tribulação, mas eles também
ensinam que ela cairá somente sobre os incrédulos.

Pressuposições Pòs-Tribulacionistas

Vamos examinar algumas das pressuposições neces­


sárias para tal ponto de vista.

Dizer que a ira de Deus está direcionada somente


contra os não regenerados é uma coisa; mas daí a con­
cluir que os regenerados estão protegidos de qualquer
o Dia do Senhor • 'JI

dos seus efeitos é acrescentar alguma coisa que pode


não ser verdadeira. Por exemplo: além desse futuro der­
ramamento da ira de Deus, existe também o derrama­
mento presente da ira (Rm 1.18). Ela está direcionada
contra os incrédulos e resulta era todo tipo de atividades
perversas e corruptas, incluindo filosofias falsas, ho­
mossexualidade, assassinatos, etc. A ira de Deus cai so­
bre os incrédulos; mas será que os crentes estão protegi­
dos neste momento dos efeitos dessas atividatles? Claro
que não. O incrédulo que cometc assassinato pode, por
exemplo, matar um crente.

Da mesma forma, com respeito à futura ira de Deus,


não c correto conclidr que, quando Deus derrama os jul­
gamentos de Sua ira, os crentes irão escapar dos efeitos
desses julgamentos, mesmo que eles estejam direciona­
dos somente contra os incrédulos. Mesmo que o ponto
de vista pós-tribulacionista tente colocar um manto de
proteção sobre os crentes, a fim de guardá-los dos efei­
tos da ira futura de Deus, isso não está de acordo cora o
que acontece hoje com Sua ira e seus efeitos.

Mas crentes serão resgatados, diz o pós-tribulacio­


nista, porque eles serão arrebatados antes que a ira
caia sobre os incrédulos. '‘Deus não irá derramar a
Sua ira sobre os incrédulos até o final do Armage­
dom, quando Jesus descerá [e a Igreja será arrebata­
da, se o pós-tribulacionismo está correto].”- Entretan­
to, Armagedom não é apenas uma simples batalha
mas 0 clímax de uma guerra, Pov isso, a fim dc es­
caparem da ira dc Deus, os crentes teriam que ser
arrebatados antes que Cristo descesse no final da cam­
panha do Armagedom.
92 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Note também que Apocalipse ó .l7 anuncia que a ira


de Deus “ chegou” . O tempo verbal parece indicar que
a ira já foi derramada, e que não começou somente
com o sexLü selo. Assim, u versículo parece dizer que
a ira começará antes do fim da Tribulação. A fmi de
se contrapor á força desse argumento, os pós-tribula-
cionistas dizem que o tempo verbal significa apenas
que a ira está quase por ser derramada; ou seja, que
ela não terá início antes do fim.^ Agora vejamos, essa
interpretação lança inão de um possível uso do tempo
verbal, mas na verdade é muito difícil que tenha esse
significado nesse versículo. Como Alford indica, “o
sentido praticamente perfeito do aoristo'^ eithen difi­
cilmente pode ser questionado aqui.”“* Ele explica que
o significado desse tempo verbal “refere-se ao resulta­
do de toda uma série de eventos passados, sendo que
não podemos expressar o mesmo em nossa língua se­
não peio uso do pretérito perfeito.”^ Assim, sustenta­
do por especialista tão renomado, o significado desse
versículo não é que a ira está quase por ser derrama­
da (como os pós-tribulacionistas precisam, entendê-lo
para não desmontar todo o seu sistema), mas que a ira
já foi derramada e produz resultados contínuos como
conseqüência.

Esse argumento sobre o significado do tempo verbal


é também usado por outro ponto de vista mais recente
chamado de o Arrebatamento pré-ira. Esse ensino co­
loca o Arrebatamento a três-quartos do caminho dos

'A o ris to : te m p o da co n ju g a çã o gre ga que in dica haver a ação o co r­


rido em é p oca pa ssad a, sem de term inar, porém , se está inteira-
m 0 n l 0 rea liza da no in sta nte em que se fala - N.R,
o Dia do Senhor • 93

sete anos do período da Tribulação e antes do derramii-


mento da ira de Deus sobre a terra. Ele afirma tjue o
Arrebatamento, o início do Dia do Senhor, c o derra­
mamento da ira de Deus irão acontecer todos ao mes­
mo tempo a três-quóirtos do período da Tribulação. Isso
coloca esses eventos em Apocalipse 8.1, na abertura do
sétimo selo.''

Mesmo que o tempo verbal em Apocalipse 6.17 pos­


sa significar “e.stá quase chegando”, esse não é o uso
que João dá ao verbo em outros lugares do Apocalipse.
Em Apocalipse 11.i8; 14.7,15; 18.10; e 19.7, o mesmo
verbo, no mesmo tempo verbal de Apocalipse 6,17, é
usado para eventos e pessoas que já estão presentes na
cena, não referindo-se a coisas que estão por acontecer
no futuro (se bem que próximo).

A questão se as três séries de juízos de Apocalipse


são sucessivas ou paralelas (ou a combinação dessas
duas) talvez nunca possa ser respondida satisfatoria­
mente. Mas se alguém enfatiza a sucessão dos even­
tos, então a paisagem pó.s-tribuIacionista fica meio
ofuscada. Quanto mais julgamentos forem empilhados
no íinal, mais ficaria confirmada a proposta pós-tribu­
lacionista.

Mas, na melhor das hipóteses, a teoria é confusa, O


Dia do Senhor, de acordo com os pós-tribulacionistas,
inclui o julgamento final de Armagedont;^ c ainda “cla­
ramente, o Dia do Senhor não terá início com a Tribula­
ção ou cora qualquer parte dela.”®Ao mesmo tempo,
“as passagens em Apocalipse que falam sobre n ira divi­
na tratam... do encerramento da Tribulação.”''
94 * 'Vem Depressa, Senhor Jesus

Vamos resumir a posição pós-tribulacionista; o Arre­


batamento pode preceder o Armagedom (que é quando
a ira dc Deus será derramada e quando o Dia do Senhor
terá início) se muitos dos juízos de Apocalipse forem
empilhados juntos no fmal, tão simultâneos quanto pos­
sível; se o tempo verbal em Apocalipse 6.17 tiver um
significado especial; se os efeitos do derramamento da
ira de Deus não tiverem qualquer outra conseqüência
paralela sobre os crentes; e se o conflito final for uma
batalha só, não uma guerra com múltiplas batalhas.

O Tempo de Paz e Segurança

Um a segunda pergunta que os pós-lribulacionistas


precisam responder é a seguinte; como pode o Dia do
Senhor começar com um tempo de paz e segurança se
ele começa com o derramamento da ira de Deus em
Armagedom?

Paulo escreveu; “Pois vós mesmos estais inteirados


com precisão de que o dia do Senhor vem como la­
drão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segu­
rança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição,
como vem a dor do parto à que está para dar à luz; e
dc nenhum modo escaparão” (1 Ts 5.2-3). A vinda ou
início do Dia do Senhor ocon-erá durante uma época de
paz. Pode ser que seja uma paz segura ou insegura, mas
não será durante uma época de gueiTa ou conflito. Essa
descrição muito dificilmente se encaixa com o fim da
Tribulação quando “todas as nações” convergirão para a
Palestina (Zc 12.3; 14.2; Ap 16.14). Como pode então o
sistema pós-tribulacionista estar correto?
o Dia do Senhor ■ 95

A cronologia de 1 Tcssalonicenses 5.2-3 é clara: a


paz existente no início do Dia do Senhor será seguida
por repentina destruição. Mas o ponto de vista pós-tri-
bidacionista já declarou que o Dia do Senhor não come­
çará com a Tribulação ou parte dela. Será que isso sig­
nifica que ele começará com o estabelecimento do reino
àe Cristo? Aquele período certamente será de paz e se­
gurança. Mas, se seguimos a cronologia do texto, então
o Milênio receberá uma destruição catastrófica logo
após ter começado!

Na verdade, o Dia do Senhor começa logo antes do


Armagedom, de acordo com o ponto de vista pós-tribu­
lacionista, quando a ira de Deus será derramada. Como
pode então ser ele precedido por um tempo dc paz?
rOuas respostas têm sido dadas:

1. “Talvez logo antes de Armagedom haverá uma cal­


maria, um tipo de fim da violência mundial, a qual entu­
siasmará as esperanças dos homen.s^por uma paz que eles
têm esperado por tanto tempo.”“’ É claro que essa “cal-
ntiaria” não está de forma alguma nem mesmo sugerida
no texto. Mesmo que alguém pudesse imaginar uma cal­
maria nos conílitos militares durante os meses finais da
Tribulação, como poderia isso significar que as pessoas
experimentarão segurança numa época quando tantos
conflitos físicos estarão dando nova forma a toda a terra?

Os últimos julgamentos de cada série em Apocalip­


se revelam: morte de mártires (6.9), uma chuva de me­
teoros (6,13), terremotos (6.14), tormentos como fer­
rões de escorpiões (9.10), um terço da população será
morta (9.18), pessoas mordendo suas línguas em dor
96 • Vem Depressa, Senhor Jesus

(16.10), exércitos convergindo para Armagedom


(16.14), e destruição generalizada (16.20-21). E lem­
bre-se que, de acordo com os pós-tribulacionistas, al­
guns desses julgamentos, senão todos, ocorrerão mais
para o fim da Tribulação. E ainda em algum lugar du­
rante essa época haveria uma calmaria que faria as pes­
soas se sentirem que estão vivendo em um tempo de
paz e segurança.

2. Uma sugestão alternativa oferece uma interpreta­


ção inusitada de 1 Tessalontcenses 5.3: “ Entretanto,
Paulo não escreveu; ‘Quando houver paz e segurança’.
Ao invés disso, ele diz; ‘Quando andarem dizendo...'’ O
próprio formato da afirmação sugere que paz e seguran­
ça não será a verdadeira condição do mundo a preceder
o Dia do Senhor, mas o desejo expresso e/ou a expecta­
tiva dos homens, à qutü Deus responderá com o derra­
mamento do juízo.” *'

Essa interpretação é uma novidade porque a passa­


gem contrasta paz e segurança coni destruição. Se paz e
segurança são apenas um desejo das pes.soas em meio a
guerra c perigo, então o contraste com a destruição vin­
doura desaparece.

O Impasse Pós-Tribulacionista

O ponto de vista pós-tribulacionista enfrenta um im­


passe real no assunto da Segunda Vinda de Cristo. Es­
se impasse escatológico inclui o seguinte: um certo nú­
mero de julgamentos acontece; entSo, o Arrebatamen­
to acontece como parte da Segunda Vinda; enquanto
o Dia do Senhor • y?

isso, a ira de Deus está sendo retida; surge um tem|io


de paz e segurança; então o Dia do Senhor começa
com esses julgamentos, mas ele não inclui qualquer
parte da Tribulação!

Será que existe alguma maneira dc desenrolar essa


confiisão? Certamente. Basta simplesmente ter um tem­
po entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda. Quanlo
tempo? Mais tempo do que os pós-tribulacionistas que­
rem, porque eles não permitem que haja tempo algum; e
mais tempo do que os midi-tribulacionistas permitem,
porque senão a primeira metade da Tribulação não pode
conter qualquer julgamento. Em outras palavras, nós
precisamos de um espaço de tempo tal qual o ponto de
vista pré-tribulacionista sugere.

Sabemos quando a paz terminará. A paz será extin­


guida pela guerra quando o segundo selo for aberto (Ap
6.4). Nenhum esquema pós-tribulacionista que eu co­
nheça coloca 0 término da paz no fim da Tribulação.
Isso deve ocorrer perto do início desse período terrível,
E tal como ele, o Dia do Senhor deve começar nessa
mesma época.

O Senhor ensinou essa mesma seqijência de eventos


no Sermão do Monte das Oliveiras. Ele predisse que
guerras, fomes, terremotos iriam acontecer antes que o
Anticristo se estabelecesse no templo, exigindo adora­
ção. Esse evento ocorrerá no meio da Tribulação, mas
guen-as serão uma característica de todo o período, No­
vamente chegamos à mesma conclusão: o Dia do Se­
nhor começa no início da Tribulação, logo depois de um
tempo de paz e segurança.
98 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Paulo também sugere a mesma cronologia em 2 Tcs­


salonicenses 2.1 "3. Ele assegura aos tessalonicenses que
0 Dia do Senhor não estava ainda por chegar porque
duas coisas deveriam acontccer antes disso: a apostasia e
a revelação do míquo. Ambos os eventos ocorrerão antes
que o Dia do Senhor comece, de acordo com o ensino
pós-tnbLÜacionista de que o Dia do Senhor não se inicia
até o fím da Tribulação. Mas os dois eventos íambcm se
encaixam no sistema pré-tribulacionista de entender o
futuro. A apostasia é algo que existe há muito tempo e
seu clímax será atingido mesmo antes que a Igreja seja
arrebatada deste mundo. O homem do pecado será reve­
lado quando assinar um acordo cora Israel (Dn 9.27). A
assinatura daquele acordo mostra o início do Dia do Se­
nhor e da septuagésima semana no início da Tribulação.
O acordo promoverá o sentimento geral de paz que terá
sido conseguido. Mas a paz durará pouco.

Além disso, Paulo ensinou que o homem do peca­


do não pode ser revelado até que Aquele que o de­
tém seja removido. Sem entrar na discussão sobre a
identidade dEste que o detém, vamos simplesmente
fazer duas perguntas aos pós-tribulacionistas sobre es­
se assunto.

Em primeiro lugar, se a Igreja passará pela Tribu­


lação, e se durante esse tempo multidões se conver­
terão, aumentando assim o número dos que partici­
pam na Igreja e serão protegidos até o Arrebatamen­
to, não será a Igreja, porventura, uma força muito
mais forte neste mundo do que jamais ela tem sido?
Não seria tal Igreja (aumentada, selada, protegida,
grande ein poder e preservada durante a Tribulação)
0 ü ia do Senhor • 9*>

justamente aquilo que reteria o homem do pecado, dc


tal forma que ele não poderia íer tanto poder quan­
to a Bíblia diz que terá?

Em segundo lugar, se os tessalonicenses estavam tão


agitados porque pensavam que o Dia do Senhor já tinha
vindo e que eles já estavam vivendo tal dia, como pôde
Paulo confortá-los dando-lhes a certeza de que não esta­
vam vivendo aquele Dia, mas que, sim, o viveriam, tão
logo o homem do pecado aparecesse em cena? Que
conforto existiria em assegurar ao povo que eles vive­
riam durante todo o tempo em que esse iníquo dominas­
se até que finalmente fossem arrebatados?

Dessa forma, chegamos à mesma conclusão: o Dia do


Senhor começaiá tão logo o homem do pecado seja revela­
do, e isso acontecerá no início da Tribulação, não no fim.

Primeira Tessalonicenses 4 e 5

Em 1 Tessalonicenses 4.13-18 Paulo tentou acalmar


alguns tessalonicenses que temiam que seus mortos em
Cristo não participariam do reino vindouro. Ele lhes as­
segurou que os mortos ressuscitarão e os vivos serão
transformados no Arrebatamento da igreja. Esse assun­
to era algo sobre o qual eles não estavam bem informa­
dos (versículo 13), apesar do fato de Paulo os haver en­
sinado sobre as coisas futuras durante seu curto ministé­
rio entre eles (2 Ts 2.5).

Em 1 Tessalonicenses 5.1-11 Paulo escreveu a res­


peito do início do Dia do Senhor. Num tempo de paz
100 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

e segurança, ele virá inesperada e terrivelmente, com


dor (v. 3) e ira (v. 9). Enquanto isto não acontece, os
crentes devem viver em estado de alerLa e sobriedade.
As exortações dos versículos 6, 8, 9 e 10 não são fei­
tas no sentido de buscar sinais durante a Tribulação
(em prepai'açâo para o Dia do Senhor que viria no fi­
nal), mas no sentido dc buscar uma vida piedosa face
ã Tribulação vindoura, da qual os crentes escaparão
(veja 1 Co 15.58). Sobre esse ensino, Paulo diz que
eles já sabiam bastante (v. 1). Como pode ser isso?
Parcialmente por causa do seu próprio ensinamento,
ma,s mais ainda por causa do seu conhecimento do Ve­
lho Testamento.

No Velho Testamento, o Dia do Senhor é menciona­


do com esse título mais ou menos 20 vezes, freqüente­
mente com implicações escatológicas. Além disso, um
termo paralelo, “os últimos dias” , ocorre Í4 vezes, sem­
pre escatologicannente. Ainda mais, a frase “naquele
dia” ocorre mais de uma centena de vezes e geralmente
tem uso escatológico. Em Lsaías 2.2,11-12 as três frases
aparecem e se referem à mesma época escatológica. En­
tão existe uma hase bastante ampla para Paulo dizer qiie
seus leitores sabiam sobre o Dia do Senhor a partir do
Velho Testamento.

Mas a respeito do Arrebatamento não há qualquer


revelação no Antigo Testamento. Essa omissão em
centenas de passagens parece muito difícil de enten­
der se 0 Arrebatamento é o primeiro evento do Dia
do Senhor, como o sistema pós-tribulacionista ensi­
na. Mas se o Arrebatamento for um mistério no Ve­
lho Testamento, e se ele precede o início do Dia do
o Dia do Senhor ■ 11)1

Senhor, como os prc-tribulacionistas ensinam, enlão


não é estranho que Pauío tinha que informá-los so­
bre 0 Arrebatamento.

Por essa causa, os pós-tribulacionisLas desejam (.ruçar


uma relação muito próxima entre 1 Tessalonicenses
4.13-18 e 5.1-11, enquanto, por outro lado, os pré-tribu-
lacioni.stas preferem um contraste de assunto entre as
duas passagens.

Assim, 0 esquema pós-tribulacionista é o seguin­


te: Paulo passa com facilidade de sua discussão so­
bre o Arrebatamento em 1 Tessalonicenses 4.13-18
para a discussão da parousia em i Tessalonicenses
5.1-11 porque ele esíá falando sobre eventos que
ocorrem ao mesmo tem po e não sobre eventos se­
parados por sete anos. A escolha que Paulo fez do
termo de (priineira palavra grega em 5.1), um sim­
ples conectivo com um senso muito fraco de con­
traste, indica essa relação bastante próxima, E já
que o Dia do Senhor não começará senão até a Se­
gunda Vinda, o Arrebatamento acontecerá também
naquela ocasião,

Os pré-tribulacionistas argumentam que o contras­


te entre os dois assuntos fica mais evidente pelo fa­
to de Pauio não ter usado simplesmente a palavra de
em 5.1 mas a expressão peri de. Isso é bastante sig­
nificativo. Em outros lugares em seus escritos, Pauio
usa peri de para denotar um assunto novo e Cí)utras-
tante: 1 Coríntios 7.1,25; 8,1; 12.1; 16.1,12; 1 Ts 4.9;
5.1. O argumento pós-tribulacionista de que o mes­
mo assunto está sendo discutido em 4.13-18 e 5.1-
102 * Vem Depressa, Senhor Jesus

1 i pode ser sustentado pelo uso do conectivo de, mas


é completamente anulado pelo uso de peri de. Então
o uso pré-tribulacionista da passagem é rortemente
sustentado exegeticamente. O Arrebatamento não c
parte do Dia do Senhor e portanto não pode ocorrer
pós-tribulacionalmente.

Claramente, a questão sobre o início do Dia o Se­


nhor é uma importante bifurcação entre pré- e pós-tri-
biilacionistas. Pré-tribulacionistas vêem o Dia do Se­
nhor se iniciando no começo da Tribulação por causa
das seguintes razões:

1. Os primeiros julgam entos (independentemente


de qual cronologia for usada) incluem guerras, fo ­
rnes, e a morte de um quarto de toda a população
da terra.

2. A única vez que a Bíblia menciona paz e seguran­


ça durante o período da Tribulação é no seu início. Esse
tempo será imediatamente seguido por guerra, destrui­
ção e revoluções que condnuarão intermináveis até que
Jesus Cristo retorne. Assim, o Dia do Senhor deve co­
meçar no início da Tribulação e o Arrebatamento deve
acontecer antes dele.

3. A revelação do homem da iniquidade ocorrerá no


início da Tribulação quando ele fará um pacto com o
povo judeu.

4. A compreensão mais normal do verbo em Apoca­


lipse 6.17 nos transmite a idéia de que a ira já veio e
continua.
o Dia do Senhor • 103

5. 0 uso que Paulo faz de peri de, não simplesmente


da conjunção de, em 1 Tessalonicenses 5.1, indicii que
ele está contrastando os assuntos.

6. A remoção da paz de toda a terra logo após o iní­


cio da Tribulação se encaixa somente com o ponto de
vista pré-tribulacionista.

Para que o ponto de vista pós-tribulacionista esleja


correto, é preciso que sejam providenciadas respostas
mais satisfatórias para as seguintes perguntas:

1. Como pode o Dia do Senhor não começar com a


Tribulação ou parte dela, mas conicçar com os julga­
mentos do Armagedom?

2. Como pode o conflito fmal no término da Tribula­


ção ser amontoado de maneira a ser uina única batalha
de curta duração de ta! forma que a Igreja possa ser ar­
rebatada quando ela começar (a fim de escapar da ira) e
ainda dar meia-volta e retornar em companhia de Cristo
no Seu retorno à terra?

3. Será que a proteção dos crentes do derramamento


da ira sobre os incrédulos realmente inclui sua proteção
total a ponto de não receberem qualquer dos efeitos das
ações dos incrédulos sobre quem a ira está sendo derra­
mada? Isso não acontece hoje. Por que esperaríamos
que assim acontecesse no futuro?

4. Como é que o amontoar dos julgamentos no fmi da


Tribulação resolve o problema de que outros julgamen­
tos, igualmente severos, parecem acontecer mais cedo
104 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

na Tribulação c cair sobre os crciitcs tanto quanto sobre


os incrédulos?

5. Qual é a interpretação mais normal do tempo ao-


risto cm Apocalipse 6.17?

6. O uso da frase peri de em 1 Tessalonicenses 5.1


indica que o Arrebatamento não c realmente uma parte
do Dia do Senhor no fmal da Tribulação?

Somente o ponto de vista pré-tribulacionista se encai­


xa harmoniosamente com toda a evidência que a Bíblia
dá e responde satisfatoriamente essas questões.
11
Ira ou
Arrebatamento ?
Se a ira parece caracterizar mais o período da Tribu­
lação do que tâo somente a última crise, então temos
três opções; (1) a Igreja deve agiientar a ira; (2) ela deve
ser arrebatada antes cio fim; (3) ou ela deve de alguma
forma ser protegida durante a Tribulação.

A opção número um não é defendida por pré- ou pós-


tribulacionistas (apenas defensores do arrebatamento
parcial é que a mantém). Pré-tribulacionistas optam pe­
la segunda, e pós-tribulacionistas pela terceira.
106 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Ira ou Iras?

Para fortalecer seu argumento a favor da retirada da


Igreja da ira que cairá no fim da Tribulação, pós-tnbula-
cionistas catalogam as dificuldades desse período sob
três iras: a ira de Satanás, a ira dos homens ímpios (es­
sas duas iras a Igreja irá experimentar), e a ira de Deus
(a qual virá somente na parte final, da qual a Igreja será
libertada).

Os pós-tribulacionistas dizem que a palavra ira é


usada em Apocalipse para designar a ira de Deus con­
tra os ímpios, e que a palavra tribulação se refere à
perseguição dos santos durante os sete anos. Mas es­
sa diferenciação não prova que a ira de Deus será li­
mitada somente ao final do período, nem que ela não
inclui as atividades de Satanás, do Anticristo, ou de
pecadores.' A ira de Deus no Armagedom (Ap 19.15)
incluirá as atividades de Satanás e demônios (Ap
16.13-14). Sua ira derramada nos julgamentos das ta­
ças afetará um lugar (a terra) e não somente as pes­
soas ímpias (Ap 16.1).

Os santos não podem ser protegidos de todos os efei­


tos resultantes das iras do período da Tribulação. Ne­
nhum sistema cronológico pode fazer com que todos os
julgamentos dos selos, trombetas e taças sejam relega­
dos ao fím da Tribulação, nem há qualquer maneira de
proteger os justos, por exemplo, de uma guerra mun­
dial, fome e terremotos. Na verdade, nós sabemos que
muitos justos serão martirizados através de todo esse
período, o que prova que não serão protegidos todos
eles (A p6.1Ü -lI).
Ira ou Arrebatamento? • 107

Durante a Tribulação, haverá ira e iras vindas de Io­


dos os quadrantes, caindo em todo lugar, e afetando to­
do o inundo de uma maneira ou outra.

Quando a Ira de Deus cairá?

Vamos assumir por um momento, no entanto, a vali­


dade da distinção que os pós-tribulacionistas fazem en­
tre a ira de Deus (ao final da Tribulação) e as outras for­
mas de ira. Julgamento e tribulação (que acontecem du­
rante todo o período). Será que a ira de Deus está
coníinada somente ao final do período?

PcU'a responder “sim”, como os pós-tribulacionistas


devem, dois versículos precisam ser intei'pretados de
modos específicos. Apocalipse 6.17 deve ser com­
preendido de modo a significar que a ira de Deus (que
está ausente da terra naquela altura dos acontecimen­
tos) está quase que se derramando. Usualmente o ter­
mo indica que a ira de Deus já foi derramada previa­
mente nos julgamentos anteriores e que ela continua a
ser derramada durante o julgamento do sexto selo. Em
outras palavras, a interpretação mais normal nos levaria
a concluir que a ira de Deus não se iniciará com o sex­
to selo, pelo contrário, ela terá começado com os julga­
mentos anteriores. E, obviamente, os julgamentos pre­
cedentes terão acontecido mais cedo no período da Tri­
bulação, 0 que toma impossível amontoá-los todos no
fmal.

Apocalipse 15.1 afirma que a última série dc pragas


(os julgamentos das taças) terminam, ou completam a
108 ■ Vfem Depressa, Senhor Jesus

ira (iileraimente a ‘raiva') de Deus sobre a teira. Nin­


guém discorda dc que os sete julgamentos das taças de­
vem acontecer antes que a ira de Deus se extinga. A
questão não é quando a ira dc Deus tenniníuá; a questão
é quando ela terá o sen início. Se alguma coisa termina­
rá quando ceitos eventos ocoiTcrem, então, seguindo to­
dos os princípios de simples compreensão textual, algu­
ma coisa deve começar antes desses eventos. Os julga­
mentos das sete Laças completam a ira de Deus;
portanto, a ira de Deus não começa com esses julga­
mentos. Ela deve começar antes disso. A ira de Deus
terminará, não começará, durante o tempo dos julga­
mentos das 7 laças.

Mas os pós-tribuiacionistas devem fazer a ira de


Deus começar no final da Tribulação; de outra fornia a
Igreja não escapará, já que o Arrebatamento c o meio
de escape e ele não virá até o fim do período. Assim, o
Arrebatamento e a ira de Deus devem estar no fim, e a
ira de Deus não pode começar antes (mesmo que ou­
tros tipos de dificuldades possam fazê-lo). Mas não pa­
rece que Apocalipse 15.1 nega essa premissa de que a
ira de Deus se limitará ao final da Tribulação? Eía deve
começar algum tempo antes do derramamento desses
últimos julgamentos. E qualquer tempo é tempo de­
mais para a interpretação do Arrebatamento pós-tribu­
lacionista, o qual é visto como um evento línico com a
Segunda Vinda.

Gundry pensa que a interpretação pré-tribulacionista


dc Apocalipse 15.1 “sobrecairega” o significado de
“consumou” ou “completou.”- Julgue por si mesmo se
isso é sobrecarregar ou é compreensão normal.
Ira ou Arrebatamento? • 109

Proteção c/ou Remoção?

Os pós-tribulacionistas crêem que a Igreja sobrevive­


rá à Tribulação por que ela será protegida; mas, mais
especificamente, ela será protegida da ira de Deus mes­
mo que sujeita à ira dc Sataná-s, do Anticristo e dos ho­
mens. Na verdade, a posição pós-tribLilacionistíi é de
proteção e remoção ao mesmo tempo. Proteção durante
todo o tempo da Tribulação (no caso da ira de Deus cair
antes do fmal da Tribulação^, e remoção no final, atra­
vés do Arrebatamento.

Os pós-tribulacionistas reconhecem que haverá már­


tires durante a Tribulação, logo, nem todos os redimidos
serão protegidos. Na verdade, então, haverá uma prote­
ção seletiva, mas não uma proteção universal. Mas em
que base Deus protegerá alguns e permitirá que outros
morram? Aparentemente mais em uma base acidental
do que em uma base divinamente ordenada. A geograím
parece ser um dos fatores, pois sugere-se que aqueles
que estiverem perto ou mesmo na Palestina serão mais
sujeitos ao martírio. Mas aqueles que escaparem e so­
breviverem serão arrebatados no fmal. Ao considerar­
mos tudo isso, concluímos que será uma Igreja dizima­
da que receberá proteção de sobrevivência até que o Ar­
rebatamento aconteça.

Muitas vezes essa proteção seletiva é comparada


com a proteção experimentada por Israel quando as
pragas caíram sobre os egípcios. Veja, é óbvio que
Deus pode proteger c preservar a vida de qualquer pes­
soa, a qualquer tempo e em qualquer lugar cjue Ele de­
seje. Israel foi protegido das pragas que caíram sobre o
110 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Egito. Obviamenle, os isiraelíLas viviam à parte, na terra


de Gósen. Os santos durante a Tribulação viverão es­
parramados no mundo inteivo, tornando rauito difícil
percebermos como eles poderão escapar dos efeitos da
destruição da vegetação (Ap 8.7-8), ou da morte das
criaturas do mar (Ap 8.9), ou do amargamento dos rios
c fontes (Ap 8.10-H ).

A resposta do pós-tribulacionista é a seguinte: alguns


serão martirizados, alguns serão protegidos, e os sobre­
viventes serão arrebatados. A proteção é parcial; o arre­
batamento (dos sobreviventes) é total. Em outras pala­
vras, na Tribulação, a Igreja experimentará a ira (no mí­
nimo a ira de Satanás e dos homens, as quais matarão
alguns) e o Arrebatamento (de todos que sobreviverem
até o fim).

A Promessa de Apocalipse 3.10

“Porque guardaste a palavra da minha perseve­


rança, também eu te guardarei da hora da provação
que há de vir sobre o mundo tnleiro, para experi­
mentar os que habitam sobre a terra.” Que essa pro­
messa se refere à relação da Igreja com o período da
Tribulação é assunto quase nunca debatido (o pós-tribu­
lacionista Moo também reconhece issoO- A razão está
no próprio versículo. Esse tempo de provação refere-se
a uma provação “que há de vir sobre o mundo intei­
ro.” Será uma provação mundial, e sobre toda a terra
habitada, ou seja, sobre toda a sua população. Ela não
aconteceu naquela época porque ela estava ainda no fu­
turo - “há de vir.” Esse texto não é uma promessa res­
Ira ou Arrebatamento? • 111

trita à Igreja de Filadélfia no primeiro século, da mesma


forma c]ue outras promessas favoritas como Filipenses
4.13, Fiüpenses 4.19 ou 1 Coríntios 10.13 não estão li­
mitadas às igrejas do primeiro século. Também, o Se­
nhor re.ssurreto, em todas as sete cartas em Apocalipse
2 e 3, disse que todas as igrejas deveriam ouvir o que
Ele dizia.

Os pós-tribulacionistas têm dificuldade em interpre­


tai’ essa promessa de forma direta. Um diz que ela “não
precisa ser uma promessa de uma remoção da presen­
ça física da Tribulação. Ela é uma promessa dc pre­
servação e livramento na e através da Tribulação.”^
Mais especificamente, a frase “Eu te guardarei da
hora” (tereso ek tes horas) é dissecada a fim de sus­
tentar o arrebatamento pós-tribulacional depois da pre­
servação que acontecerá durante toda a Tribulação.
“Da” (ek) recebe o significado de “de dentro”, ou
“emergente” , a fim de indicar que a Igreja estará na
Tribulação e então emergirá dela no fmal. “Eu guar­
darei” (tereso) é entendido como “eu protegerei”, no­
vamente para indicar que a Igreja será protegida na ter­
ra, em meio à Tribulação. Assim, os pós-tribulacionis­
tas entendem que a promessa significa que a Igreja será
guardada durante os sete anos de Tribulação e então
emergirá dela no fmal por meio do Arrebatamento/Se­
gunda Vinda pós-tribulacionista.

Mas lembre-se, a proteção será parcial e seletiva, na


melhor das hipóteses. Por causa da ira de Satanás e do
Anticristo, muitos santos morrerão durante a Tribulação
e deform a alguma experimentarão a promessa de Apo­
calipse 3.10, se 0 tempo de provação se refere a todo o
112 * Vem Depressa, Senhor Jesus

períüdo da Tribulação. Alguns pós-Uibulacionistas, no


entanto, referem-se à hora da provação somente como a
última crise da Tribulação, e eles entendem que a pro­
messa significa que a Igreja será arrebatada logo antes
dos últimos julgamentos, e, portanto, protegida através
de sua remoção.

Mas assim a posição pós-tribulacionista está sendo


inconsistente. Se a piomessa significa guardar durante
todo o período, então ela é uma promessa apenas seleti­
va e parcialmente cumprida. Se a promessa se refere so­
mente à última crise, então a Igreja não está recebendo
promessa de proteção quase que durante os sete anos de
Tribulação. Nesse caso, a promessa tem relação somen­
te com o arrebatamento no final da Tribulação. Esse en­
tendimento está mais de acordo com a interpretação
pós-tribulacionista do início do Dia do Senhor. Mas es­
sa interpretação mostra que a promessa significa exata­
mente a mesma coisa que o pré-tribulacionista diz que
ela significa: livramento através do Arrebatamento, não
livramento através da proteção. A única diferença aqui
é que nós discordamos sobre quando esse livramento
acontecerá. Se ele acontece no início dos sete anos, o li­
vramento será por remoção da terra; se ele acontece
perto do fím ou mesmo no final, então é por proteção
sobrenatural enquanto a Igreja estiver na terra durante a
Tribulação até que o arrebatamento aconteça no final.

Os pós-tribulacionistas dizem que “d a ” (ek) refere-se


á proteção da Igreja quando ela está presente durante a
Tribulação. Os pré-tribulacionistas entendem que o ter­
mo se refere à proteção por ela estar ausente da Tribula­
ção, A primeira é uma proteção interna (vivendo através
Ira ou Arrebatamento? • 113

da Tribulação); a segunda é uma proteção externa (es­


tando no céu din'ante aquele tempo). Qual é o signiiicii-
do verdadeiro do termo “d a ” (ek)!

Podemos escolher qualquer uma das respostas se


considerarmos a preposição sozinha. Mas, só para in­
formação, ek denota uma posição fora de alguma coisa
sem implicar uma posição prévia dentro para depois
emergir dessa coisa.

A compreensão pré-tribulacionista de ek é sustentada


por uma série de versículos que nada têm a ver com o
Arrebatamento e portanto não confundem a questão.
Provérbios 21.23 diz: “O que guarda a sua boca e a
sua língua, guarda a sua alma das angústias.” Guar­
dar a sua boca e a sua língua não é o meio de proteger-
se dc um tempo de angústia; pelo contrário, é o meio de
escapar de angústias em potencial. Na Septuaginta, a
tradução de ek indica um preservar externo, não interno.
Ek também é usado da mesma maneira para indicar pro­
teção em Josué 2.13 e em Salmo 33.19; 56.13.

Da mesma forma, no Novo Testamento, ek claramente


tem o mesmo significado. Em Atos 15.29, os líderes pe­
dem aos crentes gentílicos que se abstenham de certas
práticas que são ofensivas aos crentes judeus. A única
maneira dc atender a esse pedido era se abstendo inteira­
mente de tais práticas. Eles deveriam evitar ossas ativi­
dades que estavam praticando e não apenas, dc alguma
forma, proteger a si mesmos, enquanto continuavam a
praticar essas coisas. Em Tiago 5.20, se um cristão que
vive em pecado for convertido de seu caminho errado,
será saivo de mone física. Não há forma de ek significar
114 * Vem Depressa, Senhor Jesus

que ele será protegido em meio a morte física, e então


sair dela através de algnm tipo de ressiUTeição. Ele esca­
pará de sua morte prematura, ao ser livrado dela/'

Os pós-tribulacionistas tentam invalidar a força des­


ses exemplos insistindo que, já que esses exemplos não
estão relacionados à remoção espacial (mover de um es­
paço para outro), eles não podem ser usados para enten­
der Apocalipse 3.10 como o arrebatamento da terra para
o eeu. Mas isso impõe um significado sobre ek que não
é necessariamente parte do seu significado. Ser guarda­
do de uma angilstia significa que você não experimenta­
rá mais aquela angústia (Pv 21.23), Abster-se de práti­
cas ofensivas significa que você não as fará mais (At
15.29). Ser guardado da hora da provação significa que
você não está mais dentro daquele tempo de provação, e
já que esse tempo virá sobre todo o povo da terra, como
pode ser que você será guardado a menos que seja re­
movido desta terra? Isso significa que temos um arreba­
tamento pré-tribulacionista.

A mesma palavra, guardar, ocon-e em João 17.15:


“Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os
guardes do mal.” Os pós-tribulacionistas argumentam
que essa promessa é cumprida não pela remoção dos
crentes do mundo, mas peia sua proteção em relação a
Satanás enquanto eles viverem aqui na terra. Conse­
qüentemente, eles deduzem que, da mesma forma, cren­
tes viverão durante a Tribulação mas serão guardados
da ira.

Tal analogia falha em responder à pergunta básica:


como os crentes serão guardados do poder de Satanás?
Ira ou Arrebatamento? » I I S

É verdade que eles não serão removidos deste mundo,


mas uma certa remoção está envolvida no caso. Paulo a
descreve desta maneira: “Ele nos libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho
do seu amor’’ (Cl 1.13). João disse a mesma coisa
quando escreveu que “o maligno não lhe (o crentc) to­
ca (domina)” (1 Jo S.18). Os crentes foram transferidos
dc um domínio (de Satanás) para outro (dc Cristo), e es­
ta é a forma como somos guardados do maligno.

No entanto, a promessa de Apocalipse 3.10 garante


sermos guardados das provações não somente da Tribu­
lação, mas também do próprio período da Tribulação. A
promessa não é “cu te guardarei das provações” mas
sim “eu te guardarei da hora da provação ” Os pós-
tribulacionistas acham formas de “não enfatizar o ternio
‘hora’” ’, insistindo que “hora” signilica a experiência
durante um período dc tempo, mas não o próprio perío­
do dc tempo. Em outras palavras, a Igreja viverá duran­
te esse período, mas não experimentará (alguns) dos
eventos. Mas sc os eventos da Tribulação são mundiais,
e direta c indiretamente afetam a todos, eomo pode a
Igreja estar na terra e ainda escapar dessas experiên­
cias? Se nosso Senhor tivesse sido salvo da hora do Seu
sacrifício de expiação (Jo 12.27), vivendo naquele tem­
po, mas não experimentando os eventos de Sua paixão,
então não haveria uma expiação.

Se, como dizem os pós-tribulacionistas, a promessa é


que a Igreja viverá através da Tribulação sob a proteção
divina e emergirá no final, então porque não foi usada
uma outra preposição pai'a comunicar claramente esse
significado exato? Por exemplo, “em” (eri) significaria
116 * Vem Depressa, Senhor Jesus

que a Igreja seria guardada (com segurança) naquele


período. Ou, porque não “através de” (dia), que signifi­
caria ser guardada através da Tribulação? Por que foi
usado “de” (ek)l Porque isso significa que a Igreja será
removida daquele período de tempo, e isso significa que
teremos um Arrebatamento pré-tribulacionista.

Concordo que é possível viver através dc um certo


período de tempo e não participar de alguns eventos
(como, por exemplo, estar em um parque de diversões e
não participar de todas as atrações). Mas não é possível
não participar do período de tempo sem também faltar
nos eventos.

Em resumo, os pós-tribulacionistas ensinam de forma


não clara o significado da promessa de Apocalipse 3.10.
(1) Para alguns, ela significa proteção (para poucos
crentes que escapam do martírio durante a Tribulação),
e arrebatamento no final. (2) Para outros ela significa
proteção durante a última crise (a qual inclui Armage­
dom e a “calmaria” de paz e segurança que suposta­
mente a precede) através do Arrebatamento logo antes
da última crise. (3) E para outros ainda, ela significa
que a Igreja viverá através do Armagedom, sendo guar­
dada durante aquele tempo, e emergirá (todos os crentes
sem qualquer ferimento?) no Arrebatamento/Segunda
Vinda. Uma coisa é clara para os pós-tribulacionistas: a
promessa não significa livramento antes do início da
Tribulação.

Entretanto, a promessa é clara e completa: “...eu te


guardarei da hora da provação.” Não somente de
uma perseguição qualquer, mas desse período de tempo
Ira ou Arrebatamento? * 117

vindouro que afetará a terra toda. (A linica forma de es­


capar dessa tribulação mundial é não estar na terra.) E a
igreja será guardada não somente dos eventos, mas do
período lolal. E a única maneira de escapar de um pe­
ríodo quando eventos acontecem é não estar naquele lu­
gar quando a hora chega. O único lugar que se qualifica
é 0 céu.

Talvez uma ilustração ajude. Sendo professor, eu fre­


qüentemente dou exames. Vamos supor que eu anuncie
que unn certo exame acontecerá em tal c tal dia durante
um período regular de classes. Suponha então que eu
diga: “Eu quero fazer uma promessa para aqueles estu­
dantes cuja média semestral até agora é “A”. A promes­
sa é a seguinte: cu os livrai’ei do exame.”

Eu poderia cumprir minha promessa com esses estu­


dantes dc nota “A” da seguinte forma: eu poderia dizer-
lhes para virem ao exame, poderia distribuir as folhas
para todos, e dar aos estudantes de nota “A” uma folha
que já traria também as respostas. Eles então fariam o
exame mas, na realidade, seriara livrados da prova.
Eles viveriam duranle aquele tempo, mas sem sofri­
mento ou provação. Isso é pós-tribulacionismo: prote­
ção sob provação.

Mas se eu dissesse para a classe: “Eu vou dar um


exame na próxima semana. Eu quero fazer uma promes­
sa a todos os estudantes de média “A”. Eu os livrarei da
hora do exame.” Eles entenderiam claramente que eles
seriam guardados da hora do teste por não estarem pre­
sentes durante aquela hora. Isso é pré-tribulacionismo, e
esse é o significado da promessa em Apocalipse 3.10. E
118 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

a promessa vem do Salvador ressuscitado que é, Ele


mesmo, o Libertador da ira que há de vir (1 Ts 1.10).

O Arrebatamento é a esperança da Igreja. Na verda­


de, ele é a esperança de todos: pré-, inidi- e pós-tribula­
cionistas. Se nosso Senhor planejasse que nós devería­
mos suportai' uma parte ou toda a Tribulação, nós deve­
ríamos aceitar isso como Sua vontade. Se Ele promete
nos remover desse tempo teiTÍvel, devemos agradecer-
Lhe de todo o coração. Mas seja qual for o ponto de
vista que adotamos, sabemos que quando Ele vier sere­
mos semelhantes a Ele - puro, sem pecado, e justo (1 Jo
3.2'7). Portanto, a cada dia, até que morramos ou seja­
mos arrebatados, devemos conlinuamente purificar as
nossas vidas (] Jo 3,3), ser abundantes na obra do Se­
nhor (1 Co 15.58), e amar a Sua vinda (2 Tm 4.8).

Ele diz: “Venho sem demora”


Nós dizemos: “Vem, Senhor Jesiis.”
-A pocalipse 22.20.
N o ta s

Capítulo 1 - Quais São as Perguntas?


1. The New Testament. Recoi/ery Version (Anaheim, CA; Living
Stream Ministry, 1991), comentário sobre Àpocaiipse 3.10.
Capítulo 2 - As Perguntas São Importantes?
1, Douglas J. Moo, “The Case for the Posttribulation Rapture Posi­
tion”, The Rapture: Pre~, Mid-, or Post-Tributational? (Grand Ra­
pids: Zondervan, 1984), p,208
2. Renaid Showers, Maranatha Our Lord, Come! (Beilmawr, NJ:
The Friends of israei Gospel Ministry, 1995), pp.127-28.
Capítulo 5 - 0 Vocabulário da Segunda Vinda
1. George E. Ladd, The Blessed Hope (Grand Rapids: Eerdmans,
1956), p.69. Este mesmo argumento continua a ser usado por
Moo no artigo “Posttribuiation Rapture”, pp. 176-78.
2. Robert H. Gundry, The Church and the Tribulation (Grand Ra­
pids: Zondervan, 1973), p.162.
3. Ladd, The Blessed Hope, p.70.
Capítulo 6 - 2 Tessalonicenses 1
1. Gundry, The Church and the Tribulation, p.113.
Capítulo 7 - Onde está a Igreja em Apocalipse 4
a 18?
1. Ladd, The Blessed Hope, p. 165.
2. Moo, “Posttribulation Rapture”, p. 201.
Capítulo 8 - Onde se Originou o Ponto de Vista
Pré-Tribulacionista?
1. Ladd, The Blessed Hope, pp.43-54.
2. R.A.Huebner, The Truth of the Pre-Tribulation Rapture Recove­
red (Morganville, NJ: Present Truth Publishers, n.d.), pp. 21-25.
3. Ernest R. Sandeeen, The Roots of Fundamentalism (Chicago:
University of Chicago Press, 1970), p. 64.
4. Dave MacPherson, The Incredible Cover-Up (Plainfield, NJ: Lo­
gos International, 1975), especialmente pp. 31-32.
5. Ibid., p. 85.
6. Ibid., pp. 151-54.
120 * Vem Depressa, Senhor Jesus

7. Ibid., pp. 154-55.


8. Ibid., p. 143.
9. Sandeen, Roots of Fundamentalism, p. 34; e Huebner, Truth of
ttie Pre-Tribulation Rapture, p.74.
10. James Orr, The Progress of Dogma (Grand Rapids: Eerdmans,
1952), pp. 24-30.
Capítulo 9 - A População do Reino Milenar
1. Gundry, The Church and the Tribulation, pp. 81-83, 134-39,
163-71.
2. Ibid., p. 83.
3. Ibid., p. 137.
4. Ibid.
5. George E. Ladd, A Commentary on the Revelation of John (­
Grand Rapids: Eerdmans, 1972), p. 114.
6. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 168.
7. Ibid., p. 166,
8. Ibid., p. 137.
9. Ibid., p. 167.
Capítulo 1 0 - 0 Dia do Senhor
1. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 77.
2. Ibid., p. 48.
3. Ibid., p. 76.
4. Henry Alford, The Greek New Testament, 4 volumes (London:
Rivingtons, 1875), 4:622.
5. Ibid., 4;665.
6. Marvin Rosenthal, The Pre-Wrath Rapture of the Church (Nas­
hville: Nelson, 1990), p. 117.
7. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 92.
8. Ibid,, p. 95.
9. Ibid., p. 77.
10. Ibid., p. 92.
11. Ibid.
12. Moo, “Posttribulalion Rapture”, pp. 182-83. Moo, mesmo sendo
urn estudioso do Novo Testamento, passa por cima do uso que
Paulo faz de peri de nesse texto.
Capítulo 11 - Ira ou Arrebatameuto?
1. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 197.
2. Ibid,, p. 48.
Nofas *121

3. Ibid., p. 47.
4. Moo, “Posttribulation Rapture”, p. 197.
5. Ladd, The Blessed Hope, pp. 85-86,
6. Para pesquisar uma excelente discussão sobre este e outros
pontos relacionados com Apocalipse 3.10, veja Jeffrey L. Town­
send. "The Rapture in Revelation 3:10", Bibliotheca Sacra, Ju­
lho 1980, pp. 252-66.
7. Gundry, The Church ar^ü the Tribulation, p,59.

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