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Transtorno afetivo bipolar: depressão maior

Usuária do serviço de saúde mental interrompe o tratamento para depressão.


Anamnese

Queixa principal
Refere tristeza profunda, falta de motivação para afazeres cotidianos e cuidados
pessoais, perda de apetite e insônia noturna.
Histórico do problema atual
Ao realizar visita domiciliar, enfermeiro constata que usuária com episódio depressivo
moderado há seis meses, vem apresentando isolamento social e interações sociais e
familiares prejudicadas. Reconhece que usa com irregularidade medicação psiquiátrica.
Revisão de sistemas
Cardiovascular: apresenta Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS).
Trato gastrointestinal: constipação.
Aparelho genitourinário: Gesta 3, para 3 (2 partos vaginais, 1 parto cesáreo).
Histórico

Antecedentes pessoais
Usuária com diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar há cinco anos. Realizava
tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e há um ano, devido a sua
evolução, passou a ser acompanhada na modalidade não-intensiva. Após um período,
optou por não frequentar mais o serviço, pois sentia-se “curada”, e portanto, não
necessitava mais do uso de medicações, como os estabilizadores do humor e
antidepressivos. Começou a apresentar isolamento social, sentimentos de desesperança,
perda de interesse e de prazer por atividades cotidianas, redução do apetite e choro
constante. É fumante, há 10 anos, fazendo uso de 2duas carteiras de cigarros/dia.
História social
Reside com o marido e os três filhos em um bairro de classe baixa na periferia da
cidade. A família depende do salário mínimo do seu esposo, o qual trabalha como
servente de pedreiro de uma construtora, com carteira assinada. Foi solicitado pelo
agente comunitário de saúde (ACS), em reunião de equipe, a visita domiciliar do
enfermeiro para que a paciente fosse sensibilizada a retomar seu tratamento, pois
encontrava-se em péssimas condições de vida, e os seus familiares não sabiam o que
fazer.

Medicações em uso
Captopril 25 mg: 2 comprimidos ao dia
Hidroclorotiazida 25 mg: 1 comprimido ao dia
MEDICAÇÕES EM USO IRREGULAR:
Amitriptilina 25 mg: 2 comprimidos ao dia
Bupropiona 75 mg: 3 comprimidos ao dia
Carbonato de Lítio 300 mg: 3 comprimidos ao dia
Antecedentes familiares
Sua mãe sofre de Transtorno Depressivo e seu pai apresentava Hipertensão Arterial
Sistêmica e cardiopatia, sendo que faleceu há cinco anos devido a um Infarto Agudo do
Miocárdio.
Exame Físico

Peso: 75 kg;
Altura: 1,65 cm;
IMC: 27,57 Kg/m²
Pressão Arterial: 136/88 mmHg;
Frequência Respiratória: 20 mpm;
Frequência Cardíaca: 90 bpm;
Ausculta pulmonar: murmúrios vesiculares presentes, sem ruídos adventícios;
Ausculta cardíaca: normofonética, ritmo regular;
Pele: Hipocorada, aparenta idade superior a idade cronológica;
Membros inferiores: tremores em extremidades.
Exame do estado mental

ATENÇÃO: Tenacidade: hipotenaz;
Vigilância: normovigil;
SENSOPERCEPÇÃO: sem alterações;
MEMÓRIA: sem alterações;
ORIENTAÇÃO: orientada autopsiquicamente e alopsiquicamente
CONSCIÊNCIA: sonolência;
PENSAMENTO: Produção: lógico; Curso: fio associativo preservado (o fio associativo
consiste na associação entre uma ideia e outra); Conteúdo: ideação suicida;
LINGUAGEM: bradilalia
INTELIGÊNCIA: sem alterações;
AFETO: depressão;
CONDUTA: inapetência, hipersonia

A usuária não apresenta taquilalia, pois uma das características da depressão é a


dificuldade de expor sentimentos e o embotamento afetivo (FUKUDA; ARANTES;
STEFANELLI, 2008). É necessário que o profissional de saúde esteja atento às
principais queixas e subjetividades do usuário para que possa prestar um atendimento o
mais individualizado e singular possível, pois o transtorno mental apresenta
características que variam para cada pessoa.
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O Transtorno Afetivo Bipolar caracteriza-se por ser uma doença crônica, recorrente que
compromete o bem-estar da pessoa afetada e de sua família no curso da vida. É marcado
por alternâncias no estado do humor (episódios maníacos e episódios depressivos), de
energia e de habilidade da pessoa para o desempenho diário (KAPLAN; SADOCK,
2007).
Representa relevância para a família e para os sistemas de saúde, com altos índices de
incapacidade. Nesse sentido, a previsão para o ano 2020 é a de que este transtorno
ocupe a segunda causa de incapacidade em países desenvolvidos e a primeira em países
em desenvolvimento (FLECK et al., 2003).
A seguir a caracterização do episódio depressivo, segundo Fukuda, Arantes e Stefanelli
(2008):
A: Critérios gerais O episódio deve ter duração de pelo menos duas semanas;
- O episódio não deve estar relacionado ao uso de substâncias psicoativas.

B: Critérios principais (2 ou mais destes sintomas devem estar presentes)


- Humor depressivo, tristeza profunda;
- Inibição ou ausência da capacidade de sentir prazer ou alegria;
- Redução da energia e fatigabilidade aumentada (hipoatividade e fadiga).

C: Sintomas adicionais para episódios depressivos


- Perda de confiança, da autoestima e da esperança (ideias pessimistas em relação ao
futuro);
- Sentimentos irracionais de autoreprovação ou culpa excessiva e inapropriada, com
sentimento de inutilidade;
- Pensamentos recorrentes de morte ou manifestação de ideia e comportamento suicida;
- Queixas ou evidências da diminuição da capacidade de pensar e de concentrar-se;
- Lentificação ou, às vezes, agitação psicomotora;
- Qualquer tipo de perturbação do sono (insônia ou hipersonia);
- Alteração do apetite (diminuição ou aumento), com correspondente alteração do peso.

D: Pode haver a presença ou ausência da chamada síndrome somática (características


melancólicas, neurovegetativas ou físicas)
- Marcante perda de interesse e prazer em atividades que são geralmente prazerosas;
- Falta de reações emocionais a eventos ou atividades que são normalmente prazerosas;
- Levantar-se de manhã 2 ou mais horas antes do habitual (insônia terminal);
- Depressão pior pela manhã;
- Evidência objetiva de retardo ou agitação psicomotora observado ou relatado;
- Marcante perda de apetite;
- Perda de peso (aproximadamente 5% em um mês);
- Marcante perda do libido.
Pelo fato da UBS estar inserida no contexto de vida do usuário, esta torna-se um
dispositivo estratégico para o seu acompanhamento. No âmbito da atenção básica, este
pode ser atendido juntamente com seu familiar, em sua rede social.
A UBS apresenta um papel fundamental para as ações de saúde mental no contexto da
atenção básica, pois oferta atendimento e acompanhamento dos usuários de saúde
mental em seu território de vida, contemplando sua individualidade. É papel dos
profissionais da UBS promoverem a referência ao CAPS, facilitando o acesso do
usuário ao mesmo tempo em que há responsabilização por este. Acredita-se que a
interlocução dos profissionais da UBS com os do CAPS tornam o tratamento do usuário
mais resolutivo e integral.
As ações em saúde mental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, preconizam o cuidado
em liberdade, e assim a promoção da inserção social dos indivíduos com transtorno
psíquico. Portanto, é essencial que se promova e fortaleça o convívio social da usuária,
para que ela seja empoderada e fortalecidas a sua cidadania e autonomia.
O Carbonato de Lítio constitui-se em um estabilizador do humor. Seu uso é indicado
para tratamento do Transtorno Bipolar do Humor, ciclotimia, depressão maior,
transtorno esquizoafetivo, agressividade e impulsividade. Por ser excretado quase que
totalmente pelos rins, a indicação é que o usuário deverá ingerir água em abundância
(no mínimo 1 litro ao dia), evitando café, chá, erva-mate e bebidas alcoólicas, que
aumentam a diurese (CORDIOLI, 2002). A Amitriptilina é um antidepressivo tricíclico.
Se por algum motivo houver a necessidade de uma interrupção abrupta, deve-se lembrar
que é possível, embora rara, uma síndrome de retirada (irritabilidade, desconforto
gástrico, insônia, ansiedade, inquietação). Por isso, se for possível, a retirada deve ser
feita ao longo de 2 ou 3 dias, conforme orientação médica (CORDIOLI, 2002).
Embora os hospitais psiquiátricos ainda façam parte da realidade de diversos municípios
brasileiros, desde a década de 70 iniciou o movimento de desconstrução do modelo
hospitalocêntrico, que culminou na lei 10.216 considerada a lei da Reforma Psiquiátrica,
a qual dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtorno mental e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental (BRASIL, 2001).
Além de reverter o hospitalocentrismo, a reforma psiquiátrica propõe a implantação de
rede extra-hospitalar e atenção multiprofissional; proibição da construção de novos
hospitais psiquiátricos ou a ampliação dos existentes e desativação progressiva dos
leitos existentes; inserir leitos e unidades psiquiátricas em hospitais gerais; integrar a
saúde mental a outros programas de saúde, movimentos sociais e instituições (FRAGA;
SOUZA; BRAGA, 2006).
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De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), as ações de saúde mental na


atenção básica devem obedecer ao modelo de redes de cuidado, de base territorial e
atuação transversal com outras políticas específicas e que busquem o estabelecimento
de vínculos e acolhimento. Essas ações devem estar fundamentadas nos princípios do
SUS e nos princípios da Reforma Psiquiátrica. Podemos sintetizar como princípios
fundamentais desta articulação entre saúde mental e atenção básica:
- noção de território;
- organização da atenção à saúde mental em rede;
- intersetorialidade;
- reabilitação psicossocial;
- multiprofissionalidade/interdisciplinaridade;
- desinstitucionalização;
- promoção da cidadania dos usuários;
- construção da autonomia possível de usuários e familiares.

Na Figura 1, a seguir, será exposto o modelo de rede de atenção em saúde mental


destacado pelo Ministério da Saúde. Percebe-se que esta rede contempla não somente os
serviços de saúde, mas também instituições sociais que fazem parte do território de vida
dos usuários.
Figura 1. Rede de atenção à saúde mental.

Fonte: BRASIL, 2004, p. 11.


No atual contexto da assistência psiquiátrica, a família como espaço privilegiado para a
prática do cuidado, precisa ser inserida de forma efetiva nas discussões do novo
paradigma de assistência em saúde mental, vista como uma facilitadora no processo de
reinserção social do indivíduo com transtorno mental. Mais do que uma aliada na
efetivação do modelo psicossocial emergente, ela deve ser encarada como foco de
intervenção, para que seus anseios sejam acolhidos e sua sobrecarga minimizada
(BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).
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Torna-se importante inserir as famílias em grupos de familiares nos serviços


comunitários de saúde mental, e prestar esclarecimentos sobre o comportamento, a
sintomatologia e o tratamento da enfermidade, sobre o uso dos psicofármacos e os
efeitos colaterais dos mesmos, realizar visitas domiciliares para conhecer a realidade da
família e fazer com que esta não se sinta sozinha (BORBA; SCHWARTZ;
KANTORSKI, 2008).
Os vínculos entre família e usuário de saúde mental necessitam ser alicerçados numa
relação sincera e de respeito, onde a singularidade e individualidade de todos sejam
preservadas, de forma que os primeiros não se sintam sobrecarregados, e os usuários
possam efetivamente resgatar sua cidadania e autonomia em uma relação terapêutica
(BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008). O Projeto Terapêutico Singular,
desenvolvido pela equipe de assistência, com a participação do usuário e sua família,
tem como objetivo ajudar o indivíduo a reestabelecer relações afetivas e sociais,
reconquistar direitos e buscar autonomia material-afetiva-social (OLIVEIRA, 2010;
ZERBETTO, 2005).
Referências
1. BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF,
2001. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>  .  Cópi
a local Acesso em mar. 2016.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas e Estratégicas. Departamento de Atenção Básica. Saúde
mental e atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários: inclusão das ações
de saúde mental na atenção básica. Brasília, DF: MS,
2003 <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1734.pdf>  .  C
ópia local Acesso em mar. 2016.
3. RASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas e Estratégicas. Saúde Mental no SUS: os centros de
atenção psicossocial. Brasília, DF: MS, 2004. (Série F. Comunicação e
Educação em
Saúde). <http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf>  .  Cópia
local Acesso em mar. 2016.
4. BORBA, L. O.; SCHWARTZ, E.; KANTORSKI, L. P. A sobrecarga da família
que convive com a realidade do transtorno mental. Acta Paulista de
Enfermagem, v. 21, n. 4, p. 588-594,
2008. <http://www.scielo.br/pdf/ape/v21n4/a09v21n4.pdf>  .  Cópia
local Acesso em mar. 2016.
5. CORDIOLI, A. V. Psicofármacos: consulta rápida. 5. ed. Artmed: Porto Alegre,
2015.
6. FRAGA, M. N. O.; SOUZA, A. M. A.; BRAGA, V. A. B. Reforma psiquiátrica
brasileira: muito a refletir. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 19, n.
2, p. 2007-2011,
2006. <http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n2/a13v19n2.pdf>  .  Cópia
local Acesso em mar. 2016.
7. FLECKA, M. P. A.; LAFERB, B.; SOUGEYC, E.B ; DEL PORTOD, J.A.;
BRASILE, M.A.; JURUENAF, M.F. Diretrizes da Associação Médica
Brasileira para o tratamento da depressão (versão integral). Revista Brasileira
de Psiquiatria, v. 25, n. 2, p. 114-122, 2003
8. KANTORSKI, L. P.; SCHRANK, G.; WILLRICH, J. Q. Avaliação das funções
psíquicas: orientações e cuidados de enfermagem. Revista Técnico-Científica
de Enfermagem, v. 3, n. 12, p. 395-405, 2005.
9. OLIVEIRA, G. N. O projeto terapêutico singular. In: CAMPOS, G. W. S.,
GUERRERO, A. V. P. Manual de práticas de atenção básica: saúde ampliada
e compartilhada. 2. ed. Hucitec: São Paulo, p. 283-297, 2010.
10. PAES, M. R. et al. O papel do hospital geral na rede de atenção á saúde mental
no Brasil. Revista Ciência Cuidado e Saúde, v. 2, n. 12, p. 407-412,
2013. <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/vie
w/1...>  .  Cópia local Acesso em mar. 2016.
11. STEFANELLI, M. C.; FUKUDA, I. M. K.; ARANTES, E. C. Enfermagem
psiquiátrica em suas dimensões assistenciais. Manole: São Paulo, 2008
Acesso em mar. 2016.
12. ZERBETTO, S. R., PEREIRA, M. A. O. O trabalho do profissional de nível
médio de enfermagem nos novos dispositivos de atenção em saúde
mental. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 1, p. 112-117,
2005 <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n1a18.pdf>  .  Cópia
local Acesso em mar. 2016.

Uso abusivo de álcool - cuidados de enfermagem em rede


Homem busca UBS com queixa de fadiga nos últimos sete meses.
Anamnese

Queixa principal
Fadiga nos últimos sete meses, a qual tem prejudicado seu desempenho no trabalho.
Histórico do problema atual
M.L.C.C. afirma que adormece com facilidade, mas acorda inúmeras vezes durante a
noite, sentindo-se cansado pela manhã, o que, muitas vezes, o impede de ir trabalhar.
Conta que sua esposa o deixou há alguns meses, pois se queixava do hábito de beber
entre 6 a 12 cervejas por dia, além de algumas doses de cachaça. Segundo a ex-esposa,
por causa da bebida, não conseguia mais ir trabalhar assiduamente e, deste modo, não
tinha possibilidades de sustentar a casa, devido às suas ausências no emprego. Os
sintomas relatados foram agravados, após a saída da esposa e dos filhos de casa. Relata
que agora precisa de mais álcool do que antes para sentir-se relaxado, e ainda conta que
teve vários “blackouts ”, bem como refere que se distrai com facilidade e, num destes
episódios cortou-se em uma das máquinas que trabalhava. Admite ainda que muitas
vezes, para não sentir tremores, a primeira coisa que faz pela manhã é tomar um gole de
cerveja ou cachaça. Tentou parar de beber algumas vezes sem sucesso.
Revisão de sistemas
Tórax: Dificuldade de respirar ao esforço físico
Abdome: Refere pirose frequentemente.
Sistema genitourinário: Impotência sexual.
Coluna vertebral e extremidades (sistema locomotor): refere tremores finos ao acordar.
Sistema nervoso: tonturas e blackouts
Exame psíquico e avaliação das condições emocionais:
- Afeto: congruente.
- Senso-percepção: sem alterações.
- Memória: amnésia anterógrada.
- Orientação: orientado, autopsiquicamente e alopsiquicamente.
Consciência: lúcido.
- Pensamento: produção lógica, com fio associativo preservado, de conteúdo adequado.
- Linguagem: sua fala tem ritmo e tom normais.
- Inteligência: aparentemente inserido à média clínica.
- Atenção: hipotenaz e hipovigil
- Conduta ou conação: hipobulia relacionada ao trabalho, insônia.
Senso percepção: sem alterações
Histórico

História social
Relações familiares prejudicadas, possui vínculos fortes com os filhos. Considera-se
ateu. Jogava futebol uma vez por semana com amigos do bairro, todavia cessou esta
atividade há 2 meses. Laço social empobrecido de forma geral.
Antecedentes pessoais
Ingere bebidas alcoólicas desde a adolescência, no entanto o consumo só passou a ser
um problema há cerca de um ano, a seu ver, quando começou a ter brigas com a esposa
pelo fato de não conseguir ir trabalhar.
Medicações em uso
Não faz uso de medicações de uso contínuo, refere apenas que toma ácido
acetilsalicílico em episódio de cefaleia, bem como o uso de chás nos episódios de
dispepsias.
Antecedentes familiares
Mãe falecida decorrente de cirrose.
Exame Físico

Estado geral regular; mucosas uniformemente coradas, anictérico e acianótico.

Sinais Vitais:
PA: 125x85 mmHg;
FC: 78 bpm;
FR: 25 mrpm;
Tax: 37,3º C.
Tórax:
Eupneico, ausculta cardíaca normofonética em 2T; ausculta pulmonar: presença de
murmúrios vesiculares.
Abdomem:
Ruídos hidroaéreos presentes e diminuídos, flácido, distendido e doloroso a palpação,
sem dor a descompressão brusca (sinal de blumberg negativo).
Deve-se identificar possíveis problemas clínicos associados ao uso do álcool, tais como:
hipertensão, esofagites, gastrites, cirrose, neuropatia periférica, hipovitaminose, anemia,
entre outros. O profissional deve traçar junto ao usuário um projeto terapêutico com
objetivos reais a serem alcançados, com estabelecimento de contrato terapêutico e o
planejamento do próximo atendimento. O caso deve ser discutido com a equipe a fim de
levantar a necessidade de possíveis interconsultas com outros profissionais. A
assistência a usuários de álcool deve ser oferecida privilegiando os cuidados em
dispositivos extra-hospitalares, articulando a Atenção Primária à Saúde aos serviços
especializados – CAPSad – de modo a estabelecer uma atenção compartilhada. Esta
deve ocorrer em ambiente comunitário, de forma integrada à cultura local, e às redes de
cuidados, articulando, em seu território de atuação, os serviços e iniciativas que possam
atender às múltiplas necessidades dos usuários com ênfase na reabilitação e reinserção
social (BRASIL, 2004).
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Nos serviços de saúde, o enfermeiro deverá estar atento às possibilidades de detectar


precocemente o uso de álcool e outras drogas, a fim de reduzir os possíveis danos,
devendo sensibilizar o usuário a buscar alternativas de tratamento, conforme preconiza a
política de saúde (GONÇALVES; TAVARES, 2007, p. 588), uma vez que o
diagnóstico e o tratamento precoces da dependência ao álcool têm papel fundamental no
prognóstico deste transtorno. Acredita-se que, aproximadamente, 20% dos usuários
tratados na APS bebem em um nível considerado de alto risco, pelo menos fazendo uso
abusivo do álcool. Para tanto, é necessário que o profissional acolha o usuário sem
julgamentos, e que possa estabelecer um vínculo que o permita articular juntamente
com o usuário um Plano Terapêutico Individual (PTI) direcionado à dependência, bem
como às doenças clínicas decorrentes da dependência (BRASIL, 2004).
Para ajudar a identificar casos suspeitos de problemas de uso abusivo de álcool na
comunidade, alguns questionários práticos foram desenvolvidos, os quais podem ser
aplicados pelos ACS. O mais simples deles é conhecido como CAGE (sigla em inglês,
que se refere a palavras das perguntas que são formuladas).
O questionário consiste em quatro perguntas:

1. Você já tentou diminuir ou cortar (Cut down) a bebida?


2. Você já ficou incomodado ou irritado (Annoyed) com outros porque criticaram seu
jeito de beber?
3. Você já se sentiu culpado (Guilty) por causa do seu jeito de beber?
4. Você já teve que beber para aliviar os nervos ou reduzir os efeitos de uma ressaca
(Eye-opener)?
Se pelo menos uma resposta a essas perguntas for afirmativa há suspeita de problemas
com o álcool. Duas ou mais respostas afirmativas é indicativo de problemas com o
álcool (MAYFIELD; MCLEOD; HALL, 1974; SANTOS et al., 2013).
Pessoas que ingerem bebida alcoólica de forma excessiva, quando diminuem o consumo
ou se abstêm completamente, podem apresentar um conjunto de sintomas e sinais,
denominados Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA). A atenção ao usuário deve ser
preferencialmente no território, uma vez que a atenção hospitalar no Brasil, componente
de um modelo iatrogênico, ultrapassado e excludente de oferta de cuidados, não
contempla as necessidades da maioria dos indivíduos que têm poucos problemas com o
álcool. Assim, cabe ao enfermeiro discutir as possibilidades terapêuticas com os demais
profissionais da equipe multidisciplinar, com o usuário e família, de modo a
encontrarem juntos uma saída para a problemática. Pactuar com pessoas que tenham um
laço social fortalecido com o usuário, a fim de proporcionar uma desintoxicação
domiciliar, com a supervisão profissional.
Fonte: Laranjeira (2000) e BRASIL (2011)
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Uma série de fatores influenciam o aparecimento e a evolução da Síndrome de


Abstinência do Álcool (SAA), entre eles: a vulnerabilidade genética, o gênero, o padrão
de consumo de álcool, as características individuais biológicas e psicológicas e os
fatores socioculturais. Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação,
ansiedade, alterações de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos,
taquicardia e hipertensão arterial (LARANJEIRA, 2000).
Com relação ao cardápio terapêutico ofertado à atenção em saúde mental, a partir da Lei
Federal 10.216/2001, a “Lei da Reforma Psiquiátrica” que redireciona a assistência em
saúde mental, o tratamento ao usuário de saúde mental deve se dar preferencialmente
em serviços comunitários, utilizando uma rede de atenção que inclui serviços sanitários
ou não (BRASIL, 2011).
Com relação à internação involuntária, esta deve ser realizada apenas quando existe
situação de risco iminente para o paciente ou para terceiros. Esse tipo de internação só
pode ocorrer mediante determinação da equipe, mas isso não basta: precisa ser
comunicada ao Ministério Público, que a submeterá a um órgão de revisão (uma
comissão multidisciplinar), para assegurar ao paciente o direito ao contraditório e para
verificar a real necessidade da medida (DELGADO, 2012). Dessa forma, a primeira
opção de tratamento são os serviços de atenção comunitária.
Nos casos em que há a necessidade de internação conta-se com os leitos para
desintoxicação nos hospitais gerais. Não é indicado o encaminhamento ao hospital
psiquiátrico, pois acredita-se que este carrega características que levam à cronificação e
iatrogenia, não sendo, portanto, entendido como um local de cuidado em saúde.
O diagnóstico de enfermagem, segundo Nanda (2008), permite uma linguagem
padronizada, facilitando uma melhor comunicação entre os profissionais, no que se
refere às evidências clínicas do cuidado.
Com relação ao diagnóstico de enfermagem traçado:
- O padrão de sono encontra-se disfuncional, pois o usuário acorda inúmeras vezes
durante a noite, não conseguindo ir trabalhar no outro dia, o que reflete sua ansiedade;
- O enfrentamento familiar não está adequado pelo fato de não superar a saída de casa
da esposa e dos filhos, piorando seu estado clínico após a saída dos mesmos;
- Apresenta risco para autolesão devido aos “blackouts” que tem apresentado;
- A impotência sexual pode ser causada pelo uso de álcool (KAPLAN;
SADOCK,1990), resultando em um déficit no padrão de relação sexual do casal;
- Não há indícios clínicos no caso apresentado que tenham relação com violência
intrafamiliar;
- O isolamento social relacionado ao afastamento da esposa e filhos do convívio
familiar. Note: este diagnóstico está intimamente relacionado com o “enfrentamento
familiar ineficaz relacionado ao rompimento conjugal e afastamento de filhos”.
Fonte: NANDA, 2008
O fato de o usuário tomar pequenos goles de cerveja ao acordar, configura-se em uma
técnica de redução de danos praticada por muitos usuários de álcool, que tem por
finalidade evitar a síndrome de abstinência. Logo, o enfermeiro não pode aconselhá-lo a
parar com esta estratégia, pois neste momento ela o ajuda a sentir-se melhor. Considera-
se ainda a abstinência total uma medida drástica, sendo um modelo teórico insuficiente
para dar conta da problemática da dependência química de forma geral (OLIVEIRA,
2010). Não dirigir após beber e não pegar carona com quem bebeu constitui-se em uma
estratégia de redução de danos.
Saiba mais

A Associação Internacional de Redução de Danos (IHRA) define redução de danos


como políticas e programas que tentam principalmente reduzir, para os usuários de
drogas, suas famílias e comunidades, as consequências negativas relacionadas à saúde, a
aspectos sociais e econômicos decorrentes de substâncias que alteram o temperamento.
Um dos problemas mais importantes do consumo prejudicial do álcool é a incidência de
acidentes de trânsito envolvendo os usuários. O consumo de álcool, mesmo que em
pequenas quantidades, diminui a coordenação motora e os reflexos do Sistema Nervoso
Central. Vários estudos indicam que grande parte dos acidentes é provocada por
motoristas que estavam alcoolizados. Mesmo que a pessoa preste muita atenção e tome
todo o cuidado, seu organismo estará funcionando com os reflexos retardados, ou seja,
sua reação para brecar ou desviar o carro vai ser mais lenta (ABREU; LIMA; ALVES,
2006; BRASIL, 2004).
A educação em saúde pode ser entendida como um conjunto de saberes e fazeres, que
podem ser empregados pelo enfermeiro na APS, com vistas à prevenção de doenças e
agravos e promoção da saúde. As ações realizadas precisam permear tanto a consulta de
enfermagem, como também demais estratégias do tipo palestras, em espaços
comunitários, como igrejas, escolas e associações comunitárias. No que se refere ao
contexto dos apelos midiáticos para o uso de álcool, se faz necessário se faz que o
enfermeiro problematize essas questões com os jovens, no sentido de oportunizar um
espaço de escuta ativa, diminuindo ansiedades e dúvidas em relação ao álcool e seu
contexto de consumo.
Durante a consulta de enfermagem, a educação em saúde é privilegiada pelo enfermeiro
abordando aspectos de autocuidado, comprometimentos orgânicos decorrentes do abuso
do consumo de álcool, ensinando estratégias de redução de danos como o consumo de
água e alimentação leve, e discutindo os mecanismos adaptativos que possam ser
efetivos nesta problemática.
O enfermeiro estabelece um contrato de co-responsabilização com o usuário, o tornando
agente do processo educativo, enfocando desta forma, na sua autonomia no processo de
reabilitação. O usuário desta maneira, sai da posição de paciente e passa a ser agente
participativo do processo educativo e de cuidado. Sendo que as prescrições destes
cuidados, além de serem orientados pelos protocolos, precisam atender a realidade do
sujeito, num processo de construção entre enfermeiro/paciente.
Não existe uma fórmula, como uma receita, para a prevenção do uso abusivo de álcool.
Todavia sabe-se que uma estrutura familiar disposta ao diálogo, constitui-se como um
fator de proteção ao uso abusivo de álcool e outras drogas (SILVA, 2007).
Referências
1. ABREU, A. M. M.; LIMA, J. M. B.; ALVES, T. A. O impacto do álcool na
mortalidade em acidentes de trânsito: uma questão de saúde pública. Escola
Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 87-94.
2006. <http://www.scielo.br/pdf/ean/v10n1/v10n1a11.pdf>  .  Cópia
local Acesso em : 2014.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011.
Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e
outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da
União, Brasília, DF,
2011. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011
_rep....>  .  Cópia local Acesso em : 2014.
3. DELGADO, P. G. Internação involuntária: implicações éticas, clínicas e
legais. Revista Ciência Hoje, edição 295,
2012. <http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/646/n/internacao_invo
lu...>  .  Cópia local Acesso em : 2014.
4. KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria. 2. ed. Porto
alegre: Artes Médicas, 1990.
5. LARANJEIRA, R. et al. Consenso sobre a Síndrome de Abstinência do Álcool
(SAA) e o seu tratamento. Revista Brasileira de Psiquiatria. v. 22, n. 2, p. 62-
71, 2000. <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22n2/a06v22n2.pdf>  .  Cópia
local Acesso em : 2014.
6. MAYFIELD, D.; MCLEOD, G.; HALL, P. The CAGE questionnaire:
Validation of a new alcoholism instrument. The American Journal of
Psychiatry, v. 131, n. 10, p. 1121-1123,
1974. <http://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/ajp.131.10.1121>  .  Có
pia local Acesso em : 2014.
7. NANDA. North American Nursing Diagnosis Association. Nursing diagnoses:
definitions & classification, 2009-2011. Oxford: Wiley-Blackwell, 2008.
8. SANTOS, W. S. et al . Medindo consumo de álcool: análise fatorial
confirmatória do Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT). Psico-
USF, Itatiba, v. 18, n. 1, p. 121-130,
2013. <http://www.scielo.br/pdf/pusf/v18n1/v18n1a13.pdf>  .  Cópia
local Acesso em : 2014.
9. SILVA, S. É. D. et al . A educação em saúde como uma estratégia para
enfermagem na prevenção do alcoolismo. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v.
11, n. 4, p. 699-705,
2007. <http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n4/v11n4a23.pdf>  .  Cópia
local Acesso em : 2014.

Acidente com perfurocortante na sala de vacinas -


CASO ATUALIZADO
Na UBS Esperança, a técnica de enfermagem V.I.P de 27 anos, acidenta-se com
material perfurocortante.

Anamnese

Queixa principal

Lesão por perfurocortante no dedo indicador da mão direita, ocasionada por acidente de
trabalho com material biológico.

Histórico do problema atual

Durante a campanha de vacinação para hepatite B, V.I.P. deixou algumas agulhas e


seringas usadas sobre a bancada, pois a caixa de descarte estava cheia e como estava
apressada, não a substituiu. No final do dia, ao descartar as seringas, resolveu reencapar
as agulhas que estavam sobre a bancada, para desprezá-las diretamente na caixa coletora
rígida. Neste procedimento ela perfurou o dedo indicador da mão direita com uma das
agulhas, não sabendo em quem a agulha foi utilizada.

Histórico

Antecedentes pessoais

V.I.P iniciou suas atividades como técnica de enfermagem há cinco anos, possui
esquema vacinal comprovado para todas as vacinas, sendo que concluiu o esquema da
Hepatite B há 10 anos, contudo a última testagem de Anti-HBs constatou que não
ocorreu a soroconversão. Não tem antecedentes pessoais para doenças sexualmente
transmissíveis, fez exames sorológicos para hepatite B, C e HIV há dois meses, assim
como triagem para VDRL, na própria unidade, na semana anterior. Todos não
reagentes.

História social

V.I.P. é casada e tem dois filhos. Seu esposo é caminhoneiro.

Antecedentes familiares

Não possui antecedentes familiares de risco.

Medicações em uso

Não faz uso de medicações.

Exame Físico

Durante a inspeção é possível identificar o pequeno orifício no dedo indicador da mão


direita.

Exame Laboratoriais

Resultado do Exame realizado há 2 meses: Anti-HBs <10UI/L


Como no exame realizado a paciente não apresentou soroconversão, há risco de
contaminação com vírus hepatite B (BRASIL, 2009).

Saiba mais
Os acidentes percutâneos têm risco de 0,3% e de mucosas de 0,09% para o HIV; e de
1,8% para o vírus da hepatite C. É importante saber que material biológico não é apenas
sangue, mas também sêmen, secreção vaginal, líquor, líquido sinovial, líquido pleural,
peritoneal, pericárdio e amniótico. Outros materiais biológicos como suor, lágrima,
fezes, urina e saliva não são infectantes, exceto quando contaminado com sangue
(BRASIL, 2009).
O Ministério da Saúde considera como grupos vulneráveis, com indicação de realização
da hepatite B: trabalhadores da saúde, gestantes, após o primeiro trimestre de gestação;
bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários; caminhoneiros, carcereiros de
delegacia e de penitenciárias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; agentes
funerários; comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue;
homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo; lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais; pessoas reclusas (presídios, hospitais
psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, dentre outras); manicures,
pedicures e podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; potenciais
receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundido; profissionais do
sexo/prostitutas; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas; portadores de DST
(BRASIL, 2009, p. 7; BRASIL, 2010, p. 5).

Uma precaução universal para todo procedimento que use a


administração de substâncias injetáveis é que não se deve reencapar
as agulhas, entortá-las ou quebrá-las, nem tampouco deixá-las sem o
devido descarte. O descarte de agulhas deve ser feito imediatamente
após a administração junto da seringa, não se deve retirar a agulha. O
descarte deve ser feito em caixas apropriadas não ultrapassando 1/3
de sua capacidade. Para a administração de vacinas, não é
recomendada a assepsia da pele do usuário. Somente quando houver
sujidade perceptível, a pele deve ser limpa utilizando-se água e sabão
ou álcool a 70%, no caso de vacinação extramuros e em ambiente
hospitalar. O uso de luvas não é necessário. A exceção se dá quando
o vacinador apresenta lesões abertas com soluções de continuidade
nas mãos. Excepcionalmente nesta situação, orienta-se a utilização
de luvas, a fim de se evitar contaminação tanto do imunobiológico
quanto do usuário.

Observada a validade, de acordo com o laboratório produtor, as


vacinas devem ser acondicionadas na caixa térmica durante o dia e
devolvidas à geladeira ao final do expediente (BRASIL, 2014).

Saiba mais
No caso de ser necessário o uso do álcool a 70% para limpeza
da pele, friccione o algodão embebido por 30 segundos e, em
seguida, espere mais 30 segundos para permitir a secagem da
pele, deixando-a sem vestígios do produto, de modo a evitar
qualquer interferência do álcool no procedimento. (BRASIL,
2014, p. 45)

Nos casos de exposições percutânea e cutânea, recomendam-se, como primeira conduta


após a exposição a material biológico, os cuidados imediatos com a área atingida. Essas
medidas incluem a lavagem exaustiva do local exposto com água e sabão. O uso de
soluções antissépticas degermantes pode ser utilizado. Nas exposições envolvendo
mucosas (olhos, boca e nariz), deve-se lavá-las exaustivamente apenas com água ou
com solução salina fisiológica.
Estão contraindicados procedimentos que aumentam a área exposta (cortes, injeções
locais) e a utilização de soluções irritantes, como éter, hipoclorito ou glutaraldeído.
(BRASIL, 2015)

Saiba mais
Caso a fonte de infecção do acidente seja conhecida, deve-se solicitar, mediante
autorização, que o paciente realize os testes rápidos para hepatite B, C e HIV na própria
unidade de saúde (se dispuser), ou que o acompanhe para a unidade de referência para
que sejam realizadas neste local. Procure saber em sua cidade/estado qual unidade serve
de referência para este tipo de acidente (BRASIL, 2009), geralmente são hospitais ou
unidades sentinelas.
Informações sobre avaliação da exposição no acidente com material biológico
encontram-se no Manual do Ministério da Saúde (BRASIL, 2009, p. 16-17), disponível
em Exposição a Materiais Biológicos.

O enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família também é responsável pela equipe de


Enfermagem. Existem programas de prevenção que devem ser aplicados por instituições
que possuem profissionais de saúde. São necessárias:
- medidas preventivas e gerenciais que visam identificar os riscos, estabelecer práticas
de trabalho, entre outras ações;
- treinamentos e a educação são responsáveis por formar uma consciência
prevencionista;
- controle médico e registro de agravos, tratando-se da profilaxia pré e pós-exposição;
- vigilância que possibilita o acompanhamento e fiscalização dos locais de trabalho.

A realização de um trabalho seguro requer organização do processo de trabalho que


compreende a qualificação profissional com educação permanente, medidas
preventivas, gerenciais, controle médico, registro e vigilância (BRASIL, 2009).
É importante que os profissionais de saúde conheçam as fichas e os fluxogramas
disponíveis para acidente de trabalho com material biológico (BRASIL, 2009, p. 32-44).

Recomenda-se a profilaxia em todos os casos de exposição com risco significativo de


transmissão do HIV. Existem casos, contudo, em que esta não está indicada devido ao
risco insignificante de transmissão e nos quais o risco de toxicidade dos
medicamentossupere o risco da transmissão do HIV. Em qualquer situação em que a
infecção pelo HIV não possa ser descartada na pessoa fonte, a PEP está indicada.
O primeiro atendimento após a exposição ao HIV é uma emergência médica. A PEP
deve ser iniciada o mais precocemente possível, idealmente nas primeiras 2 horas após a
exposição, tendo como limite as 72 horas subsequentes à exposição. Ressalta-se que
pessoas que procurarem atendimento após 72horas, apesar de a PEP para HIV não estar
mais indicada, devem sempre ser avaliadas quanto à necessidade de acompanhamento,
clínico e laboratorial e de prevenção de outros agravos. (BRASIL, 2015)

Saiba mais
O tratamento é realizado durante 28 dias e o paciente deve ser acompanhado por, no
mínimo, 6 meses após o acidente. Esquema preferencial para PEP

Básico: Zidovudina (AZT) + Lamivudina (3TC)


É indicado quando a exposição ocorre com risco conhecido de transmissão pelo HIV.
Expandido: AZT + 3TC + Indinavir ou Nelfinavir
É usado quando há risco elevado de transmissão pelo HIV ou quando houver
possibilidade de resistência viral. Quando a exposição envolver paciente fonte infectado
pelo HIV, deve-se avaliar a história prévia e atual do uso de antirretrovirais. (BRASIL,
2009, p. 19).

Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC) + Atazanavir/ritonavir (ATV/r)


A definição de apenas um esquema preferencial é importante, porque tal simplificação
facilita a realização da avaliação de risco e a prescrição de PEP em diferentes serviços
de saúde, inclusive por profissionais que não são especialistas no assunto. (BRASIL,
2015)

ADESÃO AO PEP
A adesão das pessoas no sentido de completar os 28 dias de uso dos antirretrovirais é
essencial para a maior efetividade da profilaxia. Todavia, os estudos publicados
mostram baixas proporções de pessoas que completaram o curso completo de PEP.
Considerando que a adesão ao esquema antirretroviral é fundamental para a eficácia da
profilaxia, seus objetivos devem ser entendidos pela pessoa exposta, que deve ser
orientada a observar rigorosamente as doses, os intervalos de uso e a duraçãoda
profilaxia antirretroviral. Estratégias aprimoradas de acompanhamento e adesão podem
incluir métodos alternativos, como mensagens pelo celular (SMS), ligações telefônicas,
etc.
Além disso, recomenda-se que os serviços de emergência dispensem um quantitativo de
doses suficientes até que a pessoa seja atendida no serviço que realizará seu
acompanhamento clínico. Quando possível, os serviços podem dispensar o esquema
completo de PEP (28 dias), uma vez que essa estratégia tem um impacto positivo na
adesão.

ACOMPANHAMENTO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE


Para os casos de acidentes relacionados ao trabalho, os eventos devem ser notificados
no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) por meio da ficha de
investigação de acidente de trabalho com exposição a material biológico. Nesses casos,
devem-se estabelecer procedimentos de análise dos acidentes similares acontecidos na
unidade, segundo diretriz da Política de Promoção da Saúde dos Trabalhadores do SUS.
O acompanhamento clínico-laboratorial da pessoa exposta em uso de PEP deve levar
em consideração:

 A toxicidade dos antirretrovirais;


 O diagnóstico de infecção aguda pelo HIV;
 A avaliação laboratorial, incluindo testagem para o HIV em 30 e 90 dias após a
exposição;
 A manutenção de medidas de prevenção da infecção pelo HIV.

Todas as pessoas potencialmente expostas ao HIV devem ser orientadas sobre a


necessidade de repetir a testagem em 30 dias e em 90 dias após a exposição. Testes
posteriores a esse período podem estar indicados, como, por exemplo, nos casos de:

 Pessoas que tenham risco continuado de infecção pelo HIV;


 Pessoas que relatam exposição de risco ao HIV dentro doperíodo de 30 dias
anterior à testagem, ou 90 dias caso seutilize a testagem com FO;
 Mulheres grávidas;
 Pessoas que apresentem testes com resultados indeterminados.

Pessoas diagnosticadas com infecção pelo HIV durante o período de seguimento


da profilaxia pós-exposição devem ser encaminhadas para avaliação e atendimento
em serviços que realizam o seguimento de pessoas vivendo com HIV/aids
(PVHA). (BRASIL, 2015)

Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Antirretroviral Pós-
Exposição de Risco à Infecção pelo HIV. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2015. 57p.

2. BRASIL. Portaria nº 3.318, de 28 de outubro de 2010. Institui em


todo o território nacional, o Calendário Básico de Vacinação da
Criança, o Calendário do Adolescente e o Calendário do Adulto e
Idoso. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
2010. <http://docslide.com.br/documents/ministerio-da-saude-
portaria-no-3318-de...>  .  Cópia local Acesso em maio 2015.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Exposição a materiais biológicos Brasília: Ministério da Saúde,
2009. 72p. Acesso em maio 2015.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Calendário nacional


de vacinação. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014a.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual
de normas e procedimentos para vacinação. Brasília, DF: Ministério
da Saúde,
2014b. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedi
mentos_vacinacao...>  .  Cópia local Acesso em maio 2015.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do
Trabalhador. Exposição a materiais biológicos. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2009. 72 p. (Saúde do Trabalhador; 3.
Protocolos de Complexidade Diferenciada) (Série A. Normas e
Manuais
Técnicos). <http://www1.saude.rs.gov.br/dados/1332967170825PR
OTOCOLO%20EXPOSICAO%20A...>  .  Cópia local Acesso em
maio 2015.

Abordagem Sindrômica às
IST's
M.C.L. chega a UBS acompanhado de sua companheira
S.B.M., solicitando atendimento. Refere desconforto
uretral.
Publicado em 3 de Maio de 2013

Queixa principal

Refere disúria e corrimento uretral purulento há 10 dias

Histórico do problema atual


M.C.L. chega a UBS, acompanhado de sua companheira, S.B.M, solicitando
atendimento. Foi acolhido pela enfermeira do serviço, e relatou que há cerca de 10 dias
apresenta desconforto uretral, acompanhado de corrimento de aspecto “amarelado”,
sendo que houve uma piora nos últimos cinco dias, pois no início sentia apenas a
ardência miccional e o corrimento apresentava um aspecto claro. S.B.M. nega quaisquer
sintomas ginecológicos, tendo realizado exame citopatológico de colo uterino nos
últimos 12 meses. A enfermeira solicita que S.B.M. aguarde na recepção, para que
possa realizar o exame físico em M.C.L. para após proceder o aconselhamento do casal.

Histórico
Antecedentes pessoais

M.C.L. relata que sempre apresentou boa saúde. Ao ser questionado acerca do seu
comportamento sexual, referiu muito constrangido, que há cerca de duas semanas
manteve relação sexual desprotegida com parceira não habitual, sua ex-namorada.
Cinco dias após esta relação iniciaram-se os sintomas geniturinários. Nega tabagismo,
consome bebidas alcoólicas aos finais de semana e pratica exercícios físicos
regularmente em uma academia do bairro. Revisado esquema vacinal sem a presença da
Hepatite B.

História social

M.C.L. possui união estável com S.B.M. há dois anos. Não possuem filhos. Ele trabalha
como mecânico em uma empresa automobilística e sua companheira é técnica em
radiologia de um hospital do município. Possuem renda mensal de R$ 1.500,00.

Antecedentes familiares

Não possui antecedentes familiares de risco.

Medicações em uso

Não faz uso de medicações.

Exame Físico
PA: 110/70 mmHg
Peso: 78 kg
Estatura: 1,80 m
Temperatura: 36,8ºC
FR: 20 mrpm
FC: 70 bpm

Planta de pés e planta de mãos sem lesões aparente

Mucosa orofaríngea: sem particularidades

Com o paciente em pé, com as pernas afastadas observou-se discreta hiperemia em


glande. Quando solicitado que o paciente ordenhasse a glande, identificou-se presença
de secreção purulenta.

Região anorretal: sem particularidades


A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em 500 milhões o
número de pessoas que adquirem alguma das quatro Infecções
Sexualmente Transmissíveis (ISTs) - clamídia, gonorreia, sífilis e
tricomoníase - por ano, em todo o mundo. No Brasil, os números
variam entre 10 e 12 milhões. Por esse motivo, as IST's são
consideradas problemas de saúde pública e uma das principais
formas de combate à doença é interromper a cadeia de transmissão e
prevenir novas ocorrências. As principais IST's com apresentação
sindrômica são: as úlceras genitais, as verrugas e os corrimentos.
Úlceras genitais - As úlceras genitais são manifestações clínicas que
exigem um diagnóstico adequado para um tratamento correto. Como
expressões de determinadas doenças, podem variar de aspecto de
acordo com a etiologia, tempo de evolução, idade e estado imune do
hospedeiro, o que acarreta dificuldades no diagnóstico etiológico.
Podem ter aparência vesiculosa mais associada ao vírus herpes e não
vesiculosas mais associadas às lesões bacterianas. Cinco agentes
infecciosos podem causar a chamada síndrome de úlcera genital,
sendo que três são mais importantes por serem encontrados na
grande maioria dos casos: Vírus Herpes (principalmente o HSV-2) e as
bactérias Treponema Pallidum (sífilis) e Haemophilus ducreyi (cancro
mole).
Verrugas – As verrugas estão associadas à infecção pelo Papiloma
Vírus Humano (HPV). Existem mais de 100 tipos de vírus conhecidos
atualmente, 20 dos quais podem infectar o trato genital. Estão
divididos em dois grupos: os de baixo risco e alto risco de acordo com
seu potencial de oncogenicidade.
Corrimentos – Os corrimentos podem acometer ambos os sexos. O
corrimento uretral masculino é caracterizado pela presença de
secreção na uretra anterior, algumas vezes acompanhada de disúria
ou desconforto uretral. Se ao exame não houver presença de
secreção deve-se realizar a ordenha da uretral (comprimindo o pênis
da base à glande).
BRASIL, 2015.

De acordo com o fluxograma (figura 2) do Ministério da Saúde para


corrimento uretral e considerando a sintomatologia descrita pelo
usuário, não tendo disponível no momento da consulta a
bacterioscopia, a indicação é tratar Clamídia e Gonorreia.

Figura 2 - Fluxograma de corrimentos uretrais

Saiba mais
O gonococo, Neisseria gonorrhoeae, é um diplococo Gram-negativo intracelular, um
dos mais frequentes agentes etiológicos causadores da secreção uretral masculina. A
gonorreia, popularmente conhecida como pingadeira, gota matinal, escorrimento ou
esquentamento, é considerada uma das mais antigas doenças da humanidade, relatada
nos textos Bíblicos e escritos chineses. Atualmente, é um dos problemas de saúde
pública mundial, em que nos países em desenvolvimento apresentam altas incidências
da doença e altas taxas de sequelas. Adolescentes e adultos jovens apresentam alto risco
para a aquisição da infecção gonocócica, o que é preocupante em vista do aumento da
suscetibilidade da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).(BRASIL,
2010)
Uretrite gonocócica: É um processo infeccioso e inflamatório da mucosa uretral causado
pela Neisseria gonorrhoeae. Consiste num dos tipos mais frequentes de uretrite
masculina. É essencialmente transmitida pelo contato sexual. O período de incubação é
curto, de 2 a 5 dias. O risco de transmissão de um parceiro infectado a outro é de 50%
por ato. O sintoma mais precoce da uretrite é uma sensação de prurido na fossa
navicular que vai se estendendo para toda a uretra. Após um a três dias o doente já se
queixa de ardência miccional (disúria), seguida por corrimento, inicialmente mucóide
que, com o tempo, vai se tornando, às vezes, mais abundante e purulento. Em alguns
pacientes pode haver febre e outras manifestações de infecção aguda sistêmica. Quando
não houver tratamento ou esse for tardio ou inadequado, o processo se propaga ao
restante da uretra, com o aparecimento de polaciúria e sensação de peso no períneo;
raramente há hematúria no final da micção. Dentre as complicações da uretrite
gonocócica no homem destacam-se: balanopostite, prostatite, epididimite, estenose
uretral (rara), artrite, meningite, faringite, pielonefrite, miocardite, pericardite,
septicemia. A conjuntivite gonocócica em adultos não é um quadro raro e ocorre
basicamente por autoinoculação. Também pode ocorrer peri-hepatite gonocócica na
doença sistêmica (BRASIL, 2010. p.57).
Uretrite não gonocócica(UNG): O agente mais comum é Clamídia trachomatis. É uma
bactéria, obrigatoriamente intracelular, que também causa o tracoma, a conjuntivite por
inclusão no recém-nascido e o linfogranuloma venéreo. A transmissão se faz pelo
contato sexual (risco de 20% por ato), sendo o período de incubação, no homem, de 14
a 21 dias. Estima-se que dois terços das parceiras estáveis de homens com UNG
hospedem a C. trachomatis no endocérvix. Podem reinfectar seu parceiro sexual e
desenvolver quadro de Doença Inflamatória Pélvica (DIP) se permanecerem sem
tratamento (BRASIL, 2006. p. 52 ).

O profissional de saúde, dispondo de


protocolo para prescrição e tratamento
de Infecções Sexualmente
Transmissíveis na UBS, pode selecionar
como primeira opção de tratamento:
Doxiciclina 100 mg, 1 comprimido, via oral, 12/12h por 7 dias e Azitromicina 500 mg,
1 comprimido, via oral, dose única;
Ciprofloxacina 500 mg, 1 comprimido, via oral, dose única, e Amoxacilina 875mg
+Clavulanato 125 mg, 1 comprimido, via oral, 12/12h por 7 dias.
Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, via intramuscular, dose única, e Nitrofurantoína
100 mg via oral 6/6h, por 7 dias;
Ciprofloxacina 500 mg, 1 comprimido, via oral, dose única e Azitromicina 500 mg, 2
comprimidos, via oral, dose única;
Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, via intramuscular e Sulfametoxazol 800 mg +
Trimetoprim 160 mg 12/12h, por 7 dias;

Os pacientes infectados por Neisseria gonorrhoeae geralmente estão co-infectados com


Clamídia trachomatis. A terapia combinada (quadro 2), sem teste para Clamídia pode
ser vantajosa em locais onde ocorre infecções simultâneas (SAVARIS, 2006).

Quadro 2 - Opções terapêuticas para corrimentos uretrais.

Primeira opção Segunda

Uretrite gonocócica e Ciprofloxacina¹ 500mg, 1 comprimido, VO, dose única


por Clamídia não MAIS
complicada (uretrite e Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Azitrom
proctite) OU
Ceftriaxona²* 500mg, IM, dose única
MAIS
Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única

Em menores de 18 anos e gestantes:


Ciprofloxacina é contraindicada, e a droga de escolha
é Ceftriaxona

Uretrite por Clamídia Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Am

Em menores de 18 anos e gestantes:


Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única
OU
Amoxicilina 500mg, VO, 3x dia, por 7 dias³
Uretrite por Mycoplasma Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única
genitalium

¹ O uso da ciprofloxacina estaria contraindicado nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo
anos que demonstraram a circulação de cepas de gonococos com taxas de resistência antimicrobiana igua
internacionalmente de aceitação para uso de um antibiótico. Essa alteração no tratamento ainda se encont
Saúde.
² A recomendação é que nesses Estados não mais utilizem a ciprofloxacina e substituam o tratamento pela
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais 2013 (RENAME, 2013). A alternativa terapêutica de eficá
Cefixima oral. No entanto, a Cefixima oral não está disponível no mercado nacional e não dispõe de regis
Sanitária (ANVISA).
³ O estearato de eritromicina é uma alternativa terapêutica para gestantes, no entanto, não se encontra em
* Se o paciente apresenta alergia grave às cefalosporinas, indicar azitromicina 500mg, 4 comprimidos, VO

Fonte: Ministério da Saúde, 2015.

Saiba mais
O diagnóstico da uretrite é baseado em presença de corrimento
uretral purulento ou mucopurulento. Como não se pode
descartar a possibilidade de co-infecção por clamídia, cujo
diagnóstico laboratorial exige técnicas raramente disponíveis,
recomenda-se, sempre, o tratamento concomitante para as
duas infecções, já que a mesma está presente em 10 a 30% dos
casos.

Orientações específicas:

 Não ordenhar a uretra durante ou após tratamento;


 Quando a opção de tratamento por uso de Ofloxacina para ambos
patógenos, lembrar que deve ser usado 400mg por 7 dias;
 No retorno (7 a 10 dias), em caso de existência do corrimento ou
recidiva, mesmo com tratamento adequado para gonorreia e clamídia
do paciente e de seus parceiros, deverá ser oferecido tratamento
para agentes menos frequentes (micoplasma, ureaplasma, T.
vaginalis).

Fonte: Ministério da Saúde, 2006, p. 52.


Em qualquer situação é imprescindível que o profissional de saúde
dialogue com o paciente sobre a prevenção das IST's (SAVARIS,
2006).
O tratamento adequado dos casos diagnosticados promove a
remissão dos sintomas em poucos dias. Importante salientar que o
paciente deverá passar por aconselhamento, onde deverão ser
oferecidos os exames anti-HIV, VDRL e Hepatites B e C se
disponíveis, assim como a vacina contra Hepatite B; os contatos
sexuais que ocorrerem até 60 dias antes do início do quadro deverão
ser comunicados e tratados; o retorno agendado para sete dias se
persistirem os sintomas e o caso notificado. A adoção de práticas
sexuais seguras, como o uso de preservativo em todas as relações,
associada ao bom desempenho na execução do atendimento, assim
como a busca da quebra de cadeia de transmissão, deverá ser
abordada como peças-chave para o controle do agravo.
Qualquer informação sobre o paciente, não deve ser revelada às
parcerias e vice-versa. Há menor relutância em utilizar o serviço de
saúde se os usuários e a comunidade percebem que o sistema de
comunicação de parcerias mantém e garante a confidencialidade.
A assertiva agendar retorno em 15 dias esta incorreta, pois de acordo
com Brasil (2006) o retorno deve ser realizado de 07 a 10 dias para
verificar se ainda há corrimento ou recidiva.

O controle das IST não se efetiva apenas com o tratamento de sinais e sintomas de
pessoas que se apresentam aos serviços de saúde. Para interromper a cadeia de
transmissão das IST, é fundamental que as parcerias sexuais do indivíduo infectado
sejam localizadas e tratadas. A presença das parcerias sexuais, durante o atendimento
permite que se faça a educação em saúde sobre os riscos da infecção pelo HIV, hepatites
virais e demais IST, bem como de suas complicações.
O ideal é que as parcerias sexuais sejam convidadas para o aconselhamento, diagnóstico
e tratamento pelo próprio paciente. Deve-se propiciar discussões sobre sexualidade e
comportamento sexual, história natural e epidemiologia das IST (transmissão sexual,
infecção assintomática, consequências da falta de adesão ao tratamento), implicações
psicossociais das IST, infecção pelo HIV, intervenção em crises de relacionamento. A
procura dos serviços pelas parcerias sexuais deve ser voluntária. A abordagem dessas
parcerias é uma decisão construída em processo de intenso diálogo com o paciente, no
sentido de informá-lo acerca da possibilidade dos assintomáticos estarem infectados, da
possibilidade de reinfecção se uma parceria permanecer infectada, e das consequências
do não tratamento.

Saiba mais
Em situações nas quais o profissional de saúde identifica vulnerabilidade da parceria
sexual, e o paciente tem restrições em contatá-la, a decisão da abordagem fica amparada
em princípios éticos e legais que norteiam a prática profissional.
O direito ao resguardo, o direito ao segredo devem ser ponderados sempre. O Artigo
154 do Código Penal: “punição com pena privativa de liberdade ou multa àquele que
revelar, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem, admitindo-se a
quebra do sigilo somente quando houver justa causa”, dá respaldo à abordagem das
parcerias. Quando se trata de um agravo de notificação compulsória, os profissionais,
envolvidos na vigilância epidemiológica, devem atentar para o Artigo 269 do Código
Penal: punição com pena privativa de liberdade, além de multa, ao médico que deixar de
denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória.
O paciente deve ser encorajado a comunicar suas parcerias sexuais sem o envolvimento
direto dos profissionais de saúde, oferecendo informação à parceria, acompanhando-a
ao serviço ou entregando um convite para comparecimento ao serviço de saúde. A
abordagem direta das parcerias sexuais pelos profissionais de saúde é geralmente
reservada para os casos em que o paciente relata dificuldade em realizar a comunicação
ou nos casos em que haja respaldo legal. Ao chegar ao serviço de saúde, a parceria deve
ser considerada acometida da mesma síndrome ou doença do paciente-índice mesmo
que não apresente nenhum sintoma ou sinal, recebendo o tratamento recomendado para
sua condição clínica.

Saiba mais
A Síndrome do corrimento uretral masculino é de notificação compulsória nacional,
conforme Portaria 2.472 de 31 de agosto de 2010, portanto todo indivíduo com presença
de corrimento uretral (mucóide, mucopurulento ou purulento), verificado com prepúcio
retraído e/ou pela compressão da base do pênis em direção à glande, deverá ser
notificado pelo médico ou outro profissional de saúde no exercício de sua função com o
preenchimento do formulário padronizado, seguindo fluxo de informação, com a
finalidade de:

• Conhecer o perfil epidemiológico da síndrome do corrimento uretral masculino, no


Brasil e suas tendências.
• Identificar os casos de síndrome do corrimento uretral masculino, subsidiando as ações
de prevenção e controle desse agravo, prevenindo novas ocorrências por meio de ações
de educação em saúde.
• Interromper a cadeia de transmissão através da detecção e tratamento precoces dos
casos e de suas parcerias.
Serão consideradas as parcerias sexuais para fins de abordagem, os indivíduos com
quem o paciente índice relacionou-se sexualmente entre 30 e 90 dias, conforme o
quadro a seguir:

Fonte: Ministério da Saúde, 2010, p. 78.


Figura 4 - Cartão para notificação de parceiros

Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Programa Nacional de DST e Aids. Manual de controle das
doenças sexualmente transmissíveis. 4. ed. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2006. (Série Manuais nº
68). <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_d
as_dst.pdf>  .  Cópia local Acesso em : 2016.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Curso de vigilância
epidemiológica das doenças sexualmente transmissíveis de
notificação compulsória: sífilis e síndrome do corrimento uretral
masculino Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2010. <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/publicacao/2010/c
bve_corrimen...>  .  Cópia local Acesso em : 2016.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual “O que precisamos saber
sobre DST”. São Paulo: Sociedade Brasileira de infectologia. 2002.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2.472 de 31 de agosto de


2010. Define as terminologias adotadas em legislação nacional,
conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005
(RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde
pública de notificação compulsória em todo o território nacional e
estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos
profissionais e serviços de saúde. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF,
2010. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt2472_
31_08_2010.html>  .  Cópia local Acesso em : 2016.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento IST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas (PCDT): Atenção Integral às Pessoas com
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília, DF:
Ministério da Saúde,
2015. <http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/Rela
torio_PCDT_IS...>  .  Cópia local Acesso em : 2016.
6. SAVARIS, R. F. Doenças sexualmente transmissíveis: abordagem
sindrômica. In: DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I.; GIUGLIANI, E. R.
J. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas
em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.1409-1417.

7. Tuberculose: da
antiguidade para a
atualidade
8. Paciente procura a Unidade Básica de Saúde
referindo tosse, falta de apetite e cansaço.
Publicado em 17 de Abril de 2013
9.

10. Anamnese
11. Queixa principal
12. Tosse produtiva há três meses e inapetência

13. Histórico do problema atual


14. Paciente relata tosse com expectoração mucóide, persistente há três meses,
acompanhada de astenia, emagrecimento de cinco quilos, febre vespertina e
sudorese noturna. Nega expectoração sanguinolenta e contato com pessoas com
tuberculose.

15. Revisão de sistemas


16. Sintomas gerais:cansaço, fadiga, anorexia, perda de peso, febre vespertina de
37,8ºC.
Sistema cardiovascular: sem alterações
Sistema respiratório: cansaço aos médios esforços há três anos
Sistema digestório: sem alterações
Sistema geniturinário:sem alterações
Condições emocionais: apática e desanimada.

17. Histórico
18. História social
19. A paciente e sua família moram em uma pequena casa, nos fundos do terreno da
sua mãe, que possuiu três cômodos (cozinha,banheiro e um quarto). É
beneficiária da bolsa família, sua filha tem 13 anos de idade e está na quarta
série. A renda familiar é de um salário mínimo, o marido encontra-se
desempregado há seis meses, desde que saiu do sistema prisional. O sustento da
família provém de seu trabalho como educadora em uma Escola de Educação
Infantil.

20. Antecedentes pessoais


21. Possui duas gestações, sendo um parto normal e um abortamento espontâneo no
segundo mês de gestação. Usa anticoncepcional oral há dez anos. Fumante há 15
anos, uma carteira por dia. Apendicectomia aos 18 anos.

22. Medicações em uso


23. Anticoncepcional oral (Levonorgestrel 0,15 mg /Etinilestradiol 0,03 mg) 1
comprido à noite.

24. Antecedentes familiares


25. Mãe diabética, pai faleceu há um ano por enfisema pulmonar.
26. Exame Físico
27. Mucosas: úmidas e descoradas
Pele: Turgor e elasticidade normais
Ausculta pulmonar: diminuição do murmúrio vesicular em ápice direito com a
presença de sopro tubário.
FR: 18 mrpm
FC: 70 bpm
PA: 110/70 mmHg
Temperatura: 37,6º C
Peso: 52,0 kg
Estatura: 1,65 m
IMC: 19,10 Kg/m2

28. Conduta - Retorno


29. CONDUTA:
Foram solicitados hemograma, sorologias para HIV, hepatites e sífilis, RX de
tórax e baciloscopia em duas amostras.

RETORNO:
A paciente retorna para mostrar exames e para reavaliação do quadro clínico.
Relata permanência dos sintomas, com evolução para escarro hemoptóico.

30. Exames Laboratoriais


31. Hemograma:
Hemoglobina: 10,5 mg/dL
Hematócrito: 31,5%
VCM: 82 mg/dL
Leucócitos: 10.000 /mm³
Bastonetes: 3%
Segmentados: 60%
Eosinófilos: 3%
Monócitos: 1%
Linfócitos: 30%
Glicose de jejum: 90 mg/dL
Teste anti-HIV: negativo
Anti- HCV: negativo
VDRL: negativo
HBsAg: negativo

Baciloscopia direta em duas amostras: BAAR (Bacilo álcool,ácido, residente) =


130 bacilos/50campo.
Raio-X de tórax:apresenta cavitação no lóbulo superior do pulmão direito.

32. Saiba Mais


33. BACILOSCOPIA DIRETA (OU PESQUISA DE Bacilo de Koch (BK) NO
ESCARRO)

Uma boa amostra de escarro é a que provém da árvore brônquica, obtida após
esforço de tosse, e não a que se obtém da faringe ou por aspiração de secreções
nasais, nem tampouco a que contém somente saliva. O volume ideal é de 5 a 10
ml. O diagnóstico deve ser feito a partir de, pelo menos, duas amostras de
escarro, sendo a primeira geralmente coletada no momento da consulta, para
aproveitar a presença do doente. A segunda amostra deve ser coletada no dia
seguinte, preferencialmente ao despertar. Esta geralmente é abundante porque
provém das secreções acumuladas na arvore brônquica durante a noite.

A baciloscopia direta deve ser solicitada aos pacientes que apresentem:

1- Pacientes com critérios de definição de sintomático respiratório: tosse por


tempo igual ou superior a três semanas (exame de escarro);
2- Suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independentemente do
tempo de tosse (exame de escarro);
3- Suspeita clínica de TB extrapulmonar (exame em materiais biológicos
diversos, por exemplo biópsia).
Fonte: BRASIL, 2011a.

34. Coleta de Escaro


35. Deve-se fornecer informações claras e simples ao paciente, procedendo da
seguinte forma:

I) Entregar o recipiente ao paciente, verificando se a tampa do pote fecha bem e


se já esta devidamente identificada (nome do paciente e a data da coleta no
corpo do pote);
II) Orientar o paciente quanto ao procedimento de coleta: ao despertar pela
manhã, lavar bem a boca, inspirar profundamente, prender a respiração por um
instante e escarrar após forçar a tosse. Em cada coleta, obter três eliminações de
escarro, evitando que este escorra pela parede externa do pote;
III) Informar que o pote deve ser tampado e colocado em um saco plástico com a
tampa para cima, cuidando para que permaneça nesta posição;
IV) Orientar o paciente a lavar as mãos;
V) Na impossibilidade de envio imediato da amostra para o laboratório ou
unidade de saúde, esta poderá ser conservada em geladeira comum até no
máximo sete dias.
Fonte: BRASIL, 2011a.

36. Exame Radiológico na


Tuberculose
37. O RX de tórax deve ser solicitado para todo o paciente com suspeita clínica de
TB pulmonar. No entanto, até 15% dos casos de TB pulmonar não apresentam
alterações radiológicas, principalmente pacientes imunodeprimidos. O exame
radiológico, em pacientes com baciloscopia positiva, tem como função principal
a exclusão de doença pulmonar associada (por exemplo, câncer de pulmão em
fumantes com alta carga tabágica com idade superior a 40 anos) que necessite de
tratamento concomitante, além de permitir avaliação da evolução radiológica
dos pacientes, sobretudo naqueles que não respondem ao tratamento anti-TB.

38. FEm nosso caso, a paciente apresentava tosse produtiva


há mais de três semanas, porém os sintomáticos
respiratórios são indivíduos com tosse por tempo igual ou
superior a três semanas, independente da presença de
escarro. Pode ser considerada a sintomatologia em duas
semanas em caso de populações especiais (confinamento,
alta prevalência, aglomerações). A TB pulmonar pós-
primária pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais
comum no adolescente e no adulto jovem. Tem como
característica principal a tosse, seca ou produtiva, a
expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem
sangue, a febre vespertina, sem calafrios, não costuma
ultrapassar os 38,5º C. A sudorese noturna e a anorexia
são comuns. O exame físico geralmente mostra fácies de
doença crônica e emagrecimento, embora indivíduos com
bom estado geral e sem perda do apetite também possam
ter TB pulmonar. A ausculta pulmonar pode apresentar
diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou
mesmo ser normal.onte: BRASIL, 2011a.
Nos locais onde há a implantação da Estratégia Saúde da Família
(ESF) e do Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS), a
busca ativa deve ser estendida à comunidade, com a inclusão da
identificação do SR na visita mensal para todos os moradores do
domicílio e não apenas àqueles com história de tuberculose na
família.

Neste caso o marido, a filha, os colegas de trabalho e as crianças


da escola devem ser considerados como contato. É considerado
contato toda pessoa que convive no mesmo ambiente com o caso
índice, no momento do diagnóstico da TB. Esse convívio pode se
dar em casa e/ou em ambientes de trabalho, instituições de longa
permanência, escola ou pré-escola. A avaliação do grau de
exposição do contato deve ser individualizada, considerando-se a
forma da doença, o ambiente e o tempo de exposição.
Saiba mais
Fluxograma para avaliação de contatos crianças (< 10 anos)
Legenda: PT = Prova tuberculínica; ILTB = Infecção latente pelo
M. tuberculosis.
Fonte: BRASIL, 2011a.

A transmissibilidade está presente desde os primeiros sintomas


respiratórios, caindo rapidamente após o início de tratamento efetivo.
Durante muitos anos considerou-se que, após 15 dias de tratamento o
paciente já não transmitia a doença. Na prática, quando o paciente
não tem história de tratamento anterior nem outros riscos conhecidos
de resistência, pode-se considerar que, após 15 dias de tratamento e
havendo melhora clínica, o paciente pode ser considerado não
infectante. No entanto, com base em evidências de transmissão da
tuberculose resistente às drogas, recomenda-se que seja também
considerada a negativação da baciloscopia para que as precauções
com o contágio sejam desmobilizadas, em especial para
biossegurança nos serviços de saúde. No Brasil, o esquema
recomendado para as gestantes não é diferente dos esquemas para
os outros pacientes. O esquema atual, para todos os casos novos de
TB, é o Esquema Básico (RHZE) com os quatro fármacos combinados
em um comprimido para a “fase de ataque” do tratamento, isto é, nos
primeiros dois meses, seguindo-se de RH por mais 04 meses. Sempre
que possível e, principalmente, nos grupos de maior risco de
irregularidade e de abandono este tratamento deve ser
supervisionado (ver capítulo 7).

Quanto à Isoniazida, mesmo considerada segura para uso na


gestação, há relatos de aumento do risco de hepatite medicamentosa
no período ao redor do parto e de complicações para o feto muito
ligadas ao uso de doses elevadas na gestante e também aos seus
metabólitos que interferem na ação de vitaminas como a piridoxina.
Quando administrada em grávidas ou em mães que estejam
amamentando para prevenção de efeito adverso tipo neuropatia com
risco aumentado de aparecimento estas pacientes, deve haver
suplementação com piridoxina na dose de 25mg/dia pelo menos.

A escolha da modalidade de TDO a ser adotada deve ser decidida


conjuntamente entre a equipe de saúde e o paciente, considerando a
realidade e a estrutura de atenção à saúde existente. O doente pode
ir ao serviço para receber a medicação ou o profissional do serviço
pode ir ao domicílio. Para fins operacionais, ao final do tratamento,
para definir se o tratamento foi observado, convenciona-se que este
doente deverá ter tido no mínimo 24 tomadas observadas na fase de
ataque e 48 tomadas observadas na fase de manutenção.

As reações adversas aos medicamentos do tratamento da


tuberculose são divididas em: reações adversas menores, em que
normalmente não é necessária a suspensão do medicamento anti-TB;
e reações adversas maiores, que normalmente causam a suspensão
do tratamento.Reações adversas maiores determinaram a alteração
definitiva no esquema terapêutico e variam de 3% a 8%. As reações
adversas mais frequentes ao esquema básico são: mudança da
coloração da urina (ocorre universalmente), intolerância gástrica
(40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e dores articulares
(4%). Deve ser ressaltado que quando a reação adversa corresponde a
uma reação de hipersensibilidade grave como plaquetopenia, anemia
hemolítica, insuficiência renal etc., o medicamento suspeito não pode
ser reiniciado após a suspensão, pois na reintrodução a reação
adversa e ainda mais grave.

Saiba mais
A seguir estão apresentados os efeitos adversos menores e
maiores ao tratamento anti-TB.
Quadro 01 - Efeitos adversos menores ao tratamento antiTB.
Saiba mais
Quadro 02 - Efeitos adversos maiores ao tratamento antiTB.

Fonte: BRASIL, 2011a.


Saiba mais
Notificação

A unidade de saúde que descobre e inicia o tratamento dos casos novos, é a responsável
pela notificação compulsória dos mesmos. Outras fontes de notificação são os hospitais,
os laboratórios e outros serviços de assistência médica, governamental e particular. No
Brasil, define-se como caso de tuberculose todo indivíduo com diagnóstico
bacteriológico confirmado – baciloscopia ou cultura positivos – e indivíduos com
diagnóstico baseado em dados clínico-epidemiológicos e em resultados de exa mes
complementares. A base do sistema de informação da tuberculose é o prontuário do
doente, a partir do qual são colhidos os dados necessários para o preenchimento da ficha
individual de investigação do Sistema de Informações de Agravos de Notificação
(SINAN).
Fonte: BRASIL, 2011a.

A ficha de notificação da tuberculose está disponível no


link: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/tb_ficha_de_notificacao_3_9_10.pdf

Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de
recomendações para o controle da tuberculose no país. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, 2011a. (Série A. Normas e Manuais
Técnicos). <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_rec
omendacoes_controle_...>  .  Cópia local Acesso em : 2013.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância de Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância
epidemiológica. 7. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2009.
(Série A. Normas e Manuais
Técnicos). <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilan
cia_epidemiologica...>  .  Cópia local Acesso em : 2013.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Tratamento
diretamente observado (TDO) da tuberculose na atenção básica:
protocolo de enfermagem. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011b.
(Série F. Comunicação e Educação em
Saúde). <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/tratamento_dir
etamente_observa...>  .  Cópia local Acesso em : 2013.
4. FERREIRA, S. R. S.; GLASENAPP, R.; FLORES, R.
(Org.). Tuberculose na atenção primária à saúde. 1. ed. ampl. Porto
Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição,
2011. <http://www2.ghc.com.br/gepnet/publicacoes/tuberculosena
atencao.pdf>  .  Cópia local Acesso em : 2013.

Uso de álcool e drogas ilícitas

Servidor público da secretaria de educação, trabalha como técnico


administrativo, é separado há 5 anos, tem uma filha de 9 anos deste
relacionamento.

Publicado em 16 de Julho de 2013

Autores Mauri Caldeira Reis, Bárbara Heather LutzEditores Anaclaudia


Fassa e Luiz Augusto FacchiniEditores Associados Deisi Cardoso Soares,
Everton José Fantinel, Luciana de Rezende Pinto, Marília Leão Goettems,
Maria Laura Vidal Carret, Rogério da Silva Linhares, Samanta Bastos
Maagh, Thiago Marchi Martins

Você já respondeu todas as 6 questões deste caso.

Sua média de acertos final foi de 75,33%.

Paciente

R.S.S.

33 anos

Servidor público

Anamnese

Queixa principal

crises de falta de ar e medo excessivo

Histórico do problema atual

R.S.S. busca atendimento porque há alguns meses está sentindo crises


de falta de ar, medo excessivo e sensação de morte iminente. Ao ser
questionado, refere que nessas crises sente seu coração acelerar e
também apresenta sudorese generalizada, além de tremores, tontura e
náuseas. As crises ocorrem em torno de uma a duas vezes na semana,
sem claros desencadeantes, e a primeira ocorreu há cerca de 7 meses.
Na história, você busca, mas não encontra eventos estressantes que
tenham contribuído para o início do quadro. Relata emagrecimento, em
torno de 11 kg no último ano, embora não tenha feito dieta. Reconhece
que tem ido muito para festas e sua vida anda um pouco agitada, por isso
tem se alimentado um pouco menos. Relata que eventualmente teve
crises de contraturas musculares, que alguém lhe disse poder se tratar
de um “início de convulsão”, mas que lhe pareceu mais com uma cãibra.

Revisão de sistemas

Respiratório: Epistaxe recorrente.

Neurológico: sem outras alterações.

Psiquiátrico: Negou humor predominantemente depressivo, mas refere


ter oscilações, passando um ou dois dias mais depressivo.

Histórico

História social

É o filho do meio de uma prole de três, sendo que o pai faleceu de


sangramento digestivo (possivelmente por complicações do álcool).
R.S.S. recorda-se bem, pois tinha na época 16 anos. A mãe não tem
problemas com álcool ou drogas, mas é muito retraída, não interage com
as pessoas. R.S.S. diz que ela chora muito e já teve que se tratar para
depressão. Relata que começou a namorar com 14 anos, mas foi aos 25
que conheceu E.T.S., com quem conviveu em união estável e teve sua
filha, mas ela acabou terminando o relacionamento, pois ele começou a
se envolver demais com as drogas. Hoje vive só.

Antecedentes familiares

Pai apresentava uso abusivo de álcool, conforme o relato provavelmente


tratava-se de dependência química ao álcool. Mãe com histórico de
depressão. Irmãos sem problemas de saúde.

Medicações em uso
Nega uso crônico de medicações (“nunca precisei de remédio”).

Continuação da anamnese

Com base nesses dados, você questiona sobre uso de bebidas alcoólicas,
ao que R.S.S. refere beber. Exagera em festas, chegando a ter “apagões”,
tendo se envolvido em brigas quando está alcoolizado. Porém, durante a
semana não costuma usar o álcool em grandes quantidades, bebe
cerveja uma ou duas vezes na semana. Você questiona então sobre o uso
de outras drogas. R.S.S. diz que usa cocaína, mas argumenta que “não é
viciado”, porque não usa todos os dias. Relata usar cerca de 4 dias na
semana, em geral quando vai para festas com amigos, mas às vezes
também em casa. Refere que também usa maconha, diariamente, mas
que “isso não lhe causa mal algum” (sic).

Fonte: Organização Mundial da Saúde, 1997.

Exame Físico

Ectoscopia: apresenta tatuagens em ambos os antebraços.

Tax: 36,8°C

PA 126 x 82 mmHg

FC 92 bpm

FR 13 mrpm

Peso: 68,0 kg

Altura: 1,82 m

IMC: 20,5 kg/m²

Tireoide palpável, homogênea, indolor.

AC: RR2T, BNF, sem sopros.

AP: Murmúrio vesicular presente, sem ruídos adventícios.

Abdômen: RHA+, timpânico, indolor, sem visceromegalias palpáveis.

Membros sem alterações.


Exame neurológico sumário normal.

Questão 1Escolha múltipla

Quais os problemas identificados na história de R.S.S.?

Epistaxe

Emagrecimento

Dependência ao álcool

Transtorno de pânico

Uso de cocaína

Depressão

Uso nocivo de álcool

Crises de medo e falta de ar

87 / 100 acerto

Não é possível diagnosticar depressão ou transtorno de pânico, pois os


sintomas provavelmente são secundários aos efeitos da droga, e não
existe um período de abstinência com sintomas para esclarecer o
diagnóstico. O consumo de álcool não demonstra episódios de
abstinência ou desenvolvimento de tolerância, e mesmo os hábitos de
vida de R.S.S. não são característicos de dependência química (não vive
em busca de álcool, não demonstra preocupação excessiva com a
obtenção de uma próxima dose e tampouco deixou sua vida social em
função de uma dependência).

Saiba mais

Transtornos por uso de álcool

Uso nocivo

A Classificação Internacional das Doenças (CID 10) define como modo de


consumo de uma substância psicoativa que é prejudicial à saúde. As
complicações podem ser físicas (por exemplo, hepatite consequente a
injeções de droga pela própria pessoa) ou psíquicas (por exemplo,
episódios depressivos secundários a grande consumo de álcool).
Também é chamado “abuso de uma substância psicoativa”. O DSM
(referência americana para diagnóstico psiquiátrico) considera outra
entidade nosológica, o uso abusivo. O uso abusivo, assim como o nocivo,
não preenche os critérios de dependência química, mas o uso do álcool
leva a prejuízos como não cumprir suas obrigações de trabalho, dirigir
embriagado, problemas judiciais consequentes ao uso de álcool ou
problemas familiares (brigas com esposa).

Dependência

Segundo a CID 10 trata-se de conjunto de fenômenos comportamentais,


cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de
uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de
tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização
persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior
prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e
obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um
estado de abstinência física. O DSM (referência americana para
diagnóstico psiquiátrico) usa critérios mais objetivos (não apenas para o
uso de álcool) e considera como características da dependência química
os fenômenos de tolerância (necessidade de consumir quantidades
progressivamente maiores para obter os mesmos efeitos) e síndrome de
abstinência (conjunto de sinais e sintomas característicos que surgem
após a redução ou suspensão da ingesta de uma substância).

Síndrome de abstinência

Conjunto de sintomas que se agrupam de diversas maneiras e cuja


gravidade é variável, ocorrem quando de uma abstinência absoluta ou
relativa de uma substância psicoativa consumida de modo prolongado. O
início e a evolução da síndrome de abstinência são limitadas no tempo e
dependem da categoria e da dose da substância consumida
imediatamente antes da parada ou da redução do consumo. A síndrome
de abstinência pode se complicar pela ocorrência de convulsões.

Síndrome de abstinência com delirium

Perturbação da consciência, com redução da capacidade de focalizar,


manter ou deslocar a atenção. Uma alteração na cognição (como déficit
de memória, desorientação, perturbação da linguagem) ou o
desenvolvimento de uma perturbação da percepção não melhor
explicada por uma demência preexistente, estabelecida ou em evolução.
A perturbação desenvolve-se ao longo de um curto período de tempo
(geralmente de horas a dias), com tendência a flutuações no decorrer do
dia. Existem evidências, a partir da história, exame físico ou achados
laboratoriais, de que os sintomas nos Critérios A e B desenvolveram-se
durante ou logo após uma síndrome de abstinência.
Transtorno psicótico

Conjunto de fenômenos psicóticos que ocorrem durante ou


imediatamente após o consumo de uma substância psicoativa, mas que
não podem ser explicados inteiramente com base numa intoxicação
aguda e que não participam também do quadro de uma síndrome de
abstinência. O estado se caracteriza pela presença de alucinações
(tipicamente auditivas, mas frequentemente polissensoriais), de
distorção das percepções, de ideias delirantes (frequentemente do tipo
paranóide ou persecutório), de perturbações psicomotoras (agitação ou
estupor) e de afetos anormais, podendo ir de um medo intenso ao êxtase.
O sensório não está habitualmente comprometido, mas pode existir um
certo grau de obnubilação da consciência embora possa estar presente a
confusão, mas esta não é grave.

Síndrome amnestésica

Síndrome dominada pela presença de transtornos crônicos importantes


da memória (fatos recentes e antigos). A memória imediata está
habitualmente preservada e a memória dos fatos recentes está
tipicamente mais perturbada que a memória remota. Habitualmente
existem perturbações manifestas da orientação temporal e da cronologia
dos acontecimentos, assim como ocorrem dificuldades de aprender
informações novas. A síndrome pode apresentar confabulação intensa,
mas esta pode não estar presente em todos os casos. As outras funções
cognitivas estão em geral relativamente bem preservadas e os déficits
amnésicos são desproporcionais a outros distúrbios. Também chamada
de síndrome de Korsakov.

Transtorno psicótico residual ou de instalação tardia Transtorno no qual


as modificações, induzidas pelo álcool ou por substâncias psicoativas, da
cognição, do afeto, da personalidade, ou do comportamento persistem
além do período durante o qual podem ser considerados como um efeito
direto da substância.

Questão 2Escolha múltipla

Como abordar a situação de R.S.S.?

Orientar sobre a existência de Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e


Drogas (CAPS-AD) se estiver disponível na região, mas ficar disponível
para acolhê-lo, caso ele deseje fazer seu tratamento na UBS.
Realizar abordagem motivacional breve com foco no uso de drogas;
orientar quanto à possível relação entre uso de estimulantes e crises de
ansiedade tipo pânico.

Prescrever fluoxetina ou outro antidepressivo para tratar as crises de


medo e falta de ar; aconselhar contra o uso de álcool e drogas.

Solicitar exames complementares para esclarecer o emagrecimento;


encaminhar ao otorrino para tratar a epistaxe; não abordar o uso de
drogas, pois R.S.S. não tem dependência química.

Indicar abstinência como única solução para seus problemas; marcar


retorno apenas se estiver em abstinência de pelo menos um mês para
poder então reavaliá-lo.

80 / 100 acerto

- Considerando que as manifestações psicopatológicas provavelmente se


devam ao uso de substâncias psicoativas, o melhor seria tentar abordar
a causa e não prescrever antidepressivos como na alternativa
“Prescrever fluoxetina ou outro antidepressivo para tratar as crises de
medo e falta de ar; aconselhar contra o uso de álcool e drogas”.

- A inexistência de dependência química não justifica deixar de abordar o


uso de drogas como sugere a alternativa “Solicitar exames
complementares para esclarecer o emagrecimento; encaminhar ao
otorrino para tratar a epistaxe; não abordar o uso de drogas, pois R.S.S.
não tem dependência química”.

- Segundo a descrição, percebe-se inicialmente que a motivação para


buscar atendimento não é o uso de substâncias psicoativas, além de não
reconhecer esta situação como um problema. Assim, abordagens muito
incisivas podem dificultar a formação de vínculo, sendo recomendável
uma abordagem motivacional, que busca auxiliar o paciente a perceber
sua situação de forma mais clara (questionar mais e prescrever menos).

- A indicação da abstinência como único caminho é polêmica. Nem todas


as pessoas estão dispostas a se comprometer com um objetivo tão
fechado, pensando na redução gradual como uma alternativa mais
factível. Cabe ao profissional tentar auxiliá-lo na maneira que interesse o
usuário.

-Lembrar: a motivação para tratamento em transtornos de uso de


substâncias é extremamente volátil. O profissional de saúde deve estar
atento às janelas de oportunidade, aproveitando estes momentos.
Quando a motivação é para redução e não abstinência, tenta-se a
redução.

- Os CAPS são serviços cujo público são os portadores de transtornos


mentais severos e persistentes. O uso de substâncias descrito por R.S.S.,
embora possa ser acolhido em um CAPS, não deve obrigatoriamente ser
encaminhado, contanto que o profissional sinta-se capacitado para
manejar a situação. O fundamental é a postura de acolhimento do
profissional e novamente, aproveitar as janelas de oportunidade.

Saiba Mais

Abordagem motivacional

Quando há risco, uso nocivo, ou mesmo dependência química já


instalada, deve-se fazer intervenção breve. Existem várias técnicas de
abordagem motivacional. Todas elas podem ser úteis. A seguir, uma
técnica de intervenção breve que pode ser aplicada por qualquer
profissional de saúde.

- Avaliar a situação em relação às drogas:

- Uso da droga durante a vida (identificar quais drogas);

- Frequência de uso nos últimos 3 meses (para cada uma delas);

- Exxistência de forte desejo ou urgência em consumir (qualquer delas);

- Problemas associados ao uso (dirigir embriagado, envolver-se em


brigas, cometer crimes para obter a droga, perda do convívio social –
separação);

- Negligência em atividades como faltas ao trabalho e/ou escola;

- Preocupação por pessoas próximas;

- Tentativa de redução/ parada de uso (mostra percepção de problema);

- Uso de drogas injetáveis (indicador de gravidade).

Técnica FRAMES (Feedback, Responsibility, Advice, Menu of option,


Empathy, Self efficacy):

FEEDBACK (Devolução)

Após a etapa de avaliação é dado um retorno ou “feedback” relacionado


aos riscos que envolvem o padrão de consumo. Exemplo: “Pelo que você
está me contando, parece que você apresenta um risco de ter problemas
relacionados ao uso de drogas, caso você continue com esse padrão de
consumo. Eu gostaria de falar um pouco sobre isso”.

RESPONSIBILITY (Responsabilização)

Ênfase na responsabilidade pessoal do paciente pela mudança. Exemplo:


“Você é que vai decidir o que fazer com estas informações. Ninguém
pode decidir por você, mas se você quiser, estou aqui para ajudar”.

ADVICE (Aconselhamento)

Fornecer orientações claras com vistas à mudança de comportamento.


Discutir sobre possíveis metas a serem atingidas. Informar sobre
consequências, colocando-as na balança como a seguir:

- O que você vai evitar? Quais os problemas que isto causa?

Ressaca;

Situações embaraçosas/risco;

Pressão familiar/escolar a respeito das notas;

Doenças.

O que você vai ganhar? O que pode melhorar se parar?

Maior prazer;

Economia;

Melhor desempenho escolar / relacionamento familiar;

Controle da situação.

MENU OF OPTION (Cardápio de opções)

Identificação das situações de risco (hábitos, pessoas e lugares


associados ao uso, aquisição e manutenção da utilização da substância).
Oferecer várias estratégias para enfrentar as situações de risco (sair
com familiar confiável, não ter dinheiro consigo, preparar-se para
enfrentar as provocações de quem ainda usa, mudar seus trajetos, evitar
“amizades da droga”).

EMPATHY

Profissional deve ter uma postura sem preconceitos ou acusações,


buscando a compreensão, o apoio e a motivação. “Não é atender, é
entender.” Não é o que é dito, mas como é dito.

Empatia do profissional é um forte determinante para motivação e


mudança. Talvez o mais importante.

Mesmo quando os pacientes são confrontados com feedback ou recebem


conselhos diretos, isso pode e DEVE ser feito de modo empático.

Exemplo: “Imagino o quanto deva ser difícil, mas tenho certeza que você
consegue”.

SELF EFFICACY

Refere-se à crença de um indivíduo em sua capacidade de realizar ou ter


êxito em uma tarefa específica.

Identificar e reafirmar aspectos saudáveis e positivos. Estimular a


autoconfiança do paciente, a cada progresso. Valorizar conquistas e
incentivar novas.

Fonte: Miller, 1993.

Continuação da anamnese

R.S.S. refere início do consumo de maconha aos 12-13 anos, com


amizades de escola. Lembra que se sentia ansioso e desanimado com
frequência; e, com o uso da maconha, tinha algum alívio desses
sentimentos. Seguiu usando em torno de 3 a 4 vezes por semana até os
21 anos, embora tivesse que lidar com as críticas da mãe e a piora de
rendimento escolar devido à desatenção causada pela droga. Aos 15
anos, passou a beber cerveja. No início moderadamente, mas com o
tempo o consumo em festas se intensificou. Aos 18 anos, dirigia
embriagado, envolvia-se em brigas em festas, tinha blackouts das noites
em que exagerava, já consumindo destilados nessa época (whisky e
cachaça principalmente). Ainda assim, durante a semana conseguia
evitar o álcool e manter suas atividades, conseguindo inclusive
aprovação em concurso público.

Aos 21 anos experimentou cocaína pela primeira vez. Ainda sentia


ansiedade e tristeza, e nos últimos tempos (desde que aumentara o uso
de álcool) estava pior. Com a cocaína, teve uma sensação de intenso
bem estar e euforia, o que fez com que passasse a usar de forma
recorrente, sempre que estava em dias piores, e em festas (“para ter
energia na balada”). Ainda assim, o uso não era frequente. Usava uma a
duas vezes na semana, principalmente nos finais de semana, e como
ficava muito inquieto com os efeitos da cocaína, passou a usar a
maconha diariamente, em torno de 3 a 5 cigarros por dia. A maconha
ajudava no apetite, que havia se reduzido muito com a cocaína, e lhe
deixava mais calmo e relaxado. Com o tempo passou a usar a cocaína
com mais frequência, em média 4 vezes na semana. Eventualmente
usava todos os dias, e às vezes conseguia parar por uns 10 dias, embora
tornasse a usá-la. Como estava gastando muito com cocaína, parou de
usar a maconha. Bebia à noite para conseguir dormir quando usava muito
estimulante. Ainda assim, o consumo de álcool não era diário. Quando
passava três dias sem beber, não apresentava sintomas de abstinência.
Frente a esse histórico, já tinha perdido a companheira, que levou a filha
deles consigo. Estava tendo dificuldades no trabalho, como atrasos e
perda de rendimento; além de estar com algumas dívidas no cartão, pois
estava gastando demais com a droga.

Questão 3Escolha múltipla

Um exemplo da técnica FRAMES nesse momento seria

Você deve estar vendo que já perdeu a mulher, a filha, está com dívidas,
seu chefe já anda incomodando no trabalho. Vai esperar pelo que para
sair dessa?

Pelo que você está me contando, parece-me que você tem tido vários
problemas relacionados ao uso de drogas, gostaria de falar um pouco
sobre isso com você. Eu vou lhe informar algumas coisas, mas quem vai
decidir é você

Você está viciado, tem que se tratar! Preciso te encaminhar para um


psiquiatra.

Você já pensou sobre quais as vantagens e quais os problemas que as


drogas tem causado para você? Quem sabe começamos por aí?
Estou vendo que você está com problemas, mas aqui é um posto de
saúde, eu não trato de dependência química, você precisa procurar um
CAPS.

100 / 100 acerto

O objetivo da intervenção breve é desencadear no paciente uma decisão


de mudança em relação ao seu comportamento e estimulá-lo a se
comprometer com o tratamento. Todas as fases devem ser realizadas
mantendo-se uma postura empática, evitando o confronto e o julgamento,
lembrando que essa é uma situação de fragilidade da pessoa. O objetivo
é aumentar a crença da pessoa na sua capacidade de alcançar a meta de
modificação de comportamento e reiterar o apoio da equipe de saúde no
processo, mesmo que existam dificuldades.

Fonte: Sordi, 2013.

Questão 4Escolha simples

Sobre o acompanhamento deste paciente:

Transtornos de humor, ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade são


comorbidades frequentes nos transtornos de uso de substâncias. Devem
ser tratados apropriadamente, pois influenciam no prognóstico.

Existem evidências claras de que os antidepressivos, principalmente a


bupropiona, são efetivos no abuso e dependência à cocaína e reduzem as
recaídas, prolongando a abstinência.

Intervenções como grupos de Narcóticos Anônimos e Alcoólicos


Anônimos não devem ser incentivadas, pois não trazem benefícios aos
pacientes.

É fundamental em todos os casos a intervenção medicamentosa. Os


transtornos de uso de maconha e cocaína não podem ser tratados sem
medicação.

Existem algumas evidências que apontam para uma possível redução da


fissura por cocaína com o uso do dissulfiram (Antietanol®).

Carbamazepina (Tegretol®) e clorpromazina (Amplictil®) são drogas


usadas com base em evidências sólidas de efetividade para abuso e
dependência de cocaína.

Incorreto
Não há nenhum fármaco aprovado pelo Food and Drug Administration
(FDA) para o tratamento específico da dependência de cocaína. Vários
medicamentos já foram testados, entre eles Carbamazepina,
betabloqueadores, antipsicóticos e antidepressivos. Contudo, a maioria
dos resultados não é consistente para que essas medicações possam ser
indicadas isoladamente. Da mesma maneira, o uso de dissulfiram no
tratamento da dependência à cocaína não se mostrou efetivo.

Os Narcóticos Anônimos (NAs) surgiram com o sucesso dos Alcoólicos


Anônimos e também são baseados no modelo dos 12 passos. O programa
de 12 passos está associado a uma manutenção da abstinência do uso
de drogas ilícitas de 28% em dois anos. De acordo com as diretrizes da
American Psychiatric Association para o tratamento do abuso de
substâncias, há pouca evidência empírica que apoie a eficácia desses
grupos de autoajuda, mas a experiência clínica sugere que sejam um
adjunto importante no tratamento. Há pacientes que não se adaptam aos
conceitos dos 12 passos, tampouco a abordagens de cunho religioso.
Pacientes jovens obtêm mais benefício em grupos com pessoas da
mesma idade e com indivíduos mais velhos recuperados. Indivíduos com
comorbidades devem ser encaminhados para grupos em que a
medicação seja aceita e não vista como mais uma forma de
dependência.

Indivíduos com comorbidade psiquiátrica e abuso de substâncias têm um


prognóstico pior do que pacientes com apenas um desses transtornos e
são de difícil tratamento. Esses pacientes não respondem bem, em geral,
a abordagens terapêuticas direcionadas a apenas um dos transtornos,
tornando-se necessário combinar medicações e modificar as terapias
psicossociais incluindo abordagens para ambos.

Fonte: Sordi, 2013.

Questão 5Escolha múltipla

R.S.S. lhe propõe tentar reduzir seu uso de substâncias se você for lhe
acompanhar na UBS. Você:

Discute com ele as situações de risco para uso de álcool, maconha e


cocaína, tentando aconselhar sobre o que evitar (festas, falsos amigos,
locais próximos à “boca” onde adquire as drogas, bebidas em casa).
Explica que não pode acompanhá-lo na UBS, pois não é psiquiatra, e o
caso só pode ser tratado pelo especialista.

Oferece solicitar exames para DSTs para avaliar possível exposição


durante os períodos de blackouts, já nessa primeira consulta, até mesmo
para vincular o paciente.

Orienta-o que a redução de consumo não é um caminho possível, e que


você apenas o acompanhará se ele se comprometer com abstinência
plena desde já.

Indica internação hospitalar para desintoxicação, pois ele tem


dependência ao álcool e a abstinência será grave, não devendo tratá-lo
em regime ambulatorial.

Parabeniza R.S.S. pela sua decisão e se prontifica a acompanhá-lo,


marcando desde já o retorno, em uma semana e estimulando também a
participar de Narcóticos Anônimos se ele achar interessante.

100 / 100 acerto

Com relação ao álcool, sintomas moderados a graves de abstinência


devem ser acompanhados em centros de desintoxicação. Além disso, são
indicações de tratamento hospitalar: depressão com ideação suicida,
comorbidades clínicas ou psiquiátricas não controladas, situação do lar
extremamente instável, falta de resposta ao tratamento ambulatorial.
Pessoas que durante o tratamento apresentam sintomas leves a
moderados de abstinência podem ser acompanhadas de forma segura e
eficaz na atenção primária. Porém, se for desejo do usuário, pode ser
encaminhado a algum centro de referência para estar em ambiente livre
de estímulos e evitar a recaída.

Se o paciente é incapaz de cumprir com as mínimas solicitações ou


comparece às consultas muitas vezes intoxicado, provavelmente
demonstra um indício da gravidade da dependência e da necessidade de
hospitalização, ou mesmo de sua remoção para algum ambiente que
envolva mais estrutura e segurança para si e para os técnicos que o
atendem.

A internação hospitalar pode ser necessária quando o paciente


apresentar:

- Condições médicas ou psiquiátricas que exijam observação constante


(estados psicóticos graves, ideação suicida ou homicida, debilitação ou
abstinência grave) e complicações orgânicas devidas ao uso ou à
cessação do uso da droga.

- Dificuldade para cessar o uso de drogas, apesar dos esforços


terapêuticos.

- Ausência de adequado apoio psicossocial que possa facilitar o início da


abstinência.

- Necessidade de interromper uma situação externa que reforce o uso da


droga.

Os exames laboratoriais devem levar em consideração o tipo de droga


utilizado e os sintomas apresentados pelos pacientes. Alguns órgãos e
funções são mais tipicamente afetados pelo uso de substâncias e devem
fazer parte de uma rotina mínima de avaliação laboratorial. Em pacientes
que usam drogas injetáveis ou associadas a comportamento sexual de
risco está indicada a solicitação de anti-HIV, anti-HCV, anti-HBs, HbsAg e
VDRL. (Os tópicos sobre indicação de abstinência, Narcóticos Anônimos
e acompanhamento na APS já foram comentados em questões
anteriores.)

Fonte: Barreto, 2013.

Evolução

R.S.S. volta após 3 semanas, referindo que reduziu o uso das


substâncias. Nesta semana, não usou álcool nem cocaína, mas segue
usando a maconha, embora apenas um cigarro por dia. Durante as 3
semanas, usou cocaína em três ocasiões, e o álcool, não usou. Porém
queixa-se de humor depressivo, muita dificuldade em dormir e ansiedade.
Está com dificuldade de concentração também, mas percebe que já
economizou algum dinheiro, que seu nariz parou de sangrar, que ganhou
algum peso, e que aquelas crises de ansiedade intensas com medo de
morrer, diminuíram. Pede desculpa por ter faltado na data agendada, mas
na véspera tinha usado cocaína, e estava envergonhado de ir à consulta
nesta situação. Não trouxe os exames, mas diz que vai agendá-los. Conta
que foi apenas uma vez ao Narcóticos Anônimos (NA), isso há dois dias,
pois estava receoso. Mas relata que acabou achando muito interessante,
pois percebeu que existe gente em situação pior que ele. Ao mesmo
tempo, percebe que essas pessoas passaram pelo estágio em que ele
está, antes de ficarem piores do que ele. Acredita que pode se recuperar,
mas não está seguro.
Questão 6Escolha múltipla

Nesta situação você:

Explica que o período de abstinência já passou e que humor depressivo


e a ansiedade são sintomas de um transtorno primário e será necessário
tratá-los, prescrevendo fluoxetina 20mg/dia.

Estimula a manter suas idas ao Narcóticos Anônimos.

Parabeniza R.S.S. pelos resultados alcançados, mas questiona sua


motivação, já que faltou à consulta e mantem o uso da maconha.

Parabeniza R.S.S. pelos resultados alcançados, o estimula a continuar,


tentando motivá-lo a definir novas metas.

Explica a possibilidade de usar uma medicação para ajudar no sono


(benzodiazepínico), mas alerta sobre não abusar das dosagens, e que
será um uso temporário, ou prescreve outro tipo de medicação
(antialérgico – prometazina).

Explica que o humor depressivo e a ansiedade são frequentes nesse


período e que gostaria de revê-lo em mais uma semana, para melhor
avaliar se será necessário tratar a depressão e ansiedade, ou se são
sintomas do período de abstinência.

Explica que os sintomas de tristeza e de ansiedade fazem parte, e que


nunca se pode usar uma medicação para ajudar no sono
(benzodiazepínico), devido ao risco de dependência química, e prescreve
outro tipo de medicação (antialérgico – prometazina).

85 / 100 acerto

O abuso de benzodiazepínicos pode ser do tipo deliberado por pessoas


com dependência química, ou abuso por pessoas que iniciam o uso da
medicação por uma indicação terapêutica e acabam tornando esse uso
inapropriado. A dependência de benzodiazepínicos pode ser prevenida
pela adesão às recomendações para o curto prazo de prescrição (até 2 a
4 semanas, quando possível) e também por baixas doses. Além dos
benzodiazepínicos e antipsicóticos sedativos, outras medicações podem
ser usadas no tratamento da insônia. A prometazina não é propriamente
um psicofármaco, mas sim um anti-histamínico bloqueador dos
receptores H1. A apresentação é em comprimidos de 25 mg. A via oral é
bastante usada em psiquiatria para indução do sono, e a via
intramuscular para casos de agitação. Doses maiores que 50 mg têm
maior risco de efeitos adversos com baixa probabilidade de benefício.

Fonte: Mancini, 2013.


Objetivos do Caso

Caracterização dos transtornos por uso de álcool e drogas ilícitas no


âmbito da atenção primária à saúde e abordagem motivacional pela
técnica FRAMES.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical


Manual of Mental Disorders (DSM-5). Arlington, VA: American Psychiatric
Association, 2013. <http://www.dsm5.org/> . Acesso em : 2015.

BARRETO, V. et al. Dependência de álcool. In: GUSSO, G.; LOPES, J. M. C.


Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e
prática. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 1887-1896.

MANCINI, R. L.; VALIENGO, L. C. L. Psicofármacos. In: GUSSO, G.; LOPES,


J. M. C. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios,
formação e prática. Porto Alegre, Artmed, 2012. p. 1887-1896.

MILLER, W.; SANCHEZ, V. C. Motivating young adults for treatment and


lifestyle change. University of Notre Dame Press, 1993.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10 Classificação Estatística


Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10. rev.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997.
<http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm> . Cópia local Acesso
em : 2015.

SORDI, A. et al. Drogas: uso, abuso e dependência. In: DUNCAN, B.;


SCHIMIDT, M.; GIUGLIANI E. Medicina ambulatorial: condutas de atenção
primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p.
1162-1178.

Logo da Departamento de Medicina Social da UFPEL Logo da


Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde Logo do Ministério da
Saúde

Processamento de
materiais
A nova autoclave da UBS Esperança.

Publicado em 3 de Dezembro de 2012


Autores Ana Amália Pereira Torres, Norlai Alves Azevedo, Patrícia Tuerlinckx Noguez, Adriana Roese

Editores Anaclaudia Fassa e Luiz Augusto Facchini

Editores Associados Deisi Cardoso Soares, Teila Ceolin, Bárbara Heather Lutz, Marcelo Fernandes
Capilheira, Marília Leão Goettems, Luciana de Rezende Pinto
Você já respondeu todas as 7 questões deste caso.
Sua média de acertos final foi de 82,14%.
RECOMEÇAR

Introdução
Na UBS Esperança, J. L. M., técnica de enfermagem há 13 anos, se depara com um
novo aparelho que acabou de chegar para o processamento dos materiais da UBS, a
autoclave. Até então os materiais eram processados em Hipoclorito de Sódio a 1% e
estufa (Forno de Pauster).
Na referida UBS, costuma-se realizar procedimentos como curativos de pequena e
média complexidade, retirada de pontos cirúrgicos, drenagem de abscessos, suturas,
inalações e nebulizações, atendimento odontológico, ginecológico, entre outros.
J. L. M., preocupada com o novo equipamento, questiona a enfermeira S. V. P. e o
cirurgião-dentista V. C. B. sobre as características da autoclave e seu funcionamento.

Questão 1

Escolha múltipla

Para quais artigos é indicado o uso da


autoclave?
 Artigos destinados ao contato com a pele não-íntegra ou com mucosas íntegras.

 Artigos críticos termorresistentes.

 Artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente.

 Artigos destinados à penetração da pele e mucosas adjacentes, tecidos subepiteliais


e sistema vascular.
 

75 / 100 acerto
Os artigos destinados à penetração da pele e mucosas adjacentes, tecidos subepiteliais e
no sistema vascular, bem como todos os que estejam diretamente conectados com este
sistema são chamados de artigos críticos. Estes requerem esterilização para satisfazer os
objetivos a que se propõem (Brasil, 2001). Para a esterilização de todos os artigos
críticos termorresistentes, este é o método mais seguro e eficaz.
Os artigos destinados ao contato com a pele não-íntegra ou com mucosas íntegras
colonizadas são chamados de artigos semi-críticos e requerem desinfecção de médio ou
de alto nível, ou esterilização, para ter garantida a qualidade do múltiplo uso destes. Os
artigos classificados nesta categoria se forem termorresistentes, poderão ser submetidos
à autoclavagem, por facilidade operacional, eficácia e redução de custos, mesmo que a
esterilização não seja indicada para o fim a que se destina o artigo (Brasil, 2001).
Os artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente são chamados de artigos
não-críticos e requerem limpeza ou desinfecção (Brasil, 2001).

Saiba mais
Desinfecções

- Alto nível - destrói todos os microrganismos, com exceção dos de alto número de
esporos.
É indicada para artigos semicríticos como os de inaloterapia, terapia respiratória,
anestesia e endoscópios. O agente químico mais utilizado para estes artigos é o Ácido
Peracético.
No Brasil em face do surto de micobactéria, a ANVISA restringiu o uso de
glutaraldeído, pois uma das hipóteses considera a resistência deste microrganismo ao
produto, além disso, associam-se a este fator, os riscos ocupacionais a que os
profissionais de saúde estão expostos ao empregar a solução do glutaraldeído. Assim,
como alternativa ao uso deste, existe o Ácido peracético e o Ortophitalaldeído.
(SOBECC, 2013)

- Médio nível – elimina bactérias vegetativas, a maioria dos vírus, fungos e


micobactérias:
Hipoclorito de Sódio 1% - 30 minutos; Álcool 70%.

- Baixo nível – elimina a maioria das bactérias, alguns vírus e fungos, mas não elimina
micobactérias e não mata as bactérias esporuladas.
Hipoclorito de Sódio 0,025%.

* Ressalta-se a necessidade, como na maioria das soluções químicas, seu manuseio


exige equipamentos de proteção individual e ambientes ventilados, sendo evitado
contato,devido ao risco de intoxicação (ANVISA, 2008; ANVISA, 2007; RAMMÉ,
2011)

Questão 2Escolha simples

A autoclavagem é considerada que tipo


de método?
Método físico destinado à desinfecção.
Método químico destinado à esterilização.
Método físico-químico destinado à esterilização.
Método físico destinado à esterilização.
Método físico-químico destinado à desinfecção.
 

Acertou
A autoclavagem é um processo físico para a esterilização de materiais, podendo ocorrer
por gravidade, alto vácuo ou alto vácuo com ciclo pulsátil (Brasil, 1994).

Saiba mais
As práticas em saúde, constantemente, vêm sofrendo modificações, decorrentes da
demanda e da complexidade tecnológica. O processamento de materiais, acompanhando
as evoluções ocorridas, também é passível destas alterações. Cabe aos profissionais de
saúde estar em constante aprendizado em busca da qualificação da prática. Entre as
modificações ocorridas estão a não permissão de:
- utilização de estufas para esterilização de produtos para a saúde (Brasil, 2012);
Figura 2 – Estufa
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin
Figura 3 – Estufa aberta
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

- utilização de glutaraldeído para esterilização de materiais de assistência ventilatória e


inaloterapia (Brasil, 2008);
- utilização de papel Kraft, papel toalha, papel manilha, papel jornal e lâminas de
alumínio, assim como as embalagens tipo envelope de plástico transparente não
destinadas ao uso em equipamentos de esterilização como invólucros para materiais
esterilizados (Brasil, 2012).
O ácido peracético é a indicação para esterilização química e desinfecção de alto nível.
Por ser atóxico e processar os materiais, em tempos bem reduzidos, são indicados 30
minutos para esterilização e 10 minutos para desinfecção.
O processo de esterilização pode ocorrer por meios físicos (autoclave, radiação gama e
cobalto 60), químicos (ácido peracético e glutaraldeído, exceto inalatórios) e físico-
químicos (óxido de etileno e peróxido de hidrogênio) (Brasil, 1994; Brasil, 2001).
Figura 4 – Autoclave
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin
Figura 5 – Autoclave aberta
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

Questão 3Escolha simples


Em relação à temperatura que deve ser
programada na autoclave é correto
afirmar que:
O vapor saturado, ou seja, de temperatura equivalente ao ponto de ebulição da água, na
pressão considerada, é a temperatura certa para esterilizar materiais.
Os tempos, temperaturas e pressão das autoclaves deverão ser aquelas recomendadas
pelo fabricante.
As autoclaves são equipamentos que se utilizam de vapor saturado para realizarem o
processo de esterilização, assim não importa a temperatura, contanto que a mesma se
encontre acima de 140graus.
A temperatura ideal para que os materiais sejam esterilizados ficam entre 100 e 150º
graus.
 

Incorreto
Os tempos, temperaturas e pressão das autoclaves deverão ser aquelas recomendadas
pelo fabricante, pois tais autoclaves poderão ter ciclos para esterilização a vapor
(SOBECC, 2013).

Questão 4Escolha simples

Qual o invólucro indicado para


esterilização em autoclave?
Papel Grau cirúrgico
Saco plástico
Papel vegetal
Papel Kraft
Tecido de algodão simples
 

Acertou
Dentre os invólucros indicados para esterilização em autoclave, estão (SOBECC, 2013):

- tecido de algodão cru, duplo, com trama têxtil adequada;


- embalagem de papel grau cirúrgico;
- embalagem Não-tecido SMS (Spunbonded/Meltblown/Spunbonded).

Saiba mais
Conforme as Práticas recomendadas SOBECC (Sociedade Brasileira de Enfermeiros de
Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização), 2013,
dentre os tipos de embalagens, pode-se considerar:

 Campo duplo de algodão cru:


o permeável ao vapor;
o 140 fios/polegada = 56 fios/cm2 = 200g/m2;
o limpo
 Papel grau cirúrgico
o é um laminado com duas faces de papel (uso industrial) ou uma face de
papel e outra com filme transparente. Permeável ao vapor e óxido de
etileno;
o resistente a temperaturas de até 160º C;
o impermeável a microorganismos, oferecendo segurança ao material
esterilizado;
o validade de esterilização de acordo com as condições de estocagem e
integridade da embalagem;
o não pode ser reaproveitado porque torna-se impermeável ao agente
esterilizante após uma esterilização;
o o ar deve ser removido ao máximo da embalagem para evitar ruptura dos
pacotes por expansão do mesmo.
Figura 6 – Papel grau cirúrgico
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin
Figura 7 – Preparo do papel grau cirúrgico
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin
Figura 8 – Seladora
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

- Papel Kraft:

- o papel Kraft está em desuso devido à fragilidade e vulnerabilidade como barreira


microbiana após a esterilização, além da presença do amido, corante e outros produtos
tóxicos como o alquiltiofeno que podem se depositar sobre os artigos. Além disso,
apresenta irregularidades em sua gramatura, caracterizadas pela presença de microfuros.
Por estes motivos não é recomendado o uso desta embalagem (SOBECC, 2013).

Figura 9 – Papel Kraft


Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

Outras embalagens também podem ser utilizadas, especialmente na área hospitalar:

PAPEL CREPADO
Indicado para empacotamento de materiais a serem esterilizados em Autoclave a Vapor,
Óxido de Etileno ou por Radiação Gama (Rammé, 2011).
O papel crepado é:
- atóxico, biodegradável;
- composto de celulose tratada, resiste até 150º C por 1 hora;
- permeável ao vapor e óxido de etileno;
- é flexível, mas menos resistente à tração que o tecido e não tecido;
- funciona como barreira microbiana efetiva;
- guarda memória das dobras (Distrito Federal, 2000).
- Como desvantagem possui baixa resistência mecânica, podendo perder a barreira
microbiana com presença de furos ou rasgos (SOBECC, 2013).
Figura 10 – Papel crepado
Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

SMS NÃO-TECIDO ( Spunbonded/ Meltblown/ Spunbonded)


- O não tecido é uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu ou manta de
fibras ou filamentos, orientados direccionalmente ou ao acaso e consolidados por
processo mecânico (fricção), químico (adesão), térmico (coesão) ou por combinações
desses métodos;
- Barreira microbiana alta, atingindo em torno de 99% a 100%, sendo muito seguro;
- Alta permeabilidade aos agentes esterilizantes;
- Maleabilidade que permite a abertura asséptica dos pacotes;
- Indicado para embalar produtos de peso elevado, além de instrumentos pontiagudos,
pois sua resistência evita rasgos e furos;
- Baixo nível de desprendimento de fibras para o ambiente;
- Embalagem de uso único, não podendo ser reutilizada pela alteração da sua estrutura
que perde a função de barreira microbiana.

Figura 11 – SMS Não-Tecido


Fotos: Deisi Cardoso Soares e Teila Ceolin

Questão 5

Escolha múltipla

Em relação ao processamento de
materiais, assinale as afirmativas
corretas:
 A limpeza dos artigos deverá ocorrer de forma criteriosa com água corrente potável
e utilização de luvas de limpeza, não necessitando de detergente ou uso de escova.

 Em relação aos recursos humanos envolvidos no processamento de materiais,


deverão ser disponibilizados Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de acordo
com a função exercida e em número suficiente de forma que seja garantido o imediato
fornecimento ou reposição.

 Os profissionais envolvidos no processamento de materiais devem receber


capacitação antes do início das atividades e de forma continuada em assuntos
relacionados ao processo de trabalho.

 A secagem dos artigos objetiva evitar a interferência da umidade nos processos


posteriores.
 

100 / 100 acerto
Os profissionais deverão receber capacitação antes do início das atividades e de forma
continuada em assuntos relacionados ao processo de trabalho desenvolvido. Devem ser
abordadas na capacitação: controle de infecção, higienização das mãos, processos de
limpeza, desinfecção e esterilização, monitoramento do processo através de indicadores
(testes) (Brasil, 1994; Rio Grande do Sul, 2010).
A limpeza dos artigos deverá ocorrer de forma criteriosa com água corrente potável e
detergente, com auxílio de escovas de cerdas macias e utilização de luvas de limpeza e o
tempo para processamento (limpeza/desinfecção/esterilização) deverá ser respeitado,
sendo o estabelecimento obrigado a possuir materiais e equipamentos em quantidade
suficiente para atender a demanda (Brasil, 1994; Rio Grande do Sul, 2010).

Saiba mais
A imunização contra hepatite B, difteria e tétano (dT) deve ser realizada nos
profissionais que trabalham em locais de contato com objetos perfurocortantes (Brasil,
1994; Rio Grande do Sul, 2010).

Questão 6

Escolha múltipla

O monitoramento do processo de
esterilização nos serviços de saúde
deverá contemplar:
 Registros das falhas a cada esterilização

 Identificação visual dos pacotes com fita termossensível

 Testes biológicos registrados com periodicidade mínima bimestral.

 Testes biológicos registrados com periodicidade diária


 

100 / 100 acerto
O monitoramento do processo de esterilização deve contemplar (SOBECC, 2013):

- testes biológicos, diários, com Bacillus stearothermophylus, sempre na primeira carga


do dia e ao término de todas as manutenções realizadas, sejam elas preventivas ou
corretivas;
- identificação visual dos pacotes com fita termossensível, para assegurar que o pacote
passou pelo calor;
- registrar controles da pressão interna e externa das câmaras, da pressão negativa e
temperaturas a cada ciclo de esterilização, da temperatura interna e dos defeitos a cada
esterilização. Porém, a portaria 500, de 31 de agosto de 2010, traz outro dado quanto ao
tempo mínimo, mas valendo apenas ao estado do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE
DO SUL, 2010):

4.2. Nos serviços de interesse à saúde, o monitoramento do processo de esterilização


deverá contemplar:

- testes biológicos devidamente registrados diariamente;


-identificação visual dos pacotes com fita termossensível;
- registro das falhas a cada esterilização. (BRASIL, 2002)

Saiba mais
O indicador biológico é um sistema que contém suspensão de esporos do tipo Bacillus
stearothermophylus (autoclave). É uma preparação padronizada de esporos bacterianos
de modo a produzir suspensões contendo em torno de 106 esporos por unidade de papel
filtro. É o único meio capaz de assegurar que todas as condições de esterilização
estejam adequadas, pois os microrganismos são testados quanto ao seu crescimento ou
não, após a aplicação do processo (BRASIL, 2002).

Conforme as Práticas Recomendadas pela Sociedade Brasileira de Enfermeiros de


Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (2013) a
operação do Sistema de Controle Biológico em autoclave, deve seguir o seguinte fluxo:

1- Identificar nos espaços apropriados do rótulo do Indicador Biológico, o número da


carga, a data e o esterilizador;
2- Colocar esta ampola identificada no centro de um pacote de teste;
3- Processar o ciclo de acordo com a rotina da autoclave;
4- Retirar a ampola do pacote;
5- Incubar e fazer leitura de acordo com o tipo de teste; de leitura rápida-3horas ou 48
horas;
6- Registrar os resultados em formulário próprio;
7- Após leitura final, os Indicadores Biológicos utilizados deverão ser esterilizados em
autoclave a vapor e descartados em lixo comum.

Questão 7

Escolha múltipla
As superfícies que estiverem com
presença de matéria orgânica em áreas
críticas, semi-críticas e não-críticas
deverão sofrer processo de desinfecção
ou descontaminação localizada. Assim
pode-se afirmar que:
 A desinfecção deve iniciar com a retirada do excesso da carga contaminada em
papel absorvente ou panos para limpeza. Após, aplicar o desinfetante sobre a área
atingida e deixar o tempo adequado, removendo-o, posteriormente, com um pano
molhado.

 No processo de desinfecção não se faz necessário o uso de luvas, já no de


descontaminação seu uso é essencial.

 Após os processos de descontaminação e desinfecção é necessária a realização da


limpeza com água e sabão, com ou sem auxílio de máquinas, em toda a superfície

 Na descontaminação, deve ser aplicado o produto sobre a matéria orgânica e


esperar o tempo de ação deste. Após remover o conteúdo descontaminado com auxílio
de papel absorvente ou panos velhos.
 

100 / 100 acerto
Nestes procedimentos, deve-se usar os EPI necessários. O uso de luvas é necessário nos
casos de descontaminação e desinfecção, por se tratar de matéria orgânica.

Objetivo do caso
Discutir o processamento de materiais em Unidades Básicas de Saúde.

Referências
1. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGIL NCIA SANITÁRIA - ANVISA. Informe
técnico no 07/07: glutaraldeído em estabelecimentos de assistência à saúde:
fundamentos para a utilização. Brasília, DF: ANVISA, 2007.
2. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGIL NCIA SANITÁRIA - ANVISA. Nota
técnica – 08/08/2008. Assunto: micobactérias. Brasília, DF: ANVISA, 2008.
3. BRASIL. RDC nº 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre requisitos de boas
práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2012.
Seção 1, p. 43-
46. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0015_15_03_20
12....>  .  Cópia local Acesso em abril 2015.
4. BRASIL. RDC Nº. 50, de 21 de Fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos
físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 2002. nº. 54, Seção
1. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2002/res0050_21_02_2002
....>  .  Cópia local Acesso em abril 2015.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação de Controle de Infecção
Hospitalar. Processamento de artigos e superfícies em estabelecimentos de
saúde. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
1994. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/superficie.pdf>  .  Cópia
local Acesso em abril 2015.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Coordenação-
Geral das Unidades Hospitalares Próprias do Rio de Janeiro. Orientações gerais
para central de esterilização. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2001. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_gerais_central_
est...>  .  Cópia local Acesso em abril 2015.
7. DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.
Departamento de Recursos Médico-Assistenciais/FHDF. Central de material e
esterilização: manual técnico. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2000. <https://dms.ufpel.edu.br/static/bib/cme5571fc5549795991699705de.pdf
>  .  Cópia local Acesso em abril 2015.
8. RAMMÉ, Ana Luiza. Limpeza, desinfecção e esterilização de artigos como
medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à
saúde – IRAS. Porto Alegre: Centro Estadual de Vigilância em Saúde do RS,
2011. 63 slides. <https://cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201706/27135304-
1335381338-limpez...>  .  Cópia local
9. RIO GRANDE DO SUL. Portaria nº500/2010. Regulamento técnico para
processamento de artigos por método físico em estabelecimentos sujeitos à
Vigilância Sanitária no RS. Porto Alegre: Secretaria Estadual de Saúde, 2010.
12
p. <http://dms.ufpel.edu.br/ares/bitstream/handle/123456789/80/portaria_500_.
..>  .  Cópia local Acesso em abril 2015.
10. SOBECC - Associação Brasileira de Enfermeiros do Centro Cirúrgico,
Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização. Práticas
recomendadas SOBECC. 6. ed. São Paulo: Manole, 2013. Acesso em abril
2015.

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