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RESUMO
INTRODUÇÃO
Apesar de metáforas e analogias serem consideradas empobrecedoras da explicação e identificação
da produção científica, VIEGAS (1999:24-25) realiza interessante analogia entre o funcionamento
de um micro – adotando elementos da Teoria dos Sistemas (BERTALANFFY, 1975) – com a
forma de operação do cérebro humano. Assim, este funcionaria como um processador (intelecto)
onde se realiza a capacidade de pensar ou facilidade de processar conceitos e idéias (throughput),
provenientes das sensações (input) trabalhando com dois sistemas operacionais – sentimento e razão
– e, afinal, produzindo o conhecimento (output), cuja tipologia é definida pela conjugação desses
sistemas operacionais.
RAZÃO
FEEDBACK
FIGURA 1: Analogia sistêmica da formação do processo de conhecer.
RELIGIOSO CIENTÍFICO
IDEOLÓGICO FILOSÓFICO
Razão
Para simplificar ainda mais o entendimento sobre esses produtos das faculdades cognitivas do ser
humano, vê-se o QUADRO 1, adiante, dando ênfase aos elementos discriminantes que fazem as
diferenças entre cada tipologia de conhecimento:
ELEMENTO CONHECIMENTO
DISCRIMINANTE IDEOLÓGICO RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO
Como produto do conhecimento científico, ressalta-se a ciência, como o conhecimento das coisas
pelas suas causas, tendo por objeto exercitar a previsão e o controle sobre os fenômenos naturais e
sociais.
Abstraindo conceito de causas, hipóteses, leis e teorias, caminho percorrido pelo conhecimento
científico para gerar ciências, sejam factuais ou formais, interessa mais de perto agora examinar a
questão do método científico como elemento balizador para que a investigação humana seja
revestida de cientificidade.
O MÉTODO CIENTÍFICO
Há inúmeros conceitos sobre método científico. Para os fins deste trabalho, adota-se o de
ABBAGNANO (1970:640) por ser um dos mais restritos entre os de outros autores de renome,
voltado para o uso de técnicas de pesquisa, escopo do trabalho:
Mediante o método dedutivo, premissas verdadeiras levam sempre a conclusões verdadeiras, porque
a conclusão, de certa forma, já está nas premissas. Segundo VIEGAS (Op. Cit.:125), esse fato, que
poderia ser a garantia do método, vem a ser sua maior fraqueza, por sua tautologia. Em outras
palavras, partindo-se de premissas falsas particularizar-se-á um resultado ou conclusão falsa. Daí a
rejeição do método dedutivo pelos empiristas.
Já o método indutivo desenvolvido por BACON (1973, v. XIII) (1561-1626), segue o caminho
inverso da dedução: parte da experiência de casos particulares, percebe que esses casos se repetem
sempre da mesma forma e daí infere que o que se aplica aos casos particulares pode ser estendido a
todos os demais casos da mesma natureza, através de um processo de generalização e
universalização (Este cisne é branco, aquele outro também o é, assim como os N cisnes observados,
logo todos os cisnes são brancos).
No método indutivo, as conclusões são mais amplas que as premissas – dos casos observados se
passa para os casos não observados – portanto parece haver clara ampliação do conhecimento. Mas
isso, conforme VIEGAS (Op. Cit.:126), pode ser ilegítimo e denotar a maior falibilidade do
método. Na indução, de premissas verdadeiras só se podem tirar conclusões provavelmente
verdadeiras. Essa posição sofre contundente crítica de HUME (1973:Seção 4, Parte 2) para quem o
método indutivo seria uma petitio principii1 a partir de que a inferência indutiva não seria intuitiva
nem demonstrativa. Dizer que ela é experimental é incorrer numa petição de princípio porque
todas as inferências derivadas da experiência pressupõem que o futuro será semelhante ao passado
(...) Se há qualquer suspeita de que o curso da natureza possa mudar e que o passado talvez não
seja uma base para se ajuizar o futuro, toda experiência torna-se inútil e não pode dar margem a
qualquer inferência ou conclusão (HUME, Op. Cit.: Loc. Cit.).
A petição de princípio destacada por HUME pode ser expressa segundo a seguinte tautologia: tal
fenômeno vai acontecer no futuro pelo fato de ter acontecido no passado pois o que acontece no
passado acontecerá no futuro. Tal fato parece ser contraditório com a Teoria da Probabilidade, por
exemplo, onde apenas suposições são comprováveis, jamais fatos. O fato de uma moeda ter dado
cara em cinco lançamentos seguidos, não é garantia que, usando a mesma moeda, a mesma
superfície e até uma máquina que use o mesmo impulso, o mesmo evento se repetirá nos próximos
cinco lançamentos.
A questão sobre os métodos clássicos passou a oscilar entre dois pólos: a tautologia do método
dedutivo e o argumento circular do método indutivo, até que POPPER (1993:30-33 et 269-301
passim) afirmou que (...) partindo-se de uma observação da realidade, chega-se a uma abstração
por meio de um modelo lógico: é a fase dedutiva. A partir daí, na fase seguinte, o modelo é
submetido à comprovação empírica, facilitada pelas hipóteses emitidas sobre o fato. Nesse
contexto, o autor sugere um novo paradigma.
1
Ou argumento circular. O argumento é reassumido sob outra forma ou expressões, ocupando o lugar da conclusão,
como na afirmativa: menino de rua é pobre porque não trabalha – lógico, se trabalhasse não estaria na rua!
branco para que a firmação se torne falsa. E conclui DEMO (1989:145) afirmando que a assimetria
específica entre verificabilidade e falseabilidade consiste em que, para verificar-se uma teoria não
adianta acumular casos concretos afirmativos por deficiência congênita da indução, para falseá-la
basta o recurso a um único caso concreto negativo. No caso afirmativo o regresso ao infinito é
inevitável. No caso negativo, basta a presença de um só. A falseabilidade não recorre, pois, à
indução. Um cisne não-branco é suficiente para derrubar o enunciado todos os cisnes são brancos.
Para se retirar a falsidade de T é necessário (Modus Tollens, da lógica clássica) modificar a sentença
e assim retirar a falsidade da sua derivação P, com um novo enunciado: existem cisnes brancos e
não-brancos.
Conforme ASSIS (1994:3-8) as teorias científicas não são sugeridas pelos fatos, não vêm deles. São
produtos da livre imaginação humana. Depois de formuladas, devem passar por testes que visem
refutá-las. O sucesso em testes sucessivos marca a qualidade da teoria (consistência), o que não
quer dizer que ela é verdadeira, mas apenas melhor que as concorrentes.
Logo, a questão do método científico parece situar-se, pois, entre a tautologia do método dedutivo,
a ilegitimidade do método indutivo e a provisoriedade do método hipotético-dedutivo. Se assim não
fosse, a Teoria Geocêntrica de PTOLOMEU não teria sido falseada pela hipótese heliocêntrica de
KOPÉRNICO que foi comprovada pela obra de GALILEU, transformando-se em teoria; a física
ainda patinaria nas proposições newtoniano-euclidianas, falseadas pela Teoria da Relatividade de
EINSTEIN e esta posta em cheque pelos postulados da Física Quântica de que a luz ora se
apresenta sob forma de partícula, ora sob forma de onda.
INDUÇÃO DEDUÇÃO
SENTENÇA
PROPOSTA
DERIVADA HIPÓTESE
CISNE 1 É BRANCO TODOS OS CISNES SÃO
(branco) BRANCOS
CONCLUSÃO
ATRAVÉS DA É BRANCO
COMPARAÇÃO CISNE 2 MODUS
(branco) TOLLENS FALSIFICAÇÃO
TODOS OS
CISNES
SÃO
BRANCOS
CONHECIDOS
FATOS
É BRANCO DESCONHECIDOS
RESPOSTAS
ESTÍMULOS
ASSISTEMÁTICAS SISTEMÁTICAS
ASSISTEMÁTICOS INFORMAL Ø
FORMAL NÃO
SISTEMÁTICOS FORMAL ESTRUTURADO
ESTRUTURADO
Ao conjugar os três ambientes com as três possibilidades de respostas, obtém-se nove tipos distintos
de técnicas de levantamento, classificados como mostra, melhor observadas no QUADRO 3,
adiante:
RESPOSTAS
ESTÍMULOS
COMPORTAMENTAIS ESCRITAS VERBAIS
a) perguntas ambíguas de modo que as palavras devem ser entendidas pelo respondente da maneira
mais próxima ao sentido que o pesquisador quis dar a elas;
b) perguntas capciosas que induzem ou influenciam a resposta como, por exemplo, ao indagar se
você acha justo que...? Fica implícita a resposta que se quer ouvir;
c) perguntas duplas, utilizando e/ou, pois nunca se sabe a qual das partes a resposta ser refere;
d) perguntas técnicas ou de linguagem especializada, já que devem ser explicadas para que sejam
compreendidas e interpretadas univocamente pelo leigo;
O PROJETO DE PESQUISA
Como o próprio nome indica, um projeto de pesquisa deve contemplar passos metodológicos para
responder a uma dada indagação do pesquisador e assim direcionar suas ações. O pesquisador
deverá, em primeiro lugar, definir o problema e os objetivos da pesquisa, no dizer de KOTLER &
ARMSTRONG (1993:65), o passo mais difícil no processo de pesquisa. Definido o problema
passa-se ao desenvolvimento do plano ou projeto de pesquisa para a coleta de informações. Nessa
parte, dependendo dos objetivos pretendidos, o pesquisador deverá enquadrar a melhor tipologia a
ser aplicado – conhecendo a natureza dos estímulos e do ambiente – dentre as indicadas por
GALTUNG, em outra parte deste trabalho. Em seguida implementa-se o projeto com a coleta e
análise dos dados, para, finalmente, realizar a tabulação ou inferências estatísticas que irão
transformar os dados em informações significativas que irão gerar os resultados que se
corporificam em um relatório final.
Inúmeros autores defendem o enunciado de hipóteses de pesquisa como balizamento das fronteiras
do inquérito enquanto outros entendem que enunciar hipóteses partidas de um conhecimento apenas
racional e muitas vezes ideológico do problema, pode incentivar vieses e delimitar os objetivos da
pesquisa. Quer atendendo a uma ou a outra corrente, parece que um projeto de pesquisa deve ser
composto dos seguintes elementos:
Introdução: nessa parte, em cerca de 10% (dez por cento) do tamanho líquido do trabalho, o leitor
deve ser introduzido ao tema e verificar se ele é de seu interesse. Para tanto, resumidamente, a
Introdução deverá responder a quatro indagações básicas:
Por quê? Vale a pena se debruçar sobre o tema? Qual o interesse que ele desperta na
comunidade a que se dirige?
Onde? Até onde caminhou o estado da arte do tema pesquisado? Qual a contribuição do
eventual resultado da pesquisa no progresso do conhecimento e/ou da ciência?
Fundamentação: Toda pesquisa geralmente envolve um assunto sobre o qual outros cientistas,
acadêmicos e pesquisadores já se debruçaram. Como o saber não procede de geração espontânea
é prudente situar o referencial teórico no qual está se baseando o pesquisador.
Referencial para a pesquisa:
4.1 Definição das variáveis: a ciência não se constrói pela descrição racional dos fenômenos
naturais ou sociais. Assim, nesta parte, serão identificadas as variáveis a serem pesquisadas e suas
inter-relações e interdependência.
5.1 Determinação das fontes de dados: aonde será o fenômeno pesquisado; em que público.
Relatório de pesquisa
6.2 Tabulação dos dados: realização das inferências estatísticas para transformação dos dados
em informações significativas à solução do problema de pesquisa. Teste de hipóteses, se for o caso.
Conclusão: manifestação crítica sobre o resultado alcançado, podendo o pesquisador, nesta parte,
emitir juízos de valor pessoais e analíticos, inclusive indicando sua percepção para onde pode
caminhar o tema no futuro, fornecendo, se for o caso, pistas para a realização de pesquisas e
trabalhos complementares, também num espaço de, mais ou menos 10% (dez por cento) do
tamanho líquido do trabalho: da introdução à última página da referência bibliográfica.
Anexos: gráficos em geral (figuras, quadros, tabelas) e uma via do questionário virgem. Além
disso, qualquer outro elemento de pós-texto que não tenha sido enquadrado no texto.
Note-se que tanto os Anexos quanto a Bibliografia não recebem numeração como item do
sumário por serem elementos do pós-texto, conforme recomendação da ABNT.
BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
BACON, F. Novum organon. São Paulo: Abril, 1973. (“Os pensadores”, v.XIII).
BERTALANFFY, L.V. Teoria geral dos sistemas. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1975.
DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1989.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril, 1973. (Os
pensadores, v.XXII).
ASSIS, J. Para autor, marxismo estava longe da ciência. FOLHA DE SÃO PAULO, São
Paulo, 18 set. 1994, p.3-8.