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MÉTODO CIENTÍFICO E PROJETO DE PESQUISA

Carlos Rosano Peña

RESUMO

Neste trabalho realiza-se um ensaio embasado em pesquisa bibliográfica, sobre a questão da


deficiência dos métodos científicos tradicionais, cotejados com a nova proposta hipotético-dedutiva
popperiana; a formação do conhecimento científico; as técnicas de levantamento de dados e
indicações pragmáticas sobre a elaboração de um projeto de pesquisa, situando-se o tema
especialmente na área do marketing.

Palavras-chave: Conhecimento Científico – Indução – Dedução – Método Hipotético-Dedutivo


– Levantamento Dados – Pesquisa – Marketing.

INTRODUÇÃO
Apesar de metáforas e analogias serem consideradas empobrecedoras da explicação e identificação
da produção científica, VIEGAS (1999:24-25) realiza interessante analogia entre o funcionamento
de um micro – adotando elementos da Teoria dos Sistemas (BERTALANFFY, 1975) – com a
forma de operação do cérebro humano. Assim, este funcionaria como um processador (intelecto)
onde se realiza a capacidade de pensar ou facilidade de processar conceitos e idéias (throughput),
provenientes das sensações (input) trabalhando com dois sistemas operacionais – sentimento e razão
– e, afinal, produzindo o conhecimento (output), cuja tipologia é definida pela conjugação desses
sistemas operacionais.

Na FIGURA 1, adiante, esse esquema pode ser mais bem visualizado:


THROUGHPUT

INPUT SENTI- OUTPUT


SENSAÇÕES MENTO CONHECIMENTO

RAZÃO

FEEDBACK
FIGURA 1: Analogia sistêmica da formação do processo de conhecer.

Fonte: Adaptado de VIEGAS (Op. Cit.: 24-25).

Dependendo da importância e uso dos sistemas operacionais na criação do produto, o conhecimento


se apresentaria de quatro formas: Ideológico, com um mínimo de recurso à razão e ao sentimento;
religioso, um conhecimento que maximiza o sentimento e minimiza o uso da razão; filosófico, que
maximiza a razão e minimiza o sentimento e, finalmente, o conhecimento científico, derivado da
maximização do sentimento e da razão. Isto pode ser explicado em um plano cartesiano, no qual o
sentimento se situa no eixo das ordenadas e a razão, no das abscissas, conforme FIGURA 2,
adiante:
Sentimento

RELIGIOSO CIENTÍFICO

IDEOLÓGICO FILOSÓFICO

Razão

FIGURA 2: Tipologia do conhecimento em função das faculdades cognitivas


Fonte: VIEGAS (Op. Cit.:32).

Para simplificar ainda mais o entendimento sobre esses produtos das faculdades cognitivas do ser
humano, vê-se o QUADRO 1, adiante, dando ênfase aos elementos discriminantes que fazem as
diferenças entre cada tipologia de conhecimento:

ELEMENTO CONHECIMENTO
DISCRIMINANTE IDEOLÓGICO RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO

Fonte de conhecimento não racional inspiracional racional contingencial

Atitude mental básica justificação aceitação reflexão dúvida

Método de investigação assistemático sistemático sistemático sistemático

Tipo de apreciação valorativa valorativa valorativa factual (realística)

Posição frente ao erro infalível infalível infalível falível

Nível de exatidão inexato exato exato quase exato

Teste de consistência não verificável não verificável não verificável verificável

QUADRO 1: Discriminação entre as formas de conhecimento.


Fonte: VIEGAS (Op. Cit.:46).

Como produto do conhecimento científico, ressalta-se a ciência, como o conhecimento das coisas
pelas suas causas, tendo por objeto exercitar a previsão e o controle sobre os fenômenos naturais e
sociais.
Abstraindo conceito de causas, hipóteses, leis e teorias, caminho percorrido pelo conhecimento
científico para gerar ciências, sejam factuais ou formais, interessa mais de perto agora examinar a
questão do método científico como elemento balizador para que a investigação humana seja
revestida de cientificidade.

O MÉTODO CIENTÍFICO

Há inúmeros conceitos sobre método científico. Para os fins deste trabalho, adota-se o de
ABBAGNANO (1970:640) por ser um dos mais restritos entre os de outros autores de renome,
voltado para o uso de técnicas de pesquisa, escopo do trabalho:

Procedimento de investigação ordenado, repetível e auto-corrigível, que


garanta a obtenção de resultados válidos.

Tradicionalmente, na acepção de conjuntos de procedimentos lógicos em busca de um


conhecimento, são considerados dois tipos de método: dedutivo e indutivo. Chama-se de método ou
raciocínio dedutivos àquele que procede do geral para o particular, do princípio para a
conseqüência, percorrendo-se níveis de abstração de uma observação de um fenômeno geral,
buscando particularizá-lo. Desenvolvido inicialmente por ARISTÓTELES na antigüidade clássica,
foi revigorado por DESCARTES (1969) (1596-1650), na sua tentativa de refazer toda a estrutura
do pensamento reinante em sua época, na busca da construção de uma nova ciência, através do
processo da dúvida metódica e do reducionismo.

Mediante o método dedutivo, premissas verdadeiras levam sempre a conclusões verdadeiras, porque
a conclusão, de certa forma, já está nas premissas. Segundo VIEGAS (Op. Cit.:125), esse fato, que
poderia ser a garantia do método, vem a ser sua maior fraqueza, por sua tautologia. Em outras
palavras, partindo-se de premissas falsas particularizar-se-á um resultado ou conclusão falsa. Daí a
rejeição do método dedutivo pelos empiristas.

Já o método indutivo desenvolvido por BACON (1973, v. XIII) (1561-1626), segue o caminho
inverso da dedução: parte da experiência de casos particulares, percebe que esses casos se repetem
sempre da mesma forma e daí infere que o que se aplica aos casos particulares pode ser estendido a
todos os demais casos da mesma natureza, através de um processo de generalização e
universalização (Este cisne é branco, aquele outro também o é, assim como os N cisnes observados,
logo todos os cisnes são brancos).
No método indutivo, as conclusões são mais amplas que as premissas – dos casos observados se
passa para os casos não observados – portanto parece haver clara ampliação do conhecimento. Mas
isso, conforme VIEGAS (Op. Cit.:126), pode ser ilegítimo e denotar a maior falibilidade do
método. Na indução, de premissas verdadeiras só se podem tirar conclusões provavelmente
verdadeiras. Essa posição sofre contundente crítica de HUME (1973:Seção 4, Parte 2) para quem o
método indutivo seria uma petitio principii1 a partir de que a inferência indutiva não seria intuitiva
nem demonstrativa. Dizer que ela é experimental é incorrer numa petição de princípio porque
todas as inferências derivadas da experiência pressupõem que o futuro será semelhante ao passado
(...) Se há qualquer suspeita de que o curso da natureza possa mudar e que o passado talvez não
seja uma base para se ajuizar o futuro, toda experiência torna-se inútil e não pode dar margem a
qualquer inferência ou conclusão (HUME, Op. Cit.: Loc. Cit.).

A petição de princípio destacada por HUME pode ser expressa segundo a seguinte tautologia: tal
fenômeno vai acontecer no futuro pelo fato de ter acontecido no passado pois o que acontece no
passado acontecerá no futuro. Tal fato parece ser contraditório com a Teoria da Probabilidade, por
exemplo, onde apenas suposições são comprováveis, jamais fatos. O fato de uma moeda ter dado
cara em cinco lançamentos seguidos, não é garantia que, usando a mesma moeda, a mesma
superfície e até uma máquina que use o mesmo impulso, o mesmo evento se repetirá nos próximos
cinco lançamentos.

A questão sobre os métodos clássicos passou a oscilar entre dois pólos: a tautologia do método
dedutivo e o argumento circular do método indutivo, até que POPPER (1993:30-33 et 269-301
passim) afirmou que (...) partindo-se de uma observação da realidade, chega-se a uma abstração
por meio de um modelo lógico: é a fase dedutiva. A partir daí, na fase seguinte, o modelo é
submetido à comprovação empírica, facilitada pelas hipóteses emitidas sobre o fato. Nesse
contexto, o autor sugere um novo paradigma.

O MÉTODO HIPOTÉTICO – DEDUTIVO POPPERIANO


Para POPPER, a ciência não é um sistema de conceitos, mas, ao contrário, um sistema de
enunciados, levados ao critério de falseabilidade. Uma afirmação como todos os cisnes são
brancos, segundo VIEGAS (Op. Cit.:128-129), é falseável porque, embora não se possa
demonstrar que todos os cisnes possíveis, passados, presentes e futuros, existentes ou a existir, em
qualquer lugar do universo sejam brancos, pode-se, no entanto, encontrar um único cisne não-

1
Ou argumento circular. O argumento é reassumido sob outra forma ou expressões, ocupando o lugar da conclusão,
como na afirmativa: menino de rua é pobre porque não trabalha – lógico, se trabalhasse não estaria na rua!
branco para que a firmação se torne falsa. E conclui DEMO (1989:145) afirmando que a assimetria
específica entre verificabilidade e falseabilidade consiste em que, para verificar-se uma teoria não
adianta acumular casos concretos afirmativos por deficiência congênita da indução, para falseá-la
basta o recurso a um único caso concreto negativo. No caso afirmativo o regresso ao infinito é
inevitável. No caso negativo, basta a presença de um só. A falseabilidade não recorre, pois, à
indução. Um cisne não-branco é suficiente para derrubar o enunciado todos os cisnes são brancos.

Em cima dessas considerações, POPPER constrói um interessante silogismo, o qual denomina de


sentença proposta derivada, e pode assim ser descrito:

Se P é derivável de T, e se P é falsa, então também T é falsa. Em outras palavras, o modo de


falseamento de uma conclusão implica no falseamento do sistema do qual ela é derivada. Logo,
todos os cisnes são brancos é a proposição mais universal ao sistema (proposição T). Se todos os
cisnes são brancos, esse cisne é branco (proposição P, menos universal, derivada de T). Todavia, se
esse cisne não é branco, a proposição P é falsa; mas, como ela deriva de T, então T é falsa.

Para se retirar a falsidade de T é necessário (Modus Tollens, da lógica clássica) modificar a sentença
e assim retirar a falsidade da sua derivação P, com um novo enunciado: existem cisnes brancos e
não-brancos.

Conforme ASSIS (1994:3-8) as teorias científicas não são sugeridas pelos fatos, não vêm deles. São
produtos da livre imaginação humana. Depois de formuladas, devem passar por testes que visem
refutá-las. O sucesso em testes sucessivos marca a qualidade da teoria (consistência), o que não
quer dizer que ela é verdadeira, mas apenas melhor que as concorrentes.

Considerando, como já se viu, que o conhecimento científico é contingencial, verificável, quase


exato, ele caminha não por extensa comprovação mas pela refutação, colocando-se mais um tijolo
substituível na construção inacabável e inacabada que é a ciência (DEMO, op.cit.). Isto se aplica à
pesquisa científica, na medida em que teorias e hipóteses são constantemente levadas à evidência
empírica até que se sejam refutadas e outras venham ocupar seus lugares, até que se opere sua
falseabilidade.

Logo, a questão do método científico parece situar-se, pois, entre a tautologia do método dedutivo,
a ilegitimidade do método indutivo e a provisoriedade do método hipotético-dedutivo. Se assim não
fosse, a Teoria Geocêntrica de PTOLOMEU não teria sido falseada pela hipótese heliocêntrica de
KOPÉRNICO que foi comprovada pela obra de GALILEU, transformando-se em teoria; a física
ainda patinaria nas proposições newtoniano-euclidianas, falseadas pela Teoria da Relatividade de
EINSTEIN e esta posta em cheque pelos postulados da Física Quântica de que a luz ora se
apresenta sob forma de partícula, ora sob forma de onda.

Para um melhor entendimento sobre a Teoria de POPPER, ver a FIGURA 3, adiante:

INDUÇÃO DEDUÇÃO
SENTENÇA
PROPOSTA
DERIVADA HIPÓTESE
CISNE 1 É BRANCO TODOS OS CISNES SÃO
(branco) BRANCOS
CONCLUSÃO
ATRAVÉS DA É BRANCO
COMPARAÇÃO CISNE 2 MODUS
(branco) TOLLENS FALSIFICAÇÃO
TODOS OS
CISNES
SÃO
BRANCOS
CONHECIDOS
FATOS
É BRANCO DESCONHECIDOS

CISNE 3 FALSO NOVA HIPÓTESE


É BRANCO
(negro) CISNES SÃO
VERIFICAÇÃO BRANCOS OU
IMPOSSÍVEL CISNE 4 NEGROS (OU NÃO-
(branco) BRANCOS)

FIGURA 3: indução e dedução segundo POPPER.


Fonte: KUNZMAN, BURKARD & VIEDNANN (1995:228-229).

TÉCNICAS DE LEVANTAMENTO DE DADOS


São duas as questões ligadas às técnicas de levantamento de dados (pesquisa) para comprovação
das hipóteses: a classificação, vale dizer, as diversas ferramentas técnicas à disposição do
pesquisador; e a validade das inferências, ou seja, que grau de confiança pode-se ter na
interpretação dos dados. Quanto à primeira questão, há tipologias bastante satisfatórias do ponto de
vista epistemológico; no tocante à validade, a estatística ou, mais precisamente, a teoria da
amostragem, presta o suporte conveniente para testar uma hipótese – afirmação sobre um problema
de pesquisa – o cientista busca na natureza uma resposta capaz de confirmar ou rejeitar suas
suposições. Esse processo – dito de levantamento de dados – pode ser sistemático (um padrão
definido em função ou em decorrência do levantamento) ou pode não o ser, por serem aleatórios ou
assistemáticos.

Conjugando as divisões dicotômicas dos estímulos e das respostas, GALTUNG (1966:124-126)


estabeleceu a tipologia dos ambientes de levantamento de dados, classificando-os em três
categorias: informal, formal não estruturado e formal estruturado, como pode ser visto no
QUADRO 2, adiante:

RESPOSTAS
ESTÍMULOS
ASSISTEMÁTICAS SISTEMÁTICAS

ASSISTEMÁTICOS INFORMAL Ø

FORMAL NÃO
SISTEMÁTICOS FORMAL ESTRUTURADO
ESTRUTURADO

QUADRO 2: Tipologia dos ambientes de levantamento em função dos estímulos das


respostas.
Fonte: GALTUNG (1966:124, v.1).

a) No ambiente informal de levantamento, tanto o estímulo como as respostas são assistemáticas,


i.e., não existe padrão de relacionamento entre eles. Por exemplo, ao pesquisar o trânsito das
cidades, o pesquisador estará observando o que se passa em sua volta no tocante a fluxos,
velocidade, acidentes, ocorrências. Poderá registrar ou catalogar os dados, mas sem alterar seu
comportamento em relação ao trânsito e sem interferir nele. Tudo se passa à medida que os
acontecimentos vão se sucedendo.

b) Cria-se o ambiente formal não estruturado quando o pesquisador organiza os elementos do


estímulo, estabelecendo padrões conforme a natureza do objeto e a finalidade da pesquisa, à
espera das respostas. Esta deve ser aleatória e sem interferência do pesquisador. No caso do
pesquisador do trânsito ele pode colocar medidores de velocidade, controlar o fluxo em pontos
predefinidos em horários e dias escolhidos. Para o pesquisador, o trânsito é um dado da natureza
e os motoristas não sabem, nem precisam saber porque estão sendo analisados.

c) No ambiente formal estruturado, além de organizar o próprio comportamento em função do


objeto pesquisado, o pesquisador organiza a resposta segundo seu interesse, alterando o
comportamento dos pesquisados, modificando as condições do fluxo, através do uso de
policiamento, sinalizações, barreiras etc.

d) Na tipologia de GALTUNG, não existe a possibilidade de dar resposta sistemática a um


estímulo assistemático, pois seria um efeito maior que a causa, já que o estímulo provoca a
resposta. Se a causa não tem forma, essa não pode ocorrer no efeito.

Em função dessa primeira abordagem, GALTUNG (Op. Cit.:126), depois de definidos os


ambientes de pesquisa, observa que há três tipos de respostas possíveis: a exibição de um
comportamento pelo objeto estudado, assumido pelo pesquisador como resposta ao estímulo. A
resposta pode ainda ser um sinal escrito ou uma palavra ou sinal que a identifique.

Ao conjugar os três ambientes com as três possibilidades de respostas, obtém-se nove tipos distintos
de técnicas de levantamento, classificados como mostra, melhor observadas no QUADRO 3,
adiante:
RESPOSTAS
ESTÍMULOS
COMPORTAMENTAIS ESCRITAS VERBAIS

Informais OBSERVAÇÃO PESQUISA CONVERSAS,


PARTICIPANTE BIBLIOGRÁFICA DIÁLOGOS
DOCUMENTAL

Formais não OBSERVAÇÃO QUESTIONÁRIOS ENTREVISTAS


Estruturados SISTEMÁTICA COM PERGUNTAS COM PERGUNTAS
ABERTAS ABERTAS

Formais Estruturados TÉCNICAS QUESTIONÁRIOS ENTREVISTAS


EXPERIMENTAIS ESTRUTURADOS PRÉ-CODIFICADAS

QUADRO 3: Tipologia das técnicas de levantamento de dados em função dos ambientes


do levantamento e das pessoas.
Fonte: GALTUNG (Op. Cit.:126).

Considerando cada técnica em particular, deve-se levar em conta:

a) Atinente às técnicas de observação, na sistemática o pesquisador se mantém fora do objeto,


mantendo-se à distância dele, procurando não interferir no comportamento do pesquisado e,
sendo pessoas, evitando que elas saibam que estão sendo observadas. Já na observação
participante – usada costumeiramente em antropologia, em sociologia e jornalismo - o
pesquisador passa a viver como se fora um integrante do problema em estudo, chegando a
funcionar como um espião (MANN, 1975:96).

b) Nas técnicas experimentais o pesquisador interfere no objeto, modificando-o de maneira a


poder ser controlado segundo determinada expectativa do pesquisador.

c) Nos questionários e entrevistas, segundo BOWLEY (apud MANN, Op. Cit.:121), a


preocupação do pesquisador deve voltar-se para o teor das perguntas, observadas as seguintes
regras:

• pedir o mínimo necessário de informações;

• assegurar-se de que as perguntas podem ser respondidas;


• assegurar-se de que as perguntas podem ser respondidas honestamente;

• assegurar-se de que as perguntas podem ser respondidas e não recusadas;

VIEGAS (op. cit.:135-136) acresce as seguintes recomendações: evitar:

a) perguntas ambíguas de modo que as palavras devem ser entendidas pelo respondente da maneira
mais próxima ao sentido que o pesquisador quis dar a elas;

b) perguntas capciosas que induzem ou influenciam a resposta como, por exemplo, ao indagar se
você acha justo que...? Fica implícita a resposta que se quer ouvir;

c) perguntas duplas, utilizando e/ou, pois nunca se sabe a qual das partes a resposta ser refere;

d) perguntas técnicas ou de linguagem especializada, já que devem ser explicadas para que sejam
compreendidas e interpretadas univocamente pelo leigo;

e) perguntas emocionais, envolvendo questões relacionadas à intimidade das pessoas como as


concernentes ao comportamento moral, ético, sexual ou social, dificilmente são respondidas
com sinceridade.

O PROJETO DE PESQUISA
Como o próprio nome indica, um projeto de pesquisa deve contemplar passos metodológicos para
responder a uma dada indagação do pesquisador e assim direcionar suas ações. O pesquisador
deverá, em primeiro lugar, definir o problema e os objetivos da pesquisa, no dizer de KOTLER &
ARMSTRONG (1993:65), o passo mais difícil no processo de pesquisa. Definido o problema
passa-se ao desenvolvimento do plano ou projeto de pesquisa para a coleta de informações. Nessa
parte, dependendo dos objetivos pretendidos, o pesquisador deverá enquadrar a melhor tipologia a
ser aplicado – conhecendo a natureza dos estímulos e do ambiente – dentre as indicadas por
GALTUNG, em outra parte deste trabalho. Em seguida implementa-se o projeto com a coleta e
análise dos dados, para, finalmente, realizar a tabulação ou inferências estatísticas que irão
transformar os dados em informações significativas que irão gerar os resultados que se
corporificam em um relatório final.

Se se trata de uma pesquisa de mercado, os mesmos autores, acatando a mesma conceituação da


American Marketing Association, em 1987, procurar-se-á utilizá-la como um instrumento que liga o
consumidor, o cliente e o público ao profissional de marketing através da informação – utilizada
para identificar e definir oportunidades e problemas de marketing; para gerar, refinar e avaliar
atividades de marketing; para monitorar o desempenho de marketing da empresa; e para melhorar a
própria compreensão do processo de marketing (KOTLER & ARMSTRONG, Op. Cit.:64).

Nesse esforço, deverá estar implícita a questão da medição do comportamento do consumidor,


moto-propulsor da própria efetividade organizacional. Assim, deverão ser considerados fatores
como a pesquisa sobre a eficácia da propaganda; economia de negócios e pesquisa corporativa;
pesquisa de responsabilidade corporativa; pesquisa de produto; e pesquisa de vendas e de mercado
(stricto sensu).

Inúmeros autores defendem o enunciado de hipóteses de pesquisa como balizamento das fronteiras
do inquérito enquanto outros entendem que enunciar hipóteses partidas de um conhecimento apenas
racional e muitas vezes ideológico do problema, pode incentivar vieses e delimitar os objetivos da
pesquisa. Quer atendendo a uma ou a outra corrente, parece que um projeto de pesquisa deve ser
composto dos seguintes elementos:

Título da pesquisa (se colocado de foram indagativa e relacionando as variáveis a serem


pesquisadas na produção de determinado resultado, pode ser a própria definição do problema de
pesquisa).

Introdução: nessa parte, em cerca de 10% (dez por cento) do tamanho líquido do trabalho, o leitor
deve ser introduzido ao tema e verificar se ele é de seu interesse. Para tanto, resumidamente, a
Introdução deverá responder a quatro indagações básicas:

O quê? Qual o objetivo da pesquisa?

Por quê? Vale a pena se debruçar sobre o tema? Qual o interesse que ele desperta na
comunidade a que se dirige?

Onde? Até onde caminhou o estado da arte do tema pesquisado? Qual a contribuição do
eventual resultado da pesquisa no progresso do conhecimento e/ou da ciência?

Como? Um breve relato da metodologia utilizada.

Fundamentação: Toda pesquisa geralmente envolve um assunto sobre o qual outros cientistas,
acadêmicos e pesquisadores já se debruçaram. Como o saber não procede de geração espontânea
é prudente situar o referencial teórico no qual está se baseando o pesquisador.
Referencial para a pesquisa:

4.1 Definição das variáveis: a ciência não se constrói pela descrição racional dos fenômenos
naturais ou sociais. Assim, nesta parte, serão identificadas as variáveis a serem pesquisadas e suas
inter-relações e interdependência.

4.2 Definição do problema de pesquisa: já explicado anteriormente

4.3 Definição da Hipótese: conforme já ressaltado, opcionalmente o pesquisador emitirá a


Hipótese Nula (H0), uma afirmativa que pretende provar, à qual admite, dicotomicamente, uma
Hipótese Alternativa (H1).

Metodologia: como o próprio item indica, consubstancia a descrição da metodologia usada.

5.1 Determinação das fontes de dados: aonde será o fenômeno pesquisado; em que público.

5.2 Planejamento da pesquisa: cronograma físico ou físico-financeiro da realização da


pesquisa.

5.3 Delimitação do universo: se se trata de censo, amostragem, população finita ou infinita


etc.

5.4 Tipo de amostragem: definido que o levantamento se dará através de amostra de


populações, identificar o nível de confiança, o erro amostral e o split (valores de p e q).

Relatório de pesquisa

6.1 Análise individual das respostas ao instrumento da pesquisa

6.2 Tabulação dos dados: realização das inferências estatísticas para transformação dos dados
em informações significativas à solução do problema de pesquisa. Teste de hipóteses, se for o caso.

6.3 Conclusões do relatório de pesquisa: confirmação ou não da hipótese nula.

Conclusão: manifestação crítica sobre o resultado alcançado, podendo o pesquisador, nesta parte,
emitir juízos de valor pessoais e analíticos, inclusive indicando sua percepção para onde pode
caminhar o tema no futuro, fornecendo, se for o caso, pistas para a realização de pesquisas e
trabalhos complementares, também num espaço de, mais ou menos 10% (dez por cento) do
tamanho líquido do trabalho: da introdução à última página da referência bibliográfica.
Anexos: gráficos em geral (figuras, quadros, tabelas) e uma via do questionário virgem. Além
disso, qualquer outro elemento de pós-texto que não tenha sido enquadrado no texto.

Bibliografia: indicação das fontes bibliográficas referenciadas no texto.

Note-se que tanto os Anexos quanto a Bibliografia não recebem numeração como item do
sumário por serem elementos do pós-texto, conforme recomendação da ABNT.

BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

BACON, F. Novum organon. São Paulo: Abril, 1973. (“Os pensadores”, v.XIII).

BERTALANFFY, L.V. Teoria geral dos sistemas. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1975.

DEMO, P. Metodologia científica em ciências sociais. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1989.

DESCARTES, R. Discurso do método. Rio de Janeiro: Ediouro, 1969.

GALTUNG, J. Teoría y métodos de la investigación social. Buenos Aires: Universitaria,


1966.

HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril, 1973. (Os
pensadores, v.XXII).

KOTLER, P. & ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 5.ed. Rio de Janeiro: Prentice-


Hall, 1993.

KUNZMAN, P., BURKARD, F. P. & VIEDNANN, F. Atlas zur philosophia. 5. aufl.


München: Deutch Taschenbuch, 1995.

MANN, P. Métodos de investigação sociológica. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

ASSIS, J. Para autor, marxismo estava longe da ciência. FOLHA DE SÃO PAULO, São
Paulo, 18 set. 1994, p.3-8.

VIEGAS, W. Fundamentos de metodologia científica.Brasília: EdUnB/Paralelo 15, 1999.

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