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08/04/2020 As Categorias de Aristóteles - Contra os Acadêmicos

As Categorias de Aristóteles -
Contra os Acadêmicos
Por Paul Studtmann <pastudtmann@davidson.edu>

As Categorias, de Aristóteles <


http://contraosacademicos.com.br/listadeleituraaristoteles/> , é um
trabalho filosófico de importância singular. Ele não apenas apresenta a
espinha dorsal da teorização filosófica de seu autor, como influenciou sem
paralelos os sistemas de muitos dos maiores filósofos da tradição
ocidental. O conjunto de doutrinas contido nas Categorias, que a partir de
agora chamarei categorialismo, oferece a estrutura fundamental para uma
imensa variedade de investigações filosóficas realizadas por Aristóteles,
que vão desde as discussões sobre tempo e mudança na Física até a
ciência do ser enquanto ser na Metafísica < https://amzn.to/2DeGriX> ,
passando, inclusive, pela rejeição da ética platônica na Ética a Nicômaco <
https://amzn.to/2z2B7vV> . Se olharmos para além dessas obras, veremos
que o categorialismo chamou a atenção de filósofos bastante variados
como Plotino, Porfírio, Tomás de Aquino <
http://contraosacademicos.com.br/lista-de-leitura-ordenada-santo-tomas-
de-aquino/> , Descartes, Spinoza, Leibniz, Locke, Berkeley, Hume, Kant <
http://contraosacademicos.com.br/lista-de-leitura-ordenada-immanuel-
kant/> , Hegel < http://contraosacademicos.com.br/lista-de-leitura-
ordenada-georg-wilhelm-friedrich-hegel/> , Brentano e Heidegger (para
mencionar alguns), que de uma forma outra abraçaram, defenderam,
modificaram ou rejeitaram seus conteúdos centrais. Todos, cada um a seu
modo, pensaram ser necessário chegar a algum acordo com o sistema de
categorias aristotélico.

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Não há dúvidas de que o categorialismo inaugurado por Aristóteles já se


enraizou na psiquê filosófica. Ainda assim, apesar de sua vasta — e
merecida — influência, todas as tentativas de descrevê-lo encontram uma
dificuldade significativa: especialistas discordam sobre muitos de seus
aspectos mais importantes e fundamentais. Cada uma das seguintes
questões recebeu respostas profundamente distintas de estudiosos e
filósofos. O que as categorias classificam? Que teoria de predicação
fundamenta o esquema aristotélico? Qual é a relação entre o
categorialismo e o hilemorfismo, a outra grande teoria ontológica de
Aristóteles? Onde a matéria se encaixa, se ela se encaixa em algum lugar,
no esquema categórico? Quando Aristóteles escreveu as Categorias?
Aristóteles escreveu as Categorias? As listas encontradas nas Categorias
podem ser consideradas listas definitivas, ou ele modifica seus
entendimentos em algum outro lugar? A visão de Aristóteles sobre a
substância nas Categorias é consistente com sua visão sobre a substância
na Metafísica? Aristóteles usou algum método para gerar sua lista de
categorias? O categorialismo de Aristóteles é filosoficamente defensável
como um todo ou em partes? Se apenas em partes, qual parte do
categorialismo é filosoficamente defensável?

Dada a divergência entre as opiniões dos especialistas, mesmo sobre os


aspectos mais básicos das Categorias, é inevitável que uma tentativa
neutra de apresentar as posições mais básicas da obra seja vista como mal
direcionada, talvez bastante mal direcionada, por um ou outro estudioso.
Alguém poderia tentar contornar este problema comentando todas as
opiniões e debates sobre o assunto; mas este projeto seria incapaz de dar
vida aos elementos mais marcantes do categorialismo aristotélico. No que
segue, portanto, tomarei outra via. Primeiro, apresentarei uma
interpretação natural, embora bastante simplificada, das principais
estruturas do esquema categórico, fazendo interrupções de vez em
quando para denotar alguns pontos especialmente controversos. Depois

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partirei para a discussão de um debate importante, tanto para os


estudiosos como para os filósofos, sobre as categorias: se há ou não
algum procedimento sistemático pelo qual Aristóteles gerou sua famosa
lista. O debate é interessante por fazer parte de um dos mais
fundamentais tópicos metafísicos: qual é o sistema correto de categorias?
Não é minha intenção apresentar a interpretação correta das categorias
de Aristóteles, mas espero oferecer uma introdução útil ao conteúdo
desta obra tão fascinante.

1. A divisão quádrupla

As Categorias dividem-se em três partes distintas — que vieram a ser


conhecidas como Ante-Predicamentos (cap. 1-4), Predicamentos (cap. 5-9)
e Pós-Predicamentos (cap. 10-15). (Os títulos desta seção refletem o
tradicional título latino da obra, Predicamentos.) Nos Ante-Predicamentos,
Aristóteles discute algumas relações semânticas (1a1-16), oferece uma
divisão dos seres (τἃ ὄντα) em quatro classes (1a20-1b9) e então
apresenta sua lista canônica das dez categorias (1b25-2a4). Nos
Predicamentos, Aristóteles discute detalhadamente as categorias da
substância (2a12-4b19), quantidade (4b20-6a36), relação (6a37-8b24) e
qualidade (8b25-11a39), passando rapidamente pelas outras categorias
(11b1-14). Finalmente, nos Pós-Predicamentos ele discute alguns conceitos
relativos aos modos de oposição (11b15-14A25), prioridade e
simultaneidade (14a26-15a13) e movimento (15a14-15b-17), terminando
com uma breve discussão sobre o [sentido do] ter. Há uma discussão
considerável sobre estas três partes, se Aristóteles as compôs como um
único trabalho, e, se o fez, por que as três seriam necessárias para que o
trabalho formasse uma unidade. De qualquer maneira, geralmente se
aceita que no centro das Categorias existem dois sistemas de classificação:
um contido nos Ante-Predicamentos e outro nos Predicamentos.

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O primeiro sistema de classificação trata dos seres (τὰ ὄντα) (1a20). A


divisão começa por dois conceitos: (1) “afirmado-de” e (2) “presente-em”.
Todo ser, de acordo com Aristóteles, é ou afirmado de outro ou não é
afirmado de outro. Da mesma forma, todo ser está presente em outro ou
não está presente em outro. Porque essas noções são técnicas, poder-se-
ia esperar que Aristóteles as definiu em algum lugar. Infelizmente, ele não
define a relação afirmado-de, e sua definição da relação presente-em é
circular ou repousa sobre um conceito indefinido de ser-em. Ele diz: “por
‘presente em um sujeito’ quero dizer aquilo que está em alguma coisa,
não como parte, mas como o que não pode existir separadamente
daquilo em que ele está” (1a24-5). Note que a palavra “em” ocorre nessa
definição de “presente-em”. Assim, ou “em” significa o mesmo que
“presente-em”, o que levaria a uma definição circular, ou “em” exige ele
mesmo uma definição, que Aristóteles não fornece. Logo, o primeiro
sistema de classificação repousa em conceitos técnicos cuja caracterização
precisa não foi estabelecida em nenhum escrito aristotélico.

Apesar da falta de definições úteis, os estudiosos adotaram uma


caracterização razoavelmente simples, embora não incontroversa, desses
dois conceitos. A partir das ilustrações de Aristóteles, a maioria dos
estudiosos concluiu que os seres afirmados de outros são universais,
enquanto os não afirmados de outros são particulares. Seres presentes em
outros são acidentais, e os não presentes em outros são não-acidentais.
Ainda, seres universais não-acidentais  podem naturalmente ser descritos
como essenciais, enquanto a melhor descrição dos seres não-acidentais
particulares é simplesente não-acidentais. Se juntarmos estas
possibilidades, chegamos ao seguinte sistema quádruplo de classificação:
(1) universais acidentais; (2) universais essenciais; (3) particulares
acidentais; (4) particulares não-acidentais, ou aquilo que Aristóteles chama
de substâncias primeiras. Este sistema nos leva diretamente à própria
terminologia fornecida por Aristóteles em 1a20: (1) Afirmado-de e

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presente-em: universais acidentais; (2) Afirmado-de e não presente-em:


universais essenciais; (3) não afirmado-de e presente-em: particulares
acidentais; (4) não afirmado de e não presente-em: substâncias primeiras.
Uma breve discussão sobre cada uma dessas classes deve ser suficiente
para demonstrar suas características gerais.

1.1 Não a rmado-de e Não presente-em

O lugar mais importante nessa classificação, de acordo com Aristóteles,


pertence àquelas entidades que não são afirmadas-de nem presentes-em
alguma coisa. Tais entidades, diz Aristóteles, são substâncias primeiras
(2a11). Embora nas Categorias ele só forneça uma caracterização negativa
de substâncias primeiras — elas não são nem afirmadas-de nem
presentes-em — os exemplos apresentados nos permitem formar uma
concepção mais robusta do que provavelmente são as substâncias
primeiras. Seus exemplos favoritos são um cavalo e um homem individuais
(1a20, 2a11). Assim, é normal interpretar que ele pensava em substâncias
primeiras como particulares concretos que participam de espécies
naturais. Um dos tópicos mais controversos entre os estudiosos de
Aristóteles é o que discute se nas Categorias ele quis restringir a classe
das substâncias primeiras apenas a membros de espécies naturais. No
mínimo, ele parece pensar que membros de espécies naturais são casos
paradigmáticos que podem ser usados como exemplos.

Dada a interpretação acima sobre a relação afirmado-de e presente-em,


uma substância primeira é um particular não-acidental. Deve-se admitir
que é difícil descobrir exatamente o que significa dizer que um particular é
não-acidental. Dando ênfase ao fato de que substâncias primeiras não são
tipos de seres que poderiam ser acidentais, Aristóteles parece indicar,
primeiro, que elas não são predicados acidentais de nada, e, segundo, que
elas não são entidades que se manifestam temporariamente, se
caracterizam acidentalmente ou se unem de forma artificial, como

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Sócrates-sentado-em-uma-cadeira. Do mesmo modo, tratando-as como


não-afirmadas de alguma coisa, Aristóteles chama atenção ao fato de que
substâncias primeiras também não são predicadas de alguma coisa. Em
outras palavras, elas são unidades essenciais e impredicáveis. Além destas
poucas observações, entretanto, considerando as poucas informações
explícitas nos Ante-Predicamentos, é difícil dizer exatamente o que é uma
substância primeira. Mas isto, alguém pode argumentar, é perfeitamente
apropriado para uma entidade metafísica fundamental — nós podemos
dizer o que ela não é, e sendo ela uma entidade tão básica, nos falta
vocabulário para expressar de modo informativo o que ela é. De fato,
Aristóteles pensa que sustâncias primeiras são fundamentais a este nível,
já que, para ele, todas as outras entidades têm algum tipo de dependência
assimétrica em relação às substâncias primeiras (2a34-2b6).

1.2 Não a rmado-de e Presente-em

Se continuamos a entender as distinções entre afirmado-de e presente-


em assim como eu as caracterizei, também descobriremos que, para
Aristóteles, além de particulares substanciais, existem particulares
acidentais, ou o que agora podemos chamar de particulares não-
substanciais. O exemplo do filósofo para estas entidades é um fragmento
individual de conhecimento gramatical (1a25). Talvez um exemplo mais
intuitivo seja a brancura individual de um objeto. Se existem particulares
não-substanciais, então a brancura de Sócrates é um particular
numericamente distinto da brancura de Platão. Os metafísicos
contemporâneos costumam chamar tais entidades de “tropos”. Podemos
aceitar esta nomenclatura se tomarmos o cuidado de não confundir o
conteúdo dos escritos aristotélicos com as teorias mais contemporâneas
sobre os tropos. Em primeiro lugar, se Aristóteles aceita a existência de
particulares não-substanciais, ele certamente não pensa que eles possam
existir separadamente de substâncias primeiras — de fato, a interpretação
mais comum sobre este ponto é a de que ele pensava que os particulares

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não-substanciais eram entidades dependentes, individualizadas apenas


em relação às substâncias primeiras em que elas estão presentes. Logo, a
brancura de Sócrates não pode existir sem Sócrates. Além disso, pensar
nessas entidades como se elas formassem uma relação primitiva de
semelhança mútua vai um pouco longe do pensamento aristotélico. De
qualquer maneira, se essa interpretação está correta, então Aristóteles
aceitou aquilo que é apropriadamente chamado de “propriedades
particularizadas”.

1.3 A rmado-de e Não presente-em

Voltando àqueles seres que não estão presentes-em outros. Aristóteles


pensa que, além das substâncias primeiras, que são particulares, existem
substâncias secundárias, que são universais (2a11-a18). O exemplo que ele
utiliza é “homem” (1a21), que, de acordo com a interpretação presente, é
um universal na categoria da substância. Se aceitarmos mais uma vez as
distinções apresentadas, deveremos interpretar as substâncias segundas
como características essenciais de substâncias primeiras. E mais: porque as
substâncias primeiras parecem ser membros de espécies naturais, é
normal interpretar substâncias secundárias como as espécies às quais
pertencem as substâncias primeiras. Se é isto o que ocorre, então
Aristóteles não apenas pensa que substâncias primeiras são membros de
espécies naturais, mas que elas são essencialmente caracterizadas pelas
espécies às quais pertencem.

1.4 A rmado-de e Presente-em

Finalmente, um ser é simultaneamente afirmado-de e presente-em uma


substância primeira se ele é um universal acidental. O exemplo de
Aristóteles para esta classe de entidades é o conhecimento; porém, mais
uma vez, “brancura” é um exemplo mais intuitivo. O universal brancura é
afirmado de muitas substâncias primeiras, mas em relação a elas é apenas
um acidente.
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1.5 Um debate recente

O modo como caracterizei os conceitos de afirmado-de e presente-em é,


como foi dito, natural e relativamente simples. Além disso, foi de longe a
forma ortodoxa de interpretação dos estudiosos medievais de Aristóteles.
Eu estaria sendo negligente, entretanto, se não mencionasse o recente
debate inaugurado por G.E.L. Owen <
https://en.wikipedia.org/wiki/G._E._L._Owen> sobre a distinção entre
afirmado-de/presente-em (Owen, 1965a). De acordo com Owen,
Aristóteles não aceitou a existência de particulares não-substanciais. Ao
invés disso, argumenta Owen, um ser que não é afirmado-de mas está
presente-em substâncias primeiras é um universal acidental da menor
generalidade possível. Assim, Owen nega que a distinção afirmado-
de/não afirmado-de tenha algo a ver com universais e particulares. Não
pretendo discutir a interpretação de Owen, mas devo dizer que ela
chamou bastante atenção dos estudiosos. O leitor interessado pode
encontrar a discussão desses problemas aqui: Supplement on
Nonsubstantial Particulars for Aristotle Metaphysics <
https://plato.stanford.edu/entries/aristotle-metaphysics/supp1.html>

2. A divisão decupla

2.1 Discussão geral

Depois de estabelecer seu primeiro sistema de classificação, Aristóteles se


volta às categorias e apresenta um segundo sistema,que rouba sua
atenção por quase todo o restante da obra. Aristóteles divide o que ele
chama ta legomena (τἃ λεγόμενα), isto é, coisas que são ditas, em dez
espécies distintas (1b25). Coisas que são ditas, de acordo com o filósofo,
são palavras (De Int 16a3), então é natural interpretar seu segundo
sistema como uma classificação de palavras. E porque a palavra
“categoria”, em inglês*, vem da palavra grega para predicado, pode-se
pensar no segundo sistema de classificação como um sistema de

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diferentes tipos de predicados linguísticos. Existe, no entanto, um debate


considerável sobre ele.

Há três razões para pensar que Aristóteles não está primariamente


interessado em palavras, mas nos objetos do mundo a que elas
correspondem. Primeiro, a locução ta legomena cria  uma ambiguidade
entre “coisas ditas” — que podem ou não ser palavras — e “coisas de que
se diz” — que mais naturalmente são reconhecidas como as coisas que as
palavras significam. Segundo, os exemplos aristotélicos de coisas que
pertencem às categorias são normalmente extra-linguísticos: substâncias,
para ele, são um cavalo e um homem individuais. Terceiro, Aristóteles
explicitamente aceita uma doutrina segundo a qual palavras significam
conceitos convencionados, e conceitos significam objetos do mundo (De
Int 16a3). Assim, mesmo se ele estiver de algum modo classificando
palavras, devemos pensar nesta classificação tendo em mente os objetos
do mundo às quais as palavras correspondem.

Os estudiosos não satisfeitos com a interpretação linguística do segundo


sistema tomaram direções bastante distintas. Alguns pensam que
Aristóteles classificou conceitos. No entanto, as objeções levantadas
contra a interpretação linguística também podem ser usadas contra a
própria interpretação de conceito. Outros estudiosos afirmam que
Aristóteles classificou a realidade extra-linguística e extra-conceitual.
Finalmente, alguns sintetizaram as interpretações linguísticas e extra-
linguísticas afirmando que as classificações se referem a predicados
linguísticos enquanto eles se relacionam com o mundo em significados
semânticos. Embora eu pense que esta última interpretação suporte mais
satisfatoriamente um escrutínio textual, o caráter geral do segundo
sistema será mais facilmente enxergado se focarmos na interpretação
extra-linguística. Assim, no que segue, simplificarei o assunto explicando o
segundo sistema de classificação como se ele fosse direcionado à

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realidade extra-linguística. Mas não deixarei de chamar atenção para os


aspectos que enfrentam dificuldades interpretativas.

O que é, enfim, o segundo sistema de classificação? De forma simples, é


uma lista dos gêneros mais altos, que também são conhecidos como
categorias. Podemos justificar a existência de gêneros mais altos (ou,
talvez, de apenas um gênero suficientemente alto) com o fato de que os
objetos comuns da experiência se encaixam em classes de generalidade
ascendente. Imagine, por exemplo, um cedro. Em primeiro lugar, um
cedro pertence a uma classe de árvores que só inclui cedros. No entanto,
como também uma árvore, pertence a uma classificação ainda mais ampla
que a classe dos cedros. Prosseguindo, um cedro é também um ser vivo, o
que o faz pertencer a uma classe de coisas muito mais extensa que a
classe das árvores, e assim por diante. Uma vez delineado este padrão,
podemos formular as seguintes perguntas: o aumento de generalidade vai
até o infinito ou ele cessa em algum gênero, que é o mais geral possível?
Ele cessa, em outras palavras, em um gênero supremo?

Pode parecer que a resposta é óbvia: é claro que existe um gênero


supremo — o ser. Ora, pode-se argumentar que tudo existe. Então o
gênero que contém tudo e apenas seres deve ser o gênero com a maior
extensão possível. Na Metafísica, entretanto, Aristóteles afirma que o ser
não é um gênero (998b23, 1059b31). De acordo com ele, todo gênero
deve ser distinguido por alguma diferença que escapa ao próprio gênero.
Logo, se o ser fosse um gênero, ele deveria ser distinguido por uma
diferença externa. Em outras palavras, o ser deveria ser diferenciado por
algum não-ser, o que, de acordo com Aristóteles, é um absurdo
metafísico. Embora ele não faça declaração tão explícita, o argumento
aristotélico, se for convincente, pode ser estendido a qualquer proposta
de um único gênero supremo. Logo, Aristóteles não pensa que exista um
único gênero supremo. Ao invés disso, ele propõe dez: (1) substância; (2)
quantidade; (3) qualidade; (4) relação; (5) lugar; (6) tempo; (7)
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posição; (8) estado ou condição; (9) ação; (10) paixão (1b25-2a4).


Mais à frente discutirei em detalhes os quatro primeiros. Mas fazê-lo nos
levará a questões que, sejam embora interessantes, acabarão por nos
distrair da natureza geral do esquema. Por isso, primeiro discutirei
algumas das estruturas gerais inerentes ao segundo sistema de
classificação, então realizarei uma discussão mais detalhada.

Além de estabelecer os dez gêneros mais altos, Aristóteles também


explicou algo das suas estruturas. Cada gênero é decomposto em
espécies por um número de diferenciadores. Na verdade, a essência de
qualquer espécie, de acordo com Aristóteles, consiste em seu gênero mais
a diferença; esta diferença mais o gênero define a espécie. (É por isso que
os gêneros mais altos são, estritamente falando, indefiníveis — porque
não existe um gênero superior aos citados, então não poderíamos defini-
los em termos de gênero e diferença). Algumas das espécies de certas
categorias são também gêneros — são, em outras palavras, diferenciados
em outras espécies. No entanto, há uma espécie tão específica que não
pode mais ser diferenciada. Abaixo dessas espécies, podemos supor, estão
os particulares que pertencem àquelas espécies.

Ora, se aceitarmos aquela classificação de afirmado-de e presente-em que


eu forneci, veremos que os dois sistemas de classificação podem, por
assim dizer, ser colocados um em cima do outro. A estrutura resultante
seria algo parecido com isto:

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Vale a pena comentar alguns aspectos desse sistema. Primeiro, como eu já


havia dito, Aristóteles dá suma importância nesse esquema às substâncias
primeiras. Ele diz que, se não existissem substâncias primeiras, nenhuma
outra entidade existiria (2b6). Como resultado, o categorialismo de
Aristóteles é decididamente anti-platônico. Enquanto para Platão o
abstrato é mais real do que os particulares materiais, para Aristóteles os
particulares materiais são o alicerce ontológico: substâncias primeiras são
mais reais do que qualquer outra coisa; Sócrates e um cavalo são as
entidades mais reais na visão de mundo aristotélica. Ademais, Aristóteles
diz que entre as substâncias secundárias as menos gerais são “anteriores”
àquelas com maior grau de generalidade (2b7): o ser-humano, por
exemplo, é “anterior em substância” em relação ao corpo. Agora, se
devemos interpretar essa informação em termos de maior ou menor
realidade, não podemos responder. De qualquer maneira, a proposta de
que a generalidade é diretamente proporcional à substancialidade tem
um espírito fortemente anti-platônico.

Antes de entrar em detalhes, ainda vale a pena apontar outro aspecto


geral desse esquema. A rejeição do ser como gênero e sua subsequente
aceitação de dez diferentes gêneros supremos caminha em direção a uma
doutrina central contida na Metafísica. (Deve-se ter em mente, no entanto,
que existe uma discussão genuína sobre até que ponto Aristóteles aceitou
a doutrina do ser contida na Metafísica quando escreveu as Categorias).
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De acordo com o filósofo, algumas palavras não expressam um gênero. É


o que ele chama homônimos pros hen, isto é, homônimos relativos a uma
coisa (pros hen), às vezes chamados, na literatura sobre o assunto, casos
de “significação focal”, “conexão focal” ou “homônimos de dependência
central”(1003a35 e ss.).[1] São termos aplicáveis àquelas coisas que
possuem certo tipo de relação com outra coisa ou tipo de coisa. Um
exemplo desses homônimos, de acordo com Aristóteles, é “saudável”.
Uma dieta, ele diz, é saudável porque produz saúde, urina é saudável
porque indica saúde e Sócrates é saudável porque possui saúde. Nesse
caso, dieta, urina e Sócrates são todos chamados “saudáveis”, não porque
estão incluídos no mesmo gênero — das coisas saudáveis —, mas porque
todos estão relacionados com a saúde. De forma semelhante, ainda de
acordo com Aristóteles, as coisas do mundo não são seres porque
pertencem todas a um único gênero — o ser —, mas porque todas estão
relacionadas com o ser primeiro, que ele chama, nas Categorias, de
substância. Isto explica em parte por que na Metafísica se diz que antes
do ser é preciso estudar a substância (1004a32, 1028a10-1028b8).

2.2 Discussão em detalhes

Deve-se admitir, penso eu, que falando de forma abstrata, a estrutura dos
esquemas classificatórios de Aristóteles tem uma certa beleza. Contudo, o
sistema começa a causar estranheza quando a lista dos gêneros supremos
passa por um escrutínio. Algumas das categorias são naturais, mas outras
não parecem tão naturais assim. Como resultado, filósofos têm proposto
mudanças na lista, argumentando que várias categorias deveriam ser
eliminadas. Estudiosos já sugeriram que as categorias de Aristóteles não
são apenas gêneros supremos, mas representações de relações complexas
entre palavras e diferentes aspectos do mundo. Uma breve discussão das
quatro primeiras categorias, que são as únicas largamente discutidas por
Aristóteles, deve mostrar o que há de interessante na lista, assim como em
algumas de suas peculiaridades.
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2.2.1 Substância

A categoria mais fundamental é a substância. Já vimos que, de acordo


com Aristóteles, as substâncias dividem-se entre substâncias primeiras e
substâncias secundárias. Embora o filósofo não discuta os diferentes tipos
de substâncias secundárias nas Categorias, ele sugere diversas vezes ao
longo de toda a sua obra que estas substâncias devem ser divididas em
pelo menos quatro classes (DA 412a17, 413a21, 414a35, Meta. 1069a30,
NE 1098a4):

Substância

Substâncias Imóveis — Motor(es) Imóvel(is)

Substâncias Móveis — Corpos


Substâncias Móveis incorruptíveis — Céus

Substâncias Móveis Corruptíveis — Corpos Sub-lunares


Substâncias Móveis Corruptíveis Inanimadas — Elementos

Substâncias Móveis Corruptíveis Animadas — Coisas Vivas


Incapazes de Percepção — Plantas

Capazes de Percepção — Animais


Irracionais — Animais Inumanos

Racionais — Humanos

Esta hierarquia de gênero/espécie está longe de ser absoluta — os


escritos biológicos de Aristóteles contêm uma taxonomia bastante rica de
animais que não se encaixam muito bem nas divisões de animais
“racionais” e “irracionais” — mas ela ilustra muito bem a estrutura geral
das categorias. As espécies mais baixas nessa taxonomia são superadas
por classes de generalidade ascendente até que a maior delas, a
substância, seja atingida. Além disso, há algo de intuitivo na ideia de que
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membros de espécies naturais sejam um tipo de entidade fundamental, e,


sendo assim, é natural que exista um sistema de classes de generalidade
ascendente que comporta cada uma dessas entidades em seus devidos
lugares. Certamente alguém poderia pensar que alguma classe supera a
substância. Mas não está claro, se não for o ser, ou alguma classe geral
coisas, que classe seria. E como eu disse anteriormente, Aristóteles rejeita
a ideia de que o ser é um gênero. E seria muito difícil enxergar a
relevância de coisa se coisa não for apenas outra palavra para substância.

2.2.2 Quantidade

Na obra, a segunda categoria discutida por Aristóteles é quantidade.


Aristóteles faz, na verdade, duas divisões de quantidade em seu capítulo
específico. Mas, para bem ilustrar sua natureza geral, discutir apenas a
primeira divisão deve bastar. De acordo com Aristóteles, quantidade
divide-se em quantidades contínuas e discretas; as contínuas dividem-se
em linha, superfície, corpo, tempo e lugar; as discretas em número e
discurso (4b20-23). Logo, temos a seguinte estrutura gênero/espécie:

Quantidade

Quantidade Contínuas
Linha

Superfície

Corpo

Tempo

Espaço

Quantidade Discretas
Número

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Discurso

Assim como substância, quantidade parece ser um candidato razoável de


gênero supremo — quantidades existem; quantidades não são
substâncias; substâncias não são quantidades; e não está claro qual
gênero superaria a quantidade. Assim, parece que fazer da quantidade um
gênero supremo foi uma decisão bem fundamentada. Mas o tratamento
dado por Aristóteles a esta categoria levanta algumas dificuldades.

Talvez a questão mais interessante esteja ligada ao fato de que algumas


espécies de quantidade sejam, na verdade, coisas quantificadas ao invés
de quantidades em si. Imagine, por exemplo, corpo. No sentido mais
comum, “corpo” significa “corpos”, que não são quantidades, mas coisas
com quantidades. O mesmo é válido para linha, superfície, lugar e, talvez,
discurso. Claro, existem quantidades naturalmente associadas com
algumas dessas espécies. Por exemplo, comprimento, altura e
profundidade são associados com linha, corpo e superfície. Mas
Aristóteles não lista aqueles itens como espécies de quantidade. Assim,
em primeiro lugar, podemos perguntar: Aristóteles quis que a divisão da
Quantidade fosse uma divisão de quantidades ou coisas quantificadas?

As dificuldades envolvendo as espécies de quantidade podem ser melhor


precisadas se considerarmos que, em vários momentos, Aristóteles parece
acreditar que corpo é um tipo de substância (Top. 130b2, DC 2681-3, DA
434B12, Meta. 1089a31, 1069b38). Como eu havia afirmado acima na
estrutura gênero-espécie da categoria da substância, corpo é uma das
duas espécies imediatamente incluídas abaixo da substância. Ainda assim,
corpo aparece como espécie de Quantidade Contínua. A dificuldade
cresce porque, para Aristóteles, nenhuma espécie pode estar ao mesmo
tempo dentro e fora da categoria de substância — em alguma outra
categoria acidental. Ele acredita que espécies de substâncias são
afirmadas de substâncias primeiras, enquanto espécies de outras
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categorias são não afirmadas de substâncias primeiras. Logo, qualquer


espécie que pudesse estar nas categorias de substância e em alguma
outra categoria acidental seria ao mesmo tempo afirmada-de e não
afirmada-de substâncias primeiras. A lista de espécies da Categoria da
Quantidade, portanto, não é apenas intrigante, como parece mostrar uma
contradição no pensamento de Aristóteles. Assim, surge uma segunda
questão sobre essa categoria: como pode corpo ser ao mesmo tempo
espécie da categoria da quantidade e da categoria da substância?

Muitas outras questões sobre a Quantidade poderiam ser formuladas. Por


exemplo, a exposição da quantidade contida na Metafísica inclui certas
espécies ausentes nas Categorias (Meta. 1020a7-34), o que levanta
perguntas sobre até que ponto as doutrinas das Categorias são coerentes
com seus outros trabalhos de física e metafísica. Além disso, surgem
questões sobre a visão de Aristóteles quanto à natureza de algumas
espécies de quantidade, como a espécie dos números. Ele certamente não
pensa que os números existam separadamente do mundo material. Mas,
então, o que exatamente são os números para ele? Tudo o que a obra nos
diz é que o número é uma quantidade discreta. Mas esta resposta não nos
ajuda muito a compreender o que Aristóteles tinha em mente. Além disso,
por que Aristóteles classifica o discurso como espécie de quantidade?
Discurso não parece ser um candidato muito natural para esta categoria.
Talvez Aristóteles estivesse pensando nas quantidades de vogais e sílabas
das palavras gregas. Mas, se for assim, discurso estaria mais para um som
verbal do que para uma afecção. Cada uma dessas questões é
interessante e merece atenção. Contudo, não pretendo oferecer nenhuma
resposta aqui. Apenas espero ter ilustrado quão profundamente
intrigante, e ao mesmo tempo difícil, é dominar as Categorias.

2.2.3 Relação

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Depois da quantidade, Aristóteles discute a categoria da relação, que


interpretativamente e filosoficamente levanta ainda mais questões do que
a categoria da quantidade. Um filósofo contemporâneo pode pensar que
essa categoria trata daquilo que atualmente chamamos de “relações”.[1]
Mas é errado pensar assim. O nome da categoria é ta pros ti (τὰ πρός τι),
que significa literalmente “para alguma coisa”. Em outras palavras,
Aristóteles não parece estar classificando meras relações, mas coisas que
só são “para outras”. Entretanto, parece que, para Aristóteles, as coisas são
“para outras” na medida em que um predicado relativo for aplicável. Ele
diz: algo é dito “relativo” se, como tal, é dependente de alguma coisa ou,
se não, é de alguma forma referente a alguma outra coisa. Assim, por
exemplo, o maior, como tal, é dito de alguma outra coisa, pois dizemos
que uma coisa é maior que outra (6a36).

Talvez a leitura mais simples deste ponto seja a seguinte. Aristóteles notou
que certos predicados na linguagem são logicamente incompletos — eles
não são utilizados em sentenças simples de sujeito/predicado como “a é
F”, mas exigem algum tipo de complementação. “Três é maior” é uma
frase incompleta — para completá-la, deveríamos informar do que três é
maior. Todavia, Aristóteles aceitava a doutrina segundo a qual
propriedades sempre inerem um único sujeito. Em outras palavras,
embora contemplasse predicados relativos, Aristóteles não aceitava
relações como um tipo genuíno de entidade. Assim, a categoria da relação
é uma espécie de meio-termo entre o lado linguístico das relações,
chamados predicados relativos, e o lado ontológico, as relações em si
mesmas.

Para os nosso objetivos, não precisamos determinar a melhor maneira de


interpretar a teoria aristotélica da relação, mas podemos passar por
alguns problemas que a visão do filósofo traz. Primeiro, qualquer pessoa
confortável com propriedades relativas irá, sem dúvidas, achar a exposição
de Aristóteles um pouco confusa. Embora Aristóteles discuta questões
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importantes sobre predicados relativos, como, por exemplo, o fato de que


predicados relativos envolvem um tipo de referência recíproca (6b28), seu
sustentáculo fundamental — de acordo com o qual todas as propriedades
do mundo são não-relativas — parecerá fora de curva. Segundo, a
categoria da relação levanta problemas interpretativos, em particular o
problema sobre o que exatamente seu esquema categórico está
classificando. Assim como no caso da quantidade, Aristóteles parece focar
nas coisas que fazem relações, não nas relações em si mesmas. Isto é
evidente pelo próprio nome da categoria.[2]

Este último fato, de que na discussão sobre a relação Aristóteles parece


focado nas coisas relativas e não nas relações em si, dificulta o
estabelecimento daquela caracterização simples das categorias que eu
discuti anteriormente — de que cada categoria é um tipo distinto de
entidade extra-linguística. Se aquela caracterização fosse correta,
Aristóteles deveria aceitar algum tipo de entidade correspondente à
relação como um gênero supremo. Mas ele não o faz. Logo, é tentador
imaginar que ele estava apenas realizando classificações linguísticas. E
talvez ele pense que o mundo contenha apenas alguns tipos básicos de
entidades, e que diferentes tipos de predicados são aplicáveis ao mundo
em virtude de relações semânticas complexas válidas somente àqueles
tipos de entidade. Como se vê, muitos comentadores o interpretaram
exatamente desta maneira. Mas essas interpretações encaram suas
próprias dificuldades. Para apontar apenas uma, podemos perguntar:
quais são as entidades básicas do mundo senão aquelas classificadas nas
categorias? Talvez exista uma maneira de responder a esta questão com
base nos escritos aristotélicos, mas os textos não são muito claros neste
ponto. Assim, mais uma vez somos forçados a admitir quão difícil é
dominar completamente a obra de Aristóteles.

2.2.4 Qualidade

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Depois da relação, Aristóteles discute a categoria da qualidade.


Diferentemente de quantidade e relação, qualidade não apresenta
nenhuma dificuldade aparente para a interpretação segundo a qual as
Categorias classificam tipos básicos de entidades. Aristóteles divide
qualidade da seguinte maneira (8b25-10a11):

Qualidade
Hábitos e Disposições

Capacidades e Incapacidades Naturais

Qualidades Afetivas e Afecções

Figura

Cada uma dessas espécies lembra um tipo de entidade extra-linguística, e


nenhuma delas parece ser espécie de outra categoria. Qualquer
dificuldade diante do tratamento aristotélico sobre a qualidade surgirá em
razão das divisões feitas, se são ou não apropriadas, e não se categoria se
estende para outras interpretações do esquema categórico. Entretanto,
como quase tudo o que envolve o esquema de Aristóteles, as divisões da
qualidade foram duramente criticadas. J.L. Ackrill <
https://en.wikipedia.org/wiki/J._L._Ackrill> , por exemplo, diz o seguinte:

Ele [Aristóteles] não fornece argumentos especiais para demonstrar


que [hábitos e disposições] são qualidades, nem apresenta critérios
para decidir se uma determinada qualidade é ou não [hábito ou
disposição]. Por que, por exemplo, qualidades afetivas deveriam ser
tratadas como se integrassem uma classe distinta da classe dos
[hábitos e disposições]?” (Ackrill, 1963).

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Ackrill pensa que a divisão aristotélica da qualidade é, no melhor dos


casos, infundada. E parece que ele ainda está sendo educado.
Montgomery Furth diz: “Vou deixar de lado questões como… a lógica (se
há uma) usada para compreender essa horda monstruosa que é a
Qualidade…” (Furth, 1988).

Deve-se admitir: a lista aristotélica das espécies de qualidade é um pouco


estranha à primeira vista. Por que, por exemplo, deveríamos
imediatamente considerar quaisquer qualidades alguma das espécies
listadas? De fato, quando Aristóteles lista essas espécies, não demonstra
seguir seu procedimento usual, demonstrando as diferenças. Se existem
diferenças, deveríamos esperar que hábitos e disposições, por exemplo,
pudessem ser classificados como uma ou outra qualidade. O mesmo
deveria ser verdadeiro para as outras. Mas Aristóteles não apresenta essas
diferenças, e é difícil descobrir quais são. Para evidenciar esta dificuldade,
pode-se simplesmente perguntar: que diferença específica define a figura?

Para ser justo, a categoria da qualidade tem seus defensores. Na verdade,


alguns desses defensores chegaram a fazer um tipo de dedução das
espécies de qualidade a partir de vários princípios metafísicos. Tomás de
Aquino, por exemplo, diz o seguinte na sua Summa Theologiae:

O modo de determinação do sujeito como ser acidental será feito ou


segundo a natureza do sujeito, ou segundo a ação e a paixão resultantes de
seus princípios naturais, que são a matéria e a forma, ou segundo a
quantidade. Se tomarmos o modo ou determinação do sujeito segundo a
quantidade, obteremos a quarta espécie de qualidade. E porque quantidade,
considerada em si mesma, não contém movimento e não implica as noções
de bem e mal, também não se aplica à quarta espécie de qualidade a
disposição boa ou má, assim como mutabilidade rápida ou lenta.

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Mas o modo de determinação do sujeito segundo a ação ou a paixão leva à


segunda e à terceira espécie de qualidade. E, portanto, em ambas levamos
em conta se algo é feito de forma fácil ou difícil, se é transitório ou
duradouro. Mas, nelas, não consideramos nada relativamente às noções de
bem e mal, porque movimentos e paixões não possuem a noção de fim, e
bom e mau são ditos em virtude de um fim.

Por outro lado, o modo de determinação do sujeito segundo sua natureza


pertence à primeira espécie de qualidade, que é hábito e disposição. Pois diz
o Filósofo (Phys. VII, text. 17), tratando de hábitos da alma e do corpo, que
são “disposições do que é perfeito para o que é ótimo; e por perfeito quero
dizer aquilo que é disposto segundo sua própria natureza”. E como a forma
em si mesma e a natureza de alguma coisa é o fim e a causa por que algo é
feito (Phys. II, text. 25), na primeira espécie consideramos tanto o bem
quanto o mal, e também a mutabilidade, se é fácil ou difícil, considerando o
que em certa natureza é o fim da geração e o movimento. (Tomás de
Aquino, Summa Theologiae, I-II, Q. 49, Art. 2).

Aquino parece ver as espécies da categoria da qualidade como


desdobramentos naturais de alguns princípios metafísicos básicos. Claro, a
plausibilidade da derivação de Aquino de até que ponto Aristóteles
aceitava os princípios utilizados. Este também é um tópico bastante rico e
importante, mas não a ponto de prolongá-lo por mais tempo.

Pode parecer estranho citar Tomás de Aquino nessa extensão em um


artigo voltado às categorias de Aristóteles, mas eu o fiz por duas razões.
Primeiro, como ilustraram Ackrill e Furth, o esquema de Aristóteles foi
duramente criticado por estudiosos e filósofos como eles. Os comentários
de Aquino sobre qualidade, no entanto, mostram que em mãos de um
intérprete verdadeiramente talentoso — e certamente não existiu
intérprete mais capaz do que Aquino — muitas das críticas são
respondidas. Segundo, e mais importante, a atenção que Aquino dá à
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categoria da qualidade indica um dos fatos mais notáveis das categorias


de Aristóteles: sua profunda importância histórica no desenvolvimento da
especulação metafísica. Pouco importa se alguns filósofos concordam ou
discordam do esquema categórico de Aristóteles. Como instrumento, seu
categorialismo tem um papel fundamental: há milênios é o ponto de
partida de um bom número de investigações metafísicas, comparável
apenas com o surgimento do quantificador na metafísica do século XX.
Seja ou não o quantificador objeto de grande interesse filosófico, é difícil
imaginar sua ausência na metafísica analítica daquele século. Assim,
considerando que importa à história da filosofia analisar a influência
exercida pelas ideias no caminhar das gerações, vale a pena estudar o
esquema categórico de Aristóteles por conta não apenas das suas
doutrinas, mas em razão tanto do interesse demonstrado pelos mais
diversos filósofos quanto das filosofias que estes filósofos produziram
impulsionados pelo esquema.

Depois da qualidade, Aristóteles discute as outras categorias de forma


bastante esparsa. Ele faz alguns comentários sobre as categorias da ação e
da paixão (11b1) e discute brevemente uma das categorias mais
esquisitas, a categoria do estado ou condição.

O essencial da discussão restante, conhecida como Pós-Predicamentos,


concentra-se em conceitos envolvendo oposição, anterioridade,
posterioridade, simultaneidade e mudança. Embora esta parte da obra
seja interessante, não está muito claro se ela integra algum dos esquemas
classificatórios de Aristóteles. Ademais, há discussões realizadas na
Metafísica que tratam dos mesmos assuntos e substituem as discussões
realizadas nas Categorias. Portanto, ao invés de discutir os Pós-
Predicamentos em detalhe, voltarei-me agora a um tópico de interesse
fundamental, filosófica e interpretativamente falando: como Aristóteles
chegou à sua lista de categorias?

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3. De onde vieram as Categorias?

O problema envolvendo a origem das categorias surge com a questão


mais difícil que há para qualquer posição filosófica: por que ela é
verdadeira? Em outras palavras, por que deveríamos pensar que a lista
aristotélica dos gêneros supremos contém todos e apenas os mais altos
gêneros existentes?

Alguém poderia, é claro, rejeitar a ideia de que existam gêneros


metafisicamente privilegiados. Mas aqui é importante distinguir, entre as
questões que envolvem sistemas de categorias, a internas e as externas.
Uma abordagem externa leva inevitavelmente a questões sobre as
condições de qualquer sistema de categorias. Neste sentido, poderíamos
perguntar a cada um deles se dependem da inteligência, da língua, de
esquemas conceituais etc. Realistas responderão negativamente, e
idealistas de uma ou outra estirpe responderão de forma positiva. Ainda
poderíamos perguntar sobre nosso acesso epistêmico às categorias
supremas, e adotaríamos posições que vão desde um ceticismo radical até
uma espécie de acessibilidade infalível.

Se, por outro lado, abordamos as categorias de um ponto de vista interno,


assumiremos alguma resposta para as questões externas e, depois, com
base nessas respostas, questionaremos a veracidade de um determinado
sistema. Assim, por exemplo, poderíamos adotar a perspectiva realista e
aceitar que de fato existe uma lista privilegiada de gêneros metafísicos
supremos, independentes da mente e da linguagem e que se relacionam
entre si. E poderíamos, com base nisso, determinar o conteúdo desta lista.
Aristóteles certamente pertence a esta tradição especulativa: ele não
chega a defender a postura realista, mas a assume verdadeira ao analisar
as estruturas metafísicas do mundo. Portanto, é apropriado acompanhar
seu realismo para definir quais categorias existem.

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Um modo de abordar esta questão é perguntar se Aristóteles desenvolveu


sua lista com base em um procedimento principiológico. Porque, se o fez,
pode-se presumir que alguém conseguiria avaliar sua lista estudando tal
procedimento. Infelizmente, com exceção de algumas anotações
sugestivas nos Tópicos, Aristóteles não indica como chegou a gerar o
esquema. Sem possuir o procedimento utilizado, as categorias
provavelmente se justificam. O problema claramente se complica com o
fato de que a lista pode ser justificada sem um procedimento — talvez
possamos usar uma combinação de intuição metafísica e argumentação
filosófica para nos convencer de que a lista aristotélica é verdadeira. A
falta de uma técnica, todavia, faz a lista parecer fraca Do ponto de vista
histórico, a ausência de justificação foi fonte de muitas críticas famosas.
Kant, por exemplo, um pouco antes de formular seu próprio esquema de
categorias, escreve:

Foi uma empreitada digna de um pensador perspicaz como Aristóteles


tentar descobrir estes conceitos fundamentais; mas, como ele não se guiava
por um princípio, simplesmente os escolheu como vinham à cabeça, e
chegou a dez, que chamou categorias ou predicamentos. Depois, ele pensou
ter descoberto mais cinco, aos quais deu o nome de pós-predicamentos. Mas
sua tábua permaneceu imperfeita… (Kant, Critique of Pure Reason,
Transcendental Doctrine of Elements, Second Part, First Division, Book I,
Chapter 1, Section 3, 10).

De acordo com Kant, a lista aristotélica foi o resultado de um


assistemático, embora brilhante e um pouco filosófico, ajuntamento de
ideias. Logo, não poderia se firmar como um sistema de categorias
correto.

Mesmo que Kant desconheça qualquer método pelo qual Aristóteles


possa ter desenvolvido sua lista, muitos estudiosos propuseram soluções,
que podem ser classificadas em quatro espécies. Assim as chamo: (1)
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Abordagem dos questionamentos; (2) Abordagem gramatical; (3)


Abordagem modal; (4) Abordagem medieval de derivação.

J.L. Ackrill (1963) é o defensor mais proeminente da abordagem dos


questionamentos. Suas evidências se baseiam numa interpretação do que
Aristóteles escreveu em Tópicos, I, 9. Ackril afirma que há dois modos de
gerar as categorias, e cada um envolve uma série de questionamentos. De
acordo com o primeiro método, devemos perguntar — o que é isto? —
para o maior número de coisas possíveis. Assim, por exemplo, podemos
perguntar de Sócrates: o que é Sócrates? E responderíamos: Sócrates é
humano. Podemos perguntar o mesmo à resposta: o que é um humano? E
responderíamos: é um animal. Eventualmente, este processo nos levaria a
um gênero supremo, que, neste caso, seria a Substância. Se, por outro
lado, perguntássemos a mesma coisa, desta vez nos referindo à cor de
Sócrates (a brancura), chegaríamos, em algum momento, ao gênero
supremo da qualidade. Cumprido até o fim, afirma Ackrill, este
procedimento levaria a dez gêneros diferentes e irredutíveis, que
correspondem às categorias de Aristóteles. De acordo com o segundo
método de questionamento, devemos realizar quantas perguntas
diferentes forem possíveis sobre uma substância primeira. Por exemplo,
devemos perguntar: quão alto é Sócrates? Onde está Sócrates? O que é
Sócrates? Ao que responderíamos: cinco pés; na Ágora; humano. Então
perceberíamos que nossas respostas se agrupam em dez gêneros
irredutíveis.

De todas as propostas dos estudiosos, a de Ackrill é a que os textos


aristotélicos melhor suportam, embora as evidências citadas estejam
longe de serem conclusivas. Mas do ponto de vista filosófico o método de
questionamento sofre problemas bastante sérios. Primeiro, não é nem um
pouco evidente qual método de fato gera a lista de Aristóteles. Suponha,
por exemplo, que eu adote o segundo método e pergunte: Sócrates gosta
de Platão? A resposta, deixe-me dizer, é “sim”. Mas onde ela se encaixaria
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no sistema de categorias? Talvez Ackrill diga que não se devem fazer


perguntas respondíveis com “sim” ou “não”. De qualquer maneira,
poderíamos perguntar: Sócrates está presente-em ou não presente-em
alguma outra coisa? A resposta, obviamente, é não presente-em; mas a
que categoria pertence “não presente-em”? É difícil dizer. Problemas
similares afetam o primeiro método. Suponha que eu pergunte: o que é a
brancura de Sócrates? Eu responderia dizendo “um particular”. Mais uma
vez, a que categoria pertence “um particular”? Claro, particulares são parte
do sistema quádruplo de classificação proposto por Aristóteles. Mas, aqui,
não estamos analisando este esquema. De fato, referenciar aquele
esquema neste contexto é simplesmente retomar a questão das relações
entre os maiores sistemas de classificação contidos nas Categorias.

Mesmo que Ackrill pudesse encontrar um caminho plausível de questões


que levasse às categorias aristotélicas, os métodos que ele propõe
parecem insatisfatórios, principalmente porque dependem sobremaneira
do modo como estamos inclinados a questionar. Pode ser que as
perguntas formuladas levem àquelas categorias, mas o que precisamos
mesmo saber é se estamos fazendo as perguntas corretas. A menos que
confiemos plenamente nas nossas questões, acreditando que elas estejam
atingindo as estruturas metafísicas do mundo, não deveríamos nos
impressionar com o fato de que elas levam a um conjunto qualquer de
categorias. Porém, saber se nossas questões estão atingindo as estruturas
metafísicas do mundo requer a posse de um algo que estabeleça a
adequação do esquema categórico. Obviamente, estamos num círculo
pequeno demais para prestar auxílio. Talvez toda teoria metafísica seja
circular em algum nível; mas círculos deste tamanho costumam ser
inaceitáveis para um estudioso da metafísica.

De acordo com a abordagem gramatical, que começa com Trendelenburg


(1846) e mais recentemente foi defendida por Micahel Baumer (1993),
Aristóteles desenvolveu sua lista com base nas estruturas inerentes da
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linguagem. Assumindo que a estrutura metafísica do mundo espelha a


linguagem, deveríamos, a partir disso, conseguir encontrar as estruturas
metafísicas básicas. Esta abordagem é um pouco complicada, mas
podemos ilustrá-la com alguns exemplos. A distinção entre substância e
as outras categorias, por exemplo, é construída a partir da estrutura
sujeito-predicado da nossa linguagem. Considere as seguintes sentenças:
(1) Sócrates é um humano e (2) Sócrates é branco. Primeiro, notamos que
cada sentença contém um sujeito: Sócrates. Este sujeito, pode-se pensar,
corresponde a alguma entidade de alguma espécie: uma sustância
primeira. Além disso, a primeira sentença contém algo que pode ser
chamado “predicado individualizado” — é um predicado do tipo “isto é
um x”, não “isto é x”. Assim, pode-se pensar que existem predicados
atribuídos a substâncias primeiras que, sozinhos, preenchem o necessário
para que a substância seja classificada como indivíduo de alguma espécie.
Por outro lado, a segunda sentença contém um predicado não
individualizado. Deste modo, examinar em detalhes os predicados da
linguagem nos fornece boas bases para distinguir entre a categoria da
substância e as demais categorias acidentais.

A abordagem gramatical certamente tem suas virtudes. Primeiro, há


amplas evidências de que Aristóteles percebia a linguagem e suas
estruturas inerentes. Não é tão surpreendente assim o fato de que ele
poderia ter levado essa sensibilidade linguística para a lista de categorias.
Ademais, algumas das peculiaridades da lista podem ser explicadas
através dessa abordagem. Dois dos gêneros supremos são a ação e a
paixão. Em Física III, 3, entretanto, Aristóteles afirma que no mundo há
apenas movimento, e que só se distingue a ação da paixão pelo modo
como se considera o movimento. Então por que deveriam existir duas
categorias, ação e paixão, ao invés de apenas uma, movimento? Bem, a
abordagem gramatical oferece uma explicação: na linguagem, nós

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diferenciamos verbos ativos de passivos. Logo, existem duas categorias


distintas, não apenas uma.

Apesar dessas virtudes, a abordagem gramatical leva a uma questão


muito difícil: por que pensar que as estruturas encontradas na linguagem
refletem as estruturas do mundo? Ora, pode muito bem ser um acidente
histórico o fato de que a nossa linguagem contém predicados
individualizados e não individualizados. Do mesmo modo, pode ser que  a
existência, na linguagem, de verbos ativos e passivos seja um acidente
histórico . É claro que este tipo de objeção, quando forçada até seus
limites, leva a uma das mais complicadas questões filosóficas: como
podemos ter certeza de que as estruturas das nossas representações
estão relacionadas com o que alguns podem chamar de “estruturas
metafísicas básicas” e com o que outros podem chamar de “coisas em si
mesmas”? Mas ainda não podemos perder a esperança de encontrar uma
justificação ao esquema categórico que não esteja completamente
fundamentada em alguma correspondência profunda entre estruturas
metafísicas e linguísticas.

A abordagem modal, traçada até Bonitz (1853), e que mais recentemente


tem sido defendida por Julius Moravscik (1967), evita os defeitos das duas
abordagens anteriores. Como afirma Moravscik, as categorias são tipos de
entidade às quais qualquer particular sensível deve estar relacionado. Ele
diz:

De acordo com essa interpretação, o princípio constitutivo da lista de


categorias é o de que elas constituem aquelas classes de coisas com as
quais qualquer particular sensível — substancial ou não — se relaciona.
Qualquer particular sensível, substância, evento, som, etc. deve estar
relacionado a alguma substância; deve conter alguma qualidade e alguma
quantidade; deve ter propriedades relativas, deve estar relacionado a
tempos e lugares; e deve estar contido em uma teia de leis e correntes
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causais, portanto, relacionado às categorias do que afeta e do que é


afetado.

Em virtude dessa natureza explícita, a Abordagem Modal evita os defeitos


das duas abordagens anteriores. Elas se apoiam em alguma conexão entre
as estruturas metafísicas e o que parecem ser elementos contingentes,
como questionamentos inclinados e estruturas inerentes à linguagem.
Mas a Abordagem Modal elimina todas as contingências.

Apesar do caráter explícito, esta abordagem enfrenta uma dificuldade


muito parecida com aquela encarada pela Abordagem dos
Questionamentos. Pode ser que a abordagem reproduza exatamente a
lista aristotélica, como pode não acontecer nada disso. Por exemplo, todo
particular material deve estar relacionado a um particular. Mas não há
categoria de particulares. Existem, é claro, seres não afirmados-de outros.
Mas ser não afirmado-de outro não é uma das categorias de Aristóteles.
Além disso, não deveriam todos os particulares materiais estar
relacionados com a matéria? Mas matéria não é um gênero supremo. De
fato, o lugar da matéria nas categorias está longe de ser evidente. Assim,
mesmo que a abordagem modal consiga gerar alguns dos gêneros
supremos, não é uma abordagem tão boa assim para gerar toda a lista
aristotélica. Este problema poderia ser atenuado se, ao invés de apelar às
estruturas modais como tais, a solução apelasse às estruturas modais que
Aristóteles possa ter pensado fazer parte do tecido do mundo. Assim, pelo
menos, poderíamos explicar por que Aristóteles desenvolveu aquela lista,
ainda que nos inclinemos a rejeitá-la.

A última abordagem, a Abordagem Medieval de Derivação, caminha, de


algum modo, sobre a direção sugerida — mas não acatada — pela
Abordagem Modal de Moravscik. Existe uma rica tradição de
comentadores, incluindo Radulphus Brito, Alberto, o Grande, Tomás de
Aquino, e, mais recentemente, o herdeiro moderno Franz Brentano, que
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fornece precisamente o tipo de derivação para o esquema categórico de


Aristóteles encontrado por Kant. De acordo com os comentadores desta
tradição, os gêneros supremos de Aristóteles são capazes de uma integral,
discutível e sistemática derivação a priori. A seguinte citação de Brentano
demonstra muito bem a importância filosófica de tais derivações.

Pelo contrário, me parece indubitável que Aristóteles tenha chegado a uma


certa prova a priori, um argumento dedutivo para a completude das
distinções das categorias…” (On the Several Senses of Being in Aristotle, Ch.
5, section 12).

O entusiasmo de Brentano sobre a possibilidade de se derivar as


categorias aristotélicas talvez não encontre justificativa; mas a ideia de
uma prova a priori para a completude das categorias é certamente
intrigante.

Talvez o que melhor representa esse tipo de interpretação seja os


comentários de Aquino à Metafísica de Aristóteles. Todas as derivações de
Aquino merecem atenção considerável, mas, para os nossos propósitos,
basta citar apenas algumas delas. Assim demonstraremos seu caráter
geral junto com alguns dos seus aspectos mais interessantes.

Um predicado o é no segundo modo quando se predica algo que está no


sujeito. Se o predicado estiver no sujeito essencialmente e absolutamente, e
fluir da matéria, será quantidade, mas se estiver presente essencialmente e
absolutamente, mas fluir da forma, será qualidade; e se não estiver
absolutamente presente no sujeito, mas se referir a alguma outra coisa, será
relação. (Commentaries on Aristotle’s  Metaphysics, Book V, Lesson 9,
Section 890)

Esta passagem ilustra o teor da abordagem medieval de derivação.


Aquino articula o que parecem ser princípios metafísicos relativos ao

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modo pelo qual, nas suas palavras, “se predica algo que está no sujeito”.
Existem duas espécies desses predicados: (1) essencialmente e
absolutamente presentes; ou (2) essencialmente e não absolutamente
presentes, mas referidos a alguma outra coisa. Esta espécie corresponde à
categoria da relação; aquela, às categorias da qualidade e da quantidade.
Então, Aquino divide o primeiro modo de presença em termos de forma e
matéria. Ele expressamente afirma que a categoria da qualidade flui da
forma e que a categoria da quantidade flui da matéria.

Inspecionar todas as derivações de Aquino a fim de determinar sua


contingência é um projeto muito grande para se realizar aqui. Citei o
trecho acima para mostrar como a abordagem medieval de derivação
amplia, de maneira interessante, a abordagem modal de Moravscik. A
abordagem modal, eu havia dito, ganharia plausibilidade se fosse possível
demonstrar como a atitude de Aristóteles em relação às estruturas modais
da realidade determinam, de algum modo, a geração de categorias.
Aquino tomou esta direção ao invocar uma combinação de princípios
semânticos, digamos, a priori, com outros ligados às relações existentes
entre forma, qualidade, matéria e quantidade. E Aristóteles está
comprometido com a afirmação de que forma e matéria são dois dos
aspectos fundamentais do mundo material. De fato, ele argumenta na
Física que forma e matéria são necessários para a existência do
movimento, que, por sua vez, caracteriza essencialmente os corpos.

Se a abordagem medieval de derivação estiver correta, as categorias de


Aristóteles de fato traçam um caminho em que forma, matéria, e talvez
movimento, se relacionam com as substâncias e seus predicados. É
obviamente uma questão importante saber se essas derivações podem
sobreviver a um escrutínio filosófico. Mas não vou desenvolvê-lo aqui,
embora eu possa dizer que, talvez, Brentano tenha se entusiasmado
demais com as possibilidades de uma prova a priori satisfatória. Ademais,
as interpretações medievais carregam o peso de se excederem nas
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interpretações de Aristóteles. Aristóteles simplesmente não fornece, nos


seus escritos sobreviventes, o tipo de conexões conceituais em que se
baseiam as derivações medievais. Talvez eles tenham sucumbido à
tentação de ver conexões que Aristóteles não aceitava em seu sistema. De
uma perspectiva do século XX, as derivações medievais são bastante
estranhas. Entre os estudiosos contemporâneos de Aristóteles é lugar-
comum enxergar as Categorias como um trabalho precoce, escrito antes
do filósofo ter desenvolvido sua teoria sobre forma e matéria contida nos
últimos trabalhos. Se esta abordagem geral está correta, parece
implausível afirmar que o esquema categórico pode, de algum modo, ser
derivado, pelo menos em partes, dos conceitos de forma e matéria.

Esta breve discussão deve deixar claro que providenciar uma derivação
completa do esquema aristotélico é uma tarefa muito difícil, talvez
impossível. Afinal, pode-se concluir que o esquema de Aristóteles está
parcialmente, ou completamente, equivocado. No mínimo, a tarefa é
desanimadora. Mas, é óbvio: a dificuldade de estabelecer seu verdadeiro
sentido não é peculiaridade deste esquema. Não deveríamos nos
surpreender com o fato de que as dificuldades encontradas nas
especulações metafísicas do ocidente sejam também encontradas de
modo tão duro e provocativo na obra que fundou esta mesma tradição.
Na verdade, o nascimento de questões externas sobre as categorias e
outras estruturas metafísicas é em parte culpa dessas dificuldades. É
compreensível que elas levem a questões sobre a legitimidade de teorias
sobre categorias e especulação metafísica em geral. Infelizmente, a
história da especulação metafísica demonstra que não é menos difícil
responder questões externas sobre a teoria das categorias. Sabendo disso,
devemos notar que questões de ambos os tipos devem suas primeiras
formulações, de fato, à obra seminal de Aristóteles: as Categorias.

4. Trabalhos recentes

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Vale apontar duas tendências nos estudos filosóficos mais recentes. Elas
tratam o categorialismo aristotélico de duas maneiras distintas. A primeira
trata-o diretamente: é uma investigação em si mesma; ver Shields (ed.)
2012. A segunda é mais indireta, por tratar das bases problemáticas da
filosofia de Aristóteles em que se baseiam as categorias, ou, de forma
mais geral, por avançar a tradição que seu categorialismo inaugurou; ver
Haarapanta e Korsinen (eds.) 2012.

Em Shields (ed. 2012), encontramos um argumento que afirma a


possibilidade de uma unificação sistemática do hilomorfismo e do
categorialismo aristotélicos (Studtmann 2012). O papel da famosa frase
“ser enquanto ser” no pensamento de Aristóteles é examinado por inteiro,
primeiro em face das críticas das visões de Aristóteles e, segundo, por
uma interpretação do famoso slogan, que consegue sobreviver a um
escrutínio filosófico (Shields 2012). A ontologia das Categorias é
examinada sob as lentes críticas e afiadas de uma variedade de debates
contemporâneos (Loux, 2012a).

Haarapanta e Korsiken (eds. 2012) começam com Michael Loux (2012b) e


seu exame de uma tese que estruturaria o categorialismo aristotélico, a
saber, que o ser é dito de muitas maneiras (pollachôs legomenon). Muitos
comentadores dizem que esta tese é profundamente problemática. Loux
concorda em parte com este sentimento. Ele afirma que a tese torna a
referência unívoca, mas transcategorial, impossível, e isto faz que com que
a afirmação “o ser é dito de muitas maneiras” seja impossível também.
Entretanto, Loux encontrou uma forma de salvar a tese aristotélica ao
negar que a afirmação faça referência ao significado ou sentido universal
dos termos. O livro prossegue com questões temporalmente remotas. No
entanto, isso só demonstra a influência duradoura do categorialismo.
Kukkonen (2012), Knuttilla (2012) e Normore (2012), discutem em ensaios
separados a influência das categorias aristotélicas na filosofia medieval.
Nas partes finais do livro, os ensaios começam a focar em outros filósofos
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como Hegel, Pierce, Bolzano e Meinong, que declaram, todos, uma dívida
profunda com Aristóteles e sua teoria das categorias.

Traduzido por Gabriel Gusso

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[1] Focal meaning, focal connection ou core-dependent homonymy. [N.T]

[2] No original, “relations”. Em inglês, a categoria chama-se relatives, mas


em português a tradução mais comum é relação. Este parágrafo não faz
muito sentido na nossa língua porque “relativo” é também algo “em
relação a”. Mas, para todos os efeitos, leia-se que algo relativo é algo
incluído na categoria da relação. [N.T]

[3] Mesma questão da nota anterior. O nome relatives parece sugerir que
se está falando das coisas que contêm relação. A tradução em português,
“categoria da relação”, não torna a questão tão óbvia assim.

Relacionado

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