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SELEÇÃO DE MATERIAIS

Victor Hugo Mendes Jeremias1


João Marcos da Silva Francisco2

RESUMO
A seleção de materiais é a decisão final no processo de algum projeto da
engenharia, determinando o seu sucesso ou fracasso. Para isso, deve-se
decidir qual tipo geral de material é apropriado e, posteriormente, num caso
específico, o melhor material entre os contidos no seu tipo geral.
Palavras-chave: Seleção de materiais; caso específico.

MATERIAL SELECTION

ABSTRACT
Material selection is the final decision in the process of any engineering project,
determining its success or failure. For this, it is necessary to decide which
general type of material is appropriate and, later, in a specific case, the best
material among those contained in its general type.
Key words: Material selection; specific case.

1
Estudante, Eng. Mecânica, 201710530, Universidade Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Volta
Redonda, RJ, Brasil.
2
Estudante, Eng. Mecânica, 201710483, Universidade Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Volta
Redonda, RJ, Brasil.
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1. INTRODUÇÃO
A seleção de materiais é uma etapa imprescindível para o término de um bom
projeto. Sua escolha deve ser feita com prudência, pois, dependendo das
decisões tomadas durante a escolha dos materiais componentes, e sabendo da
vasta gama de materiais disponíveis com múltiplas possibilidades, o produto
pode resultar-se em um desastre tanto do ponto de vista econômico como do
ponto de vista de segurança.
Atualmente, se deve distinguir a seleção em duas fases distintas, sendo a
primeira em considerar uma classe geral de materiais para tal produto (por
exemplo, cerâmica ou metal?); Já a segunda consiste em escolher o melhor
material específico dentro de tal classe geral (por exemplo, a liga de magnésio
é preferível ao alumínio ou aço?).
Basicamente, esta é a maior simplificação possível do processo de seleção de
materiais.

2. DESENVOLVIMENTO
Há essencialmente quatro variáveis de alta importância que determinam a
qualidade do produto. Tais são:
1) Disponibilidade;
2) Custo;
3) Propriedades mecânicas, físicas, químicas e dimensionais do material;
4) Processos de fabricação – usinabilidade, formabilidade, capacidade de
união, acabamento e revestimento.
Tendo isso em vista, podemos também inferir que é de grande
responsabilidade a boa escolha dos materiais, pois, se se toma uma má
decisão no que diz respeito a estes quatro itens, todo o projeto pode fracassar.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma das principais causas para ocorrência
de uma falha em plantas industriais é a má seleção de materiais, compondo
18% dos casos.
Os estudiosos têm desenvolvido estudos cada vez mais precisos para ensinar
os princípios da execução de um projeto, consistindo naquilo que se chama
“estudo de casos”. É uma técnica que analisa escrupulosamente as soluções
para problemas de engenharia em casos concretos, reais. Isso possibilita ao
aluno a observação dos procedimentos e os raciocínios que estão envolvidos
no processo de tomadas de decisões.
Segundo Collins, ao conhecer as características gerais de aplicação, pode-se
colocá-las na forma de requisitos de desempenhos e serviços. Em outras
palavras, podem ser aplicadas, por exemplo, em altas temperaturas e cargas
flutuantes; também podem ser selecionadas características ambientais, como
oxidação, que será um resultado da seleção a fim de identificar o
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comportamento ambiental no momento da aplicação. Pode-se destacar que é


pertinente a necessidade, devido aos indicadores de desempenho e serviços
das propriedades. É importante citar que mesmo que seja selecionado
determinado material para aplicação em um projeto, ele deve também estar
disponível para toda sua demanda. Adiante, ver-se-á um estudo de caso, tal
como supracitado.

2. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso abordado neste artigo é sobre falha de componentes
metálicos.
Devido, entre outras coisas, a defeitos no material, à má concepção e a
utilização indevida, componentes metálicos ocasionalmente falham por fratura,
fadiga e fluência. Em alguns casos, estas falhas ocorrem durante os testes de
protótipos realizados por fabricantes. Em outros casos, ocorrem depois que o
produto foi vendido e está em uso. Em ambos os casos, justifica-se uma
análise de falhas para determinar a causa. No primeiro caso, as informações
sobre a causa podem ser utilizadas para melhorar o projeto e a seleção de
materiais. Neste último caso, a análise de falhas pode ser exigida no caso de
responsabilidade pelo produto. Em ambos os casos, os engenheiros utilizam
seus conhecimentos sobre o comportamento mecânico de materiais para
realizar a análise. Essas análises são semelhantes aos procedimentos
forenses: exigem documentação e arquivamento das provas. Um exemplo é
dado no estudo de caso a seguir.
O primeiro passo no processo de análise de falhas é determinar a função do
componente, as especificações exigidas pelo usuário, e as circunstâncias em
que a falha ocorreu. Neste caso, um eixo de acionamento de ventilador deveria
ser feito de aço 1040 ou 1045 trefilado a frio, com um limite de elasticidade de
586 MPa. A expectativa de vida do eixo foi estimada em 6.440 km. No entanto,
o eixo fraturou depois de apenas 3.600 km de serviço, conforme a figura
abaixo.

Figura 1 – Falha prematura de um eixo de acionamento de ventilador. (Dimensões em


polegadas.)
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Geralmente, a pesquisa começa com o exame visual do componente que


falhou. Durante o exame visual preliminar, cuidados devem ser tomados para
proteger a superfície de fratura de danos adicionais. Não se deve tentar unir as
superfícies de fratura, pois isso poderia apresentar danos superficiais que
poderiam influenciar indevidamente qualquer futura análise. No caso do eixo de
acionamento do ventilador, as pesquisas revelaram que a fratura se iniciou em
dois pontos próximos a um filete (arrendamento de ângulo) devido à mudança
abrupta de diâmetros do eixo. Os dois pontos de início da fratura formam
aproximadamente 180 ºC entre si, conforme a figura abaixo.

Figura 2 – Superfície de fratura mostrando as origens da fratura simetricamente posicionadas.


Note a região central na qual a fratura ocorreu.

Com base na análise visual da superfície, os pesquisadores determinaram que


fraturas se propagaram a partir dos dois pontos de iniciação em direção ao
centro do eixo, ponto em que ocorreu uma fratura final catastrófica. Por causa
da simetria dos dois pontos de iniciação e dos padrões de marcas ‘praia’
observados na superfície, os pesquisadores concluíram que a fratura era típica
de fadiga por flexão invertida ou alternada. Uma combinação de flexão cíclica
alternada e um raio de filete agudo (concentrador de tensões) foram
identificados como a causa da fratura.
Após a inspeção visual e todos os testes não destrutivos serem concluídos,
outros mais invasivos e até mesmo destrutivos foram realizadas. Por exemplo,
a análise química do material do eixo revelou que realmente era o aço 1040
conforme especificado pelo usuário. Os pesquisadores conseguiram fazer um
ensaio de tração com uma amostra fora do centro do eixo fraturado. O ensaio
de tração revelou que o limite de resistência à tração e o limite de elasticidade
da liga eram de 631 e 369 MPa, respectivamente, com um alongamento à
ruptura de 27%. O limite de escoamento do material do eixo (369 MPa) é
consideravelmente menor do que a exigida pelo usuário (586 MPa). Um exame
metalográfico posterior revelou que a estrutura era predominantemente de
grãos equiaxiais. O trabalho a frio aumenta o limite de escoamento, diminui a
ductilidade e, ao mesmo tempo, cria uma estrutura de grãos, que geralmente
não é equiaxial, mas alongada. O limite de escoamento menor, a relativamente
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alta ductilidade, e a natureza equiaxial da microestrutura revelaram que o aço


1040 utilizado na fabricação deste eixo não foi estirado a frio, conforme
especificado pelo usuário. De fato, as evidências sugerem que o material não
foi trabalhado a frio. A utilização de aço laminado a quente (com um limite
menor de fadiga), juntamente com o efeito do concentrador de tensões do filete
agudo, resultou na falha do componente sob flexão alternada. Se o
componente fosse feito de aço 1040 trefilado (com um limite de fadiga 40%
maior), a fratura poderia ter sido evitada ou adiada. Este estudo de caso mostra
a importância do conhecimento do engenheiro de propriedades dos materiais,
técnicas de processamento, tratamento térmico e seleção para o projeto e
operação bem-sucedida de componentes.

3. CONCLUSÃO
Depreende-se que para realizar uma escolha qualificada de materiais num
projeto de engenharia é necessário analisar, apreciar e avaliar criteriosamente
a aplicação associada à função e desempenho do produto. Para isto, é
necessário identificar as características do material desejado e dos materiais
disponíveis, que variam de acordo com a disponibilidade do mercado.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER JR., W. D. Ciência e engenharia de materiais: Uma introdução.


5ª. ed. LTC, 2002.
SMITH, W.F; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos
materiais. 5ª. ed. McGraw-Hill. 2012.
SHACKELFORD, J.F. Ciência dos materiais. 6ª. ed. Pearson. São Paulo.
2008.
JUNIOR, J. J. F. S. Sistema metodológico aplicado para seleção de
materiais. 2017. Dissertação (Mestrado profissional em materiais) – UniFOA,
Volta Redonda, 2017.
ASHBY, M. F. Seleção de materiais no projeto mecânico. 4ª ed. Oxford:
Elsevier, v. 1, 2012.

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