discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/242115936
Article
CITATIONS READS
0 205
1 author:
Paulo Crawford
University of Lisbon
29 PUBLICATIONS 340 CITATIONS
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Paulo Crawford on 03 December 2016.
1 A Relatividade de Galileu
Recordemos que, de acordo com a primeira lei de Newton, se a resultante das forças que
actuam um corpo é nula, a aceleração do corpo também é nula e o corpo diz-se isolado.
Expressa desta forma a primeira lei parece ser um caso particular da segunda. Contudo,
é natural começar por descrever o movimento de um corpo na situação de ausência de
forças. Essa é a situação descrita pela primeira lei, cujo enunciado pressupõe estarmos
a utilizar referenciais inerciais. Inversamente, quando detectamos uma aceleração,
inferimos, com base na expressão F~ = m~a, a existência de uma força. Mais uma vez,
este raciocı́nio é válido num referencial inercial.
1
Em geral, um observador deve escolher o referencial que mais facilite a recolha e análise
dos dados. Torna-se então necessário relacionar as observações feitas em referenciais
(inerciais) diferentes. Os observadores que fazem a suas observações em referenciais
inerciais dizem-se observadores inerciais.
Comecemos então pelos referenciais inerciais, ou seja, os referenciais que se movem com
velocidade relativa constante e onde são válidas as leis de Newton na forma em que
foram expressas.
Então
2
Derivando as velocidades em ordem ao tempo obtemos as acelerações: a aceleração de
B relativamente a A
d~vBA d
~aBA = = (~vB − ~vA ) = (~aB − ~aA )
dt dt
e a aceleração de A relativamente a B
d~vAB d
~aAB = = (~vA − ~vB ) = (~aA − ~aB )
dt dt
Em conclusão: para obter a aceleração de uma partı́cula em relação a outra basta pois
conhecer as suas acelerações relativamente a um observador (referencial)
~aBA = ~aB − ~aA
~aAB = ~aA − ~aB
~aBA = −~aAB
~ = OO
Como OA ~ ′ + O~′ A ⇒ ~r ′ = ~r − ~ut
)
~r ′ = ~r − ~ut
Transformações de Galileu (1.2)
t′ = t
3
Seja ~v = d~r/dt a velocidade medida em OXY Z
Então
d
~v = (~r − ~ut) =⇒ ~v ′ = ~v − ~u
dt
Seja ~a = d~v/dt a aceleração relativamente a OXY Z e ~a ′ = d~v ′ /dt′ = d~v ′ /dt a ace-
leração relativamente a O ′ X ′ Y ′ Z ′
E como
d
~a ′ = (~v − ~u) ⇒ ~a ′ = ~a
dt
pois ~u é constante.
Comprimentos (distâncias)
a) em repouso relativamente a O ′
b) em movimento relativamente a O
4
Intervalos de tempo
Intervalo
de tempo: é o tempo que decorre entre dois acontecimentos,
medido por um mesmo observador
ou seja, quando nos restringimos às transformações de Galileu para definir observadores
inerciais concluı́mos que:
NOTA: Nos sistemas inerciais a aceleração é um invariante. Por outro lado, as forças
que só dependem das distâncias (como é o caso das forças newtonianas) são também
invariantes!
5
Logo, as leis da mecânica (leis de Newton) são as mesmas em todos os
sistemas inerciais.
2 A Relatividade de Einstein
Postulado 1 As leis da fı́sica tomam a mesma forma para todos os observadores que
se movem uns em relação aos outros com velocidade constante (movimento rectilı́neo
e uniforme).
Notemos os seguintes pontos. Estes postulados não dizem nada sobre quais são as
leis da natureza. Referem-se exclusivamente a movimentos (rectilı́neos e uniformes)
mas aplicam-se a todas as leis fı́sicas. Têm portanto uma natureza cinemática e não
dinâmica.
6
Quando no segundo postulado falamos em velocidade da luz estamos a referir-nos
obviamente à velocidade da luz no vácuo, que representamos por c e cujo valor é
aproximadamente 300 000 km/s.
7
Para isso, Einstein começou por notar que as leis do electromagnetismo (as equações
de Maxwell) não eram invariantes para uma transformação de Galileu. Mas, no en-
tanto, eram invariantes em relação a um conjunto de transformações descoberto por
H.A. Lorentz e por H. Poincaré. Se o princı́pio de Galileu se aplicasse aos fenómenos
electromagnéticos então as ondas luminosas emitidas por um corpo a deslocar-se com
velocidade v num referencial inercial S teriam uma velocidade c ± v em relação ao
mesmo referencial S. Ora, a experiência de Michelson-Morley1 e muitos outros resulta-
dos (como a observação das estrelas duplas) mostram que a velocidade da luz no vácuo
não depende da velocidade da fonte e é a mesma para todos os observadores inerciais.
Lorentz e Poincaré tinham já demonstrado que as equações de Maxwell ficavam formal-
mente invariantes se as transformações de coordenadas entre dois referenciais inerciais
S e S ′ se relacionassem pelas seguintes fórmulas
x′ = γ(x − vt)
y′ = y
Transformação de Lorentz (2.3)
z′ = z
t′ = γ(t − vx/c2 )
com
1
γ=q
1 − v 2 /c2
Comparando com as transformações de Galileu entre dois referenciais inerciais, S e S ′ ,
com uma velocidade relativa segundo o eixo dos XX e cuja origem inicial é comum
x′ = x − vt
y′ = y
Transformação de Galileu
z′ = z
t′ = t
vemos que as segundas se obtêm das primeiras quando v/c ≪ 1, isto é, quando a
velocidade relativa entre os observadores é desprezável face à velocidade da luz no
vácuo.
8
Notemos em primeiro lugar que, devido à constância da velocidade da luz e à isotropia
da sua propagação no vácuo, sendo emitido um sinal luminoso num dado ponto do
espaço e num dado instante, que se tomam respectivamente como origens espacial e
temporal dos referenciais S e S ′ , este deve satisfazer simultaneamente as equações
Ou seja, os pontos do espaço que num dado instante de cada referencial se encontram
na mesma fase de vibração formam uma onda esférica que está centrada na origem do
referencial respectivo.
A equação anterior permite definir uma quantidade invariante, isto é, uma quantidade
que toma a mesma forma em todos os referenciais inerciais—relacionados entre si por
uma Transformação de Lorentz—indissoluvelmente ligada à invariância da velocidade
da luz, e que se escreve
x2 + y 2 + z 2 − c2 t2 = r 2 − c2 t2
Este invariante pode ser entendido como uma generalização da definição habitual de
distância a um espaço a quatro dimensões, conhecido por espaço-tempo de Minkowski2 .
Na verdade, tal como a fórmula euclideana x2 + y 2 + z 2 = r 2 caracteriza o espaço or-
dinário 3-dimensional, e representa o quadrado da distância do ponto de coordenadas
(x, y, z) à origem, também a fórmula r 2 − c2 t2 pode servir para caracterizar o espaço-
tempo de Minkowski e poderá igualmente designar a distância do ponto (aconteci-
mento) de coordenadas (r, ct) à origem, neste espaço-tempo 4-dimensional.
9
Todos os pares de acontecimentos que estão numa relação de causa-efeito pertencem
às categorias a) ou b). Nenhuma informação pode ser transmitida com velocidade
maior do que a da luz. Logo, dois acontecimentos que pertençam à categoria c) não
podem estar causalmente relacionados. Como as partı́culas materiais viajam com uma
velocidade inferior à da luz em todos os referenciais inerciais, dois quaisquer aconteci-
mentos da vida de uma partı́cula material formam um par tipo-tempo para todos os
observadores inerciais, isto é, a sua separação temporal é maior do que a sua separação
espacial.
e portanto s
v2
dt′ = dt 1 − (2.6)
c2
onde v = dx/dt é a velocidade de S ′ em S.
10
∆t = v∆x/c2 , vejamos quanto mede a mesma barra em S. Substituindo este valor de
∆t no intervalo ∆s2 = ∆x2 − c2 ∆t2 = ∆x′2 , vem
q
∆x′ = ∆x 1 − v 2 /c2
u−v u′ + v
u′ = ou u = (2.7)
1 − uv/c2 1 + u′ v/c2
onde
dx dx′
u= , u′ = ′
dt dt
e v é a velocidade relativa entre S e S .
′
11
no comboio há um passageiro a deslocar-se a uma velocidade de 5 km/h
em relação ao comboio, então a velocidade relativa entre o passageiro e o
observador da plataforma é 105 km/h ou 95 km/h consoante o passageiro
se afasta ou se aproxima da estação. Não devia acontecer o mesmo com
a luz? Porém, para grande surpresa dos observadores A e B, a velocidade
da luz permanece inalterada ao atravessar os respectivos tubos. E além
disso, a velocidade medida a partir dos intervalos de tempo que a luz leva
a percorrer a distância entre A e B continua a ser a mesma. Consternado
com este resultado, B supõe que a sua velocidade em relação a A é ainda
muito pequena e recorre a um foguetão para aumentá-la. B aproxima-se
de A cada vez mais depressa, na esperança de receber mais rapidamente
os sinais luminosos enviados por A, mas é em vão, a velocidade medida
localmente continua a ser a mesma. Ao fim de algum tempo, B atinge uma
velocidade em relação a A igual a 99% da velocidade da luz e nota que os
sinais luminosos chegam agora muito azulados. Trata-se de um fenómeno
familiar, B sabe que a luz azul significa luz de alta frequência e recorda-se
que as ondas sonoras também se deslocam para as altas frequências quando
a fonte e o observador se aproximam um do outro. O efeito designa-se por
deslocamento de Doppler e observa-se, por exemplo, quando dois carros
se cruzam: o som da buzina soa mais agudo se os carros se aproximam e
mais grave se eles se afastam. Voltando à nossa experiência, apesar do
deslocamento de Doppler, B não observa nenhuma variação na velocidade
da luz, isto é, B continua a medir a mesma velocidade para os sinais enviados
por A.
B decide-se então a utilizar um outro foguetão para inverter o sentido do
movimento e, assim, afastar-se de A a toda a velocidade. Verifica agora que
os sinais luminosos enviados por A chegam bastante avermelhados, como se
as ondas luminosas tivessem sido alongadas, provocando o aumento do seu
comprimento de onda, tal como as ondas sonoras da buzina de um carro que
se afasta. Ao fim de algum tempo B afasta-se de A a uma velocidade igual
a 99% da velocidade da luz. B esperava que a luz enviada por A viajasse
ao seu encontro a 3000 km/s (1% da velocidade habitual), mas nada disso
acontece. A luz continua a chegar à mesma velocidade de 300 000 km/s,
independentemente da velocidade a que B se desloca em relação a A.
Numa última tentativa, e já desesperado por esta contradição entre o
comportamento da luz e a experiência quotidiana, B resolve utilizar ainda
um outro foguetão com o fim de ultrapassar a velocidade dos sinais lu-
minosos na esperança que, ao viajar a uma velocidade superior à da luz
relativamente a A, os sinais luminosos enviados por A não o atinjam. En-
quanto decorre esta fase da experiência, A verifica que B está a fazer um
esforço desesperado para atingir a velocidade da luz, mas quanto mais perto
se encontra dessa velocidade, maior é a energia que necessita para acelerar.
A necessidade de combustı́vel cresce sem limite. Mesmo com toda a energia
12
disponı́vel no mundo, B não é capaz de vencer a barreira que o impede de
atingir a velocidade da luz. Parece que à medida que B se aproxima da velo-
cidade da luz, maior é a sua inércia: toda a nova energia consumida parece
ser dispendida para criar mais massa e não para aumentar a velocidade.
Entretanto, os sinais luminosos emitidos por A continuam a atravessar o
tubo de um metro, transportado por B, a uma velocidade de 300 000 km/s.
Dois acontecimentos fı́sicos, que ocorrem em diferentes pontos do espaço (isto é, espa-
cialmente separados) e simultâneos para um observador A, não serão simultâneos para
outro observador B que se desloca a grande velocidade em relação a A. Este carácter
relativo do conceito de simultaneidade é uma consequência do valor finito (constante)
da velocidade da luz. Este é o conceito fundamental da teoria da relatividade restrita.
Se as acções fı́sicas pudessem propagar-se a uma velocidade infinita a simultaneidade
13
teria um carácter absoluto: dois acontecimentos simultâneos para um dado observador,
seriam simultâneos para qualquer outro observador, qualquer que fosse o seu estado de
movimento. Vejamos este aspecto com o auxı́lio de mais uma experiência de pensa-
mento, à boa maneira de Einstein.
Imaginemos desta feita uma nave espacial que se afasta da Terra a uma
velocidade igual a 90% da velocidade da luz. No centro da nave existe uma
fonte de sinais luminosos. Para um astronauta que se encontre no centro
da nave espacial, os sinais chegam às duas extremidades da nave simulta-
neamente, visto que as ondas luminosas se propagam em todas as direcções
e sentidos com a mesma velocidade — a velocidade da luz, c. Contudo um
observador terrestre testemunharia uma situação bem diferente. É certo
que a velocidade da luz é a mesma, de acordo com a teoria da relatividade
restrita, para o observador terrestre e para o astronauta que se afasta da
Terra. Mas como o observador terrestre vê a nave a afastar-se com uma
velocidade igual a 90% da velocidade da luz, é claro que, do ponto de vista
deste observador, os sinais luminosos não podem chegar simultaneamente
às duas extremidades da nave. O observador terrestre vê a cauda da nave
a aproximar-se rapidamente da origem do sinal luminoso, enquanto a di-
anteira da nave se afasta dessa origem. Durante o intervalo de tempo que
a luz leva a atravessar a nave, esta afasta-se da Terra e, por isso, o sinal
enviado para trás atinge a cauda da nave antes do outro sinal atingir a ex-
tremidade dianteira. Assim, dois acontecimentos que são simultâneos para
o astronauta ocorrerão em instantes diferentes para o observador terrestre.
Vimos, com este último exemplo, como a simultaneidade depende do estado de mo-
vimento do observador. Não existe um acordo universal sobre o que é o “mesmo ins-
tante”para dois acontecimentos que ocorrem em lugares diferentes, ou seja, não existe
uma definição absoluta de “instantâneo”. Um sinal que viajasse “instantaneamente”da
frente para a cauda da nave espacial, do ponto de vista do astronauta, seria visto por
um observador terrestre como um sinal propagando-se “para trás”no tempo. Como
o observador terrestre vê o sinal atingir a dianteira depois de atingir a cauda, o sinal
aparentemente “instantâneo”é visto da Terra como um sinal enviado do acontecimento
posterior para o acontecimento anterior, destruindo assim qualquer relação causal.
São conhecidos os paradoxos que resultam de admitir que é possı́vel enviar sinais “para
trás”no tempo. Imaginemos, por exemplo, uma máquina ligada a um computador com
a seguinte instrução programada: “Às 4 horas enviar um sinal para o passado”. Este
sinal pode reflectir-se num local distante e atingir de novo a máquina, digamos, às 2
horas. O programa pode conter uma instrução para a máquina se auto-destruir uma
hora após a chegada do sinal. É claro, uma tal sequência de acontecimentos é total-
mente inconsistente: a auto-destruição às 3 horas anteciparia a transmissão do sinal
14
às 4 horas, impedindo a recepção do sinal às 2 horas e, portanto, anulando o acciona-
mento do mecanismo de auto-destruição, em contradição com a hipótese original. A
inconsistência traduz-se numa quebra da relação causa-efeito. Assim, para preservar a
estrutura causal dos fenómenos fı́sicos adoptamos a regra: não é possı́vel enviar sinais
a velocidades superiores à da luz.
3 Dinâmica Relativista
De acordo com a dinâmica newtoniana é possı́vel acelerar uma partı́cula até que esta
atinja uma velocidade superior à velocidade da luz, violando assim um dos resultados
fundamentais da teoria da relatividade e contrariando a evidência experimental. Logo,
as leis do movimento de uma partı́cula em relatividade devem ser diferentes das da
teoria newtoniana. De igual modo as leis de conservação da energia e do momento
linear também devem ser diferentes.
1. F~ = d~p/dt , se um corpo está isolado (nenhuma força actua sobre ele) o seu
momento linear é conservado!
15
2. Quando tem lugar uma colisão entre partı́culas, o momento total de todos os
objectos envolvidos na colisão é conservado.
Considere, por exemplo, uma estação espacial de 100 toneladas e um meteorito com
50 toneladas aproximando-se um do outro. No sistema de referência de um observador
inercial B a estação espacial move-se inicialmente no sentido positivo do eixo dos xx
(+X) com uma velocidade de 0, 1 c e o meteorito move-se segundo (−X) com uma
velocidade 0, 5 c. O momento inicial da estação é 100 × 0, 1 c = 10 c no sentido
positivo do eixo X, e o momento inicial do meteorito é 50 × (−0, 5) c = −25 c no
sentido negativo do eixo X. Como não há forças a actuar sobre os dois corpos, estes
momentos lineares mantêm-se constantes; portanto eles aproximam-se um do outro com
velocidades constantes. Ao colidirem produzem grande quantidade de calor e fundem
num único corpo. Se o corpo resultante tem massa M e velocidade v ′ segundo (+X) o
momento total final é Mv ′ . De acordo com a lei conservação do momento linear, este é
exactamente o valor do momento linear inicial total que é 10 c+(−25 c) = −15 c. Assim
a lei de conservação diz-nos que mv ′ = −15 c, e a velocidade final é v ′ = −15 c/M. Ora
de acordo com a teoria newtoniana a massa total é conservada pelo que a massa final
é igual à massa da estação mais a massa do meteorito, isto é, M = 100 + 50 = 150 ton.
E v ′ = −15 c/150 = −0, 1 c.
Neste exemplo a situação era muito simples pois tratava-se de um movimento a uma
dimensão: todas as velocidades eram paralelas ao eixo X. Se o movimento é numa
direcção que não coincide com nenhum dos eixos, podemos escrever o vector velocidade
~v em termos das suas componentes (vx , vy , vz ) segundo X, Y e Z, respectivamente; e as
componentes do vector momento linear p~ são dadas por
De acordo com a teoria newtoniana, um observador inercial B medirá que cada uma
das componentes de p~ se conserva durante a colisão.
16
total é portanto 10, 05 c − 28, 868 c, que deverá ser igual ao momento final total
Das relações anteriores obtemos então que v ′ /c = −18, 818/158, 25 = −0, 119, substi-
tuindo este valor na última equação vemos que
cerca de 7 toneladas mais do que a soma das massas próprias dos corpos que colidem. A
fonte desta massa própria extra só pode explicar-se pela conversão de parte da energia
cinética dos dois corpos em massa!
Vejamos ainda um outro exemplo. Um dado observador vê uma partı́cula, de massa em
repouso m0 , a aproximar-se pela esquerda com uma velocidade v1 = 4/5 c e a colidir
com uma outra partı́cula que se aproxima pela direita com uma velocidade v2 = 3/5 c;
após o choque ambas as partı́culas permanecem em repouso em relação ao observador.
Qual é a massa própria da segunda partı́cula?
Suponhamos que essa massa é M0 . Como o momento linear total após o choque é nulo,
o momento linear total antes do choque é também zero (porquê?). Portanto, temos
m0 4c M0 3c
q × −q × =0
1 − ( 45 )2 5 1 − ( 35 )2 5
Estes resultados relativistas podem parecer surpreendentes e irrealistas. Mas são hoje
verificados diariamente nos grandes aceleradores de partı́culas para produzir choques
de partı́culas a altas energias. Foram já analisados muitos milhares de choques com
base nas leis de conservação do momento linear da relatividade restrita não havendo
hoje qualquer dúvida na validade dessas leis. Pode pois afirmar-se que se trata de
17
leis extraordinariamente bem testadas. Mais uma vez se insiste que estas leis são uma
generalização das leis de Newton, necessária quando se utilizam grandes velocidades.
Quando as velocidades são pequenas, em comparação com a velocidade da luz, as leis
relativistas aproximam-se das leis newtonianas. Para sentir como essa aproximação
se faz rapidamente bastará fazer os cálculos do exemplo anterior com v1 = 0, 2 c e
v2 = 0, 1 c. Embora estas velocidades sejam ainda bastante grandes, obtemos neste caso
M0 ≃ 2, 03×m0, e a teoria de Newton dá agora só um erro de 0,15 por cento em relação
à teoria da relatividade. Este último exemplo numérico mostra porque razão não é
necessário utilizar as fórmulas relativistas para estudar choques entre carros, comboios
ou mesmo aviões de combate. Todos estes veı́culos se deslocam a velocidades muito
inferiores às velocidades mencionadas. Por outro lado, nos aceleradores de partı́culas,
onde se verificam velocidades de cerca de 0, 9 c é indispensável recorrer à teoria da
relatividade restrita.
Sugestões de Leitura
• Ellis, George F.R., e Williams, Ruth M., “Flat and Curved Space-Times”, Cla-
rendon Press, Oxford, 1988.
18